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Comentário da Lição Escola Sabatina – 3º trimestre de 2014 Tema geral: ENSINOS DE CRISTO LIÇÃO 1: 28 de junho a 5 de julho NOSSO AMADO PAI CELESTIAL Autor: Pr. Adenilton Tavares de Aguiar: [email protected] Editor: Ivacy Furtado Revisora: Josiéli Nóbrega Sugestões e dúvidas devem ser encaminhadas ao editor responsável: [email protected] Pr. Adenilton Tavares de Aguiar 1 Introdução Deus é amor! A frase resume tudo que sabemos sobre Deus. O apóstolo João, num dos textos mais conhecidos da Bíblia, afirma: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 João 4:8). Os cinco livros de Ellen G. White que formam a série conflito repetem insistentemente que Deus é amor. De fato, esta é a frase que abre a série: Deus é amor. Sua natureza, Sua lei, são amor. Assim sempre foi; assim sempre será.” 2 Mas também é a frase que encerra a série: “Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.3 Se o capítulo onze de Hebreus pode ser chamado de galeria da fé, o capítulo quatro da primeira carta de João é o que poderíamos chamar de galeria do amor. Se somarmos as vezes em que o verbo amar, o substantivo amor e o adjetivo amado aparecem ali, atingimos a impressionante marca de trinta ocorrências. Porém, o verso oito resume todo o capítulo: devemos amar as pessoas, porque Deus é amor. Não restam dúvidas de que Deus nos ama e de que Ele espera que nos amemos uns aos outros como irmãos e irmãs, em Cristo. De maneira clara, foi para revelar o amor do Pai e promover um relacionamento de amor entre nós, que Jesus veio ao mundo. Na oração-modelo, Ele nos ensina a dirigir-nos a Deus com o vocativo Pai nosso (Mt 6:9). Na manhã da ressurreição, Ele transmitiu a Maria Madalena as intrigantes palavras: “Vai ter com os Meus irmãos e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). Nessa declaração, Jesus não

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Lição 1 - Nosso amado Pai celestial

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Comentário da Lição Escola Sabatina – 3º trimestre de 2014 Tema geral: ENSINOS DE CRISTO LIÇÃO 1: 28 de junho a 5 de julho

NOSSO AMADO PAI CELESTIAL

Autor: Pr. Adenilton Tavares de Aguiar: [email protected] Editor: Ivacy Furtado Revisora: Josiéli Nóbrega Sugestões e dúvidas devem ser encaminhadas ao editor responsável: [email protected]

Pr. Adenilton Tavares de Aguiar1 Introdução

Deus é amor! A frase resume tudo que sabemos sobre Deus. O apóstolo João, num dos textos mais conhecidos da Bíblia, afirma: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 João 4:8). Os cinco livros de Ellen G. White que formam a série conflito repetem insistentemente que Deus é amor. De fato, esta é a frase que abre a série: “Deus é amor. Sua natureza, Sua lei, são amor. Assim sempre foi; assim sempre será.”2 Mas também é a frase que encerra a série: “Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.”3

Se o capítulo onze de Hebreus pode ser chamado de galeria da fé, o capítulo quatro da primeira carta de João é o que poderíamos chamar de galeria do amor. Se somarmos as vezes em que o verbo amar, o substantivo amor e o adjetivo amado aparecem ali, atingimos a impressionante marca de trinta ocorrências. Porém, o verso oito resume todo o capítulo: devemos amar as pessoas, porque Deus é amor. Não restam dúvidas de que Deus nos ama e de que Ele espera que nos amemos uns aos outros como irmãos e irmãs, em Cristo. De maneira clara, foi para revelar o amor do Pai e promover um relacionamento de amor entre nós, que Jesus veio ao mundo. Na oração-modelo, Ele nos ensina a dirigir-nos a Deus com o vocativo Pai nosso (Mt 6:9). Na manhã da ressurreição, Ele transmitiu a Maria Madalena as intrigantes palavras: “Vai ter com os Meus irmãos e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). Nessa declaração, Jesus não

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empregou o vocativo Pai nosso; “naturalmente assume-se a distinção entre o unigênito Filho de Deus e os filhos que, através do Espírito4, compartilham de sua filiação”5. Apesar de estar clara essa distinção, a maneira pela qual Jesus Se identifica com a raça humana também é enfatizada: “Vai ter com os Meus irmãos.” Essa mesma ideia aparece em Hebreus 2:11: “Tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que Ele não Se envergonha de lhes chamar irmãos.” Em síntese, o Pai enviou Seu Filho para que nós pudéssemos ser recebidos como filhos de Deus. Certamente, podemos chamá-lo de nosso Pai celestial.

1. Nosso Pai celestial

A Bíblia contém diversas referências a Deus como Pai. Esse conceito perpassa cada seção das Escrituras. No Pentateuco, encontramos um registro, em Deuteronômio 32:6, que mostra Deus como Aquele que merece o respeito filial do povo de Israel. Nos livros históricos, encontramos a mesma noção em 1 Crônicas 29:10, onde Ele é louvado como Deus e Pai da nação de Israel. No Salmo 68:5, Deus é apresentado como Pai dos órfãos e defensor das viúvas. Em Isaías 64:8, a figura paternal de Deus é construída a partir da relação entre o barro e o oleiro, respectivamente metáforas para o povo de Israel e Deus. As mesmas metáforas aparecem em Jeremias 18:1-4, e apontam para Deus como o Criador e Mantenedor da vida, uma vez que foi também do barro que Ele criou o primeiro homem. Entretanto, o trabalho do oleiro não é pontual; ao contrário, indica um processo que vai da escolha da matéria bruta até a formação de um belo vaso. Assim como o oleiro não abandona o vaso até que esteja formado, o Pai não abandona Seus filhos. Ele os sustenta.

Outra referência a Deus como Pai aparece ainda em Malaquias 2:10: “Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus?” Temos aqui um recurso literário muito comum no Antigo Testamento, o qual chamamos de paralelismo. Nesse caso, temos um paralelismo sinônimo, que coloca os termos Pai e Deus em posição de igualdade, além de destacar que somos Seus filhos porque Ele nos trouxe à existência.

No Novo Testamento, a noção de paternidade divina fica clara a partir da própria relação entre Jesus e o Pai. Na oração-modelo, Jesus ensinou os discípulos a se dirigirem a Deus usando a expressão: “Pai nosso”. Tal expressão chamou tanto a atenção do mundo cristão, que a

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oração registrada em Mateus 6 se tornou conhecida simplesmente por esse vocativo de abertura. Entretanto, as características masculinas que acompanham a paternidade divina podem ser encontradas em outras passagens. Em Mateus 7:11, o Pai é apresentado como Aquele que sustenta os filhos, que lhes concede os benefícios necessários à manutenção da vida. A mesma ideia é defendida também pelo apóstolo Paulo (1 Co 8:6; Ef 4:6). Jesus contou a parábola do filho pródigo (Lc 15:11-32), na qual Deus é representado a partir da solicitude de um pai que recebe de volta um filho errante. Em Hebreus 12:9, encontramos uma relação entre as correções que recebemos do “nosso Pai espiritual” e as correções que recebemos dos nossos pais terrestres. 2. Revelado pelo Seu Filho

O famoso escritor cristão Philip Yancey, no livro O Jesus que eu nunca conheci, conta que tinha em sua casa um aquário de água salgada. Ele menciona que conservar o aquário em ordem a fim de manter os peixes saudáveis não era fácil tarefa. Ele comenta:

Era preciso manejar um laboratório químico portátil para monitorar os níveis do nitrato e o conteúdo de amônia. Bombeava dentro dele vitaminas, antibióticos, sulfa e enzimas suficientes para fazer crescer uma rocha. Filtrava a água por meio de fibras de vidro e carvão, e o expunha à luz ultravioleta.6

Yancey então desabafou que esperava ver alguma espécie de gratidão em seus peixes. No entanto, a única emoção que eles conseguiam demonstrar diante de sua aproximação era medo. Ele diz que, por mais que tentasse convencê-los de que se aproximava apenas com o interesse de ajudá-los, seus esforços não obtinham qualquer resultado positivo. Ele continua:

Para os meus peixes, eu era a divindade. Era grande demais para eles; minhas ações, incompreensíveis demais. Meus atos de misericórdia, eles os viam como crueldade; minhas tentativas de curá-los, consideravam-nas destruição. Para mudar as perspectivas, comecei a entender: era exigida uma forma de encarnação. Eu teria que me tornar um

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peixe e “falar” a eles em uma linguagem que pudessem entender. Um ser humano transformando-se em peixe não é nada comparado a Deus tornando-Se um bebê.7

A experiência de Yancey ilustra quanto é misteriosa a encarnação

do Filho de Deus, e que, a menos que Ele tivesse vindo ao mundo, jamais teríamos uma visão mais clara a respeito do amor do Pai. A Bíblia declara: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1:1-3). Fazendo alusão a esse texto, Ellen G. White comenta: “Tenho visto muitas vezes o amorável Jesus, que é uma pessoa. Perguntei-Lhe se Seu Pai era uma pessoa e tinha a mesma forma que Ele. Disse Jesus: ‘Eu sou a expressa imagem da pessoa de Meu Pai’.”8

Se quisermos realmente saber como Deus é, precisamos olhar para Jesus. Algumas pessoas gastam muito tempo discutindo se Jesus é igual a Deus, porém não é preciso ir muito longe para perceber que essa é uma verdade bíblica inexorável. Basta ler João 1:1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Talvez, devêssemos gastar mais tempo observando que Deus é igual a Jesus. Mas isso não significa que os dois sejam a mesma pessoa. João diz que o Verbo estava com Deus. Para que uma pessoa esteja com outra, obrigatoriamente ela precisa ser distinta da outra.

3. O amor de nosso Pai celestial Comumente, encontramos pessoas que afirmam que o Deus do

Antigo Testamento é diferente do Deus do Novo Testamento. Isso é fruto de uma visão equivocada a respeito do caráter de Deus. O Antigo Testamento está repleto de exemplos de um Deus que ama com amor desmedido. Para mim, um exemplo clássico está registrado no livro do profeta Jonas, o qual constrói um quadro surpreendente do amor de Deus.

De fato, o livro de Jonas é cheio de surpresas. Foi a primeira vez que Deus enviou um profeta para fora de seu país. Porém, não se tratava

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de qualquer país: era um país inimigo e violentamente cruel. Algo como um judeu ir pregar em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a viagem do profeta para esse grande centro urbano – uma cidade com mais de 120 mil pessoas –, uma forte tempestade ameaçou destruir a vida de todos no navio. Os eventos seguintes nos causam perplexidade: todos obedeciam a Deus: os marinheiros, os peixes, os ventos e mesmo o mar, menos o profeta. E tudo isso porque ele estava fugindo de sua missão. Finalmente, Jonas foi, pregou, e toda a cidade se arrependeu. Mesmo o evangelista mais otimista ficaria surpreso com algo assim. Cem por cento de sucesso em seu evangelismo! Então, nos deparamos com algo que nos deixa verdadeiramente chocados: Jonas foi um evangelista que ficou triste com o sucesso de seu evangelismo! Toda essa história nos oferece um poderoso vislumbre do amor de Deus: Ele disse que destruiria a cidade em quarenta dias, mas não a destruiu. Diante desse fato, Jonas entrou em depressão (4:1). A razão de sua depressão é um antigo refrão em Israel: “Sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-Se, e grande em benignidade, e que Te arrependes do mal” (Jn 4:2). De fato, a depressão de Jonas não era por causa do caráter benevolente de Deus, mas porque, sabendo como Ele é, Jonas tinha certeza de que Deus perdoaria os ninivitas.

Declarações como essa são encontradas em outras partes do Antigo Testamento. Em Êxodo 34:6-7a, lemos: “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado...”. Interessante é que o próprio Senhor é quem faz essa afirmação. Em Números 14:17-18, Moisés relembrou essas palavras em sua oração: “Agora, pois, rogo-Te que a força do Meu Senhor se engrandeça, como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo e grande em misericórdia, que perdoa a iniquidade e a transgressão...” Variações desse refrão podem ser encontradas em Neemias 9:17; Salmo 86:15; 103:8; Joel 2:13; Naum 1:3. Em Jeremias 31:3, encontramos a notável declaração: “Com amor eterno Eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jr 31:3). Porém, Deus não é como aquele marido que diz que ama a esposa, mas não demonstra seu amor por meio de atos de bondade. Deus libertou Seu povo do cativeiro egípcio, trouxe de volta do cativeiro babilônico, mas nada é comparado ao maior ato de todos: Ele deu Seu próprio Filho para morrer em nosso lugar!

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4. O compassivo cuidado de nosso Pai celestial

O compassivo cuidado de nosso Pai celestial é algo claro desde o Gênesis ao Apocalipse. Em Gênesis 1, Ele é aquele que gera a vida, e prepara um lindo e agradável ambiente onde Seus filhos recém-criados pudessem viver em plena satisfação e felicidade. Em Neemias 9:6, Ele é apresentado como aquele que preserva a vida; em Salmo 40:17, Ele é nosso amparo e nosso libertador; em Isaías 41:10, Ele encoraja, fortalece, ajuda e sustenta Seus filhos; Ele nos protege (Gn 15:1; Dt 33:27; Sl 91:4; Pv 30:5) com força e poder (2Cr 20:6: Jó 26:12), e luta como um guerreiro para defender Seu povo (Sl 46:7; Jr 20:11). No livro Primeiros Escritos, Ellen G. White fala um pouco desse paternal cuidado de Deus através do ministério dos anjos celestiais. Ela diz:

Vi o terno amor que Deus tem por Seu povo, e é muito grande. Vi anjos com as asas estendidas sobre os santos. Cada santo tinha um anjo de guarda. Se os santos choravam de desânimo, ou estavam em perigo, os anjos que sempre os assistiam, voavam rapidamente para cima a fim de levar as novas; e os anjos na cidade cessavam de cantar. Então Jesus comissionava outro anjo para descer a fim de animá-los, vigiar sobre eles e procurar impedi-los de abandonar o caminho estreito, mas se não davam atenção ao cuidado vigilante dos anjos e não quisessem ser por eles consolados, antes continuassem a se desgarrar, os anjos pareciam ficar tristes e choravam. Levavam as notícias para cima, e todos os anjos na cidade choravam. Então, com grande voz diziam: "Amém!" Se, porém, os santos fixavam os olhares no prêmio que diante deles estava e glorificavam a Deus, louvando-O, então os anjos levavam as alegres novas à cidade, e os outros que ali estavam tocavam suas harpas de ouro e cantavam em alta voz: "Aleluia", e as abóbadas celestiais ressoavam com seus belos cânticos.9

O ministério dos anjos é também uma demonstração do cuidado

de Deus por nós. O autor de Hebreus diz: “Não são todos eles espíritos

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ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Hb 1:14).

5. O Pai, o Filho e o Espírito Santo

A crença número dois dos Adventistas do Sétimo Dia é expressa nas seguintes palavras: “Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas. [...] Ele é infinito e está além da compreensão humana [...]”10. Há quem diga que a Trindade não é um ensinamento bíblico porque a palavra não é encontrada na Bíblia. Porém, a palavra encarnação também não é encontrada, e nem por isso é possível negar que a Bíblia apresente amplamente o assunto11.

Uma vez que a Bíblia afirma que Deus é amor, somos obrigados a refletir sobre as implicações disso. Conforme sugere Rubem Scheffel12,

Imaginemos que Deus fosse apenas uma Pessoa. Isso significaria que Ele estivera, durante milhões e milhões de anos, na imensidão vazia, antes de ter criado o Universo e os seres vivos. Mas a Bíblia diz que Deus é amor, e o amor não pode se manifestar em solidão. É preciso ter alguém a quem amar, caso contrário, o amor não se desenvolve e não tem chance de ser correspondido. Fica difícil imaginar um Deus de amor, que tenha permanecido por uma eternidade passada sem ter a quem amar.

É por isso que em Gênesis 1:26a, encontramos uma espécie de

diálogo: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” O uso do plural expressa a ideia de que mais de uma pessoa estão envolvidas. De fato, uma alusão à Trindade pode ser apreendida logo na introdução de Gênesis 1:1-2: “No princípio, criou Deus os céus e a Terra. A Terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.” Na abertura de seu evangelho, João afirma que “no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus” (Jo 1:1). Portanto, os três estavam presentes. Se compararmos a abertura do livro de Gênesis com a abertura do Evangelho de João e a primeira carta de João, observaremos que Pai, Filho e Espírito formam uma equipe que trabalhou unida na obra da criação, e continua trabalhando unida na obra de redenção13. Porém, esse não é um assunto

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que se restringe a Gênesis, ao evangelho e à primeira carta de João, mas perpassa toda a Escritura, inclusive o Antigo Testamento14. Um exemplo disso pode ser encontrado em Isaías 48:12-16, sobretudo a parte final do verso dezesseis: “Agora, o Senhor Deus [o Pai] Me enviou a Mim [o Filho] e o Seu Espírito [o Espírito Santo].”

No entanto, dentro do Novo Testamento podemos ter uma compreensão mais clara a respeito da atuação das três Pessoas da Divindade no grande plano da salvação. Os três são mencionados no anúncio do nascimento de Jesus (Lc 1:35); estão juntos no batismo de Jesus (Mt 3:16); na grande comissão (Mt 28:19-20) e na distribuição dos dons (1Co 12:4-6; Ef 4:4-6). Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há diversos outros textos no Antigo e Novo Testamentos, onde encontramos as três Pessoas da Divindade, os quais nos deixam claro que a Trindade é um mistério revelado, mas não explicado15. Compreender a Trindade é tão impossível quanto tentar transferir toda a água do oceano para o buraquinho que costumamos fazer na areia da praia. Conclusão

A Bíblia nos ensina que Deus é nosso Pai (Mt 6:9); é amor (1Jo 4:8); alguém que Se revela (Hb 1:1-2) e que Se relaciona (Êx 25:8); por isso, podemos ter segurança de que ao buscá-Lo em humildade e oração, somos bem recebidos. Por essa razão, podemos nos aproximar dEle com confiança e coragem (Ef 3:12; Hb 4:16). Ellen G. White reitera: “Nenhum suspiro se desprende, nenhuma dor é sentida, desgosto algum magoa a alma, sem que sua vibração se faça sentir no coração do Pai. [...] Deus Se inclina de Seu trono para escutar o clamor do oprimido. A toda sincera súplica, responde: ‘Eis-Me aqui’.”16 Não precisamos ter receio de ir a Ele. Nosso amado Pai Celestial está sempre de braços abertos para nos receber! Referências: 1 O autor é pastor, mestre em Ciências da Religião pela UNICAP; mestre em Teologia Pastoral e graduado em Teologia e Letras. É membro do Grupo de Pesquisa Cristianismo e Interpretações, da UNICAP e do GEAN – Grupo de Estudo da Antiguidade, do UNASP. É editor da Revista Hermenêutica, e autor de diversos artigos e livros na área de Teologia Bíblica. Atua como docente do curso de Teologia, no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Cachoeira/BA. É casado com a professora Cristiane Aguiar, e tem dois filhos: Karol e Lucas. 2 Patriarcas e Profetas, p. 33. 3 O Grande Conflito, p. 678. 4 Somos atraídos ao Filho através do trabalho do Espírito Santo (Jo 16:8,13). 5 Beasley-Murray, G. R. Word Biblical Commentary : John. Dallas: Word, 2002, v. 36, p. 378.

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6 Philip Yancey. O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Vida, 2004, p. 36. 7 Idem, p. 36. 8 Primeiros Escritos, p. 77. 9 Primeiros Escritos, p. 39. 10 Associação Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Nisto Cremos: as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. 8 ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008, p. 295. 11 Gerhard Pfandl. The Trinity in Scripture. Journal of the Adventist Theological Society, v. 14, n. 2, 2003, p. 80. 12 Rubem Scheffel. Trindade: uma revelação gradual. Revista Ministério, mar-abr/2003, p. 17. 13 Adenilton T. de Aguiar. O Gênesis, o Logos e os Prólogos: linguagem criacionista no Evangelho e na Primeira Carta de João. Práxis Teológica, 2011, v. 1, p. 131-144. Disponível em: http://www.seer-adventista.com.br/ojs/index.php/praxis/issue/view/17/showToc 14 Norman R. Gulley. Trinity in the Old Testament. Journal of the Adventist Theological Society, v. 17, n. 1, 2006, p. 80-97. 15 Rubem Scheffel. Trindade: uma revelação gradual. Revista Ministério, mar-abr/2003, p. 17. 16 Desejado de Todas as Nações, p. 356.