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Crónicas da história portuguesa divulgadas numa nova antologia em Espanha Santiago de Compostela, Espanha, 9 de Maio de 2013 (ASP // PJA - Lusa) Contar a peripécia humana numa compilação "histórico-emocional" foi o objetivo central do trabalho de pesquisa do escritor e jornalista espanhol Gerardo González de Vega, reunido numa antologia de cerca de 70 crónicas "portuguesas de aventuras ultramarinas". "Não pretendo tanto contar a magnificência da história portuguesa. Isso está contado em histórias económicas e politicas, de todo o tipo", explicou à Lusa o autor da obra "As rédeas da história", que acaba de ser publicada em Espanha. "O que não me parece estar contado é a dimensão mais humana, a perspetiva do humor português, da melancolia. A peripécia humana que tratei como pura peripécia humana - a derrota e vitória de seres que viveram - mas também de uma perspetiva literária, reunindo relatos que têm esse grande valor literário", disse. Trata-se, como explica a própria contra capa da obra de procurar dar a conhecer ao público de língua espanhol relatos esquecidos sobre a vida de "humanos avatares de tantos aventureiros, frades, soldados, médicos ou mercadores, enrolados ou arrastados pelo turbilhão de explorações e conquistas que iluminaram a idade moderna e o mundo atual". Para isso reuniu relatos escritos entre os séculos XV e XVII por nomes como Fernão Mendes Pinto ou Osóio e Goes, mas também autores ainda menos conhecidos como Carvalho Mascarenhas. "É um grande desconhecido. Mas escreveu várias coisas memoráveis, entre as quais o 'relato da perda da nau Conceição', que descreve uma viagem entre a Índia e Lisboa, quando a frota foi atacada por corsários argelinos", explica. "O relato da viagem, da estadia em Argel e do eventual resgate compõem uma grande novela de aventura, uma novela com humor, pitoresca. Como se esquece gente que criou um mundo literário desta força", disse. Em vez de apostar em relatos sobre momentos de grande transcendência histórica, González de Vega preferiu as "aventuras de dimensão humana, a relação com o desconhecido, com o exótico, com a peripécia". Destaca, explica, crónicas que não falam da grande importância das descobertas mas de "momentos que viveram homens", como Fernão Mendes Pinto que "foi pirata no Golfo de Bengala, vendido como escravo, naufrago na Etiópia". A história de um galego que viajou com os portugueses e, depois de aprender várias línguas em Goa e na região, se tornou num traficante de pedras preciosas. Entre os relatos destaca um que envolve Vasco da Gama que, numa das suas viagens à Índia, ao largo da costa de Goa viu como a tripulação se amedrontava porque "o mar se movimentava muito".

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Crónicas da história portuguesa divulgadas numa nova antologia em Espanha

Santiago de Compostela, Espanha, 9 de Maio de 2013 (ASP // PJA - Lusa)

Contar a peripécia humana numa compilação "histórico-emocional" foi o objetivo central do trabalho de pesquisa do escritor e jornalista espanhol Gerardo González de Vega, reunido numa antologia de cerca de 70 crónicas "portuguesas de aventuras ultramarinas".

"Não pretendo tanto contar a magnificência da história portuguesa. Isso está contado em histórias económicas e politicas, de todo o tipo", explicou à Lusa o autor da obra "As rédeas da história", que acaba de ser publicada em Espanha.

"O que não me parece estar contado é a dimensão mais humana, a perspetiva do humor português, da melancolia. A peripécia humana que tratei como pura peripécia humana - a derrota e vitória de seres que viveram - mas também de uma perspetiva literária, reunindo relatos que têm esse grande valor literário", disse.

Trata-se, como explica a própria contra capa da obra de procurar dar a conhecer ao público de língua espanhol relatos esquecidos sobre a vida de "humanos avatares de tantos aventureiros, frades, soldados, médicos ou mercadores, enrolados ou arrastados pelo turbilhão de explorações e conquistas que iluminaram a idade moderna e o mundo atual".

Para isso reuniu relatos escritos entre os séculos XV e XVII por nomes como Fernão Mendes Pinto ou Osóio e Goes, mas também autores ainda menos conhecidos como Carvalho Mascarenhas.

"É um grande desconhecido. Mas escreveu várias coisas memoráveis, entre as quais o 'relato da perda da nau Conceição', que descreve uma viagem entre a Índia e Lisboa, quando a frota foi atacada por corsários argelinos", explica.

"O relato da viagem, da estadia em Argel e do eventual resgate compõem uma grande novela de aventura, uma novela com humor, pitoresca. Como se esquece gente que criou um mundo literário desta força", disse.

Em vez de apostar em relatos sobre momentos de grande transcendência histórica, González de Vega preferiu as "aventuras de dimensão humana, a relação com o desconhecido, com o exótico, com a peripécia".

Destaca, explica, crónicas que não falam da grande importância das descobertas mas de "momentos que viveram homens", como Fernão Mendes Pinto que "foi pirata no Golfo de Bengala, vendido como escravo, naufrago na Etiópia".

A história de um galego que viajou com os portugueses e, depois de aprender várias línguas em Goa e na região, se tornou num traficante de pedras preciosas.

Entre os relatos destaca um que envolve Vasco da Gama que, numa das suas viagens à Índia, ao largo da costa de Goa viu como a tripulação se amedrontava porque "o mar se movimentava muito".

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O médico a bordo explicou a Vasco da Gama que não havia recifes mas que se tratava de um "tremor de mar", ao que o navegador se riu e aos tripulantes disse: "isto significa que não somos nós que temos medo, mas sim o mar que treme por nos ver chegar".

González de Vega explica que a sua antologia pretende revalorizar as crónicas literárias históricas de Portugal que, como as de Espanha, "têm sido menosprezadas com a proliferação de outra literatura, europeia, moderna ou pós-moderna".

Um processo que começou pela sua própria "leitura curiosa das obras", pela relação com o trabalho jornalístico que estava a desenvolver mas que depois se transformou numa descoberta de um novo plano "mais humano da história", que mais o atraía.

Jornalista de profissão, González de Vega admite que também nesta área se está a perder o aspeto humano "perante as necessárias mas terríveis instituições", com as notícias a serem feitas por "comunicados ou porta-vozes".

É o "aspeto humano diluído num marasmo de consignas", disse.

Sobre o desconhecido que permanece relativamente à história portuguesa em si, González de Vega diz que parte da culpa se deve aos portugueses que herdaram uma tendência para "manter as descobertas, especialmente no Oriente, ocultadas sob um véu de mistério".

"Escondiam mapas, matavam marinheiros que tentavam passar para Castela, difundiam em Europa a peregrina historia de que os mares do Oriente eram muitos perigos. Véus de mistério e de ocultação que ajudaram a esconder esta atividade portuguesa no oriente", explica.

O livro "As rédeas da fortuna - Antologia de histórias portuguesas de aventuras ultramarinas" foi publicado pela Miraguano Ediciones no passado dia 25 de abril.