Criticas de EO

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    Cad. EBAPE.BR, v. 11, n. 4, artigo 1, Rio de Janeiro, Dez. 2013. p.503519

    Abordagem Crtica nos Estudos

    Organizacionais: Concepo de indivduo

    sob a perspectiva emancipatria

    Critical Approach in Organizational Studies: Conception of individual from the

    emancipatory perspective

    Anelise Rebelato Mozzato1

    Denize Grzybovski

    2

    Resumo

    O objetivo deste ensaio terico debater a necessidade de considerar racionalidades alternativas instrumental nosEstudos Organizacionais, em favor do exerccio da cidadania do indivduo como ator social, com papel ativo e nosujeito da cincia e do mundo. So resgatados pressupostos tericos dos Estudos Organizacionais crticos, no contextoparadigmtico do humanismo radical, para responder porque fazer uma anlise crtica. A justificativa a de que aCincia Social estabelecida tornou-se um meio legtimo de controle do mundo natural e a conduta humana. Apoiando-seem pressupostos tericos ingnuos, na viso de Alberto Guerreiro Ramos, a Cincia da Administrao se desenvolveucom base na racionalidade instrumental inerente Cincia Social dominante no Ocidente, no sofrendo crticas at1970 porque funcionou at ali. As crticas mais atuais no foram suficientes para romper a corrente principal, talvezporque a razo deslocada do psiquismo humano transformou-se em um atributo da sociedade. No entanto, hconcepes epistemolgicas alternativas ao funcionalismo e a abordagem crtica caminho possvel, podendo trazeravanos aos Estudos Organizacionais, constituindo um dos caminhos possveis na busca da emancipao do homemem direo a uma sociedade melhor e mais justa.

    Palavras-chave: Abordagem crtica. Emancipao do indivduo. Racionalidade transformadora. Estudos

    organizacionais.

    Abstract

    This theoretical essay aims to debate the need for considering alternative rationalities with regard to the instrumental onein Organizational Studies, favoring the citizenship exercise of the individual as a social actor, with an active role and notas a subject of science and the world. Theoretical assumptions of the critical Organizational Studies are resumed, in theparadigmatic context of radical humanism, in order to say the reason why a critical analysis has to be performed. The

    Artigo submetido em 29 de abril 2013 e aceito para publicao em 02 de setembro de 2013.

    Agradecemos FAPERGS pelo apoio financeiro pesquisa que deu origem a este estudo.

    1 Doutora em administrao pela Unisinos; Professora titular da Universidade de Passo Fundo /UPF. Endereo: Rua Adolfo loureiro,

    190, Apto. 401, Vera Cruz, CEP 99010 650, Passo Fundo - RS, Brasil. E-mail:[email protected]

    2 Doutora em administrao pela Universidade Federal de Lavras/UFLA; Professora titular da Universidade de Passo Fundo/UPF;

    Professora Convidada no Programa Stricto Sensu em Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do RioGrande do Sul/UNIJU. Endereo: Rua Uruguai, 1391, Apto. 402, Centro, CEP 99010-111, Passo Fundo - RS, Brasil. E-mail:[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Abordagem Crtica nos Estudos Organizacionais: Concepo de indivduo

    sob a perspectiva emancipatriaAnelise Rebelato Mozzato

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    justification is that the established Social Science has become a legitimate way for controlling natural world and humanbehavior. Based on naive theoretical assumptions, according to Alberto Guerreiro Ramos view, the AdministrationScience has evolved on the basis of the instrumental rationality inherent to the Social Science predominant in the West,not criticized until 1970 because it worked until then. More recent criticism was not enough to break the mainstream,

    perhaps because reason detached from human psyche has become an attribute of society. However, there arealternative epistemological conceptions with regard to functionalism and the critical approach is a possible pathway,being able to bring advances to Organizational Studies, constituting one of the possible pathways in the search forhuman emancipation towards a better and fairer society.

    Keywords:Critical approach. Individuals emancipation. Transformative rationality. Organizational studies.

    Introduo

    O desenvolvimento da cincia da administrao foi construdo por quase todo o sculo XX sob influnciados pressupostos do paradigma positivista, no qual predominava o sistema industrial mecnico, o design

    organizacional rgido e a concepo de homem operacional como um recurso produo.3As circunstnciassociais da poca exigiam um homem operacional com caractersticas psicolgicas que se conformavam sregras. A adoo de um mtodo autoritrio de alocao de recursos (humanos e no humanos) e a concepode programas de treinamento como uma tcnica de ajuste do indivduo ao sistema foram descritas por Ramos(1984) como implicaes desse modelo de homem para o designorganizacional.

    Dado o contexto complexo no qual se insere a sociedade do sculo XXI (BAUMAN, 2004; HARVEY, 2003;LIPOVETSKY, 2005; TENRIO, 2009) o objetivo deste artigo contribuir com o debate sobre a

    necessidade de considerar racionalidades alternativas instrumental nos estudos organizacionais em favor doexerccio da cidadania do indivduo como ator social, com papel ativo e no objeto da cincia e do mundo.Para tanto, resgatam-se pressupostos tericos dos estudos organizacionais crticos, no contextoparadigmtico do humanismo radical, para responder ao porqu fazer uma anlise crtica.

    Urgem como necessrios os questionamentos, o pensamento crtico, a dialtica e o pensar o impensvel apartir do conceito da razo crtica, no sentido proposto por Faria e Meneghetti (2006), como categoria tica eelemento para a emancipao do homem e da sociedade. Com base num estudo bibliogrfico entende-se aemancipao como o oposto da alienao, a qual limita a conscincia do indivduo em relao a suaexistncia e posio no mundo. Alienao, para Fromm (1983), refere-se personalidade e um fenmeno

    social em que a pessoa se sente como um estranho, impotente de se perceber como um ser humano total. Emindivduos alienados, a conscincia se reduz a imagem de um objeto e se torna socialmente uma coisaexterna ao prprio sujeito. Essa viso paradigmtica est presente na obra de Alberto Guerreiro Ramos,assim como na de outros autores que se opuseram ao paradigma funcionalista (ALVESSON e WILLMOTT,1992), os quais so utilizados como elemento condutor do pensamento neste artigo.

    Mesmo sendo reconhecido que h um debate nacional e internacional em torno da humanizao nasorganizaes, o homem continua sendo tratado como um instrumento para se atingir os fins organizacionais

    3O desenvolvimento da cincia da administrao um campo historicamente contestado (REED, 1998), mas Lex Donaldson tem

    mantido seu posicionamento em favor do desenvolvimento positivista, gerando profundo debate terico. Para compreender taisabordagens, ver Donaldson (1985; 1996; 1997), Meyer, Tsui e Hinings (1993), Perrow (1994), Pfeffer (1993), Reed (1998), Schultz eHatch (1996).

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    (perspectiva weberiana). O questionamento sobre a realidade nos estudos organizacionais aqui expostopelo conceito do humanismo radical, o qual impe questionamentos sobre a qualidade de vida das pessoas edas instituies sociais, com crticas ao modo capitalista que influencia o cotidiano das organizaes

    (GOYA, 2013). Portanto, na lgica inversa dessa realidade, da humanizao como central, que sedesenvolve este ensaio terico.

    Para melhor organizao do texto, num primeiro momento so apresentados os paradigmas descritos porBurrel e Morgan (1979) e por Kuhn (2003), analisando-se a predominncia paradigmtica nos estudosorganizacionais. Logo a seguir, detalha-se o paradigma do humanismo radical na perspectiva dos estudosorganizacionais, em razo de ser visto como uma possibilidade alternativa mainstream. Em seguida, soexpostas questes relacionadas racionalidade transformadora embasada no pensamento crtico, tendo emvista a emancipao. Diante da racionalidade transformadora, apresenta-se a possibilidade do indivduocomo ator (no como sujeito!) da realidade social e organizacional, salientando-se aspectos relacionados necessria humanizao.

    Adiante, so feitas as consideraes finais, ante o fato de que os estudos organizacionais crticos sobremaneira, as contribuies de autores brasileiros como Alberto Guerreiro Ramos, Fernando Prestes

    Motta e Maurcio Tragtenberg4, entre outros , so percebidos como possibilidade e desafio para umcaminho alternativo ao desenvolvimento da administrao no que tange concepo de homem. Taisconsideraes finais apontam a necessidade da comunho epistemolgica entre racionalidade e historicidadepara a criao e a formao do conhecimento cientfico reflexivo e emancipado nas teorias organizacionais.

    Os Estudos Organizacionais e a Predominncia Paradigmtica: iniciando o debate

    Por muito tempo, os estudos organizacionais desenvolveram-se orientados por um quadro terico positivistae estrutural de interesse nico de quem analisa (BURREL, 1994; HASSARD e PARKER, 1993), sob ainfluncia de fortes correntes de pensamentos que refletem, na sua maioria, uma linha ortodoxa. O quadrofragmentado dos anos 1930 aos 1960 embasa plenamente uma anlise crtica dos pressupostos tericosweberianos, anlise cujo objeto era fixo e foi gradualmente se transformando num conjunto de divergnciaslingusticas (modernismo). Os trabalhos de Jacques Derrida, em torno de um tipo de operao intelectual quedesloca e relativiza a dialtica hegeliana-marxista, denominada desconstruo, e de Michael Foucaultindicaram novo momento nas cincias sociais (ps-modernismo), que evidencia a corroso do fenmeno

    social que os tericos organizacionais clssicos estavam tentando explicar (REED, 1998). Emerge um estadode "crise conceitual" nas teorias organizacionais (HASSARD,1995), pois a hegemonia da mainstreamestsendo ameaada por perspectivas intelectuais alternativas sem que haja um sucessor bvio para a teoria de

    sistemas que marcou o projeto da modernidade (REED, 1998).

    A interpretao de Hassard (1995) a de que o poder de anlise dos sistemas diminuiu da mesma forma quenovos paradigmas da sociologia e da teoria das organizaes emergiram, revelando as limitaes conceituaise metodolgicas do funcionalismo estrutural e da teoria social dos sistemas. A abertura analtica reconhecea dinamicidade do ambiente numa abordagem pluralista que abriga o dilogo entre ambiguidades e tenses,

    4Maurcio Tragtenberg o autor que mais se identifica com a tradio da escola de Frankfurt, sendo o precursor da teoria crtica noBrasil com a obra Burocracia e ideologia.

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    ao mesmo tempo em que evidencia um mundo nico, integrado pela transgresso das fronteiras

    tradicionais (naes, culturas nacionais, tempo, espao, narrativas) que modificam os contextos econmico,social, cultural, tecnolgico e dos negcios (PARKER, 1995) e, por extenso, as narrativas. Esse momento

    reflexivo da rea impe aos pesquisadores a retomada do conceito de humanismo de Karl Marx o qualafirma ser o homem a raiz dos sistemas vigentes nas instituies e das crenas tradicionais , ou seja, atotalidade do homem vivo e concreto (FROM, l983).

    Os confrontos tericos que se estabelecem promovem crticas quilo que estava consolidado como verdade.Contudo, o mais importante o espao construdo pelo projeto da modernidade reflexividade dos contextoshistricos e sociais, no qual o homem (e suas aes) elemento central. A origem do debate est na crise damodernidade, que no negada nem mesmo pelos modernistas. Essa crise impe uma reviso dasexplicaes sobre a sociedade atual, exigindo a construo de novas perspectivas analticas muito alm dascosmticas, uma vez que tais explicaes no geram mudanas profundas no desenvolvimento da cincia da

    administrao, devido a sua fragilidade conceitual (ver DiMAGGIO, 1995; DONALDSON, 1996; 1997;FORD, 2003; HICKSON, 1998; HODSON, 1998). Na era modernista, notria a predominnciaparadigmtica funcionalista nos estudos organizacionais, entre os quatro paradigmas apresentados por Burrele Morgan (1979).

    Na classificao de Burrel e Morgan (1979), o funcionalismo encontra-se na dimenso objetivista no sentidoontolgico, pressuposto no qual predomina o realismo; isto , a concepo de que o mundo existeindependentemente da avaliao das pessoas e que os indivduos so condicionados pelo contexto externo.No sentido epistemolgico, est relacionado ao positivismo, que explica o mundo social atravs de relaescausais e de regularidades que s podem ser verificadas empiricamente. Quanto natureza humana,predomina o determinismo, segundo o qual a situao define a pessoa, que controlada e condicionada,

    constituindo-se em produto do ambiente. Por fim, quanto metodologia, nomottico por valorizar muitoa pesquisa baseada em tcnicas estatsticas (que testam hipteses para compreender as relaes de causa e

    efeito) por implicar muito rigor e dar muita importncia aos conceitos.

    Diante do exposto, percebe-se que o funcionalismo apresenta pressupostos tericos relacionados regulao

    e objetividade orientando-se pelos mtodos das cincias naturais para compreender os indivduos e se

    apresentando como racionalista e pragmtico , com foco na estrutura, baseado em uma ordem socialregulada. Nesse sentido, busca prover solues prticas e objetivas calcadas no determinismo.

    Como referem Burrel e Morgan (1979), h uma forma comum entre as diversas correntes do pensamento

    funcionalista, por mais que haja uma diferena substancial entre elas. Os tericos funcionalistas esto ligadospor uma viso compartilhada da realidade sociocientfica, proporcionando uma explicao de naturezaregulada baseada em normas subjacentes de racionalidade utilitria, objetiva e preditiva. Essa racionalidadecientfica utilizada para explicar a racionalidade essencial da sociedade, descrever o "comportamentonormal" do mundo contemporneo (FROMM, 1983) e tentar ordenar o mundo social similarmente ao mundonatural, como se isso fosse possvel, sem efetivamente tentar promover uma revoluo paradigmtica.

    Kuhn (2003) afirma que, em diferentes pocas, ocorreram transformaes de paradigmas ("revoluescientficas") e que justamente nessa transio de um paradigma para outro que a cincia se desenvolve eamadurece. Ao nos ocuparmos da emergncia de novas teorias, inevitavelmente ampliaremos nossa

    compreenso da natureza das descobertas (Ibid, p. 94).

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    sob a perspectiva emancipatriaAnelise Rebelato Mozzato

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    Cad. EBAPE.BR, v. 11, n. 4, artigo 1, Rio de Janeiro, Dez. 2013. p. 507-519

    Contudo, a aceitao de uma nova teoria requer flexibilidade para reavaliar fatos anteriores, atuais e futuros.Quando um pesquisador adota um novo paradigma como se ele passasse a utilizar lentes inversoras, pois,aps uma revoluo, os cientistas trabalham em um mundo diferente (KUHN, 2003, p.171). assim que o

    autor contribui, sobremaneira, para o pensar a cincia. Ele refuta a linearidade do desenvolvimentocientfico, apontando que as prprias comunidades cientficas necessitam despojar-se de seus prpriosparadigmas em busca de revolues cientficas que atendam s necessidades da sociedade contempornea.

    As reflexes habermasianas deixam evidentes que o mundo social constitudo por parte da subjetividadehumana atravs da linguagem e do discurso (HABERMAS, 2001). Segundo Hassard e Parker (1993), issoabre espao para abordagens alternativas de anlise organizacional. Nessa lgica alternativa, Ramos (1965)prope um mtodo de observao da realidade social (reduo sociolgica) que permite ao analista abrirmo de seus julgamentos e conhecimentos prvios sobre o mundo circundante para s ento compreender arealidade. Sua proposio, no entanto, s recentemente retomada no contexto dos estudos organizacionaisbrasileiro.

    Pesquisadores brasileiros, como Caldas (2005), Corso, Dalmoro, Faller et al. (2007) e Falco Vieira e Caldas(2006) afirmam que o paradigma funcionalista no sustenta uma cincia revolucionria que busca a dialtica,tendo em vista a emancipao humana (concepo marxista do capitalismo como sistema orgnico, [MARX,1989]). Tal constatao tambm se encontra em Santana e Gomes (2007), que afirmam no Brasil ocorreruma paralisao no paradigma funcionalista, principalmente, nas abordagens sistmica e contingencial.Aqui se entende dialtica como Habermas (2001), no sentido de que h uma estrutura de dominao inseridana linguagem do cotidiano organizacional e que, nessa busca, seria necessria a racionalidade comunicativa(HABERMAS, 2001) contrapondo-se racionalidade instrumental weberiana do sistema capitalista, que seconstitui numa forma de ao social dominante que aliena o homem (concepo fromminana, FROMM,

    1983).

    importante revisar as noes apresentadas ainda em 1981 por Alberto Guerreiro Ramos,5quando afirmouque a teoria das organizaes ingnua, por basear-se na racionalidade instrumental inerente cinciasocial dominante no Ocidente (RAMOS, 1981, p. 1). nisso que se fundamenta Tenrio (2004) para proporrenovao na gesto, contrapondo-se ao enfoque funcionalista e racionalidade instrumental. Tal propostatambm encontra respaldo nas crticas formuladas por Habermas (2001) ao discurso ps-modernista, por estequerer gerar um novo conservadorismo, uma vez que se mantm dependente dos pressupostos hegelianos.

    Contudo, os estudos organizacionais brasileiros esto atrelados ao desenvolvimento de uma viso crtica(FALCO VIEIRA e CALDAS, 2006) muito antes de 1980. Fernando C. Prestes Motta 6contribuiusobremaneira para esse debate, bem como para o entendimento da sociedade moderna, a sociedade dasorganizaes e da natureza da sociedade brasileira. Nos seus primeiros trabalhos fica evidente a busca poralternativas analticas concepo weberiana funcionalista, o que fez apoiando-se no pensamento deProudhon em torno da autogesto (MOTTA, 1981).

    5 Segundo Faria (2009, p. 51) Guerreiro Ramos um fenomenlogo crtico, no marxista, no frankfurtiano; contribuindo,

    sobremaneira, com os estudos crticos em administrao.

    6

    Fernando Prestes Motta um analista crtico que acreditava na abordagem psicanaltica como alternativa para analisar asorganizaes, em razo de que o psiquismo individual e coletivo comeou a ser levado em conta, sobretudo, por Sigmund Freud.Assim, acreditava na possibilidade de novas teorias de carter emancipatrio.

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    Um posicionamento crtico atual encontrado nas obras de Alcadipani e Tureta (2009), Faria (2007; 2009),Martins e Martins (2012) e Tenrio (2002; 2004; 2009). Santana e Gomes (2007), por sua vez, indicamcaminhos para uma contra-hegemonia s pesquisas em administrao, sem pretender destruir o

    funcionalismo, mas salientar que a dialtica permite o amadurecimento da cincia. Para tanto, os referidosautores propem articulaes entre os vrios campos do conhecimento e reviso de algumas posturastericas, em especial, nos estudos crticos sobre emancipao humana.

    Por fim, parafraseando Kuhn (2003), afirma-se que uma revoluo cientfica s ocorre com mudanas deideias fundamentais inerentes a um campo cientfico, na qual as comunidades cientficas necessitam sedespojar de seus prprios paradigmas em busca daqueles que atendam s necessidades da sociedade atual.Levando em conta tais pressupostos paradigmticos, os presentes no humanismo radical sustentados pelateoria crtica continuam sendo uma possibilidade de articulao entre diversos campos de conhecimentocientfico e a construo de espaos tericos para conversaes paradigmticas.

    Humanismo Radical no debate: Possibilidade Paradigmtica

    Apesar do resgate dos pressupostos tericos dos estudos organizacionais crticos, no contexto paradigmticodo humanismo radical (BURREL e MORGAN, 1979), este artigo no pretende buscar generalizaessimplistas, mas, sim, contribuir com os critical management studies (CMS) [Estudos crticos em gesto(ECG)] pela perspectiva de racionalidades alternativas instrumental, ciente de que esta no a nica.

    Segundo Burrel e Morgan (1979), o paradigma que oferece modelos de anlise, que valoriza uma prticamenos determinista e regulada do sujeito, aquele relacionado sociologia da mudana radical, maisespecificamente, o humanismo radical. O humanismo radical est voltado para a dialtica e a emancipaohumana individual e social, bem como compreenso sobre como as pessoas podem ligar pensamento e ao(prxis) para transcender sua alienao (MORGAN, 2005). Como desafio operacional, a proposta desteparadigma estimula o conflito de ideias e a ruptura de verdades institucionalizadas, aprofundando a

    investigao dos conflitos estruturais profundamente arraigados, das contradies estruturais e dos modos dedominao. Trata-se de uma investigao movida principalmente pelo interesse na emancipao humana,com o propsito de libertar o homem daquilo que o limita na ao.

    Tal pressuposto est amparado no fenmeno da alienao da personalidade (FROMM, 1983) impressa nomundo capitalista, no qual o sujeito aliena suas foras na relao com o trabalho, com as coisas que

    consome, com o Estado, seus semelhantes e consigo mesmo (GOYA, 2013). Nesse sentido, Marx (1989)denunciou a alienao do homem, demonstrando que o sistema capitalista de produo era central para isso,e chamou a ateno para a necessria autoconscincia, a qual poderia modificar a sociedade. Mais tarde, osestudos de Marx deixaram de ter essa perspectiva idealista, na medida em que ele passou a interpretar demaneira mais realista a natureza do mundo social, contemplando a necessria presena do Estado e de umcapitalismo orgnico (MARX, 1989). Perspectiva orientada, primordialmente, na crtica e na dialtica.

    No sentido epistemolgico, o humanismo radical est relacionado ao antipositivismo, no qual oconhecimento explicado pela experimentao pessoal das pessoas em suas relaes, entendendo o mundocomo essencialmente relativista. Quanto natureza humana, predomina o voluntarismo que considera que as

    pessoas possuem livre-arbtrio, no se constituindo em simples produto do ambiente, sendo, pelo contrrio,vistas como ativas, reflexivas, crticas e autnomas, ocupando centralidade. Por fim, quanto metodologia, aabordagem caracteriza-se como ideogrfica, a qual, apesar de valorizar a pesquisa com rigor cientfico, no

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    tem bases rgidas, enfatizando a natureza relativa do mundo social e percebendo que este s pode serentendido atravs da investigao da realidade e das constataes subjetivas tal como se apresentam.

    Contudo, h duas vertentes de discurso no humanismo radical. De um lado, o idealismo subjetivista derivadoda filosofia de Husserl, Kant e Fichte. De outro, o idealismo objetivista derivado, sobretudo, do trabalho deHegel. Porm, a filosofia hegeliana tambm apresenta duas vertentes. De um lado, aqueles que seguiramintegralmente sua filosofia (hegelianos de direita). De outro, os jovens hegelianos (hegelianos de

    esquerda), entre os quais se encontra Marx (1818-1883).

    Percebe-se que o humanismo radical trabalha tanto com a corrente subjetivista como com a objetivista,evidenciando a existncia de quatro orientaes tericas principais (solipsismo, existencialismo francs,individualismo anarquista e teoria crtica) (BURREL e MORGAN, 1979). Dentre essas orientaes tericas,

    a teoria crtica a mais desenvolvida, havendo trs escolas de pensamento: sociologia lukacsiana,7sociologia

    gramsciana8 e escola de Frankfurt.9 A teoria crtica pretende expressar a emancipao dos indivduos epromover a conscientizao crescente da necessidade de uma sociedade em que os interesses coletivosprevaleam sobre os individuais, em que os indivduos sejam sujeitos de sua prpria histria, escrevendo-acoletivamente (FARIA, 2009, p. 423).

    Ao contrrio da sociologia da regulao, qual est ligado o paradigma interpretativista e funcionalista, ohumanismo radical volta-se sociologia da mudana radical para tentar modificar o mundo, no scompreend-lo. Para tanto, os tericos crticos acreditam nas potencialidades humanas, demonstrando clarointeresse pela liberdade do esprito humano, focando a conscincia como possibilidade de emancipaocontra a alienao. Alienao no sentido defendido por Marx (1989), aquela que tem o sistema capitalista deproduo como central, numa condio objetiva do capitalismo independente da forma de pensar, no

    havendo autoconscincia.

    A proposta do humanismo radical apresentar uma nova abordagem para se ver e viver no mundo, a qual vaialm da perspectiva funcionalista predominante. No que tange aos estudos organizacionais, tal paradigmapossibilita outra perspectiva de se ver e se trabalhar nas organizaes e de perceber como elas se inserem einfluenciam no contexto social, possibilitando uma viso de mundo mais crtica e com possibilidadeemancipatria. O paradigma humanista radical focaliza a ateno em aspectos polticos e exploradores davida organizacional.

    Percebe-se o crescente nmero de trabalhos cientficos na linha dos estudos crticos em gesto tambm noBrasil, a partir da dcada de 1990 (PAULA, 2007). Em outros pases, os ECGs ainda so superados pelaortodoxia, mas em pases mais desenvolvidos esto sendo bem aceitos, como se constata na edio especial

    7A sociologia lukacsiana constitui-se na primeira escola de pensamento crtico, a partir do incio da dcada de 1920, influenciada pelo

    neoidealismo, Luckcs reenfatizou a influncia de Hegel sobre Marx e procurou desenvolver uma teoria crtica como alternativa aomarxismo ortodoxo da poca. Luckcs salientava a conscincia de classe, invocando uma dialtica onipresente para mudar omundo.

    8A sociologia gramsciana teve nfase no incio da dcada de 1960 nos meios acadmicos do Ocidente, tendo claramente orientao

    para a ao e a mudana radical, a filosofia da prxis.

    9 A Escola de Frankfurt representada por estudiosos como Horkheimer, Adorno, Benjamim, Fromm, Lowenthal, Marcuse e

    Habermas, entre outros, baseados em fundamentos ontolgicos e epistemolgicos das teorias dos jovens hegelianos, como Marx.

    Esses autores buscam, pela revoluo da conscincia (opondo-se alienao), bases para a mudana social necessria perante anatureza da sociedade capitalista, abarcando uma filosofia crtica com objetivos claramente emancipatrios (BURREL e MORGAN,1979).

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    de setembro de 2007 do peridico Organization Studies. Mais enftico, Reed (1998, p. 91) defende umposicionamento a favor dos tericos organizacionais crticos, para que desenvolvam uma rede de debatescrticos internos e externos s tradies narrativas, que, assim, indelevelmente, conformam a evoluo do

    campo.

    A ideia de conversao tambm se torna explcita, pois os paradigmas podem e devem conversar entre si

    (casamento das teorias organizacionais), momento em que a dialtica faz-se necessria na perspectiva deuma cincia com conscincia. Para tanto, o enfoque multi e transdisciplinar no entendimento dasorganizaes e da sociedade tambm se faz necessrio. Apesar do interesse crescente pelainterdisciplinaridade, no basta a simples aproximao ou justaposio das disciplinas, mas a eliminao defronteiras entre as problemticas (transdisciplinaridade) que se apresentam, instaurando uma comunicaofecunda (JAPIASSU, 2013).

    O homem deve assumir posio de tutor da natureza, tomando cuidado com o que manipula e instaurando

    conduta tica. Refere Meneghetti (2004) que necessrio possibilitar mudanas na forma como se fazcincia sem, contudo, cair na primazia dos fatos, impedindo que a razo se torne prisioneira do prprio formalismo.

    Nesse sentido, pode-se afirmar que h uma revoluo paradigmtica em curso (SOUSA SANTOS, 2000), atporque no se aceita mais a mera reproduo do conhecimento. A teoria crtica compromete-se com alibertao dos sujeitos das relaes de poder, inclusive, pela sua prpria subjetividade (FOURNIER e GREY,2006) e torna primordial a dialtica, sobretudo, fazendo-se necessrios novos caminhos na busca daemancipao humana, o que exige a tomada de conscincia do papel de cada um no mundo. Dessa maneira, ateoria crtica constitui possibilidade paradigmtica, trazendo avanos e inovaes para a rea dos estudos

    organizacionais e a proposta por uma racionalidade transformadora.

    Racionalidade Transformadora: Estudos Organizacionais Crticos e Emancipao

    Na perspectiva da emancipao contra a alienao, nesta seo pretende-se fazer aluses necessidade deentender-se e buscar outras racionalidades que no apenas a instrumental. Segundo Freire (1979, p. 33), odesenvolvimento de uma conscincia crtica permite ao homem transformar a realidade, uma necessidadecada vez mais urgente. Nessa lgica, os estudos crticos organizacionais buscam a manuteno da crtica e aorientao pelo princpio da transformao social e da emancipao do homem na sociedade.

    Mesmo ciente de que no existe apenas uma via para a emancipao, faz-se necessrio pensar o humano forada racionalidade tcnica. Do ponto de vista da racionalidade transformadora, em consonncia com os estudosorganizacionais crticos, que busca o entendimento das contradies da sociedade por meio da dialtica, possvel pensar em outras possibilidades de ver o indivduo que no seja apenas segundo o paradigmapositivista predominante. Morin (1991) afirma crer que o modelo ideal de funcionalidade e de racionalidadeno apenas um modelo abstrato, mas um modelo prejudicial prejudicial para os que esto nasadministraes e para o conjunto da vida social.

    De fato, no atual contexto, so desejveis aes sociais transformadoras, que possibilitem s pessoas seremsujeitos ativos e autnomos no contexto social em que vivem. nesse sentido que se torna evidente acontribuio dos ECG para a administrao e seus estudos organizacionais, a exemplo do paradigmahumanista radical. Refere Meneghetti (2004, p. 15) que o pensamento crtico no mera sugesto de

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    Abordagem Crtica nos Estudos Organizacionais: Concepo de indivduo

    sob a perspectiva emancipatriaAnelise Rebelato Mozzato

    Denize Grzybovski

    Cad. EBAPE.BR, v. 11, n. 4, artigo 1, Rio de Janeiro, Dez. 2013. p. 511-519

    temticas para serem estudadas na Teoria das Organizaes, mas entendimento sobre o mtodo materialistadialtico nas anlises dessas temticas nas organizaes. O autor defende que a racionalidade instrumental

    que se procura instituir nas organizaes em razo da tendncia funcionalista no deveria mais ocorrer.

    Habermas (1997) critica o fato de a racionalidade humana estar sendo utilizada na direo oposta daemancipao dos indivduos, num processo em que a razo se torna uma ideologia que atende aos interessesde uma minoria. Refere que o progresso deveria ser sempre um meio utilizado para beneficiar as pessoasindistintamente, sem todos os males que causa, como a destruio da natureza e a injustia social.

    A questo das crescentes desigualdades sociais tambm denunciada por Chanlat (2000), evocando questesrelacionadas tica, liberdade, equidade, justia, afetividade, solidariedade e histria, em que o homem seconstitui no ator principal que participa da transformao do mundo. Em obra escrita posteriormente, o autoraborda que o que sempre me interessou foi o ser humano, pois as organizaes so seres humanos em

    relao, no somente processos, tcnicas (Id., 2006, p. 9).

    Nesse sentido, Sousa Santos (2000) fala da possvel hermenutica crtica da epistemologia dominante,evocando um paradigma de conhecimento prudente (paradigma cientfico) para uma vida decente (paradigmasocial). Refere ainda que a humanidade deve procurar um desequilbrio dinmico que penda para aemancipao, a qual se sobreponha regulao.

    A principal tarefa da administrao proporcionar um desenvolvimento e um mundo melhor para todos,acredita Aktouf (1996). A principal tese da sua obra A administrao entre a tradio e a renovao aconvico de que a administrao deve sofrer uma renovao, uma mudana radical, para a adoo de novosmodelos. Isso significa uma administrao renovada. O autor critica a administrao tradicional (ou

    clssica) e apresenta propostas que possibilitem, de fato, uma administrao renovada. A obra contribui,sobretudo, no sentido de provocar e propiciar espao para a reflexo sobre modelos renovadores de gesto.Refere que se fazem necessrias rupturas com o passado para traar os contornos da gesto do futuro, pois agesto j no pode ser concebida como uma coleo de tcnicas e receitas (1996, p. 99).

    No que tange relao entre o lucro almejado pelas organizaes e a sustentabilidade na dimenso socialnecessria, Aktouf (1996, p. 17) afirma que se faz necessrio s organizaes obterem lucro, mas, sem cairnos excessos do maximalismo tradicional que conduz ao sofrimento, degrada e realmente destri tanto oambiente interno da empresa (os empregados) quanto o ambiente externo (o meio ambiente). Na perspectivacrtica primordial, h necessidade do trabalho na sociedade e da interveno do homem na natureza, que seconstitui no trabalho. Porm, isso deve ocorrer no sentido de sobrevivncia da humanidade, no paraestabelecer diferenas sociais (VIEIRA PINTO, 1979).

    Alm dos processos de valorizao do capital, faz-se necessrio olhar o sujeito trabalhador em sua relaocom o trabalho, libertando-se da lgica linear. Da a importncia da dialtica e dos estudos crticos emadministrao, por meio das quais a realidade pode e deve ser vista em vrios sentidos, at mesmo podendoser contraditria. Quando a administrao prope-se a trabalhar segundo o paradigma crtico, est sepropondo a buscar novos olhares para os fenmenos organizacionais, possibilitando a criao de novasracionalidades em busca da emancipao. Percebe-se, ento, a necessidade de se vislumbrar uma perspectivamais humanizada para os estudos organizacionais, como uma via para tornar as organizaes espaos em quea emancipao humana tenha lugar. Nessa perspectiva, Falco Vieira e Caldas (2006, p. 64) afirmam que: "O

    espao dos estudos organizacionais no Brasil nos possibilita a oportunidade de romper com a dependncia.

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    Permite-nos pensar que s possvel discutir emancipao quando resgatarmos a conscincia da nossaposio relativa no mundo, e que dela decorrem outras relaes no mbito interno de nossas organizaes".

    Concorda-se com os autores quando dizem acreditar que a abordagem crtica um dos possveis caminhospara a emancipao humana em direo a uma sociedade melhor e mais justa. Como bem pontuam FalcoVieira e Caldas (2006) e Paula e Maranho (2009), os estudos crticos so orientados pelo princpio datransformao social e da emancipao. Para tanto, aes coletivas fazem-se necessrias. justamente dessemodo que a pedagogia crtica pode ser apontada como uma forma coletiva de resistncia, como refere Freire(2005, p. 58): os homens se libertam em comunho.

    Nessa lgica, novas possibilidades metodolgicas tambm necessitam de legitimao no meio acadmico ede questionamentos quanto a sua ortodoxia, pois atravs da pesquisa, do trabalho cientfico srio, que sepode vislumbrar uma racionalidade transformadora, na qual o homem realmente ocupe posio na sociedadecomo sujeito ativo e no passivo, saindo da posio de alienao. Assim, refere Bourdieu (1989, p. 26): a

    pesquisa uma coisa demasiado sria e demasiado difcil para se poder tomar a liberdade de confundir arigidez, que o contrrio da inteligncia e da inveno, com o rigor, que se ficar privado deste ou daquelerecurso entre os vrios que podem ser oferecidos pelo conjunto das tradies intelectuais da disciplina."

    Tanto Bordieu (1989) como Morin (1991) e Sousa Santos (2000) revelam-se contra a fragmentao, a favorde um pensar relacional: o todo e as partes, a unidade e o diverso. Nesse mesmo sentido, Vieira Pinto (1979,p. 326) entende que o trabalho cientfico no pode ser considerado isoladamente, nem emabstrato, mas sse torna entendido quando o situamos no conjunto concreto do qual uma manifestao. Esta lio temimportncia capital para a formao da conscincia do cientista crtico. A cincia s cria as condies do

    prprio desenvolvimento se ajuda a criar as condies de desenvolvimento das demais formas de trabalho

    nacional, especialmente as que transformam a face da realidade (VIEIRA PINTO, 1979, p. 336-337).

    Aktouf (2004), em sua obra Ps-globalizao, administrao e racionalidade econmica: a sndrome doavestruz, faz uma crtica humanista ideologia nica globalizada, na qual a globalizao acaba justificando abusca por vantagens egostas que desconsideram a finalidade humana da atividade econmica. Compartilha-se a ideia do autor quando este denuncia que as pessoas esto deixando de lado sua plenitude como serhumano por falta de reflexo em relao busca do lucro mximo em mercados autorregulamentados e deconcorrncia ilimitada, que almejam a realizao sem considerar a natureza sociocomunitria do homem,atentando apenas para o estreito utilitarismo.

    medida que se estudam os conceitos desenvolvidos por Alberto Guerreiro Ramos, em especial o dehomem parenttico, torna-se evidente a importncia destes para os estudos organizacionais, emergindo umanova concepo de homem na sociedade: indivduo ator e no sujeito (ingnuo) dos acontecimentos sociais.Nessa perspectiva, o indivduo dotado de reflexividade e criticidade, encontrando-se no caminho da buscado homem parenttico e, por consequncia, da emancipao. De tal modo, torna-se possvel vislumbrar aconstruo de uma racionalidade transformadora.

    Diante de tal perspectiva, a alienao e o adestramento social no se justificam. Na tica transformadora,Freire (2005) evidencia a educao como central para a emancipao, defendendo a liberdade e a autonomiahumana por meio da conscincia crtica. Como afirmam Paula e Maranho (2009, p. 474); a pedagogia

    crtica freireana emergiu como um caminho tanto para analisar como para fomentar as aes coletivas,

    constituindo-se em um referencial valioso para os pesquisadores alinhados com o humanismo crticonacional".

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    Nesse sentido, a racionalidade transformadora partiria da conscincia de uma guerrilha intelectual interna; aconcretizao de um novo pensar, balizado na emancipao do homem. Alm disso, requereria um despertar,um olhar que vislumbrasse aquilo que a sociedade pode ser, mas ainda no , um interesse, um

    questionamento natural e a contnua busca pela transformao da sociedade em algo melhor.

    De acordo com Tenrio (2002), a teoria crtica se distingue da teoria tradicional por acreditar que o indivduono pode ser visto isolado do seu contexto social, havendo a necessidade de exerccio dialtico deaprendizado e reflexo, terico e prtico. Para o autor, em consonncia com Alberto Guerreiro Ramos, scom essa tomada de conscincia que se podem buscar novos caminhos, rompendo assim com as barreiras daalienao, constituindo-se uma racionalidade de liberdade, uma nova racionalidade: a transformadora.

    Segundo Alvesson e Willmott (1992), as cincias sociais podem e devem contribuir para liberar as pessoasde ideologias e tradies desnecessrias que inibem e distorcem as oportunidades de autonomia. TambmFaria e Meneghetti (2006) entendem que existe uma ideologia dominante que torna parcial a conscincia dos

    indivduos em relao ao social e que atravs da emancipao os indivduos podem vislumbrar a autonomia,tomando conscincia da sua existncia e posio no mundo. Como salienta Faria (2009), a teoria crtica podecombater o individualismo e as diferentes formas de dominao que inviabilizam a emancipao humana,pois a razo instrumental no direciona o homem emancipao.

    Dado o exposto, percebe-se que a racionalidade transformadora necessita ser reconstruda, dependendo dorompimento com as barreiras da ingenuidade e da iluso. Da se percebem as dificuldades que essareconstruo emancipatria enfrenta, j que o pensamento crtico uma construo que demanda tempo eexige, em primeiro lugar, conscincia de que a histria no imutvel e se encontra em constanteconstruo. Concorda-se com Freire (1979, p. 33) quando afirma: O mundo no . O mundo est sendo.

    Por conseguinte, o desenvolvimento de uma conscincia crtica que permite ao homem transformar arealidade se faz cada vez mais urgente (Id., 1979, p. 85). Acredita-se que por meio da prxis, termo cunhadopelo autor, o mainstream funcionalista pode ceder espao para outras alternativas epistemolgicas maisrecentes e apropriadas aos tempos atuais.

    O Indivduo como Ator Organizacional e Social: a Humanizao

    A dialtica imposta pela complexidade no sculo XXI traz luz a viso de muitos autores. Percebe-se que ostericos positivistas da administrao compreendem o indivduo como sujeito social, enquanto os tericos

    crticos compreendem o indivduo como ator humano e social, no como sujeito atnito diante da realidadetal como se apresenta. Como argumenta Ramos (1981), a psique humana deve ser o aspecto central naconstruo de uma nova teoria das organizaes.

    Concorda-se com Sousa Santos (2005) quanto a necessidade de conferir s cincias sociais uma novacentralidade na busca de um novo senso comum. Emerge a necessidade de aes sociais transformadoras noambiente organizacional que possibilitem s pessoas serem sujeitos ativos (atores) e autnomos no contextosocial em que vivem. Para Aktouf (1996), necessrio passar da alienao reabilitao do sujeito atornuma cultura compartilhada, porque a alienaoadoece o homem. Ele afirma que a mudana na maneirade gesto, em que se considere o humano e o social, no um sentimentalismo ou modismo, mas questo de

    sobrevivncia das empresas.

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    Nos estudos organizacionais crticos, o indivduo ocupa papel central, devendo ser considerado ator principale no, sujeito das transformaes, isto , humano. Nessa tica, Meneghetti (2004, p. 4) considera ohumanismo um objetivo a ser perseguido, e o faz mesmo levando em conta que "em cada poca isso tenha

    sido feito, as condies materiais e as limitaes humanas impossibilitaram sua concretizao. Emborasabendo que o atual contexto histrico limita a concepo e a conscincia da necessidade de persegui-lo,somente a busca e a reformulao constante da concepo de humanismo pode levar sua consolidao."

    justamente desse modo que se percebe a teoria crtica, a exemplo do paradigma humanista como umapossibilidade nos estudos das organizaes, uma vez que se prope a tentar entender os problemasorganizacionais considerando o contexto e a histria, visando cada vez mais a uma sociedade humanizada nosentido da emancipao. Japiassu (2013, p. 1) enfatiza a necessidade da construo contempornea de uma"viso ao mesmo tempo transcultural e transhistrica, permitindo-nos compreender o mundo atual em suacomplexidade e o ser humano em suas ambiguidades".

    Chanlat (2000) salienta a importncia da compreenso da ao humana, da cooperao, da solidariedade e dohomem como ator efetivo, que denuncia a dominao. Contudo, o homem no respeitado como tal, o que oleva ao sofrimento, pois ele sempre foi visto como um meio para alcanar um fim. Entretanto, ele carrega

    em si sua prpria finalidade e no raras vezes segue um processo de desumanizao que o torna alienado no

    trabalho (AKTOUF, 1996, p. 239). Eis a necessidade de mudana de mentalidade nas prticasadministrativas, nas quais o ser humano deve constituir-se como central, dando abertura para uma gestorenovada (TENRIO, 2002; 2004).

    Mais recentemente, at as prprias teorias ortodoxas, falam da necessria centralidade no homem,considerando-o como um todo. No entanto, essa questo no levada a cabo de maneira efetiva, seguindo

    apenas a racionalidade tcnica, o que no suficiente para romper o mainstream. Nessa lgica, talcentralidade no homem faz parte do discurso ps-moderno, apenas a servio do capital. Assim, a razodeslocada do psiquismo humano transformou-se apenas num atributo da sociedade, e no, na verdadeirahumanizao ao se conceber o sentido do trabalho e do trabalhador, o que culminaria na emancipao.

    Aktouf (2004) orienta no sentido de que a necessria e radical mudana na maneira de raciocinar a respeitodas organizaes e da gesto est vinculada percepo dos fatores de sucesso atrelados filosofia de gestoe concepo de trabalho e de trabalhador. " a que est o ponto crucial das contradies que perpassam asteorias e os mtodos administrativos. O empregado do fazer mais, mais rpido e da obedincia passiva no

    o empregado capaz de adeso ativa, de vigilncia pessoal, de iniciativa e de criatividade a todos osinstantes e em todos os nveis"(AKTOUF, 2004, p. 209).

    Tal afirmao do autor traz a tnica da contradio inerente ao capitalismo hodierno. Como refere Ramos(1999, p. 130), a histria contempornea est de fato prenhe de um novo tipo de homem, a quem eu, emalgum lugar, chamei de homem parenttico. O autor fala de trs modelos de homem: o operacional, oreativo e o parenttico. O primeiro, o homem operacional, aquele visto como recurso organizacional quetraz resultados; o segundo aquele modelo de homem que foi desenvolvido pela escola das relaeshumanas, trata do ajustamento do indivduo ao ambiente organizacional, o qual, desse modo, passa a serpreocupao central; por fim, o homem parenttico, que possui conscincia altamente desenvolvida e que,no esforo de ser autnomo, no pode ser explicado pela psicologia do conformismo, da mesma forma que

    os indivduos que se comportam de acordo com os modelos reativo e operacional (Ibid., p. 135).

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    Para Ramos (2001), ao ter o homem parenttico como alternativa contempornea, a prpria teoriaorganizacional emancipa-se por no mais poder legitimar a racionalidade funcional da organizao, comotem acontecido amplamente. De fato, a imagem de homem parenttico aquele que observa, reflete e

    examina o contexto da vidaleva necessidade que se tem de pensar a respeito do papel dos indivduos nasorganizaes e tambm sobre a emergncia de uma nova concepo de homem na sociedade. Nesse modelode homem organizacional est a atitude crtica, que suspende ou coloca entre parnteses a crena do mundocomum, permitindo ao indivduo alcanar um nvel de pensamento conceitual e, portanto, de liberdade

    (RAMOS, 1984, p. 8).

    Apresentada a exposio, tornam-se evidentes contribuies importantes para os estudos organizacionaiscrticos tambm de autores brasileiros, como Alberto Guerreiro Ramos, Fernando Prestes Motta e MaurcioTragtenberg, entre outros mais atuais como Jos Henrique de Faria e Fernando G. Tenrio, que comungamde uma viso crtica e no instrumental das organizaes. Tais estudos procuram denunciar o positivismoortodoxo e tambm oferecer fortes bases conceituais para a adoo de uma viso crtica nos estudosorganizacionais. Ramos (1965) enfatiza a necessidade dos tericos organizacionais buscarem a libertao daservido intelectual e transcender a condio de repetir e copiar as teorias ditas prontas e verdadeiras. Nessaperspectiva, evidencia o papel do ator organizacional como indivduo liberto da sua prpria alienao, quepensa e interfere na realidade das organizaes e, por consequncia, na sociedade.

    Consideraes Finais

    Neste artigo, a ps-modernidade reconhecida como um sinal de uma nova poca da investigaosociolgica que requer a utilizao da abordagem crtica nos estudos organizacionais, com vistas emancipao da cincia da administrao. A anlise aqui apresentada revela que os estudos organizacionaistm sido desenvolvidos pela influncia do positivismo, mas aponta para a necessidade da junoepistemolgica de diferentes racionalidades para a criao e formao do conhecimento cientfico reflexivoem administrao.

    Diante da realidade primordial de humanizao, preciso garantir aos indivduos que atuam nasorganizaes, o exerccio da autorreflexo, para que sejam vistos como sujeitos ativos e no apenas comosujeitos da cincia e do mundo. Como acreditam muitos autores aqui citados, pensa-se a emancipao comoum processo de superao da alienao, onde as pessoas so vistas como atores sociais e organizacionais. Osestudos organizacionais requerem racionalidades alternativas preponderante na ortodoxia, perante a

    possibilidade de prover mudanas no fazer cincia da administrao, enfatizando um olhar responsvel emrelao ao ser humano como um ser complexo e total.

    O contexto no qual a cincia da administrao se desenvolve mudou, do sculo XX (orientada pela ordem,pela maximizao dos resultados e pela instrumentalidade da razo) para o sculo XXI (marcado peloindividualismo, "amor lquido", globalizao dos mercados e da sociedade, num mundo cada vez maisfragmentado e incerto, sem consonncia com o desejo de ordem proposto pela ortodoxia funcionalista) ocontexto ps-moderno. Os estudos crticos em administrao so polmicas vertentes nos estudosorganizacionais que anseiam por reflexes mais aprofundadas, pretendendo-se em consonncia com aperspectiva crtica. A teoria crtica uma abordagem alternativa ao modo de gerar conhecimento, podendo

    trazer avanos aos estudos organizacionais, constituindo-se num dos caminhos possveis na busca daemancipao do homem, na direo de uma sociedade melhor e mais justa e harmnica.

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    A ideia da transdisciplinaridade aparece como elemento novo no processo de reformulao e racionalizao.Justamente em razo dessa novidade (questionar o j institudo), o medo aparece e a recusa prevalece na

    maioria das vezes, como afirma Japiassu (2013). Nada causa tanta destruio quanto a obsesso de uma

    verdade considerada como absoluta.

    justamente o desenvolvimento da cincia da administrao sob influncias direcionadoras (queimpossibilitam uma perspectiva emancipatria aos indivduos e sociedade) que deve ser superada. Hconcepes epistemolgicas alternativas ao funcionalismo ortodoxo, especialmente, racionalidades que seimpem e devem ser consideradas e pensadas como possveis na perspectiva de mudanas no fazer cinciacom responsabilidade em relao ao ser humano e sociedade. o caso da racionalidade substantivaproposta por Guerreiro Ramos, entre outras apresentadas pelos tericos crticos contemporneos, os quaisenfrentam o pensamento hegemnico na rea.

    O pensamento ortodoxo tem medo do novo. No entanto, "precisamos de pensadores que saibam sonhar e de

    sonhadores que saibam pensar" (JAPIASSU, 2013, p. 7). Urge um novo pensamento para os problemas daatualidade. Morin (1991) defende um pensamento capaz de enfrentar o desafio da complexidade do real,tendo em vista que simplificar no mais possvel. Afinal, "um saber que no se questiona constitui umobstculo ao avano dos saberes" (JAPIASSU, 2013, p. 5).

    Aqui no se tem a pretenso de apresentar alternativas prontas, estruturadas ou palavras de ordem. Almeja-se, sim, apresentar certos contributos e formular questionamentos que possam auxiliar na busca de umasociedade mais humana e emancipada. Para tanto, uma viso mais complexa e crtica na administrao faz-senecessria por meio dos estudos organizacionais, o que permitir avanos e inovaes para a prpria rea,pois a dialtica permite o amadurecimento da cincia. Os novos estudos que envolvam a teoria crtica so

    entendidos como pertinentes, sobretudo, tendo como foco o desenvolvimento de uma conscinciaemancipatria no contexto das organizaes, firmando a posio do indivduo como ator social. Em especial,o entendimento o de que se encontra em aberto o espao para estudos empricos sobre as prticas de gestode pessoas e o comportamento organizacional, na perspectiva terica aqui apresentada.

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  • 7/23/2019 Criticas de EO

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