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Manual Técnico de Armamento e Tiro Técnica de Tiro de Pistola EPG/GNR Módulo IV 1 TÉCNICA DE TIRO DE PISTOLA 1. TIRO DE PRECISÃO Atendendo a que, para o cumprimento da sua missão, os militares da GNR podem vir a utilizar armas de fogo, é de primordial importância ter sempre presente os elementos fundamentais em que se divide a técnica de tiro de pistola. Só através da conjugação dos seus aspectos particulares será possível atingir uma qualidade de desempenho que permita tirar o melhor rendimento dessa utilização. O mesmo é dizer que só assim é possível maximizar as hipóteses de efectuar tiro de uma forma eficiente e eficaz. Para cumprir este objectivo, esta matéria deve ser abordada após a instrução sobre a pistola e antes da execução de tiro em carreira de tiro (CT). Só após confirmação de uma correcta apreensão da técnica de tiro é que se pode considerar a possibilidade de deslocamento à CT. Esta complementaridade entre a teoria e a prática permitirá ao militar aperceber-se de todos os pormenores relevantes que têm interferência no resultado do desempenho. Para tal, e antes propriamente de passarmos à abordagem da técnica de tiro de pistola, convém relembrar algumas das especificidades deste tipo de arma. Estas características servem para reforçar algumas das considerações que mais adiante serão tecidas no âmbito da técnica de tiro com este tipo de arma. Talvez a mais importante decorra da sua própria natureza. Na realidade, a pistola é uma arma de defesa pessoal, utilizada apenas a curtas distâncias e onde a rapidez da acção é preponderante, tendo como características mais salientes as seguintes: Curto comprimento do cano e da própria arma; Falta de apoio para empunhar a arma e executar o disparo. Destas características, resultam alguns efeitos que se torna necessário identificar e compreender, sendo de salientar os que têm a ver com: O curto comprimento do cano e da arma, dando origem a que, qualquer pequeno desvio, resulte numa maior dispersão sobre o alvo. Do mesmo modo, um pequeno movimento da mão pode comprometer a segurança dos restantes elementos na CT; A falta de apoio, originando uma maior fadiga no braço, o que acaba por resultar em erros por parte do atirador, aumentando também a dispersão; O nervosismo - factor psicológico -, provocado pelo primeiro contacto com uma arma muitas vezes desconhecida. O “medo” desta ou o facto de não se executar tiro regularmente, aliados aos efeitos anteriormente vistos, poderão provocar dispersões para além do aceitável, tanto em relação aos resultados pretendidos na instrução, como em termos de segurança. Este será um dos pormenores a acautelar, obrigando a adoptar algumas medidas de prevenção, as quais se podem consubstanciar num reforço especial dos aspectos com ela relacionados. 1.1 Técnica do tiro de Precisão A técnica de tiro de precisão divide-se em 5 elementos fundamentais: 1. Tomar a posição; 2. Suspender a respiração; 3. Fazer a pontaria; 4. Executar o disparo; 5. Fazer o “seguimento”.

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TÉCNICA DE TIRO DE PISTOLA 1. TIRO DE PRECISÃO

Atendendo a que, para o cumprimento da sua missão, os militares da GNR podem vir a utilizar

armas de fogo, é de primordial importância ter sempre presente os elementos fundamentais em que se divide a técnica de tiro de pistola. Só através da conjugação dos seus aspectos particulares será possível atingir uma qualidade de desempenho que permita tirar o melhor rendimento dessa utilização. O mesmo é dizer que só assim é possível maximizar as hipóteses de efectuar tiro de uma forma eficiente e eficaz.

Para cumprir este objectivo, esta matéria deve ser abordada após a instrução sobre a pistola e antes da execução de tiro em carreira de tiro (CT). Só após confirmação de uma correcta apreensão da técnica de tiro é que se pode considerar a possibilidade de deslocamento à CT. Esta complementaridade entre a teoria e a prática permitirá ao militar aperceber-se de todos os pormenores relevantes que têm interferência no resultado do desempenho.

Para tal, e antes propriamente de passarmos à abordagem da técnica de tiro de pistola, convém relembrar algumas das especificidades deste tipo de arma. Estas características servem para reforçar algumas das considerações que mais adiante serão tecidas no âmbito da técnica de tiro com este tipo de arma. Talvez a mais importante decorra da sua própria natureza. Na realidade, a pistola é uma arma de defesa pessoal, utilizada apenas a curtas distâncias e onde a rapidez da acção é preponderante, tendo como características mais salientes as seguintes:

• Curto comprimento do cano e da própria arma; • Falta de apoio para empunhar a arma e executar o disparo.

Destas características, resultam alguns efeitos que se torna necessário identificar e compreender, sendo de salientar os que têm a ver com:

• O curto comprimento do cano e da arma, dando origem a que, qualquer pequeno desvio, resulte numa maior dispersão sobre o alvo. Do mesmo modo, um pequeno movimento da mão pode comprometer a segurança dos restantes elementos na CT;

• A falta de apoio, originando uma maior fadiga no braço, o que acaba por resultar em erros por parte do atirador, aumentando também a dispersão;

• O nervosismo - factor psicológico -, provocado pelo primeiro contacto com uma arma muitas vezes desconhecida. O “medo” desta ou o facto de não se executar tiro regularmente, aliados aos efeitos anteriormente vistos, poderão provocar dispersões para além do aceitável, tanto em relação aos resultados pretendidos na instrução, como em termos de segurança. Este será um dos pormenores a acautelar, obrigando a adoptar algumas medidas de prevenção, as quais se podem consubstanciar num reforço especial dos aspectos com ela relacionados.

1.1 Técnica do tiro de Precisão

A técnica de tiro de precisão divide-se em 5 elementos fundamentais:

1. Tomar a posição; 2. Suspender a respiração; 3. Fazer a pontaria; 4. Executar o disparo; 5. Fazer o “seguimento”.

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1.1.1 Tomar a posição para o atirador direito1

A posição mais comum e a que oferece maior segurança é a chamada de “Método de Weaver”, cujas características são conforme a seguir se enunciam. Contudo, se um atirador tiver uma boa posição de tiro, já por si estabelecida, e atira bem, não vale a pena tentar alterá-la, desde que a posição respeite os princípios padronizados e quando os desvios se situem dentro dos limites que se consideram razoáveis e admissíveis. Para um iniciado é conveniente ensinar a posição referida. Esta deve, no essencial, ser a mais natural possível, de forma a proporcionar conforto e liberdade de movimento ao atirador. O tiro de precisão com pistola pode ser executado em qualquer posição, segurando a arma com as duas mãos. Contudo, em termos de instrução (para os cursos), só é considerada a posição de pé e em que a arma é empunhada sem qualquer espécie de apoio. Assim, o atirador deve tomar os procedimentos que dizem respeito a cada um dos itens que se seguem. 1.1.1.1 Enquadramento com o alvo

• O atirador afasta os pés e coloca-se exactamente em frente ao alvo como se o observasse “olhos nos olhos”;

• Seguidamente, faz rodar ambos os pés para a direita de forma a que se fosse traçada uma linha imaginária passando pelo meio dos seus pés, esta faria um ângulo de cerca de 40º2 com a linha do alvo.

1.1.1.2 Posição dos pés, pernas e peso do corpo

• Os pés devem estar afastados naturalmente, tendo como referência a largura dos ombros;

• As pernas não devem estar flectidas nem rígidas; • O peso do corpo deverá ser repartido igualmente pelas duas pernas, de

modo a que o equilíbrio seja perfeito sem qualquer tipo de rigidez no corpo.

1 Se o atirador for esquerdo, pratica-se o inverso daquilo que irá ser definido. Admitem-se, contudo, algumas variações, as quais decorrem da constituição anatómico-fisiológica de cada militar. Não obstante, devem ser observados e respeitados os princípios subjacentes a cada um dos itens a serem abordados para o “tomar da posição” e para os outros elementos em que se divide a técnica de tiro de precisão. 2 Esta medida angular é meramente indicativa. O importante é que o militar defina a sua posição, a que lhe parecer mais cómoda.

40º

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1.1.1.3 Posição do tronco

Após achar a posição correcta dos pés, o tronco deve também ser mantido numa posição “natural”, ou seja, não o torcer excessivamente pela bacia.

1.1.1.4 Posição do ombro e braço direito

• O ombro direito vai ficar mais afastado do alvo, de maneira a que o braço fique esticado e direccionado ao seu centro, mantendo o pulso firme;

• Para executar o tiro, o braço direito deve estar esticado (nunca flectido no cotovelo), mas com uma rigidez natural (para que não trema com o excesso de força) e de forma a que qualquer movimento ou balanço que nele ocorra só possa ter origem nas ancas, nos joelhos ou nos tornozelos e nunca no ombro;

• Para descanso, após cada disparo, deve baixar-se o braço, o qual deve ter uma inclinação nunca inferior a 45º3, levantando-o de seguida para cada disparo.

1.1.1.5 Empunhamento da arma na mão direita

• A mão deve ser aberta, de modo a que a parte posterior do punho da arma fique apoiada na “chave da mão” (entre o indicador e o polegar), ficando o punho apoiado entre a região hipotenar (base do dedo polegar) e a palma da mão.

• Os dedos, médio, anelar e mínimo abraçam o punho, fazendo força na direcção do eixo da arma, ficando o indicador livre para actuar no gatilho. Esta força ajuda a controlar a reacção da arma após o disparo, fazendo diminuir o tempo para a execução de um 2º tiro preciso. O polegar pode accionar a patilha de segurança4, exercendo um mínimo de pressão sobre o local onde assenta – normalmente perto da parte superior do punho;

• A mão mantida fixa firmemente na mão que empunha, com naturalidade, recebendo o impacto resultante do disparo com igual naturalidade e sem torcer a arma em qualquer que seja o sentido;

3 Esta inclinação tem por objectivo minimizar o risco que possa ser provocado por um disparo negligente. 4 O mais indicado é que este movimento seja feito pelo polegar esquerdo, visto estar mais liberto para esta acção.

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• Não esquecer que qualquer força que seja exercida fora da direcção do eixo do cano poderá provocar desvios no tiro pelo que o eixo do cano deve ser paralelo à direcção do braço estendido e a mão não deve “quebrar pelo pulso”;

• A pistola deve ser segura apenas com a força necessária para a manter na mão - a força necessária para cumprimentar alguém -. O excesso de tensão leva à fadiga e a que a mão comece a tremer, aumentando os desvios e enervando o atirador, que não consegue manter a arma fixa na zona de pontaria;

• Um processo simples e prático de se verificar se a arma está bem empunhada é espreitando por cima do ombro, ao longo do braço, e verificar se está perfeitamente alinhada com esse mesmo braço ou mão. Caso não esteja, retirar a pistola da mão e empunhá-la de novo, repetindo-se as vezes necessárias até se obter um empunhamento correcto.

1.1.1.6 Posição do ombro e braço esquerdo

Este ombro, vai ficar mais próximo do alvo, ficando o braço flectido e com o cotovelo junto ao peito, sendo essa flexão aproveitada para não só ajudar ao apoio do braço direito, como também para conferir protecção aos órgãos vitais, como o coração e o baço.

Mal Mal Bem

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1.1.1.7 Posição da mão esquerda

A mão esquerda vai encaixar na arma de modo a cobrir com a palma da mão, a parte do punho da arma que se encontra descoberto, ficando os dedos apoiados sobre os da outra mão (e com o polegar esquerdo sobre o polegar direito).

1.1.1.8 Posição da cabeça

Deve manter-se erguida, sem estar forçada, por forma a ficar nivelada com a linha de mira, na direcção do alvo, estando a arma entreposta entre ambos. Qualquer posição que dificulte a respiração deve, evidentemente, ser evitada. É importante aqui realçar que a arma deve ser trazida à linha de vista e não o contrário.

1.1.1.9 Posição em relação ao alvo

Definida a posição normal do atirador, cabe agora definir os procedimentos a executar para que cada atirador consiga adaptar esta posição ideal às suas características:

• Com os olhos fechados ou com a cabeça voltada para o lado, levantar o braço direito na direcção do alvo;

• Abrindo os olhos ou voltando a cabeça para a frente, verificar se a arma não “quebra pelo pulso” e se o cano está direccionado à esquerda ou à direita do centro do alvo. A arma deve estar no prolongamento do braço5;

• Se o cano estiver direccionado à esquerda do centro do alvo, mover ligeiramente o pé direito para trás;

5 O atirador deve “espreitar” sobre o ombro para verificar que braço e arma estão no mesmo enfiamento.

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• Se o cano estiver direccionado à direita do centro do alvo, mover ligeiramente o pé direito para a frente;

• Voltar a fechar os olhos ou virar a cabeça e verificar se o cano está direccionado ao centro do alvo. Se ainda não estiver, repetir os procedimentos anteriores, até tal se conseguir, sem ter de fazer rotações laterais do braço ou da mão e sem mexer a perna mais avançada em relação ao alvo;

• Para se corrigir em elevação, apenas será necessário fazer o alinhamento das miras ao centro ou à base do centro do alvo (conforme a distância do atirador e tamanho do alvo).

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1.1.2 “Suspender” a respiração

Como os movimentos da caixa torácica, do estômago e dos ombros fazem mover consideravelmente o braço e mão que empunha a arma, e o que serve de apoio, devido à respiração durante o processo de pontaria e de disparo, esta deve cessar durante este período6. No sentido de não provocar um esforço sobre o coração e a circulação, os pulmões devem conter apenas uma quantidade mínima de ar. Para o tiro de precisão, deve-se adquirir a seguinte técnica de respiração:

• Antes de levantar o braço, inspire e expire repetidas vezes, mas não tão profundamente que eleve a pulsação desnecessariamente;

• Ao mesmo tempo que inspira pela última vez, levante o braço; • Enquanto expira parte do ar contido nos pulmões, aponte o mais rapidamente

possível (isto é, levar o braço para a posição de pontaria de forma rápida); • “Suspender” a respiração momentaneamente; • Aproveite a pausa que ocorre entre os períodos de inspiração/expiração para, sem

transtornar o normal desenrolar do ciclo respiratório, efectuar tiro; • Se não tiver disparado no período de aproximadamente 12 segundos, deve

interromper o processo e recomeçar depois de uma curta pausa, porque, após um certo tempo a apontar, ocorrem os primeiros sinais de incerteza. Esses sinais indicam claramente que o tempo, dentro do qual se devia ter disparado, com certeza se esgotou. Lembre-se: nada de tiros em pânico ou a despachar. Nestes casos, deve-se libertar o gatilho, baixar o braço e procurar descontrair, para depois voltar à execução do tiro.

1.1.3 Fazer a pontaria

Fazer a pontaria7 correcta é pôr em linha quatro elementos:

1. Olho do atirador; 2. Alça de mira; 3. Ponto de mira; 4. Alvo.

O perfeito alinhamento de cada um deles fará com que o projéctil percorra o espaço e atinja o sítio desejado, se não sofrer variações8 até que saia à boca do cano, nem se verificar a intervenção de factores externos. De entre estes, o mais importante diz respeito ao alinhamento das miras. Existem vários tipos de alinhamento das miras. O método de tiro será ditado pela precisão requerida, o tamanho do alvo e a distância ao mesmo. Para o tiro preciso e lento – o qual estamos aqui a tratar -, deve utilizar-se uma visão total dos elementos

6 Não defendemos aqui a paragem total da respiração porque isso é prejudicial à necessária oxigenação celular, o que, a não acontecer poderia trazer alguns distúrbios a nível da visão, aumentaria a sensação de cansaço e, consequentemente, poderia até originar a antecipação do disparo. Por esta razão, digamos que a respiração deve ser minimizada, quase como se existisse a sensação de que o ar não entra nem sai. 7 Um conceito idêntico é o de “mirada”. Entende-se por mirada a acção de fazer pontaria, ou seja, colocar o olho do atirador, a ranhura da alça de mira, o ponto de mira e o alvo, na mesma linha. Como se verifica, mirada encerra um conceito diferente de apontar, já que, neste último, o atirador limita-se a dirigir a arma para o alvo, sem fazer pontaria. É o que se passa no tiro policial, como veremos, em que os olhos do atirador se focam no alvo e não no aparelho de pontaria. 8 Como é óbvio, as variações aqui implícitas não têm a ver propriamente com as alterações sofridas pela munição e pelo projéctil, do ponto de vista Físico-Químico, mas antes com aquelas que são transmitidas pelos erros cometidos pelo atirador, tendo como consequência desvios angulares e paralelos, (Ver MODULO V – Técnica de Tiro de Espingarda, pág 11) os quais fazem com que o local de impacto seja distinto do desejado.

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do aparelho de pontaria e alvo. Tal requer a concentração no ponto de mira mas também um alinhamento cuidadoso da alça de mira com uma zona no alvo. Este tiro torna-se necessário com a finalidade de ensinar o subconsciente a reconhecer o que é uma imagem do bom alinhamento das miras. Como as miras são duas pode surgir a pergunta: qual delas focamos? Na impossibilidade de focar vários pontos em simultâneo, o atirador deve-se habituar a manter perfeitamente focado o ponto de mira até se produzir o disparo. A prática de “tiro em seco” ajuda bastante neste processo. Apesar de estarmos a considerar o tiro de precisão, é conveniente que o atirador se habitue a adquirir o mais rapidamente possível uma imagem das miras alinhadas, uma vez que se pretende, na modalidade de tiro policial – como adiante veremos -, um tiro com maior rapidez, utilizando uma determinada zona de pontaria no alvo, a qual pode ser definida pelo próprio atirador ou por quem estiver a dirigir o tiro. Portanto, não se aponta a um ponto definido mas a uma zona/área, visto ser impossível parar a arma. Na prática, esta área corresponde ao que se pode denominar como “zona de movimento mínimo” (ZMM) sendo nessa condição que deve ocorrer o disparo. Efectivamente, é um erro tentar parar completamente a arma pois tal não é possível, contudo, se mantivermos as miras bem alinhadas e centradas, os erros que eventualmente possam surgir serão erros paralelos, bem mais fáceis de resolver que os erros angulares9, tem de se ter cuidado também com o movimento de accionamento do gatilho, pois se este não for devidamente controlado, tal provocará necessariamente desvios nas miras no momento do disparo, afastando o impacto do local pretendido. Independentemente das formas que o ponto de mira e a ranhura da alça de mira possam ter, o atirador deve preocupar-se com o seu correcto alinhamento, evitando assim o defeito de ter a boca do cano a apontar para o chão, por centrar a sua atenção em focar o alvo. Para o tipo de alças e pontos de mira mais frequentes, o alinhamento correcto corresponde à imagem que se pode ver ao lado. O topo do ponto de mira encontra-se alinhado com o topo da alça, sendo que o espaço entre ambos - as “janelas” - devem ser iguais (quando não aparecem os já referidos erros angulares). Ora, como é impossível à vista humana focar três objectos a distâncias diferentes (alça, ponto de mira e alvo), o atirador tem de efectuar um movimento constante entre o alinhamento das miras e o alvo. Se o aparelho de pontaria não está nítido isso é sinal de que os olhos estão focados sobre o alvo, o que o mesmo é dizer que o atirador está a focar por cima das miras em vez de através delas. Se, ao contrário, o alvo estiver desfocado e o aparelho de pontaria estiver nítido quer dizer que o atirador está a proceder correctamente. À medida que o atirador, após tirar a folga ao gatilho, o vai pressionando, a sua atenção deve, progressivamente, concentrar-se no alinhamento das miras e não na focagem do alvo, devendo tentar obter uma visão o mais nítida possível deste alinhamento, enquanto o alvo surge ao fundo desfocado. Esta é a única forma de manter as miras alinhadas até que se produza o disparo e assim conseguir um tiro preciso.

9 Para ver a definição de erros angulares e paralelos, consultar o n.º 5.2

Janelas

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A imagem das miras alinhadas, e a sua projecção na zona de pontaria, irão fazer com que o dedo complete a pressão sobre o gatilho, produzindo-se o disparo. O atirador acaba assim por ser surpreendido pelo próprio disparo, visto este ser controlado pelo reflexo olho-dedo. A sua única preocupação deve centrar-se sobre aquele alinhamento, deixando o dedo actuar, como que de uma forma inconsciente. Quando as miras se decompõem o dedo que prime o gatilho fica como que bloqueado, retomando o seu movimento quando as miras se voltarem a alinhar. Podemos então considerar existir um momento estático que corresponde à manutenção do alinhamento das miras e outro dinâmico que será a pressão efectuada sobre o gatilho, sendo que este – único que se manifesta de forma visível – a qual obedece às particularidades que serão referidas mais adiante. Vejamos então mais pormenorizadamente cada um dos quatro elementos. 1.1.3.1 Olho do atirador

É comum, neste tipo de tiro, os atiradores “piscarem um olho” para fazerem a pontaria. Este procedimento não está completamente errado, mas geralmente provoca vários efeitos:

• Fadiga do olho; • Vista “nublada”; • Tremuras no olho; • Desconcentração; • Precipitação do disparo (tiro em pânico ou a despachar).

Estes efeitos são provocados pela contracção dos músculos que rodeiam o olho que se fecha, os quais acabam por influenciar a estabilidade dos seus congéneres do outro olho. Esta é a razão pela qual se aconselha a efectuar tiro com os dois olhos abertos. Assim, o atirador com algum treino ou que tenha dificuldades em saber qual o olho a piscar deve ter consciência de que é perfeitamente capaz de executar o tiro com ambos os olhos abertos, devendo saber que:

• Quando levanta a arma e a alinha com o centro do alvo, mantendo ambos os olhos focados nesse alvo, fica a ver dois canos da arma, dois aparelhos de pontaria, etc. Este “fenómeno” fica a dever-se ao olho direito criar uma imagem e o olho esquerdo duplicar essa imagem. Assim, o atirador tem de manter a focagem num dos pontos de mira e alinhar uma das alças de mira com ele (o que lhe parecer mais real, ignorando o outro), ficando a ver o alvo nublado (dado que, pelas razões já aludidas, a focagem da alça de mira, do ponto de mira e do

Visualização correcta Visualização incorrecta

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alvo, em simultâneo, é impossível). De referir que, para o atirador que tenha o olho director direito, essa imagem é a que lhe aparece à esquerda, como se pode verificar nas figuras seguintes:

• Um ligeiro pestanejar do olho é um importante auxiliar para melhorar a visão, pois permite a limpeza da córnea;

• Caso pretenda confirmar se a pontaria estaria correcta, basta piscar o olho esquerdo para que o aparelho de pontaria fique alinhado com o centro do alvo;

• Se na confirmação anterior, o aparelho de pontaria não ficou alinhado com o centro do alvo, mas sim ligeiramente à esquerda deste, piscar o olho direito que já consegue o alinhamento (o atirador tem o olho director esquerdo10).

• Esta técnica só se consegue desenvolver adequadamente com muito treino, pelo que, caso o atirador não a consiga pôr em prática de forma absolutamente eficaz, é preferível efectuar a pontaria apenas com um olho aberto e o outro fechado, caso contrário poderá comprometer a eficácia do tiro e mesmo a segurança de pessoas.

1.1.3.2 Alça de mira

Tal como o ponto de mira, a ranhura da alça de mira também pode ter várias formas (“V”,”U”, rectangular, etc.). Em conjunto com o ponto de mira, permite ao atirador fazer uma pontaria correcta. Assim, o enquadramento do ponto de mira deve ser bem centrado na ranhura da alça e com o topo deste à altura precisa dos bordos superiores da ranhura da alça. Admitindo que este procedimento é bem executado e que a arma está imóvel, o projéctil atingirá o alvo exactamente no local desejado.

10 Se o atirador está habituado a empunhar a arma com a sua mão direita e o seu olho director for o esquerdo, não deve mudar de mão, pois não é essa a sua posição natural. O que deve fazer é habituar-se a disparar com ambos os olhos abertos, tendo em consideração o que aqui é referido.

Imagem do olho direito

Imagem do olho esquerdo

Imagem do olho direito

Imagem do olho esquerdo

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1.1.3.3 Ponto de mira

Independentemente da forma que o ponto de mira possa ter (quadrada, rectangular, trapezoidal, ou outra), tem de ser sempre a primeira coisa em que o militar deve fixar a sua atenção (neste tipo de tiro). A sua colocação na extremidade do cano torna-o um indicador privilegiado sobre a forma com a pontaria está a ser efectuada. Normalmente, a arma está regulada para que o topo do ponto de mira (em conjunto com a ranhura da alça de mira) seja apontado ao centro do alvo, ou à zona de pontaria.

1.1.3.4 Alvo

• Como já foi referido anteriormente, o atirador não deve ver o centro do alvo nítido, pois, se isto acontecer, é sinal de que este não está a focar o aparelho de pontaria da arma;

• Quando o centro do alvo tiver dimensões reduzidas, ou a distância do atirador a este for grande, deve-se fazer o alinhamento do aparelho de pontaria à base do centro do alvo. Se pelo contrário, o centro do alvo tiver grandes dimensões ou a distância for curta, deve-se optar por fazer o alinhamento precisamente ao centro deste;

• O alvo mais utilizado pela GNR é o Silhueta policial II (SPII)11, já que é utilizado na execução do tiro de pistola e espingarda;

• Através da “leitura do alvo”, o atirador pode ir fazendo as correcções necessárias. Apercebendo-se do local de impacto, efectua as correcções que entender convenientes. No entanto a “leitura do alvo” só deve ser

11 Para outras informações sobre alvos, consultar o n.º 4.8 e os Anexos A e B.

Bem Mal

Alinhamento à base Alinhamento ao centro

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feita pelo atirador no momento em que se desloca aos alvos, ou quando exista dispositivo de visão ao longe (óculo de tiro ou dispositivo similar). O atirador, enquanto está na linha de tiro, não deve preocupar-se em saber onde estão a bater os impactos, mas sim na correcta execução da técnica, evitando assim desatenções. O que deve fazer durante cada uma das sessões de tiro é apontar sempre ao mesmo local do alvo, concentrando-se na técnica, para que posteriormente possa verificar o agrupamento conseguido e, se necessário, introduzir alterações na zona de pontaria, ou regular a arma;

1.1.4 Executar o disparo

A acção do atirador sobre o mecanismo de disparar, através do gatilho, merece atenção especial, uma vez que é aí que reside a principal causa dos erros cometidos no tiro. Para tal o atirador deve ter em atenção que:

• O contacto com o gatilho deve ser feito com a “cabeça do dedo”, que é a parte mais sensível;

• O dedo deve actuar numa direcção paralela ao eixo da arma e nunca obliquamente, isto é, a pressão deve ser exercida no sentido da frente para trás e horizontalmente;

• Conforme foi dito, o atirador, ao empunhar a arma, fica com o dedo indicador livre. Com ele irá actuar no gatilho, de forma que a pressão seja contínua, sem pressas nem quebras, como que “espremendo” o gatilho contra o punho;

• Se houver um puxar brusco do gatilho, desfaz-se a pontaria, havendo o consequente desvio.

Este controlo do gatilho pode ser alcançado utilizando-se o “treino em seco”, em situação de completo relaxe, para que o atirador se aperceba da sensação que lhe é transmitida pelo movimento de pressão exercido pelo dedo, até ocorrer o disparo, certificando-se de que a arma não se move, a ponto de desfazer o alinhamento das miras. Os militares que revelarem alguma dificuldade no controlo do gatilho devem aprender e treinar a pressionar lentamente o gatilho até se dar o tiro, de forma inesperada, de surpresa. Devem igualmente aprender a controlar a tendência natural de fechar os olhos no momento do disparo. A evolução para um treino em que os procedimentos são executados de forma cada vez mais rápida – mas sempre com precisão - auxilia o militar no cumprimento daquele objectivo e a fazer um tiro que quase o surpreende. Depois, à medida que os alvos se tornam maiores e mais próximos, aprende a disparar cada vez mais rápido. Precisão primeiro, só depois velocidade. Em todo este processo é preciso não descurar o alinhamento das miras. Se o treino for conduzido em CT, se as miras baixarem quando se prime o gatilho o tiro realizado mostrará bem o resultado.

1.1.5 Fazer o “seguimento”

O “seguimento” do tiro consiste em manter a pontaria durante alguns segundos após o disparo ocorrer. Tem como objectivo evitar que a arma se mova antes que os projécteis tenham abandonado a boca do cano, já que o atirador, na ânsia de verificar o resultado do disparo que acabou de efectuar, tem por vezes tendência para baixar

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ligeiramente o cano, a fim de observar o alvo. Tantas vezes o faz, que acaba por antecipar o tiro uma fracção de segundo antes do projéctil abandonar a boca do cano, só para poder ver o alvo. Serve também para antever o resultado do disparo, permitindo-lhe fazer as necessárias correcções tiro a tiro, sem ter de se deslocar à linha de alvos, uma vez que desta forma o atirador é levado a reproduzir a imagem mental do alinhamento das miras no momento do disparo.

1.2 Sequência ideal para o tiro de precisão

Após estarem adquiridos os elementos vistos anteriormente, podemos agora identificar a sequência ideal para executar o disparo, que será a seguinte:

1. Levantar os braços até à zona de pontaria definida; 2. Pressionar o gatilho até lhe retirar a folga; 3. Suspender a respiração; 4. Mantendo o olhar fixo, com a preocupação do alinhamento das miras, pressionar o

gatilho de forma lenta e contínua, até que o disparo aconteça, para surpresa do atirador (para isto é fundamental que a pressão exercida no gatilho seja contínua e sem sobressaltos);

5. Fazer o “seguimento”; 6. Se o atirador constatar que já não consegue executar o disparo em tempo oportuno, é

preferível não o fazer (pois o tiro seria, certamente, uma “gatilhada”), devendo baixar o braço, retomar a respiração e, quando estiver pronto, voltar a fazer a sequência anterior;

7. “Cada disparo é um disparo”; quer isto dizer que, para cada disparo, a concentração deve ser igual e todos os anteriores procedimentos enunciados se devem repetir.

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2. TIRO POLICIAL

Este tipo de tiro é, sem dúvida alguma, aquele que deve ser mais treinado pelos militares da GNR12, visto que, numa situação policial, se for necessário disparar, temos de o fazer rápida e certeiramente, a fim de evitar que inocentes sejam feridos, ou mesmo para salvaguardar a própria integridade física.

Esta modalidade é também muitas vezes chamada de “tiro instintivo”. Só que esta designação não é a correcta, já que a palavra “instintivo” implica algo que nós fazemos inconscientemente, como, por exemplo, o facto de levarmos o garfo à boca sem nos picarmos nele. Ora o tiro policial implica a consciência do que se está a fazer, pois se, por exemplo, o Adversário (ADV), de repente, levantar os braços em sinal de rendição, o militar da GNR não deve fazer tiro, ou deve suspendê-lo, caso já tenha disparado. Como tal, enquanto que no chamado tiro de precisão a atenção do atirador está exclusivamente centrada na execução técnica, no tiro policial, para além dos aspectos técnicos que envolvem a execução do tiro, a nossa atenção tem de estar sempre direccionada para as várias envolventes relacionadas com a situação concreta com nos estamos a deparar, de que se destaca o acompanhamento dos movimentos e acções tomadas pelo ADV para, face ao desenrolar da situação, podermos tomar a melhor decisão, e se for imprescindível utilizar a arma de fogo, garantirmos que o fazemos da forma legal e adequada à situação em concreto e com o máximo de precisão e eficácia.

Existem 3 factores fundamentais no tiro policial, devendo ser treinados pela ordem que a seguir se indica.

1.º Precisão - Numa situação policial a precisão com que o tiro é executado é fundamental e determinante do correcto uso da arma de fogo face à legislação vigente, uma vez que os princípios da necessidade e da proporcionalidade, são as balizas de qualquer intervenção pela força, e uma vez que o valor da vida deve ser preservado a todo o custo. “O recurso a arma de fogo só é permitido em caso de absoluta necessidade, como medida extrema, quando outros meios menos perigosos se mostrem ineficazes, e desde que proporcionado às circunstâncias. Em tal caso, o agente deve esforçar-se por reduzir ao mínimo as lesões e danos e respeitar e preservar a vida humana.”- Artº 2º do D.L. nº 457/99 de 5 de Novembro. Tal necessidade de executar o tiro com o máximo de precisão, exige que a técnica de tiro seja exaustivamente treinada, tendo sempre presentes os princípios atrás enunciados;

2.º Potência - Este é o único factor que o militar não pode praticar, visto que diz mais respeito ao material que é utilizado, nomeadamente às armas e seus calibres. Neste aspecto é de salientar que o calibre ideal para as forças policiais continua a ser o 9 mm Parabellum13;

3.º Rapidez - Como este tipo de tiro tem duas fases, pode-se então afirmar que:

• Na 1ª Fase, torna-se necessário “conhecer a arma” (para poder explorar correctamente as suas potencialidades), pois o atirador tem de se habituar à própria posição, à mirada rápida e à execução do disparo (o que é treinado ao nível do tiro de precisão);

• A 2ª Fase já envolve um treino mais apurado, pois, para além dos conhecimentos adquiridos na fase anterior, acrescenta-se o “saque” da arma do coldre. Por isso, torna-se necessário saber o que fazer com a arma após o saque, conhecer as características do próprio coldre para se conseguir um saque rápido, e até mesmo o local onde exista um segundo carregador para evitar a “procura do carregador”, o que provoca sempre o desvio dos nossos olhos em relação ao alvo. Só depois de consolidada a 1ª fase é que se pode dar início a esta fase.

12 Apesar de todas as condições adversas que possam surgir, este tipo de tiro deve ser efectuado, no mínimo, uma vez por ano. Numa situação considerada ideal, a periodicidade seria de três em três meses. 13 Pela sua potência e efeitos produzidos serem mais consentâneos com o que se pretende em termos de cumprimento da missão. As suas características, em termos balísticos, tornam-no mais eficaz em caso de recurso a arma de fogo.

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EPG/GNR Módulo IV 15

2.1 Evolução histórica do tiro policial

Desde a invenção das primeiras armas, que o homem chegou à conclusão de que quem as usasse primeiro e certeiramente obtinha vantagem sobre os seus oponentes. Com o surgimento das primeiras armas de fogo, surgiu também uma nova maneira destes se baterem em duelos, relegando para segundo plano as espadas. O processo era simples: cada qual, armado com a sua pistola na mão, era posicionado “costas com costas” e, após a contagem (normalmente dez passos) de um elemento neutro à contenda, viravam-se “frente a frente” e disparavam, procurando acertar no seu oponente, evidenciando já os princípios de um tipo de tiro que, nesta altura, se poderia chamar de duelo. Outra forma de duelo surgiu com os cowboys, que se defrontavam “frente a frente”, com a arma no coldre. Os principais objectivos consistiam em sacar a arma tão rápido quanto possível e disparar certeiramente um sobre o outro. Nesta altura, já se faziam notar os factores do tiro policial - Rapidez e Precisão -, que, para se obterem, tornava-se necessário muito treino. Até aos nossos dias, este tipo de tiro poucas alterações tem sofrido. Nos últimos anos, face a alguns dados estatísticos realizados nos EUA, o tiro policial tem sido mais dinâmico, caminhando no bom sentido, que é o de efectuar um tiro preciso e rápido e, ao mesmo tempo, fornecer relativa protecção ao atirador. Observemos alguns dos exemplos mais recentes. 2.1.1 Atirador de pé, de frente para o alvo, silhueta fixa

O atirador identifica o alvo, empunha a arma com as duas mãos, levanta os braços na direcção desse alvo e efectua o disparo. Tem como inconveniente o atirador expor-se demasiado, tornando-se numa grande silhueta, aumentando assim a possibilidade de ser atingido, pelo que esta posição não deve ser utilizada.

2.1.2 Atirador de pé, de frente para o alvo, silhueta móvel,

O atirador identifica o alvo e, com o objectivo de reduzir a sua silhueta, flecte ligeiramente as pernas, ao mesmo tempo que levanta os braços até à altura dos olhos, efectuando então o disparo. Tem como inconveniente o facto de, apesar do atirador reduzir a sua silhueta, os dados estatísticos anteriormente referidos, demonstrarem que, em situações de confronto, os elementos das forças policiais eram normalmente atingidos no peito ou na barriga, ficando-se esta situação a dever ao tiro baixo que os seus ADV’s efectuavam, talvez por falta de treino.

Silhueta

fixa Silhueta móvel

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Módulo IV EPG/GNR 16

2.2 Técnica do tiro policial

Conforme já foi referido relativamente ao tiro de precisão, o método actualmente utilizado é o método de Weaver. “Inventado” por um Sheriff americano com esse nome. Este método tem como principais vantagens a rapidez de execução, a precisão de tiro e a própria protecção que confere ao atirador. Este é o tipo de tiro que mais se assemelha às necessidades da GNR, quer pela eficiência, quer pela consciência de como é feito. A técnica de tiro Policial, divide-se também em 5 elementos fundamentais:

1. Tomar a posição; 2. Sacar; 3. Suspender a respiração; 4. Fazer a pontaria; 5. Executar o disparo.

O tiro policial requer uma atenção particular;

Em primeiro lugar, o agente policial nunca pode desprezar a precisão em detrimento da velocidade, uma vez que só um tiro preciso é garantia de que se consegue atingir o alvo pretendido em caso de necessidade, e com os efeitos adequados e pretendidos, pelo que o que se deve treinar é em primeiro lugar a precisão do tiro, para, numa segunda fase, conciliar a precisão com a rapidez de execução, reduzindo ao mínimo os desvios que possam ser provocados por um disparo mais rápido; Em segundo lugar, o atirador policial nunca se pode limitar a apenas dirigir a arma para o alvo, olhando por cima do aparelho de pontaria. Tal prática contraria a desejável e necessária precisão do tiro, uma vez que só com as miras devidamente focadas, se consegue uma razoável garantia de que o impacto irá atingir o alvo na zona pretendida. Assim, o que deve fazer-se é apurar o treino no sentido do atirador desenvolver competências que lhe permitam executar correctamente o disparo, isto é com as miras devidamente alinhadas e com um bom accionamento do mecanismo de disparar, introduzindo, faseadamente, o tiro com saque da arma, tiro rápido e tiro com o alvo em movimento. No entanto, repetimos que não é possível garantir um disparo minimamente preciso se não tivermos a certeza que no momento do disparo as miras estão devidamente alinhadas, e isso só se consegue se estivermos a olhar para elas nesse preciso momento;

O treino e a repetição ajudarão na consolidação destas destrezas. Vejamos então mais pormenorizadamente cada um dos cinco elementos fundamentais.

2.2.1 Tomar a posição de pé para o atirador direito14

O procedimento a adoptar é idêntico, em todos os aspectos, ao referido para o tiro de precisão. Ainda que não sejam utilizadas, na instrução, o atirador deve ter conhecimento de que, utilizando este método, ainda poderá tomar mais duas posições:

2.2.1.1 Tomar a posição de joelhos para o atirador direito

14 Se o atirador for esquerdo, pratica-se o inverso daquilo que irá ser definido. Relativamente ao que aqui irá ser enunciado, admitem-se igualmente algumas variações, desde que sejam observados e respeitados os princípios subjacentes a cada um dos itens a serem abordados para o “tomar da posição” e para os outros elementos em que se divide a técnica de tiro policial.

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2.2.1.1.1 Enquadramento com o alvo, posição dos pés e das pernas

• O atirador afasta os pés e coloca-se exactamente em frente ao alvo como se o observasse “olhos nos olhos”;

• Faz rodar ambos os pés para a direita, de forma a que se fosse traçada uma linha imaginária passando pelo meio dos seus pés, esta faria um ângulo de cerca de 40º com a linha do alvo;

• Coloca o joelho direito no solo, de maneira a ficar correctamente sentado sobre o calcanhar desta perna;

• Seguidamente, faz os ajustamentos necessários até estar devidamente enquadrado com o alvo.

2.2.1.1.2 Posição do tronco

Para dar uma maior estabilidade e diminuir a silhueta, deve estar ligeiramente flectido para a frente.

2.2.1.1.3 Posição do ombro e braço direito

O ombro vai ficar mais afastado do alvo, mantendo as mesmas características como para o atirador de pé.

2.2.1.1.4 Posição do ombro e braço esquerdo

O ombro fica mais próximo do alvo. O braço é flectido e apoia, na parte inferior (antes do cotovelo), sobre o joelho do mesmo lado, ficando assim o cotovelo ligeiramente avançado em relação ao joelho.

2.2.1.1.5 Posição das mãos e cabeça

Mantêm-se iguais à posição do atirador de pé.

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2.2.1.2 Tomar a posição de deitado para o atirador direito15

2.2.1.2.1 Enquadramento com o alvo, posição dos pés, das pernas e tronco

O atirador coloca-se exactamente em frente ao alvo e toma a posição de atirador deitado, afastando naturalmente as pernas e flectindo uma delas (consoante apoie ou não o cotovelo no solo) para permitir a estabilidade e apoio do tronco no solo.

2.2.1.2.2 Posição dos ombros e braços

O braço direito fica esticado na direcção do centro do alvo e o braço esquerdo vai ficar ligeiramente flectido, apoiado no solo.

2.2.1.2.3 Posição das mãos

O empunhamento é semelhante às duas posições anteriores, não esquecendo que a arma deve ficar na vertical, para o correcto visionamento do aparelho de pontaria.

2.2.1.2.4 Posição da cabeça

Flectida sobre o braço direito, reduzindo a sua silhueta e permitindo um melhor apoio desta.

2.2.1.2.5 Fazer a pontaria

A pontaria é executada como nas restantes posições de tiro com pistola.

15 Esta posição deve ser treinada com e sem apoio do braço que empunha a arma a fim de que o atirador defina a posição que lhe for mais confortável.

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2.2.2 Sacar

Relativamente ao tiro de precisão, passa agora a existir um elemento novo; o coldre. Aumenta assim o grau de dificuldade, já que o atirador passa a ter que “sacar a arma” mantendo a precisão e rapidez anteriormente adquiridas. Por esta razão, não se deve passar à modalidade de tiro policial enquanto não tiverem sido apreendidos os procedimentos relacionados com a técnica de tiro. Esta modalidade tem por objectivo primordial o de fazer a aproximação da instrução de tiro à realidade da GNR, visto que no serviço diário os militares, se tiverem de disparar, não terão a arma na mão, mas sim no coldre. A partir daqui têm de desencadear todo um conjunto de procedimentos, para os quais devem ser devidamente treinados, a fim de minimizar o risco de acidentes e aumentar a rapidez de reacção, mantendo a necessária precisão do tiro. O saque constitui um procedimento preliminar que conduz à execução do tiro. A importância de efectuar um bom saque está directamente relacionada com o coldre que temos16, para o que este deve possuir as seguintes características:

• Deve ser seguro e permitir ao atirador correr e subir um qualquer obstáculo sem o risco de perder a arma;

• Apesar de seguro, deve permitir fácil acesso à arma; • Deve permitir ao atirador um bom empunhamento ainda antes de sacar a arma.

Mudar ou reajustar o empunhamento a meio curso é não só perigoso como o gesto se torna mais lento;

• Deve proteger a arma e cobrir o gatilho; • Deve estar seguro no cinto para não se mover; • O atirador deve ser capaz de recolocar a arma no coldre sem ter que deixar de

olhar para o suspeito, bem como para o ambiente envolvente.

Uma análise cuidada dos procedimentos que devem ser executados para efectuar o saque permite realçar um conjunto de aspectos que devem ser observados. Eles materializam aquilo que se pode considerar como sendo a sequência ideal para efectuar este movimento. Para tal atentemos nos seguintes aspectos:

• Manter os dois olhos abertos sobre o alvo17; • Empunhar a arma correctamente, mantendo o pulso direito e colocando o cotovelo

ligeiramente para fora; • A mão que não empunha a arma aproxima-se por baixo e pelo lado

(acompanhando a outra até à linha de vista); • Tomar a linha mais curta (recta) do coldre para o alvo, levando a arma em

direcção ao alvo logo que sai do coldre; • Ter a preocupação de não colocar a arma no coldre com a patilha de segurança em

fogo e o cão armado. 16 É necessário que os atiradores esquerdos usem os coldres a eles destinados. 17 Não esquecer que estamos na modalidade de tiro policial, pelo que a atenção se deve centrar no alvo e não na arma. Cabe ao militar desenvolver e treinar toda esta sequência por forma a que execute cada um dos seus passos sem ter a preocupação de verificar onde está a arma e de a preparar para fogo, desviando o seu olhar do alvo.

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2.2.3 Suspender a respiração

Como este tipo de tiro é feito rapidamente e sem aqueles cuidados meticulosos do tiro de precisão, pois o objectivo é fazer um agrupamento de impactos numa zona, torna-se irrelevante se o atirador respira ou não. Mas se o atirador conseguir controlar a respiração no momento que antecede o disparo, obterá melhores resultados.

2.2.4 Fazer a pontaria

A pontaria para o tiro policial é diferente daquela realizada para o tiro de precisão. Trata-se de apontar a uma zona ou área maior. O que importa são os impactos e não os pontos. Interessa, sobretudo, acertar na silhueta. Tal como para o tiro de precisão, fazer a pontaria correcta é pôr em linha, rapidamente, quatro elementos:

1. Olho do atirador; 2. Alça de mira; 3. Ponto de mira; 4. Alvo.

2.2.4.1 Os olhos do atirador

• No tiro policial, o atirador deve manter ambos os olhos abertos. Tal facto contraria a tendência natural de “piscar um dos olhos” para fazer pontaria, mas oferece-lhe algumas vantagens tais como a de não perder a visão periférica e não perder a fracção de segundo ao piscar o olho com a consequente desconcentração e visão nublada do outro olho;

Atenção centrada no alvo

Mão esquerda auxilia o empunhamento

Pronto para actuar

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EPG/GNR Módulo IV 21

• Assim, o atirador, deve ter consciência de que é perfeitamente capaz de executar o tiro com ambos os olhos abertos, pois já “treina” desde pequeno, conforme foi relembrado anteriormente;

• Quando levanta a arma e a alinha com o centro do alvo, mantendo ambos os olhos focados neste último, também fica a ver dois canos da arma, dois aparelhos de pontaria, etc. Este “fenómeno”, como já vimos, fica a dever-se ao olho direito criar uma imagem e o olho esquerdo duplicar essa imagem. Assim o atirador tem que focar o alvo e alinhar um dos aparelhos de pontaria (o que lhe parecer mais real, e ignorar o outro);

• Não esquecer que para o atirador que tenha o olho director direito, essa imagem é a que lhe aparece à esquerda, como já se referiu;

• Se houver dificuldades de alinhamento da imagem esquerda da arma, o atirador pode optar por alinhar a outra imagem do lado direito, ficando ciente que esse alinhamento também está correcto, mas está a ser feito com o olho esquerdo.

• Se pretender confirmar se a pontaria estaria correcta basta fazer o “jogo cá-lá-cá-lá”, que consiste em, rapidamente, habituar a vista a focar às diferentes distâncias, ou seja: cá (vista focada num dos órgãos do aparelho de pontaria), lá (vista focada no centro do alvo).

2.2.4.2 Alvo

• Neste tipo de tiro, o atirador já deve ver o centro do alvo (ou a zona de pontaria) nítido, pois os olhos têm de observar o ADV;

• Para alvo, mantém-se a Silhueta Policial II (SPII).

2.2.4.3 Aparelho de pontaria

Para reforçar a importância de manter os dois olhos abertos, vamos então tentar explicar onde devemos fazer a mirada no momento de efectuar a pontaria, para o que se torna necessário distinguir entre: mirar/focar e ver. Mirar consiste na acção de focar as miras. Ver consiste em perceber, através dos olhos, a forma e cor dos objectos, o que o mesmo é dizer, tudo aquilo que faz parte do campo de visão adjacente à mirada. Assim, podemos estar a “ver” um conjunto de coisas, contudo estamos a “mirar/focar” algo determinado. Como já vimos, a vista não consegue focar dois objectos em simultâneo e a distâncias diferentes, como seja o aparelho de pontaria e o alvo. Como tal, só se consegue um tiro preciso, eficaz e adequado às circunstâncias, se no momento do disparo o atirador conseguir aliar aos

Dois olhos Um olho

140º 180º

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outros elementos da técnica de tiro, uma boa focagem do aparelho de pontaria (alça e ponto de mira), devendo o alvo aparecer, nesse preciso momento, necessariamente desfocado. O que quer dizer que não se esteja a olhar para o alvo, e para os movimentos do mesmo, mas antes que é necessário conciliar todos os aspectos. Daí a especial dificuldade de executar correctamente o tiro policial, e daí a necessidade de praticar eficazmente as técnicas correctas até que se consigam obter bons resultados18.

2.2.5 Executar o disparo

Também aqui, a acção do atirador sobre o mecanismo de disparar, através do gatilho, merece uma atenção especial, já que é aqui que continua a residir a principal causa dos maus resultados.

• O contacto com o gatilho deve ser feito com a cabeça do dedo, devendo a pressão ser exercida no sentido da frente para trás e horizontalmente;

• O disparo, por ser mais rápido não significa que tem de ser brusco, mas sim executado em “três tempos”, ou seja tirar a folga do gatilho (arma na direcção do alvo), verificação das miras, e pressionar, continuamente, o resto do gatilho, até surgir o disparo. Como é evidente, por este tipo de tiro ser mais rápido que o outro, este processo deve ser desenvolvido quase em simultâneo.

2.3 Sequência ideal para o tiro policial

Após estarem adquiridos os elementos vistos anteriormente, podemos agora identificar aquilo que será a sequência ideal para executar o disparo, a qual é a seguinte:

1. Levar a arma até à altura do centro do alvo; 2. Pressionar o gatilho até lhe retirar a folga; 3. Verificar o alinhamento das miras; 4. Pressionar continuamente o resto do gatilho até se dar o disparo; 5. “Cada disparo é um disparo”, quer isto dizer que para cada disparo, a concentração deve

ser igual. 2.4 Métodos de tiro policial

Conforme se pode depreender daquilo que foi enunciado ao nível do tiro de precisão e do tiro policial, a posição, o empunhamento, o alinhamento das miras, o controlo do gatilho e o seguimento podem ser considerados como a base de sustentação sobre a qual deverão ser desenvolvidas as destrezas técnicas a nível do tiro. O atirador deve, por isso, cumprir com estes requisitos básicos antes de avançar para tarefas mais complexas. Não se exige que faça pontuações ao nível do tiro de precisão, mas sim que o seu tiro seja consistente, independentemente da zona do alvo, fazendo um grupamento cuja circunferência que contém os impactos não exceda os 10 cm de raio - valor que diminui à medida que se

18 Para iniciar os atiradores a efectuar pontaria com os dois olhos abertos, apesar do correcto ser focar o ponto de mira, diz a experiência que tal é difícil, pelo que é preferível, de início, ensinar a fixar a vista na alça (pois é mais ampla) e uma vez assim e com o cano da arma inclinado para baixo, ir levantando esta até que vejamos o ponto de mira e posteriormente o alvo. Se apesar disto o atirador tiver dificuldades, o instrutor pôr-se-á diante do atirador para fechar-lhe a profundidade do campo de visão tentando que desta forma o consiga. Se necessário colocar os dedos indicadores ao lado da alça para aumentar o lugar onde concentrar a vista. Uma vez conseguido isto, tirar os dedos, retirando-se o instrutor.

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encurta a distância -. O tiro consistente é bastante mais importante do que um tiro bom e os outros maus. Após ter apreendido aqueles requisitos, deve-se passar à fase seguinte, a qual consiste na prática das modalidades de tiro policial mais adequadas às situações com que o militar se poderá eventualmente confrontar. Conforme se verá para cada uma delas, a utilização apropriada das miras, de acordo com os requisitos da situação em concreto, acaba por ser o resultado de um método reactivo – conciliando rapidez de reacção e precisão -, o qual deve ser devidamente treinado e automatizado. Algumas técnicas modernas de tiro de pistola estão orientadas para um tipo de defesa considerada standard face a um ataque, sendo esta, o disparo rápido de 2 tiros dirigidos ao peito do agressor. A razão de ser destes dois tiros tem a ver com a necessidade de assegurar que o adversário fica efectivamente imobilizado. Tal é conseguido não só à custa do armamento, do poder que nos confere a arma, como também do impacto que isso tem sobre o sistema nervoso do ADV. Para além disto aumentam também as probabilidades de efectuar um tiro certeiro, visto haver sempre a possibilidade de falhar o primeiro tiro. O método utilizado para efectuar estes dois tiros depende da situação concreta, e sempre da habilidade e destreza do utilizador. A cadência, por sua vez, depende da proximidade do alvo. Geralmente, quanto mais perto estiver o ADV, maior deverá ser a cadência (menor o tempo entre dois disparos). Quanto mais longe estiver, menor será a cadência (maior o tempo entre os dois disparos). Isto tem todo o sentido quando nos apercebemos que um alvo mais próximo é um alvo mais fácil e representa uma maior ameaça que um alvo distante. O tempo para reagir aumenta com a distância. Desta forma um alvo a 5 mts. deve ser imobilizado mais depressa que um alvo a 50 mts. Apesar da técnica acima mencionada, actualmente, a filosofia sobre o emprego das armas de fogo por Forças de Segurança, é virada para a preocupação crescente da preservação da vida humana e causar os menores danos físicos possíveis. Desta forma, o atirador deverá, em primeiro lugar analisar a situação concreta em que envolve a utilização da arma de fogo e ao ter de efectuar tiro, efectuar um disparo de cada vez, respeitando sempre os princípios da necessidade, da proporcionalidade e da preservação do valor da vida.

2.5 Tipos de carregamento

Em todo este processo, é fundamental procurar (apesar de difícil) controlar os tiros efectuados de forma a trocar de carregador com munição na câmara, o que previne contra uma eventual necessidade de ter de o fazer sem ter a certeza de quantas munições faltam para que o carregador fique vazio. Caso tal não aconteça, e o atirador tenha notado que a corrediça está à retaguarda, deve introduzir o segundo carregador o mais rapidamente possível, procedimento este que deve ser devidamente treinado. As figuras que se seguem ilustram algumas das acções a realizar para efectuar a troca de carregadores no mais curto espaço de tempo possível, nunca perdendo de vista o alvo. Este é um aspecto que não deve ser esquecido, fazendo com que o militar se habitue a executar a operação completa sem se preocupar com as peças que deve accionar nem com o local onde irá buscar o carregador suplente.

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Módulo IV EPG/GNR 24

A necessidade de recarregar poderá ocorrer de surpresa, através da verificação da posição da corrediça

Baixe ligeiramente a arma e retire o carregador, tendo a preocupação de não desviar os olhos do alvo

Trocar o carregador vazio pelo carregador municiado e, se possível, guardá-lo no porta carregadores

Substituir o carregador, tendo a preocupação de o ajustar no seu alojamento

Levar a corrediça à frente e voltar de novo à acção

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EPG/GNR Módulo IV 25

Numa situação real, os alvos são difíceis de atingir pois movem-se, não são os alvos de papel que se encontram estáticos numa CT, contra os quais estamos habituados a disparar, pelo que podem ser precisos vários tiros para abater um alvo. Por essa razão devemos controlar o número de tiros efectuados, para saber as munições que ainda restam no carregador. É importante que nos apercebamos da sensação do disparo, em especial da última munição. O recuo pode ser sentido como dois movimentos separados; o movimento recuante da extracção/ejecção e o movimento para a frente da introdução da munição na câmara. Quando o último tiro é disparado apenas se sente o movimento para a retaguarda visto que o carregador vazio irá activar o detentor da corrediça e impedir o movimento para a frente. Esta sensação diferente deve ser memorizada com o treino, servindo para despoletar a resposta condicionada para um carregamento de emergência. Existem basicamente dois tipos de carregamento que é preciso aprender e praticar. O primeiro é o carregamento táctico, utilizado quando o atirador se apercebe que deve estar prestes a ficar sem munições. Para tal convém escolher um local seguro e fazer a troca por outro carregador, colocando o usado num local de fácil acesso, pois pode ser necessário reutilizá-lo. O segundo tipo é o do carregamento rápido, utilizado quando o carregador que a arma tem fica vazio. A troca de carregador deve ser feita o mais rápido possível. Um bom atirador não necessita de olhar para a sua arma para a recarregar. Mesmo durante a noite e sob stress o atirador deve estar apto a trabalhar pelo tacto. É preciso evitar deixar cair carregadores no chão desnecessariamente durante o treino pois podem-se danificar os lábios e causar avarias. É também preciso limpar a sujidade que tenha ficado no carregador, por isso, em caso de treino, deve ser colocado no chão uma manta ou qualquer objecto que impeça o carregador de entrar em contacto com o solo, o que também previne a introdução de elementos estranhos na arma.

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2. TÉCNICA DE TIRO COM PISTOLAS METRALHADORAS Este tipo de armas, derivado ao seu tamanho compacto, à maior capacidade de transporte de

munições, maior poder de fogo e aos acessórios disponíveis, contribuíram significativamente para o equipamento de unidades especiais, favorecendo e contribuindo para o seu emprego táctico de uma forma mais eficiente e eficaz.

As duas maiores vantagens de uma pistola metralhadora, para além do tamanho, são; a confiança que o atirador retira pelo facto de a possuir e o facto de a ela poderem ser acoplados vários equipamentos, tais como, por exemplo, um foco luminoso e um laser.

Ao seleccionar-se uma pistola metralhadora, é preciso ter em consideração não só a capacidade de fogo a curtas distâncias mas também a capacidade de executar um tiro extremamente selectivo e preciso. Para além disso, estas armas exercem um forte efeito psicológico nos adversários.

Muitos dos princípios da técnica de tiro de pistola aplicam-se ao tiro com pistola metralhadora, tais como: uma forte empunhadura, o alinhamento das miras e o controlo do gatilho. Ressalva-se aqui, apenas, a particularidade do aparelho de pontaria de algumas delas, como a HK MP5 A4, o qual dispõe de uma alça de tambor e de um anel protector do ponto de mira, pelo que a pontaria é feita de uma forma diferente daquela que vimos para as pistolas19.

No tiro semi-automático, o atirador pode-se colocar de forma natural, com o pé do lado fraco ligeiramente avançado, encostar e pressionar firmemente a arma contra o ombro, apontar e disparar. No tiro automático é necessário flectir ligeiramente os joelhos, inclinar o tronco um pouco para a frente e segurar com mais força, para controlar o movimento da arma. A melhor forma para o atirador se aperceber disto é tomar a sua posição e fazer séries curtas de 3/4/5 tiro, ajustando a mesma à medida que vai fazendo as várias séries.

19 Para mais informações sobre esta arma, consultar o Módulo III-V e o Módulo V, referente à Técnica de Tiro de Espingarda.

Tiro semi-automático Tiro automático

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EPG/GNR Módulo IV 27

Apesar dos militares integrados em equipas de intervenção obedecerem à voz do superior

hierárquico, quanto a fazer tiro automático ou semi-automático, a indicação que aqui se deixa é a de que o tiro semi-automático deve ser empregue em situações onde se pretende obter, para além de superioridade de poder de fogo, alguma precisão.

Em termos de segurança, chama-se a atenção para duas coisas: é preciso ter cuidado e não colocar a mão em frente do cano pois, sendo uma arma compacta, facilmente a mão que a sustém, inadvertidamente, pode-se colocar num local onde pode ser atingida; É preciso igualmente ter cuidado com a segurança da própria arma pois, por vezes, pode haver a tendência (despercebida) para ignorar a presença de uma munição na câmara o que é extremamente perigoso.

Tiro semi-automático Tiro automático

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3. TREINO DE TIRO Grande parte do trabalho policial desenvolve-se de uma forma monótona e rotineira, o que tem

como consequência um apreciável sentido de complacência e de aborrecimento, em certas ocasiões. Isto contribui para que essa “distracção” acabe por levar a que o militar esteja deficientemente preparado para enfrentar as emergências que se lhe deparam. Como é evidente, este nem sempre pode ter uma segunda oportunidade para superar uma falha ocorrida na sua atitude ou comportamento. É preciso ter a consciência de que, por vezes, pode ser necessário uma actuação de emergência para a qual o conhecimento da arma e a perícia do seu emprego, podem influir de forma decisiva na sobrevivência, lesão ou morte do militar ou de um camarada.

No momento em que a arma tiver de ser usada no cumprimento do dever, as fracções de segundo e a precisão são de importância vital. A arma deverá ser utilizada imediatamente, sem perda de tempo, devendo o primeiro disparo ser certeiro. O saque rápido, um bom empunhamento e um fogo certeiro são factores que devem dar-se quase em simultâneo.

É óbvio que todo o militar, por utilizar arma de fogo no desenvolvimento da sua missão, deve pôr o máximo interesse e empenho no seu conhecimento e manejo adequado, porque muito provavelmente terá que dela fazer uso no momento menos esperado.

Este pretendido domínio da arma de fogo deve adquirir-se através de uma árdua e minuciosa prática, a qual, uma vez obtida, deve manter-se com o exercício constante. Ninguém melhor que o próprio militar pode saber qual a periodicidade com que deve exercitar. Em caso de dúvidas o seu superior hierárquico deve estar à altura de prestar os necessários esclarecimentos.

Através da criação e treino de situações fictícias conseguir-se-ão um conjunto de respostas controladas e automatizadas, e não de improvisação, o que pode ser um importante auxiliar quando o militar tiver de enfrentar uma situação que poderá envolver o recurso a arma de fogo.

Assim, é fundamental ter uma formação adequada, perder medos e ter confiança na arma que transportamos. Evita-se situações do género “não consegui proteger o meu camarada porque não fui suficientemente rápido e destro”.

4.1 A dinâmica do tiro de pistola

Para efectuar uma abordagem correcta à dinâmica envolvida no tiro de pistola, o militar deve procurar conhecer as suas próprias capacidades (possibilidades e limitações, trabalhando estas), e a forma como o adversário tem por hábito agir. Mesmo não havendo nenhum adversário específico, faz com que envide esforços para obter toda a informação disponível relacionada com casos verídicos e faça uma análise dos mesmos, procurando neles algumas regularidades que sirvam de indicadores a ter em conta para a definição de situações de treino, assim como a natureza do ambiente envolvente, ou seja, os locais mais prováveis onde se desenrolem eventuais situações de perigo. Tendo assim por base o estudo efectuado sobre os meios envolventes e a forma como o adversário poderá reagir em caso de ser atacado, podem-se definir melhor as situações de treino que procurem reflectir uma realidade o mais aproximada possível de uma eventual situação de perigo. Neste caso é essencial que para o exercício de treino o militar procure estar no mesmo nível de activação que estaria se a situação fosse verdadeira, o que envolve uma predisposição mental muito forte e uma grande concentração nas tarefas a desenvolver. Para tal é fundamental que o militar se lembre que a sua prestação estará de acordo com aquilo que treinou, portanto é preciso treinar como se tivesse a intenção de lutar. Numa situação real, os níveis de adrenalina estarão no seu máximo, produzindo, em consequência, um conjunto de reacções físicas que é importante conhecer, por forma a que se desenvolvam estratégias pessoais de controle das mesmas. Por esta razão o treino deve ser organizado tendo em particular atenção esta componente. Porque deve sempre esperar o

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pior, o militar deve treinar de acordo com isso, esperando sempre sair da situação da melhor forma. De entre as reacções físicas que podemos referir, a maior parte das quais se produzem como resultado de um conjunto de reacções químicas, destacam-se; a diminuição das habilidades motoras, a confusão, o encurtamento da focalização visual e auditiva, a aceleração do batimento cardíaco e um estado de excitação generalizado. De acordo com este estado, o militar pode experimentar uma distorção do tempo e do espaço em virtude da sua mente estar a operar a uma velocidade muito superior ao normal, o que faz com que, para alguns, exista a sensação de que o tempo se move em câmara lenta, ou mesmo que as distâncias parecem mais curtas. Nem todas as pessoas experimentam estes efeitos, os quais parecem estar ligados ao factor surpresa. Aqueles que estão completamente desprevenidos muito provavelmente, experimentá-los-ão todos. Por outro lado aquele que sabe que irá estar envolvido numa situação conflituosa não os sentirá de maneira tão intensa. Apesar de tentar constantemente manter a mente em alerta, não se pode predizer o nível de prontidão e a expectativa. É preciso manter estas coisas em mente quando treinamos. É preciso procurar minimizar a sua vulnerabilidade a estes efeitos de alarme fazendo tudo para manter as coisas simples, manter uniformidade no empunhamento e estabelecer um conjunto de respostas condicionadas às quais possa recorrer com garantias de sucesso. Treine como tenciona empenhar-se. Para tal é importante ter em conta a sua condição física, quanto melhor ela for menor será a possibilidade de ser vítima destes efeitos, pois desta forma resistirá melhor ao súbito aumento da adrenalina e aos efeitos precoces de fadiga que pode provocar. Estas reacções que sentimos são a prova que estamos assustados, mas não com medo, pois esta palavra requer uma análise mental da situação, o que leva algum tempo a fazer, enquanto que em situações conflituosas, se o militar tiver de usar a arma, geralmente não se poderá dar ao luxo de parar para pensar. É exactamente sobre estas condições que acabam, em maior ou menor grau, por nos limitar o desempenho, que temos de criar a habituação necessária para fazer tiro. É preciso ainda chamar a atenção que o militar deve treinar gestos simples e sincronizados, pois, no essencial, é disso que se trata o tiro. Tudo o que seja complexificar aquilo que (aparentemente) é simples só acaba por causar uma maior dificuldade em lidar com a situação, pois acabamos por nos desviar das coisas que são essenciais, passando a preocupar-nos com pequenos detalhes ou pormenores que são irrelevantes para o caso. O militar, no treino, tem de se preocupar, fundamentalmente, em, no mais curto espaço de tempo possível, ter a sua arma pronta a disparar (se for o caso) e com as miras no alvo que pretende atingir. O militar pode sentir alguma dificuldade na tomada de decisões críticas e na falta de habilidade em manter os pensamentos focalizados na tarefa que está a desenvolver. Quando tal acontece numa situação real não há lugar para discussões mentais, o procedimento deve estar automatizado e a concentração completamente dirigida para a actuação e para o que se está a passar à volta, minorando assim os riscos. Isto liberta a mente para a análise da situação e para a decisão de quando se deve e para onde disparar, ao invés de pensar no que fazer para que a arma dispare ou mesmo saber quantas munições sobram depois dos tiros já efectuados. A atenção inicial deverá ser sempre dirigida para a fonte de perigo, excluindo tudo aquilo que não seja fundamental, desenvolvendo para tal uma imagem ou uma visão dirigida, uma visão de túnel. Mentalmente, o militar pode dispensar aquilo que considera informação não essencial, e pode até nem se recordar de alguns pormenores, contudo, uma vez neutralizada a ameaça é importante que ele procure outros alvos hipotéticos, a fim de não ser surpreendido por algum pormenor que tenha escapado à sua observação. Isto pode ser facilmente treinável, se, por exemplo, após ter cumprido o objectivo de treino, e antes de voltar a colocar a arma no coldre, continuar-se a apontar a mesma para vários sítios,

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seguindo o olhar, como se fosse o seu prolongamento, esperando o surgimento de alguém que pudesse ainda ameaçar. Algo que também deve ser desenvolvido é a percepção auditiva. Ouvir uma ameaça pode ser tão viável, enquanto indicador de um alvo, como ver uma ameaça, portanto é preciso não a descurar e ter a capacidade de isolar os sons que se produzem à nossa volta, identificando aqueles que são mais ameaçadores, como por exemplo, o armar de uma arma, ou mesmo a introdução de munição na câmara. Se tivermos em conta alguns relatórios policiais, referindo situações onde foram efectuados disparos, chegaremos à conclusão que mais de 80% ocorreram a uma distância não superior a 7 mts., sendo que metade destas ocorreram a 5 mts. e menos. Em termos tácticos, isto diz-nos que nos devemos preocupar em maximizar a distância a que nos encontramos da ameaça e minimizar a nossa exposição a ela. Quanto maior a distância maior a vantagem para o atirador treinado. Em termos de treino isto diz-nos ainda que a maior parte do mesmo deve ser conduzido a distâncias até 7 mts., em pelo menos 80% das vezes. As situações que envolvam o recurso a arma de fogo são violentas e rápidas. O tempo médio estimado é de 3 seg., sendo que na maior parte das vezes o suspeito está em movimento. Cerca de 70% dos casos ocorrem em ambientes com luz reduzida. O adversário teme a luz, razão pela qual os exercícios de treino não devem ser exclusivamente conduzidos no exterior e em pleno dia. Procure assegurar uma oportunidade para os realizar em condições de luz reduzida, pelo menos ocasionalmente. Fazendo isto estará a trabalhar na resolução dos problemas e a encontrar as soluções em ambientes de fraca luz. Para tal é preciso coordenar luz e tiro, em especial se fizer uso de uma lanterna. Mais de 50% das vezes podemo-nos deparar com mais do que um adversário, pelo que convém também efectuar exercícios com mais do que um alvo, e de preferência de vários tipos, colocando-os em vários locais e de preferência escondidos, por forma a dificultar o exercício. Esta dificuldade é essencial, pois é disso que o treino trata; treinar o difícil para facilitar o desempenho. O mecanismo de utilização de uma arma para fins defensivos envolve não apenas o acto físico de sacar e disparar mas também a aquisição visual do alvo e a análise mental que determina se é ou não uma ameaça. Esta aquisição visual e análise mental precede o tiro e determina a rapidez da resposta numa situação real. A determinação da ameaça depende daquilo que o adversário faz com as mãos ou naquilo que nelas segure. Treine para que aquilo que conduz ao disparo não seja a voz ou o apito de quem está a dirigir o tiro numa carreira mas antes o próprio alvo ou a própria ameaça.

4.2 A atitude do militar nos treinos

A importância que deve ser dada ao treino faz com que o militar deva ter em conta um conjunto de considerações que contribuem para realçar esta necessidade, sendo elas:

• Quanto maior for o seu à vontade para manusear a arma e com ela fazer fogo, mais liberdade tem para se concentrar exclusivamente no desenrolar da situação para, com o necessário sangue-frio, avaliar e decidir pela utilização (ou não) da arma, contribuindo assim para a salvaguarda da sua integridade física e de terceiros, actuando em conformidade com a lei;

• Reconhecer que todos cometemos erros, contudo, todos acreditamos que estamos na posse da verdade. Existe sempre algo a aprender e a melhorar, inclusivé os erros que não se sabem;

• Reconhecer a tendência para criticar o sistema quando não se obtêm bons resultados;

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• A continuidade apenas é assegurada através do treino. Se não conhecermos a técnica, não a empregamos adequadamente, logo não há continuidade;

• Um atirador não chega a nada se somente atirar. Para se lograr um bom desempenho e à vontade é preciso treinar;

• Dosear o esforço, não ir mais depressa que o possível. Queimar etapas no tiro apenas conduz ao fracasso. É preciso percorrer um percurso evolutivo, começando pelo estudo da técnica, e por uma boa preparação física e psíquica;

• É preciso aprender correctamente as posições de tiro de precisão e corrigir os defeitos pois logo se passará ao tiro sem grande tempo para alinhar miras, o que servirá para qualquer situação, inclusivé as de visibilidade reduzida;

• A tensão nervosa faz perder muito no resultado. A luta contra o relógio, nos treinos, ajudará a minorar os seus efeitos nocivos;

• Ao começo do tiro não deve haver tensão, só depois de alcançar um bom nível se deve criar essa tensão para que se aproxime o mais possível da realidade;

• O atirador deve procurar adoptar uma atitude mental correcta. Deve estar preparado para falhar, senão o desânimo toma dele conta. A realização dos exercícios não deve ser tida como uma obrigação, mas antes como um momento agradável, pelo qual se esperou;

• O militar deve saber, à partida, que a arma é um instrumento que pode ser altamente perigoso e deverá manuseá-la sempre com as devidas precauções. O cumprimento estrito das normas de segurança deve ser tido sempre em atenção mas não de tal forma que vá conflituar com os objectivos da sessão, derivado à sua sobrevalorização. Uma vez que todos somos profissionais, quem dirige o treino de tiro deve dar o máximo de liberdade a quem executa, supervisionando todas as operações que seja necessário efectuar, sobretudo em caso de interrupção de tiro, para que o atirador não pense nem se sinta constrangido pelo instrumento que está nas suas mãos;

• Evitar o excesso de confiança. Quando parece que se sabe demasiado, aparece o excesso de confiança e produzem-se acidentes, por vezes irreparáveis;

• Conduzir o treino o mais perto possível da realidade. Para tal, é preciso reproduzir situações prováveis, agindo/reagindo como se fossem reais. É importante movimentar-se, reduzindo a silhueta, e disparar para diferentes zonas do alvo. O importante é conseguir-se acertar na zona pretendida e não apenas numa determinada zona definida. O militar deve habituar-se a disparar para zonas não vitais do corpo humano, em especial para as pernas;

• Diversificar as situações de treino, de forma a habituarmo-nos a diferentes estímulos. Tal pode ser conseguido, por exemplo, através de; ♦ Selecção dos alvos para os quais vamos atirar, ♦ Selecção de zonas do alvo distintas, ♦ Adopção de diferentes posições, ♦ Criação de situações de visibilidade reduzida, ♦ Execução do tiro a partir de uma posição coberta, ♦ Etc,

• No treino de tiro, se o atirador não conhece a arma, deve trabalhar: ♦ Segurança e empunhamento, ♦ Montagem, desmontagem, ♦ Carregar, descarregar, ♦ Resolver possíveis avarias, ♦ Treinar o carregamento, ♦ Treinar as operações de saque e empunhamento da arma e de recolocação da arma

no coldre.

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• Os dados estatísticos revelam que o recurso a arma de fogo se verifica a distâncias curtas, contudo, cerca de 15% parecem ocorrer a distâncias superiores a 50 mts. Portanto é importante conduzir pelo menos 15% do seu treino a partir desta distância. Aqui exige-se uma maior precisão que velocidade, podendo-se aguardar alguns segundos até disparar. Isto significa que deve adaptar uma posição o mais equilibrada possível. Neste aspecto, a posição que oferece este equilíbrio e estabilidade é a posição de joelhos, a qual pode ser assumida numa questão de segundos, para além de proporcionar maior protecção facilitando a sua ocultação devido à redução da silhueta.

O treino de “tiro em seco” é uma das melhores formas - arriscamo-nos a dizer, indispensável - de se conseguir atingir bons resultados na execução do tiro real. Este tipo de treino oferece-nos algumas vantagens que muitas vezes não são possíveis de conseguir apenas com o tiro real. Destacamos algumas delas:

• Permite o treino individualizado de cada um dos elementos fundamentais da técnica de tiro (desenvolvimento da posição correcta, treino do empunhamento, de alinhamento das miras, do disparo, de respiração e do seguimento);

• Não exige perdas de tempo com deslocações à CT; • Pode ser praticado em qualquer local, quer no exterior, quer em recintos fechados; • Possibilita a economia de munições; • Permite o desenvolvimento da condição física específica, através do treino dos

músculos empenhados no processo de disparo.

Quando o treino é limitado apenas à realização do tiro para alvos, os atiradores não só não chegam a detectar os seus erros como não chegam a corrigir a sua postura. Ao efectuar tiro a curtas distâncias, apesar de ser essencial, permite-se uma larga margem de erro relativamente à técnica de tiro, apesar de se acertar na silhueta. Por este motivo, é necessário efectuar tiro a distâncias maiores – precisão – por forma a darmo-nos conta dos erros que são cometidos. Conforme se pode facilmente perceber, o factor mais importante ao nível dos treinos é usar a imaginação para a criação de diferentes cenários. Os exercícios de treino que a seguir se indicam devem ser executados, de preferência, frente a um espelho, para que o atirador possa corrigir-se, e pela ordem indicada, voltando-se ao início sempre que se pretenda avançar na sequência, repetindo as vezes necessárias para se assimilar os movimentos. Para a sua execução torna-se necessário dispor do seguinte material: 1 pistola, 2 carregadores, 5 invólucros e 1 alvo por cada atirador.

4.3 Treino de tiro de precisão

4.3.1 Treino da posição em relação ao alvo

O objectivo do exercício n.º 1 é: assumir a posição correcta em relação ao alvo. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Com os olhos fechados ou com a cabeça voltada para o lado, levantar a arma, na direcção do alvo (referência);

• Abrindo os olhos ou rodando a cabeça para o alvo, verificar se a pontaria está correcta (centro do alvo);

• Caso não esteja apontada em direcção, deslocar a posição dos pés, fazendo avançar ou recuar o pé direito, conforme o cano se apresente à direita ou à esquerda do centro do alvo, respectivamente (nunca rodar só os braços);

• Repetir a operação, de modo a que a arma fique apontada na direcção do centro do alvo;

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• Para corrigir a elevação, será necessário ajustar a arma na mão, de modo a que esta fique apontada ao centro do alvo sem qualquer esforço;

NOTA: Neste exercício não se deve disparar.

4.3.2 Treino da posição e estabilidade da arma

O objectivo do exercício n.º 2 é: assumir a posição correcta e estabilizar a arma. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Em frente a uma parede clara, a uma distância de cerca de 5 metros, apontar a arma a essa parede e procurar a posição em que é mais fácil centrar e estabilizar o ponto de mira, durante períodos até aos 15 segundos;

NOTA: Neste exercício não se deve disparar.

4.3.3 Treino de estabilidade da arma

O objectivo do exercício n.º 3 é: alinhar correctamente as miras e estabilizar a arma. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Este treino é realizado, colocando uma marca numa parede clara (círculo de papel preto, círculo pintado a giz, etc.) e apontando a arma a essa marca, procurando a máxima estabilidade das miras;

• A dificuldade poderá ser aumentada, aumentando a distância à marca de referência;

• De vez em quando, os olhos devem ser fechados durante 2 a 3 segundos e abertos de seguida, verificando se a estabilidade por memória muscular se mantém;

NOTA: Neste exercício nunca se deve disparar.

4.3.4 Treino de disparo

O objectivo do exercício n.º 4 é: depois de tirar a folga do gatilho, pressioná-lo suavemente, sem produzir “gatilhadas” (percepção do movimento e peso do gatilho):

• Aqui o elemento importante é o disparo. Este deve sair durante uma boa focagem do ponto de mira, mas sem grande preocupação com o alinhamento dos órgãos de pontaria;

• O treino é conduzido sem ponto de referência, em frente a uma parede clara; • Também se deve realizar de olhos fechados ou numa sala às escuras; • De início, o atirador deve procurar aperceber-se da folga e peso do gatilho da

arma; • Accionar o gatilho várias vezes, tentando produzir um disparo o mais suave

possível; • Deve procurar produzir o disparo em tempo útil, ou seja, antes de começar a sentir

fadiga por ausência de respiração. Como regra, não deve ultrapassar-se os 10 segundos até à execução do disparo.

NOTA: Na execução de exercícios de tiro “em seco”, sempre que se produzam disparos, deverá ser colocado um invólucro na câmara da arma, uma borracha ou esponja entre o cão e o percutor. Devendo, entre cada 5 disparos, mudar-se de invólucro. Os invólucros podem obter-se facilmente na arrecadação de material de guerra.

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4.3.5 Treino de estabilidade e disparo coordenado

O objectivo do exercício n.º 5 é: accionar o gatilho suavemente, sem produzir gatilhadas e sem desalinhar as miras (“jogo miras/gatilho”):

• Igual ao exercício 3, mas agora pode-se executar o disparo; • Dar atenção a que a pressão exercida no gatilho não deve perturbar a estabilidade

da arma. Se esta não se verificar, deve-se insistir no exercício 4.

4.3.6 Treino da respiração

O objectivo do exercício n.º 6 é: determinar e treinar a capacidade pulmonar. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Em frente a uma parede clara, efectuar o alinhamento das miras e mantê-lo durante alguns segundos, até sentir desconforto e aumento da dificuldade em apontar;

• Repetir o processo algumas vezes; • De seguida, apontar e disparar dentro do tempo útil, ou seja, antes de sentir

cansaço por apneia - falta de oxigénio -.

4.3.7 Treino do “seguimento”

O objectivo do exercício n.º 7 é: efectuar o “seguimento” do disparo. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Tomar a posição de tiro; • Executar o disparo, observando a técnica correcta de todo o processo de tiro; • Manter as miras alinhadas durante alguns segundos após o disparo, procurando

manter a estabilidade das mesmas, e só depois, desfazer a pontaria, • Após o disparo e depois de baixar a arma, o atirador deve tentar visualizar

mentalmente o alinhamento das miras no momento do disparo e anunciar para si mesmo o local do alvo onde lhe parece ter ocorrido o impacto, confirmando posteriormente se essa previsão corresponde ou não à realidade.

4.3.8 Treino integrado

O objectivo do exercício n.º 8 é: efectuar disparos correctos, observando todos os elementos fundamentais para a execução do tiro. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Tomar a posição; • Levar a arma à zona de pontaria; • Suspender a respiração • Alinhar correctamente as miras; • Accionar o gatilho, sempre com a preocupação de manter as miras alinhadas e

disparar (“miras/gatilho”); • Efectuar o “seguimento”; • Este exercício deve ser executado em 2 fases: na primeira, contra uma parede

branca, sem qualquer referência; e, na segunda, apontando a uma referência.

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4.3.9 Treino diversificado

O objectivo dos exercício que integram este tipo de treino é: diversificar as situações de treino, por forma a mecanizar procedimentos distintos. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Utilizar diferentes posições (disparando, também, com a mão fraca); • Utilizar diferentes tipos de alvos, ou combinação de alvos.

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Utilizar uma composição de figuras geométricas coloridas, criando diferentes zonas de pontaria

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4.4 Treino de tiro policial

4.4.1 Treino da posição em relação ao alvo

O objectivo do exercício n.º 1 é: assumir a posição correcta em relação ao alvo. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Este treino é realizado colocando um alvo AI 1/EPG, para cada atirador, numa parede clara, a uma distância de cerca de 5 metros;

• Com os olhos fechados, levantar a arma, colocando-a na direcção do alvo; • Abrindo os olhos, verificar se a pontaria está correcta (centro do alvo); • Caso não esteja apontada em direcção, deslocar a posição dos pés, fazendo

avançar ou recuar o pé direito conforme o cano se apresente à direita ou à esquerda do centro do alvo, respectivamente (nunca rodar só os braços);

• Repetir a operação de modo a que a arma fique apontada na direcção do centro do alvo;

• Para corrigir a elevação, recordar que o cano da arma é o prolongamento do dedo (como se fosse para apontar a alguém) e assim não deve apontar para o chão mas sim ao centro do alvo;

NOTA: Neste exercício não se deve disparar.

4.4.2 Treino para “armar” a pistola

O objectivo do exercício n.º 2 é: colocar a arma pronta a disparar. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Com a mão direita a empunhar a arma e o dedo indicador ao longo do guarda-mato, puxar a corrediça à retaguarda e deixá-la ir à frente, armando a pistola.

NOTA: O carregador deve ser retirado e a arma deve estar com a patilha em posição de tiro, para o cão poder ficar armado. Neste exercício não se deve disparar, mantendo a arma direccionada para o alvo.

4.4.3 Treino do saque

O objectivo do exercício n.º 3 é: sacar a arma do coldre. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Sacar a arma do coldre, mantendo os olhos fixos no alvo;

• A mão que empunha segura a arma pelo punho, ao mesmo tempo que a outra mão é sobreposta à arma, na zona posterior da mesma (por cima da alça de mira) acompanhando o movimento de saque da arma do coldre;

• Sacar completamente da arma do coldre, mantendo os olhos fixos no alvo – a mão fraca auxilia o empunhamento de acordo com a técnica correcta definida – e dirigir o cano da arma para a frente;

• Levar a arma à linha de vista, apontando ao alvo; • Recolocar a arma no coldre sem deixar de olhar para o alvo, seguindo os

procedimentos enunciados, por ordem inversa.

NOTA: Esta sequência deve ser feita com rapidez, sendo que a arma deve descrever uma trajectória rectilínea, desde que sai do coldre até à linha de vista.

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4.4.4 Treino da sensibilidade da folga do gatilho

O objectivo do exercício n.º 4 é: retirar a folga do gatilho sem executar o disparo. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Levantar a arma e quando esta estiver na direcção do alvo, retirar a folga ao gatilho.

NOTA: Neste exercício não se deve disparar.

4.4.5 Treino do rápido alinhamento das miras

O objectivo do exercício n.º 5 é: habituar a vista a focar às diferentes distâncias. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Fazer, rapidamente, o alinhamento das miras (vista focada no aparelho de pontaria), enquadramento com o alvo (vista focada no centro do alvo);

NOTA: Neste exercício nunca se deve disparar.

4.4.6 Treino de disparo

O objectivo do exercício n.º 6 é: executar o disparo correcto. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Aqui o elemento importante é o disparo, dado que a folga do gatilho já foi retirada. Pressionar continuamente o resto do gatilho, até surgir o disparo.

NOTA: Na execução de exercícios de tiro “em seco”, sempre que se produzam disparos, deverá ser colocado um invólucro na câmara da arma e uma borracha ou esponja entre o cão e o percutor, devendo, entre cada 5 disparos, mudar-se de invólucro. Os invólucros podem obter-se facilmente na arrecadação de material de guerra. Deve ainda ser colocado o invólucro na câmara, e assim sendo já não deve ser puxada a corrediça à retaguarda. Depois do disparo, o atirador só pode regressar à posição inicial ou trocar de carregador e é sobre isso que constam os próximos dois exercícios:

4.4.7 Treino de posição inicial

O objectivo do exercício n.º 7 é: colocação na posição inicial para o próximo disparo. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Se o atirador conseguir colocar-se rápida e correctamente na posição inicial ganha tempo para poder observar o resultado obtido. Assim deve colocar a arma em posição de espera (45º) por forma a quando ouvir a voz de fogo só tenha que levantar a arma.

4.4.8 Treino de troca de carregador

O objectivo do exercício n.º 8 é: trocar de carregador rapidamente. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• O atirador deve controlar o n.º de tiros dados, com as munições existentes no carregador. Mas quando chegar à altura de substituir o carregador vazio, por outro municiado, deve fazê-lo com a sua silhueta reduzida e mantendo os “olhos no alvo”. Este treino deve ser conduzido com e sem corrediça à retaguarda.

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NOTA: O atirador, à ordem, (na Carreira de tiro esta não lhe deve ser dada, visto que a troca se faz quando a corrediça fica retida à retaguarda) simula o retirar do 1º carregador e faz a introdução do 2º, aguardando ordem para reiniciar o tiro.

4.4.9 Treino diversificado20

O objectivo dos exercícios que integram este tipo de treino é: diversificar as situações de treino, por forma a mecanizar procedimentos distintos. Para tal deve-se ter em atenção o seguinte:

• Utilizar diferentes posições; • Utilizar diferentes tipos de alvos, ou combinação de alvos; • Seleccionar exercícios que impliquem deslocamento do atirador.

4.5 Treino em caso de ferimento no braço

Num confronto o militar nunca deve enjeitar a possibilidade de vir a ser ferido num dos braços (ou em qualquer outra zona do corpo). Se tal acontecer, a sua prioridade deve ser procurar uma zona que o proteja, especialmente se não sabe de onde os tiros partiram, pois até o descobrir não poderá contra-atacar. Torna-se assim importante aprender a manejar a arma com a mão fraca, caso tenha sido alvejado e do incidente resulte a imobilização do braço da mão forte. Tal implica não só sacar e atirar mas também recarregar e resolver avarias. 4.5.1 Treino de manuseamento

O objectivo dos exercícios que integram este tipo de treino é: manusear a arma com a mão fraca, por forma a mecanizar procedimentos. Este tipo de treino deve ser executado na modalidade de “tiro em seco”, dada o elevado grau de perigosidade de que se reveste. Para tal deve-se observar a seguinte sequência:

1.º O militar, tendo sido atingido no braço direito, vai ter que fazer uso da arma manuseando-a com a mão fraca;

2.º Para tal, vai ter que tirar o fiador para a empunhar e preparar para fazer fogo com essa mão.

20 Ver o exemplo dado para o treino da modalidade de tiro de precisão e ver também os exemplos de circuitos práticos no Anexo C.

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4.5.2 Treino de recarregamento

O objectivo dos exercícios que integram este tipo de treino é: trocar de carregador e introduzi-lo com a mão fraca, por forma a mecanizar procedimentos. Para tal deve-se observar a seguinte sequência:

1.º O militar, tendo sido atingido no braço esquerdo, verifica que a corrediça está à retaguarda e que não existem munições no carregador;

2.º Sem tirar os olhos da ameaça, coloca a arma numa posição que facilite o recarregamento e substitui o carregador vazio por outro municiado21;

3.º Após esta operação leva a corrediça à frente e prossegue o exercício. 4.5.3 Treino de procedimento em caso de avaria

O objectivo dos exercícios que integram este tipo de treino é: resolver uma avaria com a mão fraca, por forma a mecanizar procedimentos distintos. Para tal deve-se observar a seguinte sequência:

1.º O militar, tendo sido atingido no braço esquerdo, verifica que existe um invólucro a impedir o movimento da corrediça para a frente;

2.º Acto contínuo, reduz a silhueta e tenta resolver a avaria. Para tal, utiliza o cinturão ou o calcanhar da bota, a fim de fazer recuar a corrediça para acabar de extrair o invólucro;

4.º Após esta operação leva a corrediça à frente e prossegue o exercício.

21 Após esta operação, o carregador substituído deve ser colocado no mesmo sítio de onde se tirou o outro.

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4.6 Treino de pistola metralhadora

No treino da pistola-metralhadora, regra geral, não é aconselhável efectuar tiro de rajada porque rapidamente se fica sem munições e uma vez que este tipo de tiro só deve ser feito em condições muito particulares, definidas caso a caso pelo Comandante da Força. A tendência da própria arma em elevar-se desaconselha-o. Se for treinado, é quase tão rápido apertar o gatilho tiro a tiro, como disparar em rajadas, mesmo que curtas, não havendo necessidade de fazer pontaria a cada disparo. Para além disso há uma maior possibilidade de atingir o alvo. Apontar e disparar será a base para todo o treino de tiro com pistola-metralhadora. Só após se ter vencido esta etapa é que o atirador poderá experimentar outro tipo de exercícios com a arma, os quais podem incluir um género de tiro de precisão, o que certamente conduzirá a um melhor conhecimento da arma por parte do atirador. O treino inicial consiste numa série de exercícios de familiarização, os quais consistem em:

• Praticar operações de segurança; • Conhecer o funcionamento e capacidades da arma; • Desmontar/montar e fazer a manutenção da arma; • Exercícios de carregar e descarregar; • Procedimentos em caso de avaria; • Adoptar posições de tiro,

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• Efectuar tiro. 4.7 Treino de resolução de avarias

Sem qualquer dúvida, um dos atributos mais desejados da pistola é a fiabilidade. Contudo, não existe nenhuma que seja 100% fiável. Tudo aquilo que o homem faz é sujeito a falhas, muitas das vezes nos momentos mais inoportunos. Sabendo isto é importante aprender e compreender os procedimentos imediatos que se seguem a quaisquer avarias que surjam com a pistola, tentando minimizar não só os riscos de virem a surgir, como também procurando resolvê-los no mais curto espaço de tempo. As avarias têm origem nas armas, munições defeituosas, atirador ou ainda em carregadores defeituosos. Para prevenir o seu surgimento é preciso assegurar que a arma se encontra sempre devidamente limpa e lubrificada - nas peças devidas - e assegurar que os carregadores e as munições sejam de qualidade. Cada avaria que se verifique há-de ter a sua causa, contudo, no meio da refega não existe lugar para fazer um diagnóstico da mesma. Os seguintes exercícios que se podem fazer para treinar a resolução de avarias permitir-lhe-ão reconhecer as características da cada uma e tomar os procedimentos mais correctos, a fim de as resolver no mais curto espaço de tempo possível. É importante que em todas estas fases a arma seja mantida em linha de vista para não só poupar tempo como também procurar manter uma visão periférica adequada ao controlo da situação.

Posição 1 de avaria – Esta avaria resulta de uma falha de disparo. Ao invés de ouvir “pum” ouve-se “click”. Tal pode ser causado por uma munição defeituosa, um percutor partido ou uma falha na introdução de munição na câmara. O procedimento a ter é dar uma pancada seca no carregador com a mão fraca para que o mesmo possa ser devidamente introduzido, depois rodar a arma lateralmente para a direita, puxar a corrediça à retaguarda, a fim de sair a munição defeituosa, e deixá-la ir novamente à frente (introduzindo nova munição). Se mesmo assim se mantiver a falha de disparo, voltar a repetir o mesmo processo. Se após este procedimento ainda persistir o mesmo problema então a deficiência pode ser originada pelo percutor partido ou qualquer outra avaria mecânica, ou simplesmente pelo facto de o carregador se encontrar sem munições.

Posição 2 de avaria – Esta avaria resulta de uma falha de ejecção, podendo ser causada por um carregador defeituoso, que interfere com a ejecção do invólucro, ou por um ejector (ou extractor) defeituoso. Tal pode ser visualmente detectado pela presença do invólucro que não permite à culatra recuar (o que não permite armar novamente a arma, pelo que o gatilho fica imobilizado). O procedimento a tomar é semelhante ao anterior, procurando tirar o invólucro com a mão fraca e deixar ir novamente a corrediça à frente. Esta identidade de procedimentos entre as duas situações ajuda a resolver os problemas surgidos e a manter as coisas simples, fáceis de aprender e mecanizar.

Posição 3 de avaria – Esta avaria resulta de uma falha de alimentação, em resultado do carregador não ter mais munições. Tal pode ser facilmente detectado porque a corrediça fica à retaguarda não existindo nenhuma munição na câmara e estando o carregador vazio. O procedimento a adoptar será substituí-lo por outro com munições.

Posição 4 de avaria – Esta avaria verifica-se quando a corrediça, após ter vindo à retaguarda, não vai à frente, o que se pode dever ao defeito dos lábios do carregador. Apesar de, neste caso, o carregador ter de ser reparado, pode-se tentar resolver esta situação, descendo um pouco o carregador até que a corrediça vá à frente. Deve-se, seguidamente, adoptar o procedimento referido para as posições anteriores, fazendo mais duas ou três tentativas para que a corrediça vá à frente.

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Qualquer um destes exercícios pode ser aperfeiçoado com munições inertes durante a prática de tiro em seco. A melhor forma de prevenir estas avarias é efectuar uma manutenção regular às armas e transportar consigo carregadores e munições em bom estado. No caso específico dos carregadores devem ser observados periodicamente, em especial, o estado da mola elevadora, do elevador, dos lábios e se o corpo não se encontra amolgado. Aqueles que não se apresentem nas melhores condições devem ser utilizados para os treinos e nunca no serviço operacional propriamente dito.

4.8 Alvos a utilizar

Os alvos que actualmente se podem utilizar para treino são muito mais variados que as silhuetas para as quais os militares estão habituados a treinar. Efectivamente, existe hoje toda uma panóplia de alvos, com especial relevo para os “shoot/no shoot”, isto é, alvos aparentemente idênticos, diferindo apenas no facto de uma determinada figura poder aparecer a empunhar uma arma (“shoot” – deve-se fazer fogo) ou um outro objecto qualquer (“no shoot” – não se deve fazer fogo, pois não existe o pressuposto da proporcionalidade de meios). Para além disso, os alvos podem ser estáticos ou móveis, o que ajuda a dar um maior realismo à situação de treino. Os militares devem treinar com variados tipos de alvo por forma a não dar a ideia de rotina, mas sim de diversidade. Esta questão da diversidade, em particular, é especialmente importante pois contribui para uma melhor preparação do militar, possibilitando-lhe uma melhor análise e escolha de soluções possíveis numa situação real onde possa ser necessário utilizar uma arma de fogo. Tendo em atenção o que se referiu anteriormente, a utilização de um alvo táctico ajuda bastante a dar um maior realismo ao exercício de treino, levando o atirador a pensar e a procurar atingir (quando tal for o caso) o alvo na zona demarcada. Relativamente a este pormenor, aconselha-se a evitar os alvos que tenham esta zona muito pequena pois senão o atirador tem tendência a fazer um tiro de precisão e, por isso, a demorar mais tempo, o que numa situação real pode vir a ser fatal. No caso onde não seja possível adquirir estes alvos, o formador pode optar por utilizar os alvos SP II, ou outros quaisquer, colando-lhe algumas formas geométricas de cores diferentes (conforme se viu no treino da modalidade de tiro de precisão) ou simplesmente traçando/dobrando uma zona do alvo para a qual se pode/não pode disparar. Pode ainda colocar 3 alvos lado a lado ou 2 em baixo e um em cima ou a diferentes alturas. Na utilização destes exercícios de treino deve-se:

• Procurar alvos com tamanho realístico. • Procurar distâncias razoáveis. • Criar cenários com base em exercícios vividos. • Criar cenários com base em futuros problemas.

Se o atirador não puder olhar para o cenário e imaginá-lo como verdadeiro então o exercício de pouco servirá. A chave para o treino de “shoot/no shoot”22 é testar a capacidade dos atiradores para pensar com clareza sob situações de stress. Tal pode ser feito colando figuras de armas (“shoot”) no alvo ou outro tipo de figuras (“shoot/no shoot”). O formador pode fazer isto enquanto o formando está de costas e depois este recebe a indicação de apenas disparar, por exemplo, para os alvos com quadrados vermelhos ou círculos azuis.

22 Ver Anexo A.

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5 CORRECÇÃO DE ERROS NA EXECUÇÃO DE TIRO

Tão importante quanto reconhecer os erros cometidos em CT é saber como corrigi-los. Isso implica alguma perseverança e poder analítico por parte do atirador. Mas não basta ter alguma noção teórica sobre o motivo, ou motivos, que pode(m) estar na sua origem. Por vezes é preciso adoptar o procedimento da tentativa erro e ir experimentando até se ter algum sucesso. Só através desta insistência é que será possível chegar a alguma conclusão concreta e definida.

Não obstante, existem algumas regularidades na ocorrência dos erros mais comuns. Para a sua correcção, torna-se necessário ter em consideração um conjunto de aspectos que podem exercer influências distintas no resultado do desempenho. A consciência da sua existência e forma de os controlar será um importante auxiliar para o atirador.

5.1 Causas do desvio dos projécteis

5.1.1 Da arma

• Vibrações do cano, no momento do disparo; • Demasiado uso do cano (estrias gastas); • Ferrugem ou aderência de resíduos (pólvora ou metal) à câmara da arma; • Arma não regulada ou irregularidades no aparelho de pontaria.

5.1.2 Das munições

• Diferenças de peso ou dimensões do projéctil; • Diferenças de qualidade ou quantidade da pólvora; • Munições demasiado antigas ou indevidamente acondicionadas (influência da

humidade ou outras condições ambientais prejudiciais à boa conservação das munições).

5.1.3 Circunstâncias exteriores

• Vento (poderá desviar a trajectória ou produzir instabilidade na arma); • Sol (afecta a utilização correcta do aparelho de pontaria, pois o atirador dirige,

involuntariamente, o ponto ou a alça de mira para o lado mais iluminado; • Chuva (dificulta o correcto alinhamento das miras e visualização do alvo).

5.1.4 Do atirador

É aqui que reside a principal causa de “desvio dos projécteis”, visto que o atirador pode não ter adquirido completamente a parte técnica do tiro. Assim, ainda é possível na CT, fazer algumas correcções quando os atiradores estiverem a obter resultados fracos (logo após a sessão de ensaio). Estas devem ser feitas de forma a que o atirador se aperceba dos erros cometidos. Não basta dizer-lhe, é preciso que ele próprio os reconheça, sem a interferência de ninguém.

Sol

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5.2 Natureza dos erros

De uma forma geral, os erros que se verificam mais comummente apresentam a seguinte distribuição:

Como se pode verificar, o atirador é o responsável pela ocorrência da maior parte dos erros cometidos. Regra geral, estes podem-se classificar em erros angulares e erros paralelos. Os erros angulares têm origem quando o atirador desalinha as miras, concentrando-se em focar apenas o ponto de mira, ou a alça e o alvo. Sucede, então, que o atirador pode estar alinhado com o alvo mas tem um dos elementos do aparelho de pontaria desalinhado. O resultado deste desalinhamento causa um desvio no ponto de impacto no alvo que é tanto maior quanto maior for a distância. Por esta razão, este tipo de erro é considerado o mais prejudicial para o atirador, e o mais difícil de contrariar, sendo também o que ocorre com mais frequência. Os erros paralelos resultam do desalinhamento do aparelho de pontaria com o alvo. Quer isto dizer que o atirador tem as miras alinhadas entre si, mas desalinhadas em relação ao alvo. Este tipo de erro é menos prejudicial para o atirador e menos difícil de contrariar, sendo também o que ocorre com menos frequência.

3% DEFICIÊNCIAS DO ARMAMENTO

E MUNIÇÕES

12% DEVIDO AO SISTEMA NERVOSO OU FALTA DE CONCENTRAÇÃO

20% MAU ALINHAMENTO

DO APARELHO DE PONTARIA

65% COMETIDAS AO PRESSIONAR

O GATILHO

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No entanto, outros erros poderão ser cometido pelo atirador. Vejamos, então, quais poderão ser as causas de alguns dos erros mais frequentes. 5.2.1 Impactos distribuídos por todo o alvo sem agrupamento definido

Verifica-se quando o atirador altera a posição do corpo ou o empunhamento em cada disparo. Se a empunhadura for alterada, o controlo do gatilho também se modifica, obtendo-se deste modo impactos sempre diferentes. Poderá também ser motivado pelo facto do atirador focalizar o alvo e não o aparelho de pontaria da arma. O atirador deve ter a noção de que:

• Deve encontrar a melhor empunhadura possível. A sua importância deve-se ao facto de afectar a forma de controlar o gatilho;

• A posição de tiro deve ser correcta e a ideal para si. A sua automatização permitirá mantê-la inalterável após cada disparo;

• O aparelho de pontaria deve ser focado, deixando o alvo na visão periférica. A arma, como instrumento de precisão que é, necessita de ter o aparelho de pontaria perfeitamente alinhado com o local que pretendemos atingir no alvo. Tal só se consegue se o focalizar e não o alvo. Caso contrário, estará a ver a alça e o ponto de mira desfocados, logo aumentados, e como tal, a sua mirada poderá estar a ser feita por qualquer ponto da mancha em que estes estão a ser percepcionados, e não do modo exacto, parecendo-lhe, mesmo assim, estar a apontar correctamente.

5.2.2 Impactos concentrados entre as 12H30 e as 02H00

Verifica-se quando o atirador encaixa o punho da arma junto à base do dedo polegar. Ao ser assim empunhada, a arma fica com o rebordo definido pelas arestas posterior e lateral direita do carregador, junto à zona hipotenar proximal. Quando efectua o disparo, puxando o gatilho subitamente, crispa a mão. Os músculos dessa zona, actuando em conjunto com os dedos, empurram lateralmente a arma, fazendo com que a boca do cano suba para o lado direito do atirador. O atirador deve ter a noção de que:

• A empunhadura deve ser feita encaixando a parte posterior do punho no vértice do ângulo formado pela inserção dos dedos indicador e polegar (zona mole);

• Para efectuar o disparo deve mover apenas o dedo indicador, permanecendo imóvel o resto da mão;

• A pressão sobre o gatilho deve ser lenta e suave. É preferível perder uns décimos de segundo, a fim de controlar correctamente o gatilho, do que falhar o tiro. Em situação de confronto directo, um erro deste tipo pode-lhe custar a vida, ou a de terceiros.

5.2.3 Impactos concentrados entre as 02H00 e as 03H30

Verifica-se quando o atirador exerce pressão através da falange sobre o corpo da arma, empurrando-a para o lado direito. Outra causa provável será uma empunhadura deficiente. A palma da mão de apoio, ao ser posta muito à frente, e não da forma correcta já

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referida, também pode ser responsável por este erro. Colocada da forma descrita, o seu vector de força não se efectuará no sentido pretendido, mas para o lado direito. Este tipo de concentração poderá advir ainda do facto de colocar qualquer porção da falange ou falanginha do dedo indicador sobre o gatilho, envolvendo-o totalmente. Estará assim a exercer dois tipos de pressão sobre o gatilho. Um provocado pela flexão do dedo, e para a esquerda. O outro, pelo envolvimento do gatilho, e para a direita. Como este último é o dominante, a arma irá deslocar-se no seu sentido. O atirador deve ter a noção de que:

• O dedo polegar deve acompanhar a arma sem exercer qualquer pressão. Só a sua base é que actua e apenas para efectivar a empunhadura;

• Deve concentrar a atenção na posição da mão esquerda. Não esquecer que é a zona de flexão da palma, junto à implantação dos dedos, que se sobrepõe aos dedos da mão direita. A pressão é efectuada, da frente para trás, sobre a face anterior do punho. Deste modo, a força (de aperto) exercida pela palma e pelos dedos desta mão, necessária para segurar a arma, ficará equilibrada, não provocando desvios;

• Só a falangeta do dedo indicador, pela sua porção média, é que pode accionar o gatilho. Como já referido, deve encontrar uma situação de compromisso entre a forma anatómica da sua mão e a arma que utiliza.

5.2.4 Impactos concentrados entre as 03H30 e as 05H00

Verifica-se quando o atirador contrai a mão ao aplicar a pressão no gatilho. Não estando a arma segura com a tensão suficiente, os dedos polegar e mínimo, fazendo excessiva força, são os principais responsáveis por este erro. O polegar empurrando para a direita, e o mínimo, ao pressionar na zona terminal do punho, puxando para baixo. O atirador deve ter a noção de que:

• Numa empunhadura perfeita, a mão direita apenas sustem a arma, cabendo à mão esquerda segurá-la e guiá-la. A força, a aplicar pela mão que empunha, limita-se às bases dos dedos polegar e indicador. Mesmo o dedo médio não pode efectuar pressão excessiva;

• Os dedos não devem apertar a arma, como se a quisessem espremer. 5.2.5 Impactos concentrados entre as 05H00 e as 06H30

Verifica-se quando o atirador, por saber que no momento do disparo o coice levantará a arma, dobra o pulso no sentido contrário procurando compensá-lo. Este movimento é puramente reflexo. No momento do disparo, o atirador pressiona excessivamente o punho com os dedos anelar e mínimo, provocando um desequilíbrio na arma que se manifesta por abaixamento da boca do cano. Este erro é designado, incorrectamente, de “gatilhada”. O atirador deve ter a noção de que:

• A acção a efectuar sobre o gatilho, deverá ser lenta, suave e progressiva. Só deste modo conseguirá obter um tiro de surpresa, evitando o acto reflexo de antecipação do coice. Com o treino adequado, este movimento passará a ser cada vez mais rápido, mas sem provocar alterações na posição da arma;

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• Numa empunhadura correcta, a arma é segura apenas pelas bases dos dedos polegar e indicador, e apoiada pela zona de implantação dos dedos da mão. Os dedos médio, anelar e mínimo limitam-se a acompanhar a parte anterior do punho, sem exercerem pressão excessiva. No momento do disparo, estes dedos devem permanecer estáticos. Só o dedo indicador é que irá exercer pressão sobre o gatilho, com o cuidado de não tocar em mais nenhuma parte da arma.

Outra das causas pode estar relacionada com a “gatilhada”, isto é, quando as miras estão alinhadas, instintivamente o atirador pensa em disparar e então o dedo efectua um movimento brusco e forte sobre o gatilho. Também ocorre quando começamos a apertar pouco a pouco o gatilho e, ao não sair o disparo parece que nos cansamos, razão pela qual exercemos maior força no gatilho produzindo-se dessa forma a “gatilhada”. O dedo não deve perder nunca o contacto com o gatilho pois se não existir esse contacto aumenta a possibilidades de dar “gatilhadas”. Igualmente se produz porque o ruído da detonação incomoda, tendo assim os mecanismos de defesa preparados. Provocamos então o disparo para aliviar a tensão que produz o estar pendente do disparo do camarada que está ao lado.

5.2.6 Impactos concentrados entre as 06H30 e as 08H00

Verifica-se quando o atirador puxa repentinamente o gatilho, dada a sua tendência em dar demasiada atenção ao alvo. Assim, devido aos movimentos da mão, o aparelho de pontaria surge-lhe enquadrado com o alvo, 1 em cada 5 segundos, levando-o a tomar uma atitude expectante. Ao procurar efectuar o tiro no segundo em que tem a mirada correcta, o atirador puxa violentamente o gatilho que, ao ser assim accionado, provoca um desvio para baixo e para a esquerda. O desvio para a esquerda deve-se ao facto de, ao flectir o dedo indicador, este tender naturalmente (anatomicamente) a deslocar-se na direcção do dedo polegar. O atirador deve ter a noção de que:

• Deve concentrar mais a atenção no aparelho de pontaria deixando o alvo na sua visão periférica. Só assim conseguirá verificar qualquer alteração que eventualmente provoque, tendo hipótese de a corrigir de imediato;

• Obterá deste modo a estabilidade da arma necessária para poder efectuar um disparo correcto;

• Não se deve esquecer que a pressão no gatilho se deve efectuar de modo uniformemente crescente, mas o mais lenta possível, para não alterar a posição da arma e conseguir que o tiro o surpreenda.

5.2.7 Impactos concentrados entre as 08H00 e as 09H30

Verifica-se quando o atirador pressiona o gatilho de uma forma incorrecta. Os atiradores com a mão pequena, ao efectuarem uma boa empunhadura para terem o controlo eficaz da arma, só conseguem alcançar o gatilho com a ponta do dedo indicador. Ao accionarem-no, a pressão exerce-se sobre a sua aresta lateral direita, e não na porção anterior. Em relação a atiradores com a mão ou dedos compridos, este erro é motivado por utilizarem a falanginha ou a dobra existente entre esta e a falange para pressionarem o gatilho, mas sem o envolverem.

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Em ambas as formas anteriores, o atirador empurrará o gatilho para a esquerda em vez de o puxar em linha recta para trás. Finalmente, a mão esquerda, que deve apoiar e guiar a arma, também pode provocar este tipo de erro se a sua colocação for deficiente. Se colocarmos a palma da mão muito atrás, em vez de ficarmos com a base de implantação dos dedos a pressionar na face anterior da coronha, serão as falanges a fazê-lo. Desta forma serão os dedos a exercer maior pressão, puxando a arma para a esquerda. O atirador deve ter a noção de que:

• Deve utilizar a parte média da falangeta para pressionar o gatilho, exercendo uma acção lenta, suave, crescente e em linha recta da frente para trás;

• O dedo nunca empurra o gatilho, e, ao inserir-se nele, a falangeta deverá fazer com o sentido longitudinal do corpo da arma um ângulo de 90º;

• Nos casos de atiradores com mãos desproporcionadas em relação à arma que utilizam, deverão, em pretérito de uma boa empunhadura, encontrar uma situação de compromisso empunhadura/arma, que lhes permita efectuar o controlo do gatilho da forma descrita;

• As zonas tenar e hipotenar da mão de apoio deverão cobrir a platina esquerda, de modo a que seja a zona de flexão da palma - inserção dos dedos – a pressionarem, da frente para trás, a parte anterior do punho.

5.2.8 Impactos concentrados entre as 09H30 e as 11H00

Verifica-se quando o atirador, por saber que, ao ser deflagrada, a arma irá subir, numa tentativa de amortecer a violência do seu impacto, começa a executar este movimento quando ainda está a pressionar o gatilho. Por sentir o momento em que o cão ultrapassa o ressalto que lhe permite vir à frente para embater no percutor, o atirador larga violentamente o gatilho. Sendo estes movimentos simultâneos com a deflagração, vão alterar a posição da arma, fazendo-a saltar para cima e para a esquerda. O atirador deve ter a noção de que:

• Não deve antecipar o movimento provocado pelo coice antes dele existir. Deverá efectuar a força necessária e suficiente com a mão esquerda para não deixar que a arma levante muito. Isto consegue-se se a mão esquerda pressionar a direita para trás, mantendo o cotovelo em direcção ao solo;

• Após a deflagração, o gatilho deve ser seguido pelo dedo indicador no seu movimento de recuperação. Quer isto dizer que, ao ir à frente, o dedo não perde o contacto com o gatilho, deixando-o armar de forma lenta e suave.

5.2.9 Impactos concentrados entre as 11H00 e as 12H30

Verifica-se quando o atirador coloca a arma com a aresta posterior direita do punho junto à zona de flexão da mão. Nesta posição, ao apertar o punho no instante que antecede o disparo, o atirador empurra-o com a palma da mão – empalmar -. Como o eixo de rotação da arma se encontra na junção do punho com a carcaça, a boca do cano é elevada. Ao aperceber-se deste movimento, a atenção do atirador é desviada para o ponto de mira, foca-o, recentrando a

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pontaria apenas por ele. Como a alça baixou mas está desfocada, o atirador não toma consciência do erro, pois vê o ponto de mira no centro do alvo. O atirador deve ter a noção de que:

• Ao fazer a pontaria, deve manter sempre focados com nitidez quer a alça quer o ponto de mira, principalmente no lapso de tempo que antecede o disparo. Só assim se conseguirá aperceber das alterações da mirada que possam advir, e corrigi-las atempadamente;

• Deve empunhar a arma convenientemente, o que lhe proporcionará o seu correcto controlo. No caso vertente, e para que os músculos da palma da mão não interfiram com a estabilidade da arma, não se pode esquecer que, a empunhadura deve ser conseguida através de uma pressão limitada da mão direita, devidamente acompanhada da mão esquerda.

5.3 Correcções a efectuar pelo Instrutor de Tiro

5.3.1 Confirmar o alinhamento do aparelho de pontaria

• Mostrando a figura correspondente ao aparelho de pontaria

• Na pistola, por exemplo, a perspectiva que o atirador deve ter da mirada aos 10, 15 e 20 mts. É, sensivelmente, a seguinte:

Como, à medida que a distância aumenta se torna mais difícil enquadrar o ponto de mira na zona de pontaria, o resultado traduz-se numa maior dispersão.

5.3.2 Exercer demasiada força nos dedos ao disparar

• Para detectar este erro, é necessário que o atirador dispare “em seco”. Para se corrigir, basta relembrar-lhe que a arma deve ser empunhada com a força necessária para se cumprimentar alguém;

20mts. 10mts. 15mts.

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• Se não resultar, obrigá-lo a empunhar a arma apenas com o polegar e o indicador, mantendo os restantes dedos afastados do punho, e disparar uma ou duas vezes.