32
PUBLICAÇÃO PERIÓDICA GRATUITA · N .º 4 - VERÃO 2010 SONHOS LÚCIDOS CALEA ZACATECHICHI A ERVA-DO-SONHO Etnobotânica PRAGAS CUIDADO COM ELAS. CONHEçA-AS E COMBATA-AS NA ORIGEM. CHEGOU O VERÃO! Crónicas do Cannabistão CONSTRUIR COM CÂNHAMO Ecologia 12/12 MÉTODO INOVADOR DE ALTO RENDIMENTO Crónicas do Cannabistão CANÁBIS PODE AJUDAR EM CASOS DE CANCRO DA MAMA Saúde JACK HERER (RIP) STING (LÚCIDO) MARC EMERY (PRESO) CANNABIS SOCIAL CLUBS GUERRA DAS DROGAS – GUERRA DOS MEDIA Actualidade

Cultivo Erva Dos Sonhos

Embed Size (px)

Citation preview

publ

icaç

ão pe

rió

dic

a GRATUITA

· n.º

4 - V

erão

201

0

SONHOS LÚCIDOSCaLea zaCateCHICHI a erva-DO-SONHO

Etnobotânica

PRAGAScuidAdo com elAS. conheçA-AS e combAtA-AS nA oRiGem.

cheGou o VeRÃo!

Crónicas do Cannabistão

CONStrUIrCOM CÂNHaMO

Ecologia

12/12 MétODO INOvaDOr De aLtO reNDIMeNtO

Crónicas do Cannabistão

CaNábIS pODe ajUDar eM CaSOS De CaNCrO Da MaMa

Saúde

jaCk Herer (rIp)StING (LÚCIDO)MarC eMery (preSO) CaNNabIS SOCIaL CLUbS GUerra DaS DrOGaS– GUerra DOS MeDIa

Actualidade

HEADSHOP

também

BioBizz presents…

SumárioOS INGREDENTES DESTE COZINHADO

CApA Varanda em Barcelona, fotografada por Mikhail Zahranichny

24 sonhos lúcidos Controle os seus sonhos. Não seja mero espectador!

27 Calea zacatechichiA erva do sonho.

trAdição EtnobotâniCA

14 guerra das drogas – guerra dos mediaServe-te qualquer chapéu?

12 cannabis social clubs Uma brecha no muro da proibição.

5 [curtas]ACtUALidAdE

10 construir com cânhamoA Universidade do Minho estudou o Ecobetão; Vários países já utilizam.

ECoLoGiA

7

Quando os guardas do poder passam para o lado do povo, pouco há a fazer para

manter o regime. Foi assim em quase todas as revoltas populares. Hoje em dia, os cães de guarda do poder são os media, já dizia Serge Halimi. Quem controla os meios de comunicação tem um enorme poder sobre as massas, e agora os cães parecem virar-se contra os antigos donos.

os cidadãos são hoje mais informados, e existem dezenas de publicações como A folha pelo mundo fora. A sociedade é mais aberta, as pessoas assumem cada vez mais as suas individualidades e são mais cons-cientes das suas escolhas. Têm mais capacidade de observar de forma crítica as questões que condicionam a esfera pessoal das suas vidas. Quanto mais se tenta esconder uma mentira, maior é o rabo que fica de fora. Por isso, a sociedade desacreditou dos que gritavam histéricos aos quatro ventos que “a droga é loucura e morte”, como que pressagiando o apocalipse social, o fim do mundo como o conhecemos, à distância de um charro.

e afinal não foi a hecatombe, não apareceram os 4 cavaleiros do Apocalipse: os ministérios não pararam, ninguém roubou os computa-dores, não houve suicídios, homicídios, alucinações ou comportamentos impróprios nas escolas, hospitais ou departamentos de estado. Pelo menos devido à canábis. Na realidade, ninguém dá pelos consumidores. Continua tudo na mesma, por uma simples razão: são indivíduos normais, com as suas vidas normais, cidadãos comuns, pagam os seus impostos, e fumam um charro como alguém bebe uns copos ao fim da tarde ou no fim de semana. Não ficam “loucos e possuídos” ao ponto de roubar, matar ou violar. E estão fartos de ser votados a um comportamento hipó-crita de ter que esconder algo de um familiar ou parceiro de trabalho que se calhar faz o mesmo para com ele. É o triunfo da falsidade.

Isto não é saudável; são hábitos de comportamento sob repressão, que reflectem um constante medo de ser delatado pelo parceiro e que promove uma cultura de desconfiança e competitividade mútua, em vez da cooperação e da solidariedade. Ecos dos tempos da outra senhora.

mas algo mudou. Algumas destas pessoas passaram à prática, fartos de esperar por uma decisão dos seus eleitos, de uma classe política inerte e parca de ideias que governa mais por reacção a sondagens de popularidade do que pelas reais necessidades do país; deitaram as mãos à pá. A sociedade civil decidiu agir, farta de permanecer à mercê do mercado clandestino con-trolado pela criminalidade e sem controlo de qualidade em que as pessoas se arriscam a intoxicar-se ou a ser presas só por comprar para consumo próprio. Plantar. Mesmo sendo ilegal, desobedecem. É como um peão que atravessa um semáforo vermelho quando se certifica de que não vem carro de nenhum lado. É consciente do perigo, precavê-se e decide desobedecer. Atravessa sem colocar ninguém em perigo. Não se trata de incitar todos os peões a passar todos os vermelhos. Trata-se de uma questão de bom senso. Se o estado não regular o mercado e continuar a proibir a venda, cultivar uma planta para consumo torna-se mais seguro, mais saudável e preferível a ter que recorrer ao mercado negro e patrocinar o crime organizado.

Primeiro num país, depois noutro, são já vários os estados Europeus que contam com os clubes de fumadores. Espanha com mais de dez clubes e Bélgica com um são dois exemplos que mostram que a determinação e acção da sociedade civil pode ser, senão a solução, pelo menos um plano B. Face à fixação obsessiva dos estados na tentativa repetitiva de tentar impor um plano A, baseado numa proibição cega e surda que já mal sobrevive à comunidade científica e à opinião pública, a sociedade civil respondeu com clubes de associados que desenvolveram uma forma de cultivarem e consumirem legalmente. Foi uma brecha na parede legal e política da proibição e da desinformação que parece agora estremecer e ameaça tombar como o muro de Berlim.

em Portugal ainda não há clubes sociais de canábis, mas o auto--cultivo já é uma realidade estabelecida. Cada vez são mais as varandas, marquises, quintais e jardins aromatizados pela agradável fragância da canábis. Por cada varanda aromatizada com canábis, entre coentros e hortelã, há um dealer que perde o negócio. Esse negócio podia ser do estado, ou seja, de todos nós. Há países que já tiveram a honestidade de reconhecer que, apesar de todos os esforços efectuados, não conseguiram abolir completamente a oferta nas ruas e que se não forem as autoridades a vender, será o mercado negro a lucrar. Os holandeses já perceberam isso há várias décadas. Os americanos descobriram há menos de 10 anos e desde essa data a canábis (ainda ilegal em mais de metade dos estados) já se tornou a variedade agrícola legal mais lucrativa dos Estados Unidos.

A política de descriminalização do consumo desde 2001 em Portugal foi recentemente avaliada e de forma geral aplaudida por autoridades mundiais na matéria. Este ano, no início de Maio, foram milhares os cidadãos portu-gueses que marcharam em 4 cidades – Lisboa, Porto, Coimbra e Braga - pelo fim da proibição. Fontes d’A Folha próximas dos principais partidos políticos, PS e PSD, revelam a existência de alguma movimentação no sentido da mu-dança de uma política proibicionista para uma de maior abertura a soluções como a regulamentação do mercado. No entanto, ainda não passam de conversas de bastidores. O BE parece querer antecipar-se, preparando uma proposta de lei radicalmente inovadora. Conseguirá, contudo, convencer PS e PSD a votar a favor na assembleia, ou arrisca-se a ver um partido do bloco central a tomar-lhe o estandarte político e a alterar a lei com uma proposta mais conservadora?

Seja qual for o final que nos espera, não podemos perma-necer parados e confiar nos partidos políticos para fazer com que algo aconteça. Como vimos em Espanha e na Bélgica, está nas nossas mãos tomar as rédeas (e já agora, os regadores e as pás) da sociedade civil. Contra a proibição, plantar, plantar!

João Maia

a abrir

dignação estendeu-se até aos pivots da CNN, como Gwenn Scott, que considerou a atitude de Ted hipócrita, afirmando “é de conhecimento geral que Turner se senta no seu gabinete e fuma marijuana.”

Há outras coincidências que comprovam a atitude co-erente de Ted, como quando o grupo de monitorização de media Cable Sitters denunciou que os desenhos animados Scooby-Doo estariam guarnecidos de referências sublimina-res a drogas. Turner ignorou essa gente e também não cedeu a pressões da DEA após a emissão na CNN em 1996 do do-cumentário High Times.

A maior referência mundial no campo da informação te-levisiva, CNN, confunde-se com a própria Guerra do Golfo. Pró ou contra, afirmar é especular. No entanto, nos tempos recentes, diversas peças e debates têm passado na CNN com convidados-chave pró-legalização. Larry King, Jack Cafferty, D.L. Hugley e outros jornalistas da estação, têm alavancado a todos os norte-americanos (e não só) os argumentos de Jeffrey Miron, professor de Harvard e author de Drug War Crimes, ou de Terry Nelson da Law Enforcement Against Prohibition [For-ças da Autoridade Contra a Proibição], que dá voz aos polícias que consideram a guerra à droga fratricida e um caminho para lado nenhum.

As sondagens demonstram uma resposta positiva a esta pressão mediática. Falta pouco para mais de metade dos nor-te-americanos serem favoráveis ao uso taxado da canábis me-dicinal, incluindo até parte das franjas mais conservadoras.

Robert edward “ted” turner iiiBarão dos Media, Filantropo, Capitalista, Opinion-maker

Os lobbies e a ignorância massificada ilegali-zaram a planta mais medicinal (e também mais versátil) da natureza no início da segunda metade do sec. XX. Marcar a História pode ser alcançado por gestos simples de alguém com o poder de influenciar a opinião publica ao ponto de alterar a intenção de voto. É este o poder da televisão.

Ted Turner, um milionário de rara raça, é daqueles para os quais expressar a opinião sincera ultrapassa a preocupação da consequência, e aparentemente dos que pretendem fazer uma diferença real, e fa-la.

Ex-pivot, fundador e dono da CNN, maior dono privado de território norte-americano, proprietário de canais de televi-são, da Universal e até dos Atlanta Braves, coisas impensáveis quando em jovem o apanharam a crescer plantas no seu dor-mitório universitário. O talento de “The Mouth of the South” para negócios e televisão demonstram que jamais chegaria lá apenas a cultivar, no entanto vários factos provam que em al-gum aspecto Turner se manteve coerente, o que faz dele um espécimen ainda mais incomum; mais do que poderoso, é um homem convicto.

Através da sua fundação, a Turner Foundation (TF), o fi-lantropo duou um bilião de dolares às Nações Unidas para a criação da UN Foundation. Por outro lado, a TF também é a principal financiadora do Kentucky Hemp Museum, atribuindo bolsas a grupos de estudo que possam beneficiar o meio am-biente. Além disso, e em conjunto com o actor Woody Harrel-son e um doador anónimo, a TF ajuda nos esforços continuados da Kentucky Household Carriers Association, conseguindo desenvolvimentos na implementação da produção do cânhamo industrial, na senda de alternativas à desflorestação.

Quando em 1987 a sua então-namorada Jane Fonda esta-va a deixar de fumar, Ted galantemente decretou que a TBS network deixaria de contratar fumadores. O gigante do tabaco Philip Morris não tardou a tentar mover um processo, e a in-

23 thc pode ajudar

em casos de cancro de mama

SAÚdE

8 aventuras dos leitores

A cada pessoasua dosagemUma ERRATA à prova de erro.

18 PRAGAS!

12/12 [o método]Saiba como aumentar a produção por colheita e ter mais colheitas anuais, com menos horas de luz.

16CrÓniCAS do CAnnAbiStão

- thc cuisine- locais onde reservar- ficha técnica

30

tv: a vIa efICaz para a MUDaNça De MeNtaLIDaDeS

Jack Herer, a despedida

o leÃo tombou

Durante cerca de 40 anos, percorreu milhares de quilómetros, realizando trabalho de campo em manifestações e sessões de esclarecimento, falando cara-a-cara com quem fosse necessário. Proclamou em voz alta o direito à utilização recreativa, defendendo mesmo que as pessoas deviam consumir canábis várias vezes ao dia uma vez que protege o corpo do cancro – com o resto da planta podemos salvar o mundo!

A morte de Herer acontece num momento em que o movimento vai conquistando cada vez mais espaço na sociedade do seu país natal. Senão vejamos: em 2010, a canábis medicinal já é uma realidade em 14 Estados e no Distrito Federal de Columbia. A admi-nistração Obama já afirmou que não irá processar por posse nos estados em que a canábis medicinal é permitida. Em Novembro, os eleitores da Califórnia irão votar uma iniciativa de legalização e em Oregon e Washington existem activistas a recolher assinaturas para iniciativas similares. Estas conquistas certamente não teriam sido possíveis sem o seu contributo. Herer lançou várias primeiras pedras.

Aquando da primeira edição d’A Folha, falámos com Jack já debi-litado e em internamento, e com a sua esposa Jeannie, sempre incansável, mantendo a voz e a mensagem de Herer com a projecção necessária. Aprofun-dámos então nas nossas páginas a vida e obra do homem; a primeira vez que fumou um charro aos 30 anos, quando ainda tinha uma visão conservadora do mundo, até à escrita de The Emperor Wears No Clothes, em detenção. Herer iniciou a obra seminal da causa e da planta canábis enquanto cumpria 14 dias de pena por não considerar justo pagar uma multa (irrisória que fosse) por pseudo-terrorismo, quando recolhia assinaturas e divulgava informação importante – Reagan não o vergou.

Hoje, O Rei Vai Nú vai na déci-ma primeira edição, encontrando-se traduzido em inúmeros idiomas [edição portuguesa pela editora Via Óptima; apenas o texto, em inglês, disponível no site do autor] e, com os direitos da obra lançada em papel de cânhamo, no início dos anos 80, Jack Herer fomen-tou campanhas de informação e apoio a activistas detidos, tudo em pról da sua missão de vida.

Jack deu sempre o maior exemplo, e esta [A Folha] também é reflexo da sua luta, dos que investigam e procuram o saber-real, de todos os que se revêem nela, e em particular daqueles que sofrem e podem utilizar a sua substância de necessidade e/ou eleição, sem que a sociedade os persiga como criminosos.

Foi-se o homem que deu a conhecer que a planta maldita fumada para descontrair também se chama cânhamo e serve para muitas outras coisas maravilho-sas. Sobrevivem-lhe a esposa, seis filhos, um irmão, uma irmã e todos nós. Os reflexos da sua obra irão sentir-se pelas décadas vindouras – até à justiça final.

actualidade [curtas]

[t] ++31 (0) 50 541 46 50 - [f] ++31 (0) 50 542 52 23 - [e] [email protected] - [h] www.biobizz.com

Official BioBizz DistributorSoluções Verdes (Cognoscitiva) - Rua Diario de Noticias 1 - Barrio Alto - 1200- 141, Lisboa - [t] +351 96 51 24 867 - [f] +351 213 962 106 - [e] [email protected] - [h] www.cognoscitiva.com

Mr. Grow Mr. Grow Mr. Grow Mr. Grow Based on truly organic facts

[t] ++31 (0) 50 541 46 50 - [f] ++31 (0) 50 542 52 23 - [e] [email protected] - [h] www.biobizz.com

Official BioBizz DistributorCognoscitiva - Rua da Bempostinha, 19-B - 1150-065, L isboa - [ t ] +351 96 25 07 079 - [ f ] +351 213 962 106 - [e] cognoscit iva@gmail .com - [h] www.cognoscit iva.com

Mr. Grow Mr. Grow Mr. Grow Mr. Grow Based on truly organic facts

O pai do activismo canábico já não está entre nós. Jack Herer parou de resistir às complicações resultantes do ataque cardíaco que sofreu em Setembro de 2009, momentos após discursar em Portland. Por Pedro Mattos

Foto: Dan Skye [H

igh Times]

actualidade [curtas]

A esposa gravou uma mensagem por telefone mas tal não foi permitido por uma norma presidiária recente. A mensagem não chegou a ser difundida, mas o resultado foi o mesmo: uma temporada na solitária para um homem que mais não fez do que vender sementes e motivar uma luta global.

Ao longo dos últimos 30 anos, Emery foi um reconhecido homem de negócios e acti-vista político por várias realidades sociais e questões ligadas a censura e direito de ex-pressão, antes ainda de se bater pela canábis e pela reforma das leis da droga que o notabi-lizaram nas últimas duas décadas no Canadá e EUA; terá sido graças à CNN, 60 Minutes e à Rolling Stone que ganhou o título: Prince of Pot [príncipe da erva].

Marc Emery era o lider do partido polí-tico canábico da Columbia Britânica (pro-vincia canadiana), editor da revista Cannabis Culture, com loja aberta na baixa de Vancou-ver, e ainda a Pot-TV [www.pot-tv.net].

Marc operou o seu negócio de forma totalmente transparente. Durante anos enviou cópias da sua revista a media relevantes e membros do parlamento do seu país e na revista havia 12 páginas do seu diversificado catálogo de sementes: Emery Direct Seeds. Os números do negócio eram declarados, e Marc pagou mais de $580,000 ao Governo Federal e Provincial, de 1999 a 2005, que sempre tiveram acesso às suas contas ban-cárias e ficheiros empresariais. Com o lucro Emery transformou-se no principal benfeitor do movimento anti-proibicionista da América do norte, com donativos que ultrapassaram os 4 milhões de dolares – a grupos de pres-são [lobbyists] em prol da evolução das leis, iniciativas ligadas à canábis medicinal, cli-nicas de reabilitação de toxicodependentes, advogados e casos em julgamento, imprensa alternativa, e muitas outras actividades e organizações legítimas e legais.

Em 2005, a pedido do US Justice Depart-ment, a polícia de Vancouver fez uma rusga à loja de Marc e ele foi detido. Seguiu-se um pedido oficial de extradição, agrafado a três acusações: conspiração para produção de marijuana; conspiração para tráfico de marijuana e, conspiração para lavar a receita de actividade criminosa. Estas acusações só fariam sentido se Marc fosse um traficante transfronteiriço de grande escala, mas ele só

Activista Marc Emery expulso do país natal em prisão solitária; cumprirá 5 anos nos EUA

VendiA SementeS PoR cAtÁloGo

fazia uma revista e vendia sementes, decla-rou os rendimentos respectivos e não reteve lucros. Por cada pena Marc poderia cumprir dez anos de prisão, com possibilidade até de o acharem merecedor de pena perpétua.

Em meados de 2009 o seu cúmplice conseguiu em acordo dois anos de pena suspensa, e Marc resolveu que o melhor a fazer seria aceitar o acordo que estava em cima da mesa para uma sentença de cinco anos no sistema federal dos EUA, evitando o mal maior.

A US Drug Enforcement Administration admitiu várias vezes e através de comunica-do de imprensa assinado pela governadora Karen Tandy que a detenção de Marc Emery se deveu aos seus esforços [e generosidade] em prol da legalização da marijuana: Marc Emery é na realidade um preso político.

O Ministro da Justiça Rob Nicholson assinou a ordem de extradição a 10 de Maio; isto apesar do apoio avassalador manifestado pela opinião pública através de telefonemas, emails, cartas, e uma petição com 12 mil assinaturas oriundas de diferentes grupos de opinião. Apesar do preconceito, a extradição de um compatriota não é do agrado dos cana-dianos, nem o servilismo aos EUA; mas tal não foi suficiente para impedir o encarcera-mento e repatriamento de Marc Emery para

Marc Emery está retido cinco anos num sistema prisional bem mais opressivo que o do Canadá; trocou 30 anos incertos por cinco assegurados no inferno. Na Europa, é regra geral não repatriar o detido para um país em que o delito possua pena superior. Infelizmente o Canadá nem sempre prioriza os seus naturais.

um país onde ele nunca tinha estado, e onde nem sequer operava o seu negócio.

Neste momento Emery encontra-se priva-do de qualquer contacto, mesmo com a sua fa-mília ou advogado, livros ou televisão. A única excepção que tem é receber correio, manuscri-to ou impresso, com uma ou duas fotografias pequenas e sem assuntos perigosos. Marc agradece sensibilizado todas as cartas que receba, especialmente se longas para o ajudar a suportar o fardo do tempo, e do desalento.

Marc Scott Emery, #40252-086 Unit DB, PO Box 13900, FDC SeaTac, Seattle, Washington, 98198-1090, EUA.

À hora de fecho desta edição ainda não foi estabelecido o fim do aprisionamento de Marc em isolamento, tendo passado três semanas.

cAmPAnhA mASSiVA

Sting dá a carapela legalização Somos a Drug Policy Alliance [DPA]. Perspectivamos novas políticas de droga assentes na ciência, compaixão, saúde e direitos humanos. – Assim começa o video de dois minutos que está a correr mundo. A nova campanha da DPA conta com rostos conhecidos como o compositor Sting, o ac-tor/ produtor/ activista Montell Williams, e o magnata filantropo George Soros, juntos e em separado são a DPA, o seu objectivo é claro: acabar com a guerra às drogas.

“A guerra às drogas falhou. Mas é pior do que isso. Está activamente a prejudicar a nossa sociedade. O crime violento grassa nas sombras para onde o comércio da droga foi atirado.” Declarou Sting, que não se fica pelo plano global e é ainda mais concreto: “Há pessoas que necessitam genuinamente de canábis medicinal para tratar doenças terríveis.”

O video também inclui uma cientista, um activista, um ex-recluso por narco-crime e uma mãe, todos frisam a necessidade de promover uma política de redução de dano e debate sobre as políticas da droga. “Estamos a gastar biliões a encher as nossas prisões de infractores não-violentos e a sacrificar as nossas liberdades.” Sting continua: “Está na altura de sair das nossas redomas, reconhe-cer a verdade e desafiar os nossos líderes e nós próprios para a mudança.”

A DPA tem escritórios centrais em Nova Iorque e outras cidade-estado, bem como um site repleto de informação sobre a proble-mática das drogas nas suas variadas impli-cações, correio de protesto pronto a enviar, vários downloads uteis, publicações, e opção de registo. < www.drugpolicy.org >

7 A FolhA

A Folha errou. No n.º 2, página 30 foi publicada uma receita de brownies na qual consta uma dosagem excessiva de flor de canábis denotando a clara desac-tualização da receita que não está calculada tendo em conta que actualmente parte da flor que circula tem uma concentração de 15% ou mais de THC1. Apro-veitamos para deixar informação consistente sobre dosagem aos nossos leitores.

O erro foi detectado por um leitor que deixou um comentário no nosso we-bsite [www.a-folha.com] com a alcunha ExConnoisseur-com-pouca-tolerancia e o qual infelizmente não conseguimos contactar. Deixamos-lhe o nosso agradeci-mento e aqui fica parte do seu comentário.

[...]

12 gramas para duas ou três pessoas é bastante, isso é para os utilizadores diários e com bastante tolerância. As doses ORAIS terapêuticas de cannabis é de 2mg a 10mg em THC sintético. Tendo em conta que uma erva dos dias de hoje tem 15% seca, logo tem 150mgs de THC por grama de erva! A vossa receita fica com um conteúdo de 1.8GRAMAS de THC! Isso é muito THC mesmo. Isso dava 180 doses terapêuticas de 10mg de THC. e vos dizeis que é para 2 ou 3 doses. Isso dá 0.9GRAMAS de THC por pessoa! Vocês ao dizerem essas doses certamente puderam estar a dar experiências más a pessoas sem tolerância.

Conversor de doses para a vossa tolerância: Dose fumada > Dose Oral > Dose THC que precisam Charro de 1gr cannabis erval (potentes) > 3gr ORAL > 450mg THC por dose Charro de 1gr cannabis hash (fraco) > 3gr ORAL > 120mg THC por dose Charro de 1gr cannabis hash (pólen) > 3gr ORAL > 180mg THC por dose Charro de 1gr cannabis hash (potente) > 3gr ORAL > 600mg THC por dose

Por podem ver a dose de THC que contem os vossos brownies, que é de 1.8GRAMAS, se dividirem estas doses de acordo com os seguintes grupos: Quem fuma 1gr de cannabis erval (potente) > 4 doses Charro de 1gr cannabis hash (fraco) > 15 doses Charro de 1gr cannabis hash (pólen) > 10 doses Charro de 1gr cannabis hash (potente) > 3

Como podem ver um fumador com pouca tolerância ou mesmo um fumador que apenas fume hash de sabonete ou pólen irá certamente apanhar uma grande moca e possivelmente desagradável. Por isso aconselhava que mu-dassem onde diz: 12 g de flor de canábis -> para -> 9 vezes a vossa quantidade que usam para fumar (isso para 2 ou 3 pessoas como dizem)

o thc é uma substância com toxicidade extremamente baixa sendo aceite que é impossível um ser humano consumir a quantidade necessária de canábis no tempo necessário para ter uma overdose. Não é conhecida a sua dose letal, LD50, nos seres humanos mas para referência deixa-se aqui que o valor é de 1270 mg/kg em ratazanas macho e 730 mg/kg em ratazanas fêmea para administração oral (dissolvido em óleo de sésamo). A única forma de um humano morrer por overdose seria através da injecção de THC puro por via intravenosa. Mais importante é referir que o rácio de segurança2 para o THC é superior a 1000:1. Compare-se por exemplo com o álcool etílico cujo rácio é de apenas 10:1.

Seguindo a estimativa de 15% de THC na flor de canábis, na receita pu-blicada seriam confeccionados 600mg de THC por pessoa (se para 3 pessoas) o que representa 40 vezes a dose oral activa, que é aproximadamente 15mg num adulto com 70Kg e sem tolerância. [O valor de 2-10mg indicado pelo ExConnoisseur como dose terapêutica destina-se principalmente ao estimulo do apetite, não atingindo outros efeitos procurados pelos utilizadores recrea-tivos.] De notar que a quantidade de THC no preparado final seria certamente

menor devido à sua degradação parcial durante a confecção. Mesmo assim, esta dose, apesar de dificilmente gerar efeitos fisiológicos indesejáveis, promoveria a ocorrência de experiências fortes psicologicamente que se assemelhariam às de psicadélicos como o LSD ou cogumelos com psilocibina (conhecidos por cogume-los mágicos) com características como alucinações auditorias e visuais e disso-lução do ego. Num utilizador sem experiência ou que não estivesse preparado isto poderia desencadear uma reacção adversa, vulgarmente conhecida pelo inglês bad trip, explicada em maior detalhe no glossário publicado no website d'A Folha. A receita está claramente calculada para a usual flor de canábis com 5% de THC, caso em que a dose confeccionada seria 200mg de THC por pessoa, 13 vezes a dose activa. Este valor, apesar de ainda ser elevado, corresponderia a uma experiência de nível médio para um consumidor com tolerância.

A dose ideal para canábis fumada é fácil de julgar mesmo para quem experimenta pela primeira vez. Para tal deve-se começar por fazer uma ou duas pequenas inalações (vulgo bafos), esperar 5 a 15 minutos e só então, se necessário, repetir. Em média cada inalação contem 50mg do material utilizado. Abaixo encontra-se uma tabela de dosagem para flor de canábis seca e de alta potência quando fumada por utilizadores sem tolerância:

A utilização diária ou muito regular de canábis cria um efeito de tolerância em que é necessário uma dose progressivamente maior para atingir o mesmo nível de efeito. Este efeito atinge um patamar onde maioria dos utiliza-dores regulares descobre a sua dose ideal. É a esta dose que o ExConnoisseur se refere quando fala da “quantidade que usam para fumar”.

Quando tomado oralmente o THC é metabolizado pelo fígado dando origem ao composto 11-hidroxi-THC. Apesar de muito similar ao THC este composto é tido como mais psicadélico e as experiências com doses altas de canábis oral costumam ser descritas como similares a uma experiência com cogumelos mágicos. A administração por via oral pode adiar o inicio dos efeitos por até 120 minutos. Este atraso é influenciado pelos conteúdos do estômago que se estiver vazio facilita a absorção. Em contrapartida os efeitos duram mais tempo, geralmente até 6 horas após a ingestão. Tal como na receita apresentada todas as preparações orais de canábis implicam a adição de uma gordura. O objec-tivo desta é dissolver o THC, que é lipofílico3 e apenas ligeiramente solúvel em água, de forma a melhorar a absorção pelo aparelho digestivo. Nas preparações líquidas utiliza-se usualmente leite como gordura para dissolver o THC como no bhang, uma bebida tradicional da Índia. Os principais canabinóides4 presentes na flor de canábis encontram-se nesta sob a forma de ácidos carboxílicos e só durante os processos de secagem, cura, armazenamento, aquecimento e princi-palmente combustão é que passam à forma neutra e psicotrópica. Assim a flor de canábis utilizada para consumo oral deve ser suficientemente aquecida ou desidratada durante a confecção de forma a causar a descarboxilação do cana-binóide mais abundante, o ácido tetrahidrocanabinólico (THCA), para o psico-trópico THC. Caso se utilize haxixe não é necessário este passo bastando apenas dissolve-lo na gordura escolhida. Abaixo encontra-se uma tabela de dosagem individual para flor de canábis seca e de alta potência quando utilizada para preparações orais por utilizadores sem tolerância.

A cada pessoasua dosagem

bRownieS intenSoS

eRRAtA

NÍVEL QUANTIDADE (mg) Leve 30 mg Médio 60 mg Alto 90 mgx

Até actuar: 2 - 15 minutos Duração: 1 - 2 horas Pós-efeitos: 3 - 6 horas

adaptado de http://www.erowid.org/plants/cannabis/cannabis_dose.shtml

adaptado de http://www.erowid.org/plants/cannabis/cannabis_dose.shtml

NÍVEL QUANTIDADE (mg) Leve 90 mg Médio 180 mg Alto 270 mgx

Até actuar: 20 - 120 minutos Duração: 3 - 9 horas Pós-efeitos: 12+ horas

CONTINUA NA PÁGINA 30

939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W

939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W

939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W 939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W

939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W

939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W

Boas pessoal, deixo-vos algumas fotos do meu primeiro grow, o clone de Big Bud passou por 8 semanas de floração, HPS 600W, num sistema hidro da Advanced Hydroponics of Holland. Usei também os fertilizantes da mesma marca (Grow, Bloom e Micro). Com duas semanas de flush tive uma produção de 87 gramas. Aconselho a espécie e os ferts para iniciantes. :D As fotos acompanham a fase da floração até à colheita.

Bruno Alves, Penhas da Saúde

939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W 939 230 615 - 939 230 612 Avenida 12 de Julho, Quinta dos Serves, Lj. 4 - Ferreiras - 8200-559 Albufeira

www.biofolha.pt - [email protected]

Produtos para Agricultura Biológica Hidropónica e Aeropónica

Albufeira - Algarve

Loja de Auto-Cultivo

37º 7' 30'' N - 8º 13' 49'' W

aventuras dos leitoresPARtilhA A tuA colheitA! [email protected]

Do poderoso cruzamento de White Dwarf com Moby Dick nasce esta divindade, com longos pistilos que nos acariciam a alma e fazem suspirar pelo que virá dentro de poucas semanas, se a aranha vermelha não atacar...

Ruben Fonseca, Barcelos

AK47Av. Mouzinho de AlbuquerqueGalerias Euracini 2, Loja 3G4490-409 Póvoa de Varzim

[email protected]•www.ak47bob.comTel: 252 638 401

Big Buds

C. C. Newark•Rua Alfredo Cunha, 115Lojas 53 a 57•4450-023 Matosinhos

[email protected]•www.big-buds.comTel: 229 370 737 / Tm: 911 148 797

Jardins à ManeiraRua Sto Adrião Nº110•4715-248 Braga

Tel/Fax: 253 215 [email protected] www.jardinsamaneira.com

Planeta Sensi

C. C. Invictos, Loja 13R. Passos Manuel, 219 - 1 Piso • 4400 Porto

[email protected]•www.planetasensi.comTm: 962 398 699 / 913 288 085

Bio FolhaAv. 12 de Julho

Quinta dos Serves Lj 4 - Ferreiras 8200-559 Albufeira

[email protected]

Tm: 939 230 615 / 939 230 612

A Loja da Maria

Rua Heróis da Grande Guerra, 52500-244 Caldas da [email protected] Marcos de Portugal, 65

1200-257 [email protected]

C. C. de Cedofeita, Loja 21•4000 [email protected]

R. da Alegria, 47•3000-018 Coimbra [email protected]

[email protected]•www.alojadamaria.comTm: 91 667 0668

The Art of JointRua de S.Roque da Lameira, n.º 839

4350 PortoTel: 225 100 455 / Tm: 916 747 162

[email protected] Rua de Moçambique, nº 147 - loja 8C.C. Liceu•4430 Vila Nova de Gaia

Tel: 223 752 335 / Tm: 936 319 [email protected]

ecologiaA FolhA 10

Porquê utilizar materiais ecológicos?

As preocupações ambientais são uma necessidade actual e não uma mera moda. É no processo de projecto/concepção dos edifícios que se tomam as decisões mais importantes ao nível do desenho do edifício e da escolha dos materiais. Algumas destas decisões podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida actual e das gerações vindouras. O projectista assume uma posição chave entre a sociedade e a indústria de construção, influenciando estas na escolha de soluções menos consumidoras de energia, menos poluen-tes, mais reutilizáveis e ao mesmo tempo mais económicas e funcionais.

A procura de uma arquitectura e construção sustentáveis tem fomentado a investigação de produtos alternativos, ba-seados em materiais naturais, recicláveis/reutilizáveis ou re-síduos industriais, convencionalmente designados por “gre-en materials”. Assim, um pouco por todo o Mundo, este tipo de pesquisa tem sido alvo de uma crescente preocupação em universidades e centros de investigação tecnológicos.

Porquê o cânhamo industrial?

As fibras de cânhamo industrial, cannabis sativa L, de um índice quase nulo de substância psicotrópica são da catego-ria das fibras de juta, sisal, linho e côco. Estas plantas fazem parte de um alargado leque de culturas vegetais, biodegra-dáveis e amigas do ambiente pela sua capacidade renovável e de benefício para os solos. Além disso, têm competido com as fibras sintéticas pelas suas excelentes propriedades químicas e mecânicas, especialmente tracção, resistências térmica e acústica e características bactericidas.

O cânhamo tem sido cultivado para a extracção das fibras exteriores da planta pela sua elevada resistência e flexibilidade para inúmeras aplicações desde cordoaria a roupa. No entanto após a remoção destas fibras sobra o cau-le, representando cerca de 40 a 60% da massa da planta (4-6 t/ha). Este sub-producto, conhecido por “hemp hurds” ou “chévenotte”, são fibras internas celulósicas que se as-semelham a pequenas aparas de madeira, mas diferem pela

sua extrema leveza e absorção. Estas fibras possibilitam diversos usos como forragem animal e absorventes para camas de animais ou jardins, não só pela sua absorção, mas também pelas suas propriedades herbicidas e insecticidas.

Para a construção, além das propriedades referidas, as fibras de cânhamo são invulgarmente ricas em sílica, um composto químico naturalmente presente na areia e na pedra. Este elevado teor mineral permite que as fibras de cânhamo misturadas com cal sofram um processo de mi-neralização e endurecimento semelhante a um betão leve convencional.

As primeiras construções de cânhamo surgem na re-gião de Nantes em França, à base cânhamo, terra e cal. Em 1987, Charles Rasetti começou os primeiros estudos mo-dernos da construção em cânhamo, no sentido de recuperar e actualizar as antigas técnicas de construção em França, tendo surgido assim o primeiro betão de cânhamo à base das fibras internas de cânhamo e cal, “béton de chanvre” ou “hempcrete”. Actualmente encontram-se edifícios realiza-dos com cânhamo industrial em vários outros países como a Suíça, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos da América e Austrália.

Em Portugal começa agora a surgir o interesse por este material, nomeadamente pelo seu cultivo e transformação para utilização em diversos fins.

O cânhamo além de utilizado com agregado no betão leve é também utilizado como isolamento, térmico e acús-tico, através da aplicação das suas fibras exteriores com-pactadas sem qualquer tipo de ligante. Além disso, as fibras de cânhamo com resinas naturais ou sintéticas possibilitam obter o fabrico de placas, vigas e varões (semelhantes ao aço) e produtos moldados como mobiliário.

Relativamente ao betão leve com cânhamo, conhecem-se inúmeras composições baseadas na utilização da cal, aé-rea ou hidráulica, e diversas adições empregues em percen-tagens distintas. Entre estas adições encontram-se materiais pozolânicos, cinzas volantes, cimento e o agregado fino convencional, a areia. Existem, no entanto, aditivos que permanecem em segredo pelos investigadores e fabricantes por razões comerciais.

Exemplo técnico da construção em cânhamo

Construircom

Cânhamo

uniVeRSidAde do minho eStudA eco-betÃo; VÁRioS PAíSeS jÁ conStRoem com cânhAmo

A planta de cânhamo é considerada há milénios um bem de primeira necessidade para tecelagem, cordoaria, óleo para iluminação e posteriormente para a construção. Hoje o interesse pelo cânhamo industrial cresce cada vez mais graças às suas qualidades: solidez, resistência, isolamento e preservação do ambiente. Este material é actualmente utilizado para um vasto leque de aplicações desde comida, cosméticos, roupa, papel, combustível, bio-plásticos e até materiais de construção.Por Rute Eires*

celuloSe de cânhAmo

Baixa energia incorporada (1.15kw/m3)

Material natural - Renovável

Bactericida e resistente a insectos

Aumento da resistência mecânica pelas fibras

Redução da permeabilidade à água – Controlo

por absorção de água

PAStA de PAPel

Utilização de desperdícios

- Reciclagem

Redução de custos

Aumento da resistência mecânica pela consistência

dada à argamassa

Redução de fissuras

cAl

Ligeira melhoria das resistências

mecânicas

Redução de custos

Resistência ao fogo

Redução de custos

Amostras do eco-betão desenvolvido na Universidade do Minho

Moradia construída com hempcrete no Reino Unido

Fotos: Rute Eires

www.suffolkhousing.org

Imagem

: Rute Eires

comPonenteS do eco-betÃo deSenVolVido nA uniVeRSidAde do minho e SumÁRio dAS SuAS PRoPRiedAdeS

Resistência ao fogo

Substituição de cimento

– menor produção de carbono

metAcAulino

11 A FolhA

A construção em cânhamo é realizada de diversos mo-dos como por exemplo na construção de paredes interiores e exteriores, substituindo de uma só vez, a convencional parede de tijolo, incluindo a barreira ao vapor, o isolamento térmico ou acústico e revestimentos como o gesso cartona-do. Esta pode ser realizada mediante uma aplicação in situ com cofragem que permita uma compactação por camadas ou por utilização de blocos pré-fabricados à semelhança do betão leve cimentício. Como acabamento, apenas necessita de uma pintura, tal como a construção convencional, mas é recomendada a pintura de cal – com ou sem pigmenta-ção – ou a aplicação de verniz natural no caso de paredes interiores, permitindo o transparecer da textura original do material. Estes recobrimentos devem manter a capacidade de passagem do vapor de água que é uma vantagem deste processo de construção.

O que torna esta construção excepcional em relação à convencional, além da sua origem biológica e do seu carácter ecológico, é precisamente a capacidade de permitir a respi-ração natural do edifício, prevenindo a ocorrência de con-densações. O isolamento térmico e acústico é proporcionado pelo elevado teor em sílica e porosidade de todo o material. A sua flexibilidade e capacidade de ajuste aos movimentos, próprios de qualquer construção, evitam o aparecimento de fracturas. A sua leveza torna este tipo de material benéfico sobretudo para reabilitações e situações onde seja necessário isolamento sem elevar o peso próprio da construção. Para além disso, não é inflamável nem liberta fumos tóxicos e é resistente a insectos, fungos e bactérias.

A utilização deste tipo de construção valoriza o uso de materiais renováveis, diminui a produção de lixo e mi-nimiza a libertação de CO2 e materiais tóxicos. Promove ainda um crescimento significativo da produção agrícola pelo cultivo anual da planta, sendo uma alternativa eco-lógica à desflorestação existente actualmente. Como os agregados convencionais são introduzidos em menores quantidades, a extracção mineral tem assim um menor impacto ambiental. O consumo de energia está apenas presente durante a plantação, colheita e na extracção das fibras exteriores e não necessita de processos químicos. Durante a fase de transporte também a energia e os custos são menores, uma vez que o material é dotado de alta leveza.

Eco-betão utilizando cânhamo e pasta de papel

Um novo betão leve à base de cânhamo foi estudado no âmbito da dissertação de mestrado em Materiais e Re-abilitação da Construção, na Universidade do Minho sob o tema “Materiais não convencionais para uma construção sustentável utilizando cânhamo, pasta de papel e cortiça”.

O propósito deste estudo foi a pesquisa e desenvol-vimento de um novo betão de cânhamo mais eco-eficiente, sem utilização de cimento, diminuindo a cal utilizada neste tipo de betão e incorporando desperdí-cios de papel em forma de pasta. O ligante utilizado é a própria pasta de papel e uma mistura pozolânica

de metacaulino com cal. O metacaulino utilizado é uma pozolana resultante do tratamento de resíduos de uma mina de extracção de agregados. Trata-se de uma substância bastante reactiva, que em contacto com a cal produz um material cimentício.

Este novo material compósito pode ser utilizado como o “hempcrete” convencional, compactado in situ, na ela-boração de blocos ou como argamassa isolante, como por exemplo em revestimentos, enchimentos entre paredes ou regularização de pisos.

No quadro da página anterior encontra-se uma síntese das propriedades conferidas pelos materiais constituintes deste novo betão.

As composições estudadas têm uma resistência à compressão satisfatória para as aplicações previstas, com valores médios de 0,6 MPa. Estes resultados são seme-lhantes aos valores de resistência conhecidos de alguns centros de pesquisa europeus que têm vindo a desenvol-ver betões de cânhamo com diversos tipos de ligante, com adições como o cimento, pozolanas e areia como agrega-do, com resultados de resistência à compressão com uma média de 0,5 MPa.

O comportamento dúctil, verificado nos ensaios de resistência à compressão, flexão e compressão/descom-pressão, traduz a flexibilidade própria deste tipo de betão leve, vantajosa no ajuste do material à estrutura da cons-trução.

A adição de pasta de papel produz uma melhoria média das resistências à compressão. Por outro lado, em termos de absorção de água, esta adição de pasta celuló-sica revela-se desfavorável, uma vez que elevou o índice de absorção em 30%. No entanto, esta limitação pode ser resolvida através da aplicação de um revestimento ou de um hidrofugante de superfície natural ou sintético.

A construção em cânhamo constitui assim uma alter-nativa à construção convencional, mais ecológica e sau-dável para o ser humano.

* Arquitecta pertencente ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho; pós-graduada em Materiais e Reabilitação de Construções

A utilização deste tipo de construção minimiza a libertação de CO2 e materiais tóxicos, e a produção de lixo; valoriza o uso de materiais renováveis

As fibras de cânhamo com resinas naturais ou sintéticas possibilitam obter o fabrico de placas, vigas e varões (semelhantes ao aço) e mobiliário

Fibras de cânhamo externas e internas utilizadas no Eco-Betão estudado na Universade do Minho

Fotos: Rute Eires

www.construction-chanvre.asso.frCultivo de cânhamo industrial na França;Construção antiga com cânhamo, maison à colombages, França

fabricado em Portugal

várias dimensões, modelos e cortes, embalagem personalizávelfiltros práticos, mais saudáveis e cada vez mais bonitos!

Há mais de 30 anos. Obrigado a todos!

Balas que são hinos!

Apartado 141331064-820 Lisboa

PORTUGAL

[ZW

014]

[ZW

011]

[ZW

010]

[ZW

012] [Z

W00

9]

[ZW

013]

actualidadeA FolhA 12

CANNAbis soCiAl ClubA experiência dos clubes sociais de canábis em espanha deu os primeiros passos em 1993. Foi nesse ano que a Associação ARSEC de Barcelona (Associação Ramon Santos pelo Estudo da Cana-bis) enviou uma carta ao fiscal anti-droga da Catalunha. Nessa carta referia que uma vez que já em 1974 (em plena ditadura franquista) o Supremo Tribunal Espanhol decidiu que a simples utilização de drogas não constituia delito, então o cultivo para cobrir exclusivamente as necessidades pessoais que não superem o consumo normal deveria ser considerado como não delictivo. O fiscal reconheceu então que o culti-vo de marijuana em quantidades que não superem o consumo normal deveria ser considerado como não delictivo, mas que não se “atrevia” a pronunciar-se nesse sentido por “falta de factos concretos”.

Os membros da ARSEC deram imediatamente ao fiscal os “factos concretos”. Para tal, alugaram um terreno no qual cerca de 100 membros da associação cultivaram 200 plantas para utilização pessoal. O terreno foi sinalizado com cartazes e foram formalmente avisados o Fiscal citado acima e os meios de comunicação. Após a intervenção da Guardia Civil [equivalente em Portugal à GNR], o tribunal da comarca de Tarragona arquivou o caso, ao entender que não havia delito. No entanto, a fiscalia anti-droga da audiência recor-reu e o caso acabou por chegar ao Supremo Tribunal de Justiça.

Enquanto o caso ARSEC se resolvia, nasceu a Coordenadora Na-cional pela Normalização da Cannabis, formada por “associações de estudo da cannabis“, uma vez que a denominação “de consumidores de canábis” não era permitida. A primeira campanha promovida pela Coordenadora “Contra la proibición, me planto” [Contra a Proibição, não arredo pé - jogo entre a palavra plantar (planto) e não arredar pé (me planto)]– consistiu em levar a cabo plantações colectivas como a da ARSEC.

No entanto, apenas um grupo realizou de facto uma plantação colectiva: a Associação Kalamundia, com sede na Capital do País Basco, Bilbao, da qual eu era o presidente. Depois de alugar um terreno discreto, os quase 200 sócios plantaram mais de 600 plantas de marijuana na presença da imprensa escrita, rádios e televisões. Entre os cultivadores havia muitas pessoas “conhecidas” da socieda-de Basca: vários políticos, sindicalistas, jornalistas, músicos, escritores, etc., além de vários utilizadores terapêuticos.

Eu e os participantes assinámos uma declaração na qual reco-nhecíamos ser utilizadores de canábis, e onde nos comprometíamos a destinar o produto da colheita ao consumo pessoal. Com o objec-tivo de que a plantação fosse transparente em termos económicos, abriu-se uma conta bancária em que cada membro depositou a sua contribuição para suportar os custos do cultivo. Após uma breve declaração em julgamento, o caso acabou por ser arquivado. O Juíz entendeu que não havia delito e a Fizcalia [Ministério Público] preferiu não recorrer, de maneira que o cultivo colectivo pode pros-seguir até ao final e a colheita foi realizada num acto histórico na presença dos meios de comunicação social.

No entanto, alguns meses depois o Supremo ditou a sentença do caso ARSEC. Numa sentença de claro cariz político e que contradizia a sua própria jurisprudência, o supremo condenou quatro membros da junta directiva da ARSEC a quatro meses de prisão, (em Espanha, na primeira condenação de um cidadão, se a pena for inferior a 2 anos, apanha pena suspensa) e a uma multa de três mil euros a cada um dos 4 membros da direcção. Isto aconteceu no final de 1997.

Ainda assim, voltámos a tentar o cultivo colectivo na associação Kalamundia, que levámos a termo em plantações públicas realiza-

Os clubes de canábis nasceram em Espanha, mas o exemplo

extende-se já pela Europa. Fumadores recreativos de canábis

e pacientes com necessidades terapêuticas unem-se legalmente,

pagam quotas, fazem cultivos colectivos e repartem a marijuana ao fim do mês.

Por Martin Barriuso*

Uma brecha no muro da proibição

Joep Oomen, membro do conselho executivo da ENCOD apresenta a primera colheita realizada no clube de canábis “Trekt Uw Plant”,e partilhada de maneira legal na Bélgica.

das em 1999 e 2000. Em ambos os casos, a Fizcalia nem se deu ao trabalho de apresentar qualquer acusação e a colheita foi realizada sem contratempos.

Entretanto, Juan Muñoz e Susana Soto, do Instituto Andaluz de Criminologia, elaboraram um parecer jurídico no qual, após analizar as sentenças do Supremo Tribunal de Justiça sobre o denominado “consumo partilhado”, chegaram à conclusão de que em Espanha se podiam abrir estabelecimentos em se podia produzir cannabis ou outras plantas para utilização exclusivamente pessoal, desde que se cumprissem várias condições:

1. que fosse um grupo concreto e determinado de pessoas;2. que fossem maiores de idade e previamente consumidores; 3. que a substância obtida se destinasse ao uso pessoal dos

membros, e 4. que não houvesse benefício económico, ou seja, lucro.

Este foi o ponto de partida dos clubes própriamente ditos. Como já se podia utilizar a fórmula “associação de utilizadores”, as pes-soas que queriam entrar assinavam a declaração correspondente. O funcionamento era similar ao da associação Kalamundia: circuito fechado e custos partilhados. Foi assim que surgiram até 5 clubes no País Basco. Alguns deles chegaram até a ter o seu próprio jardineiro, contratado pela associação. Até que, por uma casualidade, quatro membros do meu próprio clube, a Associação Pannag, eu incluído, fomos detidos pela polícia local de Bilbao enquanto colhíamos a colheita de 2005.

A nossa detenção teve um grande impacto. Mais impacto ainda teve o arquivamento do caso em Julho de 2006, pela Audiencia Provincial de Bizkaia, e no que não foi apresentado recurso, e que se baseava no relatório de Muñoz e Soto. O tribunal chegou a ordenar por duas vezes a devolução das plantas por parte das autoridades que as tinham confiscado, decisão que actualmente está sob pedido de recurso.

A partir daí, formaram-se quase 15 novos clubes em diversas cidades e regiões de Espanha. Todos aplicamos o mesmo modelo legal e esperamos poder levar a cabo uma nova edição da campanha “contra la prohibición, me planto” no que será o 10.º aniversário da primeira campanha com o mesmo mote, levada a cabo pela ARSEC. Também surgiu um clube na Bélgica, “Trek Uw Plant”, que actual-mente está à espera da decisão dos tribunais após a breve detenção de alguns membros. [A Folha esteve recentemente em contacto com um membro da direção do clube “Trek Uw Plant”, que estava em condições de nos assegurar que já saiu a decisão dos tribunais e que esta acaba por tolerar o cultivo colectivo com o limite de uma planta por membro.] A Coalição Europeia Encod [www.encod.org] também está a promover a criação de clubes deste tipo nos países europeus onde o consumo está despenalizado. Será que o Cannabis Social Clube é realmente uma alternativa ao modelo proibicionista? Só o tempo dirá, mas é cada vez mais claro que é necessário assumir certos riscos para debilitar a proibição. Por isso esperamos que cada vez mais pessoas entrem pela brecha que abrimos e que nos ajudem a aumentá-la. A mudança está nas nossas mãos.

*Presidente da Federação de Associações Cannábicas de Espanha

ReVolTaRequeR

MuniÇÕes

GUme - “Lisboa” 7” eP; FAcçãO OPPOsTA / mãO de FeRRO - sPLiT cd

ze

RO

wO

Rk

@h

OT

mA

iL.cO

m

neXT Blood

ww

w.m

ys

PAc

e.c

Om

/ze

RO

wO

Rk

_Re

cs

through Art t A tt o ode Mauro Gonçalves

917 684 387968 204 120

AberturA brevemente oDIveLAS - LISboA

myspace.com/mauoritattoos

ESTE ESPAÇO PODE SER SEU

desde 48€

Dê o seu negócio a conhecer ao nosso público especializado.

Anuncie n’A [email protected]

12cm

8cm

visualparadox.com

Av. Camilo 268, Bonfim 4300-095 Porto

Tel.: 225 102 420

ww

w.F

Ree

mA

Rc.

cA

ALbeRT FishNews From The Front,

cd

simbiOseFake dimension, 12” LP

sOciAL chAOsciclo da Traição,

12” LP

skARmeNTO, cd

diLUViOsenzaombrello, cd

V/A - Underground Anthems, 7” eP

com: decReTO 77 ALbeRT FishRed UNiON

ULTimA sAcUdidA

Balas que são hinos!

Apartado 141331064-820 Lisboa

PORTUGAL

[ZW

014]

[ZW

011]

[ZW

010]

[ZW

012] [Z

W00

9]

[ZW

013]

actualidadeA FolhA 12

CANNAbis soCiAl ClubA experiência dos clubes sociais de canábis em espanha deu os primeiros passos em 1993. Foi nesse ano que a Associação ARSEC de Barcelona (Associação Ramon Santos pelo Estudo da Cana-bis) enviou uma carta ao fiscal anti-droga da Catalunha. Nessa carta referia que uma vez que já em 1974 (em plena ditadura franquista) o Supremo Tribunal Espanhol decidiu que a simples utilização de drogas não constituia delito, então o cultivo para cobrir exclusivamente as necessidades pessoais que não superem o consumo normal deveria ser considerado como não delictivo. O fiscal reconheceu então que o culti-vo de marijuana em quantidades que não superem o consumo normal deveria ser considerado como não delictivo, mas que não se “atrevia” a pronunciar-se nesse sentido por “falta de factos concretos”.

Os membros da ARSEC deram imediatamente ao fiscal os “factos concretos”. Para tal, alugaram um terreno no qual cerca de 100 membros da associação cultivaram 200 plantas para utilização pessoal. O terreno foi sinalizado com cartazes e foram formalmente avisados o Fiscal citado acima e os meios de comunicação. Após a intervenção da Guardia Civil [equivalente em Portugal à GNR], o tribunal da comarca de Tarragona arquivou o caso, ao entender que não havia delito. No entanto, a fiscalia anti-droga da audiência recor-reu e o caso acabou por chegar ao Supremo Tribunal de Justiça.

Enquanto o caso ARSEC se resolvia, nasceu a Coordenadora Na-cional pela Normalização da Cannabis, formada por “associações de estudo da cannabis“, uma vez que a denominação “de consumidores de canábis” não era permitida. A primeira campanha promovida pela Coordenadora “Contra la proibición, me planto” [Contra a Proibição, não arredo pé - jogo entre a palavra plantar (planto) e não arredar pé (me planto)]– consistiu em levar a cabo plantações colectivas como a da ARSEC.

No entanto, apenas um grupo realizou de facto uma plantação colectiva: a Associação Kalamundia, com sede na Capital do País Basco, Bilbao, da qual eu era o presidente. Depois de alugar um terreno discreto, os quase 200 sócios plantaram mais de 600 plantas de marijuana na presença da imprensa escrita, rádios e televisões. Entre os cultivadores havia muitas pessoas “conhecidas” da socieda-de Basca: vários políticos, sindicalistas, jornalistas, músicos, escritores, etc., além de vários utilizadores terapêuticos.

Eu e os participantes assinámos uma declaração na qual reco-nhecíamos ser utilizadores de canábis, e onde nos comprometíamos a destinar o produto da colheita ao consumo pessoal. Com o objec-tivo de que a plantação fosse transparente em termos económicos, abriu-se uma conta bancária em que cada membro depositou a sua contribuição para suportar os custos do cultivo. Após uma breve declaração em julgamento, o caso acabou por ser arquivado. O Juíz entendeu que não havia delito e a Fizcalia [Ministério Público] preferiu não recorrer, de maneira que o cultivo colectivo pode pros-seguir até ao final e a colheita foi realizada num acto histórico na presença dos meios de comunicação social.

No entanto, alguns meses depois o Supremo ditou a sentença do caso ARSEC. Numa sentença de claro cariz político e que contradizia a sua própria jurisprudência, o supremo condenou quatro membros da junta directiva da ARSEC a quatro meses de prisão, (em Espanha, na primeira condenação de um cidadão, se a pena for inferior a 2 anos, apanha pena suspensa) e a uma multa de três mil euros a cada um dos 4 membros da direcção. Isto aconteceu no final de 1997.

Ainda assim, voltámos a tentar o cultivo colectivo na associação Kalamundia, que levámos a termo em plantações públicas realiza-

Os clubes de canábis nasceram em Espanha, mas o exemplo

extende-se já pela Europa. Fumadores recreativos de canábis

e pacientes com necessidades terapêuticas unem-se legalmente,

pagam quotas, fazem cultivos colectivos e repartem a marijuana ao fim do mês.

Por Martin Barriuso*

Uma brecha no muro da proibição

Joep Oomen, membro do conselho executivo da ENCOD apresenta a primera colheita realizada no clube de canábis “Trekt Uw Plant”,e partilhada de maneira legal na Bélgica.

das em 1999 e 2000. Em ambos os casos, a Fizcalia nem se deu ao trabalho de apresentar qualquer acusação e a colheita foi realizada sem contratempos.

Entretanto, Juan Muñoz e Susana Soto, do Instituto Andaluz de Criminologia, elaboraram um parecer jurídico no qual, após analizar as sentenças do Supremo Tribunal de Justiça sobre o denominado “consumo partilhado”, chegaram à conclusão de que em Espanha se podiam abrir estabelecimentos em se podia produzir cannabis ou outras plantas para utilização exclusivamente pessoal, desde que se cumprissem várias condições:

1. que fosse um grupo concreto e determinado de pessoas;2. que fossem maiores de idade e previamente consumidores; 3. que a substância obtida se destinasse ao uso pessoal dos

membros, e 4. que não houvesse benefício económico, ou seja, lucro.

Este foi o ponto de partida dos clubes própriamente ditos. Como já se podia utilizar a fórmula “associação de utilizadores”, as pes-soas que queriam entrar assinavam a declaração correspondente. O funcionamento era similar ao da associação Kalamundia: circuito fechado e custos partilhados. Foi assim que surgiram até 5 clubes no País Basco. Alguns deles chegaram até a ter o seu próprio jardineiro, contratado pela associação. Até que, por uma casualidade, quatro membros do meu próprio clube, a Associação Pannag, eu incluído, fomos detidos pela polícia local de Bilbao enquanto colhíamos a colheita de 2005.

A nossa detenção teve um grande impacto. Mais impacto ainda teve o arquivamento do caso em Julho de 2006, pela Audiencia Provincial de Bizkaia, e no que não foi apresentado recurso, e que se baseava no relatório de Muñoz e Soto. O tribunal chegou a ordenar por duas vezes a devolução das plantas por parte das autoridades que as tinham confiscado, decisão que actualmente está sob pedido de recurso.

A partir daí, formaram-se quase 15 novos clubes em diversas cidades e regiões de Espanha. Todos aplicamos o mesmo modelo legal e esperamos poder levar a cabo uma nova edição da campanha “contra la prohibición, me planto” no que será o 10.º aniversário da primeira campanha com o mesmo mote, levada a cabo pela ARSEC. Também surgiu um clube na Bélgica, “Trek Uw Plant”, que actual-mente está à espera da decisão dos tribunais após a breve detenção de alguns membros. [A Folha esteve recentemente em contacto com um membro da direção do clube “Trek Uw Plant”, que estava em condições de nos assegurar que já saiu a decisão dos tribunais e que esta acaba por tolerar o cultivo colectivo com o limite de uma planta por membro.] A Coalição Europeia Encod [www.encod.org] também está a promover a criação de clubes deste tipo nos países europeus onde o consumo está despenalizado. Será que o Cannabis Social Clube é realmente uma alternativa ao modelo proibicionista? Só o tempo dirá, mas é cada vez mais claro que é necessário assumir certos riscos para debilitar a proibição. Por isso esperamos que cada vez mais pessoas entrem pela brecha que abrimos e que nos ajudem a aumentá-la. A mudança está nas nossas mãos.

*Presidente da Federação de Associações Cannábicas de Espanha

ReVolTaRequeR

MuniÇÕes

GUme - “Lisboa” 7” eP; FAcçãO OPPOsTA / mãO de FeRRO - sPLiT cd

ze

RO

wO

Rk

@h

OT

mA

iL.cO

m

neXT Blood

ww

w.m

ys

PAc

e.c

Om

/ze

RO

wO

Rk

_Re

cs

through Art t A tt o ode Mauro Gonçalves

917 684 387968 204 120

AberturA brevemente oDIveLAS - LISboA

myspace.com/mauoritattoos

ESTE ESPAÇO PODE SER SEU

desde 48€

Dê o seu negócio a conhecer ao nosso público especializado.

Anuncie n’A [email protected]

12cm

8cm

visualparadox.com

Av. Camilo 268, Bonfim 4300-095 Porto

Tel.: 225 102 420

ww

w.F

Ree

mA

Rc.

cA

ALbeRT FishNews From The Front,

cd

simbiOseFake dimension, 12” LP

sOciAL chAOsciclo da Traição,

12” LP

skARmeNTO, cd

diLUViOsenzaombrello, cd

V/A - Underground Anthems, 7” eP

com: decReTO 77 ALbeRT FishRed UNiON

ULTimA sAcUdidA

Sem duvida que a teia do proibicionismo está tão bem montada, que além dos seus inúmeros tentáculos, tem inúmeras cabeças criativas e inúmeras formas de prender a vítima e há uma que funciona muito bem nas redacções deste velho continente, a vaidade!

“Eu uso, e sou tão inteligente e hábil, que nem o meu chefe sabe e por isso mantenho o emprego; neste meio de concorrência desleal até consigo ser promovido!” Será então que a droga é a última das grandes causas e razões da irreverência? Primeiro, isto nem sequer é irreverência, irreverência é assumir todas as consequências contra tudo e contra todos. Segundo, o tema é demasiado sério para ser encarado, ou escondido de forma tão fútil.

De um lado os conservadores fundamentalistas, do outro os co-bardes fúteis ou ignorantes e no meio nós os activistas que gritamos todos os dias contra a enorme injustiça e crueldade de um sistema que persiste, quase há meio século, em torturar, prender e matar milhões de seres humanos em todo o mundo.

Estaremos sós? Bem, cada vez somos mais e cada vez as nossas provas e argumentos aumentam e são mais sólidos. Se falta algo? Sim, falta chegarmos a cada cidadão, a cada indivíduo, pois eles é que vão escolher e votar naqueles que vão instituir o sistema. Claro que hoje isso só é possível através dos media, mas a partir do mo-mento em que juntamos as nossas energias e as canalizamos para um objectivo movemos montanhas.

Aprendemos que nesta luta apenas se consegue dar um peque-no passo de cada vez, nada se movimenta e altera muito rápido, mas quando ao menos os passos são seguros, não recuam e outros mais se seguirão.

dizem-nos que apesar de tudo precisamos de uma sociedade sóbria, para agir e pensar. Mas será que a necessi-dade de sobriedade existe e triunfa neste sistema, ou será que ele, pelo contrário, como não dispõe de uma alteração da consciência e sensibilidade controlada, será pior e menos ébrio? Os grandes utopistas do século XX defenderam sempre uma sociedade melhor, mas que poderia usufruir do seu soma, pois o cérebro humano

necessita de estímulos que ultrapassem a mera satisfação de alimento e sobrevi-vência, como nos outros animais.

Não há como o negar, todas as sociedades usam desde sempre pelo menos uma droga. De tempos a tem-pos outras substâncias aparecem; nos descobrimentos, a Europa conheceu e adoptou o tabaco, entre outras drogas. Acima de tudo, exportou a droga mais

forte de todas: álcool. Com a globaliza-ção, tudo chega a todos. A questão é: ou o Estado intervém, regulando distribuição das drogas, ou as deixa nas mãos do mercado negro.

As sociedades que impõem a sobriedade nem sequer são exemplo ou prova de evolução, satisfação e muito menos felicidade. O cérebro humano é demasiado complexo e exigente para negar algo mais além. Agora, de algo que a humanidade exige saudavelmente desde sempre, a algo terrivelmente desastroso pela imposição do sistema actual, vai uma grande diferença, diferença que deverá ser pensada, estudada e exigida senão por todos pelo menos por aqueles que tem a pretensão de noticiar a verdade. Ou será que devemos todos deixar de fumar, de beber, de abstrair, de imaginar, sentir e ver mais além? Pôr de lado tudo o que foi conseguido sob o efeito de drogas? Abdicar da mecânica quântica?

Também houve quem me avisasse para não ser inocente e pensar que os grandes interesses económicos que subtilmente lucram com o tráfico, se iriam suavemente calar e abdicar de uma das maiores receitas económicas de sempre, sem luta, e que tal como na política o domínio da comunicação dita a vontade dos cidadãos actualmente! Por isso a Guerra às drogas se iria acentuar-se nos Media, na manipulação silenciosa. Pois, mas tal como nas grandes revoluções em prol da justiça, também nós cá estaremos para falar, denunciar e sobretudo para divulgar a verdade.

* Membro do Conselho Executivo da Encod; Presidente da ONG Diferença Real

mas se a verdade científica aponta para a ineficá-cia do sistema proibicionista, porque é que a comunicação social ignora a situação? É estranho, primeiro porque pelo menos os jornalistas do ocidente democrático fazem questão de mostrar ao mundo que são livres, justos e verdadeiros e criticam os países que tem censura! Segundo, porque o tema interessa e “vende”; queiramos ou não, é a linha para que alguma noticia saia, o ter que interessar a muita gente. Depois porque todos os dias somos invadi-dos com notícias sobre drogas, as enormes apreensões, os mauzões apanhados, as fortunas fáceis, ou então o lado triste das mortes e doenças das inúmeras vítimas irresponsáveis pela opção, mas res-ponsáveis e punidas pela lei.

Então porque não somos confrontados regularmente, nem sequer esporadicamente, com documentários sobre os resultados efectivos da política proibicionista? Porque é que os cientistas, ou mesmo os políticos que publicamente contestaram este sistema, não são visíveis?

É estranho! Pior do que isso, não é inocente. Prin-

cipalmente quando vemos noticias que transmitem uma alteração da verdade dos factos.

Senão vejamos: no inicio do verão de 2009, e após um relatório do Cato Institute sobre a politica de descrimina-lização do uso de drogas em Portugal, chegou-se à conclusão que afinal os resultados foram positivos. O consumo não aumentou, as doenças e mortes por droga não aumentaram e até baixaram significativa-mente em alguns casos.

Qual não é a nossa surpresa quando apenas pouco tempo depois todos os telejornais Portugueses abriam com: «Morte por drogas aumenta 45% em Portugal em 2007!» Achamos estranho a insistência na notícia, que rapidamente se tornou internacional, principalmente porque estávamos na posse dos dados oficiais do departamento de estatística do Instituto da Droga Português e em nada pareciam confirmar esta notícia.

A verdade facilmente foi obtida e estes resul-tados só foram apresentados porque os meios, os métodos e a quantidade de mortes testada foi muito superior ao anterior resultado obtido! Assim é im-possível afirmar que houve um aumento de mortes por droga, o que aliás foi posteriormente confirmado pelas autoridades competentes, mas o mal já estava feito! A notícia que anteriormente confirmava o sucesso da política de descriminalização do uso de drogas, já estava obscurecida: “Pois é… mas… mas as mortes aumentaram!”

É que meus amigos, o cidadão comum vive dos títulos dos jornais, não tem tempo, nem disposição para investigações científicas, ou meras confirmações da verdade, principalmente quando não querem mudar de opinião.

Outro ponto que não entendemos, é porque é que, de tantos jornalistas defensores da verdade a todo o custo, nenhum avança contra a corrente e começa a publicar a verdade sobre as drogas? Principalmente quando alguns consomem drogas regularmente!

Apesar de cada vez mais pessoas, como cien-tistas, políticos e intelectuais, reconhecerem que a proibição das drogas é má, o que é certo é que para o cidadão comum a verdade continua a ser a mesma há décadas: as drogas fazem mal e matam, por isso devem ser proibidas! Para o grande público e para os Media nada é dito em sentido contrário, existindo assim um grande desfasamento entre o que os anti-proibicionistas aclamam e aquilo que é a realidade para aqueles que votam e elegem os que vão determinar as novas políticas. Por Jorge Roque*

Coloquei a questão a vários jornalistas e para minha surpresa muitos nem sequer quiseram responder, outros adiaram e outros foram vagos, sempre referindo-se a outros: «ok, a mensagem negati-va para as crianças. O estigma. O medo social?» Afinal as mães não gostam que as filhas saiam com junkies e os chefes não dão empre-go. Outros esclareceram que a maior parte dos media hoje em dia são empresas que seguem fortes directrizes comerciais e ou políticas e não há interesse em iniciar esta discussão, pelo menos até à data. Quem sabe no futuro!

Também houve alguém que disse que a informação que lhes chega é contraditória e por vezes até falsa, ou assente em teorias sem comprovação científica! Bem, aqui pelo menos aponta uma luz sobre aquilo que nós activistas poderemos fazer. Será que teremos que aplicar mais energia em tentar fazer chegar a nossa mensagem ao grande público? Sim, é bem provável. Já quanto ao divulgarmos factos mais com a emoção do que com a razão, não concordo; os tempos mudaram completamente e hoje em dia ninguém tem mais preocupações do que nós em conhecer e expor a verdade dos factos.

Guerra das drogas – Guerra dos Media

actualidadeA FolhA 14

O cidadão comum vive dos títulos dos jornais, não tem tempo, nem disposição para investigações científicas, ou meras confirmações da verdade, principalmente

quando não querem mudar de opinião

Os Media fazem a “papinha” mas a cabeça é TUA!

17 A FolhAcrónicas do cannabistão

A FolhA 16

A técnica 12/12 é um método inovador de alto rendimento que permite aumentar a produção por colheita e o número de colheitas anuais, de forma mais natural, económica, e rentável

Nos últimos 10 anos, este senhor dedicou-se ao aperfeiçoa-mento de uma técnica de cultivo pouco popular, mantida na sombra pelo florescente e lucrativo negócio da venda de clones na Holanda. O alto preço das sementes também não abona a favor da técnica que ficou conhecida como

Dicas para um óptimo rendimento: • Não ceda à tentação de dar às plantas mais de 12 h de

luz por dia, nem nos primeiros dias. A passagem subse-quente para 12 horas provocará um considerável “salto em altura” no crescimento da planta.

• Este método exige um cuidado diário. A densidade de massa vegetal é grande e convém prevenir o apareci-mento de pragas como insectos ou fungos.

• Em caso de utilização de um sistema de rega automa-tizada, este deve ser verificado diariamente. As plantas dispõem de pouco substrato, uma falha de rega prolon-gada pode ser fatal.

para vasos de 3 a 5 litros e quando estiverem todas, passam-se para a lâmpada HPS.

4. A partir deste momento são geralmente 2 meses

– 8 semanas – até à colheita. É essencial garantir uma boa iluminação durante todo o processo, porque como as plantas só vão ter acesso a 12h de luz diárias, esta deve ser o mais intensa e bem distribuída possível. Debaixo das lâmpadas HPS a 12 h de luz por dia, neste sistema é geralmente suficiente regar 200 ml de água por planta /dia. Se a terra não secar quase por completo durante 24h, terá de espaçar mais as regas.

5. Quando faltarem entre 19-22 dias para a colheita, germina-se a próxima sementeira. Pode-se germinar no mesmo espaço de cultivo, recorrendo a uma lâm-pada fluorescente, que como já indicámos deve estar o mais perto possível da planta desde que a parte mais alta desta não ultrapasse os 26ºC de temperatura.

6. Corta-se a colheita, limpa-se o espaço de cultivo com desinfectante e finalmente instalam-se as plantas, previamente germinadas 19 a 22 dias atrás, debaixo da lâmpada HPS, dando início a um novo ciclo de floração.

Como tirar o melhor partido do cultivo 12h/12h em Hidroponia 1. Germinar as plantas através da técnica do prato e pa-

pel, ou directamente dentro de um cubo de lã de rocha de 7,5 cm x 7,5 cm demolhado em água com o pH previamente preparado.

2. Preparar o pH: demolhar durante 3 horas o cubo de lã de rocha numa solução com o pH a 3,5. Passadas essas 3 horas, retiram-se os cubos de lã de rocha da solução, espreme-se um pouco para tirar o excesso de água e colocam-se num recipiente com água com pH

Planta macho, pronta para ser retirada de junto das suas irmãs e destruída ou utilizada para reprodução

Cees é um dos sócios da No Mercy Supply, uma conhecida marca de produtos de cultivo holandesa, no mercado há uns 20 anos. Este cultivador da velha guarda e (re)conhecida personagem do universo canábico, não pára de trazer novas ideias e técnicas ao mundo do cannabicultor.

• Cultivo a partir de semente com a consequente manutenção da diversidade genética dos vários tipos de plantas.

• Poupança de electricidade e recursos.

• Não é necessário um espaço de cultivo para crescimento vegetativo.

• Redução significativa do tempo de crescimento vegetativo.

• Possibilita maior número de cultivos por ano a partir de semente.

• Aumento da percentagem de cabeças “premium”, reduzindo bastante o trabalho de manicure.

• Excelente rendimento a partir de semente com climas controlados.

• Plantas cultivadas a partir de semente são geralmente mais vigorosas e resistentes a pragas.

VAntAGenS do método 12/12h

de 5,8. Adiciona-se complexo radicular e uma solução de crescimento até atingir uma EC de 0,3 a 0,4 acima do valor residual da água da torneira – geralmente entre os 0,3 e os 0,4 na rede portuguesa. Só depois de concluido este processo é que o cubo está pronto a receber a semente.

3. Colocam-se os vasos ou cubos de lã de rocha debai-

xo da lâmpada fluorescente com 12 h de luz por dia, onde se desenvolvem durante 19 a 22 dias até passa-rem para a lâmpada HPS.

4. Passam para as lâmpadas HPS onde estarão em média 2 meses até à colheita, dependendo do tempo de flo-ração de cada espécie. Tal como mencionámos para o cultivo em terra, neste caso é essencial uma exce-lente iluminação durante este período, bem como um controlo cuidadoso sobre a regularidade da rega. Em sistemas de maré ou Ebb & Flood, 3 a 4 inundações diárias de 15 minutos são suficientes. Nestes 2 meses de floração as plantas tendem a cres-cer até aos 75-80 cm, podendo-se cortar as ramas in-feriores mais raquíticas e evitar a ramificação até pelo menos metade da altura da planta. Em hidroponia deve ter-se especial cuidado com o controlo do clima no grow, uma vez que este método de cultivo privile-gia produção de cabeças grandes e pesadas susceptí-veis a ser contagiadas por fungos quando a humidade não está controlada e atinge níveis superiores a 60%. Neste sentido o melhor é prevenir.

5. Aproximadamente 19 a 22 dias antes do final previsto da floração, dá-se início à germinação da próxima sementeira, que tomará o lugar desta quando chegar altura da colheita. Em hidroponia além da limpeza do espaço de cultivo não devem ser esquecidos os cuida-dos de manutenção do sistema hidropónico, lavando as tubagens e partes do sistema e desinfectando-o com um produto adequado.

> http://www.nomercy.nl

O facto de as plantas germinarem a 12 horas permite também utilizar o espaço de cultivo simultaneamente para crescimento e floração12/12

Embora este sistema atinja resultados impressionantes em hidroponia, pode perfeitamente ser utilizado em terra com bastante sucesso.

A pedra basilar desta técnica é que as plantas são cultivadas a partir de semente e nunca vêem a luz mais de 12h por dia durante toda a vida. À primeira vista pode parecer contraditório, mas este método permite optimizar o cultivo e atingir rendimentos bastante elevados.

TEMPO E DinHEirO Em condições normais, uma semente precisa de 5 a 10 semanas até revelar o sexo. Por outras palavras, é uma coisa que requer tempo, espaço de cultivo e recursos como electricidade e nutrientes. Entre outras, esta é uma das razões para o triunfo dos clones na cultura de cultivo contemporânea – poupa-se tempo e dinheiro.

A rEvOlUçãO No entanto, com o método 12/12, torna-se possível cultivar a partir de semente com um rendimento igual ou superior ao alcançado com clones, no mesmo espaço de tempo. Neste sistema, as plantas revelam o sexo entre

o 16.º e o 20.º dia desde a germinação, o que permite separar precocemente machos e fêmeas. O facto de as plantas germinarem a 12 horas permite também utilizar o espaço de cultivo simultaneamente para crescimento e floração. Quando as plantas são germinadas a 12 horas de luz, são obrigadas a escolher o sexo pouco tempo após a germinação, o que acelera o processo de maturação da planta.

Como se elimina praticamente o crescimento vegetativo, as plantas desenvolvem pouca ramificação lateral, pelo que a produção se concentra na “cabeça” principal. As plantas ficam altas, pouco ramificadas, mas com grandes cabeças no tronco principal. Isto leva a que se tenha que utilizar um número de plantas elevado, a partir de 20 até um máximo de 26 por metro quadrado com uma lâmpada de 400W, e até 32 plantas com uma lâmpada de 600W.

AUTO-SUFiCiênCiA Com condições climáticas perfeitas no interior do cultivo, consegue-se atingir rendimentos de 1 grama por Watt de luz utilizado em cada metro quadrado, e realizar até 6 colheitas por ano: a chave para a auto-suficiência.

Como tirar o melhor partido do cultivo 12h/12h em terra passo-a-passo 1. Germinam-se as sementes utilizando a técnica do pra-

to e papel [ver A Folha n.º 1].

2. Transplantam-se para vasos de 7 a 10 cm da largura com a mesma profundidade, iluminados por lâmpadas fluorescentes que ficam a um máximo de 2,5 cm a 5 cm da planta. A mistura de terra deve conter pelo menos 40% de bolinhas de argila expandida. Mantêm-se nestes vasos por 15 dias, no caso de sementes feminizadas, e até revelarem o sexo no caso das regulares, o que aconte-ce entre o 16.º e o 21.º dia.

3. No caso das feminizadas, transplanta-se para o vaso definitivo (3 a 5 litros) no 15.º dia após a germina-ção, e entre o 16.º e o 19.º passam para debaixo de uma lâmpada HPS de 400 ou 600 W. No caso das sementes regulares, teremos que esperar até ao dia 21 após a germinação para termos a certeza absoluta do sexo de cada planta. Assim que se identificam as fêmeas estas são automaticamente transplantadas

17 A FolhAcrónicas do cannabistão

A FolhA 16

A técnica 12/12 é um método inovador de alto rendimento que permite aumentar a produção por colheita e o número de colheitas anuais, de forma mais natural, económica, e rentável

Nos últimos 10 anos, este senhor dedicou-se ao aperfeiçoa-mento de uma técnica de cultivo pouco popular, mantida na sombra pelo florescente e lucrativo negócio da venda de clones na Holanda. O alto preço das sementes também não abona a favor da técnica que ficou conhecida como

Dicas para um óptimo rendimento: • Não ceda à tentação de dar às plantas mais de 12 h de

luz por dia, nem nos primeiros dias. A passagem subse-quente para 12 horas provocará um considerável “salto em altura” no crescimento da planta.

• Este método exige um cuidado diário. A densidade de massa vegetal é grande e convém prevenir o apareci-mento de pragas como insectos ou fungos.

• Em caso de utilização de um sistema de rega automa-tizada, este deve ser verificado diariamente. As plantas dispõem de pouco substrato, uma falha de rega prolon-gada pode ser fatal.

para vasos de 3 a 5 litros e quando estiverem todas, passam-se para a lâmpada HPS.

4. A partir deste momento são geralmente 2 meses

– 8 semanas – até à colheita. É essencial garantir uma boa iluminação durante todo o processo, porque como as plantas só vão ter acesso a 12h de luz diárias, esta deve ser o mais intensa e bem distribuída possível. Debaixo das lâmpadas HPS a 12 h de luz por dia, neste sistema é geralmente suficiente regar 200 ml de água por planta /dia. Se a terra não secar quase por completo durante 24h, terá de espaçar mais as regas.

5. Quando faltarem entre 19-22 dias para a colheita, germina-se a próxima sementeira. Pode-se germinar no mesmo espaço de cultivo, recorrendo a uma lâm-pada fluorescente, que como já indicámos deve estar o mais perto possível da planta desde que a parte mais alta desta não ultrapasse os 26ºC de temperatura.

6. Corta-se a colheita, limpa-se o espaço de cultivo com desinfectante e finalmente instalam-se as plantas, previamente germinadas 19 a 22 dias atrás, debaixo da lâmpada HPS, dando início a um novo ciclo de floração.

Como tirar o melhor partido do cultivo 12h/12h em Hidroponia 1. Germinar as plantas através da técnica do prato e pa-

pel, ou directamente dentro de um cubo de lã de rocha de 7,5 cm x 7,5 cm demolhado em água com o pH previamente preparado.

2. Preparar o pH: demolhar durante 3 horas o cubo de lã de rocha numa solução com o pH a 3,5. Passadas essas 3 horas, retiram-se os cubos de lã de rocha da solução, espreme-se um pouco para tirar o excesso de água e colocam-se num recipiente com água com pH

Planta macho, pronta para ser retirada de junto das suas irmãs e destruída ou utilizada para reprodução

Cees é um dos sócios da No Mercy Supply, uma conhecida marca de produtos de cultivo holandesa, no mercado há uns 20 anos. Este cultivador da velha guarda e (re)conhecida personagem do universo canábico, não pára de trazer novas ideias e técnicas ao mundo do cannabicultor.

• Cultivo a partir de semente com a consequente manutenção da diversidade genética dos vários tipos de plantas.

• Poupança de electricidade e recursos.

• Não é necessário um espaço de cultivo para crescimento vegetativo.

• Redução significativa do tempo de crescimento vegetativo.

• Possibilita maior número de cultivos por ano a partir de semente.

• Aumento da percentagem de cabeças “premium”, reduzindo bastante o trabalho de manicure.

• Excelente rendimento a partir de semente com climas controlados.

• Plantas cultivadas a partir de semente são geralmente mais vigorosas e resistentes a pragas.

VAntAGenS do método 12/12h

de 5,8. Adiciona-se complexo radicular e uma solução de crescimento até atingir uma EC de 0,3 a 0,4 acima do valor residual da água da torneira – geralmente entre os 0,3 e os 0,4 na rede portuguesa. Só depois de concluido este processo é que o cubo está pronto a receber a semente.

3. Colocam-se os vasos ou cubos de lã de rocha debai-

xo da lâmpada fluorescente com 12 h de luz por dia, onde se desenvolvem durante 19 a 22 dias até passa-rem para a lâmpada HPS.

4. Passam para as lâmpadas HPS onde estarão em média 2 meses até à colheita, dependendo do tempo de flo-ração de cada espécie. Tal como mencionámos para o cultivo em terra, neste caso é essencial uma exce-lente iluminação durante este período, bem como um controlo cuidadoso sobre a regularidade da rega. Em sistemas de maré ou Ebb & Flood, 3 a 4 inundações diárias de 15 minutos são suficientes. Nestes 2 meses de floração as plantas tendem a cres-cer até aos 75-80 cm, podendo-se cortar as ramas in-feriores mais raquíticas e evitar a ramificação até pelo menos metade da altura da planta. Em hidroponia deve ter-se especial cuidado com o controlo do clima no grow, uma vez que este método de cultivo privile-gia produção de cabeças grandes e pesadas susceptí-veis a ser contagiadas por fungos quando a humidade não está controlada e atinge níveis superiores a 60%. Neste sentido o melhor é prevenir.

5. Aproximadamente 19 a 22 dias antes do final previsto da floração, dá-se início à germinação da próxima sementeira, que tomará o lugar desta quando chegar altura da colheita. Em hidroponia além da limpeza do espaço de cultivo não devem ser esquecidos os cuida-dos de manutenção do sistema hidropónico, lavando as tubagens e partes do sistema e desinfectando-o com um produto adequado.

> http://www.nomercy.nl

O facto de as plantas germinarem a 12 horas permite também utilizar o espaço de cultivo simultaneamente para crescimento e floração12/12

Embora este sistema atinja resultados impressionantes em hidroponia, pode perfeitamente ser utilizado em terra com bastante sucesso.

A pedra basilar desta técnica é que as plantas são cultivadas a partir de semente e nunca vêem a luz mais de 12h por dia durante toda a vida. À primeira vista pode parecer contraditório, mas este método permite optimizar o cultivo e atingir rendimentos bastante elevados.

TEMPO E DinHEirO Em condições normais, uma semente precisa de 5 a 10 semanas até revelar o sexo. Por outras palavras, é uma coisa que requer tempo, espaço de cultivo e recursos como electricidade e nutrientes. Entre outras, esta é uma das razões para o triunfo dos clones na cultura de cultivo contemporânea – poupa-se tempo e dinheiro.

A rEvOlUçãO No entanto, com o método 12/12, torna-se possível cultivar a partir de semente com um rendimento igual ou superior ao alcançado com clones, no mesmo espaço de tempo. Neste sistema, as plantas revelam o sexo entre

o 16.º e o 20.º dia desde a germinação, o que permite separar precocemente machos e fêmeas. O facto de as plantas germinarem a 12 horas permite também utilizar o espaço de cultivo simultaneamente para crescimento e floração. Quando as plantas são germinadas a 12 horas de luz, são obrigadas a escolher o sexo pouco tempo após a germinação, o que acelera o processo de maturação da planta.

Como se elimina praticamente o crescimento vegetativo, as plantas desenvolvem pouca ramificação lateral, pelo que a produção se concentra na “cabeça” principal. As plantas ficam altas, pouco ramificadas, mas com grandes cabeças no tronco principal. Isto leva a que se tenha que utilizar um número de plantas elevado, a partir de 20 até um máximo de 26 por metro quadrado com uma lâmpada de 400W, e até 32 plantas com uma lâmpada de 600W.

AUTO-SUFiCiênCiA Com condições climáticas perfeitas no interior do cultivo, consegue-se atingir rendimentos de 1 grama por Watt de luz utilizado em cada metro quadrado, e realizar até 6 colheitas por ano: a chave para a auto-suficiência.

Como tirar o melhor partido do cultivo 12h/12h em terra passo-a-passo 1. Germinam-se as sementes utilizando a técnica do pra-

to e papel [ver A Folha n.º 1].

2. Transplantam-se para vasos de 7 a 10 cm da largura com a mesma profundidade, iluminados por lâmpadas fluorescentes que ficam a um máximo de 2,5 cm a 5 cm da planta. A mistura de terra deve conter pelo menos 40% de bolinhas de argila expandida. Mantêm-se nestes vasos por 15 dias, no caso de sementes feminizadas, e até revelarem o sexo no caso das regulares, o que aconte-ce entre o 16.º e o 21.º dia.

3. No caso das feminizadas, transplanta-se para o vaso definitivo (3 a 5 litros) no 15.º dia após a germina-ção, e entre o 16.º e o 19.º passam para debaixo de uma lâmpada HPS de 400 ou 600 W. No caso das sementes regulares, teremos que esperar até ao dia 21 após a germinação para termos a certeza absoluta do sexo de cada planta. Assim que se identificam as fêmeas estas são automaticamente transplantadas

PRAGAScrónicas do cannabistão

A FolhA 18

Se é verdade que em exterior as pragas chegam mais facilmente às plantas, também é verdade que para as mesmas pragas existem os seus predadores naturais. Em interior, tal não acontece. Como tal, é mais difícil ser infestado, mas quando as pragas entram num cultivo de interior sem predadores ou obstáculos naturais, chegam literalmente ao paraíso e teremos dificuldade em convencê-las a abandonarem o “céu”.

Geralmente as condições atmosféricas em cultivos de interior propiciam as condições óptimas de reprodução da maioria das pragas que afectam esta planta. Deste modo, é fulcral apostar na prevenção, para evitar que um visitante minúsculo e indiscreto se transforme num pequeno exército de parasitas. Tal como explicámos na edição n.º 1, no artigo sobre a construção do espaço de cultivo, devemos começar por desinfectar essa área antes sequer de introduzir as plantas. As entradas de ar da sala onde está o cultivo devem ser cobertas com rede mosquiteira ou ainda mais fina, colocando-se geralmente um pouco de tecido de nylon tipo meia de senhora a filtrar as entradas de ar do grow. Se estas barreiras físicas não forem suficientes e tivermos uma infestação, o ideal é tentar eliminar a praga logo no início da sua chegada ao grow. Para tal, é essencial uma observação regular do cultivo, tendo es-pecial atenção à verificação da face inferior das folhas, procurando qualquer indício de actividade inicial da praga. Esse é o momento em que a planta se encontra mais susceptível e um ataque forte e metódico com o produto certo geralmente resolve o problema. Se ainda assim a praga subsistir, é vital eliminá-la antes de atin-gir a fase de floração. Para tal, existem várias possibili-dades, desde a utilização de fitossanitários – insectici-das e pesticidas químicos – até às soluções biológicas.

COnTrOlO ATrAvéS DE FiTOSSAniTáriOS

Por um lado, os fitossanitários são mais eficazes no ataque às pragas, devido à agressividade dos seus com-postos químicos em relação às mesmas. O problema é que não só elimina as pragas, como também muitos dos organismos benéficos, podendo ter repercussões sérias

Planta do Neem e seu fruto

Tanto em interior como em exterior, o ideal é utilizar técnicas preventivas para não chegar a haver pragas mas, no caso de estas aparecerem apesar dos cuidados que tivermos, é fundamental eliminá-las antes de atingir a fase de floração.

na fauna e flora local e no ecossistema em geral. Os ve-nenos utilizados nos fitossanitários exigem a utilização de períodos de segurança porque se acumulam nas plan-tas e podem ser extremamente tóxicos para os huma-nos ou outros animais quando consumidos após a sua aplicação. A toxicidade destes produtos é geralmente muito alta e devem seguir-se à risca todas as instruções do fabricante. A sua utilização exige quase sempre um período de carência – tempo mínimo desde a aplicação do produto até ao consumo da planta – de modo a pre-caver intoxicações. A sua utilização requer geralmente meios para prevenção de acidentes como máscara, luvas e óculos de protecção.

Só se utiliza esta solução como último recurso; o ideal é optar sempre que possível por soluções ecoló-gicas e mais amigas do ambiente e da saúde do cultiva-dor/consumidor.

COnTrOlO BiOlóGiCOO controlo biológico de pragas é preferível ao uso de fitossanitários. São mais ecológicos, geralmente obtidos a partir de extractos de plantas e não comprometem tanto o próprio eco-sistema, além de que são quase todos relativamente inócuos para o ser humano. Ainda assim, devem respeitar-se sempre as indicações dos fabricantes. Como método de prevenção biológico, de-vemos regar periodicamente a terra com uma solução de óleo de neem, repelente de insectos de largo espectro, e pulverizar as folhas da planta em ambas as faces com uma solução diluída do mesmo óleo. No caso do óleo de neem, pode-se pulverizar a planta até à segunda semana de floração, mas com os restantes produtos deve-se ter atenção às indicações dos fabricantes porque alguns têm um intervalo de segurança mínimo entre aplicação e colheita. Além disso, não convém pulverizar as plantas durante a fase de floração, devido aos vários problemas que pode acarretar, tais como: aparecimento de fungos nas cabeças, oxidação dos pistilos, e até contaminação das cabeças com produtos que podem ser tóxicos quan-do consumidos.

Em cultivos de exterior efectuados em campo aberto, podem-se utilizar algumas técnicas de protecção biológi-ca oriundas da permacultura. Na natureza, existem plan-tas que funcionam como barreiras de invasão contra de-terminadas pragas. Plantas aromáticas como a Lavanda, o tomilho, a salva, o manjericão, a menta e o alho podem ser intercaladas entre as plantas de canabis, de modo a prevenir o aparecimento e desenvolvimento de pragas. Outras, pelos seus aromas, atraem insectos que de outro modo atacariam as nossas queridas plantas. Além disso, a grande variedade de plantas diferentes atrai insectos diferentes e ajuda a manter o ecossistema equilibrado.

Exemplo de NL5 bastante castigada; pode ver-se teia e algumas das minúsculas Tetranychus urticaePRAGAS

19 A FolhA

Existe ainda a vantagem acrescida de, com este jardim multi-aromático, se diluirem os odores característicos emanados pelas canabináceas e que muitas vezes susci-tam suspeitas indesejadas dos vizinhos.

COnTrOlO inTEGrADOJá existem soluções que passam por introduzir predado-res vivos que atacam as pragas sem danificar as plantas, sendo uma prática com cada vez mais adeptos e uma taxa de sucesso relativamente boa. Quanto mais cedo se detectar a praga e se introduzir o predador, maior será a eficácia deste último, se bem que raramente chega a eliminar por completo a praga, limitando-se a reduzir a sua actividade a níveis não problemáticos. Seguida-mente, abordaremos as principais pragas que afectam a planta, de modo a poder identificar a espécie em questão e levar a cabo o tratamento específico. No entanto, se tiver dúvidas não fique parado a ver o que dá; dirija-se rápidamente a uma loja de cultivo, leve uma folha de amostra ou uma boa foto da mesma, e não hesite em pe-dir assistência. Lembre-se que quanto mais cedo atacar a praga, maior a probabilidade de se conseguir livrar dela, pelo que a rapidez de resposta é essencial nestes casos. As pragas mais comuns são a temida aranha vermelha, um minúsculo ácaro de cor castanha-avermelhada que suga a seiva da planta e quando esmagado deixa um rasto vermelho e insectos como as thrips e as moscas (a branca e a dos substratos), os afídeos como o pulgão e ainda as lagartas verdes, que encontram nas plantas uma constante e nutritiva fonte de alimento.

ArAnHA vErMElHA (Tetranychus urticae)

A aranha vermelha é um minúsculo ácaro de cor casta-nho-avermelhado que abre múltiplos buracos no tecido da folha e suga a seiva da planta. Geralmente preferem folhas novas e tenras, que atacam sobretudo na parte inferior, onde também colocam os ovos, tendencial-mente junto às nervuras.

O ataque às folhas deixa marcas muito específicas, reconhecíveis através do aparecimento progressivo de múltiplos pontinhos brancos na superfície das folhas

Amblyseius californicus

Amblyseius cucumeris

O Phytoseiulus Persimilis, ele próprio um ácaro, em vez de se alimentar das plantas ataca e come outros ácaros como a aranha vermelha

– minúsculas cicatrizes resultantes da perfuração da folha. Este é primeiro indício de que estamos perante uma infestação de aranha vermelha. Se virmos vários pontos brancos na superfície das folhas, devemos ob-servar de imediato as costas da mesma com uma lupa, de modo a detectar a presença dos primeiros indivídu-os o quanto antes. Quando uma colónia de aranha se instala, é muito dificil de erradicar e pode destruir um cultivo por completo em apenas duas semanas.

Este temível ácaro é dificil de vislumbrar à primei-ra vista; mede em geral 0,5/0,8 mm no estado adulto, sendo que os ovos, de cor esbranquiçada, geralmente não ultrapassam os 0,14 mm. Quando esmagados com os dedos, os adultos deixam um rasto vermelho, o que permite diferenciá-los de um grão de pó. O melhor é utilizar uma lupa para procurar os indivíduos adultos e os ovos.

O ciclo de vida, ou seja a evolução desde o estado de ovo até ao insecto adulto, dura 32 dias a temperaturas de 15ºC, 14 dias a 20ºC, e apenas 6 dias a 30ºC, o que quer dizer que prolifera de forma extremamente rápida quando existem temperaturas altas. Além disso, não só o tempo de gestação diminui com o calor, como o número de ovos por postura das fêmeas pode aumentar para mais do dobro, de 40 ovos a 20ºC para 100 ovos a 30ºC.

Uma vez instalada num cultivo, uma colónia é ex-tremamente difícil de erradicar. Os adultos, tal como os ovos, apresentam resistência a múltiplos venenos apli-cados na indústria, especialmente no caso dos produtos biológicos. No caso de utilizar produtos biológicos, a aplicação deve ser feita de 3 em 3 dias no máximo.

A aranha vermelha não gosta de humidades altas, e os ovos têm mais dificuldade em eclodir quando isso se verifica. Por isso, pulverizar com água regularmente a face inferior da folha ajuda a prevenir o aparecimen-to e a reprodução massiva. O óleo de neem também oferece alguma protecção a nível preventivo, pelo que se deve pulverizar regularmente quando as temperatu-ras começam a subir. Quando detectamos a presença deste ácaro durante o estado vegetativo, o ideal é rea-lizar um tratamento bastante agressivo o mais rápido possível, antes das plantas entrarem em floração.

Existe um composto químico denominado abamec-tina, presente em várias marcas de acaricidas, que é considerado um dos mais eficazes para a erradicação desta praga. No entanto, esse composto é de extrema toxicidade para a biosfera em geral e para o ser huma-no em particular, e todas as instruções de segurança do fabricante devem ser seguidas escrupulosamente, devendo utilizar-se luvas, máscara e protecção ocular aquando da sua utilização. Este composto nunca deve ser utilizado durante a floração, porque ficam resíduos extremamente tóxicos acumulados nas flores. O ideal é dar um bom duche de chuveiro às plantas, e após o duche fazer a aplicação do produto, repetindo-a ao final de 3 a 5 dias. Não só se devem pulverizar as plan-tas por cima e por baixo das folhas, como também toda a zona de cultivo, que deve ser esvaziada, pulverizada

com o veneno e limpa de alto a baixo com uma solução de água com 2% de lixívia. Só deste modo se consegue erradicar a praga.

Se a praga é detectada demasiado tarde, o ácaro desenvolve-se muito rápidamente e quando as condi-ções climatéricas são favoráveis – como no caso da maioria dos cultivos de interior – começam a tecer teias de aranha, envolvendo a planta por completo, incluindo flores, folhas e talos, até a destruirem total-mente em poucos dias. Neste caso, como em muitos, a melhor defesa é o ataque. Se não tiver a certeza de que se trata da aranha vermelha, corte uma folha afectada e leve-a a uma loja da especialidade, onde podem anali-sar o problema com uma lupa e sugerir uma solução.

Quando as plantas se encontram em fase de flora-ção e não podemos aplicar venenos, uma das soluções passa pelo controlo integrado: utilizar os predadores naturais desta praga que se encontram naturalmente na natureza, mas que estão ausentes da maioria dos cul-tivos de interior. Introduzindo este tipo de predadores – e existem vários com características diferentes – não conseguimos erradicar totalmente a colónia, mas con-seguimos controlar a praga, mantendo a população em níveis que não chegam a ter grandes consequências no cultivo.

Existem dois predadores principais para atacar este temível aranhiço. O mais eficaz é o Phytoseiulus Per-similis, ele próprio também um ácaro, mas que em vez de se alimentar das plantas, ataca e come outros ácaros como a aranha vermelha. Sensivelmente do mesmo tamanho que esta última, tem um ciclo de vida mais rápido e pernas maiores e mais altas, o que lhe confere uma maior mobilidade e rapidez de deslocação. Em condições climatéricas óptimas pode ser muito eficaz, uma vez que devora a aranha vermelha em todas as fases do ciclo: ovos, larvas e mesmo os adultos. Este ácaro predador prefere humidades altas e temperaturas mais baixas, sendo sobretudo sensível a temperaturas altas, que o podem matar se ultrapassarem os 35ºC.

O ciclo de vida do phytoseiulus é de 20 dias a 15ºC, 7 dias a 20ºC e 3 dias a 30ºC. No entanto, como já referimos, a partir dos 35ºC e com humidades rela-tivas inferiores a 60 %, este ácaro pode morrer. Esta forte condicionante a nível da temperatura abriu cami-nho à utilização em cultivos de interior de um outro

Orius Insidiosuscrónicas do cannabistãoA FolhA 20

predador auxiliar, não tão voraz e rápido, mas mais resistente a altas temperaturas e humidades baixas. Trata-se do Amblyseius californicus. Ambos podem ser encomendados nas principais lojas de cultivo especia-lizadas. Não costumam existir em stock porque estes predadores têm que ser alimentados e mantidos em condições climatéricas muito específicas, geralmente fora do alcance das lojas de cultivo; por isso, aconse-lha-se encomendar com alguma antecedência, assim que se detectam os primeiros intrusos no jardim.

THRIPS

Existem vários tipos, mas a mais comum nos cul-tivos de interior é a Frankliniella occidentallis. Este insecto, tal como o ácaro aranha vermelha, sobrevive alimentando-se da seiva das plantas, que sugam depois de abrir um buraco nas folhas mais jovens e tenras. Deixam uma marca inicialmente de cor amarelada, que depois passa a branca e acinzentado, com partes ligei-ramente brilhantes. Estas marcas muito características na superfície superior das folhas permite a identifica-ção rápida e fácil desta praga.

O thrip mede apenas 1 mm de comprimento e tem a forma de um bastãozinho de cor prateada, castanha ou creme. Tem asas, embora não se vejam quando está pousado, e costuma voar quando é tocado ou quando se agita a folha onde se encontra. Tem capacidade de voo limitado, parecendo apenas saltar para outra planta próxima, e refugia-se na face inferior das folhas onde põe ovos junto ao caule e se desenvolvem as larvas. Estas têm 2/4 mm e costumam ser meias translúcidas, com matizes de amarelo claro ou verde.

O periodo de desenvolvimento de ovo ao estado adulto é de 37 dias a 15ºC, 20 dias a 20ºC, 16 dias a 25ºC, 12 dias a 30ºC e 11 dias a 35ºC. Os ovos prefe-rem humidades baixas, e eclodem entre os 15ºC e os 35ºC. Uma vez infestado o cultivo, esta praga pode multiplicar-se muito rapidamente se não se contra-ata-ca logo ao início, ainda que com consequências menos devastadoras que a aranha vermelha.

O thrip pode-se combater utilizando produtos para agricultura biológica, sugerindo-se a aplicação de sabão potássico, seguido de um composto à base de piretrina (substância extraída da planta do crisân-temo). Podem-se pulverizar por separado ou os dois juntos – o que aumenta a eficácia – com especial aten-ção à face inferior das folhas, junto às nervuras.

Como preventivo, aconselha-se uma pulverização semanal com óleo de neem, de modo a tentar quebrar o ciclo de vida logo no início da infestação. O sabão potássico, a piretrina e o óleo de neem podem ser utilizados até duas semanas após o início da flora-ção. Tal como todas as pragas, o thrip também tem os seus predadores naturais. Os mais utilizados são o Amblyseius cucumeris, o Ambyseius barkeri e o Orius Insidiosus (normalmente designado por pirilampo). Estes três mosqueteiros contra o thrip são utilizados segundo as especificidades de cada cultivo e as suas variáveis climatéricas.

O steinernema feltiae é um nematóide [verme] que se alimenta das larvas

da mosca do solo

Encarsia formosa

MOSCA BRANCA (Trialeurodes vaporarium)

Embora existam várias espécies de mosca branca que atacam as plantas da canábis, esta é a mais recorrente. Trata-se, como o nome indica, de uma mosca de cor branca, com 2 a 3 mm, que se alimenta das folhas, escondendo-se e reproduzindo-se na face inferior das mesmas. É facil de identificar, e basta abanar um pouco as plantas para nos certificarmos da sua presença, uma vez que levantam voo em debandada, refugiando-se nas folhas e plantas mais próximas.

Este parasita tem um ciclo de vida de 60 dias a 15ºC, 30 dias a 25ºC, 25 dias a 30ºC e 20 dias a 35ºC. Como já verificámos com outras espécies, o calor pa-rece não só acelerar o ciclo de vida, como também au-mentar o número de postura de ovos, sendo que a partir dos 17ºC cada fêmea gera entre 150 e 600 unidades. O insecto adulto põe os ovos de cor creme na face in-ferior das folhas. Estes, com 0,2 mm de comprimento e 0,1 mm de diâmetro, depois de eclodirem, passam por quatro fases larvares até completarem o ciclo. Estas fases larvares sucedem-se, sendo que as larvas expelem uma espécie de pele antiga, como as serpentes, e essas peles acumulam-se na parte inferior da folha, gerando uma substância algodonosa que ajuda a proteger e es-conder as larvas mais pequenas. Em todos os estados larvares, estas perfuram as folhas e sugam a seiva.

Se a praga estiver muito desenvolvida, as larvas podem cobrir a parte inferior das folhas quase por com-pleto, levando a um amarelecimento das mesmas por falta de clorofila e nutrientes. Ao alimentar-se, excretam um melaço açucarado sobre as folhas, o que aumenta o risco de aparecimento de fungos, vírus e outras doenças, e atrai outros insectos parasitas. Se a população não for muito extensa, os danos são superficiais e sem grande influência na produção, mas se a praga se instala de forma descontrolada, pode comprometer o cultivo.

Para combater a mosca branca, recorre-se à pul-verização das folhas com insecticidas, de preferência de origem biológica. O extracto de pelitre reduz a praga mas não consegue eliminá-la por completo. Se não conseguirmos exterminar a praga com o método biológico, é importante aplicar um tratamento químico mais agressivo antes de iniciar o processo de floração. Incide-se especialmente na parte de trás das folhas, onde como vimos se acumulam, alimentam e reprodu-zem, eliminando todas as fases do ciclo, desde os ovos aos adultos, passando pelas larvas.

As folhas com melaças e restos de peles devem ser bem lavadas com sabão potássico, de forma a eliminar resíduos que possam abrir caminho a novas infestações ou contaminações. O óleo de neem também funciona como repelente, e deve ser utilizado de forma regular para prevenir o aparecimento desta praga.

A alternativa é a utilização do predador natural da mosca branca, uma minúscula vespa parasita denomi-nada Encarsia formosa, que introduz os seus ovos no interior das larvas de mosca branca, que depois eclodem e se alimentam delas. Este predador é bastante eficiente no combate à mosca branca, uma vez que tem asas e se desloca rápida e facilmente em busca de novas colónias para depositar os ovos.

Neste caso, como sucede com quase todos os pre-dadores voadores, é necessário um cuidado especial com o extractor de ar do cultivo, que pode aspirar al-guns destes minúsculos combatentes para fora do campo de batalha, ao qual terão muitas dificuldades em voltar.

MOSCA DO SOLO As moscas do solo, regular-mente infestantes de substratos orgânicos como a terra e a fibra de coco, são insectos voadores parecidos à mosca da fruta, negros, de 3 a 5 mm que se movimentam freneticamen-te sobre a terra e costumam levantar voo quando se rega o substrato. Têm antenas e patas compridas com as quais se deslocam rapidamente pelo substrato, sob o qual põem os ovos quando há humidade e calor. Na realidade, a mosca adulta não provoca nenhum estrago à planta, limitando-se a pôr os ovos. A postura varia entre 50 e 200 ovos, que eclodem em condições de temperatura e humidade altas ao cabo de três dias. São as larvas que eclodem destes ovos que provocam os danos mais graves. Têm uma cor branca translúcida e um tamanho que varia entre 3 e 5 mm. O seu aspecto é o de uma pequena minhoca branca com a cabeça es-cura. Alimenta-se das raízes da planta até estar pronta para a metamorfose, que se desenrola num minúsculo casulo debaixo da terra durante três dias, findos os quais sai uma nova mosca adulta voadora, concluindo o ciclo. Se as temperaturas ultrapassarem os 24ºC, o que é muito comum nos cultivos de interior, este ciclo repete-se com a duração de três a quatro semanas.

Estas larvas consomem matéria orgânica morta ou viva, alimentando-se assim das raízes e dos caules subterrâneos de plantas jovens. Não só debilitam o sistema radicular, como expoem os tecidos danificados ao ataque de várias doenças e fungos perigosos como o pythium, botrite, phytophtora, fusarium e verticilium.

A mosca do solo é muito comum nos cultivos de interior, e na maioria das vezes as larvas não chegam a provocar grandes problemas, exceptuando uma ligeira quebra na produção. No entanto, quando a infestação atinge níveis críticos pode chegar a matar as plantas. Para combater a mosca do solo, utiliza-se o óleo de

neem diluido na água de rega. O seu efeito pode ser complementado através da pulverização com insecti-cidas biodegradáveis para controlar os adultos e deste modo impedir o acasalamento e a consequente postura de ovos.

21 A FolhA

Myzys persicaeAphis gossypii

Aphidoletes aphidimyza em cenário de festa

A lagarta verde poderá dar origem a uma bonita borboleta, mas antes cria pesadelos para o cultivador

Aulacorthum solani

LAGARTAS VERDES Pertencem à família dos lepidópteros, dos quais exis-tem mais de 10 mil espécies. Correspondem a um dos estádios de vida de várias borboletas e uma infinidade de insectos voadores. As lagartas eclodem dos ovos postos pela borboleta quando a temperatura chega aos 18º/20ºC, atacando portanto mais na primavera e no ou-tono, embora também estejam presentes no verão. Ape-sar de poderem atingir tamanhos consideráveis (mais de 5 cm), podem ser de várias formas e cores, sendo as verdes as mais difíceis de localizar num cultivo. Provo-cam estragos significativos, tanto durante a germinação como no crescimento e na floração, podendo devorar sementes, plantas jovens e até folhas inteiras de plantas adultas em apenas algumas horas, sendo que algumas variedades – de facto as mais temidas – se dedicam a devorar as cabeças própriamente ditas.

O primeiro indício da sua presença é o aparecimen-to de folhas “ratadas”, com buracos, ou por vezes já só com as nervuras, tendo o resto sido já devorado. Quando detectamos estas marcas, convém começar a observar atentamente as folhas que estão imediatamente por baixo da folha atacada, e para o chão, perto do vaso e debaixo das plantas. Se se vislumbrarem pequenas bolinhas pre-tas com 1-3mm, estamos perante os seus excrementos e teremos a certeza de que existem lagartas. Geralmente, os excrementos encontram-se directamente por baixo do local onde se encontra a lagarta, pelo que se os virmos devemos procurar na zona por cima do rasto deixado. Ao observar as plantas em contra-luz, é possivel por vezes detectá-las ao identificar uma mancha escura por trás de uma folha. Se a planta for robusta, uma ou outra sacudide-la forte fá-las soltar-se da folha e cairem ao chão, onde se tornam visíveis. Se for um caso isolado podemos tirá-las à mão ou com uma pinça, mas se desconfiarmos de que se trata de uma infestação, o ideal é a utilização de um produto à base da bactéria Bacillus Thuringiensis. Esta bactéria só entra em actividade quando é hidratada e se encontra num meio alcalino, justamente o que acontece quando vão parar ao sistema digestivo das lagartas. Nesse entorno húmido, os bacilos começam a desenvolver-se, paralisando o sistema digestivo da lagarta, o que lhe será fatal. Esta bactéria é um excelente recurso pois não é tóxico para a maioria dos outros organismos, mesmo para o ser humano, cujo sistema digestivo tem um ph ácido e impede a proliferação da bactéria. É comercializado sob a forma de um pó que se dissolve em água e aplica-se através de pulverização. Permanece activo na superfície da planta por um período de dez dias e não deve aplicar-se sob luz directa do sol, pois pode provocar queimaduras na planta e também por em risco a própria bactéria.

Esta praga costuma atacar sobretudo os cultivos de exterior, mais susceptíveis às posturas de ovos das bor-boletas. Em interior, convém ter especial cuidado com a higiene do cultivo porque as borboletas tendem a pôr os ovos em matéria orgânica, como folhas ou ramas mortas.

lAGArTA MinEirA Esta lagarta resulta da eclosão do ovo de vários tipos de moscas. Estas fazem um buraco nas folhas, dentro do qual põem os ovos. Eclodem, e do seu interior saem pequenas larvas que vão comendo o interior das folhas, formando autênticas galerias semelhantes a uma mina, com consequências graves para as folhas que chegam a morrer por falta de clorofila, necessária para realizar a fotossíntese. Essas galerias são visíveis no exterior da folha, que apre-senta umas riscas de direcção e sentido variável, como um pequeno caminho branco com algumas curvas e derivações.

Dependendo da espécie e da temperatura, o ciclo de vida e o número de ovos por postura varia muito, mas uma fêmea pode chegar a pôr algumas centenas de ovos durante a sua vida de uma a duas semanas. Como a larva é minúscula e se encontra dentro da folha, a sua localização é muito difícil e a sua eliminação manual praticamente im-possível. Neste caso, aconselhamos a utilização de óleo de neem na água de rega, bom como pulverizado. Este trata-mento deve ser combinado com a aplicação de insecticidas biológicos, como o extracto de pelitre, de 3 em 3 dias, para tentar cortar o ciclo reprodutivo desta praga.

o conhecido Aphidius aphidimyza, lagarta que quando adulta se transforma em borboleta, voando à aventu-ra. Tal como os restantes predadores, têm que ser enco-

mendados com antecedência devido às condições de envio e armazenagem. Quando as plantas

estão em floração e não podemos pulverizar, é conveniente limpar regularmente a melaça das folhas com um pano embebido numa solução de sabão potássico, de modo de pre-venir o ataque de fungos e a disseminação da praga. Durante o crescimento vegetativo, a pulverização com água e óleo de neem

pode dar uma ajuda considerável, impedindo a entrada da colónia, e caso esta se estabeleça,

mantendo-a em níveis comportáveis.

COCHONILA (Dactylopius coccus)

Mais uma vez estamos na pre-sença de um insecto sugador de seiva. Existem muitos tipos de cochonilas, que podem ter vá-rias formas, cores e texturas mas têm uma característica em comum que permite identificá-las no cultivo: parecem pequenas lapas (máx. 5 mm) ou discos castanhos colados ao tron-co e ramas. Raramente se veêm nas folhas e geralmente permanecem imóveis ou com muito pouca mobilidade, passando precisamente por isso desapercebidas. Podem apresentar esse aspecto de lapa lisinha e castanha, do tamanho de uma pequena lentilha, ou por outro lado, apresentar uma forma mais alongada, textura algodono-sa, de cor branca e carapaça mole. Quando observada à lupa ou microscópio, esta variedade revela a presença de pequenos filamentos brancos que caem ao longo do corpo, sendo facilmente identificável.

Este insecto também produz excreção de melaças açucaradas, e por isso requer os cuidados específicos típicos destas situações, como a limpeza constante com solução de sabão potássico e pulverização regular com insecticidas biológicos. Pode-se aplicar o extracto de pelitre, a ecotenona e o sabão potássico, alternando as aplicações. Uma alternativa para a fase de floração, em que não se deve pulverizar, é passar um pano ou algodão embebido em álcool por cima das cochonilas, directamente nas zonas afectadas. A cochonila tem geralmente um ciclo de vida mais lento que as restan-tes pragas, e descoberta a tempo é relativamente fácil de erradicar do cultivo. No entanto, como sempre, o melhor é apostar na prevenção através da pulverização regular das plantas com óleo de neem. A joaninha é o predador natural deste organismo.

PULGÃO

São vários os tipos de pulgão que atacam as plantas da canábis: o Aphis gossypii, o Myzus persicae, o Myzus nicotianea, o Macrosiphum euphorbiae e o Aulacor-thum solani. Cada um tem as suas especificidades, mas a verdade é que são todos parecidos quando observa-dos a olho nu, variando essencialmente no tamanho, coloração e comprimento das antenas.

Os pulgões são insectos sugadores de seiva e per-tencem à família dos afídeos. Medem entre 1 mm e 2 mm, e a cor varia conforme o estágio de desenvol-vimento. Podemos encontrá-los amarelo translúcido, verde claro translúcido, verde escuro ou até mesmo negros. Da sua cabeça, pequena comparada com o cor-po, saem umas antenas geralmente direccionadas no sentido do dorso. Enquanto se alimentam das folhas, vão excretando uma melaça pegajosa e açucarada que é fácil de identificar na superfície da folha. Esta mela-ça é apreciada por insectos como as formigas, e não é raro observar estas últimas a transportar e gerir colónias de pulgões, como se de rebanhos de tratassem, protegendo-os activamente e atacando os seus predadores naturais como é o caso da joaninha. Além de atrair as formigas, esta secreção abre caminho à infestação de uma multitude de fungos, cujas pri-meiras provas de presença são umas marcas de cor enegrecida na folha à volta da melaça.

Os pulgões são parasitas vorazes e sugam enormes quantidades de seiva, afectando seriamente o crescimento e desenvol-vimento da planta. Geralmente posicionam-se perto do caule, na face inferior das folhas e perto dos novos rebentos. Além do seu apetite insaciável, reproduzem-se de forma muito rápida, o que faz deles uma praga a temer, especialmente em cultivos de interior.

Para combater o pulgão, aplicam-se geralmente insecticidas biológicos, como o extracto de pelitre e a ecotenona. É conveniente fazer uma primeira pul-verização com sabão potássico, uma vez que amolece e fragiliza a carapaça do pulgão, e depois aplicar o extracto de pelitre e a ecotenona, para que sejam mais eficazes ao atingir o parasita. Como prevenção, utiliza-se o óleo de neem, tanto pulverizado como na água de rega, que produz um efeito repelente para o pulgão. Além disso, quando se utiliza na água de rega, entra em circulação no sistema vascular das plantas, alterando a seiva, dando-lhe um sabor característico pouco tolerado por estes insectos. Existem produtos químicos bastante eficazes contra o pulgão. No entan-to, muitas vezes tornam-se pouco efectivos devido ao rápido desenvolvimento de resistência, e têm prazos de segurança bastante largos, o que nos impede de os utilizar mesmo no início da floração.

A alternativa em termos de controlo integrado passa pela introdução de predadores vivos como joaninhas, e

crónicas do cannabistão [fim]A FolhA 22

deve-se evitar manter as plantas muito juntas, para não favorecer uma grande concentração de massa verde e facilitar o arejamento e respiração das folhas.

O excesso de rega ajuda ao estabelecimento da praga, pelo que a regularidade dessa tarefa deve ser adequada ao consumo da planta. No entanto, se apesar da prevenção nos depararmos com sintomas, devemos atacar o quanto antes. A aplicação de fungi-cidas deve ser feita nas primeiras 48h desde a pene-tração do fungo, e em todas as plantas, mesmo as que não apresentam sinais de infecção.

Este fungo desenvolve-se favoravelmente em meios ácidos, pelo que pulverizar ou lavar as zonas afectadas com uma solução alcalina é uma boa so-lução. Existem alguns remédios caseiros e técnicas que têm fama de resolver o problema. Aqui ficam uns quantos: pulverizar ou mergulhar as plantas numa so-lução com água, leite e bicarbonato de potássio – para 1 L de água, adicionar 7 g de bicarbonato de potássio e 88 ml de leite. O bicarbonato de potássio cria um meio alcalino que inibe a germinação dos esporos do fungo; pulverizar as folhas com uma solução de pro-pólis diluída em água de 10 em 10 dias desde a iden-tificação da praga; utilizar os queimadores de enxofre geralmente empregues em estufas de hortícolas em exterior – método bastante eficaz para resolver o pro-blema, mas muitos cultivadores desaconselham este processo devido a uma pretensa alteração do sabor e aroma das cabeças sujeitas a este tipo de tratamento. No entanto, esta técnica continua a obter bons resul-tados para eliminar a infecção. A última sugestão, e a menos aconselhada, seria a aplicação de fungicidas químicos.

Estes são eficazes mas devem aplicar-se apenas durante a fase de crescimento vegetativo, porque tem um período de segurança (tempo mínimo entre aplicação e consumo) que não permite utilizá-los na floração.

PHyTiUM Este é um fungo que ataca as raízes e a base dos cau-les, impedindo a circulação dos nutrientes e o posterior transporte dos mesmos até às folhas e cabeças da planta. Geralmente, as plantas resistem naturalmente a este fungo, excepto quando estão stressadas ou pouco saudáveis. Um dos principais factores responsáveis pelo seu aparecimento é o excesso de rega, mas tam-bém podem surgir devido a excesso de nutrientes, insuficiente oxigenação do substrato, acidificação do mesmo, e a eliminação da vida microbiana da terra ao utilizar água da rede com cloro. Para prevenir esse problema, deve-se deixar a água de rega num reci-piente destapado durante um a dois dias para que o cloro evapore.

A presença natural de diferentes microorganismos benéficos,especialmente as variedades de fungos mycorrizas e trichoderma, dificultam a aparição do phytium, e podem ser utilizadas como preventivo quando aplicadas junto ao caule no início da vida da planta.

Como se desenvolve debaixo da terra, geralmente este fungo não é visível até que os seus efeitos se notem na parte superior (aérea) da planta. O sinal claro de que estamos perante um ataque de pythium é o murchar repentino de uma rama inteira, indepen-dente do resto da planta que se mantém aparente-mente saudável. Este comportamento da planta deixa muitos cultivadores confundidos quanto à origem do problema, porque as folhas e ramas parecem morrer de desidratação, enquanto a terra continua húmida. Se isto acontecer, a infecção está instalada e devemos começar a escavar cuidadosamente a zona em redor do caule até às raízes, para tentar verificar se existem sinais de apodrecimento.

[Poderá ler sobre outros fungos aqui: www.a-folha.com]

FunGoSVários são os fungos que afectam a planta da Canna-

bis. Embora existam muitas variedades desta planta ori-ginárias das zonas equatoriais, habituadas a humidades relativas muito altas, e que apresentam uma resistência considerável ao ataque destes seres, são muitas as varie-dades afectadas e em norma bastante graves os efeitos por eles causados. A maioria dos fungos desenvolve-se favoravelmente quando encontra humidades altas e tem-peraturas amenas. Muitas vezes ocorrem como efeitos secundários da presença de resíduos pegajosos e açuca-rados deixados por outros parasitas como o pulgão e a cochonila. Em exterior, aparecem sobretudo em zonas húmidas com temperaturas amenas ou altas e afectam principalmente plantas que formam cabeças densas. Em exterior, deve evitar-se a todo o custo que as primeiras chuvas de outono molhem as plantas no final da floração, altura em que são mais sensíveis aos ataques.

Em interior, a prevenção passa por um bom sistema de ventilação e renovação de ar, a par com um controlo estrito da humidade durante a fase de floração entre os 40 e os 60%. Se devido às condições do cultivo não for possível manter esses valores através da ventilação e re-novação do ar, é mesmo muito aconselhável investir num desumidificador. Os produtos à base de silícios provenien-tes de fundos marinhos ajudam a reforçar as defesas das plantas contra estes ataques, e devem ser misturados com o solo. Providenciamos, deste modo, uma fonte de sílica às plantas, que a utilizam em quantidades consideráveis nas próprias paredes celulares como barreiras de proteção contra micro-organismos patogénicos. As tricodermas, fungos simbióticos que são benéficos para as plantas, evitam o desenvolvimento de outros fungos na zona radi-cular. Existem também vários tipos de casca de árvore que contêm defesas naturais contra a infestação de fungos, e podem ser misturadas nos substratos a nível preventivo. Alguns substratos já incluem estas cascas nas suas mis-turas para cultivo. Para casos de cultivo de interior, ou de exterior em estufa, utilizam-se queimadores de enxofre que funcionam várias vezes alguns minutos por dia. Ape-sar do mau cheiro, é um mal menor.

Se não se controlam os fungos a tempo, devastam um cultivo inteiro em pouco tempo, por vezes na última semana de cultivo ou mesmo já na fase de secagem do produto obtido, para desespero dos cultivadores que dedi-caram tanto tempo e atenção às suas plantas.

BOTryTiSEste fungo é dos que mais dores de cabeça dá aos cultiva-dores. Ataca especialmente as cabeças das plantas, e muitas vezes só se dá por ele quando se começa a fazer a manicure das cabeças ou, durante a fase de secagem. Quando isso acontece, geralmente não há nada a fazer, para além de tentar seleccionar alguma parte que não tenha sido afectada.

Se for identificado durante a vida da planta, é acon-selhada a utilização de um fungicida biológico desde a deteção do problema. Os cultivadores experientes aprendem a reconhecer os primeiros indícios de conta-minação através da atenta observação das cabeças. Um dos primeiros sinais dá-se quando, a partir do meio da floração, uma das pequenas folhas que sai das cabeças começa a perder a coloração verde, e fica relativamente murcha. Devemos sempre questionar-nos sobre a razão do amarelecimento e perda de turgescência dessas pe-quenas folhas quando a planta não sofre uma desidrata-ção forte ou um problema de nutrição. Se não for esse o caso, puxamos levemente a folha afectada, e se esta se desprender facilmente do talo principal temos razão para desconfiar. Nesse caso, abriremos cuidadosamente com uma tesoura de pontas finas a cabeça na zona da folha suspeita, até chegar à sua ligação com o tronco principal. Se o interior da cabeça tiver uma consistência

mole e uma cor esbranquiçada, e se essa cor se estender ao caule principal, e apresentar um cheiro característico distinto do resto da cabeça, estamos provavelmente na presença de botrite. Este fungo tem a particularidade de se desenvolver e continuar a expandir durante o proces-so de secagem, pelo que a atenção deve ser absoluta, sendo a ventilação da zona de secagem essencial. Com a experiência, habituar-se-á a reconhecer este fungo pelo cheiro emanado pelas cabeças em decomposição.

Se identificar botrite, observe atenta e detalha-damente todas as plantas, e retire cada uma das que estiverem afectadas da zona de cultivo. Se faltar pouco tempo para o final da floração, corte ou remova todas as plantas do cultivo, colocando-as numa zona de secagem bem ventilada e se possível dotada de um desumidifica-dor. É preferível colher mais cedo e perder um pouco de produção final que deixar alastrar o fungo e arriscar-se a perder toda a colheita.

OíDiOEste fungo, pertencente à famí-lia das erisifácias, ataca tanto cultivos de interior como de exterior, e é facilmente reco-nhecível pelo aparecimento de manchas de um pó branco característico na face superior das folhas, que depois se espalha aos talos e às cabe-ças. Quando este pó branco, parecido com farinha, se encontra muito perto das cabeças, pode ser confundido facilmente com resina produzida pela planta. Se as ca-beças estiverem infectadas, não devem ser nunca con-sumidas porque representam um perigo para a saúde.

Este fungo é difícil de tratar, pelo que o ideal é tentar evitar a infecção através da prevenção.

Quando chega a um local com condições propí-cias, o esporo desenvolve umas pequenas “raízes” que se espetam na folha e lhe sugam os nutrientes. Numa segunda fase, as folhas ficam amarelas e acabam por secar, e em última instância cair.

Nos cultivos de interior, existem dois factores fun-damentais que controlam o aparecimento do oídio: a higiene na zona de cultivo (limpar as folhas velhas ou secas) e as variações acentuadas na humidade relativa existente na mesma, que nunca deve ultrapassar os 70% nem descer dos 30%. O truque é manter o cultivo limpo e a humidade estável, mesmo que esteja ligeiramente acima dos 60%. Manter a ventilação ligada durante o período nocturno ajuda a prevenir grandes variações de humidade. Em cultivos de exterior, as pragas de oídio costumam aparecer na primavera e no outono, que é quando existem mais variações bruscas de humidade. Retirar todas as folhas secas ou danificadas por pro-blemas de nutrição e insectos ajuda a prevenir o surgi-mento da praga nestas condições. Nestas alturas do ano

Por Dr. Javier Pedraza Valiente questões médicas podem ser-lhe remetidas

através do e-mail: [email protected]

saúde23 A FolhA

A ADiCAM [Associação de diagnosticados/as de cancro da mama] organizou mais uma vez as Jornadas anuais sobre o tema, pelo 7.º ano consecutivo. Desta feita a organização agendou uma apresentação sobre o papel da canábis e seus derivados no tratamento actual do cancro da mama, para a qual foram oradores convidados o presidente do Colégio de Farmacêuticos de Pontevedra, Dr. Floro Andrés, Don Azul Marques, representante da AVE MARIA [Associação Vigense de Estudos sobre a Marijuana], e eu, médico Javier Pedraza Valiente, com diversas apresentações e artigos publicados sobre o assunto.

As Jornadas tiveram lugar na localidade galega de Cangas, e o objectivo da apresentação foi fazer reflectir os presentes em particular e a comunidade médico-farmacêutica em geral sobre a forma como os pacientes de cancro da mama podem de facto beneficiar do uso de canábis, sendo o tema abordado de pontos de vista diferente pelos três intervenientes, ainda que as conclusões alcançadas fossem similares nos três casos.

Quando fazemos face a uma doença cujo prognóstico depende de um elevado número de factores, uma das prioridades do tratamento será sempre melhorar os sintomas. Refiro-me não só aos sintomas provocados pela própria doença, como também áqueles que derivam do próprio tratamento, que neste caso concreto seria a diminuição dos efeitos secundários da quimioterapia. No primeiro caso, ou seja, nos sintomas provocados pela própria doença, a canábis é eficaz nos casos da dor e da perda de peso (a nível de sintomas físicos), e na ansiedade, insónia e depressão (no plano psicológico). Em relação aos sintomas secundários ao tratamento, os canabinóides ajudam a combater as náuseas, os vómitos, a caquexia e a dor a nível dos nervos conhecida como dor nevrálgica.

Vemos portanto que a canábis e seus derivados fun-cionam nesta doença como analgésicos, estimuladores do apetite, anti-depressivos, ansiolíticos, antieméticos e anti-neurálgicos.

Durante a apresentação, a parte mais técnica, e como tal um pouco “aborrecida” para os leigos na matéria, consistiu na descrição da fisiologia do sistema endocanabinóide, com a distribuição dos principais receptores no organismo e a definição dos principais endocanabinóides. Também foi referida a situação dos análogos sintéticos de THC que já existem no mercado há décadas (em Portugal o Infarmed permite o uso como medicamento de uso hospitalar se requerido pelo especialista), como o Cesamet® e o Marinol®.

Canábis pode ajudar em casos de Cancro da Mama

joRnAdAS AnuAiS dA ASSociAçÃo de diAGnoSticAdoS

Além da fisiologia do sistema endocanabinóide, du-rante a apresentação também foi abordada, se bem que mais superficialmente, a importante interacção que se descobriu existir entre o sistema endocanabinóide e o sis-tema opióide endógeno, facilitando uma melhor compre-ensão sobre a capacidade analgésica dos canabinóides. Esta capacidade analgésica consegue-se tanto a nível do sistema nervoso central como periférico.

Para evitar utilizar uma linguagem excessivamente técnica que se poderia tornar aborrecida, explicarei de maneira simples e compreensível porque é que os ca-nabinóides actuam de forma positiva em cada um dos sintomas referidos anteriormente:

A estimulação do apetite consegue-se mediante a activação de receptores canabinóides a nível do sistema digestivo, onde se inibe a sensação de saciedade. Tam-bém se activam receptores no centro regulador da fome localizado no cérebro.

Os efeitos anti-depressivos explicam-se pelo facto de o sistema endocanabinóide estar implicado na sensa-ção subjectiva de felicidade que aparece depois de, por exemplo, realizar exercício físico ou após um excelente almoço. Aqui voltamos a encontrar uma clara interacção entre o sistema opióide e o sistema canabinóide endó-geno.

Como ansiolítico, a canábis exerce o seu efeito mais por actividade do canabidiol (CBD) que pela do THC, ainda que os altos níveis de Anandamida encontrados em pacientes com transtorno de ansiedade sugiram um efeito conjunto de ambos. Recordemos que a Anandamida seria o THC produzido pelo próprio organismo.

Existe um elevado número de receptores canabinói-des nos núcleos cerebrais que regulam as náuseas e os vómitos, sendo estes dois dos sintomas que possuem mais estudos demonstrativos da eficácia da canábis e seus derivados como anti-eméticos e anti-náuseas. De facto são estas as principais indicações terapêuticas do Marinol® e do Cesamet® (THC).

O efeito anti-neurálgico explica-se porque os recep-tores canabinóides também se localizam nos nervos pe-riféricos. Além disso, os pacientes de esclerose múltipla referem uma melhoria nos sintomas dolorosos após con-sumir canábis. O último estudo realizado com Sativex®, verifica esta eficácia na diminuição da dor neuropática.

Ao terminar a exposição, abordámos e analisámos o uso terapêutico histórico da canábis, desde a primei-ra referência escrita vários milénios antes da era cristã, passando pela sua proibição desde há poucas décadas até chegar à situação actual, em que ressurge como arma terapêutica para inúmeras doenças. Atreve-mo-nos in-clusivé a vislumbrar o seu processo evolutivo – com a variabilidade genética que esta planta tem – como o prin-cipal protagonista no desenvolvimento de novos medica-mentos específicos para cada uma das patologias que a canábis ajuda a tratar.

Ainda que as três apresentações tivessem perspec-tivas diferentes, a conclusão a que todas chegaram foi comum, e extremamente simples:

“Questões de âmbito moral, político e económico devem ser ultrapassadas para permitir que milhares de pacientes possam beneficiar do uso terapêutico da canábis e dos seus derivados de laboratório.”

Espero com a minha comunicação ter ajudado de algu-ma forma à consciencialização da necessidade de agilizar o processo de re-incorporação desta substância no arsenal terapêutico da classe médica.

Javier Pedraza Valiente, Médico

O sonhador adquire conhecimento que está a sonhar, torna-se consciente (lúcido) dentro do próprio sonho e assim pode tomar controlo dos acontecimentos

SonhosLÚCIDOS

Foto: National G

eographic [arquivo]

Foto: BlackRose31

No seguinte artigo introduz-se um estado de consciência atingível sem qualquer ajuda farmacológica mas cuja busca pode ser grandemente facilitada pela ingestão de certas plantas. Com isto pretende-se mostrar que as substâncias psicotrópicas não são apenas instrumentos de recreação mas também ferramentas ou aliados na exploração da psique, sendo este um claro exemplo. Por Alexandre de Menezes

O que são?

Um sonho lúcido é um sonho em que o sonhador adquire conhecimento que está a sonhar, torna-se consciente (lúcido) dentro do próprio sonho e assim pode tomar controlo dos acontecimentos. Este é um acontecimento raro, poucas pessoas têm so-nhos lúcidos espontâneos e mesmo estas apenas os têm esporadicamente. No entanto existem técnicas que remontam ao século XIII, incorporadas no Yoga dos Sonhos ou Milam praticado desde então por budistas tibetanos, que permitem a qualquer pessoa, após algum treino, obter lucidez durante os sonhos. Estas tornaram-se a base para novas e mais simples técnicas criadas a partir dos anos 80 do século passado quando o tema despertou o interesse dos cientistas ocidentais.

A lucidez durante o sonho não implica necessariamente controlo. É comum em sonhos lúcidos espontâneos, que ocorrem especialmente durante a infância, o sonha-dor não saber que os pode controlar. Nestes casos, tendo a noção que está a sonhar a pessoa torna-se um mero espectador do seu sonho, como se estivesse a ver um filme.

Para que servem?

Ao ter controlo dos acontecimentos nos seus sonhos o oneironauta1 é capaz de mudar o ambiente circundante (o cenário do sonho), alterar o rumo dos aconteci-mentos ou modificar a sua própria aparência ou forma. Em suma, pode fazer o que quiser: aqui o limite é realmente a imaginação! Isto confere enormes potencialidades aos sonhos lúcidos: podem ser usados para viver as fantasias mais radicais, recriar momentos nostálgicos, fazer experiências fora dos constrangimentos das leis da físi-ca ou simplesmente para ter uma conversa com alguém especial. Voar é usualmente um dos primeiros prazeres experimentados quando se inicia o treino dos sonhos lúcidos. O oneironauta também deve estar aberto à possibilidade de poder partilhar

sonhos e viajar no espaço e tempo após desenvolver um bom controlo. Para além disso, ao realçarem o grau de realismo possível nos sonhos e ao mesmo tempo a possibilidade de serem controlados, os sonhos lúcidos indiciam que a realidade pode também ser uma construção mental e manipulável, evocando momentos de reflexão espiritual mesmo naqueles que os procuram apenas por diversão. São comuns relatos de experiências de êxtase em que indivíduos atingem estados de comunhão com uma força divina, grande paz interior e por vezes adquirem novos motivos para viver.

Podem também ser dadas aplicações mais práticas. É exemplo treinar uma apti-dão como uma actividade física ou um discurso público. Como as redes neuronais utilizadas durante os sonhos são exactamente as mesmas que quando acordado o que aprender durante estes tem consequências na vida real. Aliás, parte da comunidade cientifica concorda que, ironicamente, uma das funções dos sonhos é treinar o cére-bro para a realidade. A lendária criatividade associada aos sonhos é também aprovei-tada por muitos de forma a resolver problemas ou adquirir inspiração artística.

Em ambientes clínicos, os sonhos lúcidos já foram utilizados no tratamento de traumas psicológicos como fobias, ansiedade social ou pesadelos recorrentes. Outras possíveis aplicações seriam a recuperação de movimento em pessoas com paraple-gia, ao excitar as redes neuronais que controlam os músculos, ou proporcionar satis-fação sexual ou outro tipo de liberdade a pessoas com mobilidade reduzida.

Quem decida não tomar controlo pode utilizar a lucidez para conhecer os seus sonhos e analisá-los. Como adquire uma distância emocional face ao sonho, saindo do papel de actor e passando a ser um espectador de si mesmo, o oneironauta vê-se apto a raciocinar e chegar a conclusões sobre os motivos dos seus sonhos.

Como os ter?

Os sonhos lúcidos podem ser despoletados de três formas:

• Durante um sonho, quando começam como um sonho regular em que o sonhador eventualmente concluí que está a sonhar.

• A partir de uma mnemónica, quando o sonhador convence-se a si próprio que irá ficar lúcido durante um sonho no sono que se segue.

• A partir da vigília2, quando o sonhador passa directamente do estado de vigília a um estado de sonho lúcido sem lapso de consciência.

O primeiro requisito necessário para obter lucidez é ganhar uma boa memória dos sonhos, ou seja, ter facilidade em relembrar os sonhos enquanto acordado. O método mais eficaz para conseguir isto é criar um diário de sonhos: tenha um ca-derno ou gravador áudio junto da cama e assim que acordar tente descrever o mais pormenorizadamente possível os sonhos que teve durante a noite. É importante fazer isto rapidamente após acordar pois esquecemos os sonhos muito facilmente ao fim de uns minutos. Para facilitar fique imóvel após acordar, use um gravador áudio e relate os sonhos de olhos fechados no tempo presente. Ao fim de umas semanas a informação que juntou permitir-lhe-à conhecer os seus sonhos (Quais os ambientes mais comuns? Quais os motivos? Quais as personagens?), reconhecendo padrões ne-les e tornando mais fácil saber quando está a sonhar. É fundamental dominar este as-pecto antes de prosseguir com métodos de indução de lucidez pois mesmo que atinja lucidez durante um sonho poderá esquecer-se que tal aconteceu.

1. Durante um sonho

Para os principiantes, a técnica aconselhada é ganhar lucidez durante um sonho regular. Para tal terá que reconhecer que está a sonhar, existindo duas formas de o fazer: testes de realidade e sinais de sonho.

Os testes de realidade são acções mecanizadas enquanto acordado; estas irão ser repetidas durante os sonhos e através de alguma discrepância com a realidade o sonhador descobre que está a sonhar. O teste mais utilizado é ler um texto: leve consigo um relógio digital ou um pedaço de papel com texto, leias as palavras ou os números do relógio, olhe para outro lado e novamente para os caracteres e volte a ler, observe se estes se alteram, tente modificá-los enquanto os está a ver. Se os caracteres mudarem, não parecerem normais, adquirirem formas estranhas ou não fizerem sentido está muito provavelmente a sonhar; aproveite! De modo a funcionar, este teste tem que ser repetido o máximo de vezes possível quando acordado. Se o resultado for negativo e concluir que está acordado imagine que está a sonhar, pense que o que está a ver, ouvir, cheirar ou sentir não passa de um produto do seu subconsciente. De seguida pense no que mudaria no ambiente circundante se estivesse num sonho lúcido, imagine e tente visualizar tal a acontecer. Pode também pensar numa actividade como voar e imagine-se a executá-la.

Existem muitos outros testes de realidade e novas sugestões aparecem regularmente publicadas por praticantes na internet. São exemplos: beliscar-se e decidir se sente dor, tapar o nariz e tentar respirar por ele ou olhar para as mãos e contar o número de dedos. Não mude constantemente de teste; após escolher o que mais lhe agrada foque a sua atenção em tornar o teste num hábito, quase como se fosse um tique.

Os sinais de sonho são elementos dos sonhos que permitem identificar cla-ramente que se está a sonhar, por exemplo: pessoas com duas cabeças, aparelhos que não funcionam, fugir incessantemente de algo, etc. Estes sinais variam de pessoa para pessoa e é aqui que entra a memória dos sonhos e o reconhecimento de padrões. Quanto mais informação tiver sobre os seus sonhos, mais fácil será reconhecê-los.

Os sonhos lúcidos, tal como os sonhos mais vívidos, ocorrem durante uma fase do sono chamada REM (do inglês rapid eye movement - movimento rápido dos olhos). Quando adormecemos passamos por três estágios de sono NREM (non-rapid eye movement) cuja 3.ª fase corresponde ao sono profundo; após esta, entramos em sono REM. Este processo de quatro estágios repete-se ciclicamente ao longo da noite sendo que, no início, o de sono profundo ocupa mais tempo no ciclo e perto da manhã é o sono REM que predomina. Uma técnica que permite aumentar a eficiência das anteriores é aproveitar o último ciclo REM do sono para ganhar lucidez. Durante este, os sonhos são mais longos e vívidos permitindo mais facilmente descobrir que se está a sonhar. A técnica utilizada consiste em acordar 5 a 6 horas após adormecer, ficar acordado por uma hora e voltar para a cama. Durante a hora que permanece acordado deve focar todos os seus pensamentos em ganhar lucidez no sono que se segue; pratique testes de realidade e pense nos seus sinais de sonho.

É de referir que uma característica do sono REM é a completa paralisia corporal. Ou seja, não há qualquer motivo para não praticar uma acção num sonho pensando que se poderá aleijar na realidade: o seu cor-po real está completamente imóvel e não se moverá um único centímetro.

Dentro da categoria de sinais de sonho estão também os aparelhos indutores de sonhos lúcidos. Estes são uma espécie de óculos que se colocam ao deitar e que detec-tam quando o utilizador entra em sono REM fazendo então incidir uma luz intermitente sobre os seus olhos. Esta luz é suave, não sendo suficiente para acordar, mas aparece no sonho como um par de luzes a piscar (parecendo, por exemplo, um automóvel a fazer sinais luminosos). O oneironauta treinado para reconhecer este sinal descobre então que está a sonhar.

2. A partir de uma mnemónica

A técnica de mnemónica desenvolvida por Stephen LaBerge, psicofisiologista3 autor de extensos estudos sobre sonhos lú-cidos, baseia-se em lembrar-se de fazer algo no futuro, ou seja, em enraizar a intenção de reconhecer os sonhos enquanto se ador-mece. Primeiro deve fixar a sua mente em acordar após cada sonho; muitas pessoas já fazem isto naturalmente, principalmente quando o sonho é emocionalmente forte. Quando acordar, reveja detalhadamente o sonho que teve. Volte a adormecer, mas en-quanto o faz concentre os seus pensamentos em reconhecer que está a sonhar. Repita:

25 A FolhA

“Quando estiver a sonhar vou-me lembrar que estou a sonhar”, e liberte a sua mente de qualquer outro pensamento. Enquanto define esta intenção, imagine que está de volta ao sonho do qual acordou (ou outro, caso não se lembre) e percorra o sonho até chegar a um ponto em que ocorreu um claro sinal de sonho. A partir daí, imagine que tinha ganho lucidez e controlava o sonho; imagine então o que faria, como se planeas-se o seu próximo sonho lúcido. Repita a definição da intenção e o recordar do sonho até adormecer. Se sentir a mente a divagar, volte para a intenção, certificando-se que este é o último pensamento que tem antes de adormecer.

Após adormecer, a maioria dos indivíduos vê-se de volta ao mesmo sonho e por vezes encontra os mesmos sinais de sonho. Isto aumenta a hipótese de se lembrarem da sua intenção, lembrarem-se que estão a sonhar e consequentemente ganhar lucidez.

3. A partir da vigília

Esta forma de ter um sonho lúcido implica passar directamente do estado de vi-gília para um sonho lúcido sem lapso de consciência. Para tal, é preciso aprender a reconhecer o estágio hipnagógico, que é o período de adormecimento, a transição en-tre a vigília e o sono, e manter-se consciente durante este. Eventualmente, entrará em estado de sonho, perfeitamente ciente que está a sonhar.

Manter o alerta durante o estágio hipnagógico é difícil à hora normal de deitar pois o corpo está cansado e adormece-se muito rapidamente; contudo, torna-se muito mais fácil depois de dormir 3 a 7 horas ou então à tarde, durante uma sesta. Existem inúmeras técnicas para manter o alerta enquanto se relaxa e deixa o corpo adormecer. São exemplo: controlar a respiração, imaginar-se a fazer algo repetitivo e que envolva os sentidos como subir e descer escadas ou conduzir um carro ou então usar a velha técnica de contar carneiros. As pessoas que facilmente têm alucinações visuais ou auditivas ao adormecer podem imaginar-se a entrar nas imagens ou sons por forma a manter a concentração e a mente alerta, mas devem sempre manter um raciocínio lógico. Isto é, se começar a ver ou ouvir algo impossível de ocorrer na realidade liberte-se dos pensamentos actuais e recomece. Pode também experimentar resolver mentalmente exercícios de matemática ou lógica.

Após a fase anterior dá-se a transição para o estado de sonho. Esta transição é nor-malmente acompanhada de paralisia do sono4, vibrações rápidas, sons e visões. A sen-sação é descrita como atravessar um turbilhão, entrar no hiperespaço como as naves nos filmes de ficção científica ou passar para outra dimensão, tendo outra percepção do corpo. Para outros, esta transição é mais calma e descrita como passar a interface entre a água e o ar. À medida que se dá a transição as cenas ou objectos que o oneiro-

À medida que se dá a transição as cenas ou objectos que o oneironauta imagina e tenta visualizar tornam-se cada vez mais reais e acaba por conseguir vê-los claramente, estando então a sonhar e lúcido

Existem outras mais criativas como:– encontrar uma televisão com tele-comando, mudar os canais até num deles aparecer a

cena que deseja (se estiver a pensar nela é provável que apareça) e saltar para dentro da TV;– chegar a uma porta fechada e imaginar que a cena pretendida está do outro lado e

então abrir a porta;– perguntar a uma personagem do sonho como encontrar o que pretende.Uma técnica mais exigente, mas que permite ganhar uma grande habilidade no con-

trolo do sonho, é modificar gradualmente o ambiente, um bocado de cada vez, olhando para os objectos e fazendo com que eles se transformem.

Suplementos para incrementar os sonhos

Alterando os níveis dos neurotransmissores acetilcolina, serotonina, dopamina e noradrenalina no cérebro, é possível influenciar a vivacidade, clareza, consciência, disposição (estado de espírito) e a capacidade de recordar os sonhos e assim aumentar a probabilidade de ter um sonho lúcido. O investigador Scot Stride, em conjunto com um grupo de oneironautas aperfeiçoou uma técnica conhecida como Lucid Dream Su-pplement (LDS). Esta consiste em tomar um conjunto de suplementos ao acordar, após várias horas de sono. Thomas Yuschak, que fazia parte do grupo, descreve a técnica em pormenor no seu livro Advanced Lucid Dreaming.

Para além da LDS, existem substâncias que, tomadas antes de deitar, aumentam a vivacidade dos sonhos, como as vitaminas B6, B12 e B5. O consumo regular de mela-tonina ou triptófano tem um efeito similar. Existem também plantas utilizadas tradicio-nalmente por diversos grupos tribais espalhados pelo mundo e que têm efeitos similares ou superiores. São exemplos a Silene capensis (African Dream Root em inglês), a Synaptolepis kirkii, a Entada rheedii (African Dream Seed em inglês), a Verbena offi-cinalis (urgebão ou giribão em português), a Artemisia vulgaris (artemísia-comum ou flor-de-São-João) e a Calea zacatechichi, sobre a qual irá incidir a segunda parte deste artigo. Deve-se ter em atenção que os sonhos são experiências subjectivas e facilmente influenciáveis pelo efeito placebo, ou seja, a crença de que algo irá despoletar lucidez pode de facto bastar para tal acontecer.

O consumo de canábis ou de drogas depressoras do sistema nervoso central como o álcool ou as benzodiazepinas altera o ciclo de sono, normalmente suprimindo o sono REM. Isto diminui a frequência e memória dos sonhos, pelo que o consumo destes deve ser descontinuado, de forma a facilitar a obtenção de lucidez.

nauta imagina e tenta visualizar tornam-se cada vez mais reais e acaba por conseguir vê-los claramente, estando então a sonhar e lúcido.

Para além das técnicas descritas acima existem outras como o ajuste dos ciclos de sono com a qual é necessário despender mais tempo o que pode não ser indicado para todos. Podem também ser experimentadas reformulações das anteriores, de acordo com as preferências de cada um, sendo acon-selhado testar as várias técnicas até achar uma que resulte melhor.

Como evitar acordar quando se ganha lucidez?

Um dos principais problemas com que os prin-cipiantes se deparam é acordar imediatamente após ganhar lucidez. Isto deve-se à excitação de adquirir lucidez, pelo que assim que a adquirem, devem rela-xar e tentar não expressar o contentamento de forma fervorosa. Planear o sonho como sugerido nas técnicas acima é uma mais-valia pois assim que ganhar lucidez pode seguir com os seus planos evitando pensar dema-siado sobre o facto de estar a sonhar. Outra forma de se manter num sonho é saturar os sentidos com infor-mações vindas do mesmo, evitando assim a sensação de estar deitado na cama. A visão é usualmente o pri-meiro sentido a sair da abrangência do sonho e o tacto o último. Portanto, quando se sentir a acordar, agarre qualquer objecto que esteja por perto e tacteie-o cui-dadosamente; pode também esfregar as mãos, mexer no cabelo ou então tocar com a língua no céu da boca (que diz-se ser uma das sensações tácteis mais ricas).

Stephen LaBerge inventou uma técnica muito eficaz, que consiste em rodopiar sobre o seu próprio eixo, como uma criança a tentar ficar tonta. Ele propõe que esta acção pode envolver partes do cérebro também respon-sáveis pelo sono REM e assim prolongar este tipo de sono.

Como controlar o sonho?

Após atingir lucidez e certificar-se que não acorda, pode então tentar mudar o ce-nário e personagens do seu sonho. Para tal, existem inúmeras técnicas normalmente adaptadas ao gosto de cada um. O essencial em todas é esperar que aconteça algo e imaginar claramente a cena que pretende. As duas técnicas mais comuns são:

– rodopiar e imaginar que o que pretende criar aparece atrás de si;– fechar os olhos e imaginar a cena a formar-se à sua volta e abri-los quando esta

estiver clara na sua mente.

O consumo de canábis ou de drogas depressoras do sistema nervoso central como o álcool ou as benzodiazepinas altera o ciclo de sono, normalmente suprimindo o sono rEM

1. oneironauta - aquele que explora o mundo dos sonhos, normalmente quando em estados de sonho lúcido

2. vigília [medicina] - estado normal de consciência e actividade que se opõe ao estado de sono

3. psicofisiologia [ciência] - ramo da psicologia que estuda as bases fisiológicas para processos psicológicos

4. paralisia do sono [medicina] - paralisia temporária do corpo imediatamente após o despertar ou, com menos frequência, imediatamente antes de adormecer

Glossário

A FolhA 26

Foto: Anubis Red D

eath

Fontes: Exploring the World of Lucid Dreaming. Stephen Laberge; Lucid Dreaming. Stephen Laberge; The Art of Dreaming. Carlos Castañeda; Advanced Lucid Dreaming. Thomas Yuschak; Lucid Dream. Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Lucid_dream; Lucid Dreaming FAQ. The Lucidity Institute. http://www.lucidity.com/LucidDreamingFAQ2.html; Lucid Dreaming Guide. LD4all. http://www.ld4all.com/guide.html; Lucid Dreaming. Drugs Forum. http://www.drugs-forum.com/forum/showthread.php?t=25981

27 A FolhA

Descrição botânica

A C. zacatechichi é um arbusto perene com 1-1,5m de altura, muito ramificado e com caules rectos e lenhosos. As folhas são ovais, serrilhadas nas bordas com uma terminação fina e um pecíolo curto; nascem emparelhadas, tendo 3-5cm de comprimen-to e 2-4cm de largura. São também rugosas e pubescentes1. Floresce em Setembro, dando umas flores no seu topo com 4mm de diâmetro e cor branca; estas agrupam-se em inflorescências pequenas e densas com uma média 12 flores cada. Após serem poli-nizadas, as flores secam e dão origem a um aglomerado de sementes. Estas são muito leves, finas e compridas com um conjunto de pêlos no topo que lhes permite se disper-sarem-se através do vento.

Nativa do México e da Costa Rica, cres-ce predominantemente em áreas montanho-sas acima dos 1500m mas também aparece em zonas de savana e desfiladeiros. Cresce em solo árido com pH ligeiramente ácido devido a detritos de pinheiros e carvalhos com os quais partilha o habitat.

Efeitos

Sensivelmente 30 minutos após a inges-tão, o utilizador entra num estado de sono-lência que o leva ao sono. Ao adormecer, as propriedades oneirogénicas2 desta planta

manifestam-se através do aumento das alucinações hipnagógicas e do número de sonhos e da sua vivacidade, que se traduz numa maior facilidade em ganhar lucidez durante os mesmos. Há quem relate um es-tado de relaxamento similar à canábis após fumar as folhas da planta ou tomar uma tintura alcoólica. Em doses muito elevadas, a C. zacatechichi também pode provocar leves efeitos psicadélicos quando acordado, tais como um ligeiro aumento da percepção sensorial e das imagens vistas de olhos fechados, descontinuidade de pensamen-tos, rápido fluxo de ideias, dificuldade em recordar eventos passados e uma sensação de leveza.

Fora do âmbito tradicional, os utilizado-res ocidentais descobriram um efeito sinér-gico com tabaco quando fumada uma mis-tura de 60% tabaco e 40% C. zacatechichi, levando a um estado de euforia conjugado com uma profunda letargia durante uma a duas horas após a ingestão. Não foram reportados quaisquer efeitos diferentes du-rante os sonhos em relação aos da C. zaca-techichi sozinha.

Princípios activos

Os compostos psicotrópicos já isolados da C. zacatechichi são maioritariamente germacranolidas3 e crê-se que também são os responsáveis pelo forte sabor amargo da

planta. São a 1B-acetoxi-zacatechinolida, 1-oxo-zacatechinolida, budeleina A, caleici-na I, caleicina II, caleina A, caliena B, cale-ocromena A, caleocromena B, germacrena 7, O-metil-acacetina e zexbrevina. A maioria destas substâncias eram desco-nhecidas da ciência até serem encontradas nesta planta, sendo portanto específicas da mesma. Contudo, ainda não foram feitos estudos para determinar qual a responsável pelo efeito oneirogénico ou se este se deve

a uma sinergia entre as várias substâncias. Todos estes compostos são solúveis em

água e álcool, permitindo extracções com estes dois solventes.

riscos para a saúde

Ainda não existem estudos sobre os riscos a longo ou médio prazo do uso continuado desta planta. A curto prazo não há relatos de ressaca ou outros efeitos

Calea zacatechichi (sinónimo Calea nelsonii) é o nome científico para a planta conhecida por Mexican Dream Herb em inglês e erva-do-sonho em português. O seu principal efeito é tornar os sonhos mais vividos e assim facilitar o ganho de lucidez durante os mesmos. Por Alexandre de Menezes

Ao adormecer as propriedades desta planta manifestam-se através do aumento do número de sonhos, maior vivacidade e facilidade em ganhar lucidez durante os mesmos

Princípios activos:1B-acetoxi-zacatechinolida, 1-oxo-zacatechinolida, budeleina A, caleicina I, caleicina II, caleina A, caliena B, caleocromena A, caleocromena B, germacrena 7, O-metil-acacetina, zexbrevina

Caleazacatechichi

tradição etnobotânicaFoto: A

lexandre de Menezes

Detalhe das flores

Desenho da C. zacatechichi com pormenor da flor

Planta adulta

C. zacatechichi em flor

C. zacatechichi adulta cultivada em interior, resultando em folhasverde escuro e caule

pouco lenhoso; foram feitas diversas podas a esta

planta daí a sua forma arredondada

tradição etnobotânicaA FolhA 28

secundários nocivos ou da possibilidade de sobre-dosagem, não se conhecendo uma dose letal. A C. zacatechichi deve apenas ser utilizada esporadicamente e crê-se que com este tipo de abordagem é bastante segura, tendo em conta a inexistência de efeitos indesejáveis nos seus utilizadores tradicionais de há centenas de anos, os índios Chontal do México.

Potencial de dependência: Baixo

Não existem relatos de abuso desta planta ou da possibilidade de causar depen-dência. Situações de uso excessivo serão muito difíceis de acontecer pois os seus efeitos são apenas sentidos durante o sono. Para além disso, estes efeitos são muito específicos e não são agradáveis física ou psicologicamente, levando a que apenas um número limitado de pessoas os procure.

Dosagem e administração

O método de administração tradicional consiste em fazer um chá com as folhas secas da C. zacatechichi, que deve ser bebido calmamente. De seguida, o utilizador deita-se, relaxa e fuma um cigarro enrolado com as folhas secas e trituradas da mesma planta. Quando o acabar, tenta adormecer.

Segundo os índios Chontal, a dose in-dicada para o chá é uma “mão cheia” de folhas, o que pode corresponder a qualquer coisa entre 25 e 60g. Em média, isto dará 1g de folhas secas por cada kg de massa corporal do utilizador (retirado de: Psycho-pharmacologic Analysis of an Alleged Oneirogenic Plant: Calea zacatechichi). Estes valores destinam-se a utilizadores experientes e numa primeira abordagem não se deve ultrapassar as 2-3g, aumentando a dose incrementalmente nas experiências subsequentes. Para o cigarro devem-se utilizar 0,5-2g. Os Chontal sabem que to-maram uma dose suficiente quando sentem tranquilidade e sonolência ou então quando conseguem ouvir as batidas do seu coração e sentem claramente o pulso.

O chá é extremamente amargo, facto que deu o nome à planta: zacatechichi é uma palavra Náuatle que significa “erva amarga” e pela qual a planta é conhecida

por todo o México. Por vezes também é usado o espanhol pasto amargo. Esta característica torna o chá da C. zacatechichi muito difícil de inge-rir para a maioria das pessoas causan-do náuseas e vómitos. Assim, muitos utilizadores preferem apenas fumar as folhas. Como alternativa, pode-se colocar o material dentro de cápsulas de gelatina ou fazer uma tintura alco-ólica tornando a ingestão muito mais confortável. As flores, provavelmente menos ricas em alcalóides mas ainda assim activas, são menos amargas e geram um fumo menos “duro” sendo uma boa alternativa para as pessoas mais sensíveis.

Cultivo

Como muitas plantas de zonas áridas e semi-áridas, a C. zacatechichi é variavel-mente dormente, ou seja, as suas sementes não germinam assim que semeadas podendo demorar de uma semana até um ano no solo até tal acontecer. Isto é uma estratégia de sobre-vivência que assegura que algu-mas das sementes irão germinar nas alturas mais propícias para crescerem. Assim as sementes são difíceis de germinar, e para além disso muitas plântulas morrem logo após nascerem, razão pela qual o método de propagação mais utilizado é através de podas. Ao optar pelas sementes, pode-se utilizar o se-guinte método para as acordar: fazer uma solução com 50% de água destilada e 50% de água oxigenada a 3% (5 volumes), utilizada para impedir o crescimento de microorganismos na água, até o processo estar completo.

As sementes devem ser espalhadas so-bre a superfície da água. Estas tenderão a flutuar; quando afundarem estarão prontas a ser semeadas. Usa-se uma mistura de substrato leve e que drene bem para semear, tal como uma mistura para cactos. Uma boa fórmula é 1/3 de substrato rico, 1/3 de

vermiculite4 e 1/3 de húmus. Espalham-se as sementes sobre o substrato e tapam-se apenas com uma camada muito fina do mesmo, ou não são cobertas de todo. Rega-se de modo a que a terra fique hú-mida mas não encharcada e cobre-se o vaso com um saco de plástico, de modo a criar uma mini-estufa. Podem ser feitos vários furos com uma agulha ou alfinete no saco de plástico, de modo a haver alguma ventilação impedindo o desenvol-

vimento de fungos. A mini-estufa deve ser colocada num local que apanhe apenas luz solar indirecta e que esteja a uma tempe-ratura superior a 25ºC. Deve evitar-se que a terra seque, utilizando um pulverizador para a humedecer regularmente. Após as sementes germinarem, retira-se o saco de plástico e a partir daí deve-se ter especial atenção com a rega, pois se o solo ficar en-charcado as plântulas irão morrer.

Quando as plântulas tiverem o pri-meiro par de folhas definitivas, devem ser transplantadas para vasos individuais, nos quais utiliza-se uma mistura de substrato similar à anterior. Não se descarta já o substrato com as sementes, pois muitas po-derão ainda germinar num período até um ano. Introduz-se as plantas gradualmente à luz solar directa começando por 1h-2h por dia, até conseguirem suportar o dia inteiro. A C. zacatechichi suporta luz solar directa durante o dia inteiro mesmo no Verão, e prospera nessas condições desde que o solo tenha a humidade necessária. À medi-da que a planta for crescendo, transplanta-se sucessivamente de modo a dar mais espaço para as raízes. Apesar de não ser muito exigente em termos de espaço para as mesmas, bastando um vaso de 7L para uma planta adulta, a C. zacatechichi dá-se

Situações de uso excessivo serão muito difíceis de acontecer, pois os seus efeitos são apenas sentidos durante o sono;são muito especificos e não agradáveis física ou psicologicamente

Pormenor das raízes de um clone a saírem da jiffy à procura de nutrientes. Altura de transplantar

Foi feita uma poda ao caule principal desta C. zacatechichi resultando na visível produção de ramos laterais

Clones a enraizar em jiffy

Dois aglomerados de sementes e várias sementes separadas

Fotos: Alexandre de M

enezes

c/ Jose Perez Barroso n.º 4021400 Ayamonte - España

Horário: martes - sabado, 14-20hterça - sábado: 13h-19h

tf: 00 351 965 124 867 / 962 507 079

Encomendas a Espanha:[email protected]

a 3 Km da fronteira

Semillas y todo lo que necesitaspara el cultivo en interior,

exterior, hidroponico, ecologico...

Conhecimento à mão de semear.

NUEVA TIENDA - AYAMONTE

29 A FolhA

Para os xamãs a planta é capaz de “clarificar os sentidos” e dão-lhe o nome de thle-pela-kano (folha de Deus). Quando pretendem saber a causa de uma doença ou localizar uma pessoa, consomem a planta antes de dormir

melhor no solo desde que este tenha a estrutura e composição adequada. Pode-se podar o caule principal da planta de modo a que esta passe o crescimento para os ramos laterais. Usualmen-te, isto leva a uma maior produção de folhas, o que se torna ideal pois esta é a parte da planta que é consumida. Esta técnica também facilita a obtenção de clones. Para fazer clones, utiliza- -se a técnica usual da maioria das plantas:

1. Poda-se um ramo lateral, imediatamente abaixo de um nó.

2. Remove-se as folhas inferiores, deixando apenas um ou dois pares no topo da poda.

3. Mergulha-se a poda numa solução de hormonas de enraizamento durante o tempo indicado pelo fabricante.

4. Planta-se a poda num substrato pobre, como uma mistura de 2/3 vermiculite e 1/3 de substrato de jardinagem, ou utili-za-se jiffy (pastilhas de trufa e/ou côco). Rega-se o substrato de modo a que fique apenas húmido e coloca-se numa mini- -estufa ou colonizador.

5. A mini-estufa para além dos buracos de ventilação deve ser aberta uma hora por dia.

6. Quando a poda pegar e estiver a crescer, deve ser transplantada para uma mistura mais rica como a indicada para as semen-tes e plantas adultas.

Tradição etnobotânica

A C. zacatechichi é utilizada tradicional-mente pelos índios Chontal de Oaxaca, México. Os xamãs afirmam que a planta é capaz de “clarificar os sentidos” e dão-lhe o nome de thle-pela-kano (folha de Deus). Quando pretendem saber a causa de uma doença ou a localização de uma pessoa distante ou perdida, consomem a planta imediatamente antes de dormir, segundo a preparação tradicional indicada na secção de Ad-ministração e Dosagem. Alguns afirmam colocar também algumas folhas debaixo da almofada. A resposta à pergunta colocada durante o proces-so de divinação é mostrada num sonho.

Para além do uso enteogénico, a erva-do-sonho também é aplicada pelos Chontal como planta medicinal na cura de distúrbios gastrointes-tinais como a disenteria5. É também usada como

1. pubescente [biologia] - coberto por uma camada de pêlos curtos e finos

2. oneirogénico [psicologia] - propriedade do que produz (cria) sonhos

3. germacranolidas [química] - grupo de compostos pertencentes à classe das lactonas sesquiterpenes; esta classe inclui químicos encontrados em diversas plantas

4. vermiculite [geologia] - mineral expandido através da aplicação de calor, para utilização em jardinagem na me-lhoria das propriedades do solo, principalmente para reter água, facilitar a drenagem e criar bolsas de ar de modo a proporcionar mais oxigénio às raízes das plantas

5. disenteria [medicina] - inflamação do intestino grosso e evacuações resultantes

6. colagogo [medicina] - medicamento que opera sobre a vesícula biliar, promovendo a descarga de bílis

7. catártico [medicina] - purgativo que acelera a defecação, em contraste com o laxante que a facilita

8. antipirético [medicina] - medicamento que previne ou reduz a febre

Glossário

estimulante do apetite, colagogo6, catártico7, antipirético8, agente de limpeza para feridas profundas e pequenas queimaduras, tópico para sarar pele seca e reduzir inchaços no couro cabeludo e mais notavelmente como medicamento para aliviar dores de cabeça. Também é usada pelos mesmo como insecticida.

Fontes: Pharmacotheon. Jonathan Ott; Plants of the Gods, Their Sacred, Healing, and Hallucinogenic Powers. Schultes, Hofmann, Rätsch; Psychopharmacologic Analysis of an Alleged Oneirogenic Plant: Calea zacatechichi. Lilian Mayagoitia, Jose-Luis Diaz, Carlos M. Contreras; Calea zacatechichi. Wikipedia EN, ES e PT; Calea zacatechichi Vault. Erowid. http://www.erowid.org/plants/calea_zacatechichi; Effects of Calea Zacatechichi. Drugs Forum. http://www.drugs-forum.com/forum/showthread.php?t=24056; Calea zacatechichi - Dream Herb. Entheology.org. http://www.entheology.org/edoto/anmviewer.asp?a=34 Duas plântulas que germinaram

somente 3 meses após a semeia

Foto: Alexandre de M

enezes

FichA técnicA

Director: João Maia Editor: Pedro Mattos Produtor: Joaquim Pedro Revisor: Pedro RodriguesColaboradores: Alexandre de Menezes [investigador]; Javier Pedraza Valiente [médico]; Pedro C. Bala [advogado]; João Carvalho [activista] Colaboraram também: C. Velez; Gatra; Jorge Roque; J. D’Ávila; Martín Barriuso; Rute Eires; V. Barata Grafismo: JPsafa Logotipo: Boopsie Cola Homem Folha: ilustrado por Ricardo Campos Tiragem = circulação (06/2010): 15.000 Impresso em Portugal.

Se achas que podes ajudar de alguma forma... junta-te a nós! Entra em contacto. Faz a folha chegar à tua gente

[email protected]

RESERVA A PRÓXIMA EDIÇÃO, TALVEZ TE SURPREENDAS!thc cuisineA FolhA 30

Eis uma receita muito prática e que tem em conta os factores necessários para converter o THCA em THC e activá-lo. Estes firecrackers consistem numa sanduíche com duas bolachas de água e sal, uma gordura e flor de canábis no meio, tudo levado ao forno.

Firecrackers

AdVeRtênciA: A Folha não é responsável pelo uso que é dada à informação contida nas suas páginas. Apelamos aos nossos leitores que sejam responsáveis e respeitem a lei.

CONTINUAÇÃO DA PÁG. 7 [Errata / A cada pessoa sua dosagem]

Para consumidores com tolerância uma boa aproximação, tal como indicou o ExConnoisseur, é usar três vezes a quantidade utiliza-da para obter o efeito desejado quando fumada. Quem consome pela primeira vez deve ter a abordagem para novas substâncias inúmeras vezes repetida n'A Folha: começar por doses pequenas, mesmo que não tenham efeito perceptível, e aumentar gradualmente a dose em experiências subsequentes até obter o efeito desejado.

Fontes: Pharmacotheon. Jonathan Ott; Comparison of acute lethal toxicity of commonly abused psychoactive substances. Robert S. Gable; Cannabis dosage. CCGuide. http://ccguide.org/dose.php Cannabis Vault. Erowid. http://www.erowid.org/plants/cannabis/cannabis_dose.shtml Cannabis (drug). Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Cannabis_%28drug%29 Oral Cannabis. Cannabisinfo. http://www.cannabisinfo.info/oral.html Tetrahydrocannabinol. Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Tetrahydrocannabinol

1. THC [química] - Acrónimo para Δ9-tetrahidrocanabinol, principal substância activa presente nas flores das plantas da família Cannabis e nas preparações delas originadas como haxixe, pólen e liamba. Encontra-se presente em concentrações que variam entre 3% e 22%, caso se trate de uma variedade para obtenção de fibra, vulgo cânhamo, ou de uma variedade para uso recreativo das mais potentes

2. rácio de segurança [farmacologia] - O mesmo que o índice terapêutico, mas para substan-cias psicotrópicas utilizadas fora do contexto clínico. É o quociente entre a dose letal média, LD50, e a dose efectiva média, ED50 . Neste caso a dose efectiva é aquela que produz os efeitos psicotrópicos desejados e pode ser maior ou menor que a dose terapêutica efectiva

3. lipofílico [química] - propriedade das substâncias químicas que têm afinidade e são solúveis em lípidos, como gorduras e óleos, e/ou em solventes não polares, como o xileno e o hexano

4. canabinóide [química] - grupo de compostos presentes nas plantas do género cannabis e no sistema nervoso e imunitário dos animais

Glossário

ondE obtEr?NESTES ESPAÇOS ENCONTRAS A FOLHA QUANDO ELA SAI

ZonA noRte [Mais actualizado em breve, andamos por aí!]

GUIMARÃES Anti Hero, R. Teixeira de Pascoais, Edif. Sa Taqueiro, 2.º piso, QuintãBRAGA CityPlantes, R. Nova Santa Cruz 29-A; Jardins á Maneira, R. Sto Adrião n.º 110, Sto Lazaro PAÇOS DE FERREIRA Ritual, R. Tenente Leonardo Meireles n.º 54CHAVES Natural Shop, C. C. Charlot, R. Olival, Loja 27 - 4.ª FaseVIANA DO CASTELO PlantAmor, Pr. General Barbosa n.º 100, C.C. Dom FernandoGONDOMAR Skin Tattoo, R. 25 de Abril, 363, S. Cosme, C.C. Oliveiras, 1.º pisoPENAFIEL GringoTattooFiel, Av. José Júlio n.º 269PÓVOA DO VARZIM AK-47, Av. Mouzinho de Albuquerque, Galerias Euraci 2MATOSINHOS Big Buds, R. Alfredo Cunha, n.º 115, C. C. NewarkPORTO A Loja da Maria, C.C. Cedofeita; Art of Joint, R. S. Roque da Lameira, n.º 839; Big Buds Tattoos, R. Passos Manuel 219, C.C. Invictos; Big Buds Grow/Head Shop, R. Sta. Catarina, n.º 1480; Cognoscitiva, R. Cedofeita, n.º 170; Casa Viva, Praça Marquês Pombal 167;Little Amsterdam, Av. Camilo 268, Bonfim; Canhamorfose, R. Miguel Bombarda 285, C.C. Bombarda; Planeta Sensi, R. Passos Manuel, n.º 219, C.C. Invictos STA. MARIA DA FEIRA Plantarte - Loja de Cultivo, R. Comendador Sá Couto, N.º 112 - Lt. 13AVEIRO Mercado Negro, R. João Mendonça, 17; Pizzarte, R. Eng.º Von Haff n.º 27; TNT Tattoo, Av. D. Lourenço Peixinho, C.C. Oita - 4.º pisoVISEU Piranha Tattoo & Supplies, C.Com. S. Mateus, Loja 2 - 1.º piso,

centRo / Sul / inSulARCOIMBRA Cognoscitiva, R. Antero de Quental, C.C. Avenida - 6.º pisoPOMBAL Funtastic, Pombal Shopping, Loja2, R. Sta. Luzia 24LEIRIA Cognoscitiva, R. Barão Viamonte, n.º 76; Alquimia; RastilhoMARINHA GRANDE H2O Surf Shop, R. Alexandre Herculano 14; Or Tattoo, R. Álvaro Coelho n.º 19CALDAS DA RAÍNHA A Loja da Maria, R. Heróis Grande Guerra, n.º 5VILA FRANCA DE XIRA City Bar, Trav. Espírito Santo N.º 10LISBOA Alkimia, R. das Pedras Negras, n.º 61A; A Loja da Maria, R. Marcos Portugal n.º 65; Atomic Tattoo, R. Alegria 27; Bana, Praça da Figueira, n.º1 D; Carbono, R. Telhal, 6B; Cave, R. Luciano Cordeiro 49B; Cognoscitiva, R. Bem Postinha 19B; Crew-Hassan Coop. Cultural, R. Portas de Santo Antão n.º 159; Groovie Records, R. Fanqueiros 174, 1.º Esq.; Lisboa Ink, R. Telhal 8C; Mongorhead Comics, R. Alegria n.º32/ 34; Triparte, R. Prata n.º 88BAIRRO ALTO Earth Records, Trav. Queimada n.º 33; Loja do Cânhamo, R. Diário de Notícias 1; Magic Mushroom, R. Luz Soriano 29; Queen of Hearts Tattoo, R. Luísa Todi 12-14; Tribal Urbano, R. da Madalena 232; Waves & Woods, Trav. Queimada 36 ODIVELAS 893 Tattoos, Av. D. Dinis 68B, C.C. OceanoS. PEDRO DO ESTORIL D.H.C. Tattoos, R. Sacadura Cabral 156ACARCAVELOS Bana, Estrada de Sassoeiros, Lt. 3 Dto.AMADORA Carbono, R. Elias Garcia 241, Galerias S. José - Piso 1; Art Fusion Studio, Av. Brasil 22S QUELUZ HardCore Tattoos, C.C. Queluz, Loja 1 SINTRA Bang Bang Tattoo, Av. Heliodoro Salgado 104ALMADA Pedrada Tattoos & Supplies, Av. D. Nuno Alvares Pereira n.º 18 - r/c EsqAMORA White Dragon, R. Movimento das Forças Armadas n.º 28COSTA DE CAPARICA Pedrada Tattoos, Av. General Humberto Delgado n.º 35 - 1.º pisoMOITA Zooniverso, Largo do Mercado Municipal, Loja 1 BARREIRO Alburrica Bar, R. Almirante Reis n.º 68A; Espaço Chapelaria, Associação Cultural SETÚBAL Rebento Verde, Estr. de Palmela, 35 A (Urbisado); TattDrago, R. Paula Borba n.º 20 - 1.ºPORTIMÃO Rockpit Records, Av. 25 Abril, Lt. 26 - r/c Esq. ALBUFEIRA Bio Folha, Av. 12 de Julho, Quinta dos Serves Lj. 4 - FerreirasLAGOS Cool It Tattoo, Trav. do Cotovelo 2 - Loja B; Esperança Verde, Trav. do Cotovelo 2-1;Rockstar Shop, R. Cândido dos Reis n.º 137QUARTEIRA Downtown Tattoo, R. Vasco da Gama, loja 1A FARO Bee Nature, R. Ataíde Oliveira, C.C. Al-GharbFUNCHAL Anatomic Tattoo, R. Ferreiros 240 PONTA DELGADA Banana Art Factory, R. Mercadores 84

eSPAnhA AYAMONTE Cognoscitiva, c/ Jose Perez Barroso n.º 40MADRID Houseplant Central, c/La Palma 42GAliZA A CORUÑA Diosa Planta SL, c/Galilei, 48 OURENSE Viva Maria, c/Camino Caneiro PONTEVEDRA Viva Maria, c/Santa Clara 3 SANTIAGO DE COMPOSTELA Viva Maria, c/Rosalia de Castro 116 TUY Voodoo Trading - ctra. Tuy, La Guardia (2 km da fronteira) VIGO Viva Maria, Ronda de Don Bosco 50; Viva Maria, Genaro de la Fuente 58;

Viva Maria, Calle Fragoso 45 VILLAGARCIA Viva Maria, c/Cervantes 10

bRASil Estamos interessados em ter representação nas principais cidades. Entrem em contato!

Chegamos a muitos outros locais e eventos de forma ocasional.Esta lista será permanentemente actualizada.

também podes fazer o download d’A Folhae rodar aos teus amigos por e-mail

www.a-folha.com

1. Pré-aquecer o forno a exactamente 160ºC. O ponto de ebulição do THC é de 199,1ºC à pressão atmosférica. Uma temperatura superior a 160ºC aceleraria o processo mas implicaria percas enquanto que uma temperatura inferior faria com que este demorasse mais de 1 hora.

2. Escolher duas bolachas de água e sal o maior possíveis. Não se deve utilizar pão pois este absorve a gordura a utilizar no próximo passo.

3. Espalhar uma quantidade generosa de uma gordura no centro das duas bolachas, mas não demasiado, de forma a que quando se juntarem as bolachas ou mais tarde quando a gordura for derretida esta não saia para fora. Pode- -se utilizar manteiga com alto teor de gordura ou queijo amanteigado; margarinas são de evitar. Na receita original, proveniente dos Estados Unidos, é utilizada manteiga de amendoim orgânica.

4. Pesar a dose desejada de flor de canábis e pulverizar ou cortar de modo a obter pedaços o mais pequenos possível.

5. Espalhar a canábis sobre a gordura e juntar as duas bolachas.

6. (opcional) Levar ao microondas durante 15 segundos. Assim derrete-se a gordura antes de levar ao forno, fazendo com que esta envolva logo a canábis, o que acelera o processo.

7. Envolver as bolachas em folha de alumínio de forma a que não existam entradas de ar. Isto evita que algum THC evaporado escape para o forno e que a gordura derretida derrame.

8. Levar ao forno durante 22 minutos.

9. (opcional) Ao sair do forno pode-se retirar a folha de alumínio e levar de novo ao microondas durante 15 segundos, de forma a activar a maior quantidade de THC possível. Atenção, nunca se deve colocar folha de alumínio no microondas.

10. Deixar arrefecer e saborear.

COgNOSCITIVA - distribuidor exclusivo da easygrow em Portugal

Conhecimento à mão de semear.

www.cognoscitiva.com · [email protected]

CITYplantesnovo espaç

R. Nova Santa Cruz 29/29A4710-409 Braga

[email protected]

growshopheadshop

O mais barato do país!

Loja: 253 044 491 Gerência: 938 512 739 (Nelson)

160m2

Growshop • Bazar • Headshop • Smartshop

PORTO

Rua Passos Manuel, n.º 219 • C. Com. Invictos - Loja 134000-385 Porto - Portugal

Telf.: +351 913 288 085 / +351 222 018 293 / +351 962 398 699

[email protected][email protected]

Conhecimento à mão de semear.

Loja 3 (Leiria)r. barão viamonte

N.º 76 - loja 22400 leiria

Tel.: 919514262/ 918164090horário: 2.ª/ sex. 14-20h

sáb. 10-13h e 14-18h

Loja 4 (Porto)r. da cedofeita N.º 170 - loja 24050-173 Porto

Tel.: 962760030horário: 2.ª/ sex. 13-19h

sáb. 9-13h

NOVALOJA

Loja 5 (ALMADA)c. com. m. bica

r. luís Queiroz, N.º 26 - loja 262800-698 almada

Tel.: 933883361horário: 2.ª/ sáb. 11h30 - 20h

almoço: 13-14h

NUEVATIENDA

encomendas a Espanha:[email protected]

Himalayan Crafts Vaporizador Iolite

JÁ DISPONÍVEL NA COGNOSCITIVA!

Novo sistema hidropónico WaterPack ACSvencedor do European Product Award 2010

VEM À COGNOSCITIVA CONHECÊ-LO!

[email protected] > Abre a tua própria cognoscitiva - Contacta-nos!

Loja 6 (AYAMONTE)c/ Jose Perez barroso n.º 40 21400 ayamonte - ESPAÑA

Tel.: 00351 965 124 867 / 962 507 079horário: martes - sabado, 14h - 20h

(terça-sábado, 13h - 19h)

Tudo para cultivo de plantas exóticas, aromáticas e medicinais em terra ou hidroponia.

www.cognoscitiva.com

Loja 2 (Coimbra)c. com. avenida

6.º piso, loja 603av. sá da bandeira

3000 coimbrahorário: 14-20h

Loja 1 (Campo Santana - Lx)Maior growShop de Portugal - 800m2

r. da bempostinha, 19-b1150-065 lisboaTel.: 962 507 079

Tel/Fax: 213 962 106horário: seg/sab. 14-20h