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1 CULTURA POLÍTICA INSURGENTE NA ESPANHA E NO BRASIL LUCIENE PAZINATO DA SILVA 1 Resumo: O uso da Internet durante as mobilizações de rua ocorridas no início deste século XXI nos cenários políticos nacional e internacional, trouxe para o campo da pesquisa da comunicação e da política desafios ao debate das formas de participação política. A rede Internet e a comunicação móvel configuram um novo processo de organização nas ações coletivas que Castells (2009) denomina de autocomunicação de massa. A discussão das transformações de novas formas de participação na cultura política denominado de políticas insurgentes permite analisar o contexto deste fenômeno de comportamento político, a partir de pesquisa comparativa dos coletivos urbanos: a Plataforma Democracia Real Ya! que propõe discutir uma democracia real, e impulsionou na Espanha, em maio e junho de 2011 a participação da população nos acampamentos de todo o pais, originando o Movimento 15-M, os “Indignados”; e o Movimento Passe Livre – MPL que, na luta pela tarifa zero no transporte público, mobilizou a participação da população nas manifestações de rua ocorridas no Brasil em junho de 2013. Portanto, destacam-se nestes fenômenos políticos contemporâneos as novas forças de relações de poder, alterando as decisões dos poderes instituídos e resignificando a própria comunicação, colocando em debate poderes locais e globais na pauta de discussão. Palavras-chave: Autocomunicação de massa, cultura política; Internet. INTRODUÇÃO As manifestações de rua ocorridas na Espanha em maio e junho de 2011, iniciadas pela plataforma Democracia Real YA! - DRY e as manifestações de junho de 2013 no Brasil, iniciadas pelo Movimento Passe Livre - MPL tem em comum reivindicar uma democracia representativa mais participativa, contestando as formas de condução dos poderes constituídos legalmente. Estes representantes dos movimentos sociais se organizam e se constituem a partir do uso intensivo dos aparelhos móveis de comunicação e, juntamente com suas reivindicações constituem uma nova cultura política insurgente. Desta forma, ocupam os espaços públicos para disseminar seus protestos que passam a ter participação ampla da sociedade civil, tanto na Espanha como no Brasil. E destas ocupações passam a ter visibilidade nos meios de comunicação tradicional, como a televisão. Esta pesquisa pretende mostrar de que forma foram projetadas estas manifestações nas televisões públicas da Espanha e do Brasil. Portanto, mostrar de modo comparativo como 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP, professora de Ciências Sociais do Centro Universitário Unibrasil, Curitiba-PR, Brasil. Essa pesquisa é parte integrante da investigação realizada na Universidad de Valladolid, Valladolid, Espanha financiada pela CAPES. E-mail: [email protected]

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CULTURA POLÍTICA INSURGENTE NA ESPANHA E NO BRASIL

LUCIENE PAZINATO DA SILVA1

Resumo: O uso da Internet durante as mobilizações de rua ocorridas no início deste século

XXI nos cenários políticos nacional e internacional, trouxe para o campo da pesquisa da

comunicação e da política desafios ao debate das formas de participação política. A rede

Internet e a comunicação móvel configuram um novo processo de organização nas ações

coletivas que Castells (2009) denomina de autocomunicação de massa. A discussão das

transformações de novas formas de participação na cultura política denominado de políticas

insurgentes permite analisar o contexto deste fenômeno de comportamento político, a partir de

pesquisa comparativa dos coletivos urbanos: a Plataforma Democracia Real Ya! que propõe

discutir uma democracia real, e impulsionou na Espanha, em maio e junho de 2011 a

participação da população nos acampamentos de todo o pais, originando o Movimento 15-M,

os “Indignados”; e o Movimento Passe Livre – MPL que, na luta pela tarifa zero no transporte

público, mobilizou a participação da população nas manifestações de rua ocorridas no Brasil

em junho de 2013. Portanto, destacam-se nestes fenômenos políticos contemporâneos as

novas forças de relações de poder, alterando as decisões dos poderes instituídos e

resignificando a própria comunicação, colocando em debate poderes locais e globais na pauta

de discussão.

Palavras-chave: Autocomunicação de massa, cultura política; Internet.

INTRODUÇÃO

As manifestações de rua ocorridas na Espanha em maio e junho de 2011, iniciadas

pela plataforma Democracia Real YA! - DRY e as manifestações de junho de 2013 no Brasil,

iniciadas pelo Movimento Passe Livre - MPL tem em comum reivindicar uma democracia

representativa mais participativa, contestando as formas de condução dos poderes constituídos

legalmente. Estes representantes dos movimentos sociais se organizam e se constituem a

partir do uso intensivo dos aparelhos móveis de comunicação e, juntamente com suas

reivindicações constituem uma nova cultura política insurgente.

Desta forma, ocupam os espaços públicos para disseminar seus protestos que passam a

ter participação ampla da sociedade civil, tanto na Espanha como no Brasil. E destas

ocupações passam a ter visibilidade nos meios de comunicação tradicional, como a televisão.

Esta pesquisa pretende mostrar de que forma foram projetadas estas manifestações nas

televisões públicas da Espanha e do Brasil. Portanto, mostrar de modo comparativo como

1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP, professora de Ciências Sociais do

Centro Universitário Unibrasil, Curitiba-PR, Brasil. Essa pesquisa é parte integrante da investigação realizada na

Universidad de Valladolid, Valladolid, Espanha financiada pela CAPES. E-mail: [email protected]

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foram as coberturas de ambas as manifestações na Televisão Espanhola, TVE e na TV Brasil,

em seus respectivos telejornais, acompanhando os noticiários de âmbito nacional.

Os dados quantitativos e qualitativos levantados para esta pesquisa encontram-se em

processo de análise, mas é possível verificar já com o material existente novas práticas de

atuação com a existência de um novo sujeito político, com novos recursos de comunicação – a

Internet e a necessidade de participação mais efetiva nas decisões das políticas de acesso aos

direitos coletivos.

REFERENCIAL TEÓRICO

Para compreender a atual dinâmica dos movimentos sociais apontados nesta

pesquisa, nos reportamos a Gohn e Bringel (2014: p. 08-12) descrevem o cenário do mundo

globalizado no final do XX, como a rearticulação das formas de dominação no campo

econômico, político e social. Uma globalização assimétrica que reestruturou as formas de

organização e de protestos, das ações coletivas e dos movimentos sociais. Dentre os fatores, o

aparecimento de ativismo internacional e transnacional e multiescalar; a renovação dos atores

sociais que compartilham e dão sentidos diferentes à mobilização; um “paradoxo

democrático” de que o ideal democrático é cada vez mais geral; mudanças no cenário local e

global.

Alves (2012: p. 32-33) utilizando-se das análises sobre os ocorridos em Portugal,

Espanha e EUA, salienta seis características dos movimentos sócias democráticos de massa e

que ocorrem em países capitalistas sob o Estado de direito democrático. E podemos tomá-las

para análise que se propõe em nossa pesquisa.

As características são: complexa diversidade social; recusam táticas violentas e

ilegais, evitando a criminalização; utilizam redes sociais para intervenção e mobilização;

possuem inovação e criatividade política de contestação social; capacidade de comunicação e

visibilidade as misérias da ordem burguesa; e reivindicam a democratização radical contra a

farsa democrática dos países capitalistas centrais, a exemplo da Espanha com !Democracia

real Ya!

Analisando mais de perto as práticas políticas e ampliando a discussão Pinto

(2014: p. 129) compara com o que vem acontecendo em 2011 com a história dos movimentos

sociais enfatiza “que estamos frente a um fenômeno com qualidades diferenciadas quando se

examina as manifestações da Primavera Árabe, dos Indignados na Espanha e dos Estudantes

no Chile”.

A autora, ao analisar comparativamente estes dois últimos países, parte da

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hipótese de que estamos frente a uma nova forma de fazer política e, portanto, levanta cinco

novidades que acredita caracterizar estes movimentos a começar pela radicalização da

democracia que aparece nas manifestações e que tomou lugar das utopias de tipo socialista,

como uma forte crítica a uma democracia que não se realiza devido a uma elite política que

concentra poder político e econômico. Pinto (2014: p.135-139). A segunda novidade é a

internet e o celular, não apenas para comunicação imediata, mas como forma de organização,

que segundo a autora, em dois vetores diferentes, chamado horizontal tornando o movimento

aberto e acessível e, verticalmente na organização de redes, que seriam a terceira novidade.

Na quarta, são movimentos liderados por jovens, que ha muito estavam afastados da política.

A quinta novidade é a relação dos movimentos com os espaços públicos, espaços

que se tornam esferas pública, de formação de opinião, pois “se apropriam da geografia das

cidades, transformando praças e calçadas em lugares de discussão e de construção de

discursos e do próprio movimento” (p. 139). O que possibilita grande visibilidade dos

movimentos nas ruas e nas praças com capacidade agregadora de diferentes segmentos e um

alastramento da própria luta, formas de como estão tomando a rua parece apontar para uma

novidade na forma de se fazer política.

Juntamente com este novo perfil de atores sociais e suas práticas políticas

enfoquemos o uso dos recursos tecnológicos como celulares, e computadores pessoais, tendo

a rede Internet como ferramenta de ampliação de comunicação e alcance dos movimentos

sociais.

Nesta aspecto, com a difusão da Internet, uma nova forma de comunicação interativa

surge, que CASTELLS (2009) denomina de “autocomunicação de massas”, processo esse

capaz de produzir em único meio a convergência de recursos de comunicação e,

fundamentalmente, possibilitar interação com os conteúdos das mensagens. Para se chegar a

essa convergência, houve uma série de transformações da comunicação, e das relações de

poder, nas mudanças para a comunicação multimodal e multidimensional global.

Esse é um elemento fundamental da atual transformação, afirma CASTELLS (2009: p.

144-145), pois suas consequências reais no campo da comunicação dependem das decisões

políticas, empresariais e grupos de interesses sociais. Processo que levou à novas formas de

comunicação, incluída a autocomunicação de massas, que alterou a audiência dos meios de

comunicação de massa, que se transformaram em um sujeito comunicador com maior

capacidade para redefinir os processos de comunicação social que marca a cultura da

sociedade. Paradoxalmente, o estado cedeu aos interesses do capital e levou “al nacimiento de

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una nueva forma de comunicación que puede aumentar el poder de la ciudadania sobre el

capital y el estado” (CASTELLS, 2009: p.164-165).

Um enfoque importantíssimo na análise de CASTELLS (2009b) se refere à atuação

política dos atores sociais que atuam em nossa sociedade mediante a reprogramação das

redes de comunicação, porque podem transmitir mensagens que apresentam novos valores às

mentes e inspiram esperanças de mudança política.

A essa participação dos atores, CASTELLS (2009: p. 394) nomeia movimentos

sociais e políticas insurgentes:

A los actores sociales que aspiran al cambio cultural (cambio de valores) los

conceptualizo como movimientos sociales, y a los procesos que aspiran al cambio

político (cambio institucional) en discontinuidad con la lógica incorporada en las

instituciones políticas los defino como políticas insurgentes. [grifo do autor]

É quando o sistema midiático se abre, transformando, como chama CASTELLS

(2009b), a panóplia, e que permite intervenções politicamente em dois níveis: nos

movimentos sociais, pois muda valores sobre nossas mentes; e no uso da rede Internet, para

receber e enviar informações. Esses movimentos se constrõem entre o local e o global. É com

movimento espontâneo em que a indignação da população sempre foi importante.

As políticas insurgentes, afirma CASTELLS (2009: 394), provocam a transição

entre a mudança cultural e a mudança política, mediante a incorporação de sujeitos

mobilizados pela transformação cultural ou política em um sistema político a que não

pertencia anteriormente. Originam-se tanto na reafirmação de um projeto cultural ou político

como em um ato de resistência contra as instituições políticas. Isso pode ou não dar lugar aos

projetos que são adotadas pelos movimentos sociais ou as políticas insurgentes. E, quando

surgem tais projetos, pode se dar uma transformação estrutural.

As políticas insurgentes nascem à margem do sistema e conduzem um movimento de

transformação política. Esses atores não estavestãoam participando politicamente no coração

do sistema político, mas programam e reprogramam a rede. Como novo espaço de poder, em

que a esfera pública se reconstitui fora das instituições, reconstitui-se em um mundo da

comunicação, em todas as suas versões – a autocomunicação CASTELLS (2009b).

O espaço de interação dos movimentos sociais e políticos, insurgentes ou não,

floresce e vive no espaço público, como afirma CASTELLS (2009: p. 395):

En otras palabras, los movimientos sociales y políticos, insurgentes o no, florecen y

viven en el espacio público. El espacio público es el espacio de la interacción social

y significativa donde las ideas y los valores se forman, se transmiten, se respaldan y

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combaten; espacio que en última instancia se convierte en el campo de

entrenamiento para la acción y la reacción. [grifo do autor]

As redes de comunicação multimodal constituem, em conjunto, o espaço público na

sociedade em rede, de tal maneira que as diferentes formas de controle e manipulação das

mensagens e da comunicação no espaço público estão no centro da construção do poder,

afirma Castells.

Em um mundo marcado pelo crescimento da autocomunicação de massas,

complementa CASTELLS (2009: p. 396-397), há muitas oportunidades para que os

movimentos sociais e as políticas insurgentes entrem no espaço público, complementa.

Utilizam a rede de comunicação, promovem a mudança política e cultural ainda que comecem

em uma posição subordinada dentro do poder institucional. A liberdade e, em última

instância, a mudança social se entrelaçam com o funcionamento institucional e organizativo

das redes de comunicação. A política de comunicação se torna dependente da política da

comunicação.

METODOLOGIA

Esta pesquisa busca realizar uma análise comparativa dos processos políticos e da

comunicação pública na Espanha e no Brasil, tomando como estudo de caso a cobertura

jornalística realizada pelos noticiários do telejornal Telediário 2, do Canal La 1, da Televisão

Pública Espanhola – TVE, sobre o Movimento 15-M, os “Indignados”, ocorrido nas

principais praças das capitais das Comunidades Autônomas da Espanha, nos meses de maio e

junho de 2011.

Foram investigadas as notícias veiculadas no telejornal Telediario 2, Canal La 1,

da TVE durante as duas semanas de maio e de junho de 2011, período que se manteve o

acampamento do movimento 15M no principal local de referência do movimento, na Praça

Puerte del Sol, em Madri. As semans foram dividas em: 1a. Semana – dias 15 a 21 de maio;

2a. Semana – dias 22 a 28 de maio; 3a. Semana – dias 29 de maio a 04 de junho; e 4a. Semana

– dias 05 a 12 de junho. Considerou-se as semanas de domingo a sábado, pois o movimento

inicia no domingo e somente na 4a. Semana foi considerado de domingo a domingo.

A catalogação da cobertura do 15M dada pelo telejornal Telediário 2 foi a partir

do site da RTVE. Os noticiários estão organizados por dia, mês e ano e armazenados na

íntegra.

Foram 28 dias de cobertura do 15M, tempo de permanência dos acampados em

Madri. O tempo de cada telejornal oscilava entre 30 minutos a 01 hora dependendo do

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armazenamento no site da RTVE, sendo que prevalece o tempo máximo, ficando o de menor

tempo para sábados e domingos.

A cobertura do telejornal Repórter Brasil, da televisão pública brasileira TV Brasil,

durante as Manifestações de junho de 2013 no Brasil, que ocorreram nas principais ruas,

avenidas e praças das capitais do país, durante as quatro semanas daquele mês.

Foram investigadas as notícias veiculadas no telejornal Repórter Brasil na edição

da noite, de segunda a sábado, veiculadas nas 04 semanas de junho de 2013 divididas em: 1a.

Semana – dias 03 a 08; 2a. Semana – dias 10 a 15; 3a. Semana – dias 17 a 22; e 4a. Semana –

dias 24 a 29. Aos domingos não ha edição do telejornal.

A catalogação da cobertura das manifestações dada pelo telejornal Repórter Brasil

foi a partir do site do canal da TV Brasil. Os noticiários estão organizados por dia, mês e ano.

A hospedagem das notícias do dia estão divididas e organizadas de forma aleatória e

fragmentada. Foram assistidos um total de 119 inserções, com tempo de 15 segundos a 10

minutos de cada inserção, dependendo do dia e da cobertura da notícia.

RESULTADOS

O Movimento 15M da Espanha no telejornal da TVE

O telejornal, durante as quatro semanas ao longo dos 28 dias, explica a dinâmica do

15M desde a primeira inserção abordando o perfil dos manifestantes, sobre as comissões,

reações e formas de organização interna. Dentre as principais reivindicações do 15M que o

telejornal comentou estava a reforma eleitoral e a luta contra a corrupção.

Na 1a. semana do telejornal, exatamente no primeiro dia de mobilização nenhuma

notícia é veiculada no telejornal, porém no transcorre dos dias são reportagens com imagens

sobre os acampados convocados pela plataforma !Democracia real YA!, em Madri

explicando que o movimento é apartidário.

Depoimentos da 1a. semana, sobre o 15M e o período pré-eleitoral:

Luis [representante Plataforma ¡Democracia real! Ya]: no hay que compartir con

ningún partido concreto, la compartida que nos une es una oposición al

bipartidismo.

José Luis Rodríguez Zapatero: Es una protesta pacífica. Merecen nuestro respecto.

Y quiero que ese país, […] hace falta en los jóvenes, especialmente el empleo, si

consiguen trabajando y votando.

Ismael Peña [profesor de Ciencia Política de la Universidat Oberta de la

Cataluña]: este movimiento tendrá un texte de aceptación domingo. Y se es bueno

continuara hasta mayo del año que viene.

Dolores de Cospedal [Secretaria general del PP]: que se garantía la Jornada de

Reflexión y que los ciudadanos no se visen invadidos con ningún tipo de mensaje.

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A 2a. semana, o telejornal dedica-se ao dia das eleições 22 de maio. Como o

movimento permaneceu, são mostradas as dinâmicas do acampamento de Madri com as

assembléias, as comissões que em turnos decidem o que fazer e espaços para o registro das

propostas, além de atividades culturais, e a noite ocorre o “grito mudo”, devido a “Jornada de

Reflexión”. O próprio telejornal já indaga: até quando o Movimento 15M permanece nas

praças?

[Personas en las calles]: … Aquí no se habla de policita se hable de problema de

las personas. … Es un Movimiento pacifico entonces nuestra respuestas son

pacificas.

Artur Mas [Presidente de la Generalitat, Barcelona]: Cuando las cosas se van

degradando cuestión de higiene de seguridad. Llega un momento q hay q hacer

alguna cosa. […]

Ignacio Lario [presidente comercial]: […] esta situación no se puede asumir mucho

mas. Es que nos llevan a ruina.

Participante do M15: Sanidad ha venido aquí en acampamiento e ha comprobado

cual son las condiciones e nos la aprobado.

Na 3a. semana o telejornal continua com a pergunta: Até quando o movimento

fica na Puerta de Sol? Nos debates dos acampamentos, ocupar o espaço público só o

necessário e propostas a longo prazo. A difusão tem apoio das redes sociais aliadas e

oferecem ao mundo seu informativo e, solidariedade nas mais de 700 concentrações em todo

o mundo. Período que porta-vozes de acampamentos de mais de 30 cidades se reúnem para

decidir propostas. Domingo, dia 29, Movimento 15M decide em assembléia três opções: se

retirar, ficar mais uma semana ou criar um pequeno espaço permanente.

Depoimentos desta 3a. semana, continua a tentativa de retirar o 15M das praças:

[Telediario]: Hasta donde va el movimiento 15M? Una democracia mas abierta,

transparente, participativo según el pleno debate . La necesidad da reforma da ley

electoral do controle dos cargos públicos.

Ivan Martínez [portavoz do movimiento 15M]: […] Tiene una serie de puntos

determinados pero son solo aspectos políticos. Al mismo pasa con la educación, hay

otras comisiones no a llegado ningún consenso.

Um acampado [Barcelona]: Yo no tengo nada claro q se convierta en un partido

político porque lógicamente soy de la opinión que las personas q estamos aquí nos

hemos reunidos voluntaria e espontáneamente […].

[Telediario]: […] los portavoces de las acampadas de más de 30 ciudades de

España y deciden acordar propuestas […] El 15M continua se extendiendo en

barrios e municipios y suman + de 80 reuniones solo en la Comunidad de Madrid.

E na 4a. semana, momento das reuniões para decidir se deixam ou não as praças

das cidades. Momentos também de confrontos dos manifestantes com a polícia nas posses

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municipais. Manifestações nos congressos de deputados em Madri, Barcelona, Málaga e

Valência. Incluindo também resposta do governo diante da ação da policia, como o

subdelegado do governo.

Dia 12 de junho, domingo, preparativos da saida do Movimento “Indignados” da

Puerta del Sol, em Madri. Em outras cidades como Valência, Valladolid e Sevilha decidem

permanecer acampados até o próximo domingo [19 de junho]. Em Barcelona decidem manter

o acampamento mas não dormir.

Depoimentos desta 4a. semana, 15M seguem pelas ruas, deixam as praças:

[Telediario]: Algunos acampamentos de movimiento 15M ya empiezan a

desmantelarse. Pamplona, con la promesa de reuniones semanales. Bilbao, deciden

su marcha y Sevilla continua acampados.

Hilario Alfaro [Presidente de Cocem]: reclama al Ministro do Interior un informe

eses case 02 meses los daños por haber ejercido de forma anormal los deberes que

tenían que hacer cumplido.

Ana Botella [Delegada del gobierno de la comunidad de Valencia]: La policía solo

se defendió, que retumén sus actitudes pacíficas, la policía rechazo las actitudes

antidemocráticas.

[Telediario, Puerta del Sol]: […] Lo movimiento, seguirá tiendo aquí su epicentro

porque dejaran aquí un punto de información. […]. Hoy termina una fase y por la

noche una jornada de reflexión con un grito mudo.

Sobre as manifestações de junho de 2013 no Brasil no telejornal da TV Brasil

O telejornal, durante os 30 dias do mês de junho apresentou um total de 119 inserções.

No início, primeira e segunda semana, as notícias revelam desordem e caos sobre as

manifestações e nas duas semanas seguintes outra interpretação será dada.

Na 1a. semana do mês de junho sobre as manifestações ligadas ao transporte público

será dias 06 e 07, quinta e sexta-feira, na cidade de São Paulo, considerados os 1o. e 2o. atos

das manifestações, relatando que a organização dos integrantes do Movimento Passe Livre -

MPL. As cenas e notícias são de violência da polícia com o uso de bombas de gás

lacrimogêneo, sprey de pimenta, bombas de borracha e por parte dos manifestantes pichações,

fogo sendo ateado.

Depoimento desta 1a. semana, pouca visibilidade:

[Repórter Brasil]: [...] manifestantes convidavam a população a ir para as ruas

protestar contra o aumenta da tarifa [...].

Na 2a. semana novamente São Paulo, em que acontecem os 3o e o 4o. atos de protesto,

dias 11 e 13, terça e quinta-feira, repetindo notícias de violência, com a prisão de jornalistas e de

manifestantes. Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cobra informações sobre confrontos em São

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Paulo e no Rio de Janeiro. E, reunião do Ministério Público-SP com representantes do MPL,

propondo suspender o aumento da passagem, desde que suspendam as manifestações em vias públicas.

Prefeito e governador de São Paulo, afirmam que os atos de violência e vandalismo são inaceitáveis.

Telejornal fala sobre cálculo da passagem de ônibus com base nos dados do IBGE, BACEN e

SPTRans, nos últimos 19 anos aumento foi de 540%.

Depoimentos desta 2a. semana, reação das autoridades:

[Repórter Brasil]: A PM já não tinha mais foco. Bombas por todos os lados. [...]

[Repórter Brasil, sede do MP de SP comenta: [...] proposta de suspender o

aumento da passagem por 45 dias. Se aceita, as manifestações em vias publicas

serão suspensas [...].

[Repórter Brasil ]: O governador de São Paulo, Geraldo, disse que os atos de

violência e vandalismo são inaceitáveis [...] O prefeito Fernando Haddad diz que

estendeu a mão para o diálogo [...] manifestantes fizeram questão de dizer que não

iam abdicar da violência.

É a partir da 3a. semana de junho, quando os noticiários e inserções do telejornal

trouxeram enfoque diferenciado sobre as manifestações.

Semana em que ocorrem as 5o. 6o. e 7o. atos em São Paulo, segunda dia 17, terça dia

18 e quinta-feira dia 20 respectivamente, em que ao menos 09 capitais foram alvo de

protestos. Como ocorreu o dia 18, terça-feira, no 6o. ato de protesto, o Rio de Janeiro foi palco

da maior manifestação no pais, conforme informação do próprio telejornal, foram 100 mil

pessoas ocuparam pacificamente a Candelária, Palácio Tiradentes, centro da cidade. Noite que

o telejornal dará longo espaço de debates sobre as manifestações, incluindo notícias

explicativas sobre o MPL.

Sobre o uso de armas letais pela polícia brasileira Coordenadora de Direitos Humanos

do órgão, frisa que a Anistia Internacional lança guia para polícia lidar com protestos. Dia em

que se revoga a passagem de ônibus.

No dia 20, quinta-feira, no 7o. ato as manifestações ocorrem em mais de cem cidades.

Semana em que pela primeira vez o telejornal trás notícia da presidenta Dilma Rousseff em

que ela comenta sobre as manifestações, em evento em Brasília, bem como o Ministro-Chefe

da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. E na noite do dia 21,

sexta-feira, uma vez entrevista do representante do MPL, anunciando a saída da luta nas ruas.

Momento das manifestações em torno da redução na tarifa de ônibus repercutirem fora

do Brasil, como na Inglaterra, EUA e França.

Depoimentos desta 3a. semana, expansão das manifestações pelo pais:

[Repórter Brasil]: [..] manifestantes lotaram o Largo da Batata [...] Não houve

cenas de violência. [...] graças a reunião pela manha entre a liderança do

movimento e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo -SESP-SP.

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Fernando Grella [Secretário da SSEP-SP]: [a PM] vai estar a disposição como

sempre esteve, para o ato acreditamos que o movimento, que o ato, que vai ser

pacífico [...].

Mayara Vivian [líder do MPL]: O que agente precisa é revogar o aumento. Nosso

objetivo é revogar o aumento.

Presidenta Dilma Rousseff: Essa mensagem direta das ruas é por mais cidadania,

por melhores escolas, por melhores hospitais, postos de saúde, por direito a

participação. [...]

Lucas Monteiro de Oliveira [integrante do MPL]: [...] a curto prazo ele é bem

básico ele é a redução da passagem, revogação do aumento, [...] defende uma pauta

mais ampla, tarifa zero, uma vez que o transporte é essencial para garantir outros

direitos, essencial para circular pela cidade [...].

Yuri [historiado, participa das manifestações]: O movimento mostra que transporte

é o centro das questões da cidade, discutem cidades como Rio de Janeiro e São

Paulo na campanha para prefeito se discutiu, o reflexo forma o que se exige mais

participação da população.

Maria Carloto [doutora]: [...]O MPL, existe em várias capitais do Brasil, ha vários

anos tem uma militância cotidiana, respaldado por partidos de esquerda, por

organização de esquerda, por centros acadêmicos de esquerda, diretórios de

estudantes [...].

João Pedro Stédile [líder do Movimento dos Sem-Terra] : [...] decidimos elaborar

uma carta coletiva para que o governo chame os movimentos [...].

Na 4a. semana, muita visibilidade aos representantes dos poderes. Agenda

política do poder executivo federal, com imagens de reuniões da presidenta Dilma Roussef

para discutir a reforma política com líderes dos poderes, centrais sindicais e representantes

dos movimentos sociais e anuncia os “05 pactos a favor do pais”. A OAB Nacional e o

Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral lançam projeto de iniciativa popular que

defende a reforma do sistema eleitoral. Líderes dos partidos de oposição criticaram,

principalmente o plebiscito para a convocação da Constituinte da reforma política.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os movimentos sociais que emergem neste cenário global buscam expor a

deficiência da forma como a democracia representativa e todas as instituições dela

constituinte estão distantes da realidade pela qual a sociedade civil quer efetivamente

participar.

Estes movimentos, os “Indignados”, da Espanha e as manifestações de junho de

2013 no Brasil, com a mobilização de grupos organizados como o Democracia real Ya! e o

Movimento Passe Livre, expuseram as mazelas que o capitalismo e a política atual impõem a

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população, denunciando insatisfações diante da crise de representação política versus

interesses da população.

Com estas reivindicações nas praças e ruas da Espanha e do Brasil, a partir do que

foi exposto nos canais públicos dos respectivos países, foi possível conhecer diversos atores

sociais que buscam dar outra dinâmica a vida social. Como mostrado nos noticiários dos

telejornais, diversas vozes se manifestaram desvelando os sujeitos políticos envolvidos nestes

movimentos. Foi Possível conhecer também mais de perto como os poderes públicos e as

instituições destas democracia responderam a estes novos fenômenos e suas formas legítimas

de se manifestarem.

Cabe ressaltar também, os limites nas informações dos noticiários dos telejornais.

Na Espanha, não houve espaços para demais grupos políticos que já vinham constituindo

debates no mundo acadêmico e as novas lideranças, limitando-se aos políticos já instituídos.

E no Brasil, a resistência do poder público em reconhecer a demanda sobre o

transporte público, e que respondeu a princípio de forma coercitiva, aos poucos vai

percebendo a força da multidão, mesmo que uma parte dos manifestantes tenha se utilizado da

força física, e a mídia anunciando a violência que eram os protestos, houve resposta da

própria população, mudando o curso tão complexo destes novos momentos políticos do pais e

dos próprios movimentos.

REFERÊNCIAS

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Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012. p. 31-38.

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