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SBRT – Formulário de Resposta Técnica Padrão 1 Resposta Técnica Assunto Produtos químicos Palavras-chave Creme dental; dentifrícios; pasta de dentes. Identificação da demanda Como fabricar creme dental; fórmulas de creme dental, processos para fabricação, maquinários e registros. Solução apresentada 1. Introdução O desenvolvimento das pastas de dentes iniciou-se por volta dos anos 300/500 AC nas antigas China e Índia. De acordo com a história chinesa, um homem chamado Huang-ti foi o primeiro a estudar os cuidados com os dentes. Durante os anos 3000/500 AC, os povos egípcios elaboravam a pasta de dentes misturando cinzas de ossos de boi, pó de arroz e cascas de ovos queimados. Achados posteriores mostraram que todos esses ingredientes deveriam ser misturados em conjunto, porém, não especificavam como deveria ser utilizado o pó obtido dessa mistura. Supõe-se que os antigos egípcios utilizavam seus dedos para esfregar esta mistura em seus dentes. Relatos da antiga Índia, China e Egito mostraram que os gregos e romanos foram os povos que desenvolveram e aperfeiçoaram o creme dental. Foram estas civilizações também quem desenvolveram os primeiros instrumentos para a extração de dentes e foram também os primeiros a “amarrar” dentes perdidos juntamente aos dentes artificiais através de fios de ouro. Com a queda do império romano, a evolução e desenvolvimento do creme dental tornou-se obscuro e pouco se conhece sobre as mudanças ocorridas. Alguns achados mostram que a civilização persa também desenvolveu o creme dental. Outras receitas persas incluíam partes de animais secos (em pó), ervas, mel e minerais. A pasta de dentes ou dentifrício foi inicialmente desenvolvida na Inglaterra no fim do século 18. Era apresentada em um pote de cerâmica, podendo vir em forma de pó ou em forma de pasta. Os ricos aplicavam na escova, enquanto a população pobre utilizava os dedos. Os pós eram desenvolvidos pelos doutores, dentistas e químicos e freqüentemente continham ingredientes que eram ligeiramente abrasivos e nocivos aos dentes, como por exemplo, pó de tijolo e porcelana. Para torná-la mais agradável adicionava-se glicerina em sua composição. No início do século 19, o ingrediente estrôncio foi introduzido. Foi utilizado inicialmente para fortalecer os dentes e diminuir a sensibilidade. Posteriormente, o pó de bórax foi usado para dar a consistência de gel. Antes da segunda grande guerra a maioria dos cremes dentais utilizavam sabões como agente emulsificante. Todavia, após a guerra, o desenvolvimento do lauril sulfato de sódio pôs fim ao uso dos saponáceos nos cremes dentais.

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SBRT – Formulário de Resposta Técnica Padrão 1

Resposta Técnica Assunto Produtos químicos Palavras-chave Creme dental; dentifrícios; pasta de dentes. Identificação da demanda Como fabricar creme dental; fórmulas de creme dental, processos para fabricação, maquinários e registros. Solução apresentada

1. Introdução O desenvolvimento das pastas de dentes iniciou-se por volta dos anos 300/500 AC nas antigas China e Índia. De acordo com a história chinesa, um homem chamado Huang-ti foi o primeiro a estudar os cuidados com os dentes. Durante os anos 3000/500 AC, os povos egípcios elaboravam a pasta de dentes misturando cinzas de ossos de boi, pó de arroz e cascas de ovos queimados. Achados posteriores mostraram que todos esses ingredientes deveriam ser misturados em conjunto, porém, não especificavam como deveria ser utilizado o pó obtido dessa mistura. Supõe-se que os antigos egípcios utilizavam seus dedos para esfregar esta mistura em seus dentes. Relatos da antiga Índia, China e Egito mostraram que os gregos e romanos foram os povos que desenvolveram e aperfeiçoaram o creme dental. Foram estas civilizações também quem desenvolveram os primeiros instrumentos para a extração de dentes e foram também os primeiros a “amarrar” dentes perdidos juntamente aos dentes artificiais através de fios de ouro. Com a queda do império romano, a evolução e desenvolvimento do creme dental tornou-se obscuro e pouco se conhece sobre as mudanças ocorridas. Alguns achados mostram que a civilização persa também desenvolveu o creme dental. Outras receitas persas incluíam partes de animais secos (em pó), ervas, mel e minerais. A pasta de dentes ou dentifrício foi inicialmente desenvolvida na Inglaterra no fim do século 18. Era apresentada em um pote de cerâmica, podendo vir em forma de pó ou em forma de pasta. Os ricos aplicavam na escova, enquanto a população pobre utilizava os dedos. Os pós eram desenvolvidos pelos doutores, dentistas e químicos e freqüentemente continham ingredientes que eram ligeiramente abrasivos e nocivos aos dentes, como por exemplo, pó de tijolo e porcelana. Para torná-la mais agradável adicionava-se glicerina em sua composição. No início do século 19, o ingrediente estrôncio foi introduzido. Foi utilizado inicialmente para fortalecer os dentes e diminuir a sensibilidade. Posteriormente, o pó de bórax foi usado para dar a consistência de gel. Antes da segunda grande guerra a maioria dos cremes dentais utilizavam sabões como agente emulsificante. Todavia, após a guerra, o desenvolvimento do lauril sulfato de sódio pôs fim ao uso dos saponáceos nos cremes dentais.

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2. Características dos cremes dentais Destinados à higiene dos dentes e da boca em geral, apresentam-se no mercado em forma de creme ou pasta, líquido e pó. Entre as condições que se requerem de um bom produto dentifrício se destacam: não deve conter nenhum corpo duro, capaz de deteriorar o esmalte dos dentes, nem tampouco ácido algum; deve compor-se de substâncias tônicas, absorventes, apropriadas para polir o esmalte sem estraga-lo; em geral, deve deixar na boca um gosto agradável, ao mesmo tempo em que exercem uma ação anti-séptica. A composição dos cremes dentais depende da sua aplicação final. O objetivo do creme é atuar como um detergente, para auxiliar na limpeza e remoção de resíduos, e neste caso normalmente é usado o lauril sulfato de sódio. Em geral os produtos disponíveis tem uma composição bastante simples, sendo os seus constituintes não mais do que abrasivos, detergentes e agentes terapêuticos. Aos abrasivos cabe um dos papeis mais importantes, o qual é desempenhado geralmente por partículas de sílica de diâmetro entre 4 e 12 mm. Outros agentes como carbonato de cálcio, fosfato de cálcio e alumina triidratada podem também ser incorporados. O teor de abrasivo é crítico, uma vez que deve ser suficientemente abrasivo para remover manchas e placa bacteriana sem danificar a superfícies dos dentes. O esmalte dentário é principalmente constituído pelo mineral hidroxiapatite. Os ácidos produzidos pelas bactérias orais dissolvem os cristais de hidroxiapatite do esmalte dentário, libertando íons cálcio e fosfato. Esta desmineralização dos dentes conduz ao aparecimento de zonas enfraquecidas com o susceptível surgimento de cáries dentárias. Na presença de fluoreto e saliva (que fornece os necessários íons cálcio e fosfato), forma-se fluoroapatite, remineralizando o esmalte dentário. A maior estabilidade da fluorapatite confere-lhe uma maior estabilidade e menor solubilidade em meio ácido, sendo a sua solubilidade em ácido láctico 100 vezes menor que a da hidroxiapatite. O fluoreto é o principal agente terapêutico usado, sendo o fluoreto de estanho, o monofluorofosfato de sódio e o fluoreto de sódio alguns dos compostos mais usados. A sua ação pode não passar apenas pela remineralização do esmalte e pela redução da solubilidade em meio ácido, mas também por interferir no metabolismo e crescimento das bactérias produtoras de ácido na placa bacteriana e por inibir a formação de polissacarídeos que promovem a adesão de bactérias às superfícies do esmalte. Dentre os principais componentes existentes em um tubo de creme dental destacam-se:

Abrasivos – Responsáveis pela limpeza dos dentes. Podem ser compostos por carbonato de cálcio, fosfato de cálcio ou alumina, por exemplo. Protetores – Têm o objetivo de combater a formação de cáries: fluoreto de sódio, Monofluorfosfato de sódio. Anti-sépticos – Protegem contra bactérias. São duas substâncias: cloreto de cetilpiridinio etriclosan. Quelantes – Previnem a formação de tártaro: pirofosfato de sódio, citrato de zinco. Composto de proteção intensiva – Prolonga a ação protetora, dependendo da dieta do usuário. O complexo de polímero de ácido maléico cumpre essa função.

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Espessantes – Gelatina que serve para encorpar a pasta: carboximetilcelulose ou sílica. Umectantes – Tornam a pasta brilhante e cremosa: glicerina, sorbitol ou polietileno glicol. Tensoativo – Produz a espuma: lauril sulfato de sódio. Conservantes – Evitam a degradação dos produtos que compõem a pasta: metilparabeno, propilparabeno, silicato de sódio e formaldeído. Aromáticos – Composições de substâncias variadas, conforme a marca: mentol, eucalipto, hortelã. Dulcificante – Serve para adoçar o produto. A sacarina sódica cumpre essa função.

Formulação

1a. fórmula

Carbonato de cálcio precipitado 1950 partes (peso)

Carbonato de magnésio 750 partes (peso)

Caulim 300 partes (peso)

Sacarina refinada em pó 2 partes (peso)

Mentol cristalizado 5 partes (peso)

Helioprina em pó 5 partes (peso)

Mel de abelhas, branco 1500 partes (peso)

Glicerina 1500 partes (peso)

Essência de anis 3 partes (peso)

Essência de gerânio 3 partes (peso)

Essência de hortelã pimenta 50 partes (peso)

Misturam-se todas as essências com o caulim, de modo a obter-se um pó fino uniforme. Juntam-se em seguida os carbonatos e o pó resultante se passa por uma peneira M/50. A fogo lento dissolvem-se o mel e a glicerina; quando este líquido estiver frio, deve ele ser lançado pouco a pouco, sobre o pó, misturando-se bem para que se obtenha uma pasta homogênea, a qual em seguida vai para os tubos, ou bisnagas. O produto desta fórmula é de primeira qualidade, para uma pasta de dentes extrafina. O carbonato de cálcio precisa de ser de muito boa classe, pois do contrário faria o produto áspero e de pouca precipitação.

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2a. fórmula

Carbonato de cálcio em pó finíssimo 3 kg

Carbonato de magnésio ½kg

Sabão branco em pó, muito fino 1kg

Glicerina pura 4kg

Perborato de sódio 40g

Mentol 10g

Anetol 40g

Essência de hortelâ-pimenta 50g

Essência de lavanda 20g

Passam-se todos os pós, bem misturados, por uma peneira M/50; coloca-se o pó filtrado no batedor, juntam-se os demais ingredientes e batem-se energeticamente, até que se obtenha uma perfeita emulsão, pastosa, branca, de cheiro e paladar agradáveis. Se o creme ficar muito duro corrige-se o defeito pela adição de glicerina ou de um pouco de água destilada; se, pelo contrário, ficar demasiadamente fluído, junta-se carbonato de magnésio. Em qualquer fórmula de dentifrício, em creme ou em líquido, pode-se substituir as essências, de acordo com o gosto do fabricante. Podem elas também entrar no produto depois deste pronto, adicionadas na base de 5 a 10 gramas para cada quilo de pasta que se deseja obter.

Conclusão e recomendações Para início da produção de creme dental cabe ressaltar que existem decisões importantes a serem tomadas pelo produtor, quanto ao tipo de produto a ser fabricado e qual o principal mercado consumidor ele quer atingir. Somente a partir do momento que identificar também quais tipos de creme dental (pasta, creme, ou gel), se haverá coloração total ou parcial dos produtos a serem fabricados, dentre outros aspectos, será possível indicar os fornecedores de matérias primas e os equipamentos a serem utilizados.

Há necessidade de identificar qual tipo de creme dental será produzido, dentre eles: anticárie, antitártaro e antiplaca, pois o anticárie contém flúor, e a antitártaro contém em, acréscimo, substâncias que reduzem a formação de tártaro, e os antiplacas contêm substâncias antimicrobianas.

A adição de uma ou outra forma de flúor na pasta ( as mais comuns são o NaF e o MFP ) varia de acordo com o tipo de abrasivo que esta contém. Não se recomenda o uso de cremes dentais com concentração de flúor abaixo de 1000 ppm, pois a sua eficiência ainda não está comprovada (1000-1100 ppm são o ideal ).

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Quanto ao bicarbonato de sódio, por ser uma substância alcalinizante e tamponante, hipoteticamente ele poderia neutralizar os ácidos produzidos na placa dental quando da exposição a açúcar.

Deverá ser considerado se será produzido creme dental com abrasividade baixa, média e alta intensidade, o que é fundamental para garantir a limpeza e o polimento dental. Há que se considerar que o desgaste e abrasão dental estão mais relacionados com o modo de escovar, o tipo de escova, as substâncias ácidas (refrigerantes, enxaguatórios, frutas ) consumidas ou usadas antes da escovação do que com o poder intrínseco do abrasivo.

Quanto aos dentifrícios para redução de sensibilidade existem estudos que informam: dentifrícios que contém nitrato de potássio têm mostrado média de 30% de redução de sensibilidade do indivíduo, do uso de substâncias erosivas e do modo de escovar os dentes.

No que se refere às pastas clareadoras, sabe-se que o princípio básico está no poder oxidante do peróxido, que descora os dentes ao oxidar pigmentos dentais, promovendo assim uma "remoção" química.

Legislação A Agência Nacional de Vigilância Sanitária / ANVISA possui legislação específica para cada tipo de produto a ser fabricado. Existem regulamentações de fabricação do produto, manipulação, embalagens, como por exemplo:

• Portaria nº 71, de 29 de maio de 1996, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde: apresenta as informações indispensáveis que devem constar nas embalagens dos dentifrícios.

• Portaria nº 21, de 25 de outubro de 1989, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde: estabelece requisitos para assegurar a qualidade e a eficácia dos cremes dentais.

Referências

- Orientações sugeridas por Jaime A. Cury - Professor Titular de Bioquímica da FOP - UNICAMP. REVISTA DA APCD V. 52, N. 6, NOV./DEZ. 1998.

- Site da Engetecno: www.engetecno.com.br - Site da ANVISA: www.anvisa.gov.br

Nome do técnico responsável Vanda Luci Gomes Paiva Bolsista do CNPq Nome da Instituição respondente Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais / CETEC Data de finalização 31/03/2005