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O ESTUDO IMBOKODO HVTN 705/HPX2008: UMA REFLEXÃO NO DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A SIDA A VIAGEM DA ESPERANÇA RECORDE DE ADMISSÃO CRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS EM ESTUDO DE PREVENÇÃO DO HIV VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 PUBLICADO PELA REDE DE ENSAIOS CLÍNICOS DE VACINAS CONTRA O HIV (HVTN)

CRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS … · Vacinas contra o HIV (HIV Vaccine Trials Network – HVTN), a Community Compass, anteriormente conhecida como CAB Bulletin

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O ESTUDO IMBOKODOHVTN 705/HPX2008:

UMA REFLEXÃO NO DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A SIDA

A VIAGEM DA ESPERANÇA

RECORDE DE ADMISSÃOCRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS

EM ESTUDO DE PREVENÇÃO DO HIV

VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017

PUBLICADO PELA REDE DE ENSAIOS CLÍNICOS DE VACINAS CONTRA O HIV (HVTN)

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 20171

CARTA DO EDITOR Bem-vindo ao mais recente número da publicação da Rede de Ensaios Clínicos de

Vacinas contra o HIV (HIV Vaccine Trials Network – HVTN), a Community Compass,

anteriormente conhecida como CAB Bulletin.

Desde 1988 que o dia 1 de Dezembro, o Dia Mundial da SIDA, representa uma data

importante na luta global contra o HIV. O HIV/SIDA continua a devastar comunidades

a nível global. Algumas forças sociais e estruturais, tais como a pobreza, a

discriminação, a violência entre parceiros sexuais e alguns preconceitos relacionados

com o género, sexualidade e raça/etnia continuam a influenciar e aumentar o risco de

infecção pelo HIV. Esta não é uma visão ficcional, mas sim a realidade. O Dia Mundial

da SIDA tem como objectivo recordar-nos que, a cada ano que passa, algumas

comunidades espalhadas por todo o globo continuam a registar elevadas taxas de

infecção pelo HIV, embora tenham sido feitos progressos significativos na redução do

número de novas infecções e na redução da progressão da doença em muitas áreas

geográficas. Esta situação requer um esforço adicional por parte de todas as entidades

envolvidas.

Chegámos já muito longe no desenvolvimento de tratamentos inovadores para o

HIV e métodos de prevenção primária. O estudo RV144 de investigação de uma

vacina contra o HIV conduzido na Tailândia veio renovar o optimismo nesta área de

investigação. Os estudos de Prevenção Mediada por Anticorpos (Antibody Mediated

Prevention – AMP) estão a ser conduzidos em todo o mundo com vista a determinar

se os anticorpos investigados são eficazes na prevenção do HIV e, em caso afirmativo,

qual a dose necessária para prevenir a infecção. Este número da Community Compass

é dedicado aos estudos HVTN 702 e HVTN 705. Estes dois estudos de investigação de

uma vacina contra o HIV, conduzidos no Sul de África, constituem ensaios clínicos

avançados e inovadores, que irão dar resposta a questões críticas. O estudo HVTN

702 consiste num ensaio clínico em homens e mulheres, conduzido na África do Sul,

de investigação de uma estirpe específica de HIV, denominada clade C, encontrada

no Sul de África. Este estudo poderá conduzir ao licenciamento de um regime de

vacinação, caso seja possível demonstrar a eficácia deste último. O estudo HVTN 705

destina-se a avaliar a eficácia de um regime de vacinação em mosaico, dirigido a

várias estirpes de HIV encontradas em todo o mundo, em mulheres de vários países

do Sul de África. Este estudo irá permitir responder a questões acerca do possível

sucesso desta abordagem em várias regiões do mundo. Os resultados destes estudos

poderão não só conduzir a uma investigação mais abrangente da vacinação contra

o HIV, mas também revelar novos mecanismos de acção passíveis de contribuir para

o desenvolvimento de uma nova vacina contra o HIV. Para saber mais acerca destes

estudos, continue a folhear as páginas desta revista!

Onde quer que se encontre, gostaríamos de lhe agradecer pelo seu apoio à HVTN,

pelos seus esforços, qualquer que seja a sua função na comunidade da HVTN, e

pela sua contribuição para o impacto que temos vindo conjuntamente a exercer na

nossa história colectiva e nas nossas comunidades! Há muito mais a fazer até que

consigamos uma vacina eficaz contra o HIV. Continuamos a crer que tal vacina

representa a nossa melhor esperança de travar a epidemia de HIV a longo prazo. A

equipa da Community Compass da HVTN deseja estar onde quer que esteja, pelo

que lhe pedimos que nos dê notícias do seu centro de investigação, instituições e

comunidades, para que os possamos partilhar com o resto do mundo.

Desejo-vos tudo de bom,

Stephaun E. Wallace

Chefe de Redacção, Community Compass da HVTN

Stephaun E. Wallace, Chefe de Redacção

ÍNDICE2

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Boas-Vindas ao Novo Membro da UEC

Conheça a equipa da Community Compass

HVTN 705/HPX2008: O Estudo Imbokodo

Criação de laços na comunidade resulta em taxas recorde de admissão em estudo de prevenção do HIV

A Despedida de Jim

Próximas Reuniões/Conferências

A Viagem da Esperança

Trabalhadoras Sexuais de Iquitos Unem-se em Militância

Casa Aberta: Um local para conviver, aprender e reforçar laços na comunidade

Workshop para os Participantes em Estudos de Perfusão e Vacinação contra o HIV, em Durban

Parceiros da Comunidade e Projecto de Legado

Uma Reflexão no Dia Mundial de Luta Contra a SIDA

Fazemos História na Comunidade, com a Comunidade

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 2

É com entusiasmo que a Unidade

de Envolvimento das Comunidades

(UEC) da HVTN dá as boas-vindas ao

seu mais recente membro, Kagisho

“KG” Baepanye, que integrou a equipa

a 3 de Julho de 2017 e irá trabalhar

em estreita colaboração com Nandi

Luthuli como Gerente de Formação de

Educação das Comunidades da HVTN,

em Joanesburgo, África do Sul. Muitos

de vós conhecem KG como Educador/

Recrutador da Comunidade (ERC)

do Instituto Aurum em Klerksdorp;

contudo, KG é mais conhecido como

Co-Presidente de ERC da HVTN para

Centros Internacionais. Um assistente

de enfermagem qualificado, KG recebeu

formação no Complexo Hospitalar de

Klerksdorp Tshepong, onde trabalhou

como enfermeiro na área de doenças

crónicas durante 4 anos. Trabalhou ainda

no CIC da Unidade de Investigação

Perinatal do HIV (PHRU) de Klerksdorp

durante 4 anos, onde foi responsável pelo

recrutamento, retenção e educação da

comunidade no âmbito de estudos da TB.

Nos últimos 5 anos, KG ocupou os cargos

de Chefe da Equipa de Recrutamento e

Retenção e Director de Envolvimento

da Comunidade (DEC) no Instituto

Aurum. Na qualidade de DEC, KG liderou

e dirigiu a equipa de envolvimento da

comunidade, liderou os esforços de

recrutamento e retenção, coordenou

as actividades do Conselho Consultivo

da Comunidade e supervisionou o

programa de aconselhamento e testes

do HIV do CIC. KG é licenciado em

Ciências da Saúde e Serviços Sociais pela

Universidade da África do Sul (UNISA). KG

prosseguiu a sua educação na Fundação

de Desenvolvimento Profissional, tendo

obtido um Certificado de Pós-graduação

em Gestão. Além disso, KG vem trazer à

equipa a sua paixão pela descoberta de

uma vacina contra o HIV que possa um

dia pôr fim à morte prematura de muitos

dos nossos irmãos, irmãs e filhos. É com

muito entusiasmo que KG vem agora

integrar o Núcleo da HVTN, onde espera

poder contribuir para fazer a diferença

nas vidas dos indivíduos mais afectados

pelo HIV.

* Nandi Luthuli é a Directora-Geral de Formação das Comunidades da HVTN em Joanesburgo, África do Sul.

CONHEÇA A EQUIPA DA COMMUNITY COMPASS

É nossa visão que a comunidade da HVTN se mantenha permanentemente

informada dos eventos correntes e actividades da rede e dos centros, assim como

dos progressos alcançados na prevenção e vacinação contra o HIV e prioridades

das comunidades. Para concretizar esta visão, disponibilizamos informação e

actualizações relevantes, com vista a assegurar uma maior consciencialização e

compreensão dos assuntos relevantes e garantir o apoio à prevenção e vacinação

contra o HIV, actuando em todas as comunidades interessadas em travar esta

epidemia.

A submissão de artigos sobre temas relevantes para a comunidade da HVTN é bem-

vinda. Publicamos apenas informação exclusiva, pelo que qualquer artigo deverá

apenas ser submetido à nossa revista. Cada artigo não deverá exceder um máximo de

500 palavras, de forma a cumprir com os nossos requisitos de formatação e design.

Fazemos o nosso melhor para ler todas as submissões o mais rapidamente possível.

Caso estejamos interessados em publicar o seu artigo, entraremos em contacto

consigo dentro de duas semanas. Devido a limitações de espaço, é possível que

tenhamos de adiar a publicação do seu artigo. Para submeter um artigo para

publicação na Community Compass, aceda à página inicial do Site dos Membros

da HVTN, clique em “About”, seguido de “Community Compass” e “Submit to

Community Compass”.

Boas-Vindas ao Novo Membro da UEC Por: Nandi Luthuli, Núcleo da HVTN, Joanesburgo, África do Sul

Kagisho Baepayne

Chefe de Redacção

Produção e Distribuição

Formatação e Design

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HVTN 705/HPX2008: O ESTUDO IMBOKODOO estudo HVTN 705/HPX2008, conduzido

conjuntamente pela HVTN e Janssen

Pharmaceuticals, tem como objectivo a

investigação de um regime de vacinação

preventiva contra o HIV cujo âmbito inclui

os vários tipos de HIV de todo o mundo.

Este estudo deverá ter início em

Novembro de 2017, sendo conduzido

em aproximadamente 26 centros de 5

países da África Subsaariana: África do Sul,

Zimbabwe, Moçambique, Malawi

e Zâmbia.

Este provérbio tornou-se famoso após

a respectiva inclusão numa canção de

intervenção que fala da coragem e força

das mulheres Africanas. Em África, as

mulheres são consideradas as pedras

basilares da vida, simbolizadas por

enormes rochedos, de enorme força!

O protocolo do estudo foi distribuído

por todos os centros em Fevereiro de

2017, tendo sido já submetido para

aprovação pelas autoridades de regulação

de alguns países e comissões de ética

dos centros. O logotipo do estudo foi já

concluído. As sessões de formação dos

assistentes de educação e recrutamento

nas comunidades tiveram lugar em

Joanesburgo, de 5 a 7 de Junho de 2017,

tendo sido seguidas de uma reunião dos

accionistas, realizada a 8 e 9 de Junho

de 2017.

Deverão ser admitidas no estudo 2600

mulheres, com idades compreendidas

entre os 18 e os 35 anos, dado o ónus

desproporcional da infecção pelo HIV

em mulheres nos países envolvidos,

comparativamente aos homens da

mesma faixa etária. Estima-se que a fase

de recrutamento tenha uma duração de

até 14 meses, devendo ser iniciada pelos

vários centros em datas diferentes, durante

o mês de Setembro de 2018. As voluntárias

serão recrutados por equipas de agentes

de envolvimento das comunidades nas

quais os centros se encontram situados e

áreas adjacentes, se necessário, através de

uma variedade de actividades educativas,

de consciencialização e de sensibilização.

Os técnicos do estudo irão avaliar as

voluntárias, com vista a seleccionar

participantes saudáveis que satisfaçam os

critérios de inclusão do estudo. É exigido a

todas as voluntárias que não se encontrem

infectadas pelo HIV, que não estejam

grávidas e que se encontrem dispostas a

cumprir o calendário de visitas do estudo.

Cada participante irá ser seguida durante

um período de 24 a 36 meses (2-3 anos),

assim como receber 6 injecções ao longo

de 12 meses. Será administrada uma

injecção por ocasião da admissão e uma

outra ao terceiro mês, assim como duas

injecções nos meses 6 e 12. Durante o

período de seguimento, as participantes

serão cuidadosamente monitorizadas

pela equipa do estudo relativamente à

respectiva segurança e bem-estar. As

vacinas previnem a infecção ao ensinar

o sistema imunitário (o sistema de defesa

do organismo) a reconhecer e combater

o HIV. Os anticorpos contra o HIV

assumem um papel importante neste

combate. Embora apenas uma vacina

tenha demonstrado ser capaz de conferir

protecção até à data (Ensaio Clínico

Tailandês ou RV144), quase todas as

vacinas testadas conduziram à produção

de anticorpos, embora estes últimos não

tenham tido um efeito protector. Os testes

de despiste rápido do HIV por picada do

dedo actualmente utilizados pelas clínicas

governamentais e outras baseiam-se

na detecção de anticorpos contra o HIV,

pelo que é possível que os indivíduos

que tenham produzido anticorpos em

resultado da administração de uma

vacina creiam encontrar-se infectados.

As clínicas do estudo procedem à

realização de testes especiais, capazes de

diferenciar entre a infecção pelo HIV e a

seropositividade induzida pela vacinação

(VISP). As participantes serão regularmente

submetidas a testes de despiste do

HIV capazes de diferenciar entre uma

infecção real e uma reacção à vacinação,

durante o período do estudo. Estes testes

especiais serão ainda disponibilizados às

participantes que apresentem VISP no final

do estudo, durante o tempo necessário,

mesmo após o final do estudo ou em

caso de mudança para uma outra região.

Esta medida destina-se a assegurar que

as participantes não irão sofrer qualquer

impacto negativo da VISP após o final

do estudo.

Este inovador e excitante estudo está a ser

planeado há vários anos, tendo a Janssen

investigado vários componentes do

regime de vacinação em causa em estudos

anteriores. Estes estudos destinaram-

se a avaliar a segurança dos referidos

componentes e a respectiva capacidade

de provocar uma resposta do sistema

imunitário. Este estudo irá permitir obter

informação valiosa relativa à vacinação,

necessitando de um forte apoio da

comunidade para alcançar sucesso em

todos os centros

de investigação.

JUNTOS CONSEGUIREMOS ERRADICAR O HIV!

Para mais informação acerca deste

estudo, visite www.imbokodo.org.za

* A Dr.ª Kathy Mngadi é a Investigadora Principal do CIC de eThekwini em Durban, África do Sul, e Co-Presidente do Estudo Imbokodo; a Dr.ª Susan Buchbinder é a Investigadora Principal e Directora do CIC Bridge HIV em São Francisco, CA, EUA, e Co-Presidente do Estudo Imbokodo.

Por: Dr.ª Kathy Mngadi (CIC de eThekwini) e Dr.ª Susan Buchbinder (CIC Bridge HIV), com contribuições da Equipa do Protocolo do Estudo HVTN 705

FOI ESCOLHIDO PARA O ESTUDO O NOME “IMBOKODO”, UM TERMO DO IDIOMA ISIZULU QUE SIGNIFICA “ROCHEDO” E PROVÉM DE UM POPULAR PROVÉRBIO AFRICANO “WATHINT’ ABAFAZI, WATHINT’ IMBOKODO!” (“QUEM ATACA UMA MULHER, ATACA UM ROCHEDO!”).

Participantes nas Sessões de Formação da Comunidade do Estudo HVTN 705

HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 20173

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 4

TENHA A CORAGEM DE ENFRENTAR O HIV!

WWW.IMBOKODO.ORG.ZA

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 20175

NASHVILLE, Tenn. – Uma hora e

meia após o início da Missa Dominical

no Kingdom Love Worship Center, a

Rev. San Jackson fez uma pausa para

perguntar a Vic Sorrell se gostaria de dizer

algumas palavras.

Sorrell não hesitou. Já no púlpito, o

visitante Caucasiano dirigiu-se a uma

congregação de Afro-Americanos cujas

faces reflectiam uma enorme expectativa,

por trás de uma imensidão de leques.

Na qualidade de Director de

Envolvimento da Comunidade do

Programa Vanderbilt de Vacinas contra

o HIV, Sorrell apresenta frequentemente

palestras como esta. Apesar de contar já

com 36 anos de história, a pandemia de

HIV continua a ser um tema delicado

e um tópico que Sorrell, de 39 anos,

adapta a cada audiência e a cada ocasião,

falando do fundo do coração.

“Obrigado por serem uma congregação

que diz, “Venha falar connosco””,

começou por dizer na tarde de Junho

que passou na zona Leste de Nashville.

“Cada um de nós está infectado ou é

afectado pelo HIV. Este vírus não faz

quaisquer distinções de cor ou estatuto

socioeconómico”.

Após gritos de “Sim!” e “Amém”,

Sorrell falou acerca de um estudo de

investigação internacional denominado

AMP – Protecção Mediada por Anticorpos

(Antibody Mediated Protection) –

actualmente em curso no Centro Clínico

da Universidade Vanderbilt e noutros

centros em todo o mundo. Conduzido

pela Rede de Ensaios Clínicos de

Vacinas contra o HIV, uma organização

sediada no Centro Fred Hutchinson

de Investigação do Cancro, o Estudo

HVTN 704/HPTN 085 está a recrutar

4.200 voluntários para a investigação de

um anticorpo experimental que poderá

potencialmente conferir protecção contra

a infecção pelo HIV.

O anticorpo do estudo foi sintetizado

com base num anticorpo desenvolvido

naturalmente por um indivíduo cujo

sistema imunitário foi capaz de controlar

a infecção pelo HIV durante anos, sem

necessidade de medicação, explicou

Sorrell. Estes indivíduos raros são

intensivamente estudados

pelos cientistas.

“É possível que consigamos criar uma

vacina capaz de provocar uma resposta

noutros indivíduos e impedir que estes

últimos sejam infectados em caso de

exposição”, afirmou. “Se dispuséssemos

de uma vacina, poderíamos começar

realmente a inverter o curso do HIV.

Obrigado pela vossa disponibilidade

para apoiar este esforço. Obrigado por

serem as faces do amor e do espírito

comunitário de que tanto necessitamos”.

Quando o órgão começou de novo a

tocar e Sorrell se retirou para o seu lugar,

a pastor Jackson acenou com a cabeça

em aprovação.

“Vic pregou”, afirmou Jackson. “Irão ouvir

algumas pessoas dizer que o HIV foi uma

maldição de Deus. E que, seja qual for o

problema, Jesus irá oferecer-nos

uma solução”.

A Reverendo pareceu disposta a

considerar que este anticorpo represente

essa mesma solução.

DESTAQUECRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS RECORDE DE ADMISSÃO EM ESTUDO DE PREVENÇÃO DO HIVO combate ao estigma associado ao HIV em comunidades Afro-Americanas requer confiança – e tempoPor: Mary Engel – Fred Hutch News Service, Seattle, WA, EUA

Keith Richardson, à esquerda, um coordenador de envolvimento da comunidade recentemente contratado para o Programa Vanderbilt de Vacinas contra o HIV, em Nashville, Tennessee, considera o director de envolvimento da comunidade, Vic Sorrell, à direita, o seu mentor e “uma das pessoas mais apaixonadas pelo seu trabalho que tive a oportunidade de conhecer”. Juntos assistiram ao festival do Orgulho Gay de Nashville, em Junho, com Latifa DaSilva, ao centro, assistente administrativa da Vanderbilt.

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

Vic Sorrell fala à congregação do Kingdom Love Worship Center, na zona Leste de Nashville, acerca do Estudo AMP de Prevenção do HIV.

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 6

CRIAÇÃO DE CONFIANÇAO estudo internacional AMP teve

início em Abril de 2016, mês em que o

programa Vanderbilt de vacinas contra o

HIV se tornou no primeiro de 47 centros

em quatro continentes a admitir um

participante voluntário. De acordo com

uma comunicação efectuada na semana

passada durante a Conferência da

Sociedade Internacional de Luta Contra a

SIDA, a organização co-condutora deste

ensaio clínico, a Rede de Ensaios Clínicos

de Prevenção do HIV, sediada na Carolina

do Norte, as taxas de admissão em todos

os centros excedem actualmente as

previsões em cerca de 20%.

Os esforços de envolvimento da

comunidade envidados por Sorrell e

por outros especialistas contribuíram

significativamente para esta resposta

robusta. O trabalho destes profissionais

consiste em despertar interesse e criar

confiança num ensaio clínico que se

conta entre os maiores e mais complexos

já conduzidos por qualquer das duas

redes. E existem poucas comunidades

onde a criação de confiança seja mais

importante do que as Afro-Americanas.

Sorrell tem razão quando afirma que o

vírus não faz quaisquer distinções de

cor ou estatuto socioeconómico. Mas os

mesmos factores que contribuem para

as disparidades observadas relativamente

ao cancro e a outras doenças nas

comunidades Afro-Americanas fazem

com que estas sejam mais afectadas pelo

HIV do que qualquer outro grupo da

população Americana. Tal como sucede

com os homens de raça Caucasiana,

a infecção atinge primariamente os

homens Afro-Americanos que praticam

sexo com homens. De acordo com as

previsões dos Centros de Controlo e

Prevenção de Doenças dos EUA, um

em cada dois homens Afro-Americanos

homossexuais ou bissexuais serão

diagnosticados com HIV durante as suas

vidas caso as actuais taxas de infecção

continuem a verificar-se.

Atente bem nesta percentagem: um em

cada dois.

Em termos geográficos, a maior parte

das novas infecções irá ocorrer no Sul

dos EUA. Esta região regista actualmente

as maiores taxas de diagnóstico do

HIV, o maior número de indivíduos

infectados pelo HIV e as maiores taxas

de mortalidade devida ao HIV nos EUA.

A impossibilidade de acesso a cuidados

de saúde de qualidade, quer devido à

pobreza, falta de adequação dos seguros

de saúde ou atitudes e crenças culturais

geradoras de desconfiança relativamente

ao sistema de saúde, contribuem

definitivamente para estas estatísticas.

Para muitas minorias, a falta de confiança

nos sistemas de saúde resulta de

décadas de negligência ou mesmo de

exploração. A experiência de Tuskegee

constitui o exemplo mais infame para a

população Afro-Americana. Centenas

de agricultores Afro-Americanos foram

seguidos durante 40 anos, desde 1932,

com vista a avaliar os efeitos a longo

prazo da sífilis. Contudo, nunca lhes

foi dito que estavam infectados, nem

receberam tratamento, mesmo após ter

sido provado que a penicilina é capaz de

curar esta doença!

A LUTA CONTRA O ESTIGMAEste é um outro obstáculo relevante e

exclusivo do HIV, segundo o Dr. Greg

Wilson, o investigador principal do

estudo AMP do centro Vanderbilt.

“Trata-se do estigma ainda associado

ao HIV – os indivíduos infectados

escondem habitualmente a infecção dos

seus familiares e não dispõem de um

círculo de amigos com quem possam

falar”, afirmou. “A família e a igreja

assumem grande importância no seio

das comunidades Afro-Americanas.

A maior parte dos indivíduos sabe

que a infecção pelo HIV tem de ser

diagnosticada por um médico, mas não

se encontra preparada para lidar com

as consequências do diagnóstico e do

conhecimento deste último por outras

pessoas, tais como a rejeição, não apenas

por parte dos familiares, mas também

da comunidade paroquiana, que poderá

representar a sua principal fonte

de apoio”.

Barbara Gunn Lartey, a Directora de

Envolvimento da Comunidade da

Comissão de Relações Humanas de

Nashville e defensora desde sempre

dos indivíduos com HIV, concorda que

o estigma e o medo associados a esta

infecção fazem do HIV um tema tabu em

muitos lares Afro-Americanos.

“Existem ainda muitas famílias que

exigem que os membros infectados

utilizem pratos de papel no Dia de Acção

de Graças”, afirmou Lartey.

O estigma e a vergonha são por vezes

mais penosos do que o medo

da infecção.

“Particularmente para os Afro-

Americanos, trata-se da sua salvação”,

acrescentou. “As vozes do púlpito

clamam que o HIV representa um castigo

– por um indivíduo ser homossexual ou

promíscuo, utilizar drogas ou adoptar

comportamentos de risco. Para muitas

pessoas, a opinião do seu pastor é mais

importante do que a dos seus pais, pois

sentem que estão condenadas

ao Inferno”.

O que nos traz de volta à deslocação de

Vic Sorrell a uma pequena igreja Afro-

Americana da zona Leste de Nashville,

num Domingo à tarde, para falar acerca

do estudo AMP. Embora esta viagem

tenha sido curta, a sua história de vida é

bem mais longa!

Dr. Greg Wilson, investigador principal do estudo AMP na Vanderbilt.

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

Continua na próxima página...

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 20177

SONHOS DA CIDADE DA MÚSICA

O caminho percorrido por Sorrell até ao

topo do programa de envolvimento da

comunidade na luta contra o HIV não

foi linear. Vic Sorrell recebeu a alcunha

de “Baby Country” (”Pequeno Country”)

quando se mudou de uma pequena vila

na Virgínia para Nashville, aos 17 anos,

determinado a tornar-se numa estrela

da música country. O cantor de face

angélica actuava já em palco desde os

6 anos. Sempre tinha desejado sempre

ser como Dolly Parton – quer dizer, não

a própria Dolly, mas um cantor com o

mesmo talento, a mesma luz e a

mesma presença!

Vic inscreveu-se na Universidade

Belmont de Nashville, onde se licenciou

em gestão musical e marketing, para

agradar aos seus pais. Mas também

formou uma banda e estava prestes a

assinar um contrato com uma editora

musical quando um acontecimento

inesperado veio alterar por completo

a sua vida: Vic apaixonou-se por

um homem.

A sua surpresa foi tanto maior quanto

os seus sentimentos eram inequívocos.

Foi nessa ocasião que deixou de duvidar

e de tentar convencer-se que estava a

atravessar uma fase passageira. E foi

então que forçado a tomar uma decisão.

“O carácter conservador da indústria

da música country atingiu-me como

uma bofetada. Foi-me dado claramente

a entender que teria de decidir o que

pretendia”, afirmou Sorrell. “Queria ser

homossexual ou uma estrela da música

country? Para mim, ter de fingir ser uma

outra pessoa não era uma opção”.

E foi assim que o sonho que alimentava

desde os 6 anos se esfumou.

Sorrell permaneceu no mundo da

música, na área de marketing, mas

rapidamente se viu a braços com

uma crise de identidade. Voltou

eventualmente a encontrar o seu

caminho através dos livros sobre

espiritualidade da autora Marianne

Williamson, que se tornaram campeões

de vendas, e decidiu o seguinte: “Quero

utilizar as minhas capacidades para

servir, e estou disposto a agarrar as

oportunidades que me surgirem”.

Durante a Grande Recessão de 2008,

o cargo de marketing de Sorrell foi

extinto. Contudo, surgiu-lhe uma nova

oportunidade. Um amigo que conhecia

a sua vontade de fazer o bem falou-

lhe acerca de um lugar de educador de

prevenção do HIV na Nashville Cares,

a maior agência de serviços de HIV da

região.

Como homem homossexual, Sorrell

estava certamente atento à questão do

HIV, mas ignorava que tal cargo existisse

e muito menos que seria capaz de o

desempenhar. Foi convidado para uma

entrevista. E conseguiu o lugar.

Sorrell afirmou que o seu trabalho, as

pessoas que conheceu e as parcerias

que estabeleceu na Nashville Cares e,

mais tarde, no Programa Vanderbilt de

Vacinas contra o HIV, o tornou na pessoa

que é actualmente. E a pessoa em que

se tornou é, na opinião de muitos, uma

enorme parte do motivo pelo qual o

Estudo AMP de Nashville está a decorrer

com tanto sucesso.

“DOIS PARCEIROS MUITO DIFERENTES, MAS MUITO IGUAIS”

Uma das suas primeiras parceiras foi

Lartey, que ocupava então o lugar

de gerente de casos e directora de

programas para mulheres na Nashville

Cares. Os passados de Lartey e Sorrell não

poderiam ter sido mais diferentes.

Lartey cresceu na sombra de Tuskegee.

Mais do que comentado, este legado era

seguido como um exemplo. Evocando as

suas tias e outos parentes idosos, Lartey

recordou que “era quase preciso que a

cabeça nos caísse para consultar

um médico”.

Lartey deparou-se pela primeira vez com

o HIV no seu trabalho como voluntária

do Corpo para a Paz na África Ocidental,

voltando a deparar-se com este tópico

mais tarde, como estudante de Direito

na África do Sul. Lartey recorda ter-se

sentido verdadeiramente chocada com

a quantidade de informação incorrecta

circulada no seio da população: As

pessoas acreditam que o vírus tinha

sido criado nos EUA e a utilização de

preservativos era encarada como uma

estratégia para controlar o crescimento

da população Africana. Ao regressar a

casa, sentiu-se mais uma vez chocada

pelo medo, estigma e ignorância de

factos cruciais sobre o HIV na sua

própria comunidade.

DESTAQUE

Vic Sorrell, à esquerda, no festival do Orgulho Gay de Nashville, em Junho, com um dos principais parceiros, T.K. Hampton, um dos actores e militante da luta contra o HIV.

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

Barbara Gunn Lartey, directora de envolvimento da comunidade da Comissão de Relações Humanas de Nashville, afirma que Sorrell “Compreende que, no final de contas, se trata de uma questão de humanidade”.

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

Page 9: CRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS … · Vacinas contra o HIV (HIV Vaccine Trials Network – HVTN), a Community Compass, anteriormente conhecida como CAB Bulletin

HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 8

Lartey reconhece que ela própria e Sorrell

são “dois parceiros muito diferentes, mas

muito iguais”. Mas ambos sentiram uma

afinidade imediata.

“Fico sempre agradavelmente

surpreendida quando alguém afirma não

ter todas as respostas, mas estar disposto

a aprender. E Vic Sorrell é este tipo de

pessoa”, afirmou Lartey. “Ele compreende

que, no final de contas, se trata do

carácter humanitário de cada indivíduo.

Acreditamos um no outro. E acreditamos

neste trabalho de dar esperança

à humanidade”.

Após ter integrado a Unidade Vanderbilt

de HIV, Sorrell continuou a trabalhar com

Lartey na organização de programas

para o Dia de Consciencialização da

População Afro-Americana para o

HIV em igrejas Afro-Americanas em

Nashville. No início do presente ano,

Sorrell aliou-se a Lartey na organização

de um musical acerca da prevenção do

HIV. O musical foi escrito por um outro

parceiro, T.K. Hampton, um militante

do HIV de longa data que trabalha para

um programa denominado Street Works.

Também sediado em Nashville, este

programa destina-se a apoiar homens

Afro-Americanos homossexuais e

bissexuais. (O espectáculo, intitulado

“YOU Shall LHiV 2 Zero”, alcançou tanto

sucesso que o grupo foi convidado para

o apresentar na Conferência dos Estados

Unidos sobre a SIDA, que teve lugar em

Washington, D.C., em Setembro, e na

Conferência Anual sobre Retrovírus e

Infecções Oportunistas (CROI), a ter lugar

em Boston em Março do próximo ano).

Sorrell, o único indivíduo de raça

Caucasiana a participar no musical,

interpreta uma versão country da canção

principal, descreve o estudo AMP e fala

abertamente do racismo institucional

que tem contribuído para as elevadas

taxas de infecção pelo HIV na população

Afro-Americana. Vic descreve ainda

algumas lições duramente aprendidas ao

reconhecer privilégios dos quais nunca

se tinha apercebido.

“Quando uma pessoa se levanta de

manhã e a cor da sua pele não é a

primeira coisa em que pensa, isso é

um privilégio”, afirmou Sorrell durante

uma sessão recente da peça. “Ter tido

a oportunidade de reconhecer este

privilégio foi uma das maiores dádivas

que já recebi”.

“FICAREI DESOLADO QUANDO O ESTUDO TERMINAR”

O estudo AMP é um estudo ambicioso

com um objectivo ambicioso. Todos os

voluntários que apresentem resultados

negativos num teste de despiste do HIV

serão randomizados para receber uma

versão sintetizada em laboratório do

anticorpo descrito por Sorrell durante a

Missa Dominical de que falámos ou um

placebo, através de perfusão intravenosa.

Caso o anticorpo em investigação

seja capaz de proporcionar protecção

contra o HIV, tal como é esperado, a

informação adquirida através do estudo

poderá ajudar os cientistas a desenvolver

uma vacina que ensine o organismo a

produzir esses anticorpos – o Santo Graal

dos investigadores do HIV. A existência

de uma vacina eficaz é amplamente

considerada como a ferramenta

necessária para travar finalmente uma

pandemia que ainda é responsável por

40 a 50 mil novos casos de infecção por

ano nos Estados Unidos, e 1,8 milhões de

novos casos em todo o mundo.

De início, os organizadores do estudo

receavam que o tempo investido na

participação – os participantes recebem

um total de 10 perfusões, com a duração

de 30-45 minutos, de 8 em 8 semanas –

fosse por si só suficiente para dissuadir os

voluntários. Contudo, tal não sucedeu.

Tomemos como exemplo Justin Lofton,

um jovem de 25 anos que trabalha

num centro de apoio em Nashville para

jovens Afro-Americanos homossexuais e

bissexuais, denominado My House, e que

interpreta também um papel no musical

de Hampton. Lofton voluntariou-se para

participar no estudo porque acredita na

importância deste tipo de investigação

para a protecção da sua comunidade.

“Trabalho actualmente com homens HIV-

negativos”, afirmou. “Por vezes ocorre-me

pensar que metade dos homens com

Justin Lofton, orientador de pares na My House, em Nashville, e participante no Estudo AMP..

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

Continua na próxima página...

Ebony Gordon, à esquerda, Justin Lofton, ao centro, e Vic Sorrell, interpretam papéis em “YOU Shall LHiV 2 Zero”, de T.K. Hampton. Na peça, Gordon descreve a perda de um tio muito estimado para a SIDA.

Foto de Mary Engel / Fred Hutch News Service

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 20179

quem trabalho poderão ficar infectados

no tempo que demoro a contar até seis”.

Mas o que leva Lofton a regressar para

receber as perfusões é o empenho de

Sorrell e dos restantes técnicos do estudo.

“Tentam realmente fazer-nos sentir que

não somos um mero número”, afirmou.

“Envidam esforços para além do trabalho

clínico. Para mim, são como amigos”.

Darnell Peppers, um jovem de 23

anos, concorda. Peppers conheceu

Sorrell numa festa da Nu Fi Zeta – uma

fraternidade de jovens Afro-Americanos

não afiliada a uma universidade,

orientada para a prestação de serviços – e

simpatizou com ele imediatamente. O

lema da fraternidade é “Sou o guardião

do meu irmão”; após ler informação

disponível online acerca do estudo AMP,

Peppers começou a perguntar-se como

poderia ajudar. Decidiu então oferecer-se

como voluntário para participar

no estudo.

Graças a Sorrell e aos profissionais do

programa Vanderbilt, Peppers afirmou:

“Sinto que realmente cuidam de mim.

Ficarei desolado quando

o estudo terminar”.

Assim, verificou-se um outro facto

surpreendente, para além das taxas de

admissão superiores às esperadas: Em

Nashville, 33% dos indivíduos admitidos

no estudo são Afro-Americanos, uma

percentagem mais elevada do que a

observada em qualquer dos estudos

anteriormente conduzidos pelo programa

Vanderbilt de Vacinas contra o HIV.

Sorrell atribui este sucesso às parcerias

cruciais que estabeleceu na comunidade,

juntamente com Lartey, Hampton, Lofton

e outros. O seu talento para estabelecer

estas parcerias fez com que Sorrell seja

considerado um pioneiro na área de

envolvimento das comunidades por

toda a HVTN.

“Não é possível superar Vic na sua

capacidade de estabelecer ligações

com as pessoas”, afirmou Kyle Rybczyk,

o coordenador clínico do programa

Vanderbilt e responsável pela contratação

de Sorrell. “Possuímos uma sólida

reputação na comunidade como

programa que se preocupa, que é visível

e que comparece – não só quando

necessitamos das pessoas, mas também

quando as pessoas necessitam de nós”.

Como homem Caucasiano que trabalha

com comunidades Afro-Americanas,

Sorrell aprendeu que é a sua presença

que conta. A forma mais fácil de

derrubar obstáculos é tão simples como

desafiante: Abrir o coração. Estar

completamente presente. Repetir.

“A minha experiência ensinou-me que

as pessoas acabam por compreender

que as quero realmente ajudar, mesmo

quando começam por responder de

forma hesitante à minha presença”,

afirmou. “Tento explicar às comunidades

as formas pelas quais lhes posso

disponibilizar recursos e prestar apoio.

Esta actuação gera confiança e acaba por

derrubar quaisquer obstáculos à minha

presença. Mas trata-se de uma

tarefa demorada”.

O trabalho de um especialista no

envolvimento das comunidades não

tem um expediente fixo. Quer se trate

de serões, fins-de-semana ou tardes

quentes de Domingo, numa pequena

igreja, Sorrell estará lá. Uma vez.

E outra. E outra.

*Mary Engel é repórter do Centro Fred Hutchinson de Investigação do Cancro. Anteriormente, Engel escreveu artigos sobre políticas médicas e de saúde para vários jornais, incluindo o Los Angeles Times, no qual os seus editoriais fizeram parte de uma série sobre cuidados de saúde que ganhou o Prémio Pulitzer de Serviço Público. Participou ainda num programa de um ano de Ciências de Jornalismo no MIT, o Knight Science Journalism Program. Contacte-a através do endereço [email protected] ou no Twitter, @Engel140.

DESTAQUE

Kyle Rybczyk, coordenador clínico do programa Vanderbilt de vacinas contra o HIV.

Foto gentilmente cedida por Katie Jennings / New Canoe Media

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 10

O desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz

constitui a nossa melhor esperança de travar a

disseminação do HIV a longo prazo. Nos últimos

6 anos, tive o privilégio de participar neste valioso

esforço, pelo que me sinto grato! Tive a oportunidade

de trabalhar com uma equipa extraordinária e talentosa,

no Núcleo da HVTN, cuja principal missão consiste

em apoiar os agentes de envolvimento e recrutamento

da comunidade dos vários centros de estudos clínicos.

Os nossos mais de 60 centros empregam Agentes de

Educação da Comunidade e Agentes de Ligação à Comunidade, assim como outros

profissionais cuja paixão pelo envolvimento das respectivas comunidades locais

tem sido uma inspiração para mim e para todos os que trabalham no Núcleo. Sinto-

me ainda grato pela oportunidade que tive de trabalhar com vários membros dos

Conselhos Consultivos das Comunidades, que cedem altruisticamente o seu tempo

e capacidades para estabelecer e manter ligações entre os centros do estudo e as

respectivas comunidades. As comunidades assumem um papel crucial no trabalho

que desenvolvemos. De facto, o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV

depende do apoio activo dos voluntários e de outros indivíduos que se preocupam

com a saúde das respectivas comunidades.

Ao deixar a HVTN para iniciar um novo capítulo na minha vida, sei que irei sentir

falta da paixão demonstrada por esta enorme comunidade de indivíduos que

acreditam ser possível desenvolver uma vacina contra o HIV. Irei ainda sentir falta do

companheirismo e espírito de equipa deste maravilhoso grupo de indivíduos. Quero

que saibam que nunca irei esquecer a nossa missão. Não tenho qualquer dúvida de

que um dia teremos uma vacina e de que a disseminação do HIV será relegada para

os livros de história. Desejo sinceramente que cada um de nós possa desfrutar de um

futuro repleto de paixão, significado e possibilidades ilimitadas! Obrigado a todos.

Atenciosamente,

Jim Maynard

A Despedida de Jim UPCOMING MEETINGS/CONFERENCES

Cimeira de Prevenção do HIV da NMAC Biomedical Nova Orleães, LA, EUA www.biomedicalhivsummit.org

ICASA 2017: Conferência Internacional de HIV/SIDA e ISTs em África

Abidjan, Costa do Marfim http://icasa2017cotedivoire.org/

Conferência da NAESM de Liderança de HSH Afro-Americanos de 2018

Atlanta, GA, EUA

www.naesm.org

Encontro Regional da HVTN da África Subsaariana

Cape Town, África do Sul www.hvtn.org

Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI) Boston, Massachusetts, EUA

www.croiconference.org

HVTN Full Group Meeting

Washington DC, USA

www.hvtn.org

Conferência Internacional sobre a SIDA

Amsterdão, Países Baixos

www.aids2018.org

4-6 DE DEZEMBRO DE 2017

4-9 DE DEZEMBRO DE 2017

17-21 DE JANEIRO DE 2018

21-22 DE FEVEREIRO DE 2018

4-7 DE MARÇO DE 2018

14-16 DE MAIO DE 2018

23-27 DE JULHO DE 2018

Page 12: CRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS … · Vacinas contra o HIV (HIV Vaccine Trials Network – HVTN), a Community Compass, anteriormente conhecida como CAB Bulletin

CIC Vanderbilt na Marcha do Orgulho de Nashville, Junho de 2017

“YOU Shall LHiV 2: Zero” O CIC Vanderbilt colabora com os parceiros da comunidade na produção de um musical sobre a prevenção do HIV (da esquerda para a direita: Ebony Gordon, Justin Lofton, TK Hampton, Vic Sorrell e LeDon Campbell), Agosto de 2017

CIC Vanderbilt na Marcha do Orgulho de Nashville, Junho de 2017

A Universidade Vanderbilt colabora com o Instituto Afro-Americano da SIDA na organização da Cimeira de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) em Nashville, em Agosto de 2017

Equipa de Envolvimento/Recrutamento da Comunidade (ERC) do CIC Atlanta Hope na Marcha de Orgulho Afro-Americano de Atlanta, Setembro de 2017 (da esquerda para a direita: Nicole Kasher, Chloe Jordan, Machel Hunt, Harlan Smith e Javani Williams)

HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 201711

Eventos Relacionados com a HVTN

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Junho de 2017 - Formação sobre o Estudo AMP em Centros de Lima (CICs IMPACTA, de Via Libre e de San Marcos)

Clube de Envolvimento das Comunidades, com o CIC de San Marcos, Setembro de 2017

Equipa de Programas para as Comunidades da HPTN - Colegas do Estudo AMP

12HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017

Page 14: CRIAÇÃO DE LAÇOS NA COMUNIDADE RESULTA EM TAXAS … · Vacinas contra o HIV (HIV Vaccine Trials Network – HVTN), a Community Compass, anteriormente conhecida como CAB Bulletin

HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 201713

Uhambo, que significa viagem, foi o nome escolhido para designar a viagem de esperança na descoberta de uma vacina contra o HIV que permita prevenir a infecção por este vírus na África Subsaariana.Em 2016, foram reportadas 270.000 novas infecções pelo HIV, apenas na África do Sul (UNAIDS, 2017). Uhambo, a viagem que empreendemos, consiste numa série de estudos de investigação de uma vacina

segura e eficaz contra o HIV, tão necessária nesta região do mundo.

A nossa viagem até à data• 2009: Esta viagem teve início com o “Ensaio Clínico Tailandês”, um estudo

conduzido na Tailândia que revelou que a combinação de duas vacinas experimentais, ALVAC + AIDSVAX B/E, era segura e capaz de prevenir a infecção pelo HIV. Foi este o primeiro estudo que demonstrou ser possível prevenir a infecção pelo HIV através de uma vacina. Este estudo evidenciou ainda a necessidade de melhorar as vacinas, de forma a permitir uma resposta imune mais prolongada e uma protecção mais eficaz.

• 2013: A viagem prosseguiu para a África do Sul, onde um estudo de pequena dimensão, denominado “HVTN 097”, revelou que as vacinas utilizadas no estudo Tailandês apresentavam também um bom perfil de segurança na população Sul-Africana. Além disso, a população Sul-Africana apresentou uma resposta imune ligeiramente superior a estas vacinas.

• 2015: As vacinas foram adaptadas à região Sul-Africana. O estudo HVTN 100, em que as vacinas adaptadas foram investigadas pela primeira vez, demonstrou que estas possuíam um bom perfil de segurança e conduziam a uma boa resposta imune na população Sul-Africana. O estudo HVTN 100 revelou ainda que a administração de uma dose de reforço permite prolongar a resposta imune.

• 2016: Em Outubro de 2016, a África do Sul deu um passo ousado nesta viagem de esperança numa vacina contra o HIV, com o estudo HVTN 702. Neste estudo histórico, as vacinas adaptadas estão a ser actualmente testadas em 5.400 participantes de todo o país, com vista a avaliar a respectiva eficácia. Por outras palavras, a questão principal do estudo HVTN 702 é a seguinte: estas vacinas são capazes de prevenir a infecção pelo HIV? Caso as vacinas se revelem eficazes, os resultados do estudo HVTN 702 serão submetidos ao Conselho de Controlo de Medicamentos da África do Sul, para que seja apresentado um pedido de registo no país. Assim, é possível que esta viagem conduza ao primeiro regime autorizado de vacinação preventiva contra o HIV.

• Outros estudos de menor dimensão, conduzidos no Sul do continente Africano, fazem também parte desta viagem de desenvolvimento de uma vacina contra o HIV. Espera-se que estudos tais como HVTN 107, HVTN 108, HVTN 111, HVTN 120 e HVTN 126 forneçam informação importante acerca de possíveis formas de melhorar as vacinas. Estes pequenos estudos destinam-se a investigar o efeito de vários adjuvantes, assim como o possível papel de uma vacina baseada em ADN.

Por: Dr.ª Fatima Laher – PHRU, Durban, África do Sul, com contribuições da Equipa do Protocolo do Estudo HVTN 702

As comunidades encontram-se envolvidas a todos os níveis nas ruas de Kliptown.

Apresentação sobre o Estudo Uhambo num Dia Aberto, em Durban, pelo Agente de Ligação à Comunidade Jason Naidoo, do CIC de eThekwini.

Um membro da comunidade, Phindile Mbolekwa, realiza a cerimónia do corte da fita com a Dr.ª Neide Cossa por ocasião da abertura da clínica Uhambo no centro de Soweto-Bara.

*A Dr.ª Fatima Laher é a Investigadora Principal e Directora do CIC de Investigação de Vacinas da Unidade Perinatal de Investigação do HIV (PHRU), em Durban, África do Sul, e Co-Presidente do Estudo Uhambo.

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Um dos estudos mais amplamente noticiados e divulgados na televisão, imprensa, rádio, meios de comunicação digital e eventos sociais é o estudo HVTN 702. O objectivo deste estudo consiste em investigar uma combinação de duas vacinas experimentais contra o HIV. Uma destas vacinas consiste numa proteína, ao passo que a outra se baseia num transportador do vírus da varíola. O HIV não é utilizado em qualquer destas vacinas, pelo que os participantes não irão ficar expostos a este vírus.

Todos os indivíduos saudáveis, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, não infectados pelo HIV, poderão ser sujeitos a um processo de selecção destinado a determinar a respectiva elegibilidade para participar no estudo HVTN 702. Os participantes deverão estar dispostos a submeter-se a exames médicos e testes regulares, assim como a receber aconselhamento relativo ao HIV durante o estudo. As mulheres grávidas ou a amamentar não poderão participar no estudo. Existem ainda outros critérios de selecção que determinam a elegibilidade para participar no estudo.

O estudo teve início em Outubro de 2016 e possui um período de recrutamento de pelo menos 18 meses. Os participantes serão seguidos durante 3 anos. Durante o estudo, os participantes irão receber aconselhamento regular acerca da redução do risco de infecção e de outros métodos aprovados de prevenção do HIV.

As comunidades Sul-Africanas têm desempenhado um papel activo no envolvimento com os investigadores locais desde o primeiro estudo de investigação de uma vacina contra o HIV conduzido no país, e continuam a demonstrar o mesmo empenho. De facto, os métodos de prevenção destinam-se a beneficiar as comunidades. Os participantes e técnicos do estudo fazem parte de comunidades fortemente empenhadas em melhorar a saúde através da investigação de vacinas. As partes interessadas das comunidades continuam fortemente envolvidas no processo de investigação, desenvolvimento e implementação, assegurando uma boa adaptação dos estudos de investigação às preferências, necessidades, costumes, tradições e crenças das comunidades Sul-Africanas.

Neste sentido, pedimos aos técnicos do estudo que nos dissessem o que lhes tem agradado mais no seu trabalho no estu-do HVTN 702 até à data:• Trata-se de um estudo pivotal

destinado a encontrar uma vacina segura e eficaz contra o HIV, capaz de proteger as pessoas deste vírus – Conselheiro, centro CAPRISA

• Este estudo une-nos na luta contra o HIV – Pontso Seithlamo, centro de Kliptown

• O estudo inclui mulheres, homens heterossexuais e homens que praticam sexo com homens. Assim, ninguém é excluído, sendo dada a todos a oportunidade de participar e contribuir para a descoberta de um método eficaz de prevenção do HIV – Técnico, CAPRISA site

• O potencial de prevenir a ocorrência de novas infecções pelo HIV – Kingsley Nukeri, centro de Kliptown

• As vacinas poderão ser submetidas para licenciamento no nosso país! – Bontle Modibedi, centro de Soweto-Bara. (Bontle foi a primeira enfermeira a administrar estas vacinas).

E a viagem prossegue – online… • O vídeo de consentimento

informado do estudo HVTN 702 disponibiliza informação de consentimento informado ao público https://vimeo.com/207302012 ou https://www.youtube.com/watch?v=8KqDbVZ2o8Q

• O endereço do site do estudo é www.uhambo.org.za

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 201715

Pela primeira vez, as trabalhadoras sexuais aprenderam

a defender os seus direitos perante os decisores da

nossa cidade. Aqui em Iquitos, a minha cidade natal,

várias ONGs envidam esforços e organizam sessões de formação destinadas a educar

as trabalhadoras sexuais e dotá-las de competências viáveis. Criámos laços fortes

com a ONG Via Libre. De facto, temos mantido uma comunicação constante com

esta organização, que nos tem proporcionado aconselhamento e apoio

desde sempre.

Eu pertencia ao grupo de pessoas que não gostam deste tipo de trabalho [defesa de

direitos]. Para mim, tratava-se de uma tarefa extremamente difícil, uma vez que tinha

de escrever e falar muito, o que considerava entediante. Contudo, à medida que

continuei a crescer e a adquirir capacidades, aprendi a utilizar uma conta de e-mail

e outras ferramentas tecnológicas, o que me permitiu melhorar as minhas

capacidades de comunicação. E continuo a pensar que estas capacidades são muito

úteis. Creio que valeu a pena abandonar a minha zona de conforto, pois sinto-me

actualmente respeitada como líder e representante da minha comunidade

de trabalhadoras sexuais.

Ainda tenho dificuldade em acreditar que estas sessões são pensadas e organizadas

com vista a auxiliar as trabalhadoras sexuais a reivindicar os seus direitos como

indivíduos. Graças ao sucesso destes programas em Iquitos, tive a oportunidade de

viajar para outras cidades, onde partilho as minhas experiências. Como trabalhadora

sexual, aprendi a aceitar-me como sou e, acima de tudo, a representar a minha

comunidade, uma vez que sofremos ocasionalmente os efeitos da discriminação e

maus-tratos por parte da polícia, apenas por exercermos o nosso direito de trabalhar.

Este trabalho de militância permite-

nos comunicar com as autoridades

e divulgar as nossas opiniões nos

meios de comunicação. Além disso,

dispomos agora de um centro de

referência para as organizações.

As trabalhadoras sexuais de Iquitos

formaram uma associação, possuem

estatuto jurídico e são reconhecidas

como líderes da comunidade e visíveis

como trabalhadoras sexuais. Este

sucesso reforçou os nossos laços com as

comunidades gay e transgénero e com

todos os indivíduos que vivem com

o HIV.

A nossa Associação de Trabalhadoras Sexuais de Iquitos, “Sarita Colonia”, cresce

e fica mais forte a cada dia. No início, a associação contava com apenas cinco

membros; actualmente somos 50 e adquirimos espaço para programas na região

de Loreto. Como activistas locais e nacionais, lideramos o grupo de trabalhadoras

sexuais de Iquitos.

Casa Abierta (“Casa Aberta”) é uma

estratégia implementada há já vários

anos em Lima, Peru – um local para

conversar, partilhar experiências,

aprender, encontrar amigos, jogar,

rir, cantar, dançar e passar

momentos agradáveis.

Implementámos esta actividade no

centro de Via Libre, onde organizamos

eventos em conjunto com a comunidade

lésbica, gay, transgénero e bissexual

(LGTB). Organizámos já vários eventos,

tais como festas temáticas, karaoke,

bingo, debates, palestras, eventos

emblemáticos e muitos outros. A Casa

Abierta deu-nos a oportunidade de

organizar vários debates e sessões

educativas acerca de tópicos de

interesse para as comunidades, tais

como sexualidade, diversidade sexual,

orientação sexual, cuidados de saúde,

infecções sexualmente transmissíveis,

homofobia e estigmatização e

discriminação associadas ao HIV,

entre outros temas. Estas actividades

fornecem informação útil, permitindo

consciencializar as comunidades e

promover a participação activa das

mesmas em vários assuntos de saúde.

O tema central dos eventos é a infecção

pelo HIV. No Peru, a infecção pelo

HIV afecta primariamente indivíduos

transgénero, bissexuais e homens que

praticam sexo com homens, sendo a

respectiva prevalência de 12% a 30%

em homens e mulheres transgénero,

respectivamente. A actividade sexual

sem protecção é a forma mais comum

de transmissão, sendo reportada em

97% dos casos. É por este motivo que se

torna importante discutir este assunto de

forma frequente. Todos os participantes

possuem e partilham informação acerca

Trabalhadoras Sexuais de Iquitos Unem-se em Militância

CASA ABERTA: Um local para conviver, aprender e reforçar laços na comunidade

“I feel that it was worthwhile to leave my comfort zone, since now I feel respected both as a leader and as a representative of my community of sex workers.”

Por: Silvia Torres Canayo, Iquitos, Peru

Por: Jose Luis Castro Chuquillanqui, Lima, Peru

* Silvia Torres Canayo é membro da Associação de Trabalhadoras Sexuais “SARITA COLONIA”, Região de Loreto, e membro do Conselho Consultivo da Comunidade (CAB) do CIC da ACSA - Iquitos, em Iquitos, Peru.

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 16

de possíveis formas de prevenção

da infecção. É ainda neste local que

partilhamos informação relativa a novos

estudos e estratégias de prevenção, tais

como o AMP, um estudo inovador com

enorme potencial na prevenção do HIV.

Além disso, as actividades recreativas

que organizamos promovem o convívio,

o melhor conhecimento das pessoas,

a fraternização, o reforço dos laços e

a criação de relações interpessoais. O

canto, a dança e os jogos constituem

excelentes formas de fazer amigos,

aprender e expandir horizontes. O centro

Via Libre organiza um dia aberto no

final de cada mês, em que abre as suas

portas ao público. Todos são bem-

vindos. Se alguma vez visitar Lima, no

Peru, gostaríamos de o(a) acolher e

de lhe demonstrar a nossa amizade e

gratidão. Para mais detalhes, siga-nos no

Facebook, em:

www.facebook.com/vialibre.org/

“O tema central dos eventos é a infecção pelo HIV. No Peru, a infecção pelo HIV afecta primariamente indivíduos transgénero, bissexuais e homens que praticam sexo com homens, sendo a respectiva prevalência de 12% a 30% em homens e mulheres transgénero, respectivamente. ”

* Jose Luis Castro Chuquillanqui é o principal Educador da Comunidade do CIC de Via Libre em Lima, Peru.

Assistentes de Apoio à Comunidade do CIC de Via Libre num evento organizado pela Casa Abierta.

Várias imagens do evento organizado pela Casa Abierta.

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 201717

A Prof.ª Gita Ramjee, Investigadora

Principal da Unidade de Ensaios Clínicos,

dirigiu-se a todos os participantes,

aos quais agradeceu pessoalmente a

contribuição para a descoberta de uma

vacina eficaz contra o HIV. O workshop

centrou-se na importância de descobrir

uma vacina contra o HIV na África do

Sul, dado que este país regista a mais

elevada incidência e prevalência de HIV

do mundo, especialmente a região de

Kwa-Zulu Natal. Os participantes tiveram

a oportunidade de partilhar as respectivas

experiências, motivações e desafios de

participar na investigação da prevenção

do HIV. O workshop constituiu ainda

uma plataforma para a colocação

de questões aos investigadores e

apresentação de sugestões. As mulheres

acolheram com entusiasmo a notícia

de que os homens também participam

em estudos nesta área, uma vez que

muitos dos estudos anteriores tinham

apenas envolvido mulheres. Muitas

das discussões centraram-se na

seropositividade induzida pela vacinação

(VISP), gravidez durante os ensaios

clínicos, profilaxia pré-exposição (PrEP)

e saúde e bem-estar geral.

A Unidade de Investigação da Prevenção

do HIV (HIV Prevention Research Unit

– HPRU) do Conselho de Investigação

Clínica da África do Sul organizou um

workshop de um dia para todos os

participantes em estudos de investigação

de perfusão e vacinas contra o HIV,

incluindo os estudos HVTN100,

HVTN111, HVTN702 e HVTN703/

HPTN081. O workshop foi conduzido

por Neetha Morar, Directora Sénior

de Investigação e das Comunidades,

na Sede da HPRU, em Westville. A

maior parte dos participantes visitou as

instalações pela primeira vez, ficando

a conhecer o núcleo central de todas

as actividades de investigação. Os

jovens participantes, que se mostraram

vibrantes, energéticos e entusiásticos,

escutaram com atenção e interagiram

de forma muito positiva com os

investigadores. Os participantes foram

registados à chegada, tendo-lhes sido

oferecidas bebidas e snacks ligeiros.

O Agente de Ligação às Comunidades

Mduduzi Ngubane facilitou a realização

deste workshop, em colaboração com

voluntários do Programa de Pares.

As discussões foram realizadas no

idioma local dos participantes, tendo

os funcionários procedido à respectiva

tradução, quando necessário. No

entanto, a maior parte dos participantes

participou na discussão em Inglês

e isiZulu. O workshop reuniu um

total de 97 participantes, que foram

transportados de várias regiões do

Distrito de eThekwini.

Foi levantada a questão da exclusão

de mulheres grávidas dos estudos de

vacinas contra o HIV, uma vez que os

participantes se deparam com mulheres

grávidas na clínica. Neetha explicou que

nenhuma mulher grávida é admitida em

estudos de prevenção do HIV; contudo,

algumas mulheres engravidam durante

a respectiva participação nestes estudos.

Estas mulheres são seguidas durante a

gravidez, de forma a garantir a respectiva

segurança até ao parto, mas não lhes são

administradas quaisquer injecções ou

perfusões adicionais dos medicamentos

em investigação. Os técnicos do estudo

monitorizam ainda a segurança das

mães e dos recém-nascidos por ocasião

do parto.

Os participantes expressaram a sua

gratidão pelos cuidados e apoio

recebidos dos técnicos dos estudos. Foi

ainda dada aos participantes envolvidos

no Programa de Educação de Pares

a oportunidade de falar acerca do

trabalho que desenvolvem nas

respectivas comunidades.

Workshop para os Participantes em Estudos de Perfusão e Vacinação contra o HIV, em Durban

* Neetha S. Morar é a Directora Sénior de Investigação e das Comunidades; Ishina Hemchund é a Assistente de Investigação da Directora de Investigação e das Comunidades da Unidade de Investigação da Prevenção do HIV do Conselho de Investigação Clínica da África do Sul, em Durban, África do Sul.

Por: Neetha S. Morar e Ishina Hemchund, HPRU/SAMRC, Durban, África do Sul

Neetha Morar (ao centro, de pé) em diálogo com alguns membros da comunidade durante o workshop.

Participantes do workshop atentos à informação disponibilizada. (acima e à direita)

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 18

Projecto de Legado

O Projecto de Legado do Gabinete de

Coordenação da Rede de HIV/SIDA

(HIV/AIDS Network Coordination

– HANC) destina-se a apoiar e

promover a investigação clínica e

comportamental do HIV nos Estados

Unidos. O objectivo principal do projecto

consiste em promover a diversidade

na investigação do HIV, ao endereçar

factores que influenciam a participação

de comunidades historicamente sub-

representadas. Com vista a cumprir a

respectiva missão, o Projecto de Legado

adoptou uma estratégia centrada

no envolvimento da comunidade,

estabelecimento de parcerias,

organização de iniciativas educativas e

investigação científica.

O projecto envida ainda esforços

no sentido de promover e reforçar

a colaboração entre os centros de

investigação das Redes de Ensaios

Clínicos do HIV/SIDA dos Institutos

Nacionais de Saúde (National Institutes

of Health – NIH), centros de investigação

associados, instituições académicas e de

investigação, agências governamentais

e organizações das comunidades.

O Projecto de Legado encontra-se

empenhado no desenvolvimento

de capacidades nas comunidades

e populações mais afectadas pela

epidemia do HIV nos Estados Unidos.

Grupo Colaborativo de Mulheres para a Investigação do HIV

O Grupo Colaborativo de Mulheres para

a Investigação do HIV (Women’s HIV

Research Collaborative – WHRC) é um

grupo consultivo inter-rede do Projecto

de Legado constituído por mulheres

líderes de todas as regiões dos EUA.

Este grupo fornece aconselhamento

e orientação relativamente ao

desenvolvimento, implementação e

disseminação de informação acerca

da investigação do HIV, com enfoque

nas necessidades das mulheres adultas

e adolescentes dos Estados Unidos. O

WHRC envida esforços no sentido de

divulgar e debater tópicos relacionados

com o HIV em mulheres nos EUA,

assim como de consciencializar as

comunidades desproporcionalmente

afectadas para a importância da

investigação científica. O WHRC centra-

se na promoção da investigação do

HIV junto das mulheres que vivem nos

Estados Unidos, embora se encontre

plenamente consciente do enorme

potencial da investigação conduzida

internacionalmente e da respectiva

capacidade de trazer benefícios para as

mulheres Americanas. Para tal, o WHRC

mantém-se actualizado relativamente

aos estudos realizados a nível global

e assume uma atitude optimista,

embora se encontre focado em

assuntos domésticos.

Parceiros na Comunidade

O grupo transversal Parceiros na

Comunidade (Community Partners – CP)

foi criado pela Liderança da Rede e pela

Divisão de SIDA (DAIDS) com o objectivo

de promover uma representação eficaz

nas muitas comunidades onde as redes

de ensaios clínicos do HIV/SIDA dos

Institutos Nacionais de Saúde (NIH)

conduzem estudos de investigação.

O grupo envida esforços no sentido

de melhorar a comunicação no seio

das redes de cada comunidade e entre

as redes das várias comunidades, a

todos os níveis. O trabalho do CP inclui

a identificação e desenvolvimento

de programas de formação e apoio

destinados a satisfazer as necessidades

dos Conselhos Consultivos das

Comunidades locais e a promoção

da representação e participação de

membros de comunidades de fracos

recursos e populações vulneráveis,

assim como a identificação e remoção

de obstáculos à participação em

ensaios clínicos.

* Russell Campbell é o Vice-Director do HANC; Louis Shackelford é o Gestor do Projecto de Legado.

Parceiros da Comunidade e Projecto de LegadoPor: Russell Campbell e Louis Shackelford – HANC, Seattle, WA, EUA

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 201719

Drs. James McIntyre, Glenda Gray e Kenneth Mayer trabalharam arduamente para estabelecer clínicas destinadas a assegurar a prestação de cuidados e serviços de saúde às comunidades mais negligenciadas. Estes profissionais e inúmeros outros desenvolveram ainda um trabalho de proximidade nas comunidades, de forma a adquirir um maior conhecimento das realidades envolvidas e assim definir novas linhas orientadoras das actividades de investigação científica.

Também os membros das comunidades se manifestaram nas ruas logo após o início desta epidemia. Além disso, as comunidades uniram-se para partilhar informação acerca de qualquer desenvolvimento científico que se revelasse promissor ou útil. Grupos tais como o ACT UP, TAC e outros acusaram os governos de não fazer o suficiente, de não agir de forma suficientemente rápida ou de não adoptar as medidas certas. As respostas das comunidades vieram trazer um espírito de paixão e urgência à luta contra o HIV. Assim, forram envidados enormes esforços no sentido de fazer a diferença, auxiliar as populações a lidar com a angústia e com a raiva, e apaziguar o medo de muitos, que acreditavam não lhes restar muito tempo de vida devido ao misterioso vírus. Muitos cientistas e prestadores de cuidados deixavam frequentemente os seus laboratórios e doentes para participar em marchas e manifestações. Outros trabalharam afincadamente nos corredores do poder para identificar formas eficazes de acelerar o processo de mudança.

Alguém descobriu que um medicamento ineficaz para o cancro, denominado AZT, exercia um efeito sobre o vírus. Contudo, ninguém conhecia a extensão da investigação necessária para possibilitar a utilização de doses deste medicamento superiores às tóxicas. Hoje em dia, graças ao trabalho realizado junto dos governos e temidas empresas farmacêuticas, dispomos de mais de 40 medicamentos tão inteligentes e diferentes quanto os actuais smartphones

As respostas da comunidade em épocas de maior necessidade são frequentemente os agentes de mudança mais eficazes. Foi-nos dada recentemente a oportunidade de testemunhar a brilhante actuação dos indivíduos por ocasião da ocorrência de vários furacões e tiroteios nos EUA. A militância e a promoção da mudança têm também sido impelidas por eventos históricos, tais como o massacre de Boipaton, na África do Sul, que desencadeou esforços locais e eventualmente globais para terminar com o apartheid. Também a injustiça e a opressão levaram à união e à luta colectiva, mobilizando a população numa onda de esperança contra as desigualdades. À medida que o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA de 2017 se aproxima, reconhecemos os avanços na área da investigação clínica, assim como a necessidade continuada de liderança das comunidades no sentido de efectuar mudanças relevantes. É nossa obrigação, no Dia Mundial de Luta Contra a SIDA de 2017, reflectir por alguns instantes nos momentos críticos da história do HIV, assim como na melhor forma de intensificar os nossos esforços, individuais e colectivos, no sentido de desenvolver uma vacina contra o HIV.

O vírus actualmente conhecido como HIV foi identificado durante uma conferência de imprensa realizada a 23 de Abril de 1984, em Washington, D.C., na qual Margaret Heckler, Secretária de Estado da Saúde e Serviços Humanos dos EUA, proclamou que uma vacina preventiva se encontraria disponível para testes dentro de dois anos. Desde então, muitos médicos que tinham já começado a identificar disparidades significativas nos cuidados de saúde prestados às comunidades começaram a prestar serviços às comunidades negligenciadas pelas organizações científicas e clínicas. Provenientes de todo o mundo, estes médicos sentiram a necessidade de serviços de saúde pública especializados para combater o novo vírus, tendo construído clínicas especializadas. Médicos como os

diferem dos telefones de disco das décadas de 1950 e 1960. Os militantes desta causa e os conselhos consultivos locais notaram que, apesar da existência de terapias para o HIV, a prevenção desta infecção representava uma lacuna grave que poderia ser colmatada através da distribuição de preservativos e de um apoio sustentado a estudos de investigação destinados a prevenir a infecção nas gerações futuras. Alguns indivíduos empenhados nesta causa associaram-se a projectos de investigação financiados pelo governo dos EUA, ao passo que outros se aliaram a investigadores e se manifestaram perante a falha do governo em dar prioridade à investigação de uma vacina contra o HIV.

Em Janeiro de 2000, foi formada uma nova rede da Divisão de SIDA (DAIDS) dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) para a investigação de vacinas contra o HIV, a Rede de Ensaios Clínicos de Vacinas contra o HIV (HVTN). Esta nova entidade empenhou-se na procura de respostas a questões levantadas por estudos anteriores, tendo investigado amostras, partilhado dados, desenvolvido testes laboratoriais e envidado outros esforços de cariz científico. A HVTN observou que os dados relativos aos participantes nos estudos permitiam à comunidade científica determinar os próximos passos a seguir na investigação de cada produto testado. Os líderes da HVTN ouviram o grito de apelo para a realização de “estudos connosco, não em nós”, tendo sido a primeira rede da DAIDS a desenvolver uma Lei dos Direitos e Responsabilidades dos Participantes. A HVTN foi responsável pela ministração de educação e formação não só a médicos, mas também a membros de Conselhos Institucionais de Análise, comissões éticas, comunidades e indivíduos responsáveis pela saúde pública nas áreas geográficas onde era conduzida a investigação de vacinas. Alguns representantes e líderes das comunidades, tais como Butch McKay e Mark Hubbard, que tinham lutado pela participação de voluntários em estudos

By: S. Wakefield- HVTN, Seattle, WA, USA

Uma Reflexão no Dia Mundial de Luta Contra a SIDA

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 20

informativos de possíveis terapias, aliaram-se a indivíduos como Hamilton Richardson, que tinha já participado em estudos de vacinas, com vista a criar a HVTN. Estes indivíduos dedicados sabiam que o mesmo espírito que tinha mobilizado as populações nas ruas teria de prevalecer na comunidade científica.

Os resultados do primeiro estudo de avaliação da eficácia de uma vacina contra o HIV, VaxGen, foram divulgados a 24 de Fevereiro de 2003. Embora esta vacina se tenha revelado ineficaz, os resultados divulgados incluíram uma sub-análise controversa, que indicava uma “possível protecção em indivíduos de raça não branca”. O ensaio clínico de avaliação de VaxGen não incluiu um número suficiente de indivíduos pertencentes a minorias para possibilitar a obtenção de resultados válidos em várias raças/etnias, o que criou graves problemas quando as análises iniciais levantaram a questão de uma eficácia diferente em indivíduos de raça Negra, Asiática e outras. Os militantes da causa concluíram ser necessário tirar uma lição deste exemplo e evitar repeti-lo. Pouco tempo depois, em Junho de 2003, foi anunciada a Iniciativa Global de Desenvolvimento de uma Vacina contra o HIV, uma organização global que salientou a necessidade de integração e desenvolvimento de capacidades em todo o mundo. Alguns dos cientistas de maior prestígio anunciaram uma colaboração sem precedentes e um planeamento estratégico partilhado. Foram ainda estabelecidas várias parcerias criativas, públicas e privadas, centradas em novas formas de trabalhar. Vários anos depois, esta iniciativa passou a ser liderada por Bill Snow, um dos fundadores da Coligação para o Desenvolvimento de uma Vacina contra a SIDA (AIDS Vaccine Advocacy Coalition – AVAC). O enfoque subsequente da organização na prevenção do HIV resultou na respectiva integração na Sociedade Internacional de Luta Contra a SIDA (International AIDS Society – IAS). A Professora Dr.ª Linda Gail Bekker, uma outra cientista/promotora e presidente da IAS, foi responsável pela supervisão desta transição.

O debate acerca do factor mais relevante para o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV, células t ou anticorpos, continua. Os mitos relativos ao HIV e à respectiva investigação têm vindo a persistir, apesar dos esforços de um verdadeiro exército de membros de Conselhos Consultivos das Comunidades e outros especialistas, que possuem conhecimento científico aprofundado e capacidade para interpretar os resultados e progresso dos ensaios clínicos conduzidos. Os esforços das comunidades no sentido de estabelecer e promover parcerias-chave, capazes de fazer prevalecer os seus argumentos e garantir o apoio à investigação de vacinas contra o HIV têm sido complementados por estudos de investigação comportamental destinados a promover a participação em ensaios clínicos. Contudo, os obstáculos à participação em estudos de vacinas para a prevenção do HIV, incluindo uma desconfiança histórica nos médicos e investigadores, continuam a persistir. É mais provável que os indivíduos aos quais foi diagnosticada uma doença incurável (HIV) se encontrem dispostos a participar em estudos de investigação, uma vez que os indivíduos saudáveis, não infectados, não pensam ser necessário participar num estudo. Assim, é pedido aos participantes nos estudos de investigação de vacinas e às comunidades de indivíduos saudáveis que façam sacrifícios pessoais em prol do avanço científico. Estes indivíduos irão necessitar de abdicar do seu tempo e responder a questões invasivas e pessoais, para além de se tornarem potenciais alvos de críticas por parte dos respectivos familiares, amigos e comunidades. É possível que as vacinas que recebem não lhes proporcionem qualquer tipo de protecção ou benefícios, quer imediatos quer a longo prazo. Muitos indivíduos continuam a crer em mitos não substanciados, tais como “é possível contrair o HIV através de uma vacina”, ou duvidam que seja possível investigar uma vacina sem infectar os participantes, ao passo que outros crêem na existência de uma vacina secreta. A criação de confiança na HVTN e uma maior compreensão das actividades de investigação da rede começa pela disponibilização de informação actualizada durante as várias etapas do desenho de potenciais estudos. O objectivo deste esforço consiste em mobilizar as comunidades, com vista a garantir um maior envolvimento no planeamento dos estudos e assegurar um papel activo durante o período de condução dos mesmos. Com este objectivo em mente, os parceiros da HVTN responsáveis pelo envolvimento das comunidades contactam regularmente com as comunidades locais, com os líderes nacionais de várias áreas e com as partes interessadas na prevenção do HIV a nível global.

Continua na próxima página...

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 201721

Uma Reflexão no Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, continuação...

Em anos recentes, os resultados dos ensaios clínicos de vacinas contra o HIV têm-se revelado surpreendentes. Além disso, as comunidades possuem conhecimentos suficientes para oferecer explicações não científicas acerca dos motivos pelos quais os referidos estudos terminaram. No que respeita às actividades de investigação, os esforços no sentido de desenvolver vacinas contra o HIV capazes de conduzir à produção de anticorpos neutralizantes de largo espectro tiveram início ou intensificaram-se, assim como o trabalho com novos vectores destinados a proporcionar uma protecção imunitária duradoura às comunidades mais afectadas pelo vírus. Verificaram-se ainda tremendos progressos científicos desde 2009, ano em que foram anunciados os resultados do Estudo RV144, o primeiro regime de vacinação capaz de reduzir o número de infecções pelo HIV em cerca de 32%. A HVTN liderou os esforços no sentido de integrar novas tecnologias comprovadas de prevenção do HIV nos respectivos protocolos à medida que as mesmas foram emergindo. A circuncisão masculina (CM) e a facilitação do acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) foram imediatamente implementadas nos protocolos. Estas medidas reflectem o empenho permanente da HVTN e a respectiva capacidade de assegurar que as populações vêem uma eventual vacina como a melhor forma de travar a epidemia a longo prazo. A rede procura ainda promover uma maior consciencialização e conhecimento, assim como intensificar o apoio a outras tecnologias de prevenção. A HVTN continua empenhada em proporcionar a melhor prevenção disponível aos participantes em ensaios clínicos, mantendo relacionamentos sólidos com organizações e indivíduos envolvidos no tratamento, cura e prevenção do HIV, assim como defensores da utilização de preservativos e especialistas em saúde reprodutiva. Comunicamos regularmente através das redes sociais e listas de endereços electrónicos, tais como o blogue IRMA (International Rectal Microbicide Advocates) (Grupo

Internacional de Promotores dos Agentes Microbicidas Rectais), com vista a disponibilizar informação e esclarecimentos acerca dos nossos ensaios clínicos e políticas. Fazemos ainda parte de grupos online, públicos e privados, tais como a página do Facebook Trans HSH: Repensar a Sexualidade e a Saúde, concebida com vista a promover a discussão e o debate, responder a questões e endereçar preocupações, de forma a assegurar a divulgação de informação baseada em factos, assim como promover a compreensão, respeito e compaixão entre homens transgénero que praticam sexo com homens (HTSH) e os respectivos parceiros e aliados. Existe ainda uma nova campanha de marketing centrada no tratamento como forma de prevenção (treatment as prevention – TASP), destinada a assegurar que as populações compreendem a mensagem “Indetectável é igual a Intransmissível (I=I).”

Vivemos uma época simultaneamente doce e amarga para a epidemia de HIV. Por um lado, encontram-se disponíveis novas ferramentas de tratamento e prevenção. Além disso, a investigação de uma possível cura está a ser financiada e seguida atentamente pelas várias áreas de especialidade médica. Os extraordinários avanços alcançados no tratamento e prevenção da infecção pelo HIV levam muitos a concluir que é possível travar a epidemia do HIV através da intensificação de tais intervenções. Por outro lado, não se encontram disponíveis recursos suficientes para auxiliar os mais necessitados, observando-se também uma intensificação da estigmatização/discriminação. Mais uma vez, os decisores políticos estão a negligenciar as vidas dos mais necessitados. Enfrentamos agora o novo desafio de manter uma vigilância constante, não perder a esperança e continuar a trabalhar com os militantes que têm vindo a liderar esta causa. E devemos fazê-lo enquanto educamos uma nova geração de indivíduos capazes de formar um grupo coeso e forte, que nunca baixe os braços nem deixe de acreditar num futuro melhor!

* S. Wakefield é o Director de Relações Externas da HVTN.

O dia de 18 de Outubro de 2017

representou um marco na história

do Grupo de Cuidados de Ndlovu.

Existem muitas razões para celebrar

a inauguração do novo centro de

investigação em Elandsdoorn.

Orgulhamo-nos de ter contribuído para

divulgar a investigação e necessidades

prioritárias da região junto dos

cientistas de todo o mundo, dando-lhes

as conhecer a realidade de Elandsdoorn,

na região de Limpopo, África do Sul.

A nossa comunidade envidou enormes

esforços no sentido de apoiar o Grupo

de Cuidados de Ndlovu, assim como

de estabelecer uma forte parceria e

manter uma relação sólida com esta

instituição, com vista a erradicar o HIV

e a SIDA. Desde o estabelecimento do

centro de Ndlovu, há 22 anos atrás,

que a comunidade sabe o que significa

beneficiar de uma instituição que a

apoia e se interessa pela população

a todos os níveis. Quando ninguém

parecia sequer notar o sofrimento e

a angústia da população, o Grupo de

Cuidados de Ndlovu esteve sempre

presente. E… nunca abandonou quem

dele necessitava.

Por: Renee Meyer, CIC de Ndlovu, Elandsdoorn, África do Sul

Bancos de diferentes programas Ndlovu

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HIV VACCINE TRIALS NETWORK | COMMUNITY COMPASS | VOLUME 17, NÚMERO 2: DEZEMBRO DE 2017 22

Foi o Grupo de Cuidados de Ndlovu

que persuadiu milhares de pessoas da

comunidade local e das comunidades

vizinhas a submeterem-se a testes de

HIV, tendo fornecido toda a medicação

e cuidados necessários à vida e saúde

destes indivíduos. Muitas pessoas que

estavam a morrer voltaram a desfrutar

de boa saúde, ao passo que muitos

indivíduos que enfrentavam o final

das suas vidas foram tratados com

compaixão pelo grupo, o único que

se prestou a esta tarefa humanitária.

Esta comunidade confia no Grupo de

Cuidados de Ndlovu, que, pelo seu lado,

se importa verdadeiramente com a

comunidade.

O Grupo de Cuidados de Ndlovu tem

ainda implementado várias iniciativas de

apoio aos órfãos deixados pela doença,

tais como:

• Construção de orfanatos

• Promoção do acesso a cuidados

médicos e apoio socioeconómico;

• Prestação de assistência no registo de

identidade, visando o acesso a outros

apoios;

• Estabelecimento de unidades de

nutrição, onde as crianças são tratadas

e é ministrada formação a cuidadores.

O grupo é ainda responsável pelo

estabelecimento de infantários, onde as

crianças se sentem seguras e amadas, e

de centros pós-escolares, os Centros de

Actividades Lúdicas de Ndlovu, onde é

dada a muitos jovens a oportunidade de

assistir a aulas suplementares, aprender

informática e ler, e onde estes jovens se

sentem seguros;

• Existem ainda inúmeras oportunidades

de praticar desporto, em campos de

futebol, ténis e voleibol, e mesmo num

ginásio muito elegante!

Este evento foi também importante

e diferente por ter evidenciado as

mudanças positivas trazidas pela

colaboração entre uma comunidade

e uma ONG. O trabalho em equipa

representa uma forma clara de alcançar

o objectivo final de erradicação do HIV/

SIDA. Estamos extremamente gratos

a todos aqueles que demonstraram

um notável empenho na área do HIV/

SIDA e aos muitos indivíduos que nos

ofereceram o seu apoio incondicional!

Gostaríamos ainda de agradecer ao

Coro de Jovens de Ndlovu, assim como

a Ralf e a todos os indivíduos que se

esforçaram para construir um belíssimo

palco em menos de uma semana,

assim como a todos os indivíduos cuja

contribuição financeira tornou possível a

abertura deste centro de investigação.

Agradecemos também à comunidade de

Dennilton, ao Dr. Hugo Tempelman, aos

investigadores de todo o mundo e aos

funcionários do Grupo de Cuidados de

Ndlovu.

* Renee Meyer é a Directora de Marketing do CIC de Ndlovu em Elandsdoorn, África do Sul.

*Nota do Editor: A HVTN dá as boas vindas ao CIC de Ndlovu e aguarda ansiosamente a respectiva participação no Estudo HVTN 705!

Fazemos História na Comunidade, com a Comunidade

Ndlovu Research Center

Dignatários na fachada do Edifício de Pesquisa

Um fogo de 10 metros para cozinhar para 1500 pessoas

O Coro Juvenil Ndlovu

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Cover Image Credit: Cody Shipman

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A Rede de Ensaios Clínicos da Vacina contra o HIV (do inglês, HIV Vaccine Trials Network) é uma colaboração multidisciplinar internacional. A HVTN recebe apoio do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (do inglês, National Institute of Allergy and Infectious Diseases - NIAID) dos Institutos Nacionais da Saúde dos EUA (do inglês, National Institutes of Health - NIH), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (do inglês, Department of Health and Human Services). A Rede e o NIAID têm uma relação próxima e de trabalho cooperativo, com atenção partilhada entre questões intelectuais e científicas.

SOBRE A COMMUNITY COMPASS A Community Compass visa manter a comunidade da HVTN informada sobre a investigação, actividades dos centros e avanços da Rede no campo da prevenção e vacinação contra o HIV. Incentivamos os membros da comunidade a submeterem notícias e a comunicarem eventos para esta newsletter, transformando-a numa verdadeira plataforma de partilha comunitária.

Traduções em Espanhol, Português e Francês fornecidas pela Northwest Translations, Inc. de Tradução www.nwtranslations.com

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Chefe de RedacçãoStephaun E. Wallace

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Produção e DistribuiçãoNina Feldman

Contribuindo Editores:Gail Broder

Veja os números anteriores da Bússola da Comunidade (antes chamada de Boletim do OCC, ou em inglês CAB Bulletin) em

hvtn.org/en/community/community-compass.html