Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    1/40

     

    UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

    Rodolfo Daniel Garcia

    CRISE POLÍTICA E ATIVISMO JUDICIAL ELEITORAL

    CURITIBA

    2010

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    2/40

     

    Rodolfo Daniel Garcia

    CRISE POLÍTICA E ATIVISMO JUDICIAL ELEITORAL

    Trabalho de Monografia, apresentado ao Curso deDireito da Faculdade de Ciências Jurídicas daUniversidade Tuiuti do Paraná, como requisitoparcial para a obtenção do grau de bacharel.Orientadora: Prof.ª Thais Santi Cardoso da Silva.

    CURITIBA2010

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    3/40

     

    TERMO DE APROVAÇÃO

    Rodolfo Daniel Garcia

    CRISE POLÍTICA E ATIVISMO JUDICIAL ELEITORAL

    Este Trabalho de Monografia foi julgado e aprovado como requisito parcial para obtenção do grau deBacharel em Direito perante a Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

    Curitiba, ____ de _____________ de 2010.

    Prof.º Dr. Eduardo de Oliveira Leite

    Coordenador de Monografia do Curso de DireitoUniversidade Tuiuti do Paraná

    Orientadora: 

    Prof.ª Thais Santi Cardoso da SilvaCurso de Direito – Universidade Tuiuti do Paraná 

    Banca Examinadora:

    Prof.º Drº.Curso de Direito – Universidade Tuiuti do Paraná 

    Prof.º Drº.Curso de Direito – Universidade Tuiuti do Paraná 

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    4/40

     

     Agradeço primeiramente a Deus, pela condução e pela luz.

    Nesta Terra ninguém mais merece meus agradecimentos queMaria de Lourdes Oliveira, mãe que mesmo longe em distância

     presente em amor, orações e lágrimas. Aos meus irmãos e irmãs que tanto amo.

    E por fim aos amigos e companheiros de batalha.Obrigado!

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    5/40

     

    RESUMO

    O objeto deste trabalho e analisar a crise política nacional e sua influência nasdecisões judiciais no âmbito do Direito Eleitoral. Discute-se com base emdoutrinadores que defendem a atuação do Poder Judiciário de forma política, e dedoutrinadores críticos deste atuar. Como fonte utiliza a pesquisa bibliográfica.Mostra-se relevante este estudo diante da influencia que o resultado das decisõesproferidas exerce na vida dos indivíduos e da sociedade como um todo.

    Palavras-chave: justiça eleitoral, crise política, ativismo judicial, princípiosconstitucionais.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    6/40

     

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................07

    2 PODER POLÍTICO................................................................................................09

    2.1 CONCEITO .......................................................................................................09

    2.2 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO..........................................................................10

    2.3 SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO ...............................................................13

    2.3.1 Sistema majoritário de representação.........................................................12

    2.3.2 Sistema proporcional de representação......................................................13

    2.4 MANDATO ELETIVO ........................................................................................13

    3 JUSTIÇA ELEITORAL..........................................................................................15

    3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................15

    3.2 ORGANIZAÇÃO................................................................................................16

    3.3 COMPETENCIA................................................................................................17

    3.4 PODER REGULAMENTAR DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL .............19

    4 CRISE POLÍTICA..................................................................................................23

    4.1 TRANSFORMAÇÕES DA DEMOCRACIA.......................................................23

    4.2 CRISE DO POSITIVISMO E SUGIMENTO DO ATIVISMO JUDICIAL ............24

    5 ATIVISMO JUDICIAL ELEITORAL .......................................................................275.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ...........................................................................27

    5.2 LEGITIMIDADE DAS DECISÕES ....................................................................28

    5.3 ANÁLISE DE CASO: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

    ELEITORAL N° 31.942 (AGR-RESPE N.º O31.942/PR) “CASO BELINATI” ............30

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................35

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................38

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    7/40

    7

    1. INTRODUÇÃO

     A atuação da Justiça Eleitoral pátria atualmente tem ocupado um papel de

    destaque nas discussões acerca da atuação ativa dos Tribunais Superiores nas

    questões de suma importância na vida da sociedade.

    Uma alternativa a atuação jurisdicional, positivista, onde o magistrado atuava

    pura e simplesmente como a boca da lei, atualmente busca-se uma adequação da

    atuação dos magistrados à função social que de fato pretende o ordenamento

    constitucional.

    Da mesma sorte, surge à preocupação com relação a este atuar ativo, pois

    atualmente ocupa proporções bem maiores que em outras épocas, e assim sendo

    acaba por representar uma ameaça ao sistema político representativo, bem como as

    instituições constitucionais pátrias.

    Com relação à atuação da Justiça Eleitoral a discussão alcança proporções

    maiores, pois intimamente relacionada à vida e ao futuro de uma nação, haja vista

    suas decisões muitas das vezes decidem que candidatos poderão concorrer ao

    pleito (no caso de deferimento ou não do registro da candidatura), de que maneira

    essa disputa se dará (quanto á questão das propagandas eleitoral, forma, e tempo

    de cada candidato) e até mesmo se o vencedor assumirá ou não o cargo mesmo

    após haver sido eleito e até diplomado (quando da decisão acerca das ações da

    Impugnação do mandado Eletivo os candidatos eleitos e diplomados).Diante da importância das decisões dos Tribunais Superiores, surge a

    preocupação com decisões que eventualmente podem não respeitar precedentes

    das próprias Cortes, ou até decidir desrespeitando a supremacia dos votos, ou seja,

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    8/40

    8

    decisões tendenciosas, ou políticas no sentido avesso a atuação política defendida

    por Peter Häberle1, quando trata da interpretação aberta da Constituição.

     Assim sendo mostra-se de suma importância, e em resposta a crise política,

    das instituições e dos órgãos gestores do poder estatal, de representação,

    instaurada no país, uma postura ativista dos magistrados, visando à realização dos

    preceitos fundamentais presentes na Carta Magna, contudo com observância dos

    princípios constitucionais nela presentes, visando resguardar a lisura das eleições, e

    de todo processo eleitoral.

    Pretende-se ao final demonstrar de maneira rasa, tal qual característica dos

    trabalhos desta natureza, por meio de uma análise do desenvolvimento da política,

    suas formas de organização, e manifestação, do atuar da Justiça Eleitoral, bem

    como em que elementos se apóiam alguns doutrinadores defensores ou críticos do

    ativismo judicial, sua legitimidade pautada em seu discurso, por fim tema tão

    polêmico e controvertido, e que da forma como se desenvolve continuará em

    evidência por mais alguns anos, bem como presentes nas discussões acadêmicas,

    sociológicas, jurídicas e da opinião publica.

    1 Idéia defendida em seu livro traduzido por Gilmar Ferreira Mendes, Hermenêutica Constitucional em

    que defende uma interpretação pluralista e procedimental da Constituição.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    9/40

    9

    2. PODER POLÍTICO

    2.1 CONCEITO

    O professor José Afonso da Silva conceitua o poder político como sendo,

    “inerente ao grupo, que se pode definir como uma energia capaz de coordenar e

    impor decisões visando à realização de determinados fins”. (SILVA, 2007, p. 107)

    O poder de forma geral é algo latente a todas as formas de organização

    social. No dizeres do professor Celso Ribeiro Bastos “sem o poder não existiria

    ordem, organização dentro de uma sociedade e essa rumaria ao caos, pois o poder

    é natural em qualquer tipo de sociedade”. (BASTOS, 2002, p. 89)

    Neste sentido, o poder político soberano é indispensável para a vida em

    sociedade, e para a organização do Estado, pois este é compreendido de vários e

    distintos grupos sociais, e a estes o poder político, tem que coordenar e impor regras

    e limites, em funções dos fins globais que o Estado cumpre realizar.2 

    O poder político e essencial para que se constitua um Estado, como define o

    professor Paulo Bonavides, “o poder representa sumariamente aquela energia

    básica que anima a existência de uma comunidade humana num determinado

    território, conservando-a unida, coesa e solidária”. (2000, p. 106)

    Nos dizeres de Carlos Ari Sundfeld, “a peculiaridade do poder do Estado

    (poder político) é, de um lado, o basear-se no uso da força física e, de outro, oreservar-se, com exclusividade, o uso dela”. (2006, p.21).

    2 Segundo leciona o Professor José Afonso da Silva, em seu livro Comentário Contextual àConstituição, deste fato decorrem as três características fundamentais do poder político: unidade,indivisibilidade e indelegabilidade. (2009, p. 43).

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    10/40

    10

     Assim sendo, a gestão da coisa pública (política), esta estreitamente ligada

    às formas de como é organizado o exercício do poder político nos Estados, o que

    analisaremos em especial como é exercido no Brasil.

    2.2 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO

     A forma de organização do Poder em um Estado determina de fato como o

    mesmo será exercido.

    Como assinala Paulo Bonavides (2000), Montesquieu, distinguiu em cada

    Estado três sortes de poderes, sendo eles o poder Legislativo, Executivo e

    Judiciário. Esta era a forma de contenção do poder pelo próprio poder.

    Segundo Paulo Bonavides ao elencar a classificação feita por Aristóteles,

    cita ser a monarquia3  a primeira das formas no que diz respeito ao número de

    pessoas que exercem o poder soberano, representa o poder de um só, ou seja,

    concentram-se na pessoa do monarca as três sortes de poderes. Com relação à

    forma aristocracia, significa o governo de alguns, o governo dos melhores. E por fim

    como terceiro tipo de governo, contido nessa classificação, corresponde a

    democracia, governo que deve atender na sociedade os reclamos de conservação e

    observância dos princípios de liberdade e igualdade.

    Na definição de José Afonso da Silva (2009), a forma pela qual o povo

    participa do poder dá origem a três tipos de democracia, qualificadas como direta,indireta ou representativa e semidireta4.

    3 A monarquia caracteriza-se pela ascensão automática, hereditária e vitalícia ao trono.4 Em seu Curso de Direito Constitucional Positivo (2009, p. 136), explica ser a democracia diretaaquela em que o povo exerce, por si, os poderes governamentais, fazendo leis, administrando e

     julgando; Democracia indireta ou representativa outorga as funções de governo aos seusrepresentantes, que elege periodicamente; e por fim a semidireta, é a representativa com alguns

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    11/40

    11

    Como decorrência do sistema de tripartição e separação do poder,

    observaremos os seguintes sistemas de governo do Estado, quais sejam o governo

    parlamentar, governo presidencial e governo de assembléia. A definição de cada

    forma de governo é citada por Paulo Bonavides como:

    O governo parlamentar, sob a legítima inspiração do princípio da separaçãode poderes, é aquela forma que se assenta fundamentalmente na igualdadee colaboração entre executivo e o legislativo, e como tal foi concebido epraticado da fase áurea do compromisso liberal entre monarquia, presa aosaudosismo as idade absolutista, e a aristocracia burguesa da revoluçãoindustrial, ligada mais a teórica que efetivamente às novas idéiasdemocráticas.O governo presidencial, segundo as regras técnicas do rito constitucionalresulta num sistema de separação rígida dos três poderes: o executivo, olegislativo e o judiciário, ao passo que o regime convencional se toma como

    um sistema de preponderância da assembléia representativa, em matéria degoverno. Daí a designação que também recebeu de “governo deassembléia”. (2000, p.197)

    Portanto sistemas de governo são técnicas que regem as relações entre

    Poder Legislativo e o Poder Executivo o exercício das funções governamentais.

    Segundo José Afonso da Silva, é “o modo como se estabelece esse relacionamento,

    de sorte a preponderar maior independência ou maior colaboração entre eles, ou

    combinação de ambos numa assembléia que dá origem aos três sistemas básicos”.

    (2006, p. 505)

    Nos dizeres de Carlos Ari Sundfeld, “a separação de órgãos (Poderes),

    corresponde uma distinção de atividades (funções), que produzem diferentes atos,

    como segue: Poder Legislativo – função legislativa – lei; Poder Executivo – função

    administrativa (ou Governo) – ato administrativo; Poder Judiciário – função

     jurisdicional (ou justiça) – sentença”. (2006, p. 43)

    institutos de participação direta o povo em funções de governo, institutos que entre outros, integram ademocracia participativa.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    12/40

    12

     Assim é possível concluir, com fulcro no artigo 1.º da Constituição Federal

    de 1988, que o Brasil é uma República, democrática representativa, com pluralismo

    político partidário, com sistema de governo presidencialista.

    Como afirma Eneida Desirre Salgado, “a Constituição Brasileira de 1988 traz

    uma concepção de democracia, com contornos singulares, que se marca

    profundamente pelas noções de liberdade e igualdade, pela soberania popular e

    pelo pluralismo político”. (2010, p. 31)

    2.3 SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO

    Como vimos o Brasil adota o regime democrático representativo, neste

    sentido vale frisar que esta democracia pressupõe um conjunto de instituições que

    disciplinam a participação popular no processo político.

    Essa representação se desdobra em dois sistemas eleitorais em nosso país,

    expressos na Carta Magna, são eles o sistema majoritário de representação na

    eleição de senadores e titulares do executivo e o sistema proporcional na escolha

    dos ocupantes do legislativo municipal, estadual e federal, ou seja, os vereadores e

    os deputados.

    2.3.1 Sistema majoritário de representação

    O sistema majoritário de representação prevalece na eleição de presidente e

    vice-presidente da República, governadores e vice-governadores dos Estados e na

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    13/40

    13

    eleição direta de senadores federais e seus suplentes, prefeitos municipais e vice-

    prefeitos5.

    Como pontua Paulo Bonavides, “o eleitor não vota numa idéia ou num

    partido, em termos abstratos, mas em pessoas com respostas ou soluções objetivas

    a problemas concretos de governo”. (BONAVIDES, 2000, p. 249.)

    2.3.2 Sistema proporcional de representação

    O sistema proporcional, por sua vez e utilizado nas eleições para a Câmara

    dos Deputados, Assembléias Legislativas e Câmaras dos Vereadores, no âmbito

    municipal6.

     Ao contrário do sistema majoritário, este sistema é marcado pela reflexão

    sobre a diferenciação dos grupos ideológicos, e por assim ser, confere as minorias

    igual ensejo de representação de acordo com sua força quantitativa.

    Os sujeitos, candidatos aos cargos políticos, que sagram-se eleitos, tanto no

    sistema majoritário, quanto no sistema proporcional, recebe um mandato para ser

    cumprido.

    2.4 MANDATO ELETIVO

    Existem duas formas de mandato, são eles o mandato representativo e omandato imperativo. O mandato representativo é coerente com a soberania

    5  Neste sistema o candidato eleito será aquele que individualmente atingir o maior número de votosna circunscrição eleitoral que representará.6  Neste sistema, os partidos elegerão tantos representantes, quantas vezes a totalidade de seussufrágios contenham o quociente eleitoral. Como ensina Paulo Bonavides “o quociente eleitoralconsiste na divisão do número de votos válidos na circunscrição ou pais pelo de mandatos a seremconferidos.” (2000, p.253)

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    14/40

    14

    nacional, segundo Paulo Bonavides, “a nação se exprime, portanto através dos

    representantes, invioláveis no exercício de suas prerrogativas soberanas como

    legisladores que são; titulares de um mandato que não fica preso às limitações ou

    dependências de nenhum colégio eleitoral particular ou circunscrição territorial”.

    (2000, p. 260.)

    Portanto, podemos concluir que o mandato representativo, guarda em si as

    seguintes características, quais sejam a generalidade, a liberdade, a irrevogabilidade

    e a independência.

    De outra sorte, o mandato imperativo, é aquele que sujeita as vontades do

    mandatário à vontade do mandante, e assim sendo, transforma o eleito em simples

    depositário da confiança do eleitor. Nas palavras de Paulo Bonavides, “equivale a

    um acordo de vontades ou a um contrato entre eleito e eleitor e “politicamente” ao

    reconhecimento da supremacia permanente do corpo eleitoral, é a mais técnica das

    formas absolutas de poder, quer monárquico, quer democrático, do que em verdade

    instrumento autêntico do regime representativo.” (2000, p. 262)

    Desta feita, tanto no regime representativo semidireto, como na democracia

    semidireta, o mandato imperativo é acolhido, diante do domínio que o eleitor passa a

    exercer sobre o representante, ainda que este domínio seja apenas de cunho moral

    e político.

    Conclui-se, portanto, diante da importância que guarda em si a eleição de

    um indivíduo integrante da sociedade, para representar essa mesma sociedade,mostra-se essencial, uma fiscalização e um controle das regras deste “jogo”, para

    que ao final se tenha um mandato que represente a legítima e dominante vontade

    dos demais indivíduos representados.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    15/40

    15

    3. JUSTIÇA ELEITORAL

    3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

    O Poder Judiciário, terceiro Poder do Estado, tem por função compor

    conflitos de interesses em cada caso concreto. Na definição de José Afonso da

    Silva, “isso é o que se chama de função jurisdicional, ou simplesmente jurisdição,

    que se realiza por meio de um processo judicial, dito, por isso mesmo, sistema de

    composição de conflitos de interesses, ou sistema de composição de lides”. (SILVA,

    2006, p. 500).

    Todavia a Justiça Eleitoral pode ser classificada como sui generis, pois tanto

    seu surgimento quanto sua organização se dá de maneira diversa das demais

    Justiças, tais como Estadual, Federal ou do Trabalho.

     A Justiça Eleitoral foi instituída no Brasil, pelo Código Eleitoral de 1932,

    expedida pelo regime de exceção de Getulio Vargas, em nível infraconstitucional

    pelo Decreto n.º 21.076 de 1932, cujas atribuições não se limitariam apenas aos

     julgamentos dos dissídios judiciais, mas adentraria nos aspectos administrativos, de

    organização, fiscalização e execução das eleições. Ou seja, confiou a um poder

    desinteressado, a licitação de acesso aos mandatos eletivos, tornando mais

    equilibrado a disputa. Por fim a Justiça Eleitoral foi erigida ao patamar constitucional,

    como órgão do Poder Judiciário, na constituição Federal promulgada em 16 de julhode 1934.

    Como elucidam as palavras de Marcos Ramayana:

    É imperativo notar que a periodicidade e sucessividade das eleiçõesimplicam uma impostergável necessidade de salutar organizaçãopermanente e extremamente funcional da Justiça Eleitoral, dos partidospolíticos, bem como do Ministério Público Eleitoral, instituições democráticas

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    16/40

    16

    diretamente responsáveis pela higidez do sufrágio universal, através dosquais os cidadãos são os grandes protagonistas, juntamente com oselegíveis no cenário brasileiro. (2008, p. 15)

     A Justiça Eleitoral, nos dizeres de Adriano Soares da Costa, “é o órgão

     jurisdicional, concebido com a finalidade de cuidar da organização, execução e

    controle dos processos de escolha dos candidatos a mandatos eletivos (eleições),

    bem como dos processos de plebiscito e referendo”. (2008, p. 245)

    Como assevera o Professor Armando Antonio Sobreiro Neto, direito eleitoral

    constitucional, “Fonte primária do direito eleitoral, a Constituição Federal é base de

    todo o sistema que contempla o Estado Democrático de Direito, fundado narepresentação e soberania popular.” (2002, p.22)

    3.2 ORGANIZAÇÃO

     A organização e competência da Justiça Eleitoral são determinadas por lei

    complementar conforme disposição do artigo 121 da Constituição Federal de 1988.

    Todavia a própria Carta Magna, estampa uma estruturação básica em seu artigo

    118, qual seja ser composta por um Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de Tribunais

    Regionais (TRE), de Juízes Eleitorais e de Juntas Eleitorais.

    O TSE é composto de sete membros escolhidos mediante eleição pelo voto

    secreto, três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), dois

     juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), dois juízes por

    nomeação do Presidente da República e os outros dois juízes, dentre seis

    advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo STF,

    conforme artigo 119 da CF/88.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    17/40

    17

    Já os Tribunais Regionais Eleitorais, um na Capital de Cada Estado e no

    Distrito Federal, são compostos também mediante eleição, pelo voto secreto de dois

     juízes, dentre os desembargadores do tribunal de Justiça, de dois juízes dentre

     juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça, de um juiz do Tribunal Regional

    Federal (TRF) com sede na Capital do Estado ou do Distrito Federal, ou se não

    haver, de um Juiz Federal, escolhido em qualquer caso, pelo TRF respectivo, e por

    fim os dois últimos juízes, nomeados pelo Presidente da República, dentre seis

    advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral indicados pelo Tribunal de

    Justiça, previstos no artigo 120 da CF/88.

    Os juízes eleitorais são os próprios juízes de direito da organização judiciária

    dos estados ou do Distrito Federal e as juntas eleitorais são presididas por juízes

    eleitorais, conforme expõe José Afonso da Silva, “a Constituição não mais lhes

    indica a composição nem as atribuições, remetendo o assunto à lei complementar”.

    (2006, p.582)

    Os juízes eleitorais investidos temporariamente nas zonas eleitorais são de

    primeira instância ou grau de jurisdição e servem por um biênio, de suas decisões

    caberá recurso ao TRE.

    Já à Junta Eleitoral, cabe a nobre missão de expedir os diplomas aos eleitos

    nas eleições municipais.

    3.3 COMPETÊNCIA

     A competência da Justiça Eleitoral envolve questões compreendidas na fase

    do alistamento eleitoral, convenções, registro de candidaturas, propaganda política

    eleitoral e partidária.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    18/40

    18

    Também são de sua competência a fiscalização da votação, a apuração e

    diplomação dos candidatos, além de competir e fiscalizar a prestação de contas

    anuais dos Partidos Políticos.

    Cabe a Justiça Eleitoral o controle da legitimidade do processo eleitoral. De

    um modo geral a Justiça Eleitoral, com base e observância em seus princípios e

    regras, visa preservar a lisura das eleições, e a garantia de que o mandato obtido no

    final desse processo é fruto da escolha autentica do eleitor, pois eleições

    corrompidas e usadas como vasto campo para realização de crimes e abusos do

    poder econômico ou político atingem diretamente a soberania popular tutelada no

    art. 1.º, parágrafo único, da Constituição Federal, que preceitua, “Todo poder emana

    do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos

    termos desta Constituição”.

    Neste sentido, observa-se que a justiça eleitoral, e os órgãos responsáveis

    pela sua concretude, devem atuar visando realizar o contido no artigo 23 da lei

    Complementar n.º 64, de 18 de Maio de 1990 (Lei das Inelegibilidades), que

    prescreve, “O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos

    públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para

    circunstancias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas pares, mas que

    preservem o interesse público da lisura eleitoral”. [grifo nosso]

     A importância da lisura eleitoral paira no fato de ser por meio das eleições

    que, nas democracias representativas o povo, segundo ensinamento de José Afonsoda Silva, “participa na formação da vontade do governo”. (2006, p. 368)

    Por assim ser, podemos dizer que à Justiça Eleitoral cabe o papel de

    garantir a própria Democracia em nosso país, pois visa garantir a forma onde mais

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    19/40

    19

    se percebe seu exercício, qual seja o pleno exercício da cidadania, votar e ser

    votado.

    Portanto, conclui-se que a Justiça Eleitoral, no desempenho de seu papel

    constitucional, revela-se instrumento de manutenção do Estado Democrático de

    Direito, porquanto guardiã dos primados democráticos delineados na nossa Carta

    Magna e responsável pela administração do processo eleitoral. (2002, p.50).

    Como bem define Marcos Ramayana, “cumpre à Justiça Eleitoral a nobre

    missão de resguardar a democracia e o estado Democrático, nos moldes do

    disposto no art. 1.º e incisos da Constituição Federal, efetivando, praticamente, a

    soberania popular, a cidadania e o pluralismo político como princípios fundamentais

    trilhados pelo legislador-constituinte”. (2008, p. 76)

    Diversas são as competências da Justiça Eleitoral, tanto as administrativas,

    tais como organização administrativa das zonas eleitorais, locais destinados à

    votação, apuração, funcionários e o próprio alistamento eleitoral de natureza

    declaratória administrativa, quanto às atinentes ao poder regulamentar do Tribunal

    Superior Eleitoral. Passaremos a análise desta ultima, em virtude de sua importância

    e de suas peculiaridades.

    3.4 PODER REGULAMENTAR DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

    É da competência do Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar,originariamente, o registro e a cassação do registro de partidos políticos e dos seus

    diretórios nacionais, bem como registro e a cassação dos candidatos a cargos

    eletivos de presidente e vice-presidente da república.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    20/40

    20

    Sua atuação está diretamente ligada ao Direito Eleitoral, que segundo

    Procurador de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Marcos Ramayana é definido

    como sendo:

    Um conjunto de normas jurídicas que regulam o processo de alistamento,filiação partidária, convenções partidárias, registros de candidaturas,propaganda política eleitoral, votação e apuração, proclamação dos eleitos,prestação de contas de campanhas eleitorais e diplomação, bem como asformas de acesso aos mandatos eletivos através dos sistemas eleitorais.(2008, p. 26)

    Como citado anteriormente, o poder regulamentar do TSE, guarda em sua

    origem o fato de que o Poder Legislativo, ao editar as leis em matéria eleitoral, deixa

    sempre uma substanciosa margem de complementariedade afeta ao poder

    regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral.

     Antes de se analisar como se dá a atuação regulamentar do TSE, se é

    necessário conceituar doutrinariamente regulamento, suas peculiaridades, funções e

    limites.

    Segundo Celso Antonio Bandeira de Mello pode se conceituar regulamento

    em nosso Direito “como ato geral e de (regra) abstrato, de competência privativa do

    Chefe do Poder Executivo, expedido com a estrita finalidade de produzir as

    disposições operacionais uniformizadoras necessárias à execução de lei cuja

    aplicação demande atuação da Administração Pública”. (2008, p. 337)

    Os regulamentos ao contrário da lei, não inovam na ordem jurídica, ou seja,

    é fonte secundária do Direito, inferior e subordinado em relação à lei. Como bem

    pontuado por Hely Lopes Meirelles, “as leis que trazem recomendação de serem

    regulamentadas não são exeqüíveis antes da expedição do decreto regulamentar,

    porque esse ato é conditio júris da atuação normativa da lei.” (2008, p.131)

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    21/40

    21

    Neste sentido, os regulamentos, estão previstos na Constituição Federal, em

    virtude de o cumprimento de determinadas leis pressuporem uma interferência dos

    órgãos da Administração Pública para aplicar o que na mesma está disposto,

    conforme assiná-la o já citado professor Bandeira de Mello, “sem, entretanto,

    predeterminar exaustivamente, isto é, com todas as minúcias, a forma exata da

    atuação administrativa pressuposta.” (2008, p. 345)

     Assim sendo os regulamentos não poder extrapolar sua finalidade para além

    da edição de regras que indiquem a maneira de ser observada e executada a regra

     jurídica, ou seja, produzir normas requeridas para que seja executada a lei que dela

    decorrer.

    Este poder regulamentar que detém o TSE é uma marcante característica da

    legislação eleitoral atualmente em nosso ordenamento jurídico. O Poder Legislativo,

    ao editar as leis em matéria eleitoral, deixa sempre uma substanciosa margem de

    complementariedade afeta ao poder regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral.

    O poder regulamentar conforme pontuação de Marcos Ramayana está

    disciplinado “nos artigos 23, inciso IX, que trata da expedição de instruções

    convenientes à execução do Código Eleitoral, bem como da legislação eleitoral lato

    sensu, art. 1.º, parágrafo único, ambos do Código Eleitoral, e nas leis especificas

    que disciplinam as eleições, v.g., art. 105 da Lei n.º 9.504/97.” (2008, p. 88)

     A maneira como se processa o poder regulamentar, em matéria eleitoral, é

    através de resoluções e instruções, que devem situar-se secundum e praeter legem,

    sob pena de invalidação, ou seja, deve destinar-se a execução da lei eleitoral, e não

    pode extrapolar os termos do que nela se dispõe.

    Precisamente definida por Hely Lopes Meirelles, resoluções são:

     Atos administrativos normativos expedidos pelas altas autoridades doExecutivo (mas não pelo Chefe do Executivo, que só deve expedir

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    22/40

    22

    decretos) ou pelos presidentes de tribunais, órgãos legislativos ecolegiados administrativos, para disciplinar matéria de sua competênciaespecífica. Por exceção admitem-se resoluções individuais.

     As resoluções, normativas ou individuais, são sempre atos inferiores aoregulamento e ao regimento, não podendo inová-los ou contrariá-los, masunicamente complementá-los e explicá-los. (2008, p.185)

    O artigo 105 da LEI 9504/97, fixa prazo para que o TSE expeça as

    resoluções necessárias a executoriedade da lei, determinando haja audiência

    pública, onde serão ouvidos os delegados dos partidos políticos participantes do

    pleito eleitoral subseqüente, vejamos:

     Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior

    Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ouestabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todasas instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, emaudiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos.

     Adriano Soares da Costa, acerca da audiência pública, esclarece

    que:

    Como até essa data não terá havido ainda a escolha de candidatos emconvenção partidária, não se poderá saber quais os partidos participantes

    do pleito, de modo que da audiência pública podem participar todos queestejam regularizados, ainda que provisoriamente, com aptidão paraconcorrer aos cargos eletivos através de seus filiados. (2008, p. 629)

    De suma importância, ressaltarmos que todas as leis eleitorais são

    complementadas por resoluções do TSE, todavia, este poder regulamentar esta,

    “interligado ao teor legiferante das próprias leis, não podendo ser contra, mas

    apenas praeter e secundum legem”. (RAMAYANA, 2008, p. 90)

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    23/40

    23

    4. CRISE POLÍTICA

    4.1 TRANSFORMAÇÕES DA DEMOCRACIA

    Nas palavras de Paulo Bonavides, “a democracia decaída se transfaz em

    demagogia, governos das multidões rudes, ignaras e despóticas”. (2000, p. 194)

    De suma importância para analisar o momento por que passa a democracia

    no Brasil, é analisar a própria transformação ocorrida com esta hodiernamente. Nas

    palavras de Norberto Bobbio, “a democracia nasceu de uma concepção

    individualista da sociedade, isto é, da concepção para qual a sociedade, qualquer

    forma de sociedade, e especialmente a sociedade política, é um produto artificial da

    vontade dos indivíduos”. (2002, p. 34)

     A doutrina democrática funcionaria como imaginada no seu início, tendo por

    base um Estado sem corpos intermediários, ou seja, uma sociedade política

    composta pelo povo soberano, soma de todos os indivíduos, e entre esses e seus

    representantes, não havia sociedades particulares.

    Contudo, conforme explica Norberto Bobbio (2002) mais adiante em sua

    obra, ocorrerá o oposto nos Estados democráticos, pois os sujeitos politicamente

    relevantes tornaram-se grupos, organizações, associações, sindicatos e partidos, ou

    seja, alterou-se substancialmente sua forma como originariamente fora pensado7.

    Neste ínterim, convém anotar que o nosso Estado assegura os valores deuma sociedade pluralista, fundamentado no pluralismo político.

    O pluralismo político também contribui de certa forma para o

    desenvolvimento da crise política nacional. Nas palavras de José Afonso da Silva

    7 O autor em sua obra dá ênfase ao fato de serem os grupos e não mais os indivíduos osprotagonistas da vida política em uma sociedade democrática.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    24/40

    24

    (2006), optar por uma sociedade pluralista significa acolher uma sociedade conflitiva,

    de interesses contraditórios e antinômicos, e este acaba por se tornar um problema,

    conforme expõe:

    O problema do pluralismo está precisamente em construir o equilíbrio entreas tensões múltiplas e por vezes contraditórias, em conciliar a sociabilidadee o particularismo, em administrar os antagonismos e evitar divisõesirredutíveis. (2006, p. 143)

    Diante do exposto, ainda que de maneira rasa, podemos observar que a

    soma destes fatos e fatores, dentre outros, imprimiram as transformações ocorridas

    na democracia representativa em nosso Estado nos dias atuais. Como

    conseqüências de toda essa problemática surgem inúmeras demandas a serem

    resolvidas pelo poder Executivo e Legislativo, que ineficientes, ao falharem fazem

    nascer em seus representados um sentimento de desconfiança, insatisfação e

    descrédito, “fenômeno da apatia política, que freqüentemente chega a envolver

    cerca de metade dos que têm direito ao voto”. (BOBBIO, 2002, p.45)

    4.2 CRISE DO POSITIVISMO E SURGIMENTO DO ATIVISMO JUDICIAL

    Como resposta a crise política, ou seja, “lentidão que os complexos

    procedimentos de um sistema político democrático impõem a classe política no

    momento de adotar as decisões adequadas” (BOBBIO, 2002, p. 48), surge o

    ativismo judicial, ou  judicialização, nos dizeres do Professor Luis Roberto Barroso,

    significa:

    Que algumas questões de larga repercussão política ou social estão sendodecididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas instâncias políticastradicionais: o Congresso Nacional e o Poder Executivo – em cujo âmbito seencontram o Presidente da República, seus ministérios e a administraçãopública em geral. Como intuitivo, a judicialização envolve uma transferência

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    25/40

    25

    de poder para juízes e tribunais, com alterações significativas na linguagem,na argumentação e no modo de participação da sociedade8.

    Desta feita, observa-se claramente, ser resposta ao problema da crise do

    positivismo, que se “preso a uma esfera puramente normativa, não pode ser apenas

    lei de arbitragem, pois precisa influir na realidade social”. (SILVA, 2006, p.121)

    Neste mesmo sentido, o professor Eros Roberto Grau, ao criticar o

    positivismo, e a própria lei, assevera:

     A lei para a grande maioria da população, nas sociedades latino-americanas, é um dado de pura abstração, inteiramente dissociado darealidade na qual imersa essa maioria. Em nada, absolutamente em nada

    contribui a legalidade, enquanto apenas expressão formal do Estado deDireito, para alterar as condições sociais de existência dos economicamentedesprivilegiados, no modo de produção capitalista. (2005, p. 169)

     As necessidades atuais, bem como a crise política, ou seja, a inércia do

    poder executivo e especialmente do legislativo, com relação aos assuntos que

    interessa a toda nação, mas em muitos casos não aos membros deste poder,

    merece atenção a situação em que se encontra o sistema político representativo,

    inegavelmente envolto em uma crise política, conforme expõe Luana Paixão Dantas

    do Rosário9:

    Uma das causas que mais influenciam a expansão da jurisdiçãoconstitucional no campo das decisões políticas é a paulatina perda delegitimidade do processo político. A complexidade do debate político, opoder econômico, a falta de locais para o debate público, bem como osmeios de informação são algumas das razões para a perda de legitimidadedos representantes populares. (2008) 

    8  BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. Disponívelem . Acesso em12/07/2010. 9  ROSÁRIO, Luana Paixão Dantas do. POLITIZAÇÃO E LEGITIMIDADE DISCURSIVA DOJUDICIÁRIO NA DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL. Trabalho publicado nos Anais do XVIICongresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de2008.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    26/40

    26

     A junção destes fatos e da situação tem feito com que o Poder Judiciário, no

    intuito de concretizar os preceitos e princípios constitucionais, atue de maneira ainda

    mais política, o que comumente é dado o nome de “Ativismo Judicial”.

    O que vem a ser, nos dizeres do Professor Luis Roberto Barroso, uma

     judicialização da política, no exato momento em que as instâncias políticas já não

    respondem satisfatoriamente às aspirações sociais na concretização dos valores e

    das finalidades da Constituição10.

    Importante frisar que o positivismo impõe um limite à atuação daqueles

    ocupantes dos poderes que organizam o Estado, e por assim ser, imprime a todos

    os indivíduos seu respeito e sua observância. Contudo, esta mesma lei (ainda que

    inexistente formalmente) deverá “realizar o princípio da igualdade e da justiça não

    pela sua generalidade, mas pela busca da igualização das condições dos

    socialmente desiguais”. (SILVA, 2006, p.121)

    10  BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Disponível em .

     Acesso em 12/07/2010.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    27/40

    27

    5. ATIVISMO JUDICIAL ELEITORAL

    5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

    Nos dias atuais, como destaca Luis Roberto Barroso:

     A complexidade da vida contemporânea, tanto no espaço público como noespaço privado; o pluralismo de visões, valores e interesses que marcam asociedade atual; as demandas por justiça e pela preservação e promoçãodos direitos fundamentais; as insuficiências e deficiências do processopolítico majoritário – que é feito de eleições e debate público; enfim, umconjunto vasto e heterogêneo de fatores influenciaram decisivamente omodo como o direito constitucional é pensado e praticado. (2009, p. 266)

    Estes fatores ocasionaram um grande choque sobre a hermenêutica

     jurídica11, bem como sobre a interpretação constitucional. Esta mudança na forma

    acaba por influenciar em todos os ramos do direito, e assim sendo, também o faz no

    âmbito do Direito Eleitoral, da atuação da Justiça Eleitoral.

    Diante da complexidade das questões que atualmente envolvem o processo

    eleitoral nacional, os Tribunais Regionais Eleitorais, e mais ainda o TSE, muitas das

    vezes se deparam frente a questões onde a lei não traz respostas prontas, e às

    vezes nem existe lei, no seu sentido clássico, qual seja elaborada pelo poder

    legislativo, o que por assim ser gera indefinição e críticas por parte da doutrina. Ou

    seja, a morosidade e ineficiência do poder legislativo, dentre outras questões que

    compõem a crise política atual e problemas do sistema representativo acaba por

    desembocar no judiciário, situações adversas e complexas.

     A atuação da Justiça Eleitoral, quando observada manifestação de maneira

    ativa, política, o é visando, na narrativa do professor Fávila Ribeiro:

    11 A hermenêutica jurídica, como explica Barroso (2009, p. 269) é um domínio teórico, especulativo,voltado para a identificação, desenvolvimento e sistematização dos princípios de interpretação doDireito.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    28/40

    28

    [...] garantir a eficiência de seus lançamentos operativos, aceitando osdesafios da realidade cultural, social, econômica e política, para escoimar asdistorções assestadas sobre o processo eleitoral.Há a necessidade de ora ampliar de ora ampliar a sua focalização para omacrossocial, ora reduzir a percepção para os aspectos microssociais, paraque possa impedir compativelmente, as injunções que assediam o processo

    eleitoral. 12

     

    Os defensores desta forma de atuação dos tribunais e cortes superiores no

    âmbito eleitoral reconhecem serem os meios tradicionais inadequados para

    combater de maneira eficiente os abusos praticados com o intuito de obter

    benefícios indevidos nos resultados das urnas, e por assim ser, mudanças são

    inseridas na ordem jurídica, e se as mesmas não o são pela via legislativa, o Poder

    Judiciário fica a cargo de sua realização por meio de suas decisões.

    5.2 LEGITIMIDADE DAS DECISÕES

     A legitimidade das decisões está no discurso, assim sendo se assenta na

    observância das regras do discurso racional, na construção do argumento verossímil

    que, tendo colhido os valores da comunidade e elaborado a sua escolha, tenha o

    potencial de despertar senão o consenso, algo próximo dele. Ou seja, a legitimidade

    democrática do Judiciário pode ser compreendida pelo viés do discurso, pela

    realização da finalidade ou conteúdo da Democracia, os Direitos Fundamentais, ou

    pelo viés da participação direta do cidadão no Poder Judiciário, considerado como

    espaço político. Deste modo, pode ser compreendida pela idéia de legitimidadediscursiva, da participação política e da representatividade discursiva.

    Este discurso que legitima as decisões apóia-se na interpretação

    constitucional, que conforme definição de Luis Roberto Barroso é “uma modalidade

    12  RIBEIRO, Fávila. Abuso de poder no direito eleitoral. 3.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 26.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    29/40

    29

    de interpretação jurídica e consiste na atividade de revelar ou atribuir sentido a

    textos ou outros elementos normativos lastreados na Constituição” (2009, p.398)

    Como assinalado por Adriano Soares da Costa, “a Constituição, como

    fundamento da validade do ordenamento jurídico positivo, veicula normas jurídicas,

    cuja linguagem padece de vagueza e ambigüidade”. (2008, p. 15)

    Para dar respostas as novas demandas, que decorrem da complexidade da

    vida moderna, foram “identificadas, desenvolvidas e aprofundadas categorias

    específicas, voltadas, sobretudo para a interpretação constitucional, que incluem: os

    conceitos jurídicos indeterminados, a normatividade dos princípios, a colisão de

    direitos fundamentais, a ponderação e a argumentação” (Barroso, 2009, p.399)

    Esta interpretação constitucional que legitima as decisões, como ensina

    Peter Häberle, “não é um evento exclusivamente estatal, seja do ponto de vista

    teórico, seja do ponto de vista prático. A esse processo têm acesso potencialmente

    todas as forças da comunidade política”. (2002, p. 23)

    Oportuno citar Luis Roberto Barroso, ao discorrer acerca da justiça, em seu

    sentido clássico e filosófico, sobre as possibilidades de alcançá-la, observemos:

    Nesse ambiente, nem sempre será possível falar em resposta correta paraos problemas jurídicos, mas sim em soluções argumentativas racionais eplausíveis. A legitimidade da decisão virá de sua capacidade de convencere conquistar adesão, mediante demonstração lógica de ser a que maisadequadamente realiza a vontade constitucional in concreto. (2009, p. 399)

    Pode se dizer, portanto, que a legitimidade das decisões esta em seu

    discurso. Podemos perceber nas palavras de Peter Häberle, concernente a um

    aumento na legitimação deste discurso, a necessidade da abertura a todos os

    indivíduos que compõem a sociedade, segue:

     Até pouco tempo imperava a idéia de que o processo de interpretaçãoconstitucional estava reduzido aos órgãos estatais ou aos participantesdireto do processo. Tinha-se, pois, uma fixação da interpretação

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    30/40

    30

    constitucional nos “órgãos oficiais”, naqueles órgãos que desempenham ocomplexo jogo jurídico-institucional das funções estatais. Isso não significaque se não reconheça a importância da atividade desenvolvida por essesentes. A interpretação constitucional é, todavia uma atividade que,potencialmente, diz respeito a todos. Os grupos mencionados e o próprioindividuo podem ser considerados interpretes constitucionais indireto ou a

    longo prazo. A conformação da realidade da Constituição torna-se tambémparte da interpretação das normas constitucionais pertinentes a essarealidade. (2002, p. 24)

    Diante do que, em poucas palavras se expos, podemos concluir que a

    ampliação do círculo dos interpretes e uma conseqüência da necessidade de

    interpretação, e é esta, que no discurso legitima as decisões. Neste sentido, e por ter

    uma influência muito maior e mais importante na vida da sociedade, a que se

    analisar cuidadosamente o atuar do Poder Judiciário de forma ativa, em especial da

    Justiça Eleitoral, pois tal atuação determina os rumos em que trilhará uma cidade,

    um estado da federação e até mesmo o país.

    5.3 ANÁLISE DE CASO: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

    ELEITORAL N° 31.942 (AGR-RESPE N.º O31.942/PR) “CASO BELINATI”

    O artigo 1.º da Lei Complementar 64 de 1990, prescreve as várias situações

    em que os cidadãos tornam-se inelegíveis. Todavia, veremos neste trabalho a

    discussão havida no ano de 2008, no TSE, referente à alínea “g”, do citado artigo,

    envolvendo o então prefeito e naquela época candidato a reeleição no Município de

    Londrina – PR, Antonio Casemiro Belinati.

     A discussão se deu no Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral N°

    31.942 (AgR-REspe n.º O31.942/PR)13, do Ministro Relator Marcelo Ribeiro, e onde

    conforme relatório dos autos do processo, trata-se de agravo regimental interposto

    pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) (fls. 1256-1259) em face da decisão de fls.

    13  COLOCAR SITE DO TSE E N. DO JULGADO.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    31/40

    31

    1249-1252, em que foi dado provimento ao recurso especial eleitoral interposto por

     Antônio Casemiro Belinati, deferindo o seu registro de candidatura ao cargo de

    prefeito do Município de Londrina/PR.

     Alega o MPE que o agravado teve suas contas rejeitadas pelo Tribunal de

    Contas do Estado do Paraná, por irregularidades insanáveis, em decisão que

    transitou em julgado em 20.7.2007, sem haver provimento judicial que suspendesse

    os efeitos do julgamento da Corte de Contas.

    Quando da análise do debate presente na discussão, podemos observar

    claramente, que há uma divergência na interpretação do dispositivo legal, e que

    alguns dos Ministros levaram em conta o momento em que se encontrava o pleito

    eleitoral, bem como aos precedentes da corte e outros não. Com relação à

    interpretação das normas, Adriano Soares da Costa, desta alguns aspectos, a

    seguir: 

    Há os que apreendem a interpretação como o processo de atribuição designificado aos enunciados, ou seja, como um processo individual, pessoal,

    de outorga de significação aos sinais gráficos estampados no papel. Oprocesso hermenêutico, todavia, não pode ser visto como um processoarbitrário, em que o interprete atribui como queira, significado ao textoanalisado. (2008, p. 5)

    Necessário frisar o importante fato de que a esta altura, o agravado já havia

    sido reeleito com 36.38% (98.432 votos) dos votos válidos em primeiro turno, e

    51.73% (138.926 votos) dos votos válidos em segundo turno14.

     A decisão, por maioria proveu o agravo regimental para manter o acórdão

    regional que negou registro à candidatura de Antonio Casemiro Belinati, nos termos

    do voto do Ministro Carlos Ayres Britto, Vencidos os Ministros Marcelo Ribeiro e

     Arnaldo Versiani.

    14  Disponível em acessado em 23/07/2010.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    32/40

    32

     A questão central deste interessante e caloroso debate se deu em razão do

    fato de o Tribunal de Contas do Estado do Paraná conceder efeito suspensivo a

    inelegibilidade nos ditames no artigo 1.º, inc. I, alínea “g”, da lei complementar 64/90,

    que prescreve:

     Art. 1.º São inelegíveis:I – Para qualquer cargo(...)g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funçõespúblicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível doórgão competente, salvo se a questão houver sido ou estiver sendosubmetida à apreciação do Poder Judiciário, para as eleições que serealizem nos 5 (cinco) anos seguintes, contados a partir da data da decisão.

    Nas palavras de Adriano Soares da Costa, “se o ordenador das despesas

    ingressar com alguma ação processual, atacando todos os pontos fundamentais da

    decisão administrativa que lhe negou aprovação das contas, a anexação da

    inelegibilidade é suspensa”. (2008, p. 160)

    No caso em comento, o então candidato ingressou com pedido liminar em

    ação administrativa rescisória no próprio Tribunal de Contas, e não na justiça,

    obtendo desta feita em liminar o deferimento do pedido de registro de candidatura.

    Importante destacar que até aquele momento a jurisprudência do TSE era no

    sentido de ser esta modalidade possível de afastar a inelegibilidade.

    Ou seja, naquele momento houve uma “virada de mesa” na jurisprudência

    do Tribunal Superior Eleitoral, desrespeitando os precedentes da corte alterando seu

    entendimento em um momento decisivo do pleito. Necessário trazer a crítica feita

    por Eneida Desirre Salgado em sua tese, vejamos: 

     A atuação do Tribunal Superior Eleitoral no alegado exercício de suacompetência de expedir instruções para a “fiel execução” execução dalegislação eleitoral, sem sede constitucional específica, retira a segurança

     jurídica e a previsibilidade das regras de disputa eleitoral, fundamental paraa configuração democrática de um regime político. No direito Eleitoral, braçoestrutural do Direito Constitucional, pela atuação da corte sustentada pelotribunal máximo, para persistir uma prática jurisdicional de construção da

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    33/40

    33

    regra pelo Poder Judiciário, sem respeito aos precedentes, sem coerência,sem consistência e sem unidade. Uma mistura pragmática (talvezesquizofrênica) entre comum law e civil law . (2010, p. 12)

    O saudoso Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, ressaltou a importância

    da questão, e de uma alteração de entendimento da Corte naquele momento,

    vejamos:

    Se o candidato se apóia na jurisprudência mansa e pacífica do Tribunal,para este agir, como é possível, às vésperas da eleição, alterarmos esseentendimento? É preciso considerar que, historicamente, o Tribunal sempredecidiu considerando o processo eleitoral em curso. É certo que a

     jurisprudência varia, mas varia de um processo eleitoral com relação a outroprocesso eleitoral. Ela não pode ser flexibilizada no mesmo processoeleitoral, sob pena de, com todo o respeito e com todas as vênias, gerarmos

    insegurança jurídica15.

    Preocupado com o princípio da segurança jurídica, e respeitando os

    precedentes o ministro concluiu, “todavia, pondero que, neste momento, a essa

    altura do processo eleitoral, não devemos, em nenhuma circunstância, alterar a

     jurisprudência do Tribunal”.

    Ou seja, ao final a decisão judicial prevaleceu ao resultado das urnas, pois

    mesmo tendo, o então candidato Antonio Casemiro Belinati, vencido o primeiro e

    segundo turno, houve novamente segundo turno (“terceiro turno” como

    popularmente foi chamado) entre os candidatos que ficaram em segundo e terceiro

    no primeiro turno.

    Isto porque segundo o TSE, o "terceiro turno" é necessário porque

    nenhum dos candidatos que concorreram no primeiro turno atingiu mais de 50% dosvotos válidos remanescentes depois que os votos do candidato impugnado foram

    declarados nulos. Com base nas decisões do TSE, o Tribunal Regional Eleitoral

    15 http://www.tse.jus.br AgR-REspe n.º O31.942/PR TSE. fl. 22.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    34/40

    34

    (TRE) do Paraná convocou o novo segundo turno no município, com o segundo e o

    terceiro colocado das eleições de 5 de outubro de 2008.

    O mais interessante na análise desta situação envolvendo o município de

    Londrina no Paraná, foi o fato de que o deputado federal Barbosa Neto, terceiro

    colocado no primeiro turno, disputou a eleição com o também deputado federal Luiz

    Carlos Hauly (PSDB), que havia perdido para Belinati no segundo turno, ou seja,

    fora segundo colocado também no primeiro turno. Barbosa voltou à disputa por ter

    sido o terceiro colocado no primeiro turno, e mesmo assim venceu o seu concorrente

    no segundo turno definitivo.

    Com 100% das urnas apuradas, Barbosa Neto registrou 54,12% dos votos

    válidos, com 135.507 votos. Hauly teve 45,88% dos válidos, com 114.877 votos. Os

    votos brancos somaram 7.004 e os nulos, 15.624 votos.

    Interessante crítica postula Eneida Desirre Salgado, quando enuncia, “alega-

    se que a intervenção do Poder Judiciário na definição de regras jurídicas, dá-se pela

    indolência do Poder Legislativo em cumprir sua função principal. Tal argumento, que

    encontra fácil abrigo em qualquer discurso antidemocrático e também é utilizado

    para justificar a atuação legislativa do Poder Executivo, contraria todo o sistema

    representativo”. (2010, p.324)

    Frise-se o fato da definição do prefeito em questão, se deu cinco meses

    depois da primeira data de diplomação, ou seja, o município ficou cinco meses sem

    saber ao certo quem seria o representante do poder executivo.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    35/40

    35

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

     Ao final do presente trabalho, é possível concluir, que estamos nos dias

    atuais diante de uma crise política em nosso país, seja pelo corrompimento de

    preceitos de morais e ética por parte dos representantes eleitos e ocupantes de

    cargo públicos eletivos (membros do poder executivo), ou em razão da omissão de

    outros no tocante a preocupação com a questão legislativa em matéria eleitoral (em

    relação ao poder legislativo) e de maneira mais gravosa e repugnante, no descaso

    com a “res publica” (membros da administração pública de um modo geral).

    Diante da referida crise, é gerada nos cidadãos, e demais integrantes da

    sociedade, uma desconfiança e descrédito nos gestores políticos da nação, e é

    neste cenário que surge e se desenvolve a atuação política judicial, ou o ativismo

     judicial por parte dos magistrados (juízes, desembargadores e ministros).

    O ativismo judicial, que no princípio era vista de forma positiva e necessária

    por grande parte dos doutrinadores, e operadores do direito pátrio, como forma de

    correção das incoerências legislativas, e de realização plena dos princípios

    constitucionais presentes na Carta Magna, bem como aproximação da realidade

     jurídica da realidade fática e social.

    Todavia, no tocante a atuação das cortes quanto à matéria eleitoral, faz-se

    necessária uma ponderação no que diz respeito ao ativismo judicial. Isto porque ao

    contrário das relações processuais entre particulares, em que ao final a decisão farálei entre as partes, e refletirá conseqüências, que em regra, diretamente será afeta

    apenas aos envolvidos, no direito eleitoral se dará de forma diversa.

    Nas decisões proferidas pelos tribunais e cortes superiores, os efeitos serão

    suportados pela coletividade, pela sociedade de modo geral, haja vista relacionar-se

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    36/40

    36

    com interesses coletivos difusos, de muitíssima importância para vida de todos

    aqueles que compõem o território onde se dará a aplicação da referida decisão.

     Assim sendo, a observância dos princípios constitucionais, bem como dos

    precedentes das respectivas cortes, devem imperar frente a opiniões particulares,

    teses pessoais, e entendimentos próprios. Ainda que, visando manter a lisura do

    pleito, não pode tentar forjar de que forma se dará a decisão do eleitorado, de

    maneira tendenciosa, na escolha de seus representantes, ou seja, ao voto, livre

    manifestação de vontade e de exercício de poder do povo, deve se reconhecer sua

    intenção em plenitude.

    Neste sentido, a que se respeitar o principio da segurança jurídica, evitando

    que ocorra de maneira injustificada, à luz de princípios constitucionais, viradas de

    mesa, que tornam-se mais grave se decidida em momentos cruciais do pleito

    eleitoral.

    Reconhece-se que um estrito legalismo, considerando a pouca eficiência da

    atuação e produção das normas legais, bem como o abuso do poder, seja ele

    econômico, político, por boa parte dos pretendentes a ocupação de cargos eletivos,

    levaria a desvios e escolhas maculadas por parte dos eleitores. Também

    apresentará incorreções e desvios, à realização efetiva da verdadeira manifestação

    da vontade do povo expressada nas urnas, uma atuação por parte daqueles que

    compõem o poder judiciário, especialmente na seara eleitoral, sem observâncias aos

    princípios constitucionais, aos precedentes, reiteradas decisões do colegiado e daprópria corte, e até mesmo fundada em convicções pessoais e opiniões políticas

    individuais tendenciosas.

    Conclui-se que é necessária uma atuação que resguarde a lisura do

    desenrolar-se do pleito eleitoral, que garanta o cumprimento e a realização dos

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    37/40

    37

    princípios constitucionais pátrios, reconhecendo haver uma crise política nacional,

    que deveras contribui para uma atuação política do judiciário, e para o

    desenvolvimento do ativismo judicial.

    Todavia observando, e respeitando os mesmos princípios e os demais

    princípios constitucionais, os tendo como limite, ainda que a linha que os separe seja

    tênue, e sutil, e que suas conseqüências refletem de maneira significativa, seja

    positiva ou negativa na vida e realidade da sociedade de maneira geral, pois só

    desta maneira ainda que a passos lentos, caminhar-se-á em direção a uma

    sociedade mais justa, eliminando-se gradativamente o abismo social que a permeia

    desde o seu descobrimento.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    38/40

    38

    REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os

    conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009.

     ________. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. Disponível

    em: http://www.oab.org.br/oabeditora/users/revista/1235066670174218181901.pdf.

     Acesso em 12 jul.2010.

    BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 8. ed. Trad. Marcos Aurélio Nogueira.

    São Paulo: Paz e terra, 2000. Reimpressão 2002.

    BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. Malheiros: 2000. São Paulo.

    BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral.

     Agravo regimental interposto em face de decisão que deu provimento ao recurso

    especial eleitoral para deferir o registro de candidatura. Ministério Público Eleitoral

    do Paraná a Antonio Casemiro Belinati. Agravo Regimental no Recurso Especial

    Eleitoral Nº 031942. Relator: Marcelo Ribeiro. 9 de outubro de 2008. p. 43.

    Disponível em: http://www.tse.jus.br. Acesso em: 13 jul.2010.

    COSTA, Adriano Soares da. Instituições de direito eleitoral . 7. ed. Rio de Janeiro:

    Lumen Iuris, 2008.

    GRAU, Eros Grau. O direito posto e o direito pressuposto. 6. ed. São Paulo:

    Malheiros, 2005.

    HABERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes

    da Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e “Procedimental” da

    Constituição.  Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio A. Fabris Editor,

    1997. Reimpressão 2002.

    MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 34. ed. São Paulo:

    Malheiros, 2008.

    MIRANDA, Jorge. Direito Constitucional III: Direito Eleitoral e Direito Parlamentar .Lisboa: Associação Acadêmica da Faculdade de Direito, 2003.

    RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 8.ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.

    RIBEIRO, Fávila. Abuso de poder no direito eleitoral . 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,

    1998.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    39/40

    39

    ROSÁRIO, Luana Paixão Dantas do. Politização e legitimidade discursiva do

     judiciário na democracia constitucional. In: CONGRESSO NACIONAL DO

    CONPEDI, 17, 2008. Brasília.  Anais... Disponível em:

    http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/brasilia/13_62.pdf. Acesso em: 15

     jul.2010.

    SALGADO, Eneida Desirré.  Princípios constitucionais estruturantes do direito

    eleitoral . 2010. 356 f. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Pós-Graduação

    em Direito, Curso de Doutorado em Direito do Estado, Universidade Federal do

    Paraná, Curitiba, 2010. Disponível em:

    http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/handle/1884/22321 acessado. Acesso em: 07

     jul.2010.

    SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed. São Paulo:Malheiros, 2006.

     _____. Comentário contextual à constituição. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

    SOBREIRO NETO, Armando Antonio. Direito eleitoral . Curitiba: Juruá, 2002.

    SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de direito público. 4. ed. São Paulo:

    Malheiros, 2006.

    VIEIRA, Oscar Vilhena. Supremocracia. Revista Direito GV , São Paulo, jul-dez 2008.

  • 8/19/2019 Crise Politica e Ativismo Judicial Eleitoral

    40/40

    40