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Maio de 2011 35 O agregador da advocacia www.advocatus.pt Cumprimos a nossa missão O orgulho na cara de cada um dos alunos/actores e dos respectivos pais e professores, a convicção das intervenções dos alunos, a utilização de expressões como “com a devida vénia” tão quotidianas para nós advogados, o respeito que demonstraram mostra-nos que cumprimos a nossa missão A hipótese de uma vez mais fazer - mos algo pela Educação (e ainda por cima na nossa área especifica de actuação) surgiu quando a Fórum Estudante nos lançou um desafio – Que tal fazer chegar a Justiça e o Direito aos jovens e às escolas espa- lhadas pelo país? O programa denominado “Faça-se Justiça” consistia num Programa de Educação para a Justiça e para o Di- reito, para estudantes do Secundário (+ Básico, na 2.ª fase), com base em acções de divulgação, workshops e mock trials (simulação de um caso em tribunal), contando com o alto pa- trocínio da Presidência da República e com a colaboração do Ministério da Educação, da Direcção-geral de Inovação e Desenvolvimento Curri- cular, da Fundação Luso Americana, da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e da APAV. O papel da AB e dos seus advoga- dos? Serem advogados-tutores de cada uma das turmas. O desafio estava lançado e foi impossível dizer que não. O primeiro choque acon- teceu quando de repente existiam 84 escolas inscritas espalhadas por todo o país e eram precisos outros tantos advogados tutores. Numa profissão em que cada minu- to é contado, em que todos os dias corremos mais do que no dia ante- rior o mais fácil teria sido olhar para o lado e dizer “talvez para a próxima” ou “gostava mas não tenho tempo”. Ao invés tivemos uma adesão total e transversal em que sócios, associa- dos, estagiários e solicitadores abra- çaram o projecto ainda que ninguém soubesse exactamente o que lhes seria efectivamente pedido. Existiram momentos difíceis funda- mentalmente fruto da pressão do trabalho e da distância a que algu- mas escolas ficavam, mas com ima- ginação, ajuda da tecnologia e muita Alexandra Courela Associada da Abreu Advogados. Licenciada em Direito pela FDUL (2000), fez uma pós graduação em Fiscalidade no ISG (03). Tem um mestrado em Direito pela London School of Economics (05) “O papel da AB e dos seus advogados? Serem tutores de cada uma das turmas. O desafio estava lançado e foi impossível dizer que não. O primeiro choque aconteceu quando de repente existiam 84 escolas inscritas e eram precisos outros tantos advogados tutores” “Os tribunais cederam as suas instalações, os juízes acederam a desempenhar o papel de juízes concedendo dignidade, seriedade e solenidade à simulação. Os advogados-tutores disponibilizaram togas e becas ajudando a compor o cenário” determinação todos os obstáculos foram ultrapassados. Subitamente “a escola” passou a fa- zer parte do dia-a-dia da Abreu AB. Nos corredores trocavam-se impres- sões sobre os casos (os alunos po- diam escolher de entre um conjunto de casos preparados pela equipa do projecto: bullying, nacionalidade, violência no namoro, contrato, ruído, acidente de viação, redes sociais e dados pessoais e graffiti ), sobre a ju- risprudência a disponibilizar aos alu- nos, sobre as deslocações à escola, sobre a dificuldade de “traduzir” os conceitos de processo penal tornan- do-os acessíveis e perceptíveis, so- bre a realidade que cada advogado tutor via na “sua escola”. O entusiasmo levou a que a única deslocação à escola prevista para o dia da simulação se acrescentas- sem muitas outras visitas. Tivemos advogados a quem foi pedido para participar em projectos paralelos na escola, tivemos advogados a par- ticipar em conferências na escola, tivemos advogados a acompanhar visitas a tribunais. Em suma tivemos uma verdadeira parceria. E eis que, volvidos cerca de seis me- ses de preparação, ao longo de uma semana decorreram as simulações de julgamento ( mock trials) por todo o país. De Viana do Castelo a Albu- feira, de Sátão a Évora assistimos a uma mobilização que demonstra que Portugal não pode ser definido pela crise económica. No nosso país há uma verdadeira sociedade civil, há pessoas, há vontade, há institui- ções disponíveis para construir pro- jectos, soluções e dinâmicas. Os tribunais de todo o país cederam as suas instalações, os juízes ace- deram a desempenhar o papel de juízes concedendo dignidade, serie- dade e solenidade à simulação. A equipa do projecto e os advoga- dos-tutores disponibilizaram togas e becas ajudando a compor o cenário. No fim, qualquer pessoa que entras- se na sala de audiências por engano estranharia a quantidade de jovens e suas famílias mas sairia convicto da qualidade dos nossos advogados e Ministério Público. O orgulho na cara de cada um dos alunos/actores e dos respectivos pais e professores, a convicção das intervenções dos alunos, a utilização de expressões como “com a devi- da vénia” tão quotidianas para nós advogados, o respeito que demons- traram mostra-nos que cumprimos a nossa missão. Aceitámos o desafio de fazer che- gar a Justiça e o Direito aos jovens, deste modo cumprindo os nossos compromissos assumidos no Rela- tório de Sustentabilidade publicado em 2009 e dos quais daremos conta no Relatório de Sustentabilidade a publicar este ano. Estamos já a pensar no próximo desafio... Faça-se Justiça

Cumprimos a nossa missão

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Maio de 2011 35O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Cumprimos a nossa missãoO orgulho na cara de cada um dos alunos/actores e dos respectivos pais e professores, a convicção das intervenções dos alunos, a utilização de expressões como “com a devida vénia” tão quotidianas para nós advogados, o respeito que demonstraram mostra-nos que cumprimos a nossa missão

A hipótese de uma vez mais fazer-mos algo pela Educação (e ainda por cima na nossa área especifica de actuação) surgiu quando a Fórum Estudante nos lançou um desafio – Que tal fazer chegar a Justiça e o Direito aos jovens e às escolas espa-lhadas pelo país?O programa denominado “Faça-se Justiça” consistia num Programa de Educação para a Justiça e para o Di-reito, para estudantes do Secundário (+ Básico, na 2.ª fase), com base em acções de divulgação, workshops e mock trials (simulação de um caso em tribunal), contando com o alto pa-trocínio da Presidência da República e com a colaboração do Ministério da Educação, da Direcção-geral de Inovação e Desenvolvimento Curri-cular, da Fundação Luso Americana, da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e da APAV.O papel da AB e dos seus advoga-dos? Serem advogados-tutores de cada uma das turmas. O desafio estava lançado e foi impossível dizer que não. O primeiro choque acon-teceu quando de repente existiam 84 escolas inscritas espalhadas por todo o país e eram precisos outros tantos advogados tutores.Numa profissão em que cada minu-to é contado, em que todos os dias corremos mais do que no dia ante-rior o mais fácil teria sido olhar para o lado e dizer “talvez para a próxima” ou “gostava mas não tenho tempo”. Ao invés tivemos uma adesão total e transversal em que sócios, associa-dos, estagiários e solicitadores abra-çaram o projecto ainda que ninguém soubesse exactamente o que lhes seria efectivamente pedido.Existiram momentos difíceis funda-mentalmente fruto da pressão do trabalho e da distância a que algu-mas escolas ficavam, mas com ima-ginação, ajuda da tecnologia e muita

Alexandra Courela

Associada da Abreu Advogados. Licenciada em Direito pela FDUL (2000), fez uma pós graduação em Fiscalidade

no ISG (03). Tem um mestrado em Direito pela London School of

Economics (05)

“o papel da AB e dos seus advogados? Serem tutores de cada uma das turmas. O desafio estava lançado e foi impossível dizer que não. O primeiro

choque aconteceu quando de repente existiam 84 escolas

inscritas e eram precisos outros tantos advogados

tutores”

“os tribunais cederam as suas instalações, os juízes acederam a desempenhar o papel de juízes concedendo dignidade, seriedade e

solenidade à simulação. os advogados-tutores disponibilizaram togas

e becas ajudando a compor o cenário”

determinação todos os obstáculos foram ultrapassados.Subitamente “a escola” passou a fa-zer parte do dia-a-dia da Abreu AB. Nos corredores trocavam-se impres-sões sobre os casos (os alunos po-diam escolher de entre um conjunto de casos preparados pela equipa do projecto: bullying, nacionalidade, violência no namoro, contrato, ruído, acidente de viação, redes sociais e dados pessoais e graffiti), sobre a ju-risprudência a disponibilizar aos alu-nos, sobre as deslocações à escola, sobre a dificuldade de “traduzir” os conceitos de processo penal tornan-do-os acessíveis e perceptíveis, so-bre a realidade que cada advogado tutor via na “sua escola”.O entusiasmo levou a que a única deslocação à escola prevista para o dia da simulação se acrescentas-sem muitas outras visitas. Tivemos advogados a quem foi pedido para participar em projectos paralelos na escola, tivemos advogados a par-ticipar em conferências na escola, tivemos advogados a acompanhar visitas a tribunais. Em suma tivemos uma verdadeira parceria.E eis que, volvidos cerca de seis me-ses de preparação, ao longo de uma semana decorreram as simulações de julgamento (mock trials) por todo o país. De Viana do Castelo a Albu-feira, de Sátão a Évora assistimos a uma mobilização que demonstra que Portugal não pode ser definido pela crise económica. No nosso país há uma verdadeira sociedade civil, há pessoas, há vontade, há institui-ções disponíveis para construir pro-jectos, soluções e dinâmicas.Os tribunais de todo o país cederam as suas instalações, os juízes ace-deram a desempenhar o papel de juízes concedendo dignidade, serie-dade e solenidade à simulação.A equipa do projecto e os advoga-

dos-tutores disponibilizaram togas e becas ajudando a compor o cenário. No fim, qualquer pessoa que entras-se na sala de audiências por engano estranharia a quantidade de jovens e suas famílias mas sairia convicto da qualidade dos nossos advogados e Ministério Público.O orgulho na cara de cada um dos alunos/actores e dos respectivos pais e professores, a convicção das intervenções dos alunos, a utilização de expressões como “com a devi-da vénia” tão quotidianas para nós advogados, o respeito que demons-traram mostra-nos que cumprimos a nossa missão.Aceitámos o desafio de fazer che-gar a Justiça e o Direito aos jovens, deste modo cumprindo os nossos compromissos assumidos no Rela-tório de Sustentabilidade publicado em 2009 e dos quais daremos conta no Relatório de Sustentabilidade a publicar este ano.Estamos já a pensar no próximo desafio...

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