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Zeca Afonso: Memórias que o tempo não apagou p. 4 e 5 www.issuu.com/postaldoalgarve 8.238 EXEMPLARES Vida feitade mar ganha concurso Olhar a Vid a p. 6 Espaço Cria: Crowdfunding, resposta em tempo de crise p. 2 Grande ecrã: Cineclube de Faro exibe Sobibor p. 3 O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N: Novembro p. 10 Espaço património: Tavira e a sua História p. 9 Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO NOVEMBRO 2013 n.º 63 D.R. D.R. D.R. D.R. D.R. JOSÉ DUARTE

CULTURA.SUL 63 - 8 NOV 2013

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• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 8/11) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > ESPAÇO CRIA: Crowdfunding, uma resposta em tempo de crise... que veio para ficar, por Ana Lúcia Cruz > GRANDE ECRÃ: Cineclube de Faro: Novembro em cheio > PANORÂMICA: Memórias que o tempo não apagou, meio século depois, por Luís Andrade > NA SENDA DA CULTURA: DUARTE ganha concurso fotográfico Olhar a Vida, por ALFA > MOMENTO: Graffiti, arte pública, por Vítor Correia > SALA DE LEITURA: Em defesa do não-leitor, por Paulo Pires > OS SENTIDOS DA VIDA A 37ºN: Novembro, por Pedro Jubilot > ESPAÇO CULTURA: Equipamentos culturais no Algarve: uma lógica de arquipélago, por DRCALg

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Zeca Afonso:

Memórias que o tempo não apagou

p. 4 e 5

www.issuu.com/postaldoalgarve8.238 EXEMPLARES

Vida feitade mar ganha concurso Olhar a Vida

p. 6

Espaço Cria:

Crowdfunding, resposta em tempo de crise

p. 2

Grande ecrã:

Cineclube de Faro exibe Sobibor

p. 3

O(s) Sentido(s)da Vida a 37º N:

Novembrop. 10

Espaço património:

Tavira e a sua História

p. 9

Mensalmente com o POSTAL

em conjuntocom o PÚBLICO

NOVEMBRO 2013n.º 63

d.r.

d.r.

d.r.

d.r.

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.

josé duarte

08.11.2013 2 Cultura.Sul

Quem está longe dos inter-nautas está, hoje e em grande medida, longe da vista e, já diz o ditado, longe da vista, longe do coração.

O sítio na internet da Direcção Regional de Cultura (DRCAlg) existe e o património sobre a sua tutela directa marca ali presença, mas a simples presença na web não chega. O sítio é pouco atrac-tivo visualmente, desarrumado estruturalmente e, por via disso e de uma plataforma desajustada, é muito pouco amigável para o utilizador.

Urge uma remodelação pro-funda e uma nova forma de es-tar na net para a DRCAlg e para os monumentos regionais, bem como, para toda a restante mi-ríade de conteúdos que o actual sítio contém. Sabe-o a Direcção regional, e sabe-o quem visita o sitío e não há razão bastante, seja ela qual for, que justifique não encarar este problema de frente.

A importância turística do Al-garve e as necessidades da pró-pria região impõem que algo seja feito e de preferência para ontem.

Isto é tão mais verdade quanto o sítio da DRCAlg tem já conte-údos de qualidade e de relevo. Áudio-guias para os Castelos de Paderne e de Aljezur (monumen-tos sem guardaria permanente), que permitem uma visita acom-panhada aos turistas, bastando para tanto que em casa ou no lo-cal façam o respectivo download dos ficheiros.

Ali estão também materiais didácticos para as visitas es-colares ou para os pais propo-rem como desafios aos filhos nas visitas aos monumentos e ali moram também descrições bem conseguidas de cada um dos monumentos que permi-tem ao visitante, em antecipa-ção ou no próprio local, aceder a informação qualificada.

O grosso do trabalho está feito, o desafio é arrumá-lo e traduzi-lo para outros idiomas e colocar o trabalho dos profis-sionais da DRCAlg à disposição de quem precisa quando preci-sa. Sem delongas nem engulhos que a sociedade da informação não perdoa.

Longe da net, longe da vista

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• Contos da Ria Formosa:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Ana Lúcia CruzJaquelina CovaneiroMariana RamosPaulo Serra

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:8.238 exemplares

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial

Crowdfunding, uma resposta em tempos de crise… que veio para ficar

As plataformas de Crowdfun-ding têm vindo a representar, de uma forma positiva, uma boa solução para quem pretende financiamento para a sua ideia de negócio. De uma forma ge-ral, são plataformas de financia-mento coletivo que permitem a muitos empreendedores con-cretizarem ou iniciarem os seus projetos, através do acesso a pe-quenas verbas atribuídas por to-dos aqueles que estejam interes-sados em ajudar. Associadas a essas verbas, estão recompensas que variam mediante o valor do apoio. Em tempos de crise, onde o capital próprio é uma mira-gem e as limitações do acesso à banca são muitas, estas plata-formas têm desempenhado um papel muito importante no fo-mento ao empreendedorismo. Arrisco-me, inclusivamente, a lançar um cenário de grande crescimento que, a longo prazo, será difícil de ignorar. A prova disso é o crescente interesse, por

parte da Comissão Europeia, no possível alargamento (da esfe-ra de influência) destas plata-formas, a um nível internacio-nal. Não sem, antes, identificar de forma clara as vantagens e

desvantagens do Crowdfunding e de salvaguardar a confiança dos cidadãos nestas ferramentas de captação de financiamento. Apesar de ser completamente a favor deste tipo de platafor-mas, percebo estas preocupa-ções, pois os desafios que se colocam à escala local, não são os mesmos quando falamos em outro tipo de mercado (global). E neste contexto, algumas ques-tões podem ganhar mais rele-

vância. Não me refiro à questão do montante atribuído, até porque cada um disponibiliza a verba que pode e esta só lhe é retirada após a percentagem mínima de financiamento ser

alcançada, mas (apenas um exemplo) à questão das re-compensas. Quanto maior for o montante atribuído, melhor é a recompensa e isto pode re-presentar um sério problema, caso o promotor não consiga cumprir com o “prometido”. Nessa situação, de nada adian-ta as plataformas salvaguarda-rem-se com políticas de desres-ponsabilização, pois este tipo de incidente abala a confiança

dos apoiantes, denegrindo em muito este tipo de estruturas. Outra questão, que me preocu-pa, diz respeito ao uso devido do financiamento. Caso o pro-jeto não se concretize, quem garante o fácil reembolso aos apoiantes do projeto? Estas são apenas algumas das questões que considero pertinentes as-segurar e por isso compreendo as preocupações da Comissão Europeia. No entanto, também acredito que exista por parte destas plataformas, ainda bas-tante recentes, um grande in-teresse em dar respostas a estas preocupações. Afinal, não nos podemos esquecer que depen-dem diretamente do sucesso dos projetos submetidos e da confiança que os apoiantes de-positam neste serviço. Ou seja, uma boa reputação atrai mais apoiantes, logo mais empreen-dedores para a submissão de projetos. No entanto, temos de imaginar estas questões a uma escala global, onde as leis de mercado são diferentes de país para país.

Mesmo que estas questões não sejam ultrapassadas, con-tinuo a acreditar no futuro do financiamento coletivo, onde o principal “Business Angel” é o mais comum dos mortais, que indiretamente acaba por validar ou não a ideia de ne-gócio antes de esta chegar ao mercado.

Uma opinião alheia

Eu gosto de discutir opini-ões. É algo que considero im-portante; pode-se aprender algo com toda a gente, e até o mais ínfimo detalhe pode mudar drasticamente um ponto de vista. E, quem sabe, esse pormenor não mudará o meu? Não custa tentar, esta-mos cá para aprender.

Mas depois, numa troca de

ideias em conversa de ocasião, saltam-me com esta:

“São opiniões, cada um tem a sua. Não devias estar a ten-tar mudar a dos outros, são coisas que não se discutem”.

Ora essa. Muito pelo contrá-rio. Opiniões são para serem discutidas. Vejam, quando me refiro a opiniões, refiro-me a pontos de vista com o nosso cunho de personalidade, mas baseados em factos e com um mínimo de discernimento, não divagações infundadas de mentes confusas. E é mais que saudável conhecer os por-quês de uma maneira de pen-sar diferente. A opinião dis-cutida pode até não mudar, mas a consciencialização de

que existe uma mentalidade distinta pode, e deverá, alte-rar de algum modo a nossa

maneira de agir.Contudo, a estigmatização

da opinião como algo estri-tamente pessoal, imutável e indiscutível, torna a comuni-cação e o avançar das coisas muito mais lento e rígido. Como é que eu posso deba-ter com alguém que, à parti-da, terá sérias probabilidades de se ofender com o questio-nar das suas ideias? Ou com alguém que considera a sua opinião de tal forma magis-tral, que se recusa a maculá-la com a mentalidade alheia? En-sinam-nos a questionar tudo, não podemos também ques-tionar-nos uns aos outros?

Mas é como dizem: Isto é só a minha opinião.

d.r.

d.r.

Espaço CRIA

Ana Lúcia CruzGestora de Ciência e Tecnologia do CRIA – Divisão de Empre-endedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

Mariana RamosEstudante

08.11.2013  3Cultura.Sul

Espaço AGECAL

Com a análise dos recursos cul-turais regionais, no último texto aqui publicado, abordámos de for-ma muito sintética e breve, a ori-gem histórica dos museus.

Do ponto de vista conceptual, duas perspectivas coabitaram ao longo dos séculos.

Por um lado, a definição de mu-seu de Comenius como um “lugar onde o sábio, separado dos homens, sentado sozinho lê os livros sem pa-rar”, uma ideia que se confunde com a de biblioteca e com um trabalho individual. Com efeito sempre objetos e livros coexisti-ram nos mesmos espaços e ainda hoje o ensino dá especial valor ao esforço do indivíduo e a selecção é realizada com base na apreciação individual.

A perspetiva enciclopédica e uni-versal de museu, que terá sequên-cia nos séculos seguintes, assumiu particular relevância durante o Re-nascimento, com o aparecimento da ideia da exposição como um te-atro e a tentativa de classificação dos objectos, relacionada com a normativa e clássica subdivisão en-tre “ciências puras” ou “técnicas” e as “ciências humanas”.

O primeiro impulso foi consi-derar museu o lugar onde “tudo

o que existe é estudado”, logo se verificou a impossibilidade e que a musealização deveria ser contex-tualizada, o que deu origem ao fe-nómeno dos “ecomuseus” surgido com grande intensidade nas últi-mas décadas do século XX.

A função pedagógica e educativa nos museus começa a desenvolver--se a partir da Revolução Francesa, com a democratização gradual do acesso ao conhecimento e a criação da escola pública que acabou com o monopólio do ensino religioso.

As funções dos museus foram--se estabelecendo e hoje as tarefas decorrentes são desenvolvidas por equipas especializadas, profissio-nalizadas e trabalhando de forma continuada. Resumidamente: A in-vestigação no território e a identifica-ção de ocorrências e objectos que analisa da importância, relevância simbólica, histórica ou artística para as coleções. Neste âmbito sur-gem as equipas pluridisciplinares internas ou externas ao museu.

No caso do Algarve, foram iden-tificados pelos investigadores do século XIX estruturas de povoa-mentos da Antiguidade, caso de Milreu e da colecção de lapidaria romana do Museu de Faro, tam-bém estruturas islâmicas visíveis e

musealizadas em cidades algarvias como Silves ou Tavira

O património industrial algarvio tem o seu museu mais destacado em Portimão, dedicado às activida-des das conservas de peixe daquela cidade.

O estudo e documentação per-mite organizar as ideias com vista à musealização, onde se inclui as tarefas de registo e inventário.

Praticamente todos os museus constituídos no Algarve desenvol-vem estas tarefas e a própria Rede de Museus do Algarve – RMA pos-sui grupos de trabalho que acom-panham e trocam experiencias de boas práticas nestes domínios

A preservação envolve opera-ções de conservação e restauro, o depósito e armazenamento em condições que garantam a salva-guarda futura.

É um dos problemas maiores com que se deparam os museólo-gos, uma vez que a construção de depósitos tem custos elevados e sem visibilidade social, ocupam es-paços amplos e exigem condições ambientais de higiene sanitária, temperatura e humidade

A exposição é um mundo com-plexo envolvendo todas as funções do museu e o conjunto das espe-cialidades no âmbito da museolo-gia, como a museografia, isto é, as técnicas expositivas, do design de comunicação à luminotecnia, da pedagogia ao catálogo.

Os museus de São Brás e Tavira têm dedicado especial atenção à investigação e exposição sobre o património material e imaterial. A exposição “Algarve, do Reino à Região” realizada pela RMA, foi

uma exposição conjunta e pio-neira de uma nova forma de tra-balho de investigação e exposição em rede, área onde o Algarve está mais avançado.

A divulgação e comunicação são funções que, no mundo atu-al onde a imagem e a informação predominam, exige atenção cres-cente sob pena de não existir co-nhecimento das actividades e con-sequentemente visitantes

A educação tem vindo a ganhar relevância nos museus através dos seus serviços educativos e progra-mas de cooperação com as esco-las, visitas orientadas não apenas às exposições e aos monumentos da cidade, mas também oficinas temáticas e de exploração da cria-tividade.

No Algarve o CIIP de Cacela, es-trutura ligada a Vila Real de Santo António, introduziu com sucesso já há anos os ciclos regulares de passeios temáticos de interpreta-ção do património.

O património imaterial possui uma crescente relevância na vida dos museus e das populações e nesse aspecto o Algarve possui uma enorme riqueza de expressões

AGECAL – Associação de Gestores Culturais do Algarve

Grande ecrã

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

14 NOV | LINHAS DE WELLINGTON, Valéria Sarmiento, França/Portugal 2012 (135’) M/1217 NOV | SEVEN PSYCHOPATHS (SETE PSI-COPATAS), Martin McDonagh – Reino Uni-do 2012 (110’) M/1621 NOV | DUPA DEALURI - BEYOND THE HILLS (PARA LÁ DAS COLINAS) , Cristian Mungiu, Roménia/França/Bélgica 2012 (150’) M/12

28 NOV | HODEJEGERNE (HEADHUNTERS - CAÇADORES DE CABEÇAS), Morten Tyl-dum – Noruega/Alemanha 2011 (100’) M/16

Novembro em cheioNovembro é fortíssimo no

Cineclube de Faro. No IPJ, con-tamos “Variações em Mal Me-nor” - com Dentro de Casa, um dos melhores filmes de Fran-çois Ozon, que, usando alguns temas de carácter hitchcockia-no (voyeurismo, manipula-ção), afirma a cada passo toda a perversidade entre realidade e ficção; sem qualquer ficção, baseado em acontecimentos históricos, Hannah Arendt re-corda o momento em que esta filósofa alemã foi convidada pelo New York Times para acompanhar o julgamento em Jerusalém do nazi Eichmann: a “Banalidade do Mal” foi o conceito que dali resultou; se-guidamente, um filme sobre a doença que insidiosamente se instala, nos persegue e nos atormenta – e do que fazer com ela e a partir dela: E Ago-ra? Lembra-me, filme ovaciona-do no recém DocLisboa, é um testemunho biográfico como-vente, urgente e necessário do realizador Joaquim Pinto e do

seu marido Nuno Leonel, tam-bém ele realizador português. «Um autêntico acontecimento cinematográfico, um filme-vida para guardar como experiência única, um dos mais belos teste-munhos em cinema de uma alma humana a revelar-se.», como es-creveu Nuno Carvalho. Fecha-mos com Sobibor, de Claude Lanzmann: «Através de uma sobriedade dolorosa, este filme

coloca um ponto final à face mis-teriosa da história para lembrar a magnitude do crime e do hor-ror» que foi o Holocausto nazi. Impressionante.

Muito triste foi a partida de Patrice Chéreau, o visionário realizador francês. Aprovei-tamos para, na sede, em No-vembro e Dezembro, darmos a retrospectiva (quase) integral da sua obra.

Imagem do filme Hannah Arendt

d.r.

Alçado do Museu de Portimão

d.r.

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

IPJ | 21.30 HORAS | ENTRADA PAGACICLO VARIAÇÕES EM MAL MAIOR

12 NOV | HANNAH ARENDT, Margarethe von Trotta, Alemanha/Luxemburgo/França, 2012, 113’, M/1219 NOV | E AGORA? LEMBRA-ME, Joaquim Pinto, Portugal, 2013, 164’26 NOV | SOBIBOR, 14 DE OUTUBRO 1943, 16 HORAS, Claude Lanzmann, Fran-ça, 2001, 95’

SEDE | 21.30 HORAS | ENTRADA LIVRETRIBUTO A PATRICE CHÉREAU

14 NOV | O HOMEM FERIDO, França, 1983, 109’21 NOV | A RAINHA MARGOT, França,1995, 162’28 NOV | QUEM ME AMAR IRÁ DE COM-BOIO, França, 1997, 122’

BIBLIOTECA MUNICIPAL | 21.30 HORAS | ENTRADA LIVRE

O FILME FRANCÊS DO MÊS15 NOV | LA CHAMBRE DES MORTS,Alfred Lot, França, 2007, 118’, M/12

Gestão de museus, evolução de conceitos e funções(2)

08.11.2013 4 Cultura.Sul

Memórias que o tempo não apagou, meio século depois

Zeca Afonso

Panorâmica

Histórias reais que permanecem no tem-po, passadas e vividas com José Afonso. Um testemunho impres-sionante, contado na primeira pessoa, por quem privou de perto, alguns momentos da sua vida, com “Zeca” Afonso.

José Pontes da Luz foi um dos alunos que frequentou o curso de aperfeiçoamento do Comércio Noturno (o equi-valente ao antigo 5º ano dos Liceus) na Escola Industrial e Comercial de Faro, nos anos

1961 e 1962. Atualmente, esse Órgão Escolar designa--se Tomás Cabreira.

Zeca Afonso foi professor de Português e Francês de José Pontes nesse Estabele-cimento de Ensino.

Nessa época, Zeca Afonso preparava a Tese da sua Li-cenciatura para posterior-mente a apresentar na Uni-versidade de Coimbra.

Um dia, na sala de aulas, Zeca Afonso perguntou aos seus alunos se algum deles escrevia bem à máquina.

O aluno José Pontes, com cerca de 22 anos de idade, responde: “eu tenho a disci-plina de datilografia e estou empregado na Caixa Agrí-cola de Faro e escrevo bem à máquina”.

Face a esta informação, fi-cou decidido que todos os dias, a partir das 17 horas, após a ausência do geren-te da Caixa Agrícola, Zeca Afonso poderia aparecer nesse local.

Durante duas semanas reuniam-se uma hora por dia, o professor ditava e o aluno escrevia à máquina.

Depois da Tese concluída e já no final do ano letivo, professores e alunos resol-vem organizar uma excur-são. Teve como percurso algumas zonas turísticas do Algarve, Caldas de Mon-chique foi um dos locais de eleição.

José Pontes tinha um har-mónio mas só sabia tocar uma balsa, mesmo assim, decide levar consigo o ins-trumento para animar todos os excursionistas.

Zeca Afonso como gostava muito de dançar, quando o seu aluno acabava de tocar a balsa, o Zeca dizia: repe-te, repete, repete e o Zeca lá continuava a dançar com a mesma parceira de dança.

Ainda para comemorar o final do ano, os alunos deci-dem organizar um jantar na cervejaria Baía em Faro. Para esse jantar, que foi servido no primeiro andar, convida-ram o Zeca Afonso.

No final do jantar, os alu-nos presentes, depois de muita insistência, consegui-ram convencer Zeca Afonso,

a tocar e a cantar O Meu Me-nino é D’Oiro.

Apesar de Zeca Afonso sa-ber que a PIDE o andava a vi-giar de perto, mesmo assim,

lá cantou e tocou baixinho essa canção, junto à janela e sempre atento e de olhos bem abertos virados para a rua.

A letra dessa canção na época tinha sido referencia-da pela Polícia Política.

Um dia, já em pleno verão, um membro do Governo li-gado ao Ministério da Edu-cação desloca-se a Faro.

Alunos e professores de to-dos os estabelecimentos de ensino de Faro foram convi-dados a estarem presentes para darem as boas vindas à entidade e ao mesmo tem-po, assistirem a um discur-so dessa individualidade que foi proferido diretamente da varanda do Governo Civil de Faro.

Nesse momento, Zeca Afonso não estava presente.

A dada altura apareceu uma pessoa vinda do Cais da Porta Nova, que fica jun-to à Marina de Faro, vinha apetrechado de remos e de um balde, transportava ain-da uma cana de pesca, ves-tia calções e T-shirt e calçava chinelos.

Os presentes, depressa se aperceberam que se tratava do professor Zeca Afonso.

Zeca Afonso, com um ar

Luís AndradeLicenciado em Comunica-ção Social (especialização em Jornalismo e Informação)

Placa evocativa de Zeca Afonso (Faro)

“CONQUISTANDO NOVO HORIZONTE!”Até 25 NOV | Galeria de Arte Pintor SamoraBarros - AlbufeiraA pintura de Beth Sales reflecte com espontaneidade a alegria e a vivência das cores. Gatos, pássaros, casas, peixes e paisagens têm o mesmo grau de potência lírica no trabalho da artista

“MEMÓRIAS DO TEMPO E DO PATRIMÓNIOCONSTRUÍDO”Até 1 DEZ | Museu de PortimãoO arquitecto António Menéres expõe um total de 86 fotografias que representam um arquivo de memó-rias do tempo e do património construído e por vezes vem sendo destruído de forma incontida e irreversívelAg

endar

Casa onde viveu Zeca Afonso (Faro)

fotos: d.r.

08.11.2013  5Cultura.Sul

“ESCULTURAS DE JOAQUIM PARGANA”Até 30 NOV | Galeria Municipal de AlbufeiraArtista autodidacta, há cerca de 40 anos que esculpe as pedras que encontra no mar em originais peças decorativas. Peixes, golfinhos, cavalos-marinhos, se-reias, entre outros, evidenciam o talento do escultor

“FORA DO BARALHO”9 DEZ | 21.30 | Centro Cultural de LagosEspectáculo mistura a arte da magia com a arte cénica e teatral, para criar não só magia, mas uma atmosfera mágica

Agendar

Panorâmica

descontraído, faz questão de “desfilar” silenciosamente pela rua. Ao passar por um enorme cordão humano, Zeca Afonso é recebido com

mais aplausos do que os que a entidade oficial tinha rece-bido aquando a sua chegada.

O regime de então consi-derou o gesto de Zeca Afon-so, como que uma provo-

cação “silenciosa”, uma vez que o Zeca poderia ter to-mado outro itinerário, mais curto, mas não o fez, fez sim questão de seguir o caminho

mais longo.Para muitos, este ato, foi

considerado uma lição de enorme coragem e de gran-de incentivo, exortando o espírito de todos aqueles

que pretendessem vencer o medo.

No momento em que Zeca Afonso passava, ouviram-se muitos risos acompanha-dos de fortes aplausos. Os professores sentiam-se um pouco mais constrangidos, enquanto que os alunos apresentavam-se muito mais extrovertidos.

Este é mais um brilhante testemunho, como tantos outros, em que muitos Heróis marcaram a História dos Ho-mens que demonstraram não ter medo em desafiar o anti-go regime do Estado Novo.

Ironia do destino: passa-do mais de meio século, um dos exemplares da Tese da Licenciatura de José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, sobre Jean-Paul, intitulada, “Implicações Substancialistas na Filosofia Sartriana”, volta de novo às mãos de quem a “escreveu à máquina”.

José Pontes, antigo aluno de Zeca Afonso, no passado dia 12 de Abril de 2013, fez uma viagem de Faro a Coimbra.

Esta viagem, cheia de nostal-

gia, teve como propósito levar o antigo aluno, à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, para aí poder encon-trar “algo” que lhe ficou eterna-

mente na memória: a Tese da Licenciatura de Zeca Afonso, que ele próprio datilografou.

Este encontro proporcio-nou momentos que acalen-

taram a alma de José Pontes, ao mesmo tempo, trouxeram--lhe uma extensa dose de feli-cidade interior que hoje guar-da com muita saudade.

Primeira página da Tese de Zeca Afonso

Porta Nova (Faro) perto da casa de Zeca Afonso Universidade de Coimbra,

onde Zeca Afonso se formou Edifício do antigo Governo Civil em Faro

Zeca Afonso (o primeiro da direita) e José Pontes (terceiro a contar da esquerda

Escola Secundária Tomás Cabreira, em Faro, onde leccionou Zeca Afonso e foi seu aluno José Pontes

Cervejaria Baía, em Faro, onde Zeca Afonso cantou “O Meu Menino é D’Oiro”

José da Ponte exibe a tese de Zeca Afonso

08.11.2013 6 Cultura.Sul

Na senda da Cultura

DUARTE ganha concurso de fotografia Olhar a Vida O trabalho vida feita de mar, da autoria de José Duarte (DUARTE), sobressaiu entre os 150 rece-bidos na 1ª edição do Concurso Olhar a Vida, pro-movido pela ALFA, e foi escolhido como o vencedor.A exposição com uma selecção das imagens pre-miadas fica patente até 2 de Janeiro de 2014 na

FNAC do Algarve Shopping, na Guia, um dos par-ceiros da iniciativa. O Concurso Olhar a Vida realizou-se durante o Verão de 2013 e mobilizou a participação de três dezenas de fotógrafos. Foram ainda premiados os trabalhos de Rui Ser-

ra Ribeiro, Renato Rebelo, Alberto Jacobety, Bruno Dias e Marina Guerreiro.A ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve é uma associação sem fins lucrativos com sede em Faro, delegação em Portimão e foi criada há cinco anos.

Fotografia vencedora, de José Duarte

A paixão pela fotografia começou quando?Apaixonei-me pela fotografia passado um ano de ter cumprido

o serviço militar obrigatório, em 2005, ao ver retratados os bons e maus momentos que lá passei, e nessa altura até foi com duas câmeras descartáveis! 

Comprei a minha primeira câmera compacta pouco tempo depois, onde registava todas as etapas da minha vida.

Qual é o teu percurso?Sou um fotógrafo autodidacta em que a iniciativa sempre par-

tiu de mim, desde passar noites sem dormir a ver tutorias no youtube, ler revistas, livros e, principalmente, estudei o manual da minha primeira DSLR do início ao fim mais do que uma vez. Ultimamente tenho investido em alguns workshops, que têm sido bastante relevantes para a minha evolução.

Já fotografei um pouco de tudo, acho que para a evolução de qualquer fotógrafo isso é importante, mas o que mais me fascina é mesmo retrato e moda, é nesse campo que mais batalho neste momento, para um dia, se possível, alcançar os meus objectivos! 

Achas que a arte de fotografar hoje em dia está ao alcance de qualquer um ou é preciso ter um dom?

Começo desde já por dizer que a câmera sim, é importante, mas ao contrário do que muitos pensam ela não faz milagres, é preciso também muito estudo e dedicação para se conseguir alcançar o mínimo que seja neste mundo. E ter um olhar. Sensi-bilidade para Olhar a vida e o mundo que nos rodeia!

DUARTE, o vencedor na primeira pessoa

Fotografia de Renato Rebelo, terceiro lugarFotografia de Serra Ribeiro, segundo lugar

Fotografia de Alberto Jacobetty, quarto lugar Fotografia de Bruno Carlos Dias, quinto lugar

08.11.2013  7Cultura.Sul

Momento

“graffiti,

arte pública”Foto de Vítor Correia

Exposição de fotografia Olhar a Vida patente até Janeiro na FNAC

A exposição de fotografia com os trabalhos premiados no Concurso “Olhar a Vida” encontra-se patente na FNAC do Algarve Shoppping até 2 de Janeiro de 2014.

A entrega dos prémios e a inau-guração com as imagens vencedo-ras decorreu no passado sábado, dia 2 de Novembro.

Vida feita de mar é o trabalho re-alizado por José Duarte (DUARTE) que sobressaiu entre os 150 rece-bidos pelo Concurso Olhar a Vida e que foi escolhido como vencedor.

O concurso, que se realizou du-rante os meses de Verão de 2013, mobilizou a participação de três dezenas de fotógrafos.

A ALFA – Associação Livre Fotó-grafos do Algarve, uma organiza-

d.r.

Espaço ALFA

Classificação:

Ô 1º José Duarte Ô 2º Serra Ribeiro Ô 3º Renato Rebelo Ô 4º Alberto Jacobetty Ô 5º Bruno Carlos Dias Ô

Prémio Jovem Fotógrafo:

Ô Marina Guerreiro

Os premiados, da esquerda para a direita, José Dorey (FNAC), Alberto Jacobety, Renato Rebelo, Marina Guerreiro, José Duarte, Serra Ribeiro, Bruno Carlos, Carlos Cruz e Vítor Azevedo (ALFA)

ção sem fins lucrativos, foi a pro-motora da iniciativa.

A não perder na FNAC na Guia.

“COLHEITA DE OUTONO”Até 22 DEZ | Galeria Zem Arte - São Brás de AlportelExposição colectiva de pintura de Eric de Bruijn, Meinke Flesseman e Roland Isidro. Três nomes, três pintores, três trabalhos significativos, três formas de estar na vida, três ligações, três formas de sentir, três cruzamentos, três técnicas...Ag

endar

“STACCATO LIMÃO”29 DEZ | 21.30 | Centro Cultural de LagosA razão de ser do grupo é a devoção ao rock e à pa-lavra. No preâmbulo do lançamento do seu primei-ro álbum de originais, a banda, que “joga em casa”, apresenta o seu rock destilado de qualquer alambi-que de Londres, Berlim ou Nova Iorque

08.11.2013 8 Cultura.Sul

“GISBERTA”9 NOV | 21.30 | Grande Auditório do TEMPOPeça revela a história da transexual brasileira as-sassinada por um grupo de jovens que estavam ao cuidado de uma instituição do Porto, após três dias consecutivos de violência

“CONVERSA… INFORMAÇÃO… COMUNICAÇÃO”Até 21 DEZ | Centro de Experimentação e Criação Artística de LouléExposição reúne António Dias e Charlie Holt, que começaram a trabalhar em colagens há dois anos. Estas colagens formaram um diálogo entre os dois artistas que levou à presente instalaçãoAg

endar

Murakami, o escritor mistério

Apontado frequentemente nos últi-mos anos como forte candidato para o Nobel da Literatura, Haruki Murakami é um autor japonês, nascido no ano de 1949, em Quioto. Se é um autor efeti-vamente passível de qualidade para ganhar o mais importante prémio lite-rário essa será outra questão, embora seja certamente reconhecido como for-temente experimentalista e vende mi-lhões. Talvez seja um reflexo dos tempos modernos, em que o vendável comba-te o cânone ou a qualidade da lingua-gem literária, todavia, é inegável que Murakami conta com uma legião de fãs por todo o mundo, com particular destaque no setor juvenil. Em Portugal os seus livros têm enchido as estantes de livrarias desde Kafka à beira-mar, que foi certamente o romance que o lançou, apesar de se considerar que o Crónica do Pássaro de Corda será a sua obra-prima, embora menos acessível devido a um certo nível de violência.

A trilogia intitulada 1Q84 foi o seu úl-timo romance por ele escrito e penúlti-mo a chegar às livrarias, porquanto foi entretanto editado O impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo, uma tra-dução mais tardia de um seu primeiro romance.

1Q84 foi dividido em três volumes pela Casa das Letras, embora não cons-titua propriamente uma trilogia, em que a história se desenrola lenta e sua-vemente, por vezes chegando até a ser desesperante, nomeadamente no pri-meiro tomo.

Quais serão então os ingredientes narrativos que levam milhões a devo-rar os livros desconcertantes, densos e, inclusive, extensos deste autor? Alguns críticos têm apontado os seus romances como pertencentes a essa categoria do realismo mágico, mas Murakami não corresponde inteiramente aos critérios dessa corrente de escrita, embora pre-domine na sua ficção uma certa indeter-minação que torna compreensível essa associação. O fantástico invade o quoti-diano das personagens, pois da mesma forma que a narração se prende demo-radamente com todos os gestos perfeita-mente banais (como o cozer esparguete) de pessoas imersas numa rotina, o que pode configurar as suas próprias estra-tégias de sobrevivência, desde a comida que preparam para comerem sozinhas no seu apartamento, onde vivem isola-das de alguma forma, até à música que ouvem, há também um “mundo outro” que parece sobrepor-se ou existir lado a lado ao nosso. E se estas personagens não tiverem cuidado e fizerem coisas fora da norma, como, por exemplo, quando uma jovem sai de um táxi preso no tráfego em hora de ponta, em 1Q84, e desce uma escada de incêndio na auto--estrada, assemelham-se a personagens de contos de fadas que, ao cometerem alguma transgressão, acabam por se cair

numa toca de coelho ao estilo de Alice no País das Maravilhas (não é, portanto, acidental que esse seu primeiro livro tenha sido assim intitulado).

Da mesma forma que exis-te essa indeterminação entre o fantástico e o real, e apesar de o tempo e o espaço não serem nunca esbatidos mas sim concretos, pois a ação é sempre localizada no Japão moderno, os seus romances são lidos sem qualquer bar-reira cultural por jovens e adultos de realidades socioculturais comple-tamente distintas, pois Murakami «fala-lhes ao ouvido», como defende a sua tradutora. Tradu-tora essa que, embora

seja um caso raro no mer-

cado editorial português, tem-se manti-do sempre a mesma (à exceção do livro 1Q84 que, por ser maior que o normal, e devido, certamente, a alguma urgência comercial na publicação).

A sua ficção pauta-se por certos temas constantes, como a solidão, a procura de um sentido, a música, nomeadamente o jazz (sendo que Murakami era inclu-sive dono de um bar de jazz antes de se dedicar exclusivamente à escrita), tal-vez como forma de marcar essa nota de

pungência na alma das personagens, com vidas anódinas, cinzentas, que su-bitamente podem ver-se confrontadas com experiências-limite, ou como diria Alejo Carpentier, um certo «estado de fé» em que se veem confrontadas com situações aparentemente inexplicáveis e surreais, como figuras que parecem viver na sombra e surgir como aparições ou divindades portadoras de algum conhe-cimento transcendente sobre as próprias personagens (como Em busca do carneiro selvagem) embora essas situações apa-rentemente insólitas que podem deter-minar o curso de uma vida que seguia sob a capa de uma certa alienação social ocorram de forma tão natural como uma conversa num cadeirão de uma qualquer casa. Os gatos, como o de Ka-fka à beira-mar, são um elemento recor-rente na sua obra, que talvez configure,

por um lado, a companhia por excelência destes personagens ur-banos que vivem um pouco per-didos num estra-nho limbo em que muitas vezes nem parecem ter de sair de casa para traba-lhar como qualquer

pessoa normal, ou por outro lado, talvez vistam a pele de um coelho branco que pode servir de guia ou guardião a estes protagonistas arrastados por eventos que os superam.

O ponto menos positivo dos seus li-vros serão, provavelmente, as traduções. Apesar de a crítica ter vindo a elogiar constantemente o trabalho de conver-são da língua inglesa para a portuguesa (pois no nosso mercado editorial são raros ou inexistentes os tradutores que vertam diretamente do japonês ou do mandarim para português), no leitor menos comum pode provocar alguma confusão deparar-se com expressões como «Cus de judas» e «meter o Rossio na Betesga», embora haja sempre a des-culpa e argumento de que se procura traduzir segundo o espírito de quem lê em vez de se ser fiel ao sentido lite-

ral da obra. O tema do sexo, e de uma certa homossexualida-de feminina, também perpassa os seus romances, como em Sputnik, meu amor ou After Dark - Os Passageiros da Noite, mas em 1Q84 ele é explorado mais for-temente e a própria linguagem torna-se mais forte.

Esses temas encontram ressonân-cia em diverso cinema da atualidade, embora os seus romances não tenham sido adaptados.

 Os seus livros mais realistas serão, certamente, uma espécie de livro de ensaio, em que o autor associa o pro-cesso da escrita ao de ser corredor de maratonas, em Auto-Retrato do Escritor Enquanto Corredor de Fundo, onde o au-tor abre a alma num livro onde se con-fidencia e medita sobre a (sua) natureza humana e enquanto escritor, pois foi numa curiosa associação que, em 1982, ao mesmo tempo que abandonava o lugar à frente do clube de jazz e se de-dicou à escrita, Murakami começou a correr - talvez justamente porque esta-va inconscientemente ou não a fugir de algo ou a querer deixar uma parte da sua vida para trás. Foi-se lançando então gradativamente em desafios pes-soais cada vez maiores, em distância e esforço físico, participando em dezenas de provas de longa distância e triatlos. Outro livro não-ficcional e mais do-cumental, é Underground, que conta a dolorosa e real história do atentado ocorrido na manhã de 20 de Março de 1995, em três linhas do metropolitano de Tóquio, onde compõe as entrevistas que realizou a dezenas de vítimas do gás sarin, procurando mesmo estabe-lecer uma relação entre o atentado e a mentalidade japonesa.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

fotos: d.r.

O escritor japonês Haruki Murakami

08.11.2013  9Cultura.Sul

Em defesa do não-leitor

As árvores são magníficas; porém, o mais magnífico ainda

é o espaço sublime e patético entre elas.

(Rainer Maria Rilke, citado por Oscar Niemeyer)

O tom provocatório do título deste artigo parece remeter para um assunto tabu. É possível saber ler sem necessa-riamente ler tudo? As não-leituras e as quase-leituras podem ser tão válidas quanto a leitura integral de uma obra? Concordar com isto implica uma trans-formação profunda da nossa relação com os livros, a qual nos permita fa-lar e comentar publicamente os livros não lidos sem vergonha ou receio, sem aquele peso da imagem opressiva de uma cultura sem falhas que é trans-mitida e imposta pela família e pela escola. Refiro-me, na linha de autores como Pierre Bayard, a uma teoria da leitura que (também) esteja atenta a tudo o que ela mostra: falhas, ausên-cias e aproximações.

Não é preciso ler um livro de fio-a--pavio para ter dele uma ideia relati-vamente precisa e poder falar dele, não somente na generalidade mas até mes-mo de uma forma mais profunda. Isto porque não existe um livro isolado. Um livro é um elemento nesse vasto con-junto a que se pode chamar “biblioteca colectiva/universal” – e é essa que, em última análise, verdadeiramente conta, estando presente em todos os discursos que se fazem acerca de livros – e o de-safio maior é, no fundo, definir o lugar de cada obra nessa mesma biblioteca, urdindo a sua teia de relações.

Numa passagem do romance O ho-mem sem qualidades, de Robert Musil, o general Stumm, ao visitar uma biblio-teca, é confrontado com uma persona-gem que lhe diz que o segredo mais bem guardado dos bibliotecários é nunca lerem toda a literatura que lhes é confiada, exceptuando o título e o re-sumo, acrescentando ainda que todo aquele que se enfoca em pormenor no conteúdo de cada livro está irremedia-velmente perdido para a biblioteca e nunca será capaz de ter uma visão de conjunto perante o numeroso acervo que tem à sua frente.

Este trecho revela a importância dada à ideia de totalidade, a qual pode aplicar-se também ao universo da cul-tura. Concordo com a ideia de que a cultura é, acima de tudo, uma ques-

tão de orientação, uma deambulação inteligente, eficaz e criativa em busca de comunicações, pontes, travessias e correspondências, mais do que a mera acumulação gradual de conhecimen-tos pontuais. O que significa que ser culto não consistirá tanto em ter lido este ou aquele livro e em ter uma vi-são exacta sobre o seu conteúdo, mas sobretudo em perceber que o conteú-do de uma obra é, em grande medida, a sua situação/relação/contextualiza-ção relativamente a um universo mais vasto.

Muitos intelectuais nunca leram – e provavelmente nunca o farão – o ro-mance Ulisses, de James Joyce, mas mui-tos deles comentam e citam frequen-temente essa obra, isto porque sabem, por exemplo, que retoma a Odisseia de Homero, que põe a tónica no monólo-go interior/fluxo de consciência, que se passa em Dublin, etc., etc.

Não é despropositado afirmar que há inúmeras pessoas cultas que são não-leitoras e vice-versa, o que mostra que a não-leitura – como a entendo aqui – não significa ausência de leitura, mas sim uma atitude activa e consciente que consiste em organizar-se relativa-mente à imensidade de livros existen-te de modo a não se deixar submergir por eles. Aliás, já autores como Balzac, Montaigne, Paul Valéry, Oscar Wilde e Umberto Eco chamaram a atenção, à sua maneira, para esta questão. Po-rém, a sociedade persiste, algo hipocri-tamente (não poucas vezes andamos a mentir uns aos outros sobre certos livros [que efectivamente não lemos] e, por vergonha e culpa, não o admiti-mos), em incutir no indivíduo a ideia de que é obrigatório ler certas obras consideradas essenciais e “sagradas”, e de que essa leitura tem de ser integral, demorada e exaustiva para ser “valida-da” social e culturalmente.

Insisto na ideia de que falar apaixo-nadamente de livros não lidos – e falo tanto dos que apenas percorremos/fo-lheamos de forma aleatória ou direc-cionada, sem atentarmos nos detalhes, como daqueles de que já ouvimos fa-lar ou sobre os quais lemos opiniões de outros, quer ainda das obras que lemos e esquecemos, e das quais retemos ape-nas algumas memórias mais vivas que, com o tempo, vamos recriando ao sa-bor do nosso percurso e sensibilidade – não deve ser encarado com angústia ou remorso, mas como um desafio de criatividade, inspirador, libertador e enriquecedor, que pode até implicar, num plano superior, algum distancia-mento dos livros.

A fechar, e evocando aqui uma ideia cara ao filósofo francês Blaise Pascal, eu diria que o contrário de tudo o que es-crevi até aqui também é verdade, dados os amplos benefícios proporcionados por leituras compulsivas, lineares, exaustivas e atentas ao pormenor… visto que “Deus está nos detalhes”, como disse um dia o arquitecto Mies van der Rohe.

Tavira e a sua História

Os vestígios materiais mais antigos que se conhecem em Tavira reportam--se ao Bronze Final (séculos VII/VIII a.C.) e são provenientes da colina de Santa Maria. Os vestígios recolhidos permi-tem afirmar que este espaço foi ocu-pado, ao longo dos séculos, por diver-sos povos. Por aqui passaram fenícios, gregos, romanos, árabes, entre outros.

A partir desta pequena colina, e ao longo dos séculos, a cidade cresceu, construíram-se estruturas habitacio-nais, espaços públicos e sistemas de-fensivos. Este crescimento, já visível em época islâmica, acentua-se a partir dos finais do século XV e inícios do XVI. Nos séculos seguintes o rio será incondicio-nalmente absorvido pela urbe.

É hoje consensual que a passagem de gentes tão diferentes pela cidade deixou as suas marcas na paisagem urbana e, em especial, um legado pa-trimonial rico e diversificado.

O Património Histórico e Arqueológico

O que continua a atrair as pesso-as a esta pequena e recatada cidade algarvia? A nossa opinião não se fundamenta em dados estatísticos, baseia-se na sensibilidade transmiti-da pelas numerosas conversas tidas, ao longo dos anos, com as pessoas que nos procuram, as quais nos per-mitem afirmar, sem margem de dú-vida, que o legado civilizacional e o património natural serão fatores de-cisivos para a escolha de Tavira como destino turístico.

Ao falarmos de legado civiliza-cional, falamos inevitavelmente do património arqueológico, que nos últimos 20 anos tem vindo a ser identificado na cidade. Para este en-riquecimento patrimonial contribu-íram, numa primeira fase, o Campo Arqueológico de Tavira e, posterior-mente, os técnicos da Câmara Muni-cipal e os profissionais privados de arqueologia.

Este convergir de esforços e de profissionais resultou numa inten-sa atividade arqueológica, a qual tem permitido a recolha e o registo de um volume bastante significativo de materiais arqueológicos (cerâmi-ca, metal, faunas, vidro, elementos pétreos, etc.). Estes encontram-se depositados, maioritariamente nas instalações da autarquia, ainda que persistam situações de depósito/ar-mazenamento em outras instituições

públicas e privadas.O incremento da atividade arque-

ológica produziu um impacto pro-fundo na comunidade tavirense, o qual nem sempre foi positivo, reve-lando-se, por exemplo, nalgumas posturas pouco cooperantes das vá-rias partes envolvidas. O património histórico e arqueológico da cidade obriga a um diálogo concertado e constante entre todos os interve-nientes (públicos e privados), sob pena de falharmos os nossos obje-tivos, contribuindo para a destrui-ção do património e não para a sua salvaguarda.

A nós, profissionais, cumpre-nos divulgar o conhecimento científico produzido a partir das escavações ar-queológicas efetuadas e dos mate-riais exumados, sob pena de sermos questionados sobre a importância

científica e social da atividade arque-ológica. Perguntas como: “vale a pena andar aí, de enxada na mão, a apanhar tanto calor?” são muito frequentes e decorrem do desconhecimento que a maioria da comunidade tem rela-tivamente ao conhecimento produ-zido pelos arqueólogos. Não basta escavar e encerrar o conhecimento científico entre pares, é necessário escavar e escrever para a comunida-de que acolhe os vestígios.

A valorização e salvaguarda do nosso património depende do modo como nós, técnicos especia-lizados, conseguimos transmitir e transformar o “nosso” conhecimen-to, no conhecimento dos “outros”, daqueles que nos questionam, e que se interessam pelo conhecimento

do seu património milenar.

Preservação e divulgaçã do Património

A preservação e a salvaguarda do património histórico e arqueológico implica o envolvimento de diversos intervenientes. Para o efeito, têm-se revelado fundamentais os incentivos transmitidos pela Câmara Municipal de Tavira.

Num momento inicial, a autarquia apoiou o Campo Arqueológico de Ta-vira, pioneiro da arqueologia urbana da cidade. Posteriormente, a criação do Museu Municipal, a contratação de técnicos e de arqueólogos ajudou a consolidar o caminho, tornando possível a criação de núcleos muse-ológicos, como o Convento da Graça ou o Núcleo Islâmico. Ao mesmo tem-

po, tem vindo a apoiar a realização de exposições, a edição de catálogos, a realização de conferências ou a par-ticipação dos seus técnicos em encon-tros científicos.

Embora não estejamos na linha de partida ainda temos um longo cami-nho a percorrer e muitos obstáculos por ultrapassar. No entanto, sempre que alguém chega ao pé de nós, e nos vê cobertos de terra ou a tiritar de frio, e nos pergunta: “desculpe, estou curioso, o que estão a fazer? Pode expli-car-me? É que eu já vi umas coisas pare-cidas em Mértola!”, ou então, quando uma criança nos pergunta: “este objec-to era usado para fazer o quê? É que a minha avó usa-o para assar castanhas!” Temos a certeza que podemos estar no bom caminho.

Espaço ao Património Sala de leitura

d.r.

Jaquelina CovaneiroArqueóloga

Paulo PiresProgramador Cultural no Departa-mento Sociocultural do Municípiode [email protected]

Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira

08.11.2013 10 Cultura.Sul

Novembro

Em Outubro os circos chegavam ao sotavento algarvio por causa das feiras a que eram os pri-meiros a chegar, montar ferros e tenda no largo. Eram também os últimos a partir. Quando os outros feirantes já iam embora, sabia que era chegada a noite da família ir ao circo porque era: «grátis às damas». Enquanto esperava o mais esperado dos dias entretinha-se a ver os animais, os ensaios, ou a correr muito atrás do carro da companhia que anunciava os núme-ros exclusivos e as formidáveis atracções, para apanhar os folhetos que coleccionava. Depois, o maior espectáculo do mundo só voltava daí por um ano. Era o tempo em que regressava à estante e colocava ali à mão dos sonhos sobre a mesinha de cabeceira, a trilogia ‘Vamos ao Circo’ de Enid Blyton.

O vento puxa as nuvens de sudoeste. As chu-vas começam a cair. Os caminhos enchem-se de lama. Guardam-se as bicicletas. As bicicletas são para o verão. Os caminhos de terra batida são para o verão. Os sonhos sem fim são para o verão. Como os sonhos, o verão nunca termi-nará. Só alguns dos seus dias têm um fim. É só o calor que se despede. O verão, como tudo na vida, só faz sentido na sua ausência. Só gostar assim do verão faz com que ele volte outra vez. Sim, amo o verão. E depois!?

Pouco importava que se dissesse que An-tónio Ramos Rosa (Faro, 17.10.1924 - Lisboa, 23.09.2013) era um dos mais importantes po-etas portugueses vivos, se a imortalidade já lhe tinha sido oferecida em vida. Mas também isso pouco lhe importava já que para ele: «é a criação poética, a mais profunda satisfação que recompen-sa de todas as vicissitudes e infortúnios. Homena-gens e prémios, embora gratificantes, situam-se na periferia e não no cerne da sua vida poética.» (‘Prosas seguidas de Diálogos’ ; 4águas, 2011). Um homem que assim não pôde adiar o amor, nem a liberdade, nem a vida para outro século é um homem sem quotidiano, ou melhor, sem tempo.

Dum céu carregado de nuvens muito densas e escuras chove com pouca intensidade. O ven-to sopra de tal modo forte que a água sobre as salinas se começa a ondular. Já é quase noite e junto ao cais os poucos clientes do peque-no bar de madeira, abrigam-se ao balcão para o último copo. Do lado esquerdo, surgem as luzes da pequena torre da igreja da unidade hoteleira, mas que outrora servira de apoio ao arraial da pesca do atum ali instalado. As gaivotas voam sobre a terra sinalizando o mau tempo no mar.

«Concordou em fazer-se passar por Fernando Pes-soa, apreciando-se depois em frente do espelho no quarto: o bigode postiço, contido e severo, os óculos que lhe davam um ar digno e harmonizado com a sofisticação própria dos intelectuais; e, por fim, en-fiado na cabeça, o estimável chapéu preto, que lhe acrescentava respeito e culta superioridade. Seme-lhante na compostura e privilegiado na aparência, assim estava o carteiro Bernardo com a sua boa inspiração, a projectar ilusões e a permitir excita-ções libidinosas à senhora Ofélia.» - excerto do novo livro de Fernando Esteves Pinto, nascido em Cascais (1960), mas há muito radicado em Olhão. Um escritor com várias obras publicadas

entre poesia e romance (onde se pode destacar ‘Brutal’, Leya, 2011) mas que não teve ainda o devido reconhecimento dos media e do públi-co. Vamos ver se este carteiro toca duas vezes.

Primeira apresentação no Algarve, no dia 9 de Novembro pelas 21h, na Bibioteca Municipal A. Ramos Rosa em Faro, a cargo de Vítor Cardeira.

a pouco e pouco os cais vão-se transformando  de novo, lugares livres de passageiros

ali chegam agora pensadores solitários, amantes  do silêncio possível, pescadores de águas turvas as carreiras diminuem, as ilhasficam mais distantese o verão é de novo um segredo do tempo

António Aleixo (VRSA,18.02.1899–Loulé, 16.11.1949)… devia parecer estranho aos olhos e ouvidos dos seus contemporâneos e conterrâneos por ser um homem pobre e com um trabalho, ainda que precário, a debitar quadras soltas de versos irreverentes sobre o comportamento de homens de diversas classes sociais, um pouco à semelhança do que fazem hoje das rimas os jo-vens poetas orais urbanos. Soa forçado dizer, mas ele era já quase como que um rapper, muito antes do tempo da comunicação livre. Debitava coisas assim: «Uma mosca sem valor / Poisa c’o a mesma alegria / na careca de um doutor / como em qualquer porcaria.» , ou «Vós que lá do vosso império / prome-teis um mundo novo, / calai-vos, que pode o povo / qu’rer um mundo novo a sério.»

Os últimos dias da banda de Faro têm sido muito agitados. Depois dos festivais Med(Loulé) e Sérgio Mestre(Tavira), os OrBlua não mais pararam de tocar e promover o ep ‘Trihologia Noctiluca’. E também estiveram em Cardiff (País de Gales) para o WOMEX - World Music Expo. Gravaram bandas sonoras para vá-rios filmes entre eles ‘Tesouras e Navalhas’ de

Hernani Duarte Maria. O vídeo-clip da canção ‘Aviãozinho Militar’ integrou a selecção oficial do Arouca Film Festival e do Farcume: Festival de Curtas-Metragens de Faro (premiado com o 3º lugar). E você do que é que está à espera para orbitar em torno desta lua. Próxima aparição de Inês Graça/Nuno Murta/Carlos Norton: Zem Arte Galeria – S.Brás de Alportel, 9 de Novem-bro, 22h30.

Descasco uma romã neste tempo de comer romãs a sul. Pelo São Martinho já estão à mesa. Vão continuar até à ceia de natal e passar para o novo ano encontrando desejos a cada peque-no bago da sua comestível polpa. Pesquisas de-terminaram que este fruto (rumman do árabe) tem uma acção antioxidante três a quatro vezes superior à do vinho tinto ou do chá verde. Os gregos diziam da romã ( cuja árvore foi consa-grada à deusa Afrodite) ser símbolo do amor. Afinal não é só coincidência de anagramia.

O conto ‘No Tempo das Romãs’, que encontro em quintacativa.blogs.sapo.pt começa assim:

«Sempre que a noiva comia romãs, tremia. Era como se um tufão se aproximasse da costa. A romã atuava nela como um poderoso afrodisíaco. Quan-do o tempo das chuvas chegou, devagar como con-vém nos secos clima mediterrânicos, a preocupação invadiu-me secretamente. Não tinha sido diferente naquele ano.»

pisando a agora mais alisada areia da praia de outono, ando para apanhar as melhores conchas do dia, que se sentem já frias nas mãos. as mes-mas que levarei para esses quentes braços entre derradeiros beijos, de que virão formas de amar mais intensas e vigorosas. para poder parar o teu tempo por alguns minutos. impedindo a cabeça de almariar nas asperidades destes dias. depois vais levá-las contigo para o lugar onde tens de ir. desde onde ouvirás da voz do mar, já nou-tros litorais, a minha também sussurrar junto a ti. porque é que não podes viver apenas do (a)mar…

Pedro [email protected]

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

fotos: d.r.

“GURU”9 DEZ | 21.30 | Cine-Teatro LouletanoRui Unas, Custódia Gallego, Heitor Lourenço e Su-sana Mendes protagonizam uma comédia sobre a crise política nacional, cheia de medidas de pouca austeridade no que respeita à gargalhada

Agendar

“PROFISSÕES DO BARROCAL E DA SERRA”Até 15 NOV | Ria Shopping - OlhãoNa exposição será possível ver interessantes fotogra-fias de homens em labores diários e conhecer um pouco melhor a faina de um apicultor, de um ferra-dor e de um correeiro

As bicicletas são para o verão

Vamos ao circo

Ramos Rosa

‘O Carteiro de Fernando Pessoa’

(edições Parsifal)

Ramos Rosa

O circo

Paisagem de Outono

Estofo de Maré

António AleixoAntónio Aleixo (estátua em Loulé)

OrBlua

Romã

Praia do Almargem

Praia do Almargem

jorge jubilot

08.11.2013  11Cultura.Sul

Maria Manuel - uma estreia de Paulo MoreiraDa minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“O GRANDE PLAGIADOR”9 NOV | 21.30 | Casa da Cultura de LouléConferência-performance de Paulo Condessa. Um brilhante analista político apresenta os factos que sustentam a sua tese de mestrado: “Verdade, justi-ça e direitos de autor: plágio em pessoa, muito ou realidade?”Ag

endar

“ARTESANTO”ATÉ 31 DEZ | Polo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte - AlteExposição com alfinetes de dama (feitos com grão de bico), trapilhos e bijuteria de Teresa Machado. Evento pretende promover o artesanato local

Nem sempre tenho a oportunidade de falar de escritores que conheço pes-soalmente e ainda mais raro é quando estes se encontram na categoria de amigos. Por-tanto, quando isso acontece, sinto uma grande alegria por poder partilhar esse momen-to. Hoje é um desses mo-mentos. É, pois, com grande regozijo que escrevo sobre Maria Manuel, o primeiro li-vro de Paulo Moreira.

Como esta história vive, também, dos não-ditos e de segredos que vão sendo des-velados, vou tentar escrever de modo a não estragar o prazer da descoberta ao leitor.

Do teatro para a literatura

Na verdade, Paulo Mo-reira já escreve há muito tempo (poesia, pequenos contos e peças de teatro – que até foram premiadas), mas é a primeira vez que se abalança num trabalho de maior fôlego (180 páginas) a que modestamente chamou «novela».

Esta obra tem a vantagem de usufruir da visão teatral do encenador (talvez a sua faceta mais mediática, a par da de declamador). Longe de haver nisso uma limitação, os diálogos e as descrições das ações, quais didascálias que auxiliam o ator a saber o que fazer, ajudam aqui a visualizar as cenas, tornan-do o texto mais vivo, como se estivéssemos a assistir, es-condidos, ao desenrolar dos acontecimentos:

«Depois de Ana ter saído da cozinha, Mariana foi até

à janela para se certificar de que João continuava entre-tido no fundo do jardim e voltou à sua lida, que nesse momento era a de preparar o almoço para cinco pesso-as. Pouco depois, Luís atra-vessou a cozinha, vindo do quarto da patroa, e saiu para o jardim. Quando voltou do exterior vinha com o seu pia-no digital debaixo do braço» (p.31).

Por conhecer o autor, te-nho mais vontade de o en-contrar refletido no texto e, claro, arranjei uma per-sonagem que se encaixa: o pequeno João, de oito anos, filho da personagem princi-pal. É uma criança cheia de imaginação, o único a con-seguir tirar da letargia a tia Mané (Maria Manuel, que dá o nome ao livro); um tea-treiro, que consegue animar os adultos com brincadeiras em que os envolve e os ali-via do peso dos dias; é aquele que os faz rir em mo-

mentos difíceis, mas também consegue belos instantes de ternura e compreensão:

«– Não chores, Luís. Eu gosto muito de ti. Se qui-seres, eu fico aqui a dormir contigo para não chorares mais. Hoje é a minha vez de te proteger para tu dormires descansado.» (p.147)

Uma casa de segredos

Apesar de não gostar mui-to de classificações, entendo

que podem ser úteis para balizar e para nos ajudarem a organizar o co-nhecimento. De facto, não tanto pelo tamanho mas

mais pela forma, aceitemos que estamos perante uma novela: a ação gira em torno de um grupo muito limitado de pessoas e o final é deixado em aberto.

As personagens centrais são cinco: além do nosso João, há a sua mãe, Ana, aquela em torno da qual tudo gira; entra o já men-cionado Luís, um jovem de

20 anos, músico, filho da empregada; há Mariana, a mãe do rapaz, que trabalha na casa de Maria Manuel; e a própria Maria Manuel. Apa-recem ainda a enfermeira Sara, o médico Beltrán, bem como três outras pessoas que apenas interagem telefonica-mente com Ana: o ex-mari-do, a irmã de uma amiga e um colega de trabalho.

Por forças das circunstân-cias – uma doença súbita da tia – Ana vai ter de revisitar um lugar do seu passado (a casa dessa tia) e confrontar--se com aqueles de quem fu-giu ao convívio durante duas décadas. E tem, acima de tudo, de acertar contas con-sigo mesma. Nessa viagem

(que também é geográfica, pois de Lisboa desloca-se a uma aldeia nos arredores de Monção), que faz na compa-nhia de João, Ana descobre um segredo que a irmã gé-mea do seu pai (recentemen-te falecido), com quem não tinha contacto havia muitos anos, guardara toda a vida. A tia Mané pouco intervém, mas é ela o centro das aten-

ções e o catalisador de uma série de acontecimentos.

De Mariana, a outra per-sonagem feminina, o narra-dor diz-nos mais do que as outras personagens sabem, tornando-nos particular-mente compreensivos para os seus ataques de mau fei-tio, desconfianças, receios e desequilíbrios emocionais.

A casa de Valcousa está cheia de segredos, ignora-dos por umas personagens e conhecidos por outras. Mas quem sai a ganhar é o leitor, que, por lhe ter sido dada uma visão de conjun-to, no final, fica a saber – ou a desconfiar que sabe, porque o narrador não lhe dá cer-tezas – uma verdade ainda

maior que se adivinha dos pensamentos, das palavras e das omissões.

Português suave

Paulo Moreira não pro-cura mostrar maestria na construção, mas sim passar despercebido na sua técni-ca. Para manter o suspense e não dizer tudo de uma vez, o narrador vai-nos dando, aqui e além, discretas pistas que ajudam a resolver alguns dos segredos que cada uma daquelas mulheres escon-de. Se num capítulo ficamos sem saber o porquê de uma determinada reação de uma personagem, logo no seguin-te essa reação é inteligente-mente explicada.

Não é fácil, por exemplo, começar e terminar cada uma das partes de uma obra, de modo a manter a atenção do leitor para as que se se-guem, sem parecer forçado ou que nos estão a obrigar a continuar a ler. Este livro tem a virtude de, sem nos darmos conta – e um leitor não gos-ta nada de se dar conta das manipulações do autor –, nos prender à simplicidade da história, ao ligeiro suben-tendido, ao que está para acontecer e que pode ser já nas próximas páginas. Num brevíssimo capítulo, entre as pp. 148 e 150, encontra--se um sonho de João. Para quem foi estando atento ao enredo, tem ali não só a con-firmação do passado, como a comprovação das suspeitas do presente (vivido até àque-le momento da história) e a conjetura do que pode vir a ser o futuro. Um futuro que deixa o final do livro em aberto.

Poderia dizer que esta no-vela é agradavelmente sua-ve – não está construída de modo a gerar angústia ou a enganar o leitor – e que esta estreia é um bom augúrio para o Paulo Moreira.

Moreira, Paulo (2013). Maria Manuel. s.l.: Redil Publicações.

Paulo Moreirad.r.

08.11.2013 12 Cultura.Sul

No Algarve, com uma lógi-ca de gestão cultural de matriz municipalista, é comum que as administrações locais reivin-diquem a instalação de novos equipamentos culturais no ter-ritório que administram. Como resultado, proliferou o investi-mento público na criação de infraestruturas culturais – audi-tórios, teatros, cineteatros. Mas a este investimento não corres-ponde uma oferta cultural con-sistente, cuja continuidade asse-gure a fidelização de públicos, e esta situação vê-se agravada por uma lógica de arquipélago, de quase ausência de programação e produção em rede.

No Algarve, mais de oito de-zenas de museus, coleções visi-táveis, núcleos e pólos museo-lógicos reúnem um acervo com milhares de objetos que cons-tituem um riquíssimo legado para as gerações futuras. Mas, e apesar do importante contri-buto da Rede de Museus do Al-garve, a grande maioria destas unidades não estão dependen-tes de um museu credenciado e não cumprem a totalidade das funções museológicas funda-mentais à luz da Lei-Quadro dos museus portugueses, cingindo--se frequentemente à exibição de coleções onde está ausente todo um trabalho de inventário, investigação científica, conser-vação, comunicação e educação.

No Algarve, através de um serviço periférico da adminis-tração central, o Estado exerce a sua autoridade direta sobre um conjunto de oito monumentos classificados como bens cultu-rais imóveis de grau nacional, mediante a sua afetação à Di-reção Regional de Cultura; uma opção de gestão territorial e de educação para o património le-

vou à gestão partilhada com a administração local, procuran-do gerir estes espaços culturais em consonância com os mu-seus credenciados: por exem-plo, Castelo de Paderne / Mu-seu de Albufeira; Monumentos Megalíticos de Alcalar e Villa Romana da Abicada / Museu de Portimão; Villa Romana de Milreu / Museu de Faro.

No Algarve, reivindica-se fre-quentemente a criação de equi-pamentos de interpretação de

sítios, de conjuntos arqueológi-cos e de paisagens protegidas, mas constata-se que habitual-mente, e com poucas exceções, o processo de construção par-te da obra para a gestão, sem constituir uma garantia de sustentabilidade desses equi-pamentos.

No Algarve, são evidentes as deficiências nos sistemas

de mobilidade, que assentam quase exclusivamente no trans-porte rodoviário, que não só se vende como é concebido já de antemão como um produto para o mercado, patenteando a ausência de articulação entre os sistemas públicos municipais de transporte e destes com os sistemas privados, com itinerá-rios e horários incompatíveis e desajustados da oferta cultural. Com evidente prejuízo para o consumo de bens culturais e para a fidelização de públicos.

No Algarve, faz sentido rea-firmar aquilo que Mirian Tava-res assinalava em 2011, no seu contributo para o Plano Estra-tégico de Cultura para a região: «os bens de cultura continuam a ser bens de consumo, com va-lor de troca, e aqueles que es-capam a este destino são per-tença de uma elite intelectual e/ou económica e estão cada vez mais distantes de uma cir-culação e consumos verdadei-ramente democráticos».

E neste contexto qual o papel da Direção Regional de Cultu-ra do Algarve? Para além das atribuições e competências le-gais, considera-se que estar no terreno permite (tem permiti-do) ser mobilizador de vonta-des, congregador de parceiros, facilitador e mediador para encontrar soluções, impulsio-nador para uma mudança de atitude e para projetos de esca-la regional. É nesse sentido que se pretende continuar a fazer e a desenhar (a muitas mãos) o caminho da Cultura regional…

É por isso que vale a pena pugnar pela mudança da sín-droma de arquipélago.

Direcção Regionalde Cultura do Algarve

Equipamentos culturais no Algarve: uma lógica de arquipélago

d.r.

No Algarve, reivindi-ca-se frequentemen-te a criação de equi-pamentos culturais, mas numa lógica de arquipélago, com um território caren-te de ordenamento e de gestão territorial eficazes no domínio da Cultura, e com uma quase ausência de programação em rede, a este investi-mento não corres-ponde uma oferta cultural consistente, cuja continuidade as-segure o consumo de bens culturais e a fi-delização de públicos

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Teatro Tempo, em Portimão, um dos equipamentos culturais da região