cuiaba e manuscritos

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  • Edio Paleogrfica Digital

    Secretaria de Administrao

  • GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

    Blairo Borges Maggi Governador

    Silval da Cunha Barbosa Vice-governador

    SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAO

    Geraldo de Vitto Jr. Secretrio

    Romeu Honorato Mendes Secretrio Adjunto de Administrao

    Paulo Roberto Francisco da Silva Secretrio Adjunto de Administrao Sistmica

    ARQUIVO PBLICO DE MATO GROSSO

    Jos Roberto Stopa Superintendente

  • Annaes do Sennado da Camara do Cuyab 1719-1830

  • ACERVO Arquivo Pblico de Mato Grosso APMT

    FONTE Anais do Senado da Cmara de Cuiab

    EQUIPE TCNICA DE ELABORAO DA TRANSCRIO

    Transcrio paleogrfica Yumiko Takamoto Suzuki

    Colaboradores Candelria Gomes Monteiro de Campos Neta | Eliane Fernandes | Hilario Noriyuki Teruya | Vanda Silva

    Digitao Leandro Aparecido de Paiva

    Av. Senador Metello, 3.773 Jd. Cuiab CEP 78.030-005 Cuiab-MTTelefax (65) 3624 5294 www.entrelinhaseditora.com.br [email protected] [email protected]

    Editora Maria Teresa Carrin Carracedo

    Reviso paleogrfica Ana Mesquita Martins de Paiva

    Projeto Grfico Maria Teresa Carrin Carracedo

    Produo Grfica Ricardo Miguel Carrin Carracedo

    Fotos Francisco Venncio (reproduo dos flios) e Helton Bastos (detalhes para design)

    Assistentes na edio Walter Barbosa Galvo e Ronaldo Guarim

    Imagem da capa Prospecto da Villa do Bom Jesus de Cuiab... (Fragmento). Acervo do Museu Botnico Bocage, Lisboa, ca. 1790

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Annaes do Sennado da Camara do Cuyab : 1719-1830 / [transcrio e sua organiza-o Yumiko Takamoto Suzuki]. -- Cuiab, MT : Entrelinhas ; Arquivo Pblico de Mato Grosso, 2007.

    Edio com a transcrio do documento original, segundo as normas recomen-das pelo Arquivo Nacional. Inclui duas edies digitais : fac-similar e da transcrio.

    Vrios colaboradores.272 p. : il. ; 30 cm

    ISBN 978-85-87226-60-0 (Entrelinhas Editora)ISBN 978-85-60869-00-8 (Arquivo Pblico)

    1. Cuiab Histria Perodo colonial 2. Cuiab Histria Perodo imperial 3. Mato Grosso Histria Perodo colonial 4. Mato Grosso Histria Perodo imperial I. Suzuki, Yumiko Takamoto.

    ndices para catlogo sistemtico: 1. Mato Grosso : Histria 981.72

    07-4017 CDD-981.72

    Annaes_Cinza.indd 4 18.07.07 17:51:25

  • Cuiab, 2007

    Annaes do Sennado da Camara do Cuyab 1719-1830

    Edio com a transcrio do documento original,

    segundo as normas recomendadas pelo Arquivo Nacional.

    Edio Paleogrfica Digital.

    Av. Senador Metello, 3.773 Jd. Cuiab CEP 78.030-005 Cuiab-MTTelefax (65) 3624 5294 www.entrelinhaseditora.com.br [email protected] [email protected]

    Editora Maria Teresa Carrin Carracedo

    Reviso paleogrfica Ana Mesquita Martins de Paiva

    Projeto Grfico Maria Teresa Carrin Carracedo

    Produo Grfica Ricardo Miguel Carrin Carracedo

    Fotos Francisco Venncio (reproduo dos flios) e Helton Bastos (detalhes para design)

    Assistentes na edio Walter Barbosa Galvo e Ronaldo Guarim

    Imagem da capa Prospecto da Villa do Bom Jesus de Cuiab... (Fragmento). Acervo do Museu Botnico Bocage, Lisboa, ca. 1790

  • Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    A preservao da memria de um povo, constituda de registros histricos dos mais varia-dos matizes manuscritos, imagens, monumentos arquitetnicos, tradies, costumes, culi-nria, manifestaes artsticas, como a dana e a msica , componente essencial formao de sua identidade cultural. O patrimnio histrico material e imaterial, no seu conjunto, que perpetua as caractersticas marcantes de um povo: suas lutas, suas conquistas, sua formao tnica, tica e moral.

    No podemos, por todas essas razes, relegar a preservao dos nossos registros histricos a um segundo plano, como algo de valor secundrio ou estritamente acadmico, a ser guardado e esquecido nas prateleiras e arquivos dos centros de memria. A identidade cultural o refe-rencial que baliza a construo do futuro de um povo.

    Esta publicao, portanto, se reveste da maior importncia. Reproduz, observando as nor-mas tcnicas do Arquivo Nacional para a transcrio e edio de documentos manuscritos, os Annaes do Sennado da Camara do Cuyab, que registra o perodo de 1724 a 1830.

    So registros de mais de um sculo de funcionamento do parlamento de Cuiab, ou seja, do equivalente, poca, Cmara de Vereadores do municpio. Relatam curiosos e interessantes fragmentos da vida cotidiana da populao, mas tambm momentos histricos de suma im-portncia para a compreenso do processo de fundao e consolidao da nossa capital.

    Conhecer o passado de Cuiab tambm fundamental para entendermos a origem do Es-tado de Mato Grosso, pois tudo comeou com as lavras de ouro nos rios e crregos que cortam a capital. Da surgiram os pequenos povoados, fundados por bandeirantes paulistas que por aqui aportaram.

    Ao tomar a iniciativa de publicar essas verdadeiras relquias, que so os Annaes do Sennado da Camara do Cuyab, escritos num portugus que, por si s, revelador de um passado que poucos conhecem, o Arquivo Pblico de Mato Grosso d valiosa contribuio preservao da nossa memria, do nosso patrimnio cultural. Permite, enfim, que no apenas historiadores, pesquisadores e estudiosos, mas tambm cidados comuns tenham acesso a documentos reve-ladores da nossa histria.

    Blairo Borges Maggi Governador do Estado de Mato Grosso

    Referencial para o futuro

  • 9 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Espao abertoNos ltimos anos, o Arquivo Pblico de Mato Grosso vem sendo reestruturado, passando

    por um processo de reconhecimento e valorizao de seus trabalhos pelo Governo do Estado, que v o Arquivo, no como um depsito de papis velhos, mas uma instituio de preserva-o da cultura e da histria do povo mato-grossense.

    Esta publicao mais um testemunho das transformaes pelas quais o Arquivo Pblico passa. A necessidade de difundir o que se preserva e colocar ao alcance da populao e de pes-quisadores tesouros da Histria de Cuiab e de Mato Grosso mostra a preocupao que temos com o passado e a responsabilidade com o futuro, com a influncia dos aspectos histricos de Mato Grosso no desenvolvimento da atual e das futuras geraes.

    Este Annaes do Sennado da Camara do Cuyaba a segunda grande obra lanada pelo Ar-quivo Pblico nesta administrao e no ser a ltima. A continuidade da divulgao cultural e histrica deste Estado um compromisso assumido por este Governo e que vem sendo cum-prido.

    Em decorrncia desta nova forma de administrar, o Arquivo Pblico de Mato Grosso , hoje, um espao aberto e conhecido pela comunidade acadmica, escolar e por parte da popu-lao. Outrora, poucas pessoas o conheciam. Tornou-se ponto de referncia para historiadores, pesquisadores, estudiosos e estudantes, que buscam aprofundar-se nos conhecimentos guar-dados e preservados pela instituio. O Arquivo Pblico agora faz parte do cotidiano cultural de Mato Grosso e vem trabalhando em busca da excelncia na preservao, resgate e na divul-gao da memria do Estado.

    Os atos de conhecer e valorizar o passado nos remetem ao respeito e entendimento do pre-sente, alm de contribuir para a construo do futuro de Mato Grosso. Parabns ao Estado por esta grande obra!

    Geraldo A. de Vitto Jr. Secretrio de Estado de Administrao

  • 11 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Edio para pesquisadores com grande satisfao que o Arquivo Pblico de Mato Grosso, em parceria com a Entreli-

    nhas Editora, apresenta os Annaes do Sennado da Camara do Cuyab 1724-1830 a pesquisa-dores de todas as reas do conhecimento, interessados em conhecer, decifrar e compreender o processo histrico-cultural mato-grossense. Trata-se de um dos mais importantes documentos para a histria de Cuiab e de Mato Grosso, que narra os acontecimentos considerados mar-cantes no perodo.

    Esta edio diplomtica dos Annaes constitui-se em valioso instrumento de pesquisa. Apre-senta a transcrio paleogrfica do documento em suporte convencional, acompanhada de duas edies digitais: uma fac-similar, que reproduz o documento por meio fotogrfico ideal para checar dvidas , e a edio indexada da transcrio, que permite ao pesquisador a busca instantnea atravs de qualquer palavra-chave. Esta medida amplia a divulgao do documen-to ao mesmo tempo em que poupa o original de maiores desgastes com a sua manipulao.

    Ao longo dos seus mais de dois sculos de existncia, os Annaes sofreram desgastes e su-presses que permanecem um mistrio a ser desvendado por pesquisadores e historiadores, nicos com possibilidades de reconstitu-lo a partir de um trabalho aprofundado. A ao do tempo, a conservao e restauraes inadequadas suprimiram-lhe flios, linhas de texto e par-te da paginao original.

    Disponibilizar este documento a especialistas e estudiosos dos quais o Arquivo Pblico de Mato Grosso espera receber valiosa contribuio com informaes que permitam aprimor-lo e reconstitu-lo o incio dos trabalhos para a elaborao de edio crtica ou popular, com atualizao ortogrfica e gramatical, para que possa ser compartilhada de forma mais ampla.

    Preservar os documentos sob a nossa custdia uma obrigao constitucional do Estado. A deciso de publicar este documento a expresso do compromisso em preservar, difundir e facilitar o acesso ao acervo, numa proposta de democratizar a riqueza de contedo dos docu-mentos aqui existentes, atendendo ao direito que todo cidado tem sua memria.

    Prof. Jos Roberto Stopa Superintendente do Arquivo Pblico de Mato Grosso

  • 12 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

  • 13 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    RelatosAo transcrever o documento Annaes do Sennado da Camara, a historiadora, professora

    Yumiko Takamoto Suzuki, esmerou-se a fundo neste seu objetivo, isto , na possibilidade de trazer a pblico um dos documentos mais importantes do municpio de Cuiab, outrora Villa Real do Senhor Bom Jesus do Cuyab. Constitui, portanto, um mergulhar minucioso nos in-meros documentos produzidos pelo Sennado da Camara de Cuyaba e suas mltiplas informa-es oficiais, que ressaltam as ocorrncias no cotidiano do lugar, firmando-se como um preito histria de um povo.

    Relatos, como a elevao das Minas do Cuyaba condio de Villa Real do Senhor Bom Jesus do Cuyab; a chegada da imagem do Senhor Bom Jesus, trazida do Citio de Camapoan; o ataque feroz dos indgenas quando pelejaro das nove da manh at as duas da tarde; a des-coberta da quina e sua casca medicinal nas Serras do So Jernimo; as notcias de que o Brasil tornara-se livre e independente (1822), confirmam a importncia deste documento. Era a ma-neira com que os antigos vereadores escreviam os acontecimentos mais notveis do seu tempo, desempenhando, fielmente, as obrigaes do seu cargo e fornecendo matria para a Histria e para muitas memrias.

    Dominando, pacientemente, a prtica de trazer a lume o significado das diferentes compo-sies ortogrficas, produzidas por diferentes escrives da Cmara, a historiadora transcreveu os contedos documentais gerados nos mais diversos momentos histricos da Villa do Cuyab e regio.

    Produzir os Annaes do Sennado da Camara era, na verdade, uma imposio do governo co-lonial s Cmaras Municipais, tidas como a menor unidade administrativa, judiciria, fazen-dria e de polcia existentes, atendendo aos preceitos da Real Proviso, de 20 de Julho de 1782.

    Com esta transcrio, o Arquivo Pblico de Mato Grosso disponibiliza aos seus consulentes mais uma eficiente ferramenta de pesquisa.

    Odenil SantAna da Silva Prof. Mestre do APMT

  • Sobre esta transcrio

    O trabalho de transcrever os Annaes do Sennado da Camara do Cuyab foi um enorme desafio que enfrentei em 2002, responsabilidade que me foi confiada pelo ento Superintenden-te do Arquivo Pblico de Mato Grosso, professor Clementino Nogueira de Sousa. Em alguns momentos cheguei a pensar que no iria conseguir. Afinal, eram 198 folhas (frente e verso). Talvez parea um exagero falar dessa maneira, mas as dificuldades encontradas foram muitas; primeiro, pela responsabilidade de transcrever um documento to importante para a Histria de Mato Grosso e, em especial, para o municpio de Cuiab; segundo, pela responsabilidade prpria do transcrever, pois me sentia e ainda me sinto uma aprendiz. A minha experincia de historiadora/arquivista me oferecia alguns elementos para a transcrio de manuscritos do sculo XVIII, mas o Annaes me desafiava a conhecer um pouco mais de paleografia1, exigncia necessria para a transcrio. Infelizmente, a paleografia um conhecimento pouco conside-rado nos cursos de Histria, mas de extrema importncia para os historiadores que se aventu-ram pelos labirintos da escrita dos manuscritos do sculo XVIII.

    Esta transcrio tem como objetivo preservar o documento original, pois o constante ma-nuseio pelos pesquisadores contribui para o seu desgaste, alm do compromisso da Gerncia de Documentos Escritos do Arquivo Pblico de Mato Grosso, no s com a preservao mas 14 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    tambm com a divulgao do nosso acervo.

    Estudodascaractersticasextrnsecasdosdocumentoselivrosmaunscritos,parapermitiraleituraetrancriodosmesmos,segundo,Berwanger.AnaReginaeLeal,JooEurpidesFrankklin.NoesdePaleografiaedeDiplomtica.2.ed.SantaMa-ria:Ed.UFMS,995.p.2.

  • 15 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Ao transcrever os Annaes do Sennado da Camara do Cuyab, procurei fazer uma cpia fiel do documento original, de acordo com as Normas Tcnicas para Transcrio e Edio dos Documentos Manuscritos do Arquivo Nacional. Estas normas fixam diretrizes e convenes para a transcrio e edio de documentos manuscritos e destinam-se a unificar os critrios das edies paleogrficas, possibilitando uma apresentao racional e uniforme2 dos docu-mentos transcritos pelos arquivos brasileiros. A partir destas orientaes de ordem metodol-gica, procuramos realizar essa transcrio da maneira mais fiel possvel; primeiramente, no atualizando a linguagem do documento; em segundo, as notas, as observaes e esclarecimen-tos do Ouvidor Diogo de Toledo Lara Ordonhez, existentes nas bordas do documento, foram colocadas na forma de notas de rodap; em terceiro, as palavras de difcil compreenso foram indicadas entre colchetes. No posso deixar de registrar, infelizmente, a falta de vrios flios neste documento: no incio dos Annaes faltam os flios 3 a 8; no ano de 1795, faltam os flios 84 e 85; nos anos 1799 e 1800, os flios 94 a 99; no ano de 1801, os flios 104 a 107; nos anos 1808, 1809 e 1810, os flios 132 a 143; e nos anos 1811, 1812 e 1813, faltam os flios 145 a 154. Para resgatar a integridade do contedo dos Annaes, reproduzimos os trechos relativos aos flios subtraidos, como citao, tendo como fonte publicaes realizadas a partir de outros manus-critos, em 1850 e 1898, pelo Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e Instituto Histrico e Geogrfico de So Paulo, respectivamente. Por fim, para facilitar o acesso informao, foi criado o ndice onomstico.

    Assim, acredito que a entrega deste trabalho aos historiadores, pesquisadores e ao pblico em geral cumpre, no apenas com o papel de se garantir a preservao dos documentos, como tambm de possibilitar o conhecimento e o contato com a documentao que est sob a guarda do Arquivo Pblico de Mato Grosso.

    Yumiko Takamoto Suzuki Responsvel pela transcrio destes Annaes...

    2 http://www.arquivonacional.gov.br/normas.htm.

  • 16 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Abreviaturas7bro ........................... Setembro

    8bro ........................... Outubro

    9bro, Nov.o ............... Novembro

    Acolhim.to ................ Acolhimento

    Actualm.e ................. Atualmente

    Ag.to. .......................... Agosto

    Ajd.e ........................... Ajudante

    Albuq.e ...................... Albuquerque

    Alf.es .......................... Alferes

    Almd.a ....................... Almeida

    Alz. ............................ Alvarez

    An.to .......................... Antonio

    Ar.o ............................ Arajo

    Asociabilid.e ............ Associabilidade

    Ativam.e .................... Ativamente

    Ativid.e......................Atividade

    Aus.e .......................... Ausente

    Authorid.e ................ Autoridade

    Az.do .......................... Azevedo

    Bap.ta ......................... Batista

    Bastantem.te ............. Bastantemente

    Bond.e ....................... Bondade

    Brevid.e ..................... Brevidade

    Brilhantem.te ........... Brilhantemente

    Cam.o ........................ Caminho

    Camr.a. ...................... Cmara

    Cap.al ......................... Capital

    Cap.am ....................... Capito

    Cap.nia ....................... Capitania

    Car.o, Carv.o. ............ Carvalho

    Cid.e ........................... Cidade

    Comm.e. ................... Comandante

    Comp.a ...................... Companhia

    Conserv.o ................ Conservao

    Cons.o ....................... Conselho

    Contentam.to ........... Contentamento

    Cordialid.e ................ Cordialidade

    Cor.el ......................... Coronel

    Corr.a......................... Correia

    Corr.e . ....................... Corrente

    Correg.o, Correg.or .. Corregedor

    Cumprim.to .............. Cumprimento

    Daq.la ........................ Daquela

    D.e, D.s ....................... Deus

    Dezbro. ..................... Dezembro

    Dez.or . ....................... Desembargador

    Diam.o . ..................... Diamantino

    Diffr.te, Difr.te .......... Diferente

    Dilig.a ........................ Diligncia

    Divertim.os ............... Divertimentos

    D.o .............................. Dito

    Dom.os....................... Domingos

    Dr., D.or. .................... Doutor

    Effetivam.e ............... Efetivamente

    Enc.am ....................... Encarnaam,

    Enc.ao......................... Encarnao

    Enq.to. ........................ Enquanto

    Escr.m, Escr.am ......... Escrivo

    Esper.a ...................... Esperana

    Espontaneam.e ........ Espontaneamente

    Estud.es ..................... Estudantes

    Ex.a, Ex.cia . ............... Excelncia

    Exm., Exmo. .......... Excelentssimo

    F. ................................ Folha

    Faz.da ......................... Fazenda

    Felicid.e. .................... Felicidade

    Ferr.a, Frr.a, Fr.a ....... Ferreira

    Fevr.o ......................... Fevereiro

    Fidelid.e .................... Fidelidade

    Formalid.e ................ Formalidade

    Fr. .............................. Frei

    Frz.es .......................... Fernandes

    G.al ............................. Geral

    G.e. ............................. Guarde

    Gen.l, Gnr., G.al,

    Gn.al ..................... General

    Glz. ............................ Gonalves

    Gov.o ......................... Governo

    Gov.or ........................ Governador

    Guim.es ..................... Guimares

    Gul.e .......................... Gularte

    Humanid.e................ Humanidade

    Igr.a. ........................... Igreja

    Ilm., Ilmo. .............. Ilustrssimo

    Immediatam.e ......... Imediatamente

    Imp.or ........................ Imperador

    Inteiram.e ................. Inteiramente

    Inumerid.e ............... Inumeridade

    Janr.o ......................... Janeiro

    J.e. ............................... Jos

    Joaq.m ........................ Joaquim

    Juram.to .................... Juramento

    Lanam.to ................. Lanamento

    L.e . ............................. Leite

    Leald.e ....................... Lealdade

    Liberalm.te ............... Liberalmente

    Livrem.te ................... Livremente

    L.o .............................. Livro

    Mag.de ....................... Majestade

    M.as. ........................... Mesmas

    Max.do ...................... Maxado

    Maxm.o .................... Mximo

    M.e ............................. Mestre

    Medr.o ...................... Medeiro

    M.el ............................ Manoel

    M.er ............................ Mulher

    Merecim.to . .............. Merecimento

    Min.o ......................... Ministro

    Mir.da, Mir.a ............. Miranda

    M.mos .........................

    Montr.o ..................... Monteiro

    Mor.a ......................... Moreira

    M.s ............................. Mais

    Mt.o(a) ........................ Muito (a)

    Municipalid.e . ......... Municipalidade

    N. S. do Rozr.o ........ Nossa Senhora

    .................................... do Rosrio

    Naq.la, Naq.la .......... Naquela

    Nascim.to ................. Nascimento

    Necessid.e ................. Necessidade

    Neg.ates ...................... Negociantes

    Novam.e ................... Novamente

    N.sso ........................... Nosso

    N.te ............................ Neste

    N. Sr.r ....................... Nosso Senhor

    Ocaz.m . ..................... Ocasio

    Ocid.e ........................ Ocidente

    Off.es ......................... Oficiais

    Off.o .......................... Ofcio

    Olivr.a, Olv.a, ............ Oliveira

    Orden.a .................... Ordenana

    Ouv.r, Ouv.or ............ Ouvidor

    Oz.o ............................ Ozrio

    P. .............................. Para

    Particularm.e ........... Particularmente

  • 1 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Smbolos e convenes m Nota escrita por Diogo de Toledo Lara Ordonhez.

    d Nota ou observaes relativas a falta de flios nos Annaes.

    [ilegvel] Palavra ilegvel.

    [----------] A ltima linha do flio est cortada.

    | Barra indicativa de fim e inicio de flio.

    [f l.x] Indicao da linha em que tem incio o flio original, reproduzido na edio fac-similar digital.

    [f l.xv] Idem. A letra v significa verso.

    P.e .............................. Parte

    Peq.na . ....................... Pequena

    Pe.nos ......................... Pequenos

    Per.a ........................... Pereira

    P.lo .............................. Pelo

    Portr.a ........................ Portaria

    Posterid.e ................. Posteridade

    P.r ............................... Por

    Preze., prze. ............. Presente

    Prezid.e ..................... Presidente

    Principalm.te ........... Principalmente

    Pr.o ............................ Primeiro

    Proc.or ....................... Procurador

    Propriam.te .............. Propriamente

    Prov.a ........................ Provncia

    Provis.a .................... Provisria

    Pr. q, Porq. ............... Porque

    Q, q.......................... Que

    Ql ............................... Qual

    Qlqr., Qesqr. ............... Qualquer

    .................................... Quaisquer

    Q.m ............................ Quem

    Qn.do ........................ Quando

    Qualid.e ................... Qualidade

    Quer.do ..................... Querendo

    Reg. ........................... Registro

    Regim.to .................... Regimento

    Reg.te ......................... Regente

    Requerim.to .............. Requerimento

    Resp.to ....................... Respeito

    Rev.do, R.do ............... Reverendo

    Ribr.o ........................ Ribeiro

    Ricam.te .................... Ricamente

    Rigorid.e ................... Rigoridade

    R.l ............................... Real

    R.no ............................ Reino

    R.o de Janr.o. ............. Rio de Janeiro

    Roiz.e. ........................ Rodrigues

    Rozr.o ........................ Rosrio

    S.A.R. ....................... Sua Alteza Real

    S. Mag.e ..................... Sua Majestade

    S.a. .............................. Silva

    Sacram.to .................. Sacramento

    Sagr. . ......................... Sagrado

    Salg.o ......................... Salgado

    Sarg.to ....................... Sargento

    Satisf.to ...................... Satisfeito

    Secret.a ..................... Secretaria

    Secretr.o .................... Secretrio

    Seg.do, Segd.o ............ Segundo

    Seg.e ........................... Seguinte

    Semelh.e ................... Semelhante

    Sentim.to .................. Sentimento

    Sobred.o .................... Sobredito

    Som.e, Som.te ........... Somente

    S. Ex.a ....................... Sua Excelncia

    S. Ex.cia R.ma ............ Sua Excelncia

    .................................... Reverendssima

    S.M.I .......................... Sua Magestade

    .................................... Imperial

    S.M. ........................... Sua Majestade

    S. M. q Ds Ge ............ Sua Magestade

    .................................... que Deus Guarde

    S.S. M.M.. ................. Suas Magestades

    Sr., Snr. ..................... Senhor

    S.ta ............................. Santa

    St.os ............................ Santos

    Suced.a ...................... Sucedida

    Suntuosid.e .............. Suntuosidade

    Syqr.a ......................... Siqueira

    Sz.a ............................ Souza

    Tab.am . ...................... Tabelio

    Tavar.es, Tav.es . ........ Tavares

    Ten.e .......................... Tenente

    Terrivelm.e .............. Terrivelmente

    Th ............................ At

    Trind. ........................ Trindade

    Tr.o . ........................... Terceiro

    Tr.os ........................... Termos

    Tt.or . .......................... Testador

    Unicam.e . ................. Unicamente

    Uniformid.e ............. Uniformidade

    V. M.ce ...................... Vossa Merc

    V. M.ces .................... Vossas Mercs

    V.a B.la ...................... Vila Bela

    Va. Ma. ....................... Vila Maria

    V.a .............................. Vila

    Verdad.ro .................. Verdadeiro

    Verd.e ....................... Verdade

    Ver.or, Ver. ................ Vereador

    Vigr.o ........................ Vigrio

    V.o, V. ........................ Verso

    Vr.a ........................... Vieira

    X.er ............................ Xavier

  • 18 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    SumrioSobre esta transcrio Yumiko Takamoto Suzuki............................... 14

    Abreviaturas, smbolos e convenes ......... 17

    Mnima histria dos Anais Prof. Dr. Carlos Alberto Rosa .......................... 21

    Chronicas do CuyabAnnos de 1719, 1720, 1722, 1723 ....................45 Anno de 1724 ................................................... 51Anno de 1725 .................................................... 52

    Transcrio paleogrfica dos Annaesdo Sennado da Camara do CuyabAnno de 1725 (continuao) ................................. 52Anno de 1726 .................................................... 53Anno de 1727 ....................................................56Anno de 1728 ....................................................58Anno de 1729 .................................................... 61Anno de 1730 ....................................................62Anno de 1731 ....................................................64Anno de 1732 ....................................................66Anno de 1733 ....................................................66Anno de 1734 ....................................................67Anno de 1735 ....................................................69Anno de 1736 ....................................................69Anno de 1737 ....................................................70Anno de 1738 ....................................................70Anno de 1739 ....................................................71Anno de 1740 ....................................................71Anno de 1741 ....................................................73Anno de 1742 ....................................................73Anno de 1743 ....................................................73Anno de 1744 ....................................................73Anno de 1745 .................................................... 74Anno de 1746 .................................................... 74

    Anno de 1747 ....................................................75Anno de 1748 ....................................................75Anno de 1749 ....................................................75Anno de 1750 .................................................... 76Anno de 1751 .................................................... 76Anno de 1752 .................................................... 76Anno de 1753 ....................................................77Anno de 1754 ....................................................77Anno de 1755 .................................................... 77Anno de 1756 .................................................... 85Anno de 1757 .................................................... 86Anno de 1758 .................................................... 88Anno de 1759 .................................................... 88Anno de 1760 .................................................... 88Anno de 1761 .................................................... 88Anno de 1762 .................................................... 88Anno de 1763 .................................................... 89Anno de 1764 .....................................................91Anno de 1765 .....................................................91Anno de 1766 .....................................................91Anno de 1767 .................................................... 94Anno de 1768 .................................................... 95Anno de 1769 .................................................... 95Anno de 1770 .................................................... 96Anno de 1771 .................................................... 96Anno de 1772 .................................................. 100Anno de 1773 .................................................. 102Anno de 1774 .................................................. 103Anno de 1775 .................................................. 103Anno de 1776 .................................................. 106Anno de 1777 .................................................. 109Anno de 1778 ...................................................110Anno de 1779 ...................................................113Anno de 1780 ...................................................118Anno de 1781 .................................................. 121Anno de 1782 .................................................. 125Anno de 1783 .................................................. 125

  • 19 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Anno de 1784 .................................................. 126Anno de 1785 .................................................. 128Anno de 1786 .................................................. 130Declarao e aprovao do Dr. Juis de Fora Prezd.e ....................... 134Memrias do anno de 1787........................... 134Memrias do anno de 1788 .......................... 136Memrias do anno de 1789........................... 136Memrias do anno de 1790 .......................... 138Memrias do anno de 1791 ........................... 139Memrias do anno de 1792 ..........................140Memrias do anno de 1793 .......................... 141Memrias do anno de 1794 ..........................1421795 ...............................................................146Memrias do anno de 1796 .......................... 149Memrias do anno de 1797 ..........................155Memrias do anno de 1798 ..........................1561799.1 ..............................................................1581800. ..............................................................1591801. ............................................................... 163Memrias do anno de 1802 ..........................168Memrias do anno de 1803 .......................... 170Memrias do anno de 1804 ..........................172Memrias do anno de 1805 .......................... 174Memrias do anno de 1806 ..........................177Memrias do anno de 1807 ..........................180Memrias do anno de 1808 ..........................1821809. ..............................................................1901810. ...............................................................196Memrias dos cazos mais notaveis Anno de 1811 .............................................197

    Citaodeoutrasfontes.

    1812. ...............................................................2011813. ...............................................................202Memrias do anno de 1815 ...........................207Memrias do anno de 1816 ...........................209Memrias do anno de 1817 ........................... 2141821 Visto em correio de 1821 ..............227Memria do anno de 1818 ...........................228Memria do anno de 1819 ...........................2291826 Visto em Correio de 1826 ............. 231Memrias do anno de 1825, at 1827 ..........232Anno de 1820 ..................................................237Anno de 1821 ..................................................238Anno de 1822 ..................................................243Anno de 1823 ..................................................244Anno de 1824 ..................................................245Acrescenta-se ao anno de 1825 ....................246Acrescenta-se ao anno de 1826 ....................246Acrescenta-se ao anno de 1827 ....................247Anno de 1828 ..................................................248Anno de 1829 ..................................................248Anno de 1830 ..................................................249

    ndice Onomstico .......................................253

    Edies digitaisFac-similar .................................. CD encartadoDa transcrio paleogrfica ...... CD encartado

  • Carlos Alberto Rosa Prof. Dr. do Departamento

    de Histria da UFMT

    21 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Mnima histria dos Anais

    A publicao dos Anais do Senado da Cmara do Cuiab certamente favorecer novas per-cepes sociais de mltiplos aspectos da histria desta parte mais central. Dentre esses aspectos destacam-se as aes da cmara da Vila Real, postas em prtica por homens cuja importncia histrica tem sido pouco notada. E bom que mudem as percepes da histria de Cuiab e de Mato Grosso, nestes tempos de explicitao das diversidades e de reconhecimento de que o que no sculo XVIII se denominava bem comum (conceito que volta a manifestar-se em alguns segmentos sociais de hoje) era um referencial fundado na aceitao possvel, poca, de que a repblica feita com grandes e pequenos.

    superintendncia do Arquivo Pblico do Estado de Mato Grosso e a seus tcnicos em especial Yumiko Takamoto Suzuki, responsvel pela transcrio devemos todos nosso reco-nhecimento pelo inestimvel servio prestado atual e s futuras geraes de mato-grossen-ses.

    Os assim chamados Anais do Senado da Cmara do Cuiab foram produzidos por verea-dores eleitos a partir de 1786, como atividade formal da cmara da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab.

    Cmaras eram instituies locais, que tiveram papel fundamental na formao e manu-teno da Amrica portuguesa. Ao iniciar a colonizao do Cuiab, nas primeiras dcadas dos anos 1700, a coroa portuguesa j acumulara experincia secular no ultramar, espacializara-se em imprio por trs continentes. Consolidara duas instituies bsicas, urbanas: as cmaras (ou conselhos, ou senados da cmara) e as irmandades laicas.1

    CharlesR.Boxer.O imprio colonial portugus (1415-1825).Lisboa,Edies70,98.

  • 22 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Tal imperium ultramarino, baseado em instituies colegiadas de vilas e cidades, foi feito dia aps dia, durante sculos, alimentado por fluxos de comunicao escrita entre metrpole e colnia, entre colnia e metrpole.2

    Interesses coloniais faziam-se representar nas cmaras, compostas por restrita parcela da populao (homens, brancos, livres, possuidores de significativo patrimnio, homens de bens, homens bons). As cmaras tendiam a representar prioritariamente interesses das eli-tes locais. Contudo, marcadas pelo princpio de bem comum,3 representavam tambm, conjun-turalmente, camadas subalternas do povo.4

    Cmaras eram feitas com eleies, estatutos e posturas municipais, normatizao da edifi-cao, da higienizao, da sade, da alimentao, das festas. E concesso de privilgios e imu-nidades aos homens da governana (vereadores, juzes, oficiais camarrios), para praticar com a iseno possvel o bem comum.

    A coroa portuguesa refinou durante sculos o reconhecimento poltico dos poderes locais, por meio da criao de cmaras. Na concepo de sociedade do antigo regime portugus, as honras das cmaras eram superiores s de titulados e senhores grandes, pois, se estes tinham a honra que o rei larga de sua majestade, as cmaras retm parte do que de si largaram aos prncipes. Cmaras eram senhorios, tendo domnio sobre seu termo5.

    Na vila ou cidade e no termo, as cmaras eram cabea de governo.6 A cmara da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab se identificava assim perante o rei: apresentamos a Repblica destas minas do Cuiab, de quem como cabea falamos. Os homens eleitos para as cmaras gozavam o direito de serem tratados como nobres, por ocuparem os cargos de juiz ordinrio, vereador, procurador e almotac.7

    2 MariaFernandaBaptistaBicalho.A cidade e o imprio:ORiodeJaneironadinmicacolonialportuguesa.TesedeDoutora-mentoemHistria.SoPaulo,USP,997.A.J.R.Russel-Wood.Centroseperiferiasnomundoluso-brasileiro,500-808.Re-vista Brasileira de Histria,998,vol.8,n36,p.87-250.

    3 Sobreagenealogiaaristotlico-tomistadobemcomum,v.JacquesLeGoff.O apogeu da cidade medieval.SoPaulo,MartinsFontes,992eAntonioManuelHespanha.ParaumateoriadahistriainstitucionaldoAntigoRegime,inAntonioManuelHespanha(org.).Poder e instituies na Europa do Antigo Regime.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,984,pp.29-30.So-brerepresentaesdeconcrdiaebemcomum(bonum commune, bene di tutti, common good),v.ChiaraFrugoni.Una lontana citt Sentimenti e immagini nel medioevo.Torino,Einaudi,983.

    4 MariaFernandaBaptistaBicalho.AsrepresentaesdacmaradoRiodeJaneiroaomonarcaeasdemonstraesdelealdadedossditoscoloniais.SculosXVIIeXVIII;inO municpio no mundo portugus Seminrio Internacional.Funchal,998,pp.523-543.MariaFernandaBaptistaBicalho.Sertodeestrelas:adelimitaodaslatitudesedasfronteirasnaAmricaportu-guesa;Vria Histria Revista do Departamento de Histria Programa de Ps Graduao;BeloHorizonte,UniversidadeFe-deraldeMinasGerais,n.2,jul/999,pp.73-85.MariaFernandaBaptistaBicalho.Asfronteirasdanegociao:ascmarasmunicipaisnaAmricaportuguesaeopodercentral.Anais do XX Simpsio Nacional da ANPUH,SoPaulo,Humanitas,999,pp.467-483.

    5 Otermoeraoquechamaramoshojedeterritriomunicipal.

    6 AntoniodeOliveira.As cidades e o poder no perodo filipino.RevistaPortuguesadeHistria,t.XXXI,vol.2,996,pp.306-340,aquip.33.

    7 LusVidigal.Nomicrocosmosocialportugus:umaaproximaocomparativaanatomiadasoligarquiascamarriasnofimdoAntigoRegimepoltico(750-830);inO municpio no mundo portugusSeminrioInternacional.Funchal,998,pp.20-2.

  • 23 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Reunindo em si os poderes legislativo, judicirio e executivo, poderes delegados a homens livres eleitos indiretamente, cmaras administravam territrio de grandeza varivel, o ter-mo, dentro do qual se delineava outro, urbanizvel, o rossio, em cujo centro se erguia um espao edificado, a vila (ou a cidade).

    O padro ordenador dos ambientes urbanos coloniais, extrado das Ordenaes do Reino e de normas eclesisticas e operacionalizado pelas cmaras, tornava as vilas lugares da poltica. Seu centro, alm de conter o pelourinho, era circundado pela igreja Matriz e pela casa-da-c-mara-e-cadeia, seculares expresses materiais do urbano portugus.8

    A atuao das cmaras era formalizada pelas posturas, prtica de governabilidade portu-guesa remontvel aos anos 1300.9 No ainda possvel saber quando foram aprovadas as pos-turas da Vila Real, mas quase certo que isso ocorreu ainda em 1727.

    A cmara do Cuiab normatizava o espao urbano, o fornecimento de gneros alimentcios a moradores da vila, o exerccio de ofcios mecnicos na vila e seu termo por meio de exames de Mestres de Ofcios, a sade (contratando cirurgies para atender as camadas mais pobres do povo e seus escravos, devido constelao do pas), a concesso de terras sesmariais.

    E, no Cuiab, a partir de 1786, sua cmara passou a produzir estes Anais. Anais que, se por um lado, constituem-se em fonte preciosa para a produo e a reproduo perenes da hist-ria do termo da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab, por outro tm sua prpria histria, complexa e merecedora de ateno.

    De incio, pode-se afirmar que os Anais da Vila Real resultaram da combinao de quatro vetores: os Estatutos ou Posturas da Vila Bela da Santssima Trindade, o trabalho individual do advogado licenciado Jos Barbosa de S, a carta proposta do provedor da Fazenda Real Felipe Jos Nogueira Coelho, doutor em leis pela Universidade de Coimbra, e uma Ordem Rgia de Dona Maria Primeira.

    Fica reiterada assim, desde j, a complexa importncia desse documento, no apenas para a histria do Cuiab (ou da repartio do Cuiab, expresso setecentista), mas tambm para a histria da repartio do Mato Grosso (ou termo da Vila Bela da Santssima Trindade). Em sntese: da capitania de Mato Grosso.

    Os Estatutos ou Posturas da Vila Bela da Santssima Trindade, aprovados em 1753, deter-minavam:

    8 PauloThedimBarreto.OPiauesuaarquitetura.RevistadoServiodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacional,vol.02,938,pp.87-223.E,domesmoautor,CasasdeCmaraeCadeia.Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional,vol.,947,pp.9-95.

    9 MariaHelenadaCruzCoelho.Opoderconcelhioemtemposmedievais,balanohistoriogrfico;inO municpio no mundo portugusSeminrioInternacional.Funchal,998,p.52.

  • 24 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Como tenha mostrado a experincia, que do pouco zelo e cuidado de escrever os sucessos, esto a maior parte das Povoaes e vilas do Brasil sem conhecimento e no-tcia alguma dos seus princpios, o que muitas vezes danoso Republica, e pelo con-trrio este cuidado e zelo pode ser proveitoso, no s a elas mais ainda a todo o Reino, visto que esta Vila se acha no seu principio, e em termos de poder fazer memria, ainda desde o descobrimento destas Minas: Acordaram que nesta comarca houvesse um Livro de Anal em que se escrevessem no fim do ano todos os outros sucessos per-tencentes a estas Minas e Vila, a saber: descobrimentos assim de ouro como de terras, rios, Gentios, (danificado) novas e suas causas, mudanas de Governos, assim sua (danificado) e quaisquer outros sucessos extraordinrios de (danificado), os da arte, cujo cuidado ter o segundo vereador, fazendo memria do dia, ms e ano, nomes das pessoas e suas qualidades, para no fim do ano, conferida em Cmara, se lanar no dito Livro de anal em que assinaro todos os oficiais dela, porque possa este assento ter a todo o tempo plenicissima f para os vindouros, e que o vereador segundo que for no ano que entra, far diligncia e obrigao ou averiguao desde o primeiro descobrimento destas Minas, at ao presente; e o dito vereador a quem competir faz-la no seu ano e faltar a este zelo e cuidado, se tomar assento em Cmara que fique inabilitado e expulso de tornar a servir nela.10

    Esse item das posturas municipais da Vila Bela diz bem da preocupao dos membros da segunda vereana da vila recm-fundada, do Juiz de Fora Teotnio da Silva Gusmo, doutor em leis pela Universidade de Coimbra e por seu cargo de presidente da cmara. Alis, Gusmo, certamente, teve papel importante na formulao do item 5 em 1753, como principal letrado na incipiente vila. No devia ignorar iniciativas postas em prtica no reino, como a Real Aca-demia de Histria, nem a condio de vila-capital da Vila Bela, nem a delicada circunstncia de ser vila fronteira, fronteando domnios hispnicos num momento em que o disposto no Tratado de Madri estava ainda por ser efetivado por comisses demarcatrias.

    Mas, para ser breve, basta frisar, neste ponto, a institucionalizao da feitura de Anais pelo segundo vereador, a ser discutida e consensualmente aprovada pelo colegiado camarrio. Essa iniciativa pode ser tomada como primeira reflexo oficial a respeito da produo de conheci-mento histrico nesta parte central da Amrica do Sul.

    0 CarlosAlbertoRosaeNaukMariadeJesus(transcrioanotada).EstatutosMunicipaisouPosturasdaCmaradaVilaBeladaSantssimaTrindadeparaoRegimentodaRepblicanoscasosemquenohleiexpressasegundooEstadodoPas.Cap-tulo2.Dos(danificado)Reais,(danificado)OficiaisdaCmara,tem5;inCarlosAlbertoRosaeNaukMariadeJesus(orgs.)A terra da conquistaHistriadeMatoGrossocolonial.Cuiab,Adriana,2003,p.99.NoanoanteriortranscriodomesmodocumentofoipublicadanarevistadoProgramadeMestradoemHistriadaUFMT:CarlosAlbertoRosaeNaukMariadeJe-sus[Transcrioanotada].EstatutosMunicipaisouPosturasdaCmaradeVilaBeladaSantssimaTrindade[ComNaukMa-riadeJesus].Territrios e FronteirasRevistadoProgramadePsGraduaoemHistriadaUniversidadeFederaldeMatoGrosso,vol.IIIn.2jul-dez/2002Cuiab,MT,pp.4-62.OmanuscritooriginalestnoacervodoArquivoPblicodoEstadodeMatoGrosso(Mss.,Avulsos,Lata753A).ParaumainterpretaodagnesedosAnaisdeVilaBela,queatribuiainicia-tivaaoescrivodacmaravilabelense,verPauloPitalugadaCostaeSilva.Prefcio,inJananaAmadoeLenyCaselliAnzai(organizadoras).Anais de Vila Bela 1734-1789.Cuiab,Carlini&Caniato/EdUFMT,2006,pp.7-9.

  • 25 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Vinte e trs anos depois, em 1776, morria na Vila Real do Bom Jesus do Cuiab o advogado licenciado Jos Barbosa de S. Dono de uma das grandes bibliotecas particulares da vila, S deixava inditas duas obras: os Dilogos..., uma obra enciclopdica concluda em 1769 e dedi-cada ao governador Lus Pinto de Souza Coutinho (e indita at hoje) e a Relao das povoaes do Cuiab e Mato Grosso, de seus princpios at os presentes tempos, que a mais conhecida. Esta ltima circulou dentro e fora da capitania de Mato Grosso, em cpias manuscritas.

    No mesmo ano em que S morria, chegava Vila Bela da Santssima Trindade o doutor em leis por Coimbra Felipe Jos Nogueira Coelho, nomeado pela rainha como provedor intenden-te da Real Fazenda.

    Em 1780, Nogueira Coelho escreveu uma carta dirigida ao ento governador Lus de Albu-querque de Melo Pereira e Cceres, que pode ser vista como uma segunda reflexo historio-grfica.11 Por sua decisiva importncia, indispensvel cit-la ainda que parcialmente. Em sua carta ao governador, Nogueira Coelho afirmava:

    [...] jamais encontrei idia mais til, no s instruo dos ministros, mas His-tria em geral, do que a bem advertida lembrana da cmara desta vila, que manda escrever por um vereador os Anais ou Memrias do que sucede anualmente, digno de histria. [...] Se uma to admirvel providncia fosse presente ao elevado conhe-cimento dos nossos soberanos, ela talvez teria feito em qualquer tempo parte da sua legislao. E se nas cmaras do Reino houvesse uma tal advertncia, no se expe-rimentaria aquela grande falta, de que informaram os corregedores e provedores, quando por ordem Real expedida pela Real Academia da Histria Portuguesa fize-ram naquelas cmaras exatas averiguaes, a fim de fornecerem notcias quela ilu-minada corporao que se acabara de estabelecer. Como a serventia interina do cargo de ouvidor no me permite fazer correio na vila do Cuiab, falta-me a ocasio de poder persuadir quela cmara este bem comum e esta glria singular da capitania, que deve transcender a todas as suas vilas, pelo exemplo da cabea da comarca; mas os desejos de ver aumentadas e gloriosas estas colnias, me conduzem presena de V. Ex., rogando se digne faz-los eficazes, com a determinao de que a cmara12 d efetivo princpio a uma ao to louvvel e que servir de grande socorro para a Histria do Brasil.13

    No a deve dificultar a falta que houve no princpio. Quando se fundou Vila Bela no ano de 1752, j havia o descoberto do Mato Grosso desde o ano de 1734, e aos Anais que tiveram princpio com a vila, precedeu no livro uma breve Relao ou Me-mria (mas por ordem cronolgica) do mesmo descoberto e fatos respectivos. Na vila do Cuiab se poder observar o mesmo, por pessoa instruda e de bom discernimen-

    OquesegueestfundadoemmanuscritoexistentenoArquivoPblicodoEstadodeMatoGrosso,emCuiab(SrieAvulsos,Lata780).Omanuscritodatadode04-04-780efoiescritonaVilaBeladaSantssimaTrindade.

    2 DaviladoCuiab.

    3 Note-sequenestepargrafoNogueiraCoelhotransitadoparticularparaogeral,pormeiodecontnuasampliaes:aprodu-odememriasescritasnacmaradoCuiabserviraobem comum,capitania,ouaestas colnias(o Cuiabeo Mato Grosso)e,porfim,Histria do Brasil.

  • 26 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    to e lhe fornecer luzes no s a tradio, mas o livro manuscrito ou Memrias que deixou o Licenciado Jos Barbosa14 e outras mais, que me consta haver na dita vila.15 [...] Poder tambm obstar que naquela vila h poucos fatos memorveis, por no ser residncia do governo, nem cabea da comarca, mas o tempo e os descobertos pode-ro fazer que por separao venha ainda ser uma e outra coisa.16 [...] Mas no deve impedir que deixe de escrever-se anualmente as memrias das fundaes e estabele-cimentos e de outros fatos, que a sociedade civil e o comrcio costumam produzir em povoaes grandes e j civilizadas, deixando aos historiadores futuros a escolha dos fatos que a boa crtica lhes ditar que devam entrar nos seus tratados. E sendo certo que s a eles pertence imitar os Tucdides, os Lvios e os Barros, estas Memrias s se devem escrever em estilo tnue, ou ordinrio,17 e nada extenso, ou asitico.18

    E porque a formalidade que se deve seguir na narrao dos fatos deixar perplexos os vereadores, eu ajunto uma cpia do Anal desta vila do ano de 1779, conhecendo que na cmara daquela vila h a maior vantagem em ter presidentes Ministros Le-trados, que com o seu zelo e discernimento ho de promover este bem comum. Mas no posso deixar de lembrar que as ditas memrias so aqui escritas pelo vereador segundo (atendido o impedimento que pode ter o primeiro, servindo de juiz), que no fim do ano as apresenta em cmara. Sendo ali reconhecidas verdadeiras, se mandam registrar no livro destinado para elas, lavrando o escrivo no fim do registro um Al-var de Confirmao, em que assina todo o Corpo da cmara, atestando que os fatos daquele Anal passaram na verdade.

    O livro deve ser rubricado, grande, digno da obra, e escolhido para a durao. Ao escrivo da cmara determinou o ouvidor Doutor Miguel Pereira Pinto, em correi-o, se pagasse o salrio da raza19 em dobro, para que fizesse o registro com asseio e com certeza e para que, no escrevendo muito bem, procurasse escrevente capaz, dando-lhe a metade do salrio. O escrivo costuma mandar este livro com os mais da cmara, s correies dos ouvidores.

    Lus de Albuquerque enviou cpia dessa carta rainha, e, em 1782, Dona Maria assinou ordem rgia dirigida a todas as capitanias da Amrica portuguesa. Apenas para exemplificar, segue um desses casos, referente comarca do que , hoje, o estado do Paran, colhido na in-ternet:

    4 JosBarbosadeS.

    5 Acrer-senestapassagemdeNogueiraCoelho,existiamnaviladoCuiab,nasegundametadedosculoXVIII,outrasme-mriasescritasalmdaRelao...deBarbosadeS.

    6 Em780,portanto,aidiadeumaseparaodasduasrepartiesqueformavamacapitaniadeMatoGrosso,o Cuiabeo Mato Grosso,eraclaramenteexplicitadacomoargumentolgico;certamenteexpressavaumamaterialidadedeinteressesantagnicos.

    7 Descritivo.

    8 Reflexivo/interpretativo.

    9 Custas.

  • 2 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Proviso Rgia expedida pelo Conselho Ultramarino em 20 de Julho de 178220

    Dona Maria por Graa de Deos, Rainha de Portugal, e dos Algarves daquem, e dalem, mar em frica, Senhora de Guine e da conquista etc.

    Fao saber ao governador e capito general da capitania de So Paulo que eu sou servida Ordenar-vos que pelos ouvidores das comarcas, faais praticar o arbitro, de se mandar efetivamente fazer todos os anos as Memrias anuais dos novos estabeleci-mentos, fatos, e casos mais notveis e dignos de histria, que tiverem sucedido desde a fundao dessa capitania e forem succedendo; sendo estes escritos pelo Vereador se-gundo, atendendo-se o impedimento que pode ter o primeiro, servindo de Juiz, o qual no fim de cada um ano, os apresentar em Camara onde lidos e examinados se faro registrar em um livro destinado para este fim; dando f todo o corpo de Vereadores por escrito de serem aqueles fatos e sucessos na verdade. Recomendo outrossim que os mesmos ouvidores em correio tenham particular inspeo em to interessante matria. A Rainha nossa Senhora, o mandou pelos conselheiros do seu Conselho Ul-tramarino abaixo assignados e se passou por duas vias. Antonio Ferreira de Aze-vedo a fez em Lisboa a 20 de Julho de 1782 O secretrio, Joaquim Miguel de Lavre o fez escrever Miguel Serro Diniz Joaquim Baptista Vaz Pereira. Est conforme. Miguel Carlos Ayres de Carvalho Est registrada em um dos livros de registro da cmara municipal da cidade de Paranagu.

    A partir de 1782/1783, a ouvidoria da capitania de Mato Grosso, sediada na Vila Bela, co-meou a pressionar a cmara da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab, para que desse cumprimento ordem rgia. Mas dada a animosidade entre a cmara cuiabana e o governo e ouvidoria sediados na Vila Bela, dentre outras razes pela apropriao das rendas de So Pedro del Rei (atual Pocon), pertencente ao termo da Vila Real, a execuo da ordem se foi postergando.

    Em abril de 1784, o Juiz de Fora do Cuiab, Antonio Rodrigues Gaioso, sofreu atentado de morte na casa junto igreja de Santana na Chapada:

    [...] lhe dispararam um tiro de arcabuz com balas e perdigotos, que miraculo-samente o no acabou logo ali, e a sua felicidade esteve em o agressor (pelo que se alcana do estrago que fizeram os pelouros na parede e batente da porta em que ento se achava o dito ministro) disparar-lhe o tiro encostado ou muito chegado parede da igreja, ao correr da qual se achava a porta, e por isso irem os pelouros aos solais; assim mesmo ficou muito maltratado, porque entranharam-lhe perdigotos pela bar-riga, pelo quadril e pela mo esquerda, e suposto viveu, no deixou contudo de ficar puxando algum tanto ou quanto da perna esquerda, por causa de uma bala que lhe entrou nesse quadril. Foi conduzido para esta vila em uma rede, que carregaram os ndios com muito trabalho, porque ele era bastante cheio e alto [...].

    20 www.patrimoniocultural.pr.gov.br/arquivos//benstombados/File/BIBLIOGRAFIA

  • 28 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Tal acontecimento, por sua gravidade, deve ter tambm contribudo e, mais diretamente, para que se prorrogasse o cumprimento da ordem rgia pela cmara foi na verdade grande o rumor dos povos.21

    S em meados de 1786 teve incio a produo dos Anais do Cuiab. Figura proeminente nesse processo foi o Juiz de Fora Diogo de Toledo Lara Ordonhes, de poderosa famlia paulis-tana e com laos de parentesco entre membros da elite do Cuiab.

    O ano de 1786 parece ter sido um desses anos em que relaes da colnia com a metrpole e relaes intra-coloniais tiveram suas contradies aguadas. Manifestaes claras de processo conceituado por Fernando Novais como crise do Antigo Sistema Colonial. Por um lado, o esboar-se de um projeto de descolonizao; por outro, o claro delineamento de uma ao recolonizadora. Permeava, porm, essas duas grandes, complexas e contraditrias foras, o escravismo que freava o movimento de ambas.

    Nesse ano, um astrnomo paulista, Lacerda e Almeida, estando na vila do Cuiab, denun-ciava coroa portuguesa seu colega das Gerais Antonio Pires da Silva Pontes:

    [...] rarssimos so os dias em que o Dr. Antonio Pires da Silva Pontes, com insultos e improprios ditados pelo seu natural satrico e insultante, diretamente no desafie a nossa tolerncia [...]. Esta verdade provarei com todas as pessoas mais autorizadas de Mato Grosso, juntando que todos tem sido ridculo objeto para os seus olhos, no respeitando as Pessoas que pelo seu honrado proceder e sua dignidade deveriam ter escapado a sua indiscreta lngua. Este seria o menor de seus crimes, se pelo esprito de rebelio que nele reina, pudesse por em prtica os discursos que imprudentemente tem proferido de dever ser Minas Gerais, sua Ptria, cabea de um grande Reino, fal-tando obedincia devida a nossa soberana e aos deveres de cidado. [...].22

    Simultaneamente, confrontos entre famlias poderosas do Cuiab e o governo sediado na Vila Bela levaram o governador Lus de Albuquerque a inusitado destempero, acusando, sem identificar, moradores do Cuiab e fazendo ameaas graves:

    [...] andam como pregando malvadamente certas Misses, para que ningum se mude desse domiclio para este Pas (que alis necessita de ser povoado como sua Majestade quer e manda precisamente), que todos o abominem, pintando-lhe como um agregado de misrias com outras mais cores denegridas e ingratssimas, a fim de fraudar os interesses e Servio da mesma Senhora, quando o dito Pas excede muito e em muitas coisas a esse do Cuiab, no lhe cedendo em nada mais que em haver nesse um pouco mais de peixe ruim com alguma carne de vaca. [...] dou a minha palavra

    2 JoaquimdaCostaSiqueira.CompndiohistricocronolgicodasnotciasdeCuiab,repartiodacapitaniadeMatoGrosso.Desdeoprincpiodoanode778atofimdoanode87.Revista trimensal de histria e geografia ou jornal do Instituto His-trico e Geogrfico Brasileiro.trimestrede850,pp.3-4.

    22 FranciscoJosdeLacerdaeAlmeidaaMartinhodeMeloeCastro;Cuiab,24.09.786;mss.Microficha346,(AHU)-NDHIR/UFMT.

  • 29 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    de que [...] ho de ser imediatamente apreendidos e transportados fora para este dito Pas [...].23

    Simultaneamente, ocorria Visita Geral da Comarca Eclesistica do Cuiab, estimulando denncias de pecados sexuais, concubinatos, heresias.

    Foi nessa conjuntura que Diogo de Toledo presidiu a produo de uma histria do Cuiab, eminentemente laica.

    Em junho de 1786, Diogo de Toledo assinava o Termo de Abertura de Livro, que deveria conter a Relao Cronolgica dos estabelecimentos, fatos e sucessos mais notveis que acontece-ram nestas Minas do Cuiab desde o seu estabelecimento. Dava incio, assim, ao cumprimento da Ordem Rgia de 1782. Em dezembro de 1786, o Senado da Cmara aprovava a Relao Cro-nolgica concluda, cobrindo 67 anos e incluindo anotaes de Diogo de Toledo.

    Em seis meses, portanto, foi produzida verso oficial sobre o processo histrico da reparti-o do Cuiab, com algumas referncias do Mato Grosso. De acordo com o modelo de Vila Bela e com a ordem rgia de 1782, a redao coube ao segundo vereador, o texto final sendo aprovado pelo presidente e demais camaristas.

    Dada a extenso temporal a ser coberta por essa narrativa, sua elaborao, anlise e apro-vao e escritura final ocupariam muito mais tempo que o efetivamente utilizado. O fato de o ento segundo vereador ser Joaquim da Costa Siqueira, que gozava da total confiana de Diogo de Toledo, certamente facilitou o apressamento da aprovao. Alm disso, Siqueira compilou, com alteraes significativas, a Relao ... de Jos Barbosa de S, at o ano de 1765.

    O terceiro vereador, Manuel Nunes de Brito Leme, natural de Gois, era tambm aparenta-do a Diogo de Toledo. Nessas condies, o Juiz de Fora tinha maioria na cmara, o que tornou mais fcil obter a concordncia do vereador mais velho, Joaquim Lopes Poupino e do genro deste, Manuel Ventura Caldas ambos portugueses.24

    Ainda anexadas ao ttulo de seu trabalho, Costa Siqueira fornecia as seguintes observaes sobre as fontes que utilizou e as tcnicas que empregou:

    [...] por no achar outras algumas lembranas antigas, nem tambm pessoas da-quele primeiro tempo para os poder mendigar, se viu obrigado a escrever fielmente tudo quanto havia escrito Jos Barbosa de S, advogado que foi dos auditrios desta

    23 LusdeAlbuquerquedeMeloPereiraeCceresaoMestredeCampoAntonioJosPintoFigueiredo;Casalvasco,06.2.786;mss.,LivrodeRegistroC-26,cit.,f.s.9-92v;APMT.

    24 EssaRelao CronolgicapassouaserconhecidacomoAnais do Senado da Cmara de Cuiab,ttulocomquereferidaain-dahoje.TestamentoeInventriodeManuelNunesdeBritoLeme;Cuiab,05-05-792;mss.,SrieInventriosdoCartriodo5Ofcio,Mao42,Processo597,APMT.SilvaLeme,Genealogia Paulistana,vols.II,III,IV,VeVIII.A.deE.Taunay,His-tria Geral...,vol.X,pp.27272;JosBarnabdeMesquita.JooPoupinoCaldas.Revista do Instituto Histrico de Mato Gros-so,934,pp.737.

  • 30 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Vila e seu republicano, que ainda nesse tempo pde conseguir algumas notcias an-tigas e as mais que presenciou e sucederam estando ele nestas Minas, at o ano de 1765; corrigindo unicamente aquilo que pde achar contrrio e acrescentando os que se omitiram, talvez por falta de lembranas e prosseguindo do dito ano de 1765 em diante com os mais fatos que ocularmente presenciou e outros que so constantes, e praticando o mesmo sistema que teve aquele primeiro escritor, de relacionar tambm todos os Ministros e Procos que se tm seguido do dito ano para c.25

    Mas, no texto que produziu, aprovado por seus pares camaristas, Costa Siqueira deixou claro que introduziu muita coisa no discurso de Barbosa de S, e que utilizou outras fontes, que no cita. Assim, por exemplo, ao narrar acontecimentos de 1726, introduziu transcries de cartas rgias dirigidas a paulistas, seguindo em tudo a obra de Pedro Taques de Almeida Paes Lemes, Informaes das Minas de So Paulo e dos Sertes da Sua Capitania desde o ano de 1597, at o presente de 1772, com Relao Cronolgica dos Administradores dela, que em 1786 ainda estava indita. Mas em nenhum momento explicita a obra de Taques como fonte. Prefere manobra diversionista, referindo-se aos arquivos do Conselho Ultramarino:

    [...] que todas se acham registradas na Secretaria do Conselho Ultramarino, no li-vro dos registros intitulado Cartas do Rio de Janeiro, que principiam em 28 de maro de 1673 e acabam em 15 de dezembro de 1700 [...].

    Como, porm, Siqueira nunca esteve em Lisboa transcrevendo documentos dos arquivos do Conselho Ultramarino, h de ter obtido essas transcries ou diretamente de seu primo Pedro Taques, ou de Diogo de Toledo. Num ou noutro caso, o intrigante o silncio sobre Taques e sua obra.26

    A essas sobreposies preciso acrescentar as anotaes feitas por Diogo de Toledo Lara Ordonhes, discutindo basicamente afirmaes colhidas na Relao... de S e trasladadas para os Anais.

    A narrativa dos Anais do Cuiab , at 1765, feita com, pelo menos, quatro camadas: Jos Barbosa de S, Pedro Taques de Almeida Paes Leme, Joaquim da Costa Siqueira e Diogo de Toledo Lara Ordonhes.

    A partir de 1766, at 1786, Siqueira foi narrador exclusivo. Depois, nos anos subseqentes, vieram outros segundos vereadores.

    25 Anais do Senado da Cmara de Cuiab,mss.ArquivoPblicodoEstadodeMatoGrosso.EstesAnais,cujottulodeveriaserRelao Cronolgica...,foramimpressosparcialmentepelaprimeiraveznaRevista do Instituto Histrico e Geogrfico de So Paulo,vol.IV,898-899,pp.4-27,comumterceiropr-ttulo:CrnicasdoCuiab.

    26 Utilizeiparaestasobservaes,aediode980dasInformaes das Minas de So Paulo...,dePedroTaques,publicadascomottuloNotcias das Minas de So Paulo e dos Sertes da mesma Capitania,SoPaulo/BeloHorizonte,EDUSP/Itatiaia,pp.42-50,52,54,87,88,40,45,46,quecorrespondemspp.39,40,4e42dasCrnicasdoCuiab.

  • 31 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Alm disso, h faltas de pginas (ou flios), anos seguidos sem registros, feitos posterior-mente, aspectos que, por sua vez, so tambm indcios da historicidade da produo e da con-servao dos Anais.

    Assim, por exemplo, faltam pginas referentes a 1795, ano em que o confronto da cmara do Cuiab com o governador Joo de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres foi muito intenso, com prises e violncias. Faltam tambm pginas referentes aos anos de 1799, 1801, 1808, 1809, 1810, 1811, 1812 e 1813 , o que est por ser explicado. Talvez o ano de 1801 tenha sido marcado pelo ataque espanhol ao forte de Coimbra, mas isto precisa ainda ser examinado.

    A emancipao poltica entre 1821 e 1822, a nova legislao que, em 1828, introduziu mu-danas na estrutura das cmaras municipais e a Rusga de 1834 podem ter contribudo para um progressivo abandono das atividades camarrias no que respeita continuidade da produo dos Anais. Futuros estudos devero esclarecer isto.

    Uma tentativa de tornar mais visvel todos esses movimentos internos no documento que agora entregue ao pblico pode ser o grfico elaborado em fins dos anos 1970 pela historia-dora Neuza Maria Bini Pereira, que fez, na Universidade Federal de Mato Grosso, transcrio indexada dos Anais, infelizmente no publicada. Uma adaptao desse grfico est nas pginas 32 e 33.

    O trabalho da historiadora Neuza Bini tambm compe a histria j secular dos Anais. Tan-to no que respeita ao estudo dos mesmos, quanto sua preservao. Nessa parte mais recente da j longa histria dos Anais, no deve ser silenciada a efetiva participao da historiadora Terezinha de Jesus Arruda, do Reitor Gabriel Novis Neves, e, antes de todos e especialmente, do historiador Estevo Anastcio Monteiro de Mendona. Estevo de Mendona no apenas organizou o Arquivo Pblico do Estado de Mato Grosso, como cuidou da encadernao dos Anais com Avelino de Siqueira e foi responsvel pela sobrevivncia desse documento, quando ocorreu incndio no arquivo da cmara de Cuiab.

    Agora, certamente, os Anais, gerados por vastas e ainda pouco visveis relaes sociais, ga-nha sobrevida que dever ser multissecular, como que retornando s mos da grande maioria invisvel que, direta e indiretamente, possibilitaram sua produo e preservao. Com traba-lho. Das mos e das mentes.

  • ESTRUTURA TEMPORAL DA NARRATIVA DOS ANAIS 1

    AdaptadodeNeuzaMariaBiniPereira.IntroduoaosAnaisdoSenadodaCmaradeCuiab,dat.,EncontrodePesqui-sadoNcleodeDocumentaoeInformaoHistricaRegionalUFMT,Cuiab,977.NeuzaMariaBiniPereira.OProjetoAnaisdoSenadodaCmaradeCuiab,dat.ComunicaoapresentadanoIXSimpsioNacionaldaANPUH,RiodeJaneiro,977.

    2 CitaodotextodeCarlosRosa,nestaedio.

    3 TrechodaordemrgiadarainhadonaMaria,citadanotextodeCarlosRosa,nestaedio.

    1719

    1786

    1830

    1827

    1787

    1817

    1821

    1720

    1730

    1740

    1750

    1760

    1770

    1780

    1790

    1800

    1810

    1820

    1843

    Narrativas anuais realizadas pelos segundos Vereadores, no fim de

    cada ano (de 1787 a 1817)

    Narrativas realizadas

    posteriormente

    Perodo relatado

    1820-18241825-18271828-1830

    Intervalo de tempo entre os anos de 1830/1843

    Anos em que as narrativas foram realizadas

    Perodo relatado

    1818-1819

    ltimoPargrafo Anotado

    M O M E N T O 3M O M E N T O 3M O M E N T O 2M O M E N T O 2M O M E N T O 1M O M E N T O 1

    Perodo relatado

    1825-1827

    A narrativa dos Anais do Cuiab , at 1765, feita com pelo menos quatro camadas: Jos Barbosa de S, Pedro Taques de Almeida Paes Leme, Joaquim da Costa Siqueira e Diogo de Toledo Lara Ordonhes.

    Narrativa de Joaquim da Costa Siqueira, realizada no segundo semestre de 1786, referente

    aos anos de 1719-1786. Siqueira compilou, com alteraes significativas, a Relao das

    povoaes do Cuiab e Mato Grosso..., de Jos Barbosa de S, de 1719 a 1765, e outros.

    A partir de 1765, Siqueira narrou os fatos que ocularmente presenciou. 3

    Em 20 de julho de 1782, a rainha de Portugal Dona Maria, atravs de proviso rgia expedida pelo

    Conselho Ultramarino, ordena aos ouvidores das comarcas que se faa [...] as Memrias anuais dos

    novos estabelecimentos, fatos, e casos mais notveis e dignos de histria, que tiverem sucedido desde

    a fundao dessa capitania e forem sucedendo; sendo estes escritos pelo Vereador segundo [...]. 2

    32 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

  • MOMENTO (786) Narrativa organizada por JoaquimdaCostaSiqueira, segundovereador,porordemdoou-vidorDiogo de Toledo Lara Ordonhes, compreendendoumacronologiade79a786.De79a765, Siquei-ratrazparaosAnaisacronologiadeJosBarbosadeS,entreoutros.

    MOMENTO2 (787-87)Asnarrativas foramrealizadasanualmentepelossegundosvereadores.

    MOMENTO3(82,827,830)Asnarrativasforamreali-zadasposteriormente, abrangendoosperodosdestaca-dosnoinfogrfico.

    1719

    1786

    1830

    1827

    1787

    1817

    1821

    1720

    1730

    1740

    1750

    1760

    1770

    1780

    1790

    1800

    1810

    1820

    1843

    Narrativas anuais realizadas pelos segundos Vereadores, no fim de

    cada ano (de 1787 a 1817)

    Narrativas realizadas

    posteriormente

    Perodo relatado

    1820-18241825-18271828-1830

    Intervalo de tempo entre os anos de 1830/1843

    Anos em que as narrativas foram realizadas

    Perodo relatado

    1818-1819

    ltimoPargrafo Anotado

    M O M E N T O 3M O M E N T O 3M O M E N T O 2M O M E N T O 2M O M E N T O 1M O M E N T O 1

    Perodo relatado

    1825-1827

    A narrativa dos Anais do Cuiab , at 1765, feita com pelo menos quatro camadas: Jos Barbosa de S, Pedro Taques de Almeida Paes Leme, Joaquim da Costa Siqueira e Diogo de Toledo Lara Ordonhes.

    Narrativa de Joaquim da Costa Siqueira, realizada no segundo semestre de 1786, referente

    aos anos de 1719-1786. Siqueira compilou, com alteraes significativas, a Relao das

    povoaes do Cuiab e Mato Grosso..., de Jos Barbosa de S, de 1719 a 1765, e outros.

    A partir de 1765, Siqueira narrou os fatos que ocularmente presenciou. 3

    Em 20 de julho de 1782, a rainha de Portugal Dona Maria, atravs de proviso rgia expedida pelo

    Conselho Ultramarino, ordena aos ouvidores das comarcas que se faa [...] as Memrias anuais dos

    novos estabelecimentos, fatos, e casos mais notveis e dignos de histria, que tiverem sucedido desde

    a fundao dessa capitania e forem sucedendo; sendo estes escritos pelo Vereador segundo [...]. 2

    33 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

  • Sec. Est. Neg. Marinha e Domnios

    Ultramarinos

    Conselho da Fazenda

    Contos doReino e Casa

    Conselho da Fazenda

    Bispado

    Freguesias Parquias

    Prelazia

    Justia

    Tropa de 1 Linha

    Tropa Auxiliar/Ordenanas

    Fazenda

    Fazenda

    Justia

    Rela

    o

    dire

    ta

    Tropa de Linha Relao do Estadodo Brasil

    Cuiab 1808

    Provedor

    Desembargadores

    Ouvidor Tabelies do Pblico e do Judicial Escrives Meirinhos

    Casa da SuplicaoMesa da

    Conscincia e Ordens

    Desembargo do Pao

    Conselho Ultramarino

    Governador Geraldo Estado do Brasil

    Governador/Capito - General

    CmaraCmara

    Re i /Ra inhaRe i /Ra inha

    Juiz de Fora (presidente) Vereadores Juzes Ordinrios Procurador Almotac Alcaide Escrivo Porteiro Carcereiro

    35 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    A CMARA DO CUIAB NO CONJUNTO ADMINISTRATIVO SETECENTISTA

  • 38 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    O Instituto de pesquisas Histricas Dom Aquino Corra, no empenho de salvaguardar o nosso precioso patrimnio histrico, mandou restaurar os Anais do Senado da Cma-ra de Cuiab, contando para isso com o alto patrocnio do ilustre Secretrio de Educao e Cultura do Estado de Mato Grosso Dr. Gabriel Novis Neves e com a colaborao valiosa do Sr. Adalberto Barreto, diretor do Laboratrio de Restau-rao da Biblioteca Nacional.

    Cuiab, 26 de agsto de 1968

    Pe. Wanir Delfino Csar Dr. Luiz Philippe Pereira Leite Dr. Olyntho Gonalves Filho

  • 41 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Este livro h de servir para nelle se lanarem as Memo-rias annuais dos novos estabelecimentos, factos e cazos mais notaveis e dignos da historia, que tiverem sucedido desde a fundao desta Capitania e forem sucedendo [ilegvel] Me-morias ho de ser escritas pelo Vereador Segundo deste Sen-nado, e apresentadas ao mesmo no fim de cada hum anno, para serem revistas, examinadas, emendadas e approvadas, tudo na conformidade da Real Provizo de 20 de julho de 1782, enviada por copia pelo Dr. Ouvidor Geral da Commar-ca com carta sua de oficio dattada a 18 de Fevr.o do presente anno. Vai numerado e rubricado por mim Juiz de Fora Pre-zid.te do mesmo Sennado com a m custumada rubrica de Ordonhez.

    Cuyaba, 20 de Junho de 1786

    Diogo de Toledo Lara Ordonhez

    V.to em Correio V.to em Corr de 1805 de 1799

    [assinatura ilegvel] [assinatura ilegvel]

    Visto em Correio de 1821 Vai com Provimento a fl. 175

    Chaves

    [fl. 1]

    [fl. 1v, em branco]

  • 43 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Rellaao Chronologica dos estabalecimentos, factos e sucessos mais notaveis que acontessero nestas Minas do Cuyab, desde o seo estabalecimento que por ordem da Ray-nha Nossa Senhora expedida pelo seo Tribunal do Conselho Ultramarino em 20 de Julho de 1782, que se acha no Arquivo do Senado da Camara desta Villa, e registado no L do registo das Provizoins a f. 196 verso sendo Prezidente deste mesmo Senado o Doutor Juis de Fora Diogo de Tolledo Lara Ordo-nhez, Vereadores o Capitam Joaquim Lopes Poupino, o Te-nente Joaquim da Costa Siqueira, o Alferes Manoel Nunes de Brito Leme, e Procurador Manoel Ventura Caldas, escreveo o Segundo Vereador j declarado, que por no achar outras algumas Lembranas antigas, nem to bem Pessoas daquelle primeiro tempo para as poder mendigar, se vio obrigado a Es-crever fielmente tudo quanto havia escripto Joz Barboza de S, Advogado que foi dos Auditorios desta Villa, e seo Repu-blicano, que ainda nesse tempo pode conseguir algumas no-ticias antigas; e as mais que prezenciou, e sucedero estando elle nestas Minas th o anno de 1765 corrigindo unicamente aquilo que pode achar contrario e acrescentando as que se omitiro talvez por falta de Lembrana, e prosseguindo do dito anno de 65 em diante com os mais factos que ocullar mente prezenciou, e outros que sam constantes, e praticando o mesmo sistema que teve aquelle primeiro escriptor, de re-lacionar, to bem todos os Menistros e Parrochos que se tem seguido do dito anno para c.

    [fl. 2]

    [fl. 2v, em branco]

  • 45 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    Chronicas do Cuyab 1

    Entre as mais colonias do brazileo Estado ou America Portugueza merece prima-zia a celebre cidade de S. Paulo, famosa planta do santo e veneravel Padre Jos de An-chieta, missionario do Brazil, da companhia de Jesus, natural das ilhas de Canaria, no territorio chamado dos seus naturaes Piratininga, regado com as aguas dos rios Tiet e Tamanduatiba, adonde a F levantou o primeiro padro e arvorou os seus estandar-tes, fazendo celleiro da Palavra Divina para extender nas dilatadas sementeiras deste extenso hemispherio, cultivando os agrestes silvados do paganismo em fructiferos vergeis da Egreja Santa.

    Continuando, os moradores daquella extensa capitania, operarios desta santa la-voura, em militares progressos, a expugnaram dos comarcos de onde colhiam almas para Deus e utilidades humanas, augmentos com que se estabeleceram aquelle paiz e seus adjacentes. Invadidos os mais propinquos, foram se extendendo aos longes, fazendo com os mesmos neophitos guerra s mais remotas barbaridades. Huns para os Catagos, sitio chamado hoje Minas-Geraes, para os Catezes, Coroados, Puris e outras naes at o rio de S. Francisco. Outro, cursando o vasto poder do Cayap, chegaram aos Goyas, Carayas, Quirixs e outros varios que de todos tiravam muita somma delles e reduziam do agreste vida catholica e urbana. Outros, com dobra-das foras, rodando as aguas dos rios Tiet e Anhambahi, chamado hoje Rio Grande, foram colhendo varias gentes at as barras do rio Panema, Pardo e Anhanduhi, entre varios lances de fortuna em continuao dos tempos de quem seguiremos os passos como objecto da nossa historia.

    Versando estes famosos aventureiros, tanto americanos a quem chamavam pau-listas pela nominao da patria, como europeus chamados emboabas, nome derivado das gallinhas caladas por no largarem as meias e sapatos em todo o servio, auxi-liados dos mesmos indios que amansavam, com quem faziam guerra as barbaridades. Acharam nos principios alm do rio Panema algumas povoaes de gentes catholicas, reduzidas pelos padres missionarios castelhanos, com egrejas j levantadas e offere-cidas, e officinas de varias fabricas que expugnaram, prenderam muitos dos indios, lanaram os brancos e destruiram as feitorias. Acha-se ainda hoje por memoria nes-ses logares um monto de telha arrumada, coberta de matto, um quarto de legua afastado da barra do rio Panema.

    Subindo o Rio Pardo e tomando a barra do Anhanduhy e Anhangoby, que so dous rios nascidos de uma madre, navegando estes acima, acharam seis povoaes de gente castelhana, brancos, indios e mestios, com egrejas, casas de telha e officinas de

    Segundoregistroalpisnafolha9dosAnnaes,em28dejunhode950oGen.SilveiradeMelloconstatouafaltadasfolhas3a8.Parapermitiraleituradestatranscrio,foipossivelrecomporotextodooriginaldesaparecidoapartirdareproduodepartedoartigopublicadonaRevistadoInstitutoHistricoeGeogrficodeSoPaulo,emsuaedioreferenteaosanos898-899(volume4),excluindoasnotas.ODr.A.deToledoPiza,sciodoInstituto,recuperou,recomps,anotouepublicouori-ginaismanuscritosdeJoaquimdaCostaSiqueira,vereadordaCamaradoCuyaba.Naapresentaoaotextopublicadonare-vista,ToledoPizaquerecebeuessesoriginaisdasmosdafamiliadotenente-generalJosArouche,informa:Diz o chro-nista [JoaquimdaCostaSiqueira]que, para os factos occorridos[de723]at o anno de 1765, no fez mais do que copiar, com al-gumas correces, as Chronicas do Cuyaba de Jos Barbosa de S, e que daquela data em deante descreveu os factos por conta pro-pria, conforme o conhecimento pessoal que delles tinha.d

  • 46 Annaes do Sennado da Camara do Cuyab | 119 1830

    varias operaes, bois, cavallos e carneiros, a quem os nossos famosos capites, como fieis portuguezes, fizeram guerra, e pondo em fuga os brancos recolheram muitos indios, destruiram e queimaram as feitorias, vendo que pertenciam aquelles logares aos dominios portuguezes, adonde se acha por memoria algum gado vaccum, cha-mado hoje A Vaccaria, o que causou tanto espanto e terror s povoaes castelhanas da provincia do Paraguay que no tornaram a fazer passagem para c, e si assim no fra seriam hoje os castelhanos senhores de todos estes nossos logares at S. Paulo, Goyas e Minas Geraes.

    Correndo os tempos, continuando aquelles aventureiros as suas conquistas, che-garam a navegar o rio Paraguay, descendo uns pelo Coxim, outros pelo Matetu e pelo Cahy, que sahem ambos das mesmas Vaccarias, e entrando pelas grandes bahias que acompanham as margens deste rio foram achando tantas naes de gentes que no cabem nos archivos da memoria, e s me lembram as seguintes: Corays, Pacoacentes, Xixibes, Axans, Porrudos, Xacoreres, Aragoars, Coxipones, Popucunes, Arapocunes, Mocor, Paragoanes, Apecones, Boripocunes, Itilapores, Jaymes, Goats e Aicurs.

    Divertidos aquelles portuguezes com estas gentes e fertilidade das terras, adonde se colhem os fructos sem plantar, esquecidos das patrias, mulheres e filhos e, sobre-tudo, das obrigaes de catholicos passavam as vidas, annos e annos, at que subiram o rio Cuyab, assim chamado por acharem em suas margens cabaas plantadas pelo gentio, de que faziam cuias para seus usos. Outros affirmam que o nome de Cuyab era nome de gentio, que neste rio habitava. Dos capites das bandeiras antigas no achei memorias e s sim dos que exercitaram estes empregos nos tempos proximos ao invento destas minas, que eram os seguintes: Manoel de Campos, paulista, e seu filho Antonio Pires de Campos, Joo de Farias Taveira, europo, seu filho Joo de Farias, Francisco Xavier, europo, Pedro Leme, Antonio Borralho de Almada, Joo Leme e seu irmo Loureno Leme, Gabriel Antunes e seus irmos Antonio Antunes Maciel e Filippe Antunes Maciel e Paschoal Moreira Cabral, todos paulistas.

    Destes, o primeiro que subiu o rio Cuyab foi Antonio Pires de Campos em pro-cura do gentio Coxipon, chegou a uma aldeia delles no lugar aonde esteve a capella de So Gonalo, que por isso tem hoje o nome de So Gonalo Velho, e ahi prendeu muitos e voltou para baixo em procura das mais frotas, que andavam por essas bahias solicitando as mais naes.

    No seguinte anno proseguiu Paschoal Moreira Cabral o mesmo rumo em busca dos Coxipons, chegou ao logar da aldeia j destruida e, no achando vestigio algum delles, subiu o rio Coxip acima, nominao derivada do nome do mesmo gentio, e, fazendo pouso logo acima da barra, acharam ouro em granetes cravados pelos bar-rancos.

    Neste pouso e primeiro descoberto deixou o capito a bagagem e seguiu rio acima at o logar chamado hoje Forquilha; ahi achou o gentio, em quem fez suas presas com bastantes mostras de ouro em botopuis e outros enfeites e buscando os companhei-ros com elles desceu a fazer pouso no logar de So Gonalo Velho, a que chamavam aldeia velha. Ali formaram seu arraial para tomarem descanso, cantando a victoria que alcanaram contra a pobreza e fadigas de suas largas peregrinaes, dando uns aos outros parabens por suas fortunas, a quem reciprocamente offereciam laudemios de alegria. Os que haviam ficado na bagagem achavam-se uns a cem outavas, outros

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    a meia libra de ouro, a cincoenta outavas e os mais a este respeito, conforme a deli-gencia que fizeram em cavar com as mos que outros instrumentos de mineirar no tinham, e os que haviam acompanhado o capito-mr mais aproveitados, e o mesmo capito Paschoal Moreira com libra e meia de ouro, todos por fim partecipantes dos aurinos fructos.

    Alli se foram arranchando, fazendo casas e lavouras pelas margens do mesmo rio Coxip e Cuyab acima, extincta uma aldeia que se achava no logar que hoje o Porto do Borralho. Passados alguns dias chegou ao arraial a bandeira dos Antunes, que eram os tres irmos de que j falamos, chamados Gabriel Antunes, Antonio Antunes Maciel e Filippe Antunes Maciel, e com a noticia do invento do ouro uniram-se aos descobridores, e fazendo suas consultas assentaram que fosse logo Gabriel Antunes para S. Paulo dar noticia e levar as amostras dos descobertos e trazer os ordens ne-cessarias para o bem commum e servio de S. Magestade, que com effeito seguiu logo viagem, e juntos os que ficaram mandaram escrever um aranzel para seu regimen, cuja copia a seguinte:

    Aos oito dias do mez de Abril de mil setecentos e dezenove annos, neste arraial do Cuyab fez junta o capito-mr Paschoal Moreira Cabral com os seus companhei-ros e lhes requereu a elles este termo de certido para noticia do descobrimento novo que achmos no ribeiro do Coxip, invocao de Nossa Senhora da Penha de Fran-a, depois que foi o nosso enviado, o capito Antonio Antunes, com as amostras que levou do ouro ao senhor General com a petio do dito capito-mr, fez a primeira entrada onde assistiu um dia e achou pinta de um vintem, de dous e de quatro vintens e meia pataca, e a mesma pinta fez na segunda entrada, em que assistiu sete dias, e to-dos os seus companheiros, as suas custas, com grandes perdas e riscos, em servio de Sua Real Magestade, e como de feito tem perdido oito homens brancos, fra negros, e para que a todo o tempo v isto a noticia de Sua Real Magestade e seus governos para no perderem seus direitos e por assim ser verdade nos assignamos neste termo, o qual eu passei bem e fielmente a f do meu officio como escrivo deste arraial. Paschoal Moreira Cabral Simo Rodrigues Moreira Manoel dos Santos Coimbra Manoel Garcia Velho Balthazar Ribeiro Navarro Manoel Pedroso Louzano Joo de Anhaia de Lemos Francisco de Siqueira Ascenso Fernandes Diogo Domingues Manoel Ferreira Antonio Ribeiro Alberto Velho Moreira Joo Moreira Manoel Ferreira de Mendona Antonio Garcia Velho Pedro de Ges Jos Fernandes An-tonio Moreira Ignacio Pedroso Manoel Rodrigues Moreira Jos da Silva Paes.

    No mesmo dia, mez e anno atraz nomeados elegeu o povo em vz alta o capito-mr Paschoal Moreira Cabral por seu guarda-mr regente at a ordem do senhor Ge-neral para poder guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer compo-sies com os mineiros e botar bandeiras, tanto aurinas como aos inimigos barbaros, e visto elegerem ao dito lhe acataro o respeito que poder tirar autos contra aquelles que forem regulos, como amotinador e aleves, que expulsar, e perder todos os seus direitos e mandar pagar dividas, e que nenhum se recolher at que venha o nosso enviado, o capito Antonio Antunes, o que todos levamos a bem hoje, 8 de Abril de 1719 annos, e eu Manoel dos Santos Coimbra, escrivo do arraial, que o escrevi. Paschoal Moreira Cabral.

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    Aos vinte e quatro dias do mez de Junho botou o guarda-mr Paschoal Moreira Cabral uma bandeira a descobrimento de ouro, adonde foi por guarda-mr Manoel Garcia Velho junto com o escrivo das datas, adonde descobriu um ribeiro, por nome So Joo, com pinta de oitava e meia, de meia pataca e de dois vintens, e outro ribeiro, Santo Antonio, com a mesma pinta; ribeiros de parte para se repartir, e por assim ser verdade mandou o guarda-mr passar este termo por mim escrivo das datas, que o escrevi bem e fielmente a f do meu officio, hoje quinze do mez de Agosto de 1719. Paschoal Moreira Cabral Manoel Garcia Velho.

    Por esta escripta aqui copiada do mesmo original mostra-se ser Antonio Antunes Maciel o enviado com as noticias e mostras de ouro do novo descobrimento, mas por asseverao de alguns daquelle tempo, com quem conversei e de quem alcancei estas noticias, dizem que fra seu irmo Gabriel Antunes Maciel; sem embargo dis-so devemos dar maior credito escripta por ser documento mais verosimil. Fosse elle qual fosse, chegado a povoado com as noticias, fez tudo patente s justias de S. Paulo e estas ao General da capitania, o conde de Assumar, Dom Pedro de Almeida, residente em Villa-Rica de Ouro Preto, e este o noticiou logo ao marquez de Angeja, Dom Braz Balthazar da Silveira, vice-rei do Estado na cidade da Bahia, e um e outro Sua Magestade.

    Divulgada a noticia pelos povoados, foi tal o movimento que causou nos animos, que das Minas Geraes, Rio de Janeiro e de toda a capitania de S. Paulo se abalaram muitos, deixando casas, fazendas, mulheres e filhos, botando-se para estes descober-tos como se fra a Terra da Promisso ou Paraizo incoberto, em que Deus pz nossos primeiros paes.

    Entrado o anno de 1720, fizeram viagem para estas minas algumas gentes di-vididas em diversos comboios, subindo o rio Anhanduhy, atravessando a Vaccaria, descendo pelo Matete, e deste pelo Paraguay acima. Padeceram grandes destroos, perdies de canas nas cachoeiras por falta de pilotos e praticos, que ainda ento no havia, mortandades de gentes por falta de mantimentos, doenas, comidas das onas, e outras muitas miserias. No sabiam ainda pescar, nem caar, nem o uso de toldar as canas, que tudo lhes apodrecia com as chuvas, nem tambem dos mosqueiteiros para a defesa dos mosquitos, que muitos annos depois foram a experiencia e a necessidade ensinando todas estas cousas pelo que padeceram de miserias sobre miserias os que escaparam da morte. Houve comboyo de canas em que morreram todos sem ficar um vivo, pois eram achadas as canas e fazendas podres pelos que vinham atraz, e os corpos mortos pelos reductos e barrancos.

    As pessoas de maior nome das que chegaram neste primeiro anno foram as se-guintes: o capito Jos de S Arruda, com perda de muita escravatura e camaradas; o capito Jacintho Barbosa Lopes; o sargento-mr Joo Carvalho da Silva; o capito de m