CRISTIANISMO E MANIQUEÍSMO

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CRISTIANISMO E MANIQUESMO: UMA VISO ANTROPOSFICA E ASTROSFICA DA GNOSIS CRIST

INTRODUO Embora o fenmeno do Cristianismo Gnstico e tambm do Maniquesmo tenha ocorrido no Mundo Oriental e decorrente de sua grandiosa leitura das antigas Religies Orientais de Mistrios, seguida da viso grega e budista do dualismo filosfico, e ele tambm tenha origem no Orfismo onde o pensamento espiritual mesclou a viso de Mistrios do Egito e da Mesopotmia, no podemos deixar de apreciar a Gnosis crist em sua aclimatao Europa e tornando-se uma formulao espiritual ocidental que tem reflexos diretos com o amadurecimento dos povos europeus logo aps o perodo neoltico. Diramos, ento, que o aparecimento do Gnosticismo e do Cristianismo gnstico est ligado ao grandioso passado da humanidade desde o Oriente at o Ocidente, e vem como resposta aos seus desdobramentos e desenvolvimentos. Numa considerao mais amplamente consciente e livre de preconceitos ou de limitaes dogmtico-religiosas, receber o pensamento da humanidade desde os primrdios com viso plena de sua inteligncia e valor, e com disposio para deix-lo nos influenciar tanto em sua forma mais original e antiga quanto em seus posteriores desdobramentos significa repetir e ecoar as aspiraes mais fundamentais do prprio Gnosticismo. O Catarismo embebeu-se plenamente dessa rica forma de apreciao do pensamento mais original de toda a humanidade que lhe foi contempornea ou anterior, e formou, assim, uma das mais belas correntes de Gnosticismo cristo do passado.

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No mesmo territrio que o do Priscilianismo, ou seja, na Europa mais Ocidental e mais especificamente no Sul da Frana e na Ibrica, o Catarismo representou uma reformulao do maniquesmo e da Gnosis Valentiniana, bem como da Gnosis Ofita e de uma grande reviso do Cristianismo Palestino segundo o parecer de Prisciliano.

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2 SCULO VII A 2 A.C. UMA REVOLUO HINDU-ARIANA-SEMITA SOB A INFLUNCIA DE VULCANO E SATURNO

A Gnosis e o Maniquesmo que foram aclimatados como formas de Cristianismo esotrico de maneira perfeita e muito marcante na Europa assim foram por influncia de uma grandiosa ao anglica durante os ltimos sete sculos da Era de ries sempre que Saturno e Vulcano formavam uma quina com outros planetas mais densos do nosso espectro celeste, naquela poca. Sabemos que Vulcano um planeta invisvel, formado por um campo de condensao de energias e substncias etricas e astrais que espelha o Sol depois do portal de Saturno. Por ser Vulcano ferreiro ou ligado ao ferro como Marte, e, portanto, esses dois corpos csmicos terem um uma natureza astrosfica com o Fiat Lex, e o outro uma natureza astrolgica com esse mesmo Fiat, Vulcano exerceu um trabalho anglico nas brechas de Marte, regente da Era de ries, que priorizou fundamentalmente uma ascenso doutrinal e filosfica superior Prsia, aos povos Hinduiranianos e aos Semitas, ambos muito ligados ao Fiat Lex, os semitas a partir de Moiss ligados ao Velho Testamento como representante desse Fiat, e os Zoroastrianistas ao Zend-Avesta ou as Escrituras de Zaratustra para o mesmo efeito. Na Prsia, na Anatlia e em Israel as influncias de Vulcano por entre as brechas de Marte trouxeram a fora fundamental dos Mistrios Orientais, estes chegando a Israel com o aparecimento dos essnios de Qumran, onde as ltimas camadas de uma Religio judaica de Mistrios fora formatada. A comunidade essnia de Qumran adotou como eixo de vida discipular diria o estudo das Escrituras. O seu fundador, o Mestre Essnio da Retido, julgava-se envolvido por uma fora espiritual vinda do Esprito da Verdade ou Esprito Santo atravs do rito batismal e, assim, autorizado a realizar a interpretao dos Mistrios Ocultos das Escrituras, dom que fez de sua pequena Igreja herdeira e sucessora de Moiss e dos profetas,3

ou seja, a sua comunidade se julgava guardi de mais de sete sculos de revelaes divinas e, mais alm ainda, a nica capaz de levar todo esse passado a um ltimo e mais profundo desenvolvimento do ciclo das Escrituras Hebraicas. Esse desenvolvimento da idia de estudo e interpretao das Escrituras rendeu aos essnios textos onde a interpretao introduziu uma nova e inteiramente verdadeira camada antiga Torh sagrada, mostrando-se como algo que tem certo eco na verso grega LXX da Bblia Hebraica, do seio da qual surgiriam os cristos. Em todo esse novo vergel bblico, tanto essnio, da traduo LXX e do nascente Cristianismo, a viso dualista de cosmos e de reino de vida humano era freqente e muito marcante. O homem era visto com corao duplo, tendente por um lado mentira e ao mal, por outro verdade e ao bem, e formando, assim, um reino humano tambm dividido entre dois governantes: o Prncipe da Luz e da Verdade, e o prncipe das trevas, da mentira e do mal. Os ritos da Purificao Batismal e da Refeio Sagrada desenvolviam nos alunos essnios a capacidade de resistir em si o esprito do mal e da mentira e surgirem pouco a pouco como seres ligados ao Esprito Santo e aos seus sublimes Anjos junto aos quais passariam a celebrar um Culto Celeste de Mistrios, unindo a sua igreja terrestre Igreja Celeste Anglica, quando passariam a viver na rvore Verdejante da Eternidade. O pesquisador e escritor Andrew Welburn, autor de trs obras que constantemente consultamos, uma intitulada As Origens do Cristianismo Os Antigos Mistrios Pagos e a Crena Crist, a segunda, Gnosis The Misteries And Christianity An Anthology Of Essene, Gnostic Christian Writings, a terceira, Mani, The Angel And The Column Of Glory Na Anthology Of Manichean Texts, de opinio que a maioria das idias doutrinrias essnias, vindas do mundo dos Mistrios Gregos e tambm do mundo iraniano, continuaram a se desenvolver como doutrinas no seio do Cristianismo e sua extenso mais esotrica, o Gnosticismo Cristo, movimento com diversas correntes que foram sintetizadas no sculo III pelo persa Mani ou Manes, dando origem ao Maniquesmo.4

No maniquesmo ocorrera uma vasta sntese entre Budismo, Zoroastrianismo, Jainismo, Essenismo e Cristianismo, resultando numa grandiosa corrente de pensamento esotrico ainda mais rica que as diversas pertencentes ao prprio Gnosticismo.

Foto 1: As trs obras de Welburn citadas nesse nosso texto.

Foto 2: Uma quarta obra consultada por ns, de ttulo Os Homens de Qumran, de Florentino Garca Martnez e Julio Trebolle Barrera. Prisciliano, espanhol do sculo IV d.C., contemplava o Cristianismo de Roma afastado imensamente desse caudal de riqueza esotrica do passado e, reagindo a tal situao, arquitetou uma complexa frmula de intercmbio com esse passado.

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Reivindicando o mesmo carisma do Mestre Essnio de Qumran, Prisciliano desejou reformular merc de sua prpria capacidade interpretativa junto ao Paracleto ou Esprito Santo o Cnon das Escrituras e tambm a doutrina crist, esbarrando em fronteiras j a muito abandonadas pela Igreja nos sculo II e III, tais como aquelas que no Egito adotavam os Abraxas ou signos de Ia, ou que no Evangelho da Pistis Sophia constituam crenas astrolgicas e astrosficas, buscando ainda do fundo tradicional celta elementos de Mistrios que no passado permeavam festas agrcolas sagradas na Pennsula Ibrica. As atuaes de Manes e de Prisciliano assentadas sobre o Essenismo e, indo alm Profetismo do Velho Testamento, dando-lhes desenvolvimento, transformando-as em um Cristianismo esotrico. representavam camadas delas, atingindo as do claras novas facetas de verdadeiro e profundo

3 - OS SCULOS III A VII DC: A CONTINUAO DO GNOSTICISMO E DO MANQUESMO Prisciliano abriu no seio da Igreja de Roma a primeira grandiosa crise doutrinal. E afirmamos assim porque as anteriores crises, de antes de 313/325 d.C., no vemos como da Igreja Romana ou da Igreja que junto ao Imperador Constantino e seus sucessores, foi se tornando uma entidade religiosa estatal ou um estado teocrtico. Lembremos aqui que a Igreja Crist saiu do sculo I d.C. sem os apstolos e guiada pelos chamados patriarcas, discpulos daqueles e, portanto, considerados guardies do verdadeiro Cristianismo. O Cristianismo do sculo II foi desafiado j nos anos 120/130 por estar muito mal hierarquizado, sendo constitudo por concentraes muito distintas e mais ou menos autnomas de comunidades, sobressaindo-se as de Alexandria, de Antioquia e de Roma. O ensino entre essas grandes centrais de comunidades crists era muito independente e diverso, adotando cnon tambm diversificado.

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A comunidade crist de Alexandria respirava o platonismo filnicoessnio, ou seja, o ensinamento de Jesus permeado pelas interpretaes de Flon Judeu Alexandrino, amigo dos essnios egpcios que viveu entre 20 a.C. e 50 d.C.. Flon era Mdio Platonista e, portanto, dualista, cuja doutrina era a de que Plato fora um profeta grego tanto quanto Moiss fora um profeta de Israel, mas que superara o grego em iluminao. Para Flon Plato ensinava o mesmo que Moiss e o que parecia, nas Escrituras de Moiss, contrrio ao ensino de Plato, se devia a que as Escrituras Mosaicas deveriam ser interpretadas simbolicamente e no ao p da letra. Flon tambm reivindicou o mesmo esprito de interpretao das Escrituras que o Mestre Essnio da Retido, e o via impregnando a liberdade cannica e tradutora que os mestres da Septuaginta ou Velho Testamento Grego (LXX) adoraram. Antioquia era uma comunidade crist que adotara mais a idia de interpretao regida por leis apostolares e mais literal, embora no radicalizasse essa postura em especial depois que do Egito lhe veio a figura de Orgenes, grande pensador cristo do sculo II d.C.. Constantinopla e outras regies tambm flexibilizavam entre a postura de Alexandria e Antioquia, s vezes mais, s vezes menos, mas Roma condensava a forte oposio ao pensamento Alexandrino e, aos poucos, tornou-se firmemente literalista. No sculo III, com o surgimento da corrente maniquesta, Roma cristalizou ainda mais a sua postura de comunidade com interpretao literalista e baseada em leis apostolares pr-fixadas. Foi por intermediao de Roma que o cnon tambm recebeu a sua final conformao e cristalizao, cujo processo fez todo o Oriente entender que estava em jogo no seio total do Cristianismo a perda das principais identificaes esotricas da doutrina crist.

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O Oriente cristo tomou a deciso de harmonizar-se com as decises de Roma, isso j na sua primeira grande crise, a Arianista, que se formara exatamente no seio de Alexandria, mas que se firmara em Constantinopla. Por volta de 319 um padre alexandrino chamado Arius comeou a ensinar que Deus era um grandioso e eterno Mistrio e que seu ser encontrava-se mergulhado eternamente no oculto em Si mesmo, ningum sendo capaz de revel-lo, e Jesus no seria junto com Ele Deus, mas um Logos pr-criacional, representando um instrumento por meio do qual as coisas vieram existncia, pois Deus mesmo absolutamente transcendente, no podendo entrar em contato com a matria. Arius ou rio afirmava que o Filho no era de mesma substncia do Pai, de Deus, mas ligeiramente inferior, se parecendo com os heris do culto de Mistrios da Grcia, embora mais elevado que aqueles. Condenado e afastado das suas funes sacerdotais, rio buscou, entretanto, em discpulos de Luciano de Antioquia, como Eusbio de Nicomdia, apoio sua doutrina, a partir de ento ensinada por meio de canes populares. Sua estratgia rendeu-lhe o retorno ao sacerdcio, o que acabou ameaando o que Roma, na pessoa do Imperador Constantino, mais queria, ou seja, a unidade da Igreja-Imprio. Constantino enviou seu amigo espanhol sio, bispo de Crdoba, at o Egito para resolver a questo, mas sem sucesso, quando ento o prprio imperador convocou o chamado Conclio de Nicia. contra esse conclio e suas decises desenvolvidas no conclio de Constantinopla em 381 que Prisciliano vai insurgir. E faz-se justo lembrar que o papa Dmaso convocou o conclio de Constantinopla para definir o que era o Esprito Santo e para colocar a Igreja de Constantinopla em honra menor ou em segundo lugar depois da de Roma, e que essa definio do Paracleto rompia com a doutrina de que por meio dele se pode ter independncia para se escolher o cnon das Escrituras e sua interpretao.8

Prisciliano queria adotar em suas comunidades crists galegas e espanholas a livre leitura tanto dos livros bblicos considerados cannicos quanto aqueles que encontravam-se definidos como apcrifos, e extrair doutrinas crists de modo livre entre esses dois tipos de Escrituras Sagradas. Livros apcrifos como O Pastor de Hermas ou do Profeta Enoque, a Didaqu, dentre outros, eram recomendados aos cristos da Espanha por Prisciliano, o que contrariava enormemente as orientaes de Roma. Prisciliano tambm se sentia livre para estudar as Escrituras Maniquestas, as da Gnosis Valentiniana, os Ensinamentos de Orgenes e dos Padres Antioquinos do sculo II d.C. argumentando que todos eles eram a Igreja do Cristo e no somente Roma. Em razo disto foi que o papa Dmaso reuniu em 381 um conclio para nomear Roma como a Igreja Me e a maior de todas na escala hierrquica, perante cuja autoridade nenhuma outra Igreja pudesse ser evocada, tanto apostolar quanto doutrinariamente. Alheio a todos esses movimentos e a todas essas convenes, o Gnosticismo fundado por Manes ou Mani cresceu por todo o mundo civilizado da poca, chegando prpria Roma. De Alexandria surgira um mestre gnstico de nome Valentin, que, seguindo para Roma, quase se tornou perto de 160 d.C., papa. Valentin, entretanto, ao mostrar a sua doutrina mais claramente, foi expulso da Igreja em Roma, e teve que fugir para a Ilha de Chipre onde desenvolveu a sua prpria comunidade crist gnstica. No sculo III essa corrente de Gnosis Valentiniana tinha se desenvolvido no sul da Frana e em Lion, bem como no norte da Itlia. Enquanto Mani ensinava que a Gnosis consiste em conhecer as razes pelas quais Luz e Trevas se combatem como inimigas e se posicionar a favor da Luz seguindo os seus Mistrios Santos, Valentin ensinava que a Luz existia em um reino denominado Pleroma, formado pelo Logos, por anjos e qualidades anglicas complexas, de onde partem9

as chamadas foras anglicas batismais, as quais pela Cruz atravessam o Reino da Luz, sai dele e chega ao mundo das trevas (ou Kenoma) e batiza todo aquele que desejar tornar-se um Filho de Deus e da Luz, capacitandoo a resistir em si o mal. Para Valentin Jesus era uma espcie de invlucro humano do Pleroma que viajou por todas as camadas do Pleroma, tirou de cada uma sua qualidade anglica, formou esse ser-invlucro e dentro dele o verdadeiro sangue da Luz, o Paracleto ou o Esprito Santo. Ao ser ferido na Cruz, Jesus rompeu o invlucro e espargiu o seu contedo sobre toda a Terra na forma de Esprito Santo, Batismo e Refeio Sagrada. Para Manes ou Mani a fora do Pai da Grandeza penetrou neste mundo na forma de Uno Sagrada, podendo ser achada em grande quantidade nas frutas, dentre elas a Melancia, o Melo, a Tmara, no leo de Oliveira e de Nardo, etc.. Os maniquestas praticavam uma espcie de crisma especial a que davam o nome de Consolamentum, a partir do qual algum receberia o Esprito Santo e passaria a interpretar e praticar os ensinamentos da Gnosis. As foras que as unes e refeies transmitem ensina Mani representam o Paracleto. Jesus, Maria e ele prprio, eram invlucros do Paracleto. A figura de Maria representava para Manes no uma mulher a que se disputar como o faziam a Igreja de Roma e os Nestorianos1, acerca de sua Deidade, mas era a figura simblica da prpria Igreja, da comunidade de cristos. E para abrir esse invlucro e receber o Paracleto bastava sofrer as unes e ser admitido nos ritos de Refeio Sagrada.

Nestrio, patriarca de Constantinopla, foi, depois de rio, o segundo grande causador de desunio e dissenso na doutrina crist ortodoxa por volta de 428 a 431 d.C.. Ele no aceitou o ttulo teotokos (Me de Deus) atribudo Virgem Maria, porque segundo seu pensamento isso equivaleria a atribu-la tambm a Deidade. Em 451 sua doutrina foi recusada e ele e seus seguidores foram expulsos, formando a chamada Igreja Nestoriana que se espalhou no sculo VII d.C. por toda a sia. Os Nestorianos dizem que a afirmao de que Maria Me de Deus (Teotokos) nega a humanidade de Jesus.

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Para abrir o invlucro de Jesus e dele receber tambm o Paracleto, Mani ensinava que bastava entrar mental e discipularmente nos ensinamentos do profeta de Israel. Mas a plenitude do Paracleto estava no invlucro de Mani, e essa plenitude estava ali de tal modo impressa que seus escritos e seus ensinamentos eram capazes de dar a algum todo o Esprito Santo. Em razo disto os maniquestas chamavam Mani de Mani-Paracleto, e Maria, sua Igreja, de Igreja do Paracleto. Nenhuma Escritura Sagrada ou corrente doutrinria quer seja crist, budista, zoroastrianista, ou outra, representava de igual modo e intensidade o Paracleto quanto aquela de Mani. Isso gerou um efeito interessante. Enquanto Valentin entendia que qualquer corrente crist batismal praticante da Refeio Sagrada e das Unes podia dar da plenitude do Paracleto existente em Jesus e na sua Cruz, para os maniquestas essa plenitude s existia em Mani e nas suas Escrituras Sagradas. Mani condensou e espiritualizou ao redor de si, como representante de sua prpria participao plena no Paracleto, um vasto e muito universal cnon de Escrituras esotricas e um conjunto fantstico de doutrinas gnsticas. Seus seguidores somente confiavam nesse cnon e nas suas doutrinas, e no em outras escrituras ou doutrinas. Desse modo o maniquesmo escapou e colocou-se longe das Escrituras Sagradas do Velho e do Novo Testamento, e se estruturou ao redor de um cnon prprio, o qual significava o prprio corpo de ManiParacleto sempre doado aos seus seguidores pelo Mistrio da Bema, ou seja, da sua crucificao por meio de cadeias de ferro e degola empreendida pelo imperador persa Brahram I em 277 d.C.. Valentin, ao afirmar que Jesus-Paracleto era o Paracleto todo doado pela Crucificao como Refeio Sagrada e doutrina salvadora, que podia ser acessado por qualquer corrente crist que praticasse os Mistrios da Uno, da Refeio Sagrada e do Batismo e que seguisse de certa forma o ensino dos Evangelhos e de qualquer grande mestre cristo que houvesse11

ele tambm escrito palavras sobre Jesus e sobre a doutrina dos apstolos, deixou o cnon aberto e universalizou o dom do Paracleto para todas as Igrejas crists, quer Valentinianas ou no. Com isto o Valentinianismo tornou-se perigosamente voltil em seu cnon e doutrina, no se organizando institucionalmente como foi o caso do maniquesmo. Mas, assim aberto, Valentin permitiu que muitos cristos no Valentinianas nele se inspirasse mais largamente e nele encontrasse no s o cnon cristo aceito pelo conclio de Nicia, como tambm diversos outros, incluindo os de Mani. O maniquesmo sobrepunha o seu cnon ao dos cristos, mesmo o dos Cristos Valentinianos, extremamente voltil. E ningum podia ser maniquesta sem aceitar esse cnon de Mani e negar ou considerar insuficiente os cnones das diversas outras correntes religiosa da poca. Os Cristos Valentinianos no tinham dificuldade alguma de assimilar as Escrituras Maniqueias e as Crists, de tal modo que formaram muitas amlgamas entre elas. Prisciliano deve ser encontrado nessa linha mais valentiniana, pois aceitava o cnon do conclio de Nicia, mas acrescentava a ele os apcrifos e os escritos gnsticos, dentre eles os de Mani. A nosso ver, Prisciliano foi o Valentin do sculo IV; com ele a Igreja deixaria de ser romana e adotaria tal liberdade que a permitiria mesmo observar o cnon maniquesta, claro que sem ter nele compromisso maior que com aquele citado pelo Esprito Santo atravs do qual se adotariam atos como sobrepor os Evangelhos, o cnon da Igreja do sculo IV e as prprias instrues priscilianistas ao Canon de Mani. De fato, aps o sculo IV as correntes gnsticas se inspiraram em semelhantes atos, surgindo na Armnia dos sculos VI e VII d.C. um grupo chamado Comunidade dos Paulicianistas com mentalidade seno igual, pelo menos bastante prxima. Os Paulicianos ou Paulicianistas recuavam o seu ensinamento a certo Paulo de Samsata (regio da Sria), bispo de Antioquia entre 260 e 268 d.C., acusado da heresia de Adocionismo, ou seja, praticante da12

doutrina que afirma ter Jesus nascido puramente humano, mas ter recebido a sua divindade em momentos especiais do seu ministrio entre ns. O Lgos o havia preenchido de divindade sem, contudo, tirar-lhe a caracterstica de simples homem, embora maior que os profetas e que qualquer outro homem sobre a Terra. De certa forma as correntes gnsticas que dizem ter Jesus recebido a sua divindade no momento do Batismo apresentam caractersticas adocionistas semelhantes s explicitadas por Paulo de Samsata. Os Paulicianos ou Paulicianistas representaram, entretanto, a mesma liberdade que dissemos ser natural a Prisciliano, a Valentin e ao Mestre Essnio da Retido, de tal modo que o pouco que se diz a respeito deles, afirma-se que foram quase maniquestas e bastante prximos do Gnosticismo. Sua histria torna-se mais interessante entre 650 e 812 d.C., na Armnia, nos Blcs, na Anatlia, na Sria, na Palestina, na regio prxima do Monte Ararat, na Babilnia e em Antioquia. Mas nos sculos V e VI, com o avano dos hunos em direo Armnia, muitos dos Paulicianos militares formaram uma linha de proteo nas fronteiras armnianas, mostrando, assim, a antiguidade do grupo, que deve ser vista mesmo como remontando at o sculo III. Em 668 houve uma grande perseguio aos paulicianos, culminando em 690 com a morte por apedrejamento de seu lder e o enfogueiramento do seu sucessor. Mas durante o reinado do Imperador Leo III (660-740), dos Blcs, houve uma tolerncia e os paulicianos migraram em massa para as suas terras. Mas, j em 842, com a atuao da Imperadora Teodsia (842-867), a perseguio retornou com fora, pois ela adotou o culto cristo dos cones ou dolos, quando os paulicianos eram contra o uso das imagens e representaes idoltricas. No sculo X um padre ortodoxo de nome Bogomil revisou ainda mais o Paulicianismo, e seus seguidores ficaram conhecidos como Bogomilos.13

Esses Bogomilos foram os que levaram a doutrina gnstica dualista Valentiniana2 para os Blcs e a Lombardia, bem como para diversas regies da Europa, incluindo a Frana. Afirma-se que os Ctaros do sul da Frana se organizaram e adotaram uma doutrina crist gnstica com o auxlio dos Bogomilos dualistas radicais. Mas na Lombardia os Ctaros aceitaram o auxlio de Bogomilos radicais e de moderados. Os Bogomilos radicais se aproximam mais do maniquesmo, embora guardem o mesmo tipo de procedimento cannico de que falamos quando abordamos sobre Prisciliano e seu movimento gnstico. 4 - OS SCULOS III, XII e XXI DC E A CONSEQUENTE CONTINUAO DO GNOSTICISMO E DO MANQUESMO NO MOMENTO PRESENTE O Catarismo entendido hoje como uma complexa corrente de Cristianismo Gnstico fundamentada na doutrina dualista. Junto com ele tambm se apresenta como heresia dualista a Ordem dos Cavaleiros Templrios. Discute-se muito acerca do que ambos os movimentos franceses herdaram verdadeiramente do maniquesmo ou da Gnosis Valentiniana. Os jessnios olham o Catarismo e o Templismo no s por meio de obras como as de Aubrey Burl, Paulo Alexandre Louo, Zo Oldenbourg e Stephen OShea (fotos 5 e 6), mas seguem mais alm, pela prpria tradio esotrica transmitida ocultamente e atravs das correntes e elos da Fraternidade. No caso do conhecimento que se pode obter atravs da linha e dos elos da Fraternidade dos Hierofantes do Oriente e do Ocidente, sinais claros nos remetem a certa arqueologia acerca das cruzes, estelas e monumentos de pedra ou de ferro que pululam no sul da Frana e em toda a linha do Caminho de Compostela at o castelo templrio de Tomar,Coloco aqui a palavra valentiniana entre aspas no por consider-la pejorativamente ou como imprpria, mas por t-la na compreenso daquele Valentinianismo que vimos em Prisciliano, de certo modo fechado com o cnon da Igreja Romana, e tambm com os apcrifos e escritos maniquestas, enquanto os maniqueus eram fechados unicamente com as Escrituras de Mani.2

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em Portugal, cujo contedo simblico pode ser lido pelos grandes iniciados e os adeptos de suas Escolas de Mistrios, constituindo um livro de hierglifos secretos somente acessveis aos que trilham o caminho de tais Escolas.

Foto 3: Estelas do castelo templrio de Tomar.

Foto 4: a foto de dois livros cujos autores citamos em nossas pesquisas para transform-las em aes no de todo afastadas da histria.

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Foto 5: outros dois autores em quem confiamos a nossa linha de pensamento histrico acerca do Catarismo e do Templismo. Para Stephen OShea e Zo Oldenbourg (obras mostradas na foto 4) o Catarismo tinha uma idia acerca de Deus como o Pai da Luz, governador do mundo etreo do bem e senhor do mundo espiritual, que no podia ter nenhuma ligao com o mundo material porque este era formado da substncia do mal. A religio dos Ctaros ou Puros era originria do Oriente segundo o parecer de Zo Oldenbourg e considerada pelos contemporneos da poca como uma amlgama de maniquesmo e arianismo. Paulo Alexandre Louo (obra mostrada na foto 5), ao buscar a compreenso acerca do que foram os Cavaleiros Templrios, recai na busca do Cristianismo Primitivo e reafirma junto com autores tais como Antonio Piero e Jos de Montserrat que: O cristianismo dos sculos I, II e III estava longe de ser simples, pois nele conviviam lado a lado uma corrente eminentemente ortodoxa e correntes teolgicas de grupos muito diferentes entre si. Ao buscar esse Cristianismo Primitivo, Ctaros e Templrios tiveram que percorrer caminhos antigos do Oriente que freqentemente esbarravam no que a ortodoxia aps o sculo IV passou a denominar de heresia.

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A heresia mais temida era a maniqueia, condenada em Prisciliano pelo papa Dmaso, pelo grande mstico Santo Ambrsio, por So Jernimo e Santo Agostinho, o ltimo sendo considerado um perito em detectar heresias maniqueias e dualistas. Mani ou Manes, persa que nascera em 206 e morrera martirizado em 277 d.C., fora teologicamente considerado o pai do dualismo, ou seja, da idia de que Deus sumamente bom, puro, inteiramente transcendente e que, por razo disto, no pudera ser o autor da Criao material, pois a matria o mal, a dor, a imperfeio e as trevas. Se bem que o dualismo existira bem antes que a poca de Mani e fora ensinado por Zoroastro em cerca de 700 a.C. e por Jainistas na ndia desde milnios anteriores ao profeta Zoroastro, bem como tambm pelos Essnios na Palestina, entretanto, o dualismo foi atribudo, na Europa, pelos cristos ortodoxos, a Mani, e sua Igreja Maniquesta fora considerada a pior praga e heresia que algum movimento fora da ortodoxia crist, poderia adotar como doutrina e espiritualidade. Com efeito, o sculo XII fora chamado por essa ortodoxia crist europia como o sculo das heresias dualistas e, portanto, fora considerado o sculo da ressurreio da antiga praga doutrinria maniqueia. Os Cavaleiros Templrios e os Ctaros, embora tivessem em seu contedo de doutrinas e smbolos muito mais sinais da Gnosis Abrxica de Valentin e de Baslides, ainda assim, por ensinarem doutrinas dualistas foram considerados movimentos ressuscitadores do maniquesmo. O sculo XII recebeu dos cus muitas conjunes astrais fortes e importantes, mas, no seu conjunto vasto, nenhuma configurao celeste foi mais marcante do que a do par Saturno-Vulcano, repetindo assim o sculo III a.C. e o III d.C., onde no primeiro surgira Alexandria e Sria como ptrias das aspiraes por um encontro somador de conhecimentos espirituais, filosficos e culturais, e no segundo, a Prsia, embora muitos outros centros houvessem surgido nas duas oportunidades.

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No sculo XII foi a vez da Europa Ocidental formar o centro poderoso de cruzamentos e angulaes da Sabedoria Universal, outra vez sobre influncia de Saturno-Vulcano, e o Oriente no seu papel de guardio dos tesouros do passado foi a grande fonte dos conhecimentos que as regies tais como a Aquitnia e a Occitnia foram condensar na forma de Templismo e de Catarismo. Toda a Pennsula Ibrica foi profundamente tocada no sculo XII por essa movimentao astrosfica e Portugal no foi diferente, ficando profundamente marcado pela mesma idia que desde os essnios por volta do sculo III a.C. fora tpica das configuraes do par SaturnoVulcano: a idia do Paracleto. O Paracleto representado nos meios alqumicos pela cor verde, pelo verdejante reino das plantas, das rvores e das fontes que surgem onde as rvores fazem densas matas.

Foto 6: Duas obras importantes que abordam sobre as heranas templrias e esotrico-crists de Portugal e Brasil. Os autores so: Vitor Manuel Adrio (Portugal Templrio) e Claudia Bernhardt de Souza Pacheco (Histria Secreta do Brasil). O verde, as matas, as fontes, as fadas, as mulheres encantadas, as virgens, as Mes Dgua das lendas que pululam desde a Europa at o

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Brasil e a Amrica Latina, ou as lendas de Maria Madalena e das Virgens Negras, so marcas simblicas da manifestao do Esprito Santo. Portugal e Brasil, Espanha, Irlanda, Esccia e Amricas so territrios cruzados com o Oriente, com a lenda chinesa de Pan Gu e a deusa N Wa, o primeiro considerado criador do Universo, a segunda, criadora da humanidade e restauradora dos cus. Templrios e Ctaros, os primeiros dentro da Igreja Oficial, os segundos, margem desta, organizaram um culto cristo que emergiu dos cruzamentos de caminhos gnsticos e maniquestas dos sculos II, III e IV. Os ctaros davam grande importncia aos jejuns e s suas festas. Nas festas Mani-Paracleto se mani-festava, tornava-se presente como Paracleto e como corrente anglica do Pleroma (ou seja, da TotalidadeDeus viva em Seus coros anglicos). As cores verde, amarelo e vermelho predominavam nessas festas, o que em Portugal, Valncia e Catalunha uma caracterstica que ainda pode ser percebida. As Fallas, na Valncia, por exemplo, coincidentemente comemoradas como o Dia de So Jos, pai de Jesus, entre os dias 15 e 19 de Maro3, tm reminiscncias do simbolismo de que estamos mencionando. Jos Carpinteiro, ou Jos Arkitekton, ou seja, construtor de templos e casas sagradas, ou o outro personagem bblico, Jos de Arimateia, dono ou construtor de tmulos de pedras, tm uma iconografia muito rica de smbolos. Os chamados pedreiros (maons) retiraram do simbolismo de Jos Carpinteiro e de Jos de Arimateia, bem como de Salomo e de Iram Abif, estes tambm construtores de templos e casas sagradas, sua rica e complexa verso de Culto de Mistrios. Para Mani a figura do Arquiteto (arqui = antigo, primevo; tekton = carpinteiro, construtor) era o de mestre dos sinais e instrumentos da Verdade com os quais ele desmascara a mentira.A mesma data da Bema de Montsgur, comemorada pelos Jessnios num ciclo de tempo de quatro anos, completando-se com a festa da Maniola num total de cinco anos.3

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Mas, se acima temos algo do pensamento de Mani-Paracleto sobre a figura do Arquiteto, que se espelha no personagem bblico Jos e tambm na festa chamada Fallas, por outros ngulos esse pensamento vai muito alm.

Foto 7: conjunto simblico da Festa das Fallas em Valncia, Espanha. Destacam-se as figuras femininas, fadas, a cor verde, a doirada, a vermelha e o pssaro. Creio que se penetrarmos nesse outro lado do pensamento de Mani, teremos meios para compreender o que foi o Catarismo e o Templismo e no s teremos instrumentos para compreend-los, mas para detect-los ainda hoje nas festas ibricas e nos sinais de pedras dessas regies pirenaicas do sul da Frana, da Espanha, chegando at mesmo a Portugal, e ainda, para detect-lo no dualismo dos ndios colombianos tais como os Muiscas e os Guambianos. Discordando da opinio de Paulo Alexandre Louo formulada no seu livro Os Templrios Na Formao de Portugal, cremos que possvel achar nas festas religiosas populares portuguesas traos do maniquesmo dos Monges Templrios, em especfico os traos referentes exatamente ao Esprito Santo que tocam de perto na idia de Mani sobre a figura do20

Arkitekton ou possuidor dos instrumentos primevos da Verdade com os quais se pode construir uma Igreja do Paracleto. O arquiteto aparece na viso de Mani como o Primeiro Homem (Arki-Anthropos), que concebido vestido dos elementos (stoicheias) da Criao-Pleroma, do cosmos puro e santo anterior perturbao da Queda. Esse cosmos encontrava-se partido entre luz e trevas, cada um no seu territrio prprio, quando essa concepo foi imaginada pelo Lgos. Esse homem desaparece em dado momento do acidente csmico da Queda, mas retorna evocado pela grandiosa fora de Salvao que se estabelece quando a mescla de luz e trevas tem seu fim promulgado pelo tribunal da Justia. Paulo Alexandre Louo, apresentando certa ponta de influncia teosfica desfavorvel ao esoterismo semita e cristo, afirma em sua citada obra que os Cavaleiros Templrios no podiam ser uma Ordem Gnstica porque o Gnosticismo professa a idia de que o mundo fsico mau por natureza e o mundo espiritual bom por natureza, constituindo este segundo o lugar prprio da Alma.

Figura 8: As foras pares, sizigiais, colorem o Pleroma e constroem o mundo divino, segundo Mani. Observar nas mos das duas figuras, e por sobre os ombros, o esquadro e o compasso.

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Figura 9: Pela cruz vermelha Luz e Trevas se dividem, se separam; expresso dos Cavaleiros Templrios que indica o seu esprito esotrico dualista. Os Cavaleiros Templrios no podiam, pensa Paulo Alexandre Louo, ter partilhado dos ctaros e dos maniquestas semelhante idia dualista de dois mundos e duas naturezas, a m e a boa. Com efeito, o tambm teosofista Vitor Manuel Adrio diz na sua obra Portugal Templrio - que foi Santo Agostinho de Hipona, na qualidade de neoplatonista, quem teorizou para a Igreja Romana a idia de guerra justa que se ajustou com perfeio ideologia das Cruzadas, e, conseqentemente, das Ordens Militares antigas e medievais. O neoplatonismo substituiu o dualismo do mdio platonismo, sendo monista quando Plato e seus primeiros seguidores eram dualistas. E Agostinho , como pensador neoplatnico, o mentor das jihads crists, ou seja, ele o teorizador das Cruzadas. Paulo Alexandre Louo diz no seu livro com referncia afirmao de que o reino fsico e material mau, e o espiritual essencialmente bom, que esse ponto de vista no era compartilhado pelos neoplatonistas e nem o tinha sido antes por Plato, o que pode ser facilmente contestado. Autores como Will Durand (Histria da Filosofia A Vida e as idias dos Grandes Filsofos, So Paulo, Editora Nacional), Umberto Castagnola Padovani (Histria da Filosofia, Editora Melhoramento) e Giovanni22

Filoramo (A Histria do Gnosticismo; As Cincias das Religies) classificam Plato como um gnio que incorporou e redirecionou a genialidade do pensamento grego o qual sempre ancorou a sua doutrina na questo dualista metafsico-teolgica, ou seja, no relacionamento bidirecional do binmio Mundo/Deus, o primeiro representando a matria, o segundo o Esprito, cujas naturezas so opostas, contrrias e separadas. Louo diz que para Plato e para os Templrios, o mundo real o mundo das Idias ou dos divinos arqutipos; e o mundo sensvel carece de realidade, na medida em que tudo nele efmero. No entanto esse mundo sensvel deve ser cosmificado, ou seja, ordenado, impregnado pelas idias do Bom, do Belo e do Justo. Filosoficamente, o mal a ausncia do bem. Quem afirma isso de igual modo Agostinho de Hipona na qualidade de neoplatnico; de fato os neoplatonistas retiraram do ensino de Plato a sua principal caracterstica: o dualismo.4 Agostinho de Hipona, os Neoplatonistas e os Esticos representam uma firme negao do gnio grego, em especial aquele do Culto Grego de Mistrios, que vai de Orfeu a Pitgoras e Plutarco. Plutarco5, por exemplo, afirmava que no podemos, maneira dos esticos, identificar Deus com o universo. Isso porque ao princpio transcendente do Bem se ope um princpio do mal, que a lei do nosso mundo. Essa afirmao dualista filosfica provm de Plato e a veremos repetida entre os gnsticos e os maniquestas. Plutarco (46 a 126 d.C.) um grande filsofo nascido em Queroneia (hoje Kaprema, na Becia) que percorreu a sia at chegar ao Egito, morando por um tempo em Roma, e em seguida, em 95 d.C., foi iniciado no culto grego de Delfos.- Agostinho de Hipona tambm apresenta uma postura teolgica e filosfica que afasta de vez o Cristianismo do seu meio de nascimento, ou seja, aquele meio que tinha a liberdade para produzir a Septuaginta ou a Bblia Grega dos Setenta, o Apocalipse de Esdras e de Baruch, os Livros de Enoque, a Didak e a multido de literatura apocalptica que caracterizava o Essenismo e as Tradies Literrias Apcrifas dos documentos Atos dos Apstolos e Carta de Judas Apstolo. E Prisciliano representa a tentativa de manter toda essa herana, sem dvida muito difcil de ser compreendida pelo monismo. 5 Devemos distinguir Plutarco de outro personagem chamado Plutarco O Grande, este segundo pertencendo Escola Neoplatnica e muito citado ao lado de Proclo e Plotino pelos monistas.4

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Tendo estudado em Alexandria na Escola de Amnio Sacas este considerado pai do neoplatonismo entretanto, permaneceu pitagrico e mdio platonista, sendo fiel ao dualismo, em especial aquele que postula sobre a oposio entre o bem e o mal. A se dar crdito ao grande ltimo alquimista do sculo XX, Fulcanelli (1839-1923), os Templrios foram maniquestas e eram muito prximos dos ctaros dualistas radicais. Para trazermos o sculo III representado por Mani e os Gnsticos, e o sculo XII, representado por Bogomilos, Ctaros e Templrios, para o sculo XXI, no se poderia gerar no tempo presente outra coisa seno uma Ordem ou Escola marcadamente dualista.

5 OS SCULOS XX E XXI D.C.: O PRESENTE DA GNOSIS VALENTINIANA E MANIQUEIA NO LANGUEDOC, NA IBRIA E NAS AMRICAS Atualmente na Espanha, na Galcia e em Portugal predomina, mesmo entre os grupos esotricos, uma tnica geral marcada de certo modo pela cultura religiosa catlica, ainda que em camadas mais internas e menos clara a cultura celta e o Priscilianismo no deixem de se apresentar e de representarem a alma ibrica. Se em Valncia a festa das Fallas ou de So Jos acolhe essa camada esotrica do antigussimo culto do Arkitekton, em Portugal outras festas tambm apresentam a mesma caracterstica. Quer seja o culto do Arkitekton ou do Paracleto, ou uma manifestao cultural que guarda ainda que de forma quase apagada algo da figura de Mani-Paracleto ou do Esprito Santo, isso em si no relevante, mas sim o prprio ato de guarda desse passado heterodoxo de um modo especial que acabou tornando um conjunto de sinais e instrumentos da Verdade que a Igreja de Roma pouco notou e, em razo disto, no se disps a destruir do modo feroz que lhe foi peculiar desde a Idade Mdia at perto do sculo XX.

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Em Tomar a Festa dos Tabuleiros ou Festa do Esprito Santo, traz, de acordo com os estudiosos, no s sinais da figura crist do Paracleto, como a pomba no ponto mais alto dos cestos, e o verde proporcionado pelos ramos lanados nas ruas, mas, guarda herana de um passado ainda mais antigo, das Festas de Mistrios Gregos Deusa Ceres. O cesto da Festa dos Tabuleiros parece tranado em 5 ou 6 camadas para conter trinta pes, o que nos remete ao nmero simblico dos Cinco Mistrios, e aos Trinta Seres Silenciosos da Triconade, ou seja, do Pleroma ou da Totalidade-Deus como virtude entre os Anjos e as moradas anglicas. Considerado ortodoxamente como a Terceira Pessoa da Trindade, o Esprito Santo contm, realmente, um intrincado enlaamento de simbolismo e de significados, os mais marcantes para a nossa observao aqui o de se detectar nos sculos III a.C., III d.C., XII d.C. e XXI d.C., significados numrico-cabalsticos implicados com a cifra 3. O Galo e a Pomba apresentam-se em Portugal numa angulao ou cruzamento de simbolismo que muito rico. O Galo, que muitas vezes representa Portugal e a Galiza, tem uma explicao interessante como TESTEMUNHO DA VERDADE, o que nos remete principal qualidade que os essnios davam ao Paracleto: Esprito da Verdade.

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Foto 10: conjunto de utenslios e objetos de cozinha onde o Galo (Gallo) se apresenta como smbolos de Portugal e Galiza ou Galcia. A escolha desses instrumentos se justifica pela presena do azeite da uno e a tbua de carne, conjunto de smbolos que trabalharemos logo abaixo.

Contam os portugueses que o smbolo do galo est ligado a uma lenda de certo peregrino galego que, passando por Portugal, fora acusado de roubo, julgado e condenado morte por enforcamento, quando jurou inocncia perante o tribunal, mas ningum lhe dava crdito. Como ltimo pedido, o galego solicitou ir casa do juiz que lhe condenara. L chegando por volta do horrio de almoo, declarara, ao ver um galo assado sobre a mesa: to certo eu estar inocente, quanto certo esse galo cantar quando eu for enforcado. Todos riram do galego, mas resolveram no comer o galo. Ento, no momento de se colocar o condenado sob o palanque de enforcamento, o galo realmente cantara. O juiz correu ao local e absorvera, ainda a tempo, o pobre peregrino. O galo aparece nessa estria aparentemente simples como ave testemunhadora da Verdade, ecoando exatamente a seguinte passagem dos Escritos de Qumran: Mas nos Mistrios da Sua compreenso, e em Sua gloriosa Sabedoria, Deus ordenou um fim para o reinado da Falsidade, e no tempo do julgamento divino Ele o destruir para sempre. Ento a Verdade, que atolou no caminho da iniqidade durante o domnio da Falsidade at a poca designada para o julgamento, ser edificada no mundo eternamente. Deus ento purificar cada ato do homem com Sua Verdade; ele ir sublimar a estrutura corprea humana, desarraigando todo o esprito de falsidade dos tendes musculares. Ele ir limp-lo de todos os atos inquos, com o Esprito da Santidade; qual gua purificadora, ir derramar sobre ele o Esprito da Verdade para limp-lo de toda abominao e falsidade. E o homem ser emergido da purificao aquosa para instruir os justos no conhecimento do Altssimo e para ensinar a Sabedoria dos Filhos do Cu aos de conduta perfeita (1QS).

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Devemos notar que na histria do galego aparece o simbolismo do batismo em gua quente, que escalda o galo, o julgamento que sofrera em tribunal prprio, a sua palavra da Verdade que o canto do galo fielmente testemunha, o seu atoleiro - devido ao ato inquo de roubo no pntano da falsidade e sua final absolvio da condenao. O texto essnio tambm gira em torno de semelhantes palavras: julgamento, condenao, ato inquo, repleto de falsidade, batismo, asperso ou impregnao do Esprito de Santidade e Verdade na carne, o justo julgamento sabiamente anulado pela gua batismal e a gerao da conduta perfeita, no condenvel. A figura da Sabedoria e do Conselho julgador que os tribunais formam, presentes no texto essnio e na histria do galego condenado, tambm tem implicaes diretas com o que realmente o Paracleto ou o Esprito Santo. Em Provrbios, captulo 8, a Sabedoria aparece como figura feminina que profere a Verdade com justia, mostra o conhecimento, abomina a impiedade, promove o conselho e a fortaleza, sendo ungida desde a eternidade, firmando os cus, ocultando-se em Deus antes da Criao, permanecendo junto a Ele quando os contornos do mar eram traados e quando o Seu Esprito Santo compassava em revolteio a face do abismo aqfero. A Sabedoria estava com Ele e era seu arquiteto; e era, cada dia, as Suas delcias. Embora a Cabalh, em especial a essnia, seja a referncia dos jessnios quando querem falar da Sabedoria e do Esprito Santo, e tambm a Gnosis crist de Mani e de Valentin, no podemos deixar de observar que a figura da Pomba do Divino, tanto das festas catlicas portuguesas quanto das brasileiras, evoca o Mistrio feminino da Terceira Fora do Pai, a fora da Verdade, da Cincia, do Conselho, da Fortaleza, do Temor de Deus, da instruo ao sbio (Prov. 9:9).

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Foto 11: presente recentemente ofertado Bat Yonh por alunos de So Luis, Maranho, onde o frasco de perfume da uno e os dons do Paracleto so ressaltados como no catecismo catlico.

Nos Evangelhos as Marias, em especial a Virgem e Maria Madalena, representam essa face feminina do Paracleto. Entre 1999 e 2004, alguns autores tais como Dan Brown, Lynn Picknett e Clive Pince trouxeram de volta a figura de Maria Madalena em seu cenrio ctaro sul-frances, ressuscitando o seu simbolismo como Ekklesia anglica e humana, o seu papel como portadora do leo do Paracleto e sua figura como hierofanta. Maria Madalena era a portadora do frasco de leo da Uno Psicopmpica de Jesus. Foi ela a que quase tocara a nova e lmpida veste do ressuscitado, e a que ouviu Jesus falar (no Evangelho da Pistis Sophia) acerca do suor e das lgrimas dos Arcontes que Melquisedeque usa para purificar e tirar deles a Luz que roubaram. No Evangelho de Maria Madalena ela aparece como a apstola que aprendeu em oculto com Jesus os Mistrios Gnsticos mais altos e mais sagrados sendo mais sbia, mais conselheira e mais conhecedora que os doze apstolos.28

Maria Madalena a representante da mais alta Hierofania que os Doze Apstolos deveriam fazer circular por todo o mundo, tornando-se, em paralelo com a figura da Maria Me, a que viu o primeiro corpo de Jesus, o carnal, descido do Pleroma por meio do Paracleto e pelo Anjo Gabriel, que ela ungiu com Nardo, e depois, que ela viu transformar-se em corpo anglico puro. O vaso ou frasco da foto 11, embora esteja representando a verso ortodoxa e teolgica do que a Igreja de Roma entende ser o Paracleto, nos faz pensar aqui no Mistrio trplice da Uno segundo Valentin Gnstico, e no Mistrio do Consolamentum, praticado pelos Bogomilos e Ctaros, e, talvez tambm pelos Templrios, visto que a chamada Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar, Portugal, que, alm de sede dos Templrios lusitanos, tambm era o seu especial cemitrio, est arquitetonicamente construda para representar o Mistrio da Oliveira ou da Uno Psicopmpica. Dentro da magnfica Igreja em meno h as figuras de Santa Ana, profetiza do Templo de Jerusalm na poca do nascimento de Jesus, de Maria Madalena e de Nossa Senhora do Leite, personagens femininas repletas de significado ligado ao Mistrio da Uno e, de certo modo, aos antigos Mistrios de sis e Osris, os quais como se sabe so fundamentalmente sepulcrais. A figura de sis amamentando Hrus enquanto seu marido e irmo Osris enfrenta o julgamento dos Mortos na sala tumular das serpentes e da balana de Maat, para saber se sua velha veste corporal seria ou no desenvolvida em corpo Sahu ou corpo perfeito e luminoso, passa seu simbolismo para Maria Madalena e em especial para Nossa Senhora do Leite. O Leite, a gua e o Mel, que formam a bebida pitagrica Melikraton (ou o Hidromel), tambm consumida por celtas, saxes e vikings, tendo semelhana at mesmo entre os maias, conhecida dos romanos como gua mulsum, deu origem, nas tradies mticas antigas, idia de que os recm-casados deveriam beb-la durante o primeiro ciclo lunar aps o casamento para terem filhos vares, da a expresso lua de mel.29

A Idia das Npcias e conseqentemente do Casamento, que um desdobramento do Mistrio da Redeno ou da Uno de Consolamentum, aonde o varo nascido vem a substituir o filho morto em sacrifcio, e a me viva que o amamenta com seus seios lhe d o Melikraton para proteg-lo e garantir o seu desenvolvimento espiritual com semelhante Refeio Sagrada, no s tem eco na descrio do mito de sis e Osris, mas guarda tambm ligao direta com o significado dos Cinco Mistrios segundo a Escola Gnstica de Valentin egpcio. A Igreja de Santa Maria do Olival, caverna e sepulcro gtico dos mestres templrios, sepulcro sagrado e psicopmpico de Hermes Trs Vezes Ungido, aponta para um Cristianismo Templrio bem distante daquele do monismo neoplatnico de Santo Agostinho, que se explica muito mais pelos Mistrios Dualistas Gnsticos do que pela cartilha teolgica da Igreja de Roma ou pelo Teosofismo portugus. Que o Teosofismo, embora coberto de nobre chama esotrica, no apropriado para desvelar o Cristianismo dualista, j o diz aquela obra denominada Glossrio Teosfico, onde lemos o seguinte: A Teosofia no acredita no Deus bblico nem no Deus dos cristos. Rechaa a idia de um Deus pessoal, extra csmico e antropomrfico, que no mais do que uma sombra gigantesca do homem e no, certamente, do melhor... O Deus da teologia um ninho de contradies e uma impossibilidade lgica [...]. Acreditamos em um Princpio divino universal, a raiz de Tudo, do qual tudo procede e no qual tudo se absorver no final do grande ciclo do Ser... absoluto, infinito; est em todas as partes, em cada tomo do Cosmo, tanto visvel quanto invisvel, dentro, acima e ao redor de cada tomo indivisvel e de cada molcula divisvel, porque Ele o misterioso poder de evoluo e involuo, a potencialidade criadora, onipresente, onipotente e tambm onisciente. Pensamento absoluto, Existncia absoluta; a Seidade (Be-ness), um no Ser... Em seu simbolismo, a Divindade uma esfera sem circunferncia e seu nico atributo ele Prprio. A Igreja de Roma acusa o Teosofismo de pantesmo, ou seja, classifica-o como uma terrvel e abominvel heresia. No guardamos acerca do Teosofismo essa posio radical, bem como tambm no guardamos do monismo tal opinio. Mas, embora Blavatsky esteja30

definindo a sua idia de Deidade tendo em conta mais a idia crist teologal, ao dizer que no acredita em um Deus extra csmico e transcendental, ou seja, anterior e independente da Criao, separado dela, que se assemelhe ao descrito pela Bblia, em especial a da verso grega chamada Septuaginta ou Verso dos LXX, onde os cabalistas trabalharam um nvel esotrico de compilao e traduo muito admirado pelos essnios egpcios e pelo judeu Platonista Flon Alexandrino, ela ataca o dualismo tpico do Gnosticismo Cristo. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que temos admirao pela definio teosfica de Terceiro Logos, porque ela encontra-se posicionada de forma muito distinta da Igreja de Roma e abrange significados muito amplos, vemos nela uma restrio porque foge em certa altura de sua formulao do ponto ainda mais amplo e ainda mais abrangente da conceituao dualista de Paracleto e de seu aspecto feminino espelhado em Santa Ana6, em Maria Me e Maria Madalena, nos Cinco Mistrios Gnsticos da Escola de Valentin egpcio, no conceito de Segundo Paracleto postulado pelos Gnsticos Xiitas Alamuteanos em quem se inspiraram largamente os Cavaleiros Templrios, ou no conceito de Consolamentum postulado pelos Ctaros e Bogomilos.

6 DATAS IMPORTANTES PARA DESTACAR A HISTRIA DO GNOSTICISMO, DO BOGOMILISMO, DO CATARISMO E DA ORDEM DOS CAVALEIROS TEMPLRIOS Para completarmos o que dissemos at agora, mostraremos abaixo as datas que estiveram implicadas com a manifestao da Igreja Gnstica do Paracleto ao longo da histria crist. Sculo I d.C. Jesus transforma na Cruz o seu sangue em Paracleto;

Ana em hebraico Hannah, que significa Graa ou Misericrdia. Misericrdia se diz, tambm, Hessed, que uma das Dez Sephiroth da rvore Cabalstica da Vida, onde se movem Setenta e Dois Anjos e a potencialidade psicopmpica do Paracleto e dos Anjos. Santa Ana, descrita em Lucas 3: 36 a 38, est fazendo o contrrio de Maria Madalena: enquanto ela apresenta um morto para a vida terrestre, Maria Madalena apresenta um vivo a ser crucificado para a vida guenica do Vale da Sombra da Morte. Ana , cabalisticamente, filha de Fanuel, ou seja, dos Anjos da Face, enquanto Simeo, seu par no Templo, era o portador do Paracleto (Lucas 3: 25).

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Sculo II (cerca de 160 d.C.) Valentin, grande gnstico egpcio, ensina sobre o Paracleto; ele diz que toda palavra dita sobre Deus uma Palavra de Deus, portanto, todo Escrito que aborda sobre a Deidade , para ele, uma Escritura Sagrada, mesmo que no produzida pelo seu grupo de sbios alunos, ou mesmo que seja o cnon da Igreja Crist Ortodoxa; o cnon para Valentin e seus alunos formado pela fora de ao e iluminao do Paracleto em cada um dos gnsticos, e, portanto, sempre estar aberto; Sculo III (206 a 277 d.C.) surge Mani-Paracleto e a corrente das Igrejas maniqueias ou Igrejas do Paracleto; Mani manifesta essa caracterstica de Paracleto fazendo-se lembrar dos grandiosos conhecimentos esotricos das grandes religies do seu tempo: o Budismo, o Jainismo, o Zoroastrianismo e o Cristianismo. Sob o impulso da fora do Paracleto ele escreve uma imensa quantidade de textos e forma um grandioso cnon ao redor do qual a Igreja Maniqueia vai existir como forte instituio; o cnon maniqueu fechado; Sculo IV (360 a 385 d.C.) Prisciliano da Galcia advoga ter o dom do Paracleto segundo o qual se julga livre para adotar o cnon segundo a indicao da sua iluminao ou da iluminao de cada sbio cristo; o Paracleto age, ento, sobre a vasta literatura produzida em todos os meios hebreus, cristos ou gnsticos e como a beija-flor que tira o nctar de flor em flor, ele extrai para o cristo o bom ensinamento da totalidade dessas Escrituras Sagradas, no se limitando a nenhum cnon especfico e fechado; isso permite a Prisciliano e sua Igreja lerem at mesmo os Escritos Gnsticos e os Maniquestas; Sculo IV Os gnsticos egpcios do Mosteiro de So Pacmio enterram em Nag Hammadi, prximo do Cairo, dentro de potes especialmente fechados, a maior e mais importante biblioteca de Escritos Cristos de todos os tempos; o Egito no s nos dar no sculo XX essa biblioteca, mas outros escritos, tais como o do Evangelho de Judas e o da Pistis Sophia; Sculo VII d.C. Surge o grupo dos seguidores de Paulo de Samsata (Sria, padre entre 260-268 d.C.) mescla maniquesmo,32

gnosticismo e cristianismo, dando grandiosa nfase ao cristianismo; o grupo se firma no sculo V, mas chega ao sculo VII formando um verdadeiro reino na Armnia; tambm Paulo Apstolo o grande inspirador desse grupo e a base sob a qual ele recristianizou a doutrina de Mani e de Valentin; Sculo IX segundo Vitor Manuel Adrio chega aos territrios de Galiza e Portucale os chamados bares de armas assinaladas, da corte franco-luxemburgues, com o intuito de fundarem na regio um imprio Luso, onde o ttulo Luso refere-se, por um lado, ao filho do Deus Baco, e por outro, Lug, o deus celta dos lugares sagrados, denominando esse reino de Lux-Citnia, ou, diramos ns, Lux-Occitnia, onde a espiritualidade armnia Pauliciana ressuscitaria a Prisciliana, estabelecendo terrenos que seriam bem parecidos com aquele da Lombardia e do Languedoc no sculo XI. Sculo X d.C. certo padre blgaro com o nome de Filoteo ou Tefilo (em grego) e de Bobomil (na lngua dos Blcs), ou seja, chamado Amigo de Deus, estudando cuidadosamente a Doutrina Pauliciana e comparando-a com a da sua Igreja ortodoxa crist, percebeu que encontrava muito mais elemento de puro cristianismo e de elevada tradio apostlica e esotrica no ensino daqueles do que na ortodoxia; a partir de ento, movido pela mesma liberdade proporcionada pelo Paracleto, comeou a estudar antigos apcrifos, escritos gnsticos e maniquestas, reformando e recristianizando ainda mais o Paulicianismo; o movimento criado por ele ficou conhecido como Bogomilismo; Sculo X (938 d.C.) o Paulicianismo e o Bogomilismo se espalham da Bulgria para toda a sia e para muitas partes da Europa, mas em Constantinopla (hoje Istambul, capital da Turquia) consegue se organizar numa forte instituio, tornando-se uma Igreja paralela da Ortodoxia crist; Sculos XI e XII (1093 a 1107 d.C.) - Dom Henrique e seu primo Raimundo, ambos da mesma comarca francesa donde foram originrios alguns dos primeiros Cavaleiros Templrios Guilherme de Champagne, por exemplo consolidam sua sede no Condado da Galiza; Dom Raimundo33

era casado com D. Urraca, filha de Alfonso VI de Castela e Leo, portanto, de descendncia francesa de Borgonha, e leonesa; segundo Vitor Manuel Adrio, as casas reais de Borgonha tinham ligao esotrica forte com a Armnia pauliciano-maniquia, e cita certo monge armnio de nome Simeo como um dos arcanos dessa influncia sagrada; a morte precipitada de D. Raimundo em 1107 d.C. separa as duas zonas irms, Galiza e Portugal, deixando a segunda nas mos da Casa Nobre de Borgonha; Sculo XII (1118 a 1128 d.C.) nove cavaleiros chegam de Jerusalm Paris (Frana), sua terra natal, profundamente tocados por certas doutrinas esotricas dos cristos armnios, dos xiitas gnsticos e das tradies secretas do Oriente acerca da Sabedoria de Salomo; eles recebem recomendaes do Rei de Jerusalm Balduno II para serem aceitos como heris a servio da Igreja de Jesus Cristo, e, em 1128 o Papa Honrio II os consagra como Ordem Militar e lhes concede poderes especiais, isenes de impostos e acesso direto ao papado; o Rei Balduno II, Rei de Jerusalm, era de origem italiano lombarda e tinha grandes amizades com diversos grupos gnsticos do Oriente, mas mantinha segredo absoluto acerca dessas ligaes; Sculo XII (1120 d.C.) Os primeiros ctaros na Frana apareceram em 1120 d.C. na cidade de Limousin e logo expandiram a Igreja do Paracleto para povoados prximos tais como Albi, Toulouse e ao longo das montanhas dos Pirineus; Sculo XII (1124 - 1139 d.C.) os Cavaleiros Templrios unem-se ao Rei Sancho I, de Arago, para combaterem os mouros em Lisboa e cercanias; nessa corte de D. Sancho I h uma ligao hereditria com Ermessenda de Foix, da famlia condal ctara; Sculo XII (1139-1149 d.C.) conhecidos no Oriente como ctaros, puros, perfeitos, os bogomilos comeam a organizar a sua igreja na Europa a partir de 1139 d.C.; em 1145 a populao germnica de Colnia assassina alguns hereges ctaros em sua regio; no ano de 1148 o papa Lcio III e o Imperador Frederico Barbaroxa se reuniram em Verona um

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conclio para estudar sobre a questo da expanso da heresia ctara; em 1149 surge no norte da Frana o primeiro bispado ctaro; Sculo XII (1139 a 1157 d.C.) Alfonso Henriques, filho da Condessa Teressa, junto com Gualdim Paes, cavaleiro templrio portugus, expulsam os mouros de Santarm; a partir de 1139 Alfonso Henriques, mesmo sem o reconhecimento do papa, comea a ostentar o ttulo de Rei de Portugal; em 1157 Gualdim Paes torna-se Gro-Mestre dos Templrios portugueses; Sculo XII (1163 d.C.) o ttulo ctaro (do grego katharos ou puro) surge pela primeira o Ocidente vez na prediga de um monge7 catlico de Colnia (Alemanha), intitulada Sermes Contra os Ctaros, justamente se referindo aos hereges assassinados em 1145 d.C. em sua regio; Sculo XII (1167 a 1180 d.C.) de Constantinopla veio certo Niquintas, da Igreja Bogomila dualista absoluta para reunir na Lombardia e no Languedoc (com a ajuda do dualista moderado Marco de Lombardia) todos os dualistas e formar uma s Igreja do Paracleto, com status de nova corrente de igrejas no catlicas; em 1180, muito bem organizada e j consolidada no sul da Frana e na Lombardia, a Igreja Ctara comea a apresentar uma grandiosa expanso e ameaa tirar de Roma o ttulo de nica Igreja do Cristo na Europa; foi em 1167 d.C. que Niquintas reuniu em Saint-Felix Du Lauragais um grande conclio ctaro e organizou o Catarismo em oito bispados, quatro na Frana (Albi, Agen, Carcassona e Toulouse) e quatro na Lombardia; Sculo XII (1156-1169 d.C.) o Gro-Mestre templrio Bertrand de Blanquefort ordena escavaes no castelo do sul da Frana denominado Castelo de Blanchefort a procura de uma relquia crist sagrada chamada missorium, roubada da Igreja de Roma em 410 por Alarico, rei dos visigodos; o missarium era uma espcie de mesa de ouro circundada por prolas, com um prato de esmeraldas encravado em seu centro forma de um Graal;

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Monge Eckbert Von Schnau.

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Sculo XII (1167 d.C) em Vzelay e Borgonha se ouve falar da existncia de hereges dualistas; Sculos XII e XIII (1160 a 1216 d.C) - nasce em 1160 Lotrio de Segni, de influente famlia italiana, que vai ser eleito em 1198 papa Inocncio III, nome marcante entre os inimigos do Catarismo e do Dualismo gnstico europeu; Sculo XII (1159 - 1171 d.C.) cita uma placa do castelo de Almourol que o mestre templrio Gualdim Paes (1118 - 1195), nobre de Braga, contemporneo do Rei Afonso Henriques, esteve na Terra Santa antes de 1159, participando de importantes batalhas, incluindo a tomada de Ascalon, ficando por l durante cinco anos, quando no citado ano de 1159 foi eleito Mestre da Provncia de Portugal, fundando os castelos de Pombal, Tomar, Zzere e Almourol, bem como os de Idanha e Monsanto; a placa de 1171 d.C.; Sculos XII e XIII (1160 a 1218 d.C.) nasce em 1160 d.C. Simo IV de Montfort, nobre franco-normando que a principal figura militar da Cruzada contra os Albigenses; sua morte se deu em 25 de Junho de 1218, no campo de batalha de Toulouse, governada por Raymond VII; uma pedra lanada por uma catapulta manobrada por mulheres lhe esmaga o crnio e o mata instantaneamente; Sculo XIII (1204 d.C.) na conquista latina de Constantinopla os Paulicianos so mencionados; Sculo XIII (1204 d.C.) Em Fanjeaux o bispo ctaro Guilhabert de Castres, bispo da Igreja Ctara de Toulouse, faz Esclarmond de Foix uma Perfeita; os condes de Toulouse (Raymond VI), Foix (Raymond Roger) e o visconde de Carcassona (Raymond Roger Trencavel) so protetores do Catarismo; a corte de Foix, com a ajuda de Esclarmond, irm do Conde de Foix, reconstri o castelo em runas de Montsgur; a execuo das obras ficara por conta de Raymond de Pereille, que seguiu as orientaes de Guilhabert de Castres para transformar a vila em centro dualista; Sculo XIII (1205 d.C.) o espanhol So Domingos de Gusmo funda uma Ordem Catlica que pregava o retorno ao cristianismo puro dos36

quatro primeiros sculos cristos, a pureza, a castidade, a pobreza, virtudes atravs das quais se tentava competir com a pureza dos ctaros; ele pregou no Languedoc e regies vizinhas tentando fazer a populao retornar ao catolicismo, mas, vendo que sua ao resultara em nada, retornou sua clausura afirmando: esse tipo de cncer s se cura com o bisturi; Sculo XIII (1208 d.C.) padres dominicanos e ctaros se juntam ao povo do Languedoc e regies vizinhas cada um tentando conquistar a f do povo, mas, em 1208 a sorte do lugar selada: o legado papal da regio, representante mximo de Roma, de nome Pedro de Castelnau, assassinado por habitantes de Toulouse; furioso com tal audcia, o papa Inocncio III rene dez mil homens de guerra sob a ordem de Arnoldo de Amauri e o bispo Folquet de Marselha, tendo como homem de estratgia de manobras militares Simo de Montfort (1160-1218); alm dos ctaros, o alvo era tambm os nobres que os protegiam: Raymond VI de Toulouse e Raymond Roger Trencavel de Carcassona e Bziers; tem incio, ento, o que ficou historicamente conhecido como Cruzada contra os Albigenses; Sculo XIII (1209 d.C.) Fanjeaux, Verfeil e Lombers tornam-se centros ctaros importantes que regem a expanso do Catarismo; tem incio em Julho desse ano o terrvel cerco a Bziers pelas tropas da Cruzada contra os Albigenses; Raymond Trencavel, visconde de Albi, Bziers e Carcassona, foge do cerco, volta a Carcassona e se prepara para resistir atrs de suas poderosas muralhas; no dia 22 de Julho, dia de Maria Madalena, a quem os ctaros tinham por sizgia de Jesus, comea o fatdico ataque cidade; em menos de uma hora ela dominada; grandiosos assassinatos tm, ento, lugar entre as ruas e praas e vinte mil pessoas so massacradas; em 3 de agosto Carcassona comea a sofrer os ataques dos cruzados; no dia 14 Raymond Roger Trencavel negociou sua rendio, mas, trado pelo exrcito cruzado, foi algemado e atirado nas prprias masmorras do seu castelo onde morreu de disenteria; Sculo XIII (1209-1210 d.C.) os cruzados, liderados por Simo de Montfort, tomaram Bziers, Carcassona, Toulouse e Narbonne; em 22 de Julho de 1210 cai Minerva, a Pedra de Refgio, e 140 ctaros so queimados vivos;37

Sculo XIII (1211 d.C.) comea, para o conde Raymond VI, de Toulouse, uma srie de negociaes com a Igreja Romana para evitar que seu territrio seja invadido; ele celebrou muitos tratados de paz com as foras invasoras e com os clrigos, mas a todos descumpria para, logo em seguida, celebrar outros; Sculo XIII (1211-1213 d.C.) mais de 600 ctaros so queimados em fogueiras gigantes promovidas por clrigos e cruzados; no inverno entre 1212 e 1213 Simon de Montfort tinha dominado todas as regies do Languedoc, faltando apenas Toulouse; Sculo XIII (1213 d.C.) o papa Inocncio III declara o fim da Cruzada contra os Albigenses, mas uma enorme delegao de clrigos e autoridades se junta, formula cartas, envia mensageiros at o papa, e, ento, este restabelece a Cruzada; Sculo XIII (1215 d.C.) o papa Inocncio III condena os ctaros como hereges no IV Conclio Lateralense; Sculo XIII (1216- 1227 d.C.) morre o papa Inocncio III em 16 de Julho de 1216; em 31 de Agosto eleito papa Honorius III, que preencheu o papado at 1227 d.C., sendo sucedido por Gregrio IX, sobrinho de Inocncio III; Sculo XIII (1216 d.C.) Simo de Montfort proclamado duque de Narbonne e Carcassona e Conde de Toulouse, destronando nesta ltima Raymond VI que foi expulso de seus antigos domnios; Raymond VI parte para Arago com a finalidade de recrutar um exrcito e recuperar o seu territrio; Raymond VII, ento com 19 anos, est no mesmo empreito de seu pai pela recuperao do governo de Toulouse; a partir de 5 de agosto daquele ano Raymond VI e seu filho impuseram duras derrotas a Simo de Montfort; Sculo XIII (1218 d.C.) morre horrivelmente Simo de Montfort na batalha por recuperao de Toulouse em 25 de Junho de 1218; Montfort substitudo por Amauri, seu filho; Sculo XIII (1220 d.C.) Lavour, cenrio de massacre em 1211, novamente massacrada em 1220;38

Sculo XIII (1221 d.C.) em 6 de agosto desse ano morre So Domingos Gusmo em Bologna; Sculo XIII (1227 d.C.) o legado papal Romano Frangipani, cardeal de Saint-Angelo, no Conselho de Toulouse codifica os mtodos da perseguio aos Ctaros; Sculo XIII (1229 d.C.) em 12 de abril deste ano Raymond VII comparece em Notre-Dame de Paris para sofrer severas punies por parte da Igreja e de outras autoridades; ele iria jurar fidelidade ao rei franco Luis IX e obedincia Igreja, perseguindo doravante os Ctaros de sua regio; Toulouse passa a ser franca desde ento; tem fim a Cruzada contra os Albigenses; Sculo XIII (1232) sai de Toulouse um cortejo de Ctaros e simpatizantes do Catarismo, para serem queimados, dentre eles Pagan, senhor de Labcde, leo ao Conde de Toulouse; Pagan um ano antes estava em uma reunio secreta de ctaros em uma floresta da Montanha Negra, prximo de Castelnaudary, quando Raymond e o bispo de Toulouse lhes surpreenderam; o nobre senhor declarou ser um Bom Homem, ou seja, um Perfeito; Sculo XIII (1234 d.C.) em 5 de agosto de 1234 So Domingos Gusmo foi canonizado e Toulouse foi proclamada a sede de sua Ordem; os ctaros tomam srias medidas para se protegerem e elegem Montsgur como sua fortaleza; quem comanda essa eleio Guilhabert de Castres, bispo ctaro de Toulouse; este, em 5 de agosto desse mesmo ano, consolou em seu leito de morte a uma velha senhora da casa dos Borsier, e, aps escapar de volta para Montsgur, quando ainda nem fizera horas de sua partida, um dos criados a denunciou para os Dominicanos Inquisidores, que a capturaram e lanaram-na numa grande fogueira; Sculo XIII (1235 d.C.) do plpito da igreja de Saint-Sernin o inquisidor Di Cremona anunciou que ainda havia muitos hereges em Toulouse e mencionou o nome de alguns deles publicamente, o que revoltou a muita gente, de tal modo que este fora expulso da cidade;

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Sculo XIII (1240-1243 d.C.) em 1240, Amauri, filho de Simon de Montfort, estava em Jerusalm e foi capturado em Gaza; muito arruinado de sade, foi liberado em seguida e morreu nesse mesmo ano em Roma; Raymond VII, amargando as pesadas condenaes e punies que lhe fora imposta pela Igreja, faz aliana secreta com Huges de Lusignan, conde de La Marche e inimigo da coroa francesa; mas a campanha militar destes termina amargando lamentvel derrota imposta pelo exrcito franco, muito mais numeroso e mais equipado; Sculo XIII (1240-1244 d.C.) desde 1204, e mais precisamente a partir de 1229, quando os antigos nobres protetores do Catarismo perderam seus territrios ou foram submetidos fora ao poderio da Igreja de Roma, que os dualistas fugiram para Montsgur e l organizaram a resistncia aos mandos de Roma tanto quanto a continuao da Igreja do Paracleto; nesse perodo tambm foi organizada a fuga da Igreja Ctara para a Catalunha; as rotas de fuga, embora muito diversificadas, deram origem ao que hoje conhecemos como Caminho dos Bons Homens; mas, entre 1243 e 1244 a ateno dos exrcitos francos voltou-se para o que chamavam de ninho da guia, ou seja, a fortaleza de Montsgur, que ento sofreria duro cerco militar; Sculo XIII (1243-1244 d.C.) o vero e o outono de 1243, at o natal, representaram um tempo de resistncia feroz para os refugiados de Montsgur, e, mesmo sem proventos, com nmero reduzido de defensores, o castelo resistiu por longos dez meses, at a rendio em 2 de maro de 1244 d.C.; fora negociada uma trgua at 16 de maro, quando os defensores do castelo foram libertos, mas os ctaros, em nmero de 205, foram cremados vivos, marcando o fim do Catarismo como Igreja Gnstica organizada; Sculo XIII (1244-1255 d.C.) o Catarismo torna-se definitivamente clandestino e no se organiza mais em bispados como o fora por Niquintas em 1167; de 1167 a 1244 a Igreja Ctara contou com cerca de 1500 perfeitos que pregavam sua doutrina entre o povo; em 1300 eles eram cerca de 15 ou 16 vivendo uma vida subterrnea, noturna e esquiva, para no cair nas mos da terrvel Inquisio inventada pelo papa Gregrio IX; em 1250 morreu Raymond VII e com ele a nao sob cujo territrio o40

Catarismo nascera, crescera e se desenvolvera at a estatura de verdadeira Igreja Gnstica do Paracleto; a partir dessa data o local passou a ser reino franco definitivamente, embora imposto aos ombros de gente que ainda hoje no se sente francesa e se mostra com cultura e pensamento nacionalista prprios; em Toulouse, no ano de 1246, houve um dia em que trinta e quatro pessoas foram condenadas em apenas um dia; mesmo nos dias mais calmos e tolerantes, a mdia era de vinte cinco infelizes condenados; em 1247/1248 um senhor e uma senhora, Peter Garcias e Alain de Alayrac, foram consolados, com a senhora doando, como de costume ou praxe inerente ao Rito do Consolamentum, uma tnica, vinte e duas moedas de cobre, uma roupa de linho, uma moeda de ouro, um leque e um manto; Peter Garcias foi denunciado e precisou fugir; nesse perodo (1255) os castelos de Quribus e Puylaurens tiveram que se submeter aos novos governadores da regio, quando antes eram pontos de apoio aos ctaros em fuga; tambm Peyrepertuse no ofereceu resistncia, embora ali estivessem militares acostumados ao terrvel ferro perseguidor de Roma e Frana; Sculo XIII (1274 d.C.) os perfeitos, bons homens, estavam se infiltrando no meio rural para ali se esconder dos olhos grandes dos Inquisidores, os quais achavam nos moradores das cidades suspeitos por todos os lados, incluindo um trovador que recitava os versos de Guilhem de Figueira, preso em 1228 acusado de ser anticatlico e simptico aos ctaros; Montaillou, uma localidade bem ao sul, na direo da Catalunha, hoje importante ponto do chamado Caminho dos Bons Homens, assistiu nesse ano de 1274 ao acanhado e secreto renascimento do Catarismo, o qual sofreria mais tarde um poderoso reforo; Sculo XIII/XIV (1296 - 1301 d.C.) a famlia Authier envia dois representantes seus (William e Pedro) para a Lombardia com a finalidade de reaprenderem sobre o Catarismo e receberem a consagrao ou Consolamentum, se fazendo perfeitos; eles acharam na regio rural chamada Sabarths, perto de Foix, em Ax-les-Thermes e em Montaillou lugar propcio para o redespertar da Igreja do Paracleto; em 1301 William e Pedro estavam no casamento de Brenger de Roquefort, senhor de Montaillou e Beatrice de Planisolles, na igreja da aldeia de Notre-Dame41

de-Carnasses, onde William danou de forma muito destacada, escondendo assim a sua afiliao ao Catarismo; Sculo XIV (1301-1305) os Authier formam no Sabarths um pequeno ncleo de perfeitos, contando com nomes tais como William Bonus, Raymond seu irmo, Prades Tavernier, as mulheres Aude Bourrel e Mengarde Clergue, William Belot e Filipe dAlayrac, mas a pregao destes acontece em todo o Lauragais; em 1305 Jaime Authier e Prades Tavernier foram presos pelos guardas que os espreitavam e foram aprisionados em Carcassonne, mas conseguiram fugir; eles contavam, ento, com mais de mil lares apoiadores do Catarismo; Sculo XIV (1309 d.C.) Pedro Authier e Sanches foram presos e entregues inquisio, levados de Toulouse para Carcassonne, onde se juntaram ao restante do grupo: Pedro Raymond, Amiel de Perles, Jaime Authier, Prades Tavernier, Filipe dAlayrac, Pons Bayle, Pedro Sans e Raymond Fabre; em seguida foram queimados; Sculo XIV (1309 a 1321 d.C.) escapara d grupo de executados dos responsveis pelo rebroto do Catarismo certo William Belibastes, o qual reuniu esforos para peregrinar ao longo do Caminho dos bons Homens at a Catalunha, reagrupando crentes ctaros, concentrando seus esforos em Morella e San Mateo; fugitivos de Montaillou criaram uma colnia de refugiados que receberam com prazer imenso o ltimo perfeito ctaro; mas, sem que ningum soubesse, havia um espio da Inquisio no grupo, de nome Arnaud Sicre, o qual enganou Belibastes fazendo-o ir ao Sabarths para consolar uma velha tia sua; ali aprisionado, o ltimo perfeito morreu em Villerouge-Termens em 1321; a epopia ctara submerge, depois disso, em pntanos de esquecimento; em VillerougeTermens h uma cruz de ferro bem atrs do castelo, de forma triflia e encimada por um galo, a ave do Testemunho da Verdade, e h a profecia: aps setecentos anos renascerei; para os jessnios o seu Mebaker uma encarnao de Belibastes, hoje com a misso de fazer renascer a Igreja do Paracleto; Sculo XIV (1307-1314 d.C.) o rei francs Filipe IV, cognominado Filipe o Belo, manobra a casa religiosa de Sens e o Papa Clemente V para42

primeiramente prender todos os Cavaleiros Templrios em 1307, numa sexta-feira 13 do ms de Outubro da a lenda da m sorte da sexta feira 13 e depois, em 7 de Abril de 1310 data que coincide propositalmente com a festa jessnia do nascimento de Mani e da sua Cruz de Luz (entre 2 e 22 de Abril, com centro em 12 desse ms), para condenar por heresia os nobres monges guerreiros; certo Bernard Du Gu, Templrio das terras ctaras de Albi, conta o seguinte: tanto interrogatrio, resisti tanto ao fogo que a carne dos meus calcanhares ficou toda queimada e os ossos caram aos bocados; em 1312 o Papa Clemente V dissolveu a Ordem dos Cavaleiros Templrios; 18 de maro de 1314 morre queimado o ltimo gro-mestre templrio, Jacques de Molay; Sculo XIV (1395 d.C.) em 1395 nasce o personagem conhecido apenas pela sigla C.R.C., ou seja, Cristo+Rosacruz; seu nome tem implicaes com os chamados Manifestos Rosa-cruzes do sculo XVII, onde se diz que seu tmulo foi em Narbonne, ou seja, numa das cidades implicadas com o fenmeno da Igreja Ctara. Se vamos tomar sob algum ponto de vista histrico o mito de C.R.C., devemos acreditar que ele surge entre os sculos XIV e XV, se mescla com o nascimento do movimento cristo do Protestantismo, encontra dentro das fileiras deste movimento os Paulicianos e os Valdenses, bem como os ltimos remanescentes Ctaros, e passa para os sculos XVI e XVII, donde se refora e mantm a sua presena at a data de hoje. Outro enigma a Capela de Rosslyn, na Esccia, que construda no sculo XV (1446 d.C.), muito depois da morte do ltimo Gro-Mestre Templrio, e muito antes da existncia histrica da Maonaria (instituda em 1723), porm, contm vasta simbologia das duas mencionadas Ordens. Ainda que tenhamos que manter, pelo bem da Verdade, um olhar cuidadoso sobre a capela gtica de Rosslyn, visto ela estar agora, depois da obra de Dan Brown denominada O Cdigo Da Vinci, ainda mais afastada da sua construo original que quando sofreu as intervenes da Rainha Vitria, entretanto, podemos constatar ali um Templismo tardio e um Maonismo antecipado, ambos fazendo o Testemunho da Verdade43

mergulhar com seu magnfico linguajar ptreo e arquitetnico no sculo XXI, formando com o complexo arquitetnico mais recente (fins do sculo XIX e incio do XX) da magnfica Quinta da Regaleira.

7 COMO A COMUNIDADE JESSNIA HERDA O DNA DESSA GRANDIOSA CORRENTE DUALISTA ESOTRICA DESDE OS ESSNIOS E OS PRIMEIROS GNSTICOS CRISTOS, MANIQUESTAS, PRISCILIANISTAS E PAULICIANISTAS AT OS BOGOMILOS, TEMPLRIOS, CTAROS E ROSACRUZES Concluindo o nosso trabalho de definio do Cristianismo e do Maniquesmo, bem como de suas implicaes com o Dualismo, cremos ter demonstrado de modo claro que toda a nossa movimentao de peregrinao no Sul da Frana, na Catalunha, na Galiza e em Portugal por conta das trs Festas da Bema Montsgur (2003, 2007 e 2011), com diligncias diversas agora em 2011, e em outros anos anteriores, de alunos jessnios na Alemanha, na Inglaterra e na Armnia, orientados para exercerem a funo de busca e reconhecimento dos legados das Fraternidades Gnsticas do Oriente e da Europa, seu registro e apurao histrica, esforos estes somados peregrinao no territrio da Colmbia e a nossa imensa ligao com o legado de Qumran e Nag Hammadi, o primeiro visitado de modo especial pelos jessnios brasileiros no Rio de Janeiro e em So Paulo, nos anos de 2004 e 2005, e uma ainda viva tentativa de participar de esforos para que o Museu de Qumran retorne ao Brasil, comprovam que temos uma inegvel ligao hereditria com o Dualismo e com as manifestaes gnsticas dualistas do Cristianismo. Qumran o fundamental leito e bero da manifestao do Paracleto na forma de Esprito da Verdade. Em Qumran existe um legado que nos permite imaginar com exatido histrica qual era a grandiosa prola doutrinria dos essnios egpcios conhecidos como Terapeutas.

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Dessa prola dualista de cujo brilho bebeu o judeu Flon de Alexandria e muitos sbios daquela cidade, surgiu a poderosa corrente gnstica egpcia, constituda pelas Escolas Basilidiana, Valentiniana e Ofita. Qumran e todo o Essenismo so fundamentalmente dualistas e centrados na Iniciao por meio do Rito de Mistrios do Graal (Refeio Sagrada) e do Batismo. Em linha direta de hereditariedade e consanginidade com os essnios, a Escola Gnstica Valentiniana nos deixou como legado a maioria dos Escritos Gnsticos da Biblioteca de Nag Hammadi e o belssimo Evangelho da Pistis Sophia. Tambm Prisciliano, o gnstico espanhol do sculo IV, muito se aproximou do legado gnstico do Egito, de tal modo que escritores como Margarida Barahona Simes, Daniel Tern Fierro e Henry Chadwick do conta do fato de Prisciliano ter usado em suas comunidades dos signos de Abraxas, pertencentes s correntes gnsticas egpcias da Escola de Valentin e de Baslides. De modo mais enftico que Margarida Barahona, Daniel Tern Fierro afirma que Prisciliano teve que se explicar em seus tratados porque sua comunidade usa o nome Ia gravado em pedras, escrito em hebraico ou em grego, o que caracteriza as pedras de Abraxas da Gnosis Basilidiana.

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Figura 12: Abraxas priscilianista. Notar a presena da figura das Cabras e de aves (Patos? Galos? Gansos?). Se o desenho mostra a figura de Gansos, pode ser de origem priscilianista a grande marca esotrica da Pata de Oca e do seu jogo simblico, to famoso na Espanha.

Priscilianismo, Maniquesmo, Bogomilismo e Cristianismo formaram as principais crenas do Catarismo e podem ter influenciado de modo bem subterrneo os Cavaleiros Templrios. Do Rosacrucianismo, do Maniquesmo, do Templismo e do Catarismo, bem como do passado gnstico americano, em especial aquele que tem fortes traos entre os Guambianos e Muiscas, os primeiros claramente dualistas, surge a Gnosis Jessnia. A Comunidade Jessnia herda, ento, esse passado e por grandiosa alquimia, faz a Gnosis do presente. Ela , desse modo, a mais legtima continuao do legado gnstico Ibrico e occitnico para o tempo atual. ***

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OBS.: Utilizamos nesse artigo diversas obras como fontes histricas de consulta. O motivo to-somente o de afinar as nossas instrues esotricas, inteiramente oriundas do nosso centro hierofntico, a Cruz de Luz, com as pesquisas acadmicas e, assim, dar ao nosso estudo uma maior legitimidade. Com efeito, ao lidar com datas e ao acreditar que elas so precisamente emanadas das configuraes astrosficas celestes, das quais livros apocalpticos como o Evangelho da Pistis Sophia do claros registros, a melhor atitude a de procurar oferec-las com a maior exatido possvel. Fotografar as capas dessas obras , a nosso ver, no s um ato de dar crditos aos seus autores, mas tambm dar-lhes a merecida divulgao. Ibny Joshai e Bat YYonh.

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