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sexta-feira, 26 de agosto de 2011 25 DIÁRIO DO COMÉRCIO d cultura Símios perigosamente sabidos Lúcia Helena de Camargo Fotos: Fox Film/Divulgação Andy Serkis interpreta Cesar; James Franco como o cientista Will Rodman; e Freida Pinto, ao ser dirigida por Rupert Wyatt. F ica em torno de 1% a diferença genética entre os seres humanos e nossos primos primatas. Com muito em comum, não seria espantoso se hora dessas eles resolvessem falar e começar a tomar conta do mundo, alegando que os homens andam meio desleixados nessa tarefa. Fincado nessa premissa, fez sucesso nos anos da Guerra Fria o filme Planeta dos Macacos, cuja cena emblemática é a do desolado coronel Taylor – vivido por Charlton Heston – constatando, numa praia em que se vê as ruínas da estátua da Liberdade, que aquele planeta dominado pelos símios era a Terra, num futuro não muito distante. Nos anos de 1970, sete sequências e uma série de TV derivaram desse longa. E em 2001 Tim Burton aventurou-se sem sucesso na refilmagem, tendo Mark Wahlberg como protagonista. Agora, em Planeta dos Macacos - A Origem, conta-se como os macacos ficaram tão inteligentes. James Franco encarna Will Rodman, cientista que pesquisa a cura do Mal de Alzheimer, trabalhando para a grande coorporação da indústria farmacêutica Gen-Sys. Seu pai, Charles (John Lithgow) sofre da doença, o que implicará em complicações adicionais, pois Will está desesperado por resultados. Cesar é o chimpanzé filho da principal cobaia da experiência, que, ao ficar órfão, acaba sendo adotado por Will. No papel do macaco que chega bebê à casa dos Rodman – e desenvolve inteligência acima de todas as médias – está Andy Serkis, artista que se especializou na chamada "atuação por captura de movimentos". Ele foi o terno monstrengo Gollum na trilogia Senhor dos Anéis e o gorila gigante em King Kong. Os recursos técnicos usados surgiram nas telas pela primeira vez em Avatar , de James Cameron. Mas felizmente Planeta dos Macacos - A Origem não embarcou na onda de filmes em 3D. Segundo Joe Letteri, supervisor de efeitos visuais, o grande desafio foi filmar a sequência clímax, que se passa na ponte Golden Gate, em San Francisco. Em cena há chimpanzés, gorilas, centenas de pessoas, carros, helicópteros, todos envolvidos em correrias, explosões, lutas e tiros. Com uma parte filmada em um cenário montado em Vancouver, no Canadá, e a outra criada por computação gráfica, o resultado é convincente. Do olhar incisivo de Cesar à reação dos cidadãos desavisados que passam pela ponte. A presença feminina ficou a cargo de Freida Pinto (Latika em Quem Quer Ser Um Milionário?), que interpreta Caroline, primatóloga, veterinária de Cesar e namorada de Will. A talentosa indiana recentemente foi vista em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, de Woody Allen. É preciso que haja vilões. A eles: Brian Cox é John Landon, que administra, juntamente com seu filho Dodge (Tom Felton, o Draco Malfoy da série Harry Potter)o Santuário de San Bruno, destinado a abrigar primatas desabrigados. O diretor, Rupert Wyatt, não é dos famosos de Hollywood. Seu filme mais conhecido é O Escapista. Com Planeta dos Macacos - A Origem, ganha oportunidade de fazer nome. Ele construiu uma história com ação, aventura, ficção científica e aspectos de drama. E inclui a deixa para a continuação, já que ficamos sabendo como os símios ficaram intelectualmente capazes, mas falta entender os métodos que usaram para conquistar o mundo. Planeta dos Macacos - A Origem (Rise of the Planet of the Apes, EUA, 2011, 106 minutos). Direção: Rupert Wyatt. Homens, mulheres. E nada de canudinho. Warner Bros/Divulgação Cal Weaver (Steve Carell), casado há 20 anos com Emily (Julianne Moore). No destaque, Emma Stone. S abe aquele jogo "Maria gostava de João, que amava Clara, que adorava Joaquim, que idolatrava – ou odiava – Maria"? Assim é Amor a Toda Prova. Com muitos personagens e todos intimamente ligados, o filme conta uma história sobre casais contemporâneos, encontros e desencontros. Cal Weaver (Steve Carell) é o típico americano casado de classe média. Com situação financeira confortável, tem uma bela casa, filhos, vida tranquila, é casado com sua namorada de adolescência, Emily (Julianne Moore). A mulher, porém, anuncia querer o divórcio. E o mundo de Cal, como se espera, desaba. Ao conhecer o conquistador Jacob Palmer (Ryan Gosling), Cal passará por uma transformação radical que irá além do visual. Desajeitado, usando roupas folgadas demais e iletrado na arte da conquista, ele será treinado. Vai aprender mais sobre as mulheres em algumas semanas do que soube durante toda a vida. Tomando-o como exemplo, em determinado momento o espectador poderá chegar à conclusão de que todo homem casado há muito tempo precisa de férias conjugaism, nem que seja apenas para entender como tratar a própria mulher ou valorizá-la a contento. Pode ser que nem todas as esposas concordem com esse estágio de liberação das obrigações matrimoniais, mas aquelas que toparem a brincadeira e não enxergarem as escapadelas como infidelidade, podem ter de volta um marido mais eficaz. Paralela às aventuras de Cal, vemos seu filho de 13 anos, Robbie (Jonah Bobo), que está apaixonado pela babá de 17, Jéssica (Analeigh Tipton), que por sua vez está caída de amores por... Cal. E adentramos um campo obscuro: quando é legítimo lutar pelo amor e qual a hora de desistir? "Todas as cartas de amor são ridículas" é uma das célebres frases do poeta português Fernando Pessoa. No entanto, até que ponto é possível ser ridículo em nome de uma paixão, sem cair no piegas ou patético? O jovem encara bravamente as questões e desponta como o personagem mais maduro em toda a trama. Participam ainda Emma Stone, Marisa Tomei e Kevin Bacon, como o colega de trabalho de Emily, David Lindhagen. Amor a Toda Prova tem momentos engraçados. De humor marrom, quase negro, como o diálogo travado em um bar no qual alguém precisa decidir o que é pior, se o divórcio ou o câncer. Há ainda humor físico. Um monumental mal-entendido leva vários homens a se engalfinhar em um jardim, na briga com direito a desastrados murros, socos e pontapés. O maior ensinamento do filme (sim, pode-se aprender com uma comédia!) talvez seja esse: se você é homem, nunca, jamais, em hipótese alguma, fique debruçado sobre a mesa ou o balcão de um bar bebericando seu drinque com uso de um canudinho. Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid Love, EUA, 2011). Com Steve Carell, Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, John Carroll Lynch, Marisa Tome, Kevin Bacon, Jonah Bobo, Analeigh Tipton. Encante-se com felinos. Na página 26, documentário arrebata com belas e reveladoras imagens. Warner Bros/Divulgação

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011 25DIÁRIO DO COMÉRCIO

dcultura

Símios perigosamente sabidosLúcia Helena de Camargo

Fotos: Fox Film/Divulgação

Andy Serkis interpreta Cesar; James Franco como o cientista Will Rodman; e Freida Pinto, ao ser dirigida por Rupert Wyatt.

Fica em torno de 1% adiferença genética entreos seres humanos enossos primos primatas.

Com muito em comum, não seriaespantoso se hora dessas elesresolvessem falar e começar atomar conta do mundo, alegandoque os homens andam meiodesleixados nessa tarefa. Fincadonessa premissa, fez sucesso nosanos da Guerra Fria o filme Pl a n e t ados Macacos, cuja cenaemblemática é a do desolado

coronel Taylor – vivido porCharlton Heston – constatando,numa praia em que se vê as ruínasda estátua da Liberdade, queaquele planeta dominado pelossímios era a Terra, num futuro nãomuito distante. Nos anos de 1970,sete sequências e uma série de TVderivaram desse longa. E em 2001Tim Burton aventurou-se semsucesso na refilmagem, tendo MarkWahlberg como protagonista.Agora, em Planeta dos Macacos - AO rigem, conta-se como os macacosficaram tão inteligentes.

James Franco encarna WillRodman, cientista que pesquisa acura do Mal de Alzheimer,trabalhando para a grandecoorporação da indústriafarmacêutica Gen-Sys. Seu pai,Charles (John Lithgow) sofre dadoença, o que implicará emcomplicações adicionais, pois Willestá desesperado por resultados.

Cesar é o chimpanzé filho daprincipal cobaia da experiência,que, ao ficar órfão, acaba sendoadotado por Will. No papel domacaco que chega bebê à casa dosRodman – e desenvolveinteligência acima de todas as

médias – está Andy Serkis, artistaque se especializou na chamada"atuação por captura demovimentos". Ele foi o ternomonstrengo Gollum na trilogiaSenhor dos Anéis e o gorila giganteem King Kong.

Os recursos técnicos usadossurgiram nas telas pela primeiravez em Ava t a r , de James Cameron.Mas felizmente Planeta dosMacacos - A Origem não embarcouna onda de filmes em 3D. SegundoJoe Letteri, supervisor de efeitos

visuais, o grandedesafio foi filmar asequência clímax, quese passa na ponteGolden Gate, em SanFrancisco. Em cena háchimpanzés, gorilas,centenas de pessoas,carros, helicópteros,todos envolvidos emcorrerias, explosões,lutas e tiros. Com umaparte filmada em umcenário montado emVancouver, no Canadá,e a outra criada porcomputação gráfica, oresultado éconvincente. Do olharincisivo de Cesar àreação dos cidadãosdesavisados quepassam pela ponte.

A presença femininaficou a cargo de FreidaPinto (Latika em Q uem

Quer Ser Um Milionário?), queinterpreta Caroline, primatóloga,veterinária de Cesar e namorada deWill. A talentosa indianarecentemente foi vista em Você VaiConhecer o Homem dos SeusS onhos, de Woody Allen.

É preciso que haja vilões. A eles:Brian Cox é John Landon, queadministra, juntamente com seufilho Dodge (Tom Felton, o DracoMalfoy da série Harry Potter) oSantuário de San Bruno, destinadoa abrigar primatas desabrigados.

O diretor, Rupert Wyatt, não édos famosos de Hollywood. Seufilme mais conhecido é O Escapista.Com Planeta dos Macacos - AO rigem, ganha oportunidade defazer nome. Ele construiu umahistória com ação, aventura, ficçãocientífica e aspectos de drama. Einclui a deixa para a continuação, jáque ficamos sabendo como ossímios ficaram intelectualmentecapazes, mas falta entender osmétodos que usaram paraconquistar o mundo.

Planeta dos Macacos - A

Origem (Rise of the Planet of the

Ap es, EUA, 2011, 106 minutos).Direção: Rupert Wyatt.

Homens, mulheres. E nada de canudinho.

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Cal Weaver (Steve Carell), casado há 20 anos com Emily (Julianne Moore). No destaque, Emma Stone.

Sabe aquele jogo "Mariagostava de João, que amavaClara, que adorava Joaquim,

que idolatrava – ou odiava –Maria"? Assim é Amor a Toda Prova.Com muitos personagens e todosintimamente ligados, o filme contauma história sobre casaiscontemporâneos, encontros edesencontros. Cal Weaver (SteveCarell) é o típico americano casadode classe média. Com situaçãofinanceira confortável, tem umabela casa, filhos,vida tranquila, écasado com suanamorada deadolescência,Emily (JulianneMoore). A mulher,porém, anunciaquerer o divórcio.E o mundo de Cal,como se espera,desaba.

Ao conhecer oco n q u i s t a d o rJacob Palmer(Ryan Gosling),Cal passará por uma transformaçãoradical que irá além do visual.Desajeitado, usando roupasfolgadas demais e iletrado na arteda conquista, ele será treinado. Vaiaprender mais sobre as mulheresem algumas semanas do quesoube durante toda a vida.

Tomando-o como exemplo, emdeterminado momento oespectador poderá chegar àconclusão de que todo homemcasado há muito tempo precisa deférias conjugaism, nem que sejaapenas para entender como tratara própria mulher ou valorizá-la acontento. Pode ser que nem todasas esposas concordem com esseestágio de liberação dasobrigações matrimoniais, masaquelas que toparem a brincadeira

e não enxergaremas escapadelascomo infidelidade,podem ter devolta um maridomais eficaz.

Paralela àsaventuras de Cal,vemos seu filho de13 anos, Robbie(Jonah Bobo), queestá apaixonadopela babá de 17,Jéssica (AnaleighTipton), que porsua vez está caída

de amores por... Cal. E adentramosum campo obscuro: quando élegítimo lutar pelo amor e qual ahora de desistir? "Todas as cartasde amor são ridículas" é uma dascélebres frases do poeta portuguêsFernando Pessoa. No entanto, atéque ponto é possível ser ridículo

em nome de uma paixão, sem cairno piegas ou patético? O jovemencara bravamente as questões edesponta como o personagemmais maduro em toda a trama.

Participam ainda Emma Stone,Marisa Tomei e Kevin Bacon, comoo colega de trabalho de Emily,David Lindhagen.

Amor a Toda Prova te mmomentos engraçados. De humormarrom, quase negro, como odiálogo travado em um bar no qualalguém precisa decidir o que é pior,se o divórcio ou o câncer. Há aindahumor físico. Um monumentalmal-entendido leva vários homensa se engalfinhar em um jardim, nabriga com direito a desastradosmurros, socos e pontapés.

O maior ensinamento do filme(sim, pode-se aprender com umacomédia!) talvez seja esse: se vocêé homem, nunca, jamais, emhipótese alguma, fique debruçadosobre a mesa ou o balcão de umbar bebericando seu drinque comuso de um canudinho.

Amor a Toda Prova (Craz y,

Stupid Love, EUA, 2011). Com

Steve Carell, Ryan Gosling,

Julianne Moore, Emma Stone,

John Carroll Lynch, Marisa

Tome, Kevin Bacon, Jonah

Bobo, Analeigh Tipton.

Encante-se com felinos. Na página 26, documentário arrebata com belas e reveladoras imagens.

Warner Bros/Divulgação