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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA SOFIA CAROLINA DA SILVA CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL: PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS São Borja 2014 SOFIA CAROLINA DA SILVA

CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

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CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL: PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo. Orientadora: Vivian Belochio Orientanda: Sofia Silva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA

SOFIA CAROLINA DA SILVA

CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL:

PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE

REDES SOCIAIS

São Borja

2014

SOFIA CAROLINA DA SILVA

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CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL:

PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE

REDES SOCIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Comunicação Social da

Universidade Federal do Pampa, como

requisito parcial para obtenção do Título de

Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Vivian Belochio

São Borja

2014

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar como as inclusões dos sites de redes sociais

podem interferir nos critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com. Diante do atual

contexto do jornalismo digital, o qual tem utilizado os sites de redes sociais em suas práticas,

reflete-se, especificamente, sobre como as apropriações desses sites de redes sociais têm

influenciado as práticas jornalísticas. Para tanto, num primeiro momento, foi realizada revisão

bibliográfica que aborda os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia, as características

do jornalismo digital e as apropriações das redes sociais realizadas neste âmbito. Na parte

metodológica, utilizaram-se as técnicas da observação qualitativa e da entrevista

semiestruturada. A observação do webjornal Zero Hora.com analisa a presença, ou não, dos

sites de redes sociais na sua publicação. Verifica as características das suas apropriações neste

veículo. Foram notadas, a partir da observação qualitativa, principalmente apropriações

relacionadas ao uso dos sites de redes sociais como fontes de pautas, o que foi possível

observar pelos conteúdos desenvolvidos a partir dos sites de redes sociais. Além da

observação do webjornal, também, realizou-se entrevista semiestruturada com a editora chefe

do núcleo de redes sociais de Zero Hora.com, Bárbara Nickel. Esta permitiu a verificação das

tendências notadas a partir da observação do webjornal, bem como a revelação de outros

detalhes importantes quanto ao uso de redes sociais. As conclusões indicam para uma possível

tendência de inclusão dos sites de redes sociais nas práticas jornalísticas cotidianas daquele

webjornal. Acredita-se que isso, consequentemente, pode interferir nos seus critérios de

noticiabilidade.

Palavras-chaves: Jornalismo digital; redes sociais; critérios de noticiabilidade e Zero

Hora.com.

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ABSTRACT

This study aims to examine how the inclusion of social networking sites can interfere with the

criteria of newsworthiness webnewspaper Zero Hora.com. In today's context of digital

journalism, which has used social networking sites in their practices, is reflected specifically

on how the appropriation of these social networking sites have influenced the journalistic

practices. For this, at first, a literature review that addresses the criteria for newsworthiness

and the news values, the characteristics of digital journalism and appropriations of social

networks conducted in this field was performed. The theoretical part, we used the techniques

of qualitative observation and semi-structured interviews. The observation of webnewspaper

Zero Hora.com analyzes the presence or not of social networking sites in your publication.

Checks the characteristics of its appropriations in this vehicle. From the qualitative

observation were noted, mainly appropriations related to the use of social networking sites as

sources of guidelines, which was observed by content developed from social networking sites.

In addition to observing the webnewspaper also held semi-structured interview with the chief

editor of the core social networks Zero Hora.com, Barbara Nickel. This allowed the

verification of the trends noted from observation of the web journal, as well as the

development of other important details regarding the use of social networks. The findings

indicate a possible trend for the inclusion of social networking sites in everyday journalistic

practices that webnewspaper. It is believed that, consequently, can interfere with your criteria

of newsworthiness.

Keywords: digital journalism, social networks, criteria for newsworthiness and Zero

Hora.com.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 -Box “Siga a Folha” retirado da página da editoria Ilustrada do jornal Folha de São

Paulo ......................................................................................................................................... 42

Figura 2 - Primeira parte da página de conteúdo com presença de três momentos de sites de

redes sociais ............................................................................................................................. 43

Figura 3 - Modelo de postagem no Facebook no perfil do jornal Folha de São Paulo ............ 44

Figura 4 -Modelo de postagem no Google + pelo perfil do jornal Folha de São Paulo .......... 45

Figura 5 -Cabeçalho da Capa do site do jornal O Globo ......................................................... 46

Figura 6 - Imagem do box “Nas Redes” encontrado nas páginas de conteúdo da editoria

Economia ................................................................................................................................ 47

Figura 7 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo .................................................. 48

Figura 8 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo .................................................. 49

Figura 9 -Imagem do Twitter do perfil do jornal O Globo com o resume expandido .............. 50

Figura 10 -Imagem do Google + do perfil do jornal O Globo ................................................. 51

Figura 11 - Imagem da página inicial do jornal Estadão .......................................................... 52

Figura 12 -Imagem do box retirado da página inicial da editoria Saúde do jornal Estadão ..... 53

Figura 13 –Trecho retirado da página Central de Redes Sociais .............................................. 56

Figura 14–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 57

Figura 15–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 57

Figura 16–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 58

Figura 17 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais ............................................. 58

Figura 18 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais ............................................. 59

Figura 19 – Amostra da Ficha de Tipo 1 .................................................................................. 62

Figura 20 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com em página de conteúdo ......... 67

Figura 21 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com na página „Central de Redes

Sociais‟ ..................................................................................................................................... 68

Figura 22 -Pontos de Estímulos de Interação encontrados na página do webjornal Zero

Hora.com ................................................................................................................................. 69

Figura 23 - PEI como botão de „curtir‟ junto a um plugin do Facebook ................................. 69

Figura 24 – Chamada para a Missão Instagram encontrada na capa do Zero Hora.com ......... 70

Figura 25 – Mosaica da Missão Instagram na página de conteúdo.......................................... 71

Figura 26 – Chamada encontrado na capa do Zero Hora.com para a cobertura da apresentação

do jogador Pedro Geromel ........................................................................................................ 72

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Figura 27 – Trecho da cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel encontrada na

página de conteúdo ................................................................................................................... 73

Figura 28 - Chamada com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais

encontrado na capa do Zero Hora.com ..................................................................................... 74

Figura 29 - Imagem com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ....... 76

Figura 30 – Chamada de capa com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes

sociais ....................................................................................................................................... 77

Figura 31 – Trecho de Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ................................. 78

Figura 32 – Chamada de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais .............................. 79

Figura 33 – Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado nas páginas de

conteúdo ................................................................................................................................... 80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Modelo da Tabela Geral das Fichas do Tipo 1 ..................................................... 63

Tabela 02 – Modelo da Tabela Geral do Tipo 2 ....................................................................... 64

Tabela 03 – Tabela Geral das Fichas do Tipo 1 ....................................................................... 65

Tabela 04 – Tabela Geral do Tipo 2 ......................................................................................... 66

Page 8: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9

2 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA EM TEMPOS DE

COMUNICAÇÃO DIGITAL ................................................................................................ 12

2.1 Seleção dos temas de destaque em diferentes níveis .......................................................... 18

3 A TRANSFORMAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE NA WEB ....... 24

3.1 Inflências da Web 2.0 e da convergência ........................................................................... 31

4 APROPRIAÇÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS PELO JORNALISMO ................ 36

4.1 Exemplos de apropriações em sites jornalísticos brasileiros .............................................. 41

4.1.1 Folha de SãoPaulo ........................................................................................................... 41

4.1.2 Jornal O Globo ................................................................................................................ 46

4.1.1 Jornal Estadão .................................................................................................................. 51

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 55

5.1 Zero Hora.com .................................................................................................................... 55

5.2 Técnicas de análise ............................................................................................................. 61

5.2.1 Observação qualitativa .................................................................................................... 61

5.2.1.1 Resultados da observação qualitativa ........................................................................... 65

5.2.1.2 sobre os conteúdos que partiram das remissões ........................................................... 66

5.2.2 Entrevista semiestrutura .................................................................................................. 81

6 CONSIDERAÇÃOES FINAIS ........................................................................................... 85

REFERENCIAS .................................................................................................................... 88

ANEXO A ................................................................................................................................ 92

ANEXO B ................................................................................................................................ 94

ANEXO C ................................................................................................................................ 95

ANEXO D .............................................................................................................................. 106

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1 INTRODUÇÃO

Novas gerações têm crescido com o uso da internet, ao ponto de considerá-la como

elemento natural, comum no seu cotidiano, enquanto as gerações mais antigas têm se

adaptado à presença desta tecnologia. A web e suas aplicações, sejam elas de trabalho ou

lazer, estão inseridas, cada vez mais, nas rotinas dos indivíduos, ainda que de forma

experimental.

Isso também tem acontecido com o jornalismo, à medida que ele vem ampliando os

usos que faz das tecnologias digitais, entre elas as potencialidades da Web e da comunicação

em redes. Na realidade da cultura da convergência (JENKINS, 2008), o jornalismo digital

realiza experimentações que o alteram e que, quando bem sucedidas, imprimem-no identidade

própria. Dentre as suas características específicas, há de se considerar a sua diferenciação em

relação à interatividade, atualização contínua, personalização, hipertextualidade, memória e

multimidialidade (MIELNICZUK, 2003). O uso das bases de dados (BARBOSA, 2007) e dos

aparatos móveis (BARBOSA, 2013), também influencia esse processo. Algumas práticas

comuns ao jornalismo como apuração, produção, circulação e consumo de informação

(MACHADO; PALACIOS, 2006) têm se diferenciado quando se trata do jornalismo digital.

Os sites de redes sociais (RECUERO, 2009) são elementos que estão compondo,

atualmente, as práticas do jornalismo digital. As apropriações que são realizadas pelo

jornalismo nesses espaços variam de acordo com a criatividade e o domínio de cada

profissional em relação aos sites de redes sociais. O que se tem observado, é que eles estão

sido utilizados não apenas como perfis de veículos noticiosos, mas, também, algumas vezes,

para gerar conteúdo colaborativo ou, por exemplo, como fontes de pautas.

Diante disso, questiona-se: será que a inclusão dos sites de redes sociais nas

publicações noticiosas gera significativa mudança nas dinâmicas de produção das redações?

Quando, por exemplo, um jornal tradicional cria um perfil no microblog Twitter, perfil ou fan

pageno Facebook, será que é apenas uma moda passageira ou há algo que pode alterar o

processo de escolha das informações a serem destacadas? Quais são as evidências dessas

alterações? Será que elas interferem nos critérios de noticiabilidade dos meios jornalísticos?

Este trabalho propõe contribuir com a reflexão sobre as questões expostas. Para isso,

aborda como o uso dos sites de redes sociais no jornalismo pode ou não interferir na definição

dos seus critérios de noticiabilidade. O caso observado é do webjornal gaúcho Zero

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Hora.com, representante do jornal impresso Zero Hora na Web. Este webjornal foi escolhido

pelas suas práticas ousadas em relação aos sites de redes sociais e, também, porque surgiu de

um jornal impresso, o qual teria, na sua redação, as práticas tradicionais mais consolidadas.

Considerando a proposta citada, os objetivos desta monografia são os seguintes:

Objetivo geral

- Investigar como a utilização dos sites de redes sociais pode interferir nos critérios de

noticiabilidade de Zero Hora.com.

Objetivos Específicos

- Estudar a apropriação dos sites de redes sociais nos veículos jornalísticos e as possíveis

afetações dessas ações nos seus critérios de noticiabilidade;

- Verificar características das apropriações dos sites de redes sociais em Zero Hora.com a

partir de observação estruturada e entrevista semiestruturada.

Para atingir tais objetivos, esta monografia é composta por quatro capítulos. O

primeiro apresenta reflexões teóricas sobre os processos de construção da notícia no

jornalismo, considerando as diferenças entre valores-notícia e critérios de noticiabilidade.

Esta partetambém discute os fatores que podem influenciar os critérios de noticiabilidade em

mídias diferentes, considerando suas características tecnológicas, seu suporte e seu modo de

endereçamento. Foram consultados autores como Dalmonte (2008), Moreira (2006), Traquina

(2005) e Wolf (2008). Na segunda parte, o enfoque são as características adquiridas pelo

jornalismo digital ao longo de sua história. Destaca-se as especificidades adquiridas por ele ao

longo das suas cinco gerações. A segunda parte também reflete sobre as transformações do

jornalismo digital na Web 2.0 (O‟REILLY, 2005) e no contexto da cultura da convergência

(JENKINS, 2008). Autores como Palacios, (2002), Mielniczuk (2003), Barbosa (2007; 2008;

2013) e Jenkins (2008) foram inseridos nas problematizações.

A terceira parte discute as características das apropriações dos sites de redes sociais no

jornalismo digital. Realiza reflexão sobre as possíveis interferências dessas ações nas suas

rotinas produtivas e nos seus critérios de noticiabilidade. Foram utilizados autores como

Lemos (2002), Machado e Palacios (2006), Recuero (2009), Zago (2011) e Souza (2013).

Finalmente, são descritos os procedimentos metodológicos, compostos por duas

técnicas: a análise qualitativa de 30 capas do webjornal Zero Hora.com e de onze páginas de

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conteúdos do mesmo webjornal. Além disso, esta parte do trabalho descreve e analisa

entrevista semiestruturada realizada a editora chefe do núcleo de redes sociais do webjornal

ZeroHora.com, Bárbara Nickel.

Como o presente trabalho apresenta as primeiras reflexões de questões que ainda

precisam ser exploradas em estudos futuros, as primeiras conclusões apontam para possíveis

alterações das rotinas produtivas jornalísticas em função do uso das redes sociais.

Considerado que os critérios de notibiabilidade, conforme Moreira (2006), envolvem também

os elementos inseridos nas rotinas de produção das notícias, como será exposto no capítulo

um, acredita-se que eles podem estar sendo afetados por essas movimentações.

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2CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA EM TEMPOS DE

COMUNICAÇÃO DIGITAL

Antes de aprofundar a discussão sobre a influência da apropriação dos sites de redes

sociais na definição dos critérios de noticiabilidade dos veículos jornalísticos, é necessário

compreender os mesmos e a relação deles com as dinâmicas jornalísticas. Os próximos

parágrafos são dedicados a essa revisão e reflexão.

Sousa (2002, p.3) afirma que as notícias ocupam-se com as aparências dos fenômenos

que ocorrem na realidade social e com as relações que aparentemente esses fenômenos

estabelecem entre si”. Ou seja, segundo o autor, as notícias não representam fielmente a

realidade, porque a produção noticiosa sofre o impacto das limitações humanas. Por isso, as

notícias não deixam de serem representações de parcelas da realidade, “independentemente da

vontade do jornalista, da sua intenção de verdade e factualidade. (SOUSA, 2002, p.3).

Ferreira (2002) já discute outra perspectiva, pois aponta que a produção da notícia é

condicionada pelo “habitus1”. Ele afirma que é “sob a égide da lógica comercial que a prática

jornalística impõe as limitações na produção da notícia” (FERREIRA,2002, p.10). Segundo o

autor, a emoção é uma característica a se despertar na escolha da notícia. Esse apelo adquire

proporções diferentes, segundo as particularidades do meio e do veículo (FERREIRA, 2002).

Dessa forma, a construção da notícia, seus processos e dinâmicas, são descritos e

estudados a partir de diferentes pontos de vista. Um deles é a Teoria da Ação Pessoal, ou a

Teoria doGatekeeper,sugerida por David Manning White. Segundo Traquina (2005),o termo

gatekeeper refere-se à pessoa que “toma uma decisão numa sequência de decisões”

(TRAQUINA, 2005, p.150), o que, no processo de produção da notícia, seriam as escolhas em

série feitas pelos gate, que são os jornalistas, sobre as notícias que entrariam e as que não

entrariam em uma publicação jornalística.

Tal teoria leva ao entendimento de que o processo de seleção dos assuntos a serem

publicados se torna subjetivo e arbitrário, ou, ainda, “dependente de juízos de valores

baseados na experiência, atitudes e expectativas do Gatekeeper” (TRAQUINA, 2005,

p.150).Segundo Traquina, aTeoria doGatekeeperanalisa as notícias apenas a partir de quem a

produz: o jornalista, o que faz com que ela se situe ao nível individual, por apresentar uma

1 Ferreira (2002) entende o habitus como “tomadas de posição adotadas pelos jornais e pelos jornalistas sob a

égide das exigências do mercado” (FERREIRA, 2002, p.10). Ou seja, são as decisões tomadas entre as relações

entre força e sentido de um jornal, as quais servem para traduzi-lo no que ele é numa “busca de direto à

existência que se faz pela diferenciação de seus semelhantes” (FERREIRA, 2002, p.10).

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explicação quase que exclusivamente psicológica. Assim, individualiza uma função que tem

dimensão burocrática inserida numa organização.

A teoria dos constrangimentosorganizacionais é outra linha de reflexão sobre a questão

da escolha das notícias privilegiadas em determinadas publicações. Traquina (2005) explica

que a teoria organizacional acabou alargando a perspectiva teórica do viés individual para

outro mais amplo, que é a organização jornalística.Waren Breed (1955/1993), sociólogo que

sugeriu essa teoria, alega que, na rotina de produção das notícias, o jornalista se confronta

“mais com as normas editoriais da política editorial da organização do que com quaisquer

crenças pessoais que ele ou ela tivesse trazido consigo” (TRAQUINA, 2005, 152). Ou seja,

dessa forma, a “teoria organizacional enfatiza o processo de socialização organizacional em

que é sublinhada a importância duma cultura organizacional, e não uma cultura profissional”

(TRAQUINA, 2005, p.153).

Com a revisão das teorias citadas, podemos observar que a construção da notícia varia

conforme o contexto em que ela está sendo produzida e as situações que direcionam o

julgamento de um fato como algo com potencial para ser noticiado. Esses variam desde, por

exemplo, a estrutura hierárquica dentro da redação até o julgamento do profissional a respeito

das possíveis preferências dos seus leitores. Ou seja, há diferentes universos que influenciam

a produção da notícia: o interno, sendo a redação; o externo, podendo ser as crises econômicas

que o jornalismo tem passado e, ainda, o contexto pessoal do profissional, quando o jornalista

pressupõe o que pode interessar o seu leitor. Assim, os critérios de noticiabilidade surgem em

consonância com todos esses fatores. Essas relações serão discutidas com as exposições a

seguir.

Para Wolf (2008), a noticiabilidade é constituída pelos critérios, operações e

instrumentos com os quais os órgãos de imprensa enfrentam a tarefa de escolher as notícias.

Por isso, assim como afirmar Berger (1996), “o processo de rotinização e estandardização das

práticas produtivas inclui fatores como o espaço disponível e a política editorial, a aprovação

do anunciante e a apreciação do leitor” (BERGER, 1996).

A rotinização compõe o processo que internaliza a produção da notícia. Sendo assim, é

durante esse momento que critérios são estabelecidos quanto à seleção e escolha dos fatos que

serão notícias. Esses critérios, que surgem durante a rotina jornalística, colaboram para a

construção social da realidade (DALMONTE, 2008). Dalmonte (2008) afirma que uma forma

de assegurar a legitimidade da notícia é por meio dos critérios de noticiabilidade, pois essa é a

estratégia do discurso jornalístico: assegurar o efeito de real.

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Segundo Bianco (2004), a produção da notícia pelas empresas jornalísticas ocorre, de

forma rotineira, dentro de um ciclo produtivo constituído para facilitar o processo e tornar

viável o trabalho cotidiano. Dentro desse ciclo produtivo ao qual Bianco (2004) se refere, é

empregada uma série de critérios e procedimentos para atribuir noticiabilidade a um

acontecimento. Para Wolf (2008), esse conjunto de critérios

[...] correspondem ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais

os aparatos de informação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de um

número imprevisível e indefinido de acontecimentos, uma quantidade finita e

tendencialmente estável de notícia. Sendo assim, a noticiabilidade está estreitamente

ligada aos processos que padronizam e tornam rotineiras as práticas de produção: ela

equivale a introduzir práticas de produção estáveis numa “matéria-prima” (os

acontecimentos do mundo), por sua natureza extremamente variável e imprevisível.

(WOLF, 2008, p. 196).

A partir das afirmações do autor,pode-se entender que os critérios de noticiabilidade

estão relacionados a vários fatores probabilísticos além de estaremligados à “cultura

profissional dos jornalistas” e à “organização do trabalho e dos processos de produção”

(WOLF, 2008, 196). Sendo a segunda característica relacionada às escolhas feitas pelo

jornalista enquanto um profissional que, por experiência, procura selecionar o que agrada o

seu público a partir da imagem que faz do mesmo. A organização do trabalho e dos processos

de produção são referente à linha editorial do veículo, ou seja, às condutas que também estão

relacionadas com interesses mercadológicos. Para Belochio(2010, p.9),“os critérios de

noticiabilidade envolvem aspectos profissionais e mercadológicos que acabam influenciando

as opções editoriais dos veículos”.

Wolf (2008) também diz que os critérios de noticiabilidade são o “conjunto de

elementos por meio dos quais o aparato informativo controla e administra a quantidade e o

tipo de acontecimentos que servirão de base para a seleção das notícias” (WOLF, 2008,

p.202). Por isso, seguindo os eixos de pensamento já apresentados, Moreira (2006) afirma, a

partir de Wolf (2008), que a “transformação de um acontecimento em notícia é o resultado de

uma ponderação entre avaliações relativas a elementos de peso, relevo e rigidez diferentes”

(MOREIRA, 2006, p.37). Características que a autora indica como responsáveis por formar o

caráter elástico do processo de noticiabilidade.

É pertinente, também, estabelecer algumas diferenças entre os critérios de

noticiabilidade e os valores de construção da notícia (valores-notícia). Moreira (2006) afirma

que ambos estão relacionados às rotinas produtivas. Porém, “os valores de seleção podem ser

analisados em um corpus de notícias publicadas, pois se referem mais às características que

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tem ou deve ter uma notícia, entendida como um relato publicado” (MOREIRA, 2006, p.38).

Ou seja, os valores-notícia estão relacionados ao conteúdo da mensagem.

Já “os critérios de noticiabilidade tendem a ser usados quando querem fazer referência

não só aos fatos como também às circunstâncias em que eles são percebidos e selecionados,

envolvendo qualquer elemento que possa influenciar a veiculação de uma notícia”

(MOREIRA, 2006, p.38). Por isso, Moreira (2006) os entende como de caráter elástico, pois

os critérios de noticiabilidade, para a autora, se formam a partir de variáveis e se relacionam

de maneiras e intensidades diferentes durante a produção jornalística. Sendo assim, pode-se

questionar: qual é o potencial de mutação das dinâmicas jornalísticas com diferentes práticas e

tecnologias que surgem com o tempo, inclusive as alterações que se referem à comunicação

digital, para a alteração desses critérios elásticos?

Wolf (2008) divide os critérios de noticiabilidade da seguinte forma: critérios

substantivos; critérios relativos ao meio; critérios relativos ao público e critérios relativos à

concorrência. Eles serão descritos nos próximos parágrafos.

Os critérios substantivos reúnem os valores referentes ao conteúdo da notícia, pois,

segundo Wolf (2008, p. 196), “afirmar que uma notícia é escolhida por ser importante ou

interessante não esclarece muito”. Wolf relaciona esse critério aos seguintes fatores: grau e

nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável; impacto sobre a

nação e o interesse nacional; quantidade de pessoas que o acontecimento (de fato ou

potencialmente) envolve e a relevânciado acontecimento em relação aos desenvolvimentos

futuros de uma determinada situação.

Os critérios relativos ao meio abarcam os valores-notícia derivados do tipo de meio de

comunicação que está veiculando a notícia, uma vez que as suas características tecnológicas

podem limitar/condicionar as formas de transmissão das notícias. Uma pauta que serve para

ser televisionada pode não servir para ser impressa. Da mesma forma, a notícia que serve para

o rádio pode não servir para a televisão sem uma adaptação. Isso também se estende aos

meios noticiosos digitais(BELOCHIO, 2010), que além de ampliarem as possibilidades já

existentes de transmissão das notícias, também criam formas diferenciadas, isso considerando

as peculiaridades da utilização dos meios digitais, como será observado adiante.

Os critérios relativos ao público, conforme Wolf (2008), estão relacionados à visão

que o jornalista forma sobre o seu público quando avalia a viabilidade de um fato ser

noticiado. Uma vez que o grau de satisfação dos leitores pode ser colhido através de

pesquisas, ou seja, “as exigências do destinatário são constantes” (WOLF, 2008, p.222), a

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produção do jornalista sofreria influência do que ele mesmo pensa ou crê sobre os assuntos

que o seu o público pode consumir ou não de informação.

Os critérios relativos à concorrência relacionam-se a quanto um veículo pode se

alterar a partir das ações da sua concorrência. Segundo Wolf (2008, p.224), “competição

produz também o resultado de contribuir para estabelecer parâmetros profissionais dos

modelos de referência”. Essa mesma competição que estimula mudanças também “gera

expectativas recíprocas, no sentido de que pode acontecer de uma notícia ser selecionada por

se esperar que os meios de comunicação concorrentes também o façam” (WOLF,2008, p.

224). Resumindo, um fato pode ganhar potencial de noticiabilidade num veículo porque o seu

concorrente pode publicá-lo.

Com a sucinta descrição dos critérios realizada até aqui, ainda a partir de Wolf (2008),

percebe-se que nem todos os critérios de noticiabilidade são importantes da mesma forma. “A

observação parece reforçar a hipótese sobre a natureza negociada da noticiabilidade: os

critérios relevantes, portanto, são variáveis (mesmo que de modo limitado) conforme alguns

fatores” (WOLF, 2008, p.225). Se os critérios são passíveis de mudança,pode-se dizer

queexiste uma

[...] natureza dinâmica dos valores/notícia: estes se alteram no tempo e, mesmo

apresentando uma forte homogeneidade dentro da cultura profissional (além das

divisões ideológicas, de geração, de meio de expressão etc.) não permanecem

sempre os mesmos. (WOLF, 2008, p. 205).

Mantendo a reflexão apresentada acima por Wolf, considera-se que essa natureza

dinâmica dos critérios de noticiabilidade potencializa prováveis alterações nos mesmos no

jornalismo digital.

Sobre os valores-notícia, Moreira (2006) esclarece que eles são referentes ao

julgamento do fato, enquanto os critérios de noticiabilidade atendem às necessidades dos

veículos para a produção de notícias. Ainda, a partir de Moreira, os valores-notícia

[...] são múltiplos e interrelacionados de diferentes maneiras, não são naturais, mas

fruto da cultura jornalística e de uma intenção prévia, e esta pode originar-se em um

nível pessoal, organizacional, social, econômico, ideológico, etc. Tanto os sujeitos

como as rotinas e também certos segmentos sociais, por exemplo, são agentes de

valoração e construção das notícias. (MOREIRA, 2006, p.40).

Ou seja, para Moreira, os valores-notícia são resultados do realce da redação e edição

de texto. A autora elaborou a seguinte tabela de valores-notícia, considerando dois

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pressupostos. O primeiro diz respeito ao fato de que, como todos os valores-notícia estão, de

alguma forma, submetidos à política editorial, seria conveniente localizá-la no topo da

estrutura, ainda que política editorial não seja um valor-notícia e sim um critério de

noticiabilidade. O segundo pressuposto é a consideração do valor-notícia “interesse

público/social” como indispensável, pois, uma vez que a notícia não interessa a ninguém, não

tem necessidade de ser noticiada.

Moreira (2006) definiu, com a análise das manchetes dos jornais impressos Folha de

São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, os seguintes valores-notícia como

característicos de jornais de referência: atualidade/ineditismo, importância,

emoção/dramaticidade, entretenimento, suspense, excepcionalidade,

O valor atualidade refere-se, segundo Moreira (2006), à notícia recente, enquanto que

o valor „ineditismo‟ relaciona-se às notícias que ainda não foram publicadas.

O valor „importância‟ é subdivido em outros cinco que consideram a relevância do

fato. São eles: „consequência e amplitude/impacto‟, que são referentes ao leitor; „intensidade

ou gravidade‟, referentes a fatos excessivos ou exagerados. A autora sugere como exemplos

notícias que envolvem alto contingente de pessoas ou valores monetários. „Utilidade e

serviço‟ são relacionados à prestação de serviços.

A „emoção/dramaticidade‟ aparece em chamadas nas quais é mais agregada a

criatividade do que a informação.

Já o valor „entretenimento‟, não é destinado ao assunto, e sim para quando a leitura de

uma matéria é tomada como entretenimento. Ou seja, trata-se de “reportagens sobre temas

leves, com texto criativo” (MOREIRA, 2006, p.102).

A „excepcionalidade‟ refere-se a situações incomuns, que fogem ao habitual. Como a

quebra da expectativa pode acontecer por vários motivos, este valor é subdivido em:

„incomum, insólito, singular‟, „extraordinário/sensacional‟, „mudança‟ e „imprevisibilidade,

inesperado e surpresa‟.

„Conflito/controvérsia‟ refere-se a notícias que possuem “tensão, polêmica,

ambiguidade ou contradição” (MOREIRA, 2007, p.104). Ele não foi incluído como um

subvalor de „negatividade‟ porque “nem todo conflito é negativo” (MOREIRA, 2007, p.104).

„Negatividade‟ é subdividido em „ infração/ilegalidade, „falha/anormalidade‟,

„violência‟ e „negatividade‟. Segundo a autora, este último subvalor surge concomitante ao

valor geral, pois “encontramos assuntos, como a morte, que se enquadram diretamente em

„negatividade‟ e não em „infração/ilegalidade‟, „falha/anormalidade‟ ou „violência‟”

(MOREIRA, 2007, p.104).

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„Proximidade‟ trata-se da relação geográfica ou cultural e o valor „interesse

público/social” engloba temas como educação e saúde, por exemplo.

Diante da multiplicidade de classificações, podemos notar como os valores-notícia são

flexíveis e estão em constante dinâmica. Como afirma Belochio (2009, p.48) “os valores-

notícia são requisitos que classificam um fato como algo com relevância suficiente para ser

transformado em notícia” (BELOCHIO, 2009, p.48), ou seja, se as relevâncias se alteram,

dependendo do contexto, as classificações dos valores-notícia também podem se alterar.

2.1 Seleção dos temas de destaque em diferentes meios

Mielniczuk (2003) afirma que “cada veículo possui suas especificidades e, cada

período, seus recursos tecnológicos, interferindo não só em como a informação é organizada,

mas também nos elementos que integram sua apresentação, condicionando e diferenciando o

resultado final” (2003, p.1). Partindo dessa reflexão, acredita-se que os critérios de

noticiabilidade possam ser afetados com essas alterações, o que pode culminar com seu

alargamento a partir das características de cada tipo de mídia. Justamente por essas

especificidades, eles servem para o jornalista pensar as notícias a serem distribuídas conforme

o seu contexto de produção.

Para entender esse possível alargamento, é pertinente compreender as variações entre

as mídias existentes. Neste trabalho, as diferentes publicações e produtos noticiosos são

entendidos como mídias. São exemplos o jornal impresso, o radiojornal e o telejornal. Todas

essas mídias têm suas configurações e formatos característicos, o que permite que a notícia

seja trabalhada em cada uma de forma compatível com a sua proposta.

A descrição que Charaudeau (2007) faz das diferentes mídias como “dispositivos2 de

encenação da informação” ajuda a compreender melhor tais peculiaridades. Ele diz que o

jornal impresso, por exemplo, é uma mídia escritural, feita de palavras, de gráficos, de

desenhos e de imagens fixas, sobre um suporte de papel. Por essas características técnicas, a

relação com tempo e espaço é peculiar. “A relação de distância e de ausência física entre as

instâncias da troca faz com que a imprensa seja uma mídia que, por definição, não pode fazer

coincidir tempo e acontecimento, tempo de escrita e tempo de produção da informação e

2 Segundo Charaudeau (2007) o dispositivo “compreende um ou vários tipos de materiais e se constitui como

suporte com o auxílio de uma tecnologia”, ou seja, o dispositivo é um combinado de dois elementos (material e

suporte) ligados pela tecnologia. Sendo que o material pode ser o som, a escrita, a imagem enquanto o suporte

pode ser o rádio, a televisão e o papel. A partir do autor, e seguindo essa lógica, a tecnologia surge nesse

contexto para regular a relação entre os materiais e os suportes durante a comunicação. Há outros autores que

conceituam o dispositivo, porém o tema não será aprofundado por pertinência do trabalho do em questão.

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tempo de leitura” (CHARAUDEAU, 2007, p. 113). Sabe-se que, para esse segmento, é

preciso tempo para a elaboração do material que antecede o tempo de distribuição, além do

tempo de leitura. Para Charaudeau (2007), esse ciclo temporal de produção é o que produz

uma defasagem entre o surgimento do acontecimento e o momento em que o leitor toma

conhecimento dele.

Mielniczuk (2003) também descreve as diferenças entre o impresso e outras mídias,

em relação ao formato de apresentação das informações jornalísticas. Para a autora, no jornal

impresso, a informação é distribuída e organizada em diferentes níveis dentro da publicação.

A pesquisadora busca em Lage (2001) as reflexões sobre esses três níveis de organização. São

eles:

a) projeto gráfico: consiste nos elementos gráficos que compõem o jornal,

são a mancha, os fios, as letras, os traços, os espaços em branco; b) sistemas

analógicos: são as fotografias, ilustrações, charges e cartoons; c) sistemas

linguísticos: é composto pelos textos. (MIELNICZUK, 2003, p.04).

Em relação ao formato do texto, a autora defende que, no impresso, o formato depende

do gênero e, quando tomamos o “gênero notícia”, é muito difundido o formato da pirâmide

invertida3, que estrutura o texto narrando “do mais importante para o menos importante”

(MIELNICZUK, 2003, p.04).

Conforme Mielniczuk (2003), seguindo a ordem cronológica da história do

jornalismo4, a mídia que surgiu após o jornal impresso foi o rádio. Sendo assim, como mídia

sonora, a produção do radiojornalprecisa considerar as vantagens ou desvantagens da

produção que estimula apenas um dos sentidos humanos – a audição.

Como descrito por Charaudeau (2007), o rádio é composto por

[...]voz, sons, música, ruído, e é esse conjunto que se inscreve em uma tradição oral,

ainda mais que não é acompanhada de nenhuma imagem, nenhuma representação

figurada dos locutores nem dos objetos que produzem essas vozes, esses ruídos,

esses sons. (CHARAUDEAU, 2007, p. 106).

A temporalidade dessa mídia, segundo o autor, é “mais próxima possível daquela da

instância de recepção”, ou seja, há uma maleabilidade do suporte que aproxima o tempo do

3 A autora toma o exemplo da pirâmide invertida para, dessa forma, “ilustrar a ocorrência de mudanças pelas

quais passa um dos elementos que condicionam o formato da notícia através dos diferentes suportes”

(MIELNICZUK, 2003, p.04). Sendo assim, ela analisa como a pirâmide invertida foi adaptada no impresso, no

rádio e na tv, como será disposto a seguir. 4 Mielniczuk (2003) afirma que o jornal impresso foi difundido no final do século XIX, enquanto o rádio se

popularizou a partir da década de 1920 e a televisão a partir da década de 1950. Para este trabalho, seguiremos

essa sequência cronológica, quando se notar necessário apresentar reflexões sobre as essas mídias.

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acontecimento e tempo de escuta. Segundo o autor, a distância fica quase abolida entre a

mídia e o ouvinte, pela transmissão direta da oralidade,

[...] à qual se acrescentam uma enunciação interpelativa da parte da instância

midiática e diversas estratégias de interatividade, (telefone, correiro eletrônico,

sondagens imediatas) criando intimidade, confidência [...] (CHARAUDEAU, 2007,

p. 109).

Dessa forma, o conteúdo produzido para ser transmitido por ondas sonoras precisa

considerar a possibilidade do tempo de produção e de escuta quase que simultâneo, no caso de

programas ao vivo, e a linguagem oral. Precisa levar em conta a imediaticidade, característica

que assume pertinente importância, pois define as pautas que ainda são quentes. Para o rádio,

quanto mais recente for o fato, maiores são as chances de ele ser noticiado.

Considerando o produto, Mielniczuk (2003) afirma que o radiojornal segue a mesma

estruturação que existe no jornal impresso, no que tange à divisão do programa em blocos.

Estes fazem alusão às sessões e editorias do impresso. Em relação ao texto, Mielniczuk

(2003) lembra que, como o ouvinte só possui o áudio para compreender a informação, é

preciso, então, que haja redundância no texto. Sendo assim, ainda segundo a autora, pelas

características do suporte, a redundância se torna uma marca da formatação da informação

jornalística radiofônica.

O telejornalismo já se utiliza de imagem e som. Essas duas características técnicas

também afetam a relação com o tempo e o espaço. Charaudeau (2007) afirma que, em relação

ao tempo,

[...] a televisão, apesar das câmeras cada vez mais sensíveis e leves, tem muita

dificuldade em fazer coincidir tempo e acontecimento, tempo da enunciação e tempo

da transmissão. O peso do material e a rigidez da programação fazem com que, na

maior parte das vezes, a transmissão dos acontecimentos pela televisão não seja

direta. (CHARAUDEAU, 2007, p. 111).

No que tange ao tempo, o telejornalismo sofre com o deslocamento de equipamentos e

o próprio tempo de edição do conteúdo produzido. Ainda assim, a impressão de contato entre

os telespectadores e os jornalistas, no telejornalismo, é característica marcante, como afirma

Charaudeau (2007). Dessa forma, o contato que é estabelecido entre o sujeito que assiste e o

sujeito que apresenta confere mais uma das características peculiares dessa mídia específica.

Outras características também estão relacionadas à imediaticidade que a TV pode

proporcionar, quando transmite conteúdo ao vivo com transmissão direta do local que ocorreu

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o fato noticiado. A existência de imagens sobre o conteúdo também interfere, pois, se há

conteúdo para ser mostrado, a notícia se torna mais privilegiada.

Mielniczuk (2003) observa que o formato do telejornal possui uma linguagem

transfronteira, pois, indiferente do idioma, e de eventuais aspectos culturais e de caráter de

investimento econômico, os telejornais são semelhantes entre si do ponto de vista técnico. Em

relação ao texto, Mielniczuk (2003) e Bittencourt (1993) sugerem que a narração da

informação jornalística na televisão segue certa sequência temporal. Por isso, a pirâmide

invertida, tanto utilizada no impresso, aqui não corresponderia ao formato mais adequado. Os

autores apontam que o lide5, que na TV é chamado de cabeça, é mantido. Contudo, o restante

da narração deve ser seguido em ordem cronológica.

Com esses esclarecimentos sobre o formato da notícia, podemos concordar com

Mielniczuk (2003) quando ela afirma, analisando o jornal impresso, o rádio e a televisão, “que

tais processos ocorram também com outros elementos que interferem no formato da

informação jornalística e não só no modelo de redação” (MIELNICZUK, 2003, p.8). Ou seja,

a construção da notícia se forma por um conjunto de fatores.

Além das diferenças do suporte, do espaço, do tempo de produção, distribuição,

consumo e formato das notícias, outros fatores também contribuem para diferenciar as mídias.

Para compreender esses fatores, é interessante recorrer à teoria do Modo de Endereçamento.

Gomes (2006) relaciona-a com a forma como os programas de telejornalismo são

direcionados ao público, tomando o Jornal Nacional como exemplo. Para a autora,

O modo de endereçamento é aquilo que é característico das formas e práticas

comunicativas específicas de um programa, diz respeito ao modo como um

programa específico tenta estabelecer uma forma particular de relação com sua

audiência. (cf. Morley & Brunsdon, 1978). (GOMES, 2006, p.2).

O endereçamento é marcado porexplorar o que cada mídia tem e oferece, sempre

refletindo como será a recepção de seus espectadores reais ou imaginados.Ou seja:

Na perspectiva da análise televisiva, o conceito tem sido apropriado para ajudar a

pensar como um determinado programa se relaciona com sua audiência a partir da

construção de um estilo que o identifica e que diferencia dos demais.(GOMES,

2006, p.2 - 3).

5 O lide para a televisão, segundo a autora, chamado de cabeça, é “a narração do locutor antes de chamar o

repórter com imagens externas” (MIELNICZUK, 2003, p.07).

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Considera-se que outros tipos de publicações também têm modo de endereçamento.

Trata-se de um dos aspectos que diferenciam cada mídia, pois cada uma inclina-se para

receptores com perfis diferentes. As revistas especializadas, por exemplo, de jornalismo

literário, tal como a revista Piauí, da Editora Abril, não apresentam suas notícias como elas

são apresentadas no Jornal Folha de São Paulo. A Piauí tem o jornalismo literário como

definição inerente à sua especialização. Essa lógica é óbvia, porque cada mídia tem a sua

política editorial definida, com uma abordagem diferenciada, que privilegia assuntos

diferentes, de acordo com o seu modo de endereçamento ao público.

Portanto, os critérios de noticiabilidade de cada mídia podem variar, considerando

suas características tecnológicas, seu suporte e o seu modo de endereçamento. Em cada mídia,

um critério pode ter mais peso do que o outro. Os valores-notícia mudam em cada uma.

Dalmonte (2008, p.128) diz que, “dessa forma, pensar a organização das novas mídias pode

resultar num exercício de constante adequação conceitual, para tentar abarcar uma situação

que não é estanque e que, ao movimentar-se, requer ajustes”.

Acredita-se que o surgimento de jornais digitais impulsionou mudanças nesse sentido,

tendo impacto nos critérios de noticiabilidade. Conforme o autor,

[...] uma nova mídia é aquela que abre novos caminhos estéticos e permite criar

estratégias de produção, circulação e recepção de sentido, mas que também pode

dialogar com as que precederam. Essa possibilidade de conjunção midiática é o que

tem sido experimentado pela prática do jornalismo na Internet, que, pelo processo de

digitalização da informação, vem descolando-se de práticas mais

compartimentalizadas, como a do impresso, do rádio e a da televisão, para ambientes

em que há o diálogo entre práticas. (DALMONTE, 2008, p. 129).

Segundo o autor, a internet tem outras implicações, tais como a alteração das noções

de tempo e de espaço, que precisam ser consideradas na produção do jornalismo

digital.Dalmonte (2008) afirma que, de uma forma ou de outra, a web acrescenta a

característica que o autor chama de “conjunção midiática” quando consegue convergir

práticas de outras mídias. Exemplo é quando se apresenta uma narrativa com a presença de

texto, hiperlink, vídeo, foto e áudio.

Belochio (2012) explica que, nas publicações no webjornalismo, “são mais próximas

as coincidências com o tempo do acontecimento, tempo da escrita, tempo de produção da

informação e tempo de leitura” (BELOCHIO, 2012, p.44). A pesquisadora reflete não apenas

em relação ao tempo para com as publicações, como também para com outros meandros do

webjornalismo, tais como a multimidialidade, a memória e a interação. Outro exemplo da

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atuação do tempo é a possibilidade de atualizações contínuas, que, segundo Palacios (2002) e

Mielniczuk (2003), se configurara como uma das potencialidades do jornalismo na Web.

Dessa forma, essas e outras características do webjornalismo serão descritas de forma

mais aprofundada no próximo capítulo. A intenção é indicar fatores que possivelmente

interferem na definição dos seus critérios de noticiabilidade.

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3A TRANSFORMAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE NA WEB

Segundo Alves (2006), o jornalismo digital vem modificando a impressão ameaçadora

que causou no seu surgimento, há cerca de duas décadas, e isto tem acontecido porque o

jornalismo digital está desenvolvendo suas próprias características. Elas estão, cada vez mais,

se tornando específicas. Para esclarecer essa ideia,o autor sugere duas fases de

amadurecimento do jornalismo digital. São elas:

Sobre a primeira fase, ele afirma:

Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as empresas

tradicionais a encararam como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos,

originalmente produzidos em outros formatos. Na melhor das hipóteses, via-se a

presença na Internet como uma extensão ou um complemento do produto

tradicional. Assim, esta primeira década do jornalismo digital foi caracterizada por

este pecado original: a simples transferência do conteúdo de um meio tradicional

para outro novo, com pouca ou nenhuma adaptação. (ALVES, 2006. p.94)

A partir do autor, nessa primeira década, o jornalismo digital foi marcado pela visão

da web, pelas empresas tradicionais, como uma extensão ou complemento do produto

tradicional.Sendo assim, a web era vista, inicialmente, apenas como uma nova ferramenta

para distribuir conteúdos. Alves (2006) ainda acrescenta que, nessa primeira fase,registrou-se

“preguiça das empresas de apostar na Internet como um novo meio capaz de garantir sua

sobrevivência numa era que se impõe de forma avassaladora. No fundo, o jornalismo digital

tem sido muito tímido no que se refere à criatividade e a inovação” (ALVES, 2006, p.94).

Essa visão de Alves sobre a primeira fase do jornalismo digital contribui não apenas

para a contextualização daquele momento, mas também para que possamos compreender o

fenômeno das apropriações, atualmente, dos sites de redes sociais pelo jornalismo.

A segunda fase, Alves (2006), resume com a ideia de „comunicação eu-cêntria‟. Pois,

na segunda década do jornalismo digital, a informação

[...] está baseada nas decisões individuais do receptor, diante do enorme leque de

opções que a Internet lhe abre. A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho

acesso somente ao que eu quero, na hora em que eu quero, no formato em que eu

quero e onde eu quero. (ALVES, 2006, p.97).

Essa perspectiva de Alves chama atenção para a alteração de poder sobre a produção e

o consumo da informação. Quem escolhe os fatos relevantes para a disponibilização ao

público em publicações fechadas e limitadas não é apenas o jornalista, mas também o leitor.

Silva Júnior (2001)descreve três estágios para o jornalismo digital: o transpositivo, o

perceptivo e o hipermidiático. O transpositivo refere-sea esse primeiro contato dos veículos

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com a internet. Ele afirma que o estágio transpositivo seguia o “modelo eminente presente nos

primeiros jornais online onde a formação e organização seguiam diretamente o modelo do

impresso” (ALVES, 2006, p.3).Ou seja, era a transposição do que existia no impresso para a

tela do computador, considerando o browser como uma folha de papel infinita.

O segundo momento do jornalismo digital é o perceptivo,no qual, segundo Silva

Júnior (2001),

[...] há uma maior agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede

em relação ao jornalismo online. Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo,

posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há

uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o

aproveitamento para a versão online. Porém, há a percepção por parte desses

veículos, de elementos pertinentes à uma organização da notícia na rede. (SILVA

JUNIOR, 2001, p.3).

Ou seja, segundo o autor, essa fase perceptiva está para um momento em que a web

não é vista como apenas um espaço para a transposição do que existe no impresso direto para

a tela do computador.São notados e explorados os seus recursos, ainda que de forma tímida.

Nesse momento, já podemos considerar que, por motivos de concorrência, ou simplesmente

por necessidade de inovar, o jornalismo digital já passa a aproveitar as potencialidades da

web.

O terceiro e último estágio que Silva Júnior (2001) apresenta é nomeado como

hipermidiático, o qual ocorrem o “uso de recursos hipertextuais, a convergência entre suportes

diferentes (multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas

e/ou serviços informativos” (SILVA JÚNIOR, 2001, p.3).

Não muito diferente do que Silva Júnior (2001) propõe, Mielniczuk (2003) também

divide a trajetória do jornalismo digital em três fases.Elas são nomeadas como as fases: a) dos

produtos de primeira geração, ou fase da transposição; b) dos produtos de segunda geração,

ou fase da metáfora; c) dos produtos de terceira geração, ou fase da exploração das

características daweb.

O jornalismo de primeira geração, ou de transposição, refere-se ao movimento,

propriamente dito, de transporo conteúdo que era publicado nos grandes jornais impressos

para o espaço na Web. Dessa forma, “os produtos desta fase, em sua maioria, são

simplesmente cópias do conteúdo de jornais existentes no papel, só que, para a

web”(MIELNICZUK, p.33, 2003). Outra característica a se considerar desta fase, a partir da

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autora, é que a rotina de produção das notícias era atrelada ao ritmo estabelecido pelos jornais

impressos.

A rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos

jornais impressos. No que diz respeito aos formatos de apresentação das narrativas

jornalísticas, não há nenhuma evidência de preocupação com relação a uma

possível forma inovadora de apresentação das narrativas jornalísticas. A

disponibilização de informações jornalísticas na web fica restrita à possibilidade de

ocupar um espaço, sem explorá-lo, enquanto um meio que apresenta características

específicas. (MIELNICZUK, 2003, p.33).

Ou seja, nessa fase, o jornalismo digital é como Alves afirmou: “tímido no que se

refere à criatividade e à inovação”, sendo os conteúdos publicados no papel apenas

transportados para a tela do computador. A segunda geração, ou fase da metáfora,faz algumas

ensaios com as potencialidades da web. Contudo, aindase mantém atrelada ao modelo do

jornal impresso.Como afirma Mielniczuk (2003),

Com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da internet no País,

e seguindo uma tendência mundial, nos final dos anos 90 do século passado [...]

começaram a ocorrer experiências no produto jornalístico na tentativa de explorar

as características oferecidas pela rede. (MIELNICZUK, 2003, p.33-34).

Sendo assim, temos as primeiras experimentações,com alguns elementos diferentes

incorporados nas rotinas de produção dos jornalistas, tais como:

Links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as

edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de comunicação

entre jornalista e leitor ou entre leitores, através de fóruns de debates; a elaboração

das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto.

(MIELNICZUK, 2003. p. 34).

Dessa forma, podemos constatar que as incursões às características da web referem-se a um

processo de amadurecimento tecnológicosomado ao estímulo criativo e inovador.Porém, com

ressalvas, pois os elementos incluídos nessas rotinas ainda estão associados ao jornalismo

impresso.Mielniczuk (2003, p.34)refere-se a essas pequenas experimentações como uma

“tendência (...) de produtos vinculados não só ao modelo do jornal impresso enquanto

produto, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e rentabilidade estavam

associadas ao jornalismo impresso”. Sendo assim, podemos concluir desta fase que havia

receio em relação à credibilidade, apesar das tentativas de exploração da web.

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Na terceira geração, ou fase do webjornalismo, Mielniczuk (2003. p.34) afirma que o

“cenário vai se modificando a partir da crescente popularização do uso da internet e também

do surgimento de iniciativas tanto empresariais quanto editoriais”. Ela também diz que “são

sites jornalísticos que extrapolam a ideia de uma versão para a web de um jornal impresso já

existente” quando se utilizam, por exemplo:

Recursos multimídia, como sons e animações, que enriquecem a narrativa

jornalística; oferecem recursos de interatividade, como chats com a participação de

personalidades públicas, enquetes, fóruns de discussões; apresentam opções para

configuração do produto de acordo com interesses pessoais de cada leitor/usuário;

apresentam a utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização

das informações da edição, mas também começam a empregá-lo na narrativa de

fatos. (MIELNICZUK, 2003. p.36).

Essas iniciativas compõem o desenvolvimento do jornalismo digital e a tomada da web

como um ambiente com potenciais ecaracterísticas próprias. Mielniczuk (2003) grifa que o

seu desenvolvimento mais específico “corresponde a um estágio mais avançado de toda uma

infra-estrutura técnica relativa às redes telemáticas, bem como corresponde a um momento de

expansão da base instalada e ao aumento do número de usuários” (MIELNICZUK, 2003. p.

39). Contudo, como a dinâmica e as demandas da web vivem em processo de

desenvolvimento, a própria autora lembra que as fases

[...] não são estanques no tempo, e nem são excludentes entre si, ou seja, em um

mesmo período de tempo, podemos encontrar publicações jornalísticas para a web

que se enquadram em diferentes gerações e, em uma mesma publicação, pode-se

encontrar aspectos que remetem a estágios distintos. (MIELNICZUK, 2003. p. 39).

É a partir deste contexto de confluência concomitante das gerações que Barbosa

(2007) afirma que o modelo Jornalismo Digital em Base de Dados ou JDBD surgiu. Trata-se,

conforme a autora, de uma etapa de transição entre a terceira e a quarta geração do jornalismo

digital.

O Jornalismo Digital em Base de Dados, ou JDBD, tem como cerne a apropriação da

tecnologia das bases de dados6 nos processos produtivos. Quando elas são apropriadas no

jornalismo, desenvolve-se um paradigma próprio de produção (BARBOSA, 2007, p.1).

6Para melhores esclarecimentos, o conceito técnico de Bases de Dados refere-se ao “conjunto de dados

interrelacionados, organizados de forma a permitir a recuperação da informação. Armazenadas por meios ópticos

ou magnéticos como discos e acessadas local ou remotamente,” que visam “fornecer informação atualizada

(recursos estruturais), precisa e confiável (não dar a informação pela metade) e de acordo com a demanda

(oferecer o que o usuário necessita). Fonte: http://www.eca.usp.br/departam/cbd/lina/recurso2/bases.htm

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Segundo Barbosa (2007), o JDBD tem as bases de dados como modelo para a apuração e

construção no jornalismo digital, pois as bases de dados se destacam na “construção e gestão

de produtos jornalísticos digitais – os cibermeios – bem como para a estruturação e a

apresentação dos conteúdos” (BÁRBOSA, 2008, p.5). Isso significa que as bases de dados

deixaram de desempenhar apenas a função documental e auxiliar, ou de espaço para busca de

informação e passaram, dessa forma, a auxiliar o profissional da área nos processos de pré-

produção, produção, disponibilização/circulação, consumo e pós-produção.

A adoção das BDs como paradigma é marca da quarta geração do jornalismo digital,

segundo Barbosa (2008). A pesquisadora afirma que as bases de dados auxiliam o jornalismo

na

[...] formação de equipes mais especializadas; desenvolvimento de sistemas de

gestão de conteúdos (SGC) mais complexos e baseados preponderantemente em

softwares e linguagens de programação com padrão open source, formato XML

(eXtensible Markup Language), algoritmos; acesso expandido por meio de

conexões banda larga; proliferação de plataformas móveis; consolidação do uso de

blogs; ampla adoção de recursos da Web 2.0; incorporação de sistemas que

habilitam a participação efetiva do usuário na produção de peças informativas;

produtos diferenciados criados e mantidos de modo automatizado; sites dinâmicos;

narrativas multimídia; utilização de recursos como RSS (Really Simple Syndication)

para recolher, difundir e compartilhar conteúdos; aplicações da técnica do tagging

na documentação e na publicação das informações; uso crescente de aplicações

mash-up; do conceito de geolocalização de notícias ou geocoding news; uso do

podcasting para distribuição de conteúdos em áudio; ampla adoção do vídeo em

streaming; novos elementos conceituais para a organização da informação; maior

integração do material de arquivo na oferta informativa; produtos experimentais

que incorporam o conceito de web semântica; emprego de metadados e data mining

para categorização e extração de conhecimentos; aplicação de novas técnicas e

métodos para gerar visualizações diferenciadas para os conteúdos jornalísticos que

auxiliam a sobrepujar a metáfora do impresso (broadsheet metaphor) como padrão.

(BARBOSA, 2008, p.9).

É possível notar, com as especificações de Barbosa (2008), que a quarta geração

dinamizou o fazer jornalístico, abrindo as possibilidades de atuação do jornalista e do leitor.

Deixou os processos de produção e de acesso às notícias, entre outros, mais práticos.

Atualmente, já se fala da quinta geração do jornalismo digital. Barbosa (2013)

apresenta seis características como componentes desta fase. São elas: medialidade,

horizontalidade, continuum multimídia, mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones. A

seguir, será exposta, brevemente, a descrição destas características.

A medialidade, segundo Barbosa (2013), refere-se à produção jornalística feita em

“diversos formatos de conteúdo (textos, fotos, áudios, vídeos, infográficos, slideshows,

newsgames, linha de tempo...) (BARBOSA, 2013, p.34) criados, editados e distribuídos de

Page 29: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

29

forma totalmente digital e em rede”. A horizontalidade diz respeito aos “fluxos de produção,

edição, distribuição, circulação e recirculação dos conteúdos”(BARBOSA, 2013, p.36). Isso

seguindo a “lógica de atuação conjunta e integrada”, o que resulta, então, na “noção de um

continuum multimídia dinâmico”(BARBOSA, 2013, p.36). O continuum multimídia está

ligado à ideia de “integração de redação, gestão editorial multiplataforma, polivalência

midiática e a multimidialidade para os conteúdos” (BARBOSA, 2013, p.37).

As mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones se destacam na quinta geração

porque, segundo Barbosa (2013),

As mídias móveis, especialmente smartphones e tablets, são também propulsoras

de um novo ciclo de inovação, no qual surgem os produtos aplicativos (apps)

jornalísticos para tablets e smartphones. Dentre eles, destacam-se como

potencialmente mais inovadores aqueles que denominamos autóctones, ou seja,

aplicações criadas de forma nativa com material exclusivo e tratamento

diferenciado. (BARBOSA, 2013, p. 42).

Isso faz deles “os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a

distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos

em multiplaformas” (BARBOSA, 2013, p.42).

É notável, a partir do que foi visto até aqui, que o surgimento de determinadas

tecnologias, como as bases de dados, pode desencadear e gerar mudanças nos modelos de

produção das redações. Acredita-se que tal fato pode influenciar os processos tradicionais

jornalísticos, como, por exemplo, os de apuração, edição e publicação. Recursos da Web 2.0,

característicos do cenário da cultura da convergência, foram apropriados para o uso

jornalístico, seja via apuração ou distribuição de informações. Também é visível a influência

de modelos da convergência jornalística no desenvolvimento do jornalismo digital. A quinta

geração parece estar relacionada com essas transformações.

As possíveis alterações dos processos tradicionais jornalísticos podem também refletir

nos critérios de noticiabilidade. Sobre a necessidade de refletir sobre os critérios de

noticiabiladade e suas tendências, Aldé (2004) afirma que

O jornalismo praticado na internet tem diferenças importantes em relação às mídias

impressas, como jornais e revistas, e implica novas práticas e critérios de

noticiabilidade específicos da mídia eletrônica. Ao contrário da edição de um

diário, cujas matérias pautadas vão sendo apuradas e modificadas ao longo do dia,

sendo eventualmente até descartadas antes de chegar ao leitor, no jornalismo online

o processo de apuração, reportagem e checagem dos fatos acontece em tempo real,

e é acompanhado pelos leitores, que têm acesso a uma variedade maior de

informações fragmentadas e fontes alternativas. (ALDÉ, 2004, p. 05).

Page 30: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

30

Aldé (2004) considera que a relação diferente que o jornalismo digital oferece, em

relação ao tempo de apuração, produção e publicação, quando comparado ao impresso, deve

ser tomada para se refletir a respeito das “novas práticas e critérios de noticiabilidade”

(ALDÉ, 2004, p. 05). Firmino (2008) mantém o mesmo eixo de reflexão de Aldé (2004). Ele

considera que,

[...] com a expansão da infra-estrutura de tecnologias móveis digitais e conexões

sem fio como Wi-Fi e 3G, aliadas ao desenvolvimento de aplicativos avançados na

web, o jornalismo experimenta uma interface entre a mídia de massa e a mídia de

funções pós-massivas na construção do tempo real na relação com o espaço urbano

e a mobilidade.

A reapropriação destas ferramentas para a produção jornalística introduz novos

critérios de noticiabilidade. Compreender estas mutações é fundamental para um

enquadramento conceitual do próprio futuro do jornalismo num ambiente de

convergência e de digitalização midiática. (FIRMINO, 2008, p.01).

Firmino (2008) aponta que as reapropriações de elementos móveis que envolvem a

tecnologia wi-fi, 3G e aplicativos estão permitindo ao jornalismo experiências novas que, de

alguma forma, afetam as práticas jornalísticas. Situação que reflete nos critérios de

noticiabilidade. Dalmonte e Ferreira (2008) consideram que, a partir de então, há o

[...] desafio de se pensar quais são os novos critérios de noticiabilidade que, por um

lado, passam a marcar o modus operandi dessa esfera; por outro, reconfiguram as

concepções acerca do efeito de sentido propostas pelas especificidades dessa

narrativa jornalística. (DALMONTE e FERREIRA, 2008, p.127).

Dalmonte e Ferreira (2008) nos situam sobre a necessidade de refletir quando se há

elementos que afetam os critérios de noticiabilidade. As alterações podem não só afetar as

práticas, ou seja, a forma de se fazer jornalismo, como também, a forma de se consumir esse

jornalismo.

O jornalismo digital, como afirma Leitão (2012, p.9) “deve ultrapassar formatos e

linguagens, espaços e temporalidades. A partir disso, entram em cena os critérios de

noticiabilidade, a fim de modelar os itens desde a seleção até a produção das matérias”.Leitão

(2012) também acredita que o jornalismo digital se diferencia em vários aspectos da prática

jornalística nos meios convencionais e que se desenvolve de forma diferenciada.

A partir disso, podemos considerar que as diferentes práticas do jornalismo digital

podem interferir nos seus critérios de noticiabilidade. (ALDÉ, 2004; FIRMINO, 2008;

DALMONTE e FERREIRA, 2008; LEITÃO, 2012). Na realidade da cultura da convergência

(JENKINS, 2008), ainda mais. elementos têm afetado essas dinâmicas. O próximo tópico é

dedicado à reflexão sobre a questão.

Page 31: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

31

3.1 Influências da Web 2.0 e da convergência

A forma de agir do indivíduo em relação à internet sofreu significativas alterações

desde o começo dos anos 2000. Este período tem como marca a consolidação das lógicas de

um espaço nomeado por O‟Reilly (2005) como Web 2.0. De certa forma, esse espaço também

tem afetado as rotinas de produção do jornalismo, levando o profissional da área a transformar

suas típicas formas de apuração, produção e a distribuição das notícias (PRIMO, 2006).

Primo (2006) afirma que

A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas

(serviços Web, linguagem Ajax, Web Syndication, etc.), mas também a um

determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias

mercadológicas e a processos de comunicação mediados por computador (PRIMO,

2006, p.1).

Assim, o termo não representa apenas questões relacionadas à informática e aos

interesses de programadores, por exemplo. O momento Web 2.0 pode ser entendido como a

fase em que o comportamento coletivo de participação, que Pierre Lévy (1999) associa ao que

ele chama de inteligência coletiva7, afeta as dinâmicas de navegação e de utilização do

ciberespaço.

O‟Reilly (2005) lista as características da Web 2.0 e as suas competências,definindo-as

como os princípios da Web 2.0. São eles: a) Serviços e software com „escalabilidade‟ de custo

eficiente; b)Controle sobre fontes de dados únicas e difíceis de serem criadas e que ficam

mais ricas quanto mais as pessoas as atualizarem; c) Confiança nos usuários como co-

desenvolvedores; d) Agregação de inteligência coletiva; e) Estimular a cauda longa através de

auto-serviço para o cliente; f) Software para mais de um dispositivo; g) Interfaces de usuários,

modelos de desenvolvimento e modelos de negócios leves.

Romaní e Kuklinski (2007) resumem os sete princípios da seguinte forma:

[...] a World Wide Web como uma plataforma de trabalho, o fortalecimento da

inteligência coletiva, a gestão de bases de dados como competência básica, o fim do

ciclo das atualizações de versão de software, os modelos de programação junto a

procura da simplicidade, o software não limitado a um dispositivo e experiências

7 Inteligência Coletiva, segundo Lévy é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente

valorizada, coordenada em tempo real, que resulta uma mobilização efetiva das competências [...]”. (LÉVY;

2007).

Page 32: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

32

enriquecedoras para os usuários.(ROMANÍ e KUKLINSKI, 2007, p.15,

tradução nossa).8

Ou seja, segundo os autores citados, esta Web diferenciada deixa de ser uma vidraça

de conteúdos para se tornar uma plataforma aberta, construída sobre uma arquitetura baseada

na cooperação dos usuários. Conforme Primo (2006), essa arquitetura visa ao aproveitamento

da inteligência coletiva a partir da valorização das ações dos usuários dos seus serviços. Isso

ocorre mediante a incorporação de recursos de compartilhamento e interconexão nos serviços

oferecidos na Web 2.0.

A Web 2.0 se desenvolveu a partir do trabalho conjunto de inúmeros indivíduos, que

produzem e/ou consomem juntos, sem necessariamente o controle comercial da atividade de

produção e, tampouco, de consumo. Com essa contextualização, podemos julgar que o

cenário que se formou a partir de então, na Web, é de cooperação entre os internautas. Sobre

esse comportamento, Primo (2006) afirma que:

[...] não se dá porque na Internet todos são pessoas generosas ou porque a

tecnologia faz nascer a vontade de colaborar por si mesma, mas sim porque,

paralelamente às facilidades tecnológicas, os indivíduos têm interesses na produção

de bens coletivos, sejam estes os mais elevados, como prover um recurso a quem

dele necessita, sejam os mais terrenos, como a busca por reputação ou simples

diversão. (PRIMO, 2006, p.44).

Desse modo, segundo Primo (2006), o processo de cooperação é natural. Com o

ambiente favorecendo, as mudanças se tornam consequências. E assim, nesse contexto de

fácil acesso para os produtores e consumidores dos recursos disponíveis, o ambiente se tornou

fértil para mudanças.

Com o alto contingente de conteúdos disponibilizados em rede, surgem as iniciativas

de nicho, desenvolvidas por amadores, que formam o que Anderson (2006) chama de caudas

longas. A partir de Anderson (2006), o fenômeno da cauda longa resume-se ao abalo no

modelo da “cultura de massa”, através do crescimento da “cultura de nicho”. Tem acontecido

por uma conjuntura de fatores. “É a culminância de uma sucessão de inovações em negócios

que remontam a mais de século – avanços na maneira como descobrimos, produzimos,

distribuímos e vendemos.” (ANDERSON, 2006, p. 39). Essas inovações às quais Anderson

(2006) se refere permitiram não só autonomia ao indivíduo para sua própria produção e

8[...] la Word Wide Web como plataforma de trabajo, el fortalecimiento de la inteligencia colectiva, la gestión

de las bases de dados como competencia básica, el fin del ciclo de las actualizaciones de versiones del software,

los modelos de programación ligera junto a la búsqueta de la simplicidad, el software no limitado a um solo

dispositivo y las experiencias enriquecedoras de los usuarios. (ROMANÍ e KUKLINSKI, 2007, p.15).

Page 33: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

33

distribuição amadora, como também opções para explorar o micro-mercado às grandes

organizações.

Anderson (2006) afirma que o “setor de notícia foi o primeiro a realmente sentir o

impacto da internet” (2006, p.183). O que demonstra que o fenômeno da cauda longa também

pode ser aplicado ao consumo de informação. Nesse sentido, Belochio (2009) indica a cauda

longa da informação:

[...] no topo da curva da demanda ficam os chamados hits, ou seja, os produtos mais

consumidos, preferidos pela grande maioria do público. Na cauda longa da

informação esse seria o caso dos meios informativos tradicionais, que conquistaram

credibilidade no decorrer de sua história, tais como jornais, emissoras de TV, rádios

e outras marcas mais conhecidas e também atuantes fora do universo digital. Sua

presença no ciberespaço é mais uma forma de projeção de seus conteúdos

massivos. Na cauda, conforme descreve o autor [Anderson], encontram-se os

nichos, entendidos como os meios alternativos e customizados de informação.

(BELOCHIO, 2009, p.3).

Com isso, podemos entender que, na cauda longa da informação, estão páginas

amadoras como os blogs, citados por Anderson (2006), além de uma série de outros tipos de

conteúdos publicados em espaços destinados à expressão dos cidadãos comuns, sem

vinculação com mídias tradicionais. As redes sociais também são espaços que podem ser

usados nesse sentido. Tal contexto é configurado a partir das seguintes forças: a

democratização das ferramentas de produção, a redução dos custos de consumo pela

democratização da distribuição e a ligação entre a oferta e a demanda (ANDERSON, 2006,

p.52-53).

A partir disso, podemos observar que a Web 2.0 é, de certa forma, a base para o

desenvolvimento da cultura de nichos citada por Anderson (2009), além de, também, integrar

a conjuntura descrita por Jenkins (2008) como realidade da cultura da convergência. Segundo

o autor, a cultura da convergência é caracterizada pela alteração da “lógica pela qual a

indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento”

(JENKINS, 2008, p.43). De acordo com Jenkins (2008), é importante entender que essa

realidade vai

[...] contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente

como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos

aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à

medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações a fazer

conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos. (JENKINS, 2008, p. 29).

Page 34: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

34

As palavras de Jenkins (2008) enfatizam que o fenômeno não deve ser visto apenas

como um momento de desenvolvimento tecnológico, tal qual é possível se ver nas ruas e nas

mãos das pessoas pela presença, cada vez maior, dos equipamentosdigitais conectados.Jenkins

(2008) explica que a convergência “representa uma transformação cultural”, porque

transforma e afeta hábitos. Se, antes, um estudante precisava saber o horário do seu ônibus

por uma cartela de horários impressa, ou memorizar pela força do uso, atualmente, esse

mesmo estudante pode usar um aplicativo do seu smartphone conectado em rede 3G para

saber o horário e o itinerário do seu ônibus. Além disso, enquanto esse estudante espera seu

ônibus, por exemplo, poder checar redes sociais, ler notícias, baixar conteúdos e publicar os

seus próprios conteúdos.

Enfim, houve uma transformação de hábitos. Jenkins (2008, p.29) afirma que

“convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas,

mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam

estar falando”. Jenkins (2008) também diz que a convergência é marcada pelo “fluxo de

conteúdos através de múltiplas plataformas midiáticas”, a “cooperação entre múltiplos

mercados midiáticos” e o “comportamento migratório dos públicos dos meios de

comunicação”. (JENKINS, 2008, p. 29). O exemplo do estudante ilustra essa afirmação.

Relacionando as ideias de Jenkins (2008) ao jornalismo, a convergência ganha

destaque. Barbosa (2008) relaciona a cultura da convergência à convergência jornalística, que

tem as seguintes características, conforme a autora:

Para o jornalismo, a convergência significa integração entre meios distintos,

produção de conteúdos combinando multi-plataformas para publicação e

distribuição, convergência estrutural com a reorganização das redações e a

introdução de novas funções para os jornalistas, uso associado de tecnologias da

informação, softwares, sistemas inteligentes, audiência ativa, exploração do

potencial interativo, hipertextual e multimídia da internet, e também a construção

de narrativas jornalísticas em conformidade com tais recursos. Mais que uma

palavra da moda ou justificativa para sobrecarga de trabalho e cortes nas equipes, a

convergência jornalística é uma oportunidade para renovar o jornalismo e atualizá-

lo frente às demandas do público do século XXI. (BARBOSA, 2008, p.2).

Segundo Barbosa (2008), a convergência no jornalismo afeta suas rotinas de produção,

pois a produção de conteúdos torna-se distribuída nas multiplataformas. O consumo também

se altera, uma vez, que a narrativa dos conteúdos pode ser feita de várias formas, através das

multiplataformas. Ou seja, a convergência jornalística é uma tendência diferente de se fazer e

de se consumir jornalismo.

Page 35: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

35

Sendo assim, “a convergência envolve uma transformação tanto na forma de produzir

quanto na forma de consumir os meios de comunicação” (JENKINS, 2008, p. 44). Quando o

jornalismo se apropria de algum site de rede social, por exemplo, ele está, justamente,

realizando isso através da convergência, pois, nesse cenário, se alteraram as estratégias de

produção. Para entender melhor como a apropriação pode afetar o jornalismo e seus

processos, o próximo capítulo discute as apropriações dos sites de redes sociais realizadas

pelos veículos jornalísticos atuais.

Page 36: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

36

4 APROPRIAÇÕES DE SITES DE REDES SOCIAIS PELO JORNALISMO

Recuero (2009) define os sites de redes sociais da seguinte maneira:

[...] um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós

da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). Uma rede, assim, é uma

metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das

conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem, assim,

seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas

conexões. (RECUERO, 2009, p. 24).

Ou seja, o site de rede social é um emaranhado de conexões e ligações entre os seus

componentes, chamados pela autora de atores. Estas conexões mantêm os atores ligados entre

si para que exista troca de comunicação entre o grupo. Alguns atores possuem mais ligações

do que outros. Contudo, ambos se alimentam e são alimentados pela rede social e a compõem

como um todo.

Outra observação da autora é de que são as “estruturas dos agrupamentos humanos,

constituídas pelas interações, que constroem os grupos sociais” (RECUERO, 2013, p.16). Tal

definção permite a compreensão de que, para que a rede seja estabelecida, é necessária a

conexão entre indivíduos. Por isso, a formação das redes sociais é dependente do

comportamento humano. Elas já eram assim antes do surgimento dos sites de redes sociais.

São criações que partem da tendência natural do ser humano de se agrupar e de trocar

informações entre si.

Recuero (2009) também salienta que a diferença entre os sites de redes sociais está no

tipo de apropriação que se realiza dos seus espaços. Ela coloca dois tipos: os “sites de redes

sociais propriamente ditos” e os “sites de redes sociais apropriados”. São exemplos dos

propriamente ditos o Orkut eo Facebook. “São sistemas onde há perfil e há espaços

específicos para a publicização das conexões com os indivíduos. Em geral, esses sites são

focados em ampliar e complexificar essas redes, mas apenas isso.” (RECUERO, 2009, p.

104). Já os „sites de redes sociais apropriados‟, também citados pela autora, são como o

Fotolog, Webblogs e o Twitter. “São sistemas onde não há espaços específicos para perfil e

para a publicização das conexões. Esses perfis são construídos através de espaços pessoais

ouperfis pela apropriação dos atores.” (RECUERO, 2009, p. 104). Para a autora, os sites de

redes sociais, sejam eles propriamente ditos ou apropriados, são

[...] ferramentas que proporcionam a publicação e a construção de redes sociais [...]

Nessas ferramentas, essas redes são modificadas, transformadas pela medição das

tecnologias e, principalmente, pela apropriação delas para a comunicação.

(RECUERO, 2013, p.16).

Page 37: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

37

Portanto, é possível entender que o processo de apropriação é importante para que o

site de rede social seja muito ou pouco aderido pelo público. Uma apropriação criativa e

funcional pode significar curta ou longa popularidade de um site de rede social.

A apropriação é vista por Lemos (2002) como

[...] uma dimensão técnica (o treinamento técnico, a destreza na utilização do

objeto) e uma outra simbólica (uma descarga subjetiva, o imaginário). A

apropriação é assim, ao mesmo tempo, forma de utilização, aprendizagem e

domínio técnico, mas também forma de desvio (deviance) em relação às instruções

de uso, um espaço completado pelo usuário na lacuna não programada pelo

produtor/inventor, ou mesmo pelas finalidades previstas inicialmente pelas

instituições” (LEMOS, 2002, p.239).

Assim, a apropriação significa ir além do domínio da função pré-estabelecida. Pode

resultar na criação de outras formas de uso que surgem com a criatividade. Zago (2008) segue

a mesma linha de pensamento de Lemos (2002). Ela afirma que,

[...] embora os sites sejam criados com uma proposta inicial por seus

desenvolvedores, é a partir do efetivo uso que as redes sociais irão se constituir. [...]

Como o modo criativo adotado pelos usuários de internet, muitas vezes bastante

diferentes da proposta original dos sistemas, em um contexto de cibercultura.

(ZAGO, 2008, p.20).

Portanto, a criatividade é, de certa maneira, o mote da apropriação dos sites de redes

sociais quando a utilização desses sites é diferente do proposto inicialmente pelos seus

programadores (LEMOS, 2002; ZAGO, 2008).

Desse modo, o uso criativo dos sites de redes sociais também está presente no

jornalismo. Os seus usos estão associados aos vários processos de criação da notícia, desde a

formação da notícia, para a coleta de pautas, até o uso para a potencialização da circulação

das notícias. Pressupondo os seus diversos modos de uso, com foco nas dinâmicas da notícia a

partir dos casos de análise dos perfis no Twitter e no Facebook do jornal Estado de São Paulo,

Sousa, (2013) distingue quatro momentos dos sites de redes sociais para a prática do

jornalismo. São eles:

a) Compartilhamento Simples:o mais comum e que foi encontrado em todos os

casos pesquisados. Ocorre quando são disponibilizados botões para

compartilhamento das notícias nos portais para sites externos (Twitter, Facebook,

LinkedIn, Digg). O encaminhamento por e-mails e o espaço de comentários foram

considerados como estratégias de distribuição e interatividade;

b) Perfil em redes sociais:é quando as organizações jornalísticas estão presentes nas

redes sociais por meio de perfis ou fanpages. Neste cenário, o grau de interação

Page 38: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

38

com o público consumidor pode variar entre as organizações. É possível ainda, pelo

login via Facebook, que possibilita a visualização de conteúdos exclusivos, o

comentário de notícias e acessar links recomendados pelas redes de amigos;

c) Colaboração: ocorre quando os veículos jornalísticos utilizam o conteúdo

procedente e selecionado das RSIs. Isso ocorre frequentemente e, em coberturas

jornalísticas especiais, esse material costuma ser usado para atualizações em tempo

real, assim como para reportagens multimídia.

d) Redes sociais próprias:esse é o cenário mais recente. Ocorre quando, além de

possuir todas as características anteriores, “o jornal on-line dispõe de uma rede

social própria” (LONGHI; FLORES; WEBER, 2011, p. 26), trazendo: Ferramentas

existentes em um site de rede social como criar perfil, compartilhar e comentar

itens, seguir usuários, entre outras. As redes sociais próprias mantêm link com as

outras redes já existentes e oferecem a opção de importar contatos e de publicar os

links divididos na plataforma do veículo (SOUSA, 2013, p. 97 - 98).

Observando as características colocadas por Sousa (2013), pode-se notar que são

funções apropriadas para o uso jornalístico, uma vez que não surgiram, inicialmente, para esta

função. O jornalismo tem feito usos específicos dos sites de redes sociais, relacionados com

objetivos estratégicos no uso dessas ferramentas. Exemplo pode ser visto na análise de

Dalmaso (2013), ao falar do jornalismo no Facebook. Ela compara as postagens no Facebook

de dois veículos: „Sul 21‟, que é um meio nativo da Web, e „Zero Hora‟, que é um meio com

representações convencionais. Segundo ela, ambos os veículos seguem o mesmo formato de

publicação, pois publicam suas informações sempre acompanhadas dos links das matérias.

Enquanto, para o texto, o

[...] aspecto do instantâneo pode aparecer tanto no tamanho das mensagens

postadas, geralmente mais resumidas, quanto na utilização de expressões que

verbalizam o acompanhamento de uma pauta como “neste momento”, “em

instantes”, “estamos acompanhando” etc. Outra característica que é incorporada à

apresentação da informação nos sites de rede social é o apelo visual, utilização de

imagens acompanhando o texto, sejam fotografias como imagens de links de sites.

(DALMASO, 2013, p.2).

Esses exemplos foram apropriações semelhantes entre o Sul 21 e o Zero Hora. Para a

apresentação de links que remetem os internautas ao seu site oficial, o Sul 21 se “utilizou de

quatro formas diferentes de publicar conteúdo através de sua página do Facebook”

(DALMASO, 2013, p. 10). Postura que Zero Hora não adotou, pois, diferente do Sul 21, Zero

Hora “utiliza predominantemente o formato texto resumido, fotografia e link para o site”

(DALMASO, 2013, p. 15). Expressões de autorreferência também foram usadas por ambos

para “marcar o efeito de acompanhamento do fato, direto do local onde ele está ocorrendo”

(DALMASO, 2013, p. 11). Trata-se de algumas tendências de utilização desses espaços pelos

meios jornalísticos. Demonstram tentativas de explorar possibilidades das redes sociais, como

o acompanhamento contínuo dos fatos, em tempo real.

Page 39: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

39

O Twitter tem sido um dos sites de redes sociais apropriados pelos meios jornalísticos

e a forma de apropriação tem variado bastante. Dentre essas formas, tem sido usado como

fonte de informação para o jornalismo durante o processo de formação da notícia (ZAGO,

2008; KWIATKOSKI, 2013).

[...] cobertura minuto a minuto, difusão de últimas notícias, informações sobre

bastidores da publicação jornalística, envio de atualizações direito do local do

acontecimento a partir de dispositivos móveis, entre outras, seriam algumas

possibilidades de utilização do Twitter que vêm sendo postas em prática por

organizações jornalísticas de todo o mundo. (ZAGO, 2008, p. 35).

Estas apropriações apontam como o Twitter está sendo inserido nos processos de

produção da notícia. Outra possibilidade de uso do Twitter é para a recirculação jornalística.

Ela ocorre, segundo Zago (2008), quando há uma subetapa na última etapa de consumo do

jornalismo. Segundo a pesquisadora, o fenômeno acontece após o consumo, quando “ele pode

continuar com o acontecimento sendo posto novamente em circulação pelas mãos dos

interagentes, que filtram e comentam a notícia originalmente posta em circulação pelos

veículos” (ZAGO, 2013, p. 215). Ou seja, a informação continua recirculando pelo site de

rede social por conta da potencialização dos interagentes e não mais, necessariamente, dos

veículos. Por isso, é possível observar que o Twitter é um site de rede social o qual

[...] muitos profissionais da comunicação usam, talvez como um reflexo de que a

ferramenta tem sido incorporada às rotinas produtivas de sua profissão, servindo

tanto como fonte quanto como espaço para circulação (ou recirculação) de

conteúdos. (ZAGO, 2008, p. 159).

Assim, a incorporação dos sites de redes sociais nas rotinas produtivas pode significar

a visão dos mesmos como canais para a prática típica do jornalismo digital. Contudo, estas

apropriações não devem ser vistas como maneiras de encurtar os caminhos na produção da

notícia e nem de substituir a apuração e a checagem de conteúdos (KWIATKOSKI, 2013).

Kwiatkoski (2013, p.18) coloca que “notícias falsas não são incomuns no jornalismo e nem

são uma novidade. A novidade está na sua origem”. Logo, o uso dos sites de redes sociais não

altera, em essência, o modo de fazer jornalismo, pois as etapas de apuração devem ser feitas

tal como se faz no jornalismo tradicional. O que pode estar se alterando são outros aspectos

do jornalismo digital.

Não é apenas o jornalista, quando produz, e o público, quando consome, que têm

sentido os impactos da inclusão dos sites de redes sociais no processo jornalístico, mas

também a relação dessas duas esferas. Esses lados não são excludentes e o fenômeno Pro-Am,

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40

característico da cauda longa, segundo Anderson (2006), mostra que é possível melhorar as

notícias quando “profissionais e amadores trabalham lado a lado”(ANDERSON, 2006). “O

Pro-Am também pode estar acontecendo no jornalismo, a partir do aproveitamento que as

mídias de referência fazem dos conteúdos amadores disponíveis na Web.” (BELOCHIO,

2010, p. 135). Isso pode ser associado ao jornalismo colaborativo e pode acontecer através

dos sites de redes sociais, entre outros espaços. O Pro-Am

[...] pode ser observado quando os jornais digitais solicitam o envio de informações,

de fotografia e de vídeos sobre determinados eventos que não conseguem cobrir de

maneira abrangente e instantânea. A partir dessa ação, os veículos noticiosos

buscam ampliar a qualidade e a quantidade de informações e detalhes sobre os

acontecimentos com os quais trabalham, mediante a ajuda recebida do público

amador. (BELOCHIO; ZAGO 2010, p. 02).

Tendo em vista que essas práticas podem ser vistas nas apropriações que os meios

jornalísticos têm feito dos sites de redes sociais (BELOCHIO ZAGO, 2010), pode-se observar

que a apropriação dos mesmos tem alterado determinadas rotinas do processo de produção das

notícias. Dentre as etapas gerais da prática jornalística: apuração, produção, circulação e

consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2007), é possível identificar tendências

em cada uma. Por exemplo, o movimento Pro-Am (BELOCHIO 2010; BELOCHIO; ZAGO

2010),quando estimula o leitor a contribuir com o jornalista pelas redes sociais, gerando

conteúdo final colaborativo. Entende-se que essa ação pode afetar a apuração e a produção. A

recirculação de informações colocada por Zago (2011) é uma ação que se torna possível a

partir da modificação das práticas de consumo, que alteram a circulação. Os modelos para a

publicação de texto resumido, fotografia e link para o site (DALMASO, 2013) pode ser

associado a mudanças nas práticas de produção e de circulação. São exemplos de como,

atualmente, as apropriações de sites de redes sociais têm entrado nas rotinas jornalísticas.

Esses processos estão relacionados com as possibilidades do jornalismo na rede. Como

já visto no capítulo 2, enquanto produto jornalístico possível a partir de tecnologias

diferenciadas, o jornalismo digital apresenta características próprias que estão se acentuado. A

apropriação dos sites de redes sociais para estratégias peculiares é uma delas. Acredita-se que

essas especificidades podem influenciar a definição dos critérios de noticiabilidade nas

redações de maneira diferente, mais relacionada ao meio digital. Isso acontece, entre outras

coisas, a partir do contexto favorável, pois se pode apontar que, à medida que o jornalista

agrega o uso dos sites de redes sociais na sua própria rotina de produção, transforma as

mesmas em elementos do seu cotidiano. Se, como já destacado a partir de Moreira (2008, p.

Page 41: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

41

38), os critérios de noticiabilidade são referentes “não só aos fatos, como também às

circunstâncias em que eles são percebidos e selecionados, envolvendo qualquer elemento que

possa influenciar a veiculação de uma notícia”, há possibilidades deque o uso dos sites de

redes sociais afete, de alguma maneira, os critérios de noticiabilidade. Quando percebemos o

quanto as apropriações dos sites de redes sociais estão participando das etapas da prática

jornalística citados anteriormente, isso fica mais evidente.Tanto que, em algumas redações, já

existem editorias específicas de mídias sociais nos jornais disponibilizados na rede.

Com base em tal fato, entende-se que as apropriações dos sites de redes sociais no

jornalismo digital podem estar interferindo nas suas dinâmicas de produção. Visto que eles

passam a integrar as estratégias editoriais dos veículos jornalísticos, podem estar assumindo

importância peculiar nesse contexto.

4.1 Exemplos de apropriações em sites jornalísticos brasileiros

Este tópico é dedicado à breve descrição de casos de apropriação dos sites de redes

sociais em alguns jornais de referência. Pois, é válido não só verificar a presença dos sites de

redes sociais nas estratégias desses outros webjornais, como também, as formas de

apropriações desses elementos. Para tal, foram verificados os aspectos dessas apropriações

dentro do webjornal e também dos perfis e páginas oficiais das redes sociais apropriados por

eles.

Segundo a Associação de Nacional de Jornais (ANJ), os dez maiores jornais do Brasil

de circulação paga durante o ano de 2012 são os seguintes: Folha de São Paulo (SP); Super

Notícia (MG); O Globo (RJ); O Estado de São Paulo (SP), também conhecido como O

Estadão; Extra (RJ); Zero Hora (RS); Diário Gaúcho (RS); Daqui (GO); Correio do Povo

(RS) e Meia Hora (RJ). Foram usados como exemplos neste trabalho os jornais Folha de São

Paulo, O Estadão e O Globo, ou seja, três dos quatro maiores jornais de circulação paga no

Brasil.

4.1.1 Folha de São Paulo

O Jornal Folha de São Paulo apresenta perfil em seis sites de redes sociais. São eles:

Facebook, Twitter, Google +, Instagram, Pinterest e Tumblr. Na página inicial do site,

atualmente, não há remissão para os sites de redes sociais. Contudo, nas páginas das editorias

Page 42: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

42

há um box que concentra alguns plugins9do tipo íconesdos sites de redes sociais do jornal e

outros que aparentemente são convenientes para a empresa. A imagem a seguir mostra o box

nomeado de “Siga a Folha”, que é igual para todas as outras páginas de editorias e que está

presente, inclusive, nas páginas de conteúdo.

Figura 1 -Box “Siga a Folha” retirado da página da editoria Ilustrada do jornal Folha de São

Paulo

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/ Acesso em 01 de Mar. de 2014.

As páginas de conteúdos possuem três momentos de presença de redes sociais. O

primeiro momento, simular a uma tarja, contém três Pontos de Estímulos de

Interação(PEI)10

que são: o “Recomendar”, do Facebook, o “Tweetar”, do Twitter e o “G +1”,

do Google Plus. Vale lembrar, que também no fim da página, há outra tarja como esta. O

segundo momento está nas opções do “+ Mais Opções”, o “Facebook” deste caso gera o

compartilhamento de conteúdo, ou seja, uma ação diferente do “Recomendar”.

O terceiro momento é o box com plugins do tipo ícones dos sites de redes sociais. A

imagem que segue mostra detalhes para melhor exemplificação da localização

dessesmomentos descritos.

9Neste trabalho, plugins são entendidos como programas ou extensões, que visa, quando instalados em outro

programa principal, adicionar funcionabilidades específicas. Ao longo do trabalho, o elemento será

exemplificado com mais detalhes.

10Pontos de Estímulos de Interação (PEI) são elementos, aparentemente, similares ao plugins. Contudo, o PEI

estimula uma ação. No caso, relacionados as redes sociais. Curtir, comentar, recomendar, compartilhar, twittar

são exemplos de ações estimuladas relativas ao Facebook e Twitter. Dessa forma, o PEI, não se limita a apenas

anexar o site de rede social como também estimula o leitor. Ao longo do trabalho, o PEI será exemplificado.

Page 43: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

43

Figura 2 - Primeira parte da página de conteúdo com presença de três momentos de sites de

redes sociais.

Fonte:<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/02/1419558-comedia-e-a-grande-vencedora-do-cesar-

maior-premio-do-cinema-frances.shtml.>. Acesso em 01 de Mar. de 2014.

Pode-se observar, na imagem anterior, a tarja branca com os Pontos de Estímulos de

Interação de três sites de redes sociais. São eles: o “Recomendar” que serve para que o

indivíduo recomende conteúdos aos seus amigos do Facebook. O “Tweetar”que publica o

conteúdo noperfil do Twitterde quem efetuou a ação. E, o “G+1” que também servem para

publicar conteúdo na página de quem clicou. Logo, visam à intervenção do público, e não

apenas ao direcionamento dele para as páginas dessas redes sociais. Além disso, no ícone “+

Opções”, encontra-se a opção para oFacebook, que redimensiona para o compartilhamento do

conteúdo, outra ação do Facebook. O terceiro momento é o box com plugins do tipo ícones

que redirecionam para as páginas em questões e está presente, também, nas páginas de

conteúdo.

Nos próximos parágrafos, serão descritas observações breves sobre cada perfil dos seis

sites de redes sociais que o jornal possui.

O Perfil do Facebook é apresentado aos leitores com as normativas do jornalismo

produzido pela Folha de São Paulo. “A Folha de S Paulo (www.folha.com) quer levar a você

o melhor conteúdo, com pluralismo, jornalismo crítico e independência”. Também se pode

verificar a seguinte definição: “esta página foi para receber a sua opinião”. O modelo das

Page 44: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

44

postagens segue a forma chamada curta e link para a leitura integral do conteúdo, no site do

jornal, junto com uma imagem. Apesar de o perfil declarar que o Facebook seria um canal

para “receber a sua opinião”, não parece que o jornal realiza esse tipo de coleta com

frequência, pois não foi observada interação do perfil com o público no período desta

pesquisa. Aparentemente, o perfil só publica e recebe os comentários dos seus leitores sem

interagir. A imagem seguir mostra o modelo de publicação:

Figura 3 - Modelo de postagem no Facebook no perfil do jornal Folha de São Paulo

Fonte:<https://www.facebook.com/folhadesp>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

Como pode ser observado na Figura 3 os círculos marcam a chamada, o link e a foto.

É o modelo de postagem utilizado para este site de rede social.

A apresentação do perfil do Twitter é sucinta e resume-se à alegação da oficialidade do

perfil, junto com o link para o perfil do Facebook, mais o canal para atendimentos. O formato

Page 45: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

45

do conteúdo segue o modelo de chamadas rápidas com links para a leitura integral dos

conteúdos no site do jornal.

A apresentação do perfil no Google + traz o nome do jornal e endereço para o site do

jornal. Este site de rede social possui a sessão “sobre”. Logo, deduz-se que a apresentação é

sucinta por este motivo. O modelo de postagem de conteúdos segue o mesmo padrão do

Facebook, com chamada, link e imagem. Contudo, algumas postagens são marcadas com a

hashtag11

da editoria, ou com assunto geral que predomina na notícia. A imagem a seguir

mostra o detalhe:

Figura 4 -Modelo de postagem no Google + pelo perfil do jornal Folha de São Paulo

Fonte:<https://plus.google.com/+folha/posts>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

11

Tags são etiquetas ou palavras-chaves as quais classificam um assunto específico. Hashtags seriam tags

precedidas do símbolo # (hash, em inglês). (ZAGO, 2011).

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46

As marcações acima indicam “#Rússia” e“#folhacarnaval”, que se referem ao assunto

de cada notícia. Aparentemente, o uso dashashtagsé para nortear uma futura busca sobre o

assunto.

No Instagram, a Folha se apresenta com boas vindas ao leitor: “Bem-vindo AO

PERFIL oficial da Folha de S Paulo. Bem-vindo ao relato da Folha de S Paulo, o jornal mais

vendido do Brasil”. No mesmo espaço, também aparece o link para o site do jornal. As

imagens postadas no Instagram são, em sua maioria, as capas do jornal impresso, com

algumas imagens. Estas, possivelmente, foram publicadas no jornal impresso, ou nos outros

sites de redes sociais, como recursos para ilustrar e complementar conteúdos. Não foram

visualizados estímulos para a coleta de colaborações e manifestações do público.

O perfil do Pinterest, outro site de rede social voltado a imagens/fotografias, tem uma

apresentação curta, que se resume à declaração de oficialidade do perfil e também à sugestão

para o leitor seguir o perfil do Instagram do jornal. No que diz respeito ao conteúdo, o

Pinterest não parece, também, ter alguma associação com o público, resumindo-se a uma

legenda para as imagens.

O perfil no Tumblr é objetivo na apresentação ao leitor. “Tumblr oficial da Folha de S

Paulo. Site: folha.com.br”. Como este site de rede social também é específico para imagens, o

conteúdo das postagens apresenta sempre uma grande imagem, seguida de contextualização

curta da mesma. Depois disso, é exibido o link para a leitura do conteúdo no site do jornal, o

que não é feito no Pinterest.

4.1.2 Jornal o Globo

O jornal O Globo mantém, em sua página inicial, três plugins do tipo ícones referentes

aos três sites de redes sociais nos quais possui perfil. Os plugins estão localizados no canto

direito superior da página, no cabeçalho. Segue a imagem a seguir para ilustração:

Figura 5 -Cabeçalho da Capa do site do jornal O Globo

Page 47: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

47

Fonte:<http://oglobo.globo.com/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

Como se pode notar na Figura 5, há uma presença tímida dos sites de redes sociais no

cabeçalho de O Globo. O site do jornal O Globo é organizado com páginas de editorias e

páginas de conteúdos. O cabeçalho pode ser visto da mesma forma que a imagem anterior

ilustra em todas essas páginas. As páginas de editorias possuem apenas esses ícones no

cabeçalho. As páginas de conteúdo apresentam três momentos de redes sociais. No cabeçalho,

aparecem antes do início do texto, logo após o título, e no final, na parte inferior da interface.

Nestas remissões está presente o “Recomendar”, do Facebook, o “Tweet”, do Twitter, e o

“G+1”, do Google +. O terceiro momento refere-se à presença do perfil do Twitterda editoria

em questão, em um box chamado de “Nas Redes”. Cada editoria possui o seu perfil no

Twitter. A imagem a seguir exemplifica, com o box da Economia.

Figura 6 - Imagem do box “Nas Redes” encontrado nas páginas de conteúdo da editoria

Economia

Fonte:<http://oglobo.globo.com/economia/com-dolar-alto-artigos-importados-ficam-mais-raros-11777464>.

Acesso em 04 de Mar. de 2014.

O box mostrado localiza-se à direta e ao meio das páginas de conteúdo, com o perfil

referente às suas editorias.

Como já apresentado, O Globo possui Facebook,Twitter e Google +. No Facebook, o

jornal se apresenta da seguinte forma: “Olá! Este é um ponto de encontro, um espaço para a

conversa em torno de ideias e notícias. 'Curta' a nossa página e seja bem-vindo (@)”. O

modelo de postagem é com chamada curta, imagem e link para a leitura completa no site do

jornal. Contudo, a partir de observação simples, percebe-se que as chamadas variam entre

muito curtas e com até duas linhas. Além de seguirem uma abordagem interrogativa, ou de

tom informal. Acredita-se que a intenção é provocar a interação com o público. Contudo, não

verificou-se, no período desta pesquisa, feedback do jornal em responder ou curtir os

Page 48: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

48

comentários feitos pelos seguidores do perfil. A seguir, alguns exemplos da abordagem do

perfil de O Globo.

Figura 7 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo

Fonte:<https://www.facebook.com/jornaloglobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

A Figura 7 mostra um estímulo do meio jornalístico para a coleta do “curtir”, quando

interroga o leitor sobre a escola de samba que está na imagem. A questão é: “Mocidade:

curtiu?”. A próxima figura mostra um convite para a postagem de comentários:

Figura 8 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo

Page 49: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

49

Fonte:<https://www.facebook.com/jornaloglobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014

A Figura 8 é o print screen de uma postagem de O Globo no Facebook questionando o

leitor sobre a sua concordância a respeito do Oscar de melhor filme. Através da questão “Para

o Bonequinho da GLOBO, „Ela‟ deveria ganhar o Oscar de melhor filme.

http://glo.bo/1gkpJmv. Qual é o seu palpite?”, solicita a manifestação do público.

A apresentação do perfil do Twitter do jornal O Globo é curta: “Acompanhe as

notícias do jornal O GLOBO”. As abordagens nas postagens seguem o formato de chamada

curta. A opção “resumo”, que é oferecida pelo próprio Twitter, é preenchida com breves

informações que complementam a chamada. Este “resumo” pode ser visto quando expande-se

o link “Ver resumo”. A próxima imagem mostra como O Globo se apropria desta função do

Twitter:

Figura 9 -Imagem do Twitter do perfil do jornal O Globo com o resume expandido

Page 50: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

50

Fonte:<https://twitter.com/JornalOGlobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

A demarcação anterior mostra conteúdo complementar à chamada, que ainda

redireciona para o site, caso o leitor queira o completar a leitura integral da notícia.

O Globo mantém o perfil no Google + parecido com o jornal A Folha de São Paulo.

Apresentação sucinta, com pequenas chamadas seguidas de link, imagem e hashtag para

organizar as editorias. A imagem a seguir ilustra como acontece a utilização das hashtags nas

chamadas.

Figura 10 -Imagem do Google + do perfil do jornal O Globo

Page 51: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

51

Fonte:<https://plus.google.com/+JornalOGlobo/posts>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

A Figura 10 apresenta a chamada da seguinte forma: “#Portela e #Mangueira

despontam como favoritas ao título do Grupo Especial”, com a presença das hashtags para os

nomes das escolas de samba. O que demonstra atenção as peculiaridades das redes sociais.

4.1.3 Jornal Estadão

A página inicial do site do Jornal Estadão,mantém três momentos com remissões fixas

para as redes sociais. Um box chamado “Siga o Estadão”, com links para o Facebook, Twitter,

Google +, Linkedin, RSS e You Tube. Um plugin do Facebook e no rodapé da página com os

links dos Twitter, Facebook, Google +, Linkedin, You Tube, Flickr e RSS. Além desses

momentos fixos na página inicial, também foram encontradas remissões nas chamadas. A

próxima figura mostra uma chamada com essas remissões.

Figura 11 - Imagem da página inicial do jornal Estadão

Page 52: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

52

Fonte: <http://www.estadao.com.br/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

A imagem anterior mostra a capa do Estadão com referências a um site de rede social

utilizado nas suas estratégias: o Instagram. Exibe o crédito da foto destacada da seguinte

forma: “@diogofqa/Reprodução Instagram”, ou seja, indica o contato e o site de rede social

que serviu como fonte da imagem. Há também a chamada “#estadaocarnaval: confira a folia

pelo Brasil e envie sua foto”, como estímulo para o envio de imagens via Instagram. Trata-se

de estratégia colaborativa.

As páginas das editorias possuem o box “Siga o Estadão” com plugins tipo ícones e

links no rodapé, além dos plugins do Google + e do Twitter da editoria. A seguir, a figura

mostra como o box “Siga o Estadão”.

Figura 12 -Imagem do box retirado da página inicial da editoria Saúde do jornal Estadão

Page 53: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

53

Fonte: <http://www.estadao.com.br/saude/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.

A Figura 12 apresenta o box encontrado nas páginas das editorias. Trata-se de plugins

tipo ícones que anexam os sites de redes sociais ao webjornal.As páginas de conteúdo

apresentam três momentos de presença de sites de redes sociais. Antes do início do texto, há

Pontos de Estímulos de Interação para quatro sites de redes sociais. São eles “Enviar” e

“Recomendar”, do Facebook,”Compartilhar”, do Linkedin, “G+”, do Google +, e “Tweet”, do

Twitter. O segundo momento é a presença do box “Siga o Estado”. O terceiro momento é um

plugin do Facebook.

O Estadão possui Facebook, Twitter e Google +, Linkedin e Flickr. A apresentação do

perfil do Facebook estimula a participação do público: “Este é um espaço para participação e

debate. Conheça as regras para mantermos discussões bacanas nesta página:

http://cadastro.estadao.com.br/responsabilidade-online.” O link redireciona o leitor para uma

página de cadastro do site, na qual são colocados os princípios do código de conduta da

“Responsabilidade Online” do Grupo Estado. A página está disponível no Anexo Apara

verificação. As postagens seguem o modelo: pequena chamada, link para o site e imagem.

O perfil do Google + tem como apresentação apenas o endereço do site do jornal. As

postagens seguem o mesmo modelo do Facebook: pequenas chamadas, link para a leitura

completa no site e imagem, além das hashtags no corpo do texto das pequenas chamadas.

O perfil do Twitter do Estadão se apresenta como “a versão online do jornal O Estado

de S. Paulo”, seguido da sugestão para o leitor seguir as atualizações do jornal no Facebook.

O formato do conteúdo não difere muito da Folha de São Paulo, seguindo o modelo: chamada

sucinta com link para a leitura no site do jornal.

O perfil do Estadão no Flickr só possui a identidade visual da empresa como

identificação. O Flickr é visto, aqui, como site de rede social apropriado, pois, possui

elementos que foram apropriados, por exemplo, a função ´comentar´. O perfil apresenta

imagens, provavelmente utilizadas pelo jornal impresso. Contudo, o perfil, a partir de

observação breve, não interage com os seus seguidores e foi atualizado pela última vez junho

de 2012.

Page 54: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

54

O perfil do Linkedin oferece o espaço “Visão Geral”, para apresentação. Neste espaço,

o jornal se descreve como:

O Estadão é uma das maiores e mais importantes empresas de informação e

comunicação do Brasil, atuando nos segmentos de jornalismo, serviços de

informação, divulgação de publicidade e entretenimento. É uma organização que se

sente responsável pela promoção do desenvolvimento humano, político,

econômico, social e cultural do País. Como uma empresa dinâmica e em constante

renovação, o Estadão está sempre atento e aberto a profissionais talentosos que se

alinhem aos propósitos e à cultura da organização.

(In:<http://www.linkedin.com/company/estadao>. Acesso em 14 de Mar. de 2014).

As atualizações seguem o modelo chamada, link e imagem. Possuem as opções

“Gostei”, “Comentar” e “Compartilhar”.

Com essas ilustrações, a apropriação dos sites de redes sociais pelos veículos

jornalísticos brasileiros segue, aparentemente, tendências da cultura da convergência e da

convergência jornalística. Isso porque esses espaços são inseridos nas suas estratégias de

distribuição multiplataforma. A partir da breve verificação realizada nos sites dos jornais

Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo, perceberam-se algumas dessas

tendências, como expor as notícias convencionais nos sites de redes sociais como mais um

canal de publicação para conduzir leitores ao site principal. Além disso, também se verificou

conteúdo postado em site de rede social em publicação jornalística. É o que foi visto no caso

do Estadão, que usou imagem do Instagram para enriquecer a cobertura sobre o carnaval no

seu webjornal. Outro ponto interessante é que todos os jornais observados utilizam de várias

maneiras os sites de redes sociais. Isso mostra que eles estão inseridos de maneiras diversas

no seu cotidiano, podendo influenciar, dessa forma, os processos de escolha e de produção das

notícias.

Diante dessas tendências, questiona-se: será que, por conta das peculiaridades do tipo

de estratégia realizada no ambiente digital, especificamente a partir do uso de sites de redes

sociais, podem mudar os critérios de noticiabilidade dos veículos jornalísticos que realizam

essa ação? Para refletir sobre essa questão, serão apresentados, adiante, dados sobre a

utilização que o webjornal Zero Hora.com faz dos sites de redes sociais. Análise mais

detalhada será exposta para que a reflexão sobre o assunto seja aprofundada.

No próximo capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos deste

trabalho.

Page 55: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

55

5PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o objetivo de buscar evidências sobre a possível influência dos sites de redes

sociais nos critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com, foi definido um conjunto

de procedimentos metodológicos específicos para tal verificação. Eles serão descritos neste

capítulo. O tópico a seguir descreve Zero Hora.com.

5.1 Zero Hora.com

O caso escolhido para ser observado nesta pesquisa é do jornal digital gaúcho Zero

Hora.com. Segundo Belochio (2009), o site do jornal ZeroHora.com, tradicional impresso do

Rio Grande do Sul, surgiu por volta de 1997. “Dois anos mais tarde, já em 1999, Zero Hora

digital foi agregado ao portal Clic RBS” (BELOCHIO, 2009, p. 103). Apenas em 2007 que a

versão de Zero Hora.com surgiu.

Às 4h do dia 19 de setembro de 2007, entrou no ar o website Zero Hora.com,

que apresenta notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana,

mais a versão impressa do periódico. (In:<http://zerohora.clicrbs.com.br/>.

Acesso em 19 de Fev. de 2014).

Segundo Nickel12

(2013), com a existência de Zero Hora.com, foi colocado em prática

o plano do jornal impresso Zero Hora de fortalecer a sua marca com a presença de um site

“com notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana” (NICKEL, 2013). Foi criada

uma equipe “especialmente para isso: para vir para dentro da redação e trabalhar com internet,

que não existia” (NICKEL, 2013). Conforme Nickel (2013), aproximadamente dois anos após

a criação do website, em 2009, as redes sociais foram incluídas nas suas estratégias. Foram

criados perfis de Zero Hora.com, inicialmente, no Twitter. Logo que o Facebook permitiu a

criação de páginas para organizações, foi criada a página de Zero Hora também no Facebook.

Atualmente, o jornal conta com oito perfis em redes sociais. São elas: Twitter,

Facebook, Google +, Instagram, Pinterest, Tumblr, Foursquare e Storify. Estes são

encontrados na „Central de Redes Sociais‟ de Zero Hora.com, que tem ficado como um dos

componentes da seção „Participe‟. Nesta página, pode-se encontrar o acesso aos perfis das

12

A jornalista Bárbara Nickel é editora chefe do núcleo de redes sociais na redação de Zero Hora. Ela foi

entrevista na redação do jornal Zero Hora no dia 30 de Setembro de 2013.

Page 56: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

56

redes sociais do webjornal, tanto os gerais quanto os específicos das editorias e cadernos.

Exemplos são a „Central de Twitter‟, „Central do Facebook‟e „Fotógrafos no Instagram‟.

Além de regiões compiladoras de perfis, também se encontram na Central de Redes

Sociais as estratégias que estão em andamento no webjornal, como as Missões do Instagram,

tanto as gerais quanto as hiperlocais13

. Ou seja, essa página é um facilitador e organizador das

redes sociais e suas atividades no webjornal, uma vez que elas poderiam estar dispersas nas

páginas de conteúdo das editorias. A seguir, imagens da página „Central de Redes Sociais‟:

Figura 13 –Trecho retirado da página Central de Redes Sociais

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev de 2014.

A imagem anterior apresenta a „Central de Twitter‟, onde se concentram os perfis de

editorias, cadernos, repórteres e fotógrafos de Zero Hora.com com representação no

microblog. A próxima imagem apresenta a barra de perfis do Facebook:

Figura 14–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais

13

O jornalismo hiperlocal é tem como objetivo mostrar os principais acontecimentos de uma determinada

região.( In:<http://jornaldobetania.com/entenda-o-que-e-jornalismo-hiperlocal/>. Acesso em 14 de Mar. de 2014.

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57

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.

Tal como a „Central do Twitter‟, a „Central do Facebook‟ também concentra os perfis

das editorias, cadernos e repórteres naquela rede social. A existência de áreas específicas

dessas duas redes sociais em Zero Hora.com indica que elas têm certa relevância nas

estratégias da equipe do webjornal e, consequentemente, podem estar presentes em suas

rotinas de produção. A próxima figura mostra a barra dos Fotógrafos do Instagram:

Figura 15–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev de 2014.

É interessante notar que a sessão „Fotógrafos no Instagram‟foi direcionada aos

repórteres fotográficos e fotógrafos da equipe de Zero Hora. Isso demonstra a atenção da

equipe do webjornal em relação às especificidades desta rede social de compartilhamento de

fotografias. A imagem a seguir apresenta os perfis gerais de outros sites de redes sociais:

Figura 16–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais

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58

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.

A imagem anterior apresenta a sessão que concentra os perfis do Zero Hora.com do

Instagram, Tumblr, Storify,Facebook e You Tube.Verificam-se, na imagem, breves chamadas,

organizando os perfis para fácil acesso e dando objetivos diferentes para cada um. É o caso do

You Tube, por exemplo, que tem a proposta de expor vídeos sobre os bastidores de Zero Hora.

O Instagramque tem marcada a busca de colaborações. OFacebookque convida,

curiosamente, para o download de imagens. O Storify e o Tumblr que estimulam o

acompanhamento de coberturas. Essas chamadas demonstram o interesse da equipe em

popularizar, pois, existe o estimulo para participação do público. A próxima imagem mostra

outro espaço de Zero Hora.com que organiza os seus perfis gerais em sites de redes sociais:

Figura 17 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.

Page 59: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

59

A imagem destacada é outro tipo sessão, montada em box, para organizar os perfis.

Este box aparece, também, na página da Central de Redes Sociais. O fato de as redes sociais

contarem com espaços específicos na publicação digital de Zero Hora demonstra, de alguma

forma, o quanto as redes sociais ganharam notoriedade e importância no caso do webjornal

aqui observado. Isso porque elas permanecem disponíveis, diariamente, no webjornal. Além

disso, seus perfis são frequentemente utilizados em estratégias diferenciadas, contando com

atualizações diárias e, em algumas ocasiões, com o uso de materiais das redes sociais entre as

matérias constituídas para o site.

A próxima imagem apresenta links de algumas atividades promovidas por Zero

Hora.com nas redes sociais. Essas estratégias foram nomeadas de “Missão ZH”.

Figura 18 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.

Além de perfis organizados, também é possível encontrar, na „Central de Redes

Sociais‟, o „Missão Instragram‟. Ele busca a colaboração do público em ações relacionadas a

temas determinados pela redação. Na imagem anterior, é possível observar o box que

concentra as missões dos cadernos de bairros em busca de fotografias. Ou seja, neste caso, a

especificidade da rede social foi aplicada para a prática jornalística. Outro exemplo, que isto

acontece é com o uso do Twitter para coberturas. Pois, aproveita-se da imedialidade deste site

de rede social para publicar um fluxo de informações próximas ao vivo.

Page 60: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

60

Na página „Central de Redes Sociais‟, conforme mostrado até aqui, é possível notar o

quanto os sites de redes sociais estão presentes em número e atividades dentro de Zero

Hora.com. O diferencial desta página é o quanto ela pode demonstrar como as redes sociais

tem ganhado espaço dentro da prática jornalística. Seja numericamente, pela quantidade de

perfis, ou pelas atividades envolvendo as redes sociais. Ou seja, a necessidade de ter uma

página dedicada às redes sociais e suas atividades chega a sugerir que o uso dos sites de redes

sociais pode estar integrado às práticas jornalísticas em Zero Hora.com.

Cada rede social onde Zero Hora.com mantém representação é apresentada ao leitor.

As apresentações de cada rede social estão colocadas da seguinte forma:

Facebook: Este é o espaço de Zero Hora no Facebook. Curta, Compartilhe e

comente as últimas notícias com a gente :) www.zerohora.com(In:

https://www.facebook.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev de 2014.)

Twitter: Jornal do Rio Grande do Sul. Notícias, esportes, política, economia,

variedades, trânsito, colunistas e mais. http://www.facebook.com/zerohora (In:

https://twitter.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev de 2014.)

Instagram: Bem-vindo ao perfil oficial da #ZeroHoraRBS no Instagram.

Acompanhe os bastidores do jornal. http://www.zerohora.com.br (In:

http://instagram.com/zerohorarbs. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)

Pinterest: Jornal do Rio Grande do Sul. Notícias, esportes, política, economia,

variedades, trânsito, colunistas e mais. www.facebook.com/zerohora(In:

http://www.pinterest.com/zerohora/. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)

Google +: zerohora.clicrbs.com.br/(In: https://plus.google.com/+zerohora/posts.

Acesso em 24 de Fev. de 2014.)

Storify: Jornal do Rio Grande do Sul produzido em Porto Alegre. Notícias,

esportes, política, economia, variedades, trânsito, colunistas e mais. (In:

http://storify.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)

Tumblr: Acompanhe as publicações do perfil oficial do jornal zero hora no

Instagram (@zerohorarbs) (In: http://instagramzh.tumblr.com/. Acesso em 24 de

Fev. de 2014.)

É possível notar, por algumas dessas apresentações acima, que é dada atenção a algumas

finalidades específicas dessas redes sociais. Por exemplo, como acontece com a apresentação

do Facebook, onde se percebe o estímulo para curtir, compartilhar e comentar. Trata-se de

funções do próprio Facebook que estão sendo apropriadas e aproveitadas nas estratégias do

webjornal.Outro exemplo está na apresentação do Instagram, onde nota-se a hashtag oficial

do jornal. Isso demonstra que as estratégias têm sido incluídas, provavelmente, porque há

consideração, por parte da equipe, das peculiaridades desses sites de redes sociais.

Page 61: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

61

5.2 Técnicas de análise

Para atingir os objetivos desta pesquisa, foram escolhidas duas técnicas

metodológicas. São elas a observação qualitativa e a entrevista semiestruturada. Estas técnicas

foram consideradas adequadas para que os objetivos do presente trabalho sejam atingidos. A

seguir, cada etapa da pesquisa será descrita. Os resultados serão expostos na sequência.

5.2.1 Observação qualitativa

A observação qualitativa, segundo Martins e Theóphilo (2009), consiste em entrar “em

contato direto e prolongado com o ambiente no qual o fenômeno está inserido” (MARTINS;

THEÓPHILO, 2009, p. 141). É possível distinguir duas fases do processo de análise dos

dados qualitativos. A primeira

[...] ocorre durante o trabalho de campo, quando o pesquisador, à medida que coleta

informações e evidências, também organiza o material, dividindo-o em partes,

relacionando essas partes e procurando identificar tendências e padrões relevantes.

Num segundo momento, as tendências, padrões e regularidades encontrados são

reavaliados, buscando-se relações e interferências em um nível de abstração mais

elevado. (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 140).

Considerando-se as bases da técnica metodológica exposta, foi estabelecido,

inicialmente, o período de coleta dos conteúdos do webjornal Zero Hora.com para análise: do

dia 24/12/2013 ao dia 02/01/2014, incluindo as datas festivas de Natal e Ano Novo. Realizou-

se print-screens da página inicial do webjornal Zero Hora.com. A finalidade é encontrar

chamadas e outros espaços que utilizam ou mostram, de alguma maneira, os sites de redes

sociais. Esses elementos foram chamados aqui de remissões.

Quando encontrada alguma remissão para conteúdos relacionados a redes sociais,

verificou-se as características dessas remissões e também aspectos dos conteúdos para onde as

remissões direcionavam. As páginas que foram redirecionadas pelo link encontrado na home

do site foram analisadas em um segundo momento.

A coleta foi feita três vezes ao dia, durante dez dias. Isso totaliza, inicialmente, 30

imagens da página inicial do webjornal ZeroHora.com. O processo de coleta diária aconteceu

em margens de horários planejados: entre 8h e 9h da manhã para a primeira coleta; 14h – 15h

Page 62: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

62

da tarde a segunda e 19h – 20h da noite a última coleta14

. Para auxiliar o processo de análise

do material coletado, foram preparadas fichas descritivas. Para o primeiro conjunto de

materiais, foram produzidas as „Fichas de Tipo 115

‟, que foram produzidas para cada capa

coletada. Elas são fichas descritivas relacionadas a cada uma das 30 capas coletadas. Esse tipo

de ficha contém data, hora e a pergunta: „Possui inserção de conteúdo ou elementos que

remetem a redes sociais?‟. Conta com as opções „sim‟ e „não‟ e „observações‟. Nos casos de

respostas positivas, o espaço para as „observações‟ foi preenchido com detalhes. Segue,

abaixo, uma „Ficha de Tipo 1‟ para exemplificação.

Figura 19 – Amostra da Ficha de Tipo 1

Ficha do tipo 1

Data: 25/12/2013

Hora: 8h

Possui inserção de conteúdo ou elementos que remetem a redes sociais?

( X ) Sim ( )Não

Observações: Remissão para a rede social „Intagram‟ apropriado pelo jornal como „Missão

Instagram – Leitores enviam fotos com a #NatalZH‟

Os dados obtidos com as „Ficha de Tipo 1‟ foram compilados em uma segunda. Esta

foi nomeada como „Tabela Geral das Fichas do Tipo 1‟. Ela é organizada em quatro colunas,

com as seguintes informações: „data‟, „alguma remissão‟, „hora em que houve remissão‟,

„rede social em que houve remissão‟. Segue imagem com exemplo da tabela:

Tabela 01 –Modelo da Tabela Geral das Fichas do Tipo 1

14

Em determinados dias esses horários tiveram variações diferentes, devido a problemas técnicos. Contudo, nada

que chegasse a mais de três horas de atraso.

15 Todas as Fichas de Tipo 1 estão disponíveis no Anexo B.

Page 63: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

63

Data Alguma Remissão Hora em que houve

remissão

Rede social em que

houve remissão

24/12/2013

25/12/2013

26/12/2013

27/12/2013

28/12/2013

29/12/2013

30/12/2013

31/12/2013

01/01/2014

02/01/2014

A coluna „data‟ apresenta o dia em que ocorreu a coleta e indica que a tabela apresentará a

informação, considerando dados dos três turnos do dia indicado. Vale lembrar que as

informações específicas de cada turno podem ser encontradas nas „Fichas de Tipo 1‟. A

coluna „alguma remissão‟ aponta se, no dia indicado, foi registrada ou não alguma remissão

para as redes sociais na página inicial de Zero Hora.com. A tabela conta com as opções de

resposta „sim‟ e „não‟. A terceira coluna, „hora em que houve remissão‟, especifica em quais

turnos verificou-se a remissão informada na coluna anterior. A quarta coluna, „rede social em

que houve remissão‟, aponta em quais redes sociais, dentre as oito que o jornal possui perfil,

apareceram remissões.

Os conteúdos verificados a partir das remissões encontradas nas capas foram descritos

na „Ficha Geral do Tipo 2‟. 11print screens de notícias para as quais as remissões

direcionavam os leitores a partir da capa de Zero Hora.com foram feitos no período desta

pesquisa. Segue exemplo da „Ficha Geral de Tipo 2‟:

Tabela 02 – Modelo da Tabela Geral do Tipo 2

Page 64: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

64

Data Plugin PEI Conteúdo desenvolvido

a partir de Redes Sociais

25/12/2013

26/12/2013

27/12/2013

28/12/2013

31/12/2013

01/01/2014

02/01/2014

A data apresenta os sete dias nos quais ocorreram as remissões para os sites de redes

sociais utilizados por Zero Hora.com. É importante explicar que esta tabela só apresenta as

datas em que as remissões ocorreram. Por isso, limitou-se aos sete dias em que isso ocorreu.

A coluna „plugin‟ aponta se houve, ou não, a presença de plugins. O plugin é um programa,

ou extensão, que é instalado em outro programa principal para adicionar a ele

funcionabilidades específicas. Ou seja, o plugin é como um acessório instalado conforme a

necessidade, o que facilita no gerenciamento do programa principal (In:

<http://www.tecmundo.com.br/hardware/210-o-que-e-plugin-.htm>. Acesso 14 de Mar. de

2014). Neste trabalho foram considerados plugins elementos que, apenas, direcionam os

navegadores aos sites de redes sociais, não estimulando nenhuma ação em relação a rede

social, como o curtir, comentar, recomendar e compartilhar do Facebook, por exemplo.

A coluna PEI indica a existência de outro tipo de remissão buscada, que são os Pontos

de Estímulos de Interação (PEI). Eles foram mostrados no capítulo 3, na observação dos usos

que jornais de referência fazem dos sites de redes sociais. Os PEI são entendidos como os

“recursos oriundos dos sites de redes sociais que, quando inseridos nas interfaces dos

produtos jornalísticos, complementam e ampliam os seus espaços de troca com o público”

(SILVA, S.; BELOCHIO, 2013). Neste trabalho, foram classificados como PEI os elementos

que estimulam uma ação. Uma vez que, o PEI não se restringe apenas em anexar os sites de

redes sociais.

Por fim, o item „Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais‟ indica os casos em

queconteúdo jornalístico foi produzido com alguma colaboração das redes sociais. Casos

como: conteúdo colaborativo com a coleta feita nas redes sociais, matérias com pautas que

surgiram nas redes sociais e coberturas feitas via redes sociais, por exemplo.

Page 65: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

65

No próximo tópico, serão descritos os resultados da observação qualitativa de Zero

Hora.com.

5.2.1.1 Resultados da observação qualitativa

Conforme já salientado, foram verificadas, na observação qualitativa, 30 capas que

foram coletadas de 24/12/2013 ao dia 02/01/2014. Remissões para sites de redes sociais e

conteúdos com indicações para as mesmas foram procurados. O objetivo é observar a

intensidade e frequência da presença dos sites de redes sociais, bem como a forma como esses

sites de redes sociais são, atualmente, utilizados. O que, de certa forma, pode sugerir que os

sites de redes sociais têm relevância e são utilizados constantemente, ou não, nas rotinas de

produção dos jornalistas do webjornal ZeroHora.com. Uma vez que os critérios de

noticiabilidade incluem, também, as práticas cotidianas dos jornalistas na seleção dos assuntos

e na composição das notícias, elespodem ser influenciados pelos elementos utilizados nas

rotinas de produção jornalística. Logo, há de se considerar que o uso contínuo das redes

sociais pode, de alguma maneira, afetar, também, os critérios de noticiabilidade.

A tabela a seguir resume os resultados obtidos.

Tabela 03 - Tabela Geral das Fichas de Tipo 1

Data Alguma Remissão Hora em que houve

remissão

Rede social em que

houve remissão

24/12/2013 NÃO - -

25/12/2013 SIM 8h Instagram

26/12/2013 SIM 14h Twitter

27/12/2013 SIM 14h Twitter

28/12/2013 SIM 8h/14h Twitter

29/12/2013 NÃO - -

30/12/2013 NÃO - -

31/12/2013 SIM 8h Instagram

01/01/2014 SIM 20h -

02/01/2014 SIM 8h/14h/20h Twitter

É possível perceber, segundo mostra a „Tabela Geral das Fichas de Tipo 1‟, que,

dentre os dez dias observados, sete permitiram o registro de algum tipo de remissão para os

sites de redes sociais. Ou seja, na maior parte dos dias em que Zero Hora.com foi observado

para esta pesquisa, o webjornalpropôs algum tipo de trabalho com os sites de redes sociais.

Page 66: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

66

Esta numeração aponta frequência significativa do uso das redes sociais em Zero Hora.com. O

que pode indicar que esses sites estão sendo usados constantemente, mesmo que de forma

sutil.

A segunda coluna indica a hora em que houve remissão. Detectou três casos de

remissões por volta das 8 horas da manhã. Quatro casos foram registrados, aproximadamente,

às 14 horas. Dois casos de remissões foram registrados, aproximadamente, às 20 horas. E

entre esses dez dias, em um deles, houve remissão nos três períodos.

A coluna „Rede Social em que houve remissão‟ indica que o Twitter é a rede social

que mais aparece na página inicial do site do Zero Hora, seguido do Instagram.

5.2.1.2 Sobre os conteúdos que partiram das remissões

Além das características das remissões para sites de redes sociais nas capas de Zero

Hora.com, também foram verificados aspectos das páginas para as quais as remissões da

página inicial estavam direcionadas, no caso, as páginas de conteúdo. Para concentrar os

dados encontrados nos dez dias, foi elaborada a „Tabela Geral de Tipo 2‟.

Como já explicado, as informações da tabela foram agrupadas nos seguintes tópicos:

„data‟, „plugin‟, „ponto de estímulo de interação (PEI)‟ e „conteúdo feito a partir de redes

sociais‟. Para „plugin‟, „ponto de estímulo de interação (PEI)‟ e „conteúdo feito a partir de

redes sociais‟, as respostas indicam se identificou-se, ou não, o item em questão, sem

especificar quais redes sociais foram usadas. Segue a Tabela Geral do Tipo 2 com os dados

observados nos sete dias em que identificou-se remissões:

Tabela 04 – Tabela Geral do Tipo 2

Data Plugin PEI Conteúdo desenvolvido

a partir de Redes Sociais

25/12/2013 X

26/12/2013 X X

27/12/2013 X X

28/12/2013 X X

31/12/2013 X

01/01/2014 X X

02/01/2014 X X X

Page 67: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

67

Com os resultados apresentados na tabela, é possível constatar que existe significativa

presença de conteúdos desenvolvidos a partir de redes sociais. Ao todo, nos dez dias da coleta

realizada neste trabalho, as remissões foram encontradas em sete deles. Isso representa 70%

dos casos de remissão e 36% do total. Osplugins foram detectados em duas ocasiões dentro

dos conteúdos e os PEI foram verificados em quatro dias.

O intuito da coleta é observar a utilização dos sites de redes sociais no webjornal Zero

Hora.com e, dessa forma, poder indicar se estão, ou não, ganhando espaço como elementos

cotidianos no webjornal. O que, com indícios positivos, pode derivar de uma inclusão dos

sites de redes sociais nas rotinas produtivas dos jornalistas do webjornal em questão.

Nos próximos parágrafos, serão descritos exemplos de Plugins, de PEI e de Conteúdos

desenvolvidos a partir de Redes Sociais.

A seguir, serão apresentados dois exemplos de plugins encontrados em Zero

Hora.com.

Figura 20 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com em página de conteúdo

Fonte:<http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013

Figura 21 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com na página „Central de Redes

Sociais‟

Page 68: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

68

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 24 de Fev. de 2014

Como se pode notar, os plugins são extensões adicionadas ao site Zero Hora.com do

Twitter e Facebook. Como plugins, eles não apresentam nenhum elemento que estimula

„twittar‟, „curtir‟, „comentar‟ ou „compartilhar‟, ou seja, alguma das atividades oriundas das

redes sociais. Servindo apenas para anexar a rede social à página do website.Portanto, eles não

possuem estímulos para a interação, caso dos PEI, descritos a seguir.

A diferença dos PEI com relação aos plugins é, especificamente, o tipo de interação

que o PEI oferece e que não existe no plugin. Algumas vezes, determinado tipo de plugin

contém o PEI na sua composição. Contudo, a característica que resguarda a classificação de

um elemento como PEI é o tipo de interação que oferece. Os PEI são elementos que

estimulam uma ação em relação à rede social. Por exemplo, curtir, compartilhar para o

Facebook; twittar para o Twitter. Eles não se limitam, apenas, em anexar a rede social na

página, tal como acontece no caso dos plugins. Os PEI podem aparecer sozinhos, semelhantes

a botões, ou juntos a um plugin. A seguir, exemplo de PEI captado na coleta do dia

02/01/2014.

Page 69: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

69

Figura 22 -Pontos de Estímulos de Interação encontrados na página do webjornal Zero

Hora.com

Fonte:<http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 02 de Jan. de 2014.

A Figura 22 apresenta três PEI: o recomendar, do Facebook, o tweet, do Twitter, e o

G+, do Google +. Estes PEIsestão localizados no início da página, antes do texto da matéria,

o que demonstra, de alguma forma, uma preocupação funcional da equipe jornalística com

relação ao leitor, para que ele veja e tenha vontade de clicar e, assim, ajudar na circulação, ou

na recirculação (ZAGO, 2011), do conteúdo do jornal, também através dos perfis dos sites de

redes sociais. A figura a seguir mostra um PEI junto a um plugin.

Figura 23 - PEI como botão de „curtir‟ junto a um plugin do Facebook

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 24 de Fev. de 2014

O PEI mostrado aparece compondo um plugin. Os PEIs das Figuras22 e 23 são

assemelhados a ícones. Contudo, estimulam o compartilhamento de conteúdo, diferente dos

Page 70: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

70

pluginstipo íconesou os plugins comuns tipo boxque apenas anexam as redes sociais na página

do webjornal Zero Hora.com, como é possível observar nas Figuras 20 e 21.

A categoria „Conteúdo desenvolvido a partir de Redes Sociais‟ refere-se a conteúdos

que utilizaram material de redes sociais como complementos, sendo ou não trabalhos

colaborativos com o público. Para melhor compreensão, serão descritos exemplos dos casos

de conteúdos desenvolvidos a partir de redes sociais, coletados durante os dez dias. A figura a

seguir apresenta o uso do site de rede social Instagram.

Figura 24 – Chamada para a Missão Instagram encontrada na capa do Zero Hora.com

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013.

Page 71: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

71

A Figura 24 foi encontrada na página inicial do webjornal no dia 25 de dezembro de

2013 e chama para o mosaico feito com imagens de leitores que utilizaram a hashtag

„#NatalZH‟. A seguir, a figura para a qual o link direcionava.

Figura 25 – Mosaico da Missão Instagram na página de conteúdo

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013.

Na Figura 25, está o mosaico feito a partir de fotografias do Instagram, as quais foram,

antes, tagueadas pelos leitores com a hashtag „#NatalZH‟. O mosaico de fotografias da figura

mostra um tipo de conteúdo gerado com o trabalho colaborativo estimulado pelos sites de

redes sociais. O webjornal Zero Hora.com define, por semana, um tema para a „Missão

Page 72: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

72

Instagram‟ com a hashtag relacionada ao tema escolhido. No caso observado, foi o Natal que

gerou a #NatalZH. E as melhores fotos, segundo a equipe do webjornal, integram o mosaico.

O exemplo acima demonstra que, de certa maneira, a equipe refletiu sobre as potencialidades

da rede social em questão para encontrar uma forma de utilizá-la e assimgerar conteúdo.

Contudo, antes do mosaico e toda a estratégia da Missão Instagram, foi necessário que a

equipe conhecesse o site de rede social, para depois especular maneiras de apropriá-lo. Isso

demonstra apropriação dos sites de redes sociais para a prática jornalística.

Este exemplo mostra como a equipe se apropriou de uma rede social e das suas lógicas

internas para montar um conteúdo temático junto com os leitores. Vale destacar que o

tagueamento da forma como foi realizado neste caso é possível no interior do Instagram, pois

esta é uma prática especifica desta rede social. Essa estratégia é interpretada, aqui, como uma

das maneiras de gerar conteúdo a partir de redes sociais, com ações pensadas exclusivamente

para o aproveitamento da ferramenta. Isso mostra que a redação destina algum tempo para

organizar essas estratégias direcionadas para as redes sociais.

O próximo exemplo envolve a cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel

ao Grêmio.

Figura 26 – Chamada encontrado na capa do Zero Hora.com para a cobertura da

apresentação do jogador Pedro Geromel

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 26 de Dez. de 2013.

Page 73: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

73

É possível notar remissão pela linguagem da chamada, pois o „Siga‟ remete ao Twitter,

uma das redes sociais em que Zero Hora.com possui perfil.A seguir, a figura mostra a página

para onde o link da chamada “AO VIVO: Pedro Geromel é apresentado pelo Grêmio”

direcionou.

Figura 27 – Trecho da cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel encontrada na

página de conteúdo

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 26 de Dez. de 2013.

A imagem anterior demonstra como o Twitter pode ser utilizado para fazer coberturas,

quando reuniu os twittes publicados pela equipe do Zero Hora durante a mesma. É possível

notar, pela Figura 27, como a cobertura se utilizou do imediatalismo com a publicação das

falas de Rui Costa, diretor executivo do Grêmio, entre aspas, buscando publicar uma

cobertura em “tempo real”.

Page 74: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

74

Para isso acontecer, foi necessário considerar qual das redes sociais era mais

conveniente para esse trabalho. Tomando o Twitter como conveniente, isto pode indicar que a

equipe está atenta às funcionabilidades das redes sociais e tentando aplicá-las nas suas

práticas tradicionais, no caso, para a cobertura do fato em questão. Ou seja, uma vez que se

estuda o site de rede social que melhor se encaixa para determinado atividade, pode ser mais

um indício da inclusão das redes sociais nas suas rotinas de forma peculiar.

Outra situação de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais são matérias

desenvolvidas sem a colaboração específica do público, montada com conteúdos coletados

dos sites de redes sociais. Esse tipo de material não foi encontrado na coleta estabelecida por

uma semana. Mas, considerando a importância da contextualização do exemplo, serão

apresentados a seguir alguns exemplos capturados em outros momentos. As imagens a seguir

apresentam este tipo de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais.

Figura 28 - Chamada com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes

sociais encontrado na capa do Zero Hora.com

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.

A Figura 28 foi captada da página inicial, no dia 21 de janeiro de 2014. Mostra a

forma como apareceu, na capa de Zero Hora.com, remissão para conteúdo a partir de redes

Page 75: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

75

sociais. No exemplo, a remissão é indicada pela seta, além de ser notória, também, a partir da

chamada que possui o termo “#FornoAlegre” na chamada “Porto Alegre é a capital mais

quente pelo 3º dia” e a indicação de fatos ocorridos na rede social, no caso, o Twitter. O

conteúdo encontrado na página redirecionada pelo link será apresentado na imagem a seguir:

Figura 29 - Imagem com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais

Page 76: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

76

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.

A partir da Figura 29, é possível observar como as redes sociais contribuíram para a

criação da matéria “#FornoAlegre: o calorão xingado muito no Twitter”. Pode-se notar, neste

Page 77: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

77

caso, que as redes sociais estiveram presentes no desenvolvimento da matéria, pois se trata de

um assunto que circulou nas redes sociais, em especial no o Twitter. O fato é relatado no texto

da própria notícia: “O calorão em Porto Alegre voltou com tudo e as brincadeiras nas redes

sociais também”, e, “...seja em #FornoAlegre ou em #poa40graus, sem um ar-condicionado,

não há muito o que fazer” (In: http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014). No

exemplo em destaque, foi usado o Storify, um site de rede social que compila conteúdos

selecionados de outras redes sociais. Como é possível ver na imagem, a equipe do Zero

Hora.com usou material com origem no Twitter e no Instagram para compor os exemplos das

brincadeiras feitas pelo público. Eles ajudaram na estruturação da matéria, servindo como

pauta e conteúdo.

Durante a observação da remissão mostrada anteriormente, também foi encontrado

outro exemplo. Segue a imagem:

Figura 30 – Chamada de capa com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes

sociais.

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.

É possível notar a remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais pelo

texto da chamada, publicada na capa de Zero Hora.com no 21/01/2014. A seguir, a imagem

do conteúdo referente à chamada:

Figura 31 – Trecho de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais

Page 78: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

78

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.

Page 79: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

79

O Tumblr foi o site de rede social onde os conteúdos acima foram pesquisados para

gerar e compor a notícia. Vale lembrar que, apesar de ser uma “brincadeira da Internet”, o

conteúdo foi organizado na editoria de Política e não na editoria que trata de entretenimento.

A próxima imagem também trata de conteúdo da editora de Política:

Figura 32 – Chamada de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 08 de Mar. de 2014.

A Figura 32 foi encontrada na página inicial do webjornal, tendo a remissão ao

conteúdo da rede social também pela redação na chamada, com a palavra “Twitter”, em

“Bate-boca no Twitter”. A próxima imagem apresenta a página dos conteúdos para os quais o

link da chamada direcionou.

Figura 33 – Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado nas páginas de

conteúdo.

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80

Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 08 de Mar. de 2014.

Page 81: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

81

A Figura 33 apresenta um material todo desenvolvido a partir de conteúdo coletado

em redes sociais, considerando, ainda, a utilização dos twitts para compor a matéria.

De forma geral, esses casos ilustram situações em que os sites de redes sociais foram

usados para gerar conteúdos. Isso porque o assunto da pauta foi capturado nos sites de redes

sociais e o próprio conteúdo, como imagens, twitters ou memes, também foram retirados das

redes sociais para inclusão em matérias jornalísticas. Comportamento que indica que a equipe

do Zero Hora.com está atenta aos assuntos que circulam nos sites de redes sociais.

Uma vez que o jornalista usa os sites de redes sociais para saber os assuntos que têm

circulado nesses locais e, assim, considerá-los como pautas em potencial e desenvolvê-las,

isso pode indicar que os sites de redes sociais têm sido considerados, em algum momento,

úteis para o trabalho jornalístico e, uma vez tomando as redes sociais como materiais de

trabalho, naturalmente, elas são incluídas nas práticas das rotinas produtivas. O que pode

afetar os critérios de noticiabilidade.

A própria inclusão de temas que não teriam espaço em publicações limitadas como o

impresso, caso dos materiais com a hashtag #NatalZH, mostra que temas diferentes são

incluídos nas publicações. A publicação de casos como o bate-boca no Twitter indica que,

através de prováveis rondas diárias em redes sociais, pautas são coletadasnesse ambiente. O

que indica que os sites de redes sociais estão ganhando apropriações mais relevantes a prática

jornalística, e se configurando como mais do que apenas canais para distribuição de conteúdo.

5.2.2 Entrevista semiestruturada

Segundo Martins e Theóphilo (2009), a entrevista semiestruturada “é conduzida com

uso de um roteiro, mas com liberdade de serem acrescentadas novas questões pelo

entrevistado” (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p.88). Trata-se, neste trabalho, de uma opção

para compreender como a equipe do ZeroHora.com está agindo em relação aos sites de redes

sociais. Se estão considerando as redes sociais dentro de suas rotinas de produção a partir da

forma como pensam trabalhá-las. Se há o cuidado de refletir as suas pontencialidades para os

usos jornalísticos. Enfim, foram buscadas evidencias em relação ao uso mais atento as

tendências dos sites de redes sociais para o uso jornalístico.

Considerando as possibilidades dessa técnica, foi elaborado um pré-roteiro de

perguntas, que foi dirigido para a editora do núcleo de redes sociais do jornal Zero Hora,

Page 82: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

82

Bárbara Nickel16

, A entrevista aconteceu na redação de Zero Hora.com, tendo duração de

aproximadamente uma hora. Ocorreu no dia 30/09/2013. As perguntas seguiram o pré-roteiro.

Contudo, conforme a pertinência, outras perguntas foram realizadas.

Ao todo, foram feitas vinte perguntas. Estas abordaram assuntos como a iniciativa que

há na redação para o uso dos sites de redes sociais, quais as situações e maneiras que as redes

sociais tem sido aplicadas para o uso jornalístico da equipe, ações que só acontecem nas redes

sociais e pautas que, também, são desenvolvidas apenas para as redes sociais.A seguir, serão

colocadas as impressões de Nickel (2013), coletadas a partir da entrevista semiestruturada.

Nickel (2013) comenta que, mesmo que os quatro anos de uso dos sites de redes social

como estratégia de Zero Hora.com possam parecer muito, em relação à história do jornalismo

digital como um todo, esses quatro anos são pouco tempo de experiência. Por isso, muitas das

abordagens ainda se desenvolvem de forma experimental.

Das redes sociais que Nickel (2013) auxiliou na criação do perfil, a jornalista afirma

que os motivos para criá-los giraram em torno da percepção de que tais redes sociais passaram

a ser jornalisticamente úteis aos leitores, ou ainda, pela tendência de outros veículos

jornalísticos do mundo na sua utilização. Nickel (2013) aponta que é possível, por meio da

observação do comportamento do público em geral nas redes sociais, perceber quais são os

assuntos que os interessam. E uma vez, que algumas tendências são notadas elas são

encaminhas para as editorias que possam se apropriar com mais autonomia.

Ela citou como exemplo, a apropriação do Pinterest, que indicou que o público, nesta

rede social, prefere assuntos relacionados a estilo de vida, como gastronomia e arquitetura.

Sendo um conteúdo que é trabalhado no jornal pela editoria Casa&Cia, o comportamento foi

relatado aos jornalistas dessa editoria para que assim se integrassem da situação e, dessa

forma, acompanhassem a tendência nem que fosse apenas para “perceberem o que as pessoas

estão falando nas redes”. Ou seja, de certa forma, o Pinterest se tornou uma fonte de pautas

para os jornalistas de Zero Hora.com.

Nickel (2013) esclarece que mesmo com esse trabalho de ir até as editorias e integrá-

los de algo que possa ser útil a eles, esse trabalho com as redes sociais não é cobrado.

16

A entrevista transcrita na íntegra está disponível no Anexo C.

Page 83: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

83

[...] tem muita iniciativa de educação para a redação, mas nenhuma cobrança. Nada

de chegar na editora de Geral e dizer “vocês têm que fazer quinze matérias de redes

sociais por semana”. Não tem isso. (NICKEL, 2013).

Mesmo sem haver cobranças, segundo Nickel (2013) às vezes algumas editorias se

interessam por trabalhar com alguma rede social. Traçando o caminho inverso que geralmente

acontece na redação. Pois, a dinâmica, geralmente, tem sido: a equipe de digital observa os

sites de redes sociais e faz o perfil – observa o comportamento do público desta rede social –

reflete como a rede social pode ser apropriada e integra uma editoria que melhor pode se

apropriar. Como, às vezes o caminho tem sido inverso, com as editorias indo a encontro das

redes sociais e até mesmo procurando a jornalista para auxiliá-los. Isso faz Nickel (2013)

acreditar que, dessa forma, a incorporação das redes sociais virá como consequência.

Dentro as atuais aplicações e usos dos sites de redes sociais, Nickel (2013) tem

observado alguns os quais alegou ser:

Apuração e acompanhamento de notícias, para entrar em contato com pessoas, para

descobrir coisas que estão acontecendo, muito frequentemente buscar pautas que

estão acontecendo, que as pessoas estão começando a falar [...], para fazer uma

pauta que seja colaborativa. (NICKEL, 2013).

Ou seja, etapas que eram cumpridas mesmo antes das redes sociais, e que estão se

transformando com as apropriações dos sites de redes sociais. Se antes o jornalista

acompanhava notícias por meio de outros veículos de comunicação, atualmente, isso também

pode ser complementado por uma ronda nas redes sociais. Se para apurar informações usava-

se o telefone, fax, e-mail ou presença pessoal, atualmente, pode-se contatar fontes e apurar

informações, também, através de redes sociais. Isso pode indicar que estão participando da

prática jornalista.

Ocorre, também, segundo a editora, a correção de informações erradas que o jornal

noticiou. Isso ocorre pela rede social, situação que acontece a partir do potencial de feedback

proporcionado pelas redes. Nickel (2013) lembra que, às vezes, os leitores podem estar

errados, mas há outras em que estão certos. Mesmo assim, ela considera essa manifestação

dos leitores como algo que “enriquece bastante o nosso trabalho”.

Além das práticas citadas acima, existe, também, o conteúdo ou atividades preparadas

apenas para as redes sociais. Nickel (2013) usa como exemplo o “bom dia”, que só é feito

para e nas redes sociais e que resulta em muita repercussão. Vale citar, além disso, as versões

especiais de cards para o Facebook, disponibilizadas nas datas comemorativas como Semana

Page 84: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

84

Farroupilha, Dias dos Pais, Páscoa. Trata-se de materiais que não entrariam no site ou no

jornal impresso.

[...] a gente usa muito o Instagram pra fazer missões. A última foi a de primavera;

[...] pega uma foto legal que alguém postou, coloca no Facebook, chama as pessoas

para postar mais, dá os comentários. A gente consegue fazer um mosaico no site e,

daí, lá no Twitter, a gente dá o link para o mosaico e diz para as pessoas

participarem. Enfim, a gente fica com as atividades só das redes, a gente cria

atividades que são só das redes. (NICKEL, 2013).

Isso pode apontar que as redes têm ganhado espaço para que sejam trabalhadas com

material exclusivo. Entre as atividades específicas para as redes sociais, há também a

produção de conteúdos. Nickel (2013) cita a notícia de lançamento do PlayStation IV :

Isso não seria manchete nem no site, nem no jornal, mas a gente sabe que gera

conversa, que é um assunto sobre o qual as pessoas gostam de conversar e, por isso,

ele rende no Facebook. Nas redes a gente sabe que funciona. É isso também, as

pessoas que estão em lugares diferentes, porque as que estão lá no Facebook não é

[não têm] o mesmo perfil que necessariamente está no site, não é o mesmo perfil [de

quem] que lê o jornal impresso. (NICKEL, 2013).

A partir desse contexto, podemos notar que as redes sociais podem, de alguma forma,

também preencher lagunas quando se tornam o local conveniente para alguns tipos

específicos de pautas, tal como, a do lançamento do PlayStation IV a qual Nickel (2013)

comentou que tinha potencial para estimular a interação com os leitores, perguntando a

opinião deles, por exemplo.

Assim, Nickel (2013) diz o que, atualmente, tem sido experimentado em relação a

redes sociais, na redação de um jornal impresso que precisou, com o tempo, se adaptar às

mudanças tecnológicas.

Page 85: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

85

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção da notícia acontece a partir da conjunção de variados fatores. Questões

internas da redação, como política editorial, uso de tecnologias e questões pessoais de

julgamento sobre um fato como pauta em potencial são exemplos de questões que influenciam

a construção da notícia. Ou seja, para a transformação de um acontecimento em notícia, são

consideradas questões internas e externas que, dependendo do contexto, têm pesos diferentes

(WOLF, 2008; FERREIRA, 2002; MOREIRA, 2006; SOUSA, 2002; TRAQUINA, 2005). Os

elementos exemplificados, entre outros, compõem os critérios de noticiabilidade das redações

jornalísticas (WOLF, 2008; MOREIRA, 2006). Logo, a construção da notícia é influenciada

por contextos diferentes, os quais afetam a própria rotina de produção. Isso denomina o

possível caráter elástico dos critérios de noticiabilidade, como visto a partir de Moreira

(2006).

No jornalismo digital, uma série de elementos têm sido inseridos nas rotinas de

produção dos veículos noticiosos desde o início de sua história, conforme foi discutido neste

trabalho. A apropriação de tecnologias e a aplicação de diferentes estratégias em espaços da

Web 2.0 é uma prática comum, que facilita experimentações neste contexto. Dentre as

apropriações realizadas atualmente, o uso dos sites de redes sociais (RECUERO, 2009) tem

ganhado espaço nas produções do jornalismo digital. As práticas tradicionais de apuração,

produção, circulação e consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2006; ZAGO,

2011)estão sendo experimentadas, também, com o auxílio dos sites de redes sociais.

A partir deste contexto, foi possível refletir a respeito da influência que a inclusão dos

sites de redes sociais pode ter nas práticas cotidianas de produção do jornalismo digital. Para

contribuir na verificação destas reflexões, foi tomado como objeto de estudo o uso que o

webjornal Zero Hora.com faz dos sites de redes sociais nas suas rotinas e nas suas

publicações. A escolha desse webjornal parte do entendimento de que elesurgiu, inicialmente,

como representação, na Web, de um jornal impresso de tradição no Rio Grande do Sul, com

mais de 40 anos de história. Isso faz das suas práticas tradicionais questões possivelmente

presentes, também, na redação do seu webjornal, Zero Hora.com. Acredita-se que as práticas

tradicionais e as práticas características do jornalismo digital são combinadas em Zero

Hora.com. Isso inclui o uso experimental dos sites de redes sociais.

Os procedimentos metodológicos incluíram a análise qualitativa da capa de Zero

Hora.com e de páginas de conteúdo, para observar como o webjornal está se apropriando dos

Page 86: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

86

sites de redes sociais. Além disso, realizou-se entrevista semiestruturada com a editora-chefe

do núcleo de redes sociais de Zero Hora.com, Bárbara Nickel.

Partindo dos dados observados, notou-se que Zero Hora.com utiliza os sites de redes

sociais para gerar conteúdos colaborativos, para o desenvolvimento de conteúdos a partir de

redes sociais, para a busca de pautas e para coberturas. São exemplos as montagens do

mosaico Missão Instagram, nas quais Zero Hora propõe um tema colaborativo por semana e

seleciona as fotografias mais interessantes para a sua composição. Vale citar como exemplo

de matéria de pauta originada nas redes sociais o texto intitulado como “Bate-Boca no

Twitter”, descrito no capítulo metodológico.Por fim, exemplo de cobertura com o auxílio das

redes sociais é o caso da apresentação ao Grêmio do jogador Pedro Geromel, também descrito

anteriormente.

Além disso, Zero Hora.com também utiliza as redes sociais para estimular o

compartilhamento dos seus conteúdos pela rede e para que os mesmos sejam curtidos. Isso foi

visto nas páginas de conteúdos, abaixo dos títulos das matérias. Também foi identificado na

página “Central de Redes Sociais”.

A entrevista semiestruturada revelou que os sites de redes sociais têm sido usados no

cotidiano de produção de Zero Hora.com. Isso acontece em várias etapas da produção,

conforme revelado por Nickel (2013). O fato de as redes sociais estarem inseridas nas fases de

apuração e acompanhamento de notícias, busca de pautas e fontes, como indicado pela

jornalista, mostra que elas vêm sendo amplamente inseridas no contexto produtivo do

webjornal. Percebeu-se o uso estratégico e exclusivo dos sites de redes sociais para a

produção e distribuição de determinados tipos de conteúdos. Exemplo é o lançamento do

videogame PlayStation IV, que só foi publicado nas redes sociais, situação que considerou o

interesse do indivíduos que estão presentes nas rede sociais. Isso demonstra que,

provavelmente, a redação de Zero Hora.com dedica parte do seu tempo para pensar o que é

interessante para a exposição nas redes sociais. Significa, então, uma adaptação às suas

demandas.

Com essas evidências, foi possível refletir sobre como a tendência de apropriação dos

sites de redes sociais pode afetar os critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com.

Percebeu-se que existe a possibilidade dessa afetação, já que as redes sociais aparentemente

estão inseridas como elementos estratégicos e frequentes na publicação e nos processos

Page 87: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

87

produtivos de Zero Hora.com. Isso é o que foi verificado a partir da observação estruturada e

da entrevista semiestruturada.

Com base nisso, acredita-se que esta monografia atingiu o objetivo de investigar como

a utilização dos sites de redes sociais pode interferir nos critérios de noticiabilidade de Zero

Hora.com.Com a revisão teórica, foi possívelestudar a apropriação dos sites de redes sociais

nos veículos jornalísticos e as possíveis afetações dessas ações nos seus critérios de

noticiabilidade. Através da verificação empírica, identificou-se características das

apropriações dos sites de redes sociais em Zero Hora.com.

É valido destacar que este trabalho traz primeiras impressões sobre possíveis

mudanças nos critérios de noticiabilidade a partir da apropriação dos sites de redes sociais no

jornalismo digital. Limita-se à exposição de aspectos do caso de Zero Hora.com. Considera-se

que a presente pesquisa contribui para o estudo da questão e que é relevante a realização de

reflexões futuras.

Page 88: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

88

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Page 92: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

92

ANEXOS

ANEXO A – Termo de uso de Responsabilidade On-Line do webjornal Estadao.com

O Estadão.com.br faz questão de oferecer um espaço democrático para a livre troca de ideias,

manifestação de opiniões e interação entre as pessoas. Como se sabe, democracia não exclui

divergências. Às vezes, conversas podem causar mal-entendidos. Com base em diversas

experiências de convivência online, apresentamos algumas regras para que esta convivência

seja produtiva, saudável e baseada no respeito mútuo.

IDENTIDADE

Para sua própria segurança, não é bom que a Internet se torne terra de ninguém. Por isso,

sempre forneça dados verdadeiros e exatos. As informações da sua inscrição são protegidas e

não serão entregues a ninguém, exceto às autoridade e, mesmo assim, por determinação

judicial

MODERAÇÃO

As regras de Atitude Online atendem aos princípios do código de conduta “Responsabilidade

Online” do Grupo Estado.

Acreditamos na liberdade de expressão e oferecemos um espaço rico para troca de ideias. Em

contrapartida, as pessoas devem se manifestar com responsabilidade e respeito às leis

brasileiras. Desta forma, textos, imagens ou quaisquer materiais em desacordo com esses

preceitos poderão ser removidos do Estadão.com.br.

Será considerada infração, a publicação de conteúdo:

1. Ilegal

2. Abusivo

3. Ameaçador

4. Nocivo

5. Obsceno

6. Profano

7. Difamatório de qualquer pessoa ou instituição

8. Discriminatório de credo, raça, condição social ou orientação sexual

9. De Incitação à violência e/ou ao crime contra pessoas, instituições, países ou a patrimônio

público e privado

10. Capaz de ferir a reputação de pessoas ou organizações

11. Que configure Plágio

12. Produzido por terceiros, sem a reprodução autorizada

13. Considerado Spam ou correntes de mensagens

Page 93: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

93

14. Com transmissão de ou que leve a locais com material de potencial destrutivo como vírus,

worms, cavalos de tróia

15. De Propaganda política, de produto ou serviço

16. Falso ou fraudulento

17. Que viole o direito de propriedade de uma pessoa ou empresa

18. Que finja ser de autoria de outra pessoa, famosa ou não

19. Que advenha de login e/ou nome de usuário desrespeitoso ou ofensivo, independente do

conteúdo do comentário

20. Com mais de 3 (três) links para outros sites ou páginas da Internet; todos estes links

devem conter a devida explicação sobre do que se tratam .

21. Com textos em caixa alta, ou seja, somente com letras maiúsculas. Pelo uso e costume da

internet, escrever em caixa alta pode ser interpretado como agressão aos outros usuários e

também aos leitores; seria o equivalente a entrar em uma sala gritando.

22. Fora do tema proposto pela notícia, artigo, coluna ou postagem de blog. Os comentários

são bem-vindos, mas devem se ater ao tema proposto na página.

23. Postado por usuários com único objetivo de „bater-boca‟ com outro(s) usuário(s) ou que

configura conversa pessoal ou mensagem típica de salas de chat.

24. Que divulgue informações pessoais do próprio autor ou de outras pessoas – por motivo de

segurança.

As consequências por infração a estas regras:

1. Infrações podem levar a exclusão do conteúdo com consequente comunicação por e-mail

ao autor

2. Usuários que forem denunciados ou tiverem conteúdos retirados do ar, poderão ter seus

comentários pré-moderados

3. Infrações consideradas graves poderão incorrer na suspensão por período determinado ou

até na exclusão de um ou mais membros

4. Será considerada falta gravíssima qualquer tentativa de fraude, inclusive para prejudicar

outro usuário de forma que ele seja passível de perder seu direito de acesso ao site por

interdição ou exclusão.

Mecanismo de eliminação de conteúdo: À equipe do estadão.com.br reserva-se o direito de eliminar sem consulta toda e qualquer

postagem de conteúdo, no todo ou em parte, que fira diretamente as regras acima

estabelecidas.

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94

ANEXO B – CD com materiais das Fichas de Tipo 1

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95

Anexo C – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURA

Entrevista com Bárbara Nickel

S. Desde quando o Zh utiliza as redes sociais nas estratégias?

B.Desde 2009. Eu entrei aqui no Zero Hora em 2007 para participar de uma equipe online que

até então o site do Zero Hora era só pegar o PDF do jornal e colocar na internet. Não tinha um

site atualizado vinte e quatro horas por dia, não tinha uma equipe produzindo notícias, até

porque a RBS tinha o Click RBS que era o canal de notícias na internet. Mas, em 2007, a

empresa resolveu fortalecer as marcas, os veículos na internet, então criou “zerohora.com”

com notícias atualizadas vinte e quatro horas por dias, sete dias por semana. E, formou uma

equipe especialmente para isso: pra vir pra dentro da redação e trabalhar com internet, que

não existia isso. Éramos cinco editores, uns doze redatores, tinha que pedir arte, assistente de

conteúdo multimídia, enfim, era uma equipe bem voltada pra fazer jornalismo online. Dentro

dessa equipe, a minha função era trabalhar com interatividade com o leitores, então eu

cuidava do canal “Leitor Repórter”. Eu era responsável pelo canal “Leitor Repórter” e por

todos os canais de interação com os leitores. E daí, naquela época, eu estava sempre

pesquisando como é poderíamos interagir de maneiras diferentes, como é poderíamos trazer

para o site, enfim, estava sempre pensando sobre isso e pesquisando ferramentas. Daí, eu

acho, não tenho certeza, lá por 2009, se eu não me encano, foi logo depois das eleições do

Obama nos Estados Unidos, que eu vi que eles estavam usando o twitter jornalisticamente. E,

eu fui lá e criei uma conta do Zero Hora. Vou criar o perfil do Zero Hora, avisei, disse – „olha,

tão usando, vou criar esse perfil acho bom a gente criar de todos os jornais do grupo porque

parece que vai se tornar uma coisa relevante. ‟

Então, a gente criou o perfil do Zero Hora bem nos primórdios, assim, do uso do

twitter no Brasil. E o facebook também, assim, que foi possível criar a página de

organizações, porque antes só podia ter perfis, assim que foi possível isso, se não me engano

foi em 2009, acho que talvez o twitter tenha sido 2008 e o facebook 2009. Então, a gente

sempre vai criando os perfis, assim, sempre criou, pelos menos, dessas redes que se tornaram

o mais relevante jornalisticamente – assim que foi possível, mesmo se a gente não soubesse

exatamente o a gente ia fazer.

S. Por que razões os sites de redes sociais são usados no ZH? É uma noção de estratégia?

ou porque vai surgindo?

B. Bom...lá naquele começo era porque estava surgindo e eu desconfiava que poderia vir a

ser...a agente é uma, apesar de pra tempo de internet quatro anos ser ser bastante coisa, pra

tempo de evolução do jornalismo, cinco anos é pouco tempo. Então, na verdade , em relação

ao jornalismo essas tecnologias são bastante novas. Então, não é assim, a gente nunca tinha

uma estratégia clara, porque é uma tecnologia bastante diferente do que o jornalismo tinha até

então.

S.Como vocês escolherem qual site de rede vai fazer um perfil? Como vocês selecionam

essas redes? Como que é essa escolha?

B.Então, em 2010 eu virei editora de redes sociais do grupo RBS, mas eu trabalhava dentro da

Zero Hora. Eu meio que dava consultoria para os outros veículos, TV, rádio ... Mas, eu

atuava dentro da Zero Hora. Em 2012, eu cansei. E aí, abriu uma vaga no caderno de

tecnologia, e aí eu passei uns nove meses um pouco ausente. Então, por exemplo, o Instagram

Page 96: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

96

da Zero Hora foi criado nesse período que eu não tava, mas em todas outras redes eu estava.

Então, das outras eu posso te dizer.

A gente cria no momento porque percebe que jornalisticamente ou pra um serviço que

pode ser útil para o nosso leitor a gente percebe que é interessante ou também porque a gente

fica acompanhando tudo que todos os veículos estão fazendo no mundo e mesmo que não seja

veículos jornalísticos, a gente consegue ver a relação entre, por exemplo, o Pintrest,a gente

consegue perceber, assim, no início i tipo de interesse que as pessoas tem ..ah, as pessoas tem

interesse em decoração, estilo de vida e gastronomia, arquitetura, assuntos que a gente tem,

esse tipo de conteúdo pra oferecer e tem pessoas lá que querem consumir esse tipo de

conteúdo. Então, vamos ver como é que a gente consegue adaptá-lo. Esse tipo de conteúdo

que a gente tem para aquela rede – esse ainda é o primeiro pensando. Segundo – como, se a

gente ensinar os jornalistas de redação a usarem a gente dizer “olha, o Zero Hora ta fazendo

isso lá, essa rede funciona assim, se vocês que estão trabalhando com gastronomia com

decoração, com modo, com estilo de vida e saúde, entrarem lá vocês vão ver que há bastante

pauta que tem conteúdo interessante que vocês podem compartilhar pra vocês se tornarem

mais relevantes e perceberem o que as pessoas estão falando nas redes também.”

No caso, do foursquare, eu comecei a usar e daí...também houve uma mudanças no

foursquare quando eu criei um perfil RBS e depois também poderia, passou a poder ser, uma

página, uma espécie de página, mudou o tipo de, poderia ser oficial e que queria ser oficial

desde o início, a gente entra em contato com as redes e não consegue.

Enfim, mas no começo, eu Bárbara comecei a usar “ah que legal seria se nos lugares que eu

fosse, houvesse dicas da Zero Hora isso tornaria o Zero Hora mais relevante eu acho

surpreenderia `às vezes a pessoa “ahhh to aqui no parcão, deixa eu ver o que tem em volta e

aparece uma dica do Zero Hora” acho que isso é relevante. Então, vou criar um perfil do Zero

Hora vou começar adotar assim.

No primeiro momento, normalmente, a gente faz isso e depois a gente parte para as editorias,

tem uma editoria de bairros e tem a editoria que é a central dos interiores e daí a gente vai

conversar com eles, tipo – “olha, a gente tem essa rede será que não seria legal os repórteres

do interior nos mandarem dicas que a gente possa cadastrar também no interior, pq a gente

fica focando muito em Porto Alegre e os cadernos de bairros vivem muito essa realidade

hiperlocal e conhecem bem os bairros. Eles não poderiam se apropriar do foursquare do Zero

Hora e eles cadastrarem dicas? O Caderno Donna ou o Segundo Cadernonão seria legal que

eles se apropriassem? E, aí a gente começa a fazer esse trabalho junto com as editorias.

Algumas adotam com mais facilidade outras abandonam. Porque todas editorias tem que fazer

o jornal, eles tem que fazer o site. Elas tem que fazer as redes. Elas tem que fazer tudo.Então,

alguma coisa, dependendo do editor acaba deixando de ser priorizado.

S.Uma pena não tem um profissional na equipe que só cuide das redes.

B.Mais ou menos.É uma pena quando eu penso do ponto de vista das redes. Mas, quando eu

penso do ponto de vista do jornal eu acho uma pena que eles ainda não consigam trabalhar

web. Eu acho que a gente tem lacunas digitais bastantes graves pra eu querer exigir que eles

trabalhem bem as redes. Então, eu acho que as redes serão uma conseqüência, já evoluiu

bastante. As pessoas, muitas vezes, agora, como tem duzentas pessoas na redação. Outras

pessoas chegam pra mim e dizem: “ah Bárbara como a gente pode usar tal coisa. Tô pensando

em fazer isso no caderno de Bairros, como é que eu faço?”. O Segundo Caderno vem e “ah

será que a gente não pode usar o foursquare ?”E assim, muito freqüentemente, surgem

iniciativas também das próprias editorias. É bastante diverso agora. Tem bem mais gente com

certo nível para lhe dar com tecnologia.

Page 97: CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL

97

Porque a gente sempre testa, desde o início. A gente sempre testou. Pra tu ter uma

ideia, desde o inicio do twitter do Zero Hora a minha primeira lógica que eu pensei, foi assim:

tinha o twitter do G1 que era o feed de todas as notícias e continua sendo a mesma coisa até

hoje. Tinha do Terra, da BBC, da CNN e eu pensei assim: bom, uma pessoa que hoje que

entra no twitter e quer acompanhar notícia por que ele vai seguir o Zero Hora, no twitter? Se

tem o G1, tem a CNN, não agora que já está popularizado, digo – lá no início. O único motivo

que vai querer ele ler o Zero Hora são as notícias que só a Zero Hora tem. Ninguém vai

acompanhar a Zero Hora pra saber acidente na China ou mesmo um acidente na Bahia. A

gente não tem a menos propriedade pra dar uma notícia desse nível. O que a gente tem

propriedade? A gente tem propriedade pra falar das coisas daqui. Que é bem a lógica do

jornal. Ah..então vamos colocar todas as notícias que são locais, porque as outras as pessoas

vão seguir nos outros twitters . Daí tá. A gente começou assim. Daí a agente percebeu que a

gente não pode – não falar de assuntos relevantes nacionais ou internacionais. Não pode

deixar de falar da eleição do Obama. Então, o nosso critério passou a ser assim: a gente tem o

site da Zero Hora e tem a manchete do site da Zero Hora que tende a ser local, mas se uma

notícia nacional se impor ela vai ser notícia. Daí o critério passou a ser: Todas as notícias

locais e todas as manchetes do site, porque se um assunto é relevante o suficiente para ser a

nossa manchete – ele tem que estar no twitter.

O facebook, no começo, por exemplo, nenhuma notícia que a gente colocava as

pessoas curtiam ou comentavam. Nenhum conteúdo noticioso de verdade era só bobagem. Se

a gente coloca, que nem essa semana, os quinze pandas que nasceram – as pessoas adoram.

Mas, no começo a gente estava colocando só bobagem. Mas, aí as pessoas começaram a

reclamar “mas não tem nenhuma notícia?”. E, aí começamos a também dar a notícia. A gente

vai adaptando ao que as pessoas vão nos respondendo.

E aí acontecem fenômenos bem interessantes: O que as pessoas consomem e o que as

pessoas querem parecer que elas consomem. São coisas bem diferentes. Tanto que qualquer

site que tu for nas notícias „mais lidas‟ é bobagem, mas se você for nas „mais enviadas por e-

mail‟ ou „mais compartilhadas‟ que é aquilo que eu quero mostrar pra ti que to lendo,

geralmente, são coisas mais sérias. E daí acontece o dilema: o que eu sou e o que eu quero

parecer. Assim, a gente coloca às vezes uma bobagem assim, sei lá, os pandas, por exemplo,

muitas pessoas vão clicar nessa notícia. Às vezes, a gente vê, na hora, que muitas pessoas

estão clicando poucas vão compartilhar e muitos vão comentar tipo “ah eu não tô curtindo o

Zero Hora no face pra ver notícia idiota”, mas está clicando.

Então, o que quê acontece do Segundo Caderno, que é um drama a página do facebook

do Segundo Caderno. Porque eles são um caderno de cultura e lazer que ele não é um caderno

popular. Ele é um caderno que vai tratar de teatro, de exposições de arte, de cinema, mas

sempre com o viés um pouco mais cultural e menos popular. E o que acontece no facebook do

Segundo Caderno? Se, eles compartilhar, que nem a capa de hoje, que é sobre fachadas de

banco que estão sendo apropriadas por artísticas. Intervenções Urbanas. Tá é legal. Mas, se a

gente colocar na capa do site isso não é pop. Não é um assunto pop. Então, a gente pega esse

assunto e posta lá no facebook do Segundo Caderno. Daí não tem reação nenhuma. E, se a

gente posta o último capítulo da novela, colocar no facebook do Segundo Caderno: milhares

de pessoas vão clicar e milhares de pessoas vão nos xingar tipo, “ahh que bobagem”`. E é

isso: entre o que as pessoas são e o que elas querem aparecer. Esse caderno vive bem esse

dilema.

S.Quais são as redes sociais mais utilizadas?

B.Facebook. A gente usa facebook, twiiter, Google + com tudo que a gente posta no

Facebook, a gente replica. Assim, há uma agência de Publicidade que é responsável pelo

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98

Google + no Brasil e o trabalho deles é ficar ligando para os lugares e ficarem dizendo “olhem

usem, se usa assim”...e recentemente, faz uns três meses mais ou menos, nós tínhamos quatro

mil pessoas que curtiam, sei lá, davam um “mais” na página do Zero Hora. Bom..eles ligaram

pra cá e dizeram “olha, a gente vai colocar a página de vocês, já que vocês atualizam, vamos

colocar, quando um novo usuário se cadastra no Google + e ele diz que quer seguir notícias

vai aparecer a página de vocês de sugestão pra quem quer acompanhar notícias, na categoria

notícias. Então, a gente: ta legal. Em seis meses tem mais de duzentas mil pessoas que curtem

a nossa página no Google +.

É um crescimento assustador e a gente fica sempre acompanhando porque a gente usa

o HootSuit que uma ferramenta de gestão de perfis, então, a gente fica acompanhando pega o

mesmo conteúdo...porque não tem retorno em termos de audiência e não repercussão. Tem

duzentos mil pessoas que curtem a nossa página lá no Google e três pessoas curtem uma

postagem que a gente faz. Tem dois comentários, ninguém clica, mas igual, a gente não quer

deixar vazio e fantasmagórico por isso a gente publica nas duas ao mesmo tempo. Então, o

mesmo conteúdo entra nas duas.

S. Há um diferença no uso de cada rede social? Qual?

B.No twitter a gente privilegia bastante notícias factuais e a gente não vai deixar de dar

nenhuma notícia, porque a gente imagina que quem ta ali quer seguir e quer saber o que está

acontecendo agora, porque tem muito a questão do tempo real.

S. Ele já foi utilizado para cobertura?

B. Sim. A gente sempre usa. Inclusive a gente tem três perfis principais relacionados a Zero

Hora que não são as da editorias que é “o transito ZH” e o “ao vivo ZH”. A gente criou o “ao

vivo ZH” anos e anos atrás, pq eu a gente pensou? a gente quer fazer coberturas ao vivo, no

twitter, mas a gente não acha que os assuntos das coberturas ao vivo vão interessar pra todo

mundo que segue a Zero Hora, então, quando a gente faz cobertura ao vivo que não é de

trânsito e não é da editoria. Porque se é ao vivo de economia, vai fazer no perfil de economia,

ahh se for ao vivo de política, vai fazer com o perfil de política. Os com os dos repórteres,

cada um vai fazer o seu.

A visita da Dilma, inauguração do aero móvel que foi que teve aqui a gente vai fazer

usando o “ao vivo ZH” e daí no perfil da Zero Hora a gente diz “olha, a Dilma está em Porto

Alegre e vai começar a inauguração para acompanhar em tempo real siga o „ao vivo ZH‟”e

daí segue a cobertura por lá mesmo assim as principais notícias colocando no perfil oficial.

Acidente, tiroteio, polícia e trânsito a gente vai noticia bastante no twitter e também a gente

usa pra pedir opinião das pessoas em alguns assuntos.

A gente tá com a editoria de opinião, eles tem um twitter que é “opinião ZH”, que são

responsáveis pelos editorais e pelos artigos que saem no jornal e eles publicam esses artigos

no blog e eles sempre publicam pedindo opinião das pessoas no twitter, a gente reforça isso

com o twitter do Zero Hora e retwitta isso, pede também que as pessoas opinem sobre esses

artigos.

Mas, mais no twitter o foco é notícias factuais e também as pessoas nos avisam muito

das coisas que estão acontecendo. As pessoas nos avisam “ah, uma árvore caiu aqui na

Ipiranga agora” as pessoas sempre estão nos avisando porque tem muito esse coisa do tempo

real. No facebook a gente evita o que é muito tempo real até porque a gente não sabe quando a

pessoa vai ler essa notícia até pelo algoritmo lá do facebook que resolve mostrar para ti uma

coisa que a gente publicou há doze horas. Então, se a gente coloca: aconteceu tal coisa

aguarde mais informações daqui a pouco tu vê, já vai ter tido mais informações e aí tu vai

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99

achar que a gente não sabe mais informações, então, assim a gente não valoriza muito o que é

muito tempo real, muito factual, a gente trata assunto que já estão um pouquinha consolidado

com o facebook.

E o twitter pra coberturas em tempo real não tem nada melhor, muito bom.

S. É possível apontar um nível de importância das redes sociais nos processos de

produção da notícia? ....ele auxilia na apuração ...

B.Auxilia. E o mais legal de perceber, ao longo desses anos é o quanto, apesar de nem toda a

redação, todas as editorias estejam craques em ter perfis oficiais, talvez a editoria de

economia não tenha o melhor perfil, a melhor página do facebook de economia, isso é chato.

Mas, é legal de perceber o quanto uma massa muito grande da redação, como jornalista, já

usam como ferramenta de apuração e de acompanhamento de notícias. Então, assim

seguidamente, nas reuniões de pauta a gente troca e-mails „olha, está rolando isso, to vendo

que isso ta acontecendo nas redes sociais a gente deve ou não fazer uma matéria, é ou não um

assunto?” Ou, muito frequentemente “ah a gente precisa entrevistar uma pessoa, só vê ela no

facebook vamo entrar em contato com ela usando as ferramentas de redes sociais”Então, pra

entrar em contato com pessoas, pra descobrir coisas que estão acontecendo, muito freqüente

buscar pautas que estão acontecendo, que as pessoas estão começando a falar.

E também para fazer uma pauta que seja colaborativa.

E, a gente pode até falar de ferramentas oficiais, por exemplo, a gente já fez muitas pautas

sobre a situação das praças de Porto Alegre a gente não tem como nós irmos a todas as praças

a gente pode ir a cinqüenta, setenta praça, mas a gente não vai a todas, então, gente continua

muito fazendo esse uso, chamando as pessoas pra colaborarem com a gente no site que daí a

gente usa as ferramentas pra achar as pessoas tanto pra montar o produto que seja jornalístico

colaborativo quanto pra encontrar isso num caso, no outro caso, é...dia dos pais e a gente quer

falar sobre pais que criam filhos sozinhos, sem a mãe..então vamos ver a gente consegue

algum case pelas redes sociais e daí a gente pode usar e é legal que a gente usa o perfil da

Zero Hora pra convocar as pessoas pra buscar pessoas pra falarem com a gente, ou então, se a

gente quer descobrir alguma coisa que nem, agora, no caderno do 25 anos da Constituição

tinha um livro de fotos que tinha uma foto de vinte e cinco anos atrás, que tinham várias

crianças segurando placas e que era alguma coisa da Constituição. Quem são essas crianças?

Não estava no livro. Então a gente coloca isso nas redes sociais perguntando “ah, vocês sabem

quem são essas crianças? Ajude encontrar essas crianças.” Então, isso a gente faz bastante

também.

S. Se você pudesse apontar desses fatores indicados, esses de apuração, de busca de

pauta, de colaboração. Quais os processos que envolvem mais apropriações das redes e

quais são eles em ordem. Para que elas (as redes sociais) tem mais serviço ultimamente?

B.É muito difícil em uma redação de duzentas pessoas a gente conseguir numerar, então eu

não sei quantas pautas já surgiram porque alguém viu alguma coisa em uma rede social, tenho

certeza, que já foram muitas e todo dia a gente vê alguma, mas eu não sei quantas. Eu não sei

quantas vezes alguém conseguiu entrevistar alguém por causa das redes sociais, quantas vezes

são inúmeras e a mesma coisa. Não sei quantas vezes a gente já conseguiu chegar em uma

informação. Não tem os números disso para colocar em uma ordem de relevância, mas eu sei

que todos são processos bem disseminação dentro da redação. Até porque a gente para a

redação e explica como funciona, vai lá e ajuda as pessoas a fazerem. A gente tem um

processo de conscientização bem grande. O que a gente consegue medir? E daí tem duas

coisas que a gente consegue ter os dados, que é: quanto a audiência as redes sociais trazem

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para o nosso site, quantas pessoas clicaram naquele link, compartilhou no facebook e daí veio

para o site do Zero Hora, que é visualizações do nosso site, quantas pessoas vieram para o

nosso site porque elas viram alguma coisa em redes sociais e isso é uma coisa de mais ou

menos 14% da audiência do site vem de redes sociais.

S. Mas esses 14% são de todas as redes?

B. De todas as redes, só que considerando o facebook está em 95%. Passou uma época o

twitter depois veio o facebook. Por isso, a gente começa a dar um pouco menos de atenção,

porque dá menos retorno em termos de audiência para o site.

E outra coisa, tudo que a gente posta no facebook imediatamente as pessoas reagem ou

corrigem - isso tem um valor muito grande também, que pode entrar como um outro item

também. Que é informações que a gente tava dando, que nós estamos errados. Correção – a

gente chama. Muitas vezes, a gente postou um negócio no facebook e imediatamente eles já

dizem “olha, não é assim, não foi assim que aconteceu. Eu vi um dado em outro lugar que é

diferente”. Então, isso as pessoas nos questionarem, às vezes elas estão erradas, mas às vezes

elas estão certas e isso é bem legal é um processo, uma coisa que enriquece bastante o nosso

trabalho. E mesmo a avaliação do a gente está fazendo certo ou não, porque apesar da gente

não poder fazer. Se a gente for fazer tudo o que audiência gosta, se a gente for uma capa do

site, capa pra dar a melhor audiência a gente faria uma capa mais parecida com a do Terra

que tem mulher pelada, que tem tragédia, quem tem notícias bizarras, essa não é a linha

editorial do Zero Hora. A gente não vai fazer tudo que a audiência quer, mas entre fazer o que

a audiência quer e não ouvir nada que as pessoas estão falando tem o meio termo, que é o que

a gente tenta fazer. Se às vezes as pessoas vão reagir, a gente posta a capa do Zero Hora, por

exemplo, todo dia no facebook em todas as nossas redes, às vezes as pessoas vão nos dizer,

“olha, por que tal assunto é tão importante não está na capa hoje?” E a gente leva para a

reunião de pauta dos editores.

S. Eles questionam?

B. Questionam. E a gente às vezes vai responder “porque olha que tal assunto, às vezes a

gente tem argumento, às vezes não” porque a gente achou que para o nosso leitor o atentado

na Nigéria não fosse importante, mas é. As pessoas querem saber e isso pra gente entender

melhor o nosso trabalho também é muito legal. É muito legal levar na reunião dos editores,

chegar lá e dizer pra eles “olha vocês fizeram um julgamento de que os assuntos mais

relevantes eram esses, mas as pessoas estão perguntando sobre o atentando na Nigéria”. Tem

gente trabalhando aqui há vinte, trinta anos e tem uma visão, imagina que seja o leitor do Zero

Hora. “ah mas é porque o leitor do Zero Hora não se interessa por esse assunto” e daí nas

redes sociais ..é o leitor que ta falando não é a gente que ta imaginando, é ele que está dizendo

pelo que ele se interessa e isso eu acho é um processo que mais enriquece assim o jornal.

S. Como acontece a avaliação dos temas que são publicados, a partir das redes sociais.

B. Bom...o único valor que a gente consegue medir é audiência, que não consegue medir, mas

que consegue relacionar diretamente com a performance do jornal como um todo. Então a

gente faz coisas que são só para o facebook e só para o twitter. Por exemplo, a gente dá “bom

dia”, isso a gente não faz no site. Isso é uma coisa que tem centenas de curtidas diariamente e

centenas de comentário diariamente por que as pessoas respondem? ..ainda é um mistério pra

mim, porque elas dão bom dia pra um jornal, mas ainda assim elas respondem.

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101

Por exemplo, tem várias fotos que os fotógrafos fazem, fazem fotos todo dia de manhã pra

ilustrar uma matéria de clima de como será a previsão do tempo e a gente escolhe uma bem

legal e coloca no facebook também, pessoas adoram. Às vezes, nós damos “bom dia”usando

essa foto também. Tem várias coisas que a gente faz só no facebook, por exemplo, a gente faz

umas versões especiais em datas como Semana Farroupilha, Dias dos Pais, Páscoa a gente faz

aqueles cards de facebook, uma ilustração e uma frase e a gente nem dá a notícia no site ou no

jornal não tem nada a vê com o resto. A gente às vezes adapta de um jeito bem diferente, por

exemplo, a gente começou a fazer com os colunistas de pegar uma frase forte da coluna e

criar uma espécie de card do colunista com aquela frase de impacto e postar ela bem editada

com uma imagem legal, também as pessoas curtem bastante.

Como a gente usa muito o Instagram pra fazer missões, “fotos de primavera” e daí

pedem pra pessoas mandarem fotos e a gente faz um ciclo. A última foi a de primavera e a

gente fica fazendo isso nas redes, gera missão no Instagram, pega uma foto legal que alguém

postou, coloca no facebook , chama as pessoas para postar mais, dá os comentários, a gente

consegue fazer um mosaico no site, e daí, lá no twitter a gente dá o link para o mosaico e diz

para as pessoas participarem, enfim, a gente fica com as atividades só das redes, a gente cria

atividades que são só das redes.

São coisas que fazem sentido nas redes, que as pessoas tão lá pra isso, assim, não

fazem tanto sentido no site e daí a gente acaba fazendo algumas coisas e às vezes a gente

adapta faz de um jeitinho diferente, assim, mas, por exemplo, dias dos pais, façamos aqui um

tempão “ah vamos lançar uma missão dos dias dos pais” ficamos horas e horas pensando até

que a gente, ah “vamos criar uma missão: Lembra disso pai” que era para colocar uma foto

antiga, nostálgica, tua com teu pai. E, dái a gente criou a missão no Instagram. E os leitores:

“tá eu quero participar, mas eu nem sei o que é esse Instagram” E, a gente teve que criar a

mesma versão no site, só que o site é uma ferramenta horrível, que a gente tem que baixar as

fotos que as pessoas mandam por e-mail, daí a gente tem que baixar...

S. E não surgiu a ideia de fazer um tutorial? ...

B.A gente pode fazer, mas mesmo assim, a gente não pode obrigar as pessoas a terem

Instagram. A todos os leitores terem Instagram. Nem todo mundo quer ter.É uma coisa de

nicho. E isso, como é uma coisa nostálgica, muitas pessoas quiseram participar. A gente

recebeu trezentos e-mails com fotos e daí a gente tem o trabalho braçal de colocar todas as

fotos no site, mas a gente não pode não contemplar essas pessoas. Mas, enfim, daí a gente vai

..vai fazendo assim.

S. Existe alguma orientação da organização em relação a necessidade do uso das redes

na produção das notícias?

B.Bom...Existem duas coisas, já existe um esforço do grupo, tanto que eu era editora de redes

sociais do grupo, tanto de orientar ir lá em cada redação explicar como funciona aí passou

essa primeira fase de alfabetização e agora existem esforços individuais de cada veículo.

Então, assim, dentro da Zero Hora. A Marta, que é a nossa diretora de redação, ela incentiva,

diz pras pessoas usarem, quer que a gente seguidamente apresente cases e fale como é que a

gente envolveu o leitor pelas redes sociais ou como é que elas foram usadas para fazer uma

matéria e a gente compartilha muito essas informações.

Agora, por exemplo, está acontecendo um curso, a RBS criou um negócio que chama

“Escola de Produto” que são cursos corporativos, alguma coisa assim, e cada veículo decide

como vai ser o seu. E aqui na Zero Hora a gente fez cursos de redes sociais, então, eu dei uns

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102

dez cursos de redes sociais pras pessoas, separados em níveis, do bem básico – pra quem

sabia o que era RT, pra quem nunca tinha entrado no twitter. Até de inovação, pra ver quais

são as cosias mais malucas que estão sendo feitas e que a gente poderia pensar em fazer e

como elas funcionam e passando um pouco, como é que faz cobertura ao vivo. Se tu tiver em

uma cobertura ao vivo, como é que tu avalia, se um twitter que alguém está postando pode ou

não ser verdade, como é que tu julga se vai usar isso ou não. Bom.. a gente tem muita

iniciativa de educação pra redação, mas nenhuma cobrança. Nada de chegar na editora de

Geral e dizer “vcs tem que fazer quinze matéria de redes sociais por semana” não tem isso.

S. Quando o jornalista novo entra na redação ele recebe instruções no sentido, mas pelo

que eu estou vendo a instrução acontece durante, não é na chegada, ou como é que é?

Porque tem relação ao perfil, os novos jornalistas que estão se formando já tem um

perfil mais multimídia e tal ..

B.É isso que tu imagina. Mas, não. Na verdade, talvez sim, que muitos jornalistas novas que

estão se formando tem perfil multimídia, estudaram jornalismo online, tiveram aula disso na

faculdade coisa que eu não tive. Mas, não sei se é porque as pessoas que chegam aqui na

redação quando elas vêm é porque elas querem trabalhar no Zero Hora, no impresso, tudo

isso, elas chegam aqui, elas idealizam “bah, vou trabalhar em um jornal impresso”. E, a gente

sofre a gente que trabalha mais com internet, sofre muito de ver um jornalista novo que chega

aqui com sonho de trabalhar em um jornal de papel. Tu que conhece o potencial, que usa, que

sabe como funciona, que acompanha notícias de todos os lugares do mundo pela internet, não

percebe o valor disso, e isso é um drama a parte, assim – do perfil do profissional.

Mas, sim, quando ... a gente até achou um programa mais sistemático e agora ta um

pouco mais informal, entre três pessoas, uma numa semana, outra em outro .. três pessoas vão

entram no mês, e em um dia da semana essa pessoas vai passar por todas as editorias, vai

saber como todas elas funcionam e passam pela minha editoria também em que a gente vai

conversar “olha, as redes sociais, aqui na Zero Hora a gente trabalha assim, as editorias tem os

perfis oficiais. O Zero Hora tem perfil oficial, mas além disso, tu no seu perfil pessoal

também pode atuar como profissional, como é que a RBS entende a atuação do jornalista, essa

questão, perfil pessoal vs. perfil profissional é uma dúvida que surge bastante. A gente explica

isso, então isso é uma coisa que eu explico pra todo mundo que entra.

Pra pessoa que entra aqui, não é uma questão de rede social, tem um guia de ética da

RBS que diz “ow, se tu és um jornalista da RBS, tu tens um perfil ético que é esperado de ti,

na vida” não só nas redes sociais. Então, isso tu tem que considerar na sua atuação nas redes

sociais, independente disso.

Quando a RBS olha para o seu perfil de twitter não vai ficar pensando “ah, não, mas

esse aqui é a Sofia da vida pessoal, a gente não tem nada a vê com isso”. Não. Tu é sempre

jornalista.

Então, isso é bem difícil, é bem diferente dos veículos a nossa abordagem em relação a

Gaúcha, por exemplo, na Gaúcha eles colocam o selinho da Gaúcha no perfil das pessoas a

gente não faz isso, porque o profissional de rádio é um profissional que aparece mais ele fala

na rádio, ele assina as matérias, ele tem mais visibilidade que o profissional do jornal. O

profissional do jornal tem uma coisa mais de timidez, é mais reservado. Ah, é muito diferente,

a abordagem assim.

S.Como é a rotina diária de produção do ZH?

B. A gente tem uma equipe em maio desse ano, foi criado uma equipe diferente da qual eu

sou editora. Antes tinha uma área que era de atendimento ao leitor, que fazia a página de

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103

cartas, que tinha cinco pessoas. Existia uma área de redes sociais, que tinha uma editora e um

estudante e existia uma área de divulgação que tinha uma editora e duas pessoas, que são as

pessoas que fazem o VT, releases, coisas assim da Zero Hora. E, essas três áreas se juntaram e

com isso, o que eu consegui fazer é distribuir melhor a energia. Não precisa de cinco pessoas

pra fazer uma página de jornal, todo dia. Então, a gente redistribuiu as energias e agora a

gente tem das 7h da manhã às 22h da noite tem uma pessoa, em alguns horários duas, que

estão produzindo conteúdo pro twitter, Instagram, facebook, Google +, e que estão pensando

em ações e que estão alimentando esses perfis. E, daí assim, eu vou na reunião de pauta da

manhã e daí a gente discuti as pautas do jornal e já consegue “ah, será que nessa das praças,

nós não podíamos convocar as pessoas?”

S. Essa interação acontece com a editoria de digital, que por exemplo, vai fazer essa

pauta?

B.É que hoje não tem mais, aquele núcleo de digital que eu te falei de 2007. Aquela equipe de

redatores e editores – aquilo não existe mais. Porque hoje cada editoria é responsável pelo seu

conteúdo ou redes. Então, não tem mais redatores online. Só tem a editoria de Geral que é

responsável por tudo. E eles cuidam do perfil do Trânsito, por exemplo. E a nossa editoria

cuida dos perfis oficiais, a gente senta na mesa, que estão as pessoas que editam a capa do

site. Então, só tem editor de capa e as pessoas que trabalham com redes, então a gente fica o

tempo inteiro conversando com as editorias direto, do tipo, “ah a gente precisa saber o que as

pessoas estão pensam sobre um assunto”é uma pauta de Geral, daí eu vou dizer pra pessoas

que trabalha comigo “ah, Estevano, tu vai lá e conversa com o Rodrigo porque está rolando

uma pauta sobre esse assunto, combinem como é que é o melhor jeito, como é que ele vai

acompanhar, enfim, conversem...”

E seguidamente, o que acontece? ..uma editoria quer uma matéria, quer publicar no

jornal ou no site ou alguma coisa que tenha repercussão. “Ah, eu quero saber como é que isso

repercutiu nas redes sociais”, muitos repórteres sabem fazer essa busca, sabem acompanhar e

sabem como buscar esse material, muitos não sabem. Então, eles vêm aqui e dizem “ah eu to

fazendo essa matéria eu queria ter algumas opiniões das pessoas do twitter, me ajudem a

encontrar” .

Seguidamente, até da nossa editoria surgem muitas pautas assim, porque a gente

sempre ta vendo o que está acontecendo nas redes, então, vai lá dizer para a editoria de

economia “olha só o dono da barilha fez uma declaração homofóbica e agora nas redes sociais

ta todo mundo falando sobre isso” e daí ela vai dizer “ah, não, mas teve agora uma pesquisa

do IBOPE que divulgou o negócio do emprego e renda” ta mais isso ninguém vai ler agora, a

agente precisa de uma matéria sobre isso que é sobre o que todo mundo ta falando...e a gente

fica, como é todo processo jornalístico, numa batalha constante..assim, do tipo: isso aqui é

mais importante agora por que se a gente tiver essa matéria e publicar agora e chamar no face

vai ter muita audiência, e ela vai dizer “não, mas isso é irrelevante, eu preciso produzir essa

matéria que vai ser manchete do site e não isso que é uma bobagem” , mas aí a gente: “tá mas

a manchete do site não vai render audiência nenhuma, ninguém quer saber da sua pesquisa”

ao fica essa batalha constante, daí, muitas vezes agora que a gente já tem uma equipe bem

mais estruturada eu digo”ta, então, eu vou fazer” e eu tenho uma equipe que consegue

produzir algum conteúdo. Então, às vezes quando as editorias não conseguem a gente assume.

E a matéria do Tinder, que é um aplicativo de celular ... é uma coisa de namoro. Uma menina

da minha equipe disse: “ow, a gente não fez nenhuma matéria sobre isso” e sugeriu para o

editor chefe e o editor chefe disse “ah legal, vamos fazer”. Daí, qual editoria vai fazer essa

matéria? Geral, economia, política, segunda caderno, ninguém se acusou. Aí eu disse: “ah,

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ninguém vai fazer então façam vocês”. Então, duas gurias que trabalham comigo fizeram a

matéria que saiu no jornal impresso, no site e nas redes.

Então, a gente também começa a ter essa missão e essa estrutura de produzir conteúdo

que ou é sobre as redes ou é porque está repercutindo nas redes, ou é porque a gente sabe que

vai interessar pras pessoas que estão nas redes.

S. O ZH costuma publicar assuntos que normalmente eles não são privilegiados nas

publicações oficiais, se o jornalista tem algum critério diferente para saber o que vai

publicar nas redes no perfil do ZH.

B.Tem notícias que não são de trânsito, que não são factuais, que não são as notícias que não

vão ser privilegiadas no jornal de amanhã e nem na capa do site do Zero Hora que a gente

valoriza mais no facebook, não é que a gente vai produzir um conteúdo de notícia só para o

facebook. Alguma notícia que não é notícia factual extremamente irelevante pro jornal a gente

acaba tomando ela como relevante para o facebook. Mas, não é que ela não vá ser produzida

pro jornal ou pro site, um exemplo assim, coisas que a gente tem a valorizar mais nas redes é,

sei lá, lançamento do PlayStation 4, é factual, que pode ser uma notinha lá no jornal de

amanhã, pode ser uma nota no site, mas no facebook a gente pode explorar muito mais

porque a gente pode perguntar “ah, vocês gostaram mais do PlayStation 4 ou do Xbox?” e

fazer foto, e ficar interagindo, sabe? A gente vai alimentar mais isso, porque a gente sabe que

vai gerar debate, polêmica num universo que se interessa por esse tipo de assunto e é um tipo

de assunto que faz sentido pra um público que não é necessariamente o público que lê o

jornal. A gente consegue perceber a diferença de interesse, se a gente colocasse o PlayStation

4 nunca seria manchete no site, nunca seria, não é relevante para o site e se eu chegasse na

reunião de pauta dizendo: “olha, a gente sabe que não está acontecendo mais nada e o

PalyStation ..é sobre isso que as pessoas estão falando”. No atual, momento do Zero Hora,

isso não seria manchete nem no site, nem no jornal; mas a gente sabe que gera conversa, que é

um assunto sobre o qual as pessoas gostam de conversar e por isso, ele rende no facebook.

Nas redes a gente sabe que funciona.

E é isso também, as pessoas que estão em lugares diferentes porque as que estão lá no

facebook não é o mesmo perfil que necessariamente está no site, não é o mesmo perfil que lê

o jornal impresso. Então, isso é difícil porque a gente não tem uma pesquisa de dados, apenar

que no facebook a gente ter maravilhosa recurso do facebook em sites, então a gente sabe que

pessoas entre 20 – 35 anos que lêem a nossa página do facebook ou que..é bem diferente do

assinante do Zero Hora que tem uma média de 55 anos.

Então a gente sabe que no facebook é gente do mundo todo, que tem muito gaúcho

desgarrado que nos acompanha pelo faebook.

S.Quando vocês vão escolher essas pautas factuais que vão para as redes, vocês estão

considerando ali a margem de idade? Vocês levam em consideração?

B. A gente leva em consideração isso e a experiência prévia assim, os assuntos que a gente

sabe, que a gente coloca a questão subjetiva de quem está ali todo dia trabalhando com isso.

Tanto que seguidamente e que está acontecendo, que eu acho muito legal isso, tem a página

do Segundo Caderno, tem a página da Economia, e Política e do caderno Casa&Companhia

esses cadernos ... quando as pessoas começam a se apropriar mais das suas páginas, elas vêem

e nos pedem “ah eu postei na minha página, na página do Segundo Caderno essa notícia e eu

quero que tu compartilha na página do Zero Hora” que quando a gente compartilha fica lá,

que foi postado originalmente pela página do Segundo Caderno e dái dá mais..As pessoas

vêem que existe uma página.

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Os editores conscientes eles preferem que a gente compartilhe do que a gente postar

no facebook direto porque daí não vai aparecer que a página é deles. Então, seguidamente

vêem gente e pedi e já estão nos mandando chamadas...assim já criou um processo na redação

e alguns pessoas ..”ah olha, isso aqui é legal para o face, postei na página da Economia agora

– compartilhem no face da Zero”. Está surgindo bastante isso e o que eu oriento para as

pessoas da minha equipe: vocês não tem que compartilhar tudo, porque a pressão é forte,

porque assim ow ..a editora de Política publica uma notícia no facebook de Política e eles

querem que a página da Zero Hora compartilhe aquilo que foi postado na página da Política,

porque a página pode compartilhar e daí fica parecendo que originalmente foi postado pela

página da Política e assim cresce o número de seguidos. E, as pessoas que estão cuidando das

páginas, os editores, eles vendem as chamadas ..eles chegam ali e dizem “olha, eu to postando

isso agora no facebook da Política chama no da Zero”.. eles vêm e conversam e pedem e daí

eu digo “olha, é legal que eles façam isso, mas nem tudo que eles publicam a gente precisa

compartilhar, tem que saber dizer não, vocês tem que saber explicar porque voces estão

postando uma coisa e não postando outra.

S. E como que é feito isso?

B.É difícil, às vezes eles postam coisas que eles não conseguiram dizer não. Às vezes, eles

deixam de postar que acham que não vai funcionar porque já teve uma experiência prévia.

S. O que, por exemplo, não entraria?

B.Casa&Companhia acabou de estrear uma página e é um caderno de decoração , bem

específico. Então, a editora, no caso quer bombar a página dela e daí ela posta que nem, na

semana, passada: apartamento de jovem solteira ...daí pede para pessoal aqui, que trabalha

comigo: “ah eu quero que vocês compartilhem”, mas vão dizer “ah isso não tem nada a vê

com o tipo de conteúdo do Zero Hora” e daí ela vai dizer: “ta, mas é conteúdo do Zero Hora, é

um caderno do Zero Hora a gente publica esse conteúdo no jornal, publica no site porque

vocês não vão compartilhar no facebook?” E às vezes, por preconceito porque a gente

imagina que as pessoas não vão gostar a gente deixa de publicar. E daí, eu digo: “olha, vocês

tem postar uma vez, pelo menos, tem que postar uma vez daí vocês vêem qual é a reação,

vêem o que as pessoas estão dizendo pra poder tomar a decisão com base em algum dado”.

Não pode dizer que vocês acham que as pessoas não vão gostar, não é justificativa a gente

precisa saber se as pessoas vão gostar ou não. Aí a gente vai sempre experimentando, isso

que a gente tenta fazer.

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ANEXO D – CD com materiais da coleta.