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CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PROFª SIMONE DE ALCANTARA SAVAZZONI

Crimes contra a organização do trabalho - legale.com.br · critério adotado pelo projeto, isto é, trasladação dos crimes contra o trabalho, ... praticando violência contra

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CRIMES

CONTRA A

ORGANIZAÇÃO

DO TRABALHO

PROFª SIMONE DE ALCANTARA SAVAZZONI

A EMENDA CONSTITUCIONAL 45

Emenda Constitucional 45 - art. 114, CF, I – disciplina como regra ser de competência da

Justiça do Trabalho “...as ações oriundas da relação de trabalho...”.

A EC 45 ampliou indubitavelmente a competência da Justiça Especializada, deixando

de solucionar apenas dissídios entre o empregado e empregador, passando a decidir lides

envolvendo ações oriundas da relação de trabalho – incluindo AÇÃO PENAL???????

Art. 114, V, CF – Habeas Corpus – remédio constitucional que se aplica precipuamente no

campo penal e processual penal.

Todavia, deve-se observar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.684-0 (Rel.

Ministro Cesar Peluso, DJ 03.08.2007) que reconhece a incompetência da Justiça do

Trabalho para processar e julgar ações penais. Argumento: Juiz Natural – corolário do

processo penal é garantia constitucional de que as causas penais serão submetidas a um juiz

imparcial e independente, estando assim, apto a realizar a atividade estatal pacificadora =

JURISDIÇÃO.

TÍTULO IV – CRIMES CONTRA

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Título IV do Código Penal – crimes contra organização do trabalho – pode ter uma ideia

de início autoritária, mas o que se deve visar é à dignidade, liberdade, segurança e higiene

do trabalho e também valores históricos conquistados pelos trabalhadores assalariados,

além de suas reivindicações na defesa de seus interesses.

Todos apresentam em seu cerne relações de Direito do Trabalho frustradas em

decorrência de um crime. Pode se ver sempre uma relação de trabalho não cumprida ou de um

direito trabalhista obstado, culminado na prejudicialidade de um bem jurídico específico de

um obreiro, numa relação penal-trabalhista.

Em princípio, o ilícito penal e o ilícito trabalhista são autônomos e sujeitos a tratamento

jurídico próprio. Direito Penal x Direito do Trabalho.

No entanto, muitas vezes o mesmo fato apresenta um ilícito penal e um ilícito

trabalhista. Por exemplo, furto – justa causa trabalhista e crime.

TÍTULO IV – CRIMES CONTRA

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Na exposição de motivos do Código Penal no que concerne aos crimes

contra organização do trabalho em seu item 67 (...)

A proteção jurídica já não é concedida à liberdade de trabalho,

propriamente, mas à organização do trabalho, inspirada não somente na

defesa e no ajustamento dos direitos e interesses individuais em jogo, mas

também, e principalmente, no sentido superior do bem de todos. (...) Daí o novo

critério adotado pelo projeto, isto é, trasladação dos crimes contra o trabalho,

do setor dos crimes contra liberdade individual para uma classe autônoma. =

Direito Penal do Trabalho.

ART. 197 – ATENTADO CONTRA A

LIBERDADE DE TRABALHO

ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO

Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:

I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a

trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência;

II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de

parede ou paralisação de atividade econômica:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

ART. 197 – ATENTADO CONTRA A

LIBERDADE DE TRABALHO

Trata-se de delito semelhante ao constrangimento ilegal, difere-se

basicamente no sentido intencional do agente, pois o sujeito ativo deve praticar o

constrangimento contra os sujeitos passivos descritos nos incisos do

artigo.(TRABALHADOR)

A vítima deve ser FORÇADA, OBRIGADA ou COAGIDA.

O objetivo é proteger a livre escolha de trabalho = liberdade laboral

ART. 198 – ATENTADO CONTRA A

LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO

E BOICOTAGEM VIOLENTA

ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO

E BOICOTAGEM VIOLENTA

Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a

celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de

outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

ART. 198 – ATENTADO CONTRA A

LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO

E BOICOTAGEM VIOLENTA

Contrato de trabalho que é celebrado indesejadamente,

consequentemente trata-se de constrangimento ilegal, praticado mediante

violência ou grave ameaça.

Refere-se a lei tanto a contrato individual como coletivo, a escrito ou verbal,

a renovação, modificação ou adição de contrato anterior.

*** Se a coação for para que alguém não celebre contrato de trabalho

poderá haver o crime do art. 146 CP (constrangimento ilegal).

ART. 199 – ATENTADO CONTRA A

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a

participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação

profissional:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

Art. 5º, XVII, CF – permite a livre associação profissional ou sindical para

fins lícitos.

O art. 199, CP tutela essa liberdade de associação.

ART. 200 - PARALISAÇÃO DE TRABALHO,

SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU

PERTURBAÇÃO DA ORDEM

PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU

PERTURBAÇÃO DA ORDEM

Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,

praticando violência contra pessoa ou contra coisa:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho

é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.

ART. 200 - PARALISAÇÃO DE TRABALHO,

SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU

PERTURBAÇÃO DA ORDEM

• Tutela a liberdade de trabalho também garantida na CF/88.

• O sujeito ativo é a pessoa que intenta manter a paralisação do trabalho com

meios VIOLENTOS causando prejuízo a sociedade.

• Pode ser o empregado (necessário concurso de agentes – mínimo 3),

empregador ou terceiros.

• Pode haver concurso com lesão corporal ou homicídio quando violência for

direcionada à pessoa.

• Pode haver concurso com dano quando a violência for direcionada à coisa.

*** Simples ameaça durante a greve (abandono do trabalho pelos empregados)

ou lockout (abandono do trabalho pelos empregadores) não tipifica o crime deste

artigo – mas apenas o delito do art. 147, CP.

ART. 201 - PARALISAÇÃO DE

TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO

PARALISAÇÃO DE TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO

Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,

provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

ART. 201 - PARALISAÇÃO DE

TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO

• Art. 9º, caput da CF assegura o direito de greve.

• § 1º diz que lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá

sobre o atendimento as necessidades inadiáveis da comunidade.

• Lei 1.183/89 = admite a greve em serviços ou entidades essenciais.

• Delmanto: art. 201, CP – restou inaplicável

• Mirabete: não basta tratar-se de obra pública, deve caracterizar serviço

ou atividade que coloca em perigo a população.

ART. 202 – INVASÃO DE

ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL,

COMERCIAL E AGRÍCOLA. SABOTAGEM

INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM

Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola,

com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o

mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas

dispor:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

• Tutela-se neste dispositivo a organização do trabalho, bem como o

patrimônio da empresa ou pessoa física.

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do

trabalho:

Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à

violência.

§ 1º Na mesma pena incorre quem:

I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento,

para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida;

II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante

coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito

anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• Assegura os direitos trabalhistas previstos legalmente, tanto os contidos na

CF/88 quanto os contidos na CLT e leis complementares.

• Assim, estão abrangidos na proteção os direitos obtidos por meio das

convenções e dissídios, uma vez que eles são previstos em lei

• FRUSTAR: enganar ou iludir

• OBJETO: Direito trabalhista – fazendo com que o trabalhador corra o risco de

experimentar perdas ilegais

• FRAUDE ou VIOLÊNCIA: força física (não ameaça) ou ação praticada com

má fé (indução a erro).

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: Dolo específico

• NORMA PENAL EM BRANCO: depende de legislação trabalhista

• OBJETO MATERIAL: direito material trabalhista

• OBJETO JURÍDICO: organização do trabalho e sua legislação

• CRIME MATERIAL: exige resultado naturalístico consistente na efetiva

frustração do direito

• COMPETÊNCIA:

Justiça Federal – quando a questão afeta órgãos coletivos do trabalho

Justiça Estadual – quando o interesse é individual

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• OBRIGAR: forçar, constranger ou impelir

• COAGIR: constranger com força física ou ameaça

*** Obs: §1º, I - Coação para compra de mercadorias – inserido pela Lei

9.777/98 – a vítima é obrigada a comprar mercadorias, por violência ou grave

ameaça, ou até mesmo por contrato, devido a dívida contraída, tornando assim, um

vínculo obrigatório.

• USAR: empregar com habitualidade

• OBJETO MATERIAL: pessoa constrangida

• OBJETO JURÍDICO: liberdade de trabalho

• CRIME FORMAL: não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva

vinculação do trabalhador ao emprego por conta da dívida

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• OBS: No parágrafo 1º trata-se de delito subsidiário em relação ao art. 149, CP.

Assim, o empregador que cerceia a liberdade de locomoção do empregado

em virtude de dívida responde pelo delito do art. 149 (redução à condição análoga

à de escravo). Para incidir no art. 203, §1º, I, é preciso que a conduta não envolva

restrição à liberdade de ir e vir do trabalhador.

Em verdade, neste caso (art. 203), há uma restrição moral ao empregado,

enquanto no art. 149 a restrição é física.

• IMPEDIR: significa obstaculizar-se ou opor-se, tudo por objeto o trabalhador que

pretende desligar-se do serviço.

• COAÇÃO: violência moral e física.

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• RETENÇÃO DE DOCUMENTOS: é a conduta daquele que detém em seu poder ou sob sua

guarda os documentos pessoais (RG, CPF etc) ou contratuais (CTPS), de forma a

impedir que o trabalhador arranje outro emprego, mas sem implicar em cerceamento da

liberdade de locomoção, que caracteriza o crime do art. 149, CP.

• GESTANTE: indispensável que o autor do crime tenha consciência desse estado.

• ÍNDIO: a) isolados b) em visas de integração c) integrados. O art. 203, CP tem por finalidade

tutelar os direitos assegurados pela legislação trabalhista e a liberdade de trabalho,

pressuposto, pois, um contrato de trabalho existente, ao menos, no tocante à vítima.

• Obs: O índio em processo de integração não pode celebrar contrato de trabalho, sem

assistência do órgão tutelar competente.

ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO

ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• PORTADOR DE DEFICIÊNCIA: O conceito de deficiência reside na incapacidade do

indivíduo par acertas tarefas, não na falta de qualquer capacidade física ou mental. A

analise isolada não poderá ser feita; pelo contrário, a deficiência deve ser sempre

correlacionada a tarefa ou atividade. As pessoas portadoras de deficiência

apresentam graus de dificuldade de integração, com uma multiplicidade de situações

que devem ser objeto de atenção rigorosa, tanto do legislador infraconstitucional, como

do administrador e do juiz.

A Constituição Federal concedeu especial atenção às pessoas portadoras de

deficiência, como se pode observar nos arts. 23, II, 24, XIV, 37, VIII, 203, IV, 208, III, 227,

§1º, II, §2º, e 244.

Com particular relevo deve-se, ainda, mencionar o art. 7º, XXXI, que proíbe qualquer

forma de discriminação no tocante ao salário e critério de admissão do trabalhador

portador de deficiência.

ART. 204 – FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE

A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO

FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO

Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à

nacionalização do trabalho:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

Normalmente o sujeito ativo é o empregador.

ART. 205 – EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM

INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA

EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA

Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Tutela-se o interesse estatal nas funções de fiscalização exercidas por

este.

O sujeito passivo é o Estado.

ART. 206 – ALICIAMENTO PARA O

FIM DE EMIGRAÇÃO

ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO

Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro.

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

A objetividade jurídica trata-se de interesse estatal na permanência do trabalhador no País.

• RECRUTAR: atrair, aliciar, seduzir.

Não é suficiente a emigração, deve haver o aliciamento, a fraude, o sujeito passivo deve

enganar os trabalhadores para que saiam do Brasil.

Se for dentro do Brasil e um local para o outro não haverá este delito, mas o descrito no art. 207,

CP.

ART. 207 – ALICIAMENTO DE

TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA

OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL

ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO

TERRITÓRIO NACIONAL

Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra

localidade do território nacional:

Pena - detenção de um a três anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de

execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de

qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno

ao local de origem.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de

dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

ART. 207 – ALICIAMENTO DE

TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA

OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL

• Aqui há o interesse jurídico do Estado como objetividade jurídica.

• O que se tutela é o equilíbrio populacional, pois a mudança dos

trabalhadores causam desajuste social e econômico.

• Mesmo que não ocorra a migração o mero aliciamento já é crime. (crime

formal).

• Foi acrescentado a este artigo a figura do recrutamento de trabalhadores,

que não exige o aliciamento, protege o trabalhador para que não seja

explorado economicamente para obtenção de trabalho.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

A CF 1988 – art. 5º, III e XLVII, assegura que ninguém será submetido a

tratamento desumano ou degradante, e também não haverá trabalho forçado. E,

ainda no art. 6º estabelece que o trabalho é um direito social e um dos princípios

basilares da ordem social. Dispõe, ainda, em seus artigos 193 e 170 que sua

valorização é fundante da ordem econômica, visando assegurar a todos, sem

distinção, uma existência digna em conformidade com os ditames da justiça social.

O trabalho humano é indispensável para a dignidade do ser humano e tem

passado por várias transformações ao longo da história mundial. No Brasil, a partir da

promulgação da CF 1988, passamos a contar com a valorização do trabalho e como

conquista dessa valorização, o trabalho adquiriu status de direito e garantia

fundamental dentro do Estado Democrático de Direito.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

• CF: REGRAS – VALORIZAÇÃO TRABALHO – COMBATE À PRÁTICA DO

TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO

Art. 1º/CF - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos: II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; e

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

Art. 3º/CF - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -

construir uma sociedade livre, justa e solidária; III - erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e IV - promover o bem

de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas

de discriminação.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Art. 4º/CF - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações

internacionais pelos seguintes princípios: II - prevalência dos direitos

humanos;

Art. 5º/CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País

a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: III - ninguém será submetido a tortura

nem a tratamento desumano ou degradante;

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Art. 7º/CF - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

visem à melhoria de sua condição social:

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

higiene e segurança; e

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir

a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.

Art. 170/CF - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e

na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os

ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: III - função social da

propriedade;

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Art. 186/CF - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,

simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em

lei, aos seguintes requisitos: III - observância das disposições que regulam as

relações de trabalho; e IV - exploração que favoreça o bem-estar dos

proprietários e dos trabalhadores.

Art. 193/CF - A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como

objetivo o bem-estar e a justiça sociais

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Ao mesmo tempo que o trabalho é valorizado e possui status constitucional,

surgem vários problemas, entre eles, o trabalho análogo a de escravo, numa das

forma de degradação do trabalho e que ofende diretamente os princípios

constitucionais voltados à dignidade da pessoa humana.

O fator determinante para caracterizar trabalho escravo é o cerceamento da

liberdade. A utilização do trabalho análogo ao de escravo ofende o interesse difuso

nas relações trabalhistas, violando o ordenamento jurídico e a dignidade humana.

O reconhecimento oficial do trabalho análogo ao de escravo no Brasil se deu

efetivamente em 1995, em decorrência das inúmeras denuncias ao Comitê da OIT e

apesar do longo histórico de violações, o Brasil, no cenário mundial, foi um dos

primeiros países a assumir internacionalmente a existência da escravidão

contemporânea.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Antes de 2003, a redação do artigo apenas estipulava o tipo penal sem dar-

lhe definição de sua ocorrência, considerava-se, portanto, um tipo aberto devido

ao alto grau de sua generalidade.

Mas com a nova redação o artigo 149, CP há a indicação das hipóteses de

ocorrência e configuração do que seja condição análoga à de escravo.

Observe-se que não temos o crime de trabalho escravo, porque não

reconhecemos a figura do “escravo” nem do “crime de escravidão” mas

somente a redução à condição análoga à de escravo.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer

submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, que sujeitando-o

a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,

sua locomoção em razão de dívida contraída com empregador ou preposto.

Elementos trazidos de forma exaustiva (não exemplificativa) – análise

CRITICA!

• JORNADA EXAUSTIVA: é o período de trabalho diário que foge à regras da

legislação trabalhista, exaurindo o trabalhador, independentemente do

pagamento de horas extras ou qualquer tipo de compensação.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

Necessário se faz o descumprimento da legislação trabalhista e para que

se configure o trabalho em condições degradantes, faz-se necessário apurar-se

o grau de insalubridade e periculosidade a que o obreiro se encontra exposto.

A legislação do artigo 149 do CP é mais abrangente do que a prevista na

Convenção n 29 da OIT, quando amplia o conceito de trabalho em condições de

escravidão e não se limita a dar um enfoque de cerceio de liberdade do

trabalhador e da liberdade da pessoa humana do trabalhador, posto que, o

trabalhador ao estar em condições laborais degradantes tem afetação de sua

dignidade humana.

ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA

À DE ESCRAVO

O artigo 149, CP ficaria melhor inserido no capítulo que trata dos crimes

contra organização do trabalho, ainda que a tipificação atente contra a liberdade

individual, posto que, a nova redação dada em 2003 faz incidir as expressões

“empregador”, “trabalhador”, “trabalhos forçados” e “jornadas exaustivas”.

Ou seja, as condutas descritas na lei penal, quando ocorridas, denotam a

existência de exploração abusiva da força de trabalho.

ART. 299 – FALSIDADE

IDEOLÓGICA

FALSIDADE IDEOLÓGICA

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele

devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da

que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou

alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e

reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

Ocorre quando o empregador deixa de assinar a CTPS do obreiro

caracterizando assim, omissão de declaração com o fim de prejudicar direito ou criar

obrigação.

ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL

ASSÉDIO SEXUAL

Art. 216-A - Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou

favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior

hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou

função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

• Aurélio: Assédio é a insistência importuna, junto de alguém, com perguntas,

propostas, pretensões, etc” – vinculado direta e exclusivamente ao sujeito

ativo do ilícito.(diferente de “flerte”).

ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL

• Houaiss: Constrangimento é a violência física ou moral exercida contra alguém;

Coação situação moralmente desconfortável; embaraço, vergonha, vexame, falta

de coragem diante de outras pessoas; acanhamento, encabulamento, timidez;

algo desagradável que não se pode evitar, aborrecimento, descontentamento” –

elemento circunstancial da conduta do agente agressor que pode e deve ser

analisado em conjunto com o comportamento do pretenso ofendido para se

concluir pela caracterização ou não do delito.

Observe-se que mesmo com o advento da Lei 10.224/2001 que introduz no

Código Penal o artigo 216-A, caput, as ocorrências têm sido resolvidas no âmbito

civil, trabalhista ou administrativo, ante as dificuldades na realização da prova na

esfera criminal.

ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL

A posição de quem assedia é determinante na caracterização do assédio,

posto que haverá o abuso do poder deixando o assediado em posição

desconfortável e sem condições de reagir às propostas efetivadas ou

insinuadas.

O assédio sexual resolve-se em reiterados constrangimentos que não

precisam ser diários, mas, constantes.

Não é necessário que a vantagem, entendida como proveito ou algum

favorecimento, agrado, sexual seja consumado, mas que seja o assediado

importunado por ações, gestos ou palavras oral ou escrita.

É nesse momento que se dá o assédio sexual.(crime formal)

ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL

Observe-se que o assédio sexual prejudica a imagem do empregador e compromete sua

produção e resultado e poderá ser responsabilizado civilmente com a condenação judicial por

dano moral resultado de assédio sexual praticado por seu preposto.

A providência imediata, uma vez constatado o fato, é a dispensa do empregado

assediador, por ter cometido ato de incontinência de conduta, previsto no art. 482, b, da CLT, ou

seja, conduta de vida irregular, imoral, desonesta ou de má fé, comprometedora, capaz de

quebrar o respeito e a confiança, incompatível com o comportamento que deve ser do

empregado ou de qualquer cidadão, necessários para a manutenção do contrato de trabalho.

Já ao assediado é facultado rescindir indiretamente o contrato de trabalho sob o

argumento jurídico de que o empregador, por si ou por seu preposto, praticou ato lesivo a sua

honra ou boa fama (art, 4863, letra e), pleiteando o pagamento das verbas rescisórias tal como

se demitido fosse, bem como, por ferir o assédio sexual seu direito subjetivo confere-lhe, daí,

direito à indenização civil.

ART. 49/CLT E 299/CP –

ANOTAÇÃO EM CTPS

CTPS: é documento de extrema relevância – identificação profissional –

comprovação do contrato de trabalho e tempo de serviço.

Uma vez apresentada a CTPS o empregador tem o prazo de 48 horas para

anotar a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se

houver (art. 29, CLT) - sob pena de lavratura de auto de infração pelo Auditor

Fiscal do Trabalho.

A CLT dispõe que para efeitos de emissão, substituição ou anotação de

CTPS deve-se considerar como crime de falsidade, com as penalidades

previstas no art. 299, CP.

ART. 49/CLT E 299/CP –

ANOTAÇÃO EM CTPS

Art. 49 - Para os efeitos da emissão, substituição ou anotação de Carteiras de Trabalho e

Previdência Social, considerar-se-á, crime de falsidade, com as penalidades previstas no art.

299 do Código Penal :

I - Fazer, no todo ou em parte, qualquer documento falso ou alterar o verdadeiro;

II - Afirmar falsamente a sua própria identidade, filiação, lugar de nascimento, residência,

profissão ou estado civil e beneficiários, ou atestar os de outra pessoa;

III - Servir-se de documentos, por qualquer forma falsificados;

IV - falsificar, fabricando ou alterando, ou vender, usar ou possuir Carteira de Trabalho e

Previdência Social assim alteradas;

V - Anotar dolosamente em Carteira de Trabalho e Previdência Social ou registro de

empregado, ou confessar ou declarar em juízo ou fora dele, data de admissão em emprego

diversa da verdadeira.

ART. 49/CLT E 299/CP –

ANOTAÇÃO EM CTPS

art. 299, CP: Omitir, em documento público ou particular,

declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir

declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim

de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre

fato juridicamente relevante:

Pena: reclusão de 1 a 5 anos, e multa, se o documento é público,

e reclusão de 1 a 3 anos, e multa, se o documento é particular.

ART. 49/CLT E 297/CP –

ANOTAÇÃO EM CTPS

De forma mais específica, como se observa do artigo 297, § 4º,, CP, em tese, a omissão na

CTPS da vigência do contrato de trabalho é considerada crime de falsificação de documento público,

com previsão de pena de reclusão, de 2 a 6 anos e multa.

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público

verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se

a pena de sexta parte.

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade

paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os

livros mercantis e o testamento particular.

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:

ART. 49/CLT E 297/CP –

ANOTAÇÃO EM CTPS

I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova

perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;

II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva

produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da

empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do

segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de

serviços.

ART. 49/CLT E 299/CP –

ANOTAÇÃO EM CTPS

Não se trata de crime contra organização do trabalho mas crime contra fé

pública (bem jurídico tutelado), mais especificamente de falsidade documental e

ideológica.

OBS IMPORTANTE: Súmula 62 do STJ previa que “Compete a Justiça

Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e

Previdência Social, atribuído a empresa privada” – Entendimento SUPERADO –

pois esse crime envolve interesse da Previdência Social, mais especificamente

da autarquia previdenciária INSS, integrante da administração federal indireta –

falsificação de DOCUMENTO PÚBLICO – competência JUSTIÇA FEDERAL.

TESTE DE GRAVIDEZ

Sob pena de caracterizar-se discriminação, é vedado às empresas, por

expressas previsão legal, exigir testes de gravidez de suas empregadas durante

os exames admissionais ou ao longo do contrato de trabalho. Lei 9.029/95 (Lei

Benedita da Silva)

Art. 1º - É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa

para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por

motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência,

reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as

hipóteses de proteção à criança e ao adolescente previstas no inciso XXXIII

do art. 7o da Constituição Federal.

TESTE DE GRAVIDEZ

Art. 2º Constituem crime as seguintes práticas discriminatórias:

I - a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer

outro procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez;

II - a adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem;

a) indução ou instigamento à esterilização genética;

b) promoção do controle de natalidade, assim não considerado o oferecimento de

serviços e de aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de instituições

públicas ou privadas, submetidas às normas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Pena: detenção de um a dois anos e multa.

TESTE DE GRAVIDEZ

Parágrafo único. São sujeitos ativos dos crimes a que se refere este

artigo:

I - a pessoa física empregadora;

II - o representante legal do empregador, como definido na legislação

trabalhista;

III - o dirigente, direto ou por delegação, de órgãos públicos e entidades

das administrações públicas direta, indireta e fundacional de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

TESTE DE GRAVIDEZ

Neste sentido, também a CLT prevê no art. 373-A:

Art. 373-A - Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as

distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas

especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado:

IV - exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para comprovação de

esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego;

TESTE DE GRAVIDEZ

• Pacífico que não pode exigir: ADMISSIONAL e DURANTE o CONTRATO

• Dúvida: DEMISSIONAL? – falta disposição expressa!!!!

• Favor: interpretação estrita da Lei 9.029/95 – o dispositivo não se manifesta

de forma expressa sobre a proibição da solicitação de teste de gravidez no

ato de demissão da empregada. Assim, poderia o empregador solicitar o

teste no exame demissional, com o objetivo de evitar futuras ações judiciais,

já que a gestante tem estabilidade garantida desde a concepção até cinco

meses após o nascimento de seu filho.

TESTE DE GRAVIDEZ

• Contra: Trata-se de atitude discriminatória, pois o procedimento é uma violação da

intimidade e da privacidade da empregada, mesmo que no momento da demissão.

• Observe-se que para realização:

a) deve haver a concordância da empregada em fazer;

b) manifestação seja reduzida a termo;

c) exame deve ser custeado pela empresa;

d) resultado seja mantido restrito ao empregador e empregada;

e) que a solicitação de exame esteja no plano de demissão da empresa como

opcional e extensivo a todas as empregadas que se desligarem da companhia.