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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extrajudicial Daniel Glória São Paulo 2015

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extrajudicial

Daniel Glória

São Paulo

2015

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Daniel Glória

Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extra Judicial

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre

em Controladoria Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

São Paulo

2015

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G562c Gloria, Daniel

Crédito no processo de recuperação judicial e extrajudicial /

Daniel Gloria - 2015.

136 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Orientação: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

Bibliografia: f. 128-134

1. Recuperação judicial. 2. Recuperação extrajudicial. 3.

Concessão de crédito. 4. Securitização. 5. Turnaround. I. Título.

CDD 342.236

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Daniel Glória

Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extra Judicial

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Controladoria Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

Aprovado em 19 de agosto de 2015.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Octávio Ribeiro de Mendonça Neto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Fabiano Guasti Lima

Universidade de São Paulo

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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação

Profa. Dra. Helena Bonito Couto Pereira

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Prof. Dr. Adilson Aderito da Silva

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Prof. Dr. Henrique Formigoni

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Dedico à minha mãe, Lucila, que sempre esteve ao meu lado,

apoiando-me e acreditando que eu conseguiria alcançar meus

sonhos; à minha filha, Giovanna, que nos trouxe muita

alegria vindo somar a esta família linda que a Flávia e eu

construímos todos os dias.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e à Nossa Senhora, que nunca deixaram de olhar por mim, mesmo em minhas

ausências estiveram sempre presentes e, aqui, renovo minha fé.

À minha mãe, Lucila, por apoiar-me com toda simplicidade e afagar-me nos principais

momentos deste projeto e à memória de meu pai, Roberto.

À minha esposa, Flávia, que, na minha ausência e mesmo eu estando distante nos

momentos em que mais precisou, nunca deixou de me apoiar e incentivar a trilhar o caminho

escolhido, permitindo que eu chegasse até aqui, ajudando-me com seu amor, paciência,

compreensão e carinho.

À minha filha, Giovanna, que foi concebida no início deste projeto e chegando no meio

do percurso tornou tudo mais lindo e especial, mesmo na minha ausência.

Ao meu orientador, Professor Doutor Luiz Carlos Jacob Perera, por seus ensinamentos

e por toda ajuda e compreensão ao longo do curso.

Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, pela atenção que me foi dada, e, em

especial, aos professores Doutores Octávio Ribeiro de Mendonça Neto e Fabiano Guasti Lima,

por suas valiosas contribuições na qualificação.

Ao professor Mestre Carlos Alberto dos Santos Silva, o professor CASS, o meu muito

obrigado pelo incentivo.

Aos meus irmãos, Christianie, Renato e sua esposa Jordana, que me acompanharam

nesta caminhada mesmo a distância, mas cientes do meu desejo de alcançar este sonho.

Aos pais, Pedro e Maria Inês, e a toda a família de minha esposa por cuidarem da minha

família com amor enquanto eu me dedicava a este sonho.

Aos meus amigos, em especial Sandro, Daniela e sua filha Gabriela, compreendendo a

ausência e a distância ao longo desta caminhada.

Ao Kleber, diretor da empresa onde trabalho, por compreender os momentos em que

estive presente, mas não por inteiro no exercício de minhas atribuições.

A todos, que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho.

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“Se escolher navegar os mares do sistema

bancário, construa seu banco: sólido para

enfrentar, com segurança, qualquer tempestade. ”

JACOB SAFRA

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RESUMO

O objetivo deste estudo é identificar os determinantes de crédito para empresas em recuperação

judicial, extrajudicial ou em crise financeira. Esta pesquisa está amplamente inserida no cenário

atual em que os índices de empresas que optam pelo processo de recuperação se apresentam em

constante elevação. Diversas causas podem levar as empresas ao desempenho desfavorável e,

consequente, crise financeira, seja por fatores internos ou externos. A ausência de tomada de

decisão gerencial, da adoção de estratégias consistentes, a má gestão do caixa da empresa,

dentre tantas outras, ocasionam a perda de resultado e a deterioração do rating de crédito e,

consequentemente, à restrição ao crédito por bancos comerciais. Diante da crise financeira,

algumas empresas acabam recorrendo ao benefício da lei 11.101/05, optando pelo processo de

recuperação judicial. Face à escassez do crédito, as empresas recorrem à factoring e Fundos de

Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) para que, por meio da cessão de direitos

creditórios possam suprir a necessidade de captação de recursos e manter o funcionamento da

operação. Nesse contexto, a presente pesquisa propõe um estudo sobre os fatores determinantes

na concessão do crédito para as empresas em recuperação (turnaround), dado o pressuposto da

assimetria nas demonstrações financeiras e a necessidade de crédito para fomentar a empresa

durante o período de recuperação da crise. O referencial teórico traz o levantamento a partir das

causas da crise financeira, seguido do factoring, Fundos de Investimentos em Direitos

Creditórios (FIDC), securitizadora, da lei 11.101/05, da lei americana Bankruptcy Code, do

crédito, da confiança, do estudo de um caso real, chegando às conclusões. Realizou-se pesquisa

qualitativa, do tipo exploratória, com 9 empresas da cidade de São Paulo e interior em que a

soma do patrimônio líquido representa 33% do mercado. A aplicação do caso real de uma

empresa em recuperação judicial com a adoção de um FIDC para fomentar o caixa a partir da

contratação da empresa de consultoria permite compreender todo o processo. Os resultados

obtidos através da análise de conteúdo indicam 2 vertentes no processo de concessão de crédito,

sendo (i) a adoção de um agente que eleve a confiança e diminua a percepção do risco para o

fomentador e (ii) a busca por parceiro para financiar a empresa durante o processo de

recuperação judicial ou recuperação informal (acordo fora do tribunal). Constatou-se os

seguintes determinantes de crédito: a competência da empresa em produzir resultados, o caráter

da empresa, a qualidade das informações financeiras e a adoção de consultor, ainda que exerça

o papel de agente, e mitigador de risco percebido.

Palavras-chave: Recuperação Judicial. Recuperação Extrajudicial. Concessão de Crédito.

FIDC. Factoring. Securitização. Turnaround.

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ABSTRACT

The aim of this study is to identify the factors in determining credit for companies in judicial

or extrajudicial rehabilitation or which are undergoing a period of financial crisis. This research

is particularly relevant in the current scenario where the number of companies opting for the

rehabilitation process is constantly increasing. Several causes can be attributed to companies

showing poor performances and facing subsequent financial crises either as a result of internal

factors or external ones. The lack of competent managerial decision-making, adoption of

consistent strategies, poor management of the company's cash, among many other factors, cause

loss of income and lowering of credit rating, thus leading to credit restrictions by commercial

banks. Faced with this financial crisis, some companies end up taking advantage of the benefits

provided by Statue 11.101/05 and opting for bankruptcy protection. Given the scarcity of credit,

companies turn to factoring and FIDC, through which assignment of receivables helps to meet

the need for raising funds and maintaining company operations. In this context, the present

research proposes a study of the determining factors in granting credit to businesses in

rehabilitation (turnaround), given the assumption of disparity between financial statements and

the need for credit to keep the company going during the period of recovery from the crisis.

The theoretical framework bases the survey on the causes of the financial crisis, followed by

factoring, FIDC, securitization, Statute 11.101/05, the American Bankruptcy Code, credit and

the role of trust. Qualitative, exploratory research was conducted at companies in the city and

state of São Paulo. The results indicate two main trends in the credit-granting process; (i) the

adoption of an agent who builds confidence and lowers the perceived risk for the funding entity;

and (ii) the search for a partner to finance the company during the formal or informal

rehabilitation process.

Keywords: Judicial Rehabilitation. Extrajudicial Rehabilitation. Bankruptcy. Credit Granting.

FIDC. Factoring. Securitization. Turnaround.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Declínio e recuperação da empresa ........................................................................... 30

Figura 2: Novas atividades do factoring – em % ..................................................................... 33

Figura 3: Processo de securitização e FIDC ............................................................................. 36

Figura 4: Estrutura básica de operação de cessão de crédito .................................................... 38

Figura 5: Fluxo do processo da recuperação judicial ............................................................... 42

Figura 6: Fluxo do processo de falência ................................................................................... 44

Figura 7: Gestão adequada: o tipo certo de executivo no momento certo ................................ 47

Figura 8: Processamento da recuperação judicial art. 51/69 e 73 ............................................ 52

Figura 9: Processamento da recuperação extrajudicial art. 161 – 167 ..................................... 55

Figura 10: Processo de securitização ........................................................................................ 64

Figura 11: Geografia do factoring – posição das Américas, 2013 ........................................... 71

Figura 12: Volume Mundial / Continente – em € ..................................................................... 72

Figura 13: Histórico de recuperação judicial – 06.2005 à 12.2013 .......................................... 78

Figura 14: RJ Requerida vs. Deferida - Pequena Empresa....................................................... 78

Figura 15: RJ Requerida vs. Deferida - Média Empresa .......................................................... 79

Figura 16: RJ Requerida vs. Deferida – Grande Empresa ........................................................ 79

Figura 17: Dados históricos – falência e RJ ............................................................................. 80

Figura 18: Falências requeridas vs. decretadas ........................................................................ 80

Figura 19: Análise das RJ – 06/2005 / 12/2013........................................................................ 81

Figura 20: Análise – 06/2005 / 12/2013 ................................................................................... 82

Figura 21: Papel do consultor: agente e mitigador de risco percebido ................................... 103

Figura 22: Área de checagem ................................................................................................. 106

Figura 23: Determinantes do Crédito ..................................................................................... 113

Figura 24: Cronologia do processo de RJ – caso real............................................................. 119

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Estratégias comuns à recuperação ........................................................................... 28

Quadro 2: Normas regulamentares para cessão de crédito ....................................................... 37

Quadro 3: Comparativo das atividades do factoring e do banco comercial ............................. 39

Quadro 4: Estrutura da Lei 11.101/05 ...................................................................................... 45

Quadro 5: Exame de viabilidade .............................................................................................. 48

Quadro 6: Meios de recuperação e objetivos propostos ........................................................... 50

Quadro 7: Comparativo da lei de recuperação judicial entre Estados Unidos e Brasil ............ 60

Quadro 8: Premissas da simulação do comparativo de operação de desconto de duplicata .... 70

Quadro 9: Comparativos fiscais entre o FIDC e o Factoring .................................................. 73

Quadro 10: Questão nº 1 ........................................................................................................... 94

Quadro 11: Questão nº 2 ........................................................................................................... 96

Quadro 12: Questão nº 3 ........................................................................................................... 98

Quadro 13: Questão nº 4 ......................................................................................................... 100

Quadro 14: Questão nº 5 ......................................................................................................... 101

Quadro 15: Questão nº 6 ......................................................................................................... 104

Quadro 16: Questão nº 7 ......................................................................................................... 107

Quadro 17: Questão nº 8 ......................................................................................................... 109

Quadro 18: Fatores internos e externos do declínio ............................................................... 116

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Estudos das causas do declínio. ................................................................................ 24

Tabela 2: Principais elementos que conduziram as empresas à fase do declínio ..................... 25

Tabela 3: Classificação de risco versus provisão de liquidação duvidosa ............................... 66

Tabela 4: Médias do período do fator ANFAC ........................................................................ 67

Tabela 5: Taxas de juros por instituição financeira- período 14.01.2015 a 20.01.2015........... 68

Tabela 6: Simulação de operação de desconto de duplicata – Banco vs. Factoring ................ 69

Tabela 7: Volume total dos factoring por continente – últimos 7 anos em milhões € ............. 72

Tabela 8: Países de destaque no volume total das Américas .................................................... 73

Tabela 9: Simulação de operação de desconto de duplicata – FIDC vs. Factoring ................. 74

Tabela 10: PL dos FIDC-NP classificados por administrador e PL ......................................... 75

Tabela 11: PL dos FIDC classificados por administrador ........................................................ 76

Tabela 12: Comparativo de processos finalizados vs. planos aprovados ................................. 81

Tabela 13: Composição da amostra .......................................................................................... 84

Tabela 14: Perfil dos respondentes ........................................................................................... 85

Tabela 15: Entrevistas realizadas – data, duração, meio, local, tempo médio ......................... 89

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACC Contrato sobre Adiantamento de Câmbio

AG Assembleia Geral

ANFAC Associação Nacional das Empresas de Fomento Comercial

BCB Banco Central do Brasil

BP Balanço Patrimonial

CEO Chief Executive Officer

CETIP Câmara de Custódia e Liquidação

CMN Conselho Monetário Nacional

CMV Custo do Material Vendido

CND Certidão Negativa de Débitos

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

CPF Cadastro de Pessoas Físicas

CVM Comissão de Valores Mobiliários

DIP Debtor-in-Possession

DRE Demonstrativo dos Resultados do Exercício

FCI Factoring Chain International

FIDC Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios

FIDC-NP Fundos de Investimentos em Diretos Creditórios-Não Padronizados

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PIB Produto Interno Bruto

PL Patrimônio Líquido

RG Registro Geral

RJ Recuperação Judicial

SEC Securities and Exchange Commission

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SINFAC Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring do

Estado de São Paulo

SPE Sociedade de Propósitos Específicos

UPI Unidade Produtora Isolada

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 19

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA ....................................................................... 19

1.2 OBJETIVO ................................................................................................................. 21

1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 21

1.3 QUESTÃO DE PESQUISA E JUSTIFICATIVA ...................................................... 21

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................... 22

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 23

2.1 O TURNAROUND NO BRASIL ................................................................................ 23

2.1.1 Declínio das empresas .............................................................................................. 23

2.1.2 Assimetria da informação ........................................................................................ 27

2.1.3 Estratégias para a recuperação de empresas ......................................................... 27

2.2 O FACTORING NO BRASIL ..................................................................................... 30

2.2.1 Vantagens e desvantagens ....................................................................................... 31

2.2.2 Fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) ..................................... 32

2.2.2.1 Da constituição e funcionamento ............................................................................... 33

2.3 CRÉDITO ................................................................................................................... 36

2.3.1 Cessão de crédito ...................................................................................................... 37

2.3.2 Bancos vs. Factoring ................................................................................................. 38

2.4 O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO ........................................................................ 40

2.4.1 O conceito de empresa ............................................................................................. 46

2.4.2 Princípio da preservação da empresa ..................................................................... 46

2.4.3 A recuperação judicial ............................................................................................. 47

2.4.3.1 Da viabilidade............................................................................................................. 48

2.4.3.2 Dos requisitos para requerer a recuperação ................................................................ 48

2.4.3.3 Dos meios de recuperação da empresa ....................................................................... 49

2.4.3.4 Das fases do processo de recuperação judicial ........................................................... 51

2.4.4 Recuperação extrajudicial ....................................................................................... 53

2.4.4.1 Da homologação da recuperação extrajudicial ........................................................... 53

2.4.4.2 Da preservação de credores ........................................................................................ 54

2.4.4.3 Das fases do processo de recuperação extrajudicial ................................................... 54

2.4.5 Dificuldade de obtenção de recursos ...................................................................... 55

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2.4.5.1 Financiamento com capital próprio ............................................................................ 56

2.4.5.2 Financiamento com capital de terceiros ..................................................................... 56

2.5 U.S. BANKRUPTCY CODE 1.978 .............................................................................. 56

2.5.1 Semelhanças da Lei 11.101/05 com U.S. Bankruptcy Code ................................... 58

2.6 SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS ...................................................................... 60

2.6.1 Securitização vs. Factoring ...................................................................................... 64

3 CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO .......................................................................... 65

3.1 FINANCIADOR DO CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO ........................................... 65

3.2 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FACTORING ............................................................. 67

3.3 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FIDC .......................................................................... 73

3.4 SEGREGAÇÃO DO RISCO ...................................................................................... 76

3.5 EMPRESAS EM CRISE ............................................................................................ 77

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 83

4.1 MÉTODO E TIPO DE PESQUISA ............................................................................ 83

4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA .................................................................................... 83

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ....................................................... 85

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................ 90

4.4.1 Tratamento dos dados .............................................................................................. 90

4.4.2 Análise dos resultados .............................................................................................. 91

5 CASO REAL ........................................................................................................... 114

5.1 HISTÓRIA DA EMPRESA ..................................................................................... 114

5.2 O DECLÍNIO ........................................................................................................... 115

5.3 A OPÇÃO PELA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ..................................................... 116

5.4 ANÁLISE DO CASO ............................................................................................... 119

5.5 CONCLUSÃO DO CASO REAL ............................................................................ 120

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 122

REFERÊNCIAS .................................................................................................. . 128

APÊNDICE .......................................................................................................... . 135

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19

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

A busca por resultados nas empresas acaba por colidir com o mercado concorrente, sob

as mais diversas formas, exige do empresariado uma dose extra de dinamismo, criatividade e

flexibilidade no direcionamento das estratégias, materializando-as pela perenidade dos

negócios.

Embora almejado, o resultado, por vezes, não acontece e, ainda, de forma desastrosa,

pode se mostrar insuficiente para a manutenção das atividades da empresa, colocando-a em

situação de risco e incapacidade de manter seu bem maior: a sobrevivência. Nesse sentido, o

amparo legal se dá mediante a Lei de Recuperação e Falência nº 11.101 de 09 de fevereiro de

2005, em seu artigo 47, que versa sobre o princípio da preservação da empresa, cujo objetivo,

segundo Salomão e Santos (2012, p.14), é: “[...] salvar a empresa, desde que economicamente

viável”.

Domingos (2009) ensina que ainda que o princípio da preservação da empresa esteja

para o empresariado como uma possibilidade de reversão da situação desfavorável da

organização, este mantém sua função social.

Fazzio Junior (2003) argumenta que insolvente ou não, a empresa é uma unidade

geradora de caixa que interage no mercado amplamente, construindo redes de relacionamento

sob normas jurídicas com grande repercussão social.

Segundo Lopes (2012), ineficiências em gestão, delegação, informações para a tomada

de decisão, são possíveis causas que corroboram para que a empresa entre em estágio de

declínio. No entanto, empresas falham no planejamento por não utilizarem ferramentas

adequadas de gestão a fim de estabelecer o controle efetivo da operação.

O autor complementa, diante de um cenário desfavorável, pouco conhecido até então,

mas presente na empresa, o que acaba gerando insegurança diante da incerteza, de tal sorte que

pouca ou nenhuma opção pareça ser salutar para mediar a então realidade a não ser a injeção

de dinheiro novo.

Neste panorama, a ausência do planejamento estratégico dificulta a compreensão entre

as oportunidades ou desafios do ambiente externo, com vistas para o desenvolvimento sem

traumas da empresa (GRACIOSO, 1996).

O direcionamento estratégico estimula a criatividade, a inovação, a melhoria contínua

da atividade empresarial e a intervenção preventiva, já que a saúde econômica da empresa

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20

precisa, constantemente, ser avaliada, monitorada e ajustada. Uma vez instaurado o caos, ações

que, até então, eram rotineiras, passam a ter o cunho decisório: pago este ou aquele fornecedor,

esta ou aquela obrigação, como manter a empresa trabalhando, gerando caixa para que o ciclo

produtivo não seja interrompido, findando as opções para gerir o caixa e, por conseguinte, a

crise? Mas, observando o caos sob outra perspectiva, nota-se que as crises não são destrutivas,

mas, sim, são instrutivas, explica Queiroz (2004).

A inobservância e/ou o desconhecimento do amparo legal ao fornecimento de crédito

para empresas em recuperação (recuperanda), por meio da Lei nº 11.101/05, pelos credores,

muitas vezes, dificulta a obtenção de novos créditos para a empresa em crise viabilizar a

continuidade de suas atividades. Segundo Milanese (2014), a nova lei de falência inclui dois

novos dispositivos para proteção aos credores e fornecedores, sendo:

(i) o primeiro, pós-petição, que são considerados direitos prioritários em

eventual liquidação por falência;

(ii) o segundo, pré-petição e quirografários, quando não há a interrupção no

fornecimento de bens e serviços ou financiamento à empresa, mas, se

houver a conversão da recuperação em liquidação, serão considerados

direitos prioritários.

Embora tal prerrogativa implique a possibilidade de aumento do endividamento da

empresa devedora, que já sofre com o caixa estrangulado, dificultando para os credores

receberem os seus créditos, também é um meio de preservação e maximização do valor dos

ativos da empresa (KIRSCHBAUM, 2009).

Considerando o ano de 2014 e 2015, com cenário econômico recessivo, que , segundo

o IBGE, a recessão se caracteriza por 2 períodos consecutivos de retração do PIB, e

considerando os bancos dotados por políticas cada vez mais conservadoras na concessão de

crédito - o factoring e FIDC - como fomentador de crédito, atuante no mercado de médias e

pequenas empresas, cujo acesso ao crédito é menor, estes bancos financiam as operações dessas

empresas e aumentam a participação no mercado ocupado por bancos.

Para fins desta pesquisa, a definição de micro, pequena, média e grande empresa do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi utilizada, sendo: (i) microempresa até

9 pessoas ocupadas; (ii) pequena empresa, entre 10 e 49 pessoas ocupadas; (iii) média empresa,

entre 50 e 249 pessoas ocupadas; (iv) grande empresa, com 250 pessoas ocupadas ou mais

(CAVARARO, 2011).

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21

Nesse contexto, a presente pesquisa propôs um estudo sobre os fatores determinantes na

concessão do crédito para as empresas em recuperação (turnaround), dado o pressuposto da

assimetria nas demonstrações financeiras e a necessidade de crédito para fomentar a empresa

durante o período de recuperação da crise.

1.2 OBJETIVO

1.2.1 Objetivo geral

Segundo o pressuposto da assimetria das informações nas demonstrações financeiras, a

dificuldade de obtenção de recursos e a necessidade de crédito para fomentar a empresa durante

o período de crise financeira, o presente estudo teve, como objetivo geral, “conhecer os fatores

determinantes na concessão do crédito para as empresas em crise financeira ou em processo de

recuperação judicial”.

1.3 QUESTÃO DE PESQUISA E JUSTIFICATIVA

Esta dissertação buscou identificar possíveis influências nas empresas que estão em

processo de reorganização empresarial, portanto, a seguinte questão deu origem a esta pesquisa:

quais os determinantes na concessão de crédito para empresas em processo de reorganização

empresarial ou em crise financeira?

De acordo com a orientação do programa de mestrado profissional em Ciências

Contábeis, o benefício prático à formação profissional, tal qual a possibilidade da aplicação dos

resultados na prática, proporcionam ao pesquisador a aproximação da academia com o ambiente

empresarial.

Este trabalho justificou-se pela busca dos determinantes na concessão de crédito e de

possíveis influências da participação do Factoring e do FIDC constituído a partir do Factoring

no processo de recuperação de empresas, mediante a operação de fomento de crédito para tais

empresas.

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1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Com vistas ao alcance do objetivo proposto neste estudo, a estruturação foi elaborada

em 6 seções: a primeira apresentou a introdução, contextualizando o tema da pesquisa, a

situação-problema, a questão de pesquisa, os objetivos e a estrutura deste estudo.

O referencial teórico foi apresentado, na segunda seção, com o processo de turnaround

no Brasil, demonstrando as fases do declínio das empresas, a possível assimetria da informação

nas relações empresariais, chegando à estratégia de recuperação para empresas em crise.

Realizou-se uma abordagem sobre o factoring, com possíveis vantagens e desvantagens sob a

ótica da empresa que necessita do recurso para financiar a operação e a apresentação dos fundos

de investimentos em direitos creditórios a partir da constituição e seu funcionamento. Ainda,

nesta seção, foi abordado o processo de crédito e a estrutura do processo de recuperação judicial

e extrajudicial a partir da petição inicial, “o pleito”, passando por conceitos de preservação e de

viabilidade empresarial, chegando à homologação pelo juiz. Por fim, e não menos importante,

esta seção abordou possíveis semelhanças entre as leis norte-americanas e brasileiras.

Passando à terceira seção, que fez uma reflexão sobre o crédito para empresas em crise,

expondo o papel do financiador do crédito, a comparação do custo de captação de recursos pelas

empresas pelo factoring e do FIDC e apresentando uma visão geral sobre a adoção da lei

11.101/05 por pequenas, médias e grandes empresas.

Na quarta seção, foram demonstrados: o método da pesquisa, a coleta de dados e o

tratamento dos dados, caracterizando a pesquisa como qualitativa e exploratória.

Já, a quinta seção apresentou o estudo de um caso real de uma empresa de médio porte

que entrou em declínio e optou pela adoção do benefício legal para reverter a crise financeira.

Apresentaram-se os elementos principais e o financiamento da operação pela cessão de direitos

creditórios em FIDC. A conclusão do caso foi apresentada para fechamento desta seção.

Finalizando, as considerações finais, limitações, foram registradas na sexta seção, em

que os dados, após analisados, possibilitaram a compreensão e o entendimento dos possíveis

determinantes no processo de concessão de crédito para as empresas em crise financeira,

deixando a sugestão para novos estudos.

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23

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O TURNAROUND NO BRASIL

A expressão em inglês turnaround, traduzida livremente para o português significa

“mudar o curso ou direção”, “reverter a crise” ou “recuperar o valor e o desempenho

empresarial”. A recuperação da empresa é o processo pelo qual a empresa necessita de ações

corretivas e preventivas de curto prazo para restabelecer o desempenho anterior ao cenário em

que se encontra e sem o qual a empresa poderá falir em pouco tempo. A definição de turnaround

também se aplica às empresas que necessitem de correções para melhorar o desempenho que

fora perdido ou que necessite de melhoria dos processos de forma tal que possibilite se tornar

mais competitiva. Neste caso, trata-se de processo de mudança estratégica.

No meio empresarial, a crise é uma situação de ameaça às metas da empresa cuja decisão

de correção deve ser de curto prazo.

Segundo Hermann (1963), a crise ameaça as metas prioritárias da empresa, limitando o

tempo de resposta e sendo imprevisível, levando os tomadores de decisão (decision makers) a

altos níveis de stress, pegando-os de surpresa e prejudicando o desempenho em razão do pouco

tempo para reação.

Embora haja diversas definições, para fins deste estudo, adotou-se o conceito de

recuperação do valor e do desempenho empresarial para a expressão turnaround, e o conceito

de situação de ameaça à sobrevivência da empresa, como situação de crise.

2.1.1 Declínio das empresas

Slatter e Lovett (2009) explicam que diversas causas podem levar as empresas ao

desempenho desfavorável e, consequente, perda de resultado, seja a ausência de tomada de

decisão gerencial, de adoção de estratégias consistentes, do excesso de imobilização de ativos

gerando custos adicionais, a subutilização de ativos, a má gestão do caixa da empresa, a perda

de lucratividade, dentre tantas outras.

Sudarsanam e Lai (2001) atribuem o declínio empresarial como sendo uma inércia

administrativa, sincronismo pobre, falta de intensidade e aplicação de estratégias para a

recuperação de empresas.

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Para Boyne (2006), embora os fatores internos e externos corroborem para que a

empresa entre em processo de declínio, mesmo em ambiente estável, liderança fraca ou falta de

foco no cliente podem ocasionar a perda de valor da empresa, levando-a ao declínio.

No estudo de Cater e Schwab (2008), comparando duas empresas familiares de médio

porte, apresenta como, uma das causas, a perda substancial de recursos ao longo do tempo,

podendo ser gradual ou repentina, bem como a atribuição, por gestores, aos fatores externos à

empresa, indo além de seu controle, como a concorrência. Mas, ao final, esclarecem que os

principais fatores são os de ordem interna.

Jeyavelu (2009), em sua pesquisa sobre Organisational Identity Dissonance in

Organisational Decline and Turnaround, expõe que há o consenso de que as causas do declínio

empresarial estejam associadas à incapacidade de se adaptar às mudanças do ambiente, aos

erros de gestão, às decisões subjetivas e ou parciais dos gestores, aos conflitos de demandas dos

stakeholders, aos excessos de burocratização, dentre outros, chegando ao ciclo de vida da

organização pressupondo ser parte dele.

Os autores Boyne (2006), Sudarsanam e Lai (2001) atribuem o declínio empresarial aos

fatores internos, destacando, em sua maioria, a má gestão e a negligência com o controle e a

gestão financeira como uma das principais causas. Já, para o ambiente externo, os autores Cater

e Schwab (2008), Jeyavelu (2009) e Panicker e Manimala (2011) apontam como possíveis

causas: a concorrência, as mudanças na demanda e as variações adversas nos preços dos

insumos básicos. Slatter e Lovett (2009) apresentam um resumo dos estudos das causas do

declínio, separando as causas internas das externas, conforme tabela 1.

Tabela 1: Estudos das causas do declínio.

Slatter 1984 Gething 1997

Internos

Má gestão 73% 84%

Controle financeiro inadequado 75% 60%

Elevada estrutura de custos 35% 56%

Carente esforço de marketing 22% 20%

Grandes Projetos 17% 20%

Aquisições 15% 72%

Política Financeira 20% 84%

Externos

Mudanças na demanda 33% 68%

Concorrência 40% 44%

Variações adversas nos preços dos insumos básicos 30% 20%

Fonte: Adaptado pelo Autor, de Slatter e Lovett (2009, p. 52)

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Lopes e Assis (2009) explicam que, quando há títulos protestados, acúmulo de passivos

tributários, queda nos lucros, atraso nos pagamentos dos salários ou até mesmo prejuízo, mesmo

que, nesse momento, o caixa da empresa ainda esteja equilibrado, é necessário verificar se o

prejuízo é um fato isolado em determinado exercício ou se já vem ocorrendo em períodos

anteriores, pois, nesse caso, claramente observa-se que algo não está bem.

Segundo Gitman (2010), a empresa pode ir ao declínio por diversas razões, mas

constantes retornos operacionais negativos ou baixos podem ocasionar a perda de valor de

mercado, caso o retorno não seja superior ao custo de capital. Outro fator seria a insolvência

técnica, mesmo que os ativos sejam maiores que os passivos, há a incapacidade de pagar os

compromissos à medida que vencem, configurando crise de liquidez e podendo levar a empresa

à falência, quando o valor contábil dos passivos ultrapassar o valor justo de mercado dos ativos,

ou seja, o patrimônio líquido negativo.

Robbins e Pearce II (1993) argumentam que, embora imprecisa, a situação de declínio

caracteriza-se pela permanência da empresa por um período entre dois e quatro anos

consecutivos de prejuízo, em que o retorno sobre o investimento (ROI) e o retorno sobre os

gastos (ROS) permaneçam negativos e ou abaixo da média do setor.

No Brasil, segundo Valle (2010 apud DELOITTE TOUCHE TOHMATSU, 2005) em

pesquisa realizada sobre os impactos da Lei 11.101/05 e os principais elementos que podem

levar a empresa ao declínio, verifica-se que faz parte do ciclo de vida da empresa, embora haja

certa acomodação da gerência diante da falta de ações preventivas. A tabela 2 resume a

pesquisa.

Tabela 2: Principais elementos que conduziram as empresas à fase do declínio

Elementos desencadeadores do declínio Porcentagem das empresas

Alto endividamento da empresa 92%

Margens de lucro declinantes 89%

Aumento do custo financeiro 84%

Surgimento de novas tecnologias 83%

Concorrência desleal por preço 81%

Mudança no comportamento de compra dos atuais clientes 81%

Escassez ou aumento no custo dos insumos 81%

Falta de financiamento à operação 80%

Políticas Governamentais 80%

Entrada de novos concorrentes no mercado 80%

Mudanças na regulamentação 77%

Novos produtos ou serviços oferecidos pelos concorrentes 77%

Redução de market-share 77%

Fonte: Valle (2010, p.103).

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Ainda sobre a referida pesquisa, executivos brasileiros atribuem as causas do declínio a

problemas financeiros, como alto endividamento, aumento dos custos financeiros, queda nas

margens de lucro, entre outros, como destacado na tabela acima.

Coelho (2008) defende que a crise financeira da empresa pode ter diversos significados,

entretanto, o autor propõe as seguintes classificações:

crise econômica – considerável retração dos negócios originados por queda

de consumo dos produtos fabricados ou serviços oferecidos, retração geral da

economia, atraso tecnológico e concorrência;

crise financeira – ausência de caixa para honrar compromissos, gerando crise

de liquidez em razão da amortização do capital investido ou em razão de

dívida contraída em moeda estrangeira, com elevação repentina. Em outras

palavras, inadimplência.

crise patrimonial – insolvência, ou seja, ativos em menor quantidade frente

ao passivo, quer dizer, menos bens no patrimônio do que as dívidas

contraídas.

No estudo realizado por Panicker e Manimala (2011), sessenta oito (68) casos de

sucessos e trinta e quatro (34) casos de fracasso em turnaround foram analisados e concluíram

que as causas do declínio, em sua maioria, são atribuídas ao ambiente externo, mas, na verdade,

a causa do declínio está no ambiente interno, pois, se houver instabilidade ou recessão no

mercado, os gestores devem perceber e preparar a empresa para o cenário em que ela estiver

inserida.

O’Neill (1986) sugere que, se o declínio for de natureza econômica, poderia estar

associado ao ciclo do negócio e, portanto, afetaria tanto a boa quanto a má gestão da empresa.

Segundo o autor, outros fatores também podem afetar a empresa, como o aumento da

concorrência, a mudança de hábito dos consumidores e a entrada de produtos substitutos; no

âmbito administrativo, podem ocorrer custos excessivos de trabalho, excesso de restrições da

capacidade da administração em usar os recursos, uso ineficiente ou ineficaz dos grupos de

profissionais-chave, chegando à estrutura e sistemas inadequados.

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2.1.2 Assimetria da informação

Carvalho (2003) explica que a assimetria da informação se dá quando as partes

envolvidas têm informações distintas, ou seja, o tomador do crédito possui mais informação

sobre as reais possibilidades de pagar a dívida do que o agente creditício (no caso deste trabalho

factoring e FIDC), resultando na negação do crédito. Mesmo em se tratando de bons pagadores,

pode ocorrer a negativa do crédito por falha nas informações prestadas, levando a empresa

tomadora do recurso a utilizar colateral (garantia para os credores), quando possível.

Patrocínio (2013) expõe que credores necessitam analisar se os empreendedores têm

capacidade de gerir o processo de recuperação financeira e garantir, eventualmente, a obtenção

da mesma quantia que seria possível obter em caso de falência. Para tanto, faz-se necessário o

disclousure das informações patrimoniais da empresa, dos acionistas, das coligadas ou de seus

controladores.

Blazy, Martel e Nigam (2014) complementam que a dificuldade de reestruturação de

dívidas em empresas com dificuldade financeira, mas não em falência, é ausência de

informação clara entre os credores e os gestores da empresa. Tal assimetria informacional pode

resultar na dificuldade de organizar o processo de renegociação informal das dívidas, fora dos

tribunais, processo extrajudicial, levando a empresa a recorrer aos meios legais, processo de

recuperação judicial ou, até mesmo, ao processo falimentar.

Segundo Fredenberger, Dethomas e Ray (1993), as empresas, em declínio financeiro,

passam por crise de informação devido à falta de dados para a tomada de decisão, como

orçamento anual, relatórios de variação mensal, previsões de fluxo de caixa, sistema de custeio,

avaliação de ativos e a adoção de práticas de contabilidade criativa, podendo contaminar o valor

da informação financeira, resultando na dependência de outras informações não-financeiras. Os

pesquisadores observam as razões para a falta de informação, destacando (i) a falta de metas e

prioridades específicas em toda a empresa, provocando baixo nível de eficácia dos sistemas e

relatórios; (ii) os chief executive officer (CEOs) de empresas em declínio financeiro são pouco

receptivos às informações que conflitem com seus pressupostos e, portanto, perdem as

oportunidades de correção de rota, evitando situações indesejadas.

2.1.3 Estratégias para a recuperação de empresas

A mudança de rota da empresa, em geral, é considerada quando há problemas sérios no

horizonte e há a necessidade de correção. Segundo Slatter e Lovett (2009), há a necessidade do

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direcionamento dos esforços para mitigar as ameaças à vida da empresa, atuando na causa-raiz

dos problemas e não nos sintomas para uma recuperação sustentável. Consideram, como fatores

importantes, a estabilização da crise, a liderança, o apoio das partes interessadas, o foco

estratégico, a mudança organizacional, as melhorias em processos críticos e a reestruturação

financeira, conforme detalhado no quadro 1.

Quadro 1: Estratégias comuns à recuperação

Sete Ingredientes-Chave Estratégias Genéricas à Recuperação

1. Estabilização da crise

Assumindo o controle

Gestão do caixa

Redução de ativos

Financiamento de curto prazo

Primeira redução de custos

2. Liderança Troca do executivo chefe

Substituição de outros diretores

3. Apoio das partes interessadas Comunicação

4. Foco estratégico

Redefinição do negócio principal

Alienação e redução de ativos

Reenfoque produto-mercado

Redimensionamento

Terceirização

Investimento

5. Mudança organizacional

Mudanças estruturais

Mudanças de pessoas chave

Melhoria nas comunicações

Criando comprometimento e competências

Novos termos e condições de emprego

6. Melhorias de processo crítico

Melhoria nas vendas e no marketing

Redução de custos

Melhorias na qualidade

Melhorias na interatividade

Melhorias nas informações e sistemas de controle

7. Reestruturação financeira Refinanciamento

Redução de ativos

Fonte: Slatter e Lovett (2009, p.77).

Chowdhury e Lang (1996) explicam que as estratégias adotadas por grandes empresas

para a recuperação, embora similares, não são, em sua maioria, aplicáveis às pequenas e médias

empresas. Enquanto as grandes empresas se esforçam para fazer resultado, fechando unidades

e realizando os estoques, as pequenas e médias empresas não têm essa oportunidade, portanto

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optam por ações de curto prazo, como a redução de despesas, a revisão de custos, as políticas

de preço, e não de diferenciação, e acabam auferindo resultados no curto prazo.

O’Neill (1986) sugere o modelo de escolha da estratégia de turnaround a partir de ações

agrupadas, considerando a importância da identificação da causa do declínio para a definição

da estratégia de recuperação. Embora o modelo apresentado não esgote o tema, o autor indica

as estratégias de gestão, de redução, de crescimento e de reestruturação alinhadas aos fatores

de declínio para a escolha da estratégia de recuperação.

Robbins e Pearce II (1993) argumentam que as pequenas e médias empresas adotam a

estratégia de redução de custo, de ativos, ou as duas possibilidades combinadas, e obtêm

melhores resultados no processo de recuperação da empresa, de acordo com o estudo realizado

com 33 empresas para testar a aplicação da estratégia de redução de custos e ativos. O referido

estudo observa a adoção de estratégias de reposicionamento de mercado por meio da

reintrodução de produtos descontinuados, desde que possam ser produzidos de forma rápida e

rentável, utilizando o excesso de capacidade instalada. Os pesquisadores observaram ainda a

adoção da estratégia de redução de custos, alteração dos ativos fixos improdutivos, ganhos de

produtividade e aumento da participação de mercado como estratégias bem-sucedidas para a

retomada da fase de declínio financeiro.

Rasheed (2005) expõe que as pequenas e médias empresas podem optar por estratégia

de crescimento ou redução como alternativa para reverter o processo de declínio, mas estudos

demonstram melhores resultados na escolha da estratégia de redução em curto espaço de tempo,

embora empresas geridas por seus fundadores adotem o crescimento como medida de reversão

da crise.

Para Coelho (2008), se as estruturas do livre mercado funcionam, em termos gerais, de

modo adequado, as empresas em crise podem se recuperar pelas iniciativas dos empreendedores

ou investidores que identifiquem nesta a possibilidade de retorno de investimentos, mesmo em

estado crítico. A injeção de capital e investimento daria as condições necessárias para a

recuperação da crise financeira, considerando a possibilidade de ajustes como alienação do

controle acionário, ingresso de terceiro na sociedade, incorporação ou outra medida adotada

pelo mercado. O autor considera a recuperação judicial ou extrajudicial um processo-meio, e

não processo-fim, para a recuperação de empresas em crise financeira, conforme ilustrado na

figura 1.

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Figura 1: Declínio e recuperação da empresa

Fonte: Curso de recuperação judicial INSPER, 2012.

2.2 O FACTORING NO BRASIL

A origem da denominação factoring surge na Antiguidade greco-romana, mediante os

comerciantes, difundindo-se pela Idade Média, na região do Mediterrâneo; na era dos

Descobrimentos, pelo ramo têxtil; e, posteriormente, vindo a declinar na Europa. A expansão

nos Estados Unidos da América ocorre com a evolução do contrato de comissão para o contrato

de cessão de crédito, mediante a contraprestação. Em seguida, na década de 1960, é

reintroduzido na Europa, chegando ao Brasil em 1982 (LEITE, 2004).

Em 1968, durante inspeção em um banco de investimentos em São Paulo, quando no

curso de seu trabalho, um inspetor do Banco Central encontra a rubrica factoring no lugar de

financiamento de capital de giro no ativo do balancete do referido banco. Após análise

detalhada, conclui tratar-se de operação de factoring. Em 1979, surge o primeiro seminário

sobre o tema em Brasília. Em seguida, em 1982, é fundada a Associação Nacional das Empresas

de Fomento Comercial (ANFAC), tida como marco, com a qual se inicia a propagação e

congregação de empresas de fomento destinadas ao mercado de pequenas e a médias empresas.

Por ser considerada atividade comercial mista atípica, sendo serviço e compra de crédito

e por não estar tipificado em lei, o factoring era considerado como operação ilícita, associada à

agiotagem que, por fim, denegriu a imagem do negócio, retardando o seu desenvolvimento no

Brasil (LEITE 2004).

Donini (2003) classifica as atividades principais do factoring em duas modalidades, das

quais considera, como sendo a principal, a convencional; e, a diferenciada, como uma

modalidade de maior envolvimento com o cliente.

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Modalidade convencional:

(i) compra de crédito por meio de duplicatas ou cheque pré-datado,

também conhecido como maturity;

(ii) antecipação de recursos não-financeiros, como insumos, estoques e

matérias-primas para a industrialização do produto do cliente,

conhecida como atividade de matéria-prima;

(iii) prestação de serviço convencional, como avaliação de fornecedores,

clientes controle do fluxo de caixa, análise de crédito, dentre outras.

Modalidade diferenciada:

(iv) prestação de serviço diferenciado, como a gestão empresarial,

cogestão, administração e gerenciamento da empresa cliente conhecida

por trust.

Segundo Rizzardo (2000), o mercado financeiro brasileiro tem se mostrado cada vez

mais volátil com as políticas creditícias, dificultando o acesso ao crédito às empresas de

pequeno e médio porte que procuram alternativas para soluções momentâneas de

equacionamento do fluxo de caixa ou mesmo de viabilizar uma venda com o recebimento

imediato. Por intermédio da relação jurídica entre empresas, a cessão do direito creditício a

outrem, tendo, como a contraprestação, certa quantia que remunera a transação, torna-se um

mecanismo eficiente para a obtenção do crédito, configurando uma relação comercial de

compra e venda.

2.2.1 Vantagens e desvantagens

Assaf Neto (2009) nos ensina que há vantagens de operar com factoring, tais como:

maior flexibilidade de financiamento para expansão do volume de

atividade da empresa;

não há reciprocidade, tal qual exigida por instituição financeira, como

manutenção de saldo médio e outras formas exigidas;

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redução de despesas fixas, como o departamento de crédito e cobrança,

uma vez que se pode transferir ao factoring;

diminuição do risco e aumento nas chances de recebimento.

Fator (2000) explana que uma das vantagens de realizar operações com o factoring é a

rapidez e a flexibilidade na concessão do crédito, uma vez que, para iniciar o processo de

aprovação, é necessário apresentar a relação dos faturamentos dos últimos três exercícios, o

endividamento bancário classificado por instituição financeira e/ou não-financeira, o contrato

social, o cartão do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o Registro Geral (RG) e o

Cadastro de Pessoa Física (CPF) dos sócios para uma breve análise. A apresentação do balanço

patrimonial e a demonstração do resultado do exercício serão necessárias em segundo

momento, quando da emissão do contrato de prestação de serviços e pela formalização de

garantias.

Segundo Rizzardo (2000), a operação revela-se cara e nem sempre conveniente à

empresa que necessita do serviço, podendo transparecer a insolvência ou a incapacidade

financeira ao mercado.

Para Assaf Neto (2009), não se pode generalizar como melhor opção as operações com

o factoring, uma vez que os custos assumem valores mais altos que os do mercado. É necessário

quantificar as operações, associando-as aos custos por meio dos encargos efetivos e comparar

com o mercado de crédito, inclusive com a reciprocidade, para, então, decidir quanto à

viabilidade ou não.

2.2.2 Fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC)

Fortuna (2014) explica que os FIDC foram criados para dar maior liquidez ao mercado

de crédito, reduzindo os riscos e aumentando a oferta via a captação de recursos no mercado de

capitais e a desintermediação bancária.

Para Borges (1999), o processo de reestruturação societário exige a criação de meios

próprios de captação de recursos e a profissionalização do mercado de capitais, com os pregões

cada vez mais exigindo títulos seguros. Explicita, ainda, que o foco da análise não está na

empresa simplesmente, mas na classificação de risco baseado na segregação dos ativos.

Barros (2014), para tanto, acrescenta que há um aumento no número de FIDC em razão

da migração dos factoring diante da concorrência e de oportunidade de negócios, conforme

demonstrado na figura 2.

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Figura 2: Novas atividades do factoring – em %

Fonte: Valor econômico (2014, p. c1).

2.2.2.1 Da constituição e funcionamento

O FIDC foi criado pela Resolução CMN n. 2907, de 29 de novembro de 2001, e é

regulamentado por Instruções da CVM n. 356, de 17 de dezembro de 2001, CVM n. 393, de 22

de julho de 2003 e por legislação complementar do Banco Central.

Os fundos de recebíveis ou FIDC são uma comunhão de recursos constituída sob a forma

de condomínios, cuja participação do PL em investimentos, em direitos creditórios seja de, no

mínimo, 50% de seu total e com o objetivo de promover a aplicação coletiva dos recursos, em

títulos e valores mobiliários, de seus participantes com regulamento específico, cujo fórum

principal de decisões é a Assembleia Geral. Um mecanismo organizado com a finalidade de

captar e investir recursos no mercado financeiro, podendo ser:

(i) fundo aberto - entrada de novos cotistas ou aumento da participação dos

atuais é permitida bem como a saída por meio de resgate de cotas. Os

cotistas podem solicitar o resgate de suas cotas a qualquer momento;

(ii) fundo fechado - não é permitida a entrada e a saída de cotistas, após o

período de captação, exceto por abertura de nova fase de captação. As

cotas poderão ser resgatadas ao término do prazo de duração do fundo,

podendo ser negociado em mercado secundário.

0 15 30 45 60

Novas atividades - em %

Não tem interesse

Estuda entrada em FIDC

Estuda entrar em novas áreas

Já atua em securitização SPE

Prepara entrada em securitização SPE

Estuda entrada em securitização SPE

Já atua em FIDC

Prepara entrada em FIDC

56,39

14,89

14,89

3,19

3,19

3,19

2,13

2,13

Novas atividades - em %

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34

Para empresas com alto comprometimento de dívidas no balanço patrimonial ou grande

capacidade de gerar recebíveis, a adoção e a constituição de um FIDC pode melhorar o balanço

patrimonial mediante captação de recursos para amortizar as dívidas pela redução do passivo

bancário, em razão da diminuição dos ativos de curto prazo, cedendo os recebíveis, argumenta

Fortuna (2014).

De acordo com a definição da instrução CVM 356, Art. 3, o público-alvo são

investidores qualificados conforme relacionado abaixo:

(i) instituição financeira;

(ii) companhias seguradoras e sociedades de capitalização;

(iii) entidades abertas e fechadas de previdência complementar;

(iv) pessoas físicas ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em

valor superior a R$ 300.000,00 e que, adicionalmente, atestem por

escrito sua condição de investidor qualificado mediante termo próprio;

(v) fundos de investimentos destinados, exclusivamente, a investidores

qualificados;

(vi) administradores de carteira e consultores de valores mobiliários

autorizados pela CVM, em relação a seus recursos próprios.

Aos investidores interessados na aquisição de cotas a CVM dispõe, no mesmo

regulamento, de um termo de adesão específico conforme:

Art. 55. É indispensável, por ocasião do ingresso do condômino no fundo, sua adesão

aos termos do regulamento respectivo, cabendo à instituição administradora as

responsabilidades de definir a forma e providenciar seja efetivada tal adesão.

As definições utilizadas pela CVM para:

(i) cedente – aquele que realiza cessão de direitos creditórios para o FIDC;

(ii) sacado – devedor dos direitos creditórios cedidos ao FIDC, podendo ser

pessoa jurídica ou física;

(iii) custodiante – é a pessoa jurídica credenciada na CVM para o exercício

da atividade de prestador de serviços de custódia e liquidação física e

financeira dos ativos da carteira do fundo;

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(iv) administrador – responsável por representar o fundo perante a CVM,

BC e cotistas, divulgando informações periódicas, conforme o

regulamento estabelecido;

(v) agência de rating – responsável por avaliar os recebíveis

transacionados;

(vi) auditor independente – elabora as demonstrações financeiras do fundo

e analisa as carteiras provenientes dos direitos creditórios cedidos ao

fundo;

(vii) amortização – pagamento dos cotistas do fundo fechado em igualdade

de suas cotas sem que haja redução.

As cotas dos fundos são classificadas em:

(i) cota sênior – aquela que não se subordina às demais para efeito de

amortização e resgate tendo preferência no recebimento;

(ii) cota mezanino – são subordinadas às cotas seniores, mas com

prioridade na amortização ou resgate diante das cotas subordinadas;

(iii) cota subordinada – aquela que se subordina à cota sênior ou a outras

cotas subordinadas, para efeito de amortização e resgate. Neste caso,

quão maior for a cota subordinada, maior segurança terá o investidor

em cotas seniores.

Aos investidores qualificados é vedado aplicações inferiores à quantia de R$ 25.000,00.

Nestes fundos, os tipos de ativos mais utilizados são os recebíveis comerciais que

provêm dos direitos creditórios de curto prazo de multicedente, multisacado ou FIDC de

fornecedor.

A figura 3 apresenta a demonstração simplificada do processo do fundo de recebíveis.

A empresa cedente (originador) vende produtos e serviços a prazo para empresas clientes

(devedor) que, por sua vez, geram direitos creditórios.

A empresa originadora (cedente), por meio de contrato de cessão de crédito, transfere

os direitos creditórios ao FIDC ou SPE, que encaminha ao custodiante para aprovação quanto

aos critérios de elegibilidade e, estando aprovado, autoriza a compra, efetuando pagamento à

empresa originadora, que, por sua vez, emite cotas para venda aos investidores.

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36

Contra vencimento dos créditos, a empresa cliente (devedor) efetua o pagamento ao

FIDC pelo custodiante, que repassa os recursos ao FIDC, mantendo o registro e a guarda dos

documentos transacionados.

O FIDC paga a amortização ou resgate das cotas seniores aos investidores. Neste caso,

as cotas subordinadas estão com o factoring na figura dos acionistas, que adquire os créditos

pelo fundo.

Como uma das atribuições do administrador do FIDC, estão as contratações do auditor

independente e da agência classificadora de riscos que monitoram o fundo.

Figura 3: Processo de securitização e FIDC

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

2.3 CRÉDITO

Securato (1996) ensina que o processo de tomada de decisão não é um ato isolado,

repentino, mas sim previsões de resultados dos quais os administradores, por exemplo, tomam

decisões diariamente. Algumas vezes, a decisão será sistemática, ou seja, suportada por

Promessa

de

Pagamento

SPE/

FIDC do factoring

ORIGINADOR

(empresa cedente)

DEVEDOR

(empresa cliente)

INVESTIDOR

Bens

ou

Serviços

Cessão

de

Crédito

Recursos

Cotas do Fundo

Integralização

das Cotas

Administrador

Custodiante

Auditor

Independente

Classificação de

Rating

Pagamento dos

recebíveis

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modelos que auxiliem no processo decisório e, em outros, será assistemática, inconsciente, mas

sempre haverá uma decisão a ser tomada.

Perera (2013) revela que o significado da palavra crédito é “eu acredito” ou “eu confio”,

numa relação mútua de confiança entre o vendedor e o comprador. Para que haja uma operação

de crédito, é necessária a troca de valor atual por promessa de pagamento futuro, seja uma

mercadoria entregue, seja uma quantia em dinheiro adiantada para recebimento futuro.

Schrickel (1998) ressalta que o crédito é o ato de ceder temporariamente parte do

patrimônio próprio a terceiro, com a expectativa de retorno após prazo determinado. O autor

observa que as instituições financeiras, como intermediadores, cedem capital de terceiros

(propriedade de terceiro) pela captação de recursos e empréstimos e, portanto, não seguem a

definição, uma vez que se submetem à legislação específica.

Segundo Silva (2003), em finanças, o crédito se define como instrumento de política de

negócios, utilizado por empresas comercial e industrial, na venda a prazo de seus produtos, e,

para banco comercial, na concessão de empréstimo, financiamento ou fiança. Salienta que é a

capacidade de obter dinheiro, mercadoria ou serviço, mediante o compromisso de pagamento

em prazo determinado.

Ainda, no contexto de finanças, o autor salienta que as empresas de médio e pequeno

porte são mais sensíveis à escassez de crédito em razão da maior dependência de capital de

terceiros, sendo as primeiras empresas a entrarem em crise financeira e as últimas a saírem da

crise.

2.3.1 Cessão de crédito

De acordo com a Resolução CMN nº 2.836 de 30 de maio de 2001, quando se tratar de

cessão de crédito entre instituições financeiras pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional

(SFN), pode-se optar pela modalidade com coobrigação ou sem coobrigação, mas, quando

cedida à pessoa não pertencente ao SFN, somente a modalidade sem coobrigação poderá ser

praticada. As normas regulamentares para cessão de crédito estão relacionadas no quadro 2.

Quadro 2: Normas regulamentares para cessão de crédito

Resolução CMN Finalidade Data

2561 Altera e consolida normas sobre cessões de crédito 05/11/1998

2686 Consolida as normas para cessão de crédito 26/01/2000

2836 Altera e consolida normas para cessão de crédito 30/05/2001

Fonte: Banco Central do Brasil - adaptado de Securato (2007)

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Securato (2007) sugere que a cessão sem coobrigação é uma venda entre o cedente

(vendedor) e o cessionário (comprador), sem o direito de regresso dos títulos (o termo em inglês

é true sale), e a cessão com coobrigação permite ao cessionário o direito de regresso ao cedente,

em caso de não recebimento dos títulos, podendo essa modalidade ser (i) solidária – na qual o

cessionário pode cobrar o tomador do crédito ou o cedente; ou ser (ii) subsidiária, na qual o

cedente poderá ser cobrado pelo cessionário, após ter cobrado e não recebido do devedor.

A figura 4 demonstra, de maneira simplificada, o esquema de cessão de crédito em que

o banco A cede sua carteira de ativos em troca da cessão de crédito ao banco B que, por sua

vez, efetua o pagamento do valor presente dos créditos assistidos pelos intervenientes, cujas

responsabilidades foram definidas no contrato de cessão de créditos.

Figura 4: Estrutura básica de operação de cessão de crédito

Fonte: Securato (2007, p.328)

2.3.2 Bancos vs. Factoring

Segundo Lopes e Rossetti (2002), o objetivo dos bancos comerciais é proporcionar os

recursos necessários para financiar as operações de curto e médio prazo, para empresas

comerciais, industriais e prestadoras de serviços, bem como pessoas físicas por meio de (a)

operações de desconto de títulos, (b) abertura de crédito simples ou em conta corrente, (c)

operações especiais de crédito rural, câmbio e internacional, (d) captação de recursos em

instituições oficiais, depósitos a vista e a prazo fixo, no exterior, quando repassado, (e)

prestação de serviços, inclusive com convênio com outras instituições. Notoriamente, a

captação de depósitos a vista é atividade típica de bancos comerciais, inclusive definindo-os

como instituições financeiras monetárias.

Para Oliveira (2006), o factoring opera com a transferência de crédito associada com a

prestação de serviços entre pessoas jurídicas de forma contínua com a assessoria creditícia,

Banco A

(Cedente)

Interveniente

Banco B

(Cessionário)

Venda de créditos

Pagamento pela compra de créditos

Banco responsável pela cobrança e

guarda de documentos

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mercadológica, gestão de crédito, administração do caixa da empresa cliente, compra de

créditos ou direitos creditórios auferidos das vendas mercantis a prazo em caráter pro soluto,

que significa a cessão de crédito em definitivo, entre o cedente e o cessionário, não respondendo

pela solvência, mas pela existência no ato da transferência. Embora similar à intermediação

bancária, os contratos de cessão de crédito diferem-se pelo caráter pro solvendo, em que, na

cessão de crédito do cedente para cessionário, há a responsabilidade pela solvência do título, e

por sua natureza cumulativa, cuja prestação de serviços, ora convencional, ora diferenciado, é

atribuída de um fator fixo.

Segundo Fator (2000), observa-se a semelhança na oportunidade da obtenção do crédito,

não obstante às semelhanças estão as diferenças, seja o desconto bancário um contrato real

mediante a transferência do crédito ao banco e a operação de compra ou cessão de crédito ao

factoring um contrato consensual advindo da contratação de prestação de serviço a preço fixo.

O quadro 3 apresenta o comparativo entre a atividade mista e a intermediação bancária.

Quadro 3: Comparativo das atividades do factoring e do banco comercial

Quadro comparativo das atividades

Factoring Banco Comercial

Não capta recursos Capta recursos e empresta dinheiro

Presta serviços de compra de créditos Faz intermediações

Não aceita depósitos Aceita depósitos

Não exige garantias Exige garantias

Apresenta diversos serviços não creditícios Empresta dinheiro com títulos pró-solvendo, direito de

regresso

Compra a vista créditos gerados pelas vendas, sem direito de

regresso

Cobra juros (remuneração pelo dinheiro mutuado durante

prazo determinado)

Pondera todos os itens de custeio de uma empresa de

factoring na formação do preço

Cobra spread (diferença entre o custo de captação e o valor

do financiamento)

O sacado do cliente é o devedor Cliente é o devedor

Atividade comercial mista atípica Regulado pelo Banco Central

Não é instituição financeira e não possui acesso ao

redesconto

Pode recorrer à linha de redesconto do Banco Central

Não exige reciprocidade Exige reciprocidade do cliente

Compra títulos de crédito ou direitos creditórios Desconta títulos e faz financiamentos

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Fator (2000, p. 59-60).

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2.4 O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO

Para facilitar o entendimento e o acompanhamento deste trabalho, os fluxos do processo

de recuperação judicial e de falência estão definidos nas figuras 7 e 8 respectivamente. A ênfase

deste trabalho está no processo de recuperação da crise e não na falência empresarial.

Segundo das leituras dos autores Mamede (2006), Coelho (2008), Milani (2011),

Duarte, Mendes (2011) e Salomão (2012) a partir da entrega ou do protocolo da petição inicial

pelo devedor, inicia-se o processo de recuperação judicial que se desenvolve em 3 fases

distintas.

A primeira fase, postulatória, é o requerimento do benefício da Lei 11.101/05, em que

o devedor instrui o pedido com a exposição das causas reais da crise financeira; apresenta as

demonstrações contábeis dos últimos 3 exercícios fiscais; discrimina os credores em relação

completa, incluindo o nome e valor da dívida, vencimentos e indica os respectivos registros

contábeis; fornece a relação de todos os empregados com as funções e salários pendentes de

pagamento; apresenta a certidão de regularidade da empresa com os administradores; fornece a

relação dos bens particulares dos sócios e administradores; levanta os extratos bancários das

contas e aplicações financeiras, se houver, da empresa devedora; emite a certidão dos cartórios

de protestos com endereço da sede da empresa e fornece todas as ações judiciais em andamento

contra o devedor. Esta fase está compreendida no fluxograma da figura 5 iniciando no ingresso

do pedido de recuperação até a fase do deferimento do processamento. Até o deferimento pelo

juiz, a empresa devedora poderá desistir do pedido de recuperação a qualquer momento.

A segunda fase, deliberativa, é a fase em que o juiz determina o processamento da

recuperação, nomeando o administrador judicial, de acordo com o art. 21 da lei; dispensa a

apresentação de certidão negativa de débitos (CND); suspende todas as ações ou execuções

contra a empresa devedora; exige do devedor a prestação de contas mensais sob a pena de

destituir os administradores e comunica o Ministério Público, as fazendas Federal, Estadual e

Municipal, em que a empresa devedora tiver unidades produtoras. Esta fase está compreendida

no fluxograma da figura 5, iniciando no pós-deferimento do processamento, concluindo com o

deferimento da recuperação judicial. Durante esta fase, a empresa devedora não poderá desistir

do processo de recuperação judicial sob a pena de o juiz ordenar a conversão do processo de

recuperação em falência, exceto se a assembleia geral (AG) concordar com a desistência do

devedor. Se qualquer prazo deixar de ser cumprido, o juiz converterá o processo em falência.

A terceira fase, execução, inicia-se após o deferimento da recuperação judicial com o

despacho pelo juiz. A execução mensal do plano de recuperação aprovado, cujas obrigações

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vençam em até 24 meses, depois da concessão da recuperação judicial devem ser rigorosamente

cumpridas, permanecendo a empresa devedora em recuperação judicial. Durante o período de

24 meses em que a empresa estará sob o benefício da lei, se houver descumprimento de qualquer

obrigação constante do plano aprovado, o juiz converterá o processo de recuperação em

falência.

Segundo os autores, o plano de recuperação judicial é uma análise da empresa de forma

ampla, demonstrando os pontos fortes e fracos, sugerindo as mudanças necessárias para que a

empresa obtenha uma condição favorável no processo de recuperação.

O plano está dividido em duas fases: a primeira consiste no diagnóstico da empresa em

crise. Apurando a contabilidade real, número de empregados registrados, sistema de gestão,

infraestrutura de produção, fluxo de caixa real e projetado, entre outros; e, a segunda fase reside

na elaboração do laudo de viabilidade econômica, apurando a margem de lucro, faturamento

atual e projetado de acordo com os ajustes necessários para que a empresa possa implantar,

executar e cumprir o plano de recuperação.

A empresa que estiver em recuperação judicial deverá incluir, após o nome empresarial,

a expressão em Recuperação Judicial, de acordo com o artigo 63 da lei. Após o cumprimento

das obrigações vencidas no prazo, o juiz decretará o encerramento da recuperação judicial.

Ainda, segundo os autores, a empresa poderá sair do processo de recuperação judicial

em qualquer tempo, quando do cumprimento do plano de recuperação. Mas, se a empresa

descumprir o plano, não cumprir os prazos processuais ou ter o plano de recuperação rejeitado

pela AG e o processo for convertido em falência ou insolvência empresarial, a solução dar-se-

á pela liquidação do patrimônio ativo para saldar o patrimônio passivo do falido.

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Figura 5: Fluxo do processo da recuperação judicial

Fonte: Ministério da Justiça (2011, p.29).

Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão (2012) expõem as 4 hipóteses possíveis para a

conversão da recuperação em falência, detalhadas abaixo.

A primeira hipótese é a deliberação dos credores que pode ocorrer se a maioria dos

credores, calculado de acordo com o valor dos créditos, presentes durante a assembleia geral,

não considerar uma alternativa viável para a recuperação da crise da empresa e decidir pela

liquidação da empresa.

A segunda hipótese é a não-apresentação do plano pela empresa devedora no prazo

estabelecido pela lei de 60 dias, observado na figura 5, apresentação do plano (60 dias),

contados do despacho do juiz e que não tem prorrogação de prazo vedado por lei.

A terceira hipótese é a rejeição do plano pela assembleia geral dos credores que,

convocada pelo juiz, analisará o plano de recuperação apresentado pelo devedor bem como

eventuais planos alternativos, que podem ser apresentados por credor, por administrador

judicial ou, ainda, por um comitê de credores que, não sendo aprovado, o juiz deve decretar a

falência.

E a quarta e última hipótese é o descumprimento do plano de recuperação que, nesta

fase, da execução, o juiz imediatamente decretará a falência. A aprovação do plano pelo juiz

Ingresso do

pedido

Deferimento do

processamento Apresentação do

plano (60 dias)

Habilitações (ao Adm.)

e divergências (ao Juíz)

15 dias

Oposições

Não apresentadas

Deferimento

da

Recuperação CND

Apresentadas

AGC

Cram down

Aprovado

Rejeitado

Falência

Suspensão de ações - 180 dias

Nomeação do Adm.

Judicial

Carta aos

credores

Publicação do

quadro geral

45 dias

Impugnações

Relatórios Adm.

judicial

Atividades do devedor mensal Execução do plano mensal

Edital Art. 52 § 1º

Fluxo do Processo da Recuperação Judicial

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significa a renegociação da dívida de forma condicional para satisfazer a necessidade da

empresa devedora em saldar os compromissos assumidos com os credores. Em não sendo

cumpridos os termos do acordo são cancelados e as dívidas e execuções voltam ao estado

anterior ao processo de recuperação judicial da empresa.

Os pesquisadores explicam que o ingresso do pedido de falência, conforme figura 6,

pode se dar por 3 caminhos, sendo, pelo próprio devedor, pelo sócio da empresa devedora ou

pelo credor.

A autofalência, pelo próprio devedor, ocorre quando a empresa devedora considerar que

não atende aos requisitos para pleitear a recuperação ou por entender que a empresa não tem

condições de se reorganizar, sendo este o primeiro caminho.

Já o sócio ou os sócios minoritários da empresa devedora, podem entender que a

empresa é inviável e ingressar com o pedido de falência, este é o segundo caminho. Neste caso,

o juiz pode optar por dissolução parcial para preservar os interesses do minoritário e não

decretar a falência.

O terceiro caminho é definido quando o credor solicitar a falência da empresa devedora,

seja para exercer o direito de receber uma dívida, protestada nos cartórios de protestos, por

impontualidade do devedor, seja por reaver seus créditos por entender que o devedor não tem

capacidade de pagamento. Neste caso, o credor deve demonstrar a regularidade de sua empresa

mediante o registro da junta comercial.

Segundo Coelho (2008), a partir do pedido de falência, o juiz aguardará a defesa dentro

de 10 dias contados da primeira citação do devedor. Neste prazo, a empresa devedora poderá

pagar a dívida ou apresentar defesa juntamente com o depósito em juízo da quantia devida,

suspendendo a falência; caso contrário, terá a falência decretada. No instante da decretação, o

juiz indicará um administrador judicial da massa falida. Se porventura, o juiz entender que a

empresa poderá ser facilmente vendida, ele autorizará a continuidade provisória das atividades

do falido, mantendo os ativos valorizados, caso contrário, poderá solicitar a lacração da empresa

devedora com suspensão imediata das atividades. A partir da nomeação do administrador

judicial, serão contados 40 dias para a apresentação das causas e das circunstâncias que levaram

à situação de falência, cujas responsabilidades deverão estar claramente definidas. Por fim,

serão apurados os ativos e o credores para pagamento dos passivos, encerrando o processo com

a prestação de contas do administrador judicial ao juiz.

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Figura 6: Fluxo do processo de falência

Fonte: Curso de recuperação judicial INSPER, 2012.

Bezerra Filho (2009) orienta que a Lei 11.101/2005 está dividida em oito capítulos e

diversas seções que, juntos, somam 201 artigos, sendo os capítulos II, III, V e VII com divisões

em seções com títulos diferentes e vários artigos e os capítulos I, IV, VI e VIII sem divisões em

seções por razão da objetividade e de poucos artigos. O quadro 4 apresenta a estrutura da lei

organizada em capítulos, seções e os artigos que se relacionam.

Optou-se por manter este quadro neste ponto do trabalho para evidenciar o emaranhado

e complexidade do tema tratado.

Ingresso

do pedido

Falência

Decretação

Nomeação do Adm. Judicial

Arrecadação e avaliação Audiência – Artigo 104

Livros

Envio de correspondência aos credores

Continuidade provisória das

atividades do falido

Realização

do ativo Relatório dos 40

dias

responsabilidades

Caráter administrativo

Tempestivas Intempestivas

Publicação do Edital

Formação do quadro

de credores

Prestação

de contas

Fluxo do Processo de Falência

Habilitações

(45 dias)

Pagamento dos passivos

Artigo 83

Defesas

(10 dias)

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Quadro 4: Estrutura da Lei 11.101/05 Lei 11.101/2005

Capítulos Seções Artigos

I- Disposições preliminares 01º - 04º

II- Disposições comuns à recuperação

judicial e à falência

I - Disposições gerais 05º - 06º

II – Da verificação e da habilitação dos créditos 07º - 20º

III – Do administrador judicial e do comitê e credores 21º - 34º

IV – Da assembleia-geral de credores 35º - 46º

III- Da recuperação judicial

I – Disposições gerais 47º - 50º

II – Do pedido e do processamento da recuperação judicial 51º - 52º

III – Do plano de recuperação judicial 53º - 54º

IV – Do procedimento de recuperação judicial 55º - 68º

V – Do plano de recuperação judicial para microempresas e empresas de

pequeno porte

69º - 72º

IV- Da convolação da recuperação

judicial em falência

73º - 74º

V- Da falência

I – Disposições gerais 75º - 82º

II – Da classificação dos créditos 83º - 84º

III – Do pedido de restituição 85º - 93º

IV – Do procedimento para a decretação da falência 94º - 101

V – Da inabilitação empresarial, dos direitos e deveres do falido 102º - 104º

VI – Da falência requerida pelo próprio devedor 105º - 106º

VII – Da arrecadação e da custódia dos bens 108º - 114º

VIII – Dos efeitos da decretação da falência sobre as obrigações do

devedor

115º - 128º

IX – Da ineficiência e da revogação de atos praticados antes da falência 129º - 138º

X – Da realização do ativo 139º - 148º

XI – Do pagamento aos credores 149º - 153º

XII – Do encerramento da falência e da extinção das obrigações do falido 154º - 160º

VI- Da recuperação extrajudicial 161º - 167º

VII- Disposições penais

I – Dos crimes em espécie 168º - 178º

II – Disposições comuns 179º - 182º

III – Do procedimento penal 183º - 188º

VIII- Disposições finais e transitórias 189º - 201º

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de Bezerra Filho (2009).

Segundo Milanese (2014), a nova lei de falência inclui dois novos dispositivos para

proteção aos credores e fornecedores, sendo:

o primeiro, pós-petição, que são considerados direitos prioritários em

eventual liquidação por falência;

o segundo, pré-petição e quirografários, quando não há a interrupção no

fornecimento de bens e serviços ou financiamento à empresa, mas, se

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houver a conversão da recuperação em liquidação, serão considerados

direitos prioritários.

2.4.1 O conceito de empresa

Milani (2011) argumenta que empresa é o exercício profissional de atividade econômica

organizada para a produção de bens e serviços, sujeito ao registro na Junta Comercial.

Para Coelho (2008), sociedade empresária é a atividade com objetivo de obter lucro pela

venda de bens e serviços com emprego de força de trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia,

embora considere que haja imprecisões.

Já, Salomão e Santos (2012) explicam que é um conjunto organizado de capital e

trabalho para a produção e circulação de bens e serviços.

Modigliani, Miller (1958), Ross (2008), Assaf (2009) e Gitman (2010) nos ensinam que

a finalidade de toda empresa é obter retorno sobre os investimentos que possibilite, ao menos,

superar a expectativa mínima de ganho, gerando riqueza e adicionando valor para os acionistas.

2.4.2 Princípio da preservação da empresa

De acordo com o artigo 47 da Lei 11.101/2005:

A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise

econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,

do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a

preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Salomão e Santos (2012) mostram que o artigo 47 da referida lei considera salvar a

empresa, desde que economicamente viável, por meio dos processos de recuperação

extrajudicial e judicial. Observam, ainda, que a medida da falência só deverá ser considerada

quando for inviável a preservação da atividade empresária.

Para Coelho (2008), os objetivos do artigo 47 estão na preservação da atividade

econômica e dos postos de trabalho, saneamento da crise econômico-financeira e patrimonial,

bem como atender aos interesses dos credores, levando à manutenção da função social da

empresa. Considera, ainda, que as empresas tecnologicamente atrasadas, descapitalizadas ou

com administração precária, devam ser encerradas, preservando o ambiente econômico pela

realocação dos recursos materiais e humanos para a produção de riqueza.

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Menezes (2012) explana que empresas com valor presente negativo e que se mostrem

inviáveis, independentemente da competência do empreendedor ou do administrador, não

teriam razão econômica para permanecer operando, sendo o encerramento ou a liquidação o

meio de depurar o sistema econômico. Expõe, para tanto, que a preservação da empresa está

relacionada com o papel socieconômico de acordo com as funções que a sociedade espera do

empreendedor, tais como: responsabilidade econômica, responsabilidade legal,

responsabilidade ética e responsabilidade voluntária ou filantrópica.

Já Mamede (2006) argumenta que o objetivo é viabilizar a superação da situação de

crise financeira, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, promovendo o estímulo à

atividade econômica, garantir o desenvolvimento nacional e erradicar a pobreza e a

marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e regionais.

2.4.3 A recuperação judicial

Bezerra Filho (2009) aponta que o processo de recuperação judicial aplica-se às

empresas em crise econômico-financeira, desde que passíveis de recuperação, portanto, a ordem

de prioridades nas finalidades e objetivos da lei volta-se à manutenção da atividade da empresa

para que possa satisfazer os interesses dos credores. A partir do deferimento da petição para a

recuperação judicial, um administrador para a recuperação é indicado, passando a exercer o

controle da gestão da empresa, conforme ilustrado na figura 7.

Após o período previsto na RJ e tendo a empresa cumprido o plano de recuperação, o

administrador da RJ retira-se da empresa, após petição de baixa enviada ao juiz.

Figura 7: Gestão adequada: o tipo certo de executivo no momento certo

Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de Slatter e Lovett (2009, p.149).

Início Crescimento Maturidade Declínio Recuperação Renovação

NÍVEL OPERACIONAL

INSOLVÊNCIA

Administrador da RJ

Saída do Adm. da RJ

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A sequência do processo de recuperação judicial demonstrado no capítulo III, da

referida lei, que define o objetivo do processo de recuperação e os requisitos para que o devedor

possa ajuizar, está demonstrado no parágrafo 2.4.3.4.

2.4.3.1 Da viabilidade

Os autores Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão e Santos (2012) partilham da ideia

do exame do judiciário quanto à viabilidade da empresa. Para tanto, sugerem a classificação

por meio dos vetores: importância social, mão de obra e tecnologia empregada, volume do ativo

e passivo, tempo da empresa e porte econômico, conforme detalhado no quadro 5.

Menezes (2012) explica que empresas com geração de caixa ou que estejam com o fluxo

de caixa negativo, mas tenham viabilidade econômica, necessitam de alternativas para a

continuidade dos negócios, preservando o valor dos ativos tangíveis e intangíveis, mediante

gestão mais eficiente.

Quadro 5: Exame de viabilidade

Vetores da viabilidade da empresa no judiciário

Importância social

Análise das condições econômicas para reerguer a empresa.

Relevância para a economia local, regional ou nacional.

Mão de obra e tecnologia empregada

Modernização da tecnologia em razão do mercado.

Redimensionamento e atualização da mão de obra.

Volume do ativo e passivo

Identificação da crise enquanto econômica, financeira e patrimonial.

Análise do balanço patrimonial comparado com dois períodos.

Tempo de empresa

Dois anos ou mais, análise de importância local.

Mais antiga, maior atenção em razão da contribuição econômica local.

Porte econômico

Maior o porte, maior importância social.

Menor porte, menor importância social.

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Coelho (2008, p.127-129).

2.4.3.2 Dos requisitos para requerer a recuperação

O artigo 48 da Lei 11.101/05 define que apenas empresas expostas ao risco de ter a

falência decretada e que tenham mais de dois anos de atividade podem pleitear o benefício da

recuperação judicial, desde que atendam a quatro requisitos:

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(i) não pode estar falida;

(ii) não ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação

judicial;

(iii) não ter, há menos de oito anos, obtido concessão de recuperação judicial

com base no plano especial;

(iv) não ter sido condenada e não ter pessoa condenada como administrador

ou sócio controlador por qualquer dos crimes previsto na lei.

Define, portanto, que a falência poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,

herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente em caso de morte ou incapacidade

do represente legal.

2.4.3.3 Dos meios de recuperação da empresa

A lei contempla uma lista de possíveis meios de recuperação da atividade econômica do

negócio, considerando instrumentos financeiros, administrativos e jurídicos que podem ser

considerados no plano de recuperação da crise financeira (COELHO, 2008).

Milani (2011) explica que a definição de cisão, incorporação, fusão e transformação são

consideradas da Lei 6.404/1976, chamada de Lei das S/A.

Por serem amplos os meios de recuperação judicial da empresa, a lei 11.101/2005 prevê,

mas não se limita, a uma relação de meios para a recuperação, podendo a empresa e seus

credores encontrarem a melhor alternativa, inclusive na combinação dos meios, para solucionar

a crise financeira (MAMEDE, 2006). O quadro 6 apresenta o resumo dos meios de recuperação

previstos na lei.

Há um consenso na literatura entre os autores Mamede (2006), Coelho (2008), Milani

(2011), Salomão e Santos (2012), quanto à aplicação da lei como meio e não fim para o processo

de reorganização da empresa em crise econômico-financeira. Portanto, pode ser considerada

como uma estratégia de recuperação do declínio, para empresas economicamente viáveis,

conforme apresentado no parágrafo 2.1.3.

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Quadro 6: Meios de recuperação e objetivos propostos

Meios de recuperação Objetivos propostos

Dilação de prazo ou revisão das condições pagamento Abatimento do valor da dívida ou aumento no prazo,

substituição de garantias.

Operação societária

Cisão, incorporação, fusão, transformação, venda de cotas

ou ações (ativos da sociedade) e constituição de

subsidiária integral (segregar patrimônio).

Alteração do controle societário Total ou parcial (venda ou admissão de novo sócio).

Aumento do capital social.

Reestruturação da administração

Troca dos administradores, exceto quando se tratar de

crise macroeconômica (conselho de administração ou

consultivo).

Concessão de direitos societários extrapatrimoniais aos

credores

Admitir um mínimo de ingerência dos credores na

administração.

Garantir o cumprimento dos objetivos.

Reestruturação de capital Ingresso de recursos financeiros.

Aumento da competitividade.

Transferência ou arrendamento do estabelecimento Mudança de titularidade (venda da sociedade).

Mudança de direção (arrendador assume).

Renegociação das obrigações ou dos passivos trabalhistas Redução de salários, mudança na jornada de trabalho.

Dação em pagamento ou novação Troca de bem como liquidação ou nova obrigação.

Constituição de sociedade de credores Credores assumem o papel de sócios percebendo

percentual dos lucros.

Realização parcial do ativo Venda de bens do patrimônio, exceto essenciais à

produção.

Equalização de encargos financeiros Renegociação de passivos (bancos, fomento mercantil) ao

menor valor pratica no mercado de cada credor.

Usufruto de empresa Transferir a direção à pessoa qualificada que usufruirá os

benefícios gerados pela sociedade no tempo certo.

Administração compartilhada Divisão de responsabilidades entre credor e devedor nas

decisões administrativas.

Emissão de valores mobiliários Sociedade por ações emite debêntures ou outros valores

mobiliários (commercial paper).

Adjudicação de bens

Constituição de sociedade de propósito específico (SPE)

para ceder bens aos credores (similar à dação em

pagamento).

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Coelho (2008, p.133-141), Milani (2011, p.218-228).

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2.4.3.4 Das fases do processo de recuperação judicial

O processo de recuperação judicial é classificado em três fases, de acordo com a Lei

11.101/05, a saber:

fase postulatória – apresentação de requerimento pela sociedade empresária

em crise, por meio de petição inicial, encerrando-se com o despacho do juiz,

de acordo com o artigo 52;

fase deliberativa – após o levantamento e aprovação dos créditos, artigos 7 a

20, aprova-se ou não o plano de reorganização, artigo 53, concluindo-se com

o despacho do juiz, artigo 58;

fase de execução – cumprimento e fiscalização do plano aprovado e termina

com a sentença de encerramento do processo, artigo 63.

A sequência e a interação do processo da recuperação judicial estão demonstradas na

figura 8.

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Figura 8: Processamento da recuperação judicial art. 51/69 e 73

Fonte: Adaptado pelo autor, de Bezerra Filho (2009, p. 147).

Art.51 – Ajuizamento do

pedido de recuperação

judicial (RJ).

Art.52, caput e 73 – Pedido

pode ser indeferido; falência

não poderá ser decretada.

Art.52, §4º – Devedor pode

desistir do pedido, se houver

aprovação da assembleia-geral (AG).

Art.52 – Juiz defere o processamento,

nomeia administrador, suspende ações e

execuções por 180 dias, expede edital para conhecimento de todos.

Art.52, §2º - Após

deferido o processamento

da RJ, credores podem

convocar AG para formar

comitê de credores

(art.36).

Art.53 – Em 60 dias,

contados do deferimento

(art. 52), devedor

apresenta plano de RJ.

Art.73, II – Se devedor

não apresentar plano no

prazo, juiz decreta a

falência

Art.53, parágrafo único – Recebido

o plano, juiz manda publicar edital

para objeções, no prazo do art. 55.

Art.55 e 56 –Se houver objeção, juiz

convoca AG, no prazo máximo de 150

dias contados do deferimento do art. 52.

Art.58, § 1º – Juiz pode conceder RJ, mesmo contra a

decisão da AG.

Art.73, III e 56, §4º - Se AG rejeita plano de RJ, juiz

decreta falência.

Art.73, I, 42 e 35, I, a – Se

AG deliberar pela falência,

juiz a decretará.

Art.35, I e 58 – AG aprova ou

modifica plano (art. 56, § 3º) com

concordância do devedor.

Não há objeção, ou juiz aprova mesmo

com objeção (art. 58, § 1º); após devedor apresentar certidão negativa de tributos

(art. 57), juiz concede a RJ, art. 58.

Art.61 – Devedor permanece em RJ por 2 anos; cumpridas as obrigações vencidas nesse prazo, juiz decreta o encerramento

(art. 63). Credores remanescentes podem executar ou pedir

falência ( art. 62 e 59, § 1º) em caso de descumprimento.

Art.73, IV - Se descumprida qualquer obrigação do plano no prazo de 2 anos (art.

61), juiz decreta a falência

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2.4.4 Recuperação extrajudicial

Segundo Coelho (2008), a partir da lei de falência e recuperação, criam-se condições

para a atuação lógica do mercado na superação de crises empresariais.

Salomão e Santos (2012) argumentam que a realidade tem demonstrado que credores e

devedores buscam regularizar seus negócios informalmente, fora do juízo, evitando processos

judiciais dispendiosos que, por sua vez, têm a rapidez e discrição como principais vantagens.

Ainda segundo os autores, a nova lei proporciona alternativa prévia à recuperação judicial,

pressupondo haver viabilidade econômica compatível com a renegociação com alguns credores.

Mamede (2006) explica que, ao assumir uma negociação entre credores e devedores

fora dos tribunais, nota-se a possibilidade de viabilidade socioeconômica da empresa em crise

financeira, uma vez que os credores acatam a nova negociação, permitindo que a recuperação

do caixa da empresa ocorra, voltando a operar normalmente.

2.4.4.1 Da homologação da recuperação extrajudicial

O artigo 161 indica a necessidade de credores atenderem aos requisitos do artigo 48,

embora não seja necessário o cumprimento, em sua totalidade, do artigo para que haja acordo

entre o credor e o devedor, segundo Salmão e Santos (2012).

Mamede (2006) instrui que a lei prevê dois tipos de homologação extrajudicial, sendo:

ordinária, artigo 162 – adesão voluntária de todos os credores,

produzindo efeitos apenas entre os envolvidos com elaboração de plano

de reorganização devidamente anuído entre as partes. Nesse caso, não

há pagamento antecipado de dívida e há a necessidade do ajuizamento

do plano;

extraordinária, artigo 163 – deve ser considerada a adesão mínima de

3/5 dos credores de uma mesma espécie, vinculando a minoria que não

aderiu. Créditos em moeda estrangeira somente poderão ter variação

cambial isentada se o credor autorizar no plano de reorganização. Por

fim, o autor observa que a homologação dependerá ainda da

apresentação da situação patrimonial, das demonstrações contábeis do

último exercício social, as demonstrações apuradas para o pedido e os

documentos que comprovem os poderes entre as partes para anuir o

plano.

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2.4.4.2 Da preservação de credores

Coelho (2008) expõe que não há alteração dos direitos de credores trabalhistas, créditos

tributários, proprietário fiduciário e instituição financeira credora por adiantamento ao

exportador, adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC). Demais créditos, por tratarem de

direitos patrimoniais e disponíveis, podem ser renegociados entre credores e devedores, de

acordo com o artigo 167, explica Salomão e Santos (2012).

2.4.4.3 Das fases do processo de recuperação extrajudicial

O detalhamento do processo de homologação e aprovação do plano de recuperação

extrajudicial está demonstrado na figura 9.

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Figura 9: Processamento da recuperação extrajudicial art. 161 – 167

Fonte: Bezerra Filho (2009, p. 331).

2.4.5 Dificuldade de obtenção de recursos

Há um consenso entre os autores Ross (2008), Assaf Neto (2009), Gitman (2010),

quanto a não haver uma estrutura única de capital que se aplique a todas as empresas, ou seja,

cada empresa busca estruturar seu endividamento com maior participação de capital de terceiros

ou maior participação de capital próprio, de forma a reduzir o custo total da dívida,

maximizando a riqueza dos acionistas.

Art.161 – Autoriza o devedor a propor

recuperação extrajudicial, que pode ou

não ser submetida à homologação

judicial.

Art.161, §5º – Após o pedido de

homologação judicial, os que aderiram só podem desistir com anuência dos

demais.

Art.162 – Pode requerer homologação

judicial apenas para os que aderiram ao plano, independentemente do número de

aderentes.

Art.163 – Pode requerer homologação para

obrigar todos, desde que haja aderentes de

mais 3/5 de todos os créditos de cada

espécie.

Art.164 – Juiz manda publicar editais,

com prazo de 30 dias para impugnação

pelos credores.

Art.164, §§ 3º, 4º e 5º – Juiz indefere

a homologação por sentença.

Art.164, §5º – Juiz afasta eventuais impugnações e

homologa o plano, se não houver fraude do art. 130 ou outras irregularidades.

A sentença homologatória constitui título executivo

judicial (art. 161, § 6º).

Art.164, § 7º – Da sentença que

homologar ou indeferir a homologação,

cabe apelação, sem efeito suspensivo.

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Assaf Neto (2009) acrescenta que, no Brasil, nas fontes de financiamento de longo

prazo, há um desequilíbrio nos valores das taxas de juros cobradas por serem definidas em razão

da natureza do recurso (privado, externo, oficiais), e não em razão do risco associado ao

negócio.

2.4.5.1 Financiamento com capital próprio

Para Gitman (2010), o capital próprio deve ficar na empresa por período de tempo

indeterminado e por correr riscos maiores, frente aos fornecedores de capital de terceiros, os

acionistas esperam retornos mais elevados.

Segundo Assaf Neto (2009), o investimento do acionista torna-se atrativo quando a

remuneração oferecida for suficiente para cobrir o custo de oportunidade do capital próprio

aplicado no negócio.

2.4.5.2 Financiamento com capital de terceiros

Os autores Ross (2008), Assaf Neto (2009) e Gitman (2010) explicam que o custo de

capital de terceiros é inferior ao custo de capital próprio por exigirem retornos menores, por

assumirem menor risco, comparado aos credores de capital de longo prazo.

De acordo com Accorsi (2010):

[...] O custo de capital de terceiros engloba apenas os passivos de longo prazo. No

Brasil, as pequenas e médias empresas praticamente não contam com empréstimos

de longo prazo por parte dos bancos privados, além de necessitarem de capital de giro

em bases quase permanentes. Para essas empresas, o pressuposto adotado não

parece adequado devido ao peso relativo do capital de terceiros de curto prazo.

2.5 U.S. BANKRUPTCY CODE 1.978

Este parágrafo não tem o objetivo de se aprofundar amplamente nos pontos divergentes

da lei americana com a lei brasileira, mas, sim, apontar as possíveis divergências e semelhanças

de forma a permitir a compreensão, observando a possibilidade de melhorias de pesquisadores

sobre o tema, uma vez que a lei brasileira se aproxima da lei americana.

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A lei de recuperação empresarial, como é conhecida nos Estados Unidos, mas que, para

fins de manter o alinhamento com este trabalho, estabeleceu-se a expressão “recuperação

empresarial” como recuperação judicial ou extrajudicial, a qual teve sua origem nos Estados

Unidos, em 1800, que limitava a falência apenas aos comerciantes.

Posteriormente, houve alteração da lei, incluindo a possibilidade de falência voluntária

ou autodeclaração de falência. Com a edição da Lei de Companhias Ferroviárias, em 1867, que

tratava das medidas preventivas para a liquidação de empresas do setor reorganizando e,

renegociando as dívidas, estendeu o benefício a outras pessoas jurídicas por meio do

Bankruptcy Act, de acordo com Fázzio Júnior (2005).

Passada a depressão americana de 1929, houve a reforma da lei quando da publicação

da Chandler Act de 1938, com grande mudança, expandindo para os credores a elaboração do

plano de recuperação com a aprovação da Securities and Exchange Commission (SEC), com a

autoridade para investigar e acompanhar os processos das empresas em crise, permitindo maior

proteção aos investidores e maior clareza nas informações prestadas, explica Tabb (1995).

Ainda, segundo o autor, passados 40 anos da última publicação e com muitos

questionamentos sobre a então lei de recuperação judicial e extrajudicial que não previa a

extinção do processo de reorganização da empresa em crise, foi publicado em 1978 a Federal

Bankruptcy Code que vigora até os dias atuais.

A partir desta lei, o processo de reorganização da empresa passou a considerar a

elaboração de um plano para reorganização em que os credores e devedor aproximam-se na

tomada de decisão quanto aos rumos da empresa, incluindo o fisco na renegociação.

Cooper, Moss e Brenneman (2011) expõem que o sistema de falência e recuperação de

empresas dos Estados Unidos da América tem sido muito testado ao longo dos anos o que

proporciona segurança com menor risco para os devedores que o adotarem.

Empresas residentes nos Estados Unidos, ou com domicilio, local de trabalho ou

propriedade, podem recorrer ao capítulo 11 da U.S. Bankruptcy Code 1.978, que é a lei de

recuperação e falência norte americana.

De acordo com United States Courts (2015), os principais capítulos da lei utilizados nos

processos americanos são Chapter 7 Liquidation under the bankruptcy code, Chapter 11

Reorganization under the bankruptcy code e Chapter 13 Individual debt adjustment o qual são

julgados por juízes federais específicos para cada tema não sendo permitido o julgamento ou o

protocolo de petição inicial por juízes estaduais.

Os principais objetivos da lei são:

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(i) dar a um devedor honesto um novo começo de vida aliviando parte das

dívidas e,

(ii) reembolsar os credores de uma forma ordenada na medida em que o

devedor tem bens disponíveis para o pagamento.

O chapter 7 trata do processo de falência ou liquidation, termo em inglês. Qualquer

devedor pode fazer uso da lei, independentemente do montante da dívida ou de ser solvente ou

insolvente, desde que satisfaça aos requisitos de qualificação definidos no chapter 11

parágrafos 101 e 109. Geralmente os processos são convertidos para a falência, ou seja, não se

iniciam pelo processo de falência, no chapter 7.

Já o chapter 11 apresenta o processo de recuperação da crise, cujo termo em inglês é

reorganization, permitindo à empresa que proponha um plano de recuperação da crise que

possibilite o pagamento da dívida e a continuidade do negócio.

Algumas premissas devem ser consideradas, dentre as quais se destacam o prazo de 180

dias anteriores ao pedido de recuperação judicial em que o devedor não tenha recebido um

pedido de falência devido a uma falha intencional que o motivasse a comparecer ao tribunal.

Para fins deste trabalho, não será explorado o chapter 13, por se tratar de processo de

recuperação de indivíduo, tal qual o chapter 12, cujo cujo termo em inglês é chapter 12 family

farmer bankruptcy or family fisherman bankruptcy, por não fazer parte do escopo deste

trabalho.

2.5.1 Semelhanças da Lei 11.101/05 com U.S. Bankruptcy Code

Anapolsky e Woods (2013) explicam que a nova lei de recuperação e falência nº

11.101/05 brasileira é similar à lei americana, U.S. Bankruptcy Code 1978, de acordo com o

chapter 11, trazendo avanços importantes na recuperação de créditos das empresas em situação

de crise no Brasil. Embora haja semelhança, os autores observam diversas diferenças das quais

estão destacadas no quadro 7.

Em se tratando de recuperação judicial na lei brasileira e na reorganization, lei norte

americana, a continuidade do devedor na gestão da empresa é possível, não sendo obrigatório

o afastamento das funções do dirigente. A diferença das leis está na forma de gestão em que a

lei americana emprega quando o dirigente da empresa se afasta do comando, passando a

administração a um administrador judicial, Trust, que é empregado do Departamento de Justiça,

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enquanto no regime brasileiro o administrador judicial é uma indicação do juiz a um terceiro

qualificado, ou seja, não é empregado do sistema judiciário.

Diversos autores Cooper; Moss; Brenneman (2011), Anapolsky; Woods (2013),

Rapisardi; Zujkowski (2014) partilham da ideia de que a lei brasileira necessita de avanços

quanto ao disclosure das informações aos investidores nacionais e estrangeiros bem como

consideram como dificuldade o fato de a lei brasileira não prever o reconhecimento de ações

internacionais, ou seja, empresas multinacionais americanas devem obrigatoriamente ingressar

com o processo sob a lei americana em conjunto com a lei brasileira.

Os autores Anapolsky; Woods (2013) enfatizam o fato da lei brasileira não contemplar

processos internacionais considerando uma defasagem em relação a harmonização das leis

internacionais que tratam do tema. Para Burman (1996) e Avi-Yonah (2002), embora o processo

de recuperação e falência ocorra fora das fronteiras as partes envolvidas desejam os mesmos

resultados que obteriam em um processo doméstico, ou seja, falência do devedor,

previsibilidade de resultados, distribuição equitativa dos ativos e participação na informação.

Da mesma forma que o ingresso do pedido de falência pode ser feito por credores no

Brasil e nos Estados Unidos, de acordo com os critérios de habilitação. Já o pedido de

recuperação empresarial ocorre diretamente do credor ao devedor na lei americana o que não é

permitido no Brasil. Por ser lei federal os Estados Unidos adotam juízes especializados na

referida lei não permitindo que os estados nomeiem seus juízes para a condução dos processos

de recuperação judicial e falência o que não acontece no Brasil, uma vez que os estados têm a

autonomia na nomeação dos juízes.

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Quadro 7: Comparativo da lei de recuperação judicial entre Estados Unidos e Brasil

Características da lei Estados Unidos da América Brasil

Ingresso de pedido de falência Credores tem permissão Credores tem permissão

Ingresso de pedido de recuperação

judicial

Credores podem pedir a recuperação

observando as habilitações

Apenas a empresa (devedora) representada

por advogado

Tribunais especializados em falência e

recuperação judicial

Todos os estados recorrem a uma

corte federal (Federal Court)

Cada estado faz a interpretação da lei e

nomeação do juiz

Previsão para ações internacionais de

investidores

Prevê no Chapter 15 da lei Não reconhece ações judiciais

internacionais

Reconhecimento de investidores

individuais (Bond Holders)

Credores com direito a voto na

assembleia geral de credores

Credores sem direito a voto na assembleia

de credores, exceto se for obtido o direito

por processo judicial à parte

Comitê de credores quirografários Mandatório a formação Comitê

oficial incluindo investidores,

agrupado por semelhança

Opcional, sem investidores e quase nunca

utilizado nos processos, respeitando a

separação por classe I, II e III de credores

Apresentação e aprovação do plano de

recuperação judicial

Credores, investidores e empresa

devedora

Apenas empresa devedora, ou credores em

assembleia geral

Acesso à informação para investidores Obrigatório, aprovado pelo juiz,

divulgado a todos e mantido

mensalmente durante a recuperação

da empresa com todas as

informações necessárias para avaliar

a saúde da empresa

Uso do plano de recuperação e

acompanhamento mensal, sem divulgação

e acesso a investidores e com poucas

informações sobre a situação real da

empresa

Venda de ativos na recuperação judicial Permite com abertura das

informações a todos os interessados

Permite por meio do plano de recuperação

com pouca informação aos credores

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de ANAPOLSKY; WOODS (2013)

Considerando uma possível falência, a lei brasileira prevê garantia do recebimento dos

salários, apenas salários, vencidos nos últimos 3 meses anteriores à decretação da falência,

observando o limite de 5 salários mínimos por trabalhador durante o processo de falência.

Ao final do processo de falência, limitado a 150 salários por trabalhador, será priorizado

o pagamento e, em havendo saldo remanescente, será dado igualdade de preferência dos

credores quirografários.

Segundo Huaiyu (2006), os americanos têm o direito resguardado à receber 3 meses de

salário ao limite de USD 4,295, enquanto os brasileiros se beneficiam de até 150 meses para

que possam receber os salários, de acordo com a lei trabalhista.

2.6 SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS

Segundo Hill (2002), a securitização foi desenvolvida nos Estados Unidos da América,

na década de 1970, com uma estrutura que contemplava a criação de um pool de investidores

remunerados. O primeiro tipo de securitização foram hipotecas originadas dos bancos e, desde

então, muitos outros tipos de fluxos de caixas têm sido securitizados com volume considerável.

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61

A Europa começou a usar a transação na década de 1980, juntamente com o México nos

mercados emergentes.

A palavra securitização provém do termo securities que, em inglês, define valores

imobiliários e títulos de crédito, significando a conversão de créditos, ativos recebíveis, em

lastro para títulos ou valores mobiliários a serem emitidos a posteriori, dando início, no Brasil,

na década de 1970, pela venda de empréstimos hipotecários garantidos pelo governo.

Na década de 1980, surgiram as primeiras operações de securitização no Brasil por

emissão pela própria sociedade comercial originadora dos créditos conhecida como

securitização parcial, em que o originador emitia debêntures, no mercado de capitais, com

garantia real, penhor de crédito, dos créditos que o emitente possuía junto aos próprios clientes.

Até o momento, o processo de securitização se dava, principalmente, pela emissão de títulos

lastreados nos recebíveis de cartões de crédito.

Novos modelos de securitização passaram a ser praticados no Brasil a partir da década

de 1990 com as operações de transferência dos direitos creditórios gerados pelo originador para

a SPE com emissão de debênture.

No Brasil, existem 4 tipos de securitizadoras que estão detalhadas a seguir:

1. Companhias securitizadoras de créditos financeiros - são SPE com objeto social

exclusivo para a aquisição e securitização de créditos financeiros regidos pelo art. 1º da

Resolução BACEN nº 2.686 de 26/01/2000:

Art. 1º – Autorizar a cessão de créditos oriundos de operações praticadas por bancos

múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento, sociedades de crédito,

financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, companhias

hipotecárias, associações de poupança e empréstimo e pela Caixa Econômica Federal

a sociedades anônimas que tenham por objeto exclusivo a aquisição de tais créditos.

Parágrafo 1º – A cessão de que trata este artigo somente pode ser realizada a sociedade

anônima que:

I – contenha em sua denominação a expressão “Companhia Securitizadora de Créditos

Financeiros”;

Companhias securitizadoras de créditos imobiliários – SPE com objeto social exclusivo

para aquisição e securitização de créditos imobiliários regido pelo art. 3º da Lei 9.514 de

20/11/1997:

Art. 3º As companhias securitizadoras de créditos imobiliários, instituições não

financeiras constituídas sob a forma de sociedade por ações, terão por finalidade a

aquisição e securitização desses créditos e a emissão e colocação, no mercado

financeiro, de Certificados de Recebíveis Imobiliários, podendo emitir outros títulos

de crédito, realizar negócios e prestar serviços compatíveis com as suas atividades;

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62

Companhias securitizadoras de créditos do agronegócio – SPE com objeto social

exclusivo para aquisição e securitização de direitos creditórios do agronegócio regulado pelo

art. 38 e art. 40 da Lei nº 11.076, de 30/12/2004:

Art. 38 As companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio são

instituições não financeiras constituídas sob a forma de sociedade por ações e terão

por finalidade a aquisição e securitização desses direitos e a emissão e colocação de

Certificados de Recebíveis do Agronegócio no mercado financeiro e de capitais.

Art. 40 A securitização de direitos creditórios do agronegócio é a operação pela qual,

tais direitos são expressamente vinculados à emissão de uma série de títulos de crédito,

mediante Termo de Securitização de Direitos Creditórios, emitido por uma companhia

securitizadora, do qual constarão os seguintes elementos: I - identificação do

devedor; II - valor nominal e o vencimento de cada direito creditório a ele vinculado;

III - identificação dos títulos emitidos; IV - indicação de outras garantias de resgate

dos títulos da série emitida, quando constituídas;

Companhias securitizadoras de ativos empresariais – SPE constituídas com objeto social

exclusivo para aquisição e securitização de ativos empresariais, provenientes de operações

praticadas por empresas industriais, comerciais ou de serviços, com fluxo de recebimento futuro

emitido por duplicatas, cheques pós-datados, recebíveis de cartões de crédito, contratos de

aluguéis e fornecimento de mercadorias ou produtos para entrega futura, regulados pela

CVM/SJU nº 005 de 19/02/1986.

É uma entidade comercial, não financeira, atípica, que não adquire mercadorias e

produto, para revenda futura, mas adquire os direitos creditórios que representam os ativos

adquiridos. A receita bruta é determinada pelo diferencial (deságio) entre o valor de face dos

ativos adquiridos, e o valor por eles desembolsado.

Kendall e Fishman (1996) expõem que a securitização é o processo de conversão de

empréstimos feitos pelos títulos com melhora na classificação de crédito, sendo vendido ao

investidor por converter os empréstimos em títulos negociáveis e com o colateral nas

obrigações, e não na empresa originadora dos recebíveis. O processo de securitização está

demonstrado na figura 10.

Borges (1999) observa que o termo utilizado para identificar operações de valor

mobiliário emitido, lastreado ou vinculado ao direito creditório ou simplesmente recebível, é

securitização. Adiciona que o fluxo de caixa gerado por recebíveis ou bens transferidos para

outra empresa é utilizado para operações de giro, sendo o direito ao recebimento com respaldo

jurídico da compra e venda.

Barros (2014) argumenta que tem crescido o número de FIDC originados dos factoring

em decorrência da migração para o mercado de capitais, dada a concorrência, e, com isso, o

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63

risco para o investidor aumenta à medida que as políticas de crédito e prevenção de riscos

podem diminuir.

Greenbaum e Thakor (1987) explicam que a cessão de crédito é uma prática habitual

dos bancos mediante venda de empréstimos em que o cedente não assume o pagamento se

houver inadimplência e a securitização altera a qualidade do ativo por reduzir os riscos de

crédito.

Kothari (2014) argumenta que a questão central da securitização está em não ter o direito

de regresso (true sale) para que os investidores tenham o direito sobre os ativos adquiridos, de

modo que não sejam afetados por eventual queda no desempenho ou falência do originador.

A figura 10 apresenta o fluxo do processo de securitização, iniciando pela empresa

cedente (originador), que vende produtos e serviços a prazo para empresas clientes (devedor)

que, por sua vez, geram direitos creditórios.

A empresa originadora (cedente), mediante o contrato de cessão de crédito, transfere os

direitos creditórios ao FIDC por meio de uma SPE ou para fundo de investimento constituído,

efetuando pagamento à empresa originadora, que, por sua vez, emite cotas para venda aos

investidores.

Contra vencimento dos créditos, empresa cliente (devedor) efetua o pagamento ao FIDC

que paga a amortização ou resgate das cotas seniores aos investidores. Em se tratando do FIDC

do factoring, as cotas subordinadas estão com o factoring, que adquire os créditos por meio do

fundo de investimentos.

As cotas seniores são cotas adquiridas por investidores por meio do mercado de capitais

ou mercado de balcão. Já, as cotas subordinadas, são as cotas com maior liquidez, ou seja, as

cotas que, em caso de liquidação ou PL negativo do fundo de recebíveis serão as primeiras a

fazer garantia aos investidores das cotas seniores.

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64

Figura 10: Processo de securitização

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

2.6.1 Securitização vs. Factoring

A distinção das operações do factoring com as operações da securitização se dá pelo

objeto social. Ambos adquirem recebíveis oriundos de vendas industriais ou de prestação de

serviços dos originadores, mas a aplicação das aquisições é diversa, sendo a securitizadora um

meio de lastrear a emissão de títulos e de valores mobiliários (debêntures) e o factoring um

prestador de serviços contínuo dos originadores.

A securitização - consiste especificamente na aquisição e securitização de recebíveis

empresariais mercantis e ou de prestação de serviços, pela emissão e colocação, no mercado

em ambiente privado, de valores mobiliários, podendo emitir outros títulos de crédito, realizar

negócios pertinentes ou relativos à securitização de títulos.

O factoring - realiza negócios de fomento mercantil que consistem na prestação de

serviços, em caráter contínuo, de alavancagem mercadológica ou de acompanhamento das

contas a receber ou a pagar ou de seleção e avaliação do sacados-devedores ou dos fornecedores

das empresas clientes contratantes, e; na compra a vista, total ou parcial com ou sem

coobrigação, de direitos resultantes de vendas mercantis e/ou de prestação de serviços

realizadas a prazo por suas empresas-clientes contratantes, no mercado nacional e internacional

como foi apresentado em capítulo anterior.

Promessa

de

Pagamento

Cessão

de

Crédito

Bens

ou

Serviços

Títulos

Recursos

Recursos

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65

3 CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO

3.1 FINANCIADOR DO CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO

No Brasil, há uma dificuldade na obtenção de recursos para empresas em crise financeira

quando recorrem aos bancos. Ao primeiro sinal de crise da empresa, os bancos fecham as portas

do crédito, optam por liquidar os contratos (conta garantida, mútuo, capital de giro, desconto

de duplicatas), reduzir os riscos e aumentar as garantias para a manutenção da linha já

contratada e as empresas têm maior dificuldade de gerir o caixa. Uma vez que já não dispõe de

garantias adicionais e liquidez.

Tal prerrogativa está normatizada na resolução do BACEN nº 2682 de 21 de dezembro

de 1999 que determina a classificação das operações de crédito em ordem crescente de risco de

acordo com os níveis AA, os quais se entende que o crédito é bom, A, B, C, D, E, F, G e H em

que se compreende não haver possibilidade de concessão de crédito dado o risco da operação.

A classificação e o nível de risco das operações é de responsabilidade de cada instituição

financeira, devendo respeitar os critérios definidos, na resolução, contemplando ao menos os

aspectos relacionados ao devedor e seus garantidores, situação econômico-financeira, grau de

endividamento, capacidade de geração de resultado, fluxo de caixa, pontualidade e atrasos nos

pagamentos, setor de atividade econômica, características das garantias, suficiência e liquidez.

Considerando os níveis de risco das operações de que trata a resolução 2682/99 bem

como o provisionamento necessário para o mitigar o risco, compreende-se a razão pela qual os

bancos fecham as portas para as empresas em crise financeira. A tabela 3 apresenta, de acordo

com os níveis de risco, o critério de rebaixamento e provisionamento a que trata a resolução em

questão. Os níveis estão em ordem crescente, portanto, nível A, baixo risco, e nível H, altíssimo

risco.

A classificação do risco deve ser revista mensalmente de acordo com a apresentação dos

informes financeiros das empresas devedoras, apurando atrasos nos pagamentos de parcela e

principal ou de encargos. O provisionamento deve fazer frente aos créditos de liquidação

duvidosa não devendo ser inferior aos percentuais informados na tabela 3, permitindo cobrir

eventuais perdas na realização dos créditos.

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66

Tabela 3: Classificação de risco versus provisão de liquidação duvidosa

Nível Revisão da classificação do risco em razão

dos dias de atrasos nos pagamentos

Provisão para créditos de liquidação duvidosa

sobre o valor das operações

A 0,5%

B Entre 15 e 30 1,0%

C Entre 31 e 60 3,0%

D Entre 61 e 90 10,0%

E Entre 91 e 120 30,0%

F Entre 121 e 150 50,0%

G Entre 151 e 180 70,0%

H Superior a 180 100,0%

Fonte: Elaborado pelo autor, de BCB, 2015.

Este critério, conforme a própria resolução, é o mínimo a ser seguido por instituições

financeiras reguladas pelo BACEN, devendo ser adaptado e melhorado de acordo com a

necessidade e perfil das instituições. As operações de crédito inferiores a R$ 50.000,00 e podem

ser classificadas mediante adoção de modelo de avaliação da própria instituição de acordo com

a resolução BACEN 2697 de 24 de fevereiro de 2000.

O factoring e FIDC de factoring adotam um processo de análise de crédito voltado para

identificar a situação da empresa cedente pelos meios circulantes, pesquisa de mercado,

consulta dos títulos para cessão do crédito e imagem da empresa, tornando-se o meio viável

para captação de recursos por empresas cuja classificação de risco não seja adequada aos

bancos.

Ao contrário dos bancos, o factoring não dispõe de regulação ou normatização que

estabeleça um padrão para rebaixamento da classificação de risco das operações de crédito, bem

como a necessidade de provisionamento para liquidação de devedores duvidosos. Por ser uma

atividade atípica, atua fortemente no middle market em que os bancos não têm expertise,

adotando soluções para o acompanhamento dos clientes desde a prospecção até a saída ou

encerramento dos negócios.

Em razão do índice de provisionamento para clientes com classificação de risco H,

segundo critérios apresentados na tabela 3, pode-se inferir que este seria o público-alvo dos

factoring e seus fundos de investimentos em direitos creditórios.

Perera (1998) expõe que o risco de um determinado título está relacionado com o

ambiente em que a empresa está inserida e, portanto, se não houver alterações no

comportamento do mercado e nas ações de investimentos versus o fluxo de caixa gerado o risco

de falência pode ser menor.

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67

3.2 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FACTORING

De acordo com a ANFAC, o fator é um indicador de referência de compra de créditos

para o mercado de fomento comercial. A composição do fator representa a formação do preço

para cobrir as despesas operacionais e os custos da operação de fomento, tendo como indicativo

de custo, alínea “a”, o Certificado de Depósito Bancário (CDB), sendo:

a) custo (oportunidade do capital próprio);

b) custos Fixos;

c) custos Variáveis;

d) impostos Operacionais;

e) despesas de Cobrança;

f) expectativa de risco;

g) expectativa de lucro.

No mercado, o fator é conhecido como a taxa de desconto do título para a cessão dos

direitos creditórios oriundos de títulos de venda mercantil. A tabela 4 apresenta a cotação,

conforme o período de 30 dias úteis (d.u.).

Tabela 4: Médias do período do fator ANFAC

18/12/2014 a 02/02/2015

(30 dias úteis)

MÉDIAS DO PERÍODO

Fator Média Alta Média Baixa Ad Valorem

3,96% 4,02% 3,90% 0,81%

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de ANFAC, 2015.

O ad valorem é uma taxa cobrada pela prestação de serviços, pela aplicação de um

percentual sobre o valor dos títulos negociados, compondo o custo efetivo total.

Os dados publicados pelo Banco Central do Brasil (BCB) sobre a taxa de desconto de

títulos para pessoa jurídica, na modalidade pré-fixado, referem-se ao parâmetro de mercado

para a contratação de operação de antecipação de recebíveis, pela cessão de títulos de operação

mercantil, conforme tabela 5.

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68

Tabela 5: Taxas de juros por instituição financeira- período 14.01.2015 a 20.01.2015

Posição

Instituição

Taxas de juros

% a.m. % a.a.

14 BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. 2,09 28,22

19 HSBC BANK BRASIL SA BCO MULTIP 2,28 31,02

33 ITAÚ UNIBANCO BM S.A. 2,69 37,52

36 BANCO BRADESCO S.A. 2,91 41,11

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de BCB, 2015.

Comparada ao fator, a taxa de juros bancária se apresenta menor, embora seja acrescida

da reciprocidade que, oportunamente, é negociada com a instituição financeira e o cliente

(tomador do recurso), em razão da liberação de determinada operação de crédito, financiamento

de capital de giro, financiamento de ativo imobilizado, financiamento para expansão fabril,

dentre outros. Uma das formas apresentadas para a reciprocidade é a contratação de seguro de

frota, seguro empresarial, seguro saúde, títulos de capitalização, aplicações em títulos de

previdência privada e investimentos em títulos de renda fixa. O valor da reciprocidade praticado

no mercado está entre 5% e 10% do montante contratado, conforme apresentado pelo Sindicato

dos Factoring (SINFAC).

A tabela 6 apresenta o comparativo da operação de desconto de duplicata em banco

comercial e em factoring de acordo com as premissas estabelecidas no quadro 8.

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69

Tabela 6: Simulação de operação de desconto de duplicata – Banco vs. Factoring

Composição do Custo Banco Comercial Factoring

Premissas da Operação

Tipo de Operação Desconto Duplicata

Valor Total (R$) 50.000,00 50.000,00

Quantidade de títulos 15 15

Ticket médio (R$) 3.333,33 3.333,33

Prazo Médio em dias 35 35

Reciprocidade 5% 0%

Floating (D+2) 2 2

Valor (R$) 50.000,00 50.000,00

Taxa (% a.m.) 2,51% 3,65%

Ad Valorem (%) 0,00% 0,75%

Tarifa por boleto (R$) 2,83 4,50

TAC (R$) 170,00 273,00

Outros (R$) 20,00 8,00

Simulação da Operação

Desconto (R$) (1.461,25) (2.129,17)

Ad Valorem (R$) - (375,00)

Tarifa (R$) (42,45) (67,50)

TAC/TOC (R$) (170,00) (273,00)

Outros (R$) (20,00) (8,00)

Total Custo (R$) (1.693,70) (2.852,67)

Líquido da Operação (R$) 48.306,30 47.147,33

Custo da Operação (%) 3,23% 5,71%

Reciprocidade (R$) 2.500,00 -

Líquido Final (R$) 45.806,30 47.147,33

Custo Efetivo Total (%) 3,39% 5,71%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

O custo efetivo total das operações, expresso em percentual, confirma o valor maior

para o factoring se comparado à operação bancária, mesmo com a retenção da reciprocidade

exigida pelo banco. Rizzardo (2000) e Assaf Neto (2009), dentre outros autores, expuseram que

os custos de operações com o factoring se apresentavam maiores quando comparado às

instituições financeiras.

Embora a negociação da reciprocidade seja praticada pelo mercado não está de acordo

com a Resolução 2.878 de 26/07/2001 do CMN, órgão regulador das instituições financeiras e

do sistema financeiro nacional, conforme o artigo nº 17 observa que:

É vedada a contratação de quaisquer operações condicionadas ou vinculadas

à realização de outras operações ou à aquisição de outros bens e serviços.

§ 1º A vedação de que trata o caput aplica-se, adicionalmente, às promoções

e ao oferecimento de produtos e serviços ou a quaisquer outras situações que

impliquem elevação artificiosa do preço ou das taxas de juros incidentes sobre

a operação de interesse do cliente.

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70

Mesmo com o veto por resolução, nota-se que o mercado financeiro pratica a

reciprocidade como forma de auferir melhores resultados, compensar possíveis perdas ou

mesmo de fidelizar os clientes.

As premissas para a elaboração do quadro 8 foram definidas de acordo com a prática de

mercado, as regras adotadas pelo BCB e as práticas do factoring, conforme ANFAC.

Quadro 8: Premissas da simulação do comparativo de operação de desconto de duplicata

Banco Factoring

1 Taxa (% a.m.)

Taxas médias praticada dos 4 maiores bancos

privados, obtido no site do BCB, em janeiro

de 2015

Publicação da ANFAC do fator (taxa de

aquisição de títulos por cessão de crédito)

2 Ad Valorem (%)

Taxa de serviço de consulta de crédito

cobrado pelo factoring. Para efeitos desta

demonstração foi aplicada a taxa média de

mercado

3 Tarifa Boleto Média das tarifas cobradas dos 4 maiores

bancos privados obtido no site do BCB

Média da tarifa obtida por consulta a 4

factoring da cidade de São Paulo

4 Tarifa de

TED/DOC

Tarifa cobrada para a transferência do recurso

para o cliente do factoring. Média de 4

factoring da cidade de São Paulo

5

Taxa de Abertura

de Crédito –

TAC

Tarifa para abertura de crédito cobrada por

operação. Média dos 4 maiores bancos

privados obtidas no site do BCB

6

Taxa de

Operação de

Crédito - TOC

Tarifa para operação de crédito cobrada por

operação. Média de 4 factoring da cidade de

São Paulo

7 Floating (D+)

Período de compensação da cobrança. Este

prazo varia em razão da utilização de banco

correspondente ou não na praça

Período de compensação e conciliação da

cobrança.

8 Prazo Médio

Prazo médio ponderado em razão da condição

de pagamento e do valor de cada título

expresso em dias.

Prazo médio ponderado em razão da condição

de pagamento e do valor de cada título

expresso em dias. O cálculo é feito no

calendário ano 252 desprezando as sextas-

feiras.

9 Ticket médio

Valor médio por título de cobrança que

influenciará no valor total de boletos a ser

cobrado na operação

Valor médio por título de cobrança que

influenciará no valor total de boletos a ser

cobrado na operação

10 Reciprocidade

São exigências apresentadas no ato da

negociação do crédito bancário

11 Outros

Outras despesas cobradas por bancos, tais

como processamento de arquivo de cobrança,

manutenção da carteira de cobrança, etc

Outras despesas cobradas por factoring, tais

como assinatura eletrônica de contrato de

cessão de crédito, manutenção da carteira de

cobrança

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de BCB, CMN, ANFAC, SINDFAC, 2015.

Embora a operação do factoring, neste trabalho, confirme-se mais cara que a operação

com o banco comercial, dados do Factoring Chain International (FCI) demonstram que as

operações com o fomento comercial vêm crescendo substancialmente ao longo dos últimos 7

anos. A figura 11 apresenta a evolução do mercado dos últimos 3 anos e a evolução agrupada

por continentes é apresentada na tabela 7.

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71

O Brasil posiciona-se na 2ª colocação no continente das Américas e registrando

crescimento constante ao longo dos anos.

Figura 11: Geografia do factoring – posição das Américas, 2013

Fonte: Adaptado pelo autor, de ANFAC, 2015.

A figura 12 apresenta a evolução dos 5 continentes que participam do FCI, observando

a participação expressiva da Europa, onde o factoring começou desde a antiguidade (LEITE,

2004).

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72

Figura 12: Volume Mundial / Continente – em €

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de FCI.nl, 2015.

O detalhamento do gráfico está apresentado na tabela 7, demonstrando o percentual da

participação do total mundial por ano, de cada continente. A forte expansão fora da Europa

ocorre na Ásia seguida das Américas.

Tabela 7: Volume total dos factoring por continente – últimos 7 anos em milhões € Ano Total

Mundial

Américas % Europa % África % Ásia % Oceania %

2013

2.230.479

191.555

9%

1.354.192

60,7%

23.123

1,0%

599.297

26,9%

62.312

2,8%

2012

2.130.743

187.014

9%

1.298.680

60,9%

23.927

1,1%

571.516

26,8%

49.606

2,3%

2011

2.014.350

207.172

10%

1.218.540

60,5%

23.451

1,2%

507.696

25,2%

57.491

2,9%

2010

1.647.541

185.357

11%

1.045.024

63,4%

16.811

1,0%

355.434

21,6%

44.915

2,7%

2009

1.282.782

142.013

11%

876.614

68,3%

14.917

1,2%

209.828

16,4%

39.410

3,1%

2008

1.323.957

154.195

12%

888.528

67,1%

13.263

1,0%

235.425

17,8%

32.546

2,5%

2007

1.300.016

149.673

12%

932.264

71,7%

10.705

0,8%

174.294

13,4%

33.080

2,5%

TT

11.929.868

1.216.979

10%

7.613.842

64%

126.197

1%

2.653.490

22%

319.360

3%

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de FCI.nl, 2015.

No continente das Américas, o volume de operações do factoring em milhões de Euros

concentra-se em 4 países que juntos somam € 711.825 bilhões. O Brasil, ao longo dos últimos

7 anos, aproximou-se dos Estados Unidos, estando apenas 3% menor no acumulado do período

e à frente do 3º colocado com mais de 100% de diferença de acordo com a tabela 8.

1,3 1,3

1,2

1,6

2,0 2,1 2,2

932 888 876

1,0

1,2 1,3 1,3

-

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1.800.000

2.000.000

2.200.000

2.400.000

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Volume Mundial / Continente - em €

Total em Tri de Eur

Europa

Asia

Américas

Oceania

África

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73

Tabela 8: Países de destaque no volume total das Américas

Países 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TT do

Período

Estados Unidos 97 100 88.500 95 105 77.543 83.739 250.179

Brasil 21.060 22.055 29.640 49.050 45.623 43.627 31.552 242.607

México 9.200 9.550 2.120 14.538 21.074 26.130 28.061 110.673

Chile 14.620 15.800 14.500 16.422 21.500 24 25.500 108.366

Outros 7.793 3.793 7.253 10.347 13.975 15.653 22.645 81.459

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de FCI, 2015.

Segundo dados informados pela ANFAC, o ano de 2012 revelou-se promissor para as

empresas do factoring com a região sudeste, concentrando o maior número de empresas de

fomento e de clientes do setor, representando aproximadamente 70% das transações com

destaque para o Estado de São Paulo, cuja concentração de empresas clientes alcança 98.000

empresas do montante de 151.000.

3.3 CUSTO DE CAPTAÇÃO NO FIDC

Comparado ao factoring à operação de FIDC, apresenta-se melhor uma vez que os

custos são menores em razão de não haver a tributação dos impostos PIS, COFINS, IOF, IRPJ

e CSLL no deságio da operação bem como a reciprocidade negociada com instituições

financeiras e a cobrança do ISS sobre a prestação de serviços do factoring. O quadro 9 apresenta

o comparativo da tributação do FIDC e do factoring.

Quadro 9: Comparativos fiscais entre o FIDC e o Factoring

Tributos FIDC Factoring

PIS/COFINS Isento Tributado

IR e CS sobre os lucros Isento Tributado

IOF Alíquota de 0% Tributado

ISS Isento Tributado

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de.planalto.gov.br/legislação, 2015.

A negociação dos direitos creditórios nas operações de FIDC é definida pela taxa de

deságio previamente contratada com o originador sem a incidência dos tributos e tarifas de

boleto. Na simulação apresentada na tabela 9, o valor bruto é o mesmo utilizado na simulação

da tabela 6 do parágrafo 3.2. Para fins desta pesquisa, a taxa de deságio apresentada para o

factoring já está com os impostos incidentes na operação uma vez que os impostos são despesas

que compõe a precificação do deságio, conforme estabelecido pela ANFAC.

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74

Tabela 9: Simulação de operação de desconto de duplicata – FIDC vs. Factoring

Composição do Custo FIDC Factoring

Premissas da Operação

Tipo de Operação Duplicata de Venda Mercantil

Valor Total (R$) 50.000,00 50.000,00

Quantidade de títulos 15 15

Ticket médio (R$) 3.333,33 3.333,33

Prazo Médio em dias 35 35

Reciprocidade - -

Floating (D+2) 2 2

Valor (R$) 50.000,00 50.000,00

Taxa de deságio (% a.m.) 2,50% 3,65%

Ad Valorem (%) - 0,75%

Tarifa por boleto (R$) - 4,50

TAC (R$) - 273,00

Outros (R$) - 8,00

Simulação da Operação

Deságio (R$) (1.541,67) (2.250,83)

Ad Valorem (R$) - (375,00)

Tarifa (R$) - (67,50)

TAC/TOD (R$) - (273,00)

Outros (R$) - (8,00)

Total Custo (R$) (1.541,67) (2.974,33)

Líquido da Operação (R$) 48.458,34 47.025,67

Custo da Operação (%) 3,08% 4,50%

Reciprocidade (R$) - -

Líquido Final (R$) 48.458,34 47.147,33

Custo Efetivo Total (%) 3,08% 5,95%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

O resultado confirma que a operação com o FIDC se apresenta mais vantajosa se

comparada à operação do factoring por não haver despesas adicionais à taxa de deságio da

operação.

Segundo Barros (2014), o aumento no número de FIDC, em razão da migração do

factoring se justifica diante da concorrência, da desintermediação bancária e da oportunidade

de negócios, uma vez que as operações se tornam mais competitivas com os custos operacionais

menores.

A tabela 10 demonstra o levantamento realizado nas bases de dados da CVM dos fundos

de investimentos em direitos creditórios não padronizados (FIDC-NP), agrupados por

administrador e patrimônio líquido (PL). O tamanho do fundo é definido de acordo com o PL

e, portanto, o volume de negócios alocados no administrador define sua posição no mercado de

administradores.

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75

Tabela 10: PL dos FIDC-NP classificados por administrador e PL

Administrador Valor do PL

(R$ mil)

Itaú Unibanco S/A 19.608.132.963,74

Oliveira Trust Dtvm S.A. 3.276.918.803,41

Bem - Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários Ltda. 2.152.982.588,00

Bny Mellon Serviços Financeiros Dtvm S.A 1.613.649.750,10

Socopa Sociedade Corretora Paulista SA 1.067.141.302,93

Banco Petra S.A. 927.840.600,75

Caixa Econômica Federal 866.601.800,55

Btg Pactual Serviços Financeiros S/A Dtvm 778.088.646,53

Gradual Cctvm S/A 580.304.386,64

Santander Securities Services Brasil Dtvm S.A 489.723.349,17

Planner Corretora De Valores SA 281.645.714,56

Banco Modal Sa 265.999.167,69

Citibank Dtvm Sa 251.885.664,34

Brl Trust Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários S.A. 192.041.947,76

Banco J. Safra S.A. 74.342.179,24

Petra Personal Trader Ctvm S/A 47.974.213,59

Total Geral 32.476.358.994,60

Fonte: elaborado pelo autor, a partir de CVM, 2015.

Regidos pela instrução CVM 444 de dezembro de 2006, os FIDC-NP são fundos que

podem investir em papéis variados, com qualquer percentual de seu patrimônio líquido em

direitos creditórios que, dentre outras, estejam vencidos e pendentes de pagamento quando

cedidos ao fundo, que resultem de ações judiciais em curso ou tenham sido judicialmente

penhorados ou dados em garantia, originados de empresas em processo de recuperação judicial

ou extrajudicial.

Também será considerado não padronizado o FIDC que tenha rendimento oriundo de

derivativos de crédito, quando não for utilizado para mitigar risco ou aplique em cotas de FIDC-

NP.

A tabela 11 apresenta o levantamento realizado nas bases de dados da CVM dos FIDC

agrupados por administrador e patrimônio líquido (PL). O tamanho do fundo é definido de

acordo com o PL e, portanto, o volume de negócios alocados no administrador define sua

posição no mercado de administradores.

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76

Tabela 11: PL dos FIDC classificados por administrador

Administrador Valor do PL

(R$ mil)

Bem - Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários Ltda. 8.978.887.866,31

Citibank Dtvm Sa 4.182.001.785,34

Caixa econômica Federal 3.906.216.542,51

Oliveira Trust Dtvm S.A. 3.753.689.625,24

Socopa Sociedade Corretora Paulista Sa 2.735.035.011,44

Banco Petra S.A. Total 2.458.097.948,86

Votorantim Asset Management Dtvm Ltda. 2.312.959.568,23

Santander Securities Services Brasil Dtvm S.A 2.297.040.574,43

Gradual Cctvm S/A 1.896.034.995,00

Intrag Dtvm Ltda. 1.414.254.272,08

Btg Pactual Serviços Financeiros S/A Dtvm 1.385.995.374,10

Bny Mellon Serviços Financeiros Dtvm S.A. 976.792.061,28

Concórdia S.A. Cvmcc 730.788.979,10

Petra Personal Trader Ctvm S/A 643.041.898,62

Bb Gestao De Recursos Dtvm S.A. 489.869.497,79

Cruzeiro Do Sul S.A. Dtvm - Em Liquidação Extrajudicial 328.998.415,73

Planner Corretora De Valores Sa 263.015.537,22

Banco Daycoval S.A 82.440.975,06

Brl Trust Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários S.A. 66.916.953,44

Banco Modal Sa 18.306.288,25

Dillon S/A Dtvm 14.773.456,51

Oboé Distribuidora De Títulos E Valores Mobiliários S/A. 1.475.432,07

Total: 38.937.406.832,80

Fonte: elaborado pelo autor, a partir de CVM.

3.4 SEGREGAÇÃO DO RISCO

O marco regulatório no Brasil para as operações de securitização ocorreu no ano de

1992 com a rede de lojas varejistas Mesbla S/A que, na ocasião, estava em crise financeira. Não

conseguindo obter recursos no mercado bancário desenvolveu uma operação estruturada por

meio da constituição de uma SPE denominada Mesbla Trust, a primeira operação de

securitização feita no país. Os recebíveis provenientes das vendas da Mesbla S/A eram

repassados à SPE Mesbla Trust e convertidos em títulos de crédito, em debêntures, sendo

vendidos aos investidores pelos valores mobiliários.

A captação obtida dos investidores era repassada para a varejista Mesbla S/A como

forma de pagamento dos recebíveis, ou seja, o fluxo de pagamentos dos recebíveis era o fluxo

de repasse entre a SPE e a Mesbla S/A.

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77

O risco dos investidores das debêntures emitidas pela Trust ficou restrito aos papéis da

SPE Mesbla Trust sem que houvesse prejuízo com a liquidação da rede de lojas Mesbla S/A.

No processo transitório do factoring para o FIDC, segundo Barros (2014), a estrutura e

o know how para a captação de títulos de crédito no mercado se mantem. A partir da captação

no mercado o factoring transfere os títulos dos cedentes em crise financeira ou em RJ, cujo

sacado tenha boa liquidez, ao FIDC que por sua vez converte-os em títulos líquidos através do

processo de securitização dos recebíveis, uma vez que, em sua grande maioria, os acionistas

dos factoring são os cotistas dos fundos, detentores das cotas subordinadas, garantindo o rating

adequado para o investidor no mercado.

Neste sentido, o FIDC emite títulos de crédito, geralmente debêntures, vende aos

investidores qualificados, oferecendo, como garantia, o fluxo dos recebíveis, caracterizando

para os investidores como uma aplicação de recursos com risco de crédito atrelado ao

pagamento ou liquidação do próprio fluxo dos recebíveis. Os investidores assumem o risco do

crédito dos sacados ou o fluxo de recebíveis do devedor, conforme figura 3 apresentada

anteriormente no parágrafo 2.2.2.1.

Portanto, a captação de títulos oriundos de empresas em crise financeira ou em

recuperação judicial por FIDC se torna uma operação viável, afastando o risco do originador e

possibilitando a atuação neste mercado.

3.5 EMPRESAS EM CRISE

Os números têm mostrado um aumento de empresas que recorrem ao benefício da Lei

11.101/05 para obter uma chance para reverter o processo de crise. A figura 13 apresenta o

histórico de recuperações judiciais requeridas desde o início da vigência da lei.

Micro e pequenas empresas apresentam maior índice de solicitações do benefício da lei

com aumento significativo nos anos de 2009 e 2010, repetindo a escalada de aumento nos anos

de 2012, 2013 e 2014. As médias e grandes empresas, embora demonstrem crescimento nos

mesmos períodos das micro e pequenas, apresentam estabilidade nas solicitações de

recuperação judicial. Os números confirmam que as maiores demandas estão nas micro e

pequenas empresas, seguidas das médias e grandes empresas.

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78

Figura 13: Histórico de recuperação judicial – 06.2005 à 12.2013

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SERASA, 2015.

Analisados, separadamente, os números das pequenas e microempresas que recorreram

ao benefício da lei explicam que, nos últimos 3 anos, em média, 74% dos pleitos de RJ foram

deferidos, conforme apresentado na figura 14. Para as médias empresas, o comportamento dos

pleitos se apresenta em melhor cenário, com média de 88% de deferimento, conforme figura

15, contra 89% de deferimento das grandes empresas demonstrado na figura 16.

Figura 14: RJ Requerida vs. Deferida - Pequena Empresa

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SERASA, 2015.

71

160 164 172

365

297 284

403

508

451

24

68 71 87

197

106

166

247 239 240

15 24 34

53

108 72 65

107 127 137

-

80

160

240

320

400

480

560

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Histórico de Recuperação Judicial - 06/2005 à 12/2013

Micro e Pequena Empresa

Média Empresa

Grande Empresa

27 85 108 98

237 185

203

299 347

363

71

160 164 172

365

297 284

403

508 451

-

100

200

300

400

500

600

700

800

900

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

RJ Requerida vs. Deferida - Pequena Empresa

RJ Requerida

RJ Deferida

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79

Analisados, anualmente, os índices de deferimento comparado aos requerimentos da

pequena e microempresa têm aumentado a partir de 2012 gradativamente, sendo o ano de 2012,

74%, ano de 2013, 68% e, no ano de 2014, 80%.

Para as médias e grandes empresas, os números se apresentam a partir de 2012

respectivamente 89%, 92% e 84% contra 92%, 98% e 77%, para as grandes empresas.

Figura 15: RJ Requerida vs. Deferida - Média Empresa

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de SERASA, 2015.

Figura 16: RJ Requerida vs. Deferida – Grande Empresa

Fonte: elaborado pelo autor, SERASA, 2015.

15 50 62

74

162

106

139

221 219 202

24

68 71

87

197

106

166

247 239 240

-

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

RJ Requerida vs. Deferida - Média Empresa

RJ Requerida

RJ Deferida

11

21 25

50

93

69

55

98

124

106

15

24 34

53

108

72

65

107

127 137

-

50

100

150

200

250

300

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

RJ Requerida vs. Deferida - Grande Empresa

RJ Requerida

RJ Deferida

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80

Historicamente, as empresas têm registrado redução nos pedidos de falência desde a

vigência da nova lei. A figura 17 apresenta a evolução dos pedidos de falência versus a

decretação de falência dos últimos 3 anos, bem como apresenta os pedidos de recuperação

judicial que foram requeridos, deferidos e concedidos.

Figura 17: Dados históricos – falência e RJ

Fonte: elaborado pelo autor, SERASA, 2015.

Observa-se a redução das falências requeridas a partir do ano de 2012, entretanto, os

números da figura 18 demonstram aumento substancial das empresas que tiveram a falência

decretada se comparados às empresas que requereram a falência.

Figura 18: Falências requeridas vs. decretadas

Fonte: elaborado pelo autor, SERASA, 2015.

1929

688 757

618

189

1758

746874

690

244

1661

740828

671

323

0

500

1000

1500

2000

2500

Falências

Requeridas

Falências

Decretadas

RJ Requerida RJ Deferida RJ Concedida

Dados Históricos - Falência e RJ

2012

2013

2014

0

500

1000

1500

2000

20122013

2014

Falências Requeridas vs. Decretadas

Falências Requeridas

Falências Decretadas42%36%

45%

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81

De acordo com os autores Carnaúba e Milanese (2014, p. 83), a eficiência dos processos

de recuperação de judicial têm-se mostrado baixo no Brasil. A figura 19 apresenta o estudo,

desde o início da vigência da lei 11.101/05, das empresas que fizeram o requerimento da

recuperação judicial e obtiveram o sucesso pelo encerramento do processo ou do pagamento do

plano de recuperação, antes do prazo final de 24 meses. Considerando a quantidade de 4177

requerimentos de RJ contra 55 planos finalizados, conclui-se que apenas 1,3% das empresas

obtêm sucesso no processo de recuperação judicial.

Figura 19: Análise das RJ – 06/2005 / 12/2013

Fonte: elaborado pelo autor, a partir de Carnaúba e Milanese (2014, p.83).

Comparado aos Estados Unidos, França e Reino Unido, o Brasil tem o menor índice de

sucesso, ficando muito abaixo dos outros países como está demonstrado na tabela 12.

Tabela 12: Comparativo de processos finalizados vs. planos aprovados

Brasil EUA França Reino Unido

Processos Finalizados 1,3% 28% 13% 14%

Planos Aprovados 23% 41% 20% 15%

Fonte: Carnaúba; Milanese (2014, p.83).

Para compreender o baixo percentual de sucesso no processo de recuperação das

empresas que recorrem ao benefício legal, os dados foram analisados, considerando os planos

de recuperação judicial aprovados versus as conversões em falência; as recuperações judiciais

requeridas versus as conversões em falência; os planos de recuperação aprovados versus os

planos encerrados (que chegaram ao final com sucesso) e, por fim, as recuperações requeridas

0

1200

2400

3600

4800 4177 Requiridas

3.041 Procesos

Aceitos

935

Aprovados 394

Falências 72

Desistências

55

Finalizados

Análise das RJ - 06/2005 / 12/2013

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82

versus os planos encerrados. A figura 20 demonstra os resultados obtidos com atenção aos

planos encerrados versus os planos aprovados que elevam o número de eficiência para 5,9% de

sucesso, mas, mesmo assim, com baixa eficiência no comparativo da tabela 12 apresentada

acima.

Figura 20: Análise – 06/2005 / 12/2013

Fonte: elaborado pelo autor, a partir de Carnaúba e Milanese (2014, p.83).

42,1%

9,4%

5,9%

1,3%

Análise - 06/2005 / 12/2013

Planos Aprov. X Conversões RJ's Requeridas X Conversões

Plano Aprov. X Encerradas RJ's Requeridas X Encerradas

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83

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, serão apresentados os métodos e os procedimentos aplicados nesta

pesquisa para obtenção dos resultados de acordo com os objetivos.

4.1 MÉTODO E TIPO DE PESQUISA

O método de pesquisa adotado é qualitativo por se tratar de análise de dados mediante

técnicas qualitativas para a obtenção de melhores resultados (RICHARDSON, 2008).

Segundo Flick (2007), pontos de vista e práticas no campo são diferentes face às

perspectivas subjetivas e aos ambientes sociais relacionados, porém considerados como ponto

de partida.

Segundo Richardson (2008), para proporcionar maior clareza dos resultados com

profundidade, flexibilidade e demonstrar a complexidade pela interação de certas variáveis, o

método qualitativo foi adotado neste trabalho.

Este estudo caracteriza-se como exploratório, pois busca a visão geral do tipo

aproximativo dos fatos (GIL, 2002), para identificar os fatores determinantes na concessão do

crédito para as empresas em crise financeira.

4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Vergara (2000) salienta que a população é um conjunto de elementos a ser tratado em

determinado estudo, sendo a amostra parte da população.

A definição da amostra, em razão do alcance dos resultados, é constituída por empresas

de Factoring e FIDC constituído à partir do Factoring localizados no estado de São Paulo, na

região da grande São Paulo e da região da grande Campinas, interior do referido estado, cuja

relevância na atuação destas empresas foi observada em contato inicial quando informado o

patrimônio líquido (PL) total e se as empresas adotavam comitê de crédito. Optou-se por não

incluir na amostra empresas que não tivessem um comitê de crédito constituído (ficando ao

encargo do principal acionista a concessão do crédito) e empresas com PL menor que R$ 100

milhões.

De acordo com os dados levantados na CVM dos FIDC e na ANFAC dos factoring, a

maior concentração de empresas deste mercado encontra-se no estado pesquisado.

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84

A amostra é composta de 9 empresas de factoring, preferencialmente com FIDC, cuja

soma do PL informado durante a entrevista representa 33,26% aproximadamente da soma do

patrimônio líquido das empresas atuantes neste mercado no estado pesquisado.

Para compor a amostra, foram enviados diversos convites, entretanto, o resultado obtido

está demonstrado na tabela 13, resumindo os convites enviados, retornos obtidos e entrevistas

realizadas.

Tabela 13: Composição da amostra

Convites enviados Convites respondidos Não considerados Total da amostra

25 11 2 9

Fonte: elaborados pelo autor, com dados da pesquisa, 2015.

Embora inúmeras tentativas para aumentar a amostra, os resultados obtidos não

ultrapassaram os 44% de retorno do total de convites enviados e os 36% de amostra válida.

Acredita-se haver a dificuldade de agenda dos profissionais em detrimento da necessidade de

acompanhamento e busca por novos clientes, diante do cenário com restrição ao crédito, alto

índice de inadimplência, segundo pesquisas da Serasa e a necessidade de acompanhamento dos

clientes da carteira.

Todos os respondentes participam ativamente no processo de concessão de crédito a

partir do comitê de crédito que é composto por acionistas, geralmente 2, área comercial, área

de crédito e o gerente comercial responsável pela empresa, também conhecida como “conta”,

que pleiteia a aprovação do crédito para operar. Segundo os respondentes, esse modelo é

comum a todos que responderam à pesquisa, tendo o dia de reunião entre as quintas-feiras e as

sextas-feiras de cada semana na grande maioria e, às segunda-feira, para poucas empresas. O

processo de expediente para comitê, como é denominado pela maioria dos respondentes, é a

preparação das informações dos clientes que serão levados ao comitê. Assim sendo, inicia-se

no dia anterior à reunião de comitê, tendo o dia de comitê reservado para a análise e tomada de

decisões.

O resumo do perfil dos respondentes, tamanho da empresa, representado pelo ativo total

e a localização está demonstrado na tabela 14.

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85

Tabela 14: Perfil dos respondentes

Indivíduo Sexo Idade Ensino Pós

graduado

Tempo

Empresa

Tempo

Mercado Cargo Ocupado

Comitê de

crédito

Ativo Total

(milhões) Local

R1 M 36 Superior Sim 10 10 Gerente Geral

Plataforma Votante R$ 750 Capital

R2 M 60 Superior Sim 10 40 Superintendente

de Plataforma Votante R$ 700 Capital

R3 M 43 Superior Sim 5 20 Superintendente

de Plataforma Votante R$ 1.100 Capital

R4 M 63 Superior Sim 2 35 Diretor Crédito Votante R$ 140 Interior

R5 M 58 Superior Sim Fundador 30 Diretor Presidente Votante R$ 140 Capital

R6 M 40 Superior Sim 5 26 Gerente Crédito Votante R$ 450 Interior

R7 M 52 Superior Sim 0,3 30 Gerente

Plataforma Votante R$ 750 Capital

R8 M 32 Superior Sim 5 15 Diretor Crédito Votante R$ 350 Capital

R9 M 40 Superior Não 3 20 Gerente Crédito Votante R$ 110 Capital

Total do ativo das empresas: R$ 4.490

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados da pesquisa, 2015.

Observa-se que a informação do ativo foi obtida durante a entrevista por não ser possível

confirmar as informações publicamente. Em pesquisa realizada na CVM, as informações não

retratavam os valores informados pelos respondentes, portanto, adotou-se a informação

coletada durante a entrevista para determinar o tamanho do ativo total para fins deste trabalho.

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Para pesquisa qualitativa, os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais

e semiestruturadas, com membros votantes no comitê de crédito, também conhecida como

assistemática ou livre, conforme explica Lakatos e Marconi (2011). Optou-se por entrevistas

semiestruturadas para possibilitar o alinhamento da pesquisa entre os participantes, obtendo

maior profundidade nas informações coletadas.

Após o contato inicial com a empresa a ser pesquisada, para identificar se adotava ou

não o comitê de crédito, buscou-se estabelecer contato com o diretor da área de crédito ou

pessoa de influência na organização e atuante no comitê de crédito como votante. A alternativa

ao diretor de crédito se deu em razão da dificuldade de agenda dos profissionais de crédito face

à responsabilidade inerente ao cargo e à função.

Para confirmar a entrevista, foi enviado e-mail aos respondentes, contendo um modelo

de carta-convite, explicando o teor da pesquisa, os meios para que esta pudesse ser realizada,

seja presencial, por Skype ou por telefone, deixando à disponibilidade e ou à comodidade das

pessoas, observando a aplicação e o sigilo do material coletado. Em alguns casos, no contato

inicial, foi possível obter a entrevista sem que houvesse a necessidade de envio de e-mail.

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86

O roteiro utilizado nas entrevistas contém 8 perguntas do tipo aberta aplicadas

sequencialmente a todos os respondentes, na mesma ordem, ou seja, adotou-se um padrão para

a realização da entrevista, possibilitando a homogeneidade da coleta dos dados.

Segundo Bardin (2007) e Silverman (2001), a homogeneidade das informações

possibilita melhores resultados bem com a padronização no processo de análise.

As perguntas elaboradas seguiram, de acordo com o objetivo geral que motivou este

trabalho e os objetivos específicos, de forma a compreender os possíveis determinantes na

concessão do crédito. O funcionamento do comitê, levantamento e preparação das informações

que antecedem a reunião não foram abordados por entender-se que cada empresa adota critérios

específicos para este procedimento.

Perera (1998) explica que as informações colecionadas contribuem para o

esclarecimento e o alinhamento da decisão, acerca do crédito, com os interesses da empresa,

tendo as reuniões como veículo para exposição dos interesses, tendo como o pano de fundo as

informações já compiladas em relatórios, antecipando os pontos de vista e a conveniência

desejada.

Optou-se por entrevistar os respondentes, não se valendo do envio de questionário, o

que dificultou o processo de coleta de dados, face à conciliação da agenda de compromissos

dos entrevistados. O roteiro da entrevista foi desenvolvido no formato de perguntas abertas e o

que se espera obter de conhecimento pelas respostas está apresentado abaixo, na mesma ordem

em que foi conduzida aos respondentes.

Questão nº 1: Há indicação do factoring e ou FIDC na orientação à empresa-cliente

quanto à decisão de opção por processo de recuperação judicial ou acordo informal?

Esperava-se obter dados para compreender se há influência da empresa fornecedora de

crédito perante a empresa-cliente no momento da concessão e se tal influência é determinante

em algum momento ou mesmo na decisão da empresa-cliente em fazer acordo fora dos tribunais

com os fornecedores, tendo o comprador dos direitos creditórios como garantidor do recurso

para tal feito.

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87

Questão nº 2: Em que momento é identificada a situação econômico financeira da

empresa-cliente?

Objetivou-se conhecer os meios utilizados para levantar as informações financeiras das

empresas em crise, diante do pressuposto da assimetria da informação e da necessidade do

crédito.

Questão nº 3: Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o

factoring e/ou FIDC analisa a possibilidade de concessão de crédito? Se sim, quais os meios?

Pressupõe-se que a fase inicial do processo de recuperação da empresa em crise, seja na

esfera judicial ou extrajudicial, é o momento delicado para o processo de crédito, em que a

empresa em crise, possivelmente, está fragilizada e, portanto, conhecer o meio utilizado para

viabilizar ou não a concessão de recursos possibilitou conhecer a prática de atuação do mercado.

Questão nº 4: Qual a importância do histórico da empresa-cliente no processo de

concessão de crédito?

Buscou-se compreender se o comportamento da empresa-cliente ou cedente dos direitos

creditórios, ao longo de um período, geralmente 3 últimos exercícios fiscais, influencia a

decisão de crédito.

Questão nº 5: Considerando o Trust um serviço do factoring, aplica-se ao FIDC?

As empresas, em sua grande maioria, originárias do factoring, podem se valer da

prestação de serviços como veículo de aquisição de direitos créditos com melhores taxas ou

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88

este mecanismo não é possível de ser utilizado devido a algum tipo de restrição. Buscou-se

conhecer a prática das empresas pesquisadas.

Questão nº 6: Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para

empresas-clientes em dificuldade?

A partir da prática do mercado, esta questão foi desenvolvida com o objetivo de elucidar

eventual interferência, participação ou influência de um terceiro como possível garantidor ou

facilitador do crédito cedido às empresas em crise.

Questão nº 7: Quais as informações utilizadas no processo de análise de crédito?

Pretende-se que o resultado apresente alguma característica peculiar para a obtenção de

informações em empresas em crise que permita decidir ou direcionar a concessão do crédito.

Esta questão foi aplicada, pensando em uma possível confirmação da questão nº 2 e parte da

questão nº 3.

Questão nº 8: Na sua percepção, quantas empresas em dificuldade financeira ou em

processo de RJ revertem a situação?

Por se tratar de empresas em crise financeira, com a possível dependência de capital de

terceiros para fomentar as operações, esta questão foi aplicada para analisar a sensibilidade do

comitê de crédito quanto às empresas em crise da própria carteira do respondente ou de

experiências em outras empresas ou instituições financeiras.

Foram realizadas entrevistas com 9 indivíduos, que serão chamados de respondentes e

codificados de R1 a R9 para preservar o sigilo, que representam as respectivas empresas de

Factoring e FIDC, com participação ativa no comitê de crédito para concessão de crédito a

clientes em geral. As entrevistas tiveram a duração média de 23 minutos sendo que, para a

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coleta dos dados, foi utilizado gravador, exceto em alguns casos, para registro dos dados

coletados, possibilitando a transcrição posteriormente para a análise de acordo com a tabela 15.

Tabela 15: Entrevistas realizadas – data, duração, meio, local, tempo médio

Respondente Data Duração Entrevista Meio Local Tempo total Gravada

R1 10.04.2015 28 Presencial No respondente 1h00 Não

R2 14.04.2015 25 Presencial No respondente 1h15min. Não

R3 24.04.2015 15 Presencial Onde trabalho 1h10min. Sim

R4 09.05.2015 15 Presencial Onde trabalho 1h00min. Não

R5 12.05.2015 21 Fone Onde trabalho 30min. Sim

R6 14.05.2015 12 Presencial Onde trabalho 1h30min. Sim

R7 02.06.2015 31 Fone Onde trabalho 40 min. Sim

R8 03.06.2015 26 Fone Onde trabalho 30min. Sim

R9 05.06.2015 34 Fone Onde trabalho 40min. Sim

Fonte: elaborado pelo autor, a partir dos dados da pesquisa, 2015.

Flick (2007) observa que o uso de equipamento de gravação permite que a

documentação permaneça independente das perspectivas do pesquisador, obtendo um registro

natural. Entretanto, anotações devem ser feitas imediatamente após a entrevista, com o mesmo

rigor das gravações, possibilitando a distinção entre o que foi observado e a transcrição. O

referido autor observa, ainda, que o processo de transcrição não necessita do rigor na exatidão

que exceda a questão de pesquisa.

Das 9 entrevistas realizadas, apenas 3 não foram autorizadas para gravar, pois, os

indivíduos, com cargos de alto escalão, superintendentes e diretores com subordinação direta

ao acionista das empresas não se sentiram confortáveis com o registro das informações, mesmo

diante da confidencialidade e sigilo da pesquisa informados no início da conversa.

Nestes casos, as entrevistas foram realizadas com anotações durante 15 minutos,

aproximadamente e, ao término, reservaram-se cerca de 10 minutos para que fosse possível

concluir todas as anotações obtidas na entrevista. Os indivíduos foram selecionados,

respeitando o critério de participação ativa no comitê de crédito, sem reservas quanto ao tempo

de trabalho na empresa, idade, sexo, e experiência de mercado e na função atual, bem como

escolaridade.

Segundo Gil (2002), a forma mais confiável de reproduzir as respostas é fazer o registro

durante a entrevista, pelas anotações, ou logo após a conclusão da entrevista.

De acordo com Richardson (2008), entrevista é uma técnica que permite a aproximação

entre pessoas de forma que a informação transmitida seja captada em seus detalhes, não se

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90

limitando às percepções do pesquisador. A entrevista semiestruturada com perguntas abertas

foi adotada para possibilitar maior flexibilidade durante a coleta dos dados.

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo traz o procedimento que foi adotado para o tratamento dos dados coletados

nas entrevistas, adotando-se o método qualitativo.

Os resultados são apresentados e analisados após o capítulo do tratamento dos dados a

seguir.

4.4.1 Tratamento dos dados

Para que fosse possível analisar os dados coletados, dados qualitativos, após a

transcrição das entrevistas, no formulário do Apêndice B, desenvolvido especificamente para

reunir as informações dos respondentes e a coleta dos dados com as observações, optou-se pela

análise de conteúdo.

De acordo com Bardin (2007), Richardson (2008) e Strauss (2008), para que a análise

de conteúdo seja possível, é necessário organizar o material coletado, analisar os elementos e

as regras que os determinam tornando eficaz, rigorosa e precisa a análise dos resultados,

aprofundando e extraindo os pontos mais importantes. Portanto, os 3 passos importantes para o

tratamento dos dados são: organizar o material coletado, explorar e tratar as informações e

interpretar os resultados, baseando-se na teoria e servindo de macro explicação para as

descobertas.

Portanto, após os dados terem sidos transcritos na íntegra nos respectivos formulários

com as observações durante as entrevistas, foram codificados com a letra “R”, seguida de

número sequencial, R1, R2, R3, R4, R5, R6, R7, R8 e R9, classificados e categorizados, numa

planilha eletrônica. Optou-se por não utilizar o software Nvivo®, em razão do tamanho da

amostra.

O primeiro passo, a organização, deu-se com a transcrição das entrevistas nos

formulários específicos, identificando os respondentes e as empresas, mantendo as

informações, de acordo com a gravação do áudio e com as anotações para as entrevistas que

não foram gravadas. A transcrição foi feita sem que houvesse alterações ou correções,

preservando a originalidade das informações. O formulário pode ser observado no apêndice.

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91

O segundo passo, a exploração e o tratamento das informações, foi realizado de acordo

com planilha eletrônica, agrupando cuidadosamente as informações dos respondentes para cada

questão da entrevista, ou seja, os principais trechos ou de maior relevância, foram agrupados

um ao lado do outro, em linha, permitindo a compreensão e a comparação das informações

coletadas.

O terceiro passo e o último passo, a interpretação, extraíram-se das análises das

informações as categorias dos respondentes para cada questão, possibilitando compreender com

maior exatidão o resultado do roteiro das entrevistas.

4.4.2 Análise dos resultados

A organização e exploração das informações obtidas nas entrevistas e posterior análise

de conteúdo possibilitaram a compreensão da forma de pensar, de decidir e perceber o risco e

a viabilidade ou não de determinado negócio, perante o comitê de crédito representado pelo

respondente das empresas entrevistadas.

Das e Teng (2001) explicam que o risco muitas vezes é conceituado como variações nos

resultados, cuja importância interfere na tomada de decisão, sendo mais associado a perdas

potenciais do que associado a ganhos.

O conhecimento acumulado em virtude da vivência e experiência dos comitês, pela

constante troca de informações entre bancos, factoring, FIDC, securitizadoras, consultas ao

Serasa, consultas ao mercado, possibilita moldar o perfil do cliente tomador de crédito.

Durante as entrevistas, identificou-se que a maioria dos entrevistados vieram de

instituições financeiras de grande e médio porte, cuja experiência, em média, excede 15 anos

de trabalho em crédito. Apenas o respondente R1 identificou-se como vindo do mercado não-

financeiro, tendo a carreira construída dentro do FIDC, onde trabalhava há 10 anos.

Segundo o respondente codificado como R6, “as factoring e FIDC estão passando por

um processo de profissionalização por estarem recebendo profissionais desses bancos que estão

fechando”, ou seja, o processo de aprendizado e aprimoramento do mercado de FIDC, pela

constituição e adoção de comitê de crédito, é um passo importante para que, segundo o

respondente R6, “estes profissionais tragam para o factoring e FIDC a cultura e o rigor de um

banco que é regulado e controlado, acima de tudo pelo BCB, mas que, embora não se aplique

ao factoring e FIDC, os processos contribuem para a profissionalização do mercado”.

Neste ponto, pode-se inferir que a “profissionalização do mercado” se assemelha à

padronização dos métodos de trabalho utilizados pelos comitês de crédito por adotar

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92

procedimentos semelhantes aos bancos, porém adaptados ao mercado e ao perfil de cada

negócio.

Os comitês de crédito no exercício de suas funções passam por pressões contraditórias

diante da necessidade do cumprimento de metas de crescimento, aumento do ativo pela

aquisição de recebíveis, ou da cessão dos direitos creditórios, seja de novos clientes, seja por

aumento de risco no cliente da carteira, e da necessidade de mitigar a possibilidade de perda

dos ativos com avaliações cada vez mais criteriosas e amparadas por informações abundantes

do mercado.

Por se tratar de empresas em crise financeira, a predisposição ao risco torna-se menor

em dados momentos, segundo R1, R2, R3, R9 há a necessidade de emprestar o dinheiro, ou de

acordo com a expressão utilizada neste mercado vender o dinheiro, mas, consideram que

determinados momentos é preferível não participar em um cliente, a ter que assumir perdas

irrecuperáveis, mesmo que implique no não-cumprimento da meta. Atuar neste mercado é

fundamental para que possa remunerar o capital investido, manter o crescimento e a

participação de mercado, explica R2.

Verifica-se a adoção dos 5Cs do crédito, embora o acesso ao colateral fique prejudicado

para empresas em dificuldade financeira dada as limitações impostas pela própria situação em

que se encontra e que, muitas vezes, não dispõe de bens para ofertar ou lastrear determinada

operação de crédito com garantia real.

De acordo com Silva (2006), garantias reais são aquelas que vinculam ao pagamento de

determinada dívida ativos tangíveis como imóvel, veículo, máquina, equipamento, por

exemplo, criando um comprometimento legal entre o bem e o crédito concedido, viabilizando

a recuperação do recurso cedido pela alienação do ativo garantido, enquanto as garantias

pessoais vinculam o patrimônio do garantidor.

Ainda, segundo o referido autor, o meio mais utilizado é a alienação fiduciária, que

consiste na vinculação de bens móveis, tais como máquinas, veículos, equipamentos, dentre

outros, para lastrear o pagamento da dívida, transferindo ao credor o domínio do bem, embora

a posse permaneça com o devedor.

O caráter aparece como um ponto de destaque, sendo percebido na figura do principal

acionista e na forma como a empresa cliente conduz suas ações no dia a dia, forjando a cultura

da empresa. Portanto, pode ser considerado um direcionador para um parecer mais favorável

ou não, dependendo do histórico do comportamento e da forma de agir do empresário que, por

sua vez, é absorvido por membros da própria empresa.

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93

Nota-se que o perfil da empresa cliente é desenvolvido a partir de experiências passadas

e acumuladas, das informações apuradas do histórico da empresa cliente pelos membros do

comitê de crédito, construindo, portanto, as dimensões da competência e a capacidade

cognitiva, de acordo com McAllistet (1995) e Das e Teng (2001).

Definido pela percepção dos agentes presentes no comitê, o crédito é formado a partir

das informações financeiras, não-financeiras e do histórico das operações realizadas pelo

tomador do recurso que, se bem-sucedidas, constituem em fatores positivos durante a análise e

o processo de concessão do crédito, formatando uma possibilidade de conhecer e estabelecer

certa confiança na empresa.

Ao que parece, a confiança é construída a partir do histórico positivo das operações

realizadas anteriormente. Enquanto o risco percebido é diminuído, mas não reduz o risco atual,

inerente do relacionamento entre as partes, porque a confiança é a expectativa de perda

reduzida, conforme explica Das e Teng (2001).

Diante do pressuposto da fragilidade das informações dos demonstrativos contábeis,

fiscais e financeiros fornecidos pela empresa-cliente que, por vezes, não retratam a realidade

do cenário atual, torna-se imprescindível a constatação, por vias secundárias, das informações

prestadas, conforme exposto por todos os respondentes desta pesquisa.

Alguns FIDCs consideram a predisposição ao risco como forma de ajudar a empresa a

se recuperar da crise, manifestando a preocupação do impacto social que uma possível

liquidação ou falência possa causar em determinada região, face à geração de emprego da

empresa, conforme foi observado pelo respondente R3. Entretanto, não ignoram o cenário

econômico-financeiro em que a empresa se encontra, ou seja, limitam-se ao parecer do comitê,

demonstrando apenas a inclinação à concessão do crédito.

A análise dos resultados está estruturada da seguinte maneira: (i) o tema que está

representado por 8 questões do roteiro da entrevista, e (ii) as informações tabuladas em linha

após terem sido categorizadas, demonstrando a percepção dos respondentes na concessão do

crédito para as empresas em crises, conforme demonstrado abaixo:

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Quando perguntado se havia indicação do Factoring/FIDC na orientação à empresa-

cliente quanto à decisão de opção por processo de Recuperação Judicial ou Acordo Informal, a

maioria dos respondentes confirmaram exercer influência na tomada de decisão do empresário

ou pessoa que o represente quanto à opção por uma recuperação judicial ou “recuperação

profissional”, também conhecida no mercado como “recuperação branca” que é a renegociação

da dívida com os credores sem a adoção do poder judiciário, neste caso, representado pela lei

11.101/05, eliminando as despesas com o administrador judicial, o advogado, o consultor, os

peritos e outros quantos forem necessários.

A necessidade de recurso para manter a empresa funcionando é o ponto alto quando se

aborda, com o empresário, o meio que será adotado no processo de recuperação da empresa.

De acordo com o quadro 10.

Conclusão parcial: a viabilidade da empresa se mostra vital para o aconselhamento do

meio de recuperação e ser adotado permitindo que a decisão do empresário sofra influência do

caminho a ser adotado. Embora haja influência, os resultados demonstraram que não são todos

os casos em que é possível tal abordagem no início do relacionamento com o cliente, mas que

tal possibilidade vai tornando-se mais evidente à medida que as dificuldades do empresário vão

aumentando e a necessidade de capital também.

Quadro 10: Questão nº 1

Qu

estã

o n

º 1

R1 R2 R3 R4 R5 R6

O factoring

exerce

influência na

escolha da

esfera judicial

desde que

constatado

que a empresa

consiga

manter o

plano.

A influência na

decisão de RJ

ou extrajudicial

sempre

acontece,

[...]recomenda

mos a RJ

branca[...]mes-

mo assim a

empresa entra

com a

recuperação.

Um FIDC que

entende o

mercado de

recuperação

como uma

forma de

recuperar a

empresa, então

a gente

participa mesmo do

processo

Sim,

sugerimos a

recuperação

[...] nós

fazemos o

aconselha-

mento quanto

ao meio de

recuperação a

ser adotado

pelo cliente ou

potencial

cliente.

Geralmente

indica o

consultor

quando você já

tem um

problema de

credito na

empresa

Então, nós não

orientamos,

assim, a

empresa a pedir

a RJ...

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

Questão 1: Há indicação do Factoring/FIDC na orientação à empresa-cliente quanto

à decisão de opção por processo de Recuperação Judicial ou Acordo Informal?

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A situação econômico-financeira da empresa cliente é percebida, segundo análise dos

dados, na abordagem inicial com o cliente. Embora haja certa resistência do empresário em

dizer - de forma clara - qual o tamanho do problema ou mesmo que a empresa que fundou ou

herdou de gerações passadas não é mais viável.

Os respondentes têm a mesma percepção de que o empresário demora a reconhecer o

problema, muitas vezes por não admitir a necessidade de ajuda ou mesmo por receio da

exposição ao mercado, familiares e amigos. E, neste caso, o cenário demora a ser conhecido,

mesmo diante do esforço na coleta de informações com o cliente, com o mercado (clientes e

fornecedores), da Serasa e dos bancos. De acordo com o quadro 11.

Conclusão parcial: na visão do comitê de crédito, a capacidade de geração de caixa é

primordial para a tomada de decisão. Por meio do endividamento conhecer-se-á o

comprometimento da renda e o fluxo de caixa, portanto, conhecer a capacidade de pagamento

real da empresa-cliente, mesmo diante da aquisição de crédito de terceiro, por cessão de direito

creditório, é importante. O balanço patrimonial e o demonstrativo de resultado do exercício,

embora considerado por todos os respondentes importantes, apresentam-se pouco eficientes até

o momento.

Entretanto, permite, ao comitê de crédito, análises quanto ao endividamento, ao

comprometimento da receita, se as informações obtidas no mercado e na empresa são

consistentes ou se houver indícios de informações de origem duvidosa no balanço e demais

demonstrativos financeiros.

O cruzamento de todas as informações contábeis, financeiras e gerenciais, demonstra ao

crédito o perfil do acionista ou do principal executivo da empresa de forma que o histórico

possa ser construído, comparado e, então, definir o caráter da empresa.

Considerado por todos os respondentes como ponto alto no processo de concessão de

crédito, o caráter tem relevância nas decisões colegiadas do comitê.

Questão 2: Em que momento é identificada a situação econômico-financeira da

empresa cliente?

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Quadro 11: Questão nº 2

Qu

estã

o n

º 2

R1 R2 R3 R4 R8

Identifica quando a

empresa

chega,

estando em RJ

ou em vias de

entrar em

RJ[...]Neste

momento, é

feito análise

Identificar o

ponto exato de

estrangulamen

to do caixa e

qual o tamanho

do problema.

Qual é a

realidade do

tamanho do

buraco e o

porquê ocorreu?

A gente tem

alguns sinais

de que a

empresa, é, de

que o

empresário

precisa de

ajuda,

[...]porque a

recuperação ela

é, é visto, ainda

tem muito, é,

preconceito

[...]o processo

de recuperação

é bem recente,

e... enfim

(pausa), a gente

analisa com

bons olhos.

Situação

cadastral,

Serasa

[...]levanta as

informações

gerenciais e

fluxo de caixa,

sem o Balanço

e DRE, [...]há

ou não a

possibilidade de

continuidade

do cliente são

fundamentais

para formar o

perfil do risco

Quadro

restritivo, é,

queda no

faturamento,

prejuízos

constantes, nos

3 últimos

períodos, que

mais, é,

alavancagem

financeira, e

ciclo de caixa

descasado, pré-

faturamento é

ponto chave,

sim.

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o Factoring/FIDC

analisa a possibilidade de concessão de crédito pelo histórico da empresa, da capacidade de

geração de caixa, da imagem com os clientes, da pontualidade nas entregas, da figura do dono

no comando da empresa, do plano de recuperação aprovado ou aguardando a aprovação do juiz

e na qualidade dos resultados apresentados e das projeções informadas no plano de RJ.

Ainda que os respondentes considerem a qualidade dos recursos não-financeiros, tais

como a situação do chão de fábrica percebida pela qualidade e pela tecnologia empregada no

processo produtivo, por exemplo, se a empresa não faz manutenção apresentando-se obsoleta,

não tem capacidade produtiva instalada, não tem mão de obra adequada à necessidade, o comitê

tende a recusar o crédito por entender que não haverá a possibilidade da continuidade do

negócio.

Outra consideração apresentada por todos os respondentes é de que quando se tratar de

empresas em processo de RJ, deve-se analisar: (i) se a empresa já é cliente e pretende ingressar

com o plano de RJ, (ii) se a empresa é um cliente novo e está em RJ e em que fase do processo,

(iii) se a empresa se apresentar com a necessidade de um parceiro fomentador para ingressar na

RJ, ainda que não seja cliente.

Questão 3: Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o

Factoring/FIDC analisa a possibilidade de concessão de crédito? Se sim, quais os meios?

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A primeira análise, (i) se a empresa já é cliente e pretende ingressar com o plano de RJ,

o fomentador de crédito analisará a possibilidade de ser o parceiro desta empresa cliente,

fomentando as operações de crédito a partir do momento em que a empresa iniciar a preparação

para a petição inicial, ou seja, se a empresa mostrar-se pela análise de crédito, operacional,

produzindo e embarcando os produtos, há grande possibilidade do FIDC ser parceiro durante

este processo, desde que não entre na RJ com os recursos alocados na empresa em crise.

A segunda análise, (ii) se a empresa é um cliente novo e está em RJ e em que fase do

processo; se a empresa estiver em fase de aprovação do plano de recuperação, ou seja, entre o

ingresso com a petição inicial e a homologação do plano pelo juiz, o crédito fica restrito, o que

significa que a maioria dos respondentes informam que não participam da concessão de crédito

para estas empresas, a menos que tenha sido previamente acordado com a empresa em crise e

que esta tenha informado o FIDC de que optaria pela RJ e necessitaria do parceiro para fomentar

o crédito. Contudo, se a empresa estiver em fase do plano aprovado, ou seja, homologado pelo

juiz, o crédito analisará o plano de recuperação, a qualidade das duplicatas dos sacados, a

capacidade produtiva e o caráter do acionista, dentre outras análises. Estando a empresa em

condições de ser aprovada pelo crédito, existe a possibilidade de conceder crédito para a

empresa. Em alguns casos, identificou-se que os fomentadores operam com as empresas durante

o período de carência do plano de recuperação judicial e revendo ou encerrando o crédito, após

o término da carência quando identificado, por certos respondentes, que as empresas entraram

em RJ e não conseguirão cumprir o plano.

A terceira análise, (iii) se a empresa se apresentar com a necessidade de um parceiro

fomentador para ingressar na RJ ainda que não seja cliente; neste caso, o fomentador de crédito

assume o papel de parceiro, como observado por R8 “na parceria somos o pilar, a pilastra,

fomentando com dinheiro” o processo de recuperação da empresa. De acordo com o quadro 12.

Conclusão parcial: durante o processo de aprovação do plano, o crédito avalia apenas

operações de compra de direitos creditórios, não sendo possível a liberação de linha sem

garantia, ou garantia por avalista ou aval que, no mercado, é conhecido como operação clean.

Após a aprovação do plano, pela homologação do juiz, o crédito reavalia a condição do cliente.

Embora se tenha percebido que entre todos os respondentes é comum a prática de fomento até

o início do pagamento do plano, em que é observado o aumento do risco percebido no cliente.

A obsolescência fabril e tecnológica identificada pelos recursos não-financeiros e o mau

histórico da empresa-cliente seriam pontos desfavoráveis para a análise do comitê de crédito.

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98

Também observa-se a prática da aquisição de créditos das empresas-clientes durante o

processo de homologação do plano de recuperação judicial, mediante a qualidade dos títulos do

sacado, o mercado em que o sacado e a empresa cedente atuam e o formato da operação a ser

aprovada.

Evidencia-se - entre os respondentes - a preferência por operar, após a homologação da

RJ até o término da carência, em que a percepção do risco percebido é novamente modificado,

na visão do crédito, devido ao aumento do endividamento pelo pagamento da dívida

renegociada.

A prática de adoção de parceira também foi constatada entre todos os respondentes,

exceto R9, que busca operar com clientes em fase de plano homologado apenas.

Quadro 12: Questão nº 3

Qu

estã

o n

º 3

R1 R2 R3 R4 R9

[...]de acordo

com o

histórico da

empresa,

[...]Há a

indicação sim da melhor

maneira que

possa mitigar

os riscos para

a factoring,

seja pela RJ

ou acordo

informal

Se a empresa

gerar caixa para saldar a

dívida a

possibilidade de

assumir o risco

é grande.

[...]vai querer

saber se você

está

entregando,

como é que

está entregando

como é que

você está de

funding.

[...]mas se o

cliente se

apresentar com

o dono da

empresa, é

possível

analisar e

conceder o

crédito. [...] A

garantia real é

um ponto forte

para a abertura

do crédito.

Ideal termos o

plano, ou no

mínimo quando

tá dentro do 60

dias de

elaboração do

mesmo, e

quanto está na

RJ, e como será

o cenário de

pedido do

plano

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

A importância do histórico da empresa-cliente no processo de concessão de crédito se

apresenta em destaque entre os respondentes. Demonstrado no quadro 13.

Os resultados apontam para o caráter da empresa que é reproduzido por seu histórico e

comportamento no mercado. A condição em que a empresa se encontra que, muitas vezes, não

se conhece ou não se sabe qual a situação real que a levou à crise, ou mesmo pelo empresário

não reconhecer que existe um problema, segundo os respondentes, muito observado em

Questão 4: Qual a importância do histórico da empresa cliente no processo de

concessão de crédito?

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99

empresas familiares de médio porte com ou sem processo sucessório; e, em empresas, cujo

processo sucessório, na visão dos respondentes, não foi bem elaborado.

Queda nas vendas, aumento da concorrência, má gestão, controle financeiro

inadequado, elevada estrutura de custos, são possíveis causas do declínio, segundo Slatter e

Lovett (2009).

O feeling, palavra no idioma inglês, aparece entre a maioria dos respondentes na figura

específica de um indivíduo, diretor ou acionista votante no comitê de crédito, que visita todos

os clientes e tem a capacidade de compreender o cenário em que a empresa-cliente se encontra

pela percepção ou experiências anteriores.

A capacidade de sentir determinada situação, a percepção, a sensibilidade, o sentimento

intuitivo, o pressentimento, o presságio, a suspeita, definem o feeling, segundo a literatura.

A construção da confiança na empresa-cliente começa a partir do comportamento no

mercado, ou seja, se o comitê de crédito identificar que o potencial cliente tem situações

duvidosas ou que a capacidade de gestão da empresa é passível de questionamentos que

excedam os limites da normalidade, tais como:

a) se a empresa cliente emitir título de origem duvidosa, conhecido no

mercado como título frio, que significa a emissão de duplicata

mercantil, sem a confirmação da entrega da mercadoria no destino;

b) se a empresa cliente fizer pré-faturamento, obtido pela emissão da

duplicata mercantil quando do recebimento do pedido de compra de

mercadoria de seu cliente (sacado) e ofertado ao FIDC, como cessão de

direito creditório, sem que haja a produção do produto vendido;

c) se o posicionamento, know how, do acionista da empresa cliente, no que

diz respeito a conhecer o mercado em que atua, seja por pioneirismo,

seja por sucessões familiares, não for percebido.

Conclusão parcial: segundo os respondentes, haverá o declínio da proposta de crédito,

antes mesmo do envio da empresa para apreciação do comitê. Ao que parece, é crucial na

avaliação do processo de concessão de crédito, a verificação da regularidade das operações da

empresa e do caráter do empresário e seus executivos.

Constata-se que o feeling tem relevância na percepção de que a empresa-cliente terá

condições de honrar o compromisso assumido na cessão do crédito.

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100

Formado pelo acúmulo de experiências ao longo do tempo e pela vivência no mercado,

o feeling se apresenta como meio importante para R1, R2, R3, R6 e R8, de mitigar risco, de

conhecer o cliente e definir o perfil da empresa tomadora do recurso.

Segundo McAllister (1995), a confiança interpessoal é a medida em que uma pessoa

está confiante e disposta a agir com base, nas palavras, nas ações e nas decisões de outro. Às

vezes, a confiança de um indivíduo em outros está centrada mais sobre a forma como eles

tomam decisões, abrangendo não apenas as crenças das pessoas sobre os outros, mas também

a sua vontade de usar esse conhecimento como base para a ação.

Embora essa prática, de feeling, não tenha sido percebida no respondente R9, cujo tempo

da empresa no mercado é de apenas 3 anos, ainda que supostamente ainda não tenha se

percebida a necessidade ou aplicação deste recurso.

Para auxiliar na elaboração do perfil dos sócios das empresas-clientes, segundo o

respondente R9, o uso das redes sociais tem contribuído para se conhecer os hábitos e os

costumes dos sócios e executivos da empresa-cliente, possibilitando a aproximação da realidade

em que a empresa se encontra, ou mesmo observando a percepção dos executivos quanto à

realidade da empresa.

Quadro 13: Questão nº 4

Qu

estã

o n

º 4

R1 R2 R4 R8 R9

Quando o

histórico do

cliente é ruim

o cenário

muda, por

exemplo,

duplicata fria,

alto

endividamen-

to,

investimentos

errados,

garantias

tomadas,

empresa sem

controle, o

crédito é

negado e a

factoring

sugere a RJ para a

empresa.

Toda operação

nova é

prechecada, se

a informação de

30% do sacado

for primeira

compra do

cliente devedor

agente cai fora,

não liberamos o

crédito e

encerramos o

contrato.

O histórico do

próprio sócio,

a origem, como

entende o

mercado dele,

o middle

market tem o

patrimônio

como peça-

chave para o

negócio.

– histórico:

extremamente

importante o

caráter, são os

5 c dos credito,

levo muito em

consideração, o

principal C do

credito,

O histórico

interno é muito

importante uns

80%.

[...]temos um

sistema muito

bem elaborado

onde utilizamos

e verificamos o

que o cara

liquidou nesse

período, como

ele liquidou, se

ele tinha um

pedaço de linha

clean, se ele

liquidou em dia

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

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101

Constatou-se que o Trust, uma prestação de serviço do factoring na cogestão da

empresa-cliente, na realização de cobrança e aprovação de crédito, não se aplica à maioria dos

FIDCs, face aos dados obtidos da análise e às condições pelas quais são impostas às empresas-

clientes. Assumir a prerrogativa de que o caixa da empresa deve estar à disposição do FIDC

não demonstra a percepção da maioria dos respondentes, portanto, não se vincula a um possível

determinante para a concessão do crédito.

Segundo a maioria dos respondentes, embora utilizado no mercado, o Trust é viável

quando há a necessidade de recuperar um recurso financeiro com potencial risco de perda em

determinado cliente, mas, neste caso, a aplicação se dá exclusivamente pelo factoring, cuja

atividade social permite a adoção desta prática, demonstrado no quadro 14.

Conclusão parcial: nota-se, que o Trust não se aplica ao FIDC pela característica de

compra de recebíveis, que é a atividade principal dos fundos de investimentos, deixando apenas

a possibilidade de cogestão para o prestador de serviços.

Contudo, os FIDCs, em sua grande maioria, são oriundos dos factoring e a prática do

Trust possa ser confundida quando dentro da mesma unidade de negócio é oferecida, ao mesmo

cliente, a opção de operação pelo FIDC ou pelo factoring, de acordo com a situação do cliente.

Portanto, a cogestão e a análise de crédito não se aplicam ao fundo de investimentos,

mas evidencia-se que a prestação de serviços, realizada pela cobrança simples, está sendo

entendida como Trust em alguns casos.

Quadro 14: Questão nº 5

Qu

estã

o n

º 5

R1 R4 R9

Sempre com

decisão sobre

o caixa da

empresa

Utilizamos o

Trust como

ferramenta de

negócio diário,

cotidiano.

Sim, utilizamos

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

Questão 5: Considerando o Trust um serviço do factoring, aplica-se ao FIDC?

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102

O papel dos consultores no processo de concessão de crédito para empresas-clientes em

dificuldade, entre a maioria dos respondentes se apresenta como um meio de mitigar o risco de

perda.

As análises demonstraram que a atuação do consultor se dá em duas vertentes no

processo de concessão de crédito: a primeira vertente tendo a indicação do consultor pelo FIDC

e factoring, e a segunda tendo a indicação da empresa-cliente ao FIDC pelo consultor conforme

apresentado na figura 21.

Na primeira vertente, o fundo de investimentos em direitos creditórios indica o consultor para

a empresa-cliente, com o objetivo de diagnosticar a situação da empresa, possibilitando o

diagnóstico preciso e elaborando um plano de negócios que se converterá em plano de ação

empresarial, se houver a concordância do acionista. Em casos extremos em que o risco de perda

de recurso é iminente ao FIDC, a indicação do consultor é fundamental para a recuperação do

crédito já concedido. Esta prática foi percebida entre a maioria dos respondentes, 8 no total de

9, e de acordo com o respondente R6:

" [...]geralmente indica o consultor quando você já tem um problema de crédito na empresa,

você quer recuperar esse problema de crédito, você tem que botar mais dinheiro, pra colocar

mais dinheiro você precisa de uma segurança a mais, alguém gerindo o caixa, então, na prática

acontece dessa forma, [...]quando você já tem um problema de credito e você quer recuperar

esse credito, na recuperação se precisa aportar mais, se não, você não tira o crédito antigo e

nesse momento é que as vezes as pessoas, as empresas abrem espaço pra você colocar alguém

que credibilize o caixa aí você aporta. Essa é a regra, regra do mercado. ”

Por outra vertente, o consultor também é contratado pela empresa em crise financeira

por indicação ou não do FIDC e factoring, mas, segundo o respondente R6,

“[...] não deveria ser assim, eu (empresário) deveria contratar alguém pela competência que o

cara (consultor) tem pra modificar a situação da minha empresa, mas o empresário brasileiro,

o que que ele faz, ele contrata o consultor levando junto com o consultor a capacidade que

Questão 6: Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para

empresas-clientes em dificuldade?

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103

ele tem de trazer o crédito. Esse é um determinante, tá errado isso aí no mercado, em

função da capacidade do consultor em trazer o crédito”

Ou seja, com a finalidade de angariar recursos ou de facilitar o acesso ao crédito. Por

não dispor de elementos que permitam a captação de recursos, o empresário se utiliza de um

terceiro garantidor, mesmo que, para isso, lhe seja necessário delegar o controle financeiro ao

terceiro contratado pelo caixa da empresa.

O comitê de crédito, quando da possibilidade de atuar com o consultor, concede o

crédito ao consultor, tornando-o corresponsável por garantir a devolução do recurso ao FIDC.

Tal devolução é parte do processo de construção da confiança, mediante o histórico positivo,

do consultor com o fomentador do crédito por referência de trabalhos prestados e referências

positivas do mercado.

Para R9, o consultor não é de todo confiável, por exemplo, se houver mais de um FIDC

no mesmo cliente, isso é praxe do mercado, o consultor poderá privilegiar o fomentador que

lhe for mais próximo, concedendo as duplicatas em melhores condições ao fomentador próximo

do que ao outro com pouca proximidade. Demonstrado no quadro 15.

Figura 21: Papel do consultor: agente e mitigador de risco percebido

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

Broker Apresenta Empresa-

Cliente

Facilitador de

Crédito

Recuperar Crédito Diminuir a

Percepção do Risco

6- Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para

empresas-clientes em dificuldades?

Assimetria da

Informação

(diagnóstico)

REDUZ O RISCO PERCEBIDO

A G E N T E

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104

Conclusão parcial: ao que parece, o papel do consultor é determinante para estabelecer

a confiança entre o tomador do crédito e o financiador, mas também se apresenta como um

agente, cujo interesse está na permanência na empresa tomadora do recurso, mantendo a

reciprocidade nos interesses do financiador do crédito.

Eisenhardt (1989) expõe que o contratante, no caso, a empresa em crise e o contratado,

agente, têm atitudes diferentes quando expostos ao risco, sendo muito difícil do contratante

controlar o contratado. O agente está engajado no comportamento cooperativo, mas tem

diferentes objetivos e diferentes atitudes em relação ao risco.

Observado por R1, R2 e R3, muitas vezes, o consultor não deixa a empresa,

permanecendo no conselho ou com a consultoria por longo tempo, mesmo a empresa tendo se

recuperado, em alguns casos, ou mesmo ciente que a empresa não conseguirá reverter o

processo de RJ ou a situação de crise, quando não optar pelo benefício da lei.

Portanto, embora o consultor assume o papel de redutor do risco percebido pelo

fomentador de crédito, ele também se apresenta com interesses próprios, mas não somente no

processo de recuperação da empresa, mas como meio de viabilizar o crédito para empresa em

crise, meio de recuperar o crédito para o fomentador e obter benefícios.

É comum entre os respondentes a suspensão ou a diminuição do crédito quando da saída

do consultor da empresa, fomentada pela percepção do aumento ou perda do controle sobre o

risco percebido.

Quadro 15: Questão nº 6

Qu

estã

o n

º 6

R1 R2 R3 R4 R5 R8

[...]consultor

para

diagnóstico e

elaboração do

plano de ação [...]Os

consultores

(gestores de

projeto) são

veículos de

aquisição de

novos

clientes.

O consultor

traz negócios e

recebe

negócios, ou

chamamos o

consultor ou ele

se apresenta

com uma

empresa que

não

conhecemos

ainda. Neste

caso, o crédito

é do consultor, mas claro que

cobramos a

empresa.

É importante o

papel dos

consultores?

sim,

importantíssi-

mo, é (pausa),

se (pausa),

dependendo,

normalmente o

consultor

agrega

qualidade ao

material que

nosso comitê

credito vai tá

analisando,

O consultor, na

maioria dos

casos, é

indicação do

FIDC. [...], tem

que ser de

confiança, pois

o crédito é do

consultor, mas

é baseado na

empresa que

recebe a

consultoria. É

um misto, o

consultor tem o

crédito conosco

como forma de

viabilizar o

negócio, mas

tem que

devolver caso

contrário ele se

queima.

É credibilizar

que aquele

papel que está

sendo

adquirido pelos

fundos, aquele

papel tá

performado, é

isso que,

basicamente é

credibilizar o

papel.

Avaliamos o

consultor

sucesso,

sucesso

passado,

projetos que

você indicou e

realmente ele

teve, teve um

favorável,

favorável que

eu falo assim,

ele entrou e

arrumou a

empresa, é

reputação dele

de mercado,

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

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105

As informações utilizadas no processo de análise de crédito se apresentam

fundamentadas nos meios circulantes, no custo do material vendido (CMV), na imagem que a

empresa tem no mercado, no histórico, no segmento em que atua, no perfil da venda, na

qualidade das duplicatas que serão adquiridas por cessão de crédito. Foi observado que não há

uma regra única ou um modelo de análise padrão aplicado pelos respondentes. Mas todos

demonstraram que a utilização de meios circulantes é crucial na tomada de decisão, face à

assimetria da informação nos informes financeiros.

Ainda que não seja possível padronizar as informações dos meios circulantes, pois, cada

empresa cliente adota modelos específicos na elaboração do plano de contas ou das informações

gerenciais, conforme relatado por R9, R6 e R2.

Outra prática observada é a adoção de uma área, chamada pelo FIDC e factoring, de

“área de checagem”. Todos os respondentes confirmaram a adoção da prática como mecanismo

eficiente de controle da aquisição dos direitos creditórios, prevenindo possíveis perdas. O

funcionamento desta área está baseado na confirmação por ampla amostragem das duplicatas

adquiridas por cessão de crédito apresentado na figura 22.

Há a adoção de uma “pré-checagem”, quando for identificado pelo crédito ou pela área

de checagem uma possível fraude. Isto se dá em 2 momentos distintos: (i) o primeiro momento

quando o cliente é novo e o comitê de crédito aprova um limite de crédito que será liberado em

tranches, ou parcelas, como, por exemplo, limite de R$ 1.000.000,00 aprovado em 5 tranches

de R$ 200.000,00, em que a liberação da tranche subsequente à realizada fique condicionada à

confirmação da operação. Logo, se houver a confirmação de que a operação foi realizada de

acordo com as premissas conhecidas, outras operações poderão ser liberadas; (ii) o segundo

momento ocorre quando a área de checagem perceber uma possível fraude durante o processo

de confirmação, neste caso, reporta-se à área de crédito que revisa a concessão de crédito,

passando a liberar novas operações por tranches.

Toda operação confirmada, que na linguagem do mercado é performada, é reportada à

área de crédito que formará o histórico das operações de cada cliente, possibilitando estabelecer

níveis de confiança.

Questão 7: Quais as informações utilizadas no processo de análise de crédito?

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106

Quando houver indícios de problemas, no caso de emissão de duplicata fria, pré-

faturamento que é identificado pela área de checagem, as empresas iniciam o processo de

auditoria de expedição. Este processo consiste em diligência às empresas tomadoras de crédito

em que o aceite da duplicata fica condicionado à confirmação do auditor de expedição se a

mercadoria constante na nota fiscal estiver embarcada no caminhão e for entregue ao

destinatário mediante a confirmação do pedido de venda no destino e o monitoramento para

que a mercadoria não seja trocada de destinatário durante o percurso. Demonstrado no quadro

16.

Figura 22: Área de checagem

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

Início

Área de

Crédito

Área de

Checagem

Processo

pré-

checagem

Cliente

novo?

Operação

confirmada? Sim

Não

Operação

performada

Possível

fraude?

Não

Não

Sim

Fim

Auditoria de

expedição

Sim

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107

Conclusão parcial: estabelecer a transparência pelo fornecimento de informações é,

segundo os respondentes, o grande desafio dos comitês de crédito, tal qual a qualidade dos

sacados e a confirmação das operações realizadas com outras empresas que ao longo do

processo de crédito são observadas. Portanto, a qualidade das informações e o caráter da

empresa são determinantes na concessão de crédito e está de acordo com os resultados da

análise.

Quadro 16: Questão nº 7

Qu

estã

o n

º 7

R1 R2 R3 R4

São os meios

circulantes, prazo

médio, estoque,

contas a pagar e o

prazo médio,

empréstimos por

aval, dívidas com

bancos. Um dos

termômetros utilizados pelo

factoring para

acompanhar a RJ é

a alteração nos

meios circulantes,

pois, se abrir

"buraco" é sinal que

a operação da

empresa-cliente não

é viável. [...] As

alterações nos

circulante

motivadas por lucro,

aporte de capital,

prejuízo e retirada

de sócio, são

analisadas

constantemente,

não tem má

imagem na praça,

o factoring concede

o crédito.

Com base nos

meios circulantes,

referência de

mercado,

referência

bancária e

referência de

fornecedores. A

decisão é vou

operar e com

quanto vou correr o

risco? assumo o

risco de acordo

com os números

reais. Prazo médio,

meios circulantes,

ccl, endividamento,

estoque, tudo é

cruzado com o

CMV. Inadimplência,

investimento

errado, qualquer

informação é

valiosa para a

análise do cliente.

BP e DRE

pouco

relevante,

perfil do

recebível,

quanto mais

pulverizado

melhor, a

gente pode

operar

dependendo

da nossa

decisão de

crédito, [...],

basicamente

os recebíveis

os meios

circulantes e

o

endividamen-

to que é

estancado na

recuperação

e cada caso é

um caso

Todas as

informações

gerenciais são

importantes,

informações do

histórico da

empresa, da

história do

dono da

empresa e a

visão que ele

tem do

mercado e se o

mercado em

que a empresa

atua permitirá

que ela tenha

continuidade.

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

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108

Na percepção dos respondentes, as empresas em dificuldade financeira ou em processo

de RJ que revertem a situação são poucas, mas observou-se que os respondentes não conhecem

ao certo o índice de empresas com problemas, mesmo as atuantes neste mercado, não detêm a

informação.

Todos afirmaram aleatoriamente, por experiência, que poucas empresas têm condição

de se recuperar, mas pode-se observar que a expressão “poucas” flutua entre 10 casos, 20% até

70% da carteira, impossibilitando inferir algo que não seja o desconhecimento da informação,

seja por irrelevância no processo de análise de crédito, seja por dificuldade de obtenção da

informação. Demonstrado no quadro 17.

Conclusão parcial: poucos foram os casos de sucesso apontados e, na grande maioria,

os respondentes comentaram 1 ou, no máximo, 3 casos conhecidos. Um dos motivos apontados

por R1, R2, R5 e R6 é que o cliente não opera só em uma empresa e troca constantemente por

qualquer dificuldade encontrada durante as operações realizadas, ou seja, quando houver a

restrição do crédito em determinado FIDC, o cliente automaticamente muda para outra empresa,

impossibilitando, na visão dos respondentes, o acompanhamento do cliente.

Questão 8: Na sua percepção, quantas empresas em dificuldade financeira ou em

processo de RJ revertem a situação?

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109

Quadro 17: Questão nº 8

Qu

estã

o n

º8

R1 R2 R3 R4

Por

conhecimento

prático, depende do

segmento e de

outros fatores, mas na média

poucas

empresas conseguem

reverter a RJ.

Acreditamos que

na RJ até 20 % de

nossos clientes têm sucesso e

antes da RJ ou RJ

branca de 40% a 50% conseguem

reverter o quadro

porque a RJ custa caro e a extra

tem tido maior

resultado.

Observei mais

caso de sucesso

pela

recuperação do

que pela extra. As empresas que foram pela extra,

acabaram

culminando para a judicial. Veja,

as vezes o

empresário contrata o

consultor e

limita os

poderes dele, as

vezes o

empresário delega tanto pra

o consultor que o

consultor faz lambança

também, então é

muito dinâmico, é muito, vago,

por isso que a gente confia em

alguns trabalhos.

As pessoas que a gente conhece

tem alguns cases

de sucesso no

processo como

um todo. Uns 10

casos.

Aproximadament

e 20% revertem o

problema as demais se

queimam, por

muitas vezes, tentarem emitir

títulos frios ou

por que o acionista quer

tirar o dinheiro

da empresa. Aplicamos os

recursos da

empresa em 50%

no alto risco,

30% no médio

risco e 20% no baixo risco.

Temos que

investir no mínimo 50% do

PL para não

termos problemas.

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

A análise dos resultados possibilitou a compreensão dos fatores determinantes de crédito

identificados pelo uso da análise de conteúdo e que ocorrem em dois momentos distintos,

conforme o cenário em que a empresa cliente se encontra, sendo (i) empresa em crise financeira,

e (ii) empresa em processo de recuperação judicial.

Para ambos os cenários, o crédito avalia as condições da empresa, tais como nível

tecnológico, mão de obra empregada no processo, capacidade produtiva, manutenção das

máquinas e equipamentos, obsolescência e se a empresa está entregando os produtos fabricados.

Avaliar a competência da empresa em produzir resultados, mesmo na crise, é conhecer se a

empresa está operacional e tem pessoas capazes de geri-la, possibilitando estabelecer níveis de

confiança.

De acordo com McAllister (1995), Das e Teng (2001), a confiança de um indivíduo em

outro é motivada pela tomada decisão que afeta a forma do comportamento, estabelecendo

controles para reduzir a probabilidade de resultados indesejados.

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110

As informações financeiras obtidas pelos meios circulantes, estoque, capacidade de

geração de caixa, endividamento, faturamento mensal e qualidade do sacado são fundamentais

para se conhecer a capacidade de pagamento da empresa de forma objetiva.

Outros meios adotados para obtenção de informações que permitam conhecer o perfil

dos gestores e do acionista da empresa são o caráter da empresa, o histórico da empresa, a

imagem com os clientes, fornecedores e vizinhança, muitas vezes obtidos a partir das consultas

ao mercado e em consulta às redes sociais.

Empresas com histórico de operações simuladas são rejeitadas ainda na análise

preliminar do crédito, não sendo levado ao comitê, exceto se, de acordo com os respondentes,

houver uma motivação que explique claramente as razões que levaram a empresa a agir fora da

normalidade, mas poucos têm o crédito aprovado.

A percepção que o acionista e os gestores têm da empresa demonstra ao comitê de

crédito a maturidade em relação à situação real da empresa. Muitos respondentes apontam como

principal problema a falta de compreensão dos acionistas e gestores da real situação em que a

empresa está dificultando a análise do crédito pela falta de informação e mesmo a própria

continuidade da empresa.

A origem do sócio no negócio aparece entre os respondentes com grande relevância na

tomada de decisão, como o tempo em que está no negócio, se já era do mercado ou tem familiar

no mercado em que atua e de onde obteve a expertise. Todos os fatores subjetivos contribuem

para analisar a integridade do sócio refletida na cultura da empresa.

Os comitês de crédito buscam possíveis sinais de que a empresa em análise possa ser

confiável. Estabelecer o nível de confiança é o maior desafio quando se trata de empresas em

crise e em recuperação judicial.

A parceria entre os FIDC e os consultores reduzem a percepção do risco durante a

análise de crédito, mas não eliminam os controles e o acompanhamento a cada operação

realizada, incluindo ações extremas de verificar os produtos embarcados e faturados quando

surgem indícios de irregularidades nas operações.

A percepção do risco serve como fonte de confiança e controle, possibilitando que

alianças entre empresas parceiras permitam aceitar determinado nível de risco para, então,

estabelecer diferentes níveis de confiança e controle de acordo com Das e Teng (2001).

Os consultores exercem um papel predominante no estabelecimento da confiança entre

o FIDC e as empresas em crise financeira ou em processo de recuperação judicial, extrajudicial

ou acordo informal chamado de “RJ branca”.

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111

Quando da apresentação da empresa cliente ao FIDC, o histórico com resultados

positivos propicia, ao consultor, viabilizar a captação de recurso. Neste sentido, constatou-se a

atuação do consultor como meio de captação de recursos de forma a serem contratados, em

certos casos, apenas como um broker, ou seja, um negociador, um facilitador do crédito para a

empresa em crise, saindo logo após o crédito ser concedido ou permanecendo na consultoria

para captação de recursos sem que tenha acesso ao caixa da empresa, segundo R8.

Esta prática confirma o papel de agente que o consultor exerce entre as empresas e os

FIDC durante o processo de reorganização ou apenas de obtenção do crédito.

A figura 23 apresenta de forma objetiva os determinantes do processo de concessão do

crédito a partir da empresa cliente, em RJ, considerando (i) a empresa que já é cliente e vai

entrar com RJ; (ii) a empresa que é um novo cliente em fase de petição ou homologação; e (iii)

a empresa cliente que busca a parceria do FIDC para ingresso na RJ. O fluxo está separado em

4 processos:

Processo nº 1 - Avaliação do crédito: esta etapa compreende todo o levantamento de

dados e informações das empresas-clientes, possibilitando conhecer a saúde financeira,

capacidade de pagamento, capacidade produtiva, tecnologia empregada no processo,

obsolescência dos equipamentos, a formatação do caráter da empresa, dentre outras análises.

Os métodos para levantamento das informações são os mais variados entre os respondentes,

portanto, destacaram-se os principais pontos de análise que se aplicam a partir da chegada da

empresa cliente.

Processo nº 2 – Fase de petição: após a análise preliminar do crédito, o comitê decidirá

quanto à possibilidade de estabelecer uma parceria com a indicação de um consultor de sua

confiança. Eventualmente, se a empresa-cliente não optar pela contratação, o crédito estará

automaticamente negado.

Processo nº 3 – Plano homologado: se o plano estiver no período de carência que

geralmente compreende 18 a 24 meses, há a inclinação à concessão do crédito, respeitada as

premissas do processo nº 1. Mas se o plano estiver fora da carência, ou seja, pagando a dívida

da recuperação, o crédito reavaliará as condições, podendo cancelar o crédito, caso a empresa

não tenha condições de pagar.

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112

Processo nº 4 – Avalia a parceria: a construção de uma possível parceria entre a empresa-

cliente e o FIDC está suportada, muitas vezes, pela contratação do consultor, portanto, empresas

que já são clientes e que vão ingressar com a RJ, ou, empresas que estão a busca de parceiro

para financiar o processo de RJ terão a melhoria na avaliação do crédito diante do consultor que

for contratado. Caso não se estabeleça a confiança, a concessão de crédito será negada.

Todos os processos são suportados por uma rede consistente de informações entre os

FIDC, factoring, securitizadoras, bancos comerciais, mercado, consultores e advogados que

realimentam a todo instante as informações do crédito.

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113

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114

5 CASO REAL

Para compreender o estudo realizado nesta pesquisa, entende-se que seria apropriada a

análise de um caso real, recente, cujo fomentador do crédito foi um FIDC da cidade de São

Paulo, que não terá o nome divulgado, em razão da confidencialidade da pesquisa.

Todas as informações deste caso foram obtidas por meio do site da própria empresa e

sites especializados no assunto, sendo pública, a obtenção da informação dispensa prévia

autorização.

A comunicação externa do processo de recuperação judicial está prevista no art. 51 da

lei 11.101/05.

5.1 HISTÓRIA DA EMPRESA

A empresa, objeto do estudo, está localizada na cidade de Catanduva, estado de São

Paulo. De acordo com as informações divulgadas em seu site de internet, fundada em

23.07.1979, por 4 empreendedores, iniciando suas atividades de montagem de ventiladores de

teto, tendo a primeira estrutura fabril em 1980, ampliando a produção. Já, em 1987, constituiu

sede própria onde se encontra até os dias atuais.

Atualmente, a empresa é gerida pela 2º geração dos fundadores, sendo o processo

sucessório de pai para filho do principal executivo.

Passados 10 anos, começou a produzir ventiladores oscilantes, em 1996, tendo em seu

portfólio de produtos 2 tipos de ventiladores, de teto e oscilantes. Seguidamente, em 1997,

ampliou o processo produtivo e o portfólio de produtos, sendo necessária nova expansão em

2006 e, em seguida, no ano de 2009, adotou novos produtos como bebedouros de água e

espremedores de frutas, ampliando o portfólio de produtos novamente.

No ano de 2010, obteve o maior crescimento de sua história, chegando a 65%

comparado ao ano de 2008. Após o crescimento histórico, surgem os primeiros sinais de crise

com a primeira para coletiva de produção no ano de 2011, motivada por estoques excessivos e

queda nas vendas.

Hermann (1963) expõe que a crise ameaça as metas prioritárias da empresa, limita o

tempo de resposta, levando os tomadores de decisão (decision makers) a altos níveis de stress,

prejudicando o desempenho em razão do pouco tempo para reação.

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115

5.2 O DECLÍNIO

Com 3 exercícios acima do esperado, anos de 2008, 2009 e 2010, a empresa se projetou

com investimentos mais significativos em infraestrutura, maquinário e mão de obra,

aumentando os níveis de alavancagem financeira, em decorrência do crescimento superior a

60% em 2010.

No ano de 2011, com o verão ameno e com muita chuva, a venda de ventiladores

projetou-se abaixo do esperado e, somado ao aumento da taxa de juros e à restrição do crédito

bancário, a empresa não conseguiu cumprir com os compromissos assumidos. Iniciativas para

mitigar a crise foram tomadas, tais como a renegociação da dívida e o enxugamento do negócio

vindo a contratar, em meados de 2013, empresa especializada em gestão de crise.

A partir do diagnóstico realizado pela empresa contratada, percebeu-se a viabilidade do

negócio de ventiladores, mas a adoção da estratégia de recuperação judicial era determinante

naquele momento, segundo Marques (2014).

Conforme o plano de recuperação judicial apresentado na 3º vara da Cível da Comarca

de Catanduva, estado de São Paulo, a empresa indica as causas do declínio, tendo como pano

de fundo, a crise econômica mundial com reflexos na economia do País.

Diversos pesquisadores, Boyne (2006), de Cater e Schwab (2008), Jeyavelu (2009),

Slatter e Lovett (2009), Sudarsanam e Lai (2001), atribuem as causas do declínio ao ambiente

interno e externo como, má gestão, elevada estrutura de custos, controle financeiro inadequado,

liderança fraca, erros de gestão, incapacidade de se adaptar às mudanças, dentre outras.

Os fatores internos e externos que levaram a empresa ao declínio estão destacados no

quadro 18 com a anotação do possível impacto na empresa. Observa-se a aderência das causas

com as pesquisas realizadas no referencial teórico deste estudo.

Os executivos brasileiros destacaram os principais elementos que conduzem as

empresas ao declínio, como alto endividamento, margens de lucro declinantes, aumento do

custo financeiro, concorrência, mudança de comportamento do perfil de compra dos clientes,

dentre outras.

Também evidenciou-se, nas informações extraídas desta empresa, a opção pela

recuperação judicial, desenvolvida a seguir.

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116

Quadro 18: Fatores internos e externos do declínio

Fatores externos Impacto na empresa

Valorização câmbio Aumento do endividamento

Elevado custo financeiro Diminuição do resultado e caixa

Redução das linhas de crédito Diminuição da capacidade do financiamento da operação

Aumento do custo de captação em factoring e FIDC

Reajuste da mão de obra Aumento do CMV e diminuição do resultado

Aumento de custo com energia elétrica Aumento do CMV e diminuição do resultado

Elevada carga tributária Diminuição do resultado

Redução do crédito bancário Diminuição do resultado e caixa

Fatores internos Impacto na empresa

Financiamento expansão com capital de giro Diminuição de caixa, aumento endividamento curto prazo

Inadimplência tributária e com fornecedores Diminuição da credibilidade no mercado

Apuração incorreta dos custos de produção Diminuição do resultado e da receita

Custo elevado com transporte Diminuição do resultado

Dificuldade no gerenciamento de vendas Diminuição do resultado, aumento custo captação

Fonte: Plano de recuperação judicial da empresa Arge, elaborado pelo autor, 2015.

5.3 A OPÇÃO PELA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Após ações administrativas e de gestão para readequação, as dificuldades não foram

superadas, sendo necessária a contratação de empresa especializada no processo de recuperação

empresarial. O processo de turnaround se deu a partir do diagnóstico inicial realizado pela

empresa de consultoria contratada.

Com inúmeras ações de busca e apreensão, ações trabalhistas, ações tributárias e

possíveis apontamentos no Serasa, o crédito da empresa deteriora-se, dificultando a captação

de recursos que financiem a operação.

Uma das alternativas para o financiamento da empresa se deu por meio de fundos de

investimentos em direitos creditórios e factoring com a cessão do crédito das duplicatas de

venda mercantil para que, possivelmente, o recurso antecipado financiasse a operação

produtiva.

A empresa se destaca em sua região pelo número de funcionários diretos contratados na

ordem de 542 e, indiretos, na ordem de 1.500, tendo como maior proporção do quadro funcional

a mão de obra feminina e desenvolvendo projetos sociais para crianças carentes e idosos,

evidenciando sua função social com destaque para a inclusão social.

Os autores Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão e Santos (2012) sugerem vetores

de classificação quanto à viabilidade da empresa, sendo a importância social, mão de obra

empregada e tempo da empresa, por exemplo.

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117

De acordo com o art. 53 da lei 11.101/05, a empresa apresenta a justificativa da

viabilidade da empresa pela implementação das ações na gestão da produção, gestão da área

comercial, gestão da área financeira, redução de despesas administrativas, comerciais e

industriais, revisão dos procedimentos operacionais e parametrização do sistema integrado de

gestão, renegociação dos créditos não sujeitos à recuperação judicial, bem como as projeções

das demonstrações contábeis, balanço patrimonial, demonstrativo de resultado do exercício,

demonstrativo do fluxo de caixa, comprovando a capacidade de pagamento dos credores e a

continuidade do negócio.

Identificados os credores, foram divididos em 3 classes de acordo com a preferência de

recebimento em eventual liquidação, sendo respectivamente os credores trabalhistas com

apenas 0,08% da dívida total, credores com garantia real, detentores de 27,54% da dívida total

e credores quirografários com 72,38% de participação no montante da dívida.

Nota-se que a maior concentração da dívida encontrava-se com fornecedores e bancos,

possivelmente havia ativos disponíveis em razão da baixa participação do credor com garantia

real que contribuísse como alternativa para o financiamento da operação.

Portanto, a empresa se apresenta, de acordo com o plano de RJ, em capacidade de

reverter o cenário de crise com o auxílio da lei.

A cronologia e atendimento da lei 11.101/05 está apresentada na figura 24,

possibilitando a compreensão das ações e do tempo decorrido do início do processo com a

petição inicial em 18.03.2013 findando em 29.04.2015 com a homologação da recuperação

judicial e a publicação no Diário Oficial.

A partir da identificação da crise financeira e da necessidade de reorganizar o negócio,

a empresa optou pela contratação de consultoria para diagnosticar a preparar-se para o processo

de RJ, conforme apresentado abaixo:

A Consultoria: a gestão de choque, como é conhecida no mercado, tem como

principal objetivo diagnosticar as causas que levaram a empresa à perda de resultado e,

consequentemente, crise financeira. Dentre outras ações, a consultoria exerce influência no

caixa da empresa, reorganizando e controlando. A comunhão de esforços nas demais áreas

proporcionam o realinhamento e melhor aproveitamento dos recursos de forma que os

processos tornam-se produtivos;

O FIDC: o momento crucial do processo de reestruturação é manter a operação,

produzindo e gerando fluxo de caixa para que os compromissos já assumidos e os novos

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118

compromissos possam ser respectivamente renegociados e cumpridos, portanto, a captação de

recursos por cessão de recebíveis ou fomento torna-se indispensável para gerir a crise;

A Petição Inicial: esta fase consiste da apresentação da intenção da empresa de

ingressar com o processo de recuperação judicial, sendo necessária a apresentação do

recolhimento das custas processuais, procurações, comprovantes de atividade, certidões

negativas falimentares e criminais, demonstrações contábeis, relação de credores, relação de

empregados, certidão da Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP), relação de bens,

extratos bancários e de aplicações financeiras, certidões de protestos e relação das ações em

que a empresa está citada;

A Carta aos Credores e Clientes: consiste em informar que está em crise e a intenção

da empresa quanto à necessidade de recorrer ao meio legal para reverter o problema;

Deferimento da RJ: decisão do juiz em conceder ou não o benefício legal à empresa

em crise. Para tanto, é analisado e determinado o cumprimento da lei, a nomeação do

administrador judicial, a suspensão das ações e as execuções judiciais por 180 dias, a

apresentação das contas mensais, os informes pelo administrador judicial, as comunicação às

Fazendas Públicas e Federal em todos os estados onde a empresa tiver estabelecimento, o prazo

para habilitação dos créditos, a publicação do edital em 10 dias, a relação de credores, os

créditos trabalhistas e o prazo de 60 dias para apresentação do plano de RJ. Neste processo, a

empresa solicitou e obteve o benefício da prorrogação do prazo de suspensão das ações diante

da necessidade do realinhamento do processo e da convocação da AG.

Aprovação da AG de credores: a concordância de 2/3 das classes de credores do

plano de RJ proporciona à empresa devedora a aprovação necessária para que o juiz homologue

o processo. Em havendo discordância ou não aprovação do plano na AG e sendo a empresa

viável, o juiz pode conceder o benefício da RJ;

Homologação do plano: validação do plano de recuperação apresentado pela empresa

e aceito pelos credores, permitindo a execução durante os próximos 24 meses. Após este

período e tendo cumprido todas as obrigações, a empresa reverterá o processo.

Com a reversão do processo, ou no jargão do mercado de “levantar a RJ”, a empresa

obterá o direito de retirar do cadastro da Junta Comercial do Estado a anotação “empresa em

processo de recuperação judicial”, a qual é adicionada ao nome da empresa após o aceite pelo

juiz do plano de RJ.

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119

Figura 24: Cronologia do processo de RJ – caso real

Fonte: Plano de recuperação judicial da empresa, elaborado pelo autor, 2015.

5.4 ANÁLISE DO CASO

As dificuldades aparentes no plano de recuperação apresentado demonstram que a partir

de 2011 a empresa passou por um processo de dificuldade com retração nas vendas, aumento

no endividamento, elevados custos de produção e maior dependência de capital de terceiros de

curto prazo comprometendo o financiamento da operação.

Considerando a acentuada elevação nas despesas financeiras, no decorrer do ano de

2012, devido à restrição ao crédito no sistema bancário pela deterioração do rating de crédito,

por não honrar os compromissos com os credores e com os impostos, e tendo que recorrer a

empresas menores para captação de recursos de curto prazo, conforme observado no plano de

recuperação, a empresa optou por reestruturar-se com o auxílio de uma empresa especializada.

No diagnóstico inicial, a consultoria identificou a viabilidade da empresa em crise,

propondo as mudanças e ajustes necessários para que houvesse a geração de caixa e a operação

voltasse a ser sustentável.

Pesquisando a empresa de consultoria entre os respondentes deste trabalho, constatou-

se que a consultoria é conhecida neste mercado e presta ou já prestou serviços para os

Crise e

deterioração

do crédito

(2011/2012)

Deferimento do

processamento da RJ

(09/2013)

Edital

convocação

da AG

(10/2014)

1º e 2º AG

de credores

(11/2014)

Suspensão de ações - 180 dias

Nomeação do Adm.

Judicial

Apresentação do plano de

RJ

(12/2013)

Prorrogações de prazo para

ações

(07/2014)

Atualização

dos informes

(01/2014)

Edital Art.

52 § 1º

(11/2013)

Cronologia do Processo da RJ

Contratação

Consultoria

(2012)

Operações

com FIDC

(2012)

Carta a cliente e

fornecedor

(08/2013)

Petição

Inicial

(03/2013)

Atendimento

do plano de RJ

(03/2015)

Aprovação

do plano RJ

(04/2015)

Homologação e

Execução do plano RJ

(04/2015)

Dias atuais

Prorrogação prazo até a AG

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120

respondentes R1, R2, R5 e R6, sendo conceituada com cases de sucesso na reestruturação de

empresas em crise financeira e na recuperação de créditos.

Ainda, segundo os respondentes, o perfil de trabalho desta consultoria é direcionado

para empresas que, após o diagnóstico inicial, sejam passíveis de recuperação.

5.5 CONCLUSÃO DO CASO REAL

O estudo do caso real possibilitou a compreensão dos estágios e da evolução do processo

de recuperação judicial a partir dos sinais de crise financeira no ano de 2012 até a homologação

do plano de RJ em 2015.

Os resultados obtidos das análises das entrevistas realizadas nesta pesquisa apontam

para a possível adoção de consultoria especializada em recuperação de empresas em crise como

meio de viabilizar o acesso ao crédito, estabelecendo uma relação de confiança entre o tomador

e o devedor.

Embora a prática de parceria entre o consultor e o fomentador do crédito seja

evidenciada entre todos os respondentes como facilitador do crédito, pela confiança adquirida

pelo histórico de sucesso em projetos anteriores, a empresa em crise deve-se mostrar viável pela

geração de caixa e do caráter do principal acionista para que a concessão do crédito seja

possível.

A possibilidade de parcerias entre empresas em crise e os fomentadores de crédito

também foram identificadas entre a maioria dos respondentes. Quando procurados, os FIDCs,

por empresários ou consultores que desejavam viabilizar a manutenção do crédito antes da

petição inicial, durante o processo de RJ até o momento de recuperação da crise, o crédito era

analisado para que não houvesse interrupção das atividades fins da empresa desde que o

fomentador não entrasse na RJ.

Atuantes em duas vertentes no processo de concessão do crédito, os consultores

possibilitam o acesso ao crédito para empresas em dificuldade, viabilizando o processo de

recuperação da empresa, como foi apontado por todos os respondentes.

Sendo o comitê de crédito soberano nas decisões, uma das razões pelas quais R1

concedeu o crédito para a empresa em questão, deu-se em função da contratação da empresa de

consultoria conhecida entre a maioria dos respondentes e a capacidade de recuperação da

própria empresa demonstrada no plano de RJ.

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121

A cronologia demonstra de forma objetiva que a empresa em crise obteve crédito entre

o período de contratação da consultoria especializada em gestão de crise e a petição inicial

sendo fomentada, na linguagem do mercado, até os dias atuais.

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122

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Face à amplitude do tema crédito, o foco desta pesquisa prendeu-se às empresas de

factoring e FIDC de factoring, mas não no processo de análise realizado por analistas e, sim,

no processo de concessão do crédito que acontece no comitê de crédito destas empresas.

Este estudo teve o objetivo de identificar os determinantes de crédito para empresas em

processo de recuperação judicial, extrajudicial ou em crise financeira a partir da percepção do

comitê de crédito.

As conclusões obtidas não foram relacionadas às empresas pesquisadas propriamente

ditas, mas ao processo de concessão de crédito obtido pelas experiências dos respondentes.

Identificou-se, na literatura, e também foi percebido por todos os respondentes desta

pesquisa que, nas empresas médias, familiares, o processo sucessório, geralmente mau gerido,

muitas vezes leva à crise financeira.

Os sinais de que a empresa está em crise são muitos, entre estes destacam-se: a escassez

do caixa, a inadimplência, a ausência de pagamento de impostos, os atrasos na folha de

pagamento, a perda de crédito entre fornecedores e instituições financeiras.

Os resultados indicaram que os comitês buscam identificar a situação real da empresa

pelo dimensionamento do tamanho da crise desde o contato inicial.

Como meio de mitigar o risco, os factoring, FIDC e securitizadoras, adaptaram-se ao

sistema jurídico, adotando e submetendo à recompra de títulos não performado, ou seja, não

liquidados pelo sacado, às empresas em crise por meio do regresso, ou recompra pelo cedente,

como é utilizado no mercado.

O direito de regresso (grifo nosso) com coobrigação é uma prática realizada e

consolidada no mercado de factoring, de FIDC e de securitizadora. Embora a aquisição de

direitos creditórios não contemple o direito de regresso, esta prática foi instituída a todo o

mercado, ou seja, ao FIDC, securitizadora e factoring, os quais criam artifícios jurídicos para

que o cedente seja obrigado a recomprar o título cedido na operação de antecipação caso não

receba do sacado.

Esta prerrogativa está prevista apenas entre instituições financeiras pertencentes ao

SFN, comentado nos parágrafos 2.3.1 e 2.3.2, e reguladas pela Resolução CMN nº 2.836 de 30

de maio de 2001.

Quando a cessão de crédito ocorrer à pessoa não pertencente ao SFN, somente a

modalidade sem coobrigação poderá ser praticada, ou seja, em caráter pro soluto, que significa

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123

que há cessão de crédito em definitivo para o cessionário e o cedente não responde pela

solvência, mas pela existência do crédito no ato da transferência.

Tal prática se assemelha à intermediação bancária que tem o caráter de pro solvendo,

onde o cedente tem a responsabilidade pela solvência do título.

Portanto, a capacidade de recompra do crédito cedido é um determinante de crédito para

as empresas em crise financeira, mas pode ter menor influência de acordo com a qualidade da

carteira a ser cedida.

Se houver boa liquidez, baixa concentração por sacado, prazo médio de recebimento

menor que 60 dias, a carteira possibilitará que a operação seja viável, mas não eximindo a

responsabilidade de recompra.

Por não haver uma legislação específica para os factoring, no Brasil, estas empresas são

consideradas atípicas, sendo que, o código civil, no capítulo I - cessão de crédito -, é utilizado

para nortear a questão. Nos Estados Unidos e Europa, já há legislação aplicável para estas

operações que se equivalem à abertura de um banco; na América latina, alguns países contam

com mecanismos mais adaptados do que os adotados no Brasil.

A avaliação da competência da empresa em produzir resultados, mesmo na crise, define

se a empresa está operacional e se tem pessoas capazes de geri-la, possibilitando estabelecer

níveis de confiança, sendo que, aqui, percebeu-se outro determinante do crédito.

O estabelecimento da confiança entre as empresas parceiras é motivada pelo histórico

de tomada decisão do empresário ou do principal executivo em determinado momento e que

afeta o comportamento e a adoção de controles para reduzir a probabilidade de resultados

indesejados. O caráter da empresa se revelou, dentre outros, como o determinante de maior

relevância desde que observadas as premissas do crédito.

Sob a perspectiva da empresa em crise financeira, notou-se que as limitações para a

aquisição de recursos (grifo nosso) inicia-se com a própria restrição imposta às instituições

financeiras pertencentes ao SFN que são regidas pela Resolução CMN 2.682/99.

A atribuição do menor rating de crédito, por bancos e, consequentemente, a necessidade

do provisionamento, chegando a totalidade do empréstimo, dificulta o crédito e, por sua vez, a

captação de recursos por empresas em crise ou mesmo para empresas que estejam em processo

de RJ.

A falta de transparência nos demonstrativos financeiros das empresas em crise está

demonstrada pela preferência dos respondentes em utilizar outros meios que não sejam apenas

o BP e DRE, tais como: ( a) utilizar os meios circulantes; (b) solicitar o endividamento com

bancos, factoring, FIDC, securitizadoras e a modalidade da garantia; (c) consultar o mercado,

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inclusive redes sociais; (d) realizar a pré-checagem que antecede à liberação da operação de

aquisição dos direitos creditórios; (e) fazer a checagem dos títulos durante a operação de

aquisição dos direitos creditórios e, (f) executar auditoria de expedição para confirmar o

embarque e entrega do produto no destino.

Estas preferências confirmam a assimetria informacional, dificultando o processo de

análise e concessão do crédito pelo comitê. Isto ocorre nas empresas em recuperação judicial,

ocasionando um processo mais lento, seja pela tomada de decisão do juiz, seja por artifícios

jurídicos utilizados pelos controladores, sócios, das empresas em crise ou mesmo pela

insistência do administrador judicial em não enviar periodicamente as informações ao juiz,

ainda que possa ser destituído da função de acordo com a lei.

Portanto, a majoração do risco de crédito é, em parte, pela própria condição em que a

empresa se encontra e parte pela possível cessão abusiva de crédito por instituições financeiras.

Empresas em estágio anterior ao deferimento do pedido de recuperação judicial têm

maior restrição ao crédito do que empresas em fase de pós-homologação da RJ, logo, o comitê

de crédito não aprova o limite, entretanto, o fomentador analisa a possibilidade de se construir

uma parceria pela adoção de consultores especializados em gestão de crise.

Observou-se que, em outros países, como os Estados Unidos da América, a utilização

do debtor-in-possession financing (DIP financing), ou seja, o financiamento do devedor na

posse (grifo nosso) está protegido pela lei de falência do país, por exemplo, o U.S. Bankruptcy

Code, Chapter 11, parágrafo 364 Obtaining credit, que trata desta opção de financiamento.

DIP financing significa que o financiamento da empresa em crise sob a lei de falência

americana em que o acionista da empresa ou o trustee, quando aplicável, mantém-se na direção

do negócio e tem a prévia autorização do juiz para obter capital de giro.

Os recursos devem ser aplicados exclusivamente para manutenção da empresa, para as

despesas com o administrador judicial, com advogados do processo de recuperação e com os

consultores da RJ.

O credor DIP deverá ser autorizado pelo juiz, ainda que os demais credores,

privilegiados pela lei, tais como créditos de folha de pagamento, créditos oriundos de garantia

real, não tenham a mesma preferência em eventual liquidação. Portanto, credores de DIP têm

“super prioridade” em eventual liquidação, recebendo antes mesmo dos credores privilegiados

de acordo com a lei americana.

Esta alternativa de financiamento muitas vezes é, por um lado, utilizada por um credor

expressivo da empresa em crise, por exemplo, fornecedor de matéria-prima, por conhecer o

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processo produtivo e o comportamento da empresa, entrando outras vezes na fase de petição do

pedido de recuperação judicial ou logo após a petição ter sido protocolada; por outro lado, no

Brasil, a lei 11.101/05, não dispõe de tal dispositivo que permita às empresas uma alternativa

de captação de recursos (grifo nosso), que sejam menos onerosos e possibilitem a manutenção

do negócio e a reversão da crise.

Esta lacuna na legislação na legislação brasileira dificulta a manutenção do processo de

recuperação da empresa, embora o artigo 60 da lei permita a alienação de unidades produtivas

isoladas (UPI), sem que o arrematante incorra em sucessões de dívidas, caso o processo seja

convertido para falência.

Este procedimento permite à empresa em crise vender uma filial, ou filiais, livre de

quaisquer ônus, mas esta prerrogativa diminui a receita, podendo prejudicar o processo de

reversão da crise.

Inicialmente, a lei previa que a venda de UPI teria os recursos destinados à redução da

dívida com credores e não para a aplicação do recurso em capital de giro como é adotado pelas

empresas.

Percebeu-se que os factoring e FIDC são, em grande parte, o meio de gerir o caixa da

empresa durante o período de RJ, mesmo que as empresas se submetam às altas taxas cobradas

por ocasião de cessão do crédito, da mesma forma que a cessão de direitos creditórios também

diminui o caixa da empresa, configurando-se em garantia real ao financiador do crédito.

Assim, demonstrou-se um mecanismo consistente na gestão da crise por não ser possível

regular o caixa com terceiros, por meio da compra a prazo.

Uma possibilidade de utilizar o DIP financing no Brasil seria a modificação da lei

vigente para que o investidor tenha a prioridade sobre os credores extraconcursais, ou seja, que

não estejam sujeitos ao processo de RJ, tais como: créditos trabalhistas, ACC, créditos com

garantia real, remuneração do administrador judicial, custas judiciais, tributos gerados durante

a RJ, além das despesas do processo de venda dos ativos da massa falida, em caso de falência.

Ou, ainda, se houvesse a concordância, em AG, entre os credores privilegiados da priorização

do investidor em eventual falência, o que, na prática, seria reduzir a possibilidade de recuperar

o crédito ou parte dele, em prol da possibilidade de receber em sua totalidade ou de acordo com

o plano aprovado.

Pela ausência de um dispositivo legal, que permita a adoção de práticas consistentes, o

mercado se adapta às necessidades, criando artifícios que viabilizem a concessão de crédito às

empresas em crise, tais como a compra de imóvel, que não seja operacional, da empresa, por

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valor muito inferior ao valor de mercado, por exemplo 50% do valor, por empresa coligada do

factoring.

Pela ótica da empresa em crise, este negócio configura-se em empréstimo de longo

prazo, podendo ser recomprado tão logo a empresa consiga reverter a crise, mesmo que o valor

absoluto recebido na transação seja inferior ao valor de mercado, mas adequado à necessidade

da empresa e a um custo menor que o custo da antecipação de recebíveis.

Para o fomentador de crédito, este negócio apresenta-se como um empréstimo de longo

prazo sem risco de perda, pois, pela compra do imóvel com valor inferior ao valor praticado no

mercado, é possível recuperar o dinheiro em eventual falência da empresa em crise, ainda que

tal operação seja um motivador da empresa em crise em recomprar o imóvel, eliminando perdas

substanciais.

Outra modalidade utilizada como mitigador do risco é a adoção de escrow account para

operações conhecidas como domicílio bancário, antecipação de contratos, ou seja, o sacado não

efetua pagamento mediante um boleto, apenas por depósito em conta corrente.

Ao efetuar a abertura de conta corrente em um banco com a definição das cláusulas

contratuais para movimentação e gerenciamento por um terceiro, a empresa em crise tem a

possibilidade de fazer a cessão de recebíveis com o fomentador de crédito, embora esta

operação não seja possível para empresas em RJ, uma vez que, em eventual falência, a conta

ficaria bloqueada e à disposição da massa falida.

Por um lado, observou-se que a prática da parceria entre o fomentador e a empresa em

crise se dá por um consultor, como agente, ou empresa especializada em consultoria, que exerce

influência direta nos resultados das análises de crédito de alguns fomentadores, como mitigador

do risco percebido. O consultor não elimina o risco, mas altera a percepção da probabilidade de

perdas indesejáveis pelo FIDC. Esta relação de confiança não foi percebida entre os

profissionais do crédito, mas sim, entre os profissionais da área comercial e os acionistas que

representam as empresas de factoring, FIDC e securitizadoras. Em alguns casos, os investidores

dos FIDCs também reconhecem o consultor como mitigador do risco se mostrando favoráveis

à prática.

Por outro lado, notou-se que o consultor também apresenta empresas-clientes ou

projetos de RJ, como são chamados no mercado, em que haja a necessidade de recursos para

viabilizar a consultoria e que fica corresponsável por devolver o recurso ao fomentador, embora

a análise de crédito e a cobrança recaia sob a empresa devedora.

Constatou-se, ainda, que a atuação do consultor como meio de captação de recursos para

empresas em crise ocorre, sendo que, em certos casos, atuante apenas como um broker, ou seja,

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um negociador, um facilitador do crédito, saindo logo após o crédito ser concedido ou

permanecendo na consultoria para captação de recursos sem que tenha acesso ao caixa ou a

gestão da empresa.

Esta prática confirma o papel de agente e de determinante de crédito que o consultor

exerce entre as empresas e os FIDCs durante o processo de reorganização ou apenas de obtenção

do crédito.

Para tanto, o processo de avaliação de crédito vem adaptando-se de acordo com os

ajustes e o amadurecimento da lei 11.101/05 que desde a revogação da lei da concordata ainda

é considerada como sendo a última opção para que uma empresa em crise possa se recuperar.

Assim, este estudo demonstrou que diversas são as possíveis causas do declínio e

também esclareceu que a lei de recuperação e falência é mais um mecanismo para a elaboração

da estratégia de turnaround não sendo o único.

Portanto, a lei precisa de ajustes, principalmente na forma como os credores são

participados do processo de RJ até a formação de comitês de credores, a exemplo dos Estados

Unidos que é obrigatório, e que no Brasil ainda não se vê.

O disclosure não é o ponto alto do processo de RJ entre as empresas que ingressam com

o plano, colocando muitas vezes os credores em posição desfavorável para a aprovação do plano

de recuperação apresentado em AG, mas privilegiando os maiores credores por seu interesse e

posicionamento durante o processo de aprovação do plano.

No mais, o mercado não dispõe de muitas alternativas de financiamento para as

empresas em crise financeira e que ofereça produtos que possibilitem mitigar os riscos e garantir

o cumprimento das obrigações contraídas preservando os financiadores, ainda que alguns dos

bancos médios tenham começado a adaptar-se à realidade do middle market e das empresas em

crise.

O meio utilizado, atualmente, quando do inadimplemento da dívida, é a cobrança

antecipada do contrato, entretanto, esbarra-se no art. 47 da lei 11.101/05 que versa sobre a

preservação da empresa que, por diversas vezes, não permite que a execução seja realizada em

sua totalidade.

Sugerem-se novos estudos para o aprofundamento no processo de análise e na percepção

do comitê de crédito quanto à viabilidade da adoção de um modelo de crédito aplicável às

empresas em crise. Pesquisas sobre o desenvolvimento de mercados específicos de fundos de

investimentos especializados em financiamento de empresas em crise, mas não fundos abutres,

também contribuiriam muito à continuidade deste estudo.

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135

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO PARA ENTREVISTA

INDIVIDUAL

As perguntas do roteiro abaixo foram apresentadas aos respondentes para que fossem

respondidas, mas não se limitando às perguntas, os indivíduos puderam falar amplamente sobre

o tema.

As perguntas foram estruturadas para que fosse possível obter as informações

necessárias com a finalidade de compreender o comportamento dos indivíduos na concessão de

crédito para as empresas em crise financeira, bem como se houver correlação entre a concessão

de crédito e a indicação dos meios de recuperação da empresa.

O direcionamento é obter os dados necessários para responder a questão de pesquisa e

os objetivos específicos.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Roteiro para pesquisa semiestruturada - Entrevista Individual

1- Há indicação do Factoring e/ou FIDC na orientação à empresa-cliente quanto à decisão

de opção por processo de Recuperação Judicial, Extrajudicial ou Acordo Informal?

2- Em que momento é identificada a situação econômico financeira da empresa-cliente?

3- Estando a empresa-cliente em processo de recuperação judicial, o Factoring e/ou FIDC

analisa a possibilidade de concessão de crédito? Se sim, quais os meios?

4- Qual a importância do histórico da empresa-cliente no processo de concessão de crédito?

5- Considerando o Trust um serviço do Factoring, aplica-se ao FIDC?

6- Qual o papel dos consultores no processo de concessão de crédito para empresas-clientes

em dificuldade?

7- Quais as informações utilizadas no processo de análise de crédito?

8- Na sua percepção, quantas empresas em dificuldade financeira ou em processo de RJ

revertem a situação?

Page 135: Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extrajudicialtede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/975/1/Daniel Gloria.pdf · Crédito no Processo de Recuperação Judicial e Extra

136

APÊNDICE B – FORMULÁRIO PARA REGISTRO DOS DADOS COLETADOS NAS

ENTREVISTAS

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Factoring

FIDC

Codinome

Nome do entrevistado

Codinome

Sexo

Idade

Ensino (médio/superior)

Formação acadêmica

Pós-graduado

Tempo empresa

Tempo de mercado

Cargo

Participa no comitê de crédito

Ativo Total do factoring

Resumo / observações da

entrevista