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Crisálida o casulo do novo cidadão

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O livro apresenta uma rica experiência de educação por meio da arte. Conta a transformação de jovens em cidadãos - donos de seu presente e capazes de criar seus futuros.

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Page 1: Crisálida o casulo do novo cidadão

CRISÁLIDA é o estado por que passa a

lagarta para se tornar borboleta.

É o local das metamorfoses, a câmara

secreta das iniciações, a matriz ou o

útero das transformações. O livro

Crisálida – o Casulo de um Novo

Cidadão revela as mudanças culturais e

comportamentais que a arte é capaz de

promover no ser humano. Mostra, com

poesia e cor, o dia-a-dia de quatro

unidades e de um grupo de

educadores. Coordenados pela

Sociedade Pela Família, esse time

aceitou o desafio do programa Cidadão

21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:

formar crianças e adolescentes

motivados, que interagem entre si e

com os outros, aprendem a intervir em

sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,

respeitam as diversidades culturais.

Divididos em casulos, os jovens

experimentaram um instigante e

criativo roteiro, que incluiu visitas a

museus e a espaços públicos até então

desconhecidos. Experiências depois

traduzidas por eles em pinceladas,

mosaicos e grafitagem.

CRISÁLIDA é uma viagem nesse

universo de cigarras, mariposas,

bichos-da-seda, borboletas e libélulas

– todos adolecentes – que, após passar

um tempo no casulo, aprenderam a voar.

Com suas novas asas, romperam

fronteiras, descobriram um mundo novo

além de suas casas, escolas e bairros,

perceberam-se capazes do que nem

imaginavam. Tornaram-se cidadãos.

cr

is

ál

id

a

o

c

as

ul

o

d

o

no

vo

ci

da

o

Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.

O Projeto Crisálida é fruto do

esforço conjunto de gestores,

educadores e educandos para

fazer da Arte uma via privilegiada

para o desenvolvimento dos

potenciais de suas crianças e

jovens. O Instituto Ayrton Senna é

um parceiro dessa causa. Temos

imenso prazer de aprender com os

desafios e conquistas dessa

equipe campeã e imenso orgulho

de compartilhar com o Crisálida

nossa Tecnologia

Social de Educação para o

Desenvolvimento Humano

pela Arte.

[Simone André – Coordenadora do Programa de

Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]

Page 2: Crisálida o casulo do novo cidadão

CRISÁLIDA é o estado por que passa a

lagarta para se tornar borboleta.

É o local das metamorfoses, a câmara

secreta das iniciações, a matriz ou o

útero das transformações. O livro

Crisálida – o Casulo de um Novo

Cidadão revela as mudanças culturais e

comportamentais que a arte é capaz de

promover no ser humano. Mostra, com

poesia e cor, o dia-a-dia de quatro

unidades e de um grupo de

educadores. Coordenados pela

Sociedade Pela Família, esse time

aceitou o desafio do programa Cidadão

21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:

formar crianças e adolescentes

motivados, que interagem entre si e

com os outros, aprendem a intervir em

sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,

respeitam as diversidades culturais.

Divididos em casulos, os jovens

experimentaram um instigante e

criativo roteiro, que incluiu visitas a

museus e a espaços públicos até então

desconhecidos. Experiências depois

traduzidas por eles em pinceladas,

mosaicos e grafitagem.

CRISÁLIDA é uma viagem nesse

universo de cigarras, mariposas,

bichos-da-seda, borboletas e libélulas

– todos adolecentes – que, após passar

um tempo no casulo, aprenderam a voar.

Com suas novas asas, romperam

fronteiras, descobriram um mundo novo

além de suas casas, escolas e bairros,

perceberam-se capazes do que nem

imaginavam. Tornaram-se cidadãos.

cr

is

ál

id

a

o

c

as

ul

o

d

o

no

vo

ci

da

o

Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.

O Projeto Crisálida é fruto do

esforço conjunto de gestores,

educadores e educandos para

fazer da Arte uma via privilegiada

para o desenvolvimento dos

potenciais de suas crianças e

jovens. O Instituto Ayrton Senna é

um parceiro dessa causa. Temos

imenso prazer de aprender com os

desafios e conquistas dessa

equipe campeã e imenso orgulho

de compartilhar com o Crisálida

nossa Tecnologia

Social de Educação para o

Desenvolvimento Humano

pela Arte.

[Simone André – Coordenadora do Programa de

Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]

Page 3: Crisálida o casulo do novo cidadão
Page 4: Crisálida o casulo do novo cidadão
Page 5: Crisálida o casulo do novo cidadão

e d i ç ã o e x e c u t i v a

anna costa

lúcia barros

marco adriano d’lippi

roseli maeve faiani d’lippi

e d i ç ã o d e t e x t o

anna costa

lúcia barros

p r o d u ç ã o g r á f i c a e d i t o r i a l

d’lippi arte editorial

e d i ç ã o d e a r t e

silvina gattone liutkevicius

f o t o g r a f i a s

ricardo teles

i m p r e s s ã o

gráficas paulinas

d e s e n h o s

os desenhos que ilustram o livro foram executados pelos jovens, durante as atividades do projeto Crisálida

r e g i s t r o s f o t o g r á f i c o s

os registros fotográficos foram feitos pelos próprios educadores, no decorrer do período de seu trabalho

c o n t a t o s c o m o p r o j e t o c r i s á l i d a s

SPF - sociedade pela família

site: www.spf.org.br

e-mail: [email protected]

a p o i o

Fundação Salvador ArenaGráfica Paulinas

r e a l i z a ç ã o

SPF – sociedade pela família

c o o r d e n a ç ã o

paschoal milani netto

laura souza pinto

nivia meireles machado

hilda setsuko hashimoto

rita de cássia coelho

p r o j e t o gráfico e editorial

d’lippi arte editorial

thear comunicação

Page 6: Crisálida o casulo do novo cidadão

crisálida o casulo do novo cidadão

Esperança

é o que nutre

a crisálida,

metáfora perfeita

da lenta

metamorfose

que se opera em

nós, seres

incompletos, em

crescimento,

buscando a luz,

sedentos de

sabedoria,

e de amor.

Page 7: Crisálida o casulo do novo cidadão

Trago uma esperança nova. Tão vida de cada homem. Trago

Page 8: Crisálida o casulo do novo cidadão

A terceira asa, poema de Thiago de Mello, canta a esperança.

Esperança que nutre a crisálida, metáfora perfeita de todo processo educacional, ou da

lenta metamorfose que se opera em nós, seres incompletos, em crescimento, bus can -

do a luz, sedentos de sabedoria, e de amor.

Esperança que contrasta com a brutalidade que nos rodeia: o sem-número de crian-

ças e jovens a quem todos os direitos são negados; os sem-nada, escondidos nos

becos, expostos nas ruas, ou indignados, reivindicando. O mundo do espetáculo e do

supérfluo, o ciberespaço, dourando a dominação e a desigualdade.

Esperança, refletida no olhar curioso das crianças, que chegam a cada dia, ano após

ano, repetindo o milagre da vida que se renova em cada sorriso.

Esperança, anunciada nas parcerias entre órgãos públicos, empresas e organizações

não-governamentais.

Esperança, desenhada por crianças e jovens neste livro, fruto de uma parceria da So-

ciedade Pela Família – Centros Educacionais com o Programa Cidadão 21 – Arte do

Instituto Ayrton Senna.

Esperança que nutre a nossa utopia, de uma sociedade justa, solidária, na qual todos

os humanos, no respeito e na alegria, libertem-se, dia a dia, da crisálida que os emba-

lou, para tecerem juntos o futuro que começa aqui, nas páginas deste livro, e agora no

diálogo com você.

SPF – Sociedade Pela Família

Trago uma esperança nova. Tão

No coração de uma criança. Que acaba de nascer.

nova como a primeira luz que marca o amanhecer da o milagre da vida. Que lateja neste instante.

Page 9: Crisálida o casulo do novo cidadão
Page 10: Crisálida o casulo do novo cidadão

Crisálida é lugar das metamorfoses, a câmara secreta das iniciações, a matriz ou útero das transformações.Mais ainda do que um envelope protetor, representa um estado eminentemente transitório entre duas etapas do devenir, a duração de uma mutação. Implica renúncia a um certo passado e aceitação de um novo estado, condição da realização.Frágil e misteriosa, como uma juventude cheia de promessas, das quais não se sabe qual será o resultado, a crisálida inspira respeito, cuidados e proteção. Ela é o futuro imprevisível que se forma, e, na biologia, símbolo da emergência – coisa latente, em evolução. [Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant]

Page 11: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Formar crianças e adolescentes capazes de serem agentes da própria história, protagonistas da própria vida. Esse é o objetivo. O meio é a arte, ferramenta pedagógica que estimula a criativi dade e, por conseqüência, a capacidade do ser humano de reinventar a si próprio, dando novo significado às suas experiências.

Page 12: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Assim se pode resumir, em nível teórico, o projeto Crisálida, uma das iniciativas da Sociedade Pela Família,

entidade sem fins lucrativos fundada em 1º de setembro de 1956, com a missão de educar crianças,

adolescentes, jovens e adultos para que sejam cidadãos críticos, autônomos, responsáveis, solidários e

conscientes de seus direitos e deveres, promovendo sua inclusão social.

Na prática, o Crisálida é como o sorriso grande que aparece no rosto de Paulo Felipe, de 14 anos, ao

desembarcar na estação Sumaré do Metrô, em São Paulo, e deparar-se com um painel gigante com rostos

de gente comum, do artista Alex Fleming. Curioso, ele arrisca um palpite: “Acho que o artista não queria que

esta estação ficasse vazia ou que as pessoas se sentissem sozinhas. Gostei da idéia.” A observação do

jovem, que antes andava de metrô e passava sem ver as obras de arte, faz parte do desabrochar de um

novo cidadão: mais perceptivo, opinante e crítico sobre sua comunidade, sua cidade e seu país. Entre o

projeto e a realidade, quem faz a ponte são educadores e arte-educadores, que no Crisálida não realizam

apenas um trabalho, mas emprestam um novo sentido à vida. Tudo começou com um desafio proposto pelo

Instituto Ayrton Senna (IAS) às organizações parceiras: trabalhar sob a égide de uma Comunidade de

Sentido, ou seja, pessoas e organizações que compartilham uma causa, crenças, valores, princípios,

conceitos e um querer-ser coletivo – cuja base é a percepção de que a arte é capaz de oferecer uma

tcontribuição decisiva e singular na formação de crianças e adolescentes como pessoas, cidadãos e futuros

profissionais.

Depois de muita pesquisa e reflexão, a Sociedade Pela Família respondeu ao chamamento em 2002 criando seu projeto Crisálida. O nome já encerra o sentido: a metáfora do casulo, o estágio pelo qual

passa a larva para transformar-se depois em borboleta. No Crisálida, crianças e jovens passam um período

de suas vidas tendo acesso a ferramentas artísticas que os ensinam a transformar sua própria realidade.

A base do trabalho é um tripé: o multiculturalismo, o fazer artístico e a apreciação*. Em outras palavras: as

diferenças culturais entre os meninos, meninas, rapazes e moças do Crisálida são reconhecidas, respeitadas

e somadas – assim abrindo horizontes, alargando fronteiras. O fazer artístico é estimulado: experimentam-se

materiais, linguagens, é permitido ousar, e proibido é só não tentar. A apreciação é guiada: discute-se arte, compara-

se, reflete-se – assim como se discute, se compara, se reflete sobre a condição da comunidade e de cada criança e

de cada jovem inserido ali. É assim que, por meio da arte, se produz conhecimento, se desenvolvem competências,

se conquista a cidadania.

* Estes conceitos fazem parte da Tecnologia Social de Educação para o Desenvolvimento Humano pela Arte, proposta pelo Instituto Ayrton Senna.

Page 13: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Page 14: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Cinco vezes uma boa idéiaSão cinco os casulos que compõem o Crisálida: Cigarra, Mariposa, Bicho-da-Seda, Borboleta e Libélula. Em

comum, todos buscam ter crianças e adolescentes motivados, que interagem entre si e com os outros ao seu

redor, aprendendo a intervir nos espaços públicos e usufrui-los, respeitando as diversidades culturais.

O vôo da libélulaSão educadores e arte-educadores que compõem o grupo Libélula – um espaço de reuniões, oficinas,

aprendizado e sensibilização para a arte.

O canto da cigarraFormado por alunos do Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec), o

casulo, inspirado em músicas, trabalhou a grafitagem de muros da comunidade.

A trama do bicho-da-sedaO Centro Educacional Gracinha se propôs a apresentar aos jovens uma visão diferenciada da arte na cidade

de São Paulo e teve como foco as obras espalhadas pelas estações de metrô.

As cores da borboletaEducadores e jovens do Centro Educacional Uirapuru investigaram a identidade da cultura brasileira –

miscigenação, religião e costumes – por meio de dança e teatro.

As descobertas da mariposaConhecer melhor a sua comunidade, a cidade de Embu e as suas artes foram os objetivos do grupo de jovens

do Centro Educacional Colibri.

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renova-te.renasce em ti mesmo.multiplica os teus olhos, para verem mais.multiplica os teus braços, para semeares tudo.destrói os olhos que tiverem visto. cria outros, para as visões novas. destrói os braços que tiverem semeado,para se esquecerem de colher.sê sempre o mesmo. sempre outro.mas sempre alto.sempre longe.e dentro de tudo.

[Cântico XIII, Cecília Meireles]

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Sociedade Pela FamíliaConcebida e idealizada por um grupo de professoras e operárias comprometidas com diversos projetos sociais,

em pontos distintos da cidade de São Paulo, e que acabaram se articulando, a Sociedade Pela Família atende hoje

mais de 1.800 crianças e jovens. Desses, 1.000 são assistidos gratuitamente nos centros localizados em bairros

periféricos e outros 800 na Escola Nossa Senhora das Graças, no Itaim Bibi (unidade de serviço remunerado).

A visão da Sociedade é promover a transformação pessoal e social, possibilitando a diminuição da

desigualdade e da injustiça social. A educação é o caminho para a conquista desse mundo mais justo e menos

desigual. Tendo por base os valores de solidariedade e justiça social, em sua atuação a Sociedade inclui as

pessoas, promove o encontro, estabelece o diálogo. E assim ajuda a construir um mundo melhor.

Page 17: Crisálida o casulo do novo cidadão

“Tente não viver como se o tempo fosse uma realidade que pode roubar-lhe a vida.A vida é curta, porém, o momento transcende a eternidade.”

[ Grafite Zen ]

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o vôo da libélula

as cores da borboleta

o canto da cigarra

14

24

46

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saídas com adolescentesprimeira revoada

as descobertas da mariposa

a trama do bicho-da-seda 54

roda de conversadentro dos casulos

22

6264

42

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o vôo “A função da arte não é passar por portas abertas,

da libélulamas a de abrir portas fechadas.”

[Ernst Fisher]

Page 20: Crisálida o casulo do novo cidadão

da libélula

Page 21: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Apontar caminhos, indicar possibilidades, mostrar que sempre, para tudo nesta vida, há mais de um ponto de vista. Fazer isso através da arte, tendo em mente um objetivo nobre: formar crianças e jovens brasileiros para viver, conviver, conhecer e produzir na sociedade do século 21.*

Page 22: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Essa é a tarefa cotidiana, o desafio diário do grupo de

educadores e arte-educadores do projeto Crisálida. De-

safio ousado, tarefa exigente – pois educar é ser um

facilitador na mais importante aventura humana: a jorna-

-da rumo ao desconhecido. No Crisálida, cada criança,

cada jovem é convidado a partir numa viagem de novida-

des. Para enfrentar o desconhecido é preciso reaprender

a ver, a ouvir, a falar, a sentir. Nesse processo, lagartas

viram borboletas: descobrem em si potenciais adorme-

cidos, desenvolvem habilidades até então insuspeitadas.

Mas é preciso um eterno aprendiz para ensinar a outro.

Alguém que sabe que não sabe tudo – como cada dia pro-

va, com seu fardo único de imprevistos. Ser aprendiz não

é fácil. Ainda bem. A graça está justamente na superação.

Educar a si mesmoDesde sua elaboração, o projeto Crisálida tem a forma-

ção contínua de educadores e arte-educadores como um

de seus pilares. Daí a formação do grupo Libélula – um

espaço de reuniões, oficinas e sensibilização dos pro-

fissionais para a arte. O motivo é um só: não tem nada a

ensinar quem não está sempre aprendendo.

O compromisso com o desenvolvimento do outro passa

necessariamente pelo compromisso com o desenvolvi-

mento de si mesmo. Por isso algumas perguntas norteiam

nosso trabalho: quais são as competências necessárias

para que um arte-educador atue com arte e educação no

Projeto Crisálida? Essas competências estão presentes

nas equipes de cada casulo? Como melhor desen volvê-

las? A busca de resposta a essas perguntas norteou o

desenvolvimento de treinamentos específicos.

Itinerário formativo*

O Crisálida já nasce grande – nada de projetos-piloto.

As boas idéias devem ser postas em prática, em larga

escala, com rapidez. Essa agilidade e abrangência do

projeto são, ao mesmo tempo, força e fragilidade. For-

-ça que faz acontecer. E fragilidade porque os desa fios

são maiores e mais urgentes – e se resumem em uma

grande questão: como levar a arte para a centra lidade

dos cinco centros de atendimento?* E, mais: como fa-

zer isso diante da ausência do arte-educador em alguns

casos e, em outros, da fragilidade do conhecimento ar-

tístico ou pedagógico do arte-educador?

No primeiro ano de vida do Crisálida, entre agosto de

2002 e agosto de 2003, a coordenação desenhou um pla-

no de formação para a equipe de educadores, arte-edu-

cadores e diretores dos centros educacionais envolvidos

no projeto – um total de 17 pessoas. O educador acompa-

nha as crianças e jovens de segunda a sexta-feira. Uma

vez por semana, o arte-educador entra em cena, orien-

tando o grupo e contribuindo para formar o educador.

Eu cresci como indivíduo e como educador. Consegui ampliar a minha leitura e hoje tenho uma visão diferente do mundo e da arte. Agora, consigo olhar um quadro e refletir sobre o que ele me traz. Antes eu passava com pressa.

[ Tereza Cristina Vieira, educadora do Colibri ]

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A comunidade de sentido* era o momento de refletir sobre o que estávamos fazendo. A equipe de interlocução* tinha sempre o cuidado de levar elementos para estimular a reflexão e o debate.

[ Rita Coelho, arte-educadora do Gracinha e coordenadora do projeto Crisálida]

Page 24: Crisálida o casulo do novo cidadão

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O plano de formação foi baseado em oficinas e em as-

sessorias individuais em cada unidade do Crisálida. Em

mente, uma certeza e um objetivo. A primeira: a ne-

cessidade de cultivar o perfil de cada profissional com

respeito a seu ritmo e história de vida. Isto é: reconhecer

em cada educador as mesmas características e habi-

lidades que esses profissionais, por sua vez, precisam

reconhecer nos jovens, para ajudá-los a se desenvolve-

rem integralmente: o potencial de conhecer, fazer, ser

e conviver. O segundo: formar educadores sensíveis

e criativos, que acreditam nas possibilidades de de-

senvolvimento do potencial humano por meio da arte*,

ousando na forma de fazer isso e buscando ampliar seu

repertório nas diversas linguagens.

Os roteiros e as estratégias de formação se complemen-

tavam, mas não foi simples o aprendizado. No início, o

grupo precisou vencer alguns desafios, entre os quais:

a falta de tempo aliada à complexidade do material

enviado pelo IAS, e o medo de que o novo não desse

certo. Mas o diálogo aberto, a possibilidade de comparti-

lhar as dificuldades, o incentivo da equipe e a respon-

sabilidade por participar de um projeto inovador fize-

ram com que o grupo desse os primeiros passos, acre-

ditando na proposta e abraçando o desafio.

Ao final dos primeiros 12 meses, a certeza de ter avançado. As libélulas alçaram vôo com a ajuda dos seguintes recursos: Reuniões para discussão dos textos teóricos sobre

arte. O grupo se encontrava uma vez por mês, na sede

da Sociedade Pela Família, para trocar idéias e elabo-

rar atividades com base nas informações recebidas.

A riqueza desses encontros também ficou evidente na

troca de experiências entre os educadores, na colocação

de dificuldades e angústias do grupo, na busca conjunta

por soluções. Era um espaço aberto para avaliar, cri-

ticar, refletir, propor e enxergar os resultados.

A comunidade de sentido abria espaço para propor coisas novas, trocar experiências. Todos procurávamos juntos soluções para problemas individuais.

Gracinha e coordenadora do Crisálida][ Hilda Setsuko Hashimoto, diretora do

Gracinha

cuidado de levar elementos para estimular a reflexão e o debate.[ Rita Coelho, arte-educadora do Gracinha e coordenadora do projeto Crisálida]

Page 25: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Oficinas visando à experimentação dos educadores

em algumas linguagens artísticas. A Sociedade Pela Fa-

mília sentiu a necessidade de ir além na formação de

sua equipe. Realizou encontros mensais para propor-

cionar ao grupo a reflexão sobre conceitos, vivências,

e o aprendizado de técnicas artísticas, principalmente

aos educadores que não tinham intimidade com a arte.

Também preparou oficinas específicas para cada casu-

lo, nas quais o foco era o tema que a casa trabalharia,

com o objetivo de dis po nibilizar ferramentas de trabalho

e integrar educador, arte-educador e diretor no projeto.

Interlocuções com cada casa, para sentir as ne-

cessidades da equipe. Uma vez por semana, os coor-

denadores do Crisálida se reuniam com o educador

e o arte-educador de cada casulo para acompanhar de

perto o trabalho: verificar como o projeto estava sendo

conduzido, trocar idéias, dar sugestões, discutir dificulda-

des, propor novos caminhos.

Ações complementares para ampliação do re-

pertório cultural. Além dos encontros formais, a coor-

denação do Crisálida enviava periodicamente mensa-

gens – por e-mail – para o grupo, sugerindo e estimu-

lando leituras de livros e de artigos, propondo visitas a

exposições e mostras de arte, indicando peças de tea-

tro e filmes. Propostas valiosas para ampliar o conhe-

cimento e a sensibilidade artística de toda a equipe.

Algumas atividades e visitas foram promovidas e acom-

panhadas pela SPF.

“Na comunidade do sentido, descobri que a gente precisa conhecer a [José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]

criança. Percebi que o olhar pede ou dá muita coisa”

Page 26: Crisálida o casulo do novo cidadão

21

“Na comunidade do sentido, descobri que a gente precisa conhecer a [José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]

No início foi difícil. Não conseguia entender os textos, entrar em sintonia. Mas conseguimos falar das dificuldades na comunidade. Vimos que havia abertura e isso dá confiança para dizer: eu não estou conseguindo, preciso de ajuda. Aprendi junto com as crianças, pois a arte também estava distante do me u dia-a-dia.

[Wanderleia Rocha, educadora do Uirapuru]

O educar para mim mudou. Antes eu chegava na sala de

O educador idealO treinamento de todos os envolvidos no Crisálida busca desenvolver o perfil desejado de profissional para

o projeto. Esse “educador ideal” tem as seguintes características:

É sensível para perceber desejos e necessidades do grupo. É habilidoso nas técnicas artísticas. É

inventivo, criativo e criador. Propõe possibilidades de ação e expressão. Busca espaços de manifesta-

ções artísticas. . Tem postura de reflexão e avaliação. Está atento aos indicadores de resultados. Faz

registros sistemáticos. Colhe depoimentos dos familiares e professores. Reflete sobre o processo e o

avalia. Propõe mudanças. Revê estratégias. Amplia seu repertório de ações.

aula e a minha única preocupação era ensinar o Carimbó,

por exemplo. O aluno tinha que sair sabendo tocar. Na comunidade de sentido descobri que a gente também precisa conhecer a criança, prestar atenção nela, nas suas perguntas e atitudes. Percebi que um olhar pede ou dá muita coisa.

[José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]

Page 27: Crisálida o casulo do novo cidadão

saídas

com adolescentes

O que mais me impressiona nas visitas dos jovens aos museus, às galerias e à cidade é o olhar de descobrimento.

Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.

passo-a-passo

[Irael Luziano Dias, arte-educador]

Page 28: Crisálida o casulo do novo cidadão

Para que a visita a um museu ou o passeio a um parque seja uma experiência produtiva e tranqüila, vale seguir esses passos:saídas

com adolescentes

antes

estimule a curiosidade do grupo sobre o lugar a ser visitado PesquIse sobre a exPosIção e o

museu e conte o que DescobrIu Para os aDoLescentes. o entusIasmo Do eDucaDor é funDamentaL

localize no mapa da cidade o local faLe sobre o Percurso a ser feIto: o horárIo De saíDa Do

centro eDucacIonaL, que tIPo De transPorte será utILIzaDo, que trajeto será feIto até che-

garem ao DestIno converse sobre a melhor postura a ser adotada em locais públicos. exemplos:

respeitar os lugares reservados a idosos ou gestantes no transporte público; falar baixo; cumpri-

mentar e agradecer ao motorista, cobrador ou monitores da exposição ProPorcIone momentos De

DIscussão em que os eDucanDos Possam faLar De suas angústIas ou DúvIDas sobre a saíDa

entregue as autorizações de saída a cada educando para serem assinadas pelos responsáveis.

durante

faça um círculo com os educandos para preparar a saída e relembrar as regras escoLha aL-

guns aDoLescentes (taLvez os maIs DIsPersos) Para reaLIzar aLgumas tarefas, como: entre-

gar Passes, Ler em voz aLta as regras e o que foI combInaDo no trajeto, estimule a conver-

sa sobre o passeio, relembre o nome da exposição ou do local a ser visitado. mesmo se o ônibus ou o

tmetrô estiver lotado, estimule esse bate-papo entre grupos de dois ou três adolescentes enten-

Da as regras Do esPaço: o que é PermItIDo fazer ou não, a LocaLIzação Do guarDa voLumes,

Dos banheIros, etc. apresente a turma ao monitor para tornar a visita ainda mais agradável

estImuLe as Perguntas, as oPInIões envolva aquele educando que parece desinteressado, en-

cante-o o eDucaDor PrecIsa estar atento e ser o anImaDor Do gruPo.

depois

faça uma avaliação do passeio de forma interessante, envolva a turma, pergunte o que cada um

achou, quais as críticas e sugestões para uma próxima vez escoLha uma forma De regIstro que

seja sIgnIfIcatIva faça apontamentos sobre os comportamentos e as participações dos adoles-

centes tente semPre aProxImar ou reLacIonar a vIvêncIa Da saíDa, as obras aPrecIaDas, ao

cotIDIano Dos jovens.

Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.

Page 29: Crisálida o casulo do novo cidadão

Por meio do conhecimento das manifestações da cultura brasileira, seus folguedos e sua arte, fortalecer a convivência, respeitando seus próprios valores e identidade.

Page 30: Crisálida o casulo do novo cidadão

as cores da borboleta

Page 31: Crisálida o casulo do novo cidadão

26No começo dos começos, Lá no princípio do tempoDo tempo... Do tempo...Obatalá, Orixalá, OxaláReinava nos sonhos, Reinava na terraUm dia, um casal desejou ter um filho e foi falar com Oxalá : “Meu pai, nos dê um filho !”E Oxalá respondeu-lhes: “Ainda não é a hora.”O casal tanto insistiu que o orixá permitiu mas, com uma condição, só com uma condição...O menino não poderia passar para o outro lado do mundoO menino nasceu. Ele era muito curioso... Tudo o que seu pai fazia, o menino imitava.Ele era muito egoísta e ambicioso.Um dia, seu pai foi para o outro lado do mundo e o menino ficou espiando. Assim que seu pai sumiu de vista, o menino adentrou o outro lado das coisasE pela primeira vez na sua curta vida ele sentiu-se livre, verdadeiramente livre. E orgulhoso e arrogante.Com um cajado, começou

a atacar tudo o que via pela frente e a gritar com muita raiva:“Quem disse que eu não posso entrar aqui?Quem disse? Eu entro em qualquer lugar!”E ele berrava e chutava, totalmente transtornado.Os guardiões do outro lado tentaram impedir o menino,mas não conseguiram. O moleque era muito esperto.Oxalá, percebendo o que estava acontecendo, ficou profundamente ofendido e com seu sagrado poder transformou o garoto atrevido em uma árvore colocada exatamente entre os dois mundos, dos deuses e dos homens: Irôco! Irôco! Irôco Kisselê! Irôco! Irôco! Irôco Kisselê!

Page 32: Crisálida o casulo do novo cidadão

27

Romilson enrosca-se nas sílabas. O texto demora a sair. Respira fundo e diz em tom alto para ser escu tado:“Os guardiões do outro mundo tentaram impedir o menino de continuar. Tentaram, mas não conseguiram.”

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28

“É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente.”[ Simone de Beauvoir ]

Page 34: Crisálida o casulo do novo cidadão

29

Romilson, 15 anos, é um dos 30 adolescentes do casulo

Borboleta, um grupo formado no Centro de Convivência

Uirapuru da Sociedade Pela Família, que participa do

Projeto Crisálida/Borboleta.

Em cena, o jovem relata um trecho do conto Nagô A

Separação dos Mundos, extraído do livro Os Nagôs e a

Morte, de Juana Elbein dos Santos. A história fala de um

menino curioso, esperto e arrogante, que queria passar

para o outro lado do mundo. Romilson e seus amigos

adolescentes também desejam ultrapassar fronteiras e

alcançar o outro lado da cidade, da cultura, da cidadania.

No Uirapuru, os jovens são convidados a se apropriar

da cultura brasileira, por meio de oficinas de arte,

música, teatro, dança e capoeira. Dentro do Projeto

Crisálida, o Centro de Convivência focou seu trabalho

nos mitos e nas lendas da região amazônica, com seus

arquétipos e representações típicas.

Durante o primeiro ano, o casulo trabalhou com os

adolescentes a biodiversidade da região, ensinou

danças típicas, apresentou trabalhos dos ceramistas de

Marajoara e desenvolveu a habilidade de contar

histórias. O objetivo era claro: desenvolver a identidade

dos jovens, a aceitação de si mesmo e dos outros,

ampliar a convivência harmoniosa e a auto-estima.

Itinerário formativoConstruir o conhecimento, fazer o assunto encantar o

jovem, conquistar sua participação ativa. Um desafio

diá rio para quem tem nas mãos a missão de ensinar, de

compartilhar, de apresentar caminhos e de aprender com

os educandos. As transformações no casulo Borboleta

foram coloridas por educadores e arte-educadores,

envolvidos diretamente com o grupo, que fizeram a

interface entre textos e músicas, comportamento e

atuação teatral, artes plásticas e dança, diálogo e respeito.

O grupo de adolescentes construiu o repertório com o

auxílio diário dos educadores – que propunham pesquisas,

leituras e atividades artísticas, utilizando materiais como

giz de cera, lápis de cor, carvão, nanquim, pintura em tela,

confecção de máscaras de gesso e papela gem.

“Aqui eu conheço um pouco do mundo e da arte. Passeio, faço amigos, aprendo a dançar, a fazer teatro.

Vou além do mundinho da tv.” [Evelyn Oliveira de Souza, 13 anos]

Page 35: Crisálida o casulo do novo cidadão

30

Uma vez por semana, os assuntos eram transformados

em músicas, danças e encenações. Na busca pela

informação, todos realizaram visitas a exposições,

assistiram a vídeos e filmes, mergulharam na literatura,

aprenderam a ouvir, a contar histórias e a elaborar

espetáculos.

Descobrir a si mesmoO grupo apresentava uma grande dificuldade de

interação: o contato. Pegar na mão do outro, fazer

pares para a dança típica criava sempre um problema.

Risadas, timidez e zombaria era o que se tinha.

Para mudar esse cenário, os educadores se utilizaram

de um conjunto de recursos: dinâmicas de cooperação

e integração, leituras de textos sobre a vida indígena

no Brasil, apresentação dos vídeos Xingu e Xavante. A

entrevista com Tiru, índio da tribo Xavante, participante

do grupo do Centro Educacional Gracinha, cativou os

adolescentes. A fala de Tiru sobre seu conceito de vida

– que enfatiza o respeito ambiental, a convivência

em grupo e a ajuda mútua –, foi entendida por todos.

O encontro ainda estimulou o interesse pela cultura

indígena nas oficinas de música e de dança.

Para entender a composição étnica do povo brasileiro

e ampliar seu repertório cultural, os jovens do casulo

Borboleta foram buscar nas pinturas, nos traços e

nas cores a explicação e a visão de artistas sobre a

miscigenação nacional. Visitaram as exposições Negras

Memórias, Memórias de Negro, Sesi; Do Modernismo

à Arte Contemporânea, Faap; Claro e Explícito, de Bia

Lessa; Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; Cândido

Portinari, na Pinacoteca; Modernismo, no Centro

Cultural Banco do Brasil. Olhar para outro povo, para

Page 36: Crisálida o casulo do novo cidadão

31

outra cultura também ajudou os jovens a entender e

a criar discussões e debates. A exposição Os Guerreiros

de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, no

Parque do Ibirapuera, apresentou ao grupo os costumes,

os valores e as crenças das antigas dinastias chinesas.

Informação cantada e dançadaCom música, dança e poesia, o grupo se interessou

pelas lendas e mitos da região amazônica. Ao embalo

do Carimbó, ritmo amazônico, a cultura da região ficou

mais próxima, mais palpável. As rodas de conversas,

as danças indígenas mostraram nos gestos a cultura

do povo da floresta. E os desenhos e pinturas com giz,

tinta ou os trabalhos em argila registravam o conteúdo

absorvido pelos adolescentes.

No repertório desses 30 jovens que participaram do

Projeto Crisálida foram incluídos, além dos ritmos e

das danças – como o samba de roda, maculelê, ciranda

de roda, capoeira e carimbó, expressões do folclore a

da cultura brasileira –, exemplos de cidadania, incentivo

à apropriação da cultura que a cidade de São Paulo

oferece muitas vezes gratuitamente, respeito ao outro,

ao espaço público e aos limites de convivência.

Esse conhecimento adquirido não pode ser medido em

provas ou testes, é absorvido aos poucos e transparece

em gestos simples de meninos que cantam para

mostrar o que sabem, como fez Carlos Henrique

Galvão, 11 anos, para responder à pergunta: “O que

você aprendeu aqui?” Às vezes, faltam palavras. “Aqui

a gente aprende muitas coisas. Ah, como música e

dança”, diz Carlos Henrique. Mas é seu canto que

comprova o aprendizado de música e de vida.

Page 37: Crisálida o casulo do novo cidadão

32

É hora de puxar a rede /É hora de ir pro mar

É hora de puxar a rede /É hora de trabalhar

O mar é minha morada /A noite é minha companheira

Samurai é meu travesseiro /A jangada amiga verdadeira

Amigos juntam-se a ele para cantar e relembrar a letra.

Sorridentes e abraçados, eles seguiram cantando pelo

campinho de areia, um dos poucos espaços de lazer da

comunidade do Jardim João XXIII, na zona oeste de São

Paulo, onde está localizado o Centro de Convivência

Uirapuru. Lá dentro a movimentação anunciava: era hora

do teatro.

No palco e na vidaSe falta vocabulário, sobra expressão corporal. Foi no

palco que o casulo Borboleta encontrou a maior harmonia.

Conseguiu reunir todas as expressões artísticas:

desenho, escultura, pintura, música e dança. Também

fez progressos na convivência. Aqueles que não se

interessaram num primeiro momento, ao final de poucas

semanas já pediam espaço no palco e um papel para

interpretar. Quem faltava a um ensaio mandava bilhete:

“Professor, estou doente. Não me substitua, decoro o

texto em casa.”

Na sala ampla, os adolescentes sentam-se em roda.

Falam todos ao mesmo tempo. Mas, na hora em que é

preciso falar, calam. O diálogo é confuso e exige esforço

desmedido do educador. Limites têm que ser relembrados

a todo momento. Mas uma curta frase do educador faz

tudo mudar: “Vamos ensaiar.” O grupo sozinho se

coordena e começa a preparação. Uns pegam panos, que

viram trajes. Outros posicionam instrumentos. As vozes

se confundem. Há brigas também. “Hoje eu faço o filho”,

dizia um menino puxando o pano azul da mão de outro.

Aos poucos, a cena era montada.

Resultados obtidosA mudança se faz lenta, mas eficaz. No casulo, borboletas

se transformam em momentos e tempos diferentes. Umas

ainda na crisálida, outras experimentando os primeiros

vôos. Mas em todas o colorido é visível. Aprenderam e

ensinaram a ver, a sentir, a propor, a ouvir, a fazer, a ser.

Durante o primeiro ano do Projeto Crisálida, no

Uirapu ru, os jovens do casulo Borboleta apresentaram

avanços significativos. Com freqüência mensal de cerca

de 90%, os 30 adolescentes se mostraram interessados

nos aspectos culturais da etnia brasileira.

Também conseguiram avançar na leitura e na escrita.

Alguns educandos que haviam parado de estudar fizeram

o caminho de volta às escolas públicas. Também ficou

explícita a apropriação de normas de melhor convivência.

Palavras e expressões como “por favor”, “com licença”,

“desculpe” e “obrigado” passaram a ser mais utilizadas

pelo grupo. As apresentações realizadas para os fami-

liares e para a comunidade – um total de três –

contribuíram para ampliar a participação dos pais em

reuniões e a procura de vagas no Centro de Convivência.

Ao som do atabaque, jovens interpretam no palco um

pou quinho da vida, que exige paciência, conhecimento,

união, audácia, limites, respeito. O preconceito agora é

deixado de lado. Todo o grupo já demonstrava apropriação

do conto, aceitação dos ritos, das diferenças. Também

tinham total domínio da expressão corporal e da percussão

trazidos pela capoeira. Para todos os adolescentes do

casulo Borboleta, a arte foi o meio, o jeito atraente e eficaz

de aprender e de se transformar. Para alguns, como a

talen tosa Evelyn, de 13 anos, foi mais: talvez a oportunidade

de se encontrar na dança, no palco e na vida.

Page 38: Crisálida o casulo do novo cidadão

33

“Era difícil dar a mão para o outro na hora da dança. Imagina um abraço, então. A relação deles, agora, é outra. A música, a dança e o teatro ajudam nessa integração. Hoje existe mais carinho.”

[ José Renato Batista de Oliveira, arte-educador ]

“O jeito de falar dos jovens, o jeito de tratar o outro – tudo mudou, melhorou. Eles estão cada vez mais envolvidos com o teatro, a capoeira, a música, a pesquisa. Estão mais envolvidos com eles mesmos.”

[ Wanderleia Rocha, educadora ]

“Adoro desenhar, por isso gostei muito de visitar exposições, conhecer o trabalho de vários artistas, de gente que eu nem imaginava que existia. Acho que esse conhecimento pode fazer diferença e até me ajudar a conseguir um bom emprego no futuro.”

[ Nadya Santos, 13 anos ]

“O que mais me impressiona nas visitas dos jovens aos museus, às galerias e até mesmo à cidade de Paranapiacaba é o olhar de descobrimento. Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.”

[ Irael Luziano Dias, arte- educador ]

Page 39: Crisálida o casulo do novo cidadão

o canto da cigarra

Ampliar o repertório musical e, por meio criando estilo singular em suas representações.

Page 40: Crisálida o casulo do novo cidadão

o canto da cigarra

criando estilo singular em suas representações.dele, exercitar as diversas linguagens artísticas,

Page 41: Crisálida o casulo do novo cidadão

36

Naquela ensolarada manhã de julho de 2003, jovens do casulo Cigarra esperavam an siosos a chegada do arte-educador Irael Luziano Dias. Tudo estava pronto: moldes cortados, tintas escolhidas, sprays separados e mais um saco com lápis, borrachas, tesouras e pincéis. Era dia de grafitagem.

O professor apontou no alto da escada e o sorriso de

José Lucas D’Voranen Paz se abriu: “O Irael chegou”,

avisou o menino de 10 anos.

A alegria da turma era esperada. O muro que seria grafi­

tado – o terceiro desde o início do projeto – era o da

Escola Municipal Vianna Moog, na qual estuda a maio­

ria dos meninos e meninas do Centro de Participação

Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec),

uma das unidades da Sociedade Pela Família. A músi­

ca escolhida pelos jovens para inspirar as imagens não

poderia ser mais apropriada: Criança Não Trabalha, do

cantor e compositor Paulo Tatti.

Por conta das férias, o grupo estava reduzido, mas os 12

artistas deram conta do recado. Em pouco tempo, piões,

skates, bolas, jogos de dama, bicicletas, televisores, pran­

chas de surf tomaram conta de um dos muros da quadra

da escola, antes pichado com palavrões. Ali foram es­

tampados mais do que desenhos coloridos – estavam

representados as brincadeiras preferidas e os objetos

de desejo da garotada. “Não vejo a hora de as aulas

começarem para meus amigos verem o muro que eu

ajudei a pintar. Acho que eles vão adorar”, orgulhava­se

a inquieta Elaine Aparecida Pereira, 11 anos.

Itinerário formativoNo casulo Cigarra, os 29 adolescentes aceitaram o de­

safio de transformar música em grafite e colorir os mu­

ros da comunidade do Jardim Jaqueline, na zona sul de

São Paulo, com poesia, alegria, reflexão, respeito e bele­

za. Por detrás dos desenhos e das tintas, vários propósi­

tos: desenvolver a expressão, o repertório e a linguagem

dos educandos; incentivar a argumentação, a opinião e o

respeito ao próximo; estimular a apropriação do bairro,

o cuidado com o meio ambiente e a mudança da paisa­

gem; além de envolver e sensibilizar a comunidade.

A formação do grupo de jovens precisava ser bastante

ampla para capacitá­los a realizar a transformação

Page 42: Crisálida o casulo do novo cidadão

37

giz,mertiolate,band-aid, sabão, tênis, cadarço, almofada, colchão, quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão, criança não trabalha, criança dá trabalho, um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato, cinco, seis, tudo outra vez, lápis, caderno, chiclete, peão, sol, bicicleta, skate, calção, esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão, bala, pelúcia, merenda, crayon, banho de rio, banho de mar, pula-cela, bombom, tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pãocriança não trabalha, criança dá trabalho

[Criança Não Trabalha] música de Paulo Tati

Page 43: Crisálida o casulo do novo cidadão

38

que alcançou a fama em pouco tempo com seus grfi­

tes e telas que retratavam o cotidiano dos negros na

periferia de Nova York. Com isso, definições foram as­

similadas: grafite sim, pichação não, nome, palavrão,

emoção; arte e risco; aventura e cultura.

Pedras no caminhoOutro desafio do casulo Cigarra foi a integração da equi­

pe – educador e arte­educador – com educandos e com

a concepção do projeto. Mais do que adotar técnicas de

ensino, é necessário acreditar na metodologia utiliza­

da, confiar na arte como meio eficaz de transformação

social e cultural, e ainda abrir espaço, conquistar a con­

fiança e encantar o educando para poder trocar infor­

mações e sentimentos.

“O projeto grafite no Cepec foi uma ousadia de grande

tamanho. Em muitos momentos, sentíamos o evoluir da

turma; em outros, a percepção era de estagnação.” As

palavras de Maria do Carmo Risi, diretora do Centro,

artística – da música ao grafite – e de suas próprias

vidas. Foram realizadas várias visitas culturais a mu­

seus e exposições de arte. Também fez parte do roteiro

assistir a filmes, visitar e fotografar muros grafitados

pela cidade. Os jovens também ampliaram seu reper­

tório musical sendo apresentados à vida e à arte de dois

expoentes grafiteiros: o naturalizado brasileiro Alex

Vallauri, gravador profissional que usava máscaras para

realizar seus grafites, e Jean­Michel Basquiat, negro

americano, filho de pai haitiano e mãe porto­riquenha,

“As crianças não tinham conhecimento sobre arte. Nunca haviam visitado uma exposição, um museu. Foi um ganho para todos.”

[ Ruth de Souza Abreu, educadora ]

Page 44: Crisálida o casulo do novo cidadão

39

revelam a realidade de quem trabalha na área de educa­

ção. O caminho não é reto e plano, mas cheio de cur­

vas, subidas e descidas, e é preciso saber a hora certa

de acelerar e frear.

As conquistas vieram aos poucos. Contratada para as­

sumir o dia­a­dia do casulo Cigarra, a educadora preci­

sou de tempo para despertar o interesse do grupo, que

muitas vezes mostrou­se agressivo e alheio às propos­

tas de trabalho. Também houve necessidade de buscar

um outro arte­educador, que interagisse melhor com a

concepção proposta.

Para estabelecer a relação de afinidade e confiança en­

tre o arte­educador e os educandos foram utilizadas

algumas brincadeiras, pois a situação lúdica predispõe

ao contato, à quebra de reservas, à observação do outro.

Se nos primeiros meses a maior transformação ocorreu

dentro do próprio casulo, no segundo semestre as cores

se espalharam pela comunidade. Três muros foram pin­

tados. O primeiro, dentro do próprio Cepec, serviu como

experimento e adaptação às novas ferramentas: moldes,

tintas, pincéis, rolos, sprays. O tema era o meio ambien­

te. No segundo muro, na Rua Alessandro Bibiena a pro­

paganda eleitoral foi trocada por figuras de crianças. No

terceiro muro, na escola do bairro, imagens de brinque­

dos substituíram palavrões.

Pinceladas de harmoniaSe, nas oficinas, André Marques dos Santos, de 12 anos,

permanecia à distância, desconfiado, e só fazia o que

tinha vontade, na rua, diante do muro, o jovem sorria,

contava piada e tentava interagir. A ansiedade era grande.

Todos queriam pintar, deixar a sua marca, transformar

com suas mãos o cenário mal cuidado da rua na qual

vivem. Primeiro, tinta branca. Os rolos percorriam o muro

com agilidade. Poucos minutos depois, já era difícil dis­

tinguir o muro, dos adolescentes: todos brancos.

Page 45: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Postes são fatos São fixos São focos ConcretosO poste é ponto de vista De luz De tudo De todosDe dia, determina distâncias De noite, clareia mistériosPintados, são totens tribais Mastros de circoElétricos círculos de cores Faróis para olhares navegantesPoste se faz poema[ por Irael Luziano Dias, arte­educador ]

Page 46: Crisálida o casulo do novo cidadão

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Grafitar juntos, desenvolvendo um mesmo painel, exi­

ge ca pa cidade de trabalhar em grupo, um aprendizado

que vale para a vida. Educadores e jovens discutiram

limites e concessões, criaram novas técnicas, deixa­

ram livre a imaginação. Folhas de árvores colhidas

nas redondezas serviram de moldes para uma árvore

psicodélica. Figuras de crianças apareceram coloridas.

“Sugeri que as imagens ficassem sem detalhes como

olhos, sobrancelhas, nariz, boca – assim, quem passas­

se por ali projetaria a imagem que quisesse. Os jovens

aceitaram de pronto, só André mostrou­se incomoda­

do. Passado algum tempo, ele retornou ao local e pi­

chou seu nome em torno de uma das figuras. Criou na

rua a sua identidade”, relata o arte­educador Irael.

Arte nos postes Ao passear pela comunidade, os jovens, agora com

olhar mais atento, enxergavam outras possibilidades.

Numa rua deteriorada, poluída, invadida por sacos pre­

tos de lixo, havia postes.

Novos moldes, novos sonhos. E os postes viraram totens

pintados com estrelas, com mãos, pés ou figuras geo­

métricas. Na Rua Alessandro Bibiena, é bonito de ver: o

grafite continua firme no muro e abre ala para os cinco

postes coloridos que dividem espaço com o mato que

cresce e com o lixo que fica. Quem passa olha a mensa­

gem colorida e se encanta. Ninguém pichou por cima.

Resultados obtidosPerceber as dificuldades, ser capaz de visualizar um

novo caminho e apostar em mudanças é sinônimo de

amadurecimento. O Projeto Crisálida encontrou no ca­

sulo Cigarra momentos de resistência. Às vezes eram

educadores que não abraçavam a nova concepção de

aprendizado e transformação. Em outros momentos

eram jovens que ainda não estavam preparados para ser

tocados e envolvidos pela arte. Cada ser humano tem o

seu tempo particular de crisálida.

Ao final dos 12 meses, os envolvidos nesse trabalho têm

certeza de terem iniciado a construção de um novo sa­

ber: mais intuitivo e sensível. Quem acompanhou o dia­

a­dia dos jovens percebeu as conquistas diárias, mesmo

que sutis. “Tivemos um ganho no interesse pelas ativi­

dades e a agressividade está mais controlada. Alguns

adolescentes se abriram e a cigarra dentro deles começa

a cantar. Outros, porém, ainda estão no casulo”, diz a

educadora Ruth de Souza Abreu. “Se não atingimos os re­

sultados em 100%, demos o primeiro passo. Sensibiliza­

mos e fomos sensibilizados. Foi muito importante partici­

par desse projeto e vivenciar uma proposta tão diferen­

ciada”, resume a diretora Maria do Carmo Risi.

“Grafitamos brincadeiras de criança no muro para mostrar que a gente precisa aproveitar a infância. Criança não trabalha.”

[Erlaine Oliveira Pereira, 11 anos]

Page 47: Crisálida o casulo do novo cidadão

primeira “Digo: o real não está na saída e nem na chegada. Ele se dispôs para a gente é no meio da travessia.”

revoada

Page 48: Crisálida o casulo do novo cidadão

primeira “Digo: o real não está na saída e nem na chegada. Ele se dispôs para a gente é no meio da travessia.”

revoada

[Guimarães Rosa]

Mariposas, borboletas, cigarras, libélulas e bichos-da-seda reunidos num mesmo casulo e com os mesmos objetivos: expor idéias, compartilhar conhecimentos, ouvir a experiência dos outros, fazer amigos e avaliar o caminho percorrido até aquele 28 de abril – os primeiros oito meses do projeto Crisálida. O Primeiro Fórum de Adolescentes reuniu 85 jovens das quatro casas, no Centro Educacional Colibri – uma ampla unidade da Sociedade Pela Família, localizada no município de Embu, em SP. O dia, recheado de apresentações e vivências, foi produtivo. Cada grupo teve a oportunidade de expor seu projeto e perceber o quanto havia caminhado até aquele momento – o meio da travessia.

Page 49: Crisálida o casulo do novo cidadão

Eram 8 horas quando os primeiros ônibus começaram

a chegar ao Colibri – casulo Mariposa. No auditório, os

jovens esperavam ansiosos pelos visitantes. Tímidos,

meninos e meninas mantinham a formação e o

agrupamento: borboletas perto de borboletas;

mariposas junto de mariposas. Mas a mesa farta de café

da manhã aproximou os jovens, que, aos poucos, foram

se reconhecendo dos passeios feitos conjuntamente.

Trocas de olhares, sorrisos, cumprimentos.

A primeira apresentação foi a do dono da casa.

Um pequeno grupo do Colibri, com a ajuda de

transparências, contou a história da cidade de Embu –

o foco do trabalho do casulo. No início, as palavras

faltavam. Educador e arte-educador, ao lado da turma,

davam suporte para a apresentação. A comunicação

foi fluindo mais facilmente, e a troca de experiências

aconteceu.

Roda de conversaAtividade terminada, era hora de seguir para um amplo

terraço e sentar em roda. Olhos nos olhos, todos se

apresentaram: nome, idade e casulo. No semblante da

maioria, a expectativa de fazer a apresentação, explicar

no que já haviam trabalhado, o que já haviam produzido.

Com orgulho, Eduardo Silvério da Silva Júnior, 14 anos,

levantou-se para falar do Bicho-da-Seda: “Nosso tema

é Arte no Metrô. Fizemos visitas a estações, conhecemos

várias obras expostas. Escolhemos a obra Quatro

Estações, de Tomie Ohtake, como inspiração para fazer,

também em mosaico, as quatro principais fases do ser

humano, que definimos como: bebê, criança, adulto e

velho”, descreveu o garoto. Outro colega quis contribuir:

“A gente precisa de tempo para perceber quantas obras

existem na cidade. São Paulo não é só violência.”

Os meninos do Cigarra narraram com entusiasmo a

proposta de seu casulo: transformar música em grafite.

E deixaram bem claro: “Grafite é desenho, é arte, coisa

bem diferente de pichação”, como disse Medson Felipe

de Souza, 11 anos. “É a arte que invade as ruas, que deixa

os muros bonitos”, completou Erlaine Oliveira Pereira,

13 anos.

A explicação sobre o Uirapuru ficou a cargo de Tatiana

Silva Reis, 15 anos. “Primeiro estudamos nossa

origem, a mistura de brancos, negros e índios. Fizemos

máscaras representativas das etnias do povo brasileiro.

Também estamos aprendendo os ritos e lendas da

região amazônica.”

Aplausos de pé Muito mais do que narrar os projetos, cigarras, bichos-

da-seda e mariposas prepararam apresentações sobre a

exposição Os Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade

Proibida, realizada entre fevereiro e junho de 2003, na Oca,

no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Os ideo gra mas

chineses foram o foco da turma de grafiteiros do Cigarra.

A garotada do Bicho-da-Seda montou um telejornal. E os

jovens do Mariposa se transformaram em monitores e

convidaram todos para passear pela exposição que eles

montaram sobre a visita aos Guerreiros de Xi’an.

Já as borboletas subiram ao palco para retratar a

exposição Negras Memórias, Memórias de Negro, que

foi vista também em fevereiro na Galeria de Arte do

Sesi-SP. Com muita criatividade, encenaram o conto

africano A Separação dos Mundos.

As palmas vieram, animadas. Cada apresentação

deixava claro quanto cada casulo tinha caminhado,

quanto cada jovem havia se apropriado da linguagem

artística. O encontro virou celebração.

Depois do almoço, houve um tempinho para brincadeiras,

bate-papo e descanso. Mariposas, borboletas, cigarras

e bichos-da-seda voavam agora juntos, 85 jovens, um

mesmo grupo. Alguns ensinavam dança afro. Outros

simplesmente apreciavam a sombra das árvores na bela

área verde do Centro Educacional Colibri. No final da

tarde, a grande roda se formou novamente. Hora de

avaliar o dia.

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“Tanto os educandos quanto nós, os educadores, estávamos ansiosos por esse encontro. Trabalhamos muito e essa integração,

[ Rita Coelho, educadora e coordenadora do Crisálida ]

essa troca entre os grupos e, principalmente, a confirmação de que esses meninos e meninas estão caminhando e se desenvolvendo, só

nos dá mais força para investir nesse projeto.”

“Gostei de me apresentar. Todo mundo prestou atenção.”[ Samara de Oliveira Rocha, 14 anos, casulo Borboleta ]

“Vendo aquela organização, percebi que estamos no caminho certo. Contribuímos para a construção de um mundo de adolescentes autônomos, que sabem ser e ser com o outro.”

[ André Luiz Pereira do Nascimento, educador ]

“É nesses momentos de integração que se estabelecem vínculos, regras, respeito e valorização da auto-estima dos jovens.”

[ Maria Sueli do Nascimento, educadora ]

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scobertas as de

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scobertas as de da mariposa

vida, interagindo poeticamente com a realidade em que vive,

criando e fortalecendo laços afetivos com a cidade de

Embu das Artes e representando esse processo de maneira singular através da

linguagem plástica.

Desvendar a sua história de

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48

“Quero conhecer, para melhor sentir;e sentir, para melhor conhecer.”

[Paul Cézanne]

Page 54: Crisálida o casulo do novo cidadão

49

Conhecer a cidade em que se vive, descobrir sua história, enten-der sua cultura e usufruir os espaços públicos. Com esse desa-fio o casulo Mariposa desenvolveu um trabalho amplo com 30 alunos do Centro Educacional Colibri, na região de Embu, locali-zada a 30 quilômetros da capital paulista e endereço da maior parte dos adolescentes.

Apesar de viverem bem próximos do Centro Histórico de

Embu, cidade conhecida por sua tradicional feira de artesa-

nato aos domingos e pelos móveis rústicos e antiquários,

os jovens pouco ou nada sabiam dessa tradição cultural e

apenas uma minoria já havia visitado a região.

Munidos de máquinas fotográficas e com a curiosidade

aflorada pelas informações recebidas em sala de aula,

os jovens saíram em busca de conhecimento, como tu-

ristas em visita a uma nova cidade. A proposta era cons-

truir a imagem de Embu, explorar suas texturas, desco-

brir sua origem. Em três visitas à cidade, as conversas

com os artistas, lojistas, donos de restaurantes e os

cliques das câmeras formaram o painel cultural e so-

cial da região, que hoje vive do turismo.

Durante um ano de Projeto Crisálida, as jovens maripo-

sas vislumbraram um pouco mais do que os limites de

suas casas, escolas e ruas. Voaram pela região de Embu

e também puderam conhecer outros pontos culturais da

capital paulista, em visitas a exposições de arte. Am-

pliaram seu repertório e descobriram que a arte mora-

va ali, logo ao lado, em sua cidade, e que a capital de

São Paulo, distante poucos quilômetros, também ofe-

rece várias oportunidades de cultura e lazer de graça. E

assim, ultrapassando os limites do bairro, descobriram

a si mesmos, viram-se como cidadãos.

Vi a cidade onde vivo. Vi as linhas principais de um desenho, vi as cores das tintas, do giz de cera. Vi exposições, pinturas, retratos.”

“Aqui aprendi a ver.

[Aline Nunes de Santana, 14 anos]

Page 55: Crisálida o casulo do novo cidadão

50

“A arte tira o indivíduo do comodismo, deixa a gente mais sensível. Vemos criança que no começo não falava

muito, não era participativa, mas que por meio do desenho traz grandes contribuições para si própria e para o grupo.”

[ Tereza Cristina Vieira, educadora do Colibri ]

Page 56: Crisálida o casulo do novo cidadão

51

Itinerário formativoPara aprofundar o conhecimento sobre a cidade em que

moram, os alunos foram convidados a experimentar no-

vas vivências e materiais. As informações foram aos

poucos sendo absorvidas e trabalhadas em forma de pin-

tura, escultura e desenhos.

Tudo começou com os jovens fazendo uma entrevista com

os próprios familiares para verificarem o que eles conhe-

ciam de Embu das Artes. Para descobrir a rotina da cida-

de, foram realizadas visitas em dias diferentes da sema-

na, sempre registradas em fotos e depoimentos.

Não apenas o Centro Histórico foi o foco das visitas. Os

educadores e o arte-educador programaram uma saída a

pé até o Cemucam, área verde próxima do Centro Educa-

cional Colibri. Ali o desafio para os adolescentes era re-

gistrar o caminho pelo qual passaram e conhecer um pou-

co dos freqüentadores do local por meio de entrevistas.

O casulo Mariposa, como os outros, também participou

de visitas a museus, como o Museu de Arte Moderna e o

Museu de Arte Contemporânea, e a exposições: Negras

Memórias, Memórias de Negro, no Sesi; Do Modernis-

mo à Arte Contemporânea, na Faap; Claro e Explícito,

de Bia Lessa; Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; Cândi-

do Portinari, na Pinacoteca; Modernismo, no Centro

Cultural Banco do Brasil; e Os Guerreiros de Xi’an e os

Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, no Parque do

Ibirapuera.

“Com esse projeto aprendi a pintar com aquarela, fazer sombras com lápis preto. Agora sei trabalhar com máquina fotográfica e filmadora.”

[Kauê G. de Souza Mota, 14 anos]

Page 57: Crisálida o casulo do novo cidadão

52

“É bom quando a gente conhece coisas novas. Visitei Embu das Artes, trabalhei com

barbante, fui a outras exposições. Fiz coisas que nunca tinha feito.”

[Fabiano de Souza Araújo, 12 anos]

Page 58: Crisálida o casulo do novo cidadão

53

Aprender a recomeçar Manter um grupo de adolescentes interessado na propos-

ta de trabalho e concentrado na atividade diária é sempre

um desafio. Maior ainda quando, no meio do caminho, há

troca de turmas e também de educadores. Isso aconte-

ceu no Colibri. Novo educador, novo arte-educador e até

mesmo a maioria dos educandos, com o início do ano le-

tivo de 2003, mudou de horário escolar e saiu do projeto.

Foi necessário retomar e repensar algumas atividades

e saídas. “Sentimos a necessidade de envolver os ado-

lescentes no projeto, partindo do indivíduo para o meio

no qual ele vive, a cidade de Embu. Trabalhamos duran-

te um mês na confecção de auto-retratos”, conta Flá-

via Manzione Zanzotti, arte-educadora do casulo Mari-

posa. Lápis grafite, giz de cera e aquarela foram os

instrumentos para aproximar o educando de si mesmo.

O progresso foi visto no encontro dos casulos, no mês

de abril. Aquela turma que parecia dispersa havia se tor-

nado um grupo. A timidez aos poucos foi vencida. As

mariposas compartilharam a visita de Embu com os co-

legas dos outros casulos. Com ajuda do retro projetor,

imagens e texto contaram um pouco da história e da

cultura da cidade em que vivem esses jovens. E, para

mostrar o que absorveram da exposição “Os Guerreiros

de Xi’an”, eles montaram uma exposição com recortes

da mostra e objetos pessoais. Era a cultura chinesa divi-

dindo espaço com os costumes do educando.

Visitei Embu das Artes, trabalhei com barbante, fui a outras exposições.

Fiz coisas que nunca tinha feito.”[Fabiano de Souza Araújo, 12 anos]

“Atingimos parcialmente o nosso objetivo no projeto Crisálida. Nosso processo tem sido lento, mas estamos

notando crescimento. Acredito muito nessas mudanças mais vagarosas, acho que são mais verdadeiras e profundas. Precisamos respeitar esse tempo.”

[Maria Cecília Melo Fernandes, diretora do Colibri]

Page 59: Crisálida o casulo do novo cidadão

atrama -sedado bicho-da

Conhecer a cidade de São Paulo, apropriando-se dos espaços

públicos culturais e artísticos, fortalecendo seres críticos e

habilidosos, criando no fazer e no interagir possibilidades de dialogar

no meio em que vivem.

Page 60: Crisálida o casulo do novo cidadão

-seda

Page 61: Crisálida o casulo do novo cidadão

56

A arte como veículo de formação e de transformação. É dessa maneira que o Centro Educacional Gracinha, mais uma unidade da Sociedade Pela Família, localizado na Vila Campo Belo, zona oeste da capital paulista, exerce influência construtiva na população atendida – jovens de 6 a 18 anos.

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se

fora da procura. Fora da boniteza e da alegria.” [ Paulo Freire ]

[ Paulo Freire ]

Page 62: Crisálida o casulo do novo cidadão

57

Com a experiência de quem já domina a linguagem artís-

tica, o Gracinha desenvolveu uma proposta inusitada e

interessante, dentro do projeto Crisálida. No casulo Bi-

cho-da-Seda, os jovens aprenderam a enxergar a cidade

de um jeito diferente, por meio da arte. O foco principal

do projeto, durante o primeiro ano de Crisálida, foi co-

nhecer e fotografar as obras de arte expostas nas esta-

ções do Metrô, pesquisar a vida e a obra de um dos artis-

tas e criar um produto expressivo, a partir da técnica uti-

lizada pelo artista estudado.

Em suas viagens pelo subsolo da metrópole, pelas linhas

Verde, Vermelha e Azul, os 27 adolescentes foram além

da apreciação dos trabalhos de Alex Fleming, Francisco

Brenand, Tomie Ohtake: promoveram o exercício da li-

berdade criadora, com novas formas de pensar e de agir,

de enxergar a si mesmos e ao mundo; interagiram com o

espaço público e se expressaram com autonomia, ética

e estilo estético.

Itinerário formativoArte é linguagem e, portanto, exige estudo, trabalho,

reflexão, informação. Educadores e arte-educadores do

Bicho-da-Seda criaram oportunidades e atividades

que contemplaram três aspectos da prática da arte: o

multicultu ralismo, a apreciação da obra e o fazer artís-

tico*. Assim, proporcionaram aos jovens vivências ri-

cas, que os torna ram mais autônomos e capazes de ver,

pensar, agir, decidir e criar de forma independente.

Além das visitas às estações do Metrô, fizeram parte

do itinerário formativo: pesquisas em jornais, revistas,

Internet e biblioteca do Metrô; orientação para apre-

ciação e conhecimento das obras; explicação sobre

materiais e técnicas utilizados pelos artistas e documen-

tação com fotos, relatórios e textos. Até entrevistas com

funcionários e usuá rios do Metrô foram feitas pelos

adolescentes.

O saber artístico envolveu também visitas a estúdios

e entrevistas com artistas plásticos, idas a museus, ex-

posições, teatros, cinemas. Foi um processo intenso de

alfabetização do olhar, refletido nas palavras de Alcides

dos Santos Brito, 14 anos: “Quando visito museus e

exposições, me sinto desenhado nos quadros e esculpi-

do nas estátuas que vejo. ”

Viagem CulturalAnsiosos e curiosos, adolescentes e educadores se di-

rigiram à estação Sé – Linha Vermelha. A primeira via-

gem informativa começou por ali. Recepcionados pela

equipe responsável pela parte cultural do Metrô, os

educadores e jovens conheceram toda a estrutura e o

fun cionamento do mais eficiente sistema de transporte

de São Paulo. Também ficaram sabendo sobre o conceito

da exposição Arte no Metrô e tudo o que poderiam apre-

ciar pelos 49 quilômetros das trilhas subterrâneas.

Em razão da extensão das linhas e do número de tra-

balhos, o grupo foi dividido em três turmas. Cada qual

passou uma tarde passeando por uma linha, aprecian-

do as obras, para depois escrever seus próprios rela-

tos e trocar informações com os outros grupos. Essa

decisão, mais tarde, provou-se acertada, pois criar o

hábito de olhar uma obra de arte requer atenção, sen-

“Eu já havia passado por várias estações do Metrô e nunca reparei nas obras de arte. Hoje, paro e fico observando e quero saber que artista fez aquilo. Já falei até para amigos e pessoas da família: se pegar o metrô, olhe a arte ao redor.”

[ Paulo Felipe Nascimento, 14 anos ]

do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se

Page 63: Crisálida o casulo do novo cidadão

58

sibilidade e paciência, o que seria um exercício muito

difícil com um grupo de 27 adolescentes.

Em cada saída, uma surpresa. Ao ver a obra de Wesley

Duke Lee intitulada Museu Imaginário do Desenvolvi-

mento da Pintura no Brasil em Quatro Séculos, na esta-

ção Trianon-Masp, Emerson Aparecido C. Ferreira ficou

intrigado e perguntou: “Esse Wesley fez somente uma

colagem com quadros de outros artistas. Isso é obra de

arte? Ele é um artista?” A dúvida do jovem foi a deixa

para o grupo pensar, elaborar relações, administrar con-

flitos e acolher opiniões diversas.

Do Metrô, a viagem continuou por museus e exposições

de arte. O casulo visitou a mostra de Tomie Ohtake, que

se tornou fonte inspiradora para os painéis de mosaico

criados pela turma; conheceu o trabalho para deficien-

tes visuais da artista Nazareth Pacheco, no espaço de

artes Unicide; e deliciou-se na mostra Escultores e Es-

culturas, na Pinacoteca, na qual era possível sentir nos

dedos cada forma, textura e temperatura das esculturas.

Os jovens também se impressionaram nas exposições

Negras Memórias, Memórias de Negros, no Sesi, e Os

Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida,

na Oca, no Parque do Ibirapuera. Entre tantos passeios

culturais, até o Cemitério da Consolação entrou no roteiro:

conheceram o túmulo da Marquesa de Santos, dos es-

critores Monteiro Lobato e Mário de Andrade, além de belas

esculturas e pitorescas histórias.

Mãos à obraO desafio do casulo agora era representar artisticamente

o conteúdo ao qual os adolescentes tiveram acesso du-

rante as visitas ao Metrô e às exposições de arte. O grupo,

encantado com os painéis de mosaico da artista plástica

Tomie Ohtake expostos na estação Consolação, obra ba-

tizada de As Quatro Estações, resolveu se aventurar pela

técnica e criar quatro painéis de 3m por 2m. Depois de

muita discussão, o tema acertado foi a evolução do homem,

representada pelas fases da vida que eles decidiram como

as mais importantes: bebê, criança, adulto e idoso.

Os educandos passaram semanas empenhados no fazer

artístico. Primeiro, pesquisando a técnica de mosaico ao

longo do tempo – na Mesopotâmia, na Grécia, em Roma –,

até chegar aos dias atuais, com novos materiais. Depois,

definindo símbolos para os painéis, escolhendo as cores,

“Eu nem imagino que estou neste lugar, nunca poderia me imaginar aqui.”[ Daiana Maria Lopes, 13 anos, parada em frente de uma obra de Tomie Ohtake no Instituto que leva o nome da artista ]

Page 64: Crisálida o casulo do novo cidadão

59

“– Olha, há um tesouro na casa ao lado.

quebrando azulejos e desenhando os painéis, até final-

mente chegar o momento de colar os ladrilhos.

Mas, além do exercício proporcionado pelo fazer artísti-

co, os jovens também experimentaram a troca, o diálo-

go, o respeito ao outro, o trabalho em grupo, a organi-

zação do espaço. Até aqueles que pareciam alheios ao

projeto acabaram por pôr a mão na massa e fizeram ques-

tão de dar sua contribuição. Ao final, a boa surpresa es-

tampada nos painéis: estética, beleza, criatividade, arte.

Trabalho acabado, momento de novas experimentações:

caminhar do bidimensional para o tridimensional. A vez

de se aventurar pela escultura. O primeiro passo foi a

pesquisa de como surgiu o concreto celular e como esse

– Mas não há nenhuma casa aqui ao lado.– Então construiremos uma!”

[ Diálogo dos irmãos Marx ]

“Eu nem imagino que estou neste lugar, nunca poderia me imaginar aqui.”

Page 65: Crisálida o casulo do novo cidadão

60

material é usado. Depois veio o momento de tocar o

material, de explorar sensações. Inspirados na exposi-

ção Os Guerreiros de Xi’an, o grupo sugeriu esculpir

figuras representativas do seu cotidiano. Mas como es-

culpir algo tão complexo sem ter experimentado antes?

A resposta foi buscada nos Moás da Ilha de Páscoa –

figuras mais simples para quem era iniciante.

O grupo então retomou as pesquisas, assistindo ao vídeo

Rapa Nui – O Umbigo do Mundo, que retratava a cons-

trução dos Moás. Além do aprendizado das formas, me-

ninos e meninas treinaram o olhar para uma outra

cultura, outra etnia com costumes, crenças e rituais dis-

tintos. Foram feitas novas visitas a exposições. E mãos à

obra. Moás prontos e uma sensação boa – de habilidade,

de domínio e de competência para encarar outras expe-

riências.

Resultados obtidosJovens mais questionadores, observadores, autônomos,

que respeitam as diferenças, compartilham conheci-

mentos, se orgulham de suas produções, e estão dis-

postos a rever e a elaborar suas ações cotidianas. As-

sim movimentou-se a crisálida no Centro Educacional

Gracinha e os bichos-da-seda começaram a conhecer

todo o potencial de tramar seu próprio futuro.

“As senhoras da boa morte rezavam para que os senhores tivessem uma boa morte, já os guerreiros de Xi’an guardavam a morte.”

[ Marina Gomes da Silva, 15 anos, comparando as

exposições durante a roda de conversa ]

“Nas saídas que fizemos, observei adolescentes mais criteriosos com a monitoria, intervindo nas colocações e até relacionando obras de arte que já haviam visto anteriormente. Presenciei adolescentes expondo seu ritmo de observação das obras, discutindo preferências e expressando esse conhecimento dias depois da visita.”

[ Maria Sueli do Nascimento, educadora ]

Page 66: Crisálida o casulo do novo cidadão

61

“O bastão está caminhando. Junto com os adolescentes, nós, como equipe e profissionais, estamos também nos transformando, crescendo e acreditando cada vez mais nas possibilidades que o trabalho através

da arte está nos propiciando. Todos nós estamos em movimento.”[ Hilda Setsuko Hashimoto, diretora do Centro Educacional Gracinha e coordenadora do Crisálida ]

observei adolescentes mais criteriosos

expondo seu ritmo de observação das

depois da visita.”

Page 67: Crisálida o casulo do novo cidadão

roda Momento de reflexão, de troca, de expressão. Sentados em roda, no início da atividade, alguns jovens se esforçam para parar quietos e ouvir os colegas. Outros, simplesmente, deixam fluir toda a energia, às vezes com brincadeiras, às vezes de forma agressiva. É na Roda de Conversa que se estabelecem combinados, que o jovem emite opiniões, discute dificuldades, apresenta avanços e conquistas. É preciso esforço para saber a hora de falar e de ouvir, construir sentidos, estabelecer associações entre direitos e deveres, liberdade e respeito. Como rotina, as rodas oferecem a estrutura necessária para cada um encontrar a harmonia interna e se preparar para desenvolver os temas e as atividades do dia. Nas culturas orientais mais antigas, os círculos, as rodas simbolizam o sagrado, o momento da comunhão. É a proximidade com o outro, o momento de criar laços — respeitando as diversidades.

“Quando nos sentamos em roda, no início ou fim do dia, sentimos o pulsar do grupo e juntos pensamos e avaliamos nossos

erros e acertos, numa tarefa incansável de tornar o ensinar e o aprender difícil e árduo em satisfação e descobertas.”

Rita Coelho, coordenadora do Projeto Crisálida

Page 68: Crisálida o casulo do novo cidadão

de conversa

“Na roda os educadores procuram substituir a ansiedade dos meninos e meninas por diálogo, troca, contato amigo e respeito ao diferente. Um tema é proposto, uma informação

é compartilhada e a roda começa a girar.” [Wanderleia Rocha, educadora, casulo Borboleta]

“Fazemos dinâmicas e atividades na roda. Quando o grupo está muito agitado, a educadora tem que dar

algumas broncas para acalmar. Aí podemos conversar, ler e ouvir lendas e mitos da região amazônica, que é o

tema do nosso projeto.[Fernando Pires S. da Silva, 14 anos]

“Conversamos sobre as apresentações que o grupo faz, exposições que vamos visitar, as regras para a saída, brincamos.”

“No círculo procuramos conhecer melhor o companheiro, [Patricia Maria dos Santos, 12 anos]

fazendo uma vez por semana uma brincadeira chamada Cadeira do Amigo. É o jeito mais fácil da gente se conhecer e

do educador conhecer a gente.”[Silmara Brasileiro Quaresma, 16 anos]

Page 69: Crisálida o casulo do novo cidadão

dentro dos casulos

Page 70: Crisálida o casulo do novo cidadão

Neste um ano de trabalho do Projeto Crisálida, acompa-nhamos de perto a evolução dos casulos. Vimos o romper de muitas

crisálidas e o primeiro vôo de tantas borboletas, cigarras, bichos-da-seda, mariposas e libélulas.

Essa transformação está sendo construída com muito trabalho, planejamento, estudo e com

intencionalidade. As nossas ações estão sendo cuidadosamente pensadas e avaliadas numa in-

cansável busca de integrar teoria e prática, clareando e aprimorando a nossa metodologia de

trabalho, avaliando, registrando, replanejando, atentos ao “como fazer”. Nosso grande desafio

foi buscar o alinhamento de educadores e arte-educadores na concepção do trabalho através da

arte, a arte na centralidade, arte como linguagem, transformando efetivamente potenciais em

competências*. Investimos na formação da nossa equipe de educadores e arte-educadores, sempre

com o objetivo de ampliar os nossos conhecimentos e construir outros. Está sendo possível cons-

truir juntos, conhecimento!

Ainda não podemos falar de resultados, podemos falar de processo; de jovens e adolescentes

em pleno exercício. Exercitando a autonomia, ao se sentirem responsáveis pelo seu entorno; exer-

citando estar mais atentos e observadores para os códigos visuais que o tempo todo nos chegam

por meio da imprensa e da mídia. Adolescentes e jovens leitores das questões sociais, sabedo-

res dos seus direitos e praticantes de seus deveres. A via para esse desenvolvimento humano

sendo a arte encurta muitos caminhos, pois a arte nos sensibiliza, nos mobiliza, nos transforma e

essa vivência faz com que voltemos diferentes para a realidade. A partir do momento em que se

fortalece o lado criativo, inventivo e crítico, a possibilidade de ressignificar a realidade fica mais

ampla e, quando a realidade ganha significado novo, tornamo-nos mais responsáveis pelo mundo

no qual vivemos e mais atuantes nessa realidade; é o exercício da cidadania.

Os jovens estão mais sensibilizados para si mesmos, para o outro e para a cidade em que vivem.

São os sujeitos dessa transformação.

Page 71: Crisálida o casulo do novo cidadão

Educandos Adelene Conceição da Costa

Ademilson da Silva Santos

Adriana da Silva Santos

Adriano Moreira Dias Gonzaga

Adriel de Lima Sampaio

Alan Amorielli David

Alcides dos Santos Brito

Alcione da Silva Santos

Alexandre Pereira Gonçalves

Alex dos Santos Luz

Aline N. Santana

Amanda Campos

Amanda Lacerda Barbosa

Ana Paula Carvalho dos Santos

Anderson de Lima Soares

Anderson Lima Pereira

André Luiz Galvão

André Marques dos Santos

Angélica Aparecida da Silva

Bianca Rodrigues dos Santos

Bruno Cardoso Farias

Bruno Ferreira dos Santos

Bruno Souza Moura

d i r e ç ã o

Coordenadora de Ação Social da Sociedade Pela Família

Laura Souza Pinto

Equipe de interlocução

Vera Prates

Rita de Cássia Coelho

Hilda Setsuko Hashimoto

Maria Sueli do Nascimento

Centro de Convivência Uirapuru

Ana Maria Rodrigues, diretora

Centro Educacional Colibri

Maria Cecília Melo Fernandes, diretora

Centro Educacional Gracinha

Hilda Setsuko Hashimoto, diretora

Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec)

Maria do Carmo Risi, diretora

e l e n c o

Educadores Andréia Amaral dos Santos

André Luiz Pereira do Nascimento

Geralda Fernandes

Maria Cecília da Silva

Maria Sueli do Nascimento

Ruth de Souza Abreu

Tereza Cristina Vieira

Wanderleia Rocha

Arte-educadores Flávia Manzíone Zanzotti

Irael Luziano Dias

José Renato Batista de Oliveira

Rita Coelho

Page 72: Crisálida o casulo do novo cidadão

Carla Ferreira

Carlos Henrique Galvão

Caroline Estela de J. dos Santos

Cássia Sabino de Souza

Celijeane Suzart Barbosa

Cíntia Barbosa de Oliveira

Cleiton Batista dos Santos

Daiana Maria Lopes

Danilo Reis do Nascimento

Dário Felix da Rocha Souza

Davi João Paulo

David de Oliveira Santana

Dayane Guedes Teixeira Silva

Débora de Jesus dos Santos

Denise de Lira Garcia

Diego Maradona Gonçalves Santos Rosa

Diogo Medeiros de Brito Gonçalves

Diovane Manoel da Silva

Douglas Paulo dos Santos Silva

Douglas Pereira Araújo

Douglas Ramos dos Santos

Elaine Aparecida Pereira

Elen Sara Dantas Freitas

Eduardo Coimbra Ferreira

Eduardo Silvério da Silva Júnior

Egnaldo Silva Andrade

Elvis de Alencar Godoy

Emerson Aparecido C. Ferreira

Erinaldo Silva Andrade

Erlaine Oliveira Pereira

Euvandina Conceição dos Santos

Everton de Oliveira Santos

Evelyn Vieira de Souza

Fabiano de Souza Arcanjo

Felipe Gonçalves Oliveira

Felipe Silveira Rodrigues

Fernando Pires Saraiva da Silva

Fernando Silva Santos

Filipe Antunes Trindade Silva

Flávia Jesus da Silva

Flávio R. do Nascimentos

Gabriela Cristina Feltrin

Gilberto do Carmo Assalti

Gilvan Mendes de Souza

Jailton da Silva Rocha

Jaqueline Lucas M. da Silva

Jessica Danielle Xavier Lira

Jéssica Fabiana G. da Silva

Jéssica Luna Nascimento Silva

Jeferson Alves

Jeferson Correia Alves dos Santos

Jennifer Belarmino de Aguiar

Jéssica Belarmino de Oliveira

Jéssica Cristina Rocha dos Santos

Jéssica Roberta Nicolau

João Roberto de Monte Santos

Joedson Florêncio da Silva

Johnathan Silva Santos Souza

Johny Honório da Silva Santos

José Carlos Nascimento Cruz

José Fernando Berto da Paixão

José Lucas Dvoranen Paz

José Silva Santos

Juliana Costa de Moura

Juliana de Oliveira Silva

Juliana Silva Feltrin

Juliano da Costa

Julierme da Costa

Kauê Jerônimo de S. Mota

Keila Mendes de Souza

Laílson Silva de Oliveira

Laio Fernandes de Lima

Leandro Gonçalves da Silva

Luan de Oliveira Mota

Lucas Gonçalves da Silva

Lucas Thiago Gonçalves Souza

Luís Henrique de J. de Souza

Luiz Claudio Lima

Luiz Fernando Gonçalves

Luiz Henrique Batista

Maike Santos Morais

Manoel José dos Santos Filho

Márcio Alves da Rocha

Marcleide de Jesus dos Santos

Marco Aurélio N. da Silva

Marilia Santos Rodrigues

Marina Gomes da Silva

Marina Honório da Silva Santos

Medson Felipe de Souza

Mileide Vieira de Carvalho

Nayara Estefani Bernardes

Pamela Silva Prado

Patrícia Barbosa Soares

Patrícia Maria dos Santos

Paulo César Belmiro Júnior

Paulo Felipe do Nascimento

Paulo Henrique Lima Barbosa

Paulo Rodrigo Régis da Silva

Peter Felipe do Nascimento

Priscila Ramalho Costa

Rafael Felipe de Souza Aran

Rafael Pereira da Costa

Renan Tadeu S. Santos

Renato Cardoso de Freitas

Ricardo de Souza Barbosa

Ricardo Santos Correia

Roberta Maria Régis da Silva

Robson de Oliveira Abreu

Robson Rodrigues da Silva

Rodrigo Carlos Pereira Niza

Rodrigo G. Pereira

Rodrigo Teixeira

Rogério Carlos Pereira Niza

Rogério da S. Rocha

Romeu Bispo

Romilson Bispo Silva

Samara de Oliveira Barbosa

Samuel dos Santos Caetano

Sidnei do Carmo da Silva

Silmara Brasileiro Quaresma

Silvana de Oliveira Santos

Soraya Faria Souza

Sulamita dos Santos Rocha

Talita Alves Ferreira da Silva

Tatiana Silva Reis

Thacia Aguiar de Souza

Thamara Laizza Santos

Tiru Xavante

Valdeir de Jesus dos Santos

Wagner Pereira Santana

Wanderson Silva Cardoso

Welder Alves dos Santos

Wellington Ribeiro

Wellington Willian Nogueira da Silva

Wesley Roger Santos Mariano

Willian Gonçalves Oliveira

Wilson Ribeiro de Jesus

Page 73: Crisálida o casulo do novo cidadão

Produzido na primavera de 2003

D’lippi Arte Editorial • tel.: 11 3676 0074 • [email protected] Comunicação • tel.: 11 4702-3856 • [email protected]

Page 74: Crisálida o casulo do novo cidadão
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Page 77: Crisálida o casulo do novo cidadão
Page 78: Crisálida o casulo do novo cidadão

CRISÁLIDA é o estado por que passa a

lagarta para se tornar borboleta.

É o local das metamorfoses, a câmara

secreta das iniciações, a matriz ou o

útero das transformações. O livro

Crisálida – o Casulo de um Novo

Cidadão revela as mudanças culturais e

comportamentais que a arte é capaz de

promover no ser humano. Mostra, com

poesia e cor, o dia-a-dia de quatro

unidades e de um grupo de

educadores. Coordenados pela

Sociedade Pela Família, esse time

aceitou o desafio do programa Cidadão

21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:

formar crianças e adolescentes

motivados, que interagem entre si e

com os outros, aprendem a intervir em

sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,

respeitam as diversidades culturais.

Divididos em casulos, os jovens

experimentaram um instigante e

criativo roteiro, que incluiu visitas a

museus e a espaços públicos até então

desconhecidos. Experiências depois

traduzidas por eles em pinceladas,

mosaicos e grafitagem.

CRISÁLIDA é uma viagem nesse

universo de cigarras, mariposas,

bichos-da-seda, borboletas e libélulas

– todos adolecentes – que, após passar

um tempo no casulo, aprenderam a voar.

Com suas novas asas, romperam

fronteiras, descobriram um mundo novo

além de suas casas, escolas e bairros,

perceberam-se capazes do que nem

imaginavam. Tornaram-se cidadãos.

cr

is

ál

id

a

o

c

as

ul

o

d

o

no

vo

ci

da

o

Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.

O Projeto Crisálida é fruto do

esforço conjunto de gestores,

educadores e educandos para

fazer da Arte uma via privilegiada

para o desenvolvimento dos

potenciais de suas crianças e

jovens. O Instituto Ayrton Senna é

um parceiro dessa causa. Temos

imenso prazer de aprender com os

desafios e conquistas dessa

equipe campeã e imenso orgulho

de compartilhar com o Crisálida

nossa Tecnologia

Social de Educação para o

Desenvolvimento Humano

pela Arte.

[Simone André – Coordenadora do Programa de

Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]

Page 79: Crisálida o casulo do novo cidadão

CRISÁLIDA é o estado por que passa a

lagarta para se tornar borboleta.

É o local das metamorfoses, a câmara

secreta das iniciações, a matriz ou o

útero das transformações. O livro

Crisálida – o Casulo de um Novo

Cidadão revela as mudanças culturais e

comportamentais que a arte é capaz de

promover no ser humano. Mostra, com

poesia e cor, o dia-a-dia de quatro

unidades e de um grupo de

educadores. Coordenados pela

Sociedade Pela Família, esse time

aceitou o desafio do programa Cidadão

21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:

formar crianças e adolescentes

motivados, que interagem entre si e

com os outros, aprendem a intervir em

sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,

respeitam as diversidades culturais.

Divididos em casulos, os jovens

experimentaram um instigante e

criativo roteiro, que incluiu visitas a

museus e a espaços públicos até então

desconhecidos. Experiências depois

traduzidas por eles em pinceladas,

mosaicos e grafitagem.

CRISÁLIDA é uma viagem nesse

universo de cigarras, mariposas,

bichos-da-seda, borboletas e libélulas

– todos adolecentes – que, após passar

um tempo no casulo, aprenderam a voar.

Com suas novas asas, romperam

fronteiras, descobriram um mundo novo

além de suas casas, escolas e bairros,

perceberam-se capazes do que nem

imaginavam. Tornaram-se cidadãos.

cr

is

ál

id

a

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c

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Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.

O Projeto Crisálida é fruto do

esforço conjunto de gestores,

educadores e educandos para

fazer da Arte uma via privilegiada

para o desenvolvimento dos

potenciais de suas crianças e

jovens. O Instituto Ayrton Senna é

um parceiro dessa causa. Temos

imenso prazer de aprender com os

desafios e conquistas dessa

equipe campeã e imenso orgulho

de compartilhar com o Crisálida

nossa Tecnologia

Social de Educação para o

Desenvolvimento Humano

pela Arte.

[Simone André – Coordenadora do Programa de

Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]