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Entendimento e Fé
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7/21/2019 Crer Para Compreender - Bulthmann
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CRER PARA COMPREENDER
O grande teólogo do século XX, Rudolf Karl Bultmann, na sua famosa obra “Crer e
compreender”, examina se é possível a exegese livre de premissas. Abaixo, segue
mina crítica ao ensaio “Será possível a exegese livre de premissas?”.[1]
Alan Francisco de Soua !emos["]
# $ex$o % de 1&'(, mas % da)ueles )ue cos$umam vencer o $empo. *scri$o por
+udol -arl ul$mann /10021&(34, $e5logo alem6o. Ao l72lo, deparei2me com )ues$8es
acerca dos es$udos de um $ex$o 9 $alve por es$ar a vida $oda lidando com $ex$os,
especialmen$e nes$a :l$ima d%cada, )uando laureei2me em !e$ras na ;niversidade do
*s$ado do +io de <aneiro. *m=ora a in$en>6o do au$or sea $ra$ar dos aspec$os
exeg%$icos =í=licos, isso n6o impede a possi=ilidade de pensarmos nossa orma de
lidar com $ex$os diversos. @ impor$an$e risar )ue, em=ora $ena sido escri$o em poucas
páginas, os elemen$os a=ordados por ul$mann, no ar$igo )ue irei usar para relex6o,
s6o amplos e, para o $ema em )ues$6o, ocarei em alguns aspec$os pon$uais.
Bual % a dis$ncia compreensiva en$re um suei$o in$erpre$an$e e uma realidade
in$erpre$ada? A verdade, en)uan$o me$a ermen7u$ico2cogni$iva, pode ser considerada
uma possi=ilidade a$ingível D a$i$ude compreensiva de um suei$o in$erpre$an$e? # $í$ulo
da o=ra % !er" possível a exegese livre de premissas#$[E], o )ue nos reme$e a
)ues$8es relevan$es para )ual)uer es$udioso )ue $em como o=e$o $ex$os em geral. #
)ue pre$endo rele$ir, nos parágraos a seguir, % so=re as implica>8es )ue residem no
a$o de es$udar um $ex$o a undo.
A primeira respos$a do au$or D pergun$a )ue prop8e como $í$ulo % sim e n6o.
Buando di sim D pergun$a so=re a possi=ilidade de uma exegese livre de premissas,
ul$mann reere2se D exegese ei$a “sem pressupor os resul$ados da exegese” "[]. A
segunda respos$a, por sua ve, segue da explica>6o de )ue o exege$a n6o % neu$ro.
*s$e, ao analisar o $ex$o, $ra “consigo cer$as pergun$as” e “cer$a no>6o do assun$o de
1[3] BULTMANN, R. K. Será possível a exegese livre de premissas? In: BULTMANN, RudolfKarl. Crer e Compreender. Artigos Selecionados. Editados por alt!r Alt"ann. #$oL!opoldo R#: #inodal, 1%&', pp. ((3)((%.
([*] Bult"ann, p. ((3.
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)ue $ra$a o $ex$o”E[']. Aco )ue, na $eoria, % possível uma exegese es$ar livre de
premissas, mas, na prá$ica, n6o, pois, a$% mesmo )uando o exege$a se prop8e a ser o
mais imparcial possível, ele á $em em men$e o o=e$ivo de alcan>ar $al me$a, e is$o, de
alguma orma, indue2o a um im pr%2cien$e ou es$a=elecido, ou sea, o n6o )uerer $er
premissa alguma ipso facto se $orna a premissa mesma. *, )uando $ra$amos do $ex$omais in$erpre$ado em $odo o mundo, a Bíblia, a is$o se soma o a$o de =oa par$e dos
exege$as ser de coniss6o religiosa cris$6 ou de alguma ou$ra espiri$ualidade )ue se
vala das *scri$uras, e, como algu%m disse cer$a ve, ningu%m % imparcial )uando se
aproxima da Bíblia. Será?
*m rela>6o aos resul$ados pr%2conce=idos no exercício exeg%$ico, ul$mann
di “Goda exegese dirigida por preconcei$os dogmá$icos n6o ouve o )ue o $ex$o es$á
diendo, mas á2lo dier o )ue ela )uer ouvir”[3]. Assim, ul$mann es$aria airmando
)ue o exege$a )ue n6o possua “preconcei$os dogmá$icos” % o :nico capa de aer a
mais isen$a exegese. A)ui, vol$o a rei$erar )ue a$% mesmo o exege$a )ue n6o se vala
de premissas dogmá$icas, ao im e ao ca=o, $am=%m n6o se a=s$%m de alguma
premissa, mesmo )ue es$a n6o sea dogmá$icaH como á disse, em :l$ima análise, por
mais proissional e imparcial )ue sea o exege$a, sempre $erá sua premissa, mesmo
)ue ela sea o pr5prio o=e$ivo de aer uma exegese sem premissa. Ainal, com o ísico
Ierner Jeisem=erg, lem=ramos )ue “a o=serva>6o do o=servador ae$a o o=servado”.
Como um adendo D $emá$ica, penso )ue, nesse aspec$o, o am=ien$e acad7mico
ainda sea pouco compreendido. @ cons$an$emen$e acusado de ser rígido e ecado
em suas me$odologias. Kas, a li=erdade em criar sua pr5pria capacidade especula$iva
e novas concep>8es n6o ca=e D Academia. *s$a leva consigo a manu$en>6o do )ue a
umanidade nos legou e or>a os alunos /ou deveria ser assim4 a compreender as
ideias )ue nos cegaram com máximo rigor. Buando as ideias orem da melor
maneira possível compreendidas, mesmo )ue os resul$ados seam con$rários Ds
cren>as )ue o in$%rpre$e carrega consigo, en$6o, es$e poderá reormular suas ideias,
criar novas ou ena$iar suas concep>8es cri$icando o au$or cua lei$ura oi =em
compreendida. Kas, amais, $eremos uma exegese $o$almen$e imparcial e livre de
premissas.
3[+] Bult"ann, p. ((3.
*[] Bult"ann, p. ((*.
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Se, por um lado, para ul$mann, % necessário a=rir m6o dos resul$ados )ue se
espera ao ler um $ex$o 9 para se cegar D exegese sem premissas 2, por ou$ro, %
necessário lem=rar )ue á cer$as de$ermina>8es is$5rico2su=e$ivas undamen$ais na
ora de in$erpre$ar de$erminado $ex$o. # lei$or “es$á de$erminado por sua
individualidade, is$o %, por suas $end7ncias e á=i$os especíicos, por seus dons e seus
pon$os racos”'[(]. Ls$o aliado a $oda is$5ria )ue o precedeu e de$erminou seu modo de
ler o “mundo”. A es$e respei$o escreveu o poe$a Fernando Messoa %&...' o (ue se sente
exige o momento) passado este, " um virar de p"gina e a istória continua, mas n*o o
texto.+ Mara o poe$a, o $ex$o n6o con$inua, is$o %, a mensagem originalmen$e escri$a
perde, necessária e indelevelmen$e, o $odo de sua compreens6o, e is$o por)ue mudam
os parme$ros do $empo e da is$5ria. Mara ul$mann, no caso da Bíblia, cada %poca a
lerá segundo o momen$o is$5rico em )ue vive. *, a)ui, $alve es$ea a maior
ragilidade da airma>6o de ul$mann de )ue % possível, ao exege$a livre de amarras
dogmá$icas, alcan>ar a exegese pura, sem mesclas, $end7ncias ou premissas se,
como aca=o de mos$rar, para ul$mann, o lei$or da Bíblia sempre $erá sua lei$ura
ressigniicada pelo momen$o is$5rico pelo )ual passa, por acaso is$o $am=%m n6o se
aplicaria a ele pr5prio, ul$mann? @ claro )ue simN *, se mesmo ele $eve a sua lei$ura
=í=lica ae$ada pelo momen$o is$5rico em )ue viveu, is$o n6o seria a prova mais ca=al
de )ue o pr5prio ul$mann $am=%m n6o conseguiu a$ingir a sonada exegese perei$a?
A)ui, ul$mann inringe a coer7ncia e a l5gica.3[0] *, se nem os mais no=res exege$as
podem alcan>ar a in$erpre$a>6o imparcial, )uem poderia? Ainal de con$as, como
conecer o $odo da compreens6o de um $ex$o, se n6o á ningu%m )ue possa
in$erpre$á2lo sem )ue, para is$o, precise necessariamen$e se valer 9 ao modo Oan$iano
9 das ca$egorias men$ais? Mara os cris$6os, no )ue $ange ao $ex$o =í=lico, s5 á um
:nico Ser )ue possa a$ingir a exegese perei$a o *spíri$o San$oN Mara eles, de modo
geral, a)uilo )ue a ra6o umana n6o alcan>a % esclarecido us$a e in$egralmen$e pelaPivina +evela>6o e pela Pivina Lnspira>6o.
+['] Bult"ann, p. ((*.
[&] A-ui, Bult"ann o"!t! o -u! /la0o d! ar0al2o 2a"aria d! paralaxe cognitiva, -u!onsist! no fato d! o propon!nt! d! u"a t!s! n$o ons!uir sust!nt4)la !" s!us pr5priosmodus vivendi ! modus agendi. No aso d! Bult"ann, !l! a6r"a -u! os !7!!tas i"pariais
pod!" fa8!r u"a !7!!s! i"parial, "as, ao "!s"o t!"po, !l!, -u! 9 !7!!ta, !" o"oos d!"ais !7!!tas, !st$o todos li"itados p!las arat!r;stias su<!ti0as da p!rsonalidad!! p!lo ont!7to t!"poral ! ultural d! sua 9poa.
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+ós mudamos incessantemente. -as se pode afirmar também (ue cada
releitura de um livro e cada lembrana dessa releitura renovam o texto/, airmou <orge
!uis oges. *, con$ra $oda o=e>6o de )ue os $ex$os deveriam $er uma in$erpre$a>6o
deini$iva, o au$or deende )ue a is$5ria n6o % vis$a o=e$ivamen$e, aa vis$a )ue
somos par$e dela e es$amos nela. Mor$an$o, um olar aas$ado, o=e$ivo e deini$ivodes$oa do comprome$imen$o com o movimen$o pr5prio da pr5pria is$5ria. Qis$o, acer$a
ul$mann. *le s5 erra ao considerar possível o sim D pergun$a inicial ser" possível a
exegese livre de premissas#
Qo início do seu ar$igo, ul$mann airma )ue Fil6o, Maulo e o au$or da 0pístola
de Barnabé n6o “ouviram” os $ex$os usados como on$e para suas airma>8es, pois
$eriam eles ei$o o $ex$o dier a)uilo )ue eles á sa=iam de an$em6o. A es$a
me$odologia, ul$mann cama alegoria e airma )ue ela deve ser irrevogavelmen$e
evi$ada. Merce=o, n6o somen$e nes$e posicionamen$o =ul$manniano, mas $am=%m em
ou$ros de sua vas$a o=ra, )ue es$e $e5logo n6o cr7 na Pivina Lnspira>6o, na Pivina
+evela>6o e, nem $ampouco, na Pivina Llumina>6o, pois airmar )ue Maulo acresceu a
P$ "' algo )ue n6o es$ava no $ex$o em 1Co && % airmar )ue o $ex$o de P$ "' % um
$ex$o como ou$ro )ual)uer, sem inspira>6oH is$o, a lu da $eologia cris$6, % um pa$en$e
a=surdo, pois sa=e2se )ue o $ex$o =í=lico n6o % um $ex$o )ual)uer e )ue guarda, em
suas camadas mis$eriosas, signiicados variados, como o pr5prio <esus Cris$o nos
ensina )uando ci$a $an$os e $an$os $ex$os ve$ero$es$amen$áreos )ue, aparen$emen$e,
n6o $raiam nenuma revela>6o so=re sua vinda. Cer$amen$e a)ui $emos assoalado a
diiculdade ermen7u$ico2epis$emol5gica cons$i$u$iva do pensamen$o ociden$al
moderno o )ue es$á para al%m do experimen$al n6o pode ser di$o, nem pensado e
nem $ampouco )ues$ionado /+. Carnap4. Simplesmen$e por)ue es$a realidade n6o
possui uma exis$7ncia empiricamen$e demons$rável. @ possível dier, des$a orma, )ue
a realidade /on$ologia4 parece es$ar um=ilicalmen$e ligada D capacidade cogni$iva de
compreens6oRpercep>6o /ermen7u$ica4 de um suei$o epis$7mico. * % us$amen$e es$e
o calcanar de A)uiles da ci7ncia moderna e modernosa. @ conditio sine (ua non
provar demons$ravelmen$eH por$an$o, usando as palavras de Lmmanuel -an$, na Kriti1
der reinen 2ernunft , % preciso “reduir o espa>o da % e aumen$ar o da ra6o”. * +udol
ul$mann % deposi$ário iel des$a ilosoia. Apesar de cer$o )uan$o D Jermen7u$ica,
a)ui, agora, ul$mann $am=%m inringe a $eologia cris$6. Kais a ren$e, mais uma ve o
a )uando acusa os in$%rpre$es dos evangelos 9 como eu e voc7 9 de serempreconcei$uosos por acredi$arem )ue a $ransmiss6o dos rela$os de <o6o e Ka$eus s6o
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is$oricamen$e i%is devido ao a$o de es$es $erem sido discípulos de <esus. #ra s5 di
algo assim )uem pa$en$emen$e n6o cr7 na Pivina Lnspira>6o das *scri$uras, dogma
comum a $odas as denomina>8es cris$6s. Paí )ue, ao im e ao ca=o, ul$mann n6o
pode ser cris$6o, ao menos n6o na acep>6o mais prounda do $ermo. *, se
considerarmos, com os cris$6os, )ue s5 á um :nico Peus 9 e )ue es$e Peus % Mai,*spíri$o, mas $am=%m <esus 2, podemos, a posteriori e ipso facto airmar )ue ul$mann
% necessariamen$e a$eu /conorme nos recorda o Me. Maulo +icardo de Aevedo <r.4.
Se, na Bíblia, á co)ue de inorma>8es /como no caso ci$ado pelo $e5logo alem6o em
)ue n6o se sa=eria ao cer$o em )ue momen$o do minis$%rio de <esus deu2se a
puriica>6o do Gemplo4, % por)ue $al livro n6o % um ar$igo cien$íico, )ue =usca a
exa$id6o o $empo $odo, mas, acima de $udo, um livro de %, e )ue, por$an$o, exige, de
$odo e )ual)uer =om exege$a, a % como primeiro e maior pr%2re)uisi$o. * is$o pareceal$ar a ul$mann.
@ por is$o, e como conse)u7ncia inevi$ável de sua al$a de %, )ue ul$mann %
levado a suspei$ar se <esus sa=ia, en)uan$o es$eva a)ui na Gerra, )ue era o Kessias
/consci7ncia messinica de <esus4.
“Será )ue a exegese dos evangelos pode ser dirigida pela pressuposi>6o dogmá$ica de )ue <esus era
o Kessias e $ina consci7ncia de o ser? #u n6o precisa ela, an$es, deixar es$a )ues$6o em a=er$o? A
respos$a deveria es$ar clara. A even$ual consci7ncia messinica seria um a$o is$5rico )ue, nes$a
)ualidade, somen$e pode ser demons$rado pela pes)uisa is$5rica. Caso es$a pudesse $ornar provável
)ue <esus sa=ia ser o Kessias, $al resul$ado $eria cer$ea apenas rela$ivaH is$o por)ue a pes)uisa
is$5rica amais pode conduir a resul$ados de validade a=solu$a. Godo conecimen$o is$5rico es$á em
discuss6oH a )ues$6o se <esus $ina ci7ncia de ser o Kessias, por$an$o, permanece a=er$a den$ro da
exegese.”
Peus, pela sua pr5pria na$urea, de acordo com Iolar$ Mannen=erg(
[&], n6o %um o=e$o do )ual podemos dispor anali$icamen$e do pon$o de vis$a da a=ordagem
cien$íico2enomenol5gica. * a Bíblia, como por$adora da Malavra de Peus, $am=%m
possui $ais limi$es.
# pro=lema de ul$mann % )ue ele procura demons$rar )ue a Bíblia possui erros
l5gicos, mas es)uece )ue es$e livro, n6o raro, % il5gico por)ue de %. *n$6o %
$ruis$icamen$e 5=vio )ue ele acará vários erros l5gicosN * n6o somen$e ele, mas eu e
'[%] =ANNENBER>, . Teoria de la ciencia y teologia. Madrid: Li0ros Europa, 1%&1.
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voc7 $am=%mN A )ues$6o n6o % essa, mas es$as diiculdades sempre exis$ir6o para
a)ueles )ue n6o $7m %.
Mara ul$mann 9 e demais pensadores modernosos 2, % a capacidade
percep$ivo2compreensiva acerca de uma dada realidade )ue deverá ser en$iicada,en)uan$o a linguagem deverá ser compreendida, expressis verbis, como modus
probandi , is$o %, como m%$odoRmodo de demons$ra=ilidade in$erpre$a$ivaT, sem a
pre$ens6o de assumir, com isso, nenum $ipo de voca>6o epis$emol5gica )ue sea
$o$aliadora da verdade. Jaa vis$a )ue es$a :l$ima, como nos sugere acelard, es$á
relacionada D dinamicidade me$odol5gica )ue se dá en$re um suei$o epis$7mico e um
o=e$o cognoscível e, por isso mesmo, % um enUmeno a=er$o e cons$ruível, e n6o
pron$o e, dogma$icamen$e, inal$erável. #corre, por%m, )ue acelard e ul$mann
es$6o, nes$e pon$o, $o$almen$e erradosN A linguagem n6o pode sus$en$ar2se na
imparcialidade ria e no rigorismo acad7mico. Q6o á imparcialidade umanaN Mois,
para )ue ouvesse, seria mis$er n5s n6o $ermos sen$idos. # caleidosc5pio imenso de
inorma>8es )ue nos pene$ram pelos sen$idos marcam irreragável e indelevelmen$e
nosso modus agendi , nosso modus operandi , nosso modus faciendi e nosso modus
vivendi N Mor$an$o n6o á como ser imparcial dian$e de uma exegese.
Mara exempliicar, imaginemos )ue dois es$udan$es de Geologia rece=em a
propos$a de ela=orar a exegese de um $ex$o =í=lico. # primeiro, an$es de en$rar no
curso, nunca avia sen$ado na cadeira de uma aculdade. # segundo á % ormado em
Pirei$o e % p5s2graduado $am=%m. # primeiro nasceu e cresceu em uma comunidade
caren$e e enren$ou $oda sor$e de diiculdades para aprender, al%m de n6o con$ar com
um ensino de )ualidade em sua orma>6o. # segundo nasceu e cresceu em uma
amília de classe m%dia al$a, n6o $eve $an$as diiculdades assim e es$udou em =oas
escolas. # primeiro, por uma s%rie de mo$ivos )ue n6o conv%m de$alar, assis$e a
programas de $elevis6o populescos, n6o $em o á=i$o da lei$ura e convive com pessoas
simples e incau$as. # segundo assis$e a programas cul$uralmen$e ediican$es, $em o
á=i$o da lei$ura e convive no meio de pessoas =em ormadas. # primeiro n6o
en$endeu =em a propos$a do $ra=alo. # segundo á coligiu os ma$eriais para come>ar
a a72lo. Mergun$o por acaso es$as exegeses ser6o imparciais? #s es$udan$es, por
ocasi6o do la=or exeg%$ico, n6o sorer6o a in$erer7ncia de $ais a$ores? #ra, % sa=ido
)ue a idade, a orma>6o, a educa>6o, o con$ex$o epocal e cul$ural e a religi6o eRou a %de uma pessoa 9 en$re ou$ras coisas 9 n6o apenas pode como, de a$o, ae$a a sua
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ermen7u$ica par$icular, pois $ais variáveis comp8em sua cosmovis6o. Pes$ar$e, e n6o
o=s$an$e, ul$mann parece negligenciar is$o )uando airma )ue a4 % possível /mesmo
)ue somen$e aos exege$as “livres” de preconcei$os4 uma exegese sem premissas e =4
a linguagem como modus probandi . A linguagem n6o % somen$e um modo de provar ou
de demons$rar, mas $am=%m um modo de expressar nossos pensamen$os, inclina>8ese preconcei$os. Q6o % possível viver sem preconcei$os. @ na$ural D es$ru$ura psí)uica a
orma>6o de concei$os preconce=idos. *les nos audam a prever e evi$ar erros e a nos
relacionar com o mundo.
<á acelard es$á mais errado ainda )uando airma )ue a verdade % um
enUmeno cons$ruível. Mois, se a verdade % um enUmeno, ela es$á den$ro da realidade,
is$o %, % real. #ra, a)uilo )ue % real independe da mina von$adeH independe do poder
de cons$ru>6o umano. Se uma por$a es$iver ecada e algu%m )uiser passar por ela
alegando )ue, ao con$rário, ela es$á a=er$a, a mesma por$a n6o passará de ecada D
a=er$a s5 por )ue $al indivíduo )uis ou deseou. Q6o á como “cons$ruir” uma realidade
em )ue uma por$a ecada es$ea a=er$a simul$aneamen$e. Ls$o % ridículoN
#u$ro pro=lema de ul$mann, % )ue ele divide o concei$o de premissa em dois
$ipos as premissas en)uan$o preconcei$os de =ase religiosa e premissas ou$ras,
)uais)uer. Godavia, como vimos, na prá$ica, n6o á dieren>a eica, pois $an$o uma
como a ou$ra $em o poder de persuadir e induir o ermeneu$a a $omar es$e ou a)uele
camino exeg%$ico. Con$ra si mesmo, ul$amnn acer$a )uando airma )ue
%determinado enfo(ue sempre constitui premissa”, pois, se $odo e )ual)uer eno)ue
pressup8e uma ou mais premissas, ele, no a$o da exegese, es$á limi$ando, ocando
de$erminado $ex$o so= as limi$a>8es de seu in$elec$o, seu conecimen$o, sua vis6o ou
in$en>6o. A)ui, com o il5soo #lavo de Carvalo, $emos )ue dier )ue es$amos dian$e
de uma paralaxe cogni$iva.
Piversos s6o os aspec$os )ue devem ser levados em con$a no exercício
ermen7u$ico de um $ex$o. So=re a compreens6o is$5rica, o au$or di
“A compreens6o da is$5ria como con$ex$ura de eei$os pressup8e a compreens6o das or>as a$uan$es a
conca$enarem os enUmenos individuais. *ssas or>as s6o as necessidades econUmicas, os pro=lemas
sociais, a am=i>6o de poder na polí$ica, paix8es, ideias e ideais umanos. #s is$oriadores dierem no
peso )ue d6o a esses a$ores, e apesar de $odo o empeno em cegar a uma vis6o uniorme, no caso
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de cada historiador individual sempre preponderará determinado enfoque, determinada
perspectiva.0[1V] 9 grifo nosso
*s$a es$roe de ul$mann % suicien$e para condená2lo ao modo de paradoxo,
á )ue con$raria sua pos$ura ado$ada no $ex$o de )ue % possível um exege$a ser livre de
premissas. ul$mann % ená$ico )uando deende )ue o eno)ue do is$oriador /englo=o
nessa relex6o o il5soo, o $e5logo, o cien$is$a, o soci5logo, o psic5logo, e$c.4 % sempre
unila$eral. Lsso n6o % um desmerecimen$o do olar umano, mas a cons$a$a>6o da
limi$a>6o umana ren$e a seu “o=e$o” de es$udo. Modemos, nesse pon$o, acrescen$ar
a concep>6o nie$sceana na )ual diversos pon$os de vis$a enri)uecem a
compreens6o do en$e. Pian$e disso, ul$mann n6o desmerece o ac:mulo de
conecimen$o para as gera>8es u$uras, mas ena$ia a possi=ilidade de sempre
re$omar o )ue nos oi legado por meio de olar crí$ico. Godavia, ul$mann a=s$%m o
exegeta3livre3de3dogmas das pos$uras a priori )ue a$ri=ui aos ou$ros, ou sea, em
minas palavras, segundo ul$mann, á uma classe de seres umanos, camada de
exegetas3sem3rabo3preso2com3dogmas, )ue n6o deixam, miraculosamen$e, suas
ideias ou ca$egorias a priori in$ererirem na sua produ>6o $ex$ual acad7mica /exegese4.
ul$mann parece supor )ue somen$e $al exege$a /como ele4 pode alcan>ar a máxima
imparcialidade na análise e, com isso, desocul$ar a verdade.&[11] A mesma verdade )ue
% ocul$ada ou mascarada pela análise preconcei$uosa dos lei$ores, ermeneu$as ou
exege$as “inescrupulosamen$e” religiosos demais. A verdade n6o pode ser reduida Ds
ca$egorias racionais da cien$iicidade moderna 9 )ue exigem a veriica>6o e o con$role
em $ermos de demons$ra>6o e repe$i>6o como cri$%rio de norma$ia>6o do enUmeno
compreendido e in$erpre$ado cien$iicamen$e pelo suei$o epis$7mico 9 us$amen$e
por)ue n6o podemos desconec$á2la /a verdade4 da dimens6o geo2is$5rica )ue $an$o a
de$ermina como possi=ili$a sua melor compreens6o /isso de alguma orma á
invia=ilia a cren>a no dogma “cien$íico” do universalismo dedutivista, $an$o doposi$ivismo )uan$o do cien$ismo4. A pre$ens6o de )ue a ci7ncia, com seus respec$ivos
m%$odos apropriados, pode a$ingir a realidade como um $odo e ser considerada como o
&[1?] Bult"ann, p. ((+.
%[11] A 0!rdad!, o"o r!alidad! psio)oniti0a"!nt! al0!<ada d! pri"!ira rand!8a, 9 a"ais nor! tar!fa !"pr!!ndida p!la @atitud! int!rpr!tati0a M!st!rsC. / t!r"o r!oalethéia, o"o foi !7posto "aistral"!nt! por M. D!id!!r !" sua 2!r"!nutia
f!no"!nol5ia, sini6a Fd!soultaG$oH ou d!s0!la"!nto. Isto i"plia di8!r -u! !la a0!rdad!C pr!isa s!r arr!atada do luar !" -u! s! !nontra oultada atra09s dodisursolinua!" lógosC. Rudolf Karl Bult"ann foi dis;pulo d! Martin D!id!!r.
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“:nico lugar da verdade” /!AK*+G, "VV", p. "04 á se cons$i$ui um pseudodiscurso
ren$e Ds a$i$udes epis$emol5gicas mais s5=rias nos dias de oe. Goda e )ual)uer
ci7ncia apenas apresen$a um recor$e da realidade, ao con$rário da Geologia e de sua
ancilla principal, a Filosoia.
Qes$e sen$ido, a $eologia sa$isa, sim, como no$iica Mannen=erg /1&014, o pos$ulado
da coer7ncia, pois suas proposi>8es $7m, ou$rossim, o cará$er cogni$ivo /pois es$as
man$7m uma rela>6o de iden$iica>6o com a is$5riaRrealidade concre$a4 )ue $orna seus
ar$igos cons$i$u$ivos in$eligíveis do pon$o de vis$a da racionalidade epis$emol5gica, aa
vis$a )ue nela $am=%m exis$e $an$o o “o=e$o ma$erial” )uan$o o “suei$o epis$7mico”
/#FF, 1&&0, p. 12"4. #ra, com =ase nesse :l$imo pressupos$o, n6o á como olvidar
)ue a verdade, en)uando doxa, % uma condi>6oRin$en>6o )ue pode carac$eriar
preerencialmen$e a a$i$ude in$erpre$a$iva de $odo suei$o cognoscen$e, )ue desea,
ou$rossim, $ransormar sua suspei$a in$ui$iva em cer$ea epis$emol5gica. *s$e
procedimen$o marca a in$encionalidade do cogito car$esiano ren$e a )uais)uer
enUmenos on$ol5gicos exis$en$es e undamen$ados por uma cren>a apriorís$ica de
orien$a>6o $endenciosamen$e religioso2me$aísica.1V[1"] Qesse sen$ido, es$a pos$ura
ermen7u$ica $am=%m passa a ser carac$eriada pela cien$iicidade me$5dica )ue
pre$ende $ranscender os limi$es imaginários do conecimen$o sensível /popularmen$e
reconecidos e ar$iculados no senso comum4, conver$endo2o em cer$ea
epis$emol5gica para o suei$o compreensivo in$erpre$an$e, mas, com is$o,
desperdi>ando a par$e me$aísica da verdadeRrealidade. A verdade, en)uan$o valor
mo$ivacional e me$a alveada do empreendimen$o cogni$ivo, deve ser iden$iicada no
$es$emuno revelacional da experi7ncia is$5ricaH geograia epis$emol5gica es$a )ue
demarca o seu grau de au$en$icidade, =em como sua legi$imidade e valida>6o
cogni$ivas. Mor%m, $am=%m, ela deve ser iden$iicada no $es$emuno revelacional da
epiania da Malavra de Peus. Qa $eologia, en)uan$o ci7ncia da % [a$ri=ui>6o )ue
Jeidegger ou$orga a ela] /J*LP*WW*+, 1&&14, ela amais pode deixar de ser sua me$a
primeira e inal, se consideramos como os pais da Lgrea /so=re$udo <us$ino11[1E]4 de
)ue a verdade s5 % reerencial da % /ou do suei$o pís$ico4 1"[1] por)ue ela, an$es de
$udo, le % cons$i$u$iva. Assim, ao im e ao ca=o, veremos )ue, se a verdade cons$i$ui a
1?[1(] Esta 9 a sinto"4tia onlus$o a -u! s! 2!a da proposta "!todol5ia da 6loso6aart!siana do cogito ergo sum. =ara "!l2or !slar!i"!nto, f. J!sart!s 1%%(C.
11[13] f. o pri"!iro ap;tulo d! Tilli2 1%&?C.
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%, s5 pode aver, de a$o, uma % corre$a /so= pena exis$irem várias verdades
con$radi$5rias, )ue, em :l$ima análise, aca=ariam sendo $odas elas men$iras4.
Assim sendo, o )ue deve aver de comum, em $ermos de a$i$ude ermen7u$ica de $odo
suei$o in$erpre$an$e /so=re$udo na)uele )ue $ransi$a no e pelo reino da epis$emologia=í=lica4, % exa$amen$e a ones$idade in$elec$ual, orien$ada para o desvelamen$o da
verdade :l$ima exis$en$e en)uan$o o=e$ivo epis$7mico do empreendimen$o cogni$ivo, e
a %, ao modo anselmiano, necessária para a in$elec>6o da)uilo )ue n6o se cap$a
apenas com a exegese me$5dica racional /a)uela mesma camada de mis$%rio de )ue
á alei4. Assim, discordo de Mires X #liveira /"VV04 )uando airmam
Qes$e sen$ido, a na$urea eurís$ica de $odo esor>o cogni$ivo numa a$i$ude in$erpre$a$iva serena !amais
poderá direcionar , para de$erminados in$eresses secundários n6o especiicados aprioris$icamen$e
/ideol5gicos4, os signiicados possíveis /e os n6o possíveis4 de uma verdade encon$rada em um
de$erminado $ex$oRdiscursoRrealidade. 9 grifo nosso
Q6o % preciso expor, novamen$e, por )ue discordo des$es au$ores. *les ado$am
o mesmo posicionamen$o de ul$mann acei$am como real e eica a possi=ilidade de
uma exegese sem premissas. Ao modo da compreens*o prévia de ul$mann, es$es
au$ores v6o alar de reade(ua*o compreensiva, indo, a$%, mais longe )ue ul$amnn
)uando airmam )ue nem mesmo is$o pode adul$erar a o=e$ividade do resul$ado
in$erpre$a$ivo.
*s$a compreens6o nos permi$e alcan>ar maior grau de o=e$ividade na percep>6oRapreens6o de uma
realidadeRverdade pes)uisada mesmo considerando )ue, na pr5pria $area ermen7u$ica, á exis$a uma
“reade)ua>6o compreensiva” )ue % apreendida e comunicada por um in$erpre$an$e, o que n"o
implicaria, inevi$avelmen$e, num $ipo modal de pseudo2o=e$ividade. 9 grifo nosso
Acredi$o, sim, )ue a exegese =í=lica, )uando ei$a com parcimUnia, $emperan>a
e ones$idade in$elec$ual, % capa de alcan>ar um “maior grau de o=e$ividade”, mas 9
repi$o 9 ao modo anselmiano, is$o %, so=re sua 5rmula fides (uaerens intellectum.
*m poucas palavras, a verdade possui uma ace de o=e$ividade /ra6o, ci7ncia4
e ou$ra de su=e$ividade /%, me$aísica4. Ls$o, por%m, n6o signiica dier )ue a mesma
/a verdade4 sea necessariamen$e aprisionada e de$erminan$emen$e condicionada pela
1([1*] on!ito utili8ado na t!oria da !pist!"oloia t!ol5ia -u! sini6a @su<!itoportador da f9 >ER,(??*C.
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5$ica de seu suei$o )ue a perce=e para n6o redundarmos, assim, na sen$en>a
exis$encialis$a de orien$a>6o OierOegaardiana )uando es$a airma )ue a verdade %
essencialmen$e su=e$ividade. # corre$o % evi$ar es$es ex$remos nem apenas
o=e$ividade /ul$mann, acelard, Mires X #liveira4, nem apenas su=e$ividade
/-ierOegaard4, mas a m%dia ponderada /San$o Anselmo, -arl ar$4. Assim, $eno )uediscordar parcialmen$e de Mires X #liveira )uando airmam
Se a verdade, en)uan$o enUmeno ac$ível de uma percep>6oRapreens6o ermen7u$ica, $orna2se
inalcan>ável e inin$eligível sem a necessária u$ilia>6o dos 5culosT a=ricados /ideol5gicos4 por um topos
epis$7micoRsu=e$ivo, en$6o amais poderemos considerar )ue ela /verdade4 sea viceada no orion$e
cogni$ivo2ermen7u$ico da enomenologia da compreens6o /mui$o em=ora se ala )ue es$a es$á
preocupada n6o com a verdade em si, mas com o sen$ido )ue a ela damos na 4asein4, o )ue poderia
ser compreendido, grosso modo, como um o=s$áculo epis$emol5gico primário para as ci7nciasin$erpre$a$ivas em geral, na )ual se inclui a)ui a $eologia como ci7ncia ermen7u$ica.
Piscordo, mais uma ve por)ue Mires X #liveira, assim como ul$mann,
acelard, -an$, Jeidegger e $an$os ou$ros modernos e p5s2modernos es)uecem2se
da presen>a econUmica de Peus na is$5riaH es)uecem2se da Pivina Llumina>6o do
*spíri$o San$o. *s$a verdade, con$udo, n6o pode se ocul$ar so= o medo e a al$a de %
dos $e5logos “cris$6os”. #=viamen$e, concordaria com os au$ores se a Geologia n6o
osse uma ci7ncia na$ural e so=rena$ural, is$o %, )ue $em como o=e$o de es$udo o ísico
e o me$aísico.
ul$mann, no en$an$o, acer$a )uando ala da impor$ncia do conecimen$o da
língua original para se aer uma =oa exegese. Buan$o a is$o, un$amen$e com Jaroldo
de Campos, cos$umo dier )ue %A tradu*o é uma forma privilegiada de leitura crítica.
5ogo, a tradu*o dos textos bíblicos t6m a sua import7ncia, mesmo nas línguas (ue 8"
possuam uma ou mais vers9es deles/.
A$% agora, $emos algumas coisas )ue devam ser levadas em con$a. A
a=er$ura ao novo )ue se $oma ao lan>ar m6o de aer a exegese. # a$o de n6o sermos
puros is$oricamen$e em rela>6o ao )ue nos propomos es$udar. Buan$o a es$e pon$o,
n6o somen$e en$ra o is$5rico no geral, ou uma esp%cie de consci7ncia cole$iva, mas o
suei$o mesmo. Acerca disso, ul$mann di )ue a “compreens6o is$5rica sempre
pressup8e uma rela>6o do in$%rpre$e com o o=e$o )ue se manies$a dire$a ou
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indire$amen$e nos $ex$os”1E[1']. *ssa rela>6o do in$%rpre$e es$á na sua rela>6o vivencial
com o o=e$o e % nesse aspec$o )ue n6o á possi=ilidade de isen>6o de premissas na
exegese. “*s$a compreens6o” di ul$mann “% )ue camo de compreens"o pr#via”.1
[13]
Já, desse modo, uma rela>6o exis$encial com a is$5ria da )ual o in$%rpre$e
a par$e. A par$ir dessa rela>6o, % impossível pensar numa es$ru$ura suei$o2o=e$o no
)ual ouvesse um olar isen$o para o o=e$o, aa vis$a )ue $emos previamen$e
concep>8es )ue inluenciar6o relevan$emen$e a in$erpre$a>6o. Pian$e da compreens6o
pr%via, de sermos suei$os is$5ricos e carregarmos a mu$a=ilidade dada a par$ir de
nossa condi>6o, ul$mann conclui )ue a “in$ui>6o is$5rica nunca % deini$iva e
concluída”1'[1(].
Mara ul$mann, o “even$o is$5rico a par$e do seu u$uro” 13[10], ou sea,
somen$e )uando o even$o acon$ece % )ue ele come>a a ser compreendido, e )uan$o
mais dis$ncia o in$%rpre$e $oma do even$o, maior % a compreens6o de seu sen$ido. A
esse respei$o, mais a ren$e, ul$mann di )ue %A compreens*o de um texto nunca é
definitiva, mas permanece aberta, por(ue em cada futuro o sentido da 0scritura se
manifesta de nova maneira/ $: [19] . Mor%m, na compreens6o de um $ex$o, á
inorma>8es )ue podem permanecer inal$eradas, pelo menos em seu cerne, como oi e
ainda % o caso da ressurrei>6o de Cris$o para os cris$6os, )ue permanece a mesma
mensagem, inal$erada em seu maior signiicado, e D )ual pouco se pode acrescen$ar.
Mor im, % preciso a$en$ar para uma coisa. # mais duro golpe dado na $ese
=ul$manniana de )ue % possível uma exegese sem premissas % deserido pelo pr5prio
ul$mannN Maradoxalmen$e, como á disse, ul$mann, nes$e ar$igo o )ual cri$icamos
/!er" possível a exegese livre de premissas#4, admi$e ser e n6o ser possível uma
13[1+] Bult"ann, p. ((.
1*[1] Bult"ann, p. ((.
1+[1'] Bult"ann, p. (('.
1[1&] Bult"ann, p. (('.
1'[1%] Bult"ann, p. ((&.
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pr5prias ideias se con$rariam. Giran$e o res$o de sua o=ra e a =rilan$e capacidade
especula$iva )ue possuía, ul$mann n6o mereceria o status de um dos melores
$e5logos do s%culo YY.
A$% a)ui, á
a4 apresen$amos o ar$igo de ul$mann 9 in$i$ulado !er" possível a exegese livre de
premissas#,
=4
mos$ramos )ue $al au$or acer$a /)uan$o ao “n6o”4 )uando airma a parcialidade de $odo
e )ual)uer alan$eRescri$orRouvin$eRlei$or de $odo e )ual)uer $ex$o, mas )ue erra, )uando
relega somen$e aos exege$as n6o2preconcei$uosos, a exclusividade de um $ra=alo
ermen7u$ico isen$o de $end7ncias, pois )ue $ais exege$as, para ul$mann, conseguem
evi$ar )ue suas cosmovis8es e inorma>8es aca=em pene$rando e in$ererindo no $ex$o
e em sua in$erpre$a>6o,
c4
evidenciamos )ue, des$a maneira, ul$mann come$e dois erros, um $e5rico2l5gico e
ou$ro $eol5gico. Buan$o ao primeiro, ul$mann come$e uma paralaxe cogni$iva /#lavo
de Carvalo4, na )ual, ele, ul$mann, airmando ser possível uma exegese sem
premissas, descura do a$o de )ue o exege$a /como ele4, ao alvi$rar para si o anseio de
cons$ruir uma o=ra puramen$e o=e$iva, aca=a impondo $al premissa ao seu la=or
exeg%$ico, o )ue, de algum modo, in$erere na)uela $6o deseada imparcialidade.
Buan$o ao segundo erro, ul$mann inringe pelo menos $r7s dos principais dogmas
comuns a $oda cris$andade a Pivina Lnspira>6o das *scri$uras, a Pinvina +evela>6o de
Peus e a Pivina Llumina>6o do *spíri$o San$o. Gudo is$o )uando acusa Maulo, Ka$eus e
<o6o de n6o rela$arem a verdade em seus $ex$os, pois es$ariam apenas apresen$ando
um eno)ue incomple$o e alseado pelas suas su=e$ividades. #ra, se assim osse, n6ose poderia crer em uma s5 palavra deles. @ claro )ue, en)uan$o suei$os is$5ricos e
narra$ivos, $ais ap5s$olos $inam suas su=e$ividades e as passavam para seus
escri$os, mas is$o n6o )uer dier )ue a presen>a de $ais su=e$ividades alseiam a
verdade. *n$6o, como )ue ao modus probandi , ul$mann, ci$ando dois $ex$os
aparen$emen$e con$radi$5rios e n6o armoniáveis, airma n6o merecem $o$al cr%di$o
os evangelos de Ka$eus e <o6o. Assim, ul$mann negligencia a dou$rina da Pivina
Lnspira>6o das *scri$uras, colocando a verdade de $ais $ex$os so= suspei$a e
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d4
)ue, us$amen$e por n6o aver em con$a o papel do *spíri$o San$o na dinmica do
la=or ermen7u$ico, ul$mann reei$a a genuína % cris$6, e, assim, reei$a Cris$o, e, se
reei$a Cris$o, reei$a o :nico PeusH logo, ul$mann % um a$eu, por$an$o n6o poderia
se)uer aer $eologia.
Agora, man$enamos a devida cau$ela, pois os riscos )ue o exege$a =í=lico
cris$6o corre es$6o nas duas pon$as da $area. Se, como vimos, a aus7ncia de %
incapaci$a $odo e )ual)uer exege$a da Bíblia de o=$er dela o mais comple$o
aprovei$amen$o, por ou$ro, o excesso de conian>a pode escamo$ear armadilas
sorra$eiras. Ao considerarmos o ideal de o=e$ividade e de neu$ralidade como valores
cien$íicos insus$en$áveis do pon$o de vis$a da pes)uisaRinves$iga>6o cien$íica /ML+*S
X #!LZ*L+A, "VV04, poderemos acilmen$e nos incorrer em alguns ou$ros riscos por
exemplo, o de n6o apreendermos, por con$a da)uilo )ue acelard /1&&34 cama de
“o=s$áculo epis$emol5gico”, o verdadeiro signiicadoRsen$ido provável $ra$ado por um
$ex$oRrealidadeRlinguagem us$amen$e por acredi$armos )ue dele á sa=emos o
suicien$e a pon$o de n6o mais precisarmos aprender. @ preciso man$er a umildade e
deixar o *spíri$o San$o nos auxiliar. Ainal, a)uilo )ue pensamos sa=er, com re)u7ncia,
nos impede de aprender o )ue ainda n6o sa=emos perei$amen$e /Claude ernard4. #
“conecimen$o real % a lu )ue sempre proe$a algumas som=ras” /ACJ*!A+P, 1&&3,
p. 1(4. Ls$o signiica dier )ue “dian$e do real, a)uilo )ue cremos sa=er com clarea
ousca o )ue deveríamos sa=er” /ACJ*!A+P, 1&&3, p. 104. Ao mesmo $empo, Qesse
sen$ido, a a$i$ude epis$emol5gica exige um procedimen$o de descons$ru>6o do “eu
cogi$o” dian$e da)uilo )ue aparen$emen$e se ulga conecer suicien$emen$e. *s$a % a
$ese undamen$al )ue aparece no epicen$ro da crí$ica de acelard, e, a)ui, pagamos
nosso $ri=u$o a ele. Qes$e sen$ido, a propos$a =acelardiana se aproxima rela$ivamen$e
da a$i$ude car$esiana ren$e ao on$ologicamen$e de$erminado, re)en$emen$e
assumido como um axioma ou como uma verdade a=solu$a. A d:vida me$5dica
/ins$rumen$aliada pelo “cogi$o ergo sum”4 sugere uma reorgania>6o psicopedag5gica
do conecimen$o sensível do suei$o epis$7mico /agora por$ador de uma ra6o
in)uiridoraRins$rumen$al4 dian$e de $udo a)uilo )ue % acei$o com rela$iva ingenuidade
racional para o=$er a clarea median$e o uso do cogi$o. +essalve2se somen$e )ue, es$a
d:vida me$5dica deve servir apenas como ins$rumen$o epis$emol5gico, e n6o como
regra de vida, como acon$eceu com +en\ Pescar$es, ou sea, a % na Malavra de Peus
n6o precisa ser descar$ada )uando se es$iver usando a $%cnica do cogito ergo sum
como ins$rumen$o me$odol5gico.
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Qes$e sen$ido, a propos$a =acelardiana se aproxima rela$ivamen$e da a$i$ude
car$esiana ren$e ao on$ologicamen$e de$erminado, re)uen$emen$e assumido como um
axioma ou como uma verdade a=solu$a. A d:vida me$5dica /ins$rumen$aliada pelo
“cogi$o ergo sum”4 sugere uma reorgania>6o psicopedag5gica do conecimen$o
sensível do suei$o epis$7mico /agora por$ador de uma ra6o in)uiridoraRins$rumen$al4
dian$e de $udo a)uilo )ue % acei$o com rela$iva ingenuidade racional para o=$er a
clarea median$e o uso do cogito. Godavia en$endamos )ue “ingenuidade racional” para
acelard /e $am=%m para ul$mann4 % $am=%m o aca$amen$o irrele$ido dos dogmas e
dou$rinas da Lgrea Cris$6. Mor$an$o, adap$emos sua exposi>6o ao con$ex$o $eol5gico,
)ue n6o pode, amais, a=dicar da %.
Qum primeiro momen$o, a %, na perspec$iva car$esiana, % % no cogito orien$ado
por uma l5gica ma$emá$ica )ue $orna possível a cer$ea com rela>6o ao o=e$o
reerenciado pela ra6o in$ui$iva. Pe acordo com acelard, a “opini6o” es$á sempre
e)uivocada. Mois pensa mal D medida )ue $radu necessidades em conecimen$o. Mor
es$a ra6o, n6o se pode =asear nada so=re ela /ACJ*!A+P, 1&&34. *, a)ui,
novamen$e uma crí$ica a ul$mann. Se acelard es$iver cer$o )uando di )ue $oda
opini6o erra por)ue $radu necessidades de momen$o, en$6o, como á vimos, ul$mann
amais poderá aer uma exegese livre de premissas, pois, no momen$o em )ue a
es$iver aendo, averá, pelo menos, uma necessidade de momen$o a de aer uma
exegese sem premissasH e, como dissemos, de alguma orma, o cará$er peremp$5rio
des$a necessidade “oprime” o exege$a coagindo2o ou pressionando2o a las$rar2se
somen$e nis$o, renegando $o$almen$e a possi=ilidade de exis$ir um $ex$o )ue necessi$e
de uma ermen7u$ica $ipicamen$e espiri$ual. # espíri$o cien$íico % mui$o mais
esclarecível, do )ue esclarecedorH possui um ins$in$o “orma$ivo”, e n6o “conserva$ivo”
/ACJ*!A+P, 1&&3, p. 1&4. @ como pe>as de um )ue=ra2ca=e>as ao modo derecor$es de realidadeH realidade es$a )ue permanece sempre ragmen$ada. Assim
$am=%m, á $ex$os =í=licos )ue, se su=me$idos orem ao es$udo des$a ou da)uela
ci7ncia, $er6o sua mensagem apresen$ada apenas em recor$es limi$ados /como as
pe>as do )ue=ra2ca=e>as4, por%m, amais, es$a mensagem será plenamen$e
decodiicadaRin$erpre$ada sem o auxílio do *spíri$o San$o.
Mara acelard, $odo conecimen$o % ru$o de uma respos$a dada a umapergun$a ei$a, ou como sugere ;namuno /1&&34, como respos$a D necessidade de
so=reviv7ncia do ins$in$o de perpe$ua>6o no )ual a pergun$a ei$a emerge como
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pro=lema. # o=s$áculo epis$emol5gico se esconde no conecimen$o n6o )ues$ionado.
Lnelimen$e, por%m, acelard admi$e )ue )uando o espíri$o umano se apresen$a D
cul$ura cien$íica, ele á n6o % $6o ovem. Mois $ra consigo $oda a =agagem rece=ida ao
longo de sua experi7ncia da viv7ncia co$idiana. Qes$e sen$ido, a idade de um esp&rito
que se apresenta ) cultura cient&fica # a idade de seus preconceitos( *+rifonosso #ra, de acordo com acelard, as crises de crescimen$o do pensamen$o
implicam uma reorgania>6o $o$al do sis$ema de sa=er, segundo o )ual, $oda ca=e>a
=em ei$a deve necessariamen$e ser reei$a /ACJ*!A+P, 1&&34. *s$a pos$ura
carac$eria a verdadeira condi>6o do espíri$o umano ren$e ao $o$almen$e inusi$ado,
conigurada na)uilo )ue o /1&&04 cama de “umildade in$elec$ual” num sen$ido
geral, e “umildade $eol5gica” no sen$ido es$ri$amen$e acad7mico para a realidade de
$e5logos e $e5logas. San$o Agos$ino /apud #FF, 1&&04, considerado como um dosmaiores pensadores do #ciden$e cris$6o /assim como Bart4, n6o se envergona de
rever cri$icamen$e seus "E" livros em suas Retractationes. Kas para o educador, de
acordo com acelard, es$e senso de umildade pode se encon$rar pra$icamen$e
invalidado, ra6o pela )ual ele /o educador4 diicilmen$e $erá um senso de racasso. #
educador se v7 invariavelmen$e como mes$re, e n6o como aprendiH como suei$o
epis$7mico maduro,e n6o como uma esp%cie de mu$an$e in$elec$ual como % exigido
pela cul$ura cien$íica /ACJ*!A+P, 1&&34. Qo en$an$o, o esp&rito cient&fico # um
eterno itinerante, ha!a vista que o discurso cient&fico será sempre um discurso de
circunst-ncia( *+rifo nosso Qum ou$ro $ra=alo, acelard /1&&4 di )ue $odo
pensamen$o cien$íico deve mudar peran$e uma experi7ncia nova. *s$a lexi=ilidade
psico2in$erpre$a$iva do suei$o epis$7mico s5 % possível por)ue a ovialidade,
carac$eriada pela a=er$ura do espíri$o cien$íico, n6o % superada pela le$argia
anes$%sica da ma$uridade improdu$iva de suei$os epis$emologicamen$e envelecidos.
acelard /1&&34 cega aer men>6o D ala de um epis$em5logo irreveren$e )ue diia
serem :$eis D ci7ncia somen$e omens e muleres na primeira me$ade de suas vidas,
pois na ou$ra, seriam ex$remamen$e nocivos /ACJ*!A+P, 1&&34.
Pessar$e, com acelard, podemos airmar )ue os agi5graos =í=licos $inam
sim um discurso de circuns$ncia, dado )ue, en)uan$o suei$os is$5ricos, es$avam
circunscri$os numa dada dinmica de $empo e cul$ura, o=edecendo ao =eitgeist ora
pales$ino, ora romano, ora grego, ora cris$6o, ora dois ou mais des$es
simul$aneamen$e. Kas a produ>6o $ex$ual des$es mesmos escri$ores n6o se limi$aD)uilo )ue $em proced7ncia somen$e para a %poca de escri$ura dos $ex$os. *, nis$o, se
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engana +udol ul$mann )uando airma )ue n6o merecem conian>a os $ex$os de <o6o
e Ka$eus por)ue exp8e $6o2s5 a cosmovis6o ae$ada e limi$ada des$es mesmos
au$ores. Segundo a Sacra Geologia, por%m, os $ex$os escri$urís$icos possuem o )ue
podemos camar de metassignificado espiritual , is$o %, as mensagens veiculadas
nes$es $ex$os dirigiam2se a um dado p:=lico alvo epocal, mas $am=%m D pos$eridade,ou sea, ao im e ao ca=o, aos u$uros lei$ores cris$6os /n5s4.
Q6o o=s$an$e $ais pon$os de dessemelan>a com ul$mann, a dou$rina de
acelard guarda ainda alguns aspec$os corro=oran$es. Com acelard, aprendemos
)ue a a$i$ude ermeneu$icamen$e corre$a % a)uela )ue $ra a pergun$a an$es de
incorporar )uais)uer pressupos$os, seam eles de ordem ermen7u$ico2ilos5icos,
seam eles oriundos da experi7ncia comum. *s$a pergun$a sugere mui$o mais a
ingenuidade de um espíri$o )ue ainda n6o sa=e /e por isso pergun$a para aprender
algo novo, e nisso consis$e o “conecimen$o cien$íico” para acelard4, do )ue a
perspicácia de )uem pergun$a para cris$aliar a dieren>a epis$emol5gica es$a=elecida
no diálogo in$ersu=e$ivo. Godavia, vale insis$ir, es$e ensinamen$o =acelardiano n6o
pode se aplicar $o$almen$e ao $ex$o =í=lico, pois, como vimos, n6o daria con$a de
explicar a camada de mis$%rio )ue a na Bíblia e )ue somen$e a Pivina +evela>6o %
capa de in$erpre$ar. A a$i$ude o=e$iva do espíri$o cien$íico % neu$ra D medida )ue ela
assume a inoc7ncia de uma consensual convic>6o de )ue o conecimen$o umano %
ragmen$ário e es$ru$uralmen$e microdimensionado /por$an$o, essencialmen$e limi$ado4,
con$endo em si deici7ncias cons$i$u$ivas, podendo, des$a orma, perce=er a verdade
somen$e de mui$o longe. A pedagogia de rup$ura incide so=re e no suei$o epis$7mico
na medida em )ue ele elege um novo m%$odo de apreens6o de uma verdade ainda
desconecida para romper com o convencionado conecimen$o a=i$ual
/ACJ*!A+P, 1&&4. Já, por$an$o, uma irreu$ável rela>6o en$re m%$odo e verdade
)ue pode n6o s5 de$erminar o curso do empreendimen$o epis$emol5gico, como
$am=%m os resul$ados a serem o=$idos pelo mesmo. Mor con$a dis$o, acelard aca=a
condenado o m%$odo car$esiano de ser redu$ivo, e n6o indu$ivo. Mois es$e n6o s5 alsea
o resul$ado da análise, como $am=%m en$rava o desenvolvimen$o ex$ensivo do
pensamen$o o=e$ivo /ACJ*!A+P, 1&&4. Pe acordo com acelard /1&&, p. &(4, a
“perenidade” de m%$odos, inelimen$e /por melores )ue seam4, $orna o pensamen$o
cien$íico a=solu$amen$e inecundo e a nova verdade inalcan>ável, al%m do )ue eles
aca=am invia=iliando a macrocompreens6o des$a :l$ima. Quma de suas ci$a>8esaparece a seguin$e asser>6o “uma verdade demons$rada man$%m2se cons$an$emen$e
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a$i$ude de descons$ru>6o n6o somen$e de um tu3cognoscível
/$ex$oRlinguagemRrealidade4, mas $am=%m e, so=re$udo, de um preconcei$uoso eu3
cogito in$erpre$an$e. @ a par$ir des$e axioma ermen7u$ico )ue o dis$anciamen$o $ornar2
se2á modus operandi da)uilo )ue +icoeur /1&0&, p. 1E(4 cama de “ermen7u$ica da
apropria>6o” da coisaRrealidade in$erpre$ada /ou “coisa do $ex$o”4. A pos$urain$erpre$a$iva de um suei$o in$erpre$an$e deve se conigurar como a)uiescen$e
“su=miss6o cogni$iva” dian$e de uma realidade nova a ser revelada como verdade
deseada. *m $ermos ermen7u$ico2$eol5gicos, o diálogo en$re o in$%rpre$e e o
$ex$oRrealidade in$erpre$ada pressup8e uma condi>6o pr%via a “a$i$ude de %”
/W*FF+@, "VV', p. E'4, )ue na l5gica de uma engenaria cogni$iva, signiica assumir a
condi>6o de um “inve$erado aprendi”, como nos sugeriu acelard /1&&34. A
o=e$ividade in$encionada pela corre$a pos$ura ermen7u$ica aca=a cons$rangendo osuei$o cognoscen$eRin$erpre$an$e a assumir, do pon$o de vis$a da percep>6o cogni$iva,
sua inidade gnosiol5gica igurada na gramá$ica da umildade in$elec$ivaT
/tapeinopr>s?ne4 ren$e a uma sempre nova verdadeRrealidadeT /cognoscível4 a ser
revelada /apo1al@ft6nai 4 de maneira processual. A verdade, mui$as vees, %2nos
revelada a$rav%s de um processo $emporal 9 como ocorre ami:de nas *scri$uras. Mor
es$a ra6o, ela /a verdade4 % considerada, stricto sensu, um enUmeno
ermeneu$icamen$e inexaurível em sua on$ologia. *m $eologia, de acordo com Wer%
/"VV', p. E&4, “a manies$a>6o da verdade % sempre manies$a>6o do devir” /eran>a
de Jerácli$o4, e compe$e, ao suei$o in$erpre$an$e, resignar2se dian$e da
impondera=ilidade des$e a$o ermen7u$ico. A cada nova desco=er$a se ins$aura
sempre uma nova relei$ura /)ue comp8e cada camada in$erpre$a$iva do processo
ermen7u$ico4"V[""], )ue desem=ocará, ou$rossim, em uma nova necessidade
cogni$iva. *s$a circularidade ermen7u$ico2cognosci$iva produ no suei$o in$erpre$an$e
a necessidade de se en$regar D desco=er$a de uma sempre nova verdade, de maneira
comple$amen$e inan$il /no sen$ido =acelardiano4. *, nis$o, conirma2se a condi>6o de
o=e$ividade in$erpre$a$iva da pos$ura ermen7u$ica ren$e a uma realidadeRverdade a
ser conecida e in$erpre$ada, mas )ue n6o descura ou olvida da Pivina Llumina>6o do
*spíri$o San$o.
(?[((] #or! !sta disuss$o, roatto 1%&*C prop! o on!ito d! eisegese o"o on!ito"ais apropriado para s! falar d! pro!sso 2!r"!nutio.
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(1[1] Ensaio 04lido o"o a0aliaG$o p!la disiplina d! E7!!s! ( , so a ori!ntaG$o do =rof.Jr. Esdras osta B!nt2o, na auldad! E0an9lia da on0!nG$o !ral das Ass!"l!ias d!J!us AEAJC.(([(] Alan raniso d! #ou8a L!"os 9 prof!ssor d! l;nuas portuu!sa ! r!a ! r!sp!ti0aslit!raturas ! a2ar!lando !" T!oloia.
(1
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