113

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO - monografias.ufrn.br · curso de arquitetura e urbanismo centro terapÊutico niyama- casa de acolhimento para mulheres em situaÇÃo de drogadiÇÃo

  • Upload
    lammien

  • View
    228

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

CENTRO TERAPÊUTICO NIYAMA- CASA DE ACOLHIMENTO PARA MULHERES EM

SITUAÇÃO DE DROGADIÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

KELLY JESUS SODRÉ

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista. Orientador: Heitor de Andrade da Silva

Natal, 2017.1

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - CT

Sodré, Kelly Jesus. Centro terapêutico Niyama: casa de acolhimento para mulheres em situação de drogadição / Kelly Jesus Sodré. - Natal, 2017. 111f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Heitor de Andrade da Silva. 1. Centro Terapêutico - Arquitetura - Monografia. 2. Humanização - Monografia. 3. Dependência Química - Monografia. I. Silva, Heitor de Andrade da. II. Título. RN/UF/BSE15 CDU 725.51

KELLY JESUS SODRÉ

CENTRO TERAPÊUTICO NIYAMA- CASA DE ACOLHIMENTO PARA MULHERES EM

SITUAÇÃO DE DROGADIÇÃO

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Heitor de Andrade da Silva Professor Orientador

_________________________________________________

Edna Moura Pinto Avaliador interno – UFRN

__________________________________________________

Cláudia Gazola Avaliador externo

RESUMO

Apesar do elevado número de usuários de drogas na atualidade, é

possível observar que parte do serviço de recuperação desse usuário se

apresenta de maneira inadequada, uma vez que são compostos por

edificações construídas com outros propósitos e que foram adaptadas

para esse novo uso. Tendo em vista que a arquitetura pode ser

responsável por promover sensações entre os elementos que compõe um

espaço e o seu usuário, e que o ambiente onde o paciente é tratado está

diretamente relacionado ao seu comportamento e reações, faz-se

necessário o desenvolvimento de um centro cujo projeto atenda às

necessidades específicas desse usuário. Esses fatores aliados ao baixo

número de entidades que se propõem a tratar o público feminino, no

tocante à dependência química, contribuíram para o interesse em se

desenvolver o projeto de uma Centro Terapêutico destinado ao cuidado

e tratamento de mulheres que se envolveram com o consumo excedente

de álcool e outras drogas. Dessa forma, o objetivo geral desse trabalho

é projetar um Centro Terapêutico para dependentes químicos com

ambientes que viabilizem o tratamento, através da interação interpessoal

e espaço humanizado através do entendimento das especificidades da

psicologia ambiental, focando no processo de concepção do projeto.

Palavras-Chave: Centro Terapêutico, Humanização e,

Dependência Química.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquemas de abordagens na concepção.................. 21

Figura 2: Esquema da edificação ........................................... 39

Figura 3: Zoneamento e planta baixa .................................... 39

Figura 4: Vista externa da edificação e visão do entorno a partir

de um ambiente interno ......................................................... 40

Figura 5: Planta e zoneamento - Nível 0 ................................ 41

Figura 6: Planta e zoneamento - Nível 1 ................................ 41

Figura 7: Planta e zoneamento - Nível 2 ................................ 42

Figura 8: Planta e zoneamento - Nível 3 ................................ 42

Figura 9: Planta e zoneamento - Nível 4 ................................ 42

Figura 10: Planta e zoneamento - Nível 0 .............................. 44

Figura 11: Planta e zoneamento - Nível 1 .............................. 45

Figura 12: Evolução da forma ................................................ 45

Figura 13: Volumetria do Junction 17 .................................... 46

Figura 14: Planta baixa - Térreo ............................................ 47

Figura 15: Planta baixa - 1 pavimento ................................... 47

Figura 16: Fachadas do Belmont Rehabilitation Centre ........... 48

Figura 17: Planta baixa – Belmont Centre .............................. 49

Figura 18: Exterior da edificação em madeira e pedra ............ 50

Figura 19: Revestimento e estrutura em madeira ................... 50

Figura 20: Fachadas com painéis de vidro ............................. 50

Figura 21: Mapa da Região Metropolitana de Natal ............... 53

Figura 22: Destaque do bairro de Cotovelo ............................ 54

Figura 23: Opção 01 de terreno ............................................ 55

Figura 24: Opção 02 de terreno ............................................ 55

Figura 25: Escolha final do terreno ......................................... 56

Figura 26: Mapa com as principais unidades de saúde do

entorno .................................................................................. 57

Figura 27: Hierarquia de vias e localização de paradas de

ônibus .................................................................................... 58

Figura 28: Mapa de uso do solo ............................................. 59

Figura 29: Mapa de gabarito da região .................................. 60

Figura 30: Delimitação do lote ............................................... 60

Figura 31: Visuais do terreno ................................................. 61

Figura 32: Planta topográfica ................................................. 61

Figura 33: Rosa dos ventos da cidade de Natal ....................... 63

Figura 34: Esquema dos ventos predominantes no lote ........... 63

Figura 35: Trajetória solar em 22/03 (outono) ........................ 64

Figura 36: Trajetória solar em 22/06 (inverno) ....................... 64

Figura 37: Trajetória solar em 23/09 (primavera) ................... 65

Figura 38: Trajetória solar em 22/12 (verão) .......................... 65

Figura 39: Organograma do Centro Terapêutico .................... 75

Figura 40: Nó celta ou triquetra ............................................. 76

Figura 41: Croqui e maquete de implantação - Opção 01 ........ 78

Figura 42: Croqui e maquete de implantação - Opção 02 ...... 80

Figura 43: Croqui e maquete de implantação - Opção 03 ...... 81

Figura 44: Planta baixa - térreo (Opção 01) ........................... 82

Figura 45: Planta baixa - pavimento superior (Opção 01) ....... 83

Figura 46: Volumetria (Opção 01) .......................................... 84

Figura 47: Esquema para a nova forma .................................. 85

Figura 48: Planta baixa - térreo (Opção 02) ........................... 85

Figura 49: Planta baixa - pavimento superior (Opção 02) ....... 86

Figura 50: Delimitação do terreno e marcação dos recuos...... 90

Figura 51: Marcação dos platôs principais ............................. 91

Figura 52: Implantação final ................................................. 92

Figura 53: Seção 01 .............................................................. 93

Figura 54: Seção 02 .............................................................. 94

Figura 55: Seção 04 .............................................................. 95

Figura 56: Layout 1 pavimento .............................................. 96

Figura 57: Brises instalados nas varandas .............................. 97

Figura 58: Horta ................................................................... 98

Figura 59: Sistema de drywall (Knauf W 112) ....................... 100

Figura 60: Detalhes de especificações da TermoRoof aço/aço100

Figura 61: Exemplo de acabamento interno da Telha Danica 101

Figura 62: Esquema de ventilação cruzada nos dormitórios .. 101

Figura 63: Cobogó utilizado na área multiuso ...................... 102

Figura 64: Área de banho: vista superior, lateral e frontal .... 102

Figura 65: Altura da bacia sanitária e barras de acessibilidade

........................................................................................... 103

Figura 66 - Configuração de corrimãos em rampas e escadas

........................................................................................... 103

Figura 67: Pátio .................................................................. 105

Figura 68: Vista do pátio e bloco de apoio ........................... 105

Figura 69: Fachada frontal .................................................. 106

Figura 70: Vistas do pátio .................................................... 106

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Análises do Centro de Reabilitação Cidade Viva ..... 38

Quadro 2: Análise do Reabilitation Centre Groot Klimmendaal 40

Quadro 3: Comparativo dos estudos de função ...................... 43

Quadro 4: Análise do Junction 17 .......................................... 43

Quadro 5: Análise The Ronding.............................................. 46

Quadro 6: Comparativo dos estudos de forma ........................ 47

Quadro 7: Análise do Belmont Community Rehabilitation Centre

.............................................................................................. 48

Quadro 8: Análise do James and Anne Robinson Nature Centre

.............................................................................................. 49

Quadro 9: Comparativo dos estudos de tectônica ................... 51

Quadro 10: Relação de ambientes necessários em uma

Comunidade Terapêutica, de acordo com a RDC 29 ................ 66

Quadro 11: Relação de ambientes necessários em uma

Comunidade Terapêutica, de acordo com a Portaria nº 51;2015-

GS/SESAP ............................................................................... 66

Quadro 12: Orientações de Boas Práticas no serviço de

alimentação............................................................................ 69

Quadro 13: Recomendações da NBR 9050 ............................. 70

Quadro 14: Quadro das edificações que geram impacto ........ 71

Quadro 15: Recuos permitidos ............................................... 72

Quadro 16: Análise das formas primárias ............................... 77

Quadro 17: Transformação das formas .................................. 77

Quadro 18: Análises da opção de forma 01 ........................... 79

Quadro 19: Análises da opção de forma 0 ............................. 80

Quadro 20: Análises da opção de forma 03 ........................... 81

Quadro 21: Informações gerais do empreendimento .............. 90

Sumário

INTRODUÇÃO....................................................................... 14

01. PROCEDIMENTOS DE CONCEPÇÃO ............................... 19

02. AMBIENTES DE SAÚDE E HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS

............................................................................................. 23

2.1 Psicologia ambiental ..................................................... 24

2.1.1 Interior/exterior ...................................................... 26

2.1.2Visibilidade .............................................................. 26

2.1.3 Apropriação ............................................................ 26

2.2 Humanização dos ambientes ......................................... 27

2.2.1 Luz ......................................................................... 29

2.2.2 Cor......................................................................... 30

2.2.3 Som ....................................................................... 30

2.2.4 Aroma .................................................................... 31

2.2.5 Textura ................................................................... 31

2.2.6 Forma .................................................................... 31

2.3 Meio ambiente e o tratamento de saúde ........................ 32

2.4 Público alvo: As mulheres e o uso de álcool e substâncias

psicoativas........................................................................... 33

03. ESTUDOS CORRELATOS .................................................. 35

3.1. O método Baker ........................................................... 36

3.2 Análise dos projetos quanto a função ............................. 37

3.3 Análise dos projetos quanto à forma .............................. 43

3.3 Análise dos projetos quanto ao material ......................... 47

4. O PROJETO ....................................................................... 52

4.1 Condicionantes do lugar ................................................ 53

4.1.1 O processo de escolha do terreno ............................ 53

4.1.2 O entorno ............................................................... 56

4.1.3 Características do terreno ........................................ 60

4.1.4 Análise bioclimática ................................................. 62

4.1.5 Revisão das normas ................................................. 65

4.2 Programa de Necessidades e pré-dimensionamento ....... 72

4.3 Organograma ............................................................... 75

4.4 Conceito ....................................................................... 75

4.5 Partido arquitetônico...................................................... 76

4.6 Estudo da forma ............................................................ 77

4.7 Primeiras ideias de planta baixa .................................... 82

5. Proposta Final.................................................................. 88

5.1 Implantação .................................................................. 90

5.2 As edificações ............................................................... 92

5.3 Sistema construtivo ....................................................... 98

5.4 Acessibilidade ............................................................. 102

5.4 Reservatório ................................................................ 103

6. Perspectivas ................................................................... 105

7. Considerações finais...................................................... 107

8. Referências .................................................................... 108

14

INTRODUÇÃO

O consumo de drogas caracteriza-se como uma

prática histórica da humanidade, com finalidades diversas,

desde o uso em cultos religiosos, rituais e reuniões até o

alívio da dor e obtenção de prazer (SPRICIGO, 2004). Nos

últimos anos vem se observando o aumento no uso dessas

substâncias e a consequente ampliação na escala da

produção, consumo e distribuição ao redor do mundo,

conforme revelam os dados apresentados pelo United

Nations Office on Drugs and Crime.

De acordo com o World Drug Report - WDR (Relatório

Mundial de Drogas), lançado pelo United Nations Office on

Drugs and Crime - UNODC (Escritório das Nações Unidas

sobre Drogas e Crimes) em 2015, estima-se que um total de

246 milhões de pessoas entre as idades de 15 e 64 anos

usaram algum tipo de droga ilícita no ano de 2013, em todo

o mundo, e que mais de 10% dos usuários de drogas tem

algum tipo de transtorno decorrente desse uso ou alguma

dependência de drogas (UNITED NATIONS, 2015 p. IX).

Ainda, de acordo com o Relatório (WDR), apenas um

em cada seis usuários ou dependentes químicos tem acesso

a tratamento, o que explica a estabilidade no número de

mortes relacionado ao uso de drogas, que em 2013 foi de

187.100 óbitos. O relatório afirma que a percepção do

público sobre a reabilitação do usuário é deficiente, uma vez

que não reconhece o vício como doença crônica que torna o

dependente vulnerável e que não existe uma resposta

simples e rápida para se tratar o problema.

Em 2004, a Organização Mundial de Saúde divulgou

um estudo denominado: “Neurociências: consumo e

dependência de substâncias psicoativas” apresentando a

15

narcodependência1 como um transtorno crônico recorrente e

mostrando como as substâncias psicoativas fomentam o

desenvolvimento da dependência. Assim, insere o consumo

de drogas e álcool no âmbito das políticas de saúde.

No Brasil, o problema do consumo de drogas passou

a ser encarado como questão de saúde pública a partir de

2003, com a publicação da “Política do Ministério da Saúde

para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras

Drogas”, que se comprometia a enfrentar os problemas

causados pelo consumo dessas substâncias.

A Política Nacional para os Usuários de Álcool e outras

Drogas está vinculada à Política de Saúde Mental do

Ministério da Saúde através da Lei n° 10.216/02 que destaca

a responsabilidade do Estado em desenvolver ações de

assistência de saúde a esta população, visando garantir a

universalidade de acesso e direito a assistência.

1 Narcodependência: Trata-se da dependência de um individuo a substâncias e drogas capazes de alterar a consciência da pessoa. (Portal Educação, O que são drogas psicotrópicas e narcóticos? Disponível em:

No país foi desenvolvida uma rede de assistência

extra-hospitalar que inclui serviços como os Centros de

Atenção Psicossocial para álcool e drogas (CAPS ad) e

articulação com unidades de saúde. O objetivo dessa rede é

o atendimento ao usuário nos âmbitos extra-hospitalares,

ficando a internação adotada como medida apenas em casos

de intoxicação grave, abstinência ou dependência com risco

de morte cujo paciente não consegue resolução nos

atendimentos extra-hospitalares. Os CAPS ad, portanto,

devem oferecer atendimento diário ao paciente, com o que

chama de rede baseada em serviços comunitários, apoiados

por leitos psiquiátricos em hospital geral e outras práticas de

atenção comunitária, oferecendo atendimento individual ou

em grupo e visitas domiciliares; condições para repouso e

desintoxicação ambulatorial de pacientes que não

demandem por atenção clínica (BRASIL, 2004).

<http://www.portaleducacao.com.br/medicina/artigos/6 0315/o-que-sao-drogas-psicotropicas-e-narcoticos>. Acesso em 11 de outubro de 2016).

16

Uma alternativa de tratamento são as Comunidades

Terapêuticas, que de acordo com RDC 1012 tratam-se de:

Serviços [...] em regime de residência ou outros vínculos de um ou dois turnos, segundo modelo psicossocial, são unidades que têm por função a oferta de um ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, que forneça suporte e tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias psicoativas, durante período estabelecido de acordo com programa terapêutico adaptado às necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal instrumento terapêutico é a convivência entre os pares. Oferece uma rede de ajuda no processo de recuperação das pessoas, resgatando a cidadania, buscando encontrar novas possibilidades de reabilitação física e psicológica e de reinserção social.

2 RDC 101: Resolução da Diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária trata da assistência extra-hospitalar aos portadores de transtornos mentais decorrentes

Portanto, as comunidades terapêuticas, diferente dos

CAPS ad, funcionam em regime de internação, de origem

voluntária.

Em 2009 foi lançado o Relatório Brasileiro de Drogas

(RBD), um trabalho desenvolvido pela Secretaria Nacional de

Políticas sobre Drogas do Gabinete de Segurança

Institucional da Presidência da República e pelos diversos

órgãos da Administração Pública com dados sobre a situação

nacional no tocante ao consumo de drogas e suas

consequências, analisando o período entre os anos de 2001

e 2007.

De acordo com o Relatório (RBD), no ano de 2007, 4,3

mortes para cada 100.000 habitantes no Brasil são

relacionadas ao uso de drogas, sendo o álcool responsável

por 90% desses óbitos (BRASIL, 2009). As internações

ocorrem entre os usuários de 20 aos 59 anos de idade, dos

quais 88% são do sexo masculino (BRASIL, 2009). Em geral,

do uso ou abuso de substâncias psicoativas, segundo modelo psicossocial, para o licenciamento sanitário (BRASIL, 2001).

17

as mulheres enfrentam algumas barreiras no acesso ao

tratamento de drogas. O WDR (World Drug Report) afirma

que, apesar de um em cada três usuários ser do sexo

feminino, apenas uma em cada cinco pessoas em tratamento

são mulheres, isso se deve ao fato da limitada oferta de

serviços que atendam às necessidades das mulheres em

tratamento, dessa forma, elas encontram obstáculos

estruturais, sociais, culturais e pessoais no tratamento de uso

de drogas (UNITED NATIONS, 2015).

Em nível estrutural pode-se citar, por exemplo, a

ausência de cuidados com crianças e as atitudes punitivas

para mães e mulheres grávidas com histórico de uso de

substâncias, o que faz com que temam a perda da guarda de

seus filhos e não busquem o tratamento adequado, ou ainda

desistam do cuidado devido à localização isolada da maioria

das clínicas de tratamento, afastando-as de seus filhos

(UNITED NATIONS, 2015).

Apesar dos casos de abuso de drogas serem maior

entre homens, a quantidade de mulheres envolvidas com o

uso de substâncias psicotrópicas não pode ser considerada

irrelevante e varia de acordo com a região. A estimativa é

que no Brasil a relação entre homem e mulher seja próxima

a encontrada em estudos americanos, por exemplo, da

ordem de três usuários do sexo masculino para cada um do

sexo feminino (CARLINI et al., 2011). Sabe-se que entre os

anos de 1993 e 1998, o consumo de drogas por mulheres

no país triplicou

(SCHERLOWSKI, DAVID & CAUFIELD, 2005), o que evidencia

a necessidade de se discutir esse problema no país.

Com base na problemática apresentada, este

Trabalho Final de Graduação tem o objetivo geral de projetar

uma comunidade terapêutica para mulheres em estado de

dependência química, que viabilize tratamento por meio de

interação interpessoal e espaço humanizado. Pretende-se

valorizar o processo de concepção projetual e alcançar o

nível de anteprojeto. Para tanto, os objetivos específicos

definidos são: se apropriar de conceitos técnicos e teóricos

importantes para o desenvolvimento do projeto (como

18

humanização); ampliar o repertório projetual com estudos de

referência; estudar métodos pertinentes para análise e

síntese do projeto.

O trabalho se divide em dois volumes: texto descritivo

e proposta gráfica. A parte textual se estrutura em cinco

partes, se inicia mostrando os procedimentos metodológicos

utilizados ao longo do trabalho, intitulado: “Procedimentos

de concepção”. O capítulo seguinte, denominado

“Ambientes de saúde e humanização dos espaços”, é voltado

para aprofundamento teórico a respeito da Psicologia

ambiental, humanização dos espaços e do público alvo em

questão. A terceira parte traz os estudos de projetos

correlatos e as análises realizadas para compreensão das

funções, materiais e formas. O quarto capítulo mostra os

estudos relacionados ao terreno, análises bioclimáticas,

estudos de forma, programa e pré-dimensionamentos,

conceito, partido, evolução do desenho. A última parte

descreve a proposta final e suas especificações.

19

01. PROCEDIMENTOS DE CONCEPÇÃO

20

Para elaboração desse trabalho será necessária a

adoção de alguns procedimentos de acordo com a etapa a

ser realizada ao longo do processo. O primeiro momento

consiste na construção do referencial teórico, que dará base

para compreender a humanização dos ambientes, como o

meio ambiente influencia no tratamento e uma visão sobre

as mulheres e o uso de álcool e substâncias psicoativas, o

público-alvo desse projeto.

Esses temas interligados serão necessários para

mostrar como o ambiente pode influenciar no tratamento de

maneira positiva ou negativa, servindo como base para

escolhas projetuais. Nesse momento a revisão bibliográfica

e pesquisa documental será realizada através de leitura e

fichamentos.

Assim como a revisão bibliográfica, documentários e

reportagens auxiliaram na compreensão do usuário de

centros e clínicas de reabilitação, permitindo o entendimento

das necessidades e anseios dos internos.

A etapa seguinte consiste na leitura e análise das

normas e leis pertinentes ao assunto. Para auxiliar o

entendimento das informações necessárias para o

desenvolvimento do projeto foi adotado a utilização de

tabelas, assim, os dados foram agrupados de maneira a

facilitar a checagem dos itens essenciais na formulação do

programa de necessidades, por exemplo.

A segunda etapa constitui do estudo de correlatos, que

nesse trabalho trata-se dos projetos escolhidos para análise.

Partiu-se do estudo do método desenvolvido por Geoffrey

Baker para análise projetual, que considera alguns

elementos como condicionantes para interpretação do

projeto (Beltramini, 2005).

Foram elencados três aspectos para análise dos

projetos, forma, uso e tectônica (técnica e materialidade),

que nortearam a sistematização dos dados em fichas

técnicas, considerando, também: localização, estética,

função e configuração espacial, apontando os principais

critérios que podem ser utilizados no desenvolvimento da

21

proposta, assim como os itens que chamam atenção na obra

analisada, além de um quadro comparativo, destacando as

principais aspectos.

O passo seguinte é determinar a metodologia

projetual, segundo Lang (1974 apud Kowaltowski et al,

2006) o processo de projeto engloba cinco fases distintas:

análise, síntese, previsão, avaliação e decisão; que na prática

podem acontecer por intuição, de forma consciente ou ainda

seguindo padrões ou normas.

O projeto arquitetônico entra na fase de processo de

decisão e pode utilizar descrição verbal, gráfica ou simbólica,

que compõem meios de informação para análise antecipada

de um modelo (ROSSO, 1980 apud Kowaltowski et. Al,

2006). Dessa forma, é comum na prática dos projetistas os

seguintes passos: desenvolvimento do programa, projeto,

avaliação e decisão, construção e avaliação pós-ocupação.

Por se tratar de um projeto para conclusão do curso de

Arquitetura e Urbanismo, o enfoque será nas fases de

desenvolvimento do programa, projeto e avaliação e

decisão. No processo de criação serão realizadas avaliações,

reflexões em relação as soluções projetuais, que moldarão o

partido do projeto. Três abordagens serão adotadas no

processo de concepção: o fator imagem, fator programa e

fator sítio (Figura 1).

Figura 1: Esquemas de abordagens na concepção

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Kowaltowski, 2006.

O fator imagem enfatiza as questões visuais e

intuitivas, se realizará com a confecção de croquis, esboços,

fluxogramas e zoneamento; o fator programa do projeto foca

22

no racional e funcional, aqui acontecerá a partir das normas

com o desenvolvimento do programa para suprir as

necessidades do usuário e por fim o fator sítio, cuja ênfase é

na abordagem através do seu meio ambiente, que nesse

caso se dará a partir das análises no terreno escolhido e

como essa localização será abordada na concepção da

proposta (Kowaltowski et. al, 2006).

Em suma, para a fase da criação, além do modo

intuitivo, será utilizada a técnica do brainstorming; nessa

etapa foi desenvolvido o conceito e o partido do projeto;

seguida da elaboração do programa de necessidade e pré-

dimensionamento. Após essa fase acontece o estudo de

formas, com a elaboração de croquis e maquetes físicas de

concepção, para as primeiras análises, principalmente no

que diz respeito ao terreno e maquetes esquemáticas por

meios digitais, para demonstração das formas analisadas. O

passo seguinte é a concepção do zoneamento e fluxogramas

e por fim elaboração da planta baixa e confecção final da

maquete eletrônica.

23

02. AMBIENTES DE SAÚDE E HUMANIZAÇÃO

DOS ESPAÇOS

24

Para iniciar um projeto arquitetônico, é preciso

entender a temática em que está inserida a proposta e o

público que pretende atender. O projeto de uma

comunidade terapêutica envolve o atendimento a diversas

normas da área de saúde, além do domínio das

especificidades do local em que será inserido e do público

que pretende atingir. Nesse sentido, é necessário entender

como os ambientes influenciam no tratamento e de que

maneira as escolhas projetuais podem exercer influência

positiva nesse processo.

2.1 Psicologia ambiental

Partindo do princípio que a psicologia ambiental é o

“estudo científico das relações entre o ambiente físico e o

comportamento humano” (EVANS, 2005), pode-se afirmar

que um indivíduo além de observador, interage com o meio

em que está inserido sendo estimulado por esse ambiente e

reagindo a tais estímulos.

Assim, o homem está sempre trocando informações

com o seu entorno, mas um ambiente pode ser percebido de

maneira diferente por cada usuário, dependendo de sua

história, cultura e experiências. Dessa maneira é necessário

compreender o usuário, a fim de se encontrar as melhores

soluções para proporcionar experiências e influências

positivas quando inserido em determinado ambiente.

Ornstein (1995) afirma essa necessidade e a complexidade

de se compreender esse tema da seguinte maneira:

Procura-se, então, constatar, em que medida o ambiente afeta o usuário, e vice-versa, envolvendo uma multiplicidade de variáveis interagentes, típicas da complexidade do tema. Esta complexidade é um fato presente no estudo dos padrões de comportamento feitos no meio natural da vida cotidiana das pessoas, e não em laboratórios (Soczka, 1989) e que, embora existam lacunas teóricas, em termos metodológicos, muitas vezes vêm sendo sistematicamente aplicadas e consagradas, como por exemplo, as observações de comportamento no local de estudo, ou a percepção ambiental, levantada por questionários e resultando em mapas cognitivos. (ORNSTEIN, 1995, p.26).

25

Segundo Tassara (2004, p. 89), todos já

experimentamos algum tipo de laço positivo ou negativo em

relação a algum lugar.

Na verdade, reconhecemos não apenas a existência de laços afetivos com lugares, mas também a importância que isso pode ter na qualificação da nossa existência, de maneira positiva ou negativa. E não apenas nossa existência individual, particular, mas também a existência de grupos humanos inteiros. (TASSARA, 2004, p. 89).

Ainda de acordo com Tassara (2004), existem três

processos que resultam no apego com determinado lugar, o

primeiro decorre de uma relação positiva com o lugar, o

ambiente atende as necessidades do usuário; o segundo está

ligado ao significado que o lugar representa para a pessoa e

o terceiro está relacionado ao tempo de permanência

naquele espaço. É importante entender esses processos para

que se possa investir na qualidade do ambiente a ser

projetado, com o objetivo de se estabelecer vínculos entre o

usuário e o espaço.

Como a proposta diz respeito a um edifício cuja

finalidade é servir de moradia, ainda que por tempo

determinado, é importante abordar o tema “Habitabilidade”,

segundo Bollnow (1969 p.246, apud ALMEIDA 1995 p.19)

habitar caracteriza a relação do homem com o espaço. Para

Almeida (1995. p.20):

Se habitar é característica fundamental da vida humana, os edifícios que o homem habita devem permitir que o relacionamento entre o edifício e as pessoas seja uma experiência plena. As características essenciais de um edifício são a essência do edifício que pode ser denominada de "habitabilidade". Quando algum aspecto da habitabilidade é prejudicado, a experiência de habitar é negativamente afetada.

De acordo com Malard (1992, apud ALMEIDA 1995) a

habitabilidade envolve três grupos de qualidade: relativo a

dimensão prática (garantia de proteção); relativo a

dimensão cultural e simbólica (garantia de segurança,

conforto e que o espaço seja agradável) e relacionado a

aspectos funcionais (viabilizar o uso para situações

rotineiras).

26

Para Korosec-Serfaty (1973, apud SOUZA) a

habitabilidade envolve três dimensões, a saber: interioridade

(noção interior/exterior), visibilidade e apropriação.

2.1.1 Interior/exterior

Trata-se da primeira dimensão de moradia, no

estabelecimento de fronteiras, da marcação e construção de

espaços. Ao construir espaços arquitetônicos, o homem

diferencia e qualifica aquele lugar com o intuito de

desenvolver ali suas atividades, por esse motivo os

‘ambientes arquitetônicos’ são submetidos ao processo de

demarcação de território, que também diferencia o público

do privado. Processo que permite ao homem estabelecer

conexões com o lugar (ALMEIDA, 1995).

2.1.2 Visibilidade

A visibilidade diz respeito ao controle de exposição do

indivíduo, ou seja, para determinada atividade há a

necessidade de se expor ou omitir a pessoa. Dessa forma, o

fato de ser possível controlar esse aspecto permite que as

pessoas possam desempenhar suas atividades de forma

plena. “Os fenômenos existenciais relacionados à essa

dimensão são a privacidade, no que a visibilidade oculta, e

a identidade, no que é tornado visível, naquilo que se mostra

e como é mostrado”. (SOUZA, 1998).

2.1.3 Apropriação

A terceira dimensão envolve a interação do usuário

com o espaço ocupado, onde este adapta o ambiente a fim

de tornar receptivo.

Ao aplicar significado a um ambiente, o usuário se

apropria do espaço, suas heranças e variações culturais

interferem nesse processo (ORNSTEIN, 1995). De acordo

com Tassara, os laços afetivos com os ambientes são

27

reforçados através da busca por segurança e conforto,

semelhantes as experiências de lar de cada um.

Além de segurança e conforto, muitas outras funções psicológicas são atribuídas ao lar, e sua importância pode variar dependendo da idade ou do sexo, ou também da etapa atingida no processo de construção do lugar como um espaço significativo nas vidas dos habitantes. Para se obter uma teoria mais abrangente do desenvolvimento afetivo, o apego talvez pudesse ser melhor conceituado como um “componente” de diferentes vínculos, em vez de um laço específico (TASSARA, 2004, p. 100).

Para se criar ou fortalecer o vínculo entre o usuário e

o ambiente uma opção é utilizar a personalização dos

espaços:

[...] a personalização individual, ética, grupal, a identificação, a intervenção, a apropriação, por meio de reformas, cores, vegetação, objetos pessoais, é muito importante para o usuário da habitação e de outras modalidades de ambientes urbanos, ao passo que, muitas vezes o arquiteto exige ou inibe intervenções no ambiente, para não perder o domínio do espaço, ou preservar o ideário estético (ORNSTEIN, 1995, p.37).

No contexto do projeto proposto, de uma edificação

de uso coletivo, cuja finalidade é servir de moradia por um

tempo relativamente longo, dependendo de cada caso, é

indispensável que se assegure a cada interna o seu espaço,

facilitando e incentivando a expressão individual, para que

cada uma delas possa criar uma identidade com o espaço a

ser ocupado.

2.2 Humanização dos ambientes

Antes de tudo é importante compreender do que trata

a humanização, historicamente, sabe-se que os hospitais e

locais de cuidado com a saúde se aproximavam muito de

conceitos relacionado ao cárcere, abrigos de indigentes e

espaços de isolamento daqueles que carregavam doenças

contagiosas e sem cura; nesses casos o tratamento se

assemelhava a castigos, uma vez que esses pacientes eram

segregados do resto da população. (COLLET e ROZENDO,

2003 apud OLIVEIRA, COLLET E VIEIRA, 2006).

28

Assim, os conceitos de humanização vieram para

enfocar além dos problemas e necessidades biológicas dos

indivíduos, as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e

psíquicas nos relacionamentos humanos que existem no

processo de atenção à saúde. Humanizar é, portanto,

entender cada pessoa com sua singularidade, tendo

necessidades específicas e criando condições para exercer

suas vontades de forma autônoma (FORTES, 2004).

Mezzono define o ato de humanizar da seguinte

maneira:

Humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários consideram o conjunto de aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à saúde. Humanizar refere-se a possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento e de reconhecimento dos limites. Humanizar é fortalecer este comportamento ético de articular o cuidado técnico-cientifico, com o inconsolável, o diferente e singular. Humanizar é repensar as práticas das instituições de saúde, buscando opções de diferentes formas de atendimento e de trabalho, que preservem

este posicionamento ético no contato pessoal. (MEZZONO, 2002, p. 14-15)

No que diz respeito ao ambiente físico, Corbella

(2003) afirma que uma pessoa está confortável naquele

espaço, quando se sente em neutralidade em relação a ele.

No caso de ambientes relacionados a saúde, a arquitetura

pode funcionar como ferramenta terapêutica durante o

tratamento, se for capaz de proporcionar bem estar físico e

psicológico ao usuário com a criação de ambientes que

possibilitem condições de convívio mais humanas.

A psiconeuroimunologia é a parte da ciência

responsável por estudar os estímulos sensoriais e os

elementos doa ambiente capazes de provocá-los, e as

relações entre stress e saúde. (HOREVICZ e DE

CUNTO,2003).

Pode afirmar que seis fatores influenciam o bem estar

físico do homem: luz, cor, som, aroma, textura e forma,

Gappel (1995, apud HOREVICZ e DE CUNTO, 2003) afirma

29

que esses elementos causam impacto no aspecto psicológico

e físico das pessoas que uma instalação médica bem

projetada, pode ser considerada parte integrante e

importante para o tratamento.

2.2.1 Luz

De acordo com Vasconcelos (2004), tanto a

iluminação natural, quanto a artificial são importantes na

qualificação de ambientes hospitalares, a combinação delas,

buscando satisfazer tanto os aspectos normativos

(estabelecimento de iluminância mínima), quanto os

qualitativos (cujo objetivo é o bem estar do paciente) são

ideais.

É importante que no projeto se dê ênfase a luz natural,

através de janelas, átrios e zenitais, uma vez que a luz natural

influencia positivamente no humor e disposição dos

indivíduos. Além disso, o contato com o exterior proporciona

também conforto visual, térmico e psicológico.

Outro aspecto importante é possibilitar que o usuário

daquele ambiente possa controlar a iluminação respeitando

a sua necessidade. Isso é possível através de elementos de

proteção, no caso da iluminação natural e dispositivos

próximos a camas, por exemplo, em caso de iluminação

artificial.

Apesar da importância da iluminação e seus benefícios

para os seres humanos, a quantidade não adequada de luz,

pode ter impactos negativos como ofuscamento e excesso de

ganho de calor aos ocupantes, provocando sentimentos de

estresse, caos, causando sensações pouco prazerosas,

promovendo atitudes de indiferença em relação aos outros

ou pouca atenção a detalhes, porque os usuários tenderão a

evitar tais lugares. (DEL RIO, DUARTE E RHEINGANTZ, 2002

apud LETTIERI, 2013).

A luz pode causar impactos positivos ou negativos no

usuário, assim é importante que o projeto arquitetônico

garanta que a quantidade de iluminância no ambiente seja

30

a ideal, de acordo com a função que ali será desenvolvida,

para que as atividades sejam realizadas de maneira eficaz e

saudável.

2.2.2 Cor

A cor está ligada a luz, assim a escolha das cores pelo

projetista deve ser cuidadosa e baseada nos estudos acerca

das implicações psicológicas que as cores exercem nos

indivíduos, principalmente em ambientes hospitalares, onde

essa escolha pode fazer com que uma pessoa saudável

pareça doente e vice versa. (VASCONCELOS, 2004).

As cores podem ser classificadas como frias e quentes,

enquanto as quentes dão uma sensação de proximidade,

calor, densidade, opacidade, secura além de serem

estimulantes; as cores frias parecem mais distantes, leves,

transparentes, úmidas, aéreas e calmantes. (MODESTO,

2006 apud HOREVICZ e DE CUNTO, 2006).

A cor pode ser usado no projeto com a intenção de

destacar algum elemento, ou de tronar o ambiente mais

aconchegante, ou ainda para evitar a monotonia de um

espaço; ela afeta a percepção dos lugares. Outro fator

afetado pelo uso das cores é o conforto térmico, um espaço

cuja cor predominante é um tom mais quente, pessoas

tendem a sentir mais aquecidas do que em ambientes cuja

cor é uma tonalidade fria, ainda que a temperatura seja a

mesma. (VASCONCELOS, 2004).

2.2.3 Som

Assim como no caso das cores, o som pode exercer

influências positivas ou negativas no indivíduo, na medida

que determinado barulho pode causar irritação, um som

agradável pode provocar sensação de relaxamento. Sons

oriundos da natureza, como os causados pela água relaxam

e ajudam na diminuição da intensidade de outros sons, assim

o uso de fontes e jardins internos em projetos de hospitais e

31

edificações de cuidado com a saúde vem aumentando devido

aos efeitos que provocam. (VASCONCELOS, 2004).

O projetista pode resolver problemas com ruídos

indesejáveis a partir da escolha de materiais de revestimento,

posicionamento das aberturas, escolha de móveis, no intuito

de melhorar a qualidade acústica dos ambientes (GURGEL,

2004 apud HOREVICZ E DE CUNTO, 2006).

2.2.4 Aroma

De acordo com Gappel (1991, apud VASCONCELOS,

2004), o cheiro é o mais evocativo dos sentidos, possui uma

relação direta com o lado emocional, sendo capaz de

resgatar memórias.

Cheiros desagradáveis podem acelerar a respiração e

o batimento cardíaco, enquanto os agradáveis reduzem o

stress. Em ambientes de saúde o uso de saches, flores e

vegetação podem ser a solução para trazer fragrâncias

agradáveis, com o intuito de mascarar aromas

desagradáveis, como o de medicamentos, que podem

estimular a ansiedade nos usuários. (VASCONCELOS, 2004).

2.2.5 Textura

No que diz respeito a textura, a qualidade tátil de cada

espaço pode ser enriquecida pelo tratamento das superfícies,

ou seja, variedades de tecidos, acabamentos, versatilidade

de móveis que provoquem o conforto. A natureza também

proporciona o contato do usuário com uma variedade de

texturas que podem estimular de maneira positiva o corpo

humano (VASCONCELOS, 2004).

2.2.6 Forma

A forma do ambiente físico interfere no tratamento de

pacientes, o desenho da planta arquitetônica pode afetar na

satisfação do usuário. Existe a necessidade de privacidade

em momentos de tensão ou alteração comportamental,

nesses casos é necessário os quartos individuais, quando isso

32

não é possível torna-se imprescindível que haja privacidade

nos leitos ou camas, através de biombos ou cortinas.

O uso de formas variadas no mesmo espaço, pode

ainda provocar estimulação sensorial, provocando sensações

positivas nos ocupantes. (HOREVICZ E DE CUNTO, 2006).

2.3 Meio ambiente e o tratamento de saúde

Inúmeros estudos científicos apontam a importância e

benefícios da natureza no tratamento e na saúde, Yoshifumi

Miyazaki, codiretor do Centro para o Meio Ambiente e Saúde

da Universidade de Chiba, no Japão afirma que: “Parques,

jardins, flores, fitocidas (substâncias produzidas por plantas

contra microorganismos) têm efeitos benéficos em humanos”.

(REVISTA AMANHÃ, 2013).

Um dos pioneiros em estudos que comprovam tais

benefícios foi Roger Urich, que constatou através de

pesquisas, que o contato do paciente com a natureza faz bem

à saúde. Em 1984, realizou pesquisas comparando pacientes

em quartos com janelas com vista para árvores e quartos com

janelas cuja vista contemplava paredes de tijolos. Verificou

que aqueles pacientes com acesso a áreas verdes saíam do

hospital mais rápido, tomavam menos analgésicos ou teciam

menos críticas ao tratamento, além de menor número de

complicações pós-cirúrgicas (REVISTA AMANHÃ, 2013).

De acordo com Kaplan (1977 apud VASCONCELOS,

2004), não é necessário nenhum esforço por parte das

pessoas para captar estímulos da natureza, uma distração

causada pela paisagem natural, por exemplo, é capaz de

permitir ao indivíduo descanso e que suas energias sejam

recarregadas.

Levando essas afirmações em consideração, a

proposta busca um local que permita o máximo de contato

do usuário com a natureza, a fim de que ela possa fazer parte

do processo de recuperação. Sabendo que elementos como

luz, cor, textura, som, aroma e forma exercem influência no

bem estar tanto físico quanto emocional, torna-se essencial

33

que o projeto proposto busque evidenciar e facilitar o contato

com a natureza.

2.4 Público alvo: As mulheres e o uso de álcool e substâncias psicoativas

O número de mulheres consumindo substâncias

psicoativas vem aumentando nos últimos anos, ainda assim,

os estudos relacionados a dependência ainda se mantinham

centrados na população masculina, por isso as abordagens

clínicas eram voltadas para o homem, fazendo com que o

tratamento das mulheres, que buscavam ajuda, fosse

derivadas das abordagens indicadas aos homens (x). De

acordo com Relatório Mundial de Drogas (WDR - World Drug

Report), a proporção de usuários de drogas do sexo feminino,

relacionado o sexo masculino é de um a cada três, ainda

assim, apenas 20% das pessoas em tratamento são do sexo

feminino (UNITED NATIONS, 2015).

Apesar das mudanças nos papéis sociais, é possível

afirmar que o preconceito com as mulheres que usam

substâncias é muito maior do que com relação aos homens,

Schober e Annis (1996, apud BRASILIANO) sugerem que esse

seria justamente o motivo pelo qual as mulheres têm receio

de buscar tratamento.

Nas últimas décadas, alguns pesquisadores relatam as

diferenças de consumo entre homens e mulheres, por

exemplo é comum o desligamento da família de origem,

abandono dos filhos, perda de emprego, prostituição,

envolvimento em atividades ilícitas e em situações de

violência (DIEHL, 2011). Outro aspecto que vale salientar é

que as mulheres apresentam progressão mais rápida na

dependência, tendo o desenvolvimento dos sintomas mais

acelerado do que nos homens (HENDERSON et al., 1994

apud BRASILIANO).

De acordo com Wolle e Ziberman (2011, p. 379), para

a maior eficácia no tratamento da mulher o diagnóstico

precoce é fundamental e o tratamento deve contar com

aconselhamento, educação e orientação, intervenções

34

psicossociais e farmacológicas, se for o caso. Se o grupo de

tratamento for composto só por mulheres, isso pode ser mais

atrativo.

35

03. ESTUDOS CORRELATOS

36

Com o propósito de ampliar o nosso repertório

projetual, auxiliando na concepção do projeto, foram

realizados estudos de referência. Os dados coletados foram

sistematizados em, basicamente, três eixos: forma, uso e

tectônica.

Por se tratar de um projeto de uma Comunidade

Terapêutica, cujo foco é o aspecto terapêutico dos ambientes,

foram escolhidos três pontos principais para análise: função,

forma e tectônica. Vale salientar que a escolha dos projetos

analisados tinha como enfoque edificações que apresentasse

algum tipo de relação com a natureza e o uso de ambientes

humanizados.

Quanto a função foram escolhidos dois projetos:

Centro de Reabilitação para dependentes químicos Cidade

Viva – Casa do Oleiro e o Rehabilitation Centre Groot; quanto

à forma foram selecionados: Junction 17 e o De Ronding;

para análise da técnica duas obras foram escolhidas: Centro

Comunitário de Reabilitação de Belmont e o James and Anne

Nature Center. Para iniciar as análises três tabelas foram

elaboradas, cada uma destacando o ponto analisado.

3.1. O método Baker

Como já citado na metodologia, para analisar os

projetos selecionados baseou-se no método desenvolvido

por Geoffrey Baker de análises projetuais.

Tal método consiste da análise considerando alguns

elementos como condicionantes para interpretação do

projeto, alguns desses elementos são: Forças (arquitetura

como utilização do lugar, as características topográficas e

paisagísticas conferem caráter singular e a arquitetura reage

a elas criando entornos expressivos), Genius Loci (a

arquitetura pode vincular cultura e ambiente,

proporcionando ao usuário o sentimento de pertencimento),

Natureza (emoção estética diante de algo elaborado pelo

humano procede daquilo contemplado na natureza), Arte

(arte como mediadora entre o homem e a natureza), O

significado do uso (o significado da arquitetura está no uso e

37

as construções servem para suprir às necessidades de uma

cultura), O programa e o lugar (a arquitetura nasce da

confluência de forças internas e externas de uso e espaço), o

movimento (a mobilidade determina a criação de rotas,

dotadas de energia e consideradas forças, assim os

elementos que possibilitam tal mobilidade adquirem forças

de intensidades distintas) e a estrutura (além de um caminho

para um fim, pode ser vista como um meio de expressão na

arquitetura). (Beltramini, 2005)3

A partir desses elementos foi adotada uma ficha

técnica para análise dos projetos escolhidos, divididos de

acordo com o aspecto a ser estudado, deve-se considerar o

estudo da localização, estética utilizada, função que a

edificação buscar oferecer, estrutura utilizada, configuração

espacial, apontando os principais critérios que podem ser

utilizados no desenvolvimento do projeto, assim como os

itens que chamam atenção na edificação analisada.

3 BELTRAMIN, Renata Maria Geraldini. Caracterização e sistematização de quatro modelos de análise gráfica: Clark, Pause, Ching, Baker e UNwin. Dissertação de

Ao todo foram escolhidos seis projetos para análise,

cada um com foco em um item, a saber: Centro de

Recuperação para dependentes Químicos, Cidade Viva;

Rehabilitation Centre Groot Klimmendaal; Junction 17, New

CAMHS (Child and Adolescents Mental Health Services) Unit;

Belmont Community Rehabilitation Centre; James and Anne

Robinson Nature Centre.

Com base em: estudos de caso (correlatos), estudos

sobre a dependência química e suas necessidades,

referências arquitetônicas (não necessariamente ligadas ao

tema) deverá ser possível estabelecer as diretrizes

arquitetônicas do projeto.

3.2 Análise dos projetos quanto a função

A Comunidade Terapêutica pertencente ao Projeto

Cidade Viva, ligado à Igreja Batista do Bessamar em João

mestrado. Faculdade de engenharia civil, arquitetura e urbanismo da Unicamp. Campinas, 2005

38

Pessoa, tem como público alvo homens e funciona em regime

de internato, com duração média de nove meses. Um dos

motivos de ter sido escolhido para análise, é o fato de ser

implementado na região nordeste do país, em uma área

agrícola e ter utilizado elementos, materiais e tecnologia

nordestina para conferir uma identidade a edificação. A

seguir o quadro com as principais informações a respeito do

projeto.

Quadro 1: Análises do Centro de Reabilitação Cidade Viva

APRESENTAÇÃO

Nome do projeto:

Centro de Reabilitação para dependentes químicos Cidade Viva

Localização: BR 101 – Km 7 – Conde (PB) Ano: 2006 Status: Em construção Área: 1.465m²

CONTEXTO: Descrição: Trata-se de uma edificação que faz parte do

projeto Cidade Viva, implantada numa região agrícola. O tratamento nesse centro é focado no aspecto espiritual, físico e psicológico do interno.

PROJETO:

Conceito e partido:

O que os projetistas denominam de “partido objetivo” ou “caráter da missão” é composto por uma edificação ampliável, aberta, com três níveis conectados por rampas e passarelas, criação de áreas sombreadas, dispostas a partir de vãos abertos centrais, formando espaços bem ventilados.

Fonte: Elaborado pela autora.

No projeto desse Centro, o objetivo era a criação de

uma edificação ampliável, para isso foram definidos três

blocos horizontais escalonados, aproveitando o desnível

natural do terreno, com conexões feitas através de passarelas

e rampas. Grandes áreas sombreadas forma criadas no eixo

norte-sul, com vãos centrais abertos, favorecendo a

ventilação natural (Figura 2).

39

Figura 2: Esquema da edificação

Fonte: http://kmarquitetos.blogspot.com.br/2009/11/centro-de-recuperacao-para-dependentes.html

O primeiro bloco é composto pela parte administrativa

e um auditório, separado por uma área de jardins encontra-

se o segundo bloco que se destina ao alojamento. Após o

alojamento tem-se uma região com jardins e praças que o

separa da área de reabilitação e convivência e de apoio

logístico, nessas áreas concentram-se, por exemplo, as salas

das atividades, cozinha e despensa (Figura 3).

Figura 3: Zoneamento e planta baixa

Fonte: MARTINS; LUCENA, 2009 - adaptado pela autora.

O Centro de Reabilitação Groot Klimmendaal é uma

edificação construída no meio de um bosque na Holanda,

trata-se de um projeto com um programa diversificado, cujo

principal objetivo é atender crianças, adolescentes e adultos,

que sofreram algum tipo de acidente ou doença. Busca

atender a comunidade holandesa em diversos aspectos, com

escritórios, área clínica, piscina, espaços para prática de

40

esportes, teatro e um espaço de alojamento, com atividades

tanto para os pacientes, quanto para a comunidade local.

Abaixo o quadro com as especificações da edificação:

Quadro 2: Análise do Reabilitation Centre Groot Klimmendaal

APRESENTAÇÃO:

Nome do Projeto:

Rehabilitation Centre Groot Klimmendaal

Localização: Heijenoordseweg 5 Arnhem, Holanda Arquitetos: Koen Van Velsen, Hilversum Ano: 2007/ finalizado em 2009 Status: (construído ou não)

Construído, em uso

Área: 14.000 m² CONTEXTO:

Descrição: Trata-se de um projeto situado numa floresta holandesa, foca na interação com o entorno para possibilitar e influenciar no tratamento dos pacientes.

PROJETO: Conceito e partido:

Conceito baseado na ideia de que um ambiente positivo e estimulante pode influenciar na recuperação e aumentar o bem estar do paciente, além de ter um efeito benéfico em seu processo de revalidação.

Fonte: Elaborado pela autora

Foi escolhido por se tratar de um projeto que visa o

máximo de integração entre os pacientes e o meio ambiente

e entre os pacientes e a comunidade, se destacando por não

parecer uma construção de cuidados de saúde (Figura 4).

Figura 4: Vista externa da edificação e visão do entorno a partir de um ambiente interno

Fonte: http://www.archdaily.com/126290/rehabilitation-centre-

groot-klimmendaal-koen-van-velsen

Uma das preocupações dos projetistas era garantir

um espaço que proporcionasse a autoconfiança e

autocontrole dos usuários e que encorajasse as atividade e

comprometimento dentro de um ambiente restaurador. O

fato de abrigar acomodações como restaurantes, teatros e

instalações desportivas para o público, torna-se um dos

41

pontos no processo de reabilitação, já que proporciona ao

paciente o contato e a integração com a população.

Alguns aspectos se destacam nessa arquitetura, um deles é

a transparência e permeabilidade da edificação, o que

proporciona o contato visual direto com a natureza ao redor,

garantindo que o paciente não se sinta enclausurado. A presença

de pátios conecta níveis e proporciona a entrada da luz natural

para o centro da edificação. Outro aspecto de destaque é o uso de

rotas diretas que conectam todo o edifício, o que faz com que

nenhuma parte do prédio seja isolada. Essa conexão acontece, por

exemplo, por uma escadaria, utilizada para incentivar a atividade

física pelos pacientes.

O programa desse centro foi dividido de maneira a concentrar

no nível 0 (Figura 5) os espaços de serviço, as instalações

desportivas e áreas como teatro e restaurante; no nível 1 (Figura

6) se concentram espaços comuns e sociais, como pátios e

biblioteca; no nível 2 (Figura 7) se concentram espaços de

tratamento clínico; no nível 3 (Figura 8) estão as salas de

reabilitação para 60 pacientes e áreas de convivência e no nível 4

(Figura 9) há uma casa da Fundação Ronald Mc Donald, que se

destina a abrigar famílias dos pacientes, com entrada

independente.

Figura 5: Planta e zoneamento - Nível 0

Fonte: Archdaily, 2011. Modificado pela autora.

Figura 6: Planta e zoneamento - Nível 1

Fonte: Archdaily, 2011. Modificado pela autora

42

Figura 7: Planta e zoneamento - Nível 2

Fonte: Archdaily, 2011. Modificado pela autora

Figura 8: Planta e zoneamento - Nível 3

Fonte: Archdaily, 2011. Modificado pela autora

Figura 9: Planta e zoneamento - Nível 4

Fonte: Archdaily, 2011. Modificado pela autora

A seguir um quadro comparativo (Quadro 3:

Comparativo dos estudos de funçãoQuadro 3) entre os dois

projetos analisados, destacando os itens que chamaram

atenção, dentro das categorias: contexto, plástica, técnica

utilizada e configuração da edificação. Na penúltima coluna

(diretrizes projetuais) estão enumeradas as estratégias que

podem ser utilizadas na elaboração do projeto.

43

Quadro 3: Comparativo dos estudos de função

Categorias

Centro de Reabilitação para

dependentes químicos Cidade

Viva/Casa do Oleiro

Rehabilitation Centre Groot Klimmendaal

Diretrizes projetuais

Contexto

Projeto da Igreja Batista para implementação de uma grande área de acolhimento e educação. Servir como local de apoio aos internos e família.

Floresta holandesa. Uso dos pacientes e comunidade local. Interação com a natureza.

Busca por uma localização que permita a interação e contato direto com a natureza.

Plástica

Telhado tradicional em duas águas, blocos intercalados por jardins.

Uso de vidro possibilita permeabilidade visual.

Uso de vidro. Inserção de áreas verdes.

Técnica

Tecnologias locais e sustentáveis. Telhado em duas águas de telha colonial.

Estrutura metálica, vidro, materiais sustentáveis nas paredes, forro e fachada. Fachada em alumínio.

Tecnologias locais. Materiais sustentáveis.

Configuração

Três níveis conectados por passarelas e rampas, edificação térrea. Aproveitamento da topografia da região.

Cinco pavimentos, interligados por rotas diretas. Cada nível concentra um setor de atividades.

Platôs para adequar o projeto a topografia. Rampas acessíveis para conectar os espaços.

Fonte: Elaborado pela autora

3.3 Análise dos projetos quanto à forma

O Junction 17 é uma edificação construída na Grande

Manchester, trata-se de um projeto com um programa

voltado ao atendimento de crianças e adolescentes com

algum tipo de doença mental, que apresente risco aos outros

ou a eles mesmos. Dessa forma, o projeto buscou garantir

qualidade de vida durante o tratamento dessas pessoas, com

foco na interatividade e ganho de confiança dos pacientes.

No Quadro 4 é possível observar algumas informações sobre

o projeto.

Quadro 4: Análise do Junction 17

APRESENTAÇÃO:

Nome do Projeto:

Junction 17, New CAMHS (Child and Adolescents Mental Health Services) Unit

Localização: Prestwich, Greater Manchester

Arquitetos: Gilling Dod Architects

Ano: 2013

Status: Construído

CONTEXTO:

Descrição: Trata-se de uma edificação destinada ao cuidado da Saúde Mental para crianças e adolescentes no nordeste da Inglaterra, indicado em 2014 ao prêmio Design in Mental Health Care para Design Project do ano.

44

PROJETO:

Conceito e partido:

Algumas abordagens foram essenciais no desenho desse projeto, tais como: adaptação ao público alvo, engajamento com o usuário, ganhar a confiança do usuário, interatividade, arte no processo de recuperação.

Elaborado pela autora

Foi escolhida por se tratar de uma edificação curva, a

intenção dos projetistas era de garantir e proporcionar a

ideia de dinâmica e fluidez para os usuários. Alguns aspectos

se destacam nessa arquitetura, a volumetria da edificação é

formada por dois blocos em forma de parênteses, desencontrados,

ligados por um bloco ortogonal na parte central, como é possível

observar nas plantas baixa (Figura 10, Figura 11). Essa forma

permitiu a criação de espaços de jardim nos vazios criados pela

edificação na parte central.

Figura 10: Planta e zoneamento - Nível 0

Fonte: https://pt.slideshare.net/Architectsforhealth/gilling-dod-junction-

17-af-h-nw

45

Figura 11: Planta e zoneamento - Nível 1

Fonte: https://pt.slideshare.net/Architectsforhealth/gilling-dod-junction-

17-af-h-nw

Na Figura 12 é possível observar a evolução da forma até

chegar a proposta final. As alternativas anteriores traziam

desenhos mais ortogonais, sempre com um volume central ligando

outros dois módulos, como é possível observar nos desenhos A, B,

D e E. A proposta C traz três blocos desencontrados, dois deles em

forma de prisma retangular e um no formato da letra “L”. A

proposta E traz dois blocos em “Y” ligados por esse volume central.

E por fim a volumetria (Figura 13) com um desenho mais sinuoso

e o uso de curvas para acrescentar uma identidade com mais

fluidez a edificação.

Figura 12: Evolução da forma

Fonte: https://pt.slideshare.net/Architectsforhealth/gilling-dod-junction-

17-af-h-nw

46

Figura 13: Volumetria do Junction 17

Fonte: https://pt.slideshare.net/Architectsforhealth/gilling-dod-junction-

17-af-h-nw

O Ronding é uma edificação construída em Burgemeester,

Holanda, trata-se de habitação para idosos que também se

identifica como posto de dormir ou unidade de tratamento. O

projeto buscou garantir qualidade de vida para os residentes, com

atenção especial para áreas de uso individual e espaços de

reuniões. No Quadro 5, as principais informações sobre o projeto.

Quadro 5: Análise The Ronding

APRESENTAÇÃO:

Nome do Projeto:

The Ronding

Localização: Burgemeester Meslaan, Tiel,Holanda

Arquitetos: Olll Architecten

Ano: 2010

Status: Construído

CONTEXTO:

Descrição: Trata-se de um complexo de caráter residencial para idosos, que fornece suporte adequado para seus residentes.

PROJETO:

Conceito e partido:

O projeto dessa habitação promove uma boa relação entre o edifício e o entorno, além de focar na construção de áreas que permitam a interação entre os moradores.

Elaborado pela autora

Foi escolhida, assim como o Junction 17, por se tratar de

uma edificação curva. Em suas plantas (Figura 14 e Figura 15),

é possível identificar uma forma que lembra a de um bumerangue,

com os apartamentos voltados para jardins na parte interna do

terreno.

47

Figura 14: Planta baixa - Térreo

Fonte: http://o-drie.nl/en/portfolio/de-ronding/

Figura 15: Planta baixa - 1 pavimento

Fonte: http://o-drie.nl/en/portfolio/de-ronding/

Assim como na análise da função, foi elaborado um quadro

comparativo, a fim de destacar as principias informações obtidas

Quadro 6: Comparativo dos estudos de forma

Junction 17 The Ronding

Diretrizes projetuais

Contexto Edificação voltado a saúde mental de crianças e adolescentes; Desenho com foco na interatividade, transparência e respeito Cuidado com a saúde mental; Interação entre usuários e usuário/espaço.

Caráter residencial

Normas para identificar as especificidades de edificação voltada para saúde;

Desenho que possibilite conexão dos espaços e garantia que esses ambientes sejam atrativos para uso das internas.

Plástica Uso de curvas para mascarar a escala; Criação de jardins.

Jardins em cada unidade

Uso de curvas no desenho da edificação.

Configuração Edificação em dois níveis; Duas formas curvas desencontradas; Ligação por um bloco ortogonal

Edificação em dois níveis; Forma curva

Blocos desencontrados e edificação em dois pavimentos

Elaborado pela autora

3.3 Análise dos projetos quanto ao material

48

A escolha pelo Belmont Community

Rehabilitation Centre se deu devido a estética apresentada,

pelo uso de madeira na fachada. No Quadro 1, as

informações pertinentes ao projeto.

Quadro 7: Análise do Belmont Community Rehabilitation Centre

APRESENTAÇÃO:

Nome do Projeto:

Belmont Community Rehabilitation Centre

Localização: Reynolds Road, Belmont, Austrália

Arquitetos: Billard Leece Partnership

Ano: 2012

Status: Construído

CONTEXTO:

Descrição: Trata-se de um Centro comunitário de Reabilitação, focado em um ambiente residencial conectado a um centro de saúde.

Material: Madeira e vidro nas fachadas

Elaborado pela autora

O projeto traz em suas fachadas o uso de madeira de

cipreste branca, a escolha se deu devido a questões de

sustentabilidade, o calor inerente e do apelo estético desse

material.

As aberturas em vidro contribui para a ideia de

transparência e portanto a interação com o exterior. No

entanto, assim como no Brasil, a incidência do sol foi um

fator a ser considerado nessa escolha, a solução adotada

pelos arquitetos foi a utilização de auto sombreamento para

janelas voltadas para a rua e uso de elementos de

sombreamento para janelas voltadas para a área de jardins

(Figura 16).

Figura 16: Fachadas do Belmont Rehabilitation Centre

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-155486/centro-

comunitario-de-reabilitacao-de-belmont-slash-billard-leece-partnership

O padrão fornecido pelos painéis emoldurado de

madeira contrastam com as grandes janelas de vidro, que

49

possibilita a entrada de luz natural para os quartos da

edificação, além da ventilação e garantia da visual para o

jardim que circunda o edifício, como se pode observar na

Figura 17.

Figura 17: Planta baixa – Belmont Centre

Fonte: http://www.archdaily.com/431771/belmont-community-

rehabilitation-centre-billard-leece-partnership

O projeto seguinte (Figura 8) é de um centro da

natureza, localizado em Columbia cujo objetivo é inserir o

visitante numa experiência dinâmica de aprendizado com o

meio ambiente, por isso a escolha dos materiais deveria

ocorrer de modo a não causar muito impacto no entorno.

Quadro 8: Análise do James and Anne Robinson Nature Centre

APRESENTAÇÃO:

Nome do Projeto:

James and Anne Robinson Nature Center

Localização: Columbia, Maryland, Estados Unidos

Mapa e fotos:

Arquitetos: GWWO Inc. Architects

Ano: 2011

Status: Construído

CONTEXTO:

Descrição: Trata-se de um Centro da Natureza, projetado no meio da floresta com o objetivo de integrar o usuário, a arquitetura e ao meio ambiente.

Material: Madeira, pedra e vidro

Elaborado pela autora

50

A parte externa da edificação é construída em madeira

e pedra (Figura 18), já na parte interna, além desses materiais

há ainda o uso de concreto e piso de cortiça.

Figura 18: Exterior da edificação em madeira e pedra

Fonte: http://www.realcedar.com/blog/project-week-james-anne-

robinson-nature-center/

A madeira escolhida foi cedro vermelho para o

revestimento da parede, guarda-corpo, deck da varanda e

para o telhado, como pode ser observado na Figura 19, os

motivos para tal escolha foram além da estética, a cor e o

aspecto caloroso. Apresenta ainda boa resistência a

apodrecimento e a insetos, o que garante menor

necessidade de manutenção e uso de conservantes na

madeira.

Figura 19: Revestimento e estrutura em madeira

Fonte: http://www.woodworks.org/project/james-and-anne-robinson-

nature-center/

O uso do vidro oferece vistas para o exterior,

favorecendo a conexão entre o usuário do edifício e a

natureza ao redor (Figura 20).

Figura 20: Fachadas com painéis de vidro

51

Fonte:http://www.architectmagazine.com/project-gallery/james-

and-anne-robinson-nature-center

A seguir o quadro comparativo, com as principais

estratégias projetuais adotadas, destacando as que podem ser

utilizadas na proposta em questão.

Quadro 9: Comparativo dos estudos de tectônica

Belmont Community Rehabilitation

James and Anne Robinson Nature Center

Diretrizes projetuais

Contexto -Caráter residencial conectado com saúde.

-Integração com natureza, baixo impacto visual no entorno.

-Buscar um desenho que não cause grande impacto no entorno.

Material -Concreto, madeira e vidro

-Estrutura em concreto armado; -Uso de madeira e pedra. Vidro

-Uso de concreto nas edificações principais e madeira como revestimento e estruturas

Plástica -Forma irregular. -Fachada atrativa.

-Desenho simples, ortogonal. -Uso de pilares, telhado, revestimento e deck em madeira. -Uso do vidro.

-Uso de algumas estruturas em madeira. -Inserção de decks para contemplação da visual

Configuração -Edificação térrea, desenho irregular.

-Edificação em três pavimentos.

-

Fonte: Baker, adaptado pela autora

52

4. O PROJETO

53

4.1 Condicionantes do lugar

Esse capítulo explana os aspectos fundamentais para

o desenvolvimento da proposta. Mostra o processo para a

escolha do terreno, os critérios adotados e as opções

analisadas, em seguida analisa a área escolhida e o terreno

selecionado.

São realizadas também as análises bioclimáticas e

revisão da norma e legislação vigentes, além do programa

de necessidades, conceito e partido. Aqui também se

apresenta os primeiros estudos de forma e as primeiras

ideias de planta baixa.

4.1.1 O processo de escolha do terreno

Para o desenvolvimento da proposta, foi escolhido o

município de Parnamirim, na região metropolitana de Natal,

Rio Grande do Norte, distante 12 km da capital. O município

4 Dados obtidos no site do IBGE (http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=240325) em 03 de abril de 2017.

possui uma área de 123,471 km² (4) e limita-se ao norte com

Natal, a leste com o Oceano Atlântico, ao sul com o

município de Nísia Floresta e São José de Mipibu e a oeste

com Macaíba, como pode ser observado na Figura 21.

Figura 21: Mapa da Região Metropolitana de Natal

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017), modificado pela autora.

54

A escolha do município de Parnamirim se deu devido

à proximidade com a cidade de Natal e apresentar lotes

litorâneos e arborizados. A ideia é que o projeto esteja

inserido em um ambiente cujo entorno exerça influências

positivas no tratamento, dessa forma a principal meta era

encontrar uma localidade que ao mesmo tempo fosse

próxima de serviços de primeira necessidade, como postos

de saúde e hospitais e pudesse possibilitar um espaço

reservado, não tão inserido no centro urbano.

Tendo isso em vista, foi selecionado o distrito litoral de

Cotovelo (Figura 22), buscando um espaço que

proporcionasse uma vista contemplativa do mar ou de áreas

com extensa vegetação, tal bairro está separado de Natal

pela Barreira do Inferno e o acesso se dá pela Rota do Sol.

Figura 22: Destaque do bairro de Cotovelo

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017), modificado pela autora

Durante o processo de escolha foram selecionados

alguns terrenos que proporcionavam as visuais desejadas, a

prioridade era por lotes mais próximos ao mar, no entanto

outros aspectos foram levados em consideração.

A primeira opção foi de um terreno no limite da

Reserva da Barreira do Inferno, vizinho a um condomínio

residencial (Figura 23). Contando com uma área de

30.000 m², seria necessário realizar o parcelamento do lote.

Apesar da visual interessante pra reserva, o acesso ao mar

55

não era tão claro e a parada dos ônibus vindos de Natal

distava cerca de 350m do local.

Figura 23: Opção 01 de terreno

Fonte: https://www.scribblemaps.com/

A segunda opção, que pode ser observada na Figura

24, era um terreno com acesso direto a praia e paradas de

ônibus mais próximas que a opção anterior. Localizado em

frente a um posto de gasolina, possui uma área de 3.580 m².

Essa opção foi descartada, pois devido a topografia, mais

rebaixada, perde-se a visual do mar, além de estar localizada

em uma via estrutural, o que exige algumas demandas de

recuo.

Figura 24: Opção 02 de terreno

Fonte: https://www.scribblemaps.com/

A decisão final foi pelo terreno próximo ao da segunda

opção, apesar de menor, esse lote proporciona uma visual

mais atrativa, tanto para o mar, quanto para a vegetação do

entorno, já que se encontra em uma área mais elevada.

Como já citado anteriormente, os principais motivos

para essa escolha foram: localização privilegiada com acesso

56

e visual para o mar e para uma área arborizada; além da

importância de se localizar em uma região em que o acesso

fosse simples, a fim de facilitar a visita dos familiares.

O lote está localizado entre as Rua Parnamirim, Rua

Trampolim da Vitória e Rua Ismael Wanderley, a três quadras

da Praia de Cotovelo, (Figura 25).

Figura 25: Escolha final do terreno

Fonte: https://www.scribblemaps.com/

4.1.2 O entorno

É importante analisar a região escolhida implantação

do projeto, portanto algumas questões como: unidades de

saúde próximas, acessibilidade e mobilidade, uso do solo e

gabarito do entorno foram considerados.

4.1.2.1 Unidades de saúde

Um item a ser analisado quando da escolha do

terreno foi a proximade a estabelecimentos de saúde, já que

a proposta do Centro é focada mais no aspecto terapêutico,

do que na oferta de serviços de saúde básica. Visando a

necessidade de ter nas proximidades unidades de

atendimento de urgência/emergência, foi indispensável um

levantamento dessas instituições da região.

A Unidade Básica de Saúde mais próxima fica a menos

de 1 km do terreno, em Pium, tem ainda a Unidade de Saúde

de Pirangi do Norte, são as instituições encontradas no

entorno imediato.

57

Quando se trata de hospital pode-se localizar mais no

centro de Parnamirim o Hospital Regional Deoclécio Marques

de Lucena, que realiza atendimentos de urgência e

emergência. Por se tratar de uma unidade que atenderá a

população feminina foi identificada também a Maternidade

Dr. Sadi Mendes, também no centro da cidade. Outra

unidade que chamou atenção foi o Serviço de Assistência

Especializada m HIV e AIDS, no bairro da COHABINAL, essas

três instituições estão cerca de 20 km afastadas do terreno

em questão. Abaixo se encontra um mapa com as principais

unidadeds de saúde, identificadas no entorno (Figura 26).

Figura 26: Mapa com as principais unidades de saúde do entorno

Fonte: https://www.scribblemaps.com/

4.1.2.2 Acessibilidade e mobilidade

O lote se encontra numa esquina, no cruzamento

entre três vias locais: Rua Parnamirim, Rua Ismael Wanderley

e a Rua Trampolim da Vitória, essa última cruza a Av.

Edgardo de Medeiros (RN 063), uma via estrutural, como

pode ser observado na Figura 27. A apenas 75 metros, é

possível localizar uma das paradas de ônibus, no sentido

58

Pirangi/Natal, a outra, no sentido contrário, se localiza a

menos de 200 metros do terreno.

Figura 27: Hierarquia de vias e localização de paradas de ônibus

Fonte: https://www.scribblemaps.com/

4.1.2.3 Uso do solo e gabarito do entorno imediato

Com o objetivo de analisar a área em que se realizará

o projeto foram elaborados mapas de uso do solo e gabarito

predominante, para entender os impactos que esse tipo de

projeto pode ter nessa região.

No que diz respeito aos tipos se edificação

encontrados no entorno imediato, foi possível observar a

presença predominante de edifícios residenciais e de espaços

vazios, não edificados e poucos estabelecimentos com

caráter de serviço, como pode ser observado na Figura 28.

Dessa forma, é possível apreender que se trata de uma

região tranquila, de caráter residencial.

59

Figura 28: Mapa de uso do solo

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) Modificado pela autora

Ainda que se saiba que, de acordo com o Plano Diretor

de Parnamirim, o limite de gabarito da região é de 7,5m, foi

realizado um estudo para analisar o gabarito predominante

nessa área, já que, desde o princípio a ideia era de um

projeto com, pelo menos, dois pavimentos.

Caso a área apresentasse apenas edificações térreas,

o projeto poderia se distanciar muito da tipologia local e

representar uma edificação que destoava muito na área em

que seria inserido.

De acordo com o mapa de gabarito, na Figura 29, foi

possível determinar que existem apenas edificações térreas e

de dois pavimentos, respeitando o que determina o Plano

Diretor da cidade.

60

Figura 29: Mapa de gabarito da região

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) Modificado pela autora

4.1.3 Características do terreno

O terreno é formado por seis lados com as seguintes

dimensões: 57,8m; 72,73m; 30,52m; 29,95m; 29,22m e

42,24m, totalizando uma área de 3.376,30 m², como é

possível observar na Figura 30, dessa forma trata-se de um

lote com três testadas frontais.

Figura 30: Delimitação do lote

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) Modificado pela autora

61

Na visita realizada ao terreno, foi possível

observar que se trata de uma região bem arborizada,

com vistas voltadas a massas arbóreas extensas

(Figura 31), o que é uma prerrogativa para a

localização do projeto, uma vez que se busca um

ambiente que proporcione o contato direto e indireto

com a natureza durante o tratamento, devido suas

influências positivas no comportamento humano.

Figura 31: Visuais do terreno

Fonte: Acervo pessoal (2017)

A topografia apresenta quatro curvas de níveis, com

uma diferença total de 4 metros de altura, o que garante que

em determinados pontos do lote a visual desejada para o

projeto (Figura 32).

Figura 32: Planta topográfica

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) Modificado pela autora

62

4.1.4 Análise bioclimática

De acordo com a NBR 16220/03, a cidade de

Parnamirim se encaixa na Zona Bioclimática Brasileira 8,

para esta zona, com clima quente e úmido, a norma

estabelece algumas diretrizes de construção com o intuito de

mostrar estratégias para se alcançar o conforto ambiental

dentro das edificações. Algumas dessas diretrizes são:

grandes aberturas, facilitação da ventilação cruzada, uso de

beirais, sombreamento das aberturas.

Além da norma, também foi consultado o

Roteiro para construir no Nordeste (HOLANDA, 1976) que

além dos itens citados, traz algumas recomendações como:

vazar muros, dar continuidade aos espaços e utilização da

natureza do entorno.

Portanto é necessário o estudo de variáveis

como insolação e ventilação no terreno para o

desenvolvimento da proposta.

4.1.4.1 Ventilação

A ferramenta utilizada para analisar o comportamento

da ventilação foi o software SOL-AR, que traz informações

como intensidade, frequência dos ventos e a carta solar de

algumas cidades brasileiras.

Apesar da ferramenta utilizada não mostrar a

cidade de Parnamirim, foram consideradas as informações

sobre ventilação da cidade de Natal, de uma forma geral a

predominância dos ventos são advindas do leste e sudeste

durante a primavera e sul/sudeste durante o inverno (Figura

33).

63

Figura 33: Rosa dos ventos da cidade de Natal

Fonte: Sol-AR, 2017

Quando se observa esse comportamento no terreno,

pode-se afirmar que a ventilação é favorecida a partir da Rua

Ismael Wanderley em direção à Rua Trampolim da Vitória,

respectivamente as fachadas leste e Norte do terreno.

Com base nessa rosa dos ventos, elaborou-se o

diagrama baixo (Figura 34) para indicar a direção da

ventilação no lote.

Figura 34: Esquema dos ventos predominantes no lote

Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) Modificado pela autora

4.1.4.2 Insolação

Para a questão da insolação fora utilizado o aplicativo

Sun Surveyor, com o intuito de identificar a trajetória do sol

no local. O aplicativo mostra tais informações, baseado na

localização detectada pelo GPS, assim foi possível entender

com clareza o caminho relizado pelo sol em quatro datas

pré-estabelecidas e em que parte especifica do terreno

64

estaria incindindo os raios olares em três horários especidicos

do dia.

As datas escolhidas representam os solsticio de verão

e inverno e os equinócios de primavera e outono, essas datas

representam o início das estações do ano. E os horários

determinados foram as 06:00, 12:00 e 17:00, um média da

hora que o sol nasce, o horário que atinge o ponto mais alto

no céu e hora que se põe.

Assim, de acordo com as informações obtidas é

possível afirmar que durante o outono (Figura 35) e inverno

(Figura 36), as fachadas leste, norte e oeste do terreno

recebem maior incidência dos raios solares durante a manhã

e tarde, ficando a fachada voltada para o sul sombreada.

Figura 35: Trajetória solar em 22/03 (outono)

Fonte: Sun Surveyor, 2017

Figura 36: Trajetória solar em 22/06 (inverno)

Fonte: Sun Surveyor, 2017

65

Na primavera o comportamento da trajetória solar é

diferente (Figura 37), ainda que mais incidente nas fachadas

leste e norte, nesse período a altura solar – indica a

inclinação do raio em relação a superfície – é maior que nas

outras duas estações citadas.

Figura 37: Trajetória solar em 23/09 (primavera)

Fonte: Sun Surveyor, 2017

No verão, o comportamento dessa trajetória é

totalmente diferente do que nas outras estações. Nesse caso,

as fachadas voltadas para sul e oeste recebem a incidência

dos raios solares, ficando as fachadas norte e leste

sombreadas nesse período, como pode ser observado na

Figura 38.

Figura 38: Trajetória solar em 22/12 (verão)

Fonte: Sun Surveyor, 2017

4.1.5 Revisão das normas

Nesse tópico analisou-se algumas leis, normas e

resoluções sobre as comunidades terapêuticas e no tocante

a legislação local, como o Plano Diretor e Código de obras

da cidade de Parnamirim.

66

4.1.5.1 Normatização das Comunidades Terapêuticas:

Em 2011 foi lançada a Resolução da Diretoria

Colegiada n° 29 (RDC 29) da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA), tal resolução estabelece requisitos de

segurança sanitária para instituições que atuam no

tratamento de pessoas com transtornos decorrentes do uso

ou abuso de substâncias psicoativas, em regime de

residência e que utiliza como instrumento terapêutico a

convivência entre pares.

Na seção III, a RDC 29 traz algumas atribuições sobre

a Gestão de Infraestrutura, onde lista os principais ambientes

que devem constar numa Comunidade Terapêutica,

dividindo-os por função, como exposto no quadro a seguir:

Quadro 10: Relação de ambientes necessários em uma Comunidade Terapêutica, de acordo com a RDC 29

II – Setor de Alojamento -Quarto coletivo, com acomodações individuais; -Banheiro.

II – Setor de Reabilitação e convivência

-Sala de atendimento Individual; -Sala de atendimento coletivo; -Área para realização de oficinas de trabalho; -Área para realização de atividades laborais; -Área para prática de esportes.

III - Setor administrativo

-Sala de acolhimento de residentes, familiares e visitantes; -Sala administrativa;

-Área para arquivo das fichas de residentes; -Sanitários para funcionários.

IV - Setor de apoio logístico

-Cozinha coletiva; -Refeitório; -Lavanderia coletiva; -Almoxarifado; -Área para depósito de material de limpeza; -Área para abrigo de resíduos sólidos

Fonte: Elaborado pela autora, a partir da RDC 29.

Aponta ainda a necessidade de adotar medidas que

promovam a acessibilidade e determina que as portas dos

ambientes de uso dos residentes devem possuir travamento

simples, dispensando o uso de trancas ou chaves.

No âmbito estadual, foi lançada em 2015 a Portaria n

51/2015-GS/SESAP, assim como a RDC 29, traz a lista de

ambientes necessários nas instituições, a diferença é que no

Capítulo III, Da Infraestrutura, determina algumas

especificações desses ambientes como:

Quadro 11: Relação de ambientes necessários em uma Comunidade Terapêutica, de acordo com a Portaria nº 51;2015-GS/SESAP

Alojamento -Distanciamento mínimo de 1,0 m entre as acomodações individuais e 1,5 m entre beliches; -Necessidade de garantia da renovação do ar com ventilação adequada; -Determina necessidade de espaços individuais; -Banheiros com espaços que garantam a privacidade e dignidade humana dos residentes.

67

Cozinha e despensa

-Garantia da qualidade nutricional; -Acesso controlado e independente; -Instalações, equipamentos, móveis e utensílios mantidos em condições higiênico-Sanitárias apropriadas e condizentes com o número de residentes; -Necessidade de bancada com cuba; -Bancada com cuba exclusiva para lavagem de utensílios; -Revestimento liso, impermeável e lavável em paredes, pisos e tetos; -Portas e janelas ajustadas aos batentes. Aberturas externas nas áreas de armazenamento, preparação e cocção de alimentos; -Iluminação da área de preparação deve possibilitar a visualização de forma a não comprometer a higiene e características sensoriais dos alimentos; -Ventilação que garanta a renovação do ar.

Refeitório -Deve haver lavatório para higienização das mãos, com dispositivo para sabonete líquido, toalhas de papel não reciclado ou outro sistema higiênico e seguro de secagem de mãos e lixeira com tampa e pedal.

Lavanderia Coletiva

-Deve ser provida de área coberta; -As paredes devem ser revestidas com material impermeável, com altura mínima de 1,5 m, pelo menos na área das cubas para lavagem; -Piso antiderrapante; -Necessidade de no mínimo dois tanques para lavagem de roupas.

Depósito para material de limpeza

-Deve conter cuba profunda para lavagem de panos de chão; -Espaço para guarda de material de limpeza.

Fonte: Elaborado pela autora, a partir da Portaria n 51/2015-GS/SESAP.

O capítulo IV, da referida Lei, traz recomendações

sobre a qualidade da água, apontando as necessidades e

cuidados que se deve ter com o reservatório de água, em

acordo com a RDC – ANVISA nº 11/2012. Já o capítulo V,

rege o gerenciamento dos resíduos sólidos, mostrando a

necessidade de se ter um abrigo destinado a esse fim e o

dever das instituições em incentivar e adotar a reciclagem e

compostagem dos resíduos orgânicos.

4.1.5.2 – Regulamentações sobre Instituições de Saúde e

Acessibilidade

Por se tratar de uma instituição que visa o tratamento

de pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de

substâncias psicoativas, elas se enquadram na categoria de

instituições que oferecem assistência à saúde, de acordo com

a RDC 29, e dessa forma, devem seguir algumas

normatizações voltadas para esse tipo de edificação, como a

RDC n° 306 da ANVISA, que trata do gerenciamento de

resíduos em serviços de saúde, RDC n° 63 que dispões sobre

os requisitos de boas práticas de Funcionamento para

Serviços de Saúde e a RDC 216/2004 que regulamenta as

Boas Práticas para serviços de Alimentação, além da RDC

283/2005 que regulamenta o funcionamento de instituições

68

de longa permanência para idosos e por fim a Norma

Técnica Brasileira (NBR) 9050/2015, sobre as condições de

acessibilidade.

No que diz respeito a infraestrutura, a RDC 306

determina a necessidade de um abrigo externo para os

resíduos, com acesso externo facilitado para coleta e

ambientes exclusivos para determinado tipo de resíduo.

Informa que o dimensionamento deve ser feito de acordo

com o volume gerado e compatível com a periodicidade da

coleta. Os materiais utilizados no teto, paredes e pisos devem

ser lisos, laváveis, impermeáveis e de fácil higienização, com

aberturas para ventilação com área de pelo menos 1/20 da

área do piso, com tela de proteção contra insetos. Deve-se

haver uma área de higienização com cobertura e o piso e

paredes devem ser lisos, com pontos de iluminação e tomada

elétrica. O trajeto do resíduo desde a sua geração até a área

de armazenamento também deve ser considerado, com livre

acesso dos recipientes coletores, piso resistente a abrasão,

plano, regular, antiderrapante e rampa.

No campo da gestão de infraestrutura, a RDC n°63

aponta que o projeto básico de arquitetura de um serviço de

saúde, deve estar em conformidade com as atividades a

serem desenvolvidas e aprovado pela vigilância sanitária e

órgãos competentes. Aponta que as questões de iluminação

e ventilação devem estar compatíveis com as atividades;

instalações físicas dos ambientes externos e internos devem

estar em boas condições de conservação, segurança,

organização, conforto e limpeza; garantir a qualidade e

fornecimento de água e a continuidade do fornecimento de

energia elétrica, mesmo em situações de interrupção do

fornecimento pela concessionária e realizar ações de

manutenção preventiva e corretiva das instalações prediais.

A RDC 216 visa determinar os procedimentos

necessários de Boas Práticas nos serviços de alimentação e

garantia das condições higiênicas e sanitárias nos alimentos

69

preparados. No que diz respeito a edificação, traz

recomendações quanto ao fluxo, dimensionamento,

revestimento, portas/janelas, iluminação, ventilação,

instalações sanitárias e elétricas, de acordo com o quadro a

seguir:

Quadro 12: Orientações de Boas Práticas no serviço de alimentação

Fluxo Deve ser ordenado e não permitir o cruzamento em todas as etapas de preparação; Deve facilitar a manutenção, limpeza e desinfecção; Possuir acesso controlado e independente e não de uso comum com outras funções.

Dimensionamento Compatível com as operações; Deve haver barreiras físicas entre ambientes de diferentes atividades para se evitar a contaminação cruzada.

Revestimento Uso de material liso impermeável e lavável em pisos, paredes e teto e sempre em bom estado de conservação.

Portas e janelas Ajustadas aos batentes; As portas da área de preparação de alimentos deve ser de fechamento automático; Aberturas providas de tela a fim de evitar a entrada de vetores e pragas urbanas.

Iluminação Garantia da renovação de ar, o fluxo não deve incidir diretamente nos alimentos.

Instalações sanitárias

Não pode haver comunicação direta entre as áreas de sanitários e vestiários com a área de preparação ou armazenamento dos alimentos. Deve possuir lavatórios com produtos destinados a higiene pessoal, coletores dotados de tampa e acionado sem contato manual; Portas com fechamento automático; Lavatórios exclusivos para higiene das mãos nas áreas de manipulação.

Instalações elétricas

Devem estar embutidas ou protegidas em tubulações externas para garantir a higienização dos ambientes.

Fonte: Elaborado pela autora, a partir da RDC 216.

Outra resolução a ser considerada é a RDC 283/2005,

que regulamenta o funcionamento das instituições de longa

permanência para idosos, como nesse caso, trata-se de uma

instituição que atenderá mulheres de qualquer faixa etária,

tal normatização deve ser considerada. O item que fala sobre

os espaços físicos traz algumas exigências específicas, como

o fato do acesso externo precisar de pelo menos, duas portas,

sendo uma exclusiva para serviço. As demais exigências são

similares a outras já citadas, como a questão do material de

piso, parede e teto e dimensões mínimas de algumas áreas.

Dentre as exigências específicas, pede que rampas, escadas

e banheiros acessíveis estejam em conformidade com a NBR

9050/ABNT.

A NBR 9050/2015 estabelece critérios e parâmetros

técnicos para serem considerados quanto às condições de

acessibilidade na construção, instalação e adaptação do

meio urbano, rural e de edificações. Dessa forma, as

70

edificações devem obedecer dimensões mínimas de

circulação, acessos e deve estar devidamente sinalizada para

garantir as condições mínimas de locomoção. No quadro a

seguir, estão algumas exigências apontadas nessa NBR, no

tocante a calçadas, rampas, escadas e banheiros:

Quadro 13: Recomendações da NBR 9050

Calçada Faixa mínima de 1,20m de largura para circulação de pedestres, sem obstáculos; Indicação dos limites e de barreiras físicas; Colocação de piso tátil.

Rampas Devem ter inclinação entre 6,25% e 8,33% e áreas de descanso; Largura mínima recomendável de 1,5m, com possibilidade de 1,2 admissível; Necessidade de corrimão de duas alturas em cada lado: 0,70 m e 0,92 m do piso.

Escadas Dimensionada de acordo com o fluxo de pessoas, com largura mínima de 1,5m em rotas acessíveis; Corrimão em ambos os lados com duas alturas: 0,70 m e 0,92 m do piso.

Banheiros As dimensões do sanitário e boxe devem garantir, além do posicionamento das peças, a circulação com giro de 360°; área para transferência lateral, perpendicular e diagonal para a bacia; Necessidade de barras de apoio, de acordo com as especificações da norma.

Fonte: Elaborado pela autora, a partir da NBR 9050.

4.1.5.3 – Legislação local

Quanto às normas e leis no âmbito local, deve-se

considerar o Código de Segurança e Prevenção contra

Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte, o Plano

Diretor de Parnamirim e o Código de Obras de Parnamirim.

O Código de Segurança e Prevenção contra Incêndio

e Pânico do Rio Grande do Norte, tem como objetivo indicar

exigências a fim de garantir o que é necessário para o

combate a incêndio, evitar ou minimizar a propagação do

fogo, facilitando o socorro e evacuação segura dos

indivíduos. Nesse caso, a instituição a ser projetada entra na

categoria de ocupação hospitalar e é classificada como de

Risco II e deve ter dispositivo de proteção de acordo com a

área construída e altura da edificação, tais como hidrantes,

extintores de incêndio, chuveiros automáticos, iluminação e

sinalização de emergência e rota de fuga.

4.1.5.3.1 - Plano Diretor de Parnamirim

De acordo com o Plano Diretor de Paramirim, a porção

do distrito Litoral de Cotovelo, onde está inserido o terreno

escolhido, corresponde a uma Zona Urbana, nesse caso, o

potencial básico de aproveitamento, para qualquer terreno é

71

de uma vez a sua área e o máximo de três vezes essa área,

porém com a necessidade do pagamento de concessão

onerosa para aproveitamento do solo ou transferência de

potencial construtivo.

Quanto a questão do gabarito, o terreno encontra-se

numa Zona Especial de Controle de Gabarito devido a sua

localização entre a via estrutural e a linha de preamar, sendo

o limite de 7,5 m (sete metros e meio), medidos a partir do

perfil natural do terreno.

Vale salientar, que ainda de acordo com o Plano

Diretor, é possível ultrapassar os limites de gabarito quando

volumes destinados a circulação vertical, caixa d’água e casa

de máquinas, com áreas de projeção até 50 m² em até três

metros.

A ocupação máxima permitida para obras em área de

controle de gabarito, no caso de edificações não residenciais

é de 80%.

No tocante a reserva de vagas para estacionamento,

observa-se no quadro 13, de relação de edificações que

geram impacto, a seguinte descrição para edificações na

área de saúde:

Quadro 14: Quadro das edificações que geram impacto

Fonte: Plano Diretor de Parnamirim, 2013.

Dessa forma, por se tratar de um terreno cujas vias do

seu entorno são locais e a proposta visa uma edificação de

até dois pavimentos, a recomendação é de uma vaga para

cada 55 m², atentando para a necessidade de local de carga

e descarga e embarque e desembarque de táxi, além do

espaço para lixo.

4.1.5.3.2 Código de Obras de Parnamirim

72

O Código de Obras e urbanismo de Parnamirim

disciplina as relações jurídicas da prefeitura, no que diz

respeito a obras e urbanismo da zona urbana e expansão

urbana e da zona rural.

Entre outras atribuições que regem esse código, traz

algumas determinações quanto a recuos, ventilação e

iluminação natural de ambientes, reservatório de água. O

texto dessa lei determina as dimensões para recuos de

acordo com o quadro a seguir:

Quadro 15: Recuos permitidos LOGRADOURO LATERAL FUNDOS

PRINCIPAL 5,00 m 1,5m (quando for usado esquadria, ou elementos vazados com aberturas superiores a 10x2 cm)

3,00 m

SECUNDÁRIA 3,00 m

Fonte: Elaborado pela autora, a partir do Código de Obras de Parnamirim.

Para blocos residenciais deve-se respeitar o

afastamento mínimo de 5,0 m, com recuos laterais de 3,0 m

e para logradouros de 5,00m. No caso edificações de um

pavimento, o máximo de ocupação permitida é de 60% da

área do lote.

O código afirma que os vãos devem ter área igual ou

superior a 1/6 da área do piso para serem considerados

ventilados e iluminados naturalmente e que ambientes cujo

vão for superior a três vezes o valor do seu pé-direito não

pode ser considerado naturalmente ventilado ou iluminado.

Em alguns ambientes é dispensado a necessidade de

iluminação direta e natural, tais como: corredores e halls

com área inferior a 5,0 m²; compartimentos, que devido sua

utilização, justifiquem a ausência de iluminação natural,

desde que apresentem ventilação mecânica ou

condicionador de ar; portarias, depósitos de utensílios ou

malas, armários até 2,00m² e depósito de lixo em edifícios.

Em edificações hospitalares ou congêneres é

obrigatória a instalação de reservatório de água, com

capacidade mínima de 400 litros por leito/cama.

4.2 Programa de Necessidades e pré-dimensionamento

73

O programa de necessidades desse projeto seguiu as

recomendações da RDC 29/2011 e da Portaria 51/2015-

GS/SESAP já comentadas. A princípio o programa segue as

quatro bases de setorização indicadas na Resolução: setor de

alojamento, reabilitação e convivência, setor administrativo

e apoio logístico.

Partindo desses setores, foram acrescentados alguns

ambientes em conformidade com a proposta desenvolvida,

como a quadra para prática de esportes e uma sala para

prática de Yoga. Outro ambiente sugerido, é a área para

receber crianças, por se tratar de uma unidade que visa

atender mulheres e garantir sua permanência até o fim do

tratamento, evitando evasões, foi considerado necessário um

ambiente que recebesse, de maneira convidativa, os filhos

das internas.

Quanto ao pré-dimensionamento, além da Portaria

51/2015-GS/SESAP, foi utilizada a RDC 50 e SOMASUS, que

apresentam as dimensões mínimas em ambientes de saúde,

além do layout indicado para cada função a ser atendida. Foi

utilizada também a obra “Dimensionamento humano para

espaços interiores” dos autores Julius Panero e Martin Zelnik.

O projeto visa atender 19 internas, de maneira confortável,

garantindo a integridade e privacidade de cada uma delas.

Setor Espaço Qtd. Ref. Dim.

REA

BIL

ITA

ÇÃ

O E

CO

NV

IVÊN

CIA

Sala de atendimento individual

2 (Psicólogo e Assistente Social)

RDC 50 (consultório dif.)

7,5 m² cada Total: 15 m²

Sala de terapia ocupacional em grupo

2 (Cap. 10 pessoas)

SomaSus (2,20 m²/pessoa)

Total: 66m²

Sala de aplicação de medicamentos

1 RDC 50 5,5 m²

Sala guarda de medicamentos

1 RDC 50 4,0 m²

Sala de estudos 1 (Cap. 18 pessoas)

RDC 50 Total: 70 m²

Área de estar e convivência

1 RDC 50 1,3 m²/pessoa

Total: 65 m²

Espaços multiuso 3 SomaSus (2,20 m²/pessoa com no mínimo 20 m²)

33 m²

Área para esportes 1 - 540 m²

Setor Espaço Quantidade Dimensões

ALO

JA

MEN

TO

Quartos 11 (duplos e individuais) Total: 150m²

Banheiro 1 para cada 6 camas

5 no total

Total: 30 m²

74

Espaço para crianças 1 - 24 m²

Chuveiros 2 - Total: 12,8 m²

Sanitários acessíveis 2 - Total: 7,2m²

Setor Espaço Quantidade Dimensões

AP

OIO

LO

GIS

TÍC

O

Cozinha Coletiva e despensa 1 Total: 50 m²

Refeitório 1 Total: 50 m²

Lavanderia Coletiva 1 Total: 8 m²

Depósito de material de limpeza 1 2 m²

Abrigo de recipientes de resíduos sólidos 1 10 m²

Recepção 1 5 m²

Sala de espera para o público 1 13 m²

WCs 2 8,5 m²

Guarita c/ BWC 1 10 m²

Setor Espaço Quantidade Dimensões

AD

MIN

ISTR

ATIV

O

Sala de acolhimento de residentes, familiares e visitantes

1 Total: 6 m²

Sala administrativa 1 Total: 5,5m²

Arquivo 1 Total: 30 m²

Banheiro para funcionários 2 Total: 6,4 m²

Sala de reunião para equipe 1 (Cap. 15 pessoas)

30 m²

No desenvolvimento da proposta, foi identificado a

necessidade de se flexibilizar o uso de algumas salas a fim

de atender diversas demandas, dessa forma, foram inseridas

três salas multiuso e não duas salas de terapia ocupacional.

Essas salas devem abrigar atividades como: aulas de pintura

ou artesanato, em geral, terapias ocupacionais, reuniões,

atividades culturais, receber os familiares em dias de visitas

e comemorações, prática de atividades físicas como dança,

yoga e meditação, além de espaço para orações.

Apesar de não constar na legislação específica das

Comunidades Terapêuticas, foi inserido ao programa uma

sala para atendimento simples de saúde e uma para guarda

de medicamentos.

Por se tratar de uma instituição cujo foco é o aspecto

terapêutico, visando a eficácia do tratamento através da

interação e participação da família no processo de

tratamento, foi adicionado também uma área para crianças,

tendo em vista que o fato de estarem separadas dos seus

filhos é um dos fatores para não buscar o atendimento por

parte das mulheres ou ainda de desistência.

75

Outro ambiente pensado com o intuito de trabalhar a

auto estima dessas mulheres é o espaço de beleza, destinado

aos cuidados estéticos e possível espaço de aprendizagem de

um ofício ligado a essa área.

4.3 Organograma

A partir da definição do programa de necessidades, foi

elaborado um organograma (Figura 39) para entendimento

das relações entre os setores. Esse organograma facilitará na

elaboração da planta baixa, possibilitando a visualização dos

ambientes que precisam estar próximos e atentando para a

questão dos fluxos.

Figura 39: Organograma do Centro Terapêutico

Fonte: Elaborado pela autora

4.4 Conceito

Partindo da ideia de se projetar uma instituição de

cuidado, com enfoque nas atividades terapêuticas e

possibilitando que o usuário pudesse buscar o equilíbrio

entre corpo, mente e espírito, o conceito adotado para o

projeto desse estabelecimento foi a do Nó Celta ou

Triquetra (Figura 40).

76

Figura 40: Nó celta ou triquetra

Esse símbolo representa no ser humano o corpo, a

mente e o espírito e a interconexão entre essas três esferas.

Representa também as fases do ciclo da vida: nascimento,

morte e renascimento. A ideia é a de que o centro permita

as internas a possibilidade de recuperação e retomada da

vida antes do vício.

Outra interpretação para essa simbologia é que

representa as três fases da vida de uma mulher, virgem, mãe

e anciã, sendo assim uma representação da divindade

feminina.

4.5 Partido arquitetônico

O ponto fundamental do projeto é proporcionar um

ambiente acolhedor que se aproxime ao máximo do aspecto

residencial. Dessa forma alguns aspectos como a relação

interior-exterior foram considerados durante a elaboração da

proposta, tendo em vista que o contato com áreas verdes e

arborizadas auxiliam no processo de tratamento e é um dos

preceitos da humanização dos espaços.

Outro ponto é o aproveitamento do desnível do terreno

com utilização de blocos conectados por caminhos

rampados, respeitando as normas de acessibilidade.

A edificação principal é composta por dois pavimentos,

tendo como circulação vertical escadas e elevadores. Buscou-

se tornar todos os ambientes, principalmente quartos e

banheiros apropriados para o uso de pessoas portadoras de

necessidades especiais.

Outro fator importante é o posicionamento do prédio, de

modo que o máximo de ventilação natural fosse aproveitado,

77

principalmente nas áreas de longa permanência, como os

quartos.

4.6 Estudo da forma

Após as análises do terreno e de suas condicionantes foi

realizado um estudo de formas, com o objetivo de se analisar

qual a melhor tipologia a ser adotada, respeitando a

declividade do terreno em consonância com o programa de

necessidades.

O ponto inicial desse processo foi o estudo das figuras

primárias, com o intuito de se definir qual forma poderia

passar melhor a ideia de equilíbrio almejada pela proposta.

Para tanto se analisou as formas primárias, básicas e as

transformações delas e um quadro comparativo foi

elaborado.

Quadro 16: Análise das formas primárias

Forma geométrica Significado da forma

Círculo: figura centralizada, introvertida, que é normalmente

estável e autocentralizadora em seu meio.

Triângulo: significa estabilidade, quando repousado em um dos

seus lados e instabilidade quando apoiado sobre um dos

vértices.

Quadrado: representa racionalidade e pureza; figura estática,

neutra, sem direção dominante. Estável quando apoiado em

um lado e instável quando apoiado sobre um dos vértices. Os

retângulos são variações do quadrado, com acréscimo de

altura ou largura.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Ching, 2002

Quadro 17: Transformação das formas

Forma geométrica Tipos de transformação

Dimensional: alteração de uma ou mais

dimensões e conservar sua unidade como

membro de uma família de formas. (Ching

2002).

Subtrativa: subtração de uma porção de

seu volume, dependendo da extensão do

processo subtrativo, a forma pode

conservar sua identidade inicial ou ser

transformada em uma forma de outra

família.

78

Aditiva: adição de elementos ao seu

volume. A natureza do processo aditivo e

o número e os tamanhos relativos de

elementos acrescentados determinam se a

identidade da forma inicial será mantida.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Ching, 2002

Após os estudos das formas primárias e suas

transformações, foi elaborada uma maquete física da

topografia do terreno e a partir dela e de croquis, foram

testadas algumas possibilidades de forma e tipologia para a

edificação. Para cada opção fora elaborado um quadro

apontado as soluções adotadas para forma, uso, tectônica e

contexto e quais as principais vantagens e desvantagens de

tal escolha.

Opção 01

Nessa primeira configuração, a opção foi pela

utilização de três blocos em “L”, distribuídos na extensão do

terreno, como nas imagens a seguir:

Figura 41: Croqui e maquete de implantação - Opção 01

Fonte: elaborado pela autora

O bloco 01, destinado ao alojamento e reabilitação

seria implantado na parte mais alta do terreno, deixando

para a Rua Trampolim da Vitória o acesso principal ao

Centro. No bloco 02 se concentrou a parte administrativa e

de apoio logístico. E por fim, na parte mais baixa se

concentrou apenas apoio logístico, colocando a entrada de

serviço pela Rua Parnamirim.

A partir da elaboração do quadro (Quadro 18), com as

principais informações idealizadas para essa configuração é

possível identificar as ideias que nortearam essa

implantação.

79

Quadro 18: Análises da opção de forma 01

Fonte: elaborado pela autora

Nessa primeira opção os blocos seriam projetados em

estrutura de concreto, interligados por caminhos e rampas

acessíveis, priorizando o uso de madeira e vidro, sempre

pensando na ideia de integração com o exterior.

O desnível do terreno seria utilizado em favor do

projeto, uma vez que cada bloco ocuparia uma determinada

altura no terreno, favorecendo um visual interessante para o

máximo de áreas possíveis.

Nessa configuração, ficou prejudicada a área para

realização de esportes e a ventilação natural do bloco 01.

Outro ponto negativo seria a dificuldade de controle das

internas, com a utilização de blocos separados.

Opção 02

Nessa segunda opção permaneceu a utilização de três

blocos, no entanto, cada um dos três blocos apresentava uma

configuração distinta. O bloco 01 em formato de “L”, com

uma leve curvatura em seu encontro, era destinado a

reabilitação e convivência. O bloco 02, um cubo simples, se

destinava a uma parte de apoio, agrupando as áreas de

serviço. E no bloco 03 ficou a parte administrativa e de apoio

logístico.

80

Figura 42: Croqui e maquete de implantação - Opção 02

Fonte: elaborado pela autora

A maior diferença nesse caso, foi a forma do bloco 03,

que partiu da união de dois blocos retanguares, com a

inserção de um cilindro, cuja forma sofreu subtração,

surgindo assim o formato visualizado no croqui da Figura 42.

Novamente, com a sistematização dos dados no

quadro a seguir é possível inferir que algumas estratégias

adotadas para a opção 01 permaneceram, assim como

alguns aspectos negativos.

Quadro 19: Análises da opção de forma 0

Fonte: elaborado pela autora

Opção 03

A terceira opção se afasta das anteriores, uma vez que

apresenta a utilização de bloco único, a partir da união de

três grandes blocos retangulares interligados com a adição

de cilindros em seus encontros, como pode ser observado na

Figura 43.

81

Figura 43: Croqui e maquete de implantação - Opção 03

Fonte: elaborado pela autora

Essa opção livra grande parte do terreno,

possibilitando a inserção de quadra de esportes e áreas

verde e de contemplação mais ampla.

No quadro a seguir estão destacadas as principais

vantagens de adotar essa configuração de edificação.

Quadro 20: Análises da opção de forma 03

Fonte: elaborado pela autora

82

4.7 Primeiras ideias de planta baixa

PROPOSTA 01

Após os estudos de forma, com as maquetes físicas e

croquis, definiu-se seguir com a Opção 03, apresentada

anteriormente.

Assim, foi iniciada a planta baixa dessa opção. A ideia

era concentrar no pavimento térreo o máximo de ambientes

dos setores administrativos, de apoio logístico e reabilitação.

Nas áreas curvas, pretendia-se locar ambientes como salas

de conivência, recepção, salas de atendimento individual ou

em grupo e salas de estudo. Buscava-se que esses ambientes

pudessem ter vista tanto para o mar, quanto para áreas

verdes e jardins internos, para tanto seriam utilizados painéis

de vidro nessas fachadas.

Já no desenho do térreo (Figura 44) era possível

perceber que muitos ambientes de longa permanência

seriam prejudicados, já que precisaram ser locados na

fachada oeste da edificação.

Figura 44: Planta baixa - térreo (Opção 01)

Fonte: elaborado pela autora

Já no pavimento superior seriam concentrados os

quartos. A princípio a ideia era de alojar cinquenta internas

em doze suítes com tipologia dupla ou tripla, a intenção era

garantir o máximo de privacidade e conforto para as

usuárias.

83

Em certo momento, percebeu-se a necessidade de

abandonar a ideia de quartos com o mínimo de residentes e

a possibilidade de manter a configuração de suítes. Os

quartos assumiram tipologias para abrigar quatro, cinco ou

seis residentes e os banheiros tornaram-se coletivos (Figura

45).

Figura 45: Planta baixa - pavimento superior (Opção 01)

Fonte: elaborado pela autora

De uma maneira geral, a forma e o zoneamento dessa

configuração pode ser observada na imagem a seguir:

84

Figura 46: Volumetria (Opção 01)

Fonte: elaborado pela autora

A ideia foi descartada pois a forma estava limitando a

funcionalidade, diversos ambientes importantes e de longa

permanência estavam voltados para oeste, o que

prejudicaria a questão do conforto térmico. Além disso,

alguns itens do programa estavam sendo descartados por

não caber nos limites pré-determinados para a edificação.

As grandes áreas com fachadas em vidros, também

representavam um problema, no total, eram quatro curvas

com painéis em vidro que prejudicava a distribuição dos

quartos no pavimento superior, impossibilitando a

privacidade nos dormitórios.

PROPOSTA 02

Com o abandono da proposta anterior, foi necessário

repensar a forma a ser adotada para uma edificação

funcional e ao mesmo tempo visualmente agradável. Assim,

retornou-se aos estudos e análises de forma. Como dito

anteriormente, Ching (2002) traz as formas regulares do

quadrado e do triângulo como símbolos de estabilidade,

quando apoiados sobre um dos lados, e racionalidade,

podendo também estar diretamente relacionados ao

equilíbrio almejado pela proposta.

Dito isso, retornou-se aos desenhos das figuras

primários para definição de um novo desenho. A intenção

era tentar reunir as figuras geométricas do quadrado e do

triângulo de maneira harmoniosa. O quadrado serviu como

base e sofreu alteração em uma dimensão, transformando-

85

se em um retângulo. Do retângulo foram extraídas peças

triangulares até chegar na forma representada pelo

esquema da Figura 47:

Figura 47: Esquema para a nova forma

Fonte: elaborado pela autora

Definida a forma, o passo seguinte era a elaboração

da planta baixa. A ideia inicial era priorizar as áreas de

acesso ao público, de apoio logístico, administrativo e de

reabilitação e convivência no pavimento térreo.

Analisando a planta baixa do pavimento térreo dessa

nova configuração, na Figura 48, pode-se perceber algumas

áreas de longa permanência voltadas para a fachada oeste,

como a sala multiuso. Além de se perceber a necessidade de

mais uma entrada pela área da cozinha e refeitório e uma

sala destinada aos funcionários dessa ala, percebe-se

também a necessidade de uma circulação destinada a

serviços, para saída de rouparia, lixo e materiais, sem

precisar passar pela área da recepção.

Figura 48: Planta baixa - térreo (Opção 02)

86

Fonte: Elaborado pela autora

No pavimento superior, dois ambientes foram

prejudicados, a sala de estudos e a sala de convivência,

ambas voltadas para a fachada oeste, como pode ser

observado na Figura 49. Nessa configuração era possível

abrigar até vinte e cinco internas, em quartos duplos e

individuais.

Figura 49: Planta baixa - pavimento superior (Opção 02)

Fonte: Elaborado pela autora

O aspecto positivo dessa opção é o fato de todos os

quartos estarem voltados para sul e sudeste, aproveitando

tanto a ventilação natural, quanto uma vista privilegiada

para a praia, além todos possuírem varandas privativas.

87

Como a ideia é proporcionar um ambiente confortável

e acolhedor, no qual as internas possam se sentir à vontade,

despertando o desejo de ocuparem os espaços coletivos, o

fato de dois ambientes importantes estarem em uma

localização desprivilegiada, essa ideia foi descartada para

dar lugar a proposta final.

88

5. Proposta Final

89

Neste capítulo serão apresentadas as principais

decisões projetuais, o caráter da edificação, assim como as

justificativas e especificações técnicas para melhor

compreensão da proposta.

Voltado para o público feminino de dependentes

químicos, o Centro Terapêutico Niyama tem como principal

objetivo a promoção de um ambiente acolhedor e, de modo

simultâneo, um espaço para a recuperação e reinserção

social baseado na convivência entre pares, com ênfase no

aspecto terapêutico.

Levando em consideração o fato de que a prioridade

do Sistema Único de Saúde (SUS) é o tratamento

ambulatorial, a internação só é adotada em algumas

ocasiões – devido a isso, parte da população encontra

dificuldades para iniciar o tratamento.

O Centro Niyama apresenta-se, então, como uma

opção a mulheres que sentem a necessidade de auxílio

contra o vício. A ideia é que seja uma entidade de caráter

filantrópico e assistência à população de média e baixa

renda, que não tenha condições financeiras de arcar com os

custos do tratamento.

Vale ainda ressaltar que se trata de um ambiente que

acolhe internas de maneira voluntária e que já tenham

passado pelo processo de desintoxicação. A proposta visa

focar nas etapas de conscientização do problema e

reinserção social com o apoio da família nessas fases.

Já com relação aos índices urbanísticos – os quais

podem ser verificados no quadro abaixo –, pode-se afirmar

que, de maneira geral, o empreendimento ocupa uma área

total de 3.243,06 m².

90

Quadro 21: Informações gerais do empreendimento

INFORMAÇÕES DO PROJETO

Área do terreno 3.243,06 m²

Área construída 1.293,98 m²

Área Coberta 1.027,21 m² Taxa de ocupação 22,44%

Área permeável 811,77 m²

Vagas de estacionamento

24

Fonte: elaborado pela autora

5.1 Implantação

Para locar a edificação no terreno, tomou-se como

base a questão da ventilação – o melhor aproveitamento dos

ventos predominantes provenientes do sul e sudeste. Outro

fator que influenciou na disposição das edificações no

terreno, foi a priorização da visual para ambientes como

quartos e locais de contemplação.

Levando esses fatores em consideração e a forma

almejada pela edificação principal, considerando ainda os

limites de recuos mínimos exigidos pelo Plano Diretor de

Parnamirim, decidiu-se por não dispor o prédio paralelo a

nenhuma face dos limites do lote.

O passo seguinte era atentar aos recuos permitidos

pelas normas, dessa maneira, foram locados as três

edificações almejadas: para a edificação adotou-se um recuo

frontal, considerando a inserção de estacionamento, calçada

e espaço para vegetação. Houve a necessidade de reservar

espaço para calçadas nas três faces do terreno.

Figura 50: Delimitação do terreno e marcação dos recuos

Elaborado pela autora

91

Por se tratar de um terreno com quatro curvas de

níveis, optou-se por dividi-lo em três níveis principais (Figura

51), visto que uma das curvas, ocupa apenas uma pequena

área do terreno. A ideia norteadora era garantir áreas verdes

e de convívio ao ar livre, permitindo o máximo de contato

possível com a natureza.

Figura 51: Marcação dos platôs principais

Elaborado pela autora

O fato de o lote estar localizado entre três ruas,

permitiu que se separasse de maneira bem evidente os

acessos de serviço e social. Assim, a vaga de carga e

descarga, o acesso do carro do lixo, gás e de funcionários,

principalmente os responsáveis pelas áreas da cozinha e

refeitório, são realizados pela Rua Parnamirim.

Já a entrada principal e guarita estão localizadas entre

as Rua Trampolim da Vitória e a Rua Ismael Wanderley – foi

adotada essa localização, considerando a topografia. Como

a edificação está rebaixada em relação ao ponto mais alto

dessa via, e visando adotar uma entrada acessível – sem

precisar recorrer ao uso de rampas, esse se apresentou como

o ponto mais apropriado para implantar a guarita e acesso

de pedestres.

92

Figura 52: Implantação final

Elaborado pela autora

Adotando-se as recomendações do Plano Diretor para

cálculo de vagas, considerando a área construída do

empreendimento, foi necessário a locação de pelo menos 24

vagas, desconsiderando as vagas de embarque e

desembarque e carga e descarga. Optou-se, então, locar o

máximo de vagas na área externa, reservando ao interior as

vagas preferenciais, com o intuito de facilitar o acesso a

portadores de necessidades especiais e idoso. Para tanto, foi

criada uma via interna, de sentido único, com acesso de

entrada pela Rua Ismael Wanderley e saída pela Rua

Parnamirim. Para acesso a essas ruas foi necessária a adoção

de rampas.

A implantação final pode ser observada na Figura 52:

Implantação final, onde é possível identificar as três

edificações, o pátio interno, estacionamentos, acessos, área

reservada para prática de esportes e os espaços de

convivência.

5.2 As edificações

93

Adotou-se a ideia de um bloco principal que abrigasse

o máximo de ambientes previstos no programa de

necessidade. No entanto, foi necessária a criação de mais

dois blocos que pudessem abrigar determinadas atividades.

Assim, tem-se o bloco principal, com o alojamento, setor

administrativo, setor de apoio e alguns itens do setor de

reabilitação e convivência; um espaço denominado “Área

multiuso”; e o bloco de apoio.

Bloco principal

O bloco principal é uma edificação de dois

pavimentos, concentrando no térreo ambientes com acesso

ao público em geral, algumas áreas restritas aos funcionários

e áreas semi-restritas, de uso das internas e funcionários da

edificação.

O pavimento térreo pode ser dividido da seguinte

maneira:

Seção 01: nessa área estão concentradas a sala

administrativa e de reuniões, além da área de descanso para

funcionários e banheiros.

Figura 53: Seção 01

Fonte: elaborado pela autora

Seção 02: aqui se concentram as salas de atendimento

individual – tais espaços, previstos na RDC 29, são destinados

ao atendimento psicológico, psiquiátrico e de serviço social

94

às internas. Mesmo não presente na norma, previu-se um

local para atendimento de primeiros socorros e aplicação e

controle da medicação destinadas as internas. Separada da

recepção, nessa seção consta a circulação vertical, que dá

acesso aos dormitórios.

Figura 54: Seção 02

Fonte: elaborado pela autora

Seção 03: nesse espaço, tem-se a recepção e sala de

espera de visitantes, banheiros e a sala de acolhimento de

familiares e internos – trata-se de um espaço para recepção

de novos membros e acompanhamento com a família. Foi

criado, também, uma “área de beleza”, espaço destinado ao

cuidado com a estética dessas mulheres, com a intenção de

se trabalhar a autoestima e possivelmente desenvolver

algumas habilidades das internas nessa área.

Seção 04: essa seção da edificação é destinada ao

refeitório, cozinha e despensa, além de uma área para

funcionários. Tem-se também a circulação vertical de serviço

para acesso ao pavimento superior e uma área de serviço

para saída de lixo, de rouparia e materiais.

95

Figura 55: Seção 04

Fonte: elaborado pela autora

A cozinha é dividida em: área de cocção, de preparo

e de lavagem de utensílios. É importante que os fluxos sejam

bem definidos e, para tal, uma saída adicional foi inserida

visando a circulação do lixo. Criou-se, também, uma área

para recepção de alimentos e materiais, além da despensa e

de um ambiente destinado a guarda de utensílios.

Ainda na cozinha tem-se a câmara fria, destinada à

conservação da temperatura dos alimentos e, para tanto,

utilizou-se o revestimento de espuma rígida de poliuretano

com 2 cm de espessura, que garante o isolamento térmico

do ambiente (Tabela 1).

Tabela 1: Relação entre espessura e isolamento térmico da espuma

rígida

Fonte: http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM140/PROJETO_REFRIGERACAO/Material

%20de%20estudo/Projetocamaras.pdf

Como a cozinha precisa ter revestimentos liso,

impermeáveis e laváveis, a escolha foi pelo sistema de

96

revestimento sem junta, monolíticos, a base de resina reativa

de Metil Metacrilado, da Monolith MMA. Suas principais

características são: acabamento liso e antiderrapante, alta

durabilidade, ótima resistência a água, minimiza a

impregnação de sujeira e não mofa.

O refeitório foi pensado para receber até 20 pessoas

por vez, com uma pequena área destinada a descanso e um

lavatório.

A maior preocupação ao se projetar esse bloco deu-se

com a área destinada aos quartos das internas. Com a

necessidade de se favorecer a ventilação natural e garantia

de que todos os quartos pudessem oferecer uma vista

agradável, esse foi o fator que mais influenciou na posição

final dessa edificação. Dessa forma, todos os dormitórios

estão no primeiro pavimento, dotados de varandas com

dimensão mínima de 1,5 m, protegidos do sol por um beiral

de 1 m da cobertura.

No total são oito quartos duplos e três individuais,

sendo um desses suíte. Optou-se por incluir quartos

individuais por entender que as necessidades das internas

podem ser diferenciadas e que as etapas do tratamento

podem impactar de maneiras diferentes em cada uma dessas

mulheres. A suíte entrou com essa mesma proposta.

Figura 56: Layout 1 pavimento

Fonte: elaborado pela autora

Ainda que o foco seja a relação entre pares, por vezes

pode ser necessário respeitar a individualidade de cada uma.

97

Assim, o quarto duplo foi pensado de maneira a garantir que

cada usuária possa se identificar e se relacionar com seu

espaço, mesmo que dividido com outra pessoa.

Pensando na segurança dos indivíduos, além da

questão estética e de proteção, foi inserido nas varandas um

brise em madeira e alumínio, que pode ser travado no caso

de alguma paciente demandar um cuidado e atenção maior

em determinada fase do tratamento.

Figura 57: Brises instalados nas varandas

Fonte: elaborado pela autora

Os banheiros, foram calculados de acordo com NBR

29, que recomenda o número de 1 banheiro completo (vaso,

chuveiro e lavatório) para cada seis camas. Foram colocados

quatro banheiros e dois lavabos, divididos em três blocos ao

longo do corredor.

Foram inseridas também três áreas de convivência

nesse pavimento: uma sala de estudos, uma área externa de

descanso e uma sala de estar.

Área multiuso

Próxima à edificação principal, encontra-se uma área

coberta, destinada a atividades como: prática de ioga e

meditação, espaço ecumênico, realização de atividades

culturais – como apresentações de música e dança – e

organização de bazar e feirinhas, para comercialização dos

artesanatos confeccionados pelas internas durante as aulas

além de produtos provenientes da horta.

O espaço em questão apresenta um palco com 34 cm

de altura, que pode ser acessado por uma rampa ou por uma

escada. É dotado também de um depósito, destinado à

guarda de cadeiras e materiais de apoio a eventos.

98

Bloco de apoio

Esse espaço abriga os banheiros de apoio à quadra

poliesportiva e mais três salas, sendo um espaço para

crianças e duas salas multiuso. O espaço reservado às

crianças foi previsto para que as mulheres, mães de filhos

pequenos, possam receber essas crianças com maior

frequência e não percam contato com suas famílias durante

o tratamento – trata-se de um atrativo para não desestimular

mães de prosseguirem com o tratamento. Foi adicionado,

ainda, próximo a essa sala, um playground ao ar livre.

As duas salas multiuso são destinadas às terapias em

grupo, aulas de artesanato e aulas de dança. Próximo a esse

bloco, situa-se a quadra poliesportiva.

Horta comunitária e praças

A horta foi pensada com o objetivo de proporcionar

uma atividade para as usuárias, além de promover a

interação e o trabalho em grupo. O produto pode ser

utilizado no dia a dia do centro e ainda comercializado em

eventos para a comunidade do entorno.

Figura 58: Horta

Fonte: elaborado pela autora

Recomenda-se que hortas tragam um desenho bem

racional e, portanto, partindo dos desenhos bases que deram

forma a todas as edificações do projeto, foi pensada partindo

do quadrado e de triângulos.

5.3 Sistema construtivo

99

O sistema construtivo adotado foi de vigas e pilares

com laje maciça de concreto armado. As dimensões

recomendadas para esse tipo de laje, varia de acordo com o

uso. De acordo com a NBR 6118/2003, as espessuras

mínimas devem respeitar os limites de 5 c para lajes de

cobertura que não estejam em balanço e de 7 cm para lajes

de piso ou cobertura em balanço e de 10 cm para lajes que

suportem veículos (peso total menor ou igual a 30 kN).

Buscou-se um sistema não muito complicado e, por se

tratar de uma edificação de apenas dois pavimentos, onde

não havia a necessidade de se vencer grandes vãos, a

escolha foi relativamente simples. O fato de não haver uma

modulação e de as paredes não serem alinhadas nos dois

pavimentos gerou algumas dificuldades na locação dos

pilares. Mas buscou-se manter a distância entre pilares

menor que 6.00 m, mantendo as vigas com altura máxima

de 0,60 m.

Vedação

Para as paredes externas a opção foi de alvenaria

tradicional, com a utilização de blocos cerâmicos, sendo essa

a mesma opção adotada para os blocos de banheiros e áreas

molhadas em geral.

Visando a flexibilidade dos ambientes, propõe-se para

as divisões internas o uso de paredes em drywall, que

proporciona mais facilidade de mudança de layouts

posteriormente além de ser uma boa opção para o

isolamento acústico.

A parede Knauf W112, se apresenta como uma opção,

já que é indicada para divisão de ambientes autônomos ou

unidades de áreas comuns. Pode isolar até 56 dB e resistir ao

fogo por até 120 minutos.

100

Figura 59: Sistema de drywall (Knauf W 112)

Fonte: http://www.knauf.com.br/sistema/parede-de-drywall-

w111

Cobertura

Para a cobertura dos três blocos, foi selecionada a

telha térmica da Dânica TermoRoof aço/aço,(Figura 60), pode

proporcionar até 70% de economia em estrutura, sendo

resistente a choques, pequenos impactos e efeitos climáticos.

Figura 60: Detalhes de especificações da TermoRoof aço/aço

Fonte:

http://www.danicacorporation.com/sfDanica2/web/uploads/catalogo/d

8d24d55891d26d037a31d2d091fe37e.pdf

Outras vantagens oferecidas por essa telha são o fato

de dispensar o uso de forro (Figura 61), permite a instalação

com baixa inclinação e o aço utilizado no revestimento é

101

resistente a corrosão, resistindo assim aos efeitos do clima, o

que garante uma ampliação da vida útil.

Figura 61: Exemplo de acabamento interno da Telha Danica

Fonte:

http://www.danicacorporation.com/sfDanica2/web/uploads/catalogo/d

8d24d55891d26d037a31d2d091fe37e.pdf

Esquadrias, brises e cobogós

As esquadrias utilizadas no projeto foram em madeira,

quando internas, e alumínio e vidro, para facilitar e garantir

a permeabilidade visual. O mesmo material foi utilizado nos

guarda-corpos das varandas. Já os brises utilizados nas

fachadas tem como material alumínio pintado e peças em

madeira.

Foram escolhidos dois tipos de cobogós para compor

a edificação. O primeiro modelo cobogó foi locado nos

quartos para garantir a ventilação cruzada, mas atento ao

cuidado da incidência direta dos raios solares.

Figura 62: Esquema de ventilação cruzada nos dormitórios

Fonte: elaborado pela autora

102

O segundo tipo de cobogó foi utilizado na área

multiuso, visando garantir um espaço aberto e arejado.

Figura 63: Cobogó utilizado na área multiuso

Fonte: http://scontent.cdninstagram.com/

5.4 Acessibilidade

Baseado na ideia de espaços humanizados, priorizou-

se a questão da acessibilidade em todos os ambientes do

projeto. Dessa maneira, os dormitórios apresentam

dimensões mínimas que possibilitam a circulação de cadeiras

de rodas.

Todos os banheiros são acessíveis, tanto de

funcionários, quanto os das internas e os de uso para o

público em geral, seguindo as recomendações da NBR

9050/2015, como pode ser observado nas imagens a seguir:

Figura 64: Área de banho: vista superior, lateral e frontal

Fonte: NBR 9050/2015 (p. 108)

103

Figura 65: Altura da bacia sanitária e barras de acessibilidade

Fonte: NBR 9050/2015 (p. 91 e p. 92)

As escadas, em rotas acessíveis, devem ter largura

mínima 1,20 m, dotadas de corrimão, como exposto na

Figura 66:

Figura 66 - Configuração de corrimãos em rampas e escadas

Fonte: NBR 9050/2015 (p. 63)

Para facilitar o fluxo foram colocados, ainda, dois

elevadores, um na parte de acesso de serviço e outro para

acesso do público em geral.

5.4 Reservatório

104

Por se tratar de um projeto que acumula várias

funções, o cálculo da caixa d’água foi realizado de modo a

atender a necessidade de cada um desses setores.

Considerou-se o Centro como edificação semelhante a asilo

ou internato – nesses casos, a recomendação é de 150 litros

de água por pessoa e por dia.

Outra função atribuída foi a de escritório e, diante

disso, pede-se que se contabilize 1 pessoa a cada 6 m², de

acordo com a NBR 5626, e que a quantidade de água

indicada seja de 50 litros por pessoa.

Para a área de cozinha e refeitório, deve-se atender a

recomendação de 25 litros de água, por refeição,

considerando duas refeições por dia. Aqui, o cálculo foi feito

com base nas 19 internas e uma margem de 10 funcionários

por turno.

Por ter áreas de atendimento de saúde, considerou-se

uma parte como ambulatório – nesse caso, o cálculo é

baseado na área (1 pessoa/m²) e de 25 litros por pessoa.

Deve-se considerar também a área de jardim nos cálculos

(1,5l/m²).

A reserva técnica de combate a incêndio é calculado

de acordo com o Código de Segurança e Prevenção contra

Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte.

Considerando a vazão (baseada na ocupação e risco do

projeto, que nesse caso é risco A e varão de 120), o tempo

que o hidrante será utilizado (considerando áreas com no

máximo 20.000 m², é de 30 minutos) e o número total de

hidrantes (edificações de risco A e B considera o uso de dois

hidrantes), totalizando 7.200 l de água.

O valor total considerado para essa edificação é de 20

mil litros de água, divididos em dois reservatórios superiores,

de 5.000 l, cada e um reservatório inferior de 10.000l.

105

6. Perspectivas

Figura 67: Pátio

Fonte: elaborado pela autora

Figura 68: Vista do pátio e bloco de apoio

Fonte: elaborado pela autora

106

Figura 69: Fachada frontal

Fonte: elaborado pela autora

Figura 70: Vistas do pátio

Fonte: elaborado pela autora

107

7. Considerações finais

O desenvolvimento dessa proposta seguiu caminhos

diferentes do que costuma-se seguir ao longo do curso –

cada etapa foi planejada e pensada de forma a embasar as

escolhas projetuais. A intenção foi mostrar a importância de

se planejar e documentar cada fase alcançada, explicando

os motivos que levaram a se manter ou descartar

determinadas ideias.

Outro ponto relevante foi a reflexão feita acerca da

importância da humanização nos ambientes de cura, assim

como a questão de garantir um ambiente acessível para

todos.

Foi relevante toda a pesquisa realizada sobre o

problema das drogas e ver que, também nesse campo, o

cuidado com o público feminino não recebe a mesma

atenção que o público masculino, ainda que existam

números e fatos que demonstrem essa necessidade.

Com isso em mente, apesar de poucas ou nenhuma

referência direta – além de contar com a limitação de clareza

nas normas existentes para esse tipo de instituição –, a

proposta buscou criar um ambiente de acolhimento, pensado

para a mulher, com elementos que facilitem o tratamento e

diminua o número de evasão, visto que algumas dificuldades

relatadas à sua continuidade foram sanadas pela proposta.

Por fim, esse trabalho buscou demonstrar como a

arquitetura pode ser uma ferramenta de transformação,

assim como despertar a conscientização sobre esse problema

e, em especial, sobre as necessidades desse público-alvo.

108

8. Referências

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Resolução RDC 101. Brasília, 30 de maio de 2001.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à

Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.

Saúde mental no SUS: os centros de atenção

psicossocial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à

Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.

Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 86 p.

______. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva.

Coordenação Nacional de DST/Aids. A Política do

Ministério da Saúde para atenção integral a usuários

de álcool e outras drogas / Ministério da Saúde,

Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids.

– Brasília: Ministério da Saúde, 2003.

______. Presidência da República. Secretaria Nacional de

Políticas sobre Drogas. Relatório brasileiro sobre drogas

/ Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; IME USP;

organizadores Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte,

Vladimir de Andrade Stempliuk e Lúcia Pereira Barroso. –

Brasília: SENAD, 2009. 364 p.

ALMEIDA, Maristela Moraes de. Análise das interações entre

homem e o ambiente – estudo de caso em agência

bancária. Florianópolis, 1995. 126f. Dissertação (Mestrado

em Engenharia de Produção) – Centro Tecnológico.

Universidade Federal de Santa Catarina.

Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 9050:

2015. Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências

a edificação, espaço mobiliário e equipamentos urbanos /

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de janeiro:

ABNT, 2015.

ARAÚJO, Felipe. Drogadição. Disponível em:

<http://www.infoescola.com/saude/drogadicao/> Acesso

em: 11 de outubro de 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.

Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e

equipamentos urbanos. NBR 9050. Rio de Janeiro: ABNT,

2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.

Desempenho térmico de edificações Parte 3:

Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes

construtivas para habitações unifamiliares de

109

interesse social. NBR 15220. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

23 p.

BARROS, R.R.M.P. et al. Conforto e psicologia ambiental:

a questão do espaço pessoal no projeto arquitetônico.

In: ENCAC – ELACAC 2005, Maceió, Alagoas, 5 a 7 de

outubro, 2005, p.135 – 144

BELTRAMIN, Renata Maria Geraldini. Caracterização e

sistematização de quatro modelos de análise gráfica:

Clark, Pause, Ching, Baker e UNwin. Dissertação de

mestrado. Faculdade de engenharia civil, arquitetura e

urbanismo da Unicamp. Campinas, 2005

CARLINI, Elisaldo A. et al. I Levantamento domiciliar

sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil – 2001.

São Paulo: Cebrid, 2002

Collet N, Rozendo CA. Humanização e trabalho na

enfermagem. Rev Bras Enfermagem 2003; 56(2):189-

92.

CORBELLA, Oscar. Em busca de arquitetura sustentável

para os trópicos – conforto ambiental. Rio de Janeiro:

Revan, 2003.

DIEHL, Alessandra. Et al. Dependência química:

prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto

Alegre: Artmed, 2011. Cap 34 – Cynthia de Carvalho Wole

e Monica L. Ziberman

DUARTE, R. B.; GONÇALVES, A. A. F. Psicologia e

Arquitetura: uma integração acadêmica pela

construção perceptiva do ambiente. In: Simpósio

nacional sobre geografia, percepção e cognição do meio

ambiente, 2005, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2005. p.

1-5.

Elisabete Cardoso Simão HoreviczIvanóe De Cunto. A

humanização em interiores de ambientes

hospitalares. Revista Terra e Cultura: N. 45 – ANO 23,

Londrina: UniFil, 2006.)

Evans, G. (2005). The importance of the physical

environment. Psicologia USP, 16(1/2), 47-52.

FORTES, Paulo Antonio de Carvalho. Ética, direitos dos

usuários e políticas de humanização da atenção à

saúde, Saúde e Sociedade. Vol.13, n.3, p.30-35, set-dez

2004

110

GRESSLER, Sandra Christina and GUNTHER, Isolda de

Araújo. Ambientes restauradores: definição, histórico,

abordagens e pesquisas. Estud. psicol. (Natal) [online].

2013, vol.18, n.3, pp. 487-495. ISSN 1413-294X.

http://www.scielo.br/pdf/epsic/v18n3/09.pdf. 28. Jul.2015

KOWATOLWSKI, Doris Ctharine C. K. et al. Reflexão sobre

metodologias de projeto arquitetônico. Ambiente

construído, Porto Alegre, v.6, n. 2, p. 07-19. Junho 2006.

LETTIERI, Ana Paula Pereira de Campos. Criança Eu

Preciso de Você: Proposta de uma instituição de

acolhimento intergeracional no município de Campos

dos Goytacazes.

Monografia (Arquitetura e Urbanismo). Instituto Federal

Fluminense – IFF-Campos, 2013.

LIAO, Jennifer Wen Lin. O espaço e o comportamento do

usuário. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

http://www.fau.usp.br/disciplinas/tfg/tfg_online/tr/121/a04

0.html.

MEZZOMO, Augusto A. Humanização Hospitalar.

Fortaleza: Realce

Editora, 2002

MORAES, Maristela. O modelo de atenção integral à

saúde para tratamento de problemas decorrentes do

uso de álcool e outras drogas: percepções de usuários,

acompanhantes e profissionais. Ciênc. saúde

coletiva vol.13 no.1 Rio de Janeiro Jan./Feb. 2008.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14

13-81232008000100017

OLIVEIRA, Beatriz Rosana Gonçalves de; COLLET, Beatriz

Rosana Gonçalves de; VIERA, Cláudia Silveira. A

humanização na assistência à saúde. Rev. Latino-Am.

Enfermagem v.14 n.2 Ribeirão Preto mar./abr. 2006,

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01

04-11692006000200019&lng=pt&nrm=iso&tlng=en

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Neurociências:

consumo e dependência de substâncias psicoativas.

Resumo. Genebra. 2004. 40 p.

ORNSTEIN, S. W.; BRUNA, G. C.; ROMÉRO, M. A.

Ambiente Construído & Comportamento: A Avaliação

Pós-Ocupação e a Qualidade Ambiental. São Paulo: Studio

Nobel, FAU-USP, FUPAM, 1995. p.22-74

ORNSTEIN, S. W.; BRUNA, G. C.; ROMÉRO, M. A.

Ambiente Construído & Comportamento: A Avaliação

111

Pós-Ocupação e a Qualidade Ambiental. São Paulo:

Studio Nobel, FAU-USP, FUPAM, 1995. p.22-74

REVISTA AMANHÃ: Contato com a natureza faz bem à

saúde. Rio de Janeiro: O Globo, 14 ago. 2013. Disponível

em:

<http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/revistaamanh

a/contato-com-natureza-faz-bem-saude-9504241>. Acesso

em: 04 de março de 2017

RHEINGANTZ P.et al. Observando a qualidade do

Lugar: procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação. Rio

de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Pós-Graduação em

Arquitetura, 2009.

SANTOS, RMS. Prevenção de droga na escola: uma

abordagem psicodramática. São Paulo: Papirus; 1997.

SCHERLOWSKI, Helena Maria; DAVID, Leal & CAUFIELD,

Catherine. Mudando o foco: um estudo exploratório sobre

uso de drogas e violência no trabalho entre mulheres das

classes populares da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Rev.

Latino-am Enfermagem. 2005.

SOUZA, Renato Cesar Ferreira de. A rua e sua

habitabilidade: moradores e espaço urbano em

situação de conflito. Dissertação (Mestrado) -

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo

Horizonte, 1998.

SPRICIGO JS, Alencastre MB. O enfermeiro de unidade

básica de saúde e o usuário de drogas: um estudo em

Biguaçú-SC. Rev. Latino-am Enfermagem. 2004.

TASSARA, E. T. O.; RABINOVICH, E. P.; GUEDES, M. C.

(Eds.). Psicologia e Ambiente. São Paulo, SP: EDUC,

2004. p. 89-106, 305-345.

UNITED NATIONS. World Drug Report. New York. 2015.

162 p.

VASCONCELOS, Renata Thaís Bomm. Humanização de

ambientes hospitalares: características arquitetônicas

responsáveis pela integração interior/exterior. 2004. 176 f.

Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo,

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,

2004. Cap. 6.