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Figura 1. Grupo de alunos da Escola APAS.
Fonte: Acervo da autora.
“Estou consciente de lo que es ser sordo y estamos orgullosos
de nosotros mismos como personas sordas, orgullosas de
nuestra lengua y de nuestra cultura. Nuestra función como
sordos nos permite tomar consciência de nosotros mismos y
respaldar a nuestros iguales.”
Juan Eugenio Ravel
3
SUMÁRIO
1 ORIENTAÇÃO DE ESTUDO .............................................................................................. 4
2 PALAVRA DA PROFESSORA ............................................................................................ 5
3 OBJETIVOS DA UNIDADE ................................................................................................. 6
4 SEÇÃO 1: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM CULTURA SURDA? ........................................... 8
5 SEÇÃO 2: EM FOCO OS ARTEFATOS CULTURAIS ...................................................... 18
6 SEÇÃO 3: UM TRABALHO COM FOTOGRAFIA NA ESCOLA DE SURDOS .................. 44
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 58
4
1. ORIENTAÇÃO DE ESTUDO
Caros alunos e professores.
É com muito prazer que apresentamos a vocês o material a seguir, que os
acompanhará ao longo deste trabalho. Este se apresentará dividido em duas seções
de aprofundamento teórico e prático e em uma seção em que consta uma proposta
de projeto de fotografias a ser desenvolvida como pesquisa e pratica de cultura.
Vejam a seguir uma síntese dos temas desenvolvidos em cada seção:
Na Seção1 “Você já ouviu falar em Cultura Surda?”, traremos questões para
análises e temas que buscam situar o sujeito na sua cultura, considerando que a
construção de identidade esta relacionada também as práticas sociais e as
interações discursivas ao longo da vida, isto é: na escola, na família , no trabalho ou
com os grupos de amigos. Membros de uma cultura surda se comportam como as
pessoas surdas, usam a língua da sua comunidade e compartilham das crenças das
pessoas surdas entre si e com as outras pessoas que não são surdas. Por esse
motivo falar em Cultura Surda significa também evocar uma questão de identidade e
de uso de língua.
Um surdo estará mais ou menos próximo da sua cultura dependendo da
identificação e das relações que efetua enquanto elemento desta. Assim é
importante situar o sujeito, sua língua e papel dentro da cultura para que possa
compreendê-la e dela participar. Na Seção 2 “Ilustrando a cultura surda: Em Foco os
Artefatos Culturais”, traremos à discussão o tema Artefatos Culturais, por considerar
que estes funcionam como marcadores que tratam de compreender a cultura visual
que vem a caracterizar a cultura como um todo e com isso significar as formas de
expressão e apreensão visual. A Seção 3, ”A imagem do outro: Um trabalho com
fotografia na escola de Surdos” proporá uma prática educativa em formato de oficina
pedagógica. Pensou-se neste tema a partir da sugestão da própria comunidade
surda. Quem é surdo ou convive com surdos, sabe do apelo que o ato de fotografar
exerce na cultura. Isto se explica na semiótica da fotografia, que se baseia na
semiótica da imagem, uma vez que esta funciona ao mesmo tempo como “ícone” e
como “índice’. Assim, podemos caracterizá-la como um ícone indexical ou seja,
como imagem e índice que se comunicam e completam, fornecendo os elementos
5
necessários para a leitura da imagem. O que é particularmente interessante para
uma comunidade que possui a imagem enquanto referencial lingüístico e cultural.
2. PALAVRA DA PROFESSORA
Como professora ouvinte de uma Escola Especial para
surdos, suscitou-me a idéia de discutir neste trabalho,
questões que pudessem envolver vivências que vão muito
além da sala de aula e também muito além do senso
comum que permeia a idéia do que vem a ser a pessoa
surda. Pensando na compreensão da experiência de como é o não “ouvir” em um
mundo composto por paradigmas criados a partir do universo ouvinte aqui incluí a
Escola de Surdos, que é também contraditoriamente pensada e criada num contexto
ouvinte de educação.
Tendo como tema os Estudos Surdos, pensou-se organizar este material
com a intenção de oferecer possibilidades de conceituar alguns dos elementos que
constituem a Cultura Surda, que por sua vez apóia e constitui a formação da
identidade do sujeito. “Trabalhar1 a partir da concepção das diferenças implica uma
contraposição ao conceito de diferencialismo que simplesmente aceita esse outro
diferente, aproximando-o ao máximo dos padrões da normalidade e tentando fazer
deste, algo que ele não é.”
O autor destaca a opção em se pensar a educação de surdos e a educação
em geral a partir da discussão acerca das “diferenças”, num sentido amplo de
diversidade e singularidades. Entendendo que não há uma cultura superior, e sim
que existem “diversidades culturais”, o surdo poderá ser compreendido como sujeito
que utiliza estratégias de apreensão e expressão diferenciadas, constituindo por isso
sua própria cultura. Porém, quando falamos em cultura surda percebemos muitas
vezes que causamos uma sensação de estranhamento dos sujeitos frente a esta
perspectiva. A cultura não é a mesma para todos? Será que existe uma cultura
própria entre pessoas surdas? Será que esta “linguagem das mãos” é uma língua?
Estes questionamentos são comuns inclusive por parte de muitos educadores que
1 Skliar (2004, p.17)
6
por desconhecerem a cultura surda acabam por concluir que o surdo é um ser
desprovido de língua, cultura e identidade, assim incapaz de aprender e não
pertencente ao grupo de pessoas capazes da sociedade.
Estas concepções remetem ao sentimento e a necessidade de homogeneidade
presentes na nossa cultura, onde se pretende igualar, normalizar ao máximo os
sujeitos apagando suas diferenças. Assim, seguimos ajustando tudo aquilo que
pode provocar estes estranhamentos sempre numa busca de segurança as nossas
inseguranças frente ao diferente.
Este trabalho é um convite a adentrar alguns territórios dessa cultura. Peço
licença aos colegas surdos por tratar de um tema tão particular quanto à cultura de
uma comunidade, podendo de certa forma parecer contraditório por ser eu ouvinte.
Porém, após tantos anos de convivência com o povo surdo, ter partilhado tantos
momentos históricos e sociais importantes e participar ativamente da comunidade
surda através da Associação de Amigos de Surdos da Escola Apas, me considero
parte do corpo da comunidade, militante pela causa e pelo reconhecimento de sua
cultura. Peço licença também, a pesquisadora surda paranaense Karin Strobel, por
ter-me “apoderado” muito de sua pesquisa. Seu livro “As Imagens do outro sobre a
Cultura surda” foi à inspiração deste trabalho.
Agradeço também a pesquisadora surda Shirley Vilhalva, por ter colaborado
cedendo seu material de pesquisa junto às comunidades indígenas, auxiliando e
enriquecendo este trabalho.
É um convite a vocês, alunos e professores, para juntos realizarmos uma
viagem a este vasto e rico território, conhecer um pouco de sua história, suas
marcas e singularidades.
3. OBJETIVOS DA UNIDADE.
Apresentar, contextualizar e discutir com o grupo de estudantes surdos da
escola a cultura surda, de modo a constituir novas concepções sobre o Ser
Surdo, sua língua, cultura e aprendizagem.
Discutir e problematizar a centralidade da experiência visual, como artefato
cultural que caracteriza o “Ser Surdo”, explorando as percepções,
7
expressões, caracterizações, registros e outras manifestações de
representação da cultura surda.
Difundir e enriquecer o acervo cultural das comunidades surdas suas
representações e seus artefatos culturais, através de oficinas temáticas de
criação.
A apoiar o fortalecimento da comunidade surda enquanto grupo lingüístico e
cultural que se posiciona e resiste às políticas educacionais ouvintistas.
Favorecer a construção de uma nova concepção de currículo na escola de
surdos.
Contribuir e divulgar as produções culturais das comunidades surdas
brasileiras.
8
4. Seção 1- Você já ouviu falar em “Cultura Surda?
Objetivo- Apresentar, contextualizar e discutir com o grupo de estudantes
surdos da escola a cultura surda, de modo a constituir novas concepções sobre o
Ser Surdo, sua língua, cultura e aprendizagem.
Figura 2. Mostra cultural Escola Apas. Fonte: Acervo da autora
A foto acima mostra como o surdo se sentia aprisionado em sua cultura, em
sua língua. Vejam as mãos presas em uma teia. Esta teia representa a sociedade
que não permitia ao surdo se expressar com suas mãos, em uma referência ao
Congresso de Milão!
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Você saberia representar o significado da imagem abaixo?
Discuta com seu grupo e socialize com os colegas
Figura 3: Aparelhos auditivos.
Fonte: Acervo da professora
Conhecendo a história cultural do povo surdo.
Durante muitos anos os surdos foram educados para serem ouvintes.
O que se privilegiava em sua educação era o ensino da oralidade. Isto é, o
objetivo tanto clinico quanto educacional era: ensinar o surdo a falar e se comunicar
como ouvinte. Esta história toda começou há muito tempo atrás, numa cidade
chamada Milão, na Itália. Até então, a educação de surdos era pensada na língua de
sinais. Mas os ouvintes, como são chamadas as pessoas que ouvem, achavam que
o melhor para os surdos seria aprender a falar. Isto, porque Aristóteles um filósofo
grego, afirmou: --- Sem fala não há pensamento! Então, durante um congresso
conhecido como “Congresso de Milão” que aconteceu na Itália em 11 de setembro
de 1880, onde a maioria era de pessoas ouvintes, decidiu-se: A língua de sinais
seria proibida. O ensino seria em função da oralidade e surge ai o método
conhecido por oralismo. Os professores surdos foram afastados e o ensino passou a
ser no sentido de “normalização do sujeito”. O surdo deveria ser ajudado e curado
de sua doença. A surdez.
Daí pra frente muita coisa aconteceu, porém os surdos continuaram a usar
sua língua escondidos, afinal língua é língua, não é mesmo! Não dá para ser
diferente. Com o passar dos anos continuaram se encontrando nas escolas, nos
10
clubes, nas igrejas, nas associações de surdos e começaram a achar que
precisavam lutar por sua língua e pelo direito de ser surdo.
Perceberam que não eram deficientes, mas que eram diferentes nas suas
singularidades e apenas possuíam língua, costumes, hábitos e gostos diversos
devido a seu modo de perceber as coisas. Descobriram a sua cultura. A cultura
surda. E fez-se a Luz!
Suas histórias e sua língua, que até então estavam confinadas em seus
espaços, atravessaram suas paredes e saíram para o mundo. E não é que as
pessoas gostaram daquela lingua, daquelas mãos ágeis nos movimentos, do sorriso
fácil em seus rostos? Passaram a perceber que aquilo tudo era real, e que havia
significado e sentido naquela linguagem. Os surdos passaram então a ocupar um
novo lugar na sociedade, a lutar por seus direitos. Assim, surgem os movimentos
surdos, que reúne surdos no mundo inteiro, no intuito de conquistar direitos os mais
diversos. Educação em língua de sinais, tradutores e intérpretes de libras, televisão
com legenda, telefones para surdos, acessibilidade social e garantia de escola para
surdos e, entre tudo isto lutam por ter escolas bilíngües, com professores surdos e
professores ouvintes, onde a Libras é ensinada pelo professor surdo para a criança
surda aprender a ler e a conhecer o mundo. O português é a segunda língua a ser
ensinada e, apenas em sua forma escrita, pelo professor ouvinte através da libras.
Então, o desafio agora é: Construir uma nova história cultural, com o
reconhecimento, a valorização da língua, a conquista de direitos, e assim tornar-se
livre para ser surdo em sua identidade e cultura.
Para saber mais...
Conferencia Nacional de Milão:
Ocorreu no dia 11 de setembro de 1880 e teve como resultado a aprovação do
oralismo pelo motivo de ser esta uma língua que facilita a comunicação com a
sociedade ouvinte. Assim, os alunos surdos precisariam de um professor ouvinte,
pois a Lingua de Sinais prejudicaria a fala e o pensamento.
Para saber mais sobre o assunto, acesse: http://www.milan1880.com/.congresso de
Milão.
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De olho na prática...
Agora que vocês conheceram um pouco da história, vamos montar uma
dramatização sobre o Congresso de Milão.
Lembre-se de caracterizar a época (1880), pesquisando como eram as
roupas, as indumentárias e os costumes daquele tempo.
Depois, aproveitem para discutir sobre as conseqüências deste momento na
história dos surdos. Sua opinião é muito importante.
.
*Lembre-se de fazer este registro fotografando e filmando.
Falando em Cultura:
Opinião de surdo.
“No entendimento de que a interação com a comunidade surda2 permite sair
do lugar do diferente, do excluído, do estranho, do estrangeiro, para o de
“pertencimento”, um lugar em que se encontram como iguais, sentem-se entendidos
e efetivamente conseguem estabelecer uma relação de troca”.
Este encontro com a cultura coloca o surdo em contato com as coisas que
para ele são significativas e o constituem como sujeito: seus costumes, suas
histórias, tradições comuns e interesses semelhantes. Para compreendê-la é preciso
conhecer sua língua e ter anseio em compartilhar suas experiências!
2 DALCIN, Gladis.
12
Para saber mais...
Comunidade surda e Cultura surda.
Para Padden e Humphries, autores surdos americanos, uma “comunidade
surda” é um grupo de pessoas que vivem no mesmo local, partilham os objetivos
comuns de seus membros, e que por diversos meios trabalham para alcançar seus
objetivos. Uma comunidade surda pode incluir pessoas que não são elas próprias
surdas, mas que apóiam ativamente os objetivos da comunidade e trabalham em
conjunto com as pessoas Surdas para alcançá-los. “Uma cultura” é um conjunto de
comportamentos apreendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria
língua, valores, regras de comportamento e tradições culturais.
Conversando a gente aprende...
Bem, agora que já sabemos a opinião de vocês, iremos conhecer opiniões de
outros colegas surdos e não surdos, que, assim como vocês, fizeram estas mesmas
indagações. Com isto, muitos hoje são professores e pesquisadores de escolas e
universidades de todo o país.
Vocês sabem que são muitas as formas de representação de uma cultura,
não é mesmo? Quando falamos de uma “cultura visual”, como é o caso da cultura
surda, precisamos mergulhar no seu universo, nas suas conversas diárias, em suas
artes, seus mitos, sua forma de entender o mundo.
Shirley Vilhalva é uma pesquisadora e autora surda, que pesquisou as
línguas de sinais e foi estudar nas comunidades indígenas.
Vamos ver o que ela descobriu:
13
Com a palavra...
“É preciso conhecer a Cultura Surda através da vivência e participação na
comunidade Surda, aceitação da diferença e paciência para inteirar-se nela. E
através desta pesquisa, contribui-se com a luta contínua do povo surdo em
conhecer e a conhecer as diferentes línguas de sinais do Brasil, que são
pertencentes a diferentes comunidades. Isso por que, além da língua de sinais
oficializada pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, o Brasil possui também
outras línguas de sinais que são raramente registradas. Sendo tais línguas,
como as línguas de sinais indígenas, praticadas pelos índios surdos existentes
em diversas comunidades indígenas do país, onde cada uma delas traz
consigo características culturais e lingüísticas variadas, o que faz com que haja
o interesse em registrá-las, assim como são registradas outras línguas
brasileiras de diferentes comunidades, com suas especificidades culturais,
étnicas, regionais, etc.”
Shirley Vilhalva
Figuras 4: Shirley Vilhalva
Fonte: Mapeamento das línguas de sinais emergentes: um estudo sobre as comunidades linguísticas Indígenas de Mato Grosso do Sul - Florianópolis, SC, 2009.
Como vimos, existem índios surdos nas comunidades indígenas e que
utilizam a língua de sinais.
Só que esta língua de sinais é diferente da utilizada por vocês, surdos da
cidade. Isso demonstra que a língua é um artefato cultural de cada grupo cultural e
que a língua e os costumes diferem conforme a população, a organização social e
os costumes de cada povo.
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Legal, não é mesmo? Pensar que existem índios surdos. Garanto que vocês
nunca imaginaram que eles também utilizam sinais para se comunicar como
qualquer outro surdo.
Vejam alguns dos sinais que os índios surdos utilizam:
Português: Mandioca
Guarani: Mandi’o
Português: Milho
Guarani: Avaty
Português: Cachorro
Guarani: Jagua
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Português: Gato
Guarani: Mbara Kaja
Português: Árvore
Guarani: Yvara
Figuras, 5, 6, 7, 8,9: Shirley Vilhalva
Fonte: Mapeamento das línguas de sinais emergentes- Fpolis, SC, 2009.
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De olho na prática...
Que tal imaginarmos como seriam outros sinais utilizados pelos índios
surdos?
Para isso propomos uma atividade diferente:
* Acesse o dicionário digital de libras no site indicado e procure elencar
algumas palavras relacionadas à natureza, como: sinais de animais, plantas, etc.
* Procure criar novos sinais pensando na cultura indígena.
*Lembre-se de fazer este registro fotografando e filmando.
SAIBA MAIS...
Consulte o sítio www.ines.org.br/dicionario e acesse o dicionário digital da
Língua Brasileira de Sinais – Libras.
Vejam a opinião da Professora Sueli Fernandes que é ouvinte e pesquisa a
Educação de Surdos:
Com a palavra...
“A Libras é a língua de sinais utilizada por surdos que residem em centros
urbanos de grande e médio porte. Essa é uma informação importante porque a
maioria das pessoas julga que todos os surdos utilizam a língua de sinais na
comunicação, o que é um equívoco. Geralmente, por não se apropriarem da
oralidade, os atos de comunicação de pessoas surdas manifestam-se por meio de
gestos, mímicas, apontamentos e até mesmo, dramatizações para serem
entendidos. Aos olhos leigos, toda essa gestualidade corresponde à língua de sinais,
mas ela apenas constitui formas e expressão da linguagem não-verbal.”
Sueli Fernandes
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Nesta sessão vimos que a construção da identidade do indivíduo surdo esta
relacionada às praticas sociais e interações discursivas ao longo da vida e dentro da
cultura: na escola na família, no trabalho, com os grupos de amigos. Membros de
uma cultura surda se comportam como as pessoas surdas, usam a língua da sua
comunidade e compartilham das crenças das pessoas surdas entre si e com as
outras pessoas que não são surdas. Por esse motivo falar em cultura surda significa
também evocar uma questão de identidade, Um surdo estará mais ou menos
próximo da cultura surda a depender da identidade que assume dentro da própria
cultura. Os surdos que assumem a identidade surda são representados por
discursos que os vêem capazes como sujeitos culturais, uma formação de
identidade que só ocorre entre os espaços culturais surdos.
Para que o surdo possa reconhecer sua identidade surda é importante que
ele estabeleça o contato com a sua comunidade, como forma de realizar sua
identificação com a cultura, os costumes a língua e principalmente sua diferença.
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5. Seção 2- Ilustrando a cultura surda: em foco os
artefatos culturais.
Objetivo: Discutir e problematizar a centralidade da experiência visual, como
artefato cultural que caracteriza o “Ser Surdo”, explorando as percepções,
expressões, caracterizações, registros e outras manifestações de representação da
cultura surda.
Figura 10: Mostra cultural da Escola Apas 2010
Foto: Acervo da autora.
A autora surda Karin Strobel, em seu livro “A imagem do outro sobre a
cultura surda”, narra alguns elementos importantes e que ilustram a cultura do povo
surdo. Estes elementos que vêm a constituir a cultura de um povo são chamados de
Artefatos Culturais. Mas, o que vem a ser estes elementos?
Toda cultura conta com elementos que a constituem, não é mesmo? Pense
no caso dos indígenas, como vimos no exemplo acima. Os indígenas possuem as
19
suas danças, rituais religiosos, comidas, língua, festas e tantos outros aspectos que
dão forma e sentido a seu povo. E tudo bem diferente da cultura que a gente
conhece. O mesmo ocorre com todos os povos no mundo inteiro. Do Pólo norte ao
Pólo Sul, todos os povos tem suas manifestações culturais. Isso deixa o mundo
muito mais colorido, rico e significativo, não é mesmo?
Assim, o surdo também possui suas manifestações culturais, os seus
artefatos, um pouco diferentes dos artefatos da cultura ouvinte. Isto acontece devido
a forma de perceber, entender e se manifestar visualmente que é uma forma muito
peculiar quando se fala em cultura surda.
Artefato da Experiência Visual e Lingüística do surdo.
.
Figura 11 Mostra cultural da Escola APAS.
Fonte: Acervo da autora/Prof. Zorildo
Para Strobel (2008) a “Experiência visual significa a cultura surda
representada pela utilização da visão, em substituição total à audição, como
meio de comunicação. Desta experiência visual surge a cultura surda
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representada pela língua de Sinais, pelo modo diferente de ser, de se
expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento
científico e acadêmico. A cultura surda comporta a língua de sinais, a
presença de intérpretes, de tecnologia de leitura, entre outros aspectos.
Os surdos percebem o mundo de maneira diferente, a qual provoca
reflexões de sua subjetividade: De onde viemos? O que somos? E para onde
queremos ir? Qual é a nossa identidade?
Caros alunos, ao referirmo-nos a identidade cultural sugerimos o
pertencimento a uma cultura. É no grupo social que o sujeito exercita suas
representações e dá forma a suas subjetividades, assim a comunidade desempenha
relevante papel de mediação da constituição das identidades.
Os sujeitos surdos percebem o mundo através de suas experiências visuais.
Estas percepções caracterizam o sujeito e são a centralidade das experiências de
sua aprendizagem. Vão desde o movimento silencioso dos lábios do falante até as
expressões faciais e movimentos corporais lidos visualmente pelo surdo durante
uma interlocução.
A este respeito, Strobel (2008), afirma que a experiência de ser surda em um
mundo totalmente adaptado as pessoas que ouvem embota a cultura surda e
apresenta a seguinte narrativa:
Eu estava sentada em sala de aula, em uma classe com outros alunos ouvintes, olhando distraidamente para os movimentos dos lábios da professora que estava falando; de repente, a professora parou subitamente de mover os lábios e virou o rosto assustado pela janela. Percebi que toda a turma fazia o mesmo e todos correram para olhar pela janela. Eu meio desnorteada e curiosa, fiz o mesmo para ver o que provocou toda a algazarra da turma e percebi tardiamente que tinha acontecido uma batida de carro lá fora (p.39).
Situações como esta demonstram a situação de curiosidade, desconhecimento e até
isolamento que acometem as pessoas surdas nas mais diversas situações de vida,
quando sua condição e diferença funcionam como barreira de participação social.
21
De olho na prática
Neste texto pretendemos discutir o “jeito surdo de aprender e de perceber as
coisas” e problematizar primeiramente a experiência visual enquanto artefato de
cultura que caracteriza a cultura surda.
Discuta com seus colegas o depoimento da professora Karin, procure lembrar
se com você já ocorreu uma situação semelhante e a descreva. Você pode combinar
com seus colegas e montar uma pequena dramatização. Lembre-se de registrar com
a filmadora para juntos avaliarmos.
Você sabia que existem muitos artistas surdos?
São eles pintores, escultores e atores que expressam sua arte utilizando a
língua de sinais, as expressões, o contorno das mãos e dos olhos para falar sobre a
experiência de ser surdo. Muitas de suas obras estão expostas em museus,
postadas na internet, em revistas e em outros espaços de arte. Vamos assistir a
alguns vídeos que mostram artistas que são produtores de arte surda, como: Betty
Miller’s, Rand Garber, Susan Dupor, Thad Martin e Chuck Baird. São artistas norte
americanos e começou com eles o Movimento das Artes Surdas, que procura exaltar
elementos que fazem parte da cultura surda.
No Brasil temos vários artistas surdos que se expressa através da arte.
O pastor e artista plástico Salomão Dutra Lins é um exemplo.
Ficou surdo com um ano de idade, e começou a pintar seus quadros ainda
criança. Veja abaixo o artista e uma de suas obras.
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Arte na escola de estudantes surdos
Este trabalho pertence a um grupo de surdos estudantes e foi produzido na
Escola Apas. Vejam que as mãos têm um valor representativo muito grande para os
surdos.
Figura13. Mostra cultural da Escola APAS.
Fonte: Acervo da autora/ Prof. Zorildo.
De olho na prática: Arte surda em foco
Sabia que existem muitos artistas surdos famosos e que utilizam a sua experiência
visual como forma de arte?
Podemos conhecer muitas de suas obras que estão expostas em museus,
postadas em revistas e em outros espaços de arte.
A arte busca a expressão, não é mesmo? O uso das expressões faciais é um
dos temas utilizado por muitos artistas surdos em suas obras. Que tal pesquisar e
trazer para a discussão imagens e obras de artistas surdos.
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Figura 14: Alunos da escola Apas fazendo Arte- Surda, no atelier.
Fonte: Acervo da autora/ Prof. Zorildo.
Vamos visitar os sites abaixo:
http://www.deafart.org
http://www.chuckbairdart.com/gallery---asl--deaf-related.html
http://www.duporart.com/links.html
E por falar em expressão, vamos ler a definição abaixo:
Bruno José dos Santos (2008) em seus estudos sobre a comunicação
humana comenta que “nós humanos somos considerados animais sociais, e por isso
grande parte de nossas relações depende da nossa capacidade de comunicação.
Quando falamos sobre comunicação, a primeira coisa que nos vem à mente está
relacionada com a nossa capacidade verbal. Sem dúvida nossa capacidade de falar,
escrever e criar símbolos são uma forma de comunicação essencial, entretanto,
nossas relações não se limitam ao que é dito ou descrito. Grande parte de nossa
comunicação acontece através de sinais muito mais sutis, como as expressões
corporais e faciais. As expressões faciais parecem ser particularmente importantes
para os seres humanos. A cada momento nosso rosto mostra nossas emoções e
sentimentos, comunicando ao mundo o que passa dentro da nossa cabeça. As
expressões faciais são importantes para comunicar aos outros o que sentimos.”
Fonte: http://rwww.faberludens.com.br/pt-br/node/6363. Acesso em 11 mar
2011.
25
Usando a criatividade
Com o auxílio da máquina digital, fotografe as expressões faciais de seu
grupo de amigos, professores e funcionários de sua escola.
Monte um “mural de emoções” e decore a sua sala de aula!
Figura 15. Expressões Fonte: Acervo da autora
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Libras: A lingua de sinais enquanto artefato lingüístico
Para finalizar esta seção, não poderíamos deixar de falar sobre a Libras.
Muitos tem sido os avanços conquistados pela comunidade surda, que tem obtido
afinal o reconhecimento de sua língua e cultura.
“Conhecer a Língua de Sinais não é simplesmente estar informado sobre ela e
utilizá-la como mais um recurso didático ao qual os professores podem optar ou não
pelo seu uso. Trata-se sim, de uma condição imprescindível para que a educação de
surdos se efetive..”
Kleinklein, Muller & Lockmann, (2004)
A língua de sinais é um dos aspectos fundamentais da cultura surda, incluem-
se aqui também os gestos denominados “sinais emergentes ou caseiros”, que se
referem à comunicação utilizada por muitos surdos que procuram entender o mundo
através dos experimentos visuais e comunicam-se por gestos e sinais. Esta ainda é
a realidade de muitos surdos isolados regionalmente pelo Brasil afora.
Para Strobel (2008, p.46) “o sujeito surdo ter acesso as informações e
conhecimentos e para construir sua identidade é fundamental criar uma ligação com
o povo surdo em que se usa a sua língua em comum: a língua de sinais”. Pressupõe
que é a principal marca da identidade da comunidade surda, sendo expressa através
da modalidade espacial-visual.
A autora relata que, no Brasil as pesquisas sobre a lingua de sinais iniciaram
a partir da década de 1950, por estudiosos, como: Lucinda Ferreira Brito e Ronice
Quadros consolidados na década de 1980. Neste processo vem sido enriquecido por
estudiosos surdos lingüistas, como: Ana Regina e Souza Campello (2007) e Shirley
Vilhalva (2007), que destacaram a língua de sinais, como uma língua legítima do
povo surdo.
Tendo sua gramática diferenciada, a língua de sinais não pode ser estudada
a partir da gramática da língua portuguesa, porém como esta, pode também passar
por mudanças históricas e regionais, as quais são claramente percebidas nas
diferentes gerações de surdos e o uso que fazem da língua, como por surdos
oriundos de grandes cidades com os surdos oriundos de pequenas cidades.
27
Você sabe que no Brasil a Libras é reconhecida como língua oficial das
comunidades surdas?
Veja abaixo as legislações com suas datas de publicação.
Abaixo, o site que você pode acessar para ler a lei na íntegra.
www.libras.org.br
Legislação de Libras
LEI Nº 10.436 DE 24 DE ABRIL DE 2002
DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005
LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010
De olho na Prática
Que tal encenarmos a promulgação das leis de Libras e o Decreto 5.626?
Veremos, que diferente da encenação anterior, a época é outra (2002). Você
saberia calcular quantos anos se passaram desde o congresso de Milão? Devemos
escolher um novo figurino, pois se passaram muitos anos, não é mesmo?
O que é Experiência Lingüística?
A Libras permite ao surdo maior mobilidade e fluidez nas formações
discursivas, como também fornece subsídios que o ajudam na constituição de suas
identidades frente à imposição (culturais e outras) dos ouvintes, sendo decisiva na
elaboração das formações discursivas dos surdos.
As línguas de sinais não podem ser estudadas com base na lingua oral, pois
sua gramática independe desta por ser uma modalidade visual-espacial.
Esta pode sofrer mudanças ao longo dos anos como qualquer outra lingua,
uma vez que representa o uso que cada geração faz da linguagem.
28
Aproveitem para conhecer o alfabeto manual de outros países na gravura abaixo.
Vejam como fica o nome de vocês em outras LS. Utilizem a câmera digital para
montar um banco de sinais
dif
Figura16 Alfabeto manual em diferentes países
Fonte: http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo19.pdf
Outro artefato lingüístico importante é o Sign. Writing (SW), a escrita em
sinais que surge a partir da observação da escrita de danças da Valerie Sutton no
ano de 1974, na Dinamarca. Este foi um marco importante, pois se dizia que as
línguas de sinais eram ágrafas, isto é, impossíveis de serem escritas. Esta escrita é
conhecida no Brasil como escrita em Língua de sinais (ELS), e já faz parte do
currículo dos Cursos de Graduação em Letras-Libras em várias universidades
brasileiras.
Abaixo, temos um exemplo de ELS. Conseguiu descobrir alguma semelhança
com os sinais da Libras? Esta é a escrita dos sinais, uma forma “desenhada” de
escrever o que os surdos estão falando.
Tente descobrir o que está escrito no quadro abaixo:
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Auto- avaliação:
Procure justificar suas respostas. Você pode escrever ou sinalizar. Vamos filmar
todo o processo.
Além da Libras, que outras formas de comunicação os surdos utilizam?
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Você conhece a escrita em sinais sign writing?
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Você lembra-se do número das leis de libras e de suas datas de criação?
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Procure sintetizar com o grupo de colegas as principais idéias debatidas nessa
seção sobre a Cultura Surda.
Para você o que é mais importante:
Complete com V(verdadeiro) ou F (falso)
O surdo saber Libras ( )
O surdo saber português ( )
O surdo participar da comunidade surda ( )
De olho na Prática
Vocês conhecem sinais “diferentes” dos usados pela maioria dos surdos?
Como os sinais mudaram no decorrer dos tempos? Como foram os primeiros sinais
para: homem, mulher, criança, família...
Vamos elencar estes sinais e procurar situá-los em sua origem e localidade?
Compartilhando!
Agora é momento de socializar experiências!
Acesse os vídeos que tratam de aspectos culturais da comunidade surda e
fique bem informado.
1- www.jogadasdavida.com.br http://jogadasdavida.blogspot.com
2 -Site Oficial www.signwriting.org
3- http://www.literaturasurda.com.br/
4- http://www.culturasurda.ufrgs.br/
31
5- http://www.literaturasurda.com.br/article_read.php?a=45
6- http://www.deafart.org
7- http://www.chuckbairdart.com/gallery---asl--deaf-related.html
8- http://www.duporart.com/links.html
9- www.editora-arara-azul.com
Artefato cultural familiar
Figura 17: Rosani, Maurício, Padre Wilson, Richard e Karin Strobel.
Fonte: Karin Strobel.
Quando nasce uma criança é um acontecimento na família, não é mesmo!
Todos esperam aquele bebê. Porém, ninguém espera por um filho surdo. Apenas os
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surdos contam com esta possibilidade. Neste caso, a cultura é passada
naturalmente: de pais para filhos. Nessas famílias os filhos têm informações que as
ajudam a compreender os artefatos culturais.
Na foto acima temos um exemplo típico de uma família onde todos os
membros são surdos. Mãe, filho, padrinho, madrinha e até mesmo o padre é surdo.
Seu nome é Padre Wilson, ele é um grande representante da comunidade surda
aqui em nossa cidade.
Muitos de vocês conhecem as pessoas desta foto, não é mesmo? Vejam que
linda a mensagem da professora karin, ao narrar esta experiência:
Oi, amigos!
queria compartilhar com voces as fotos de batizado de meu filho Richard.
Foi lindo e o padre wilson também é surdo, a missa foi feita tudo em lingua de sinais
direcionado para publico surdo, com interpretação de 'voz' para os ouvintes
presentes.
Minha mãe emocionou.
Só ocorreu uma situação engraçada... na hora de o padre benzer o batizado op
rick com água benta, o rick é tao forte ressistiu...que o padrinho mauricio não
conseguia abaixar a cabeça dele e então eu com um toque de dedinhos
disfarçadamente eu empurrei a cabeça dele para ajudar.. hehe!
abraços
karin strobel (sic)
Todas estas experiências ilustram a vida coletiva das famílias onde todos os
membros são surdos.
Assim, é habitual assistirem televisão sem som, todos usarem a língua de
sinais, lavarem a louça na maior barulheira sem perceber. Assim a criança surda
está incluída neste universo cultural desde o inicio. As conversas são todas em
língua de sinais e todos visualmente se informam e formam categorias de sentido.
Vejam o que dizem alguns autores:
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“O ambiente visual e a língua, o enriquecimento das interações e estas
pequena acomodações, tudo resulta num grande gasto para o desenvolvimento da
criança surda. A maioria das crianças surdas filhas de pais surdos funcionam melhor
que as crianças surdas filhas de pais ouvintes nas áreas acadêmicas, sociais e
lingüísticas. Crianças surdas de pais surdos desenvolvem um sentido de identidade
que é forte e auto governável”.
(LANE, HOFFMEISTER E BAHAN, 1992, p. 53)
Momento de opinião!
Vamos conhecer a opinião de alguns colegas surdos a respeito de suas
impressões sobre a família.
Relato do Aluno 1
Idade: 17 anos
“Em casa muito difícil, ninguém sabe Libras e fico sempre só eu no
quarto vendo televisão. Na escola é legal, converso, namoro, professor
aconselha e passeio na pizzaria e no shopping, lanchamos juntos.
Gosto de teatro na escola e da aula libras, educação física e matemática.
Português difícil aprender sou burro, não aprendo.
Na escola fico calmo, pois posso aprender e contar do trabalho, chefe não
sabe libras, só amigo um pouco. Difícil ser surdo. Sofre muito não ouvir.”(sic)
Relato do Aluno 2
Idade: 20 anos
“Em casa a irmã sabe bem profundo Libras. Conversa e aconselha eu: sexo,
futebol e namorar. Eu uso camisinha, pois AIDS, perigoso pegar sem camisinha.
Gosto da escola e dos amigos surdos, pois converso e me respondem certo. Ouvinte
não entende e erra muito Libras. Eu erro português, daí fica igual.”( risadas) (sic)
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De olho na prática...
Traga fotos de sua família, fotos de seus aniversários, casamentos, batizados,
etc. Narre como vocês se divertem, suas conversas, quais as pessoas surdas que a
representam. Depois com a ajuda do computador, vamos fazer um “álbum de
família” bem visual, todo em Libras.
Bom trabalho!
Artefato cultural: Literatura surda
Figura 18: Poesia surda na escola.
Fonte: Acervo da autora.
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A literatura surda traduz a memória das vivencias surdas e se multiplica
em diversos gêneros: poesia, história de surdos, piadas, literatura infantil, clássicos,
fábulas, contos, romance, lendas e outras manifestações culturais.
Grande parte deste acervo se encontra em CD-ROOM, vídeos e DVD, porém
muitos escritores e poetas surdos registram suas expressões em língua portuguesa,
assim a literatura surda ganhou espaço literário com livros e artigos publicados.
Um aspecto bem peculiar envolve as piadas surdas que exploram a
expressão facial e corporal, a língua de sinais e a forma de contar com naturalidade.
Na grande maioria das vezes estas piadas possuem temas ligados a situações
engraçadas sobre a incompreensão das comunidades ouvintes sobre a cultura surda
e vice e versa.
Imaginem a seguinte piada:
Um lenhador corta uma árvore.
Grita: MADEIRA!!
A árvore não cai.
Após várias tentativas, descobre que a árvore é surda, então soletra o
alfabeto manual:
M-A-D-E-I-R-A!!!
E a árvore, enfim cai.
Compartilhando:
Existem livros de literatura surda a venda no mercado editorial. São diversos
gêneros infantis, juvenis e para adultos que procuram escrever sobre as
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experiências surdas, em uma sociedade de ouvintes. Conheça alguns títulos:
Cinderela Surda, O Patinho surdo, Rapunzel Surda, Adão e Eva, entre outros.
Contato: Editora da ULBRA [email protected]
Figura 19
Fonte: http://www.literaturasurda.com.br/index.php
De olho na prática...
No Brasil temos muitos artistas surdos e que representam muito bem a comunidade.
Podemos citar, entre eles: Nelson Pimenta, Paulo Bulhões, entre outros.
Que tal assistirmos alguns vídeos e conhecer mais de perto a arte que eles
representam tão bem!
Em seguida, que tal vocês prepararem uma pequena mostra cultural, apresentando
uma piada, sinalizando um poema, contando uma história ou fazendo teatro surdo.
Bom trabalho!
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Artefato cultural: vida social e esportiva.
Figura 20. Mostra Cultural da Escola Apas.
Fonte: Acervo da autora
Este artefato representa a vida social e esportiva dos surdos. São
acontecimentos culturais muito significativos e que na cultura surda tem um sentido
todo especial. São as festas, casamentos entre surdos, atividades sociais nas
associações de surdos, eventos esportivos, entre outros.
Uma das questões bastante significativas deste artefato é a forma de
“batismo” que os surdos fazem ao escolher um sinal para representar as pessoas.
Este sinal substitui o nome próprio ao se fazer referencia a pessoa. Sejam surdas ou
ouvintes, todas recebem este “batismo” que é a escolha de um sinal visual. Este
pode ser uma característica visual da pessoa (por exemplo: o formato de um nariz
quando este se sobressai no rosto, o arquear das sobrancelhas), ou a primeira letra
do seu nome, entre outros.
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Este é o Richard, filho da Dra Karin Strobel. Ele está apresentando seu nome
e seu sinal em Libras.
Figura 21 Richard Srobel/ Fonte: Karin Strobel
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Com a palavra o surdo:
[...] os surdos eram batizados por outros surdos da comunidade ,
através de um sinal próprio e que esse seria a identidade de cada um na
comunidade surda. [...] a comunidade surda não se refere as pessoas pelo
próprio nome, mas pelo sinal recebido na hora do “batismo” quando o surdo
ingressa na comunidade [...] (DALCIN, 2007, p.205)
Nos esportes os surdos também se organizam em função de realizar um
intercâmbio dos diversos eventos esportivos. No Brasil existe a Confederação
Brasileira dos Desportos de Surdos (CBDS), Comitê Internacional de Esportes dos
Surdos (CISS), Panamericano de Deportes de Sordos (PANAMDES), Mundial Dos
Surdos (CONSUDES), com atletas surdos de vários países, Sudamericana
Desportiva de Sordos, que trabalham no sentido de realizar ações adaptativas para
surdos nas práticas esportivas. Estas requerem apenas adaptações de ordem visual.
Em um jogo de futebol no lugar do apito são utilizadas bandeirinhas coloridas.
A cada quatro anos é organizada a Olimpíada Mundial dos Surdos, com
atletas surdos de vários países. Outra manifestação cultural que caracteriza a
cultura é a forma de aplauso que os surdos utilizam. Ao invés de bater palmas com a
palma das mãos, os sujeitos surdos giram as mãos levantadas para o alto, o que
talvez equivalesse ao barulho das palmas emitidas pelos ouvintes.
Vejam que legal as tabelas preparadas para aos jogos da copa do mundo.
Observem que existe sempre a preocupação de informar visualmente,
utilizando a imagem e os sinais em Libras.
Este tipo de material ilustra bem como deve ser preparado o material para se
trabalhar com surdos, não é mesmo?
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Figura 22 : Tabela dos Jogos da Copa do Mundo.
Fonte: Karin Strobel
Figura 23: Cartaz informativo da Copa do Mundo
Fonte: Prof.Moysés Davi
41
De olho na prática...
Pesquise na internet os logos de associações e federações que pertencem a
comunidade surda.
Bom trabalho!
Artefato Cultural: materiais
Os Artefatos culturais de ordem material significam as transformações
realizadas para atender as especificidades dos surdos. Uma casa de surdos deve
servir as necessidades destes, assim deve ter a sua rede planejada para responder
aos sinais ambientais de maneira visual, não é mesmo?
Mas, como seria isso?
Aos ouvintes isto tudo pode parecer muito estranho, porém para os surdos
isso é muito natural, uma vez que gozam de uma forma visual de percepção. Então,
o telefone não toca e sim pisca, acende a luz ou vibra. A campainha da porta, idem.
São muitas as formas de adaptação material e isso demonstra o quanto os surdos
têm avançado em suas lutas por seus direitos.
Veja alguns dos materiais que foram desenvolvidos pensados na cultura
visual do povo surdo:
O TDD ou TS (telefone de surdos), a “babá” eletrônica que emite sinais
luminosos quando o bebê chora, legendas em close-caption, despertador com
vibrador, mensagens de texto (SMS) nos celulares, entre outros que os avanços
tecnológicos e de informação vão criando a passos galopantes.
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APRENDENDO com as TECNOLOGIAS
TDD
INFORMÁTICA
VÍDEO
Figura 24: Artefato materiais.
Fonte: Acervo da autora
Momento de opinião
Relato Aluno 3
Idade 38 anos
“Em casa tenho campainha de luz. Quando chega visita eu vejo a luz pisca.
Telefone, igual. Eu sei que pisca e chamo filha pra ver. Gosto do celular,
mensagem bom. Fácil português pequeno. Entendo e respondo.
Antes difícil,surdo não tinha nada. “Dependia do ouvinte pra tudo.”
Relato aluno 4
Idade 29 anos
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“Eu jogar bem futebol. Gosto vôlei e basquete. No trabalho jogo no intervalo
do almoço com amigos ouvintes. Combinamos sinal e fica fácil. Ouvinte gosta de
aprender sinal. Meu trabalho muitos amigos aprenderam. Mas na hora de conversa
muita pessoa junto, fico isolado.”
Relato aluno 5
Idade 25 anos.
“Piada surda engraçada. Surdo gosta teatro. Então piada fica engraçada.
Surdo faz cara boa e todos entendem a cara do surdo. Não precisa falar.
A cara do surdo fala igual.
Como podemos ver todos estes artefatos tem o papel de significar e
representar a cultura surda e o sujeito.
De Olho na prática.
Vamos fazer um passeio até o centro da cidade e fotografar situações que
ilustrem a acessibilidade. Vale qualquer tipo, rampas para deficientes, faixa para
cegos, etc. Será que encontraremos algum tipo de sinalização ou adaptação para
surdos?
Vale a aposta!
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Síntese
Nesta seção vimos que a construção da identidade do indivíduo surdo esta
relacionada as praticas sociais e interações discursivas ao longo da vida e dentro da
cultura: na escola na família , no trabalho, com os grupos de amigos. Membros de
uma cultura surda se comportam como as pessoas surdas, usam a língua da sua
comunidade e compartilham das crenças das pessoas surdas entre si e com as
outras pessoas que não são surdas.
Por esse motivo falar em cultura surda significa também evocar uma questão
de identidade, Um surdo estará mais ou menos próximo da cultura surda a depender
da identidade que assume dentro da própria cultura. Os surdos que assumem a
identidade surda são representados por discursos que os vêem capazes como
sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre entre os espaços
culturais surdos.
Para que o surdo possa reconhecer sua identidade surda é importante que
ele estabeleça o contato com a sua comunidade, como forma de realizar sua
identificação com a cultura, os costumes a língua e principalmente sua diferença e
suas singularidades.
Os artefatos culturais elencados mencionam a experiência visual e a
utilização e difusão das línguas de sinais. Para que o surdo possa reconhecer-se em
sua identidade é importante entender-se como sujeito, compartilhando e convivendo
com sua comunidade, como forma de realizar sua identificação com a cultura, os
costumes, a língua e principalmente as suas diferenças. Entender-se nas suas
singularidades, reconhecer-se sujeito visual e não auditivo, porém com as mesmas
possibilidades, coloca o surdo numa posição de sujeito apoderado e consciente de
seus direitos. Para isso é importante que conheça sua cultura e dela participe.
Hoje, amparados pela Lei nº 10.436, editada em 24 de abril de 2002, assim
como o decreto 5626, de 22 de dezembro de 2005 e o artigo 18 da Lei Federal
10.098/2008, reconhecendo a Libras como língua oficial, o surdo tem o direito de
exercer sua língua natural de forma natural e de se estabelecer enquanto sujeito
aculturado. Portanto um momento ímpar, um marco de conquista histórica para os
surdos no Brasil.
45
6. Seção 3 - A imagem do outro: Um trabalho com
fotografia na escola de Surdos.
Figura 25: ilustração - Tania Miranda Fonte: Acervo da Autora
“A magia da fotografia está na sua simplicidade...
Na possibilidade de (re) descobrir os sentidos... Novas sensações... Outras emoções...
Instrumento de transformação... Evolução. Alquimia dos sonhos (ir) reais de cada dia. Ver o mundo com olhos novos.
Diálogo... forma concreto-abstratas. Expressão do verbo-olhar. Linguagem de comunicação.
Movimento permanente da nossa memória. Infinito tempo... Cronista da história. “Existência.”
Ricardo Peixoto- fotografo e foto- ativista- Guia Foto libras.
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Figura 26: Aluno: Marcelo. Sinalizando: Primeiro
Fonte: Prof.Zorildo/Prof. Leila
1. Apresentando a seção.
- Compreender o processo da formação de imagem, os processos e recursos de
revelação e seu valor enquanto ícone indexical (uso da imagem como índice
simbólico)
-Difundir e enriquecer o acervo cultural das comunidades surdas suas
representações e seus artefatos culturais, através de oficinas temáticas de
fotografia.
-Discutir e problematizar a centralidade da experiência visual, como artefato cultural
que caracteriza o “Ser Surdo”, explorando as percepções, expressões,
caracterizações, registros e outras manifestações de representação da cultura
surda.
- Estimular o ensino da fotografia como ferramenta pedagógica na escola de surdos.
47
Figura 27:Aluno Marcelo. Sinalizando: Percebendo
Fonte: Prof. Zorildo /Prof. Leila
2. Visualizando a seção.
A motivação inicial ao pensar esta atividade foi o desejo de criar oportunidades
para a expressão a partir da criação de imagens fotográficas uma vez que estas
possuem uma relevância especial para os surdos, sendo que o ato de fotografar e
de realizar a leitura da imagem não depende do conhecimento de nenhuma língua
falada ou escrita. A fotografia é uma forma de expressão visual, assim como a
Libras, e pode servir como meio de comunicação entre pessoas que sabem e as que
não sabem Libras. É importante dizer que a fotografia não é uma língua
independente das formas de comunicação elaboradas pelo ser humano ao longo da
história. A fotografia depende sim, e muito, das demais línguas em todas suas
formas: escritas, faladas e sinalizadas, pois estas são partes constituintes das
culturas nas quais estamos inseridos. Ao fotografar, criamos imagens que estão
ligadas a nossa cultura, língua, experiência, formação e criatividade.
Estas atividades que serão desenvolvidas na escola Apás, têm como objetivo
promover a “voz” dos surdos, capacitando-os com habilidades para documentar e
48
divulgar suas próprias idéias, dialogar e participar de decisões políticas, sociais e
culturais que afetam a sua vida. Este é um processo importante para se colocarem,
dialogarem com o mundo, seja em sua família, comunidade e sociedade, uma forma
de empoderamento de grupos que tem pouco ou nenhum acesso aos meios de
comunicação.
Figura 28: aluno Marcelo. Sinalizando: Fotografando
Fonte: Prof. Zorildo / Prof. Leila
3. Iniciando o curso: Luz, câmera, ação...
“O ato de fotografar e de realizar a leitura da imagem não depende de
conhecimento de nenhuma língua falada ou escrita. A fotografia é uma forma de
expressão visual, assim como a Libras, e pode servir como meio de comunicação
entre pessoas que sabem e as que não sabem Libras. A fotografia depende sim, e
muito, das demais línguas em todas suas formas: escritas, faladas e sinalizadas,
pois estas são partes constituintes das culturas nas quais estamos inseridos. Ao
49
fotografar, criamos imagens que estão ligadas a nossa cultura, língua, experiência,
formação e criatividade”.
Fonte:http://www.fotolibras.org/pdf/guia_fotolibras_total.pdf. Acesso em 11
mar 2011
Nesta parte do projeto, apresentaremos e introduziremos as temáticas centrais de
cada atividade divididas em sete etapas, que podem ser misturadas e não precisam
ser seguidas nesta ordem:
Atividade 1- Exercitar e despertar o olhar Atividade 2- Percebendo a imagem.
Atividade 3- Acontecendo à imagem. Atividade 4- Caracterizando a experiência surda: O Olhar Surdo.
Atividade 5- Uma imagem na cabeça, Uma câmera na mão. Atividade 6- Descobrindo a imagem. Atividade 7: Avaliando o projeto. Atividade 1 Exercitando e despertando o olhar. Apresentação dos slides com imagens que ilustram à cultura surda e sua produção cultural, retomando as discussões referentes às sessões1 e 2 deste fascículo. Objetivo: Despertar os sentidos trabalhando o olhar, a fim de perceber a importância deste elemento na cultura visual que caracteriza a cultura surda, sensibilizando e despertando os sentidos para a arte de fotografar. Como fazer: Estimular os sentidos; Uso da câmera crachá ou moldura, que consta de um recorte na imagem a ser observada. Registro das observações através de desenhos. Mural de Desenhos.
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Figura 29: ilustração da câmara crachá ou moldura Fonte: acervo da autora
Atividade 2 Percebendo a imagem. Objetivo: Perceber como ocorrem as produções de imagem. Como fazer: O cianótico é um produto químico que reage com a luz do sol. Os alunos passam o produto no papel canson e sobre ele colocam objetos e negativos. Ao ser expostos a luz forma-se o negativo das imagens.
Figura 30: Impressão com cianótico. Fonte: Guia foto libras- feneis – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
51
Embora o mundo esteja inundado de imagens, é comum ter uma relação
superficial com elas. Muitas vezes, nem nos damos conta da mensagem que essas
imagens nos passam sendo necessário exercitar essa “alfabetização visual”,
trazendo conceitos básicos. Isso é um exercício muito rico para estimular a
expressão subjetiva e a análise crítica.
Atividade 3
Acontecendo a imagem.
Objetivo Compreender a dinâmica da formação das imagens e sua captação na
máquina fotográfica.
Como fazer: Apresentação da “câmera Pin Hole” (latinha).
Confecção da câmera artesanal utilizando a reciclagem de materiais como; latas
vazias, embalagens, papelão, papel preto fosco,
É central para a comunidade surda o direito à comunicação. Estimular canais
de expressão que proporcionem possibilidades de surgimento de protagonistas e
que valorizem a diversidade cultural é fundamental para garantir a comunicação
para todos. Para isso, são necessárias abordagens educacionais diferenciadas, que
respondam aos contextos e realidades diversas.
A fotografia pinhole é uma técnica de obtenção de fotografias resultantes de
projeções (imagens) produzidas por furos, ao invés de lentes, como ocorre na
fotografia tradicional. Para tanto, deve ser utilizado um recipiente bem protegido da
luz solar, onde é feito um furo. A tradução de pinhole significa “buraco de agulha",
uma analogia ao pequeno furo que deve ser feito para a construção de uma câmera
52
obscura - e muitas vezes utilizamos as próprias agulhas como instrumento
perfurante, como no caso das latas de leite em pó.
A fotografia pinhole é uma união de conhecimentos físicos (a câmara obscura) e
químicos (materiais fotossensíveis): a câmera obscura possibilita a produção de uma
imagem e os materiais fotossensíveis (filmes e papéis fotográficos) permitem
registrar essa imagem.
Atividade 4
Caracterizando a experiência surda: O Olhar Surdo
Objetivo Selecionar temas para a captação de imagens a partir de sinais e palavras
que caracterizem a experiência visual e lingüística, enquanto artefatos que ilustram a
cultura surda, compreendendo como se dá a captação e a formação de imagens.
Para isso a dica é assistir ao vídeo “Luz, câmera, ação popular” no site
www.youtube.com
Figura 31: Visita ao Museu Fonte: Acervo da autora/ Prof. Zorildo.
53
Como fazer:
Quando olhamos para uma cena qualquer, não estamos sentindo diretamente os
objetos que a compõem, mas sim a luz refletida por eles. Esta cena também inclui
as próprias fontes luminosas e tão importantes quanto estas duas - áreas menos
iluminadas. A cena que vemos é composta por um infinito número de pontos com
diferentes níveis de luminosidade. Cada ponto nesta cena é muitas vezes iluminado
por um bom número de fontes luminosas, cada uma contribuindo para a qualidade
da iluminação. Em uma cena externa, a fonte principal é obviamente o sol, mas
também todo o céu e a luz refletida pelos objetos também contribuirão para a
qualidade da iluminação.
Os raios luminosos são refletidos por cada ponto em todas as direções. Isto é fácil
de demonstrar: eu observo um objeto qualquer em uma determinada posição. Ao me
deslocar, mudando o ponto de vista, eu continuo vendo este objeto; portanto, a luz é
refletida por ele em todas as direções.
Quando produzimos uma imagem (seja com uma câmera, ou com nosso próprio
olho) o que de fato vemos são estes pontos luminosos, raios que se deslocaram do
objeto até nosso olho em linha reta. Isto também é simples de demonstrar: se entre
o observador e o objeto é colocado uma superfície opaca, não se vê mais o objeto,
pois os raios de luz não fazem curvas!
A fotografia e a projeção de imagens existem pelo mesmo motivo que nos leva a
enxergar. A fim de produzir uma imagem, precisamos que para cada ponto da cena
original exista um ponto luminoso correspondente, registrado em uma superfície
bidimensional. A reunião de todos estes pontos formará a imagem. Mas se só
estendermos um papel fotográfico, não teremos uma imagem, pois cada ponto da
cena iluminará ou não (dependendo do ponto) todos os pontos do cartão da mesma
forma, criando um cinza uniforme, e não uma imagem.
Para formar uma imagem (uma projeção visível), temos que restringir a luz deste
ponto (fonte) para iluminar (formar) apenas um ponto luminoso na superfície dessa
imagem. O comum em uma câmera fotográfica é o trabalho da lente convergente e
direcionar os raios dispersos em uma reflexão em um único ponto em nosso plano
de projeção, onde está o filme.
Outra maneira é restringir a abertura por onde passa a luz, fazendo com que só um
estreito feixe de luz refletida pela cena chegue ao plano de imagem. E por sua
54
trajetória retilínea característica, estes poucos raios iluminarão apenas um ponto no
plano da imagem, compondo com os demais pontos a imagem.
Quanto maior for a abertura feita, maior será a faixa de raios interceptada, e mais
pontos serão formados, provocando maior interseção entre eles. Isto irá afetar
diretamente na nitidez dessa imagem.
Portanto, este furo deve ser o menor possível (Figura 3), e é por isso que, em inglês,
recebe o nome de pinhole (buraco de agulha).
Existem diferenças ao utilizarmos lentes, um espelho curvado ou um furo para obter
imagens. A lente convergente apanha a luz de uma grande área, concentrando - em
um plano de projeção, criando uma imagem muito mais luminosa. Sendo esta sua
principal vantagem, é a escolha na manufatura das câmeras fotográficas
convencionais.
Mesmo assim, a pinhole apresenta suas vantagens. Lentes são, de longe, muito
mais difíceis de serem manufaturadas e ajustadas, envolve um trabalho
extremamente qualificado e preciso. Já a tolerância admitida pela abertura pinhole
para a formação de uma imagem permite que qualquer pessoa possa construir uma
câmera. E muito do conhecimento necessário para entender a fotografia está, em
sua forma mais simples, na fotografia pinhole.
Fonte: www.eba.ufmg.br/~cfalie. Acesso em 22 abr 2011
Atividade 5
Uma imagem na cabeça, uma câmera na mão.
Objetivo: Registrar a imagem selecionada, a partir da observação da incidência da
luz do sol e da sombra projetada sob o objeto selecionado.
Como fazer: Expor a “câmera pinhole” à luz do sol e registrar a imagem selecionada
na aula anterior. Para formar uma imagem temos que restringir a luz deste ponto
(fonte) para iluminar (formar) apenas um ponto luminoso na superfície dessa
55
imagem. O comum em uma câmera fotográfica é o trabalho da lente convergente e
direcionar os raios dispersos em uma reflexão em um único ponto em nosso plano
de projeção, onde está o filme.
Quanto maior for a abertura feita, maior será a faixa de raios interceptada, e mais
pontos serão formados.Portanto, este furo deve ser o menor possível e é por isso
que, em inglês, recebe o nome de pinhole (buraco de agulha).
Existem diferenças ao utilizarmos lentes, um espelho curvado ou um furo para
obter imagens. A lente convergente apanha a luz de uma grande área, concentrando
- em um plano de projeção, criando uma imagem muito mais luminosa. Sendo esta
sua principal vantagem, é a escolha na manufatura das câmeras fotográficas
convencionais.
Mesmo assim, a pinhole apresenta suas vantagens. Lentes são, de longe, muito
mais difíceis de serem manufaturadas e ajustadas, envolve um trabalho
extremamente qualificado e preciso. Já a tolerância admitida pela abertura pinhole
para a formação de uma imagem permite que qualquer pessoa possa construir uma
câmera. E muito do conhecimento necessário para entender a fotografia está, em
sua forma mais simples, na fotografia pinhole.
Fonte: www.eba.ufmg.br/~cfalieri
Atividade 6
Descobrindo a imagem.
Objetivo: Revelação das fotografias, vivenciando o processo de surgimento das
imagens em preto e branco.
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Negativo Positivo
Como fazer: As imagens serão reveladas na escola em um ambiente improvisado
em um banheiro, que funcionará como um laboratório fotográfico. (câmara escura).
Material necessário:
Para a montagem do laboratório preto e branco será necessário providenciar:
· Revelador para papéis. Pacotes de 1 ou 5 litros.
· Fixador para papéis ou filmes
· Revelador D - 76 - para filmes.
· 3 bandejas grandes para os banhos de papéis;
· 3 bandejas pequenas para revelar tiras de filmes;
· 3 pinças para manejar os químicos. É bom identificá-las e usar sempre a mesma
para cada um dos químicos;
· Varal e prendedores de roupa, para pendurar as fotografias depois de lavadas;
· Termômetro: se a temperatura dos químicos estiver muito abaixo ou acima dos 20°
C, é preciso
esquentar o revelador em banho-maria ou resfriá-lo na geladeira;
· Baldes em separado para a diluição do revelador e do fixador;
· Bombonas plásticas para guardar os químicos em solução de estoque, em
separado para
revelador de papel e de filme, assim como para fixador de papel e de filme
(interruptor pode ser na mesma, pois depois de usado vai fora);
· Rabo quente para esquentar a água do banho-maria, quando necessário;
· Jarras para medir quantidades de químicos e esquentá-los ou esfriá-los;
· Recipiente para lavar as fotografias após o banho no fixador. O importante é água
corrente, para que as fotografias fiquem bem lavadas;
· Lanternas de segurança com lâmpadas vermelhas. Precisam ficar distantes cerca
de dois metros de onde estarão as bacias e fontes de luz para o positivo;
57
· Fonte de luz para fazer os positivos. Não precisa ser um ampliador, pode ser usado
um abajur ou alguma lâmpada, no caso de cópias de negativos em papel.
Atividade 7
Resultados.
Montagem de mural e álbum fotográfico a partir do material produzido nas oficinas
de fotografia;
Atividades de reflexão sobre a experiência;
Apresentação dos resultados para a comunidade na Mostra de Cultura, a ser
realizada na escola;
Síntese
A motivação inicial ao pensar esta atividade foi o desejo de criar oportunidades
para a expressão a partir da criação de imagens fotográficas uma vez que estas
possuem uma relevância especial para os surdos, sendo que o ato de fotografar e
de realizar a leitura da imagem não depende de conhecimento de nenhuma língua
falada ou escrita. A fotografia é uma forma de expressão visual, assim como a
Libras, e pode servir como meio de comunicação entre pessoas que sabem e as que
não sabem Libras. É importante dizer que a fotografia não é uma língua
independente das formas de comunicação elaboradas pelo ser humano ao longo da
história. A fotografia depende sim, e muito, das demais línguas em todas suas
formas: escritas, faladas e sinalizadas, pois estas são partes constituintes das
culturas nas quais estamos inseridos. Ao fotografar, criamos imagens que estão
ligadas a nossa cultura, língua, experiência, formação e criatividade.
Pesquisadores e Educadores, professores surdos e professores ouvintes têm
como objetivo comum auxiliar a promover a “voz” dos surdos, oportunizando e
capacitando-os com habilidades para documentar e divulgar suas próprias idéias,
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dialogar e participar de decisões políticas, sociais e culturais que afetam a sua vida.
Este é um processo importante para se, posicionarem, dialogarem com o mundo,
seja em sua família, comunidade e sociedade. Uma forma de empoderamento de
grupos que tem pouco ou nenhum acesso aos meios de comunicação.
Esperamos que este trabalho auxilie a você, aluno e professor, a pensar a
Cultura Surda e todas as outras formas e manifestações culturais que ilustram e
colorem o mundo, de uma forma bem especial, com um jeito novo de olhar e de
pensar as diferenças.
Bom trabalho!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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