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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extrajudicial
Daniel Glória
São Paulo
2015
Daniel Glória
Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extra Judicial
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre
em Controladoria Empresarial.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera
São Paulo
2015
G562c Gloria, Daniel
Crédito no processo de recuperação judicial e extrajudicial /
Daniel Gloria - 2015.
136 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) –
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.
Orientação: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera
Bibliografia: f. 128-134
1. Recuperação judicial. 2. Recuperação extrajudicial. 3.
Concessão de crédito. 4. Securitização. 5. Turnaround. I. Título.
CDD 342.236
Daniel Glória
Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extra Judicial
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Controladoria Empresarial.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera
Aprovado em 19 de agosto de 2015.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Octávio Ribeiro de Mendonça Neto
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Fabiano Guasti Lima
Universidade de São Paulo
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto
Decano de Pesquisa e Pós-Graduação
Profa. Dra. Helena Bonito Couto Pereira
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Prof. Dr. Adilson Aderito da Silva
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
Prof. Dr. Henrique Formigoni
Dedico à minha mãe, Lucila, que sempre esteve ao meu lado,
apoiando-me e acreditando que eu conseguiria alcançar meus
sonhos; à minha filha, Giovanna, que nos trouxe muita
alegria vindo somar a esta família linda que a Flávia e eu
construímos todos os dias.
AGRADECIMENTOS
A Deus e à Nossa Senhora, que nunca deixaram de olhar por mim, mesmo em minhas
ausências estiveram sempre presentes e, aqui, renovo minha fé.
À minha mãe, Lucila, por apoiar-me com toda simplicidade e afagar-me nos principais
momentos deste projeto e à memória de meu pai, Roberto.
À minha esposa, Flávia, que, na minha ausência e mesmo eu estando distante nos
momentos em que mais precisou, nunca deixou de me apoiar e incentivar a trilhar o caminho
escolhido, permitindo que eu chegasse até aqui, ajudando-me com seu amor, paciência,
compreensão e carinho.
À minha filha, Giovanna, que foi concebida no início deste projeto e chegando no meio
do percurso tornou tudo mais lindo e especial, mesmo na minha ausência.
Ao meu orientador, Professor Doutor Luiz Carlos Jacob Perera, por seus ensinamentos
e por toda ajuda e compreensão ao longo do curso.
Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, pela atenção que me foi dada, e, em
especial, aos professores Doutores Octávio Ribeiro de Mendonça Neto e Fabiano Guasti Lima,
por suas valiosas contribuições na qualificação.
Ao professor Mestre Carlos Alberto dos Santos Silva, o professor CASS, o meu muito
obrigado pelo incentivo.
Aos meus irmãos, Christianie, Renato e sua esposa Jordana, que me acompanharam
nesta caminhada mesmo a distância, mas cientes do meu desejo de alcançar este sonho.
Aos pais, Pedro e Maria Inês, e a toda a família de minha esposa por cuidarem da minha
família com amor enquanto eu me dedicava a este sonho.
Aos meus amigos, em especial Sandro, Daniela e sua filha Gabriela, compreendendo a
ausência e a distância ao longo desta caminhada.
Ao Kleber, diretor da empresa onde trabalho, por compreender os momentos em que
estive presente, mas não por inteiro no exercício de minhas atribuições.
A todos, que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho.
“Se escolher navegar os mares do sistema
bancário, construa seu banco: sólido para
enfrentar, com segurança, qualquer tempestade. ”
JACOB SAFRA
RESUMO
O objetivo deste estudo é identificar os determinantes de crédito para empresas em recuperação
judicial, extrajudicial ou em crise financeira. Esta pesquisa está amplamente inserida no cenário
atual em que os índices de empresas que optam pelo processo de recuperação se apresentam em
constante elevação. Diversas causas podem levar as empresas ao desempenho desfavorável e,
consequente, crise financeira, seja por fatores internos ou externos. A ausência de tomada de
decisão gerencial, da adoção de estratégias consistentes, a má gestão do caixa da empresa,
dentre tantas outras, ocasionam a perda de resultado e a deterioração do rating de crédito e,
consequentemente, à restrição ao crédito por bancos comerciais. Diante da crise financeira,
algumas empresas acabam recorrendo ao benefício da lei 11.101/05, optando pelo processo de
recuperação judicial. Face à escassez do crédito, as empresas recorrem à factoring e Fundos de
Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) para que, por meio da cessão de direitos
creditórios possam suprir a necessidade de captação de recursos e manter o funcionamento da
operação. Nesse contexto, a presente pesquisa propõe um estudo sobre os fatores determinantes
na concessão do crédito para as empresas em recuperação (turnaround), dado o pressuposto da
assimetria nas demonstrações financeiras e a necessidade de crédito para fomentar a empresa
durante o período de recuperação da crise. O referencial teórico traz o levantamento a partir das
causas da crise financeira, seguido do factoring, Fundos de Investimentos em Direitos
Creditórios (FIDC), securitizadora, da lei 11.101/05, da lei americana Bankruptcy Code, do
crédito, da confiança, do estudo de um caso real, chegando às conclusões. Realizou-se pesquisa
qualitativa, do tipo exploratória, com 9 empresas da cidade de São Paulo e interior em que a
soma do patrimônio líquido representa 33% do mercado. A aplicação do caso real de uma
empresa em recuperação judicial com a adoção de um FIDC para fomentar o caixa a partir da
contratação da empresa de consultoria permite compreender todo o processo. Os resultados
obtidos através da análise de conteúdo indicam 2 vertentes no processo de concessão de crédito,
sendo (i) a adoção de um agente que eleve a confiança e diminua a percepção do risco para o
fomentador e (ii) a busca por parceiro para financiar a empresa durante o processo de
recuperação judicial ou recuperação informal (acordo fora do tribunal). Constatou-se os
seguintes determinantes de crédito: a competência da empresa em produzir resultados, o caráter
da empresa, a qualidade das informações financeiras e a adoção de consultor, ainda que exerça
o papel de agente, e mitigador de risco percebido.
Palavras-chave: Recuperação Judicial. Recuperação Extrajudicial. Concessão de Crédito.
FIDC. Factoring. Securitização. Turnaround.
ABSTRACT
The aim of this study is to identify the factors in determining credit for companies in judicial
or extrajudicial rehabilitation or which are undergoing a period of financial crisis. This research
is particularly relevant in the current scenario where the number of companies opting for the
rehabilitation process is constantly increasing. Several causes can be attributed to companies
showing poor performances and facing subsequent financial crises either as a result of internal
factors or external ones. The lack of competent managerial decision-making, adoption of
consistent strategies, poor management of the company's cash, among many other factors, cause
loss of income and lowering of credit rating, thus leading to credit restrictions by commercial
banks. Faced with this financial crisis, some companies end up taking advantage of the benefits
provided by Statue 11.101/05 and opting for bankruptcy protection. Given the scarcity of credit,
companies turn to factoring and FIDC, through which assignment of receivables helps to meet
the need for raising funds and maintaining company operations. In this context, the present
research proposes a study of the determining factors in granting credit to businesses in
rehabilitation (turnaround), given the assumption of disparity between financial statements and
the need for credit to keep the company going during the period of recovery from the crisis.
The theoretical framework bases the survey on the causes of the financial crisis, followed by
factoring, FIDC, securitization, Statute 11.101/05, the American Bankruptcy Code, credit and
the role of trust. Qualitative, exploratory research was conducted at companies in the city and
state of São Paulo. The results indicate two main trends in the credit-granting process; (i) the
adoption of an agent who builds confidence and lowers the perceived risk for the funding entity;
and (ii) the search for a partner to finance the company during the formal or informal
rehabilitation process.
Keywords: Judicial Rehabilitation. Extrajudicial Rehabilitation. Bankruptcy. Credit Granting.
FIDC. Factoring. Securitization. Turnaround.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Declínio e recuperação da empresa ........................................................................... 30
Figura 2: Novas atividades do factoring – em % ..................................................................... 33
Figura 3: Processo de securitização e FIDC ............................................................................. 36
Figura 4: Estrutura básica de operação de cessão de crédito .................................................... 38
Figura 5: Fluxo do processo da recuperação judicial ............................................................... 42
Figura 6: Fluxo do processo de falência ................................................................................... 44
Figura 7: Gestão adequada: o tipo certo de executivo no momento certo ................................ 47
Figura 8: Processamento da recuperação judicial art. 51/69 e 73 ............................................ 52
Figura 9: Processamento da recuperação extrajudicial art. 161 – 167 ..................................... 55
Figura 10: Processo de securitização ........................................................................................ 64
Figura 11: Geografia do factoring – posição das Américas, 2013 ........................................... 71
Figura 12: Volume Mundial / Continente – em € ..................................................................... 72
Figura 13: Histórico de recuperação judicial – 06.2005 à 12.2013 .......................................... 78
Figura 14: RJ Requerida vs. Deferida - Pequena Empresa....................................................... 78
Figura 15: RJ Requerida vs. Deferida - Média Empresa .......................................................... 79
Figura 16: RJ Requerida vs. Deferida – Grande Empresa ........................................................ 79
Figura 17: Dados históricos – falência e RJ ............................................................................. 80
Figura 18: Falências requeridas vs. decretadas ........................................................................ 80
Figura 19: Análise das RJ – 06/2005 / 12/2013........................................................................ 81
Figura 20: Análise – 06/2005 / 12/2013 ................................................................................... 82
Figura 21: Papel do consultor: agente e mitigador de risco percebido ................................... 103
Figura 22: Área de checagem ................................................................................................. 106
Figura 23: Determinantes do Crédito ..................................................................................... 113
Figura 24: Cronologia do processo de RJ – caso real............................................................. 119
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Estratégias comuns à recuperação ........................................................................... 28
Quadro 2: Normas regulamentares para cessão de crédito ....................................................... 37
Quadro 3: Comparativo das atividades do factoring e do banco comercial ............................. 39
Quadro 4: Estrutura da Lei 11.101/05 ...................................................................................... 45
Quadro 5: Exame de viabilidade .............................................................................................. 48
Quadro 6: Meios de recuperação e objetivos propostos ........................................................... 50
Quadro 7: Comparativo da lei de recuperação judicial entre Estados Unidos e Brasil ............ 60
Quadro 8: Premissas da simulação do comparativo de operação de desconto de duplicata .... 70
Quadro 9: Comparativos fiscais entre o FIDC e o Factoring .................................................. 73
Quadro 10: Questão nº 1 ........................................................................................................... 94
Quadro 11: Questão nº 2 ........................................................................................................... 96
Quadro 12: Questão nº 3 ........................................................................................................... 98
Quadro 13: Questão nº 4 ......................................................................................................... 100
Quadro 14: Questão nº 5 ......................................................................................................... 101
Quadro 15: Questão nº 6 ......................................................................................................... 104
Quadro 16: Questão nº 7 ......................................................................................................... 107
Quadro 17: Questão nº 8 ......................................................................................................... 109
Quadro 18: Fatores internos e externos do declínio ............................................................... 116
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Estudos das causas do declínio. ................................................................................ 24
Tabela 2: Principais elementos que conduziram as empresas à fase do declínio ..................... 25
Tabela 3: Classificação de risco versus provisão de liquidação duvidosa ............................... 66
Tabela 4: Médias do período do fator ANFAC ........................................................................ 67
Tabela 5: Taxas de juros por instituição financeira- período 14.01.2015 a 20.01.2015........... 68
Tabela 6: Simulação de operação de desconto de duplicata – Banco vs. Factoring ................ 69
Tabela 7: Volume total dos factoring por continente – últimos 7 anos em milhões € ............. 72
Tabela 8: Países de destaque no volume total das Américas .................................................... 73
Tabela 9: Simulação de operação de desconto de duplicata – FIDC vs. Factoring ................. 74
Tabela 10: PL dos FIDC-NP classificados por administrador e PL ......................................... 75
Tabela 11: PL dos FIDC classificados por administrador ........................................................ 76
Tabela 12: Comparativo de processos finalizados vs. planos aprovados ................................. 81
Tabela 13: Composição da amostra .......................................................................................... 84
Tabela 14: Perfil dos respondentes ........................................................................................... 85
Tabela 15: Entrevistas realizadas – data, duração, meio, local, tempo médio ......................... 89
LISTA DE ABREVIATURAS
ACC Contrato sobre Adiantamento de Câmbio
AG Assembleia Geral
ANFAC Associação Nacional das Empresas de Fomento Comercial
BCB Banco Central do Brasil
BP Balanço Patrimonial
CEO Chief Executive Officer
CETIP Câmara de Custódia e Liquidação
CMN Conselho Monetário Nacional
CMV Custo do Material Vendido
CND Certidão Negativa de Débitos
CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
CPF Cadastro de Pessoas Físicas
CVM Comissão de Valores Mobiliários
DIP Debtor-in-Possession
DRE Demonstrativo dos Resultados do Exercício
FCI Factoring Chain International
FIDC Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios
FIDC-NP Fundos de Investimentos em Diretos Creditórios-Não Padronizados
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PIB Produto Interno Bruto
PL Patrimônio Líquido
RG Registro Geral
RJ Recuperação Judicial
SEC Securities and Exchange Commission
SINFAC Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring do
Estado de São Paulo
SPE Sociedade de Propósitos Específicos
UPI Unidade Produtora Isolada
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 19
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA ....................................................................... 19
1.2 OBJETIVO ................................................................................................................. 21
1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 21
1.3 QUESTÃO DE PESQUISA E JUSTIFICATIVA ...................................................... 21
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................... 22
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 23
2.1 O TURNAROUND NO BRASIL ................................................................................ 23
2.1.1 Declínio das empresas .............................................................................................. 23
2.1.2 Assimetria da informação ........................................................................................ 27
2.1.3 Estratégias para a recuperação de empresas ......................................................... 27
2.2 O FACTORING NO BRASIL ..................................................................................... 30
2.2.1 Vantagens e desvantagens ....................................................................................... 31
2.2.2 Fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) ..................................... 32
2.2.2.1 Da constituição e funcionamento ............................................................................... 33
2.3 CRÉDITO ................................................................................................................... 36
2.3.1 Cessão de crédito ...................................................................................................... 37
2.3.2 Bancos vs. Factoring ................................................................................................. 38
2.4 O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO ........................................................................ 40
2.4.1 O conceito de empresa ............................................................................................. 46
2.4.2 Princípio da preservação da empresa ..................................................................... 46
2.4.3 A recuperação judicial ............................................................................................. 47
2.4.3.1 Da viabilidade............................................................................................................. 48
2.4.3.2 Dos requisitos para requerer a recuperação ................................................................ 48
2.4.3.3 Dos meios de recuperação da empresa ....................................................................... 49
2.4.3.4 Das fases do processo de recuperação judicial ........................................................... 51
2.4.4 Recuperação extrajudicial ....................................................................................... 53
2.4.4.1 Da homologação da recuperação extrajudicial ........................................................... 53
2.4.4.2 Da preservação de credores ........................................................................................ 54
2.4.4.3 Das fases do processo de recuperação extrajudicial ................................................... 54
2.4.5 Dificuldade de obtenção de recursos ...................................................................... 55
2.4.5.1 Financiamento com capital próprio ............................................................................ 56
2.4.5.2 Financiamento com capital de terceiros ..................................................................... 56
2.5 U.S. BANKRUPTCY CODE 1.978 .............................................................................. 56
2.5.1 Semelhanças da Lei 11.101/05 com U.S. Bankruptcy Code ................................... 58
2.6 SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS ...................................................................... 60
2.6.1 Securitização vs. Factoring ...................................................................................... 64
3 CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO .......................................................................... 65
3.1 FINANCIADOR DO CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO ........................................... 65
3.2 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FACTORING ............................................................. 67
3.3 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FIDC .......................................................................... 73
3.4 SEGREGAÇÃO DO RISCO ...................................................................................... 76
3.5 EMPRESAS EM CRISE ............................................................................................ 77
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 83
4.1 MÉTODO E TIPO DE PESQUISA ............................................................................ 83
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA .................................................................................... 83
4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ....................................................... 85
4.4 TRATAMENTO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................ 90
4.4.1 Tratamento dos dados .............................................................................................. 90
4.4.2 Análise dos resultados .............................................................................................. 91
5 CASO REAL ........................................................................................................... 114
5.1 HISTÓRIA DA EMPRESA ..................................................................................... 114
5.2 O DECLÍNIO ........................................................................................................... 115
5.3 A OPÇÃO PELA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ..................................................... 116
5.4 ANÁLISE DO CASO ............................................................................................... 119
5.5 CONCLUSÃO DO CASO REAL ............................................................................ 120
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 122
REFERÊNCIAS .................................................................................................. . 128
APÊNDICE .......................................................................................................... . 135
19
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
A busca por resultados nas empresas acaba por colidir com o mercado concorrente, sob
as mais diversas formas, exige do empresariado uma dose extra de dinamismo, criatividade e
flexibilidade no direcionamento das estratégias, materializando-as pela perenidade dos
negócios.
Embora almejado, o resultado, por vezes, não acontece e, ainda, de forma desastrosa,
pode se mostrar insuficiente para a manutenção das atividades da empresa, colocando-a em
situação de risco e incapacidade de manter seu bem maior: a sobrevivência. Nesse sentido, o
amparo legal se dá mediante a Lei de Recuperação e Falência nº 11.101 de 09 de fevereiro de
2005, em seu artigo 47, que versa sobre o princípio da preservação da empresa, cujo objetivo,
segundo Salomão e Santos (2012, p.14), é: “[...] salvar a empresa, desde que economicamente
viável”.
Domingos (2009) ensina que ainda que o princípio da preservação da empresa esteja
para o empresariado como uma possibilidade de reversão da situação desfavorável da
organização, este mantém sua função social.
Fazzio Junior (2003) argumenta que insolvente ou não, a empresa é uma unidade
geradora de caixa que interage no mercado amplamente, construindo redes de relacionamento
sob normas jurídicas com grande repercussão social.
Segundo Lopes (2012), ineficiências em gestão, delegação, informações para a tomada
de decisão, são possíveis causas que corroboram para que a empresa entre em estágio de
declínio. No entanto, empresas falham no planejamento por não utilizarem ferramentas
adequadas de gestão a fim de estabelecer o controle efetivo da operação.
O autor complementa, diante de um cenário desfavorável, pouco conhecido até então,
mas presente na empresa, o que acaba gerando insegurança diante da incerteza, de tal sorte que
pouca ou nenhuma opção pareça ser salutar para mediar a então realidade a não ser a injeção
de dinheiro novo.
Neste panorama, a ausência do planejamento estratégico dificulta a compreensão entre
as oportunidades ou desafios do ambiente externo, com vistas para o desenvolvimento sem
traumas da empresa (GRACIOSO, 1996).
O direcionamento estratégico estimula a criatividade, a inovação, a melhoria contínua
da atividade empresarial e a intervenção preventiva, já que a saúde econômica da empresa
20
precisa, constantemente, ser avaliada, monitorada e ajustada. Uma vez instaurado o caos, ações
que, até então, eram rotineiras, passam a ter o cunho decisório: pago este ou aquele fornecedor,
esta ou aquela obrigação, como manter a empresa trabalhando, gerando caixa para que o ciclo
produtivo não seja interrompido, findando as opções para gerir o caixa e, por conseguinte, a
crise? Mas, observando o caos sob outra perspectiva, nota-se que as crises não são destrutivas,
mas, sim, são instrutivas, explica Queiroz (2004).
A inobservância e/ou o desconhecimento do amparo legal ao fornecimento de crédito
para empresas em recuperação (recuperanda), por meio da Lei nº 11.101/05, pelos credores,
muitas vezes, dificulta a obtenção de novos créditos para a empresa em crise viabilizar a
continuidade de suas atividades. Segundo Milanese (2014), a nova lei de falência inclui dois
novos dispositivos para proteção aos credores e fornecedores, sendo:
(i) o primeiro, pós-petição, que são considerados direitos prioritários em
eventual liquidação por falência;
(ii) o segundo, pré-petição e quirografários, quando não há a interrupção no
fornecimento de bens e serviços ou financiamento à empresa, mas, se
houver a conversão da recuperação em liquidação, serão considerados
direitos prioritários.
Embora tal prerrogativa implique a possibilidade de aumento do endividamento da
empresa devedora, que já sofre com o caixa estrangulado, dificultando para os credores
receberem os seus créditos, também é um meio de preservação e maximização do valor dos
ativos da empresa (KIRSCHBAUM, 2009).
Considerando o ano de 2014 e 2015, com cenário econômico recessivo, que , segundo
o IBGE, a recessão se caracteriza por 2 períodos consecutivos de retração do PIB, e
considerando os bancos dotados por políticas cada vez mais conservadoras na concessão de
crédito - o factoring e FIDC - como fomentador de crédito, atuante no mercado de médias e
pequenas empresas, cujo acesso ao crédito é menor, estes bancos financiam as operações dessas
empresas e aumentam a participação no mercado ocupado por bancos.
Para fins desta pesquisa, a definição de micro, pequena, média e grande empresa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi utilizada, sendo: (i) microempresa até
9 pessoas ocupadas; (ii) pequena empresa, entre 10 e 49 pessoas ocupadas; (iii) média empresa,
entre 50 e 249 pessoas ocupadas; (iv) grande empresa, com 250 pessoas ocupadas ou mais
(CAVARARO, 2011).
21
Nesse contexto, a presente pesquisa propôs um estudo sobre os fatores determinantes na
concessão do crédito para as empresas em recuperação (turnaround), dado o pressuposto da
assimetria nas demonstrações financeiras e a necessidade de crédito para fomentar a empresa
durante o período de recuperação da crise.
1.2 OBJETIVO
1.2.1 Objetivo geral
Segundo o pressuposto da assimetria das informações nas demonstrações financeiras, a
dificuldade de obtenção de recursos e a necessidade de crédito para fomentar a empresa durante
o período de crise financeira, o presente estudo teve, como objetivo geral, “conhecer os fatores
determinantes na concessão do crédito para as empresas em crise financeira ou em processo de
recuperação judicial”.
1.3 QUESTÃO DE PESQUISA E JUSTIFICATIVA
Esta dissertação buscou identificar possíveis influências nas empresas que estão em
processo de reorganização empresarial, portanto, a seguinte questão deu origem a esta pesquisa:
quais os determinantes na concessão de crédito para empresas em processo de reorganização
empresarial ou em crise financeira?
De acordo com a orientação do programa de mestrado profissional em Ciências
Contábeis, o benefício prático à formação profissional, tal qual a possibilidade da aplicação dos
resultados na prática, proporcionam ao pesquisador a aproximação da academia com o ambiente
empresarial.
Este trabalho justificou-se pela busca dos determinantes na concessão de crédito e de
possíveis influências da participação do Factoring e do FIDC constituído a partir do Factoring
no processo de recuperação de empresas, mediante a operação de fomento de crédito para tais
empresas.
22
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Com vistas ao alcance do objetivo proposto neste estudo, a estruturação foi elaborada
em 6 seções: a primeira apresentou a introdução, contextualizando o tema da pesquisa, a
situação-problema, a questão de pesquisa, os objetivos e a estrutura deste estudo.
O referencial teórico foi apresentado, na segunda seção, com o processo de turnaround
no Brasil, demonstrando as fases do declínio das empresas, a possível assimetria da informação
nas relações empresariais, chegando à estratégia de recuperação para empresas em crise.
Realizou-se uma abordagem sobre o factoring, com possíveis vantagens e desvantagens sob a
ótica da empresa que necessita do recurso para financiar a operação e a apresentação dos fundos
de investimentos em direitos creditórios a partir da constituição e seu funcionamento. Ainda,
nesta seção, foi abordado o processo de crédito e a estrutura do processo de recuperação judicial
e extrajudicial a partir da petição inicial, “o pleito”, passando por conceitos de preservação e de
viabilidade empresarial, chegando à homologação pelo juiz. Por fim, e não menos importante,
esta seção abordou possíveis semelhanças entre as leis norte-americanas e brasileiras.
Passando à terceira seção, que fez uma reflexão sobre o crédito para empresas em crise,
expondo o papel do financiador do crédito, a comparação do custo de captação de recursos pelas
empresas pelo factoring e do FIDC e apresentando uma visão geral sobre a adoção da lei
11.101/05 por pequenas, médias e grandes empresas.
Na quarta seção, foram demonstrados: o método da pesquisa, a coleta de dados e o
tratamento dos dados, caracterizando a pesquisa como qualitativa e exploratória.
Já, a quinta seção apresentou o estudo de um caso real de uma empresa de médio porte
que entrou em declínio e optou pela adoção do benefício legal para reverter a crise financeira.
Apresentaram-se os elementos principais e o financiamento da operação pela cessão de direitos
creditórios em FIDC. A conclusão do caso foi apresentada para fechamento desta seção.
Finalizando, as considerações finais, limitações, foram registradas na sexta seção, em
que os dados, após analisados, possibilitaram a compreensão e o entendimento dos possíveis
determinantes no processo de concessão de crédito para as empresas em crise financeira,
deixando a sugestão para novos estudos.
23
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O TURNAROUND NO BRASIL
A expressão em inglês turnaround, traduzida livremente para o português significa
“mudar o curso ou direção”, “reverter a crise” ou “recuperar o valor e o desempenho
empresarial”. A recuperação da empresa é o processo pelo qual a empresa necessita de ações
corretivas e preventivas de curto prazo para restabelecer o desempenho anterior ao cenário em
que se encontra e sem o qual a empresa poderá falir em pouco tempo. A definição de turnaround
também se aplica às empresas que necessitem de correções para melhorar o desempenho que
fora perdido ou que necessite de melhoria dos processos de forma tal que possibilite se tornar
mais competitiva. Neste caso, trata-se de processo de mudança estratégica.
No meio empresarial, a crise é uma situação de ameaça às metas da empresa cuja decisão
de correção deve ser de curto prazo.
Segundo Hermann (1963), a crise ameaça as metas prioritárias da empresa, limitando o
tempo de resposta e sendo imprevisível, levando os tomadores de decisão (decision makers) a
altos níveis de stress, pegando-os de surpresa e prejudicando o desempenho em razão do pouco
tempo para reação.
Embora haja diversas definições, para fins deste estudo, adotou-se o conceito de
recuperação do valor e do desempenho empresarial para a expressão turnaround, e o conceito
de situação de ameaça à sobrevivência da empresa, como situação de crise.
2.1.1 Declínio das empresas
Slatter e Lovett (2009) explicam que diversas causas podem levar as empresas ao
desempenho desfavorável e, consequente, perda de resultado, seja a ausência de tomada de
decisão gerencial, de adoção de estratégias consistentes, do excesso de imobilização de ativos
gerando custos adicionais, a subutilização de ativos, a má gestão do caixa da empresa, a perda
de lucratividade, dentre tantas outras.
Sudarsanam e Lai (2001) atribuem o declínio empresarial como sendo uma inércia
administrativa, sincronismo pobre, falta de intensidade e aplicação de estratégias para a
recuperação de empresas.
24
Para Boyne (2006), embora os fatores internos e externos corroborem para que a
empresa entre em processo de declínio, mesmo em ambiente estável, liderança fraca ou falta de
foco no cliente podem ocasionar a perda de valor da empresa, levando-a ao declínio.
No estudo de Cater e Schwab (2008), comparando duas empresas familiares de médio
porte, apresenta como, uma das causas, a perda substancial de recursos ao longo do tempo,
podendo ser gradual ou repentina, bem como a atribuição, por gestores, aos fatores externos à
empresa, indo além de seu controle, como a concorrência. Mas, ao final, esclarecem que os
principais fatores são os de ordem interna.
Jeyavelu (2009), em sua pesquisa sobre Organisational Identity Dissonance in
Organisational Decline and Turnaround, expõe que há o consenso de que as causas do declínio
empresarial estejam associadas à incapacidade de se adaptar às mudanças do ambiente, aos
erros de gestão, às decisões subjetivas e ou parciais dos gestores, aos conflitos de demandas dos
stakeholders, aos excessos de burocratização, dentre outros, chegando ao ciclo de vida da
organização pressupondo ser parte dele.
Os autores Boyne (2006), Sudarsanam e Lai (2001) atribuem o declínio empresarial aos
fatores internos, destacando, em sua maioria, a má gestão e a negligência com o controle e a
gestão financeira como uma das principais causas. Já, para o ambiente externo, os autores Cater
e Schwab (2008), Jeyavelu (2009) e Panicker e Manimala (2011) apontam como possíveis
causas: a concorrência, as mudanças na demanda e as variações adversas nos preços dos
insumos básicos. Slatter e Lovett (2009) apresentam um resumo dos estudos das causas do
declínio, separando as causas internas das externas, conforme tabela 1.
Tabela 1: Estudos das causas do declínio.
Slatter 1984 Gething 1997
Internos
Má gestão 73% 84%
Controle financeiro inadequado 75% 60%
Elevada estrutura de custos 35% 56%
Carente esforço de marketing 22% 20%
Grandes Projetos 17% 20%
Aquisições 15% 72%
Política Financeira 20% 84%
Externos
Mudanças na demanda 33% 68%
Concorrência 40% 44%
Variações adversas nos preços dos insumos básicos 30% 20%
Fonte: Adaptado pelo Autor, de Slatter e Lovett (2009, p. 52)
25
Lopes e Assis (2009) explicam que, quando há títulos protestados, acúmulo de passivos
tributários, queda nos lucros, atraso nos pagamentos dos salários ou até mesmo prejuízo, mesmo
que, nesse momento, o caixa da empresa ainda esteja equilibrado, é necessário verificar se o
prejuízo é um fato isolado em determinado exercício ou se já vem ocorrendo em períodos
anteriores, pois, nesse caso, claramente observa-se que algo não está bem.
Segundo Gitman (2010), a empresa pode ir ao declínio por diversas razões, mas
constantes retornos operacionais negativos ou baixos podem ocasionar a perda de valor de
mercado, caso o retorno não seja superior ao custo de capital. Outro fator seria a insolvência
técnica, mesmo que os ativos sejam maiores que os passivos, há a incapacidade de pagar os
compromissos à medida que vencem, configurando crise de liquidez e podendo levar a empresa
à falência, quando o valor contábil dos passivos ultrapassar o valor justo de mercado dos ativos,
ou seja, o patrimônio líquido negativo.
Robbins e Pearce II (1993) argumentam que, embora imprecisa, a situação de declínio
caracteriza-se pela permanência da empresa por um período entre dois e quatro anos
consecutivos de prejuízo, em que o retorno sobre o investimento (ROI) e o retorno sobre os
gastos (ROS) permaneçam negativos e ou abaixo da média do setor.
No Brasil, segundo Valle (2010 apud DELOITTE TOUCHE TOHMATSU, 2005) em
pesquisa realizada sobre os impactos da Lei 11.101/05 e os principais elementos que podem
levar a empresa ao declínio, verifica-se que faz parte do ciclo de vida da empresa, embora haja
certa acomodação da gerência diante da falta de ações preventivas. A tabela 2 resume a
pesquisa.
Tabela 2: Principais elementos que conduziram as empresas à fase do declínio
Elementos desencadeadores do declínio Porcentagem das empresas
Alto endividamento da empresa 92%
Margens de lucro declinantes 89%
Aumento do custo financeiro 84%
Surgimento de novas tecnologias 83%
Concorrência desleal por preço 81%
Mudança no comportamento de compra dos atuais clientes 81%
Escassez ou aumento no custo dos insumos 81%
Falta de financiamento à operação 80%
Políticas Governamentais 80%
Entrada de novos concorrentes no mercado 80%
Mudanças na regulamentação 77%
Novos produtos ou serviços oferecidos pelos concorrentes 77%
Redução de market-share 77%
Fonte: Valle (2010, p.103).
26
Ainda sobre a referida pesquisa, executivos brasileiros atribuem as causas do declínio a
problemas financeiros, como alto endividamento, aumento dos custos financeiros, queda nas
margens de lucro, entre outros, como destacado na tabela acima.
Coelho (2008) defende que a crise financeira da empresa pode ter diversos significados,
entretanto, o autor propõe as seguintes classificações:
crise econômica – considerável retração dos negócios originados por queda
de consumo dos produtos fabricados ou serviços oferecidos, retração geral da
economia, atraso tecnológico e concorrência;
crise financeira – ausência de caixa para honrar compromissos, gerando crise
de liquidez em razão da amortização do capital investido ou em razão de
dívida contraída em moeda estrangeira, com elevação repentina. Em outras
palavras, inadimplência.
crise patrimonial – insolvência, ou seja, ativos em menor quantidade frente
ao passivo, quer dizer, menos bens no patrimônio do que as dívidas
contraídas.
No estudo realizado por Panicker e Manimala (2011), sessenta oito (68) casos de
sucessos e trinta e quatro (34) casos de fracasso em turnaround foram analisados e concluíram
que as causas do declínio, em sua maioria, são atribuídas ao ambiente externo, mas, na verdade,
a causa do declínio está no ambiente interno, pois, se houver instabilidade ou recessão no
mercado, os gestores devem perceber e preparar a empresa para o cenário em que ela estiver
inserida.
O’Neill (1986) sugere que, se o declínio for de natureza econômica, poderia estar
associado ao ciclo do negócio e, portanto, afetaria tanto a boa quanto a má gestão da empresa.
Segundo o autor, outros fatores também podem afetar a empresa, como o aumento da
concorrência, a mudança de hábito dos consumidores e a entrada de produtos substitutos; no
âmbito administrativo, podem ocorrer custos excessivos de trabalho, excesso de restrições da
capacidade da administração em usar os recursos, uso ineficiente ou ineficaz dos grupos de
profissionais-chave, chegando à estrutura e sistemas inadequados.
27
2.1.2 Assimetria da informação
Carvalho (2003) explica que a assimetria da informação se dá quando as partes
envolvidas têm informações distintas, ou seja, o tomador do crédito possui mais informação
sobre as reais possibilidades de pagar a dívida do que o agente creditício (no caso deste trabalho
factoring e FIDC), resultando na negação do crédito. Mesmo em se tratando de bons pagadores,
pode ocorrer a negativa do crédito por falha nas informações prestadas, levando a empresa
tomadora do recurso a utilizar colateral (garantia para os credores), quando possível.
Patrocínio (2013) expõe que credores necessitam analisar se os empreendedores têm
capacidade de gerir o processo de recuperação financeira e garantir, eventualmente, a obtenção
da mesma quantia que seria possível obter em caso de falência. Para tanto, faz-se necessário o
disclousure das informações patrimoniais da empresa, dos acionistas, das coligadas ou de seus
controladores.
Blazy, Martel e Nigam (2014) complementam que a dificuldade de reestruturação de
dívidas em empresas com dificuldade financeira, mas não em falência, é ausência de
informação clara entre os credores e os gestores da empresa. Tal assimetria informacional pode
resultar na dificuldade de organizar o processo de renegociação informal das dívidas, fora dos
tribunais, processo extrajudicial, levando a empresa a recorrer aos meios legais, processo de
recuperação judicial ou, até mesmo, ao processo falimentar.
Segundo Fredenberger, Dethomas e Ray (1993), as empresas, em declínio financeiro,
passam por crise de informação devido à falta de dados para a tomada de decisão, como
orçamento anual, relatórios de variação mensal, previsões de fluxo de caixa, sistema de custeio,
avaliação de ativos e a adoção de práticas de contabilidade criativa, podendo contaminar o valor
da informação financeira, resultando na dependência de outras informações não-financeiras. Os
pesquisadores observam as razões para a falta de informação, destacando (i) a falta de metas e
prioridades específicas em toda a empresa, provocando baixo nível de eficácia dos sistemas e
relatórios; (ii) os chief executive officer (CEOs) de empresas em declínio financeiro são pouco
receptivos às informações que conflitem com seus pressupostos e, portanto, perdem as
oportunidades de correção de rota, evitando situações indesejadas.
2.1.3 Estratégias para a recuperação de empresas
A mudança de rota da empresa, em geral, é considerada quando há problemas sérios no
horizonte e há a necessidade de correção. Segundo Slatter e Lovett (2009), há a necessidade do
28
direcionamento dos esforços para mitigar as ameaças à vida da empresa, atuando na causa-raiz
dos problemas e não nos sintomas para uma recuperação sustentável. Consideram, como fatores
importantes, a estabilização da crise, a liderança, o apoio das partes interessadas, o foco
estratégico, a mudança organizacional, as melhorias em processos críticos e a reestruturação
financeira, conforme detalhado no quadro 1.
Quadro 1: Estratégias comuns à recuperação
Sete Ingredientes-Chave Estratégias Genéricas à Recuperação
1. Estabilização da crise
Assumindo o controle
Gestão do caixa
Redução de ativos
Financiamento de curto prazo
Primeira redução de custos
2. Liderança Troca do executivo chefe
Substituição de outros diretores
3. Apoio das partes interessadas Comunicação
4. Foco estratégico
Redefinição do negócio principal
Alienação e redução de ativos
Reenfoque produto-mercado
Redimensionamento
Terceirização
Investimento
5. Mudança organizacional
Mudanças estruturais
Mudanças de pessoas chave
Melhoria nas comunicações
Criando comprometimento e competências
Novos termos e condições de emprego
6. Melhorias de processo crítico
Melhoria nas vendas e no marketing
Redução de custos
Melhorias na qualidade
Melhorias na interatividade
Melhorias nas informações e sistemas de controle
7. Reestruturação financeira Refinanciamento
Redução de ativos
Fonte: Slatter e Lovett (2009, p.77).
Chowdhury e Lang (1996) explicam que as estratégias adotadas por grandes empresas
para a recuperação, embora similares, não são, em sua maioria, aplicáveis às pequenas e médias
empresas. Enquanto as grandes empresas se esforçam para fazer resultado, fechando unidades
e realizando os estoques, as pequenas e médias empresas não têm essa oportunidade, portanto
29
optam por ações de curto prazo, como a redução de despesas, a revisão de custos, as políticas
de preço, e não de diferenciação, e acabam auferindo resultados no curto prazo.
O’Neill (1986) sugere o modelo de escolha da estratégia de turnaround a partir de ações
agrupadas, considerando a importância da identificação da causa do declínio para a definição
da estratégia de recuperação. Embora o modelo apresentado não esgote o tema, o autor indica
as estratégias de gestão, de redução, de crescimento e de reestruturação alinhadas aos fatores
de declínio para a escolha da estratégia de recuperação.
Robbins e Pearce II (1993) argumentam que as pequenas e médias empresas adotam a
estratégia de redução de custo, de ativos, ou as duas possibilidades combinadas, e obtêm
melhores resultados no processo de recuperação da empresa, de acordo com o estudo realizado
com 33 empresas para testar a aplicação da estratégia de redução de custos e ativos. O referido
estudo observa a adoção de estratégias de reposicionamento de mercado por meio da
reintrodução de produtos descontinuados, desde que possam ser produzidos de forma rápida e
rentável, utilizando o excesso de capacidade instalada. Os pesquisadores observaram ainda a
adoção da estratégia de redução de custos, alteração dos ativos fixos improdutivos, ganhos de
produtividade e aumento da participação de mercado como estratégias bem-sucedidas para a
retomada da fase de declínio financeiro.
Rasheed (2005) expõe que as pequenas e médias empresas podem optar por estratégia
de crescimento ou redução como alternativa para reverter o processo de declínio, mas estudos
demonstram melhores resultados na escolha da estratégia de redução em curto espaço de tempo,
embora empresas geridas por seus fundadores adotem o crescimento como medida de reversão
da crise.
Para Coelho (2008), se as estruturas do livre mercado funcionam, em termos gerais, de
modo adequado, as empresas em crise podem se recuperar pelas iniciativas dos empreendedores
ou investidores que identifiquem nesta a possibilidade de retorno de investimentos, mesmo em
estado crítico. A injeção de capital e investimento daria as condições necessárias para a
recuperação da crise financeira, considerando a possibilidade de ajustes como alienação do
controle acionário, ingresso de terceiro na sociedade, incorporação ou outra medida adotada
pelo mercado. O autor considera a recuperação judicial ou extrajudicial um processo-meio, e
não processo-fim, para a recuperação de empresas em crise financeira, conforme ilustrado na
figura 1.
30
Figura 1: Declínio e recuperação da empresa
Fonte: Curso de recuperação judicial INSPER, 2012.
2.2 O FACTORING NO BRASIL
A origem da denominação factoring surge na Antiguidade greco-romana, mediante os
comerciantes, difundindo-se pela Idade Média, na região do Mediterrâneo; na era dos
Descobrimentos, pelo ramo têxtil; e, posteriormente, vindo a declinar na Europa. A expansão
nos Estados Unidos da América ocorre com a evolução do contrato de comissão para o contrato
de cessão de crédito, mediante a contraprestação. Em seguida, na década de 1960, é
reintroduzido na Europa, chegando ao Brasil em 1982 (LEITE, 2004).
Em 1968, durante inspeção em um banco de investimentos em São Paulo, quando no
curso de seu trabalho, um inspetor do Banco Central encontra a rubrica factoring no lugar de
financiamento de capital de giro no ativo do balancete do referido banco. Após análise
detalhada, conclui tratar-se de operação de factoring. Em 1979, surge o primeiro seminário
sobre o tema em Brasília. Em seguida, em 1982, é fundada a Associação Nacional das Empresas
de Fomento Comercial (ANFAC), tida como marco, com a qual se inicia a propagação e
congregação de empresas de fomento destinadas ao mercado de pequenas e a médias empresas.
Por ser considerada atividade comercial mista atípica, sendo serviço e compra de crédito
e por não estar tipificado em lei, o factoring era considerado como operação ilícita, associada à
agiotagem que, por fim, denegriu a imagem do negócio, retardando o seu desenvolvimento no
Brasil (LEITE 2004).
Donini (2003) classifica as atividades principais do factoring em duas modalidades, das
quais considera, como sendo a principal, a convencional; e, a diferenciada, como uma
modalidade de maior envolvimento com o cliente.
31
Modalidade convencional:
(i) compra de crédito por meio de duplicatas ou cheque pré-datado,
também conhecido como maturity;
(ii) antecipação de recursos não-financeiros, como insumos, estoques e
matérias-primas para a industrialização do produto do cliente,
conhecida como atividade de matéria-prima;
(iii) prestação de serviço convencional, como avaliação de fornecedores,
clientes controle do fluxo de caixa, análise de crédito, dentre outras.
Modalidade diferenciada:
(iv) prestação de serviço diferenciado, como a gestão empresarial,
cogestão, administração e gerenciamento da empresa cliente conhecida
por trust.
Segundo Rizzardo (2000), o mercado financeiro brasileiro tem se mostrado cada vez
mais volátil com as políticas creditícias, dificultando o acesso ao crédito às empresas de
pequeno e médio porte que procuram alternativas para soluções momentâneas de
equacionamento do fluxo de caixa ou mesmo de viabilizar uma venda com o recebimento
imediato. Por intermédio da relação jurídica entre empresas, a cessão do direito creditício a
outrem, tendo, como a contraprestação, certa quantia que remunera a transação, torna-se um
mecanismo eficiente para a obtenção do crédito, configurando uma relação comercial de
compra e venda.
2.2.1 Vantagens e desvantagens
Assaf Neto (2009) nos ensina que há vantagens de operar com factoring, tais como:
maior flexibilidade de financiamento para expansão do volume de
atividade da empresa;
não há reciprocidade, tal qual exigida por instituição financeira, como
manutenção de saldo médio e outras formas exigidas;
32
redução de despesas fixas, como o departamento de crédito e cobrança,
uma vez que se pode transferir ao factoring;
diminuição do risco e aumento nas chances de recebimento.
Fator (2000) explana que uma das vantagens de realizar operações com o factoring é a
rapidez e a flexibilidade na concessão do crédito, uma vez que, para iniciar o processo de
aprovação, é necessário apresentar a relação dos faturamentos dos últimos três exercícios, o
endividamento bancário classificado por instituição financeira e/ou não-financeira, o contrato
social, o cartão do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o Registro Geral (RG) e o
Cadastro de Pessoa Física (CPF) dos sócios para uma breve análise. A apresentação do balanço
patrimonial e a demonstração do resultado do exercício serão necessárias em segundo
momento, quando da emissão do contrato de prestação de serviços e pela formalização de
garantias.
Segundo Rizzardo (2000), a operação revela-se cara e nem sempre conveniente à
empresa que necessita do serviço, podendo transparecer a insolvência ou a incapacidade
financeira ao mercado.
Para Assaf Neto (2009), não se pode generalizar como melhor opção as operações com
o factoring, uma vez que os custos assumem valores mais altos que os do mercado. É necessário
quantificar as operações, associando-as aos custos por meio dos encargos efetivos e comparar
com o mercado de crédito, inclusive com a reciprocidade, para, então, decidir quanto à
viabilidade ou não.
2.2.2 Fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC)
Fortuna (2014) explica que os FIDC foram criados para dar maior liquidez ao mercado
de crédito, reduzindo os riscos e aumentando a oferta via a captação de recursos no mercado de
capitais e a desintermediação bancária.
Para Borges (1999), o processo de reestruturação societário exige a criação de meios
próprios de captação de recursos e a profissionalização do mercado de capitais, com os pregões
cada vez mais exigindo títulos seguros. Explicita, ainda, que o foco da análise não está na
empresa simplesmente, mas na classificação de risco baseado na segregação dos ativos.
Barros (2014), para tanto, acrescenta que há um aumento no número de FIDC em razão
da migração dos factoring diante da concorrência e de oportunidade de negócios, conforme
demonstrado na figura 2.
33
Figura 2: Novas atividades do factoring – em %
Fonte: Valor econômico (2014, p. c1).
2.2.2.1 Da constituição e funcionamento
O FIDC foi criado pela Resolução CMN n. 2907, de 29 de novembro de 2001, e é
regulamentado por Instruções da CVM n. 356, de 17 de dezembro de 2001, CVM n. 393, de 22
de julho de 2003 e por legislação complementar do Banco Central.
Os fundos de recebíveis ou FIDC são uma comunhão de recursos constituída sob a forma
de condomínios, cuja participação do PL em investimentos, em direitos creditórios seja de, no
mínimo, 50% de seu total e com o objetivo de promover a aplicação coletiva dos recursos, em
títulos e valores mobiliários, de seus participantes com regulamento específico, cujo fórum
principal de decisões é a Assembleia Geral. Um mecanismo organizado com a finalidade de
captar e investir recursos no mercado financeiro, podendo ser:
(i) fundo aberto - entrada de novos cotistas ou aumento da participação dos
atuais é permitida bem como a saída por meio de resgate de cotas. Os
cotistas podem solicitar o resgate de suas cotas a qualquer momento;
(ii) fundo fechado - não é permitida a entrada e a saída de cotistas, após o
período de captação, exceto por abertura de nova fase de captação. As
cotas poderão ser resgatadas ao término do prazo de duração do fundo,
podendo ser negociado em mercado secundário.
0 15 30 45 60
Novas atividades - em %
Não tem interesse
Estuda entrada em FIDC
Estuda entrar em novas áreas
Já atua em securitização SPE
Prepara entrada em securitização SPE
Estuda entrada em securitização SPE
Já atua em FIDC
Prepara entrada em FIDC
56,39
14,89
14,89
3,19
3,19
3,19
2,13
2,13
Novas atividades - em %
34
Para empresas com alto comprometimento de dívidas no balanço patrimonial ou grande
capacidade de gerar recebíveis, a adoção e a constituição de um FIDC pode melhorar o balanço
patrimonial mediante captação de recursos para amortizar as dívidas pela redução do passivo
bancário, em razão da diminuição dos ativos de curto prazo, cedendo os recebíveis, argumenta
Fortuna (2014).
De acordo com a definição da instrução CVM 356, Art. 3, o público-alvo são
investidores qualificados conforme relacionado abaixo:
(i) instituição financeira;
(ii) companhias seguradoras e sociedades de capitalização;
(iii) entidades abertas e fechadas de previdência complementar;
(iv) pessoas físicas ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em
valor superior a R$ 300.000,00 e que, adicionalmente, atestem por
escrito sua condição de investidor qualificado mediante termo próprio;
(v) fundos de investimentos destinados, exclusivamente, a investidores
qualificados;
(vi) administradores de carteira e consultores de valores mobiliários
autorizados pela CVM, em relação a seus recursos próprios.
Aos investidores interessados na aquisição de cotas a CVM dispõe, no mesmo
regulamento, de um termo de adesão específico conforme:
Art. 55. É indispensável, por ocasião do ingresso do condômino no fundo, sua adesão
aos termos do regulamento respectivo, cabendo à instituição administradora as
responsabilidades de definir a forma e providenciar seja efetivada tal adesão.
As definições utilizadas pela CVM para:
(i) cedente – aquele que realiza cessão de direitos creditórios para o FIDC;
(ii) sacado – devedor dos direitos creditórios cedidos ao FIDC, podendo ser
pessoa jurídica ou física;
(iii) custodiante – é a pessoa jurídica credenciada na CVM para o exercício
da atividade de prestador de serviços de custódia e liquidação física e
financeira dos ativos da carteira do fundo;
35
(iv) administrador – responsável por representar o fundo perante a CVM,
BC e cotistas, divulgando informações periódicas, conforme o
regulamento estabelecido;
(v) agência de rating – responsável por avaliar os recebíveis
transacionados;
(vi) auditor independente – elabora as demonstrações financeiras do fundo
e analisa as carteiras provenientes dos direitos creditórios cedidos ao
fundo;
(vii) amortização – pagamento dos cotistas do fundo fechado em igualdade
de suas cotas sem que haja redução.
As cotas dos fundos são classificadas em:
(i) cota sênior – aquela que não se subordina às demais para efeito de
amortização e resgate tendo preferência no recebimento;
(ii) cota mezanino – são subordinadas às cotas seniores, mas com
prioridade na amortização ou resgate diante das cotas subordinadas;
(iii) cota subordinada – aquela que se subordina à cota sênior ou a outras
cotas subordinadas, para efeito de amortização e resgate. Neste caso,
quão maior for a cota subordinada, maior segurança terá o investidor
em cotas seniores.
Aos investidores qualificados é vedado aplicações inferiores à quantia de R$ 25.000,00.
Nestes fundos, os tipos de ativos mais utilizados são os recebíveis comerciais que
provêm dos direitos creditórios de curto prazo de multicedente, multisacado ou FIDC de
fornecedor.
A figura 3 apresenta a demonstração simplificada do processo do fundo de recebíveis.
A empresa cedente (originador) vende produtos e serviços a prazo para empresas clientes
(devedor) que, por sua vez, geram direitos creditórios.
A empresa originadora (cedente), por meio de contrato de cessão de crédito, transfere
os direitos creditórios ao FIDC ou SPE, que encaminha ao custodiante para aprovação quanto
aos critérios de elegibilidade e, estando aprovado, autoriza a compra, efetuando pagamento à
empresa originadora, que, por sua vez, emite cotas para venda aos investidores.
36
Contra vencimento dos créditos, a empresa cliente (devedor) efetua o pagamento ao
FIDC pelo custodiante, que repassa os recursos ao FIDC, mantendo o registro e a guarda dos
documentos transacionados.
O FIDC paga a amortização ou resgate das cotas seniores aos investidores. Neste caso,
as cotas subordinadas estão com o factoring na figura dos acionistas, que adquire os créditos
pelo fundo.
Como uma das atribuições do administrador do FIDC, estão as contratações do auditor
independente e da agência classificadora de riscos que monitoram o fundo.
Figura 3: Processo de securitização e FIDC
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
2.3 CRÉDITO
Securato (1996) ensina que o processo de tomada de decisão não é um ato isolado,
repentino, mas sim previsões de resultados dos quais os administradores, por exemplo, tomam
decisões diariamente. Algumas vezes, a decisão será sistemática, ou seja, suportada por
Promessa
de
Pagamento
SPE/
FIDC do factoring
ORIGINADOR
(empresa cedente)
DEVEDOR
(empresa cliente)
INVESTIDOR
Bens
ou
Serviços
Cessão
de
Crédito
Recursos
Cotas do Fundo
Integralização
das Cotas
Administrador
Custodiante
Auditor
Independente
Classificação de
Rating
Pagamento dos
recebíveis
37
modelos que auxiliem no processo decisório e, em outros, será assistemática, inconsciente, mas
sempre haverá uma decisão a ser tomada.
Perera (2013) revela que o significado da palavra crédito é “eu acredito” ou “eu confio”,
numa relação mútua de confiança entre o vendedor e o comprador. Para que haja uma operação
de crédito, é necessária a troca de valor atual por promessa de pagamento futuro, seja uma
mercadoria entregue, seja uma quantia em dinheiro adiantada para recebimento futuro.
Schrickel (1998) ressalta que o crédito é o ato de ceder temporariamente parte do
patrimônio próprio a terceiro, com a expectativa de retorno após prazo determinado. O autor
observa que as instituições financeiras, como intermediadores, cedem capital de terceiros
(propriedade de terceiro) pela captação de recursos e empréstimos e, portanto, não seguem a
definição, uma vez que se submetem à legislação específica.
Segundo Silva (2003), em finanças, o crédito se define como instrumento de política de
negócios, utilizado por empresas comercial e industrial, na venda a prazo de seus produtos, e,
para banco comercial, na concessão de empréstimo, financiamento ou fiança. Salienta que é a
capacidade de obter dinheiro, mercadoria ou serviço, mediante o compromisso de pagamento
em prazo determinado.
Ainda, no contexto de finanças, o autor salienta que as empresas de médio e pequeno
porte são mais sensíveis à escassez de crédito em razão da maior dependência de capital de
terceiros, sendo as primeiras empresas a entrarem em crise financeira e as últimas a saírem da
crise.
2.3.1 Cessão de crédito
De acordo com a Resolução CMN nº 2.836 de 30 de maio de 2001, quando se tratar de
cessão de crédito entre instituições financeiras pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional
(SFN), pode-se optar pela modalidade com coobrigação ou sem coobrigação, mas, quando
cedida à pessoa não pertencente ao SFN, somente a modalidade sem coobrigação poderá ser
praticada. As normas regulamentares para cessão de crédito estão relacionadas no quadro 2.
Quadro 2: Normas regulamentares para cessão de crédito
Resolução CMN Finalidade Data
2561 Altera e consolida normas sobre cessões de crédito 05/11/1998
2686 Consolida as normas para cessão de crédito 26/01/2000
2836 Altera e consolida normas para cessão de crédito 30/05/2001
Fonte: Banco Central do Brasil - adaptado de Securato (2007)
38
Securato (2007) sugere que a cessão sem coobrigação é uma venda entre o cedente
(vendedor) e o cessionário (comprador), sem o direito de regresso dos títulos (o termo em inglês
é true sale), e a cessão com coobrigação permite ao cessionário o direito de regresso ao cedente,
em caso de não recebimento dos títulos, podendo essa modalidade ser (i) solidária – na qual o
cessionário pode cobrar o tomador do crédito ou o cedente; ou ser (ii) subsidiária, na qual o
cedente poderá ser cobrado pelo cessionário, após ter cobrado e não recebido do devedor.
A figura 4 demonstra, de maneira simplificada, o esquema de cessão de crédito em que
o banco A cede sua carteira de ativos em troca da cessão de crédito ao banco B que, por sua
vez, efetua o pagamento do valor presente dos créditos assistidos pelos intervenientes, cujas
responsabilidades foram definidas no contrato de cessão de créditos.
Figura 4: Estrutura básica de operação de cessão de crédito
Fonte: Securato (2007, p.328)
2.3.2 Bancos vs. Factoring
Segundo Lopes e Rossetti (2002), o objetivo dos bancos comerciais é proporcionar os
recursos necessários para financiar as operações de curto e médio prazo, para empresas
comerciais, industriais e prestadoras de serviços, bem como pessoas físicas por meio de (a)
operações de desconto de títulos, (b) abertura de crédito simples ou em conta corrente, (c)
operações especiais de crédito rural, câmbio e internacional, (d) captação de recursos em
instituições oficiais, depósitos a vista e a prazo fixo, no exterior, quando repassado, (e)
prestação de serviços, inclusive com convênio com outras instituições. Notoriamente, a
captação de depósitos a vista é atividade típica de bancos comerciais, inclusive definindo-os
como instituições financeiras monetárias.
Para Oliveira (2006), o factoring opera com a transferência de crédito associada com a
prestação de serviços entre pessoas jurídicas de forma contínua com a assessoria creditícia,
Banco A
(Cedente)
Interveniente
Banco B
(Cessionário)
Venda de créditos
Pagamento pela compra de créditos
Banco responsável pela cobrança e
guarda de documentos
39
mercadológica, gestão de crédito, administração do caixa da empresa cliente, compra de
créditos ou direitos creditórios auferidos das vendas mercantis a prazo em caráter pro soluto,
que significa a cessão de crédito em definitivo, entre o cedente e o cessionário, não respondendo
pela solvência, mas pela existência no ato da transferência. Embora similar à intermediação
bancária, os contratos de cessão de crédito diferem-se pelo caráter pro solvendo, em que, na
cessão de crédito do cedente para cessionário, há a responsabilidade pela solvência do título, e
por sua natureza cumulativa, cuja prestação de serviços, ora convencional, ora diferenciado, é
atribuída de um fator fixo.
Segundo Fator (2000), observa-se a semelhança na oportunidade da obtenção do crédito,
não obstante às semelhanças estão as diferenças, seja o desconto bancário um contrato real
mediante a transferência do crédito ao banco e a operação de compra ou cessão de crédito ao
factoring um contrato consensual advindo da contratação de prestação de serviço a preço fixo.
O quadro 3 apresenta o comparativo entre a atividade mista e a intermediação bancária.
Quadro 3: Comparativo das atividades do factoring e do banco comercial
Quadro comparativo das atividades
Factoring Banco Comercial
Não capta recursos Capta recursos e empresta dinheiro
Presta serviços de compra de créditos Faz intermediações
Não aceita depósitos Aceita depósitos
Não exige garantias Exige garantias
Apresenta diversos serviços não creditícios Empresta dinheiro com títulos pró-solvendo, direito de
regresso
Compra a vista créditos gerados pelas vendas, sem direito de
regresso
Cobra juros (remuneração pelo dinheiro mutuado durante
prazo determinado)
Pondera todos os itens de custeio de uma empresa de
factoring na formação do preço
Cobra spread (diferença entre o custo de captação e o valor
do financiamento)
O sacado do cliente é o devedor Cliente é o devedor
Atividade comercial mista atípica Regulado pelo Banco Central
Não é instituição financeira e não possui acesso ao
redesconto
Pode recorrer à linha de redesconto do Banco Central
Não exige reciprocidade Exige reciprocidade do cliente
Compra títulos de crédito ou direitos creditórios Desconta títulos e faz financiamentos
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Fator (2000, p. 59-60).
40
2.4 O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO
Para facilitar o entendimento e o acompanhamento deste trabalho, os fluxos do processo
de recuperação judicial e de falência estão definidos nas figuras 7 e 8 respectivamente. A ênfase
deste trabalho está no processo de recuperação da crise e não na falência empresarial.
Segundo das leituras dos autores Mamede (2006), Coelho (2008), Milani (2011),
Duarte, Mendes (2011) e Salomão (2012) a partir da entrega ou do protocolo da petição inicial
pelo devedor, inicia-se o processo de recuperação judicial que se desenvolve em 3 fases
distintas.
A primeira fase, postulatória, é o requerimento do benefício da Lei 11.101/05, em que
o devedor instrui o pedido com a exposição das causas reais da crise financeira; apresenta as
demonstrações contábeis dos últimos 3 exercícios fiscais; discrimina os credores em relação
completa, incluindo o nome e valor da dívida, vencimentos e indica os respectivos registros
contábeis; fornece a relação de todos os empregados com as funções e salários pendentes de
pagamento; apresenta a certidão de regularidade da empresa com os administradores; fornece a
relação dos bens particulares dos sócios e administradores; levanta os extratos bancários das
contas e aplicações financeiras, se houver, da empresa devedora; emite a certidão dos cartórios
de protestos com endereço da sede da empresa e fornece todas as ações judiciais em andamento
contra o devedor. Esta fase está compreendida no fluxograma da figura 5 iniciando no ingresso
do pedido de recuperação até a fase do deferimento do processamento. Até o deferimento pelo
juiz, a empresa devedora poderá desistir do pedido de recuperação a qualquer momento.
A segunda fase, deliberativa, é a fase em que o juiz determina o processamento da
recuperação, nomeando o administrador judicial, de acordo com o art. 21 da lei; dispensa a
apresentação de certidão negativa de débitos (CND); suspende todas as ações ou execuções
contra a empresa devedora; exige do devedor a prestação de contas mensais sob a pena de
destituir os administradores e comunica o Ministério Público, as fazendas Federal, Estadual e
Municipal, em que a empresa devedora tiver unidades produtoras. Esta fase está compreendida
no fluxograma da figura 5, iniciando no pós-deferimento do processamento, concluindo com o
deferimento da recuperação judicial. Durante esta fase, a empresa devedora não poderá desistir
do processo de recuperação judicial sob a pena de o juiz ordenar a conversão do processo de
recuperação em falência, exceto se a assembleia geral (AG) concordar com a desistência do
devedor. Se qualquer prazo deixar de ser cumprido, o juiz converterá o processo em falência.
A terceira fase, execução, inicia-se após o deferimento da recuperação judicial com o
despacho pelo juiz. A execução mensal do plano de recuperação aprovado, cujas obrigações
41
vençam em até 24 meses, depois da concessão da recuperação judicial devem ser rigorosamente
cumpridas, permanecendo a empresa devedora em recuperação judicial. Durante o período de
24 meses em que a empresa estará sob o benefício da lei, se houver descumprimento de qualquer
obrigação constante do plano aprovado, o juiz converterá o processo de recuperação em
falência.
Segundo os autores, o plano de recuperação judicial é uma análise da empresa de forma
ampla, demonstrando os pontos fortes e fracos, sugerindo as mudanças necessárias para que a
empresa obtenha uma condição favorável no processo de recuperação.
O plano está dividido em duas fases: a primeira consiste no diagnóstico da empresa em
crise. Apurando a contabilidade real, número de empregados registrados, sistema de gestão,
infraestrutura de produção, fluxo de caixa real e projetado, entre outros; e, a segunda fase reside
na elaboração do laudo de viabilidade econômica, apurando a margem de lucro, faturamento
atual e projetado de acordo com os ajustes necessários para que a empresa possa implantar,
executar e cumprir o plano de recuperação.
A empresa que estiver em recuperação judicial deverá incluir, após o nome empresarial,
a expressão em Recuperação Judicial, de acordo com o artigo 63 da lei. Após o cumprimento
das obrigações vencidas no prazo, o juiz decretará o encerramento da recuperação judicial.
Ainda, segundo os autores, a empresa poderá sair do processo de recuperação judicial
em qualquer tempo, quando do cumprimento do plano de recuperação. Mas, se a empresa
descumprir o plano, não cumprir os prazos processuais ou ter o plano de recuperação rejeitado
pela AG e o processo for convertido em falência ou insolvência empresarial, a solução dar-se-
á pela liquidação do patrimônio ativo para saldar o patrimônio passivo do falido.
42
Figura 5: Fluxo do processo da recuperação judicial
Fonte: Ministério da Justiça (2011, p.29).
Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão (2012) expõem as 4 hipóteses possíveis para a
conversão da recuperação em falência, detalhadas abaixo.
A primeira hipótese é a deliberação dos credores que pode ocorrer se a maioria dos
credores, calculado de acordo com o valor dos créditos, presentes durante a assembleia geral,
não considerar uma alternativa viável para a recuperação da crise da empresa e decidir pela
liquidação da empresa.
A segunda hipótese é a não-apresentação do plano pela empresa devedora no prazo
estabelecido pela lei de 60 dias, observado na figura 5, apresentação do plano (60 dias),
contados do despacho do juiz e que não tem prorrogação de prazo vedado por lei.
A terceira hipótese é a rejeição do plano pela assembleia geral dos credores que,
convocada pelo juiz, analisará o plano de recuperação apresentado pelo devedor bem como
eventuais planos alternativos, que podem ser apresentados por credor, por administrador
judicial ou, ainda, por um comitê de credores que, não sendo aprovado, o juiz deve decretar a
falência.
E a quarta e última hipótese é o descumprimento do plano de recuperação que, nesta
fase, da execução, o juiz imediatamente decretará a falência. A aprovação do plano pelo juiz
Ingresso do
pedido
Deferimento do
processamento Apresentação do
plano (60 dias)
Habilitações (ao Adm.)
e divergências (ao Juíz)
15 dias
Oposições
Não apresentadas
Deferimento
da
Recuperação CND
Apresentadas
AGC
Cram down
Aprovado
Rejeitado
Falência
Suspensão de ações - 180 dias
Nomeação do Adm.
Judicial
Carta aos
credores
Publicação do
quadro geral
45 dias
Impugnações
Relatórios Adm.
judicial
Atividades do devedor mensal Execução do plano mensal
Edital Art. 52 § 1º
Fluxo do Processo da Recuperação Judicial
43
significa a renegociação da dívida de forma condicional para satisfazer a necessidade da
empresa devedora em saldar os compromissos assumidos com os credores. Em não sendo
cumpridos os termos do acordo são cancelados e as dívidas e execuções voltam ao estado
anterior ao processo de recuperação judicial da empresa.
Os pesquisadores explicam que o ingresso do pedido de falência, conforme figura 6,
pode se dar por 3 caminhos, sendo, pelo próprio devedor, pelo sócio da empresa devedora ou
pelo credor.
A autofalência, pelo próprio devedor, ocorre quando a empresa devedora considerar que
não atende aos requisitos para pleitear a recuperação ou por entender que a empresa não tem
condições de se reorganizar, sendo este o primeiro caminho.
Já o sócio ou os sócios minoritários da empresa devedora, podem entender que a
empresa é inviável e ingressar com o pedido de falência, este é o segundo caminho. Neste caso,
o juiz pode optar por dissolução parcial para preservar os interesses do minoritário e não
decretar a falência.
O terceiro caminho é definido quando o credor solicitar a falência da empresa devedora,
seja para exercer o direito de receber uma dívida, protestada nos cartórios de protestos, por
impontualidade do devedor, seja por reaver seus créditos por entender que o devedor não tem
capacidade de pagamento. Neste caso, o credor deve demonstrar a regularidade de sua empresa
mediante o registro da junta comercial.
Segundo Coelho (2008), a partir do pedido de falência, o juiz aguardará a defesa dentro
de 10 dias contados da primeira citação do devedor. Neste prazo, a empresa devedora poderá
pagar a dívida ou apresentar defesa juntamente com o depósito em juízo da quantia devida,
suspendendo a falência; caso contrário, terá a falência decretada. No instante da decretação, o
juiz indicará um administrador judicial da massa falida. Se porventura, o juiz entender que a
empresa poderá ser facilmente vendida, ele autorizará a continuidade provisória das atividades
do falido, mantendo os ativos valorizados, caso contrário, poderá solicitar a lacração da empresa
devedora com suspensão imediata das atividades. A partir da nomeação do administrador
judicial, serão contados 40 dias para a apresentação das causas e das circunstâncias que levaram
à situação de falência, cujas responsabilidades deverão estar claramente definidas. Por fim,
serão apurados os ativos e o credores para pagamento dos passivos, encerrando o processo com
a prestação de contas do administrador judicial ao juiz.
44
Figura 6: Fluxo do processo de falência
Fonte: Curso de recuperação judicial INSPER, 2012.
Bezerra Filho (2009) orienta que a Lei 11.101/2005 está dividida em oito capítulos e
diversas seções que, juntos, somam 201 artigos, sendo os capítulos II, III, V e VII com divisões
em seções com títulos diferentes e vários artigos e os capítulos I, IV, VI e VIII sem divisões em
seções por razão da objetividade e de poucos artigos. O quadro 4 apresenta a estrutura da lei
organizada em capítulos, seções e os artigos que se relacionam.
Optou-se por manter este quadro neste ponto do trabalho para evidenciar o emaranhado
e complexidade do tema tratado.
Ingresso
do pedido
Falência
Decretação
Nomeação do Adm. Judicial
Arrecadação e avaliação Audiência – Artigo 104
Livros
Envio de correspondência aos credores
Continuidade provisória das
atividades do falido
Realização
do ativo Relatório dos 40
dias
responsabilidades
Caráter administrativo
Tempestivas Intempestivas
Publicação do Edital
Formação do quadro
de credores
Prestação
de contas
Fluxo do Processo de Falência
Habilitações
(45 dias)
Pagamento dos passivos
Artigo 83
Defesas
(10 dias)
45
Quadro 4: Estrutura da Lei 11.101/05 Lei 11.101/2005
Capítulos Seções Artigos
I- Disposições preliminares 01º - 04º
II- Disposições comuns à recuperação
judicial e à falência
I - Disposições gerais 05º - 06º
II – Da verificação e da habilitação dos créditos 07º - 20º
III – Do administrador judicial e do comitê e credores 21º - 34º
IV – Da assembleia-geral de credores 35º - 46º
III- Da recuperação judicial
I – Disposições gerais 47º - 50º
II – Do pedido e do processamento da recuperação judicial 51º - 52º
III – Do plano de recuperação judicial 53º - 54º
IV – Do procedimento de recuperação judicial 55º - 68º
V – Do plano de recuperação judicial para microempresas e empresas de
pequeno porte
69º - 72º
IV- Da convolação da recuperação
judicial em falência
73º - 74º
V- Da falência
I – Disposições gerais 75º - 82º
II – Da classificação dos créditos 83º - 84º
III – Do pedido de restituição 85º - 93º
IV – Do procedimento para a decretação da falência 94º - 101
V – Da inabilitação empresarial, dos direitos e deveres do falido 102º - 104º
VI – Da falência requerida pelo próprio devedor 105º - 106º
VII – Da arrecadação e da custódia dos bens 108º - 114º
VIII – Dos efeitos da decretação da falência sobre as obrigações do
devedor
115º - 128º
IX – Da ineficiência e da revogação de atos praticados antes da falência 129º - 138º
X – Da realização do ativo 139º - 148º
XI – Do pagamento aos credores 149º - 153º
XII – Do encerramento da falência e da extinção das obrigações do falido 154º - 160º
VI- Da recuperação extrajudicial 161º - 167º
VII- Disposições penais
I – Dos crimes em espécie 168º - 178º
II – Disposições comuns 179º - 182º
III – Do procedimento penal 183º - 188º
VIII- Disposições finais e transitórias 189º - 201º
Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de Bezerra Filho (2009).
Segundo Milanese (2014), a nova lei de falência inclui dois novos dispositivos para
proteção aos credores e fornecedores, sendo:
o primeiro, pós-petição, que são considerados direitos prioritários em
eventual liquidação por falência;
o segundo, pré-petição e quirografários, quando não há a interrupção no
fornecimento de bens e serviços ou financiamento à empresa, mas, se
46
houver a conversão da recuperação em liquidação, serão considerados
direitos prioritários.
2.4.1 O conceito de empresa
Milani (2011) argumenta que empresa é o exercício profissional de atividade econômica
organizada para a produção de bens e serviços, sujeito ao registro na Junta Comercial.
Para Coelho (2008), sociedade empresária é a atividade com objetivo de obter lucro pela
venda de bens e serviços com emprego de força de trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia,
embora considere que haja imprecisões.
Já, Salomão e Santos (2012) explicam que é um conjunto organizado de capital e
trabalho para a produção e circulação de bens e serviços.
Modigliani, Miller (1958), Ross (2008), Assaf (2009) e Gitman (2010) nos ensinam que
a finalidade de toda empresa é obter retorno sobre os investimentos que possibilite, ao menos,
superar a expectativa mínima de ganho, gerando riqueza e adicionando valor para os acionistas.
2.4.2 Princípio da preservação da empresa
De acordo com o artigo 47 da Lei 11.101/2005:
A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
Salomão e Santos (2012) mostram que o artigo 47 da referida lei considera salvar a
empresa, desde que economicamente viável, por meio dos processos de recuperação
extrajudicial e judicial. Observam, ainda, que a medida da falência só deverá ser considerada
quando for inviável a preservação da atividade empresária.
Para Coelho (2008), os objetivos do artigo 47 estão na preservação da atividade
econômica e dos postos de trabalho, saneamento da crise econômico-financeira e patrimonial,
bem como atender aos interesses dos credores, levando à manutenção da função social da
empresa. Considera, ainda, que as empresas tecnologicamente atrasadas, descapitalizadas ou
com administração precária, devam ser encerradas, preservando o ambiente econômico pela
realocação dos recursos materiais e humanos para a produção de riqueza.
47
Menezes (2012) explana que empresas com valor presente negativo e que se mostrem
inviáveis, independentemente da competência do empreendedor ou do administrador, não
teriam razão econômica para permanecer operando, sendo o encerramento ou a liquidação o
meio de depurar o sistema econômico. Expõe, para tanto, que a preservação da empresa está
relacionada com o papel socieconômico de acordo com as funções que a sociedade espera do
empreendedor, tais como: responsabilidade econômica, responsabilidade legal,
responsabilidade ética e responsabilidade voluntária ou filantrópica.
Já Mamede (2006) argumenta que o objetivo é viabilizar a superação da situação de
crise financeira, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, promovendo o estímulo à
atividade econômica, garantir o desenvolvimento nacional e erradicar a pobreza e a
marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e regionais.
2.4.3 A recuperação judicial
Bezerra Filho (2009) aponta que o processo de recuperação judicial aplica-se às
empresas em crise econômico-financeira, desde que passíveis de recuperação, portanto, a ordem
de prioridades nas finalidades e objetivos da lei volta-se à manutenção da atividade da empresa
para que possa satisfazer os interesses dos credores. A partir do deferimento da petição para a
recuperação judicial, um administrador para a recuperação é indicado, passando a exercer o
controle da gestão da empresa, conforme ilustrado na figura 7.
Após o período previsto na RJ e tendo a empresa cumprido o plano de recuperação, o
administrador da RJ retira-se da empresa, após petição de baixa enviada ao juiz.
Figura 7: Gestão adequada: o tipo certo de executivo no momento certo
Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de Slatter e Lovett (2009, p.149).
Início Crescimento Maturidade Declínio Recuperação Renovação
NÍVEL OPERACIONAL
INSOLVÊNCIA
Administrador da RJ
Saída do Adm. da RJ
48
A sequência do processo de recuperação judicial demonstrado no capítulo III, da
referida lei, que define o objetivo do processo de recuperação e os requisitos para que o devedor
possa ajuizar, está demonstrado no parágrafo 2.4.3.4.
2.4.3.1 Da viabilidade
Os autores Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão e Santos (2012) partilham da ideia
do exame do judiciário quanto à viabilidade da empresa. Para tanto, sugerem a classificação
por meio dos vetores: importância social, mão de obra e tecnologia empregada, volume do ativo
e passivo, tempo da empresa e porte econômico, conforme detalhado no quadro 5.
Menezes (2012) explica que empresas com geração de caixa ou que estejam com o fluxo
de caixa negativo, mas tenham viabilidade econômica, necessitam de alternativas para a
continuidade dos negócios, preservando o valor dos ativos tangíveis e intangíveis, mediante
gestão mais eficiente.
Quadro 5: Exame de viabilidade
Vetores da viabilidade da empresa no judiciário
Importância social
Análise das condições econômicas para reerguer a empresa.
Relevância para a economia local, regional ou nacional.
Mão de obra e tecnologia empregada
Modernização da tecnologia em razão do mercado.
Redimensionamento e atualização da mão de obra.
Volume do ativo e passivo
Identificação da crise enquanto econômica, financeira e patrimonial.
Análise do balanço patrimonial comparado com dois períodos.
Tempo de empresa
Dois anos ou mais, análise de importância local.
Mais antiga, maior atenção em razão da contribuição econômica local.
Porte econômico
Maior o porte, maior importância social.
Menor porte, menor importância social.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Coelho (2008, p.127-129).
2.4.3.2 Dos requisitos para requerer a recuperação
O artigo 48 da Lei 11.101/05 define que apenas empresas expostas ao risco de ter a
falência decretada e que tenham mais de dois anos de atividade podem pleitear o benefício da
recuperação judicial, desde que atendam a quatro requisitos:
49
(i) não pode estar falida;
(ii) não ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação
judicial;
(iii) não ter, há menos de oito anos, obtido concessão de recuperação judicial
com base no plano especial;
(iv) não ter sido condenada e não ter pessoa condenada como administrador
ou sócio controlador por qualquer dos crimes previsto na lei.
Define, portanto, que a falência poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente em caso de morte ou incapacidade
do represente legal.
2.4.3.3 Dos meios de recuperação da empresa
A lei contempla uma lista de possíveis meios de recuperação da atividade econômica do
negócio, considerando instrumentos financeiros, administrativos e jurídicos que podem ser
considerados no plano de recuperação da crise financeira (COELHO, 2008).
Milani (2011) explica que a definição de cisão, incorporação, fusão e transformação são
consideradas da Lei 6.404/1976, chamada de Lei das S/A.
Por serem amplos os meios de recuperação judicial da empresa, a lei 11.101/2005 prevê,
mas não se limita, a uma relação de meios para a recuperação, podendo a empresa e seus
credores encontrarem a melhor alternativa, inclusive na combinação dos meios, para solucionar
a crise financeira (MAMEDE, 2006). O quadro 6 apresenta o resumo dos meios de recuperação
previstos na lei.
Há um consenso na literatura entre os autores Mamede (2006), Coelho (2008), Milani
(2011), Salomão e Santos (2012), quanto à aplicação da lei como meio e não fim para o processo
de reorganização da empresa em crise econômico-financeira. Portanto, pode ser considerada
como uma estratégia de recuperação do declínio, para empresas economicamente viáveis,
conforme apresentado no parágrafo 2.1.3.
50
Quadro 6: Meios de recuperação e objetivos propostos
Meios de recuperação Objetivos propostos
Dilação de prazo ou revisão das condições pagamento Abatimento do valor da dívida ou aumento no prazo,
substituição de garantias.
Operação societária
Cisão, incorporação, fusão, transformação, venda de cotas
ou ações (ativos da sociedade) e constituição de
subsidiária integral (segregar patrimônio).
Alteração do controle societário Total ou parcial (venda ou admissão de novo sócio).
Aumento do capital social.
Reestruturação da administração
Troca dos administradores, exceto quando se tratar de
crise macroeconômica (conselho de administração ou
consultivo).
Concessão de direitos societários extrapatrimoniais aos
credores
Admitir um mínimo de ingerência dos credores na
administração.
Garantir o cumprimento dos objetivos.
Reestruturação de capital Ingresso de recursos financeiros.
Aumento da competitividade.
Transferência ou arrendamento do estabelecimento Mudança de titularidade (venda da sociedade).
Mudança de direção (arrendador assume).
Renegociação das obrigações ou dos passivos trabalhistas Redução de salários, mudança na jornada de trabalho.
Dação em pagamento ou novação Troca de bem como liquidação ou nova obrigação.
Constituição de sociedade de credores Credores assumem o papel de sócios percebendo
percentual dos lucros.
Realização parcial do ativo Venda de bens do patrimônio, exceto essenciais à
produção.
Equalização de encargos financeiros Renegociação de passivos (bancos, fomento mercantil) ao
menor valor pratica no mercado de cada credor.
Usufruto de empresa Transferir a direção à pessoa qualificada que usufruirá os
benefícios gerados pela sociedade no tempo certo.
Administração compartilhada Divisão de responsabilidades entre credor e devedor nas
decisões administrativas.
Emissão de valores mobiliários Sociedade por ações emite debêntures ou outros valores
mobiliários (commercial paper).
Adjudicação de bens
Constituição de sociedade de propósito específico (SPE)
para ceder bens aos credores (similar à dação em
pagamento).
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Coelho (2008, p.133-141), Milani (2011, p.218-228).
51
2.4.3.4 Das fases do processo de recuperação judicial
O processo de recuperação judicial é classificado em três fases, de acordo com a Lei
11.101/05, a saber:
fase postulatória – apresentação de requerimento pela sociedade empresária
em crise, por meio de petição inicial, encerrando-se com o despacho do juiz,
de acordo com o artigo 52;
fase deliberativa – após o levantamento e aprovação dos créditos, artigos 7 a
20, aprova-se ou não o plano de reorganização, artigo 53, concluindo-se com
o despacho do juiz, artigo 58;
fase de execução – cumprimento e fiscalização do plano aprovado e termina
com a sentença de encerramento do processo, artigo 63.
A sequência e a interação do processo da recuperação judicial estão demonstradas na
figura 8.
52
Figura 8: Processamento da recuperação judicial art. 51/69 e 73
Fonte: Adaptado pelo autor, de Bezerra Filho (2009, p. 147).
Art.51 – Ajuizamento do
pedido de recuperação
judicial (RJ).
Art.52, caput e 73 – Pedido
pode ser indeferido; falência
não poderá ser decretada.
Art.52, §4º – Devedor pode
desistir do pedido, se houver
aprovação da assembleia-geral (AG).
Art.52 – Juiz defere o processamento,
nomeia administrador, suspende ações e
execuções por 180 dias, expede edital para conhecimento de todos.
Art.52, §2º - Após
deferido o processamento
da RJ, credores podem
convocar AG para formar
comitê de credores
(art.36).
Art.53 – Em 60 dias,
contados do deferimento
(art. 52), devedor
apresenta plano de RJ.
Art.73, II – Se devedor
não apresentar plano no
prazo, juiz decreta a
falência
Art.53, parágrafo único – Recebido
o plano, juiz manda publicar edital
para objeções, no prazo do art. 55.
Art.55 e 56 –Se houver objeção, juiz
convoca AG, no prazo máximo de 150
dias contados do deferimento do art. 52.
Art.58, § 1º – Juiz pode conceder RJ, mesmo contra a
decisão da AG.
Art.73, III e 56, §4º - Se AG rejeita plano de RJ, juiz
decreta falência.
Art.73, I, 42 e 35, I, a – Se
AG deliberar pela falência,
juiz a decretará.
Art.35, I e 58 – AG aprova ou
modifica plano (art. 56, § 3º) com
concordância do devedor.
Não há objeção, ou juiz aprova mesmo
com objeção (art. 58, § 1º); após devedor apresentar certidão negativa de tributos
(art. 57), juiz concede a RJ, art. 58.
Art.61 – Devedor permanece em RJ por 2 anos; cumpridas as obrigações vencidas nesse prazo, juiz decreta o encerramento
(art. 63). Credores remanescentes podem executar ou pedir
falência ( art. 62 e 59, § 1º) em caso de descumprimento.
Art.73, IV - Se descumprida qualquer obrigação do plano no prazo de 2 anos (art.
61), juiz decreta a falência
1
2 3 4
5 6 7
8
9
10 12
11
13
14
15 16
53
2.4.4 Recuperação extrajudicial
Segundo Coelho (2008), a partir da lei de falência e recuperação, criam-se condições
para a atuação lógica do mercado na superação de crises empresariais.
Salomão e Santos (2012) argumentam que a realidade tem demonstrado que credores e
devedores buscam regularizar seus negócios informalmente, fora do juízo, evitando processos
judiciais dispendiosos que, por sua vez, têm a rapidez e discrição como principais vantagens.
Ainda segundo os autores, a nova lei proporciona alternativa prévia à recuperação judicial,
pressupondo haver viabilidade econômica compatível com a renegociação com alguns credores.
Mamede (2006) explica que, ao assumir uma negociação entre credores e devedores
fora dos tribunais, nota-se a possibilidade de viabilidade socioeconômica da empresa em crise
financeira, uma vez que os credores acatam a nova negociação, permitindo que a recuperação
do caixa da empresa ocorra, voltando a operar normalmente.
2.4.4.1 Da homologação da recuperação extrajudicial
O artigo 161 indica a necessidade de credores atenderem aos requisitos do artigo 48,
embora não seja necessário o cumprimento, em sua totalidade, do artigo para que haja acordo
entre o credor e o devedor, segundo Salmão e Santos (2012).
Mamede (2006) instrui que a lei prevê dois tipos de homologação extrajudicial, sendo:
ordinária, artigo 162 – adesão voluntária de todos os credores,
produzindo efeitos apenas entre os envolvidos com elaboração de plano
de reorganização devidamente anuído entre as partes. Nesse caso, não
há pagamento antecipado de dívida e há a necessidade do ajuizamento
do plano;
extraordinária, artigo 163 – deve ser considerada a adesão mínima de
3/5 dos credores de uma mesma espécie, vinculando a minoria que não
aderiu. Créditos em moeda estrangeira somente poderão ter variação
cambial isentada se o credor autorizar no plano de reorganização. Por
fim, o autor observa que a homologação dependerá ainda da
apresentação da situação patrimonial, das demonstrações contábeis do
último exercício social, as demonstrações apuradas para o pedido e os
documentos que comprovem os poderes entre as partes para anuir o
plano.
54
2.4.4.2 Da preservação de credores
Coelho (2008) expõe que não há alteração dos direitos de credores trabalhistas, créditos
tributários, proprietário fiduciário e instituição financeira credora por adiantamento ao
exportador, adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC). Demais créditos, por tratarem de
direitos patrimoniais e disponíveis, podem ser renegociados entre credores e devedores, de
acordo com o artigo 167, explica Salomão e Santos (2012).
2.4.4.3 Das fases do processo de recuperação extrajudicial
O detalhamento do processo de homologação e aprovação do plano de recuperação
extrajudicial está demonstrado na figura 9.
55
Figura 9: Processamento da recuperação extrajudicial art. 161 – 167
Fonte: Bezerra Filho (2009, p. 331).
2.4.5 Dificuldade de obtenção de recursos
Há um consenso entre os autores Ross (2008), Assaf Neto (2009), Gitman (2010),
quanto a não haver uma estrutura única de capital que se aplique a todas as empresas, ou seja,
cada empresa busca estruturar seu endividamento com maior participação de capital de terceiros
ou maior participação de capital próprio, de forma a reduzir o custo total da dívida,
maximizando a riqueza dos acionistas.
Art.161 – Autoriza o devedor a propor
recuperação extrajudicial, que pode ou
não ser submetida à homologação
judicial.
Art.161, §5º – Após o pedido de
homologação judicial, os que aderiram só podem desistir com anuência dos
demais.
Art.162 – Pode requerer homologação
judicial apenas para os que aderiram ao plano, independentemente do número de
aderentes.
Art.163 – Pode requerer homologação para
obrigar todos, desde que haja aderentes de
mais 3/5 de todos os créditos de cada
espécie.
Art.164 – Juiz manda publicar editais,
com prazo de 30 dias para impugnação
pelos credores.
Art.164, §§ 3º, 4º e 5º – Juiz indefere
a homologação por sentença.
Art.164, §5º – Juiz afasta eventuais impugnações e
homologa o plano, se não houver fraude do art. 130 ou outras irregularidades.
A sentença homologatória constitui título executivo
judicial (art. 161, § 6º).
Art.164, § 7º – Da sentença que
homologar ou indeferir a homologação,
cabe apelação, sem efeito suspensivo.
1
2
3 4
5
6 7
8
56
Assaf Neto (2009) acrescenta que, no Brasil, nas fontes de financiamento de longo
prazo, há um desequilíbrio nos valores das taxas de juros cobradas por serem definidas em razão
da natureza do recurso (privado, externo, oficiais), e não em razão do risco associado ao
negócio.
2.4.5.1 Financiamento com capital próprio
Para Gitman (2010), o capital próprio deve ficar na empresa por período de tempo
indeterminado e por correr riscos maiores, frente aos fornecedores de capital de terceiros, os
acionistas esperam retornos mais elevados.
Segundo Assaf Neto (2009), o investimento do acionista torna-se atrativo quando a
remuneração oferecida for suficiente para cobrir o custo de oportunidade do capital próprio
aplicado no negócio.
2.4.5.2 Financiamento com capital de terceiros
Os autores Ross (2008), Assaf Neto (2009) e Gitman (2010) explicam que o custo de
capital de terceiros é inferior ao custo de capital próprio por exigirem retornos menores, por
assumirem menor risco, comparado aos credores de capital de longo prazo.
De acordo com Accorsi (2010):
[...] O custo de capital de terceiros engloba apenas os passivos de longo prazo. No
Brasil, as pequenas e médias empresas praticamente não contam com empréstimos
de longo prazo por parte dos bancos privados, além de necessitarem de capital de giro
em bases quase permanentes. Para essas empresas, o pressuposto adotado não
parece adequado devido ao peso relativo do capital de terceiros de curto prazo.
2.5 U.S. BANKRUPTCY CODE 1.978
Este parágrafo não tem o objetivo de se aprofundar amplamente nos pontos divergentes
da lei americana com a lei brasileira, mas, sim, apontar as possíveis divergências e semelhanças
de forma a permitir a compreensão, observando a possibilidade de melhorias de pesquisadores
sobre o tema, uma vez que a lei brasileira se aproxima da lei americana.
57
A lei de recuperação empresarial, como é conhecida nos Estados Unidos, mas que, para
fins de manter o alinhamento com este trabalho, estabeleceu-se a expressão “recuperação
empresarial” como recuperação judicial ou extrajudicial, a qual teve sua origem nos Estados
Unidos, em 1800, que limitava a falência apenas aos comerciantes.
Posteriormente, houve alteração da lei, incluindo a possibilidade de falência voluntária
ou autodeclaração de falência. Com a edição da Lei de Companhias Ferroviárias, em 1867, que
tratava das medidas preventivas para a liquidação de empresas do setor reorganizando e,
renegociando as dívidas, estendeu o benefício a outras pessoas jurídicas por meio do
Bankruptcy Act, de acordo com Fázzio Júnior (2005).
Passada a depressão americana de 1929, houve a reforma da lei quando da publicação
da Chandler Act de 1938, com grande mudança, expandindo para os credores a elaboração do
plano de recuperação com a aprovação da Securities and Exchange Commission (SEC), com a
autoridade para investigar e acompanhar os processos das empresas em crise, permitindo maior
proteção aos investidores e maior clareza nas informações prestadas, explica Tabb (1995).
Ainda, segundo o autor, passados 40 anos da última publicação e com muitos
questionamentos sobre a então lei de recuperação judicial e extrajudicial que não previa a
extinção do processo de reorganização da empresa em crise, foi publicado em 1978 a Federal
Bankruptcy Code que vigora até os dias atuais.
A partir desta lei, o processo de reorganização da empresa passou a considerar a
elaboração de um plano para reorganização em que os credores e devedor aproximam-se na
tomada de decisão quanto aos rumos da empresa, incluindo o fisco na renegociação.
Cooper, Moss e Brenneman (2011) expõem que o sistema de falência e recuperação de
empresas dos Estados Unidos da América tem sido muito testado ao longo dos anos o que
proporciona segurança com menor risco para os devedores que o adotarem.
Empresas residentes nos Estados Unidos, ou com domicilio, local de trabalho ou
propriedade, podem recorrer ao capítulo 11 da U.S. Bankruptcy Code 1.978, que é a lei de
recuperação e falência norte americana.
De acordo com United States Courts (2015), os principais capítulos da lei utilizados nos
processos americanos são Chapter 7 Liquidation under the bankruptcy code, Chapter 11
Reorganization under the bankruptcy code e Chapter 13 Individual debt adjustment o qual são
julgados por juízes federais específicos para cada tema não sendo permitido o julgamento ou o
protocolo de petição inicial por juízes estaduais.
Os principais objetivos da lei são:
58
(i) dar a um devedor honesto um novo começo de vida aliviando parte das
dívidas e,
(ii) reembolsar os credores de uma forma ordenada na medida em que o
devedor tem bens disponíveis para o pagamento.
O chapter 7 trata do processo de falência ou liquidation, termo em inglês. Qualquer
devedor pode fazer uso da lei, independentemente do montante da dívida ou de ser solvente ou
insolvente, desde que satisfaça aos requisitos de qualificação definidos no chapter 11
parágrafos 101 e 109. Geralmente os processos são convertidos para a falência, ou seja, não se
iniciam pelo processo de falência, no chapter 7.
Já o chapter 11 apresenta o processo de recuperação da crise, cujo termo em inglês é
reorganization, permitindo à empresa que proponha um plano de recuperação da crise que
possibilite o pagamento da dívida e a continuidade do negócio.
Algumas premissas devem ser consideradas, dentre as quais se destacam o prazo de 180
dias anteriores ao pedido de recuperação judicial em que o devedor não tenha recebido um
pedido de falência devido a uma falha intencional que o motivasse a comparecer ao tribunal.
Para fins deste trabalho, não será explorado o chapter 13, por se tratar de processo de
recuperação de indivíduo, tal qual o chapter 12, cujo cujo termo em inglês é chapter 12 family
farmer bankruptcy or family fisherman bankruptcy, por não fazer parte do escopo deste
trabalho.
2.5.1 Semelhanças da Lei 11.101/05 com U.S. Bankruptcy Code
Anapolsky e Woods (2013) explicam que a nova lei de recuperação e falência nº
11.101/05 brasileira é similar à lei americana, U.S. Bankruptcy Code 1978, de acordo com o
chapter 11, trazendo avanços importantes na recuperação de créditos das empresas em situação
de crise no Brasil. Embora haja semelhança, os autores observam diversas diferenças das quais
estão destacadas no quadro 7.
Em se tratando de recuperação judicial na lei brasileira e na reorganization, lei norte
americana, a continuidade do devedor na gestão da empresa é possível, não sendo obrigatório
o afastamento das funções do dirigente. A diferença das leis está na forma de gestão em que a
lei americana emprega quando o dirigente da empresa se afasta do comando, passando a
administração a um administrador judicial, Trust, que é empregado do Departamento de Justiça,
59
enquanto no regime brasileiro o administrador judicial é uma indicação do juiz a um terceiro
qualificado, ou seja, não é empregado do sistema judiciário.
Diversos autores Cooper; Moss; Brenneman (2011), Anapolsky; Woods (2013),
Rapisardi; Zujkowski (2014) partilham da ideia de que a lei brasileira necessita de avanços
quanto ao disclosure das informações aos investidores nacionais e estrangeiros bem como
consideram como dificuldade o fato de a lei brasileira não prever o reconhecimento de ações
internacionais, ou seja, empresas multinacionais americanas devem obrigatoriamente ingressar
com o processo sob a lei americana em conjunto com a lei brasileira.
Os autores Anapolsky; Woods (2013) enfatizam o fato da lei brasileira não contemplar
processos internacionais considerando uma defasagem em relação a harmonização das leis
internacionais que tratam do tema. Para Burman (1996) e Avi-Yonah (2002), embora o processo
de recuperação e falência ocorra fora das fronteiras as partes envolvidas desejam os mesmos
resultados que obteriam em um processo doméstico, ou seja, falência do devedor,
previsibilidade de resultados, distribuição equitativa dos ativos e participação na informação.
Da mesma forma que o ingresso do pedido de falência pode ser feito por credores no
Brasil e nos Estados Unidos, de acordo com os critérios de habilitação. Já o pedido de
recuperação empresarial ocorre diretamente do credor ao devedor na lei americana o que não é
permitido no Brasil. Por ser lei federal os Estados Unidos adotam juízes especializados na
referida lei não permitindo que os estados nomeiem seus juízes para a condução dos processos
de recuperação judicial e falência o que não acontece no Brasil, uma vez que os estados têm a
autonomia na nomeação dos juízes.
60
Quadro 7: Comparativo da lei de recuperação judicial entre Estados Unidos e Brasil
Características da lei Estados Unidos da América Brasil
Ingresso de pedido de falência Credores tem permissão Credores tem permissão
Ingresso de pedido de recuperação
judicial
Credores podem pedir a recuperação
observando as habilitações
Apenas a empresa (devedora) representada
por advogado
Tribunais especializados em falência e
recuperação judicial
Todos os estados recorrem a uma
corte federal (Federal Court)
Cada estado faz a interpretação da lei e
nomeação do juiz
Previsão para ações internacionais de
investidores
Prevê no Chapter 15 da lei Não reconhece ações judiciais
internacionais
Reconhecimento de investidores
individuais (Bond Holders)
Credores com direito a voto na
assembleia geral de credores
Credores sem direito a voto na assembleia
de credores, exceto se for obtido o direito
por processo judicial à parte
Comitê de credores quirografários Mandatório a formação Comitê
oficial incluindo investidores,
agrupado por semelhança
Opcional, sem investidores e quase nunca
utilizado nos processos, respeitando a
separação por classe I, II e III de credores
Apresentação e aprovação do plano de
recuperação judicial
Credores, investidores e empresa
devedora
Apenas empresa devedora, ou credores em
assembleia geral
Acesso à informação para investidores Obrigatório, aprovado pelo juiz,
divulgado a todos e mantido
mensalmente durante a recuperação
da empresa com todas as
informações necessárias para avaliar
a saúde da empresa
Uso do plano de recuperação e
acompanhamento mensal, sem divulgação
e acesso a investidores e com poucas
informações sobre a situação real da
empresa
Venda de ativos na recuperação judicial Permite com abertura das
informações a todos os interessados
Permite por meio do plano de recuperação
com pouca informação aos credores
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de ANAPOLSKY; WOODS (2013)
Considerando uma possível falência, a lei brasileira prevê garantia do recebimento dos
salários, apenas salários, vencidos nos últimos 3 meses anteriores à decretação da falência,
observando o limite de 5 salários mínimos por trabalhador durante o processo de falência.
Ao final do processo de falência, limitado a 150 salários por trabalhador, será priorizado
o pagamento e, em havendo saldo remanescente, será dado igualdade de preferência dos
credores quirografários.
Segundo Huaiyu (2006), os americanos têm o direito resguardado à receber 3 meses de
salário ao limite de USD 4,295, enquanto os brasileiros se beneficiam de até 150 meses para
que possam receber os salários, de acordo com a lei trabalhista.
2.6 SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS
Segundo Hill (2002), a securitização foi desenvolvida nos Estados Unidos da América,
na década de 1970, com uma estrutura que contemplava a criação de um pool de investidores
remunerados. O primeiro tipo de securitização foram hipotecas originadas dos bancos e, desde
então, muitos outros tipos de fluxos de caixas têm sido securitizados com volume considerável.
61
A Europa começou a usar a transação na década de 1980, juntamente com o México nos
mercados emergentes.
A palavra securitização provém do termo securities que, em inglês, define valores
imobiliários e títulos de crédito, significando a conversão de créditos, ativos recebíveis, em
lastro para títulos ou valores mobiliários a serem emitidos a posteriori, dando início, no Brasil,
na década de 1970, pela venda de empréstimos hipotecários garantidos pelo governo.
Na década de 1980, surgiram as primeiras operações de securitização no Brasil por
emissão pela própria sociedade comercial originadora dos créditos conhecida como
securitização parcial, em que o originador emitia debêntures, no mercado de capitais, com
garantia real, penhor de crédito, dos créditos que o emitente possuía junto aos próprios clientes.
Até o momento, o processo de securitização se dava, principalmente, pela emissão de títulos
lastreados nos recebíveis de cartões de crédito.
Novos modelos de securitização passaram a ser praticados no Brasil a partir da década
de 1990 com as operações de transferência dos direitos creditórios gerados pelo originador para
a SPE com emissão de debênture.
No Brasil, existem 4 tipos de securitizadoras que estão detalhadas a seguir:
1. Companhias securitizadoras de créditos financeiros - são SPE com objeto social
exclusivo para a aquisição e securitização de créditos financeiros regidos pelo art. 1º da
Resolução BACEN nº 2.686 de 26/01/2000:
Art. 1º – Autorizar a cessão de créditos oriundos de operações praticadas por bancos
múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento, sociedades de crédito,
financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, companhias
hipotecárias, associações de poupança e empréstimo e pela Caixa Econômica Federal
a sociedades anônimas que tenham por objeto exclusivo a aquisição de tais créditos.
Parágrafo 1º – A cessão de que trata este artigo somente pode ser realizada a sociedade
anônima que:
I – contenha em sua denominação a expressão “Companhia Securitizadora de Créditos
Financeiros”;
Companhias securitizadoras de créditos imobiliários – SPE com objeto social exclusivo
para aquisição e securitização de créditos imobiliários regido pelo art. 3º da Lei 9.514 de
20/11/1997:
Art. 3º As companhias securitizadoras de créditos imobiliários, instituições não
financeiras constituídas sob a forma de sociedade por ações, terão por finalidade a
aquisição e securitização desses créditos e a emissão e colocação, no mercado
financeiro, de Certificados de Recebíveis Imobiliários, podendo emitir outros títulos
de crédito, realizar negócios e prestar serviços compatíveis com as suas atividades;
62
Companhias securitizadoras de créditos do agronegócio – SPE com objeto social
exclusivo para aquisição e securitização de direitos creditórios do agronegócio regulado pelo
art. 38 e art. 40 da Lei nº 11.076, de 30/12/2004:
Art. 38 As companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio são
instituições não financeiras constituídas sob a forma de sociedade por ações e terão
por finalidade a aquisição e securitização desses direitos e a emissão e colocação de
Certificados de Recebíveis do Agronegócio no mercado financeiro e de capitais.
Art. 40 A securitização de direitos creditórios do agronegócio é a operação pela qual,
tais direitos são expressamente vinculados à emissão de uma série de títulos de crédito,
mediante Termo de Securitização de Direitos Creditórios, emitido por uma companhia
securitizadora, do qual constarão os seguintes elementos: I - identificação do
devedor; II - valor nominal e o vencimento de cada direito creditório a ele vinculado;
III - identificação dos títulos emitidos; IV - indicação de outras garantias de resgate
dos títulos da série emitida, quando constituídas;
Companhias securitizadoras de ativos empresariais – SPE constituídas com objeto social
exclusivo para aquisição e securitização de ativos empresariais, provenientes de operações
praticadas por empresas industriais, comerciais ou de serviços, com fluxo de recebimento futuro
emitido por duplicatas, cheques pós-datados, recebíveis de cartões de crédito, contratos de
aluguéis e fornecimento de mercadorias ou produtos para entrega futura, regulados pela
CVM/SJU nº 005 de 19/02/1986.
É uma entidade comercial, não financeira, atípica, que não adquire mercadorias e
produto, para revenda futura, mas adquire os direitos creditórios que representam os ativos
adquiridos. A receita bruta é determinada pelo diferencial (deságio) entre o valor de face dos
ativos adquiridos, e o valor por eles desembolsado.
Kendall e Fishman (1996) expõem que a securitização é o processo de conversão de
empréstimos feitos pelos títulos com melhora na classificação de crédito, sendo vendido ao
investidor por converter os empréstimos em títulos negociáveis e com o colateral nas
obrigações, e não na empresa originadora dos recebíveis. O processo de securitização está
demonstrado na figura 10.
Borges (1999) observa que o termo utilizado para identificar operações de valor
mobiliário emitido, lastreado ou vinculado ao direito creditório ou simplesmente recebível, é
securitização. Adiciona que o fluxo de caixa gerado por recebíveis ou bens transferidos para
outra empresa é utilizado para operações de giro, sendo o direito ao recebimento com respaldo
jurídico da compra e venda.
Barros (2014) argumenta que tem crescido o número de FIDC originados dos factoring
em decorrência da migração para o mercado de capitais, dada a concorrência, e, com isso, o
63
risco para o investidor aumenta à medida que as políticas de crédito e prevenção de riscos
podem diminuir.
Greenbaum e Thakor (1987) explicam que a cessão de crédito é uma prática habitual
dos bancos mediante venda de empréstimos em que o cedente não assume o pagamento se
houver inadimplência e a securitização altera a qualidade do ativo por reduzir os riscos de
crédito.
Kothari (2014) argumenta que a questão central da securitização está em não ter o direito
de regresso (true sale) para que os investidores tenham o direito sobre os ativos adquiridos, de
modo que não sejam afetados por eventual queda no desempenho ou falência do originador.
A figura 10 apresenta o fluxo do processo de securitização, iniciando pela empresa
cedente (originador), que vende produtos e serviços a prazo para empresas clientes (devedor)
que, por sua vez, geram direitos creditórios.
A empresa originadora (cedente), mediante o contrato de cessão de crédito, transfere os
direitos creditórios ao FIDC por meio de uma SPE ou para fundo de investimento constituído,
efetuando pagamento à empresa originadora, que, por sua vez, emite cotas para venda aos
investidores.
Contra vencimento dos créditos, empresa cliente (devedor) efetua o pagamento ao FIDC
que paga a amortização ou resgate das cotas seniores aos investidores. Em se tratando do FIDC
do factoring, as cotas subordinadas estão com o factoring, que adquire os créditos por meio do
fundo de investimentos.
As cotas seniores são cotas adquiridas por investidores por meio do mercado de capitais
ou mercado de balcão. Já, as cotas subordinadas, são as cotas com maior liquidez, ou seja, as
cotas que, em caso de liquidação ou PL negativo do fundo de recebíveis serão as primeiras a
fazer garantia aos investidores das cotas seniores.
64
Figura 10: Processo de securitização
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
2.6.1 Securitização vs. Factoring
A distinção das operações do factoring com as operações da securitização se dá pelo
objeto social. Ambos adquirem recebíveis oriundos de vendas industriais ou de prestação de
serviços dos originadores, mas a aplicação das aquisições é diversa, sendo a securitizadora um
meio de lastrear a emissão de títulos e de valores mobiliários (debêntures) e o factoring um
prestador de serviços contínuo dos originadores.
A securitização - consiste especificamente na aquisição e securitização de recebíveis
empresariais mercantis e ou de prestação de serviços, pela emissão e colocação, no mercado
em ambiente privado, de valores mobiliários, podendo emitir outros títulos de crédito, realizar
negócios pertinentes ou relativos à securitização de títulos.
O factoring - realiza negócios de fomento mercantil que consistem na prestação de
serviços, em caráter contínuo, de alavancagem mercadológica ou de acompanhamento das
contas a receber ou a pagar ou de seleção e avaliação do sacados-devedores ou dos fornecedores
das empresas clientes contratantes, e; na compra a vista, total ou parcial com ou sem
coobrigação, de direitos resultantes de vendas mercantis e/ou de prestação de serviços
realizadas a prazo por suas empresas-clientes contratantes, no mercado nacional e internacional
como foi apresentado em capítulo anterior.
Promessa
de
Pagamento
Cessão
de
Crédito
Bens
ou
Serviços
Títulos
Recursos
Recursos
65
3 CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO
3.1 FINANCIADOR DO CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO
No Brasil, há uma dificuldade na obtenção de recursos para empresas em crise financeira
quando recorrem aos bancos. Ao primeiro sinal de crise da empresa, os bancos fecham as portas
do crédito, optam por liquidar os contratos (conta garantida, mútuo, capital de giro, desconto
de duplicatas), reduzir os riscos e aumentar as garantias para a manutenção da linha já
contratada e as empresas têm maior dificuldade de gerir o caixa. Uma vez que já não dispõe de
garantias adicionais e liquidez.
Tal prerrogativa está normatizada na resolução do BACEN nº 2682 de 21 de dezembro
de 1999 que determina a classificação das operações de crédito em ordem crescente de risco de
acordo com os níveis AA, os quais se entende que o crédito é bom, A, B, C, D, E, F, G e H em
que se compreende não haver possibilidade de concessão de crédito dado o risco da operação.
A classificação e o nível de risco das operações é de responsabilidade de cada instituição
financeira, devendo respeitar os critérios definidos, na resolução, contemplando ao menos os
aspectos relacionados ao devedor e seus garantidores, situação econômico-financeira, grau de
endividamento, capacidade de geração de resultado, fluxo de caixa, pontualidade e atrasos nos
pagamentos, setor de atividade econômica, características das garantias, suficiência e liquidez.
Considerando os níveis de risco das operações de que trata a resolução 2682/99 bem
como o provisionamento necessário para o mitigar o risco, compreende-se a razão pela qual os
bancos fecham as portas para as empresas em crise financeira. A tabela 3 apresenta, de acordo
com os níveis de risco, o critério de rebaixamento e provisionamento a que trata a resolução em
questão. Os níveis estão em ordem crescente, portanto, nível A, baixo risco, e nível H, altíssimo
risco.
A classificação do risco deve ser revista mensalmente de acordo com a apresentação dos
informes financeiros das empresas devedoras, apurando atrasos nos pagamentos de parcela e
principal ou de encargos. O provisionamento deve fazer frente aos créditos de liquidação
duvidosa não devendo ser inferior aos percentuais informados na tabela 3, permitindo cobrir
eventuais perdas na realização dos créditos.
66
Tabela 3: Classificação de risco versus provisão de liquidação duvidosa
Nível Revisão da classificação do risco em razão
dos dias de atrasos nos pagamentos
Provisão para créditos de liquidação duvidosa
sobre o valor das operações
A 0,5%
B Entre 15 e 30 1,0%
C Entre 31 e 60 3,0%
D Entre 61 e 90 10,0%
E Entre 91 e 120 30,0%
F Entre 121 e 150 50,0%
G Entre 151 e 180 70,0%
H Superior a 180 100,0%
Fonte: Elaborado pelo autor, de BCB, 2015.
Este critério, conforme a própria resolução, é o mínimo a ser seguido por instituições
financeiras reguladas pelo BACEN, devendo ser adaptado e melhorado de acordo com a
necessidade e perfil das instituições. As operações de crédito inferiores a R$ 50.000,00 e podem
ser classificadas mediante adoção de modelo de avaliação da própria instituição de acordo com
a resolução BACEN 2697 de 24 de fevereiro de 2000.
O factoring e FIDC de factoring adotam um processo de análise de crédito voltado para
identificar a situação da empresa cedente pelos meios circulantes, pesquisa de mercado,
consulta dos títulos para cessão do crédito e imagem da empresa, tornando-se o meio viável
para captação de recursos por empresas cuja classificação de risco não seja adequada aos
bancos.
Ao contrário dos bancos, o factoring não dispõe de regulação ou normatização que
estabeleça um padrão para rebaixamento da classificação de risco das operações de crédito, bem
como a necessidade de provisionamento para liquidação de devedores duvidosos. Por ser uma
atividade atípica, atua fortemente no middle market em que os bancos não têm expertise,
adotando soluções para o acompanhamento dos clientes desde a prospecção até a saída ou
encerramento dos negócios.
Em razão do índice de provisionamento para clientes com classificação de risco H,
segundo critérios apresentados na tabela 3, pode-se inferir que este seria o público-alvo dos
factoring e seus fundos de investimentos em direitos creditórios.
Perera (1998) expõe que o risco de um determinado título está relacionado com o
ambiente em que a empresa está inserida e, portanto, se não houver alterações no
comportamento do mercado e nas ações de investimentos versus o fluxo de caixa gerado o risco
de falência pode ser menor.
67
3.2 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FACTORING
De acordo com a ANFAC, o fator é um indicador de referência de compra de créditos
para o mercado de fomento comercial. A composição do fator representa a formação do preço
para cobrir as despesas operacionais e os custos da operação de fomento, tendo como indicativo
de custo, alínea “a”, o Certificado de Depósito Bancário (CDB), sendo:
a) custo (oportunidade do capital próprio);
b) custos Fixos;
c) custos Variáveis;
d) impostos Operacionais;
e) despesas de Cobrança;
f) expectativa de risco;
g) expectativa de lucro.
No mercado, o fator é conhecido como a taxa de desconto do título para a cessão dos
direitos creditórios oriundos de títulos de venda mercantil. A tabela 4 apresenta a cotação,
conforme o período de 30 dias úteis (d.u.).
Tabela 4: Médias do período do fator ANFAC
18/12/2014 a 02/02/2015
(30 dias úteis)
MÉDIAS DO PERÍODO
Fator Média Alta Média Baixa Ad Valorem
3,96% 4,02% 3,90% 0,81%
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de ANFAC, 2015.
O ad valorem é uma taxa cobrada pela prestação de serviços, pela aplicação de um
percentual sobre o valor dos títulos negociados, compondo o custo efetivo total.
Os dados publicados pelo Banco Central do Brasil (BCB) sobre a taxa de desconto de
títulos para pessoa jurídica, na modalidade pré-fixado, referem-se ao parâmetro de mercado
para a contratação de operação de antecipação de recebíveis, pela cessão de títulos de operação
mercantil, conforme tabela 5.
68
Tabela 5: Taxas de juros por instituição financeira- período 14.01.2015 a 20.01.2015
Posição
Instituição
Taxas de juros
% a.m. % a.a.
14 BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. 2,09 28,22
19 HSBC BANK BRASIL SA BCO MULTIP 2,28 31,02
33 ITAÚ UNIBANCO BM S.A. 2,69 37,52
36 BANCO BRADESCO S.A. 2,91 41,11
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de BCB, 2015.
Comparada ao fator, a taxa de juros bancária se apresenta menor, embora seja acrescida
da reciprocidade que, oportunamente, é negociada com a instituição financeira e o cliente
(tomador do recurso), em razão da liberação de determinada operação de crédito, financiamento
de capital de giro, financiamento de ativo imobilizado, financiamento para expansão fabril,
dentre outros. Uma das formas apresentadas para a reciprocidade é a contratação de seguro de
frota, seguro empresarial, seguro saúde, títulos de capitalização, aplicações em títulos de
previdência privada e investimentos em títulos de renda fixa. O valor da reciprocidade praticado
no mercado está entre 5% e 10% do montante contratado, conforme apresentado pelo Sindicato
dos Factoring (SINFAC).
A tabela 6 apresenta o comparativo da operação de desconto de duplicata em banco
comercial e em factoring de acordo com as premissas estabelecidas no quadro 8.
69
Tabela 6: Simulação de operação de desconto de duplicata – Banco vs. Factoring
Composição do Custo Banco Comercial Factoring
Premissas da Operação
Tipo de Operação Desconto Duplicata
Valor Total (R$) 50.000,00 50.000,00
Quantidade de títulos 15 15
Ticket médio (R$) 3.333,33 3.333,33
Prazo Médio em dias 35 35
Reciprocidade 5% 0%
Floating (D+2) 2 2
Valor (R$) 50.000,00 50.000,00
Taxa (% a.m.) 2,51% 3,65%
Ad Valorem (%) 0,00% 0,75%
Tarifa por boleto (R$) 2,83 4,50
TAC (R$) 170,00 273,00
Outros (R$) 20,00 8,00
Simulação da Operação
Desconto (R$) (1.461,25) (2.129,17)
Ad Valorem (R$) - (375,00)
Tarifa (R$) (42,45) (67,50)
TAC/TOC (R$) (170,00) (273,00)
Outros (R$) (20,00) (8,00)
Total Custo (R$) (1.693,70) (2.852,67)
Líquido da Operação (R$) 48.306,30 47.147,33
Custo da Operação (%) 3,23% 5,71%
Reciprocidade (R$) 2.500,00 -
Líquido Final (R$) 45.806,30 47.147,33
Custo Efetivo Total (%) 3,39% 5,71%
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
O custo efetivo total das operações, expresso em percentual, confirma o valor maior
para o factoring se comparado à operação bancária, mesmo com a retenção da reciprocidade
exigida pelo banco. Rizzardo (2000) e Assaf Neto (2009), dentre outros autores, expuseram que
os custos de operações com o factoring se apresentavam maiores quando comparado às
instituições financeiras.
Embora a negociação da reciprocidade seja praticada pelo mercado não está de acordo
com a Resolução 2.878 de 26/07/2001 do CMN, órgão regulador das instituições financeiras e
do sistema financeiro nacional, conforme o artigo nº 17 observa que:
É vedada a contratação de quaisquer operações condicionadas ou vinculadas
à realização de outras operações ou à aquisição de outros bens e serviços.
§ 1º A vedação de que trata o caput aplica-se, adicionalmente, às promoções
e ao oferecimento de produtos e serviços ou a quaisquer outras situações que
impliquem elevação artificiosa do preço ou das taxas de juros incidentes sobre
a operação de interesse do cliente.
70
Mesmo com o veto por resolução, nota-se que o mercado financeiro pratica a
reciprocidade como forma de auferir melhores resultados, compensar possíveis perdas ou
mesmo de fidelizar os clientes.
As premissas para a elaboração do quadro 8 foram definidas de acordo com a prática de
mercado, as regras adotadas pelo BCB e as práticas do factoring, conforme ANFAC.
Quadro 8: Premissas da simulação do comparativo de operação de desconto de duplicata
Banco Factoring
1 Taxa (% a.m.)
Taxas médias praticada dos 4 maiores bancos
privados, obtido no site do BCB, em janeiro
de 2015
Publicação da ANFAC do fator (taxa de
aquisição de títulos por cessão de crédito)
2 Ad Valorem (%)
Taxa de serviço de consulta de crédito
cobrado pelo factoring. Para efeitos desta
demonstração foi aplicada a taxa média de
mercado
3 Tarifa Boleto Média das tarifas cobradas dos 4 maiores
bancos privados obtido no site do BCB
Média da tarifa obtida por consulta a 4
factoring da cidade de São Paulo
4 Tarifa de
TED/DOC
Tarifa cobrada para a transferência do recurso
para o cliente do factoring. Média de 4
factoring da cidade de São Paulo
5
Taxa de Abertura
de Crédito –
TAC
Tarifa para abertura de crédito cobrada por
operação. Média dos 4 maiores bancos
privados obtidas no site do BCB
6
Taxa de
Operação de
Crédito - TOC
Tarifa para operação de crédito cobrada por
operação. Média de 4 factoring da cidade de
São Paulo
7 Floating (D+)
Período de compensação da cobrança. Este
prazo varia em razão da utilização de banco
correspondente ou não na praça
Período de compensação e conciliação da
cobrança.
8 Prazo Médio
Prazo médio ponderado em razão da condição
de pagamento e do valor de cada título
expresso em dias.
Prazo médio ponderado em razão da condição
de pagamento e do valor de cada título
expresso em dias. O cálculo é feito no
calendário ano 252 desprezando as sextas-
feiras.
9 Ticket médio
Valor médio por título de cobrança que
influenciará no valor total de boletos a ser
cobrado na operação
Valor médio por título de cobrança que
influenciará no valor total de boletos a ser
cobrado na operação
10 Reciprocidade
São exigências apresentadas no ato da
negociação do crédito bancário
11 Outros
Outras despesas cobradas por bancos, tais
como processamento de arquivo de cobrança,
manutenção da carteira de cobrança, etc
Outras despesas cobradas por factoring, tais
como assinatura eletrônica de contrato de
cessão de crédito, manutenção da carteira de
cobrança
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de BCB, CMN, ANFAC, SINDFAC, 2015.
Embora a operação do factoring, neste trabalho, confirme-se mais cara que a operação
com o banco comercial, dados do Factoring Chain International (FCI) demonstram que as
operações com o fomento comercial vêm crescendo substancialmente ao longo dos últimos 7
anos. A figura 11 apresenta a evolução do mercado dos últimos 3 anos e a evolução agrupada
por continentes é apresentada na tabela 7.
71
O Brasil posiciona-se na 2ª colocação no continente das Américas e registrando
crescimento constante ao longo dos anos.
Figura 11: Geografia do factoring – posição das Américas, 2013
Fonte: Adaptado pelo autor, de ANFAC, 2015.
A figura 12 apresenta a evolução dos 5 continentes que participam do FCI, observando
a participação expressiva da Europa, onde o factoring começou desde a antiguidade (LEITE,
2004).
72
Figura 12: Volume Mundial / Continente – em €
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de FCI.nl, 2015.
O detalhamento do gráfico está apresentado na tabela 7, demonstrando o percentual da
participação do total mundial por ano, de cada continente. A forte expansão fora da Europa
ocorre na Ásia seguida das Américas.
Tabela 7: Volume total dos factoring por continente – últimos 7 anos em milhões € Ano Total
Mundial
Américas % Europa % África % Ásia % Oceania %
2013
2.230.479
191.555
9%
1.354.192
60,7%
23.123
1,0%
599.297
26,9%
62.312
2,8%
2012
2.130.743
187.014
9%
1.298.680
60,9%
23.927
1,1%
571.516
26,8%
49.606
2,3%
2011
2.014.350
207.172
10%
1.218.540
60,5%
23.451
1,2%
507.696
25,2%
57.491
2,9%
2010
1.647.541
185.357
11%
1.045.024
63,4%
16.811
1,0%
355.434
21,6%
44.915
2,7%
2009
1.282.782
142.013
11%
876.614
68,3%
14.917
1,2%
209.828
16,4%
39.410
3,1%
2008
1.323.957
154.195
12%
888.528
67,1%
13.263
1,0%
235.425
17,8%
32.546
2,5%
2007
1.300.016
149.673
12%
932.264
71,7%
10.705
0,8%
174.294
13,4%
33.080
2,5%
TT
11.929.868
1.216.979
10%
7.613.842
64%
126.197
1%
2.653.490
22%
319.360
3%
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de FCI.nl, 2015.
No continente das Américas, o volume de operações do factoring em milhões de Euros
concentra-se em 4 países que juntos somam € 711.825 bilhões. O Brasil, ao longo dos últimos
7 anos, aproximou-se dos Estados Unidos, estando apenas 3% menor no acumulado do período
e à frente do 3º colocado com mais de 100% de diferença de acordo com a tabela 8.
1,3 1,3
1,2
1,6
2,0 2,1 2,2
932 888 876
1,0
1,2 1,3 1,3
-
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
1.800.000
2.000.000
2.200.000
2.400.000
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Volume Mundial / Continente - em €
Total em Tri de Eur
Europa
Asia
Américas
Oceania
África
73
Tabela 8: Países de destaque no volume total das Américas
Países 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TT do
Período
Estados Unidos 97 100 88.500 95 105 77.543 83.739 250.179
Brasil 21.060 22.055 29.640 49.050 45.623 43.627 31.552 242.607
México 9.200 9.550 2.120 14.538 21.074 26.130 28.061 110.673
Chile 14.620 15.800 14.500 16.422 21.500 24 25.500 108.366
Outros 7.793 3.793 7.253 10.347 13.975 15.653 22.645 81.459
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de FCI, 2015.
Segundo dados informados pela ANFAC, o ano de 2012 revelou-se promissor para as
empresas do factoring com a região sudeste, concentrando o maior número de empresas de
fomento e de clientes do setor, representando aproximadamente 70% das transações com
destaque para o Estado de São Paulo, cuja concentração de empresas clientes alcança 98.000
empresas do montante de 151.000.
3.3 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FIDC
Comparado ao factoring à operação de FIDC, apresenta-se melhor uma vez que os
custos são menores em razão de não haver a tributação dos impostos PIS, COFINS, IOF, IRPJ
e CSLL no deságio da operação bem como a reciprocidade negociada com instituições
financeiras e a cobrança do ISS sobre a prestação de serviços do factoring. O quadro 9 apresenta
o comparativo da tributação do FIDC e do factoring.
Quadro 9: Comparativos fiscais entre o FIDC e o Factoring
Tributos FIDC Factoring
PIS/COFINS Isento Tributado
IR e CS sobre os lucros Isento Tributado
IOF Alíquota de 0% Tributado
ISS Isento Tributado
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de.planalto.gov.br/legislação, 2015.
A negociação dos direitos creditórios nas operações de FIDC é definida pela taxa de
deságio previamente contratada com o originador sem a incidência dos tributos e tarifas de
boleto. Na simulação apresentada na tabela 9, o valor bruto é o mesmo utilizado na simulação
da tabela 6 do parágrafo 3.2. Para fins desta pesquisa, a taxa de deságio apresentada para o
factoring já está com os impostos incidentes na operação uma vez que os impostos são despesas
que compõe a precificação do deságio, conforme estabelecido pela ANFAC.
74
Tabela 9: Simulação de operação de desconto de duplicata – FIDC vs. Factoring
Composição do Custo FIDC Factoring
Premissas da Operação
Tipo de Operação Duplicata de Venda Mercantil
Valor Total (R$) 50.000,00 50.000,00
Quantidade de títulos 15 15
Ticket médio (R$) 3.333,33 3.333,33
Prazo Médio em dias 35 35
Reciprocidade - -
Floating (D+2) 2 2
Valor (R$) 50.000,00 50.000,00
Taxa de deságio (% a.m.) 2,50% 3,65%
Ad Valorem (%) - 0,75%
Tarifa por boleto (R$) - 4,50
TAC (R$) - 273,00
Outros (R$) - 8,00
Simulação da Operação
Deságio (R$) (1.541,67) (2.250,83)
Ad Valorem (R$) - (375,00)
Tarifa (R$) - (67,50)
TAC/TOD (R$) - (273,00)
Outros (R$) - (8,00)
Total Custo (R$) (1.541,67) (2.974,33)
Líquido da Operação (R$) 48.458,34 47.025,67
Custo da Operação (%) 3,08% 4,50%
Reciprocidade (R$) - -
Líquido Final (R$) 48.458,34 47.147,33
Custo Efetivo Total (%) 3,08% 5,95%
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
O resultado confirma que a operação com o FIDC se apresenta mais vantajosa se
comparada à operação do factoring por não haver despesas adicionais à taxa de deságio da
operação.
Segundo Barros (2014), o aumento no número de FIDC, em razão da migração do
factoring se justifica diante da concorrência, da desintermediação bancária e da oportunidade
de negócios, uma vez que as operações se tornam mais competitivas com os custos operacionais
menores.
A tabela 10 demonstra o levantamento realizado nas bases de dados da CVM dos fundos
de investimentos em direitos creditórios não padronizados (FIDC-NP), agrupados por
administrador e patrimônio líquido (PL). O tamanho do fundo é definido de acordo com o PL
e, portanto, o volume de negócios alocados no administrador define sua posição no mercado de
administradores.
75
Tabela 10: PL dos FIDC-NP classificados por administrador e PL
Administrador Valor do PL
(R$ mil)
Itaú Unibanco S/A 19.608.132.963,74
Oliveira Trust Dtvm S.A. 3.276.918.803,41
Bem - Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários Ltda. 2.152.982.588,00
Bny Mellon Serviços Financeiros Dtvm S.A 1.613.649.750,10
Socopa Sociedade Corretora Paulista SA 1.067.141.302,93
Banco Petra S.A. 927.840.600,75
Caixa Econômica Federal 866.601.800,55
Btg Pactual Serviços Financeiros S/A Dtvm 778.088.646,53
Gradual Cctvm S/A 580.304.386,64
Santander Securities Services Brasil Dtvm S.A 489.723.349,17
Planner Corretora De Valores SA 281.645.714,56
Banco Modal Sa 265.999.167,69
Citibank Dtvm Sa 251.885.664,34
Brl Trust Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários S.A. 192.041.947,76
Banco J. Safra S.A. 74.342.179,24
Petra Personal Trader Ctvm S/A 47.974.213,59
Total Geral 32.476.358.994,60
Fonte: elaborado pelo autor, a partir de CVM, 2015.
Regidos pela instrução CVM 444 de dezembro de 2006, os FIDC-NP são fundos que
podem investir em papéis variados, com qualquer percentual de seu patrimônio líquido em
direitos creditórios que, dentre outras, estejam vencidos e pendentes de pagamento quando
cedidos ao fundo, que resultem de ações judiciais em curso ou tenham sido judicialmente
penhorados ou dados em garantia, originados de empresas em processo de recuperação judicial
ou extrajudicial.
Também será considerado não padronizado o FIDC que tenha rendimento oriundo de
derivativos de crédito, quando não for utilizado para mitigar risco ou aplique em cotas de FIDC-
NP.
A tabela 11 apresenta o levantamento realizado nas bases de dados da CVM dos FIDC
agrupados por administrador e patrimônio líquido (PL). O tamanho do fundo é definido de
acordo com o PL e, portanto, o volume de negócios alocados no administrador define sua
posição no mercado de administradores.
76
Tabela 11: PL dos FIDC classificados por administrador
Administrador Valor do PL
(R$ mil)
Bem - Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários Ltda. 8.978.887.866,31
Citibank Dtvm Sa 4.182.001.785,34
Caixa econômica Federal 3.906.216.542,51
Oliveira Trust Dtvm S.A. 3.753.689.625,24
Socopa Sociedade Corretora Paulista Sa 2.735.035.011,44
Banco Petra S.A. Total 2.458.097.948,86
Votorantim Asset Management Dtvm Ltda. 2.312.959.568,23
Santander Securities Services Brasil Dtvm S.A 2.297.040.574,43
Gradual Cctvm S/A 1.896.034.995,00
Intrag Dtvm Ltda. 1.414.254.272,08
Btg Pactual Serviços Financeiros S/A Dtvm 1.385.995.374,10
Bny Mellon Serviços Financeiros Dtvm S.A. 976.792.061,28
Concórdia S.A. Cvmcc 730.788.979,10
Petra Personal Trader Ctvm S/A 643.041.898,62
Bb Gestao De Recursos Dtvm S.A. 489.869.497,79
Cruzeiro Do Sul S.A. Dtvm - Em Liquidação Extrajudicial 328.998.415,73
Planner Corretora De Valores Sa 263.015.537,22
Banco Daycoval S.A 82.440.975,06
Brl Trust Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários S.A. 66.916.953,44
Banco Modal Sa 18.306.288,25
Dillon S/A Dtvm 14.773.456,51
Oboé Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários S/A. 1.475.432,07
Total: 38.937.406.832,80
Fonte: elaborado pelo autor, a partir de CVM.
3.4 SEGREGAÇÃO DO RISCO
O marco regulatório no Brasil para as operações de securitização ocorreu no ano de
1992 com a rede de lojas varejistas Mesbla S/A que, na ocasião, estava em crise financeira. Não
conseguindo obter recursos no mercado bancário desenvolveu uma operação estruturada por
meio da constituição de uma SPE denominada Mesbla Trust, a primeira operação de
securitização feita no país. Os recebíveis provenientes das vendas da Mesbla S/A eram
repassados à SPE Mesbla Trust e convertidos em títulos de crédito, em debêntures, sendo
vendidos aos investidores pelos valores mobiliários.
A captação obtida dos investidores era repassada para a varejista Mesbla S/A como
forma de pagamento dos recebíveis, ou seja, o fluxo de pagamentos dos recebíveis era o fluxo
de repasse entre a SPE e a Mesbla S/A.
77
O risco dos investidores das debêntures emitidas pela Trust ficou restrito aos papéis da
SPE Mesbla Trust sem que houvesse prejuízo com a liquidação da rede de lojas Mesbla S/A.
No processo transitório do factoring para o FIDC, segundo Barros (2014), a estrutura e
o know how para a captação de títulos de crédito no mercado se mantem. A partir da captação
no mercado o factoring transfere os títulos dos cedentes em crise financeira ou em RJ, cujo
sacado tenha boa liquidez, ao FIDC que por sua vez converte-os em títulos líquidos através do
processo de securitização dos recebíveis, uma vez que, em sua grande maioria, os acionistas
dos factoring são os cotistas dos fundos, detentores das cotas subordinadas, garantindo o rating
adequado para o investidor no mercado.
Neste sentido, o FIDC emite títulos de crédito, geralmente debêntures, vende aos
investidores qualificados, oferecendo, como garantia, o fluxo dos recebíveis, caracterizando
para os investidores como uma aplicação de recursos com risco de crédito atrelado ao
pagamento ou liquidação do próprio fluxo dos recebíveis. Os investidores assumem o risco do
crédito dos sacados ou o fluxo de recebíveis do devedor, conforme figura 3 apresentada
anteriormente no parágrafo 2.2.2.1.
Portanto, a captação de títulos oriundos de empresas em crise financeira ou em
recuperação judicial por FIDC se torna uma operação viável, afastando o risco do originador e
possibilitando a atuação neste mercado.
3.5 EMPRESAS EM CRISE
Os números têm mostrado um aumento de empresas que recorrem ao benefício da Lei
11.101/05 para obter uma chance para reverter o processo de crise. A figura 13 apresenta o
histórico de recuperações judiciais requeridas desde o início da vigência da lei.
Micro e pequenas empresas apresentam maior índice de solicitações do benefício da lei
com aumento significativo nos anos de 2009 e 2010, repetindo a escalada de aumento nos anos
de 2012, 2013 e 2014. As médias e grandes empresas, embora demonstrem crescimento nos
mesmos períodos das micro e pequenas, apresentam estabilidade nas solicitações de
recuperação judicial. Os números confirmam que as maiores demandas estão nas micro e
pequenas empresas, seguidas das médias e grandes empresas.
78
Figura 13: Histórico de recuperação judicial – 06.2005 à 12.2013
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SERASA, 2015.
Analisados, separadamente, os números das pequenas e microempresas que recorreram
ao benefício da lei explicam que, nos últimos 3 anos, em média, 74% dos pleitos de RJ foram
deferidos, conforme apresentado na figura 14. Para as médias empresas, o comportamento dos
pleitos se apresenta em melhor cenário, com média de 88% de deferimento, conforme figura
15, contra 89% de deferimento das grandes empresas demonstrado na figura 16.
Figura 14: RJ Requerida vs. Deferida - Pequena Empresa
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SERASA, 2015.
71
160 164 172
365
297 284
403
508
451
24
68 71 87
197
106
166
247 239 240
15 24 34
53
108 72 65
107 127 137
-
80
160
240
320
400
480
560
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Histórico de Recuperação Judicial - 06/2005 à 12/2013
Micro e Pequena Empresa
Média Empresa
Grande Empresa
27 85 108 98
237 185
203
299 347
363
71
160 164 172
365
297 284
403
508 451
-
100
200
300
400
500
600
700
800
900
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
RJ Requerida vs. Deferida - Pequena Empresa
RJ Requerida
RJ Deferida
79
Analisados, anualmente, os índices de deferimento comparado aos requerimentos da
pequena e microempresa têm aumentado a partir de 2012 gradativamente, sendo o ano de 2012,
74%, ano de 2013, 68% e, no ano de 2014, 80%.
Para as médias e grandes empresas, os números se apresentam a partir de 2012
respectivamente 89%, 92% e 84% contra 92%, 98% e 77%, para as grandes empresas.
Figura 15: RJ Requerida vs. Deferida - Média Empresa
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SERASA, 2015.
Figura 16: RJ Requerida vs. Deferida – Grande Empresa
Fonte: elaborado pelo autor, SERASA, 2015.
15 50 62
74
162
106
139
221 219 202
24
68 71
87
197
106
166
247 239 240
-
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
RJ Requerida vs. Deferida - Média Empresa
RJ Requerida
RJ Deferida
11
21 25
50
93
69
55
98
124
106
15
24 34
53
108
72
65
107
127 137
-
50
100
150
200
250
300
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
RJ Requerida vs. Deferida - Grande Empresa
RJ Requerida
RJ Deferida
80
Historicamente, as empresas têm registrado redução nos pedidos de falência desde a
vigência da nova lei. A figura 17 apresenta a evolução dos pedidos de falência versus a
decretação de falência dos últimos 3 anos, bem como apresenta os pedidos de recuperação
judicial que foram requeridos, deferidos e concedidos.
Figura 17: Dados históricos – falência e RJ
Fonte: elaborado pelo autor, SERASA, 2015.
Observa-se a redução das falências requeridas a partir do ano de 2012, entretanto, os
números da figura 18 demonstram aumento substancial das empresas que tiveram a falência
decretada se comparados às empresas que requereram a falência.
Figura 18: Falências requeridas vs. decretadas
Fonte: elaborado pelo autor, SERASA, 2015.
1929
688 757
618
189
1758
746874
690
244
1661
740828
671
323
0
500
1000
1500
2000
2500
Falências
Requeridas
Falências
Decretadas
RJ Requerida RJ Deferida RJ Concedida
Dados Históricos - Falência e RJ
2012
2013
2014
0
500
1000
1500
2000
20122013
2014
Falências Requeridas vs. Decretadas
Falências Requeridas
Falências Decretadas42%36%
45%
81
De acordo com os autores Carnaúba e Milanese (2014, p. 83), a eficiência dos processos
de recuperação de judicial têm-se mostrado baixo no Brasil. A figura 19 apresenta o estudo,
desde o início da vigência da lei 11.101/05, das empresas que fizeram o requerimento da
recuperação judicial e obtiveram o sucesso pelo encerramento do processo ou do pagamento do
plano de recuperação, antes do prazo final de 24 meses. Considerando a quantidade de 4177
requerimentos de RJ contra 55 planos finalizados, conclui-se que apenas 1,3% das empresas
obtêm sucesso no processo de recuperação judicial.
Figura 19: Análise das RJ – 06/2005 / 12/2013
Fonte: elaborado pelo autor, a partir de Carnaúba e Milanese (2014, p.83).
Comparado aos Estados Unidos, França e Reino Unido, o Brasil tem o menor índice de
sucesso, ficando muito abaixo dos outros países como está demonstrado na tabela 12.
Tabela 12: Comparativo de processos finalizados vs. planos aprovados
Brasil EUA França Reino Unido
Processos Finalizados 1,3% 28% 13% 14%
Planos Aprovados 23% 41% 20% 15%
Fonte: Carnaúba; Milanese (2014, p.83).
Para compreender o baixo percentual de sucesso no processo de recuperação das
empresas que recorrem ao benefício legal, os dados foram analisados, considerando os planos
de recuperação judicial aprovados versus as conversões em falência; as recuperações judiciais
requeridas versus as conversões em falência; os planos de recuperação aprovados versus os
planos encerrados (que chegaram ao final com sucesso) e, por fim, as recuperações requeridas
0
1200
2400
3600
4800 4177 Requiridas
3.041 Procesos
Aceitos
935
Aprovados 394
Falências 72
Desistências
55
Finalizados
Análise das RJ - 06/2005 / 12/2013
82
versus os planos encerrados. A figura 20 demonstra os resultados obtidos com atenção aos
planos encerrados versus os planos aprovados que elevam o número de eficiência para 5,9% de
sucesso, mas, mesmo assim, com baixa eficiência no comparativo da tabela 12 apresentada
acima.
Figura 20: Análise – 06/2005 / 12/2013
Fonte: elaborado pelo autor, a partir de Carnaúba e Milanese (2014, p.83).
42,1%
9,4%
5,9%
1,3%
Análise - 06/2005 / 12/2013
Planos Aprov. X Conversões RJ's Requeridas X Conversões
Plano Aprov. X Encerradas RJ's Requeridas X Encerradas
83
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo, serão apresentados os métodos e os procedimentos aplicados nesta
pesquisa para obtenção dos resultados de acordo com os objetivos.
4.1 MÉTODO E TIPO DE PESQUISA
O método de pesquisa adotado é qualitativo por se tratar de análise de dados mediante
técnicas qualitativas para a obtenção de melhores resultados (RICHARDSON, 2008).
Segundo Flick (2007), pontos de vista e práticas no campo são diferentes face às
perspectivas subjetivas e aos ambientes sociais relacionados, porém considerados como ponto
de partida.
Segundo Richardson (2008), para proporcionar maior clareza dos resultados com
profundidade, flexibilidade e demonstrar a complexidade pela interação de certas variáveis, o
método qualitativo foi adotado neste trabalho.
Este estudo caracteriza-se como exploratório, pois busca a visão geral do tipo
aproximativo dos fatos (GIL, 2002), para identificar os fatores determinantes na concessão do
crédito para as empresas em crise financeira.
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Vergara (2000) salienta que a população é um conjunto de elementos a ser tratado em
determinado estudo, sendo a amostra parte da população.
A definição da amostra, em razão do alcance dos resultados, é constituída por empresas
de Factoring e FIDC constituído à partir do Factoring localizados no estado de São Paulo, na
região da grande São Paulo e da região da grande Campinas, interior do referido estado, cuja
relevância na atuação destas empresas foi observada em contato inicial quando informado o
patrimônio líquido (PL) total e se as empresas adotavam comitê de crédito. Optou-se por não
incluir na amostra empresas que não tivessem um comitê de crédito constituído (ficando ao
encargo do principal acionista a concessão do crédito) e empresas com PL menor que R$ 100
milhões.
De acordo com os dados levantados na CVM dos FIDC e na ANFAC dos factoring, a
maior concentração de empresas deste mercado encontra-se no estado pesquisado.
84
A amostra é composta de 9 empresas de factoring, preferencialmente com FIDC, cuja
soma do PL informado durante a entrevista representa 33,26% aproximadamente da soma do
patrimônio líquido das empresas atuantes neste mercado no estado pesquisado.
Para compor a amostra, foram enviados diversos convites, entretanto, o resultado obtido
está demonstrado na tabela 13, resumindo os convites enviados, retornos obtidos e entrevistas
realizadas.
Tabela 13: Composição da amostra
Convites enviados Convites respondidos Não considerados Total da amostra
25 11 2 9
Fonte: elaborados pelo autor, com dados da pesquisa, 2015.
Embora inúmeras tentativas para aumentar a amostra, os resultados obtidos não
ultrapassaram os 44% de retorno do total de convites enviados e os 36% de amostra válida.
Acredita-se haver a dificuldade de agenda dos profissionais em detrimento da necessidade de
acompanhamento e busca por novos clientes, diante do cenário com restrição ao crédito, alto
índice de inadimplência, segundo pesquisas da Serasa e a necessidade de acompanhamento dos
clientes da carteira.
Todos os respondentes participam ativamente no processo de concessão de crédito a
partir do comitê de crédito que é composto por acionistas, geralmente 2, área comercial, área
de crédito e o gerente comercial responsável pela empresa, também conhecida como “conta”,
que pleiteia a aprovação do crédito para operar. Segundo os respondentes, esse modelo é
comum a todos que responderam à pesquisa, tendo o dia de reunião entre as quintas-feiras e as
sextas-feiras de cada semana na grande maioria e, às segunda-feira, para poucas empresas. O
processo de expediente para comitê, como é denominado pela maioria dos respondentes, é a
preparação das informações dos clientes que serão levados ao comitê. Assim sendo, inicia-se
no dia anterior à reunião de comitê, tendo o dia de comitê reservado para a análise e tomada de
decisões.
O resumo do perfil dos respondentes, tamanho da empresa, representado pelo ativo total
e a localização está demonstrado na tabela 14.
85
Tabela 14: Perfil dos respondentes
Indivíduo Sexo Idade Ensino Pós
graduado
Tempo
Empresa
Tempo
Mercado Cargo Ocupado
Comitê de
crédito
Ativo Total
(milhões) Local
R1 M 36 Superior Sim 10 10 Gerente Geral
Plataforma Votante R$ 750 Capital
R2 M 60 Superior Sim 10 40 Superintendente
de Plataforma Votante R$ 700 Capital
R3 M 43 Superior Sim 5 20 Superintendente
de Plataforma Votante R$ 1.100 Capital
R4 M 63 Superior Sim 2 35 Diretor Crédito Votante R$ 140 Interior
R5 M 58 Superior Sim Fundador 30 Diretor Presidente Votante R$ 140 Capital
R6 M 40 Superior Sim 5 26 Gerente Crédito Votante R$ 450 Interior
R7 M 52 Superior Sim 0,3 30 Gerente
Plataforma Votante R$ 750 Capital
R8 M 32 Superior Sim 5 15 Diretor Crédito Votante R$ 350 Capital
R9 M 40 Superior Não 3 20 Gerente Crédito Votante R$ 110 Capital
Total do ativo das empresas: R$ 4.490
Fonte: Elaborado pelo autor, com dados da pesquisa, 2015.
Observa-se que a informação do ativo foi obtida durante a entrevista por não ser possível
confirmar as informações publicamente. Em pesquisa realizada na CVM, as informações não
retratavam os valores informados pelos respondentes, portanto, adotou-se a informação
coletada durante a entrevista para determinar o tamanho do ativo total para fins deste trabalho.
4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Para pesquisa qualitativa, os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais
e semiestruturadas, com membros votantes no comitê de crédito, também conhecida como
assistemática ou livre, conforme explica Lakatos e Marconi (2011). Optou-se por entrevistas
semiestruturadas para possibilitar o alinhamento da pesquisa entre os participantes, obtendo
maior profundidade nas informações coletadas.
Após o contato inicial com a empresa a ser pesquisada, para identificar se adotava ou
não o comitê de crédito, buscou-se estabelecer contato com o diretor da área de crédito ou
pessoa de influência na organização e atuante no comitê de crédito como votante. A alternativa
ao diretor de crédito se deu em razão da dificuldade de agenda dos profissionais de crédito face
à responsabilidade inerente ao cargo e à função.
Para confirmar a entrevista, foi enviado e-mail aos respondentes, contendo um modelo
de carta-convite, explicando o teor da pesquisa, os meios para que esta pudesse ser realizada,
seja presencial, por Skype ou por telefone, deixando à disponibilidade e ou à comodidade das
pessoas, observando a aplicação e o sigilo do material coletado. Em alguns casos, no contato
inicial, foi possível obter a entrevista sem que houvesse a necessidade de envio de e-mail.
86
O roteiro utilizado nas entrevistas contém 8 perguntas do tipo aberta aplicadas
sequencialmente a todos os respondentes, na mesma ordem, ou seja, adotou-se um padrão para
a realização da entrevista, possibilitando a homogeneidade da coleta dos dados.
Segundo Bardin (2007) e Silverman (2001), a homogeneidade das informações
possibilita melhores resultados bem com a padronização no processo de análise.
As perguntas elaboradas seguiram, de acordo com o objetivo geral que motivou este
trabalho e os objetivos específicos, de forma a compreender os possíveis determinantes na
concessão do crédito. O funcionamento do comitê, levantamento e preparação das informações
que antecedem a reunião não foram abordados por entender-se que cada empresa adota critérios
específicos para este procedimento.
Perera (1998) explica que as informações colecionadas contribuem para o
esclarecimento e o alinhamento da decisão, acerca do crédito, com os interesses da empresa,
tendo as reuniões como veículo para exposição dos interesses, tendo como o pano de fundo as
informações já compiladas em relatórios, antecipando os pontos de vista e a conveniência
desejada.
Optou-se por entrevistar os respondentes, não se valendo do envio de questionário, o
que dificultou o processo de coleta de dados, face à conciliação da agenda de compromissos
dos entrevistados. O roteiro da entrevista foi desenvolvido no formato de perguntas abertas e o
que se espera obter de conhecimento pelas respostas está apresentado abaixo, na mesma ordem
em que foi conduzida aos respondentes.
Questão nº 1: Há indicação do factoring e ou FIDC na orientação à empresa-cliente
quanto à decisão de opção por processo de recuperação judicial ou acordo informal?
Esperava-se obter dados para compreender se há influência da empresa fornecedora de
crédito perante a empresa-cliente no momento da concessão e se tal influência é determinante
em algum momento ou mesmo na decisão da empresa-cliente em fazer acordo fora dos tribunais
com os fornecedores, tendo o comprador dos direitos creditórios como garantidor do recurso
para tal feito.
87
Questão nº 2: Em que momento é identificada a situação econômico financeira da
empresa-cliente?
Objetivou-se conhecer os meios utilizados para levantar as informações financeiras das
empresas em crise, diante do pressuposto da assimetria da informação e da necessidade do
crédito.
Questão nº 3: Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o
factoring e/ou FIDC analisa a possibilidade de concessão de crédito? Se sim, quais os meios?
Pressupõe-se que a fase inicial do processo de recuperação da empresa em crise, seja na
esfera judicial ou extrajudicial, é o momento delicado para o processo de crédito, em que a
empresa em crise, possivelmente, está fragilizada e, portanto, conhecer o meio utilizado para
viabilizar ou não a concessão de recursos possibilitou conhecer a prática de atuação do mercado.
Questão nº 4: Qual a importância do histórico da empresa-cliente no processo de
concessão de crédito?
Buscou-se compreender se o comportamento da empresa-cliente ou cedente dos direitos
creditórios, ao longo de um período, geralmente 3 últimos exercícios fiscais, influencia a
decisão de crédito.
Questão nº 5: Considerando o Trust um serviço do factoring, aplica-se ao FIDC?
As empresas, em sua grande maioria, originárias do factoring, podem se valer da
prestação de serviços como veículo de aquisição de direitos créditos com melhores taxas ou
88
este mecanismo não é possível de ser utilizado devido a algum tipo de restrição. Buscou-se
conhecer a prática das empresas pesquisadas.
Questão nº 6: Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para
empresas-clientes em dificuldade?
A partir da prática do mercado, esta questão foi desenvolvida com o objetivo de elucidar
eventual interferência, participação ou influência de um terceiro como possível garantidor ou
facilitador do crédito cedido às empresas em crise.
Questão nº 7: Quais as informações utilizadas no processo de análise de crédito?
Pretende-se que o resultado apresente alguma característica peculiar para a obtenção de
informações em empresas em crise que permita decidir ou direcionar a concessão do crédito.
Esta questão foi aplicada, pensando em uma possível confirmação da questão nº 2 e parte da
questão nº 3.
Questão nº 8: Na sua percepção, quantas empresas em dificuldade financeira ou em
processo de RJ revertem a situação?
Por se tratar de empresas em crise financeira, com a possível dependência de capital de
terceiros para fomentar as operações, esta questão foi aplicada para analisar a sensibilidade do
comitê de crédito quanto às empresas em crise da própria carteira do respondente ou de
experiências em outras empresas ou instituições financeiras.
Foram realizadas entrevistas com 9 indivíduos, que serão chamados de respondentes e
codificados de R1 a R9 para preservar o sigilo, que representam as respectivas empresas de
Factoring e FIDC, com participação ativa no comitê de crédito para concessão de crédito a
clientes em geral. As entrevistas tiveram a duração média de 23 minutos sendo que, para a
89
coleta dos dados, foi utilizado gravador, exceto em alguns casos, para registro dos dados
coletados, possibilitando a transcrição posteriormente para a análise de acordo com a tabela 15.
Tabela 15: Entrevistas realizadas – data, duração, meio, local, tempo médio
Respondente Data Duração Entrevista Meio Local Tempo total Gravada
R1 10.04.2015 28 Presencial No respondente 1h00 Não
R2 14.04.2015 25 Presencial No respondente 1h15min. Não
R3 24.04.2015 15 Presencial Onde trabalho 1h10min. Sim
R4 09.05.2015 15 Presencial Onde trabalho 1h00min. Não
R5 12.05.2015 21 Fone Onde trabalho 30min. Sim
R6 14.05.2015 12 Presencial Onde trabalho 1h30min. Sim
R7 02.06.2015 31 Fone Onde trabalho 40 min. Sim
R8 03.06.2015 26 Fone Onde trabalho 30min. Sim
R9 05.06.2015 34 Fone Onde trabalho 40min. Sim
Fonte: elaborado pelo autor, a partir dos dados da pesquisa, 2015.
Flick (2007) observa que o uso de equipamento de gravação permite que a
documentação permaneça independente das perspectivas do pesquisador, obtendo um registro
natural. Entretanto, anotações devem ser feitas imediatamente após a entrevista, com o mesmo
rigor das gravações, possibilitando a distinção entre o que foi observado e a transcrição. O
referido autor observa, ainda, que o processo de transcrição não necessita do rigor na exatidão
que exceda a questão de pesquisa.
Das 9 entrevistas realizadas, apenas 3 não foram autorizadas para gravar, pois, os
indivíduos, com cargos de alto escalão, superintendentes e diretores com subordinação direta
ao acionista das empresas não se sentiram confortáveis com o registro das informações, mesmo
diante da confidencialidade e sigilo da pesquisa informados no início da conversa.
Nestes casos, as entrevistas foram realizadas com anotações durante 15 minutos,
aproximadamente e, ao término, reservaram-se cerca de 10 minutos para que fosse possível
concluir todas as anotações obtidas na entrevista. Os indivíduos foram selecionados,
respeitando o critério de participação ativa no comitê de crédito, sem reservas quanto ao tempo
de trabalho na empresa, idade, sexo, e experiência de mercado e na função atual, bem como
escolaridade.
Segundo Gil (2002), a forma mais confiável de reproduzir as respostas é fazer o registro
durante a entrevista, pelas anotações, ou logo após a conclusão da entrevista.
De acordo com Richardson (2008), entrevista é uma técnica que permite a aproximação
entre pessoas de forma que a informação transmitida seja captada em seus detalhes, não se
90
limitando às percepções do pesquisador. A entrevista semiestruturada com perguntas abertas
foi adotada para possibilitar maior flexibilidade durante a coleta dos dados.
4.4 TRATAMENTO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo traz o procedimento que foi adotado para o tratamento dos dados coletados
nas entrevistas, adotando-se o método qualitativo.
Os resultados são apresentados e analisados após o capítulo do tratamento dos dados a
seguir.
4.4.1 Tratamento dos dados
Para que fosse possível analisar os dados coletados, dados qualitativos, após a
transcrição das entrevistas, no formulário do Apêndice B, desenvolvido especificamente para
reunir as informações dos respondentes e a coleta dos dados com as observações, optou-se pela
análise de conteúdo.
De acordo com Bardin (2007), Richardson (2008) e Strauss (2008), para que a análise
de conteúdo seja possível, é necessário organizar o material coletado, analisar os elementos e
as regras que os determinam tornando eficaz, rigorosa e precisa a análise dos resultados,
aprofundando e extraindo os pontos mais importantes. Portanto, os 3 passos importantes para o
tratamento dos dados são: organizar o material coletado, explorar e tratar as informações e
interpretar os resultados, baseando-se na teoria e servindo de macro explicação para as
descobertas.
Portanto, após os dados terem sidos transcritos na íntegra nos respectivos formulários
com as observações durante as entrevistas, foram codificados com a letra “R”, seguida de
número sequencial, R1, R2, R3, R4, R5, R6, R7, R8 e R9, classificados e categorizados, numa
planilha eletrônica. Optou-se por não utilizar o software Nvivo®, em razão do tamanho da
amostra.
O primeiro passo, a organização, deu-se com a transcrição das entrevistas nos
formulários específicos, identificando os respondentes e as empresas, mantendo as
informações, de acordo com a gravação do áudio e com as anotações para as entrevistas que
não foram gravadas. A transcrição foi feita sem que houvesse alterações ou correções,
preservando a originalidade das informações. O formulário pode ser observado no apêndice.
91
O segundo passo, a exploração e o tratamento das informações, foi realizado de acordo
com planilha eletrônica, agrupando cuidadosamente as informações dos respondentes para cada
questão da entrevista, ou seja, os principais trechos ou de maior relevância, foram agrupados
um ao lado do outro, em linha, permitindo a compreensão e a comparação das informações
coletadas.
O terceiro passo e o último passo, a interpretação, extraíram-se das análises das
informações as categorias dos respondentes para cada questão, possibilitando compreender com
maior exatidão o resultado do roteiro das entrevistas.
4.4.2 Análise dos resultados
A organização e exploração das informações obtidas nas entrevistas e posterior análise
de conteúdo possibilitaram a compreensão da forma de pensar, de decidir e perceber o risco e
a viabilidade ou não de determinado negócio, perante o comitê de crédito representado pelo
respondente das empresas entrevistadas.
Das e Teng (2001) explicam que o risco muitas vezes é conceituado como variações nos
resultados, cuja importância interfere na tomada de decisão, sendo mais associado a perdas
potenciais do que associado a ganhos.
O conhecimento acumulado em virtude da vivência e experiência dos comitês, pela
constante troca de informações entre bancos, factoring, FIDC, securitizadoras, consultas ao
Serasa, consultas ao mercado, possibilita moldar o perfil do cliente tomador de crédito.
Durante as entrevistas, identificou-se que a maioria dos entrevistados vieram de
instituições financeiras de grande e médio porte, cuja experiência, em média, excede 15 anos
de trabalho em crédito. Apenas o respondente R1 identificou-se como vindo do mercado não-
financeiro, tendo a carreira construída dentro do FIDC, onde trabalhava há 10 anos.
Segundo o respondente codificado como R6, “as factoring e FIDC estão passando por
um processo de profissionalização por estarem recebendo profissionais desses bancos que estão
fechando”, ou seja, o processo de aprendizado e aprimoramento do mercado de FIDC, pela
constituição e adoção de comitê de crédito, é um passo importante para que, segundo o
respondente R6, “estes profissionais tragam para o factoring e FIDC a cultura e o rigor de um
banco que é regulado e controlado, acima de tudo pelo BCB, mas que, embora não se aplique
ao factoring e FIDC, os processos contribuem para a profissionalização do mercado”.
Neste ponto, pode-se inferir que a “profissionalização do mercado” se assemelha à
padronização dos métodos de trabalho utilizados pelos comitês de crédito por adotar
92
procedimentos semelhantes aos bancos, porém adaptados ao mercado e ao perfil de cada
negócio.
Os comitês de crédito no exercício de suas funções passam por pressões contraditórias
diante da necessidade do cumprimento de metas de crescimento, aumento do ativo pela
aquisição de recebíveis, ou da cessão dos direitos creditórios, seja de novos clientes, seja por
aumento de risco no cliente da carteira, e da necessidade de mitigar a possibilidade de perda
dos ativos com avaliações cada vez mais criteriosas e amparadas por informações abundantes
do mercado.
Por se tratar de empresas em crise financeira, a predisposição ao risco torna-se menor
em dados momentos, segundo R1, R2, R3, R9 há a necessidade de emprestar o dinheiro, ou de
acordo com a expressão utilizada neste mercado vender o dinheiro, mas, consideram que
determinados momentos é preferível não participar em um cliente, a ter que assumir perdas
irrecuperáveis, mesmo que implique no não-cumprimento da meta. Atuar neste mercado é
fundamental para que possa remunerar o capital investido, manter o crescimento e a
participação de mercado, explica R2.
Verifica-se a adoção dos 5Cs do crédito, embora o acesso ao colateral fique prejudicado
para empresas em dificuldade financeira dada as limitações impostas pela própria situação em
que se encontra e que, muitas vezes, não dispõe de bens para ofertar ou lastrear determinada
operação de crédito com garantia real.
De acordo com Silva (2006), garantias reais são aquelas que vinculam ao pagamento de
determinada dívida ativos tangíveis como imóvel, veículo, máquina, equipamento, por
exemplo, criando um comprometimento legal entre o bem e o crédito concedido, viabilizando
a recuperação do recurso cedido pela alienação do ativo garantido, enquanto as garantias
pessoais vinculam o patrimônio do garantidor.
Ainda, segundo o referido autor, o meio mais utilizado é a alienação fiduciária, que
consiste na vinculação de bens móveis, tais como máquinas, veículos, equipamentos, dentre
outros, para lastrear o pagamento da dívida, transferindo ao credor o domínio do bem, embora
a posse permaneça com o devedor.
O caráter aparece como um ponto de destaque, sendo percebido na figura do principal
acionista e na forma como a empresa cliente conduz suas ações no dia a dia, forjando a cultura
da empresa. Portanto, pode ser considerado um direcionador para um parecer mais favorável
ou não, dependendo do histórico do comportamento e da forma de agir do empresário que, por
sua vez, é absorvido por membros da própria empresa.
93
Nota-se que o perfil da empresa cliente é desenvolvido a partir de experiências passadas
e acumuladas, das informações apuradas do histórico da empresa cliente pelos membros do
comitê de crédito, construindo, portanto, as dimensões da competência e a capacidade
cognitiva, de acordo com McAllistet (1995) e Das e Teng (2001).
Definido pela percepção dos agentes presentes no comitê, o crédito é formado a partir
das informações financeiras, não-financeiras e do histórico das operações realizadas pelo
tomador do recurso que, se bem-sucedidas, constituem em fatores positivos durante a análise e
o processo de concessão do crédito, formatando uma possibilidade de conhecer e estabelecer
certa confiança na empresa.
Ao que parece, a confiança é construída a partir do histórico positivo das operações
realizadas anteriormente. Enquanto o risco percebido é diminuído, mas não reduz o risco atual,
inerente do relacionamento entre as partes, porque a confiança é a expectativa de perda
reduzida, conforme explica Das e Teng (2001).
Diante do pressuposto da fragilidade das informações dos demonstrativos contábeis,
fiscais e financeiros fornecidos pela empresa-cliente que, por vezes, não retratam a realidade
do cenário atual, torna-se imprescindível a constatação, por vias secundárias, das informações
prestadas, conforme exposto por todos os respondentes desta pesquisa.
Alguns FIDCs consideram a predisposição ao risco como forma de ajudar a empresa a
se recuperar da crise, manifestando a preocupação do impacto social que uma possível
liquidação ou falência possa causar em determinada região, face à geração de emprego da
empresa, conforme foi observado pelo respondente R3. Entretanto, não ignoram o cenário
econômico-financeiro em que a empresa se encontra, ou seja, limitam-se ao parecer do comitê,
demonstrando apenas a inclinação à concessão do crédito.
A análise dos resultados está estruturada da seguinte maneira: (i) o tema que está
representado por 8 questões do roteiro da entrevista, e (ii) as informações tabuladas em linha
após terem sido categorizadas, demonstrando a percepção dos respondentes na concessão do
crédito para as empresas em crises, conforme demonstrado abaixo:
94
Quando perguntado se havia indicação do Factoring/FIDC na orientação à empresa-
cliente quanto à decisão de opção por processo de Recuperação Judicial ou Acordo Informal, a
maioria dos respondentes confirmaram exercer influência na tomada de decisão do empresário
ou pessoa que o represente quanto à opção por uma recuperação judicial ou “recuperação
profissional”, também conhecida no mercado como “recuperação branca” que é a renegociação
da dívida com os credores sem a adoção do poder judiciário, neste caso, representado pela lei
11.101/05, eliminando as despesas com o administrador judicial, o advogado, o consultor, os
peritos e outros quantos forem necessários.
A necessidade de recurso para manter a empresa funcionando é o ponto alto quando se
aborda, com o empresário, o meio que será adotado no processo de recuperação da empresa.
De acordo com o quadro 10.
Conclusão parcial: a viabilidade da empresa se mostra vital para o aconselhamento do
meio de recuperação e ser adotado permitindo que a decisão do empresário sofra influência do
caminho a ser adotado. Embora haja influência, os resultados demonstraram que não são todos
os casos em que é possível tal abordagem no início do relacionamento com o cliente, mas que
tal possibilidade vai tornando-se mais evidente à medida que as dificuldades do empresário vão
aumentando e a necessidade de capital também.
Quadro 10: Questão nº 1
Qu
estã
o n
º 1
R1 R2 R3 R4 R5 R6
O factoring
exerce
influência na
escolha da
esfera judicial
desde que
constatado
que a empresa
consiga
manter o
plano.
A influência na
decisão de RJ
ou extrajudicial
sempre
acontece,
[...]recomenda
mos a RJ
branca[...]mes-
mo assim a
empresa entra
com a
recuperação.
Um FIDC que
entende o
mercado de
recuperação
como uma
forma de
recuperar a
empresa, então
a gente
participa mesmo do
processo
Sim,
sugerimos a
recuperação
[...] nós
fazemos o
aconselha-
mento quanto
ao meio de
recuperação a
ser adotado
pelo cliente ou
potencial
cliente.
Geralmente
indica o
consultor
quando você já
tem um
problema de
credito na
empresa
Então, nós não
orientamos,
assim, a
empresa a pedir
a RJ...
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
Questão 1: Há indicação do Factoring/FIDC na orientação à empresa-cliente quanto
à decisão de opção por processo de Recuperação Judicial ou Acordo Informal?
95
A situação econômico-financeira da empresa cliente é percebida, segundo análise dos
dados, na abordagem inicial com o cliente. Embora haja certa resistência do empresário em
dizer - de forma clara - qual o tamanho do problema ou mesmo que a empresa que fundou ou
herdou de gerações passadas não é mais viável.
Os respondentes têm a mesma percepção de que o empresário demora a reconhecer o
problema, muitas vezes por não admitir a necessidade de ajuda ou mesmo por receio da
exposição ao mercado, familiares e amigos. E, neste caso, o cenário demora a ser conhecido,
mesmo diante do esforço na coleta de informações com o cliente, com o mercado (clientes e
fornecedores), da Serasa e dos bancos. De acordo com o quadro 11.
Conclusão parcial: na visão do comitê de crédito, a capacidade de geração de caixa é
primordial para a tomada de decisão. Por meio do endividamento conhecer-se-á o
comprometimento da renda e o fluxo de caixa, portanto, conhecer a capacidade de pagamento
real da empresa-cliente, mesmo diante da aquisição de crédito de terceiro, por cessão de direito
creditório, é importante. O balanço patrimonial e o demonstrativo de resultado do exercício,
embora considerado por todos os respondentes importantes, apresentam-se pouco eficientes até
o momento.
Entretanto, permite, ao comitê de crédito, análises quanto ao endividamento, ao
comprometimento da receita, se as informações obtidas no mercado e na empresa são
consistentes ou se houver indícios de informações de origem duvidosa no balanço e demais
demonstrativos financeiros.
O cruzamento de todas as informações contábeis, financeiras e gerenciais, demonstra ao
crédito o perfil do acionista ou do principal executivo da empresa de forma que o histórico
possa ser construído, comparado e, então, definir o caráter da empresa.
Considerado por todos os respondentes como ponto alto no processo de concessão de
crédito, o caráter tem relevância nas decisões colegiadas do comitê.
Questão 2: Em que momento é identificada a situação econômico-financeira da
empresa cliente?
96
Quadro 11: Questão nº 2
Qu
estã
o n
º 2
R1 R2 R3 R4 R8
Identifica quando a
empresa
chega,
estando em RJ
ou em vias de
entrar em
RJ[...]Neste
momento, é
feito análise
Identificar o
ponto exato de
estrangulamen
to do caixa e
qual o tamanho
do problema.
Qual é a
realidade do
tamanho do
buraco e o
porquê ocorreu?
A gente tem
alguns sinais
de que a
empresa, é, de
que o
empresário
precisa de
ajuda,
[...]porque a
recuperação ela
é, é visto, ainda
tem muito, é,
preconceito
[...]o processo
de recuperação
é bem recente,
e... enfim
(pausa), a gente
analisa com
bons olhos.
Situação
cadastral,
Serasa
[...]levanta as
informações
gerenciais e
fluxo de caixa,
sem o Balanço
e DRE, [...]há
ou não a
possibilidade de
continuidade
do cliente são
fundamentais
para formar o
perfil do risco
Quadro
restritivo, é,
queda no
faturamento,
prejuízos
constantes, nos
3 últimos
períodos, que
mais, é,
alavancagem
financeira, e
ciclo de caixa
descasado, pré-
faturamento é
ponto chave,
sim.
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o Factoring/FIDC
analisa a possibilidade de concessão de crédito pelo histórico da empresa, da capacidade de
geração de caixa, da imagem com os clientes, da pontualidade nas entregas, da figura do dono
no comando da empresa, do plano de recuperação aprovado ou aguardando a aprovação do juiz
e na qualidade dos resultados apresentados e das projeções informadas no plano de RJ.
Ainda que os respondentes considerem a qualidade dos recursos não-financeiros, tais
como a situação do chão de fábrica percebida pela qualidade e pela tecnologia empregada no
processo produtivo, por exemplo, se a empresa não faz manutenção apresentando-se obsoleta,
não tem capacidade produtiva instalada, não tem mão de obra adequada à necessidade, o comitê
tende a recusar o crédito por entender que não haverá a possibilidade da continuidade do
negócio.
Outra consideração apresentada por todos os respondentes é de que quando se tratar de
empresas em processo de RJ, deve-se analisar: (i) se a empresa já é cliente e pretende ingressar
com o plano de RJ, (ii) se a empresa é um cliente novo e está em RJ e em que fase do processo,
(iii) se a empresa se apresentar com a necessidade de um parceiro fomentador para ingressar na
RJ, ainda que não seja cliente.
Questão 3: Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o
Factoring/FIDC analisa a possibilidade de concessão de crédito? Se sim, quais os meios?
97
A primeira análise, (i) se a empresa já é cliente e pretende ingressar com o plano de RJ,
o fomentador de crédito analisará a possibilidade de ser o parceiro desta empresa cliente,
fomentando as operações de crédito a partir do momento em que a empresa iniciar a preparação
para a petição inicial, ou seja, se a empresa mostrar-se pela análise de crédito, operacional,
produzindo e embarcando os produtos, há grande possibilidade do FIDC ser parceiro durante
este processo, desde que não entre na RJ com os recursos alocados na empresa em crise.
A segunda análise, (ii) se a empresa é um cliente novo e está em RJ e em que fase do
processo; se a empresa estiver em fase de aprovação do plano de recuperação, ou seja, entre o
ingresso com a petição inicial e a homologação do plano pelo juiz, o crédito fica restrito, o que
significa que a maioria dos respondentes informam que não participam da concessão de crédito
para estas empresas, a menos que tenha sido previamente acordado com a empresa em crise e
que esta tenha informado o FIDC de que optaria pela RJ e necessitaria do parceiro para fomentar
o crédito. Contudo, se a empresa estiver em fase do plano aprovado, ou seja, homologado pelo
juiz, o crédito analisará o plano de recuperação, a qualidade das duplicatas dos sacados, a
capacidade produtiva e o caráter do acionista, dentre outras análises. Estando a empresa em
condições de ser aprovada pelo crédito, existe a possibilidade de conceder crédito para a
empresa. Em alguns casos, identificou-se que os fomentadores operam com as empresas durante
o período de carência do plano de recuperação judicial e revendo ou encerrando o crédito, após
o término da carência quando identificado, por certos respondentes, que as empresas entraram
em RJ e não conseguirão cumprir o plano.
A terceira análise, (iii) se a empresa se apresentar com a necessidade de um parceiro
fomentador para ingressar na RJ ainda que não seja cliente; neste caso, o fomentador de crédito
assume o papel de parceiro, como observado por R8 “na parceria somos o pilar, a pilastra,
fomentando com dinheiro” o processo de recuperação da empresa. De acordo com o quadro 12.
Conclusão parcial: durante o processo de aprovação do plano, o crédito avalia apenas
operações de compra de direitos creditórios, não sendo possível a liberação de linha sem
garantia, ou garantia por avalista ou aval que, no mercado, é conhecido como operação clean.
Após a aprovação do plano, pela homologação do juiz, o crédito reavalia a condição do cliente.
Embora se tenha percebido que entre todos os respondentes é comum a prática de fomento até
o início do pagamento do plano, em que é observado o aumento do risco percebido no cliente.
A obsolescência fabril e tecnológica identificada pelos recursos não-financeiros e o mau
histórico da empresa-cliente seriam pontos desfavoráveis para a análise do comitê de crédito.
98
Também observa-se a prática da aquisição de créditos das empresas-clientes durante o
processo de homologação do plano de recuperação judicial, mediante a qualidade dos títulos do
sacado, o mercado em que o sacado e a empresa cedente atuam e o formato da operação a ser
aprovada.
Evidencia-se - entre os respondentes - a preferência por operar, após a homologação da
RJ até o término da carência, em que a percepção do risco percebido é novamente modificado,
na visão do crédito, devido ao aumento do endividamento pelo pagamento da dívida
renegociada.
A prática de adoção de parceira também foi constatada entre todos os respondentes,
exceto R9, que busca operar com clientes em fase de plano homologado apenas.
Quadro 12: Questão nº 3
Qu
estã
o n
º 3
R1 R2 R3 R4 R9
[...]de acordo
com o
histórico da
empresa,
[...]Há a
indicação sim da melhor
maneira que
possa mitigar
os riscos para
a factoring,
seja pela RJ
ou acordo
informal
Se a empresa
gerar caixa para saldar a
dívida a
possibilidade de
assumir o risco
é grande.
[...]vai querer
saber se você
está
entregando,
como é que
está entregando
como é que
você está de
funding.
[...]mas se o
cliente se
apresentar com
o dono da
empresa, é
possível
analisar e
conceder o
crédito. [...] A
garantia real é
um ponto forte
para a abertura
do crédito.
Ideal termos o
plano, ou no
mínimo quando
tá dentro do 60
dias de
elaboração do
mesmo, e
quanto está na
RJ, e como será
o cenário de
pedido do
plano
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
A importância do histórico da empresa-cliente no processo de concessão de crédito se
apresenta em destaque entre os respondentes. Demonstrado no quadro 13.
Os resultados apontam para o caráter da empresa que é reproduzido por seu histórico e
comportamento no mercado. A condição em que a empresa se encontra que, muitas vezes, não
se conhece ou não se sabe qual a situação real que a levou à crise, ou mesmo pelo empresário
não reconhecer que existe um problema, segundo os respondentes, muito observado em
Questão 4: Qual a importância do histórico da empresa cliente no processo de
concessão de crédito?
99
empresas familiares de médio porte com ou sem processo sucessório; e, em empresas, cujo
processo sucessório, na visão dos respondentes, não foi bem elaborado.
Queda nas vendas, aumento da concorrência, má gestão, controle financeiro
inadequado, elevada estrutura de custos, são possíveis causas do declínio, segundo Slatter e
Lovett (2009).
O feeling, palavra no idioma inglês, aparece entre a maioria dos respondentes na figura
específica de um indivíduo, diretor ou acionista votante no comitê de crédito, que visita todos
os clientes e tem a capacidade de compreender o cenário em que a empresa-cliente se encontra
pela percepção ou experiências anteriores.
A capacidade de sentir determinada situação, a percepção, a sensibilidade, o sentimento
intuitivo, o pressentimento, o presságio, a suspeita, definem o feeling, segundo a literatura.
A construção da confiança na empresa-cliente começa a partir do comportamento no
mercado, ou seja, se o comitê de crédito identificar que o potencial cliente tem situações
duvidosas ou que a capacidade de gestão da empresa é passível de questionamentos que
excedam os limites da normalidade, tais como:
a) se a empresa cliente emitir título de origem duvidosa, conhecido no
mercado como título frio, que significa a emissão de duplicata
mercantil, sem a confirmação da entrega da mercadoria no destino;
b) se a empresa cliente fizer pré-faturamento, obtido pela emissão da
duplicata mercantil quando do recebimento do pedido de compra de
mercadoria de seu cliente (sacado) e ofertado ao FIDC, como cessão de
direito creditório, sem que haja a produção do produto vendido;
c) se o posicionamento, know how, do acionista da empresa cliente, no que
diz respeito a conhecer o mercado em que atua, seja por pioneirismo,
seja por sucessões familiares, não for percebido.
Conclusão parcial: segundo os respondentes, haverá o declínio da proposta de crédito,
antes mesmo do envio da empresa para apreciação do comitê. Ao que parece, é crucial na
avaliação do processo de concessão de crédito, a verificação da regularidade das operações da
empresa e do caráter do empresário e seus executivos.
Constata-se que o feeling tem relevância na percepção de que a empresa-cliente terá
condições de honrar o compromisso assumido na cessão do crédito.
100
Formado pelo acúmulo de experiências ao longo do tempo e pela vivência no mercado,
o feeling se apresenta como meio importante para R1, R2, R3, R6 e R8, de mitigar risco, de
conhecer o cliente e definir o perfil da empresa tomadora do recurso.
Segundo McAllister (1995), a confiança interpessoal é a medida em que uma pessoa
está confiante e disposta a agir com base, nas palavras, nas ações e nas decisões de outro. Às
vezes, a confiança de um indivíduo em outros está centrada mais sobre a forma como eles
tomam decisões, abrangendo não apenas as crenças das pessoas sobre os outros, mas também
a sua vontade de usar esse conhecimento como base para a ação.
Embora essa prática, de feeling, não tenha sido percebida no respondente R9, cujo tempo
da empresa no mercado é de apenas 3 anos, ainda que supostamente ainda não tenha se
percebida a necessidade ou aplicação deste recurso.
Para auxiliar na elaboração do perfil dos sócios das empresas-clientes, segundo o
respondente R9, o uso das redes sociais tem contribuído para se conhecer os hábitos e os
costumes dos sócios e executivos da empresa-cliente, possibilitando a aproximação da realidade
em que a empresa se encontra, ou mesmo observando a percepção dos executivos quanto à
realidade da empresa.
Quadro 13: Questão nº 4
Qu
estã
o n
º 4
R1 R2 R4 R8 R9
Quando o
histórico do
cliente é ruim
o cenário
muda, por
exemplo,
duplicata fria,
alto
endividamen-
to,
investimentos
errados,
garantias
tomadas,
empresa sem
controle, o
crédito é
negado e a
factoring
sugere a RJ para a
empresa.
Toda operação
nova é
prechecada, se
a informação de
30% do sacado
for primeira
compra do
cliente devedor
agente cai fora,
não liberamos o
crédito e
encerramos o
contrato.
O histórico do
próprio sócio,
a origem, como
entende o
mercado dele,
o middle
market tem o
patrimônio
como peça-
chave para o
negócio.
– histórico:
extremamente
importante o
caráter, são os
5 c dos credito,
levo muito em
consideração, o
principal C do
credito,
O histórico
interno é muito
importante uns
80%.
[...]temos um
sistema muito
bem elaborado
onde utilizamos
e verificamos o
que o cara
liquidou nesse
período, como
ele liquidou, se
ele tinha um
pedaço de linha
clean, se ele
liquidou em dia
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
101
Constatou-se que o Trust, uma prestação de serviço do factoring na cogestão da
empresa-cliente, na realização de cobrança e aprovação de crédito, não se aplica à maioria dos
FIDCs, face aos dados obtidos da análise e às condições pelas quais são impostas às empresas-
clientes. Assumir a prerrogativa de que o caixa da empresa deve estar à disposição do FIDC
não demonstra a percepção da maioria dos respondentes, portanto, não se vincula a um possível
determinante para a concessão do crédito.
Segundo a maioria dos respondentes, embora utilizado no mercado, o Trust é viável
quando há a necessidade de recuperar um recurso financeiro com potencial risco de perda em
determinado cliente, mas, neste caso, a aplicação se dá exclusivamente pelo factoring, cuja
atividade social permite a adoção desta prática, demonstrado no quadro 14.
Conclusão parcial: nota-se, que o Trust não se aplica ao FIDC pela característica de
compra de recebíveis, que é a atividade principal dos fundos de investimentos, deixando apenas
a possibilidade de cogestão para o prestador de serviços.
Contudo, os FIDCs, em sua grande maioria, são oriundos dos factoring e a prática do
Trust possa ser confundida quando dentro da mesma unidade de negócio é oferecida, ao mesmo
cliente, a opção de operação pelo FIDC ou pelo factoring, de acordo com a situação do cliente.
Portanto, a cogestão e a análise de crédito não se aplicam ao fundo de investimentos,
mas evidencia-se que a prestação de serviços, realizada pela cobrança simples, está sendo
entendida como Trust em alguns casos.
Quadro 14: Questão nº 5
Qu
estã
o n
º 5
R1 R4 R9
Sempre com
decisão sobre
o caixa da
empresa
Utilizamos o
Trust como
ferramenta de
negócio diário,
cotidiano.
Sim, utilizamos
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
Questão 5: Considerando o Trust um serviço do factoring, aplica-se ao FIDC?
102
O papel dos consultores no processo de concessão de crédito para empresas-clientes em
dificuldade, entre a maioria dos respondentes se apresenta como um meio de mitigar o risco de
perda.
As análises demonstraram que a atuação do consultor se dá em duas vertentes no
processo de concessão de crédito: a primeira vertente tendo a indicação do consultor pelo FIDC
e factoring, e a segunda tendo a indicação da empresa-cliente ao FIDC pelo consultor conforme
apresentado na figura 21.
Na primeira vertente, o fundo de investimentos em direitos creditórios indica o consultor para
a empresa-cliente, com o objetivo de diagnosticar a situação da empresa, possibilitando o
diagnóstico preciso e elaborando um plano de negócios que se converterá em plano de ação
empresarial, se houver a concordância do acionista. Em casos extremos em que o risco de perda
de recurso é iminente ao FIDC, a indicação do consultor é fundamental para a recuperação do
crédito já concedido. Esta prática foi percebida entre a maioria dos respondentes, 8 no total de
9, e de acordo com o respondente R6:
" [...]geralmente indica o consultor quando você já tem um problema de crédito na empresa,
você quer recuperar esse problema de crédito, você tem que botar mais dinheiro, pra colocar
mais dinheiro você precisa de uma segurança a mais, alguém gerindo o caixa, então, na prática
acontece dessa forma, [...]quando você já tem um problema de credito e você quer recuperar
esse credito, na recuperação se precisa aportar mais, se não, você não tira o crédito antigo e
nesse momento é que as vezes as pessoas, as empresas abrem espaço pra você colocar alguém
que credibilize o caixa aí você aporta. Essa é a regra, regra do mercado. ”
Por outra vertente, o consultor também é contratado pela empresa em crise financeira
por indicação ou não do FIDC e factoring, mas, segundo o respondente R6,
“[...] não deveria ser assim, eu (empresário) deveria contratar alguém pela competência que o
cara (consultor) tem pra modificar a situação da minha empresa, mas o empresário brasileiro,
o que que ele faz, ele contrata o consultor levando junto com o consultor a capacidade que
Questão 6: Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para
empresas-clientes em dificuldade?
103
ele tem de trazer o crédito. Esse é um determinante, tá errado isso aí no mercado, em
função da capacidade do consultor em trazer o crédito”
Ou seja, com a finalidade de angariar recursos ou de facilitar o acesso ao crédito. Por
não dispor de elementos que permitam a captação de recursos, o empresário se utiliza de um
terceiro garantidor, mesmo que, para isso, lhe seja necessário delegar o controle financeiro ao
terceiro contratado pelo caixa da empresa.
O comitê de crédito, quando da possibilidade de atuar com o consultor, concede o
crédito ao consultor, tornando-o corresponsável por garantir a devolução do recurso ao FIDC.
Tal devolução é parte do processo de construção da confiança, mediante o histórico positivo,
do consultor com o fomentador do crédito por referência de trabalhos prestados e referências
positivas do mercado.
Para R9, o consultor não é de todo confiável, por exemplo, se houver mais de um FIDC
no mesmo cliente, isso é praxe do mercado, o consultor poderá privilegiar o fomentador que
lhe for mais próximo, concedendo as duplicatas em melhores condições ao fomentador próximo
do que ao outro com pouca proximidade. Demonstrado no quadro 15.
Figura 21: Papel do consultor: agente e mitigador de risco percebido
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
Broker Apresenta Empresa-
Cliente
Facilitador de
Crédito
Recuperar Crédito Diminuir a
Percepção do Risco
6- Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para
empresas-clientes em dificuldades?
Assimetria da
Informação
(diagnóstico)
REDUZ O RISCO PERCEBIDO
A G E N T E
104
Conclusão parcial: ao que parece, o papel do consultor é determinante para estabelecer
a confiança entre o tomador do crédito e o financiador, mas também se apresenta como um
agente, cujo interesse está na permanência na empresa tomadora do recurso, mantendo a
reciprocidade nos interesses do financiador do crédito.
Eisenhardt (1989) expõe que o contratante, no caso, a empresa em crise e o contratado,
agente, têm atitudes diferentes quando expostos ao risco, sendo muito difícil do contratante
controlar o contratado. O agente está engajado no comportamento cooperativo, mas tem
diferentes objetivos e diferentes atitudes em relação ao risco.
Observado por R1, R2 e R3, muitas vezes, o consultor não deixa a empresa,
permanecendo no conselho ou com a consultoria por longo tempo, mesmo a empresa tendo se
recuperado, em alguns casos, ou mesmo ciente que a empresa não conseguirá reverter o
processo de RJ ou a situação de crise, quando não optar pelo benefício da lei.
Portanto, embora o consultor assume o papel de redutor do risco percebido pelo
fomentador de crédito, ele também se apresenta com interesses próprios, mas não somente no
processo de recuperação da empresa, mas como meio de viabilizar o crédito para empresa em
crise, meio de recuperar o crédito para o fomentador e obter benefícios.
É comum entre os respondentes a suspensão ou a diminuição do crédito quando da saída
do consultor da empresa, fomentada pela percepção do aumento ou perda do controle sobre o
risco percebido.
Quadro 15: Questão nº 6
Qu
estã
o n
º 6
R1 R2 R3 R4 R5 R8
[...]consultor
para
diagnóstico e
elaboração do
plano de ação [...]Os
consultores
(gestores de
projeto) são
veículos de
aquisição de
novos
clientes.
O consultor
traz negócios e
recebe
negócios, ou
chamamos o
consultor ou ele
se apresenta
com uma
empresa que
não
conhecemos
ainda. Neste
caso, o crédito
é do consultor, mas claro que
cobramos a
empresa.
É importante o
papel dos
consultores?
sim,
importantíssi-
mo, é (pausa),
se (pausa),
dependendo,
normalmente o
consultor
agrega
qualidade ao
material que
nosso comitê
credito vai tá
analisando,
O consultor, na
maioria dos
casos, é
indicação do
FIDC. [...], tem
que ser de
confiança, pois
o crédito é do
consultor, mas
é baseado na
empresa que
recebe a
consultoria. É
um misto, o
consultor tem o
crédito conosco
como forma de
viabilizar o
negócio, mas
tem que
devolver caso
contrário ele se
queima.
É credibilizar
que aquele
papel que está
sendo
adquirido pelos
fundos, aquele
papel tá
performado, é
isso que,
basicamente é
credibilizar o
papel.
Avaliamos o
consultor
sucesso,
sucesso
passado,
projetos que
você indicou e
realmente ele
teve, teve um
favorável,
favorável que
eu falo assim,
ele entrou e
arrumou a
empresa, é
reputação dele
de mercado,
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
105
As informações utilizadas no processo de análise de crédito se apresentam
fundamentadas nos meios circulantes, no custo do material vendido (CMV), na imagem que a
empresa tem no mercado, no histórico, no segmento em que atua, no perfil da venda, na
qualidade das duplicatas que serão adquiridas por cessão de crédito. Foi observado que não há
uma regra única ou um modelo de análise padrão aplicado pelos respondentes. Mas todos
demonstraram que a utilização de meios circulantes é crucial na tomada de decisão, face à
assimetria da informação nos informes financeiros.
Ainda que não seja possível padronizar as informações dos meios circulantes, pois, cada
empresa cliente adota modelos específicos na elaboração do plano de contas ou das informações
gerenciais, conforme relatado por R9, R6 e R2.
Outra prática observada é a adoção de uma área, chamada pelo FIDC e factoring, de
“área de checagem”. Todos os respondentes confirmaram a adoção da prática como mecanismo
eficiente de controle da aquisição dos direitos creditórios, prevenindo possíveis perdas. O
funcionamento desta área está baseado na confirmação por ampla amostragem das duplicatas
adquiridas por cessão de crédito apresentado na figura 22.
Há a adoção de uma “pré-checagem”, quando for identificado pelo crédito ou pela área
de checagem uma possível fraude. Isto se dá em 2 momentos distintos: (i) o primeiro momento
quando o cliente é novo e o comitê de crédito aprova um limite de crédito que será liberado em
tranches, ou parcelas, como, por exemplo, limite de R$ 1.000.000,00 aprovado em 5 tranches
de R$ 200.000,00, em que a liberação da tranche subsequente à realizada fique condicionada à
confirmação da operação. Logo, se houver a confirmação de que a operação foi realizada de
acordo com as premissas conhecidas, outras operações poderão ser liberadas; (ii) o segundo
momento ocorre quando a área de checagem perceber uma possível fraude durante o processo
de confirmação, neste caso, reporta-se à área de crédito que revisa a concessão de crédito,
passando a liberar novas operações por tranches.
Toda operação confirmada, que na linguagem do mercado é performada, é reportada à
área de crédito que formará o histórico das operações de cada cliente, possibilitando estabelecer
níveis de confiança.
Questão 7: Quais as informações utilizadas no processo de análise de crédito?
106
Quando houver indícios de problemas, no caso de emissão de duplicata fria, pré-
faturamento que é identificado pela área de checagem, as empresas iniciam o processo de
auditoria de expedição. Este processo consiste em diligência às empresas tomadoras de crédito
em que o aceite da duplicata fica condicionado à confirmação do auditor de expedição se a
mercadoria constante na nota fiscal estiver embarcada no caminhão e for entregue ao
destinatário mediante a confirmação do pedido de venda no destino e o monitoramento para
que a mercadoria não seja trocada de destinatário durante o percurso. Demonstrado no quadro
16.
Figura 22: Área de checagem
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
Início
Área de
Crédito
Área de
Checagem
Processo
pré-
checagem
Cliente
novo?
Operação
confirmada? Sim
Não
Operação
performada
Possível
fraude?
Não
Não
Sim
Fim
Auditoria de
expedição
Sim
107
Conclusão parcial: estabelecer a transparência pelo fornecimento de informações é,
segundo os respondentes, o grande desafio dos comitês de crédito, tal qual a qualidade dos
sacados e a confirmação das operações realizadas com outras empresas que ao longo do
processo de crédito são observadas. Portanto, a qualidade das informações e o caráter da
empresa são determinantes na concessão de crédito e está de acordo com os resultados da
análise.
Quadro 16: Questão nº 7
Qu
estã
o n
º 7
R1 R2 R3 R4
São os meios
circulantes, prazo
médio, estoque,
contas a pagar e o
prazo médio,
empréstimos por
aval, dívidas com
bancos. Um dos
termômetros utilizados pelo
factoring para
acompanhar a RJ é
a alteração nos
meios circulantes,
pois, se abrir
"buraco" é sinal que
a operação da
empresa-cliente não
é viável. [...] As
alterações nos
circulante
motivadas por lucro,
aporte de capital,
prejuízo e retirada
de sócio, são
analisadas
constantemente,
não tem má
imagem na praça,
o factoring concede
o crédito.
Com base nos
meios circulantes,
referência de
mercado,
referência
bancária e
referência de
fornecedores. A
decisão é vou
operar e com
quanto vou correr o
risco? assumo o
risco de acordo
com os números
reais. Prazo médio,
meios circulantes,
ccl, endividamento,
estoque, tudo é
cruzado com o
CMV. Inadimplência,
investimento
errado, qualquer
informação é
valiosa para a
análise do cliente.
BP e DRE
pouco
relevante,
perfil do
recebível,
quanto mais
pulverizado
melhor, a
gente pode
operar
dependendo
da nossa
decisão de
crédito, [...],
basicamente
os recebíveis
os meios
circulantes e
o
endividamen-
to que é
estancado na
recuperação
e cada caso é
um caso
Todas as
informações
gerenciais são
importantes,
informações do
histórico da
empresa, da
história do
dono da
empresa e a
visão que ele
tem do
mercado e se o
mercado em
que a empresa
atua permitirá
que ela tenha
continuidade.
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
108
Na percepção dos respondentes, as empresas em dificuldade financeira ou em processo
de RJ que revertem a situação são poucas, mas observou-se que os respondentes não conhecem
ao certo o índice de empresas com problemas, mesmo as atuantes neste mercado, não detêm a
informação.
Todos afirmaram aleatoriamente, por experiência, que poucas empresas têm condição
de se recuperar, mas pode-se observar que a expressão “poucas” flutua entre 10 casos, 20% até
70% da carteira, impossibilitando inferir algo que não seja o desconhecimento da informação,
seja por irrelevância no processo de análise de crédito, seja por dificuldade de obtenção da
informação. Demonstrado no quadro 17.
Conclusão parcial: poucos foram os casos de sucesso apontados e, na grande maioria,
os respondentes comentaram 1 ou, no máximo, 3 casos conhecidos. Um dos motivos apontados
por R1, R2, R5 e R6 é que o cliente não opera só em uma empresa e troca constantemente por
qualquer dificuldade encontrada durante as operações realizadas, ou seja, quando houver a
restrição do crédito em determinado FIDC, o cliente automaticamente muda para outra empresa,
impossibilitando, na visão dos respondentes, o acompanhamento do cliente.
Questão 8: Na sua percepção, quantas empresas em dificuldade financeira ou em
processo de RJ revertem a situação?
109
Quadro 17: Questão nº 8
Qu
estã
o n
º8
R1 R2 R3 R4
Por
conhecimento
prático, depende do
segmento e de
outros fatores, mas na média
poucas
empresas conseguem
reverter a RJ.
Acreditamos que
na RJ até 20 % de
nossos clientes têm sucesso e
antes da RJ ou RJ
branca de 40% a 50% conseguem
reverter o quadro
porque a RJ custa caro e a extra
tem tido maior
resultado.
Observei mais
caso de sucesso
pela
recuperação do
que pela extra. As empresas que foram pela extra,
acabaram
culminando para a judicial. Veja,
as vezes o
empresário contrata o
consultor e
limita os
poderes dele, as
vezes o
empresário delega tanto pra
o consultor que o
consultor faz lambança
também, então é
muito dinâmico, é muito, vago,
por isso que a gente confia em
alguns trabalhos.
As pessoas que a gente conhece
tem alguns cases
de sucesso no
processo como
um todo. Uns 10
casos.
Aproximadament
e 20% revertem o
problema as demais se
queimam, por
muitas vezes, tentarem emitir
títulos frios ou
por que o acionista quer
tirar o dinheiro
da empresa. Aplicamos os
recursos da
empresa em 50%
no alto risco,
30% no médio
risco e 20% no baixo risco.
Temos que
investir no mínimo 50% do
PL para não
termos problemas.
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
A análise dos resultados possibilitou a compreensão dos fatores determinantes de crédito
identificados pelo uso da análise de conteúdo e que ocorrem em dois momentos distintos,
conforme o cenário em que a empresa cliente se encontra, sendo (i) empresa em crise financeira,
e (ii) empresa em processo de recuperação judicial.
Para ambos os cenários, o crédito avalia as condições da empresa, tais como nível
tecnológico, mão de obra empregada no processo, capacidade produtiva, manutenção das
máquinas e equipamentos, obsolescência e se a empresa está entregando os produtos fabricados.
Avaliar a competência da empresa em produzir resultados, mesmo na crise, é conhecer se a
empresa está operacional e tem pessoas capazes de geri-la, possibilitando estabelecer níveis de
confiança.
De acordo com McAllister (1995), Das e Teng (2001), a confiança de um indivíduo em
outro é motivada pela tomada decisão que afeta a forma do comportamento, estabelecendo
controles para reduzir a probabilidade de resultados indesejados.
110
As informações financeiras obtidas pelos meios circulantes, estoque, capacidade de
geração de caixa, endividamento, faturamento mensal e qualidade do sacado são fundamentais
para se conhecer a capacidade de pagamento da empresa de forma objetiva.
Outros meios adotados para obtenção de informações que permitam conhecer o perfil
dos gestores e do acionista da empresa são o caráter da empresa, o histórico da empresa, a
imagem com os clientes, fornecedores e vizinhança, muitas vezes obtidos a partir das consultas
ao mercado e em consulta às redes sociais.
Empresas com histórico de operações simuladas são rejeitadas ainda na análise
preliminar do crédito, não sendo levado ao comitê, exceto se, de acordo com os respondentes,
houver uma motivação que explique claramente as razões que levaram a empresa a agir fora da
normalidade, mas poucos têm o crédito aprovado.
A percepção que o acionista e os gestores têm da empresa demonstra ao comitê de
crédito a maturidade em relação à situação real da empresa. Muitos respondentes apontam como
principal problema a falta de compreensão dos acionistas e gestores da real situação em que a
empresa está dificultando a análise do crédito pela falta de informação e mesmo a própria
continuidade da empresa.
A origem do sócio no negócio aparece entre os respondentes com grande relevância na
tomada de decisão, como o tempo em que está no negócio, se já era do mercado ou tem familiar
no mercado em que atua e de onde obteve a expertise. Todos os fatores subjetivos contribuem
para analisar a integridade do sócio refletida na cultura da empresa.
Os comitês de crédito buscam possíveis sinais de que a empresa em análise possa ser
confiável. Estabelecer o nível de confiança é o maior desafio quando se trata de empresas em
crise e em recuperação judicial.
A parceria entre os FIDC e os consultores reduzem a percepção do risco durante a
análise de crédito, mas não eliminam os controles e o acompanhamento a cada operação
realizada, incluindo ações extremas de verificar os produtos embarcados e faturados quando
surgem indícios de irregularidades nas operações.
A percepção do risco serve como fonte de confiança e controle, possibilitando que
alianças entre empresas parceiras permitam aceitar determinado nível de risco para, então,
estabelecer diferentes níveis de confiança e controle de acordo com Das e Teng (2001).
Os consultores exercem um papel predominante no estabelecimento da confiança entre
o FIDC e as empresas em crise financeira ou em processo de recuperação judicial, extrajudicial
ou acordo informal chamado de “RJ branca”.
111
Quando da apresentação da empresa cliente ao FIDC, o histórico com resultados
positivos propicia, ao consultor, viabilizar a captação de recurso. Neste sentido, constatou-se a
atuação do consultor como meio de captação de recursos de forma a serem contratados, em
certos casos, apenas como um broker, ou seja, um negociador, um facilitador do crédito para a
empresa em crise, saindo logo após o crédito ser concedido ou permanecendo na consultoria
para captação de recursos sem que tenha acesso ao caixa da empresa, segundo R8.
Esta prática confirma o papel de agente que o consultor exerce entre as empresas e os
FIDC durante o processo de reorganização ou apenas de obtenção do crédito.
A figura 23 apresenta de forma objetiva os determinantes do processo de concessão do
crédito a partir da empresa cliente, em RJ, considerando (i) a empresa que já é cliente e vai
entrar com RJ; (ii) a empresa que é um novo cliente em fase de petição ou homologação; e (iii)
a empresa cliente que busca a parceria do FIDC para ingresso na RJ. O fluxo está separado em
4 processos:
Processo nº 1 - Avaliação do crédito: esta etapa compreende todo o levantamento de
dados e informações das empresas-clientes, possibilitando conhecer a saúde financeira,
capacidade de pagamento, capacidade produtiva, tecnologia empregada no processo,
obsolescência dos equipamentos, a formatação do caráter da empresa, dentre outras análises.
Os métodos para levantamento das informações são os mais variados entre os respondentes,
portanto, destacaram-se os principais pontos de análise que se aplicam a partir da chegada da
empresa cliente.
Processo nº 2 – Fase de petição: após a análise preliminar do crédito, o comitê decidirá
quanto à possibilidade de estabelecer uma parceria com a indicação de um consultor de sua
confiança. Eventualmente, se a empresa-cliente não optar pela contratação, o crédito estará
automaticamente negado.
Processo nº 3 – Plano homologado: se o plano estiver no período de carência que
geralmente compreende 18 a 24 meses, há a inclinação à concessão do crédito, respeitada as
premissas do processo nº 1. Mas se o plano estiver fora da carência, ou seja, pagando a dívida
da recuperação, o crédito reavaliará as condições, podendo cancelar o crédito, caso a empresa
não tenha condições de pagar.
112
Processo nº 4 – Avalia a parceria: a construção de uma possível parceria entre a empresa-
cliente e o FIDC está suportada, muitas vezes, pela contratação do consultor, portanto, empresas
que já são clientes e que vão ingressar com a RJ, ou, empresas que estão a busca de parceiro
para financiar o processo de RJ terão a melhoria na avaliação do crédito diante do consultor que
for contratado. Caso não se estabeleça a confiança, a concessão de crédito será negada.
Todos os processos são suportados por uma rede consistente de informações entre os
FIDC, factoring, securitizadoras, bancos comerciais, mercado, consultores e advogados que
realimentam a todo instante as informações do crédito.
113
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r?
114
5 CASO REAL
Para compreender o estudo realizado nesta pesquisa, entende-se que seria apropriada a
análise de um caso real, recente, cujo fomentador do crédito foi um FIDC da cidade de São
Paulo, que não terá o nome divulgado, em razão da confidencialidade da pesquisa.
Todas as informações deste caso foram obtidas por meio do site da própria empresa e
sites especializados no assunto, sendo pública, a obtenção da informação dispensa prévia
autorização.
A comunicação externa do processo de recuperação judicial está prevista no art. 51 da
lei 11.101/05.
5.1 HISTÓRIA DA EMPRESA
A empresa, objeto do estudo, está localizada na cidade de Catanduva, estado de São
Paulo. De acordo com as informações divulgadas em seu site de internet, fundada em
23.07.1979, por 4 empreendedores, iniciando suas atividades de montagem de ventiladores de
teto, tendo a primeira estrutura fabril em 1980, ampliando a produção. Já, em 1987, constituiu
sede própria onde se encontra até os dias atuais.
Atualmente, a empresa é gerida pela 2º geração dos fundadores, sendo o processo
sucessório de pai para filho do principal executivo.
Passados 10 anos, começou a produzir ventiladores oscilantes, em 1996, tendo em seu
portfólio de produtos 2 tipos de ventiladores, de teto e oscilantes. Seguidamente, em 1997,
ampliou o processo produtivo e o portfólio de produtos, sendo necessária nova expansão em
2006 e, em seguida, no ano de 2009, adotou novos produtos como bebedouros de água e
espremedores de frutas, ampliando o portfólio de produtos novamente.
No ano de 2010, obteve o maior crescimento de sua história, chegando a 65%
comparado ao ano de 2008. Após o crescimento histórico, surgem os primeiros sinais de crise
com a primeira para coletiva de produção no ano de 2011, motivada por estoques excessivos e
queda nas vendas.
Hermann (1963) expõe que a crise ameaça as metas prioritárias da empresa, limita o
tempo de resposta, levando os tomadores de decisão (decision makers) a altos níveis de stress,
prejudicando o desempenho em razão do pouco tempo para reação.
115
5.2 O DECLÍNIO
Com 3 exercícios acima do esperado, anos de 2008, 2009 e 2010, a empresa se projetou
com investimentos mais significativos em infraestrutura, maquinário e mão de obra,
aumentando os níveis de alavancagem financeira, em decorrência do crescimento superior a
60% em 2010.
No ano de 2011, com o verão ameno e com muita chuva, a venda de ventiladores
projetou-se abaixo do esperado e, somado ao aumento da taxa de juros e à restrição do crédito
bancário, a empresa não conseguiu cumprir com os compromissos assumidos. Iniciativas para
mitigar a crise foram tomadas, tais como a renegociação da dívida e o enxugamento do negócio
vindo a contratar, em meados de 2013, empresa especializada em gestão de crise.
A partir do diagnóstico realizado pela empresa contratada, percebeu-se a viabilidade do
negócio de ventiladores, mas a adoção da estratégia de recuperação judicial era determinante
naquele momento, segundo Marques (2014).
Conforme o plano de recuperação judicial apresentado na 3º vara da Cível da Comarca
de Catanduva, estado de São Paulo, a empresa indica as causas do declínio, tendo como pano
de fundo, a crise econômica mundial com reflexos na economia do País.
Diversos pesquisadores, Boyne (2006), de Cater e Schwab (2008), Jeyavelu (2009),
Slatter e Lovett (2009), Sudarsanam e Lai (2001), atribuem as causas do declínio ao ambiente
interno e externo como, má gestão, elevada estrutura de custos, controle financeiro inadequado,
liderança fraca, erros de gestão, incapacidade de se adaptar às mudanças, dentre outras.
Os fatores internos e externos que levaram a empresa ao declínio estão destacados no
quadro 18 com a anotação do possível impacto na empresa. Observa-se a aderência das causas
com as pesquisas realizadas no referencial teórico deste estudo.
Os executivos brasileiros destacaram os principais elementos que conduzem as
empresas ao declínio, como alto endividamento, margens de lucro declinantes, aumento do
custo financeiro, concorrência, mudança de comportamento do perfil de compra dos clientes,
dentre outras.
Também evidenciou-se, nas informações extraídas desta empresa, a opção pela
recuperação judicial, desenvolvida a seguir.
116
Quadro 18: Fatores internos e externos do declínio
Fatores externos Impacto na empresa
Valorização câmbio Aumento do endividamento
Elevado custo financeiro Diminuição do resultado e caixa
Redução das linhas de crédito Diminuição da capacidade do financiamento da operação
Aumento do custo de captação em factoring e FIDC
Reajuste da mão de obra Aumento do CMV e diminuição do resultado
Aumento de custo com energia elétrica Aumento do CMV e diminuição do resultado
Elevada carga tributária Diminuição do resultado
Redução do crédito bancário Diminuição do resultado e caixa
Fatores internos Impacto na empresa
Financiamento expansão com capital de giro Diminuição de caixa, aumento endividamento curto prazo
Inadimplência tributária e com fornecedores Diminuição da credibilidade no mercado
Apuração incorreta dos custos de produção Diminuição do resultado e da receita
Custo elevado com transporte Diminuição do resultado
Dificuldade no gerenciamento de vendas Diminuição do resultado, aumento custo captação
Fonte: Plano de recuperação judicial da empresa Arge, elaborado pelo autor, 2015.
5.3 A OPÇÃO PELA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Após ações administrativas e de gestão para readequação, as dificuldades não foram
superadas, sendo necessária a contratação de empresa especializada no processo de recuperação
empresarial. O processo de turnaround se deu a partir do diagnóstico inicial realizado pela
empresa de consultoria contratada.
Com inúmeras ações de busca e apreensão, ações trabalhistas, ações tributárias e
possíveis apontamentos no Serasa, o crédito da empresa deteriora-se, dificultando a captação
de recursos que financiem a operação.
Uma das alternativas para o financiamento da empresa se deu por meio de fundos de
investimentos em direitos creditórios e factoring com a cessão do crédito das duplicatas de
venda mercantil para que, possivelmente, o recurso antecipado financiasse a operação
produtiva.
A empresa se destaca em sua região pelo número de funcionários diretos contratados na
ordem de 542 e, indiretos, na ordem de 1.500, tendo como maior proporção do quadro funcional
a mão de obra feminina e desenvolvendo projetos sociais para crianças carentes e idosos,
evidenciando sua função social com destaque para a inclusão social.
Os autores Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão e Santos (2012) sugerem vetores
de classificação quanto à viabilidade da empresa, sendo a importância social, mão de obra
empregada e tempo da empresa, por exemplo.
117
De acordo com o art. 53 da lei 11.101/05, a empresa apresenta a justificativa da
viabilidade da empresa pela implementação das ações na gestão da produção, gestão da área
comercial, gestão da área financeira, redução de despesas administrativas, comerciais e
industriais, revisão dos procedimentos operacionais e parametrização do sistema integrado de
gestão, renegociação dos créditos não sujeitos à recuperação judicial, bem como as projeções
das demonstrações contábeis, balanço patrimonial, demonstrativo de resultado do exercício,
demonstrativo do fluxo de caixa, comprovando a capacidade de pagamento dos credores e a
continuidade do negócio.
Identificados os credores, foram divididos em 3 classes de acordo com a preferência de
recebimento em eventual liquidação, sendo respectivamente os credores trabalhistas com
apenas 0,08% da dívida total, credores com garantia real, detentores de 27,54% da dívida total
e credores quirografários com 72,38% de participação no montante da dívida.
Nota-se que a maior concentração da dívida encontrava-se com fornecedores e bancos,
possivelmente havia ativos disponíveis em razão da baixa participação do credor com garantia
real que contribuísse como alternativa para o financiamento da operação.
Portanto, a empresa se apresenta, de acordo com o plano de RJ, em capacidade de
reverter o cenário de crise com o auxílio da lei.
A cronologia e atendimento da lei 11.101/05 está apresentada na figura 24,
possibilitando a compreensão das ações e do tempo decorrido do início do processo com a
petição inicial em 18.03.2013 findando em 29.04.2015 com a homologação da recuperação
judicial e a publicação no Diário Oficial.
A partir da identificação da crise financeira e da necessidade de reorganizar o negócio,
a empresa optou pela contratação de consultoria para diagnosticar a preparar-se para o processo
de RJ, conforme apresentado abaixo:
A Consultoria: a gestão de choque, como é conhecida no mercado, tem como
principal objetivo diagnosticar as causas que levaram a empresa à perda de resultado e,
consequentemente, crise financeira. Dentre outras ações, a consultoria exerce influência no
caixa da empresa, reorganizando e controlando. A comunhão de esforços nas demais áreas
proporcionam o realinhamento e melhor aproveitamento dos recursos de forma que os
processos tornam-se produtivos;
O FIDC: o momento crucial do processo de reestruturação é manter a operação,
produzindo e gerando fluxo de caixa para que os compromissos já assumidos e os novos
118
compromissos possam ser respectivamente renegociados e cumpridos, portanto, a captação de
recursos por cessão de recebíveis ou fomento torna-se indispensável para gerir a crise;
A Petição Inicial: esta fase consiste da apresentação da intenção da empresa de
ingressar com o processo de recuperação judicial, sendo necessária a apresentação do
recolhimento das custas processuais, procurações, comprovantes de atividade, certidões
negativas falimentares e criminais, demonstrações contábeis, relação de credores, relação de
empregados, certidão da Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP), relação de bens,
extratos bancários e de aplicações financeiras, certidões de protestos e relação das ações em
que a empresa está citada;
A Carta aos Credores e Clientes: consiste em informar que está em crise e a intenção
da empresa quanto à necessidade de recorrer ao meio legal para reverter o problema;
Deferimento da RJ: decisão do juiz em conceder ou não o benefício legal à empresa
em crise. Para tanto, é analisado e determinado o cumprimento da lei, a nomeação do
administrador judicial, a suspensão das ações e as execuções judiciais por 180 dias, a
apresentação das contas mensais, os informes pelo administrador judicial, as comunicação às
Fazendas Públicas e Federal em todos os estados onde a empresa tiver estabelecimento, o prazo
para habilitação dos créditos, a publicação do edital em 10 dias, a relação de credores, os
créditos trabalhistas e o prazo de 60 dias para apresentação do plano de RJ. Neste processo, a
empresa solicitou e obteve o benefício da prorrogação do prazo de suspensão das ações diante
da necessidade do realinhamento do processo e da convocação da AG.
Aprovação da AG de credores: a concordância de 2/3 das classes de credores do
plano de RJ proporciona à empresa devedora a aprovação necessária para que o juiz homologue
o processo. Em havendo discordância ou não aprovação do plano na AG e sendo a empresa
viável, o juiz pode conceder o benefício da RJ;
Homologação do plano: validação do plano de recuperação apresentado pela empresa
e aceito pelos credores, permitindo a execução durante os próximos 24 meses. Após este
período e tendo cumprido todas as obrigações, a empresa reverterá o processo.
Com a reversão do processo, ou no jargão do mercado de “levantar a RJ”, a empresa
obterá o direito de retirar do cadastro da Junta Comercial do Estado a anotação “empresa em
processo de recuperação judicial”, a qual é adicionada ao nome da empresa após o aceite pelo
juiz do plano de RJ.
119
Figura 24: Cronologia do processo de RJ – caso real
Fonte: Plano de recuperação judicial da empresa, elaborado pelo autor, 2015.
5.4 ANÁLISE DO CASO
As dificuldades aparentes no plano de recuperação apresentado demonstram que a partir
de 2011 a empresa passou por um processo de dificuldade com retração nas vendas, aumento
no endividamento, elevados custos de produção e maior dependência de capital de terceiros de
curto prazo comprometendo o financiamento da operação.
Considerando a acentuada elevação nas despesas financeiras, no decorrer do ano de
2012, devido à restrição ao crédito no sistema bancário pela deterioração do rating de crédito,
por não honrar os compromissos com os credores e com os impostos, e tendo que recorrer a
empresas menores para captação de recursos de curto prazo, conforme observado no plano de
recuperação, a empresa optou por reestruturar-se com o auxílio de uma empresa especializada.
No diagnóstico inicial, a consultoria identificou a viabilidade da empresa em crise,
propondo as mudanças e ajustes necessários para que houvesse a geração de caixa e a operação
voltasse a ser sustentável.
Pesquisando a empresa de consultoria entre os respondentes deste trabalho, constatou-
se que a consultoria é conhecida neste mercado e presta ou já prestou serviços para os
Crise e
deterioração
do crédito
(2011/2012)
Deferimento do
processamento da RJ
(09/2013)
Edital
convocação
da AG
(10/2014)
1º e 2º AG
de credores
(11/2014)
Suspensão de ações - 180 dias
Nomeação do Adm.
Judicial
Apresentação do plano de
RJ
(12/2013)
Prorrogações de prazo para
ações
(07/2014)
Atualização
dos informes
(01/2014)
Edital Art.
52 § 1º
(11/2013)
Cronologia do Processo da RJ
Contratação
Consultoria
(2012)
Operações
com FIDC
(2012)
Carta a cliente e
fornecedor
(08/2013)
Petição
Inicial
(03/2013)
Atendimento
do plano de RJ
(03/2015)
Aprovação
do plano RJ
(04/2015)
Homologação e
Execução do plano RJ
(04/2015)
Dias atuais
Prorrogação prazo até a AG
120
respondentes R1, R2, R5 e R6, sendo conceituada com cases de sucesso na reestruturação de
empresas em crise financeira e na recuperação de créditos.
Ainda, segundo os respondentes, o perfil de trabalho desta consultoria é direcionado
para empresas que, após o diagnóstico inicial, sejam passíveis de recuperação.
5.5 CONCLUSÃO DO CASO REAL
O estudo do caso real possibilitou a compreensão dos estágios e da evolução do processo
de recuperação judicial a partir dos sinais de crise financeira no ano de 2012 até a homologação
do plano de RJ em 2015.
Os resultados obtidos das análises das entrevistas realizadas nesta pesquisa apontam
para a possível adoção de consultoria especializada em recuperação de empresas em crise como
meio de viabilizar o acesso ao crédito, estabelecendo uma relação de confiança entre o tomador
e o devedor.
Embora a prática de parceria entre o consultor e o fomentador do crédito seja
evidenciada entre todos os respondentes como facilitador do crédito, pela confiança adquirida
pelo histórico de sucesso em projetos anteriores, a empresa em crise deve-se mostrar viável pela
geração de caixa e do caráter do principal acionista para que a concessão do crédito seja
possível.
A possibilidade de parcerias entre empresas em crise e os fomentadores de crédito
também foram identificadas entre a maioria dos respondentes. Quando procurados, os FIDCs,
por empresários ou consultores que desejavam viabilizar a manutenção do crédito antes da
petição inicial, durante o processo de RJ até o momento de recuperação da crise, o crédito era
analisado para que não houvesse interrupção das atividades fins da empresa desde que o
fomentador não entrasse na RJ.
Atuantes em duas vertentes no processo de concessão do crédito, os consultores
possibilitam o acesso ao crédito para empresas em dificuldade, viabilizando o processo de
recuperação da empresa, como foi apontado por todos os respondentes.
Sendo o comitê de crédito soberano nas decisões, uma das razões pelas quais R1
concedeu o crédito para a empresa em questão, deu-se em função da contratação da empresa de
consultoria conhecida entre a maioria dos respondentes e a capacidade de recuperação da
própria empresa demonstrada no plano de RJ.
121
A cronologia demonstra de forma objetiva que a empresa em crise obteve crédito entre
o período de contratação da consultoria especializada em gestão de crise e a petição inicial
sendo fomentada, na linguagem do mercado, até os dias atuais.
122
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face à amplitude do tema crédito, o foco desta pesquisa prendeu-se às empresas de
factoring e FIDC de factoring, mas não no processo de análise realizado por analistas e, sim,
no processo de concessão do crédito que acontece no comitê de crédito destas empresas.
Este estudo teve o objetivo de identificar os determinantes de crédito para empresas em
processo de recuperação judicial, extrajudicial ou em crise financeira a partir da percepção do
comitê de crédito.
As conclusões obtidas não foram relacionadas às empresas pesquisadas propriamente
ditas, mas ao processo de concessão de crédito obtido pelas experiências dos respondentes.
Identificou-se, na literatura, e também foi percebido por todos os respondentes desta
pesquisa que, nas empresas médias, familiares, o processo sucessório, geralmente mau gerido,
muitas vezes leva à crise financeira.
Os sinais de que a empresa está em crise são muitos, entre estes destacam-se: a escassez
do caixa, a inadimplência, a ausência de pagamento de impostos, os atrasos na folha de
pagamento, a perda de crédito entre fornecedores e instituições financeiras.
Os resultados indicaram que os comitês buscam identificar a situação real da empresa
pelo dimensionamento do tamanho da crise desde o contato inicial.
Como meio de mitigar o risco, os factoring, FIDC e securitizadoras, adaptaram-se ao
sistema jurídico, adotando e submetendo à recompra de títulos não performado, ou seja, não
liquidados pelo sacado, às empresas em crise por meio do regresso, ou recompra pelo cedente,
como é utilizado no mercado.
O direito de regresso (grifo nosso) com coobrigação é uma prática realizada e
consolidada no mercado de factoring, de FIDC e de securitizadora. Embora a aquisição de
direitos creditórios não contemple o direito de regresso, esta prática foi instituída a todo o
mercado, ou seja, ao FIDC, securitizadora e factoring, os quais criam artifícios jurídicos para
que o cedente seja obrigado a recomprar o título cedido na operação de antecipação caso não
receba do sacado.
Esta prerrogativa está prevista apenas entre instituições financeiras pertencentes ao
SFN, comentado nos parágrafos 2.3.1 e 2.3.2, e reguladas pela Resolução CMN nº 2.836 de 30
de maio de 2001.
Quando a cessão de crédito ocorrer à pessoa não pertencente ao SFN, somente a
modalidade sem coobrigação poderá ser praticada, ou seja, em caráter pro soluto, que significa
123
que há cessão de crédito em definitivo para o cessionário e o cedente não responde pela
solvência, mas pela existência do crédito no ato da transferência.
Tal prática se assemelha à intermediação bancária que tem o caráter de pro solvendo,
onde o cedente tem a responsabilidade pela solvência do título.
Portanto, a capacidade de recompra do crédito cedido é um determinante de crédito para
as empresas em crise financeira, mas pode ter menor influência de acordo com a qualidade da
carteira a ser cedida.
Se houver boa liquidez, baixa concentração por sacado, prazo médio de recebimento
menor que 60 dias, a carteira possibilitará que a operação seja viável, mas não eximindo a
responsabilidade de recompra.
Por não haver uma legislação específica para os factoring, no Brasil, estas empresas são
consideradas atípicas, sendo que, o código civil, no capítulo I - cessão de crédito -, é utilizado
para nortear a questão. Nos Estados Unidos e Europa, já há legislação aplicável para estas
operações que se equivalem à abertura de um banco; na América latina, alguns países contam
com mecanismos mais adaptados do que os adotados no Brasil.
A avaliação da competência da empresa em produzir resultados, mesmo na crise, define
se a empresa está operacional e se tem pessoas capazes de geri-la, possibilitando estabelecer
níveis de confiança, sendo que, aqui, percebeu-se outro determinante do crédito.
O estabelecimento da confiança entre as empresas parceiras é motivada pelo histórico
de tomada decisão do empresário ou do principal executivo em determinado momento e que
afeta o comportamento e a adoção de controles para reduzir a probabilidade de resultados
indesejados. O caráter da empresa se revelou, dentre outros, como o determinante de maior
relevância desde que observadas as premissas do crédito.
Sob a perspectiva da empresa em crise financeira, notou-se que as limitações para a
aquisição de recursos (grifo nosso) inicia-se com a própria restrição imposta às instituições
financeiras pertencentes ao SFN que são regidas pela Resolução CMN 2.682/99.
A atribuição do menor rating de crédito, por bancos e, consequentemente, a necessidade
do provisionamento, chegando a totalidade do empréstimo, dificulta o crédito e, por sua vez, a
captação de recursos por empresas em crise ou mesmo para empresas que estejam em processo
de RJ.
A falta de transparência nos demonstrativos financeiros das empresas em crise está
demonstrada pela preferência dos respondentes em utilizar outros meios que não sejam apenas
o BP e DRE, tais como: ( a) utilizar os meios circulantes; (b) solicitar o endividamento com
bancos, factoring, FIDC, securitizadoras e a modalidade da garantia; (c) consultar o mercado,
124
inclusive redes sociais; (d) realizar a pré-checagem que antecede à liberação da operação de
aquisição dos direitos creditórios; (e) fazer a checagem dos títulos durante a operação de
aquisição dos direitos creditórios e, (f) executar auditoria de expedição para confirmar o
embarque e entrega do produto no destino.
Estas preferências confirmam a assimetria informacional, dificultando o processo de
análise e concessão do crédito pelo comitê. Isto ocorre nas empresas em recuperação judicial,
ocasionando um processo mais lento, seja pela tomada de decisão do juiz, seja por artifícios
jurídicos utilizados pelos controladores, sócios, das empresas em crise ou mesmo pela
insistência do administrador judicial em não enviar periodicamente as informações ao juiz,
ainda que possa ser destituído da função de acordo com a lei.
Portanto, a majoração do risco de crédito é, em parte, pela própria condição em que a
empresa se encontra e parte pela possível cessão abusiva de crédito por instituições financeiras.
Empresas em estágio anterior ao deferimento do pedido de recuperação judicial têm
maior restrição ao crédito do que empresas em fase de pós-homologação da RJ, logo, o comitê
de crédito não aprova o limite, entretanto, o fomentador analisa a possibilidade de se construir
uma parceria pela adoção de consultores especializados em gestão de crise.
Observou-se que, em outros países, como os Estados Unidos da América, a utilização
do debtor-in-possession financing (DIP financing), ou seja, o financiamento do devedor na
posse (grifo nosso) está protegido pela lei de falência do país, por exemplo, o U.S. Bankruptcy
Code, Chapter 11, parágrafo 364 Obtaining credit, que trata desta opção de financiamento.
DIP financing significa que o financiamento da empresa em crise sob a lei de falência
americana em que o acionista da empresa ou o trustee, quando aplicável, mantém-se na direção
do negócio e tem a prévia autorização do juiz para obter capital de giro.
Os recursos devem ser aplicados exclusivamente para manutenção da empresa, para as
despesas com o administrador judicial, com advogados do processo de recuperação e com os
consultores da RJ.
O credor DIP deverá ser autorizado pelo juiz, ainda que os demais credores,
privilegiados pela lei, tais como créditos de folha de pagamento, créditos oriundos de garantia
real, não tenham a mesma preferência em eventual liquidação. Portanto, credores de DIP têm
“super prioridade” em eventual liquidação, recebendo antes mesmo dos credores privilegiados
de acordo com a lei americana.
Esta alternativa de financiamento muitas vezes é, por um lado, utilizada por um credor
expressivo da empresa em crise, por exemplo, fornecedor de matéria-prima, por conhecer o
125
processo produtivo e o comportamento da empresa, entrando outras vezes na fase de petição do
pedido de recuperação judicial ou logo após a petição ter sido protocolada; por outro lado, no
Brasil, a lei 11.101/05, não dispõe de tal dispositivo que permita às empresas uma alternativa
de captação de recursos (grifo nosso), que sejam menos onerosos e possibilitem a manutenção
do negócio e a reversão da crise.
Esta lacuna na legislação na legislação brasileira dificulta a manutenção do processo de
recuperação da empresa, embora o artigo 60 da lei permita a alienação de unidades produtivas
isoladas (UPI), sem que o arrematante incorra em sucessões de dívidas, caso o processo seja
convertido para falência.
Este procedimento permite à empresa em crise vender uma filial, ou filiais, livre de
quaisquer ônus, mas esta prerrogativa diminui a receita, podendo prejudicar o processo de
reversão da crise.
Inicialmente, a lei previa que a venda de UPI teria os recursos destinados à redução da
dívida com credores e não para a aplicação do recurso em capital de giro como é adotado pelas
empresas.
Percebeu-se que os factoring e FIDC são, em grande parte, o meio de gerir o caixa da
empresa durante o período de RJ, mesmo que as empresas se submetam às altas taxas cobradas
por ocasião de cessão do crédito, da mesma forma que a cessão de direitos creditórios também
diminui o caixa da empresa, configurando-se em garantia real ao financiador do crédito.
Assim, demonstrou-se um mecanismo consistente na gestão da crise por não ser possível
regular o caixa com terceiros, por meio da compra a prazo.
Uma possibilidade de utilizar o DIP financing no Brasil seria a modificação da lei
vigente para que o investidor tenha a prioridade sobre os credores extraconcursais, ou seja, que
não estejam sujeitos ao processo de RJ, tais como: créditos trabalhistas, ACC, créditos com
garantia real, remuneração do administrador judicial, custas judiciais, tributos gerados durante
a RJ, além das despesas do processo de venda dos ativos da massa falida, em caso de falência.
Ou, ainda, se houvesse a concordância, em AG, entre os credores privilegiados da priorização
do investidor em eventual falência, o que, na prática, seria reduzir a possibilidade de recuperar
o crédito ou parte dele, em prol da possibilidade de receber em sua totalidade ou de acordo com
o plano aprovado.
Pela ausência de um dispositivo legal, que permita a adoção de práticas consistentes, o
mercado se adapta às necessidades, criando artifícios que viabilizem a concessão de crédito às
empresas em crise, tais como a compra de imóvel, que não seja operacional, da empresa, por
126
valor muito inferior ao valor de mercado, por exemplo 50% do valor, por empresa coligada do
factoring.
Pela ótica da empresa em crise, este negócio configura-se em empréstimo de longo
prazo, podendo ser recomprado tão logo a empresa consiga reverter a crise, mesmo que o valor
absoluto recebido na transação seja inferior ao valor de mercado, mas adequado à necessidade
da empresa e a um custo menor que o custo da antecipação de recebíveis.
Para o fomentador de crédito, este negócio apresenta-se como um empréstimo de longo
prazo sem risco de perda, pois, pela compra do imóvel com valor inferior ao valor praticado no
mercado, é possível recuperar o dinheiro em eventual falência da empresa em crise, ainda que
tal operação seja um motivador da empresa em crise em recomprar o imóvel, eliminando perdas
substanciais.
Outra modalidade utilizada como mitigador do risco é a adoção de escrow account para
operações conhecidas como domicílio bancário, antecipação de contratos, ou seja, o sacado não
efetua pagamento mediante um boleto, apenas por depósito em conta corrente.
Ao efetuar a abertura de conta corrente em um banco com a definição das cláusulas
contratuais para movimentação e gerenciamento por um terceiro, a empresa em crise tem a
possibilidade de fazer a cessão de recebíveis com o fomentador de crédito, embora esta
operação não seja possível para empresas em RJ, uma vez que, em eventual falência, a conta
ficaria bloqueada e à disposição da massa falida.
Por um lado, observou-se que a prática da parceria entre o fomentador e a empresa em
crise se dá por um consultor, como agente, ou empresa especializada em consultoria, que exerce
influência direta nos resultados das análises de crédito de alguns fomentadores, como mitigador
do risco percebido. O consultor não elimina o risco, mas altera a percepção da probabilidade de
perdas indesejáveis pelo FIDC. Esta relação de confiança não foi percebida entre os
profissionais do crédito, mas sim, entre os profissionais da área comercial e os acionistas que
representam as empresas de factoring, FIDC e securitizadoras. Em alguns casos, os investidores
dos FIDCs também reconhecem o consultor como mitigador do risco se mostrando favoráveis
à prática.
Por outro lado, notou-se que o consultor também apresenta empresas-clientes ou
projetos de RJ, como são chamados no mercado, em que haja a necessidade de recursos para
viabilizar a consultoria e que fica corresponsável por devolver o recurso ao fomentador, embora
a análise de crédito e a cobrança recaia sob a empresa devedora.
Constatou-se, ainda, que a atuação do consultor como meio de captação de recursos para
empresas em crise ocorre, sendo que, em certos casos, atuante apenas como um broker, ou seja,
127
um negociador, um facilitador do crédito, saindo logo após o crédito ser concedido ou
permanecendo na consultoria para captação de recursos sem que tenha acesso ao caixa ou a
gestão da empresa.
Esta prática confirma o papel de agente e de determinante de crédito que o consultor
exerce entre as empresas e os FIDCs durante o processo de reorganização ou apenas de obtenção
do crédito.
Para tanto, o processo de avaliação de crédito vem adaptando-se de acordo com os
ajustes e o amadurecimento da lei 11.101/05 que desde a revogação da lei da concordata ainda
é considerada como sendo a última opção para que uma empresa em crise possa se recuperar.
Assim, este estudo demonstrou que diversas são as possíveis causas do declínio e
também esclareceu que a lei de recuperação e falência é mais um mecanismo para a elaboração
da estratégia de turnaround não sendo o único.
Portanto, a lei precisa de ajustes, principalmente na forma como os credores são
participados do processo de RJ até a formação de comitês de credores, a exemplo dos Estados
Unidos que é obrigatório, e que no Brasil ainda não se vê.
O disclosure não é o ponto alto do processo de RJ entre as empresas que ingressam com
o plano, colocando muitas vezes os credores em posição desfavorável para a aprovação do plano
de recuperação apresentado em AG, mas privilegiando os maiores credores por seu interesse e
posicionamento durante o processo de aprovação do plano.
No mais, o mercado não dispõe de muitas alternativas de financiamento para as
empresas em crise financeira e que ofereça produtos que possibilitem mitigar os riscos e garantir
o cumprimento das obrigações contraídas preservando os financiadores, ainda que alguns dos
bancos médios tenham começado a adaptar-se à realidade do middle market e das empresas em
crise.
O meio utilizado, atualmente, quando do inadimplemento da dívida, é a cobrança
antecipada do contrato, entretanto, esbarra-se no art. 47 da lei 11.101/05 que versa sobre a
preservação da empresa que, por diversas vezes, não permite que a execução seja realizada em
sua totalidade.
Sugerem-se novos estudos para o aprofundamento no processo de análise e na percepção
do comitê de crédito quanto à viabilidade da adoção de um modelo de crédito aplicável às
empresas em crise. Pesquisas sobre o desenvolvimento de mercados específicos de fundos de
investimentos especializados em financiamento de empresas em crise, mas não fundos abutres,
também contribuiriam muito à continuidade deste estudo.
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135
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO PARA ENTREVISTA
INDIVIDUAL
As perguntas do roteiro abaixo foram apresentadas aos respondentes para que fossem
respondidas, mas não se limitando às perguntas, os indivíduos puderam falar amplamente sobre
o tema.
As perguntas foram estruturadas para que fosse possível obter as informações
necessárias com a finalidade de compreender o comportamento dos indivíduos na concessão de
crédito para as empresas em crise financeira, bem como se houver correlação entre a concessão
de crédito e a indicação dos meios de recuperação da empresa.
O direcionamento é obter os dados necessários para responder a questão de pesquisa e
os objetivos específicos.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
Roteiro para pesquisa semiestruturada - Entrevista Individual
1- Há indicação do Factoring e/ou FIDC na orientação à empresa-cliente quanto à decisão
de opção por processo de Recuperação Judicial, Extrajudicial ou Acordo Informal?
2- Em que momento é identificada a situação econômico financeira da empresa-cliente?
3- Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o Factoring e/ou FIDC
analisa a possibilidade de concessão de crédito? Se sim, quais os meios?
4- Qual a importância do histórico da empresa-cliente no processo de concessão de crédito?
5- Considerando o Trust um serviço do Factoring, aplica-se ao FIDC?
6- Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para empresas-clientes
em dificuldade?
7- Quais as informações utilizadas no processo de análise de crédito?
8- Na sua percepção, quantas empresas em dificuldade financeira ou em processo de RJ
revertem a situação?
136
APÊNDICE B – FORMULÁRIO PARA REGISTRO DOS DADOS COLETADOS NAS
ENTREVISTAS
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
Factoring
FIDC
Codinome
Nome do entrevistado
Codinome
Sexo
Idade
Ensino (médio/superior)
Formação acadêmica
Pós-graduado
Tempo empresa
Tempo de mercado
Cargo
Participa no comitê de crédito
Ativo Total do factoring
Resumo / observações da
entrevista