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Créditos - Instituto Arte na Escolaartenaescola.org.br/uploads/dvdteca/pdf/arq_pdf_56.pdf · no meio do caminho, diz Katia Canton no documentário. Os trabalhos de Sandra Tucci,

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SANDRA TUCCI: sensações visuais

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Ana Maria Schultze

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Sandra Tucci: sensações visuais / Instituto Arte na Escola ; autoria de Ana

Maria Schultze ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. –

São Paulo : Instituto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 75)

Foco: SE-9/2006 Saberes Estéticos e Culturais

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-98009-76-8

1. Artes - Estudo e ensino 2. Artes plásticas 3. Artes - Forma 4. Tucci,

Sandra I. Schultze, Ana Maria II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa

IV. Título V. Série

CDD-700.7

DVD

SANDRA TUCCI: sensações visuais

Ficha técnica

Gênero: Documentário sobre a obra de Sandra Tucci, com de-poimentos da artista e da crítica de arte Katia Canton.

Palavras-chave: Arte contemporânea; objeto; forma; cor; artee vida; repetição; séries; procedimentos técnicos inventivos.

Foco: Saberes Estéticos e Culturais.

Tema: A poética de Sandra Tucci e a re-contextualização deobjetos do cotidiano por meio de sua ação criadora.

Artistas abordados e personalidades: Sandra Tucci, NelsonLeirner, Henri Matisse, Anish Kapoor, Carmela Gross, AntonioDias, Tunga e Waltercio Caldas.

Indicação: A partir da 6ª série do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Direção: Sarah Yakhni.

Realização/Produção: Rede SescSenac de Televisão, São Paulo.

Ano de produção: 2001.

Duração: 23’.

Coleção/Série: O mundo da arte.

SinopseO documentário apresenta o trabalho da artista plástica paulistanaSandra Tucci com depoimentos da própria artista e da crítica dearte Katia Canton. Sandra Tucci constrói sua delicada malha poé-tica por meio da re-contextualização de um determinado objetoconhecido da vida cotidiana, que pode ganhar nova cor, superfícieou aparência, para evocar os sentidos. A artista mantém umaatitude de colecionismo, a repetição de uma determinada coisa ouforma, a serialização, a organização, esvaziando os contextos maisbanais, transformando o mundano numa espécie de ritual. Suasobras falam aos sentidos, relacionando-se à percepção da própriaartista e de quem as vê.

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Trama inventivaHá saberes em arte que são como estrelas para aclarar o cami-nho de um território que se quer conhecer. Na cartografia, parapensar-sentir sobre uma obra ou artista, as ferramentas sãocomo lentes: lente microscópica, para chegar pertinho davisualidade, dos signos e códigos da linguagem da arte, ou len-te telescópica para o olhar ampliado sobre a experiência esté-tica e estésica das práticas culturais, ou, ainda, lente com zoomque vai se abrindo na história da arte, passando pela estéticae filosofia em associações com outros campos de saberes. Porassim dizer, neste documentário, tudo parece se deixar ver pelaluz intermitente de um vaga-lume a brilhar no território dosSaberes Estéticos e Culturais.

O passeio da câmera

Contradição é a palavra que a crítica de arte Katia Canton uti-liza para nomear a obra de Sandra Tucci, nos inserindo numaprodução artística que invoca várias sincronias de tempos dife-rentes, amarrando todos os tempos num só.

Na seqüencialidade do olhar da câmera, com as falas de KatiaCanton intercaladas com as de Sandra Tucci em seu ateliê,vamos tomando contato com o universo de sensações visuaisprovocado pela artista. Somos introduzidos em conversas par-ticulares sobre o valor estético, social e inédito dos objetosbanais do dia-a-dia, que ganham novo significado a partir desua re-contextualização.

Esferas, tetas, coração, correntes, colares, pulseiras, pedaçosde moldura, moldes, alicates, entre outras coisas, habitam oateliê de Sandra Tucci para serem suporte de sua expressão.São coisas que valem pela sedução que despertam na artista eali vão ficando, para um dia, pelo gesto artístico, sofrerem umatransformação.

Sandra Tucci nos mostra cadernos com registros gráficos desuas idéias, como também os desenhos que gosta de fazer, o

material educativo para o professor-propositor

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trabalho no computador, usado como uma ferramenta paracálculos em geometria, e as maquetes para o estudo da com-posição de suas obras no espaço.

As palavras da artista revelam as nuances de seu processo decriação e de suas referências. As palavras da crítica de arteoferecem referências para olhar a obra da artista no contextoda arte contemporânea.

O documentário convida para proposições pedagógicas em Lin-

guagens Artísticas – desenho, objeto, ready-made; em Forma-

Conteúdo – a forma, a cor, padrões seriais; em Materialidade -a dimensão sedutora da matéria, os objetos do cotidiano, a rup-tura do suporte, procedimentos técnicos inventivos, subversãode usos; em Processo de Criação – a apropriação de objetos,valor estético e social, repetição, séries, diálogo com a matéria.

Neste material, o documentário desloca-se para o territórioSaberes Estéticos e Culturais como provocação para investi-gação a partir da singularidade de Sandra Tucci, da questão darepetição e serialização na produção da arte contemporânea.

Sobre Sandra Tucci

(São Paulo/SP, 1964)

(...) Me interessa muito essa coisa de repetir coisas e ver como elasse comportam de acordo com esses diferentes olhares que a gentepode estar lançando em cima das coisas, da percepção mesmo.

Sandra Tucci

Sandra Tucci é uma colecionadora. Seu trabalho começa com acoleta de coisas comuns que a artista introduz de novo na es-fera do nosso olhar. Em sua poética, as coisas resistem, fazemmuda oposição ao enquadramento útil e conceitual que a elasqueremos dar. A artista não vê as coisas como nós as ve-

mos. As coisas que vê no mundo desviam-se sempre de seus

aspectos apreensíveis, pois a espessura de seu olhar fe-

cunda as coisas de sentido.

Sandra Tucci é aluna de Nelson Leirner1 e herda seu interesse

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pela apropriação de objetos, os quais utiliza em várias lingua-gens e suportes, reforçando suas potencialidades, expandindoos sentidos. Para crítica de arte Katia Canton, a artista

tenta tirar o caos de cada objeto e colocar esse objeto num pedestal,quer dizer, transformar o cotidiano, as pequenices do cotidiano, as coisasmais mundanas numa coisa sagrada, isso você percebe na maneiraminuciosa, obsessiva com que ela serializa, organiza, esvazia os con-textos mais banais e transforma aquilo numa espécie de ritual.

As obras de Tucci impressionam: as correntes prateadas queseguram bolas de resina translúcida de cor âmbar, de um cará-ter quase sacro; as bolas azuladas, com pontos castanhos quelembram um conjunto de olhos a vigiar o espectador; ou, ainda,a série Tetas, na qual essa parte da anatomia feminina éconstruída por diversos materiais, como bronze, ferro, cera deabelha, alumínio, tecido cimentado e pintado, parafina, ferrobanhado a ouro, barro com pele de ovelha (a peça que deu ori-gem às outras) e vidro, recheados com líquidos coloridos, chei-os de brilhos e cores.

Na ação criadora que parte da reapropriação de objetos ou for-mas intimamente relacionadas ao cotidiano, a esfera é um elementorecorrente em seus trabalhos, como vemos no documentário, porexemplo, nos pseudo-quadros, com molduras douradas glamorosasque, cortadas, abertas, escorrem ou deixam escapar seus con-teúdos internos, feitos de esferas de vidro.

O desenho é fundamental e parte integrante de vários proces-sos de criação da artista, recheando seus cadernos com regis-tros visuais de idéias. Também o computador se torna ferra-menta para resolução das questões de geometria solicitada porseus Objetos flutuantes; objetos presos ao teto como as deze-nas de esferas vitrificadas na cor de âmbar e também em azul,suspensas por correntes metálicas em disposição helicoidal,formando uma estrutura que a artista chama de participativa,porque propõe uma relação física com o espectador.

Sandra Tucci, Sandra Christina Labate Tucci de batismo, épaulistana, formada em artes plásticas em 1989 e mestre empoéticas visuais em 2003, pela Escola de Comunicações e Ar-

material educativo para o professor-propositor

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tes (ECA/USP), com o projeto Formas de compor formas. Nadissertação, Sandra busca o entendimento e a compreensão deseu próprio trabalho, investigando sua inteligência plástica a partirde suas obras Crystallis, Ouriço, Ressonância mórfica e Qua-

drados, escolhidas pela artista porque partilham de característi-cas comuns em relação à transparência, ao reflexo, à luz e àmaneira geométrica de construção. No entrecruzamento de

uma produção plástica com uma produção textual, Sandra

descobre os constituintes dos seus procedimentos como ar-

tista: a operação de voltar atrás, de restituir reminiscênci-

as, de repetir analogias, de metamorfosear auto-referênci-

as, de redesenhar traços e de reconstruir aspectos plásti-

cos independentemente da intervenção de novas causas.

Atualmente, Sandra Tucci introduz em seu percurso poético umnovo material artístico: o meio digital. Partindo do primeiro la-birinto, o clássico, desenhado pelo mitológico arquiteto Dédalo,para aprisionar o Minotauro, Sandra chega ao último, a internet.

Na busca de um sentido para o mundo, Sandra Tucci cria ambi-entes repletos de beleza e de estranhamento, gerando em nóssensações visuais que conduzem os sentidos a uma nova sintoniacom o mundo, na qual beleza e a sedução são as respostas.

Os olhos da arteSe você for olhar ao longo dos anos tem algumas coisas que perma-necem. A repetição de uma determinada forma, o uso da cor, o uso demetal, a apropriação do espaço, a relação do objeto com o espaço,são coisas que estão sempre no trabalho. Estão sempre acontecendoindependente dos materiais que eu uso. Eu percebo que essas coisasse mantêm, ali, sempre. É o que constitui o corpo do trabalho.

Sandra Tucci

Nem pintura, nem escultura, nenhuma das modalidades expres-sivas convencionais. Os trabalhos de Sandra Tucci se situamno meio do caminho, diz Katia Canton no documentário.

Os trabalhos de Sandra Tucci, assim como tantos outros comos quais nos deparamos em galerias, museus e bienais dedica-

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dos à arte contemporânea, são, à primeira vista, inclassificáveise vistos com reserva por aqueles que ficam perplexos com muitodaquilo que move a arte produzida hoje.

Para pensar sobre arte contemporânea, o crítico de arte AgnaldoFarias2 oferece uma imagem interessante: a arte contemporâneaentendida como um arquipélago porque

cada boa obra engendra uma ilha, com topografia, atmosfera e vege-tação particulares, eventualmente semelhante a outra ilha, mas semconfundir-se com ela. Percorrê-la com cuidado equivale a vivenciá-la,perceber o que só ela oferece.

A força poética das “ilhas” de Sandra Tucci nos move a olhar aarte contemporânea sob dois aspectos: a repetição e aserialização.

Nas artes visuais da contemporaneidade, há uma produ-

ção marcada pela prática da repetição que nos leva, ne-

cessariamente, a novas formas de olhar e de pensar sobre

essa prática no campo artístico.

Ao contrário do senso comum, para o qual a repetição parecerepetir o já feito, na zona delicada do fazer poético, a repetição

Sandra Tucci - Vista geral da exposição Objetos, 2001

Realizada na Galeria Luisa Strina – São Paulo

material educativo para o professor-propositor

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é uma prática que gera, pela sua própria existência, um campode sentido que se multiplica serenamente.

Em Sandra Tucci, por exemplo, o uso repetitivo da esfera fazdela sua forma-chave: nas bolas de vidro de cores mágicas –âmbar e azul – dispostas de modo harmônico em seus Objetos

flutuantes; nas muitas bolinhas, inclusive as de gude, em orga-nizações caóticas, aprisionadas nos pseudo-quadros com mol-duras douradas. Na repetição da forma-esfera, Sandra reforçaa imagem-esfera, alterando nossa percepção do repetido, con-vocando em nós novas sensações visuais.

Assim, a repetição se faz “potência da linguagem” e “o pontode partida é o fato de que podemos pensar que todo ato decomposição é um atode repetição do dife-rente, uma repetiçãoque se faz diferençae não reiteração”,como propõe o filó-sofo Gilles Deleuze3 .

A repetição podetambém nascer degestos repetitivos co-mo ocorre nas obrasde Jac Leirner. Todosos seus trabalhos co-meçam com a coletae a ordenação de umagrande quantidadede um mesmo objeto.Os verbos coletar,empilhar e classificarnomeiam as ações daartista. Sua obra Pul-

mão, 1985-87, ba-seada em maços decigarro, nasce da co-

Sandra Tucci - Detalhe da exposição Objetos, 2001

Objeto flutuante azul hortência - Realizada na Galeria

Luisa Strina – São Paulo

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leta, classificação e ordenação obsessiva desse material. Tudo éutilizado no trabalho: do invólucro de celofane, que protege o pa-cote, ao selo com o preço.

As práticas repetitivas são múltiplas e diferenciadas, envolvendoprincípios de recorrência, o jogo, o acaso, as lógicas combi-natórias e as serialidades.

Enquanto procedimento serial, a série favorece a experimenta-ção e a investigação. Uma referência importante, nesse aspec-to, é Monet com sua série da catedral de Rouen, retratada emdiferentes horas do dia. O resultado compreende cerca de trin-ta telas pintadas entre abril de 1892 e 1893. Para captar o ins-tante e as variações de luz e cor sobre a fachada, Monet tinhaque executar seu trabalho rapidamente, chegando a pintarmuitas telas em um dia. O que vemos são massas de cores,que variam de uma tela a outra, conservando a forma básica, afachada da catedral vista sob o mesmo ângulo. Nessa série, aquestão pictórica é a preocupação investigativa de Monet, aoinvés de uma questão temática como pode parecer para umolhar modernista.

A repetição, frente aos conceitos modernistas do novo, do

original e do único, transgride trazendo o conceito de

reinvenção do novo. Como conceito operatório ou estilo dofazer poético na arte contemporânea, o princípio da repetiçãoque interessa aos artistas é fundamentalmente a apresenta-ção da mesma coisa sobre um aspecto diferente. Podemosmesmo dizer que são as diferenças que fazem a repetição.

O passeio dos olhos do professorConvidamos você a ser um leitor do documentário, antes doplanejamento de sua utilização. Durante a exibição, é impor-tante que você registre suas impressões. Nossa sugestão é quesuas anotações iniciem um diário de bordo, como um instrumen-to para o seu pensar pedagógico durante todo o processo detrabalho junto aos alunos.

material educativo para o professor-propositor

SANDRA TUCCI – SENSAÇÕES VISUAIS

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A seguir, uma pauta do olhar que poderá ajudá-lo.

O que o documentário desperta em você?

O que o documentário mostra sobre o processo de criaçãoda artista? Por onde começa o trabalho de Sandra Tucci?

Você percebe alguma forma-chave nos trabalhos da artista?

Os comentários da crítica de arte Katia Canton ampliam sua com-preensão do trabalho de Sandra Tucci sobre quais aspectos?

O documentário lhe deixa perguntas? O trabalho de SandraTucci lhe provoca a pesquisar sobre que assuntos?

Como poderiam ser aproveitados, na sala de aula, os cortesdos blocos do documentário? Você faria outros recortes? Deque modo?

O que você imagina que os alunos gostariam de ver nodocumentário? O que causaria atração ou estranhamento?

Para você, qual foco de trabalho pode ser desencadeado pelodocumentário e desenvolvido na sala de aula?

Agora, reveja suas anotações. Elas revelam o modo singular desua percepção e análise. A partir delas e da escolha do foco detrabalho, quais questões você faria numa pauta do olhar para opasseio dos olhos dos seus alunos pelo documentário?

Percursos com desafios estéticos

No mapa, você pode visualizar as diferentes trilhas para o focoSaberes Estéticos e Culturais. Pelas brechas do DVD, con-sideramos esse um enfoque de relevância no documentário.Apresentamos possíveis percursos de trabalho, impulsionadoresde projetos para a sala de aula, levando em conta o interessee o estudo sobre arte que o documentário pode gerar.

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

poéticas da materialidade

natureza da matéria

objetos do cotidiano: correntes, pulseiras,bolas de resina, bolas de gude, metais,vidro, colares, pedaços de moldura

qualidade e singularidade da matéria,dimensão sedutora da matéria

Materialidade

suporteprocedimentos técnicos

procedimentos técnicosinventivos, subversão de usos

computador, ferramentasnão convencionais

ruptura do suporte,pesquisa de outrosmeios e suportes

ferramentas

formação de público

agentes

experiência estética e estésica,provocar o espectador

artista, crítico de arte, curador

MediaçãoCultural

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

temáticas

relações entre elementosda visualidade

contemporânea: arte e vida

forma, cor, espaço, transparência

escala, padrões seriais, composição,conjunto, ambiência, acúmulo

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte arte contemporânea,arte serial, minimalismo

labirintosistema simbólico

sensação visual

psicologia da arte

Linguagens Artísticas

meios tradicionais

meios novos

desenho

objeto, ready-made

artesvisuais

Processo deCriação

ação criadora

poética pessoal, apropriação de objetos, repetição, séries, diálogo com a matéria,maquetes, cadernos de desenho, cálculos geométricos no computador

observação sensível,coleta sensorial

projeto poético, investigação do próprio processo

potências criadoras

produtor-artista-pesquisador

ateliê, organização, coleções, referências de artistas,artista em criação e produção

ambiência de trabalho

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciashumanas

cotidiano, mitologia

arte, ciênciae tecnologia

geometria

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O passeio dos olhos dos alunosAlgumas possibilidades:

Que coisas do cotidiano atraem o olhar dos alunos? Quaisobjetos eles guardam no “armário de coisas” pelo simples pra-zer de colecionar? Discos, pedras, bonés, bonecas, ursinhos,latas, carrinhos, botões, anéis, selos, adesivos, óculos de sol,miniaturas, canetas, broches, cartões, caixas de fósforos, fo-lhas de árvores? Convide os alunos a trazer à sala de aula osobjetos que colecionam. Puxe uma conversa: como começoua coleção? Onde encontram os objetos? O que é sedutor noobjeto para eles? Um trabalho de arte pode começar comcoisas comuns que um artista coleciona? Após o levantamentode hipóteses, exiba a primeira parte do documentário, na quala artista mostra seus objetos e fala sobre seu processo decriação. O que surpreende os alunos?

A esfera é uma forma-chave no trabalho de Sandra Tucci. Aproposta é uma investigação com essa forma na linguagemtridimensional, utilizando esferas de isopor, por exemplo. Odesafio pode ser uma composição com agrupamentos dasesferas revestidas com materiais que gerem sensações vi-suais: esferas-espinhentas, esferas-peludas, esferas-perfurantes, entre outras invenções. Após a produção rea-lizada e uma conversa sobre o uso repetitivo da forma-es-fera e as sensações visuais provocadas, proponha a exibiçãodo documentário. Quais aproximações os alunos estabele-cem entre a investigação que realizaram e as obras deSandra Tucci?

Colecionar, serializar, organizar. As três ações geram um tra-balho de arte? O que pensam os alunos? Após a conversa,exiba o documentário a partir da fala de Katia Canton:

A Sandra, ela tenta tirar o caos de cada objeto e colocar esse objeto numpedestal, quer dizer, transformar o cotidiano, as pequenices do cotidiano,as coisas mais mundanas numa coisa sagrada, isso você percebe na ma-neira minuciosa, obsessiva com que ela serializa, organiza, esvazia oscontextos mais banais e transforma aquilo numa espécie de ritual.

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Após a exibição, a fala de Canton pode ser retomada comos alunos. Quais procedimentos eles identificam no proces-so de criação da artista?

Todas as sugestões aqui apresentadas podem gerar outras, coma intenção de provocar os alunos para a observação dodocumentário. Pode-se, ainda, pedir aos alunos que lancemquestões prévias que gostariam de ver respondidas pelo DVD.

Ampliando o olhar

Sandra Tucci foi aluna de Nelson Leirner e herdou a idéia deapropriação de objetos do cotidiano. Conhecer Leirner podelevar os alunos a uma melhor compreensão sobre a utiliza-ção de um objeto já pronto que pelos seus predicados sedestaca aos olhos do artista. Que aproximações os alunospodem descobrir entre Nelson Leirner e Marcel Duchamp,sobre a idéia de apropriação de objetos e os ready-made?

A repetição, principalmente da forma, é um procedimento ado-tado por Sandra Tucci em seu processo de criação. Nominimalismo, ao se buscar reduzir a obra aos mínimos elemen-tos formais possíveis, como cor, linha ou volume, a repetiçãode um mesmo elemento torna-se uma constante em obras deartistas como Donald Judd, Robert Morris, Carl Andre, RobertMangold e Richard Serra. A leitura comparativa de obras des-ses artistas é uma possibilidade para apuramento do olhar sobreo conceito operatório da repetição.

Em nova exibição do documentário, faça com os alunos ummapeamento das diversas linguagens utilizadas por SandraTucci, selecionando obras exibidas como exemplos.

Outra constância na obra de Sandra Tucci é o uso da cor, dometal, a apropriação do espaço e a relação objeto/espaço,como é apontado por ela mesma no documentário. Re-exibin-do o documentário, os alunos identificam esses elementos nasobras mostradas e entre o material acumulado no ateliê?

Em relação à estética do cotidiano, os alunos podem pes-

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quisar pequenos exemplos de procedimento serial em suaspróprias casas: pequenos santuários ou oratórios, com ima-gens e flores de papel ou plástico; um presépio de Natal compeças de diferentes coleções ou tamanhos; uma colcha deretalhos feita pela mãe ou pela avó; a estante da sala, en-feitada com lembrancinhas de maternidade, casamento,festa de aniversário de 15 anos etc. Os exemplos podemser vários e a idéia central é que investiguem: de que formaas coisas se acumulam e se repetem em seu próprio meio,através de composições espontâneas?

Conhecendo pela pesquisaPesquisando pela música:

E.c.t.

Cássia EllerComposição: Nando Reis, Marisa Monte, Carlinhos Brown

Tava com o cara que carimba postaisQue por descuido abriu uma carta que voltouTomou um susto que lhe abriu a bocaEsse recado veio pra mim, não pro senhorRecebo craque colante, dinheiro parco embrulhadoEm papel carbono e barbanteE até cabelo cortado, retrato de 3x4Pra batizado distanteMas, isso aqui, meu senhor,É uma carta de amor

Levo o mundo e não vou lá...

Mas esse cara tem a língua soltaA minha carta ele musicouTava em casa, a vitamina prontaOuvindo no rádio a minha carta de amorDizendo: eu caso contente, papel passado e presenteDesembrulhado o vestidoEu volto logo, me esperaNão brigue nunca comigoEu quero ver nosso filhoO professor me ensinou a fazer uma carta de amor

Levo o mundo e não vou lá...

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Objetos da vida diária: a figura do craque, o dinheiro envi-ado às escondidas em uma carta, a mecha de cabelo, o re-trato para o documento... Que significado tem cada um des-ses objetos para as pessoas? E para o funcionário do cor-reio? Será que ele atribui a todas essas miudezas dodia-a-dia o mesmo valor que os remetentes ou os destina-tários das cartas? Ou o sentido e importância são dados pelocontexto em que se inserem, no mundo de cada qual? Quemundos levam? Para onde? E os mundos imaginados porTucci em suas obras, para onde nos levam?

Uma colecionadora incansável, capaz de fuçar pequenosarmarinhos, depósitos de ferro-velho, casas de umbanda,objetos trazidos de viagens... Assim é Sandra Tucci. Quecoleções você pode montar com seus alunos? Das coisascolecionadas, o que é possível inventar fazendo um novo ob-jeto, uma nova forma, pela apropriação do objeto? Re-exi-ba, como nutrição estética, o trecho do documentário no qualTucci, em seu ateliê, apresenta seus objetos referenciais,coletados e colecionados, e que fazem parte de seu voca-bulário poético.

Henri Matisse, Carmela Gross, Tunga, Antonio Dias eWaltercio Caldas são citados por Tucci no documentáriocomo artistas que a emocionam. O que os alunos podemdescobrir sobre esses artistas e a ressonância deles notrabalho de Tucci?

O labirinto é uma imagem emblema do trabalho de SandraTucci e essa imagem persiste na história da humanidade. Entreos labirintos da antiguidade, temos o cretense imortalizadopelas narrativas míticas da construção de Dédalo para apri-sionar o minotauro. O que os alunos podem descobrir sobreesse mito? Como também, o que podem encontrar comodiferentes formas de representação gráfica do labirinto? Oslabirintos construídos em jardim como o de Versalhes, labi-rinto do videogame, labirinto na ciência ou nos trabalhos deweb arte são possíveis fios de Ariadne para a pesquisa.

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Desvelando a poética pessoalComo já sugere este percurso, o acompanhamento, orientaçõese sugestões que você pode oferecer, será na direção de provo-car o aluno para uma investigação de sua própria poética. Asproposições indicadas não se resumem à realização de um únicotrabalho, mas buscam a criação e apresentação de uma sérieque depois possa ser apreciada e discutida sob a perspectivada pesquisa pessoal da poética de cada um.

A escolha é um ponto importante para que a poética pessoalpossa ser revelada. A partir do documentário de Sandra Tucci,sugerimos a criação de trabalhos que provoquem a audição, avisão, o tato, ou mesmo o olfato e o paladar, escolhendo entre:

objetos a partir de elementos do cotidiano, ressignificando-os em nova situação por meio do descolamento de seu con-texto original.

marcas emblemáticas, como é o labirinto para Sandra Tucci,gerando pinturas, objetos ou tatuagens4 .

contaminação de linguagens artísticas, envolvendo duas oumais linguagens, como por exemplo: escultura e vídeo, fo-tografia e assemblage, desenho e teatro.

Acompanhar essas produções, conversando sobre os esboços,oferecendo novas pistas e idéias para a superação das dificul-dades, é uma ação pedagógica adequada, que pode ser, inclu-sive, filmada. Ao final, expor as produções, os esboços e mes-mo os vídeos documentários enriquece a reflexão sobre ques-tões contemporâneas, a partir das criações de cada aluno.

Amarrações de sentidos: portfólioTal qual uma mala de viagem, o portfólio acolhe o que foi des-coberto e trabalhado neste projeto sensível aos saberes e sa-bores estéticos e culturais. Dar sentidos ao que se estudou éum momento especial, por isso muito mais do que apenas guar-dar os trabalhos realizados no fazer-artístico, o portfólio pode

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SANDRA TUCCI – SENSAÇÕES VISUAIS

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ser o suporte para pensar sobre o que foi estudado. Os cader-nos de Tucci, mostrados no documentário, são a referência paraa criação do portfólio. Cadernos em branco, grandes, ou cria-dos com papel reciclado pelos alunos, podem acomodar os re-gistros textuais, visuais, as descobertas das pesquisas, as re-flexões e experimentações.

Valorizando a processualidadeA apresentação e discussão, a partir dos cadernos-portfólio,podem desencadear boas reflexões sobre a experiência dospercursos vivenciados no projeto desencadeado pelodocumentário. O que os alunos percebem que conheceram?Houve transformações no modo de compreensão da arte con-temporânea? Qual conceito e experiência foram mais signi-ficativos?

É momento também de você refletir a partir do seu diário debordo. O que você percebe que aprendeu com este projeto?Quais novos achados para sua ação pedagógica foram desco-bertos nesta experiência? O projeto germinou novas idéias emvocê? Que outro documentário você poderia buscar na DVDtecaArte na Escola?

GlossárioArte serial – ou arte dos sistemas. Arte que explora a repetição, a varia-ção progressiva ou a simplificação minimalista, e que abrange desde as sériesde Monet até as obras dos artistas conceituais no século 20. Os nomesassociados ao termo incluem Josef Albers, Carl Andre, Sol LeWitt e AndyWarhol. Fonte: DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos: guia enci-clopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, p. 290.

Labirinto – figura presente no imaginário desde a pré-história. Em essên-cia, o labirinto é uma estrutura complexa. Essa complexidade pode se darde diversas formas. A primeira, aquela que nos surge como emblema dolabirinto, revela um padrão formado por ciclos e circunvoluções. Podemosconceber a complexidade labiríntica também como um território repletode encruzilhadas, no qual os caminhos bifurcam-se o tempo todo. Nessadefinição, falamos em caminhos certos e errados, em sucesso e becos sem

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saída. O labirinto, como o próprio modelo de complexidade, é visto nãosimplesmente como um mito ou arquétipo, mas está presente tanto nosteatros de espelhos, quanto na estrutura do DNA e também na matemá-tica fractal, no desenho do chip e na rede planetária internet. Fonte: LEÃO,Lucia. A estética do labirinto. São Paulo: Ed. Universidade AnhembiMorumbi, 2002.

Minimalismo – termo designativo de uma tendência na pintura e, maisespecificamente, na escultura, surgida na década de 50, que pregava ouso apenas das formas geométricas mais elementares. O minimalismo estáparticularmente ligado aos Estados Unidos, e sua impessoalidade é vistacomo uma reação ao emocionalismo do expressionismo abstrato. Fonte:CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de arte. São Paulo: Martins Fontes,1996, p. 353.

Ready-made – “Nome dado por Marcel Duchamp a um tipo de obra queinventou, consistindo em um artigo produzido em massa, selecionado aoacaso e exposto como obra de arte. Seu primeiro ready-made (1912) foiuma roda de bicicleta montada sobre um banquinho. Duchamp distinguiao ready-made do objet trouvé, salientando que enquanto este, depois dedescoberto, é escolhido por suas qualidades estéticas, beleza e singulari-dade, o ready-made é apenas um – qualquer um – de um grande númerode objetos idênticos, sem individualidade ou características próprias.Assim, enquanto a seleção do objet trouvé implica um exercício de gosto,a escolha do ready-made se dá totalmente ao acaso”. Fonte: CHILVERS,Ian. Dicionário Oxford de arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 438.

Repetição – “Mais precisamente, repetições. Nas artes plásticas são to-dos os processos que de alguma forma repetem o já existente no universode formas, e/ou procedimentos que estabelecem sistemáticas absolutas,ou seja, sistemáticas recorrentes que não permitem quase variações e, ain-da, os processos cumulativos, em que os elementos se acrescentam unsaos outros. A questão da repetição deve ser vista sob dois enfoques dife-renciados: por um lado, como procedimento, por outro, como estilo”. Fonte:CATTANI, Icléia Borsa. Série e repetição na arte moderna e contemporâ-nea. In: OLIVEIRA, Ana Claudia de; FECHINE, Yvana (ed.). Semiótica da

arte: teorizações, análises e ensino. São Paulo: Hacker, 1998, p. 193.

BibliografiaAGRA, Lucio. História da arte do século XX: idéias e movimentos. São Paulo:

Anhembi Morumbi, 2004.

ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Pau-lo: Martins Fontes, 2001.

material educativo para o professor-propositor

SANDRA TUCCI – SENSAÇÕES VISUAIS

19

BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 1997.

CATTANI, Icléia Borsa. Série e repetição na arte moderna e contem-porânea. In: OLIVEIRA, Ana Claudia de; FECHINE, Yvana (ed.).Semiótica da arte: teorizações, análises e ensino. São Paulo:Hacker, 1998.

COSTA, Cacilda Teixeira da. Arte no Brasil 1950-2000: movimentos emeios. São Paulo: Alameda, 2004.

FARIAS, Agnaldo. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. (Folha explica).

LEÃO, Lucia. A estética do labirinto. São Paulo: Ed. Universidade AnhembiMorumbi, 2002.

PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

TUCCI, Sandra. Formas de compor formas. Dissertação (Mestrado) –Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 2003.

Seleção de endereços de artistas na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 26 out. 2005.

ANDRE, Carl. Disponível em: <www.artnet.com/artist/1516/carl-andre.html>.

CALDAS, Waltercio. Disponível em: <www.raquelarnaud.com/www_raquelarnaud_bco/walterciocaldas/ptf_01.html>.

DIAS, Antonio. Disponível em: <www.antoniodias.com>.

DONALD, Judd. Disponível em: <www.artnet.com/artist/662653/donald-judd.html>.

DUCHAMP, Marcel. Disponível em: <www.kandinsky.com.br/bio_artistas/pqnaoespirrar.htm>.

GROSS, Carmela. Disponível em: <www.raquelarnaud.com/>.

KAPOOR, Anish. Disponível em: <www.artnet.com/artist/9235/anish-kapoor.html>.

LEIRNER, Jac. Disponível em: <www.geocities.com/rioartecultura/jacleirner.htm>.

LEIRNER, Nelson. Disponível em: <www.britocimino.com.br/port/artis-tas/leirner/leirner.htm>.

MANGOLD, Robert. Disponível em: <www.artnet.com/artist/11059/robert-mangold.html>.

MATISSE, Henri. Disponível em: <www.artnet.com/artist/11322/henri-matisse.html>.

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MONET, Claude. Disponível em: <http://genesis.uag.mx/material/monet/Pinturas.htm>.

MORRIS, Robert. Disponível em: <www.artnet.com/artist/22779/robert-morris.html>.

SERRA, Richard. Disponível em: <www.artnet.com/artist/15340/richard-serra.html>.

TUCCI, Sandra. Disponível em: <www2.uol.com.br/luisastrina/>

___. Disponível em: <www.mac.usp.br/exposicoes/03/ibirapuera/40artis-tas/tucci.html>.

___. Disponível em:<www.galeriadoposte.hpg.ig.com.br/sandra%20tucci.html>.

TUNGA. Disponível em: <www.universes-in-universe.de/doc/tunga/e_tunga1.htm>.

Notas1 Consulte o documentário sobre Nelson Leirner disponível na DVDtecaArte na Escola.2 Agnaldo FARIAS, Arte brasileira hoje, p.20.3 DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988, p.457.4 Para as tatuagens é possível utilizar henna, comercializada em pó, mis-turada com água, o que produz uma pasta grossa, permitindo desenharna pele. Para removê-la, basta lavar com água e sabão.