12
PROJECTO EDUCATIVO – Vagas de leitura; Cascatas de emoções! Escreva…por tudo e por nada… … e veja a força das suas palavras! A Visita ao Centro de Interpretação da Lagoa de Albufeira A manhã começou como todas as manhãs naquela escola: muita conversa entre os que chegaram mais cedo, mas também entradas à pressa pelo portão e, correrias de última hora, para não chegarem depois do 2º toque. Entre esses, normalmente, estavam os alunos de uma turma Especial, muito espalhafatosos e excessivos nos gestos que faziam, expressando claramente o seu protagonismo em alguma história passada recentemente e que exageravam ao contá-la. Bastava ver as expressões faciais que faziam ao discursar! Desta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação e Investigação da Lagoa de Albufeira. Deviam fazer um trabalho envolvendo entrevistas, recolha de imagens em vídeo e algumas fotografias. Acompanhavam também uma turma de 8º ano que tinha essa visita marcada no âmbito da disciplina de O.C., ou seja, Oferta Complementar, onde

Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

PROJECTO EDUCATIVO – Vagas de leitura; Cascatas de emoções!

Escreva…por tudo e por nada…

… e veja a força das suas palavras!

A Visita ao Centro de Interpretação da Lagoa de Albufeira

A manhã começou como todas as manhãs naquela escola: muita conversa entre os que chegaram mais cedo, mas também entradas à pressa pelo portão e, correrias de última hora, para não chegarem depois do 2º toque.

Entre esses, normalmente, estavam os alunos de uma turma Especial, muito espalhafatosos e excessivos nos gestos que faziam, expressando claramente o seu protagonismo em alguma história passada recentemente e que exageravam ao contá-la. Bastava ver as expressões faciais que faziam ao discursar!

Desta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação e Investigação da Lagoa de Albufeira. Deviam fazer um trabalho envolvendo entrevistas, recolha de imagens em vídeo e algumas fotografias. Acompanhavam também uma turma de 8º ano que tinha essa visita marcada no âmbito da disciplina de O.C., ou seja, Oferta Complementar, onde fariam um trabalho ligado à investigação das espécies marinhas que ali tinham o seu habitat.

Seria uma boa junção de esforços, mas nem todos estavam convencidos.

- Uma visita de estudo ao Centro de Investigação Marinha da Lagoa de Albufeira? Para quê? Aquilo só tem água à volta. Ainda se fosse no Verão aproveitava-se para tomar banho, mas assim…

- Mas olha que até era bom… É que nem sempre isso acontece muitas vezes contigo… - salientou uma colega.

Page 2: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

Acusando o toque, o rapaz respondeu:

- ‘Tás’ a gozar comigo? Agora vais levar.

A pobre rapariga levou mesmo um aperto, daqueles que se classificam de ‘carinhoso’, pelos rapazes, tirando os gritos agudos que entretanto se ouviram pela escola inteira.

Entretanto, na biblioteca, outros alunos estavam reunidos para fazerem o trabalho de ciências. Eram bons estudantes e por isso tinham grandes ideias para a sua realização. O pior, para eles, era partilharem a mesma visita com os colegas da turma especial. Por isso uma rapariga dizia:

- Se me começarem a aborrecer digo-lhes para irem dar uma volta ‘ao bilhar grande’…

- Duvido que saibam onde é esse lugar… - respondeu logo outro.

- Sabem, sabem. Ontem disse isso a um e ele respondeu que já lá tinha ido.

- E gostou?

- Sim, sim, disse que adorou, o parvalhão!

E sorriram com a piada, embora a coisa prometesse ser menos hilariante no dia da visita.

Chegou o dia marcado para a visita e as duas turmas entraram para o autocarro. Os lugares do fundo foram logo preenchidos pelos alunos da turma especial que nem sequer ouviram o que lhes diziam sobre lugares marcados. Os outros, do 8º ano, lá se acomodaram como puderam.

Já sentados, partiram para a Lagoa de Albufeira. Alguns quilómetros depois, o autocarro teve uma avaria. Alguns, disseram logo que ficou sem gasolina, mas estavam errados, pois autocarros como aquele gastam gasóleo … mas isso é o menos… Estando no ‘meio do nada’, quase a chegar à reserva ambiental de Albufeira, tiveram de aguardar que algum automobilista passasse e os ajudasse, mas ninguém ali passava…

Finalmente viram um carro e fizeram-lhe sinal para parar. Parou e o senhor que estava no carro ouviu o motorista dizer qualquer coisa e foi-se embora, deixando os alunos num estado de nervos. Afinal, o senhor voltou pouco depois trazendo uma jerrican com gasóleo. Depois dos agradecimentos da ordem voltaram todos para dentro do autocarro. ‘Sol de pouca dura’, pois o autocarro não pegava apesar dos esforços do motorista.

Page 3: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

- Então, não pega? – disse o Arlindo.

- Era bom, era, mas está difícil. – respondeu o motorista.

- Mau! O que se passa agora? – perguntou a Rafaela

- Bom, parece que a bomba da combustível desferrou e agora o combustível não chega ao motor. Se calhar…. Vou ter de chamar um reboque - acrescentou o motorista. E continuou – o melhor será irem a pé até à recepção do Centro, pois já estamos perto. Depois vou lá buscar-vos ao fim do dia.

E assim foi. Embora contrariados por terem de caminhar um bocado até ao Centro de Interpretação da Lagoa de Albufeira, acabaram por chegar lá em pouco tempo pois foram por um atalho. Em frente à porta principal estava já uma bióloga marinha que desesperava pela chegada dos alunos. Explicada a situação lá foram para o espaço ecológico da Lagoa, depois de terem deixado as mochilas numa arrecadação.

A visita começou e todos iam ficando cada vez mais fascinados à medida que passavam pelos locais de nidificação das aves que ali passavam o inverno, ou então pelo espaço das aves de rapina que pairavam no céu… Até os alunos da turma especial.

Uma rapariga, aluna brilhante na disciplina de Ciências Naturais, via, extasiada, as várias espécies de aves junto da lagoa: o Chapim Real, quase todo azul, o pisco-de-peito-ruivo, quase todo vermelho, mas também observava uma cotovia-de-poupa e os patos, muitos patos que ali estavam. O ambiente ecológico fazia a diferença pois era tudo natural, sem intervenção humana em qualquer aspeto. Parecia que estavam num Parque Natural dos melhores do Mundo … o que era verdade.

As explicações da guia passavam também por outras aves que existiam naquele espaço, especialmente as de rapina. Apontou longamente para uma delas, a águia de Boneli, muito fácil de localizar no céu pelo formato da sua cauda. E o Bufo Real que por ali voava?!

- Incrível – salientava a mesma aluna, verdadeiramente entusiasmada com o que via.

A visita prosseguia, agora abordando as espécies vegetais da zona, fator importante para a nidificação de várias espécies de aves e de animais que ali habitam, especialmente o casal de milhafres que estava a construir o ninho. Depois de tudo bem explicadinho pela guia do Centro, dirigiram-se para a recepção de modo a terminar a visita.

Page 4: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

- Fantástico – Continuava a dizer a brilhante aluna de Ciências Naturais.

Claro que este interesse não passava despercebido a um colega que estava sempre a reparar nela. Querendo provocá-la, passou-lhe uma rasteira, mesmo junto a uma passagem de uma vala cheia de água. Pouco depois, desequilibrada, a moça pôs os pés ‘de molho’ e, ensopados, voltou a pisar terra firme, olhando com severidade o seu colega de turma, enquanto os restantes se riam daquela desventura.

- Estás contente? Gostaste do que fizeste? Já tens a história para contares a todos não é? Bom proveito te faça, abelhudo…

O rapaz ficou um pouco preocupado com o incidente que arranjou e disse:

- Desculpa. Agi sem pensar, mas…já passou o problema.

-Já passou o problema? – perguntava, incrédula, a sua colega. – Olha, parabéns pela solução…

O assunto era sério, pois o rapaz gostava muito da rapariga, mas não sabia dizer como… e a moça não estava a achar piada nenhuma, especialmente enquanto caminhava e ouvia o ‘chloc’, ‘chloc’ vindos dos sapatos ensopados em água. Pelo menos, era água limpa, água natural, água da Lagoa de Albufeira, mas era fraca a consolação. O rapaz voltou a desculpar-se e desta vez disse-lhe que tinha feito aquilo ‘por bem’… A rapariga, com voz grave, respondeu:

- O que disseste agora foi tão profundo que nem consigo ver o fundo do teu pensamento. Fizeste isto ‘por bem’? Devias dizer isso à tua mãe.

- Pois, uma vez disse-lhe isso … mas ela não gostou…

- Isso não é resposta que se dê. – Disse logo a moça.

- Também não é pergunta que se faça. – Respondeu o rapaz.

- Pois, o melhor é ires comer qualquer coisa. A fome está a fazer-te mal à cabeça. – Sugeriu a rapariga, concluindo a conversa.

- Sim. Por acaso já vi que trouxeste a tua lancheira com a habitual marmita cheia de ‘granolas’… Mas não ‘«comestes»’ isso ontem também?

- Para tua informação não se diz ’«comestes» ‘. Parece que não andas numa escola.

Page 5: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

- Áh. Então é por isso que a professora de português está sempre a dizer: “diz-se lavar e não «lavastes»; tomar e não «tomastes», falar e não «falastes» e por aí adiante…”. Agora compreendo! – Respondia o rapaz, cheio de alegria pela sua própria descoberta.

- Pois, se quisesses podias também ser mais educado, além de falar melhor – ironizava a rapariga.

- Está bem, jovem Cinderela – rematou com desdém o colega.

- Cinderela, eu? Tu pareces é um queijo mozarela, sabias?

A conversa lá continuou com o rapaz a desculpar-se novamente e a rapariga, contrafeita, a dizer que sim, que estava bem, mas se calhar ainda ia falar com os pais para ele pagar o estrago nos sapatos. O rapaz dizia que sim, que gostava muito de conhecer os pais dela e até tinha uma proposta para lhes fazer… A rapariga olhou de lado e pensou «mas o que é que este quer…» Mas deixamos isso para outra altura.

Passado este episódio, outro se levantou: grossas nuvens começavam a vir da praia, sem dúvida, carregada de gordas gotas de chuva. O que se podia fazer? Como a visita estava no fim e não havia volta a dar, foram todos a correr para o Centro de Interpretação da Lagoa, mesmo a tempo de encontrarem o autocarro que acabava de chegar. Despediram-se de quem tão bem os guiara nessa visita e foram para o transporte. Mas nem imaginavam o que os esperava no autocarro…

Pois… se já tinha havido problemas com o combustível na viagem inicial, agora era o ‘bom e o bonito’; o teto do autocarro tinha uma claraboia … que não fechava.

- E agora, o que vamos fazer? – Diziam os alunos, enquanto os professores faziam ‘mil e uma chamadas’ para avisar os pais deste contratempo. O problema é que não se encontrava nenhuma solução para a entrada da água dentro do autocarro a partir da claraboia.

- Assim não. Vamos ficar todos molhados. Olha só como está o meu cabelo? – Dizia uma.

- E os meus sapatos? - Continuava a dizer a rapariga que levou o tropeção do colega.

- E já viram como está a minha maquilhagem? Estou a ficar toda esborratada – dizia outra jovem com visível aflição.

Page 6: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação

Continuar assim era impossível. Então encontraram uma estação de serviço e ao lado um MacDonald. Era tudo o que se precisava. Toda a rapaziada entrou com visível alegria naquele espaço comercial e, enquanto o motorista tentava mais uma vez encontrar a solução, professores e alunos aguardavam bem quentinhos que a chuva pelo menos passasse, usufruindo de um agradável fim de tarde em amena comunhão.

Assim foi a visita à Lagoa de Albufeira, pelo menos na imaginação de alguns…

________________________________________________________

Com a participação de Iris Faustino, Iris Silva, Marta Prates Diana Silva e Gabriela Sousa. Coordenação Pedro Delgado. Enquadramento e revisão de texto Pedro Delgado

_________________________________________________________

Page 7: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação
Page 8: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação
Page 9: Crebe-Ebiqc · Web viewDesta vez, porém, o assunto era diferente: tinham sido convidados pelo professor de Ciências Naturais para uma visita de estudo ao Centro de Interpretação