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25 EDIÇÃO 29 ORÇAMENTO E POLÍTICA AMBIENTAL Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - INESC Ano XI - Dezembro de 2012 E D I T OR I A L Crenças e Descrenças na Economia Verde N a medida em que o discurso da econo- mia verde vai se institucionalizando, ga- nhando corpo e ares de supremacia em diferentes grupos sociais e políticos, é com curiosidade (e apreensão, diriam alguns) que vemos serem esta- belecidos e naturalizados novos limites e critérios de razoabilidade, seja à reflexão, seja à ação individual e coletiva sobre os rumos das políticas públicas no Brasil. Vemos esse discurso ganhando espaço inclusive em setores da esquerda nacional/globalizada/desen- volvimentista. Esquerda essa que, institucionalizada, vem ocupando e galgando espaços de poder no apa- relho de Estado e nas esferas produtiva e financeira. Esmiuçar e destrinchar esse novo discurso e as evi- dências empíricas apresentadas a seu favor e contra é não somente desejável, mas fundamentalmente ne- cessário. Esse é um dos objetivos deste boletim, que obviamente não tem a pretensão de esgotar o assunto. O boletim começa apresentando a noção de economia verde e como ela surge na cena interna- cional e nacional, redefinindo e dando um novo sig- nificado para políticas, ações e atividades, tanto dos setores públicos, quanto privados. Segue apresen- tando as dúvidas e questionamentos em relação a ela e as incertezas que pairam em certos setores da sociedade nacional e internacional sobre a sua apli- cação e sobre a distribuição dos benefícios gerados. Por fim, discorre sobre aplicações do concei- to, mostrando a flexibilidade que ele comporta, e também os riscos que corre de ser apropriado pelos mesmos setores políticos, econômicos e financeiros que levaram o planeta e o mundo ao estado de alar- me em que hoje nos encontramos. boletim-29.indd 1 17/12/12 17:51

Crenças e Descrenças na Economia Verde

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Boletim n. 29 de Orçamento e Política Ambiental

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25EDIÇ

ÃO 29 ORÇAMENTO E POLÍTICA AMBIENTAL

Publicação do Instituto deEstudos Socioeconômicos - INESC

Ano XI - Dezembro de 2012

E D I T O R I A L

Crenças e Descrenças naEconomia Verde

Na medida em que o discurso da econo-mia verde vai se institucionalizando, ga-nhando corpo e ares de supremacia em

diferentes grupos sociais e políticos, é com curiosidade (e apreensão, diriam alguns) que vemos serem esta-belecidos e naturalizados novos limites e critérios de razoabilidade, seja à reflexão, seja à ação individual e coletiva sobre os rumos das políticas públicas no Brasil.

Vemos esse discurso ganhando espaço inclusive em setores da esquerda nacional/globalizada/desen-volvimentista. Esquerda essa que, institucionalizada, vem ocupando e galgando espaços de poder no apa-relho de Estado e nas esferas produtiva e financeira. Esmiuçar e destrinchar esse novo discurso e as evi-dências empíricas apresentadas a seu favor e contra é não somente desejável, mas fundamentalmente ne-cessário. Esse é um dos objetivos deste boletim, que obviamente não tem a pretensão de esgotar o assunto.

O boletim começa apresentando a noção de economia verde e como ela surge na cena interna-cional e nacional, redefinindo e dando um novo sig-nificado para políticas, ações e atividades, tanto dos setores públicos, quanto privados. Segue apresen-tando as dúvidas e questionamentos em relação a ela e as incertezas que pairam em certos setores da sociedade nacional e internacional sobre a sua apli-cação e sobre a distribuição dos benefícios gerados.

Por fim, discorre sobre aplicações do concei-to, mostrando a flexibilidade que ele comporta, e também os riscos que corre de ser apropriado pelos mesmos setores políticos, econômicos e financeiros que levaram o planeta e o mundo ao estado de alar-me em que hoje nos encontramos.

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A quem interessa a economia verde?Ricardo Verdum 1

1. NOVA PROSA DO DESENVOLVIMENTO

De 13 a 22 de junho passado, foi realizada no Rio de Janeiro a Con-ferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a “Rio+20”, com ficou mais conhecida. O evento teve basicamente três objeti-vos oficiais. O primeiro foi a renovação do compromisso político dos Estados--membros das Nações Unidas com a promoção do desenvolvimento sustentável; o segundo foi debater como atingir uma economia global verde em um contexto de desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza; e, por fim, o terceiro foram os passos necessários em direção a um arcabouço internacional mais eficiente para promover o desenvolvimento sustentável, incluindo reformas ne-cessárias no sistema das Nações Unidas.

A Rio+20 proporcionou a incorporação definitiva da noção de economia verde no vocabulário nacional e internacional. Esse entendimento foi tornado visível em 2008, por meio da campanha por um Novo Acordo Verde Mundial (GGND, sigla em inglês), desencadeada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Nesse contexto, coube ao PNUMA os primeiros esforços de estabelecer um significado operativo à noção de economia verde. Contudo, como veremos mais a frente, o resultado alcançado é ainda controverso e polêmico, particu-larmente para as organizações e movimentos sociais que veem nesse esforço um claro viés em favor do ambientalismo de mercado e, particularmente, do mercado financeiro como regulador das relações de produção e consumo e da sua interação com o ambiente natural. Nas palavras do PNUMA:

“uma economia verde deve melhorar o bem estar do ser humano e a equidade social, ao mesmo que reduzir significativamente os riscos ambientais e a degradação ecológica. Em sua forma mais básica, uma economia verde seria aquela que tem baixas emissões de carbono, utiliza os recursos de forma eficiente e é socialmente inclusiva. Em uma economia verde, o aumento da renda e o cres-cimento de empregos devem derivar-se de investimentos públicos e privados destinados a reduzir as emissões de carbono e a conta-minação, a promover a eficiência energética assim como o uso de recursos, e a evitar a perda de diversidade biológica e de serviços dos ecossistemas. Esses investimentos deverão ser canalizados e

1 Professor e pesquisador do

CEPPAC/UnB e consultor do INESC. [email protected]

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Cf. Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento

Sustentável e a Erradicação da Pobreza - Síntese para Tomadores de Decisão (resumo executivo em português), disponível nos endere-

ços: www.unep.org ewww.unep.org/greeneconomy.

Cf. o debate envolvendo Liszt Vieira (atual presidente do Jardim

Botânico do Rio de Janeiro) e Fátima Mello (Fase), disponível em http://www.fase.org.br/v2/pagina.

php?id=3718

6 Cf. www.fundoamazonia.gov.br/

Cf. PINTO, H. S. et al. (2012) , Diretrizes para uma Economia Verde

no Brasil: Avanços Tecnológicos para a Agricultura Familiar, São

Paulo: Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, 2012.

respaldar-se com gastos públicos seletivos, reformas políticas e mudanças na regulação. O caminho ao desenvolvimento deve manter, melhorar e, onde seja necessário, reconstruir o capital natural como ativo econômico fundamental e fonte de benefícios públicos, especialmente para as pessoas cuja sustentabilidade e segurança dependem da Natureza.” 2

Em linhas gerais, a retórica a favor da chamada economia verde que emerge da cena acima apontada tem apresentada como sendo uma proposta inovadora no marco do chamado desenvolvimento sustentável, abarcando as dimensões econômico/produtiva, tecnológica, cognitiva e social. De for-ma resumida, para seus defensores, ela seria inovadora por três razões: em primeiro lugar, por estar fundada e focada em novos vetores de crescimento econômico; em segundo, porque possibilitaria a geração de novas fontes de empregabilidade e de renda; e em terceiro, porque promoveria soluções ino-vadoras e consistentes para a melhoria da qualidade ambiental. A economia verde, dessa perspectiva, seria uma via pragmática e funcional no marco do modelo capitalista-industrialista dominante, na busca de soluções articulas aos desafios do crescimento econômico sustentado, da pobreza e dos proble-mas ambientais e socioambientais vividos em diferentes escalas de tempo e espaço. Privilegia-se, portanto, a dimensão econômico-produtiva como vari-ável determinante das demais.3

Contudo, o mesmo PNUMA reconhece que a tal transição para essa economia verde não será fácil, nem isenta de conflitos, riscos e desafios. Isso porque implica em “esverdear” setores que hoje estão dominados pela cha-mada economia marrom - pois dependem de petróleo e carvão - e porque se vive um momento no qual as demandas de consumo estão em rápida expan-são e mutação, em um mundo limitado pelo carbono. O que está claro é que o maior de todos os riscos seria continuar com o status quo. 4

No Brasil, e internacionalmente, a expressão economia verde está cada vez mais presente – com diferentes significados e avaliações sobre suas implicações em termos sociais e políticos - em discursos e em documentos corporativos em-presariais, governamentais e de agências internacionais, fundos de pensão, aca-demia, sindicatos, e entre organizações e movimentos da sociedade civil.

Aqui, como acolá, ela aparece metida em falas e em textos qualifican-do produtos e serviços, anunciando e estabelecendo novas oportunidades de geração de emprego e renda ou ainda relacionada a novas modalidades e linhas de financiamento e doação financeira, sejam elas internas 5 ou de fontes oriundas dos chamados países doadores – como a Noruega e a Ale-manha, por exemplo, para o caso do Fundo Amazônia 6 - ou de instituições financeiras multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial.

Segundo informe do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 2011 os desembolsos da instituição associados à Econo-mia verde alcançaram a casa dos R$ 18,4 bilhões, com o apoio a projetos de

PNUMA, 2011. Hacia una economía verde: Guía para el desarrollo soste-nible y la erradicación de la pobreza - Síntesis para los encargados de la

formulación de políticas.www.unep.org/greeneconomy

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energias renováveis, eficiência energética, gestão de resíduos e lixo urbano, transporte coletivo não poluente, bem como outras atividades que “promovem a redução de emissões de carbono”. Ou seja, a ideia economia verde vem legi-timando muitas coisas, inclusive a construção de barragens e a instalação de grandes usinas hidrelétricas (Belo Monte, por exemplo).

De uma maneira aparentemente caótica, ao longo dos últimos anos, esse termo veio sendo disseminado, adotado e rejeitado em diferentes meios. Ga-nhou espaço inclusive na grande mídia e nas revistas descoladas, de moda e es-portivas. O termo economia verde deu título, inclusive, a um dos temas centrais da Conferência Rio+20 e, por extensão, integrou o leque dos temas promovidos ao longo do último ano pelo governo brasileiro na preparação da posição oficial do país para Conferência.

Como parte do processo de preparação do país para a Rio+20, foi consti-tuída a Comissão Nacional para a Conferência Rio+20, reunindo representan-tes governamentais dos três poderes, empresariado, centrais sindicais, povos indígenas, comunidades tradicionais e organizações não governamentais. 7 O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão de assesso-ramento da Presidência da República, também articulou um amplo leque de organizações e fóruns da sociedade civil brasileira. O grupo foi responsável por elaborar e subscrever, em outubro de 2011, o documento intitulado “Acordo para o Desenvolvimento Sustentável”. 8

Outro exemplo dessa incorporação do termo e do tema na agenda governa-mental é o estudo intitulado ‘Iniciativas de Economia verde no Brasil: Experiências das Esferas Federativas em Promover uma Economia verde Inclusiva’. Desenvolvi-do no âmbito da cooperação técnica entre o Banco Interamericano de Desenvolvi-mento (BID) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), nesse estudo é apresentada uma lista (“preliminar e incompleta”) de experiências estaduais e municipais de políticas públicas, que incorporariam os princípios de economia verde. 9

É dito explicitamente no documento que fortalecer a economia verde é o caminho de “conciliação entre aumento da atividade econômica (ou seja, mais emprego e mais renda) com a conservação ambiental e a erradicação da pobre-za” (p.4). Como em outros trabalhos, o tratamento dado à noção de economia verde a deixa em um plano demasiado abstrato, genérico. Vejamos o exemplo a seguir, quando é afirmado que a economia verde, no contexto do desenvolvimen-to sustentável e da erradicação da pobreza, significaria:

“(...) catalisar a ligação das intenções e objetivos gerais expressos no conceito de desenvolvimento sustentável com a realidade da operação da economia. Ou seja, a economia verde como um meio para alcançar o desenvolvimento sustentável, o qual deve perma-necer como o objetivo principal”.

Ou ainda quando é dito o seguinte:

“A prática do que sugere o conceito de economia verde deve permi-tir um aumento de emprego e renda impulsionados por investimen-

O documento resultante desse estu-do foi lançado durante a Conferên-cia Rio+20, e está disponível em:

http://www.mma.gov.br/publi-cacoes/governanca-ambiental/category/141-economia-verde

Cf. Decreto 7.495, de 7 de Junho de 2011 e pela Portaria Interministerial

nº 217, de 17 de junho de 2011, disponível em: http://hotsite.mma.

gov.br/rio20/quem-e-quem/

Confira o vídeo sobre o processo de elaboração do “Acordo para o Desenvolvimento Sustentável”:http://www.cdes.gov.br/noti-

cia/26519/video-acordo-para-o--desenvolvimento-sustentavel.html

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tos públicos e privados que promovam eficiência energética assim como uma redução da poluição e emissões de carbono, da perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, assim como das desigualdades existentes entre regiões, meios rurais e urbanos ou ainda entre homens e mulheres.”

Mais frente, iremos destacar algumas experiências na Amazônia iden-tificadas com essa definição de economia verde e que, como será visto, muitas vezes se confunde com “economia de baixo carbono”.

Outro exemplo desse grau de generalidade vem da cartilha produzida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em colaboração com a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Cli-ma), por meio da qual se pretende apresentar aos jovens leitores os conceitos de economia verde e sustentabilidade, vinculados à ideia de erradicação da po-breza. Na cartilha, a expressão economia verde é definida da seguinte maneira:

“refere-se à otimização de atividades que façam uso racional e equitativo dos recursos naturais (socialmente inclusivo), emitindo baixas taxas de gases de efeito estufa (economia descarbonizada), agredindo minimamente o meio ambiente. Para isso, são necessá-rias novas tecnologias que permitam aos diferentes segmentos da economia utilizar maquinários de baixo consumo energético”. 10

Parafraseado o historiador Paul Veyne, fica no ar a pergunta: acreditarão os gregos nos seus mitos?

2. A MESMA DAMA DE VESTIDO NOVO

Entre as inúmeras disputas político-semânticas relacionadas ao termo, uma é se o que vem sendo chamada de economia verde por seus promotores, como o Banco Mundial, mas também por algumas organizações não governamentais conhecidas no nosso meio, é uma evolução em relação na noção de desenvolvi-mento sustentável, que ganhou destaque ainda nos anos 1980 e se disseminou com força na e a partir da Conferência Rio92; ou se, ao contrário, a introdução e a centralidade que ganha a noção de economia verde caracteriza um reducionismo, um retrocesso em relação ao que foi então estabelecido. Há quem reconheça aí o ressuscitar da velha racionalidade economicista, que emergiu com o capitalismo, dotado de novos contornos e com feições rejuvenescidas.

Como salientam a Fundação Heinrich Böll e o Repórter Brasil na in-trodução a publicação “O lado B da Economia verde”, lançada na véspera da Cúpula dos Povos:

a perspectiva de “salvar o que resta da natureza” via mecanismos tradicionais de mercado, no sentido de que a preservação do plane-ta passa a ser atrelada aos benefícios que pode trazer ao capital, no entanto, tem sido alvo de fortes críticas por parte de organizações da sociedade civil, cientistas e acadêmicos. 11

Disponível emhttp://www.inpe.br/noticias/arqui-

vos/pdf/RIO+20-web.pdf

Doc. disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br/documentos/

oladobdaeconomiaverde.pdf

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Cerca de um mês antes do início da Conferência da Organização das Na-ções Unidas (ONU) Rio+20, o Grupo de Articulação Internacional do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20, responsável pela organização da Cúpula dos Povos 12, reuniu no Rio de Janeiro cerca de cem pessoas, represen-tando organizações e redes não governamentais de diferentes partes do mundo.

Apesar da diversidade das posições ali manifestas, chegou-se ao enten-dimento de que não era possível aceitar o conceito de economia verde e, par-ticularmente, na forma como ele vinha sendo apropriado pelos governos e as grandes corporações transnacionais. No informe lançado pelo GA Internacional no dia 12 de maio, intitulado O que está em jogo na Rio+20, é dito o seguinte:

A “economia verde”, ao contrário do que o seu nome sugere, é outra fase da acumulação capitalista. Nada na “economia verde” questiona ou substitui a economia baseada no extrativismo de com-bustíveis fósseis, nem os seus padrões de consumo e produção in-dustrial. Essa economia estende a economia exploradora das pes-soas e do ambiente para novas áreas, alimentando assim o mito de que é possível o crescimento econômico infinito. 13

Para Silvia Ribeiro, do Grupo ETC 14, a “economia verde é um nome enga-nosso”. O que nos preocupa, diz Silvia:

é que a economia verde vai nos levar a uma maior mercantilização de aspectos fundamentais da natureza. Quem vai se beneficiar com essas medidas são fundamentalmente as corporações transnacio-nais, as mesmas que são responsáveis pela atual crise econômica e ambiental. A nova estrutura de governança proposta inclui agên-cias da ONU e o Banco Mundial e certamente privilegiará inte-resses de mercado em lugar de políticas públicas para realmente encarar o problema socioambiental. 15

Na mesma ocasião, como parte da programação preparatória da Cúpula dos Povos, no dia 9 de maio, também no Rio de Janeiro, foi lançada a campanha nacional Não à Economia verde. O lançamento aconteceu associado à realiza-ção do seminário internacional Outra Economia, Outro Desenvolvimento, Outra Cooperação: a Sociedade Civil Rumo à Rio+20/Cúpula dos Povos, promovido pela ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais.16 É criticada especialmente a falta de uma definição clara de economia verde.

A documentação até então produzida na esfera oficial (o chamado Rascunho Zero, apresentado pela ONU no final de 2011), afirmam, não traz qualquer posi-cionamento crítico ao atual modelo econômico, nem propõem uma estratégia clara de transição da matriz energética dos combustíveis fósseis para as chamadas ener-gias renováveis. Além disso, tudo indica que mais uma vez serão privilegiados os instrumentos do mercado e as grandes empresas, o primeiro como meio, o segundo como agente de promoção e de implementação da chamada economia verde.

Como vimos, mais do que dúvidas e questionamentos em relação à noção de economia verde, pairam incertezas sobre sua aplicação e sobre a distribuição dos benefícios que dela virão em consequência da sua implementação. 16

Cf. http://www.abong.org.br

13 Disponível em

http://cupuladospovos.org.br

O Grupo de Articulação (GA) Interna-cional do Comitê Facilitador para a Sociedade Civil na Rio+20 (CFSC) é

integrado por 35 redes, organizações e movimentos sociais de 13 dife-

rentes países, entre elas o INESC, e trabalha junto ao Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 (CFSC) na organização da Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, evento paralelo e crítico à Rio+20, que

concentrou suas atividades no Aterro do Flamengo, de 15 a 23 de junho.

Grupo ETC é a sigla de Grupo de Acción sobre Erosión, Tecnología y Concentración (“grupo etcétera”) fundada no ano de 2001 por Pat

Mooney, Cary Fowler, entre outros.

etc

THUSWOHL, M. Dirigentes da Cúpula dos Povos criticam Rio+20 e econo-

mia verde. Especial para a Rede Brasil Atual, 14 maio 2012. Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br.

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17 Cf. http://fbds.org.br/fbds/rubri-

que.php3?id_rubrique=7

3. ECONOMIA VERDE COMO MERCADO EMERGENTE

Há de fato uma visível movimentação de diferentes setores do mundo empresarial e financeiro no entorno promovendo a noção de economia verde. A cada um que se observa com mais atenção, fica evidente o quão flexível é esta noção, o quão diversamente ela está sendo ou pode ser aplicada para acomo-dar atividades, ações e políticas, tanto do setor público, quanto do privado, na busca de recursos e de oportunidades nesse “mercado emer- gente”. Isso, de outro lado, dá razão aos críticos da chamada economia verde.

Um exemplo dessa aplicação vem de Cuiabá, no Mato Grosso, onde o Instituto Ação Verde, em parceria com o Ins-tituto Brasil, promoveu em maio de 2012, promoveu o que foi chamado de I Seminário Internacional sobre Economia verde. Ligada às entidades representativas dos “setores pro-dutivos locais” – como o Sistema Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Sistema Fiemt), o Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso (Sindenergia) e o Sindicato da Indústria Sucroalcooleira de Mato Grosso (Sindalcool-MT), a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Ação Verde lançou no evento a Plataforma de Negócios em Bens e Serviços Ambientais e Ecossistêmicos. Contendo dados de produtores que possuem ativos ambientais e produtores que possuem passivos ambientais, a plataforma tem por objetivo principal auxiliar esses produtores “na comercialização destes bens”.

Segundo é divulgado pelos organizadores do evento, existe atualmente um mercado potencial de ativos ambientais em nível mundial estimado em U$S 33 trilhões por ano. Só na região da Floresta Amazônica, afirmam, seria pos-sível movimentar cerca de US$ 4 trilhões/ano em bens e serviços ambientais.

A transição do Brasil para uma economia verde também está aparente-mente no campo de preocupações de empresas como Ambev, BNDES, JSL, Li-ght, Shell e Tetra Pak. Segundo a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), essas empresas investiram, entre agosto de 2011 e maio desde ano, cerda de R$ 540 mil para que a Fundação produzisse uma coletânea de estudos sobre economia verde. Um dos 12 estudos que compõe a coletânea, intitulada “Diretrizes para uma Economia verde no Brasil”, defende, por exem-plo, a incorporação dos impactos ambientais e sociais aos custos da energia. Os doze estudos estão disponíveis na página da FBDS na internet. 17

Outra novidade no ramo é a Bolsa Verde do Rio de Janeiro (BVRio). Lan-çada em maio passado, a BVRio é um espaço dedicado à compra e venda de ativos ambientais com o objetivo de fomentar a economia verde. A entidade atua em duas frentes: na criação e operação da plataforma eletrônica; e na con-cepção de ativos ambientais que serão negociados. A Bolsa já está operando com créditos florestais, referentes a áreas com proteção ambiental e, a partir de 2013, será aberta para o mercado de carbono. Dessa forma, empresas que não atingirem as metas de redução na emissão de gases de efeito estufa poderão comprar créditos de carbono, enquanto as que registrarem queda poderão colo-car seus créditos à venda. 18

HÁ DE FATO UMA VISÍVEL MOVI-MENTAÇÃO DE DIFERENTES SE-TORES DO MUNDO EMPRESA-RIAL NO ENTORNO PROMOVENDO A

NOÇÃO DE ECONOMIA VERDE.

18 A iniciativa conta com o apoio

do Governo do Rio de Janeiro e da Prefeitura Municipal do RJ. Cf.

http://www.bvrio.org

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A economia verde também é um assunto de interesse das entidades fecha-das de previdência complementar (“fundos de pensão”). Como ser socioambien-talmente responsável com rentabilidade? Como trabalhar em prol da economia verde? Como realizar investimentos nessa área? Como obter a rentabilidade ade-quada? O que exigir dos prestadores de serviços? E como comunicar? Todas es-sas questões estiveram no rol de questionamentos tratados no último Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, realizado em outubro, em São Paulo.

O fato ganha relevância se consideramos que, segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), do quadro total de fundos de pensão existentes e funcionando regularmente no País, cerca de 72% são a ela filiados, sendo que esse conjunto representa 2,2 milhões de participantes ativos e 98% do patrimônio do setor, que já superou a casa dos R$ 520 bilhões.

Além disso, a Abrapp e o Banco Santander são ambos patrocinadores da edição brasileira do Carbon Disclosure Project (CDP), uma organização que se diz “independente e sem fins lucrativos” e que detém o maior banco de dados globais sobre impacto climático corporativo. Ela foi criada em 2000 com a fina-lidade de acelerar a concepção de soluções e mitigar os efeitos do aquecimento global no espaço corporativo e nos seus negócios. Passados 11 anos desde seu advento, o CDP conta hoje com 551 signatários, que, juntos, administram US$ 71 trilhões em ativos financeiros. 19

4. NORMATIZANDO O NOVO MERCADO

A primeira regulamentação nacional de pagamento por “serviços am-bientais” foi realizada por intermédio da Lei nº 12.512/2011, de outubro de 2011, que instituiu o Programa de Apoio à Con-servação Ambiental, ou “Bolsa Verde”, como ficou mais bem conhecida. Por meio desse programa de “transferência de renda”, cada família cadastrada e classificada como estando em situação de extrema pobreza recebe mensalmente até R$ 70,00.

O programa se destina a assentados, ribeirinhos, extrativistas, famílias in-dígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais que ofereçam serviços ambientais como ações de conservação ambiental em florestas nacionais, reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável. O problema/desafio posto ao gover-no responder e enfrentar – ao qual ainda não mostrou eficiência para fazê-lo – é proporcionar a essas famílias a estrutura de apoio necessária aos objetivos do pro-grama. Isso inclui capacitação dessas famílias, medidas de proteção e fiscalização das áreas de conservação e punição de madeireiros e grileiros que pressionam as famílias incluídas no programa que aceitarem desenvolver atividades ambientais.

Outro marco normativo importante relacionado à temática desta publi-cação é o PL (projeto de lei) Nº 792/2007. Atualmente em análise na Câmara Federal, esse projeto almeja “recompensar os produtores” com o pagamento de serviço ambiental. O fato é que há produtores e produtores, assim como produtoras e produtoras, e o risco do projeto ao final se configurar como mais um meio de promover o agronegócio é alto, especialmente após a aprovação do novo Código Florestal brasileiro. 20

Cf. https://www.cdproject.net

Sobre esta e outras proposições legislativas, conferir Marco regula-tório sobre pagamento por serviços ambientais no Brasil / Organização de Priscilla Santos; Brenda Brito; Fernanda Maschietto; Guarany

Osório; Mário Monzoni. Belém, PA: IMAZON; FGV. CVces, 2012.

PL N. 12.512/2011, PRIMEIRA REGU-LAMENTAÇÃO NACIONAL DE

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS.

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No MMA, a criação do mecanismo de Redução de Emissões por Desma-tamento e Degradação Florestal (REDD+) no país é uma prioridade da Secre-taria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (SMCQ). Daí o porquê de estarem trabalhando na elaboração de um documento da estratégia nacional de REDD+, a ser consensuado entre dife-rentes ministérios e órgãos de governo, contendo (1) as diretrizes e as metas nacionais e da Amazônia para 2020 e (2) projeções para o ano de 2030.

A Secretaria também está dialogando com a deputada federal Rebecca Gar-cia (PP/AM), relatora dos projetos de lei relativos à regulamentação de mecanis-mos de pagamento de serviços ambientais na Câmara dos Deputados. Em relação ao esquema de financiamento do REDD, o governo diz não descartar qualquer das alternativas, ou seja, a pública, a privada e as parcerias público-privada. A proposta de “cotas de reserva ambiental”, por exemplo, é considerada como uma possibilidade de inserção em um esquema de mercado; 21 para tratar desse assun-to, o Ministério da Fazenda constituiu um grupo de trabalho específico.

Outra iniciativa em curso, implementada a partir do Ministério do Meio Ambiente (MMA), é a internalização da biodiversidade e dos serviços ambientais (“como ativo”) na contabilidade do país e dos estados. Esse processo tem como principal referência o estudo global A Economia dos Ecossistemas e Biodiversi-dade (TEEB, na sigla em inglês). O TEEB foi coordenado pelo Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e contou com o apoio financeiro da Comissão Europeia, do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e do Depar-tamento para Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido.

À frente dele, esteve o economista indiano Pavan Sukhdev, que na época era chefe da divisão de novos mercados globais do banco alemão Deutsche Bank. O estudo reforça a ideia da valoração econômica e financeira da bio-diversidade, bem como a sua inserção nos mercados de serviços ambientais e ecossistêmicos. Por meio do TEEB, dissemina-se a crença de que a cha-mada racionalidade econômica – aplicada no cálculo dos custos e benefícios da conservação da biodiversidade e do uso sustentável dos recursos naturais, incluídos os chamados serviços ambientais e ecossistêmicos - poderá ajudar na promoção do ‘crescimento econômico’ e na redução da ‘pobreza’ nos países. 22

5. O MMA E A ECONOMIA VERDE

Um levantamento realizado pelo Ministério do Meio Ambiente com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) 23 dá uma boa ideia dos diferentes contextos de aplicação do termo economia verde pelo MMA e pelo conjunto de pessoas e agências envolvidas na elaboração do documento.

Chama atenção no documento a ausência de uma discussão prévia do que seja para seus autores economia verde. A questão é tratada como um conheci-mento tácito, conhecimento senso comum que advém essencialmente de uma socialização em uma forma de vida, que por sua vez não é explicitada conceitu-almente ao longo do trabalho.

Porém, como descrever o significado de uma palavra é descrever como ela é usada, e descrever como ela é usada é descrever o intercurso social no qual ela participa, observa-se nas doze experiências exemplares destacadas que, embora diversas, elas têm de comum o fato de estarem focadas na chamada

Cf. http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/justica-direito/arti-gos/conteudo.phtml?id=1262849

Cf. http://br.boell.org/downloads/pdf_teeb_final_05-12.pdf

Cf. Iniciativas de Economia Verde no Brasil: experiências das unidades

da federação em promover uma economia verde inclusiva. Brasília:

Ministério do Meio Ambiente e Ban-co Interamericano de Desenvolvi-

mento, 2012.

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proteção e manejo de recursos florestais e associadas à ideia/objetivo de extrair delas produtos e/ ou gerar créditos de carbono para programas de pagamento por serviços ambientais.

Também estão incluídas no rol dessas “experiências de economia verde” a criação e a manutenção de Unidades de Conservação (UCs), bem como a formação e capacitação de pessoas, seja em comunidades locais, seja em insti-tuições de investigação, monitoramento e fiscalização ambiental.

Outro dado relevante: das doze experiências exemplares, os estados do Acre e do Amazonas contribuem cada um com quatro casos. Essa concentração no Acre expressa uma articulação governo/setor privado/comunidades locais, com vistas a criar as condições para uma parceria com o estado da Califórnia (EUA), que a partir de 2013 deverá começar a “comprar carbono” aqui no Bra-sil e em Chiapas (México).

Outros projetos de REDD aparecem na lista, o principal é o Projeto Juma, dessa vez no Amazonas; o projeto é considerado modelar na construção de vá-rias propostas legislativas que tramitam no Congresso Nacional visando regu-lamentar o pagamento de “serviços ambientais” e a “redução de emissões de desmatamento e degradação” – o REDD. Nesse sentido, não nos parece equi-vocado dizer que, aos olhos de seus promotores, estamos diante de um portfólio de “bons e exemplares negócios de economia verde”.

6. EXPERIÊNCIAS DE UNIDADES FEDERADAS NA PROMO-ÇÃO DA ECONOMIA VERDE NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

UF NOME DA EXPERIÊNCIA IMPLEMENTADOR ALGUMAS INFORMAÇÕES

AC Manejo Florestal Comunitário – Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável através da geração de Empregos Verdes.

Secretaria de Estado de Desen-volvimento Florestal, da Indús-tria, do Comércio e dos Servi-ços Sustentáveis – SEDENS

Implementada em cerca de 20 municípios do Estado do Acre. São 510 famílias inseridas e assistidas, totalizando 127 mil hectares de Planos de Manejo Comunitários, dos quais cerca de 64 mil hecta-res são certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council), o que corresponde a 5 (cinco) comunidades. Hoje, o Manejo Florestal Comunitário já supre parte substancial das demandas da indústria florestal local, podendo citar o pólo moveleiro de Cruzeiro do Sul, fábrica de pisos de Xapuri, de laminados em Triunfo, entre outras.

AC Programa Asas da Florestania (populações rurais) e Poronga (populações urbanas) – Políticas Públicas Educacionais.

Secretaria de Estado de Educa-ção e Esporte – SEE

Implementada em cerca de 21 municípios do Estado do Acre, os programas são financiados pelo governo do estado do Acre e Banco Mundial, tendo como parceiros a Fundação Roberto Marinho (Fun-damental), Instituto Dom Moacir (Médio) e as diversas prefeituras municipais.

AC Sistema de Incentivo aos Serviços Ambientais do Acre (SISA)

Instituto de Mudanças Climá-ticas e Regulação dos Serviços Ambientais (IMC)

É objetivo da experiência a valorização dos serviços e produtos ambientais das florestas, com foco na conservação da biodiver-sidade e na redução das emissões de gases de efeito estufa, de forma a consolidar as estratégias de gestão territorial em dife-rentes escalas e esferas administrativas. Isso é feito por meio de incentivos financeiros para o extrativismo com base sustentável, o fomento das atividades que agreguem valor adicionado ao produ-to transformado(não a matéria prima) e a obtenção de créditos de carbono por REDD.

AC Programa de Incentivos a Serviços Ambientais – Carbono (ISA Carbo-no)

Governo do Estado do Acre Implementado pelo Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC), vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Acre.

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AM Programa Bolsa Floresta Fundação Amazonas Sustentá-vel (FAS)

Implementada nas Unidades de Conservação Estaduais de Uso Sustentável do Estado do Amazonas. Os recursos são oriundos do Governo do Estado do Amazonas, Fundo Amazônia e da iniciativa privada.

AM Obtenção de Créditos de Carbono por Redução de Emissões por Des-matamento e Degradação Flores-tal (REDD) na RDS do Juma

Fundação Amazonas Sustentá-vel – FAS

Implementado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, município de Novo Aripuanã. Em 2008, teve créditos valida-dos pelos critérios da certificação CCBA – Aliança Clima, Comuni-dade e Biodiversidade, emitido pela certificadora alemã TÜV SÜD, que concedeu ao projeto o padrão de qualidade Ouro. Essa valida-ção certifica os créditos de redução de emissão de carbono para mercados voluntários, negociados para a rede de hotéis Marriott International para o período 2008-2012, com investimentos anuais de US$ 500 mil integralmente investidos nas atividades do projeto.

AM Programa de Fortalecimento da Cadeia Produtiva da Borracha

Governo do Estado do Amazo-nas

Implementado pela Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS), vinculada à Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimen-to Sustentável. O Programa visa promover a produção de borracha através do apoio às cadeias produtivas relevantes. A estratégia maior por trás desse programa é promover o desenvolvimento no interior do Estado e a valorização econômica dos produtos flores-tais, com vistas a melhorar a qualidade de vida das populações extrativistas e combater o desmatamento.

AM Programa Estadual de Incentivo à Utilização de Energias Alternativas Limpas e Redutoras da Emissão de Gases de Efeito Estufa

Governo do Estado do Amazo-nas

O programa foi criado com a Lei 3.135 de 2007. É implementado pelo Departamento de Energias Alternativas e Eficiência Energética do Centro Estadual de Mudanças Climáticas (CECLIMA). Tem como ob-jetivos principais (1) fomentar o uso de energias alternativas adap-tadas à realidade das comunidades isoladas do interior do Estado e nas Unidades de Conservação do Amazonas, a fim de minimizar impactos ambientais associados à geração de energia e de aumentar a renda e a produtividade local; e (2) promover medidas de redução do consumo de energia elétrica em órgãos públicos estaduais como secretarias, autarquias, fundações e empresas públicas.

MA Programa “Escravo, nem Pensar!”, em Açailândia.

Secretaria Municipal de Edu-cação

A experiência é coordenada pela ONG Repórter Brasil e implemen-tada nos municípios de Açailândia, Maracaçumé e Santa Luzia, além dos municípios paraenses de Ipixuna do Pará, Itupiranga, Paragominas, Rondon do Pará e Ulianópolis.

PA Caravana Propaz. Governo do Estado do Pará. Implementada nos municípios da ilha do Marajó e também do mu-nicípio de Oeiras do Pará. O objetivo da Caravana Propaz é garantir o acesso da população mais carente a serviços de atenção às neces-sidades básicas do cidadão, realizando ações de mobilização junto aos municípios para o fortalecimento da cidadania. A população vai ter acesso a mais de 50 serviços, incluindo emissão de docu-mentos (RG e certidão de nascimento), assistência jurídica, aten-dimento médico-odontológico, exames oftalmológicos, vacinação, corte de cabelo e entretenimento com um cinema itinerante.

PA Paragominas Município Verde Prefeitura Municipal de Para-gominas

Além da Prefeitura de Paragominas, participam da sua implemen-tação o Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas, a Secre-taria de Estado de Meio Ambiente do Pará (SEMA-PA) e as ONGs Imazon e TNC, além de outras entidades locais. Tem como objeti-vos: (1) a caracterização social, econômica e florestal do municí-pio; (2) o monitoramento do desmatamento; (3) a capacitação de agentes ambientais e a geração de capacidade local para a gestão ambiental; (4) a educação ambiental; (5) a ampliação das áreas de reflorestamento e de manejo florestal para adequação ambiental e (6) o uso sustentável da floresta nativa; microzoneamento das propriedades rurais.

TO GESTO – Sistema de Gestão de Unidades de Conservação Tocan-tins

Estado do Tocantins e TNC Implementado em UCs Estaduais do Tocantins. O objetivo é a con-solidação de sistema único de documentação para a criação e con-solidação de Unidades de Conservação (UCs). O GESTO inclui desde funções focadas na gestão da conservação da biodiversidade até o gerenciamento financeiro e administrativo da unidade.

Fonte: MMA e BID (2012), elaboração do autor.

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ORÇAMENTO TEMÁTICO SOCIOAMBIENTAL

Os interessados em acompanhar o orçamento público do governo federal podem acessar o portal SIGA Brasil, do Senado Federal. Neste espaço você encontra informações sobre o processo orçamentário, acompanha a elaboração e execução das leis orçamentárias, consulta emendas parlamen-tares, verifica as transferências para estados, municípios e entidades privadas. Os dados da execução orçamentária são atualizados diariamente.

No Portal SIGA você encontra também o Orçamento Temático Socioambiental, uma ferramenta construída pelo Inesc em parceria com o portal que objetiva facilitar e estimular o controle social da política socioambiental. Ele permite acompanhar a execução orçamentária de Programas e Ações que estão relacionados aos temas considerados prioritários pelo Inesc e um conjunto de organizações e articulações sociais.

Os temas monitorados são:

Para acompanhar o orçamento socioambiental, clique no ano desejado, selecione elaboração ou execução e navegue pelas consultas.Acompanhe este e outros orçamentos temáticos no Portal.

http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado/SigaBrasil

CONSIDERAÇÃO FINAL

O que pudemos retratar aqui é apenas uma pequena amostra do que cir-cula por aí, é a ponta do rabo de um gigantesco gato (como o da fábula dos ir-mãos Grimm), repleto de interesses, investimentos e negócios em curso. Há os que creem (ou aparentam crer) que é possível conciliar os seus interesses com os dele. Outros não creem (ou aparentam não crer) que isso seja possível, nem desejável. Há também aqueles que não são nem contra, nem a favor de uma ou de outra posição, muito antes pelo contrário. O que fazer antes que o inverno chegue? Eis a questão realmente importante a ser respondida.

Como esperamos tenha ficado claro, o objeto sobre o qual devemos colocar nossa atenção não é a definição de economia verde. Isso seria perder um tempo precioso, seria deixá-lo escorrer por entre os dedos em uma corrida contra o re-lógio. O mundo de negócios que a ideia de economia verde vem alavancando, po-tencializando e legitimando no Brasil e no mundo é hoje um fato dado, instalado.

Una de las fábulas de los hermanos Grimm se llama “El gato y el ratón hacen vida en común”. Un gato convence a un ratón de que quiere ser su amigo; comienzan a vivir juntos y, previendo el invierno que se avecina, compran un tarro de manteca y lo esconden en una iglesia. Con el pretexto de tener que ir a un bautizo tras otro, el gato acude varias veces a la iglesia y se come poco a poco toda la manteca; luego se divierte dándole respuestas ambiguas al ratón acerca del tema. Cuando finalmente van juntos a la iglesia para comerse el tarro de manteca, el ratón descubre el engaño, y el gato, simplemente, se come al ratón. La última frase de la fábula anuncia la moraleja: “Así van las cosas de este mundo”.

Anselm Jappe, diciembre 2009.

Orçamento e Política Ambiental é uma publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em par-ceria com o Instituto Heinrich Böll e Charles Stewart Mott Foundation. Tiragem 1,5 mil exemplares. INESC - End: SCS - Qd, 01, Bloco L - 13º andar - Cobertura - Ed. Márcia - CEP. 70.307-900 - Brasília/DF - Brasil - Tel: (61) 3212 0200 - Fax: (61) 3212-0216 – E-mail: [email protected] – Site: www.inesc.org.br. Conselho Diretor: Eva Teresinha Silveira Faleiros; Fernando Oliveira Paulino; Jurema Pinto Werneck; Luiz Gonzaga de Araújo e Márcia Anita Sprandel. Colegiado de Gestão: Iara Pietricovsky e José Antonio Moroni. Coordenadora da Asses-soria Política: Nathalie Beghin.Assessores: Alessandra Cardoso, Alexandre Ciconello, Cleomar Manhas, Edélcio Vigna, Eliana Graça, Márcia Acioli e Lucídio Bicalho Barbosa. Assistente de Direção: Ana Paula Soares Felipe. Comunicação: Vétice /Gisliene Hesse.

É permitida a reprodução total ou parcial dos textosaqui reunidos, desde que seja citado (a) o (a) autor (a)e que se inclua a referência ao artigo ou texto original.

O INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos, consciente das questões ambientais e sociais, utiliza papéis com certificação (Forest Stewardship Council) na impressão deste material. A certificação FSC garante que a matéria-prima é proveninete de florestas manejadas de forma ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável, e outras fontes controladas.

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Instituições que apóiam o Inesc:ActionAid, Charles Stewart Mott Fundation, Christian Aid, Department for International

Development (Dfid), Evangelischer Entwicklungsdienst (EED), Fastenopfer, Fundação Avina, Fundação Ford, Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef),

Instituto Heinrich Böll, International Budget Partnership, KinderNotHilfe (KNH),

Norwegian Church Aid, Oxfam Novib, Oxfam, União Européia, ONU Mulheres.DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Licenciamento e Educação AmbientalFloresta Clima Biodiversidade Água Indígena Quilombola Resíduos Sólidos

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