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1 CURCEP PROFª Drª CAMILA M PASQUAL ALUNO(A) _______________________________________________________ LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR ANÁLISE Lucíola é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "perfis de mulheres" (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um levantamento da nossa vida burguesa do século passado. A obra, publicada em 1862, é um romance de amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça presente. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", ou seja, o narrador da história é um personagem importante da mesma, Paulo Silva, narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de Alencar), que as publica em livro com o título de Lucíola. Fixam o Rio de Janeiro da época, com a sua fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que frequentava o Teatro Lírico, passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no Flamengo, em Botafogo ou Santa Teresa e era protagonista de dramas de amor que iam do simples namoro à paixão desvairada. Em todos os romances urbanos, Alencar aborda o amor como tema central. Ou, para ser mais exato, "aborda a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor". Mas o amor como o entendia a mentalidade romântica da época, um amor sublimado, idealizado, capaz de renúncias, de sacrifícios, de heroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força acrisoladora de sua intensidade e de sua paixão. Lucíola foi um romance ousado para a época. Pela primeira vez a literatura focalizava o tema da prostituição que revelava cenas íntimas e descrições detalhadas da vida de alcova de uma mundana, Lúcia, cujo verdadeiro nome é Maria da Glória, era linda, delicada, de aspecto suave, angelical, terna e bondosa, uma prostituta que transpirava inocência. Na obra, os conflitos íntimos das personagens e entre as personagens são determinados pelo confronto do indivíduo com a sociedade do Rio de Janeiro em transformação, movida pelo dinheiro e preocupada com o destaque proporcionado pela riqueza. Em Lúciola, a crítica social é implícita, pois os valores sociais não são apenas da comunidade, mas estão arraigados nos próprios protagonistas. Para Lúcia, a redenção é acompanhada de castigo e autopunição, pois ela própria, como Paulo, endossa os preconceitos da sociedade. Em Lucíola, a narração é feita em primeira pessoa, o que limita o foco narrativo a uma perspectiva particular. Paulo narra os acontecimentos passados como se ele lá ainda estivesse, sem, portanto, o olhar crítico e sereno do presente, sem o distanciamento necessário para uma reflexão mais objetiva, entregando-se inteiramente às emoções e preconceitos que sentia outrora. Cabe, portanto, ao leitor questionar a realidade e as motivações do comportamento de Lúcia. Destaca-se no romance a divisão categórica entre o amor físico e o amor espiritual. Paulo, com sua ingenuidade provinciana e sem estar acostumado à maliciosa maledicência da corte, será o único amante de Lucíola capaz de perceber a inocência e a virgindade espiritual daquela prostitua. Lúcia, apaixonada por Paulo, sofrerá pouco a pouco uma transformação que fará renascer nela a adolescente pura e ingênua e que irá eliminando a prostituta escandalosa. Numa solução moralista, a redenção será alcançada pela autopunição e pela morte. Como a sociedade jamais aceitaria que ela fosse mulher objeto e ao mesmo tempo mãe, Lúcia morre. A causa de sua morte é a infecção causada pelo filho morto em seu ventre, fruto de sua relação “pacaminosa” com Paulo. A destruição do corpo proporciona a sobrevivência e supremacia do amor espiritual. PERSONAGENS LÚCIA, como se fossem duas personalidades numa só pessoa, sua principal característica é a contradição. Ora era a cortesã sedutora e caprichosa, a mais linda, cobiçada e depravada do Rio de Janeiro. Ora era Maria da Glória, a menina inocente e simples, para quem a prostituição era um tormento, e os atos libidinosos constituíam verdadeira autopunição aliada a um angustiante sentimento de culpa.

CURCEP PROFª Drª CAMILA M PASQUAL ALUNO(A) · com sua ingenuidade provinciana e sem estar acostumado à maliciosa maledicência da corte, será o único

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CURCEP

PROFª Drª CAMILA M PASQUAL

ALUNO(A) _______________________________________________________

LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR

ANÁLISE Lucíola é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "perfis de

mulheres" (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um

levantamento da nossa vida burguesa do século passado. A obra, publicada em 1862, é um romance de

amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça

presente. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", ou seja, o narrador da história é um personagem

importante da mesma, Paulo Silva, narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de

Alencar), que as publica em livro com o título de Lucíola. Fixam o Rio de Janeiro da época, com a sua

fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que frequentava o Teatro Lírico,

passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no Flamengo, em Botafogo ou

Santa Teresa e era protagonista de dramas de amor que iam do simples namoro à paixão desvairada.

Em todos os romances urbanos, Alencar aborda o amor como tema central. Ou, para ser mais

exato, "aborda a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor". Mas o amor

como o entendia a mentalidade romântica da época, um amor sublimado, idealizado, capaz de renúncias,

de sacrifícios, de heroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força acrisoladora de sua

intensidade e de sua paixão.

Lucíola foi um romance ousado para a época. Pela primeira vez a literatura focalizava o tema

da prostituição que revelava cenas íntimas e descrições detalhadas da vida de alcova de uma mundana,

Lúcia, cujo verdadeiro nome é Maria da Glória, era linda, delicada, de aspecto suave, angelical, terna e

bondosa, uma prostituta que transpirava inocência.

Na obra, os conflitos íntimos das personagens e entre as personagens são determinados pelo

confronto do indivíduo com a sociedade do Rio de Janeiro em transformação, movida pelo dinheiro e

preocupada com o destaque proporcionado pela riqueza. Em Lúciola, a crítica social é implícita, pois os

valores sociais não são apenas da comunidade, mas estão arraigados nos próprios protagonistas. Para

Lúcia, a redenção é acompanhada de castigo e autopunição, pois ela própria, como Paulo, endossa os

preconceitos da sociedade.

Em Lucíola, a narração é feita em primeira pessoa, o que limita o foco narrativo a uma

perspectiva particular. Paulo narra os acontecimentos passados como se ele lá ainda estivesse, sem,

portanto, o olhar crítico e sereno do presente, sem o distanciamento necessário para uma reflexão mais

objetiva, entregando-se inteiramente às emoções e preconceitos que sentia outrora. Cabe, portanto, ao

leitor questionar a realidade e as motivações do comportamento de Lúcia.

Destaca-se no romance a divisão categórica entre o amor físico e o amor espiritual. Paulo,

com sua ingenuidade provinciana e sem estar acostumado à maliciosa maledicência da corte, será o único

amante de Lucíola capaz de perceber a inocência e a virgindade espiritual daquela prostitua.

Lúcia, apaixonada por Paulo, sofrerá pouco a pouco uma transformação que fará renascer nela

a adolescente pura e ingênua e que irá eliminando a prostituta escandalosa.

Numa solução moralista, a redenção será alcançada pela autopunição e pela morte. Como a

sociedade jamais aceitaria que ela fosse mulher objeto e ao mesmo tempo mãe, Lúcia morre. A causa de

sua morte é a infecção causada pelo filho morto em seu ventre, fruto de sua relação “pacaminosa” com

Paulo. A destruição do corpo proporciona a sobrevivência e supremacia do amor espiritual.

PERSONAGENS

LÚCIA, como se fossem duas personalidades numa só pessoa, sua principal característica é a

contradição. Ora era a cortesã sedutora e caprichosa, a mais linda, cobiçada e depravada do Rio de

Janeiro. Ora era Maria da Glória, a menina inocente e simples, para quem a prostituição era um tormento,

e os atos libidinosos constituíam verdadeira autopunição aliada a um angustiante sentimento de culpa.

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À proporção que Lúcia se apaixona por Paulo e é amada por ele, vai sepultando a prostituta e

assumindo a Maria da Glória, sua verdadeira personalidade. É assim que reencontra, através do

verdadeiro amor, a dignidade e inocência perdidas.

Sua expressão lembra ao leitor a dualidade de caráter, o olhar ora é “eloquente, raio

voluptuoso”, ora é “límpido, raio de luz de sua alma”. É bem o ideal de beleza romântica, “com sua

virgindade de alma tão pura e tão absoluta, que a não tisnaram os pecados do corpo”. Por isso, mesmo

nas horas em que mais lhe esplende a glória de cortesã, o romancista a veste simbolicamente de branco.

PAULO- Pernambucano, 25 anos, depois de formado, veio estabelecer-se no Rio de Janeiro. É

o narrador da história e como tal desvia a atenção do leitor para Lúcia, para outros personagens e demais

circunstâncias, relevando aos poucos apenas algumas informações sobre si mesmo.

Espírito observador e sensível, foi o único a compreender o estranho caráter de Lúcia. Seu

temperamento é reservado sem ser tímido: “...é Hábito meu, desde que entrei no mundo, não admitir os

estranhos à intimidade de minha vida ainda mesmo quando se trata de objetos sem consequência. Só

dispo a minha alma entre amigos”.

Suas reações psicológicas são expressas pelas reflexões que faz: “Que miserável animalidade

havia em mim naquela noite! Quando essa pobre mulher atingia o sublime do heroísmo e da abnegação,

eu descia até a estupidez e à brutalidade.”

A sua caminhada em direção ao amor pela heroína foi lenta. No início, o que o impelia para ela

era a atração sexual. Paulo, então, não a entende e transmite ao leitor suas incertezas e desconfianças. “Se

eu amasse essa mulher... mas tinha apenas sede de prazer, fazia dessa moça uma ideia talvez falsa....”

Dr. Sá e CUNHA─ amigos de Paulo, encarnam a moral burguesa e suas máscaras: austera

com os outros, benigna consigo. Ambos, frequentadores da cama de Lúcia, veem nela apenas a mulher

objeto. São esses representantes da sociedade preconceituosa e depravada que incutem em Paulo as

desconfianças, a malícia, o machismo e o desrespeito com relação a Lúcia, como o próprio Paulo revela.

“Cunha tinha razão, pensei eu, a cupidez e a avareza são as molas ocultas que movem este

belo autômato de carne”.

E chega mesmo a ser violento e sádico com ela: “Esta noite a senhora não se pertence é um

objeto, um bem do homem que a vestiu que a enfeitou a cobriu de joias, para mostrar ao público a sua

riqueza e generosidade...”

COUTO E ROCHINHA─ o primeiro é um velho depravado dado a jovem galante. Encarna a

obsessão sexual da velhice. Representa a sociedade que explora e corrompe. Foi quem, aproveitando-se

da angústia e das necessidades de Maria da Glória, corrompeu a inocência da menina. O Segundo é um

jovem de 17 anos, libertino precoce que esbanja a herança em orgias. Tem a pele amarrotada e profundas

olheiras. Um velho prematuro.

LAURA E NINA─ Meretrizes, como Lúcia, mas sem sua duplicidade de caráter. Não são

capazes de “descer tão baixo”, porém também não possuem a “nobreza e altivez” da protagonista.

JESSUÍNA E JACINTO ─ a primeira é uma mulher de 50 anos, seca e encarquilhada. Foi

quem recolheu Lúcia e a iniciou na prostituição, quando o pai expulsou a mocinha de casa. Jacinto é um

homem de 45 anos que “vive da prostituição das mulheres pobres e da devassidão dos homens ricos”.

Por seu intermédio Lúcia vendia as joias ricas que ganhava e enviava o dinheiro à família pobre. É ele

quem mantêm a ligação misteriosa no livro, entre Lúcia e a irmã Ana e cuida dos negócios dela.

ANA─ é a irmã de Lúcia, que a fez educar num colégio até os doze anos como se fosse sua

filha. Com a morte da irmã, Ana se torna o símbolo de continuação do amor de Paulo e Lúcia, embora

ele, em nome do amor por Lúcia se recuse a casar com a menina.

ENREDO

Paulo Silva, o personagem-narrador, é um rapaz de 25 anos, pernambucano, recém-chegado ao

Rio de Janeiro, em 1855, com a intenção de aí se estabelecer. No dia mesmo de sua chegada à corte (Rio

de Janeiro), após o jantar, sai em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua das Mangueiras

vê passar em um carro uma jovem muito bela. Um imprevisto faz parar o carro, dando a Paulo a

oportunidade de repará-la melhor. Dia após, em companhia de outro amigo, o Dr. Sá, Paulo participa da

festa de N. Senhora da Glória, quando lhe aparece a linda moça. Informando-se do amigo, fica sabendo

tratar-se de Lúcia, a prostituta mais bela, requintada e disputada da cidade. Mas ele se impressiona com a

"expressão cândida do rosto e a graciosa modéstia do gesto, ainda mesmo quando os lábios dessa mulher

revelam a cortesã franca e impudente."

Mais ou menos um mês após sua chegada, Paulo vai à procura de Lúcia, levado, é claro pelo

desejo de possuir aquela linda mulher. Após longa e agradável conversa, acaba se surpreendendo com o

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"casto e ingênuo perfume que respirava de toda a sua pessoa". A um mínimo lance de seus seios, "ela se

enrubesceu como uma menina e fechou o roupão" discretamente. E ele, que fora quente de desejos, agora,

na rua, se acha ridículo por não haver ousado mais. Além do que, o Dr. Sá lhe confirmara que "Lúcia é a

mais alegre companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de extravagância."

No dia seguinte Paulo está de volta à casa da heroína. Ao seu primeiro ataque, Lúcia se opõe

com duas lágrimas nos olhos. Supondo ser fingimento, mostra-se aborrecido e ela reage atirando-se

completamente nua em seus braços, já que era isso que Paulo queria. Mas no auge do prazer do sexo,

Paulo percebe algo diferente nas carícias de Lúcia: mesmo no clímax do gozo, parece que ela sofria.

Sente, na hora, um imenso dó, ao que ela corresponde cinicamente: "- Que importa? Contanto que tenha

gozado de minha mocidade! De que serve a velhice às mulheres como eu?" Ele quer pagar-lhe, ela rejeita

com um meigo aperto de mão. E ele retira-se realmente confuso com "a singularidade daquela cortesã,

que ora levava a impudência até o cinismo, ora esquecia-se do seu papel no simples e modesto recato de

uma senhora".

E as informações que lhe chegam a seu respeito são as piores. O Cunha diz que ela é "a mais

bonita mulher do Rio e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende. "Nunca fica

muito tempo com o mesmo amante, "pois não admite que ninguém adquira direitos sobre ela." Além do

mais, é avarenta. Vende tudo o que ganha. Até roupas. Para Paulo, no entanto, ela parece ser ao contrário

de tudo isso. Afinal, ela finge para ele ou já o ama? Paulo fica em dúvida atroz.

Por aqueles dias, numa ceia em casa do Sá, com pessoas (Lúcia, Paulo, Sr. Couto, Laura, Nina,

Rochinha, etc...) maldosamente convidadas para transformar a ceia em bacanal, Lúcia desfila toda nua,

imitando as poses lascivas dos quadros que estavam nas paredes, ante os olhares voluptuosos dos

presentes. Depois, em lágrimas, nos jardins da casa, ela se explica a Paulo. Fez aquilo por desespero, pois

ele havia zombado dela momentos antes: "se o Senhor não zombasse de mim, não o teria feito por coisa

alguma deste mundo..."E depois porque teria sido uma decepção total, afinal o que Sá pretendia era

mostrar a seu amigo Paulo quem era Lúcia. Não foi para isso que se deu essa ceia?! - explicou Lúcia. E

os dois se amaram profundamente, lá mesmo no jardim, á luz da lua, até de madrugada.”

Decorridos alguns dias, Paulo de certo modo passa a morar com Lúcia, e, apesar das

prevenções e restrições, mais e mais se liga a ela por afeto. Lúcia, por sua vez, já ama Paulo e se entrega e

ele como a um dono e senhor. Há momentos de atritos entre ambos. Passageiros, e todos causados pelo

egoísmo e incompreensão de Paulo que não entende as profundas transformações que o seu afeto operou

nela. E a tal ponto, que ela não suportaria mais a ideia de se lhe entregar na cama, pois sente por ele um

amor muito puro e profundo. E ele, levado mais por desejo que por afeto, não consegue aceitar esse

comportamento sublime.

As más línguas já comentam que Paulo, além de viver à custa de Lúcia, ainda a proíbe de

frequentar a sociedade. Lúcia que já então procurava viver mais retraída dispõe-se a voltar à vida

mundana apenas para salvar-lhe a reputação. Mas Paulo - complicado, sádico, estúpido e chato - não

compreende.

Lúcia já não vibra como outrora. Mesmo quando excitada por Paulo. É a doença que já se faz

sentir. Paulo não entende essa frieza e por vezes se exaspera. Ela sofre calada, pois reconhece que "o

amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe!". O grande

sentimento que os unia, arrefece, dando lugar a uma amizade simplesmente.

O comportamento de Lúcia é cada vez mais sublime e heroico. Já não existe mais nada da

antiga cortesã. E Paulo, por fim, entende essa nobreza de caráter e compreende o porquê das suas recusas.

Ela lhe recusava o corpo porque o amava em espírito. E também porque já está doente. Paulo promete

respeitá-la de ora em diante.

Lúcia um dia lhe revela todo o seu passado. Chamava-se Maria da Glória. Era uma menina

feliz de 14 anos e morava com os pais, quando, em 1850, sobreveio a terrível febre amarela. Seus pais, os

três irmãos, uma tia caíram de cama, Ela ficou só. No auge do desespero, resolveu pedir ajuda a um

vizinho rico, Sr. Couto, que em troca de algumas moedas de ouro tirou-lhe a inocência. "o dinheiro ganho

com a minha vergonha salvou a vida de meu pai e trouxe-nos um raio de esperança." Seu pai, porém,

sabendo da origem do dinheiro, e supondo ter a filha um amante, a expulsou de casa. Sozinha, sem ter

aonde ir, foi acolhida por uma mulher, Jesuína, que, quinze dias depois, à conduziu à prostituição,

estipulando pela beleza de seu corpo um alto preço. O dinheiro, ela o usava para cuidar do que restava da

família: "e eu tive o supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha

irmã".

Uma colega de infortúnio foi morar com ela. Chamava-se Lúcia. Tornaram-se amigas. Lúcia

morreu pouco depois. No atestado de óbito, a heroína fez constar que a falecida se chamava Maria da

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Glória, adotando para si o nome da amiga morta. "Morri, pois para o mundo e para minha família. Meus

pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída." E todo dinheiro

que ganhava, destinava-o à preparação de um dote para sua irmã, Ana, a qual passou a manter num

colégio interno depois da morte dos pais.

Agora Paulo compreende ainda melhor as atitudes misteriosas e contraditórias que Lúcia

tomava como cortesã. É que esse gênero de vida lhe parecia sórdido e abjeto. Ela suportava como a um

martírio, uma autopunição, uma maneira de reparar o seu pecado. Conhecido se passado heroico, ele

passa a sentir por Lúcia uma grande ternura e um amor sincero.

Seguem-se dias tranquilos. Lúcia muda-se para uma casinha modesta e Ana mora com ela.

"isto não pode durar muito! É impossível!" É o pressentimento da morte. Lúcia tenta convencer Paulo a

se casar com Ana, que já o ama também. Seria uma maneira de perpetuar o amor de ambos, já que ela se

julga indigna do puro amor conjugal. Paulo rejeita com veemência em nome do amor que não sente por

Ana.

Lúcia aborta o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto

morto, dizendo "Sua mãe lhe servirá de túmulo". E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo

prometendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo

por toda a eternidade.

TESTES

1) ( UFPR 2014)Leia com atenção dois fragmentos de Lucíola, de José de Alencar.

Se tivesse agora ao meu lado o Sr. Couto, estou certo que ele me aconselharia para as ocasiões difíceis

uma reticência. Com efeito, a reticência não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na

sociedade?

Sempre tive horror às reticências; nesta ocasião antes queria desistir do meu propósito, do que desdobrar

aos seus olhos esse véu de pontinhos, manto espesso, que para os severos moralistas da época, aplaca

todos os escrúpulos, e que em minha opinião tem o mesmo efeito da máscara, o de aguçar a curiosidade.

(p.253-254)

Quando a mulher se desnuda para o prazer, os olhos do amante a vestem de um fluido que cega; quando a

mulher se desnuda para a arte, a inspiração a transporta a mundos ideais onde a matéria se depura ao

hálito de Deus; quando porém a mulher se desnuda para cevar, mesmo com a vista, a concupiscência de

muitos, há nisto uma profanação da beleza e da criatura humana, que não tem nome.

É mais do que a prostituição: é a brutalidade da jumenta ciosa que se precipita pelo campo, mordendo os

cavalos para despertar-lhes o tardo apetite. (p. 258) ALENCAR, José de. Lucíola. Ficção completa e outros escritos, vol 1. Rio de

Janeiro: Aguilar, 1965.

Considere as afirmativas abaixo:

1. A estratégia narrativa de Lucíola superpõe, entre o real e o ficcional, três figuras autorais: José de

Alencar, o escritor do romance; Paulo, o autor das cartas em primeira pessoa; G.M, a destinatária que as

organiza em forma de livro, atribuindo-lhe o título.

2. Apesar de situado no romantismo brasileiro, Lucíola inaugura o naturalismo na literatura brasileira ao

explicar a sensualidade e a prostituição da protagonista como consequência do meio em que vive: a

sociedade degradada da Corte no ano de 1855.

3. O grande amor de Paulo por Lúcia faz com que ele conheça profundamente os sentimentos e

pensamentos da amada, gerando em alguns momentos uma oscilação entre a narração em primeira pessoa

e a narração onisciente.

4. Paulo é ao mesmo tempo personagem do acontecimento passado e narrador do relato presente. A

distância de seis anos possibilita comentários, conclusões e reflexões, deixando clara a diferença temporal

entre viver e narrar o vivido.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

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2) (PUCPR) ─ Assinale a alternativa correta. José de Alencar, na variedade de romances que escreveu

(urbanos, indianistas, de costumes, históricos, perfis de mulher), pretendia construir:

a) uma obra romanesca com os aspectos fundamentais da vida brasileira;

b) o novo romance brasileiro;

c) uma descrição da capacidade criativa do escritor brasileiro;

d) uma oposição ao romance brasileiro sem qualidade literária que o precedeu;

e) uma história indianista do Brasil.

3) Leia a seguinte transcrição e assinale a alternativa correta:

A corte tem mil seduções que arrebatam um provinciano aos seus hábitos, e o atordoam e preocupam

tanto, que só ao cabo de algum tempo o restituem à posse de si mesmo e ao livre uso de sua pessoa.

Assim me aconteceu. Reuniões, teatros, apresentações às notabilidades políticas, literárias e financeiras

de um e outro sexo; passeios aos arrabaldes; visitas de cerimônia e jantares obrigados; tudo isto encheu

o primeiro mês de minha estada no Rio de Janeiro.

a) O fragmento traz as impressões do narrador de Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, quando

do registro de sua viagem à corte.

b) O fragmento traz as impressões do narrador de Esaú e Jacó, de Machado de Assis, quando de sua

chegada à corte.

c) o fragmento revela a visão que o narrador de Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto,

possuía a respeito do Rio de Janeiro.

d) O fragmento contém as impressões de Paulo, o narrador de Lucíola, de José de Alencar, a respeito do

Rio de Janeiro.

e) O fragmento contém a percepção que o narrador do conto “o segredo”, de Lygia Fagundes Telles, tem

do Rio de Janeiro.

4) (ITA-SP) ─ O romance Lucíola pertence á chamada fase urbana da produção ficcional de José de

Alencar, neste livro:

a) o autor discute a desigualdade social no meio urbano;

b) O autor mostra a prostituição como um grave problema social urbano;

c) Não há uma típica narrativa romântica, pois o autor fala de prostituição, que é um tema naturalista;

d) não excite a presença do amor; há apenas promiscuidade sexual.

e) o autor focaliza o drama da prostituição na esfera do indivíduo, mostrando a diferença entre o ser e o

parecer.

5) Leia o trecho a seguir de Lucíola, romance de José de Alencar.

Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as

ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as

profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade

brasileira. Desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a

casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados à impuras exaltações, o fumo

aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.

O texto reflete uma das preocupações do autor em suas obras que foi:

a) criticar o preconceito racial e social no personagem representante da elite brasileira;

b) mostrar um panorama da vida nacional refletida na miscigenação racial e social;

c) destacar os vícios da sociedade brasileira, principalmente em relação à falta de higiene;

d) evidenciar a escandalosa segregação social promovida pelos ricos contra os mais pobres;

e) Ilustrar com um painel realista o nivelamento de toda a sociedade, sem distinção de ou cor, e em todos

os vícios imagináveis.

6) No texto de José de Alencar, os elementos literários que estruturam a narrativa ajustam-se com

perfeição à estética do Romantismo. Observe o fragmento abaixo:

Uma brisa ligeira, ainda impregnada das evaporações das águas, refrescava a atmosfera. Os lábios

aspiravam com delícias o sabor desses puros bafejos, que lavavam os pulmões fatigados de uma

respiração árida e miasmática. Os olhos se recreavam na festa campestre e matutina da natureza

fluminense, da qual as belezas de todos os climas são convivas. Subia a passo curto e repousado a

ladeira de Santa Teresa, calculando a hora de minha chegada pelo despertar de Lúcia; o meu

pensamento porém se abria as asas, e precedendo-me, ia saudar a minha doce e terna amida.

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Identifique a alternativa em que o elemento literário apresentado não se relaciona aos princípios estéticos

do Romantismo

a) Visão subjetiva da realidade que se apresenta impregnada de emoção e sensibilidade;

b) a natureza “significa e revela” é expressiva;

c) Como se nota no segundo período, dá-se destaque aos aspectos negativos e doentios da natureza

humana;

d) a mulher é exaltada e envolta numa aura de doce e terna beleza.

e) o sujeito é o fulcro central da visão romântica do mundo.

7) Sobre o romance Lucíola e seu autor, José de Alencar, é correto afirmar que:

a) a protagonista, Lúcia, escapa ao padrão de personagem feminina romântica, pois revela-se uma mulher

forte e decidida, que age de forma racional em todas as circunstâncias de sua vida, jamais se deixando

levar pelos sentimentos;

b) dentro da produção romanesca de José de Alencar, Lucíola caracteriza-se como uma obra que expressa

a idealização das virtudes e o heroísmo das personagens, uma vez que os conflitos são apenas de ordem

sentimental, não figurando as desarmonias geradas no âmbito da convivência social;

c) influenciado pelo pensamento positivista e cientificista que dominava a época, final do século XIX, o

romance mostra personagens cujos comportamentos são atribuídos à ação do meio em que vivem e à

herança genética;

d) Alencar foi um escritor exemplarmente romântico, mas um romântico que tem tutano, capaz de criar

um amor como esse de Lúcia e Paulo. Um amor vivo, amor de carne e espírito, tão intenso que eles são

capazes de sublimar até mesmo as solicitações do sexo, quando é dessa renúncia que se vai fazer o amor

maior.

e) o romance Lucíola é uma das obras mais representativas da ficção de José de Alencar. Nesse livro,

encontramos a formulação do ideal do amor romântico: o amor verdadeiro e absoluto, quando pode se

realizar, leva ao casamento feliz e indissolúvel.

8) Assinale a alternativa incorreta a respeito de Lucíola, de José de Alencar.

a) É Paulo─ como protagonista─ simultaneamente agente da narração e objeto da narrativa.

b) É um romance que apresenta uma pluralidade de olhares narrativos, principalmente na caracterização

da personagem Lúcia.

c) É um romance que traz uma visão alienada da sociedade urbana do Rio de Janeiro, por focalizar

unicamente o drama individual da protagonista.

d) É através do distanciamento temporal que a narrativa se torna possível, pois a narração é ativada pela

memória.

e) É a protagonista construída em dualidade, uma vez que, dissociando corpo e alma, ela também tem

dois nomes, duas casas, dois estilos de vida.

9) Em relação a Lucíola, de José de Alencar, assinale a alternativa incorreta.

a) A obra apresenta muito adequadamente o tema da prostituta regenerada, bem ao gosto do Romantismo.

b) O narrador tem, além dos leitores da obra, explicitamente uma interlocutora como personagem-

leitora.

c) A narrativa se constrói em dois tempos muito bem marcados: o da vivência e o da narração de

vivência.

d) A aparição da Maria da Glória resolve todos os problemas da personagem Lúcia, porque aponta o

caminho da expiação da culpa, construindo um final feliz para a narrativa.

e) É possível perceber nesse romance a presença de muitos paradoxos românticos ( virtude x vício, alma

x corpo, amor x prazer, ingenuidade x devassidão, família x prostituição).

10) De acordo com a leitura da obra Lucíola, de José de Alencar, julgue as afirmativas e, a seguir, marque

a alternativa correta.

I- Há, em Lucíola, um clima de sensualidade constante, combinando com ardor e sofrimento, bem no

clima da literatura romântica que predominava na segunda metade do século XIX.

II- o romance entre os protagonistas, Lúcia e Paulo, “sacode” a Corte e provoca um excitado burburinho

na sociedade. De um lado, a mulher que, sendo de todos, jurava não se prender a nenhum homem: de

outro, o homem em dúvida entre o amor e o preconceito.

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III- O foco narrativo é em 3ª pessoa; o narrador-observador não participa da história; com isso, há um

forte apelo à imaginação do leitor.

IV Em Lucíola, o amor não resiste às barreiras sociais e morais. Assim é o romance da bela Lúcia, a mais

rica e cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo jovem modesto e frágil.

a) Apenas a afirmativa I é correta.

b) Apenas as afirmativas I, II e IV são corretas.

c) Apenas as afirmativas I e IV são corretas.

d) Apenas as afirmativas I e II são corretas.

e) Apenas as afirmativas I e II e III são corretas.

11) Leia o texto para responder à questão.

Uma mulher como eu não se pertence: é uma coisa pública, um carro de praça, que não pode recusar

quem chega. (Lucíola, de José de Alencar).

Pelas palavras da protagonista, percebe-se um forte desabafo. Esse sentimento é consequência:

a) de submissão, que é característica da própria personagem;

b) do forte apego que Lucíola tinha a sua família;

c) da impossibilidade de se manter como centro do poder e do domínio;

d) de resignação, recusando-se a abandonar sua vida para viver com Paulo;

e) de velhos preconceitos, já que a sociedade primava pelos bons costumes.

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CURCEP/ GABARITO

PROFª Drª CAMILA M PASQUAL

LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR

ANÁLISE Lucíola é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "perfis de

mulheres" (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um

levantamento da nossa vida burguesa do século passado. A obra, publicada em 1862, é um romance de

amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça

presente. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", ou seja, o narrador da história é um personagem

importante da mesma, Paulo Silva, narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de

Alencar), que as publica em livro com o título de Lucíola. Fixam o Rio de Janeiro da época, com a sua

fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que frequentava o Teatro Lírico,

passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no Flamengo, em Botafogo ou

Santa Teresa e era protagonista de dramas de amor que iam do simples namoro à paixão desvairada.

Em todos os romances urbanos, Alencar aborda o amor como tema central. Ou, para ser mais

exato, "aborda a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor". Mas o amor

como o entendia a mentalidade romântica da época, um amor sublimado, idealizado, capaz de renúncias,

de sacrifícios, de heroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força acrisoladora de sua

intensidade e de sua paixão.

Lucíola foi um romance ousado para a época. Pela primeira vez a literatura focalizava o tema

da prostituição que revelava cenas íntimas e descrições detalhadas da vida de alcova de uma mundana,

Lúcia, cujo verdadeiro nome é Maria da Glória, era linda, delicada, de aspecto suave, angelical, terna e

bondosa, uma prostituta que transpirava inocência.

Na obra, os conflitos íntimos das personagens e entre as personagens são determinados pelo

confronto do indivíduo com a sociedade do Rio de Janeiro em transformação, movida pelo dinheiro e

preocupada com o destaque proporcionado pela riqueza. Em Lúciola, a crítica social é implícita, pois os

valores sociais não são apenas da comunidade, mas estão arraigados nos próprios protagonistas. Para

Lúcia, a redenção é acompanhada de castigo e autopunição, pois ela própria, como Paulo, endossa os

preconceitos da sociedade.

Em Lucíola, a narração é feita em primeira pessoa, o que limita o foco narrativo a uma

perspectiva particular. Paulo narra os acontecimentos passados como se ele lá ainda estivesse, sem,

portanto, o olhar crítico e sereno do presente, sem o distanciamento necessário para uma reflexão mais

objetiva, entregando-se inteiramente às emoções e preconceitos que sentia outrora. Cabe, portanto, ao

leitor questionar a realidade e as motivações do comportamento de Lúcia.

Destaca-se no romance a divisão categórica entre o amor físico e o amor espiritual. Paulo,

com sua ingenuidade provinciana e sem estar acostumado à maliciosa maledicência da corte, será o único

amante de Lucíola capaz de perceber a inocência e a virgindade espiritual daquela prostitua.

Lúcia, apaixonada por Paulo, sofrerá pouco a pouco uma transformação que fará renascer nela

a adolescente pura e ingênua e que irá eliminando a prostituta escandalosa.

Numa solução moralista, a redenção será alcançada pela autopunição e pela morte. Como a

sociedade jamais aceitaria que ela fosse mulher objeto e ao mesmo tempo mãe, Lúcia morre. A causa de

sua morte é a infecção causada pelo filho morto em seu ventre, fruto de sua relação “pacaminosa” com

Paulo. A destruição do corpo proporciona a sobrevivência e supremacia do amor espiritual.

PERSONAGENS

LÚCIA, como se fossem duas personalidades numa só pessoa, sua principal característica é a

contradição. Ora era a cortesã sedutora e caprichosa, a mais linda, cobiçada e depravada do Rio de

Janeiro. Ora era Maria da Glória, a menina inocente e simples, para quem a prostituição era um tormento,

e os atos libidinosos constituíam verdadeira autopunição aliada a um angustiante sentimento de culpa.

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À proporção que Lúcia se apaixona por Paulo e é amada por ele, vai sepultando a prostituta e

assumindo a Maria da Glória, sua verdadeira personalidade. É assim que reencontra, através do

verdadeiro amor, a dignidade e inocência perdidas.

Sua expressão lembra ao leitor a dualidade de caráter, o olhar ora é “eloquente, raio

voluptuoso”, ora é “límpido, raio de luz de sua alma”. É bem o ideal de beleza romântica, “com sua

virgindade de alma tão pura e tão absoluta, que a não tisnaram os pecados do corpo”. Por isso, mesmo

nas horas em que mais lhe esplende a glória de cortesã, o romancista a veste simbolicamente de branco.

PAULO- Pernambucano, 25 anos, depois de formado, veio estabelecer-se no Rio de Janeiro. É

o narrador da história e como tal desvia a atenção do leitor para Lúcia, para outros personagens e demais

circunstâncias, relevando aos poucos apenas algumas informações sobre si mesmo.

Espírito observador e sensível, foi o único a compreender o estranho caráter de Lúcia. Seu

temperamento é reservado sem ser tímido: “...é Hábito meu, desde que entrei no mundo, não admitir os

estranhos à intimidade de minha vida ainda mesmo quando se trata de objetos sem consequência. Só

dispo a minha alma entre amigos”.

Suas reações psicológicas são expressas pelas reflexões que faz: “Que miserável animalidade

havia em mim naquela noite! Quando essa pobre mulher atingia o sublime do heroísmo e da abnegação,

eu descia até a estupidez e à brutalidade.”

A sua caminhada em direção ao amor pela heroína foi lenta. No início, o que o impelia para ela

era a atração sexual. Paulo, então, não a entende e transmite ao leitor suas incertezas e desconfianças. “Se

eu amasse essa mulher... mas tinha apenas sede de prazer, fazia dessa moça uma ideia talvez falsa....”

Dr. Sá e CUNHA─ amigos de Paulo, encarnam a moral burguesa e suas máscaras: austera

com os outros, benigna consigo. Ambos, frequentadores da cama de Lúcia, veem nela apenas a mulher

objeto. São esses representantes da sociedade preconceituosa e depravada que incutem em Paulo as

desconfianças, a malícia, o machismo e o desrespeito com relação a Lúcia, como o próprio Paulo revela.

“Cunha tinha razão, pensei eu, a cupidez e a avareza são as molas ocultas que movem este

belo autômato de carne”.

E chega mesmo a ser violento e sádico com ela: “Esta noite a senhora não se pertence é um

objeto, um bem do homem que a vestiu que a enfeitou a cobriu de joias, para mostrar ao público a sua

riqueza e generosidade...”

COUTO E ROCHINHA─ o primeiro é um velho depravado dado a jovem galante. Encarna a

obsessão sexual da velhice. Representa a sociedade que explora e corrompe. Foi quem, aproveitando-se

da angústia e das necessidades de Maria da Glória, corrompeu a inocência da menina. O Segundo é um

jovem de 17 anos, libertino precoce que esbanja a herança em orgias. Tem a pele amarrotada e profundas

olheiras. Um velho prematuro.

LAURA E NINA─ Meretrizes, como Lúcia, mas sem sua duplicidade de caráter. Não são

capazes de “descer tão baixo”, porém também não possuem a “nobreza e altivez” da protagonista.

JESSUÍNA E JACINTO ─ a primeira é uma mulher de 50 anos, seca e encarquilhada. Foi

quem recolheu Lúcia e a iniciou na prostituição, quando o pai expulsou a mocinha de casa. Jacinto é um

homem de 45 anos que “vive da prostituição das mulheres pobres e da devassidão dos homens ricos”.

Por seu intermédio Lúcia vendia as joias ricas que ganhava e enviava o dinheiro à família pobre. É ele

quem mantêm a ligação misteriosa no livro, entre Lúcia e a irmã Ana e cuida dos negócios dela.

ANA─ é a irmã de Lúcia, que a fez educar num colégio até os doze anos como se fosse sua

filha. Com a morte da irmã, Ana se torna o símbolo de continuação do amor de Paulo e Lúcia, embora

ele, em nome do amor por Lúcia se recuse a casar com a menina.

ENREDO

Paulo Silva, o personagem-narrador, é um rapaz de 25 anos, pernambucano, recém-chegado ao

Rio de Janeiro, em 1855, com a intenção de aí se estabelecer. No dia mesmo de sua chegada à corte (Rio

de Janeiro), após o jantar, sai em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua das Mangueiras

vê passar em um carro uma jovem muito bela. Um imprevisto faz parar o carro, dando a Paulo a

oportunidade de repará-la melhor. Dia após, em companhia de outro amigo, o Dr. Sá, Paulo participa da

festa de N. Senhora da Glória, quando lhe aparece a linda moça. Informando-se do amigo, fica sabendo

tratar-se de Lúcia, a prostituta mais bela, requintada e disputada da cidade. Mas ele se impressiona com a

"expressão cândida do rosto e a graciosa modéstia do gesto, ainda mesmo quando os lábios dessa mulher

revelam a cortesã franca e impudente."

Mais ou menos um mês após sua chegada, Paulo vai à procura de Lúcia, levado, é claro pelo

desejo de possuir aquela linda mulher. Após longa e agradável conversa, acaba se surpreendendo com o

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"casto e ingênuo perfume que respirava de toda a sua pessoa". A um mínimo lance de seus seios, "ela se

enrubesceu como uma menina e fechou o roupão" discretamente. E ele, que fora quente de desejos, agora,

na rua, se acha ridículo por não haver ousado mais. Além do que, o Dr. Sá lhe confirmara que "Lúcia é a

mais alegre companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de extravagância."

No dia seguinte Paulo está de volta à casa da heroína. Ao seu primeiro ataque, Lúcia se opõe

com duas lágrimas nos olhos. Supondo ser fingimento, mostra-se aborrecido e ela reage atirando-se

completamente nua em seus braços, já que era isso que Paulo queria. Mas no auge do prazer do sexo,

Paulo percebe algo diferente nas carícias de Lúcia: mesmo no clímax do gozo, parece que ela sofria.

Sente, na hora, um imenso dó, ao que ela corresponde cinicamente: "- Que importa? Contanto que tenha

gozado de minha mocidade! De que serve a velhice às mulheres como eu?" Ele quer pagar-lhe, ela rejeita

com um meigo aperto de mão. E ele retira-se realmente confuso com "a singularidade daquela cortesã,

que ora levava a impudência até o cinismo, ora esquecia-se do seu papel no simples e modesto recato de

uma senhora".

E as informações que lhe chegam a seu respeito são as piores. O Cunha diz que ela é "a mais

bonita mulher do Rio e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende. "Nunca fica

muito tempo com o mesmo amante, "pois não admite que ninguém adquira direitos sobre ela." Além do

mais, é avarenta. Vende tudo o que ganha. Até roupas. Para Paulo, no entanto, ela parece ser ao contrário

de tudo isso. Afinal, ela finge para ele ou já o ama? Paulo fica em dúvida atroz.

Por aqueles dias, numa ceia em casa do Sá, com pessoas (Lúcia, Paulo, Sr. Couto, Laura, Nina,

Rochinha, etc...) maldosamente convidadas para transformar a ceia em bacanal, Lúcia desfila toda nua,

imitando as poses lascivas dos quadros que estavam nas paredes, ante os olhares voluptuosos dos

presentes. Depois, em lágrimas, nos jardins da casa, ela se explica a Paulo. Fez aquilo por desespero, pois

ele havia zombado dela momentos antes: "se o Senhor não zombasse de mim, não o teria feito por coisa

alguma deste mundo..."E depois porque teria sido uma decepção total, afinal o que Sá pretendia era

mostrar a seu amigo Paulo quem era Lúcia. Não foi para isso que se deu essa ceia?! - explicou Lúcia. E

os dois se amaram profundamente, lá mesmo no jardim, á luz da lua, até de madrugada.”

Decorridos alguns dias, Paulo de certo modo passa a morar com Lúcia, e, apesar das

prevenções e restrições, mais e mais se liga a ela por afeto. Lúcia, por sua vez, já ama Paulo e se entrega e

ele como a um dono e senhor. Há momentos de atritos entre ambos. Passageiros, e todos causados pelo

egoísmo e incompreensão de Paulo que não entende as profundas transformações que o seu afeto operou

nela. E a tal ponto, que ela não suportaria mais a ideia de se lhe entregar na cama, pois sente por ele um

amor muito puro e profundo. E ele, levado mais por desejo que por afeto, não consegue aceitar esse

comportamento sublime.

As más línguas já comentam que Paulo, além de viver à custa de Lúcia, ainda a proíbe de

frequentar a sociedade. Lúcia que já então procurava viver mais retraída dispõe-se a voltar à vida

mundana apenas para salvar-lhe a reputação. Mas Paulo - complicado, sádico, estúpido e chato - não

compreende.

Lúcia já não vibra como outrora. Mesmo quando excitada por Paulo. É a doença que já se faz

sentir. Paulo não entende essa frieza e por vezes se exaspera. Ela sofre calada, pois reconhece que "o

amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe!". O grande

sentimento que os unia, arrefece, dando lugar a uma amizade simplesmente.

O comportamento de Lúcia é cada vez mais sublime e heroico. Já não existe mais nada da

antiga cortesã. E Paulo, por fim, entende essa nobreza de caráter e compreende o porquê das suas recusas.

Ela lhe recusava o corpo porque o amava em espírito. E também porque já está doente. Paulo promete

respeitá-la de ora em diante.

Lúcia um dia lhe revela todo o seu passado. Chamava-se Maria da Glória. Era uma menina

feliz de 14 anos e morava com os pais, quando, em 1850, sobreveio a terrível febre amarela. Seus pais, os

três irmãos, uma tia caíram de cama, Ela ficou só. No auge do desespero, resolveu pedir ajuda a um

vizinho rico, Sr. Couto, que em troca de algumas moedas de ouro tirou-lhe a inocência. "o dinheiro ganho

com a minha vergonha salvou a vida de meu pai e trouxe-nos um raio de esperança." Seu pai, porém,

sabendo da origem do dinheiro, e supondo ter a filha um amante, a expulsou de casa. Sozinha, sem ter

aonde ir, foi acolhida por uma mulher, Jesuína, que, quinze dias depois, à conduziu à prostituição,

estipulando pela beleza de seu corpo um alto preço. O dinheiro, ela o usava para cuidar do que restava da

família: "e eu tive o supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha

irmã".

Uma colega de infortúnio foi morar com ela. Chamava-se Lúcia. Tornaram-se amigas. Lúcia

morreu pouco depois. No atestado de óbito, a heroína fez constar que a falecida se chamava Maria da

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Glória, adotando para si o nome da amiga morta. "Morri, pois para o mundo e para minha família. Meus

pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída." E todo dinheiro

que ganhava, destinava-o à preparação de um dote para sua irmã, Ana, a qual passou a manter num

colégio interno depois da morte dos pais.

Agora Paulo compreende ainda melhor as atitudes misteriosas e contraditórias que Lúcia

tomava como cortesã. É que esse gênero de vida lhe parecia sórdido e abjeto. Ela suportava como a um

martírio, uma autopunição, uma maneira de reparar o seu pecado. Conhecido se passado heroico, ele

passa a sentir por Lúcia uma grande ternura e um amor sincero.

Seguem-se dias tranquilos. Lúcia muda-se para uma casinha modesta e Ana mora com ela.

"isto não pode durar muito! É impossível!" É o pressentimento da morte. Lúcia tenta convencer Paulo a

se casar com Ana, que já o ama também. Seria uma maneira de perpetuar o amor de ambos, já que ela se

julga indigna do puro amor conjugal. Paulo rejeita com veemência em nome do amor que não sente por

Ana.

Lúcia aborta o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto

morto, dizendo "Sua mãe lhe servirá de túmulo". E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo

prometendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo

por toda a eternidade.

TESTES

1) ( UFPR 2014)Leia com atenção dois fragmentos de Lucíola, de José de Alencar.

Se tivesse agora ao meu lado o Sr. Couto, estou certo que ele me aconselharia para as ocasiões difíceis

uma reticência. Com efeito, a reticência não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na

sociedade?

Sempre tive horror às reticências; nesta ocasião antes queria desistir do meu propósito, do que desdobrar

aos seus olhos esse véu de pontinhos, manto espesso, que para os severos moralistas da época, aplaca

todos os escrúpulos, e que em minha opinião tem o mesmo efeito da máscara, o de aguçar a curiosidade.

(p.253-254)

Quando a mulher se desnuda para o prazer, os olhos do amante a vestem de um fluido que cega; quando a

mulher se desnuda para a arte, a inspiração a transporta a mundos ideais onde a matéria se depura ao

hálito de Deus; quando porém a mulher se desnuda para cevar, mesmo com a vista, a concupiscência de

muitos, há nisto uma profanação da beleza e da criatura humana, que não tem nome.

É mais do que a prostituição: é a brutalidade da jumenta ciosa que se precipita pelo campo, mordendo os

cavalos para despertar-lhes o tardo apetite. (p. 258) ALENCAR, José de. Lucíola. Ficção completa e outros escritos, vol 1. Rio de

Janeiro: Aguilar, 1965.

Considere as afirmativas abaixo:

1. A estratégia narrativa de Lucíola superpõe, entre o real e o ficcional, três figuras autorais: José de

Alencar, o escritor do romance; Paulo, o autor das cartas em primeira pessoa; G.M, a destinatária que as

organiza em forma de livro, atribuindo-lhe o título.

2. Apesar de situado no romantismo brasileiro, Lucíola inaugura o naturalismo na literatura brasileira ao

explicar a sensualidade e a prostituição da protagonista como consequência do meio em que vive: a

sociedade degradada da Corte no ano de 1855.

3. O grande amor de Paulo por Lúcia faz com que ele conheça profundamente os sentimentos e

pensamentos da amada, gerando em alguns momentos uma oscilação entre a narração em primeira pessoa

e a narração onisciente.

4. Paulo é ao mesmo tempo personagem do acontecimento passado e narrador do relato presente. A

distância de seis anos possibilita comentários, conclusões e reflexões, deixando clara a diferença temporal

entre viver e narrar o vivido.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

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2) (PUCPR) ─ Assinale a alternativa correta. José de Alencar, na variedade de romances que escreveu

(urbanos, indianistas, de costumes, históricos, perfis de mulher), pretendia construir:

a) uma obra romanesca com os aspectos fundamentais da vida brasileira;

b) o novo romance brasileiro;

c) uma descrição da capacidade criativa do escritor brasileiro;

d) uma oposição ao romance brasileiro sem qualidade literária que o precedeu;

e) uma história indianista do Brasil.

3) Leia a seguinte transcrição e assinale a alternativa correta:

A corte tem mil seduções que arrebatam um provinciano aos seus hábitos, e o atordoam e preocupam

tanto, que só ao cabo de algum tempo o restituem à posse de si mesmo e ao livre uso de sua pessoa.

Assim me aconteceu. Reuniões, teatros, apresentações às notabilidades políticas, literárias e financeiras

de um e outro sexo; passeios aos arrabaldes; visitas de cerimônia e jantares obrigados; tudo isto encheu

o primeiro mês de minha estada no Rio de Janeiro.

a) O fragmento traz as impressões do narrador de Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, quando

do registro de sua viagem à corte.

b) O fragmento traz as impressões do narrador de Esaú e Jacó, de Machado de Assis, quando de sua

chegada à corte.

c) o fragmento revela a visão que o narrador de Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto,

possuía a respeito do Rio de Janeiro.

d) O fragmento contém as impressões de Paulo, o narrador de Lucíola, de José de Alencar, a

respeito do Rio de Janeiro.

e) O fragmento contém a percepção que o narrador do conto “o segredo”, de Lygia Fagundes Telles, tem

do Rio de Janeiro.

4) (ITA-SP) ─ O romance Lucíola pertence á chamada fase urbana da produção ficcional de José de

Alencar, neste livro:

a) o autor discute a desigualdade social no meio urbano;

b) O autor mostra a prostituição como um grave problema social urbano;

c) Não há uma típica narrativa romântica, pois o autor fala de prostituição, que é um tema naturalista;

d) não excite a presença do amor; há apenas promiscuidade sexual.

e) o autor focaliza o drama da prostituição na esfera do indivíduo, mostrando a diferença entre o

ser e o parecer.

5) Leia o trecho a seguir de Lucíola, romance de José de Alencar.

Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as

ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as

profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade

brasileira. Desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a

casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados à impuras exaltações, o fumo

aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.

O texto reflete uma das preocupações do autor em suas obras que foi:

a) criticar o preconceito racial e social no personagem representante da elite brasileira;

b) mostrar um panorama da vida nacional refletida na miscigenação racial e social;

c) destacar os vícios da sociedade brasileira, principalmente em relação à falta de higiene;

d) evidenciar a escandalosa segregação social promovida pelos ricos contra os mais pobres;

e) Ilustrar com um painel realista o nivelamento de toda a sociedade, sem distinção de ou cor, e em todos

os vícios imagináveis.

6) No texto de José de Alencar, os elementos literários que estruturam a narrativa ajustam-se com

perfeição à estética do Romantismo. Observe o fragmento abaixo:

Uma brisa ligeira, ainda impregnada das evaporações das águas, refrescava a atmosfera. Os lábios

aspiravam com delícias o sabor desses puros bafejos, que lavavam os pulmões fatigados de uma

respiração árida e miasmática. Os olhos se recreavam na festa campestre e matutina da natureza

fluminense, da qual as belezas de todos os climas são convivas. Subia a passo curto e repousado a

ladeira de Santa Teresa, calculando a hora de minha chegada pelo despertar de Lúcia; o meu

pensamento porém se abria as asas, e precedendo-me, ia saudar a minha doce e terna amida.

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Identifique a alternativa em que o elemento literário apresentado não se relaciona aos princípios estéticos

do Romantismo

a) Visão subjetiva da realidade que se apresenta impregnada de emoção e sensibilidade;

b) a natureza “significa e revela” é expressiva;

c) Como se nota no segundo período, dá-se destaque aos aspectos negativos e doentios da natureza

humana;

d) a mulher é exaltada e envolta numa aura de doce e terna beleza.

e) o sujeito é o fulcro central da visão romântica do mundo.

7) Sobre o romance Lucíola e seu autor, José de Alencar, é correto afirmar que:

a) a protagonista, Lúcia, escapa ao padrão de personagem feminina romântica, pois revela-se uma mulher

forte e decidida, que age de forma racional em todas as circunstâncias de sua vida, jamais se deixando

levar pelos sentimentos;

b) dentro da produção romanesca de José de Alencar, Lucíola caracteriza-se como uma obra que expressa

a idealização das virtudes e o heroísmo das personagens, uma vez que os conflitos são apenas de ordem

sentimental, não figurando as desarmonias geradas no âmbito da convivência social;

c) influenciado pelo pensamento positivista e cientificista que dominava a época, final do século XIX, o

romance mostra personagens cujos comportamentos são atribuídos à ação do meio em que vivem e à

herança genética;

d) Alencar foi um escritor exemplarmente romântico, mas um romântico que tem tutano, capaz de

criar um amor como esse de Lúcia e Paulo. Um amor vivo, amor de carne e espírito, tão intenso que

eles são capazes de sublimar até mesmo as solicitações do sexo, quando é dessa renúncia que se vai

fazer o amor maior.

e) o romance Lucíola é uma das obras mais representativas da ficção de José de Alencar. Nesse livro,

encontramos a formulação do ideal do amor romântico: o amor verdadeiro e absoluto, quando pode se

realizar, leva ao casamento feliz e indissolúvel.

8) Assinale a alternativa incorreta a respeito de Lucíola, de José de Alencar.

a) É Paulo─ como protagonista─ simultaneamente agente da narração e objeto da narrativa.

b) É um romance que apresenta uma pluralidade de olhares narrativos, principalmente na caracterização

da personagem Lúcia.

c) É um romance que traz uma visão alienada da sociedade urbana do Rio de Janeiro, por focalizar

unicamente o drama individual da protagonista.

d) É através do distanciamento temporal que a narrativa se torna possível, pois a narração é ativada pela

memória.

e) É a protagonista construída em dualidade, uma vez que, dissociando corpo e alma, ela também tem

dois nomes, duas casas, dois estilos de vida.

9) Em relação a Lucíola, de José de Alencar, assinale a alternativa incorreta.

a) A obra apresenta muito adequadamente o tema da prostituta regenerada, bem ao gosto do Romantismo.

b) O narrador tem, além dos leitores da obra, explicitamente uma interlocutora como personagem-

leitora.

c) A narrativa se constrói em dois tempos muito bem marcados: o da vivência e o da narração de

vivência.

d) A aparição da Maria da Glória resolve todos os problemas da personagem Lúcia, porque aponta

o caminho da expiação da culpa, construindo um final feliz para a narrativa.

e) É possível perceber nesse romance a presença de muitos paradoxos românticos ( virtude x vício, alma

x corpo, amor x prazer, ingenuidade x devassidão, família x prostituição).

10) De acordo com a leitura da obra Lucíola, de José de Alencar, julgue as afirmativas e, a seguir, marque

a alternativa correta.

I- Há, em Lucíola, um clima de sensualidade constante, combinando com ardor e sofrimento, bem no

clima da literatura romântica que predominava na segunda metade do século XIX.

II- o romance entre os protagonistas, Lúcia e Paulo, “sacode” a Corte e provoca um excitado burburinho

na sociedade. De um lado, a mulher que, sendo de todos, jurava não se prender a nenhum homem: de

outro, o homem em dúvida entre o amor e o preconceito.

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III- O foco narrativo é em 3ª pessoa; o narrador-observador não participa da história; com isso, há um

forte apelo à imaginação do leitor.

IV Em Lucíola, o amor não resiste às barreiras sociais e morais. Assim é o romance da bela Lúcia, a mais

rica e cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo jovem modesto e frágil.

a) Apenas a afirmativa I é correta.

b) Apenas as afirmativas I, II e IV são corretas.

c) Apenas as afirmativas I e IV são corretas.

d) Apenas as afirmativas I e II são corretas.

e) Apenas as afirmativas I e II e III são corretas.

11) Leia o texto para responder à questão.

Uma mulher como eu não se pertence: é uma coisa pública, um carro de praça, que não pode recusar

quem chega. (Lucíola, de José de Alencar).

Pelas palavras da protagonista, percebe-se um forte desabafo. Esse sentimento é consequência:

a) de submissão, que é característica da própria personagem;

b) do forte apego que Lucíola tinha a sua família;

c) da impossibilidade de se manter como centro do poder e do domínio;

d) de resignação, recusando-se a abandonar sua vida para viver com Paulo;

e) de velhos preconceitos, já que a sociedade primava pelos bons costumes.

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