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Cultura, Idendade e Michael Jackson

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Cultura, Identidade e

Michael Jackson

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA“Júlio de Mesquita Filho“

UNESP - Bauru

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação

Trabalho final da disciplina de AntropologiaProfessor Dr. Cláudio Bertolli

ÍndiceIntrodução3

história da indústria fonográfica4

Biografia8

Cultura e Identidade13

This is It - conclusão17

Discografia18

Pesquisa, redação e projeto gráfico:

Renato Sostena

ReferênciasUnderstanding popular music / Roy Shuker. This edi-tion published in the Taylor & Francise-Library, 2001.Campbell, Joseph (1990). O poder do mito, com Bill Moyers ; org. por Betty Sue Flowers ;tradução de Carlos Felipe Moisés. -São Paulo: Palas Athena,George, Nelson (2004). Michael Jackson: The Ultimate Collection booklet. Sony BMG.Lewis, Jel (2005). Michael Jackson, the King of Pop: The Big Picture: the Music! the Man! the Legend! the Interviews!. Amber Books Publishing. ISBN 0-974977-90-X.Taraborrelli, J. Randy (2009). Michael Jackson: The Magic, The Madness, The Whole Story, 1958–2009. Terra Alta, WV: Grand Central Publishing, 2009. Campbell, Joseph. “The hero with a thousand faces”, 1949, Prin-ceton University Press. “O herói de mil faces”, Tradução Adail Ubi-rajara Sobral, Cultrix/ Pensamento. São Paulo.Adorno & Horkheimer - A Dialética do Esclarecimen-to - Fragmentos Filosóficos (Excursos I e II)www.britannica.com/EBchecked/topic/1688519/New-jack-swingwww.wikipedia.comwww.images.google.com Videos:entrevista à Oprah Winfrey de 1993“This is It“, 2009Videografia musical completa

As imagens utilizadas no trabalho estavam disponíveis na internet, pelo Google Imgens, e seus sites de origem não lhes atribuíam créditos.

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IntroduçãoEste trabalho desenvolve uma interpretação

dos aspectos culturais relacionados com a afirmação de identidade de Michael Jackson como personagem nos palcos e como isso foi transferido para fora de-les. O foco é a obra do artista e não a sua conturbada vida pessoal, que toca em polêmicas como escânda-los de pedofilia ou o abuso que seu pai praticava com os filhos, integrantes do grupo musical Jackson 5.

Diante de teorias de Adorno e Horkeimer sobre indústria cultural e aprofundamentos da escola de Frankfurt, e obras de referência como “O poder do Mito“ e “A Jornada do Herói”, é possível estabelecer configurações culturais mitológicas com a obra do, nas palavras de Berry Gordy (fundador da Motown Records), “melhor entreteiner que já viveu.”

Não somente o talento foi útil a Michael, mas o uso do poder da mass media e o manejo da espe-tacularização, com a composição de uma identidade dentro e fora dos palcos, que influenciava a música, a dança e até a moda. com as oportunidades corretas, usando em suas músicas elementos culturais urba-nos, ligados ao cotidiano mas com a permissa artís-tica de lidar com o ilídico. Posteriormente, Michael representa muitas culturas, dialoga com regiões dis-tintas, tanto incluindo elementos diferentes em cli-pes, quanto lutando por causas globais, se tornando

alguém internacionalmente projetado.Considerado o artista solo mais famoso desde

Elvis Presley, Michael deixa de ter uma identidade localizada e passa a ser universal, caracterizando uma cultura não dependente de um território físi-co. O início dessa consolidação se dá quando MI-chael tem o poder de divisão de seu grupo, quando representa o grupo dos negros norte-americanos, quando ele aparece e começa a incomodar os bran-cos, fazendo que a cultura antes ignoradas fosse aceita. Essa divisão acontece na negação do outro, na autoafirmação. É quando o cantor inova e cada novidade colabora para a construção de sua ima-gem. Os passos de dança, os maiores sucessos, as roupas, o estilo de cantar.

Socialmente, para seus fãs, ele agiu como um mago social que traz à existência a coisa nomeada, explicitando a autoridade que lhe foi atribuída. Au-toridade que estabelece as fronteiras do seu grupo, que o segue, pois foi o responsável por atribuir o poder, qualificando o artista como um herói. Mas tudo isso que Michael faz em relação à cultura, na verdade, é colaboração de sua arte e seu estilo que se solidifica quando passa a ser referência, quando vira ícone. Suas contribuições se tornam parte de um contexto em que ele se insere, a cultura.

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A indús-tria fonográfi-ca provém de uma época em que todo tipo de arte, inclu-sive a com-posição for-

mal e a própria impressão das partituras eram sustentadas por

patronismo, o conhecido mecenato, p r a t i c a d o

por aristocra-tas e pela Igreja.

Na segunda metade do século XVIII, compo-

sitores e músicos começa-ram a promover suas músicas

ao público aberto, popularizando o consumo do produto musical. Essa popularização levada ao extremo, aliada aos ambientes sociais que o

mundo passa gerou o estilo musi-cal conhecido como pop.

Ainda no século XIX, a indús-tria musical foi então dominada pelas pessoas responsáveis pela impressão e venda das partituras. Tanto que mais tarde, o grupo for-mado por estes que publicavam as partituras e pelos compositores musicais dominavam o mercado da música popular norte americana, ficou conhecido como Tin Pan Al-ley.

No século XX, a música mu-dou a forma em que era ouvida. Com a invenção do gramofone, por Thomas Edison em 1877, junto com a popularidade do rádio, alcançada pela facilidade de disseminação de seu conteúdo. Dessa forma, a mú-sica chegou ao todo da população, que começara a consumir música. Casas de ópera, de concerto e clu-bes continuaram produzindo músi-ca com apresentações ao vivo, mas o poder do rádio permitiu até as

A história da indústria

fonográfica

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mais obscuras bandas se tornarem populares em níveis nacionais ou até internacionais.

A maior força da indústria da gravação não era mais as pessoas que publicavam as partituras, e sim as gravadoras. Com a força do rádio, as gravadoras começaram a lucrar, o que as levou ao comando da indústria fonográfica. Algumas gravadoras que se destacavam na época eram the Columbia Records, Crystalate, Decca Records, Edison Bell, The Gramophone Company, Invicta, Kalliope, Pathé e Victor Talking Machine Company .

Muitas das gravadoras fecha-ram tão rapidamente quanto sur-giam, e no fim dos anos 80 a EMI, CBS, BMG, Polygram, WEA e MCA dominavam o mercado. A Sony comprou a CBS em 1987 e mudou seu nome para Sony Music em 1991. Em 98, PolyGram se uniu à Universal Music Group, e em 2004 a BMG se uniu à Sony.

Uma revolução aconteceu, pois no século XX, ouvir música no rádio ganhou popularidade no mundo todo, e novas mídias e tec-nologias foram desenvolvidas para gravar, capturar, reproduzir e distri-buir música. Por não ser mais res-trita a concertos, óperas e clubes, a música permitiu que artistas se tornassem facilmente conhecidos em qualquer lugar. Estas pessoas ganharam visão com vídeos e sho-ws. A música se tornou cada vez mais portátil, nos tempos em que a lei de Copyright se fortaleceu para garantir os direitos autorais na era da Internet.

A revolução digitalMuitas pesquisas foram se

desenvolvendo, a fim de alcançar uma qualidade sonora perfeita. Na década de 70, os supressores de ruído surgem no mercado, e os que se destacam são o sistema DBX e o Dolby. Mas apesar das inovações

aumentarem a qualidade do regis-tro sonoro, ainda havia distorções.

Analisando criteriosamente cada elo da cadeia de áudio, os en-genheiros determinaram que para a melhoria da qualidade sonora os futuros desenvolvimentos deve-riam se concentrar principalmente na área da gravação originando um novo processo capaz de permitir o registro e a reprodução do sinal musical com elevada margem dinâ-mica e isento de distorção.

A partir de 1980, a gravação chegou à tecnologia digital, conver-tendo o sinal sonoro em um código binário, que pode ser lido por com-putadores. O sinal codificado des-sa maneira apresenta as seguintes vantagens: Ausência de distorção, pois mesmo que ocorra, ele pode ser eliminado por meio de códigos de correção.

A aplicação desta técnica, co-nhecida como PCM, começou no final da década de 1960, no Japão,

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utilizando um gravador de vídeo com cabeça de varredura helicoi-dal. Apesar dos princípios básicos da gravação analógica serem os mesmos dos sinais PCM, o equipa-mento desta natureza - o gravador digital - apresenta características próprias devido à grande largura de faixa necessária ao registro dos sinais.

Várias concepções foram de-senvolvidas para aumentar a den-sidade de gravação, e por volta de 1980 esse tipo de gravador fazendo uso da técnica PCM já estava sen-do largamente empregado na gra-vação de discos “long playing” de altíssima qualidade.

Entretanto, não tardou o aparecimento de novos processos de gravação como o DAD - Digital Audio Disc . Assim, nos meados da década de 1980 as empresas Sony e Philips, integrando as suas concepções tecnológicas advindas do processo DAD, propuseram o mundialmente adotado sistema de disco de áudio digital compacto,

popularmente conhecido como CD ou Compact Disc.

Este novo meio de gravação e registro dos sons naturais revolu-cionou a indústria fonográfica pela sua excelente qualidade sonora e praticidade, resultado direto da tecnologia Laser com a reprodu-ção digital, aliada a um toca-disco compacto de operação totalmente automática.

Anos 2000Nos anos 2000, consumido-

res gastavam menos dinheiro com música gravada do que costuma-vam gastar nos anos 90. As vendas totais de música palpável caíram drasticamente. A era digital encon-trou no mercado online de música grandes possibilidades de cresci-mento, já que o fenômeno de com-partilhamento pela Internet não pode ser ignorado, pela facilidade que existe de se obter arquivos. As-sim, a Internet vira de pernas para o ar um sistema que tinha uma es-trutura densa. O negócio musical está em mudança, e a liderança do

mercado pelas gravadoras foi ba-lançada.

Nos primeiros anos do século, a indústria fonográfica tomou sé-rias medidas contra o compartilha-mento ilegal de música. Em 2001, ela teve sucesso fechando o site Napster, que foi a principal fonte de música digital. Sites de venda de música são lançados, assim como iTunes. Já em 2008, um quarto de toda a música vendida no mundo é no formato digital, pela web.

A indústria fonográfica se fo-cou contra o site de compartilha-mento de arquivos mp3. Funcio-nou do período de 99 a 2001, sua tecnologia tornava os processos de estocar e partilhar arquivos muito fáceis. A facilidade alcançada ser-viu para que a popularidade do site fosse muito grande e conseqüente-mente, muitas dessas pessoas aca-baram por sofrer as conseqüências legais da troca de músicas. Depois da derrocada do Napster, muitos outros programas e sites surgiram, sob brechas da lei, e de uma for-

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ma mais escondida dos olhos da justiça americana, continuaram a compartilhar arquivos, mas agora de forma descentralizada.

Hoje em dia, profissionais da música e empresários do ramo ainda estão se reinventando para a adaptação à virtualidade da músi-ca. Ela deixa de ser física e a tro-ca é facilitada. É possível perceber uma tendência atual da espetacu-larização, para que shows e outros produtos rendam dinheiro para os artistas e empresários da música.

Na primeira década do séc XXI, os consumidores de música começaram a utilizar computado-res e redes computacionais para gravar, guardar e distribuir e tocar música. Esta mudança tecnológica causou mudanças econômicas e fundamentalmente mudou as re-lações entre artistas, gravadoras, empresários, a indústria da tecno-logia e consumidores.

O estágio inicial da revolução da música digital foi quando as re-des P2P surgiram, permitindo a tro-

ca de arqui-vos digitais, evolu indo para a aqui-sição ilegal de arquivos de música. Em 2001, o espaço de armazena-mento dos dispositivos digitais aumentou bastante, permitindo maior portabilidade desses arqui-vos. Inclusive, foi quando a Apple teve o iPod e o iTunes se tornan-do populares, e os consumidores passaram a ter bibliotecas musicais apenas em formato digital. A loja virtual iTunes começou a disponi-bilizar downloads legais em 2003 e em seguida, seus concorrentes a seguiram, e sempre inovando, como oferecendo rádios digitais.

O compartilhamento de ar-quivos implicou em muitos efeitos, principalmente índices negativos na venda de gravações. A resposta a esses efeitos foi a adaptação do mercado musical para o mercado virtual. Com a explosão de forma-

tos e com a copyright digital, três modelos básicos de venda são ado-tados na Internet.

O a-la-carte é uma loja vir-tual de mp3 em que se compra os arquivos, e um de seus exemplos é o iTunes. O serviço por assinatura oferece downloads ilimitados pela duração do pagamento da taxa. O líder do setor é o atual Napster. Existem serviços que se oferecem as músicas gratuitamente, mas en-carregam seu valor aos anuncian-tes.

Diversos formatos surgiram com as inovações tecnológicas, mas o mp3 continuou sendo o mais popular, inclusive pelo surgimento dos mp3 players. A Internet se tor-nou tão importante para a divulga-ção e a disseminação das músicas

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Aos onze anos, enquanto muitos garotos brincam hoje em dia jogam com seus videogames tecnológicos, um garoto negro, do subúrbio de Los Angeles, vindo de Gary, Indiana, começava sua carrei-ra como cantor. Um segmento do mainstream musical explorado nos anos 90, ali surgia uma prévia do que viria ser as “boy bands”, que balançava o público com seu rit-mo e sua dança. Comandados por Joseph Jackson, seus cinco filhos

foram contratados pela gravado-ra Motown, que ficou conhecida por ser a maior gravadora de artis-tas negros dos EUA, por volta dos anos 60 e 70, e lançou os Jackson 5. Aos treze anos, Michael Jackson já havia emplacado quatro canções no topo das paradas: “I Want You Back”, “ABC”, “I’ll Be There”, “The Love You Save”.

A partir de 73, os Jackson 5, formado por Jackie, Tito, Jermaine, Marlon e Michael, foram perdendo

popularidade, e mesmo assim Mi-chael chamou a atenção do mundo com a dança robótica de “Dancing Machine”. Mas o sucesso todo fora marcado sempre pela presença do produtor e empresário, o pai dos garotos. Como este agora era o meio de sustento da família, Jo-seph assistia aos ensaios dos filhos com um cinto na mão. Ele abusava dos garotos, batia e aterrorizava psicologicamente. Michael já de-clarou em entrevistas que chegava a vomitar só de ver seu pai. Em um trecho do documentário de 2003, “Living with Michael Jackson”, do jornalista britânico Martin Bashir, o sétimo de nove irmãos chora ao lembrar-se da infância.

Em 75, o grupo mudou para a gravadora Epic, uma subsidiária da CBS, buscando maior liberdade de criação, e por direitos contratuais passou a se chamar The Jacksons. No meio das mudanças hormonais da adolescência, acometido pela corriqueira acne e com a sensação

biografia

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de que ainda não tivera tempo de brincar o suficiente, Michael não queria crescer e sofreu depressão por causa disso. Ensaios exaustivos tomaram a fantasia de sua infância e quando pôde, Michael comprou um rancho e o chamou de “Never-land” (Terra do Nunca), em home-nagem ao livro infantil Peter Pan, o garoto que não queria crescer.

Michael foi o cantor principal e o compositor da banda, arranjan-do vários sucessos. Em uma opor-tunidade da sétima arte, Michael interpretou o espantalho do musi-cal The Wiz, e conheceu o produtor

musical Quincy Jones. Eles traba-lhariam juntos em breve, no novo disco solo de Michael Jackson, “Off the Wall”. Stevie Wonder e Paul McCartney contribuíram com com-posições para o álbum que de uma vez emplacou quatro hits nos EUA, entre eles “Rock with you” e“Don’t Stop Till You Get Enough”, que lhe rendeu oito premiações, dentre American Music Awards, Billboard e Grammy, entre 80 e 81. Mas ape-sar do sucesso comercial do álbum, Michael achava que ele deveria ter sido recebido com amis impacto, e se comprometeu em exceder as

expectativas em seu próximo tra-balho.

A última turnê dos Jacksons, “Victory Tour”, não tocava os lan-çamentos do álbum homônimo do grupo, mas focava no trabalho solo de Jeremy e de Michael, que já ultrapassava 12 milhões de ven-das. Thriller havia sido lançado no fim de 82, se tornou um dos mais vendidos de 83 e se tornaria o ál-bum mais vendido no mundo, iso-ladamente. Os ingressos do show eram caríssimos para a época e uma criança escreveu ao grupo, se revoltando que eles só queriam sa-ber do dinheiro dos fãs. Esse refle-xo da má administração da turnê fez Michael decidir doar todo seu cachê para caridade.

O segundo álbum solo em-placou sete músicas no top 10 da Billboard, tais como “Billie Jean”, “Beat It” e “Wanna be Starting so-mething”. Os clipes do artista ne-gro invadiam a TV e o principal ca-

Casa da infância de Michael Jackson, Jackson Street, 2300 na cidade de Gary, Indiana.

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nal musical, a MTV, galgou alguns degraus para a estabilidade com a audiência dos sucessos de Michael. Esta contribuição para a sociedade norte americana, assim como para a cultura e a música, é muito impor-tante. No meio de conflitos raciais e preconceitos musicais, Michael inovou misturando a música black, o soul, R&B, o funk, com o rock dos brancos e da mesma forma causou furor pelo seu estilo de dança. Este trecho da história remonta aos primórdios do rock, quando aque-le ritmo frenético era desprezado e a dança considerada impura. A absorção desses estilos pela socie-dade prova que os conservadores foram deixando suas implicâncias de lado e abrindo a cabeça, não so-mente para novos estilos de música e dança, mas seus próprios precon-ceitos, em relação à subestimação da música e da cultura negra.

Em março de 83 houve a gra-vação de um programa de televi-são especial em homenagem aos 25 anos da Motown. Vários artis-tas da gravadora estavam presen-

tes, e também e os Jacksons, que estavam em outra gravadora, mas cantaram e dançaram, levando o público ao delírio. Deixado pelos 4 irmãos no palco, com uma jaqueta de lantejoulas pretas e uma luva de golfe com strass, Michael dançava e brilhava à luz dos holofotes. A sua assinatura de ascensão ao patamar de ícone pop foi feita naquele pal-co, quando ele deslizou os pés ao melhor estilo backslide, criando o moonwalk, passo de dança que havia aprendido três anos antes com o dançarino Jeffrey Daniel, do grupo Shalamar. O show foi ao ar em 16 de maio daquele ano e teve uma audiência de 47 milhões de telespectadores.

A caridade sempre esteve presente nas obras de Michael. Ele doou sua indenização de 1,5 milhão de dólares, ganhos por um acidente com fogos durante a gravação para um comercial da Pepsi que acabou por queimar seu couro cabeludo ao Centro médico de Brotman, que agora tem o “Michael Jackson Burn Center”. Em companhia de Lionel

Ritchie, que compôs a melodia no piano, Jackson escreveu “We Are the World”, para ajudar as crianças vítimas da fome e da pobreza na África. Foi nessa mesma época que Michael começou a se envolver com o mercado da música em si, comprando catálogos de música e ganhando royalties em cima disso.

Conforme envelhecia, a sua pele foi ficando mais clara. Depois o cantor foi diagnosticado com viti-ligo e lúpus, submetido a tratamen-tos intensivos, o que o fez sensível à luz do sol. Além disso, jornais sensacionalistas publicavam his-tórias absurdas sobre o ícone, por exemplo, que ele dormia em uma câmara hiperbárica de oxigênio para retardar o envelhecimento. Depois de comprar o chipanzé Bub-bles de um laboratório, foi tachado de maluco, o que lhe acompanhou pelo resto da vida. Depois desse fato, várias histórias a respeito do artista fo-ram inventadas à sorte da imprensa e isso só aumentava sua visibi-lidade internacional. É a reafirmação do perso-nagem para a construção do mito.

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“Porque não apenas dizer às pessoas que eu sou um alie-nígena de Marte? Diga-lhes que eu como frangos vivos e de faço uma dança de vodu à meia-noi-te. Eles acreditariam em qual-quer coisa que você dissesse, porque você é um repórter. Mas se eu, Michael Jackson, dis-sesse: ‘Eu sou um alie-nígena de Marte e eu como fran-gos vivos e de faço uma dança de vodu

à meia-noite’, as pessoas diriam, ‘Ah, cara, esse Mi-chael Jackson é louco. Você não pode acreditar em uma única palavra que sai da boca

dele’.”Michael Jackson

Tradução de trecho do livro:

Taraborrelli, J. Randy

(2009). Michael Jackson: The

Magic, The Madness, The

Whole Story, 1958–2009

- p.226. Terra Alta, WV: Grand

Central Publishing, 2009.

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Cinco anos foi o período que os fãs tiveram de esperar ansiosa-mente por um novo álbum do Mi-chael. “Bad” foi lançado em, ser esperado ansiosamente e superes-timado. Não desempenhou o mes-mo sucesso comercial ou artístico de “Thriller”, mas mesmo assim o álbum teve uma grande vendagem e lançou hits como a faixa título e mais seis que chegaram ao topo das paradas norte-americanas, ba-tendo mesmo o recorde do disco anterior.

Em 88 é lançada a única auto-biografia de Michael, “Moonwalk”, que foi adaptado para o filme “Mo-onkwalker”. Neste ano também é realizada a compra de seu rancho e logo ele seria o primeiro ociden-tal a aparecer em um programa de TV da União Soviética. Seu sucesso crescente, as especulações, curio-sidades e fofocas sobre Michael engrandeceram sua imagem, e ele logo seria titulado como o rei do pop.

1993 é o ano de lançamento de seu oitavo álbum, “Dangerous”. Inovou misturando o estilo “new jack swing” com rap, resultando na música “Black and White”, que foi o primeiro grande hit do disco.

Em seguida “Remember the Time” e “Heal the World”, que ficou na lista das mais tocadas e inspirou o cantor a fundar a “Heal the World Foundation”, que espalhava mi-lhões de dólares pelo mundo para ajudar crianças vítimas da miséria, de guerras ou doenças.

Polêmicas sobre a mudança da cor de sua pele, seus hábitos e sua aparência eram corriquei-ras. Por duas vezes, Michael foi acusado por pedofilia, mas em apenas uma foi judicialmente e o processo não seguiu por falta de provas. Em 1993, em uma entre-vista a Oprah Winfrey ele negou todos os boatos que ele sofria.

No seu álbum duplo lan-çado em 1995, Jackson bateu novamente todos os recordes de dentro da categoria de dis-co duplo. No videoclipe de “Scream”, um dueto com sua irmã Janet Jackson, ele critica a imprensa, que o acusou de pedofilia. “You Are Not Alo-ne” e “They Don’t Care About Us”, que teve uma versão de um clipe gravada na favela Santa Marta no Rio de Ja-neiro e no Pelourinho, em Salvador.

Ao longo de 2000 e 2001, Jackson trabalhou em estúdio com Teddy Riley e Rodney Jerkins, bem como outros colaboradores. Estas sessões levariam ao álbum “Invencible”, lançado em outubro de 2001. Este foi o primeiro álbum completo de Jackson em seis anos, e seria o último de material novo que ele lançou enquanto vivo.

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Música, dança e moda são três diferentes manifestações da cultura humana. Desde os tem-pos mais remotos, cada povo tem suas características culturais que os une sob uma identidade da região. Com o intercâmbio de conhecimento promovido pela globalização, principalmente es-tes três fatores citados e demais características culturais de todos os povos se fundem em um todo universalizado.

Uma definição de cultura global não cabe como explicação para o tipo de cultura que é di-fundida mundialmente por meio de arte, principalmente música. Sujeito a regras de seu mercado próprio, o segmento mainstream da música é representado por ar-tistas globais, conhecidos no mun-do todo.

Este tipo de cultura ampla-mente difundido pelas mídias de comunicação em massa está como já foi dito, sujeito a leis mercado-lógicas para que o produto cultu-ral seja vendido e traga lucro. Des-

sa forma, a cultura pop tem na mass media o seu meio de divulgação, atrain-do público e publicidade para seus programas ou produtos, e ao mesmo tempo se promovendo, aparecendo e reafirmando a sua identidade.

A revolução Industrial pro-vocou transformações na base do modo de produção, produzindo cada vez mais e mais rapidamen-te bens de consumo. Estes bens dizem respeito a produtos ven-dáveis. A partir do instante que pessoas estão dispostas a pagar por aquilo, o sistema trata de co-loca-lo na esteira de produção e produzi-lo infinitamente. Quando expressões artísticas, o que tam-bém pode ser entendido como

manifestações culturais, caem na roda do consumo, passa a existir a indústria cultural, que é responsá-vel pela produção e venda da cul-tura e fica com o lucro.

Vanguardas artísticas que os intelectuais fomentavam não fazem sentido com a visibilidade e a grandeza das indústrias, na era da reprodução e massificação para venda. E para acrescentar a cereja ao bolo, em uma sociedade com acesso ao ciberespaço e com-partilhamento direto de arquivos digitais, a Pós Modernidade faz a festa do ecletismo, difundindo ao máximo seus produtos.

Cultura e Identidade

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Dentro desse contexto, um dos maiores ícones da cultura de massa, produzido pela indústria cultural, Michael Jackson soube se utilizar dos recursos da mass media para promover sua expressão artís-tica.

Extrapolando os limites da voz, Jackson se fez presente tanto na composição quanto na perfor-mance de tudo que fazia. Inclusive, isso pode ser notado no documen-tário de 2009 de Kenny Ortega, “This is It”, que o cantor era extre-mamente detalhista e perfeccio-nista, por exemplo, exigindo dos músicos a exatidão das notas, pois como Michael disse “tem que ser como os fãs gostam”.

E para conquistar a legião de fãs que Michael conquistou, foi preciso erguer um mito. As pessoas tinham que se identificar com ele e identifica-lo em meio aos outros. Aflições de um adolescente negro vivendo no subúrbio norte ame-

ricano nos anos 80 foi um ponto de vista explo-rado na obra dele, o que já criava um tipo de identidade. Jovens margi-nalizados afirmando sua masculi-nidade para o grupo, um grupo à parte da sociedade, representan-

do a cultura urbana, o grafite e as guangues, como deixou claro em “Billie Jean”, “Beat It” e depois, mais abertamente em “Bad”.

MOYERS: Os adolescentes que crescem nesta cidade – nas imediações da Rua 125 com a Broadway, por exemplo, de onde é que eles tiram seus mitos, hoje?

CAMPBELL: Eles os fabricam por sua conta. Por isso é que te-mos grafites por toda a cidade. Esses adolescentes têm suas pró-prias gangues, suas próprias iniciações, sua própria moralidade. Estão fazendo o melhor que podem. Mas são perigosos, porque suas leis não são as mesmas da cidade. Eles não foram iniciados na nossa sociedade.

Trecho do livro:

O poder do mito, de Joseph Campbell, com Bill Moyers

(org. por Betty Sue Flowers, tradução de Carlos Felipe Moisés

- São Paulo: Palas Athena), publicado em 1990.

“A cultura popular e a mídia de massa têm uma relação simbiótica: cada uma depende da outra em uma íntima colaboração.”

K. Turner (1984), p.4 Shuker, Roy

(1994). Understanding Popular Music

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Michael compôs uma iden-tidade única, atribuindo-se de elementos culturais presentes no cotidiano de seu público, mas es-tigmatizando o lado emocional por meio da manipulação de represen-tações mentais e iconizando o esti-lo que ele lançava. Assim, atribui-se a Jackson representações mentais e objectais, tanto por sua música como pela dança, pela moda ou por seus videoclipes.

Juntando a música negra que saiu dos guetos ao rock branco (que já tinha enfrentado precon-ceito), em uma sociedade conser-vadora e preconceituosa. Michael foi o responsável por incomodar as rádios que só tocavam músicas de

brancos com música de negro, e ini-ciar a elimi-nação desse preconceito na difusão musical, e p r i n c i p a l -mente abrin-

do espaço para artistas negros na TV, que hoje dominam o mer-cado musical norte americano, como pode ser atestado ape-nas por sintonizar a MTV, do-minada pelo rap e o hip hop. O sucesso atingido por pessoas como Barack Obama e Oprah Winfrey é o exemplo de como Michael colaborou para a acei-tação dos negros, o que signi-fica que na época, ele falava com autoridade em nome de uma minoria que deve ser re-conhecida.

O estilo musical de Jack-son é calcado no soul, no pop e no Rythm & Blues. Little Ri-chard, James Brown, Jackie

Wilson, Diana Ross, David Ruffin, Gene Kelly, Fred Astaire, Sammy Da-vis, Jr., The Isley Brothers, e os Bee Gees são as influências de Michael. O new jack swing ou swingbeat en-trou em cena em sua carreira nos anos 90, é um gênero de fusão de ritmos, as amostras e técnicas de produção de hip-hop e dance-pop com o som urbano contemporâneo de R&B. Ele usa os vocais de R&B

Moonwalk

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estilo sobre o hip hop e o estilo dance-pop, influenciado pela ins-trumentação. O som do new jack swing vem do hip-hop, criado por bateria eletrônica e samplers de hardware.

O talento de Jackson per-mitiu que a sociedade aceitasse a música black. Mas ele também re-volucionou a dança, unindo passos de jazz, balé, sapateado e street. O mais famoso, moonwalk, é um tipo de backslide e não foi criado por Michael, como se pensa. A dança foi trazida à atenção do público ele o executou durante o da Motown.

Nelson George disse que os passos de Jackson “combinam o atletismo Jackie Wilson com o pé de James Brown”.

George Nelson é um escritor, cineasta, produtor de televisão, crítico e com uma longa carreira em analisar e apresentar os diver-sos elementos da cultura Africana - Americana.

Depois de calcar na cultu-ra negra e seus estigmas, Michael explora a universalização de sua

abrangência, como pode ser no-tado no clipe de “Black or White”, que acontece a integração do can-tor com vários tipos de povos e cul-turas, e no final o efeito especial de metamorfose - um dos efeitos mais caros da época - define bem que não há distinção entre homens, mulheres, brancos, índios ou ne-gros dentre seus fãs.

Elementos e acessórios que foram iconizados, assim como a clássica luva branca, o chapéu ou as meias de bailarino são represen-tações objectais dos significados da identidade de Michael Jackson ali atribuídos.

“Eu acho que acontece subliminar-mente. O dançarino quando dança, inter-preta os sons acompanhando a música. Se o baixo é forte, ele se transforma no baixo. Se tem um violino, o dançarino fica leve. Ele se torna a emoção daquele som.”

Michael Jackson, em entrevista

à Oprah Winfrey em 1993.

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This is ItOs ensaios

do que seria a última turnê do

astro estavam acon-tecendo, mas a menos

de dez dias da grande es-treia, em 25 de junho de 2009,

uma alta dose do medicamento anestésico Propofol impediu que o astro brilhasse pela últi-ma vez. As gravações dos en-saios foram posteriormente utilizadas para os fãs terem uma ideia do que seria o pre-sente de Michael para eles.

Joseph Campbell no livro “O Poder do Mito” afirma que uma pessoa se torna lenda quando a pessoa é movida para uma esfera tal que se torna passível de ser mi-tologizada. O documentário lança-do em 2009, “This is It” mostra o lado perfeccionista de Michael e o coloca dentro dessa esfera, explo-rando o talento de Michael tanto na dança, como cantando ou imi-tando a nota que o baixo deve fa-zer.

Pelo repertório, as danças e a

produção, os shows iriam reafirmar a identidade de Michael, novamen-te como ícone e mito. Tudo que lhe consagrara estava presente, com adventos tecnológicos modernos. A fotografia de divulgação mostra apenas a silhueta do cantor, iconi-zando mais uma vez sua identida-de, o que se tornou corriqueiro. O que pode ser notado, inclusive nas fotos aqui expostas, é que gestos e adereços foram tão expostos à es-petacularização e às leis do merca-

do, que cada característica isolada – o chapéu, a luva, a jaqueta, as meias – já representa o “todo”, de forma a multiplicar a presença do personagem, da identidade.

Hoje em dia, a influência do Rei do Pop pode ser notada principalmente em outros artis-tas pop, mas no geral na música e na dança, além da atitude de re-afirmação da identidade artística, usando as mídias de massa, pela indústria cultural.

MOYERS: Mas não acontece de muitos visionários e mesmo líderes e heróis estarem muito perto dos limites da neurose?

CAMPBELL: Sem dúvida.

MOYERS: Como você explica isso?

CAMPBELL: São pessoas que se afastaram da sociedade que pode-ria protegê-los e ingressaram na floresta densa, no mundo do fogo e da experiência original. A experiên-cia original é aquela que ainda não foi interpretada para você; assim, você tem que construir sua vida por

você mesmo. Você pode encará-lo, ou não, e não precisa afastar se de-mais do caminho conhecido para se ver em situações muito difíceis. A coragem de enfrentar julgamen-tos e trazer todo um novo conjun-to de possibilidades para o campo da experiência interpretável, para serem experimentadas por outras pessoas é essa a façanha do herói.

Trecho do livro:

O poder do mito, de Joseph Campbell, com Bill Moyers (org.

por Betty Sue Flowers, tradução de Carlos Felipe Moisés - São Paulo:

Palas Athena), publicado em 1990.

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Page 18: Cultura, Identidade e Michael Jackson

Got to Be There (1972)Ben (1972)

Music & Me (1973)Forever, Michael (1975)

Off the Wall (1979)Thriller (1982)

Bad (1987)Dangerous (1991)

HIStory: Past, Present and Future, Book I (1995)

Invincible (2001)

Discografia

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