Crimes Contra a Paz e Fé Pública

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    DIREITO PEN L

    CRIMES CONTRA A PAZ PBLICA

    So crimes formais, de perigo abstrato, no exigindo resultado naturalstico,em que o agente passivo a coletividade, crime vago. Esto relacionados segurana e confiana da coletividade para com o meio pblico.(Antecipao da Tutela Penal)

    Art. 286 Incitao ao crimeTrata-se de crime contra a paz pblica, formal, de perigo abstrato e somenteadmite o elemento subjetivo dolo. Crime de Ao Penal PblicaIncondicionada. Frise-se que a incitao deve ser PBLICA, envolver CRIME

    determinado e se dirigir a um nmero INDETERMINADO de pessoas. (Aresidncia particular no pode ser compreendida como local pblico)

    Se a incitao tiver destinatrio nico, no restar configurado o crime deincitao, contudo, poder restar caracterizada a participao no crimeobjeto da incitao (art. 29), se este ao menos chegar na fase de execuopor parte daquele que induzido ou instigado.

    CONSUMAO: A consumao se d no exato momento da incitao

    pblica, crime formal. Entretanto, se uma das pessoas incitadas vier aefetivamente cometer o delito objeto da incitao, o agente responderpelo crime de incitaoart. 286em concurso com o crime praticado (naqualidade de partcipe) pelo incitado, em concurso formal prprio ouimprprio, a depender do caso.

    CASOS ESPECIAIS:(1)Se a incitao detiver conotao poltica aplica-se o art. 23 da L.

    7.170/83, caracterizando crime contra SEGURANA NACIONAL.

    (2)

    Se a incitao envolver o crime de genocdio, caracteriza o crime doart. 3 da L. 2889/56.

    (3)Se a incitao possuir finalidade discriminatria ou preconceituosa,estar caracterizado o crime previsto no art. 20 da L.7716/89.

    Art. 287 - Apologia ao Crime ou CriminosoTrata-se de crime contra a paz pblica, de perigo abstrato, formal, de AoPenal Pblica Incondicionada, que exige o elemento dolo para fins decaracterizao. Ademais, a apologia deve ser pblica, no se admitindo a

    apologia contraveno penal ou a contraventor. Segundo a doutrina deCapez, quando o agente faz apologia a diversos crimes ou autores de fatos

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    criminosos, ainda que num mesmo contexto ftico, haver concurso decrimes e no crime nico.

    Art. 288 Associao Criminosa

    Conceito: Associarem-se 3 (trs) ou mais pessoas, para o fim especfico decometer crimes.

    A novel lei 12850/13 alterou o CP, modificando o nomen iuresdo crime deformao de quadrilha ou bando para Associao Criminosa, alm dereduzir o quantitativo mnimo para fins de caracterizao do crime de 4 para3 integrantes, caracterizando novatio legis in pejus. Ademais, adicionoucomo causa de aumento de pena a presena de criana ou adolescentena associao criminosa.

    E, como o tipo penal faz meno a crimes, impe -se a unio estvel epermanente de, no mnimo, trs indivduos para a prtica de crimesindeterminados, qualquer que seja o bem jurdico ofendido (vida,patrimnio, dignidade sexual, f pblica etc.). De fato, a reunio de pessoaspara a realizao de crimes determinados (ainda que vrios) caracterizaconcurso de pessoas (coautoria ou participao), e no associaocriminosa..

    REQUISITOS NECESSRIOS: Para configurao do delito de associaocriminosa, exige-se estabilidade e permanncia dos membros. Os integrantesdo crime de associao criminosa no precisam ser identificados, devendorestar provado to somente o quantitativo mnimo exigido pelo tipo. Trata-sede crime plurisubjetivo, exigindo-se o concurso de pessoas, dispensando aexistncia deordem e hierarquia entre os membros. ATENO: O delito deorganizao criminosa exige hierarquia e diviso de tarefas. Os seusmembros no precisam se conhecer, tampouco viver no mesmo local. Masdevem saber sobre a existncia dos demais. Basta que o sujeito estejaconsciente em formar parte de uma associao cuja existncia e finalidadeslhe sejam conhecidas.

    Trata-se de um crime doloso, de perigo abstrato, visto que no necessrioqualquer dano efetivo, mas sim probabilidade real que desperta interesse depunio por parte do direito penal. Trata-se de um crime de concursonecessrio de pessoas ou plurissubjetivo de condutas paralelas.Ademais, ocrime de associao criminosa um crime permanente, se potrai no tempo

    at a cessao da associao. Ademais, estamos diante de um crime

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    formal, de consumao antecipada, situao em que a pratica dos crimescaracteriza mero exaurimento (Delito de inteno mutilada de dois atos).

    Deve-se destacar que a associao criminosa exige a finalidade de praticar

    CRIMES. No h associao criminosa para prtica de um nico crime.Cumpre observar que somente teremos a figura da associao criminosaquando diante de crimes, nunca de contravenes. Prevalece na doutrina oentendimento de que os crimes apontados pelo art. 288 precisam serdolosos. NO H ASSOCIAO CRIMINOSA PARA PRTICA DE CRIMESCULPOSOS!

    Participao no crime de associao criminosa: Segundo posioamplamente majoritria no h possibilidade de participao no crime de

    associao criminosa, uma vez que aquele que concorre de qualquer modopara sua prtica dever ser considerado autor do art. 288.

    A associao criminosa no admite tentativa, ou ela est formada ou noest. (convidar pessoas para integrar associao criminosa, de acordo coma doutrina configura ato preparatrio impunvel). Frise-se que o crime deassociao criminosa um crime autnomo. Destarte, nada impede que osintegrantes da associao sejam condenados pelo crime de extorsomediante seqestro na modalidade qualificada pela presena de quadrilha

    e associao criminosa em concurso material, visto tratar-se de crimes deproteo distintas, no havendo bis in idem. Ademais, no h bis in idemnaimputao de crime de quadrilha ou bando e majorao da pena do crimede roubo pela existncia concurso de pessoas. (STJ, HC 123932/SP STF HC77287/SP)

    Questo: O agente infiltrado poder ser computado no n mnimo de 3pessoas?1 corrente- Nucci entende que sim, pois do mesmo modo que se admite aformao de quadrilha com insero de menor de 18 anos, embora noseja este culpvel, de se considerar vlida, para o mesmo fim, a presenado agente infiltrado.2 corrente o policial no pode ser computado, pois no age com onecessrio nimo associativo, pois a sua finalidade, alis, diametralmenteoposta, qual seja, desmantelar a sociedade criminosa. Se ele for coagido amatar algum, recair sobre ele inexigibilidade de conduta diversa.

    Possibilidade de caracterizao de associao criminosa diante de crimecontinuado: O Cdigo Penal adota a Teoria da Fico Jurdica quanto ao

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    instituto do crime continuado, considerando a cadeia de crimes como umnico crime e o tipo previsto no art. 288 exige a finalidade mltipla de crimes.Assim, surgem duas teorias:

    (1)Nucci possvel a caracterizao do crime de associao criminosa

    mesmo diante de crime continuado, pois a Teoria da Fico Jurdica pressuposto apenas para fixao da pena;(2)Hungria Defende que no crime continuado no h associao

    estvel e permanncia entre os envolvidos, o que afasta acaracterizao do crime de associao.

    Inimputveis - Cmputo para fins de configurao do crime de associaocriminosa:O menor de 18 anos, desde que tenha discernimento para entender o queest fazendo, pode integrar a associao criminosa, sendo contabilizado

    como integrante. Assim, podemos ter dois maiores de idade e um menor de17 anos, por exemplo. O que no se admite para fins de cmputo acriana que nem mesmo tem discernimento, como crianas de 4 ou 5 anos,pois no h qualquer liame associativo nessas situaes. Ex. Grupo de 2pessoas que se vale de forma estvel e permanente de uma criana de 4

    anos para atrair motoristas em um semforo para posterior assalto. Aquino h associao criminosa, mas sim concurso de pessoas.

    # possvel agente pertencer a mais de uma associao criminosa? R.: Se oagente integra diversas associaes criminosas viola, por diversas vezes, a lei,caracterizando concurso material de delitos. O que a lei pune associar-se ese ele mais de uma vez se associa, caracteriza pluralidade de crimes.

    Imputao na denncia: A narrativa na denncia deve evidenciar aexistncia de associao para prtica de crimes, no se exigindo minuciosademonstrao dos atos de cada participante e nem mesmo a identificaode cada membro. (STF,HC 87463)

    Associao criminosa que pratica crime aps o oferecimento da denncia:Se aps o oferecimento da denncia a quadrilha vier a praticar novo crime,dever ser intentada outra ao penal, pois trata-se de um crimepermanentecrime nico que se potraiu aps o oferecimento da denncia e que no poder ser imputado como um segundo crime, sob pena dedupla punio pelo mesmo fato. (STJ, HC 4290/RJ STF 78821/RJ) Porm, h quem sustenteque a associao criminosa cessa com o recebimento da denncia,hiptese em que a associao posterior para o cometimento de crimes

    deve ser considerada como um novo delito, no se cogitando bis in idem(sob pena de impunidade, interveno insuficiente/deficiente do Estado).

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    Associao criminosa e crimes cometidos por somente alguns integrantes:Se A,B,C,D associam-se de forma estvel e permanente para prtica decrimes, contudo, somente A e B praticam o estelionato, os demais somente

    respondero pelo crime do art. 288, enquanto A e B respondero pelo art.288 em concurso material com o art. 171 do CP.

    Abandono de integrante da associao criminosa e reflexos jurdicos:Imaginemos uma associao criminosa j constituda e composta por trsmembros, o nmero mnimo exigido pelo art. 288 do Cdigo Penal. Se umdeles retirar-se do agrupamento ilcito, estar excludo o delito? A resposta negativa, pois o crime j havia se consumado no momento da efetivaassociao, razo pela qual nose pode falar em desistncia voluntria ou

    arrependimento eficaz (CP, art. 15).

    Pargrafo nico:a pena aplicada em dobro se a associao criminosa armada ou se houver a participao de criana ou adolescente. (Admite-setanto a arma prpria quanto a imprpria). Segundo STF, basta um membroestar armado para qualificar o crime, desde que os membros saibam daarma. (STF, HC 72992/SP) Ademais para STF e STJ, no configura bis in idemacondenao por crime de associao criminosa armadae roubo majoradopelo emprego de arma, em virtude da autonomia e independncia dos

    delitos. (RHC 102984 / STJ HC 91129)

    ASSOCIAO CRIMINOSA PARA PRTICA DE CRIMES HEDIONDOS: Se aassociao criminosado art. 8 da L. 8072 estiver armada, segundo doutrinamajoritria, pode ser aplicada a pena em dobro em remisso realizada aopargrafo nico retro citado.

    CRIME OBSTCULO: aquele que retrata atos preparatrios tipificados comocrime autnomopelo legislador. o caso da ASSOCIAO CRIMINOSA. (art.

    288/CP) (2 Fase MPE/PR).

    OMISSO IMPRPRIA E A ASSOCIAO CRIMINOSA: A pesar do delito deassociao criminosa ser um crime comissivo, no se admitindo a omissoprpria, permite-se, contudo, que seja praticada via omisso imprpria, nahiptese de o agente gozar do status de garantidor.

    A Lei. 12850/13 trouxe um novo conceito legal de ORGANIZAOCRIMINOSA: Considera-se organizao criminosa a associao de 4 (quatro)ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela diviso de

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    tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ouindiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prtica deinfraes penais cujas penas mximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ouque sejam de carter transnacional.

    Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organizaoparamilitar, milcia particular, grupo ou esquadro com a finalidade de praticarqualquer dos crimes previstos neste Cdigo: Pena - recluso, de 4 (quatro) a 8(oito) anos.

    IMPORTANTE: Os crimes praticados pela milcia privada devem estarpresentes no CP. Desse modo, se houver constituio de tais milcias paracrimes de tortura ou genocdio, no se deve aplicar o art. 288-A, mas podeser aplicado o art. 288.

    Boa parte doutrina critica a novel lei que tipifica a constituio de milciaprivada, com fulcro nos ensinamentos de Feverbach, sob a gide doPrincipio da Reserva Legal, em especial, no que tange a Lex Certa. Areferida inovao legislativa no define o conceito de organizaoparamilitar, particular e grupo ou esquadro, nem mesmo estipula ummnimo quantitativo para configurao do crime em questo.

    Segundo a doutrina, milcia privada gnero do qual tem-se espcies:organizao paramilitar, milcia particular, grupo ou esquadro.Ademais, oobjetivo do legislador em destacar a atividade de grupo de extermnio dedeterminar que este ser considerado um crime hediondo, mesmo que namodalidade simples.

    Milcia privada o agrupamento armado e estruturado de civis inclusive com aparticipao de militares fora das suas funes com a pretensa finalidade derestaurar a segurana em locais controlados pela criminalidade, em face dainoperncia e desdia do Poder Pblico. Para tanto, seus integrantes apresentam-secomo verdadeiros heris de uma comunidade carente e fragilizada, e como

    recompensa so remunerados por empresrios e pelas pessoas em geral.Organizao paramilitar uma associao civil, desvinculada do Estado, armada ecom estrutura anloga s instituies militares, que utiliza tticas e tcnicas policiaisou militares para alcanar seus objetivos.Grupo de extermnio a associao de matadores, composta de particulares etambm por policiais autointitulados de justiceiros, que buscam eliminar pessoasdeliberadamente rotuladas como perigosas ou inconvenientes aos anseios dacoletividade. Sua existncia se deve covardia e omisso do Estado.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art288ahttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art288a
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    Quantas pessoas devem integrar a organizao paramilitar, milcia, grupo deextermnio?1 C: De acordo com Cezar Roberto Bittencourt, o novo tipo penal deve serinterpretado de acordo com artigo 288 CP. Concluso: 03 pessoas.

    2 C: De acordo com Nucci, pode constituir o crime do artigo 288-A CP comapenas 02 pessoas.3 C: De acordo com Rogrio Sanches, o novo tipo penal deve serinterpretado de acordo com a Lei 12.850/13, isto , 04 pessoas.

    - Os crimes devem ter nexo com a finalidade do grupo:Ex: Grupo de extermnio para praticar roubos? No cabe o art. 288-A CP;Ex: Grupo de extermnio para praticar crimes contra a pessoa? Cabe o art. 288-ACP;

    Aplica-se o crime de milcia privada (288-A CP) em concurso com ohomicdio com causa de aumento de pena pela constituio da mlia (121,6 CP)?1C (Bittencourt): o agente responde, apenas, pelo artigo 121, 6, CP, nocumulando com artigo 288-A do CP para evitar bis in idem.2 C (Tribunais Superiores): o agente responde pelo artigo 288-A do CP + art.121, 6 do CP, no configurando bis in idem (so infraes autnomas e

    independentes protegendo bens jurdicos distintos).

    CRIMES CONTRA A F PBLICA:O bem jurdico protegido a f pblica, tendo como titular a coletividade,crime vago. A f publica a crena na legitimidade, veracidade e lealdadepara com os documentos que materializam a vida de cada ser humano.(presuno de legitimidade).

    A insero de documentos falsos prejudica a vida da sociedade, visto que aburocracia aumenta e torna menos gil nossa relao diante da sociedade.

    Nelson Hungria aduz que os crimes contra a f pblica afrontam a agilidadedas relaes comuns que praticamos em nosso dia a dia. Toda falsidadetem um fim especifico de receber uma vantagem indevida distinta dafalsificao em si. Trata-se de um crime autnomo e distinto do crime aoqual se est objetivando com a falsificao per si.

    Consumao: Trata-se de crime formal, em que a consumao se d noexato momento em que ocorre a falsificao ou alterao do documento,independente de qualquer resultado.

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    Ao Penal:Ao Penal Pblica Incondicionada.

    Competncia: Diante dos crimes contra a f pblica, h trs regras parafixao da justia competente:

    Regra n 01) Em se tratando de crimes de falsificao, a competncia serdeterminada a partir do rgo responsvel pela confeco do documento. Se umrgo emite um documento, esse rgo tem interesse na preservao daautenticidade do mesmo. Ex. moeda falsa e CPF falso (JF) / habilitao falsa, comoo Detran estadual, a competncia da justia estadual.

    Regra n 02) Em se tratando de crime de uso de documento falso por terceiro queno tenha sido o responsvel pela falsificao, a competncia ser determinadaem virtude da pessoa fsica ou jurdica prejudicada pelo uso, pouco importando orgo responsvel pela confeco do documento. Ex.: Pessoa comprou umacarteira de habilitao falsa e a utiliza numa blitz da polcia rodoviria federal. Acompetncia da justia federal.

    Regra n 03) Em se tratando de falsificao ou uso de documento falso, cometidoscomo meio para a prtica de um crime-fim (ex. estelionato), a competncia serdeterminada em face do sujeito passivo do crime fim (patrimonial, no caso), j queo falsum ser absorvido por tal delito.

    QUAL A DIFERENA ENTRE FALSIDADE MATERIAL E IDEOLGICA?Ambas tutelam a f pblica, porm a falsidade material atenta contra aautenticidade do documento (forma), enquanto a falsidade ideolgicaatenta contra o contedo do documento, apresentando um juzo inverdico.Toda falsidade ideolgica, pois visa alterar a percepo do agentepassivo. No entanto, nem toda falsidade ser material, ou seja, alterar asubstncia do documento. Diante de falsidade ideolgica no necessriapercia para constatao. J quando a falsidade material faz-senecessrio o parecer de um perito sobre o documento.

    Ademais, para configurarmos o crime de falso, deve haver potencialidadelesiva. Assim, aquela falsidade grosseira que no consegue ludibriar ohomem comum no ser considerada crime de falso, sob o fundamento doinstituto do crime impossvel. No obstante determinada falsificao possaser grosseira ao ponto de ser considerada como crime impossvel, nopodemos partir da mesma premissa para elidir a imputao do crime deestelionato, pois, mesmo grosseiramente falso o documento, pode ser capazfraudar a vontade de determinada vtima, no devendo ser analisada aquesto luz do homem mdio. (Inteligncia da Smula 73 STJ)

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    O que um documento, temos duas teorias:Teoria Estrita Todo escrito feito sobre coisa mvel, de autor determinado e queregistre um fato ou ato juridicamente relevante. Teoria mais retrograda, pormainda sendo a mais segura. (Capez, Mirabete).Teoria Ampla Documento pode ser qualquer objeto que tenha o condo deprovar algum ato ou fato, seja um vdeo, gravaes de udio, arquivo decomputador, foto, seja ele impresso ou virtual. (Regis Prado)

    Art. 289 Moeda FalsaConceito: Falsificar, fabricando ou alterando, moeda metlica ou papel-moeda de curso legal no pas ou no estrangeiro. Figura Equiparada: Nasmesmas penas incorre quem, por conta prpria ou alheia, importa, exporta,adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, ou introduz em circulaomoeda falsa.

    O crime de moeda falsa, previsto no artigo 289 do Cdigo Penal, classificado como crime de ao mltipla (tipo penal alternativo ouplurinuclear), situao em que a prtica de mais de um verboncleo do tipo caracteriza crime nico.

    Figura Privilegiada: Quem, tendo recebido de boa-f, como verdadeira,moeda falsa ou alterada, a restitui circulao, depois de conhecer afalsidade. Destaque-se que aquele que restitui a moeda falsa circulao

    desconhecendo a falsidade pratica FATO ATPICO.

    Bem Jurdico: F Pblica. Considera-se de curso legal as moedas que nopodem ser recusadas como forma de pagamento, tal como acontece como REAL no Brasil. (No abrange o cheque-viagem, conforme STJ: CC94848/SP e o padro monetrio j extinto: Cruzeiro). Trata-se de crime deao penal pblica incondicionada e de competncia da Justia Federal,em todas as modalidades.

    Sujeitos e elemento subjetivo:Trata-se de crime comum, vago, necessitandodo elemento subjetivo dolo, no se admitindo a modalidade culposa.Ademais, no se exige o animus lucrandi. O tipo de moeda falsa exige odolo genrico, sem a necessidade de qualquer especial fim de agir. O crimede moeda falsa crime no-transeunte, exigindo exame de corpo de delito.

    Consumao: Trata-se de crime formal, consumando-se com a merafalsificao da moeda metlica ou papel-moeda independente de

    resultado naturalstico-, mediante fabricao ou alterao, desde queidnea a enganar as pessoas. A falsificao de vrias moedas no mesmo

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    contexto ftico caracteriza crime nico, sendo irrelevante que o objeto docrime seja colocado em circulao, bem como se algum suporta prejuzo.Ademais, como se est diante de delito plurissubsistente, admite-se a figurada tentativa.

    Crime impossvel: A falsificao grosseira de papel-moeda no crimecontra a f pblica, mas pode configurar estelionato perante o individuoque no foi capaz de perceber a falsidade que arraigava o documento,hiptese em que o julgamento ser de competncia da J. Estadual. (Sm. 73STJ)

    Princpio da Insignificncia:No admitido nos crimes contra a f pblica.STF: HC 96153/MG.

    Destaque-se que, se o prprio falsrio coloca em circulao a moeda oupapel-moeda, estaremos diante de ps-fato impunvel, devendo, responder,to somente pela falsificao e no pela figura equiparada.

    FIGURA QUALIFICADA: punido com recluso de 3 a 15 anos e multa, ofuncionrio pblico ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissoquefabrica, emite ou autoriza a fabricao ou emisso:

    1. De moeda com ttulo ou pesoinferior ao determinado em lei.

    2.

    De papel-moeda em quantidade superior autorizada. Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular a moeda, cuja

    circulao no estava ainda autorizada. (Crime comum)

    A figura qualificada do crime de moeda falsa crime prprio, pois somentepode ser cometido pelas pessoas expressamente dispostas no tipo. O incisoque trata do peso somente se aplica moedae somente quando a moedatem peso inferior, sendo atpico o fato de a moeda ter peso superior.Ademais, o inciso que trata da quantidade somente se aplica ao papel-

    moeda fabricado em quantidade superior ao autorizado, sendo certo que afabricao de moeda em quantidade inferior no caracteriza crime, massim ilcito administrativo. Por fim, destaque-se que a modalidade qualificadaprev crime formal, se consumando com a mera prtica do verbo ncleo dotipo.

    Art. 297 Falsificao de documento pblicoTrata-se de falsidade material de documento formalmente pblico. Aconsumao do crime se d no momento em que o documento alterado

    ou fabricado crime formal -, independente de sua utilizao posterior.

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    Passvel de tentativa, quando diante de crime plurissubsistente. Ademais, no necessrio que haja dano para a consumao, trata-se de um crimeformal. Frise-se que se a falsificao for grosseira deve ser afastada a

    imputao ao crime de falso, sob o fundamento do crime impossvel.

    Conduta:falsificar ou alterar. Pressupe dolo (sem qualquer finalidadeespecial do agente). No crime de falsidade material (documento pblico ouprivado) no se exige a presena do especial fim de agir, contudo, nafalsidade ideolgica, deve estar presente o especial fim de agir do agente,qual seja, de prejudicar direito, criar obrigao ou alterar a verdade sobre ofato juridicamente relevante.

    CAUSA DE AUMENTO DE PENA: Diante de funcionrio pblico que pratica afalsificao de documento pblico valendo-se da sua funo h a

    incidncia da causa de aumento. Cuidado, pois no crime de falsidade dedocumento privado no h a incidncia desta majorante.

    Falsificao para acobertar outro crime - Unidade ou pluralidade de crimes:Se o agente, no mesmo contexto ftico e visando alcanar umadeterminada finalidade, falsifica diversos documentos pblicos, deveresponder por uma nica falsificao. Ex. Agente que furta um veculo e falsificatodos os documentos relativos ao automvel. Porm, a falsificao destinada aacobertar um crime anterior nunca por ele ser absorvida, pois estorelacionados a momentos consumativos e bens jurdicos diversos. (Masson)

    CUIDADO: A conduta que se limita a cancelar ou rasurar palavras de umdocumento, sem implicar insero de novos dados ou modificao no seucontedo, caracteriza o crime de supresso de documento, art. 305 do CP.

    Sm. 73 STJ A falsificao grosseira de papel-moeda no crime contra af pblica, mas pode configurar estelionato perante o individuo que no foi

    capaz de perceber a falsidade que arraigava o documento, decompetncia da J. Estadual.

    O QUE DOCUMENTO PBLICO?Documento Pblico aquele elaborado porfuncionrio pblico no exerccio de sua funo, mesmo que ele sejasubstancialmente privado. A lei traz um rol de documentos que so

    EQUIPARADOS aos documentos pblicos: documentos emanados porentidade paraestatal, o titulo ao portador ou transmissvel porendosso, as aes da sociedade comercial, livros mercantis e otestamento particular(art. 297)

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    TTULO AO PORTADOR OU TRANSMISSVEL POR ENDOSSOcheque, nota promissria,letra de cmbio, etc. IMPRESCINDVEL QUE SEJAM PASSVEIS DE TRANSMISSO PORENDOSSO. Contudo, sabe-se que o cheque tem um prazo em que ele transmissvel por endosso. Depois desse prazo, ele pode ser objeto de cesso civil,mas deixa de ser transmissvel por endosso. Nesse caso, considerando que ocheque, aps esse prazo, no pode mais ser transmitido por endosso, o chequedeixa a ser documento pblico para equiparao, passando a ser documentoparticular. ISSO QUE CAI EM CONCURSO!!!

    Pargrafo 3 - Traz um rol de adulteraes em documentos pblicos, emespecial, em dados destinados previdncia social. Fiquem atentos competncia diante de falsificao de CTPS:

    Ex.1: Pessoa sofreu um acidente e no segurada da previdncia. Ela contrataalgum para falsificar a sua CTPS, fazendo uma falsa anotao no documento.Aps, essa pessoa vai a uma agncia do INSS e apresenta a CTPS, querendoreceber auxlio doena. Aqui a competncia ser da J. Federal, pois a finalidadedo agente causar leso ao INSS.Ex.2: A pessoa vai procurar um emprego e o empregador requer experincia. Otrabalhador pega uma CTPS e a falsifica, fazendo uma anotao de vnculoanterior de trabalho anterior, para conseguir o emprego. Aqui a competncia serda J. Estadual, pois a finalidade do agente ludibriar o particular e no o INSS.

    Obs: Os pargrafos terceiro e quarto do art. 297, do CP, na realidade, so crimes defalsidade ideolgica, e no falsidade documental, razo pela qual deveriam estarno art. 299, do CP. Esses artigos caem muito pouco em concurso, mas importantel-los. Ento, documentos que iro servir como prova perante a Previdncia Social,se falsificados, caracterizam falsidade ideolgica.

    ATENO: A falsificao de cpia reprogrfica no autenticada no configuraao com potencial de causar dano f pblica. Diante de cpia de documento,s haver crime se o uso for de cpia autenticada. A cpia autenticada pode ser

    objeto do crime porque pode ser utilizada como prova. (R. Sanches)

    Art. 298. Falsificao de Documento ParticularTIPO: Falsificar no todo ou em parte, documento particular, ou alterardocumento particular verdadeiro. Trata-se de falsidade material, delitoformal, que no exige especial fim de agir do agente ativo.

    CUIDADO: A L. 12737/2012 adicionou um pargrafo nico ao art. 298:Equipara-se a documento particular o carto de crdito ou dbito. (mesmo

    que emitido por empresa pblica ou S.E.M)

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    ATENO: No h a majorante quando diante de falsificao dedocumento particular perpetrada por funcionrio pblico, comoocorre no delito anterior.

    Art. 299 Falsidade IdeolgicaConceito: Omitir, em documento pblico ou particular, declarao que deledevia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declarao falsa ou diversa daque devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigao oualterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

    Tutela-se a f pblica, mas em seu CONTEDO. S poder ser praticado porpessoa que tenha o dever jurdico de declarar a verdade. Deve haverfinalidade especialdo agente em criar obrigao ou extinguir ou prejudicar

    direitos. Caso contrrio, ser fato atpico. H duas penas: de 1 a 5 anos se odocumento for pblico; e de 1 a 3, se o documento for particular. Ex. Agenteque obtm segundo CPF mediante a declarao de nome diverso do

    verdadeiro. (STF: Inq 1695/DF)

    TENTATIVA: O delito admite tentativa somente na conduta ativa, namodalidade omissiva NO!

    CAUSA DE AUMENTO DE PENA:Se o agente funcionrio pblico e comete o

    crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificao ou alterao noassentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Cuidado!Art. 241 (registrar nascimento inexistente) e 242 (registrar como seu o filho deoutrem), do CP. So hipteses especiais de falsificao de registro civil; Cuidadocom as demais falsidades especiais dos arts. 350 do Cdigo Eleitoral e 66 da Lei9605/98falsificar licenciamento ambiental.

    Falsificao ou alterao do assentamento do registro civil e termo inicial daprescrio da pretenso punitiva: Em regra, a prescrio segue a Teoria do

    Resultado, contudo, em crimes de falsificao ou alterao deassentamento do registro civil, o termo inicial da prescrio da pretensopunitiva a data em que o fato se tornou conhecido (art. 111, V, do CP),pouco importando a data da sua realizao. O conhecimento do fato,exigido pela lei, refere-se autoridade pblica que tenha poderes paraapurar, processar ou punir o responsvel pelo delito, a se incluindo oDelegado de Polcia, o membro do Ministrio Pblico e o rgo do PoderJudicirio.

    - CONCURSO ENTRE O CRIME DE FALSO E O ESTELIONATO: 4 CORRENTES:

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    1 Aplica-se a smula 17 do STJ, em que se o falso tem como objetivo umestelionato e nesse se exaure, deve ser aplicado o principio da consuno,onde este absorve o crime de falso. Trata-se de um crime meio para umilcito fim. Ex. Pessoa falsificou a folha de cheque e com ela comprou uma

    mercadoria. O cheque falsificado ficou na loja, se exaurindo na compra. Nessecaso, h estelionato, somente. Ex. Pessoa falsificou um RG e praticou uma fraude

    no comrcio; essa pessoa sai da loja com o produto e com o RG falso, de modo

    que a falsidade no se esgotou no estelionato, caso em que haver concurso

    material.

    2 Segundo STF, estamos diante de crimes que protegem bens jurdicosdiferentes e, como tal, h a ocorrncia de concurso formal de crimes entre ofalso e o estelionato, mesmo que haja exaurimento.3 Hungria defende que o falso deve absorver o estelionato, pois mais

    grave do que este.4 Rogrio Greco defende a aplicao do princpio da consuno, mesmoquando o falso no se exaure no estelionato, uma vez que o falso meiopara a consumao do crime fim: estelionato.

    FALSIDADE IDEOLGICA E BIGAMIA: O requerimento de habilitao para ocasamento requer a declarao de estado civil dos nubentes. Se, nessemomento, uma pessoa j casada falsear a verdade, declarando o estadocivil de solteiro, duas situaes podem ocorrer:

    (1)

    Se o casamento no se concretizar, estar caracterizado somente ocrime de falsidade ideolgica;(2)Se o casamento se aperfeioou, o sujeito ser responsabilizado por

    bigamia e falsidade ideolgica, pois tais delitos ofendem bens jurdicosdiversos e consumam-se em momentos diferentes. Porm, h quemdefenda a consuno, pois a falsidade ideolgica meio para abigamia (Masson e STJ: HC 39.583/MS).

    ABUSO DO PAPEL EM BRANCO Caracteriza o crime de falsidadeideolgica, visto que no h qualquer alterao material do documento,

    mas sim a insero de contedo diverso do que havia sido pactuado.Porm, se quem detm o documento o perde e terceira pessoa vem apreencher o documento com contedo diverso, segundo a doutrina,estaremos diante de crime de falsidade material, visto que no era ela alegitimada para preencher o documento.

    ATENO: Falsificao para provar fato verdico NO possui relevnciapenal.

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    GRATUIDADE JUDICIRIA. DECLARAO DE POBREZA. FALSIDADE. HC 217.657-SP, em 2/2/2012. (490-STJ) A apresentao de declarao de pobreza cominformaes falsas para obteno da assistncia judiciria gratuita nocaracteriza os crimes de falsidade ideolgica ou uso de documento falso.

    Isso porque tal declarao passvel de comprovao posterior, de ofcioou a requerimento, j que a presuno de sua veracidade relativa.

    PETIO. NO CARACTERIZAO DO CRIME DO ART. 299. Segundoentendimento do STJ, a petio s faz prova de seu prprio teor e no daveracidade dos fatos alegados. Por isso, de regra, a insero de alegaesfalsas em petio no caracteriza o crime de falsidade ideolgica. (STJ,AgRg no Ag 1015372/RJ e HC 51613/RJ)

    Art. 304 Uso de documento falsoConceito: Fazer uso de qualquer dos papis falsificados ou alterados, a que sereferem os arts. 297 a 302.

    Crime imputado quele que utiliza algum dos documentos falsificados oualterados, aplicvel pessoa diversa daquela que falsificou o documento.Aquele que falsifica uma carteira de habilitao, quando h a utilizaodeste documento, responde somente pelo crime falsificao, uma vez que ouso afigura-se como mero exaurimento, ps-fato impunvel. (STJ, HC 150242/HC

    107103)

    Trata-se de crime remetido, pois sua conduta remete aos arts. 297 a 302 doCP. tambm delito acessrio (parasitrio), pois pressupe a existncia dedelito anterior . Porm, cuidado, pois a extino da punibilidade acerca docrime antecedente no acarreta a descaracterizao do crime parasitrio.

    Estamos diante de crime exclusivamente doloso, hiptese em que o uso dedocumento falso por culpa afigura-se como fato atpico. Ademais, trata-se

    de norma penal em branco ao avesso, pois busca o preceito secundrio(penas) nos crimes correspondentes ao falso anterior. Assim, aquele que usaresponde pela mesma pena daquele que falsificou.

    Imperioso destacar que a falsificao grosseira,perceptvel ictu oculi, afasta

    a falsidade documental em razo da caracterizao de crime impossvel. Ocrime de uso de documento falso um tipo penal unissubsistente, no seadmitindo a tentiva. Ademais, cumpre destacar que o uso do documentofalso DEVE ser voluntrio e a consumao independe da obteno davantagem.

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    IMPORTANTE:O simples porte de um documento falso no crime. Assim, odocumento falso encontrado com o a gente no caracteriza qualquerdelito, salvo se ele for apresentado autoridade ou restar demonstrado que

    o prprio quem o falsificou. No entanto, o STJ menciona que o mero portede Habilitao e CRLVfalsas caracteriza o crime de uso de documento falso,pois so documentos de porte obrigatrio.

    USO DE DIVERSOS DOCUMENTOS FALSOS EM UM MESMO CONTEXTO FTICO:configura um nico crime, em razo da unidade de leso a f pblica. Ex.Tcio se apresenta a CEF para abrir conta corrente com documentos deidentidade, renda e comprovante de residncia falsos. J se o agente utiliza-se de documentos falsos em contextos distintos, restar configurada a

    continuidade delitiva, se presentes os requisitos do art. 71 do CP.

    Em se tratando de crime de uso de documento falso por terceiro que notenha sido o responsvel pela falsificao do documento, a competnciaser determinada em virtude da pessoa fsica ou jurdica prejudicada com oseu uso. Aqui diferente do critrio anterior, pois no o agente que praticaa falsificao, apenas faz o uso, ento a competncia ser relacionada pessoa lesada. Ex.: Compete Justia Federal o julgamento de crime consistentena apresentao de Certificado de Registro e Licenciamento de Veculo (CRLV)

    falso Polcia Rodoviria Federal. (STJ CC 124.498-ES)

    Smula 200 STJ O Juzo Federal competente para processar e julgar ocrime de uso de passaporte falso o do lugar onde o delito se consumou.

    CUIDADO:O uso de papis pblicos art. 293,CP no se amolda ao tipopenal previsto no art. 304,CP pois este tipo penal exige que seja utilizado umdocumento e no um PAPEL PBLICO. Ex. notas fiscais.

    Se o mesmo sujeito parado na blitz e se diz delegado, apresentandocarteira funcional falsa, qual o crime?Art. 304, se o documento no foi porele falsificado. (corrente majoritria).

    IMPORTANTE: O STF decidiu que o agente que faz uso de carteira falsa da OABpratica o crime de uso de documento falso, no se podendo admitir que esse crimeseja absorvido (princpio da consuno) pela contraveno penal de exerccioilegal da profisso (art. 47 do DL no 3.688/41), pois no possvel que um crimetipificado no Cdigo Penal seja absorvido por uma infrao tipificada na Lei de

    Contravenes Penais. STF. 1a Turma. HC 121652/SC, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em22/4/2014. (Informativo 743)

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    Art. 305 Supresso de DocumentoConceito: Destruir, suprimir ou ocultar, em benefcio prprio ou de outrem, ouem prejuzo alheio, documento pblico ou particular verdadeiro, de que nopodia dispor. Assim, o agente que ao examinar os autos do inqurito policial

    no qual figure como investigado pela prtica de estelionato, encontre osdocumentos originais colhidos pela autoridade, nos quais seja demonstradaa materialidade do delito investigado, e os destrua, deve responder pelocrime de supresso de documento.

    SUPRESSO DE DOCUMENTOART.305

    SONEGAO DE PAPEL OU OBJETO DEVALOR PROBATRIO ART. 356

    Trata-se de crime contra f pblicaepode ser cometido por qualquer

    pessoa.

    Trata-se de crime contra aAdministrao da Justia e somente

    pode ser cometido por advogado ouprocurador. (crime prprio ouespecial). Nesse crime, a inutilizaodo documento com valor probatriorepresenta dano ao Estado, e no adestruio de prova em benefcioprprio ou de outrem, ou ainda emprejuzo alheio.

    indiferente se o documento foi livremente confiado ao agente ou sealcanou a posse de maneira ilcita, com o fim previsto na norma. A lei sepreocupa apenas com a destruio do documento. Destarte, se odocumento consistir em traslado, cpia ou certido, no se reconhece ocrime em anlise, desde que exista o documento original. (STF, HC 75078/SC)

    Trata-se de crime formal, consumando-se com a destruio, supresso ouocultao.

    Art. 307 Falsa IdentidadeConceito:O crime tipificado no art. 307 (falsa identidade) possui como umadas condutas do ncleo o verbo atribuir-se, consistente na simplesatribuio de falsa identidade, sem utilizao ou apresentao dedocumento algum (seja falso ou verdadeiro) para obter vantagem, emproveito prprio ou alheio, ou para causar dano a outrem (exige especialfim de agir).

    No crime de falsa identidade, o agente se passa por uma pessoa querealmente no , seja oralmente (passa-se por outra pessoa em um

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    evento), seja por escrito (preenche formulrio se passando por terceiro), sejapor gesto (levanta a mo quando perguntado quem fez determinadacontribuio filantrpica). Aqui no h utilizao de documento algum deidentificao.

    A identidade compreende caractersticas prprias de pessoa determinada,capazes de individualiz-la perante a sociedade, tais como: nome, filiao,idade, estado civil, sexo e profisso. No conceito identidade no ingressamendereo, telefone e o e-mail. No crime de falsa identidade, o agente atribuipara si ou para outrem identidade alheia sem a apresentao de qualquerdocumento. Se apresentar carteira funcional falsa e intitular-se delegado,praticar o crime de uso de documento falsoart. 304.

    Trata-se de um crime formal, de consumao antecipada, que se completacom a prtica do verbo ncleo do tipo: atribui-se falsa identidade para si ou

    para outrem.

    Aplica-se a pena de 3 meses a 1 ano se o fato no constitui elemento decrime mais grave. Se o agente silencia sobre sua verdadeira identidade, quefoi imputada de forma equivocada, no h falar em crime. Note que essecrime subsidirio, pois o art. deixar de ser aplicado caso o fato constituainfrao mais grave. Ex.: (1) estelionato; (2) posse sexual mediante fraude; (3)

    simulao de casamento. No necessrio que o agente aufira a vantagempretendida para configurar o crime.

    IMPORTANTE O ru pode mentir sobre fatos, mas no pode mentir sobre suaidentidade (qualificao). Se assim o fizer, restar consumado o crime defalsa identidade - HC 72377 STF.

    Testemunha que mente quanto identificao em juzo: SegundoMAGALHES NORONHA, testemunha que mente quanto a sua qualificaoresponder por falso testemunho. Segundo DAMSIO, responder pelo crimede falsa identidade. A primeira corrente mais coerente, tendo em vista queo ru no est atentando contra a f pblica, mas sim contra aadministrao da justia.

    Ex.: Aquele que interpelado pela sindica quanto a ausncia de vaga nagaragem e se diz delegado para fins de conseguir uma vaga na garagempratica o crime do art. 307, falsa identidade, pois estamos diante de um

    delito de inteno, em que o sujeito ao atribuir-se falsa identidade visa obtervantagem atravs da prtica da conduta. Se o agente mostra a carteira

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    profissional de Delegado falsa responde por crime de uso de documentofalso, art. 304. Vale frisar que esta vantagem no pode ser patrimonial, sobpena de caracterizar estelionato ou usurpao qualificada.

    SIMULAO DA QUALIDIDADE DE FUNCIONRIO PBLICO E USURPAO DEFUNO PBLICA: A simulao da qualidade de funcionrio pblico contraveno penalprevista no art. 45 e consiste no simples fingimento emser funcionrio pblico, sem qualquer especial fim de agir. Basta intitular-sefuncionrio pblico. Contudo, se presente o especial fim de agir obtervantagem -, estar configurado o crime de falsa identidade, art. 307. Adiferena est no especial fim de agir. Entretanto, se o sujeito fingir-sefuncionrio pblico e praticar algum ato relacionado funo pblica, aele ser imputado o crime de usurpao de funo pblica, art. 328.

    Art. 308 USO DE DOCUMENTO DE IDENTIDADE ALHEIOConceito: Usar, como prprio, passaporte, titulo de eleitor, caderneta dereservista ou qualquer documento de identidade alheio ou cedera outrem,para que dele se utilize, documento dessa natureza, prprio ou de terceiro.

    Trata-se de crime com punio mais severa do que o crime de falsaidentidade, pois aqui h utilizao de um documento pblico para fins defalsear a identidade. Nesse crime pune-se quem cede o documento etambm aquele que o utiliza. Ex. Pessoa que com a identidade de terceirovai ao banco com a finalidade de obter dados da conta do agente passivo.

    Art. 311 Adulterao de sinal identificador de veiculo automotorTipo: Adulterar ou remarcar nmero de chassi ou qualquer outro sinalidentificador de veiculo automotor, de seu componente ou equipamento.

    Trata-se de crime formal, doloso e que admite a figura tentada. Segundo a

    jurisprudncia atual do STJ e do STF, a conduta de colocar uma fita adesivaou isolante para alterar o nmero ou as letras da placa do carro objetivandoevitar multas, pedgio, rodzio etc, configura o delito do art. 311 do CP. Hquem defenda que se trata de crime impossvel, como observa Masson. (STF.2 Turma. RHC 116371/DF, em 13/8/2013). Ademais, a troca de placasentre veculos,segundo STJ e STF, tambm caracteriza o crime de adulterao de sinalidentificador de veiculo automotor.

    OBSERVAO:Rogrio Sanches adverte que a pessoa que recebe o veculo

    j adulterado, sabendo dessa circunstncia, no pratica o crime do art. 311,

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    mas o do art. 180 (receptao). Se ele recebe o veiculo objeto de crime dedepois adultera o chassi, responde pelo art. 180 em concurso com o 311.

    CUIDADO: A adulterao do Chassi ou placa realizada na CRLV constitui

    crime de falsidade material de documento pblico e no o crime deadulterao de sinal identificador de veculo.

    Art. 311-A FRAUDE EM CERTAMES DE INTERESSE PBLICO:Conceito: Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si oua outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame,contedo sigilosode:I Concurso Pblico;II Avaliao de exames pblicos;

    III Processo seletivo para o ingresso no ensino superior; (Ex. ENEM)IVexame ou processo seletivo previsto em lei. (EX. EXAME DA OAB)

    Nas mesmas penas incorre quem PERMITE ou FACILITA, por qualquermeio, o acesso de pessoas no autorizadas s informaesmencionadas no caput.

    MODALIDADE QUALIFICADA: Se da ao ou omisso resulta dano administrao pblica.

    CAUSA DE AUMENTO: Aumenta-se em 1/3 se o fato cometido porfuncionrio pblico.

    Bem Jurdico Tutelado: F Pblica, pautando-se no Princpio da Isonomia edemais princpios da Administrao Pblica. Crime de Ao Penal PblicaIncondicionada e de competncia da J. Estadual, salvo se em detrimentode bens ou interesses da Unio. Ex. Fraude em concurso da CEF.

    Abrangncia do Crime: O crime de fraude ao certame exige que seja

    violado o interesse pblico, independentemente se o processo seletivo se dem mbito pblico ou privado.

    Sujeitos e elemento subjetivo: Trata-se de crime comum, vago, com dolosubjetivo especfico (com o fim de beneficiar ...), no se admitindo ocometimento do crime na modalidade culposa.

    Consumao: Trata-se de crime formal, consumando-se com a divulgaoou utilizao indevida do contedo sigiloso, no se exigindo a obteno do

    benefcio prprio ou de terceiro, nem o efetivo comprometimento da

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    credibilidade do certame. Ademais, em face do carter plurissubsistente,permite-se a modalidade tentada.

    COLA ELETRNICA:Antes da L. 12550/11, que criou o crime em questo, o STF

    afirmou que a cola eletrnica era fato atpico. Contudo, com o advento dareferida lei, o fato amolda-se ao crime previsto no art. 311-A, visto que h adivulgao indevida de contedo sigiloso com o fim de beneficiar outrem.Segundo a doutrina, no caso de cola eletrnica h o concurso de pessoasentre o expert (que divulga o contedo sigiloso) e o candidato (que o utilizaindevidamente).

    DIVULGAO ANTECIPADA DO RESULTADO DO CERTAME: No caracteriza ocrime previsto no art. 311-A a divulgao do resultado do certame

    antecipadamente a determinadas pessoas, embora o ato seja imoral. Ex.CESPE realiza o certame e uma pessoa da instituio divulga o resultadoantecipadamente a um grupo de amigos.