Criminologia Escrivanato

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    POLICIA CIVIL DI: IViINASGERAIS

    Academia de Polcia Civil de Minas Gerais

    Instituto de Criminologia

    Ncleo de Estudos em Segurana Pblica e Pesquisa

    Chefe de Polcia

    Otto Teixeira Filho

    Diretora-Geral da Academia de Polcia Civil de Minas GeraisMaria de Lurdes Camilli

    Diretor Adjunto

    Silvano de Almeida

    Diretor do Instituto de Criminologia

    Simeo Lopes

    Comisso Editorial

    Simeo Lopes I Paulo Guilherme Santos Chaves (Coordenao)1

    Patrcia Luza Costa! Lola Aniyar de Castrol

    Jos Francisco de Almeida Pachecol Serge Desrosier

    Suely Flix Andruccioli IAlexandre Magno Alves Diniz

    Projeto Grfico

    Noeinstein da Trindade Paula

    Artigos para publicao podem ser enviados para apreciao da ComissoEditorial, no seguinte endereo:

    Revista Criminologia - Academia de Polcia Civil IBiblioteca Paulo PinheiroChagas

    Rua Oscar Negro de Lima, 200, sala 302

    Nova Gameleira - Belo Horizonte - Minas Gerais - CEP 30510-210Fone: (31) 3379.50.41 Fax: (31) 3379.50.02e-mail: [email protected] .

    Criminologia! Ncleo de Estudos em Segurana Pblica ePesquisa- NESPPI ACADEPOL. Ano 1 n. 1 (ago.2006) - Belo

    Horizonte: Sigma, 2007-

    Anual

    ISSN 1676-0584

    1. Criminologia. 2. Direitos Humanos. 3. Educao.

    4. Segurana Pblica. I. Polcia Civil de Minas

    Gerais.

    CDD 301.304

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    o ESCRIVO DE POLCIA

    FATORES QUE INFLUENCIAM O SEU DESEMPENHO

    Paulo Guilherme Santos Chaves

    Patrcia Luza Costa

    Simeo LopesHamilton Rodrigues da Silva 17

    INTRODUO

    o Inqurito Policial um instrumento jurdico e descritivo da atuao investigativa,que .garante a preservao de direitos individuais e coletivos no cenrio

    tipicamente conflituoso que envolve a apurao da ocorrncia criminal. Sob a

    ,direo e superviso do Delegado de Polcia, o Escrivo de Polcia o

    responsvel direto pela instaurao, formalizao e remessa do Inqurito Policial

    Justia.

    Neste artigo, apresenta-se uma reunio de dados coletados entre os Escrives dePolcia lotados em Belo Horizonte, referentes problemtica do acmulo de

    trabalho, falta de recursos humanos e tcnicos e prtica de outras atividades

    .desempenhadas que no as suas funes prescritas legalmente. Enfocando a lida

    diria deum Escrivo de Polcia em seu local de trabalho, suas atividades formais

    e suas atividades exercidas de fato, buscaram-se hipteses que comprovariam ou

    no a questo primordial: investigar a existncia do acmulo de servio e, se esse

    acmulo realmente compromete no desempenho do Escrivo de Polcia lotado na

    .Capital das Minas Gerais .

    .O aumento vertiginoso da criminalidade , sobremaneira, um componente que

    contribui muito para o acmulo de servio do Escrivo de Polcia , contudo,inerentes a esse fator, esto a falta de recursos humanos, tcnicos e a prtica de

    atividades alheias sua funo especfica (COSTA, 2005). Portanto, a partir

    desse trabalho, a inteno de fornecer subsdios para uma anlise e

    compreenso aprofundadas da funo desses profissionais, bem como um

    diagnstico de como funciona atualmente a rea cartorria da Polcia Civil em

    Belo Horizonte.

    Atravs de um levantamento de dados junto Diretoria de Administrao e

    Pagamento de Pessoal - DAPP, contabilizou-se aproximadamente 480 Escrives

    de Polcia, distribudos nas Unidades Policiais de Belo Horizonte, dos quais

    17 Escrivo de Polcia. Graduado em Filosofia e ps-graduado em Criminologia. Pesquisador e professor da

    Academia de Polcia Civil.

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    definiu-se um percentual de 10% como amostra representativa do escrivanato da

    Polcia Civil na capital mineira. Ao todo, no Estado de Minas h cerca de 1.400

    Escrives de Polcia, conforme ltimo levantamento em janeiro de 2006.

    A POLCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS

    o Estado Democrtico de Direito, institudo pela Constituio da Repblica

    Federativa do Brasil de 1988, assegura a todos os cidados brasileiros, dentre os

    diversos direitos sociais e individuais, a preservao da ordem pblica e a defesa

    das pessoas e do patrimnio. Para tanto, as atividades de segurana so

    desempenhadas nos trs nveis da esfera pblica: municipal, estadual e federal.

    No Estado de Minas Gerais a Polcia Civil co-responsvel pela seguranapblica, dever do Estado, direito e obrigao de todGs, sendo exercida para

    preservar a ordem pblica e a incolumidade das pesl)os e do patrimnio. rgopermanente do Poder Pblico, dirigido por Delegado de Polcia de Carreira e

    organizada de acordo com os princpios da hierarquia e da disciplina. Est,

    singularmente estruturada como um rgo autnomo da administrao direta,

    desde 2003, ano em que foi criado o Sistema Integrado de Defesa Social- SIDS,

    reunindo as organizaes atuantes no campo da segurana pblica e defesa do

    cidado - a Secretaria de Defesa Social: formada pela Subsecretaria de

    Administrao Penitenciria, a Polcia Militar, Corpo de Bombeiros, Defensoria

    Pblica e a prpria Polcia Civil. O SIDS tem como finalidade a articulao das

    instituies de segurana visando o trabalho integrado, inclusive com outrasorganizaes pblicas e representaes da sociedade.

    A mudana organizacional introduziu tambm uma nova concepo dasatividades da Polcia Civil, divididas em trs nveis fundamentais:

    ~ Administrao Superior que formada pela Chefia da Polcia Civil; pela Chefia-Adjunta da Polcia Civil; pelo Conselho Superior de Polcia Civil e pelo Colegiado.

    ~ Atividade Logstica em que congrega as funes de apoio para execuo da

    atividade policial, abrangendo as unidades subordinadas Superintendncia dePlanejamento, Gesto e Finanas.

    ~ Atividade Finalstica referente s funes estratgicas e tticas. As atividades

    finalsticastticas so compostas pela Superintendncia de Investigaes ePolcia Judiciria que se dividem em Departamentos de Polcia Civil, Institutos

    Mdico Legal, de Criminalstica e de Investigaes e Delegacias e, finalmente, as

    atividades finalsticas estratgicas, desempenhadas pela Superintendncia de

    Informaes e Inteligncia Policial, Academia de Polcia Civil, Corregedoria Geralde Polcia Civil e Departamento de Trnsito.

    O quadro de servidores da Polcia Civil, reformulado pelo projeto da Nova Lei

    Orgnica, contempla as carreiras administrativas, bem como as carreiras dos

    servidores policiais. Os cargos administrativos j existentes foram transformados

    em trs novas carreiras de apoio logstico, que atuaro nas Delegacias de Polcia:

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    - Auxiliar de Polcia Civil, de nvel fundamental

    - Tcnico Assistente de Polcia Civil, de nvel mdio, e

    - Analista de Polcia Civil, de nvel superior.

    Existem ainda cargos administrativos indicados pelo Chefe da Polcia Civil e

    nomeados pelo Governador do Estado, exclusivos ou no, de servidores da

    instituio.

    Ao mesmo tempo, os servidores policiais foram reorganizados em cinco carreiras:

    - Delegado de Polcia, de curso superior de Direito.

    - Mdico-Legista, de curso superior de Medicina.

    - Perito Criminal, de curso superior em qualquer,rea do conhecimento.

    - Escrivo de Polcia, de nvel mdio, e ,

    Agente de Polcia, integrado pelasntigas carreiras de Detetive,

    Carcereiro, Identificador e Vistoriador de Veculos, tambm de nvel

    mdio.

    A carreira de Auxiliar de Necropsia, de nvel fundamental, ser extinta aps a

    desocupao dos cargos, sendo que suas funes sero realizadas pelo Agente

    de Polcia, to logo ocorra a extino do cargo.

    Dentre as atribuies dos servidores policiais, o Delegado de Polcia oresponsvel pela instaurao e conduo do inqurito policial e pela coordenao

    das atividades ttico-operacionais e administrativas da sua unidade policial; o

    Mdico-Legista tem a seu cargo a realizao de exames mdico-legais, bem

    como a realizao de exames em pessoas e cadveres, para elaborao de

    laudos periciais; o Perito Criminal atua na interpretao dos indcios materiais e

    elementos subjetivos das infraes penais, tambm para construo de laudo

    pericial; o Escrivo de Polcia realiza o trabalho de elaborao e formalizao dos

    atos em procedimentos legais, alm de zelar pela guarda de documentos da sua

    unidade policial; e o Agente de Polcia tem a seu cargo a coleta de elementos

    objetivos e subjetivos para esclarecimento das infraes penais, administrativas e

    disciplinares, alm do cumprimento de diligncias policiais e determinaesjudiciais. (op.cit.)

    BREVE HISTRIA

    A Instituio Polcia Civil centenria no Brasil, pois, o primeiro Intendente-Geral

    de Polcia com essa denominao foi nomeado por D. Joo VI, em 10 de maio de

    1808 na cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro (da, a instituio do dia do

    Policial Civil no Estado de Minas Gerais, em dia 10 de maio, conforme preceitua a

    Lei 12.533/97). O primeiro ocupante do cargo, foi o conselheiro Paulo FernandesViana, ao qual estavam subordinadas as atividades de Polcia Poltica do

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    Prncipe, cuja finalidade, como o prprio nome j indica, era poltica. Funcionava

    para vigilncia e obserVao interna, combatendo as idias liberais surgidas em

    certos ncleos e voltada, tambm para as questes externas, principalmente

    diante das atividades dos estrangeiros, agitadores, espies, ambiciosos e

    arrogantes. Ao intendente-Geral, tambm se subordinavam as atividades dePolcia propriamente dita, que alm dos problemas inerentes aos de uma

    instituio que acabava de ser implantada, apesar da melhoria no tocante ao

    respeito aos direitos individuais, a criminalidade aumentava, proporcionalmente

    ao crescimento da populao. Uma terceira atividade do Intendente era a

    administrao do municpio, cuidando das obras pblicas, da higiene, da

    iluminao, da urbanizao, saneamento, fornecimento de gua, etc. (LIBERAL,2002).

    Percebe-se na passagem descrita no pargrafo anterior que a caracterstica de

    polcia poltica acompanha a Polcia Civil desde os seus primrdios, identificando-a como uma instituio protetora e informadora do governo.

    Pode-se constatar, tambm que j naquela poca, a Polcia registrava deficincia

    no quadro de pessoal, principalmente diante do crescimento populacional e do

    aumento da criminalidade, fato que fez Paulo Fernandes providenciar o cargo de

    auxiliar do Intendente-Geral de Polcia, ocupado ento, pelo Major-Ajudante

    Miguel Nunes Vidigal, bem como ordenou a construo de quartis e casaspopulares para os policiais (op.cit).

    Paulo Fernandes Viana, o primeiro Intendente-Geral de Polcia, foi assim o

    fundador da Polcia Civil Brasileira.

    o ESCRIVO .DE POLCIA

    Uma das carreiras componentes do "staff' da instituio Policial, e especfica

    desse tema, a do Escrivo de Polcia, cujas atribuies encontram-se no artigo

    68 da Lei nQ

    5.406 de 16 de dezembro de 1969, a chamada Lei Orgnica dapolcia Civil de Minas Gerais, ainda em vigor:

    "Art. 68 -7 O Escrivo de Polcia o servidor policial que tema seu cargo o trabalho de elaborao dos inquritos policiaise processos sumrios .~g!llif}cJg.nec~ssriO,flx~cuodetar:lf?fas....:_.dfJ1iqi~traJjy~, guarda e conservao das

    instalaes e pertences das delegacias". (MINAS GERAIS.1968)

    Diante dessa diversidade de atribuies que lhe so conferidas, o Escrivo tem

    grande importncia para a instituio policial, fato que denota tambm a

    necessidade de aperfeioamento constante nos domnios de sua matria e

    necessidade de valorizao profissional, objetivando uma melhor qualidade. no

    trabalho prestado.

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    J ocorre h algum tempo uma constatao atravs do senso comum dosprprios membros da corporao de que o material humano componente dosquadros da Polcia Civil de Minas Gerais, alm de defasado, apresenta sriasdificuldades. Destaca-se dentre elas, a sade do policial comprometida emdecorrncia de vrios fatores inerentes s funes desempenhadas, considervelnvel de baixa estima, insatisfao em relao ao local de trabalho, aosinstrumentos utilizados, remunerao salarial e muitos outros conflitos.Apregoa-se que no caso da carreira dos escrives, o fardo parece ainda ser umpouco mais pesado. Leva-se em conta que esses profissionais, alm da granderesponsabilidade na organizao do Inqurito Policial, ainda tm que lidar comoutras tantas situaes. Exemplificando: o acmulo de servio em razo docrescente aumento da criminalidade e escassez de pessoal, a carga horria pordemais elstica, tendo o escrivo hora de chegar delegacia, mas-no tendohora de sair do expediente, a responsabilidade para com os bens materiais do

    cartrio e muitas vezes, de toda a unidade policial, etc.

    ;

    PERFIL DO ESCRIVO DE POLCIA EM MINAS GERAIS

    Conforme pesquisa de campo realizada no ano de 2005 (NESPP/ACADEPOL), apartir de uma amostra de 11% dos Escrives de Polcia do Estado, tem-se que amaioria, ou seja, 68% so do sexo feminino e que 86% tm entre 26 e 55 anos deidade. Destes, 50% tm entre 35 e 55 anos. Boa parte, 60% aproximadamente,possui curso superior completo ou em curso e 47% so casados. Um percentual

    de 34% integram a corporao policial civil Polcia Civil entre 12 e 20 anos e, 31%integram-na entre 6 e 11 anos de servios prestados. Uma faixa em torno de68%, considera a carga horria muito pesada, alegando que no tm condiesde cumprir o horrio prescrito em funo do volume e da urgncia do servio. Talfator interfere substancialmente em suas condies de sade, assim como citaMINAYO et ai (2003): u.. existe uma estreita relao entre as atividades exercidaspelos policiais eo nvel de bem-estar e de problemas sanitrios que apresentam,

    tanto no campo fsico quanto mental".

    Outro elemento negativo em relao percepo desses profissionais asituaOde seus equipamentos de trabalho (computadores, aparelhos telefnicos,arquivos, armamentos, algemas, etc), os quais mais de 80% da classeconsideram bem precrios, assim como a falta de materiais de consumo, "Desdeclipes, papel, cartucho de tinta de impressora para emitir um parecer, por

    exemplo, at o reagente, o solvente e o ter para realizar a anlise que compemo laudo e o relatrio (...) a falta desses produtos, muitas vezes, impossibilitam aexecuo de certas tarefas essenciais" (Minayo et ai, 2003).

    Um percentual de 47% dos entrevistados unnime nas reclamaes em relao precariedade e insalubridade do local de trabalho. No basta que o governo e asociedade faam exigncias sobre os resultados sem proporcionar os requisitos

    necessrios para a consecuo de efetividade e de eficincia das atividades (op.cit).

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    Um outro ponto preocupante nessa anlise e que merece ateno, o estresse eo sofrimento mental que o Policial Civil pode desenvolver. O percentual de 75%dos Escrives de Polcia entrevistados sentem-se tristes e desanimados em

    relao ao trabalho; 63,29% sentem-se desmotivados e sem esperanas quantoao futuro; e 28,72% j tiveram algum pensamento de morte ou de que no vale apena viver. Segundo MERLO (2002), o sofrimento psquico se refere a um estadode luta do sujeito contra foras que o empurram para a doena mental.

    Dados da Organizao Mundial da Sade - OMS mostram que as disfunes eincapacidades causadas pelos transtornos mentais e de comportamentos podemlimitar as atividades dirias dos indivduos; afetar o exerccio de suas funessociais (convivncia e comunicao com os outros); alterar a concentrao,persistncia e ritmo de execuo das tarefas que precisam realizar, deteriorandoou descompensando as aes prprias do cotidiano laboral (Brasil, 2001,

    ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE-OMS).

    E um outro dado que pode vincular-se ao aumento do estresse do profissional apreocupao excessiva com as tarefas a serem desempenhadas, fator queacomete 54,78% dos Escrives de Polcia no Estado.

    Desse modo, define-se como perfil do Escrivo de Polcia mineiro, como sendoum profissional do sexo feminino, com idade entre 30 e 50 anos, com cursosuperior completo ou em curso, casado e com tempo de servio prestado nacorporao entre 13 e 20 anos.

    Percebe-se assim, uma avaliao do Policial Civil mineiro muito proxlma aoPolicial Civil carioca e fluminense, de acordo com o estudo organizado porMINAYO et ai (2003), principalmente em relao ao tempo de servio prestado nacorporao, pois no obstante experincia adquirida, "a rotina em uma atividadealtamente estressante compromete a qualidade de vida do policial, isto , suaprpria realizao existencial' (MINAYO et ai, 2003).

    METODOLOGIA DA PESQUISA NA CAPITAL MINEIRA

    Definiu-se por desenvolver um questionrio semi-aberto para realizar entrevistascom a amostra escolhida na capital mineira de forma aleatria por meio de sorteio(ANEXO 4).

    Tomaram-se como base as seis Seccionais de Polcia Civil situadas na capitalmineira: Centro, Sul, Leste, Noroeste, Barreiro e Venda Nova. Mais duasDelegacias Distritais pertencentes estrutura organizao de uma dasSeccionais: 2 e 3 DO da Centro, 1 e 13 DO da Sul, 8 e 20 DO da Leste, 14 e16 DO da Noroeste, 19 e 24 DO da Seccional Barreiro e 9 e 22 DO daSeccional Venda Nova.

    Sorteou-se, tambm a metade das unidades que compem a estruturaorganizacional do Departamento de Investigaes- DI: Delegacia de Crimes

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    contra o Patrimnio - DCCP, Diviso de Txicos e Entorpecentes - DVTE,Delegacia de Crimes contra a Mulher - DCCM, Delegacia Especializada deProteo ao Idoso - DEPI, Delegacia de Proteo Qualidade de Vida e Ecologia- DEPQVE, Delegacia de Proteo Criana e ao Adolescente - DOPCAD.

    A amostra de 72 Escrives de Polcia foi dividida ento, em 3 partes, sendo que24 tomados nas Seccionais (4 para cada uma), 24 tomados em cada DelegaciaDistrital escolhida (2 para cada uma) e 24 tomados nas DelegaciasEspecializadas escolhidas no DI (4 para cada uma).

    Contudo, no decorrer da pesquisa de campo, no se alcanou o percentualpretendido dentro do cronograma estabelecido devido indispooibilidade detempo dos entrevistados. Assim, reduziu-se a amostra para 10%, perfazendo umtotal de 48 profi~sionais que foram selecionados nas unidades previamente

    escolhidas~-porm, de acordo com a disponibilidade de cada um.

    RESULTADOS

    Escolheu-se uma amostragem nos meses de Janeiro, Fevereiro e princpio deMaro de 2006, obtendo-se os resultados, distribudos de acordo com o grau deocorrncia.

    Questionado aos entrevistados sobre a concepo de cada participante quanto s

    funes do Escrivo de Polcia no intuito de avaliar se h uma unicidade TAS. 1,no ANEXO 1.

    Igualmente foi questionado aos entrevistados sobre a opinio de cada um quantoaos motivos que poderiam justificar a grande quantidade de servio acumulado.Foram listados dez motivos, os quais os Escrives de Polcia acreditam ser osprincipais causadores de acmulo de servio. Esses resultados so apresentadosno GRF.1, no ANEXO 2.

    Quando perguntados se contam com a ajuda de outro Escrivo de Polcia, de umEscrivo de Polcia ad hoc ou qualquer outro auxiliar, os Escrives entrevistadosse dividem em dois grupos quase que simtricos, ou seja, 26 deles responderamque sim e os outros 22 responderam que no.

    O nmero de inquritos policiais, termos circunstanciados de ocorrncias, cartasprecatrias, ofcios e outros expedientes cartorrios indicado por cada um dosentrevistados como sua ocupao diria, calculado para o total da amostraapresentou uma mdia de, aproximadamente, 490 expedientes para cadaEscrivo de Polcia.

    Interpelados se com todo este acmulo de servio, eles conseguem cumprir osprazos, 17 escrives responderam que "mais ou menos sim" (sic) e 31 disseramque no, e que por tal motivo, principalmente os inquritos, permanecem

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    atrasados em decorrncia da constante ida e volta Justia com pedidos deprazos para concluso.

    Ao serem perguntados sobre o "desvio de funo" do Escr.ivo de Polcia, osentrevistados se dividiram em quatro grupos, de acordo com o GRF. 2, noANEXO 3.

    Perguntados se todos os profissionais que se encontram desviados de funoviessem para a rea operacional o problema do acmulo de servio seriaresolvido, em sua totalidade, os entrevistados responderam que sem dvida,ajudaria bastante, mas que o problema no se resolveria, pois o dbito para comos recursos humanos na classe muito maior. -

    A respeito do estresse dos profissionais do sexo feminino, 25 Escrivs se sentemestressadas e 8 Escrivs no, e com relao ao sexo ma~culino, 13 Escrives sesentem estressados, enquanto apenas 2 disseram que no. T~I resposta foiespontnea e baseada apenas na percepo individual de cada entrevistado.Porm, quando submetidos a um teste de diagnstico de estresse, 28 Escrives(20 do sexo feminino e 8 do sexo masculino) que se prontificaram em preencher oinstrumento de pesquisa, apresentaram o segUinte resultado: em meio s vinteprofissionais, uma obteve o diagnstico no nvel normal de estresse, quatro seenquadram em um nvel leve e quinze Escrivs se encontram com elevado graude estresse. Enquanto que com relao aos profissionais do sexo masculino, umse encontra no nvel normal, um, no nvel leve e seis deles esto em um gravenvel de estresse.

    Questionados se esto satisfeitos com a profisso, 08 Escrives responderamque no se sentem realizados profissionalmente e que almejam, o quanto antes,conquistarem outros espaos, mesmo se for fora da instituio. J o restante, ouseja, 40 Escrives, ale~aram estar satisfeitos com afuno em si, isto , gostamdo tipo de trabalho realizado pelo Escrivo, porm rechaam o fardo acentuado

    > < . de atribuies, bem como a ausncia de valorizao profissional e financeira.

    ANLISE DOS RESULTADOS

    Aps as constataes supramencionadas, passamos agora anlise do rol deinformaes e percepes reunidas na tentativa de responder questo primeiradessa investigao: existe um acmulo de servio que realmente prejudica odesempenho do Escrivo de Polcia da capital mineira?

    Acreditamos ter-se constatado, atravs da exposio a que se segue esta anlisede que, realmente, h um acmulo de servio muito grande devido auma srie defatores.

    As questes abordadas no questionrio semi-aberto, que norteou as .9ntrevistasda pesquisa de campo, partem do enfoque s funes mais executadas pelos

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    Escrives nas Delegacias de Polcia de Belo Horizonte, que so as prprias dafuno especfica do Escrivo de Polcia, mencionadas pela lei.

    Em seguida, constatando-se o grande volume de servio em todos os cartriosvisitados, sem exceo, foram listados no GRF. 1, os m'otivos que os Escrivestm em comum para justificarem o acmulo de servio, sobre os quais tecemosalgumas consideraes: em primeiro lugar, 100% dos Escrives entrevistadosqueixam-se sobre o reduzido nmero de profissionais constante da carreira deEscrivo de Polcia da Secretaria de Estado da Defesa Social. Em todo o Estadoso aproximadamente mil e quatrocentos apenas e, em Belo Horizonte, umnmero perto de quatrocentos e oitenta, o que realmente muito pouco diante dagrande demanda de servio.

    A partir de uma estatstica aproximada, realizada durante as entrevistas, concluiu-

    se que para cada escrivo de polcia da capital mineira, caberia aresponsabilidade sobre quatrocentos e noventa Jlxpedientes. Essa mdia foicalculada somando-se os expedientes encontrados em andamento nos cartriosvisitados e, dividindo-se o total pelo nmero de profissionais entrevistados.Entenda-se por expedientes todas as tarefas listadas na TAB. 1, excetuando-se afuno de Chefe de cartrio.

    ).:;' Abarcando tambm a totalidade dos entrevistados, o problema do acmulo deatribuies para o profissional cartorrio uma queixa comum. Durante o trabalhode campo constatou-se por vezes esta situao. O Escrivo inicia uma tarefa eno tem condies de encerr-Ia, sendo obrigado a comear inmeras outras

    que, a todo momento, lhe so solicitadas. Terminado o expediente, encontra-secom vrias atividades iniciadas e deixadas pelo meio do caminho, sem conseguirconclu-Ias. Tal fato no se d sempre por falta de organizao ou mesmocompetncia na execuo das atividades, mas realmente devido grandequantidade de atribuies, falta de pessoal para auxili-lo e, principalmentedevido imprevisibilidade de ocorrncia do fato delituoso.

    Outra questo pontual o que se entende como falta de recursos tcnicos, ouseja, a falta de materiais de primeira necessidade nos cartrios, como formulrios,cartuchos para impressoras, capas para autuao de inquritos, canetas, papel,grampeadores, clipes, etc., bem como a falta de equipamentos comocomputadores, impressoras, mveis diversos e utenslios. Os Escrives da capitalque foram. entrevistados se dividem em dois grupos quase simtricospercentual mente: 54% esto bem servidos em seus cartrios, enquanto 46%ainda labutam com toda sorte de improvisaes.

    Concomitantemente questo da falta de recursos tcnicos, o Escrivo 8elo-horizontino tambm reclama da precariedade de suas instalaes, comedificaes insalubres e com grande poluio sonora, o que, sem dvidaprejudica, e muito, o desempenho de qualquer profissional. Esse fator chamou-nos a ateno igualmente, no tocante simetria percentual dos dois grupos: 47%esto prejddicados em relao s suas instalaes, ao passo que 53% dosentrevistados esto muito bem instalados.

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    Grande parte dos Escrives concorda que a falta de entrosamento e integraoentre os profissionais de unidades policiais diferentes tambm concorre,sobremaneira, para a m qualidade do servio prestado sociedade. compartilhada por todos a falta de tempo e disposio para se ocupar. de taisatividades. "Quase sempre,. quando saio da delegacia depois de um dia detrabalho, no tenho disposio para mais nada na vida..."(sic), declarao de umentrevistado durante o trabalho de campo. Temos casos em que Escrives deDelegacias de Polcia vizinhas sequer se conhecem. Porm, apesar do cansao, necessrio o empenho desses profissionais nesse sentido, vez que, a partir deuma concreta socializao, pOder-se- alcanar maior valorizao, motivao eincentivo por parte, no s da instituio, como tambm da sociedade.

    E abrangendo esse tema da valorizao profissional, da motivao e do incentivo,

    para mais de 80% dos entrevistados este mais um fator de degradao dotrabalho cartorrio.

    No que diz respeito prtica de atividades alheias funo especfica, ochamado "desvio de funo", constante do GRF. 2, ficou claro que mesmo setodos aqueles que se encontram desempenhando atividades totalmente alheias funo especfica assumissem o preenchimento das lacunas existentes noscartrios das Delegacias de Polcia, no seriam capazes de reduzir a cargalaboral para um nvel aceitvel. Todos os entrevistados concordam que ajudaria,mas no resolveria. Aliada a este problema ainda h a questo da recapacitaodo profissional desviado, tendo em vista que estando alheio s atividades

    especficas de sua classe, no ter o domnio e a desenvoltura, necessrios parao cumprimento das atribuies, assim que retornar execuo das mesmas,devendo antes, passar por uma nova aprendizagem na Academia de Polcia Civilde Minas Gerais.

    Perguntados a respeito do cansao, desnimo e/ou desinteresse que porventuraestariam submetidos, decorrentes do excesso de trabalho, sintomas estes,desencadeadores do estresse, obtivemos uma resposta desalentadora, isto ,76% das Escrivs entrevistadas crem que esto estressadas e, quanto aosEscrives, 87% se dizem estressados. Essa uma percepo do senso comum,sem embasamento tcnico-cientfico e deve levar~se em considerao que o

    nmero de Escrivs maior do que o nmero de Escrives.

    Por conseguinte, aps a aplicao de um teste de diagnstico de estresse emalguns profissionais que se dispuseram a preencher o formulrio (em torno de58%), os resultados negativos foram ratificados: 5% das Escrivs se enquadramem um nvel normal de estresse; 20% em um nvel leve; e preocupantes 75%encaixam-se no nvel grave. No caso do profissional do sexo masculino, nosnveis normal e leve encontram-se 12,5% em cada um, e novamente, em um nvelgrave esto 75% dos Escrives.

    Assim sendo, aps a constatao de que a maioria dos Escrives entrevistados

    se encontram com nveis elevados de estresse, pode-se inferir que, se caso estasituao permanea inalterada, num curto espao de tempo a carncia depessoal aumentar ainda mais.

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    Ao considerar a satisfao profissional do Escrivo de Polcia da capital mineira,

    apenas 17% demonstraram relativo grau de insatisfao com a profisso. Os

    outros 83% alegam estar satisfeitos e gostarem muito das prerrogativas

    funcionais do cargo, no obstante, rechaam insistentemente o acmulo de

    atribuies, o volume excessivo de trabalho e a baixa valorizao profissional. Um

    percentual menor, cerca de 20%, menciona certo descontentamento em relao

    remunerao financeira, todavia, numa anlise comparativa com os salrios da

    maioria dos trabalhadores da iniciativa privada, alegam no estar todecepcionados com esta questo.

    Apesar de haver constatado junto aos entrevistados, que aproximadamente 31%

    deles prestaram concurso para o cargo tentando fazer apenas uma "ponte" para

    outros cargos, principalmente para o de Perito Criminal, acredito ser um fator

    muito positivo a grande maioria dos escrives manifestar satisfao e gosto peloofcio. Essa postura, sem dvida, um dos pilares que sustenta a prticacartorria na instituio de acordo com a verifica, acima.

    Finalmente, no poderia deixar de mencionar que o aumento exacerbado da

    criminal idade muito maior que o crescimento e desenvolvimento dos rgos de

    segurana pblica do estado brasileiro. E na capital mineira no diferente ...

    mas, e os rgos de segurana pblica? Acompanham a veloz marcha dacriminal idade?

    CONCLUSES E SUGESTES

    Iniciamos esse estudo discorrendo sobre a importncia do Inqurito para a

    instituio policial e, do mesmo modo, conclumos referenciando-o, pois, o vemos

    como pea fundamental para o cumprimento da misso da Polcia Civil, devendo,

    portanto, numa simples, analogia com a iniciativa privada, ter a almejada"qualidade total".

    Nesse ponto, o Escrivo de Polcia tem uma importncia fundamental, pois ele

    que dar a forma e apresentar o contedo do inqurito presidido pela autoridade

    policial, o Delegado de Polcia, de maneira que possa ser compreendido com amaior proximidade possvel, dos fatos concretos. E vale lembrar que, com a

    excelncia desse instituto jurdico a Polcia Civil prima pela colaborao ao justocumprimento da lei.

    No obstante elaborao do inqurito policial, ao Escrivo de Polcia ainda se

    atribuem diversas outras responsabilidades que o sobrecarregam, assim como foi

    verificado. Sendo assim, justifica-se o propsito dessa pesquisa: comprovar o

    acmulo de servio e o grau de prejuzo desse acmulo gerado no desempenho

    do profissional dos cartrios das Delegacias de Polcia, de Belo Horizonte.

    Valeu constatar a vontade e a disposio da maioria em tambm encontraralternativas para alcanar melhores condies de trabalho. Apesar das enormes

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    dificuldades, as perspectivas de elevao so evidentes, sobretudo, no que diz

    respeito preparao pessoal, pois 75% dos Escrives de Polcia entrevistadospossuem curso superior completo ou em curso.

    Reafirmo anecessidade de preparao, de integrao, de conjunto e unio em

    torno do mesmo ideal. Devemos a cada dia valorizar mais e mais o ser humano

    que compem nossas fileiras, sobretudo nesse momento de renovao ainda quelenta, mas gradativa.

    Demonstrou-se que o acmulo no est relacionado com o desvio de funo,

    seno com o dficit de recursos humanos. E foi possvel, tambm demonstrar a

    realidade do rduo trabalho do escrivanato Belo-Horizontino que se evidenciou

    quando da avaliao do nvel de estresse dos entrevistados. O resultado obtidochama a ateno para a necessidade urgente de-reverso deste quadro. O

    profissional estressado est muito mais suscet[vl aos graves problemas de

    sade, aos afastamentos, s licenas mdicas, sem contar a interferncia naqualidade do servio.

    E no tocante ao desvio de funo, acreditamos que a partir da realizao de

    concursos pblicos para as carreiras administrativas de apoio logstico, consoante

    reformulao pelo projeto da nova Lei Orgnica da Polcia Civil, o problema serextinto, gradualmente.

    Ao concluir este estudo, enfatizamos a importncia do momento que se vive na

    Instituio, pois tudo tem acontecido de modo muito rpido e, preciso

    acompanhar a marcha da histria, bem como se colocar frente da criminalidade.

    A partir dessa pesquisa, possam. surgir novas iniciativas de estudo, devalorizao, ou mesmo, apenas de meno a respeito do homem e da mulherconstituintes dessa famlia.