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UNIVERSIDADE DE BRASILIA PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA 2 O SEMESTRE DE 2004 PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, CALDAS NOVAS, GO

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UNIVERSIDADE DE BRASILIA PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA 2O SEMESTRE DE 2004

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, CALDAS NOVAS, GO

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Aos leitores Informações sobre o Parque Estadual Serra de Caldas O Parque foi criado em 1970 com uma área de 125 km². Compreende não só o topo da serra mas também suas fraldas e encostas, ficando toda a sua área considerada de preservação permanente e proibida sua alienação ou exploração no todo ou em parte. Hoje o Parque é administrado pela Agência Ambiental do Estado de Goiás. A Serra de Caldas tem as cidades de Caldas Novas a NE e a de Rio Quente a NW e os limites do Parque são: NE 17º 43’ 56’’ S – 48º 40’ 23,7’’ W NW 17º 43’ 56’’ S – 48º 44’ 25’’ W SW 17º 50’ 55,75’’ S – 48º 42’ 57,6’’ W SE 17º 50’ 55,7’’ S – 48º 40’ 0’’ W A Serra de Caldas constitui uma elevação com cume aplainado, formando uma chapada em forma elipsoidal, com eixos de 15 e 9 km, situada a 1.043 m de altitude. Constitui uma das mais importantes recargas dos aqüíferos termais da região de C. Novas e R. Quente, os quais são as maiores atrações turísticas da região.

Helena Castanheira de Morais Jader Soares Marinho Filho

Coordenadores

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Métodos em Ecologia de Campo Parque Estadual da Serra de Caldas Novas

xx/10/04 a xx/10/04

Participantes Professores Jader Soares Marinho Filho

Helena Castanheira de Morais Ivone Rezende Diniz Carlos Eduardo Pinheiro Regina Helena Ferraz Macedo Raimundo Paulo B. Henriques Alessandra Kozovits Jair Max Fortunato Maia Jorge Tamashiro* Marcelo Ximenes Bizeril* Divino Brandão*

Universidade de Brasilia, ZOO Universidade de Brasilia, ECL Universidade de Brasília, ZOO Universidade de Brasilia, ZOO Universidade de Brasilia, ZOO Universidade de Brasília, ECL Universidade de Brasília Universidade de Brasilia UNICAMP CEUB UGO

Monitores Alexandre S. Avelino Universidade de Brasilia Alunos(as) Ana Karina Salcedo Moreyra

Fabiola Ferreira de Oliveria Isabel C. S. Figueiredo Kena Ferrari da Silva Mariana Inês Sarraceno Mauricio B. Sampaio Mônica Aragona Natalia M. Torres Rodrigo Stolze Pacheco Benedito A. S. Pereira Isis Meri Medri Ana Claudia Delciellos Dirce Cristiane Camilotti Silva Leitão Dutra Sirlene S. Felisberto

Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UnB Doutorado em Ecologia – UnB Doutorado em Ecologia – UnB Mestrado em Ecologia – UFRJ Mestrado em Ecologia – UEM Mestrado em Ecologia Mestrado em Ecologia

* Convidado(a)

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Relação dos projetos em grupo Grupo Orientador Título resumido do projeto Página

1 Carlos Eduardo Pinheiro Regina Macedo Alexandre Avelino Jader Soares Marinho Filho Alessandro Kozvitz Jair Max

Características populacionais em um “bolsão de borboletas Área e estrutura foliar de Siparuna guianensis Aubl.: Relação entre a biomassa e produção de infrutescencias Morcegos e sua relação com plantas quiropterfilas. Emissão de gás carbônico do solo em diferentes ambientes Herbivoria foliar e produção de sementes em Davilla elliptica

1 7 10 14 17 22

2 Regina Macedo Marcelo X. Bizierril Raimundo Paulo Barros Henriques Ivone Rezende Diniz Jair Max Fortunato Helena C. Morais

Efeito do ambiente nas estratégias de defesa de larvas Antes só do que muito acompanhado: efeitos do ambiente Influência da largura de nicho na riqueza de espécies Atividade e composição de espécies de formigas (Formicidae)Influência da cobertura arbórea na composição da biomassa O número de nectários extraflorais em barbatimão

25 28 31 35 39 44

3 Helena C. Morais Divino Brandão Jair Max Fortunato Alessandra Kozovits Marcelo X. Bizerril Jader S. Marinho Filho

Sementes abortadas e danificadas e sua posição no fruto Influência dos cupinzeiros de Cornitermes cumulans A variação de parâmetros físicos em diferentes habitats Condutância estomática em plantas com diferentes síndromes Estudo de uma população de Dimorphandra mollis Dieta do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no PESCAN

48 51 55 62 67 70

4 Divino Brandão Carlos Eduardo Pinheiro Ivone Rezende Diniz Raimundo Paulo Barros Henriques

Preferência de plantas hospedeiras pelo térmita Comparação de velocidade de vôo entre espécies Alocação de recursos para defesa de ninho Influência da taxa de predação e umidade relativa do ar

74 77 81 87

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Relação dos projetos de 1 dia Grupo Título Resumido do projeto Página Ana Karina & Isis Ana Cláudio Delciellos Benedito & Mauricio Fabiola & Kena Mariana & Silvia Mônica & Natalia Rodrigo & Isabel

Larvas de formigas-leão: o tempo de reação para a captura da presa sofre influencia pelo seu tamanho e pelas características do funil? Seleção de microhabitat por uma comunidade de peixes de um poço no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO Ataque de insetos brocadores, uma possível causa de morte de indivíduos de carvoeiro (Sclerolobium paniculatum Vogel, Leguminosae) no Cerrado? Riqueza e diversidade de espécies arbóreas em um cerrado rupestre na encosta no PESCAN. Funcionalidade da Arquitetura da Teia e Comportamento da “aranha da cerquinha” PESCAN-GO Arquitetura de Teias de Aranha na Mata da Cascatinha no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO A influência do fogo na população de Constrictotermes cyphergaster no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas-Go.

90 94 98 102 105 109 112

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Relação dos projetos individuais finais Aluno Título do Projeto Página Ana Claudia Delciellos Benedito A. S. Pereira Dirce Cristiane Camilotti Fabiola Ferreira Oliveira Isabel C; S. Figueiredo Isis Meri Medri Ana Karina S. Moreyra Kena Ferrari M. da Silva Mariana I. Saraceno Maurico B. Sampaio Mônica Aragão Natalia M. Torres Rodrigo S. Pacheco Silvia L. Dutra Sirlene A. Felisberto ANEXOS I e II

Riqueza e diversidade de formigas em cerrado sentido restrito e mata ciliar do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO Utilização de características da casca na identificação de espécies arbóreas de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás Riqueza e diversidade florísitca em um cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Efeito da presença de formigas na composição de insetos em inflorescências de Curatella americana L Visita auto-guiada à Trilha da Cascatinha: uma nova proposta para interpretação ambiental no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas Predação de ninhos artificiais em cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, PESCAN – GO Comunidade de macroinvertebrados bentônicos em diferentes substratos durante o período de seca no córrego Cascatinha (PESCAN-GO). Altura de ninhos arbóreos de Constrictotermes cyphergaster (Isoptera) como estratégia de defesa a ataque por vertebrados em uma área de cerrado sensu stricto no PESCAN- GO. Pilosidade e dureza foliar: são defesas contra herbivoria? Estrutura populacional e distribuição espacial de Qualea grandiflora e Qualea parviflora em um cerrado sentido restrito no PESCAN Uso Diferenciado de Habitat pela Comunidade de Pequenos Mamíferos não Voadores na Trilha da Cascatinha, PESCAN/GO Levantamento de Mamíferos do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO através de Armadilhas Fotográficas Síndromes de dispersão de diásporos em espécies arbóreas no Cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO A diversidade da comunidade bentônica responde á variação do tamanho de poças?Algas perifíticas e planctônicas de ambientes aquáticos com diferentes graus de temperatura da região de Caldas Novas, Goiás, Brasil CHAVE DICOTÔMICO E LISTA DE ESPÉCIES ARBÓREAS NO PESCAN

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121

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141 147

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167 171

177 183

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CARACTERÍSTICAS POPULACIONAIS EM UM “BOLSÃO” DE

BORBOLETAS ITHOMIINAE NO PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS, GOIÁS.

Ísis Meri Medri, Ana Karina Salcedo Moreyra, Dirce Cristiane Camilotti e Rodrigo Stolze

Pacheco

Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Guimarães Pinheiro INTRODUÇÃO A subfamília Ithomiinae (Nymphalidae) é um grupo neotropical, que geralmente ocorre em florestas com algumas exceções (DeVries, 1987). A identificação sexual neste grupo é facilitada pela presença de pelos longos nas áreas costais da asa posterior, denominados de pelos androconiais. Este grupo está entre as poucas borboletas conhecidas que formam agrupamentos, conhecidos como “bolsões”, que ocorrem especialmente ao longo de rios. O “bolsão” é um agrupamento de muitas espécies da subfamília Ithomiinae em áreas pequenas onde a umidade permanece maior durante o inverno seco, ou onde os recursos estão concentrados, eventualmente produzidos por altas concentrações de feromônios emitidos pelos machos (Brown-Jr., 1992). Outra explicação para este fenômeno pode ser a defesa em relação aos predadores já que a maioria das espécies que realizam este fenômeno são

impalatáveis e miméticas e assim poderiam aumentar o “aprendizado” do possível predador quanto a não utilização deste recurso alimentar. Em vista da ocorrência de “bolsão” no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, os objetivos deste trabalho foram: 1) identificar as espécies existentes no “bolsão”, 2) analisar a razão sexual destas espécies, 3) verificar a estrutura etária das populações coletadas, 4) estimar os tamanhos populacionais, 5) observar ausência ou presença de marcas provocadas por bicadas de aves nas asas das borboletas amostradas e 6) relacionar a temperatura e a umidade dentro e fora do “bolsão” com o número de indivíduos coletados. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado na “Trilha da Cascatinha” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – G

O. A Cascatinha é uma cachoeira de um dos principais córregos do Parque. A área do Parque é de 125 km2, e é constituída de serra e chapada, situada a 1.043 m de altitude. A região apresenta duas estações bem marcadas, uma de seca no inverno, de maio a setembro, e outra chuvosa no verão, de outubro a fevereiro. A amostragem de borboletas foi realizada no dia 5 de agosto de 2004, de 08:00 a 11:00 h e entre 13:00 e 15:00 h. Para a captura das borboletas da subfamília Ithomiinae foram utilizados puçás e as mesmas foram contidas em um saco de filó para posterior manuseio. Cada indivíduo teve sua asa identificada por um número

exclusivo, por meio de uma caneta para retroprojetor. Foi determinado o sexo de cada indivíduo, estimada sua faixa etária como novo, intermediário ou velho, levando-se em consideração a perda de escamas nas asas e a coloração, e também foi estimado o comprimento da asa anterior. Após obtidos os dados de marcação-recaptura, os tamanhos populacionais foram estimados através do seguinte Índice de Lincoln – Bailey:

N = N1 (N2 + 1) R + 1

onde:

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N1 = número de animais capturados na amostra 1 (durante a manhã) N2 = número de animais capturados na amostra 2 (durante a tarde) R = recapturados (somente durante o período da tarde) A umidade relativa do ar foi medida através de um psicrômetro, em três áreas diferentes: uma dentro do “bolsão” e duas fora dele, em clareira de mata e em área de cerrado, ambas nas proximidades da Cascatinha. A temperatura ambiente foi medida nos mesmos locais citados anteriormente, com o uso de um termômetro Incoterm. RESULTADOS Foram amostrados 234 indivíduos pertencentes a 8 espécies (Tabela 1). A mais abundante foi Mechanitis polymnia com 176 exemplares, seguida por Dircenna dero com 37 indivíduos. A razão sexual de Mechanitis polymnia foi de 1:1 (n = 176; χ2 = 0,09; P > 0,05). A população de Mechanitis polymnia apresentou maior porcentagem de indivíduos na faixa etária intermediária, com 109 indivíduos (Figura 1). A população de Dircenna dero apresentou 19 indivíduos intermediários e 14 novos (Figura 2). A soma das estimativas dos tamanhos populacionais das borboletas presentes no “bolsão” resultou em 1.519 (Tabela 2). Os indivíduos mais velhos de Mechanitis polymnia foram os que mais apresentaram marcas de bicadas de aves nas asas (Figura 3), já em Dircenna dero observamos mais marcas de bicadas nas asas dos indivíduos novos e intermediários (Figura 4). Em geral, a temperatura registrada foi menor dentro do “bolsão” do que fora (Figura 5) e a umidade foi maior dentro do “bolsão” do que fora (Figura 6). DISCUSSÃO

O “bolsão” apresentou uma considerável diversidade de espécies de borboletas da subfamília Ithomiinae. Na espécie mais abundante, Mechanitis polymnia, a razão sexual de 1:1 encontrada foi como o esperado. Houve maior número de indivíduos novos ou intermediários e um grande número estimado para o total de borboletas da subfamília Ithomiinae encontradas no “bolsão”. As marcas de bicadas de aves nas asas das borboletas da espécie Mechanitis polymnia foram mais freqüentes nos indivíduos mais velhos, conforme o esperado pois um indivíduo com maior tempo de vida provavelmente teve maior probabilidade de encontros com predadores. Entretanto, em Dircenna dero as marcas nas asas foram mais freqüentes nos indivíduos novos e intermediários. Isto explica-se pelo fato de termos amostrado poucos indivíduos velhos para esta espécie. Nenhuma atividade de cópula foi observada durante a realização deste trabalho portanto, o registro de maior umidade dentro do “bolsão” do que fora pode estar corroborando a hipótese de que o agrupamento das borboletas no “bolsão” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas deve-se, possivelmente, à maior concentração de umidade neste local durante o inverno seco e/ou à associação desta hipótese com outros fatores como o agrupamento para encontro de parceiros reprodutivos e ou para a defesa contra predadores. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Carlos E. G. Pinheiro que nos proporcionou um agradável trabalho na companhia das graciosas borboletas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brown-Jr. K. S. 1992. Borboletas da Serra

do Japi: diversidade, hábitats, recursos

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alimentares e variação temporal. In: L. Patrícia & C. Morellato (org.). História Natural da Serra do Japi – Ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste do Brasil. Editora da UNICAMP – FAPESP, Campinas.

DeVries, P. J. 1987. The butterflies of

Costa Rica and their Natural History. Papilionidae, Pieridae, Nymphalidae. Princeton University Press, New Jersey.

Tabela 1 – Espécies da subfamília Ithomiinae coletadas e marcadas em “bolsão” na Trilha da Cascatinha do Parque Estadual Serra de Caldas – GO, no dia 5 de agosto de 2004. Espécies Macho Fêmea Total

Mechanitis polymnia 90 86 176 Mechanitis lysimnia 1 __ 1 Tithorea harmonia pseudethra 2 2 4 Aeria olena 3 5 8 Dircenna dero 15 22 37 Hypoleria goiana 4 2 6 Ithomiinae (sp. 1 - grande) __ 1 1 Ithomiinae (sp. 2 - pequena) __ 1 1 TOTAL __ __ 234 Tabela 2 – Estimativa do total de indivíduos de Ithomiinae no “bolsão” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, calculada através do método de Lincoln – Bailey. Amostras obtidas no dia 5 de agosto de 2004. Espécies Total Mechanitis polymnia 1.139 Dircenna dero 360 Mechanitis lysimnia 1 Tithorea harmonia pseudethra 4 Aeria olena 7 Hypoleria goiana 6 Ithomiinae (sp. 1 - grande) 1 Ithomiinae (sp. 2 - pequena) 1 TOTAL 1.519

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0%20%40%60%80%

100%

macho fêmea

% a

cum

ulad

a

VIN

Figura 1 – Porcentagem acumulada da estrutura etária estimada para Mechanitis polymnia no “bolsão” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 5 de agosto de 2004. Legenda: N = novo; I = intermediário e V = velho.

0%20%40%60%80%

100%

macho fêmea

% a

cum

ulad

a

VIN

Figura 2 – Porcentagem acumulada da estrutura etária estimada para Dircenna dero no “bolsão” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 5 de agosto de 2004. Legenda: N = novo; I = intermediário e V = velho.

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N I V

% a

cum

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a

c/ marcas/ marca

Figura 3 – Porcentagem acumulada de marcas de bicadas de aves nas asas das borboletas Mechanitis polymnia, no “bolsão” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 5 de agosto de 2004. Legenda: N = novo; I = intermediário e V = velho. Figura 4 – Porcentagem acumulada de marcas de bicadas de aves nas asas da borboleta

Dircenna dero, no “bolsão” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 5 de agosto de 2004. Legenda: N = novo; I = intermediário e V = velho.

0%

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N I V

% a

cum

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a

c/ marcas/ marca

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1015202530

08:20 09:20 10:20 11:20 13:08 14:08 15:08

Hora

Tem

pera

tura

(ºC

)

BolsãoClareiraCerrado

Figura 5 – Temperatura ambiente registrada dentro do “bolsão” e fora dele, em área de clareira e de Cerrado, nas proximidades da Cascatinha, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, em diferentes horários do dia 5 de agosto de 2004.

0

20

40

60

80

100

08:20 09:20 10:20 11:20 13:08 14:08 15:08Hora

Um

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lativ

a do

ar (

%)

BolsãoClareiraCerrado

Figura 6 – Umidade relativa do ar dentro do “bolsão” e fora dele, em área de clareira e de Cerrado, nas proximidades da Cascatinha, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, em diferentes horários do dia 5 de agosto de 2004.

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ÁREA E ESTRUTURA FOLIAR DE Siparuna guianensis Aubl.:

ESTRATÉGIA INDIVIDUAL E POPULACIONAL PARA OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS?

Dirce Cristiane Camilotti, Ana Karina Salcedo Moreyra, Rodrigo Stolze Pacheco e Ísis Meri

Medri

Orientação: Profª. Regina Macedo INTRODUÇÃO As plantas, em geral, exibem adaptações que otimizam a captação de luz e/ou água, ou características que facilitem o escoamento do excesso de água. Possivelmente, os indivíduos têm a flexibilidade de desenvolvimento de folhas com diferentes características dependendo das condições micro-ambientais (Krebs, 1994). Especula-se, por exemplo, que uma estrutura denominada “goteira”, tenha a função de escoamento da água da chuva da superfície adaxial da folha. Siparuna guianensis Aubl. (Monimiaceae) ocorre geralmente em matas de galeria, campo sujo e veredas (Mendonça et al., 1998). É conhecida popularmente como “negramina”. Apresenta folhas simples com filotaxia oposta dística e “goteira” visível. Geralmente nas florestas, encontra-se nas muitas espécies, folhas maiores no estrato inferior onde a incidência de luz é menor e deste modo uma maior área foliar estaria otimizando a absorção de luz. Já no estrato superior onde a incidência de luz é alta geralmente há o predomínio de folhas com área menor. Em vista disso o objetivo deste trabalho foi de verificar se este padrão também é observado para as folhas de um mesmo indivíduo. Desta forma, a hipóteses nulas deste trabalho foram que 1) não ocorre diferença entre a área foliar no mesmo indivíduo de Siparuna guianensis e na população para o estrato superior e estrato inferior da floresta, e 2) não ocorre diferença entre o índice de importância da “goteira” entre o estrato superior e inferior da floresta para o indivíduo e a nível populacional de Siparuna guianensis.

MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado na “Trilha da Cascatinha” do Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, com área de 125 km2 e altitude de 1.043 m. A Cascatinha é uma cachoeira de um dos principais córregos do Parque. A região apresenta duas estações bem marcadas, uma de seca no inverno, de maio a setembro, e outra chuvosa no verão, de outubro a fevereiro. Foram amostrados 30 indivíduos de Siparuna guianensis ao longo da “Trilha da Cascatinha” e nos seus arredores. De cada indivíduo com no mínimo 2,5 m de altura foram coletadas 5 folhas do galho mais baixo (estrato inferior) e 5 folhas do galho mais alto (estrato superior), totalizando 300 folhas, sendo que todas as folhas coletadas foram retiradas da porção basal ou intermediária do ramo para evitar a amostragem de folhas ainda na fase de crescimento, ocorrente na porção apical do ramo. O conjunto de folhas de cada estrato foi acondicionado em saco de papel devidamente identificado e transportado para o laboratório. Foi registrado o comprimento e a largura de cada folha para o cálculo da área foliar. A área foliar foi calculada pela seguinte fórmula: Área foliar = 2/3(comprimento da folha) x largura da folha Também foi medido o comprimento da “goteira”. Para isto adotamos a seguinte metodologia: a partir do ponto onde a largura da parte apical da folha fosse de 0,7

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cm, então media-se o comprimento do ponto desta largura até o ápice da folha. A relação da “goteira” com o comprimento da folha foi designada como um índice de importância da “goteira”, calculado através da seguinte fórmula: índice de importância da “goteira” =

comprimento da “goteira”comprimento da folha

Para verificar se existe diferença significativa entre a área foliar amostrada em ambos os estratos (superior e inferior), e na relação do comprimento da “goteira” com o comprimento da folha também nos dois estratos, foi utilizado o Teste t, tanto à nível do individual quanto populacional. RESULTADOS A nível individual, a área foliar no estrato superior foi significativamente maior em 14 indivíduos o que representa 47% da amostra. Em 15 indivíduos (50 %) não houve diferença significativa entre as áreas foliares do estrato superior e inferior e somente um indivíduo (3%) apresentou área foliar maior no estrato inferior (Gráfico 1). A nível populacional, houve diferença significativa entre a área foliar no estrato superior e inferior (t = 7,58; P = 0,000), (Tabela 1). Com relação ao índice de importância da “goteira”, apenas três indivíduos (10%) demonstraram diferença significativa, porém não uniforme, ou seja, dois pertencentes ao estrato inferior e um ao estrato superior (Tabela 2). DISCUSSÃO Segundo a literatura, as diversas espécies do estrato inferior de uma floresta, geralmente, apresentam folhas maiores para otimizar a absorção da luz enquanto as

folhas de espécies do estrato superior geralmente são menores. Entretanto, neste estudo a nível de uma espécie, Siparuna guianensis, as folhas do estrato superior foram maiores do que as do estrato inferior, apresentando diferença significativa pelo Teste t. Este fato pode estar associado ao maior investimento na estrutura foliar para a captação de luz no estrato superior, onde este recurso é mais abundante. Não houve diferença significativa entre o índice de importância da “goteira” para os diferentes estratos da mata. Provavelmente estas “goteiras” não apresentam alta funcionalidade neste tipo de ambiente pelo fato deste não apresentar alta freqüência de chuvas, e quando estas ocorrem a evaporação é rápida e não ocorre acúmulo de água nestes tipos de folhas. Na morfologia do ápice da folha de Siparuna guianensis a “goteira” encontrada possivelmente não tem a função de escoamento da água da chuva, tal como esta função é descrito na literatura para outras espécies com esta estrutura foliar. AGRADECIMENTOS À Prof. Regina Macedo pela dedicação na orientação deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Krebs, J. C. 1994. Ecology: the

experimental analysis of distribution and abundance. Harper Collings College Publishers, New York.

Mendonça, R. C., Felfili J. M., Walter, B.

M. T., Silva Júnior, M. C., Resende, A. V., Filgueiras, T. S. & Nogueira, P. E. 1998. Flora Vascular do Cerrado. In: S. M. Sano & E. S. P. Almeida (orgs.). Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa – CPAC, Distrito Federal.

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Tabela 1 - Teste t da área foliar nos estratos superior e inferior de Siparuna guianensis Aubl., coletada no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 6 de agosto de 2004.

Estrato arbóreo Média da área foliar (cm²) Desvio Padrão Teste t P Superior 65,46 ±22,17 Inferior 45,69 ±18,24

7,58 0,00

Tabela 2 - Teste t do Índice de importância da “goteira” (IIG) no estrato superior e inferior de Siparuna guianensis Aubl., coletada no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 6 de agosto de 2004. Estrato arbóreo Média do IIG Desvio Padrão Teste t P Superior 0,057 ±0,023 Inferior 0,061 ±0,024

-0,1508 0,133

ambos os estratos

0

10

20

30

40

50

60

com diferença significativa

sem diferença significativa

% d

e in

diví

duos estrato inferior

estrato superior

Figura 1 –Porcentagem de indivíduos com área foliar maior no estrato superior e inferior, com e sem diferença significativa através do Teste t, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 6 de agosto de 2004.

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RELAÇÃO ENTRE A BIOMASSA E A PRODUÇÃO DE

INFRUTESCÊNCIAS EM ARNICA, Lychnophora ericoides L. (ASTERACEAE), NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS

NOVAS – GO. Rodrigo Stolze Pacheco, Dirce Cristiane Camilotti, Ana Karina Salcedo Moreyra e Ísis Meri

Medri

Orientação: Alexandre Avelino INTRODUÇÃO Lychnophora ericoides L. (Asteraceae), conhecida popularmente como “arnica”, é uma espécie arbustiva e endêmica do Cerrado que ocorre em cerrados de altitude e campos rupestres. Nesta fitofisionomia, que ocorre geralmente em solos litólicos e pobres em nutrientes, predomina uma vegetação herbáceo-arbustiva. A composição florística em áreas de campo rupestre pode variar em poucos metros de distância e a densidade das espécies depende do substrato: profundidade do solo, tipo de solo, disponibilidade de água, etc (Ribeiro & Walter, 1998). Esta espécie apresenta distribuição do tipo agregada, em manchas que contém desde algumas dezenas a milhares de indivíduos. Sua floração apresenta pico no período de chuvas, de janeiro a março. Entretanto essa espécie pode se reproduzir também no período de seca, entre julho e dezembro (Delano M. S. Silva, comunicação pessoal). Muitas plantas do cerrado reproduzem-se por propagação vegetativa (Ribeiro & Walter, 1998). Entretanto, para a arnica esta forma de reprodução nunca foi encontrada no campo (John D. V. Hay, com. pess.). Há poucos trabalhos na literatura científica que abordam este assunto e portanto pouco se conhece sobre os aspectos reprodutivos desta planta. As plantas apresentam diferentes formas de alocação de recursos e isso pode refletir nas suas estratégias reprodutivas. Para muitas espécies existe uma relação simples entre o tamanho do indivíduo e sua capacidade de reprodução, ou seja, indivíduos maiores

(maior biomassa total) podem alocar maior proporção de recursos para o investimento em estruturas reprodutivas que os indivíduos menores da mesma população (Fitter, 1986). Em estudos anteriores foram feitas medidas de peso seco total em indivíduos de Lychnophora ericoides. Através de regressão linear foram utilizados vários parâmetros para a estimativa de biomassa, tais como: número de módulos vivos, diâmetro do caule, altura e área da copa. Dentre estes, a altura foi indicado como o melhor parâmetro morfométrico para a estimativa da biomassa da arnica. Isto indica que o parâmetro altura, nesta espécie, é menos influenciado pela variação entre indivíduos de uma população em relação à estimativa da biomassa (Alexandre Avelino, com. pess.). Os objetivos do presente estudo foram: 1) verificar se existe relação entre a produção de infrutescências e a altura em arnica, e 2) testar se existe relação entre demais parâmetros morfométricos tais como a área da copa e o número de módulos vivos com a altura da planta. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado numa área de cerrado rupestre, nas proximidades da “Casa do Pesquisador”, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, no dia 8 de agosto de 2004. O período de amostragem se estendeu das 08:30 às 10:30 h, e foram coletadas, com o uso de um metro de carpinteiro, as medidas morfométricas de 50 indivíduos com infrutescências, tais como a altura da planta

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(cm) e o menor e o maior eixo da copa (cm). Para o posterior cálculo da área da copa (m²) foram multiplicados ambos os eixos. Foi observada também a presença de inflorescências e/ou botões florais. Foi utilizado o teste de correlação de Pearson (r) para testar se existe relação entre a produção de frutos e a altura em arnica, e se existe relação entre demais parâmetros morfométricos (área da copa e número de módulos vivos) com a altura da planta. RESULTADOS A correlação de Pearson obtida para a relação entre a produção de infrutescências e a altura da arnica foi de 0,56. Esta correlação foi significativa (P < 0,001; R² = 0,32) (Figura 1). O valor encontrado através deste mesmo teste para a relação entre a área da copa e a altura da arnica foi de 0,71 (P < 0,001; R² = 0,50) (Figura 2). Para a relação entre o número de módulos vivos com a altura da planta foi obtido um r = 0,56 (P < 0,001; R² = 0,32) (Figura 3). Foram observados apenas 5 indivíduos com a presença de outras estruturas reprodutivas como inflorescências e botões florais. DISCUSSÃO A correlação obtida para o número de infrutescências em relação à altura da arnica foi mediana, porém significativa. A arnica pode sofrer perdas de parte aérea por

possíveis efeitos de predação ou fatores físicos, como ventos fortes ou choques mecânicos. Este fato pode ter influenciado o índice de correlação no sentido que indivíduos adultos e reprodutivos, de porte baixo, poderiam estar mais numerosos na população. Já a correlação entre a área da copa e a altura da arnica foi maior, indicando que essas variáveis se correlacionam fortemente, conforme o esperado, pois quanto maior a biomassa maior a alocação de recursos para a produção de estruturas vegetativas. A correlação entre o número de módulos vivos e a altura da arnica também foi mediana, mas significativa. A perda de módulos vivos pelos fatores citados anteriormente pode influenciar o índice obtido. AGRADECIMENTOS Ao monitor “arniqueiro” Alexandre Avelino pela orientação dedicada a este trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fitter, A. H. 1986. Acquisition and

Utilization of Resources. In: M. J. Crawley (ed.). Plant Ecology. Blackwell Scientific Publications, Oxford.

Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. 1998. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: S. M. Sano & S.P. de Almeida (orgs.). Cerrado: ambiente e flora. Embrapa-CPAC, Planaltina, DF.

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R² = 0,46 P < 0,001 r = 0,65 GL = 48

Figura 1 – Relação entre o número de infrutescências e altura de Lychnophora ericoides em área de cerrado rupestre no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO, no dia 08 de agosto de 2004. Figura 2 – Relação entre área da copa e altura de Lychnophora ericoides em área de cerrado rupestre no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO, no dia 08 de agosto de 2004.

R² = 0,50 P < 0,001 r = 0,71 GL = 40

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R² = 0.32 P < 0,001 r =0.56 GL = 48

Figura 3 – Relação entre número de módulos vivos e altura de Lychnophora ericoides em área de cerrado rupestre no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO, no dia 08 de agosto de 2004.

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MORCEGOS E SUA RELAÇÃO COM PLANTAS QUIROPTERÓFILAS

NO PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS – GO.

Ana Karina Salcedo Moreyra, Ísis Meri Medri, Dirce Cristiane Camilotti e Rodrigo Stolze Pacheco

Orientação: Prof. Jader Soares Marinho-Filho

INTRODUÇÃO Os morcegos são agrupados na ordem Chiroptera, a segunda ordem mais numerosa dos mamíferos, com quase 1.000 espécies no mundo, sendo superada apenas pela ordem Rodentia. Estes animais apresentam grande diversidade de hábitos alimentares. Podem ser especializados na hematofagia ou terem hábitos insetívoros, predadores de pequenos vertebrados incluindo outros morcegos, frugívoros e nectarívoros. São importantes no controle das populações de insetos, na polinização de muitas espécies de plantas e na regeneração de florestas através da dispersão de sementes (Emmons & Feer, 1990). As plantas que apresentam a síndrome de polinização por morcegos (quiropterofilia), na sua grande maioria, apresentam flores despigmentadas com muito pólen, tubulosas ou em “pincel”, grandes e dispostas nas extremidades dos ramos e com odor acre. De forma geral, o néctar destas flores é abundante e rico em hexose. A ântese destas flores geralmente ocorre durante o crepúsculo e à noite. Já os frutos consumidos por estes animais geralmente são verdes, brancos ou amarelados, com formas variadas e freqüentemente pendentes nos ramos, apresentam odor aromático ou acre e são ricos em lipídeos (Howe & Lynn, 1986). Os objetivos deste trabalho foram estudar as espécies de morcegos de hábito herbívoro (frugívoros e nectarívoros) e relacionar suas características morfológicas com as características morfológicas de suas plantas de alimentação. MATERIAL E MÉTODOS

Na “Trilha do Paredão” selecionamos plantas que a literatura descreve como tendo suas flores visitadas por morcegos e medimos a quantidade de néctar e a concentração de açúcar no mesmo, em flores de Caryocar brasiliense Camb. (Caryocaraceae) e Bauhinia aff. rufa (Bong.) Stend. (Leguminosae, Caesalpinoideae), com refratômetro, em diferentes horários durante a noite. Os morcegos foram capturados com redes de neblina de 12 x 3 m e 3,5 cm de malha. Duas redes foram colocadas na estrada, ambas próximas às plantas floridas sendo duas de Bauhinia aff. rufa (Bong.) Stend. e uma de Caryocar brasiliense Camb. Os animais foram identificados, pesados com pesola de 100 g, e tiveram o sexo determinado. Foram mantidos em sacos de pano por cerca de 1 a 2 horas para a coleta de possíveis fezes, e então foram posteriormente liberados. RESULTADOS As flores de Caryocar brasiliense Camb. observadas estavam dispostas nas extremidades dos ramos, tiveram sua ântese à noite e apresentaram forte odor acre. Sua coloração é branca e é do tipo “pincel”, com uma grande quantidade de estames superando em tamanho as pétalas. As flores de Bauhinia aff. rufa (Bong.) Stend. são brancas, têm cálice tubular na base e estavam dispostas em cachos terminais. Também foi notado odor acre para as flores desta espécie. Em ambas as espécies foram notadas produções abundantes de néctar. A flor de Caryocar brasiliense Camb. foi a que apresentou maior quantidade (0,14

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cm³), e a flor de Bauhinia aff. rufa (Bong.) Stend. a que apresentou maior concentração de açúcar no néctar (14%) (Tabela 1). Foram capturados 14 indivíduos distribuídos em 2 famílias e 6 espécies diferentes (Tabela 2). Dos morcegos capturados 3 espécies apresentam hábitos herbívoros (frugívoros ou nectarívoros). Glossophaga soricina é nectarívoro e apresenta um focinho longo e afilado com vibrissas. Artibeus jamaicensis é frugívoro, seu focinho é truncado e apresenta dentes fortes com caninos grandes e molares achatados. Geralmente são de grande porte e têm asas longas e largas. Anoura caudifer é um pequeno nectarívoro que apresenta focinho longo e afilado, língua com tufos de papilas filiformes na ponta, e seus incisivos inferiores são ausentes. DISCUSSÃO As espécies Caryocar brasiliense Camb. e Bauhinia aff. rufa (Bong.) Stend. apresentaram características morfológicas correspondentes à síndrome de quiropterofilia. Geralmente as flores polinizadas por morcegos apresentam grande quantidade de néctar, porém não tão concentrado quanto o néctar de flores com síndrome de polinização por abelhas, cujo néctar é menos abundante porém altamente concentrado em açúcares para a sua produção de mel. Glossophaga soricina apresenta adaptações especiais para a nectarivoria tais como seu focinho longo e afilado, a língua comprida que permite melhor obtenção do néctar das flores, mesmo das com corolas tubulosas. A mesma facilidade de obtenção de néctar em flores de corolas tubulosas

também ocorre em Anoura caudifer que apresenta tufos de papilas filiformes na ponta da língua comprida. Outra adaptação à nectarivoria por esta espécie é a ausência dos incisivos inferiores que facilita na movimentação da língua durante a alimentação (Marinho-Filho, 1992). Artibeus jamaicensis é uma das espécies mais importantes como dispersoras de sementes nas florestas. Seu porte avantajado e suas asas longas e largas auxiliam no transporte e manuseio de frutos da árvore fonte até outros pousos de alimentação distantes, funcionando assim como bons dispersores de sementes (Emmons & Feer, 1990). AGRADECIMENTOS Ao Prof. Jader S. Marinho-Filho por nos proporcionar um instigante trabalho com morcegos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Emmons, L. H. & Feer, F. 1990.

Neotropical Rainforest Mammals – A Field Guide. The University Chicago Press, Chicago.

Howe, H. F. & Lynn, C. W. 1986.

Ecology of Pollinization and Seed Dispersal. In: M. J. Crawley (ed.). Plant Ecology. Blackwell Scientific Publications, Oxford.

Marinho-Filho, J. S. 1992. Os mamíferos

da Serra do Japi. In: L. P. C. Morellato (org.). História Natural da Serra do Japi – Ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste do Brasil. Editora da UNICAMP, FAPESP, Campinas- SP.

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Tabela 1 – Quantidade de néctar e concentração de açúcar em flores visitadas por morcegos no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, nos dias 9 e 10 de agosto de 2004.

Nº da flor

Família Espécie Hora de registro

Quantidade de néctar (cm³)

Concentração de açúcar (%)

1 Caryocaraceae Caryocar brasiliense 24:40 0,10 11,5 2 Caryocaraceae Caryocar brasiliense 24:40 0,14 12,5 3 Leguminosae Bauhinia aff. rufa 19:24 – 14 4 Leguminosae Bauhinia aff. rufa 19:24 0,10 12

Tabela 2 – Morcegos capturados no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, nos dias 9 e 10 de agosto de 2004.

Nº do indivíduo

Hora de captura

Família Espécie Massa (g)

Sexo Hábito alimentar

1 18:40 Vespertilionidae Myotis sp. 4 macho insetívoro 2 18:40 Vespertilionidae Myotis sp. 4 fêmea insetívoro 3 18:40 Vespertilionidae Myotis sp. – fêmea insetívoro 4 18:40 Vespertilionidae Lasiurus borealis 7 macho insetívoro 5 18:40 Vespertilionidae Lasiurus borealis 8 macho insetívoro 6 20:40 Phyllostomidae Glossophaga

soricina 7 macho nectarívoro

7 20:40 Phyllostomidae Artibeus jamaicensis

44 macho frugívoro

8 20:40 Phyllostomidae Desmodus rotundus

– fêmea hematófago

9 21:30 Phyllostomidae Desmodus rotundus

36 macho hematófago

10 21:30 Phyllostomidae Desmodus rotundus

33 Macho hematófago

11 21:30 Phyllostomidae Desmodus rotundus

– fêmea hematófago

12 24:03 Phyllostomidae Anoura caudifer 11 macho nectarívoro 13 24:25 Phyllostomidae Anoura caudifer 7 fêmea nectarívoro 14 24:25 Phyllostomidae Anoura caudifer 8 fêmea nectarívoro

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EMISSÃO DE GÁS CARBÔNICO DO SOLO EM DIFERENTES

AMBIENTES NO PESCAN - GO: RELAÇÃO COM TEMPERATURA E UMIDADE.

Rodrigo Stolze Pacheco, Ana Cláudia Delciellos, Dirce Cristiane Camilotti, Ana Karina

Salcedo Moreyra e Ísis Meri Medri

Orientação: Profª. Alessandra Kozovits INTRODUÇÃO A abundância da biota no solo é da ordem de milhões por m2, e é composta por bactérias, fungos e microinvertebrados. Estes organismos são de grande importância para o funcionamento dos ecossistemas, atuando na manutenção da fertilidade do solo, na decomposição da matéria orgânica, na ciclagem do nitrogênio e carbono, no sucesso reprodutivo das plantas através de associações simbióticas, e na contribuição para a degradação de poluentes do ar e da água (Wall et al., 2001). Os microrganismos do solo também influenciam a química da atmosfera através da produção de gases como o CO2, que desempenha importante papel no efeito estufa do planeta. O fluxo de gás carbônico do solo para a atmosfera produzido por esses organismos é afetado por diversos fatores bióticos e abióticos. Dentre estes fatores, a temperatura é considerado o fator controlador primário, enquanto que a umidade do solo, em pequena escala de tempo, é considerada um fator secundário, tornando-se mais importante durante os períodos de seca severa, quando as atividades microbianas são limitadas pelo estresse fisiológico (Lee et al., 2004). Os objetivos desse estudo foram (1) verificar se existe diferença na emissão de gás carbônico do solo em diferentes ambientes do PESCAN - GO, (2) analisar a influência da temperatura nesse processo, e (3) avaliar a influência da umidade na emissão de gás carbônico de um solo descoberto e seco. MATERIAL E MÉTODOS

O primeiro experimento para verificar se existe diferença na emissão de gás carbônico do solo em diferentes ambientes e se existe influência da temperatura nesse processo, foi realizado nas proximidades da Trilha do Paredão, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN – GO), no dia 11/08/2004, onde foi escolhido um transecto em gradiente de ambientes: 1) solo descoberto, 2) gramíneas e arbustos, 3) borda de mata e 4) interior de mata. Em cada ambiente foi instalada uma base de tubo PVC no solo com 19,5 cm de diâmetro e 15 cm de altura. Em cada base, foi medida a temperatura do solo e da câmara com um termômetro Cole Parmer modelo DIGI - Sense, e a concentração de CO2 com um aparelho Portable Photosynthesis System (Model 6200, Licor, Inc.). As medições foram realizadas em intervalos de 40 minutos a 1 hora. Os dados foram analisados por regressão linear. O segundo experimento foi realizado em solo descoberto nas proximidades do Centro de Visitantes do PESCAN – GO. Foram instaladas 4 bases, sendo uma a controle (sem adição de água), enquanto as demais receberam diferentes quantidades de água: 0,5, 1 e 2 litros. Em cada base, foi medida a temperatura do solo e da câmara e a concentração de CO2 com os mesmos aparelhos utilizados nas medições anteriores. As medições foram realizadas em intervalos entre 10 a 20 minutos. RESULTADOS O fluxo de gás carbônico no início da manhã foi maior na borda da mata,

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seguido pelo interior da mata (Figura 1). Durante o período estudado, menores taxas de respiração foram encontradas na área de solo descoberto. A concentração de CO2 apresentou relação positiva com a temperatura nos locais onde o solo apresentou pouca ou nenhuma cobertura vegetal (solo descoberto e solo coberto com gramíneas e arbustos) e uma relação negativa com a temperatura nos locais onde o solo apresentou maior cobertura vegetal (borda e interior de mata; Figura 2). A concentração de CO2 foi dependente da umidade do solo. Nas bases onde foram adicionados 0,5 e 1 litro de água houve aumento da produção de CO2 inicial, seguida de posterior diminuição e estabilização. Na base onde foi adicionado 2 litros de água houve diminuição inicial da emissão de CO2 seguido de um aumento acentuado na produção de CO2 após 40 minutos, superando os valores obtidos para as amostras anteriores (Figura 3). DISCUSSÃO A emissão de gás carbônico é a principal preocupação ligada ao efeito estufa (Capozzoli, 2002). Para o entendimento global desse processo, estudos regionais que avaliem a liberação de gás carbônico do solo para a atmosfera são indispensáveis. Os diversos tipos de habitat contribuem de forma diferente quanto à emissão de CO2 para a atmosfera. As diferenças observadas na produção de CO2 entre os solos com maior cobertura vegetal (borda e interior de mata) e os de menor cobertura vegetal (solo descoberto e solo coberto por gramíneas e arbustos) podem estar relacionadas à presença de diferentes comunidades de microorganismos nestes locais, e às diferenças de disponibilidade de carbono e outros recursos, umidade do solo e respiração de raízes. O aumento da produção de CO2, com o decorrer da manhã, nos solos com menor cobertura vegetal pode estar

atribuído ao fato dos microorganismos deste ambiente suportarem maiores variações de temperatura do que os microorganismos da borda e interior da mata, que representam ambientes mais estáveis. No segundo experimento, houve uma queda inicial na produção de CO2 na base com a maior adição de água (2 litros), que foi menor que a da base controle, fato explicado pela possível anóxia à que os microorganismos estiveram submetidos no seu ambiente, já que a água adicionada não havia sido absorvida totalmente pelo solo compactado. Com o decorrer do tempo, e após a absorção de toda a água pelo solo, a produção foi acentuada e superou os valores alcançados pelas demais bases. A adição de água no solo torna seus componentes mais acessíveis ao metabolismo dos microrganismos aumentando a sua atividade e, deste modo, a emissão de CO2 do solo para a atmosfera (Lee et al., 2004). Portanto a emissão de CO2 do solo é dependente da umidade e conseqüentemente influenciada pela intensidade e regularidade das chuvas. AGRADECIMENTOS À Profª. Alessandra Kozovits por nos iniciar em um novo campo do conhecimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Capozzoli, U. 2002. Floresta ameniza o

aquecimento da Terra. Scientific American – Brasil 6: 30-35.

Lee, H., Wu, H-J, Sigler, J., Oishi, C. & Siccama, T. 2004. Rapid and transient response of soil respiration to rain. Global Change Biology 10: 1017-1026.

Wall, D. H., Adams, G. & Parsons, A. N. 2001. Soil Biodiversity. In: F. S. Chapin III, O. E. Sala & E. Huber-Sannwald (eds.). Global Biodiversity in a Changing Environment – Scenarios for the 21 st Century. Ecological Studies, Vol. 152. Springer, New York.

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0

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

7:12 8:24 9:36 10:48

Hora

CO

2 (10

-6 m

ol c

m-2

min

-1)

Δ borda de mata Ο interior de mata h gramíneas e arbustos g solo descoberto

Figura 1 – Fluxo de gás carbônico nos pontos amostrados em diferentes horários da manhã de 11/08/2004, no PESCAN – GO.

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R2 = 0,99

0153045

15 17 19 21 23 25

CO

2 (p

pm)

Solo descoberto

R2 = 0,77

0

15

30

45

15 17 19 21 23 25

CO

2 (pp

m)

Gramíneas e arbustos

R2 = 0,81

0

15

30

45

15 17 19 21 23 25

Temperatura do solo (ºC)

CO

2 (p

pm)

Borda de mata

R2 = 0,81

0

15

30

45

15 17 19 21 23 25

Temperatura do solo (ºC)

CO

2 (p

pm) Interior de mata

Figura 2 – Concentração de gás carbônico nos pontos amostrados em relação à temperatura do solo, 11/08/2004, PESCAN – GO.

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00,020,040,060,08

0,10,120,140,16

11:02 11:16 11:31 11:45 12:00 12:14 12:28 12:43 12:57

Hora

CO

2 (10

-6 m

ol c

m-2 m

in-1

)♦ controle h 0,5 litros de H2O g 1 litro de H2O t 2 litros de H2O

Figura 3 – Fluxo de gás carbônico em resposta à adição de água, 11/08/2004, PESCAN – GO.

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Herbivoria foliar e produção de sementes em Davilla elliptica St. Hil

(Dilleniaceae)

Dirce Cristiane Camilotti, Rodrigo Stolze Pacheco, Ana Cláudia Delciellos, Ana Karina Salcedo Moreyra e Ísis Meri Medri

Orientação: Prof. Jair Maia

INTRODUÇÃO Os recursos derivados de carbono, provenientes dos processos fotossintéticos, têm especial importância na floração e frutificação das plantas. As plantas alocam grande quantidade de recursos para a produção de frutos e sementes, que constituem fontes de alimento de grande qualidade nutritiva para muitos organismos, sendo intensamente predadas com a maior parte das sementes não atingindo a fase de amadurecimento (Fenner, 1985). Muitas espécies de plantas sofrem intensa herbivoria nas folhas, principalmente quando estão associadas a herbívoros espécie-específicos. Estes podem prejudicar a alocação de carbono pelas plantas para a construção de suas estruturas. Em algum desses casos, observa-se redução na produção das flores e sementes porque boa parte destas precisam investir tais recursos em ações compensatórias para a herbivoria foliar, como por exemplo, crescimento de ramos e produção maior de folhas na próxima estação de crescimento. Sendo assim, poderíamos imaginar que a redução de área fotossitenticamente ativa nas folhas estaria interferindo na produção de sementes. O objetivo desse estudo foi avaliar o quanto a herbivoria foliar estaria influenciando a produção de sementes. O esperado é que ramos com maior grau de herbivoria apresentem menor produção de sementes. MATERIAL E MÉTODOS Espécie estudada Davilla elliptica St. Hil (Dilleniaceae) foi a espécie escolhida por ser um arbusto, que atinge até três metros de altura, e ocorre em campo sujo, cerrado sensu stricto e

cerradão. Apresenta folhas alternas, elípticas ou oblongas, cartáceas e ásperas. Suas folhas maduras sofrem grande herbivoria pelas lagartas da mariposa Picnotena sp., que formam grupos de 80 a 100 indivíduos. A frutificação ocorre de março a outubro, sendo os frutos de coloração marrom e contendo uma ou duas sementes (Silva, 1998). Os frutos sofrem perfurações dos besouros da família Curculionidae, e depois são ocupados por organismos oportunistas. Descrição da área de coleta Na estrada do platô do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) - GO, foi feita uma varredura procurando por 20 indivíduos de D. elliptica. De cada indivíduo, foram coletados de um a três ramos que possuísse mais de oito frutos. Os ramos coletados foram triados na sede do PESCAN, tendo sido contados o número de folhas com e sem danos por herbivoria, o número de frutos com e sem danos, e o número de frutos com e sem sementes. Além disso, o grau de herbivoria foliar foi determinado através de uma estimativa visual da porcentagem de área foliar danificada. RESULTADOS A observação dos indivíduos de D. elliptica mostrou qualitativamente uma grande pressão de herbivoria nessa espécie, indicada pela alta porcentagem de folhas e frutos danificados, e pelos dados obtidos. Nos 20 indivíduos amostrados, observou-se um total de 1.118 folhas e 584 frutos, 90% das folhas e 66,5% dos frutos estavam com sua área danificada por herbivoria nos 34

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ramos triados. Somente 4,3% dos frutos tinham sementes, sendo 72% em frutos danificados. Organismos oportunistas foram encontrados em 42 frutos, principalmente formigas, cochonilhas, aranhas, grilos e baratas (Tabela 1). A análise do número de sementes por indivíduo versus a porcentagem de área foliar danificada não apresentou relação (Figura 1). DISCUSSÃO A herbivoria causa uma diminuição da área foliar e conseqüente queda da taxa fotossintética. Por outro lado, sabe-se que plantas que sofrem herbivoria em suas folhas podem contrabalançar este fato aumentado sua taxa de fotossíntese nas partes não danificadas da folha. Outro fator que pode explicar o processo de alta produção de frutos, mas de poucas sementes resultantes, é a falta de outros recursos que não os provenientes da fotossíntese. Não podemos afirmar que o número de sementes por indivíduos não está relacionado com a porcentagem de área foliar danificada, mesmo que os resultados obtidos não estejam indicando uma relação, pois houve um ruído na amostragem devido a grande quantidade de frutos danificados. O método utilizado nesse trabalho não se aplica à D. elliptica. Para uma possível adaptação deste método a essa espécie,

seria necessário um experimento isolando folhas e frutos da ação de herbívoros, e outro isolando somente os frutos. Se o primeiro grupo apresentar um aumento na produção de sementes em relação ao segundo grupo, poderia ser afirmado que o número de sementes por indivíduos é influenciado pela herbivoria. Caso contrário, possivelmente as áreas restantes das folhas estariam compensando a perda de área fotossinteticamente ativa aumentando sua eficiência fotossintética. Este experimento deveria ser realizado em diferentes épocas do ano, já que estudos anteriores com esta espécie descrevem que a produção de frutos reflete a herbivoria de um período anterior. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Jair Maia pela orientação deste trabalho. Ao Alexandre Avelino pela ajuda na coleta dos dados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fenner, M. 1985. Seed ecology. Chapman

and Hall. New York. Silva, S. R. 1998. Plantas do Cerrado

utilizadas pelas comunidades da região do Grande Sertão Veredas. FUNATURA, Brasília.

Tabela 1 - Dados registrados para D. elliptica St. Hil., no PESCAN – GO, no dia 12/08/2004.

Características de D. elliptica Número Indivíduos (n) 20 Folhas total 1118 Folhas com danos 1000 Área foliar danificada (%) 50 Frutos total 584 Frutos com danos 389 Frutos com aborto 559 Frutos com danos e com sementes 18 Frutos sem danos e com sementes 7 Sementes 25 Frutos com fauna 42

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0 20 40 60 80 10

Área foliar danificada (%)

Núm

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0 Figura 1 – Relação entre o número de sementes por indivíduo e a porcentagem de área foliar danificada em D. elliptica St. Hil, no PESCAN – GO, no dia 12/08/2004.

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Efeito do ambiente nas estratégias de defesa de larvas de Lepidoptera no

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN)-GO. Fabiola Ferreira Oliveira, Kena Ferrari da Silva, Mariana Inês Saraceno, Silvia Leitão Dutra

Orientadora: Regina Macedo

Introdução Os Lepidoptera são a segunda ordem mais numerosa da Classe Insecta apresentando uma alta diversidade que se reflete na grande gama de comportamentos e estratégias de defesa deste grupo (Solis & Pogue, 1999). A predação de lagartas é considerada um dos fatores responsáveis pelo controle populacional de lepidópteros. Entre os mecanismos de defesa, existem o padrão críptico (camuflado), que é relacionado a organismos palatáveis e o padrão aposemático (vistoso), relacionado a organismos impalatáveis. As larvas vistosas geralmente não são encontradas em abrigos pois a sua estratégia de defesa requer o aprendizado visual do predador. Os abrigos construídos na própria folha das plantas hospedeiras podem servir tanto para defesa da larva como também para evitar danos causados pela ressecação do ambiente. Podem existir diversos tipos de abrigos usados pelas larvas: folhas dobradas em forma de sanduíche, caracterizada por duas folhas sobrepostas e preenchidas por fezes e teias; folhas enroladas sobre si; folhas em forma de envelope (folha dobrada sobre si); abrigos só com teias e abrigos em que a larva constrói um túnel de fezes e teia. Diferentes ambientes têm mostrado que características como a umidade e a temperatura estão associadas com estas estratégias de defesa. Segundo Brown & Gifford (2000) há uma maior diversidade de lepidópteros em matas que em cerrado, pois estes insetos são altamente sensíveis a umidade do ambiente. De acordo com alguns trabalhos, a comunidade de lepidópteros em matas é bastante diversa porque acompanha a estratificação da

vegetação e os diferentes microclimas (Ferreira et al, 2001). Por outro lado, comunidades de ambientes abertos não apresentam tal estratificação e um microclima diverso. Assim, em ambientes mais abertos (cerrado) espera-se encontrar mais larvas em abrigos que nos ambientes mais fechados (mata) devido a uma maior ressecação dos habitats mais abertos. O objetivo deste projeto foi verificar o efeito do ambiente (aberto e fechado) nas estratégias de defesa (tipo de abrigo e coloração) de larvas de Lepidoptera. As questões a responder com este estudo foram: i) Existem diferenças na composição de espécies entre os ambientes? ii) Quais os tipos de defesa que predominam na mata e no cerrado? iii) Existem diferenças nas classes de abrigo de larvas de Lepidoptera entre ambos os ambientes? Materiais e Métodos O experimento foi realizado no dia 5 de agosto de 2004 na reserva do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN)-GO. Foi escolhida uma área de mata e uma de cerrado sensu stricto. Ambos ambientes apresentam diferenças quanto à composição florística assim como nas condições de temperatura, umidade e radiação solar incidente. Para a coleta das larvas de Lepidoptera foi utilizado o método de procura ativa. O esforço amostral foi padronizado em duas horas de coleta com quatro pessoas em cada ambiente. No campo foram anotados dados de localização das larvas na planta (caule, folha, flor) e também o tipo de abrigo em

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que as larvas se encontravam. Após localizadas, todas as larvas foram colocada em sacos plásticos e levadas ao laboratório para posterior identificação das morfoespécies e classificadas enquanto a coloração em vistosas ou crípticas. Os dados foram analisados pelo teste do Qui-quadrado usando o programa BioEstat 2.0. Resultados Foi encontrado um total de 39 larvas de Lepidoptera e 29 morfoespécies nos dois ambientes amostrados, sendo que não houve sobreposição entre as morfoespécies da mata (n=15) e as do cerrado (n=14). Do total das larvas encontradas, 64,1% (n=25) ocorreram no cerrado e 35,9% (n=14) na mata, sendo a maioria observada em folhas na região adaxial do limbo (Figura 1). Duas morfoespécies da mata (n=4), equivalentes a 28,5% do total (Figura 1) apresentaram coloração vistosa e destas, apenas uma era de vida livre. No cerrado não foram encontradas larvas vistosas, sendo que as de vida livre representaram 14,2% (n=2). Todas elas eram de coloração críptica e duas possuíam pêlos urticantes. A maioria das larvas apresentou alguma forma de abrigo, sendo que somente 13,33 % das morfoespécies se encontravam em estado livre. No cerrado foram observadas larvas ocupando cinco tipos de abrigos, enquanto na mata foram observados três (Tabela1). Os tipos mais comuns foram os em forma de sanduíche com 68,1 % (n=15) das ocorrências para o cerrado e 77% (n=10) para a mata. Os abrigos do tipo sanduíche possuíam muitas vezes fezes e teias em seu interior e em vários casos folhas velhas estavam sobre folhas novas. No cerrado os abrigos do tipo túnel corresponderam a 4,5 % (n=1) e para a mata 15,3% (n=2). Os abrigos do tipo túnel também apresentavam muitas fezes e folhas velhas grudadas por teias. Abrigos do tipo folhas enroladas somente apareceram no cerrado e corresponderam a 9,0 % (n=2).

Igualmente, os abrigos do tipo envelope somente foram encontrados no cerrado e corresponderam a 9% (n=2) dos abrigos. Abrigos feitos somente por teias ocorreram 9,0% (n=2) no cerrado e 7,6% (n=1) na mata. Discussão O fato de todas as morfoespécies da mata e do cerrado serem diferentes pode ser explicado pelas diferenças ambientais entre as duas fitofisionomias, que levariam à ocupação diferencial do habitat pelos lepidópteros e a uma maior variedade de abrigos no cerrado com relação à mata. A menor quantidade de larvas encontradas na mata pode ser explicada pela amostragem ter se restringido apenas aos estratos inferiores deste ambiente, subestimando assim, o número de larvas que poderiam se encontrar em outros estratos. O trabalho foi realizado no período da seca, o que pode estar explicando a alta quantidade de larvas em abrigos, pois muitas espécies entram em diapausa neste período e para isto, o abrigo é essencial para manter um microhabitat mais úmido (Diniz, I.R., comunicação pessoal). Referências Bibliográficas Brown, Jr. K.S. & Gifford, D.R. 2002.

Lepidoptera the Cerrado Landscape and the conservation of vegetation soil, and topographical mosaics. In: Oliveira P. S. & Marcs, R.J. The Cerrados of Brazil, Columbia University press New York . p.201-222.

Ferreira, A.P.; Vieira G.H.; Bueno, P. & Queiroz, R. 2001. Comparação entre comunidades de Lepidópteros em ambientes abertos e fechados na margem direita do Rio Javaés, Pium- TO. In: Relatórios – Métodos de campo em ecologia. 2:11-12.

Solis, M. A & Pogue, M G. 1999. Lepidopteran biodiversity: patterns and

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estimators. American Entomologist. 45(4): 206-212.

0

5

10

15

20

25

livre abrigo vis tos a c rípt ic a

Carac terít ic as das larvas

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Figura 1: Comparação entre o número de larvas encontradas livres ou em abrigos e vistosas ou crípticas para a mata e o cerrado em Agosto de 2004 no PESCAN. Tabela 1: Número dos tipos de abrigos encontrados em larvas de Lepidoptera na mata e no cerrado em Agosto de 2004 no PESCAN.

Classes de abrigo Cerrado Mata Total Sanduíche 15 10 25 Envelope 2 0 2 Enrolada 2 0 2 Teia 2 1 3 Túnel c/fezes e teia 1 2 3

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Antes só do que muito acompanhado:

efeitos do ambiente a da densidade no destino de sementes no solo.

Fabiola Ferreira Oliveira, Kena Ferrari Moreira da Silva, Mariana Inês Saraceno; Silvia Leitão Dutra

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Ximenes

Introdução As sementes ao atingirem o solo podem ter três destinos: permanecer no local em que caiu, serem predadas ou dispersas. Os dois últimos destinos dependem das chances dessa semente ser encontrada por agentes externos como mamíferos pássaros e insetos. Segundo um experimento realizado por Janzen (1970) esta chance de encontro é diretamente proporcional à densidade de sementes em uma determinada área. Algumas espécies vegetais dependem destes agentes para que suas sementes atinjam ambientes propícios à sua germinação. Heithaus (1981) realizou experimentos com formigas e roedores simultaneamente. A presença das formigas provocou uma diminuição da predação de sementes por roedores, pois fez com que as mesmas tivessem uma maior dificuldade de serem achadas, além de torná-las menos atrativas para os mamíferos ao remover os elaissomos (tecido nutritivo na semente que atrai formigas). Este trabalho teve como objetivo verificar como o efeito das densidades de sementes e o tipo de ambiente influenciam na probabilidade de encontro por animais. As questões a serem respondidas foram: 1. Quais os animais que usam sementes do solo? 2. A probabilidade da semente de ser encontrada varia de acordo com: - o tipo de ambiente? - a densidade de sementes? - o período do dia? Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas durante os dias cinco e seis de Agosto de 2004. Foram estabelecidos dois transectos sendo um em área de cerrado sensu stricto e outro em mata. Em ambas áreas foram aplicados 3 tratamentos de densidade de sementes de Arachis hypogaea (amendoim), sendo o primeiro com uma, o segundo com dez e o terceiro com trinta sementes. O número de réplicas por tratamento foi de dez (n=10), as quais foram distribuídas nos transectos espaçados por uma distância de 20 m. Para verificar o efeito do período do dia na probabilidade de encontro, as sementes foram colocadas nas áreas durante a noite do primeiro dia (18:00) e observadas às 6:00 e às 13:00 h do dia seguinte. Nas observações das 6:00 h, registrou-se o número de sementes de cada sítio que apresentaram sinais de ataque, sendo aquelas trocadas por outras novas para a comparação com o período diurno (6:00-13:00). Para caracterizar os animais que usam as sementes foram coletados todos os insetos presentes nas horas das observações. Estes animais foram imediatamente fixados em álcool 70% e posteriormente, no laboratório, com uso do microscópio estereoscópio, foram identificadas as morfoespécies. As análises estatísticas foram realizadas com o uso do programa Bioestat versão 2.0. e os dados foram analisados com o teste de qui-quadrado. Resultados Os principais animais observados usando as sementes do solo na mata e no cerrado, tanto no período noturno quanto no diurno,

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foram as formigas (Formicidae); em alguns casos houve também a presença, em menor quantidade, de outros grupos como gafanhotos (Orthoptera), cupins (Isoptera) e baratas (Blattaria). Foi encontrado um número total de 22 morfoespécies de formigas nos dois ambientes, dos quais 14, pertencem ao cerrado e 8 à mata. O número de morfoespécies foi menor durante o período diurno em ambos ambientes, sendo esta diferença mais acentuada no cerrado que na mata (p<0,05) (Tabela 1). Duas das quatro morfoespécies presentes na mata foram observadas nas sementes seja no período diurno como no noturno, enquanto que no cerrado não houve repetição de morfoespécies (Tabela 1). O número total de sementes atacadas foi significativamente maior (p<0,05) durante a noite em ambos ambientes (Tabela 2). O número de sítios atacados não apresentou diferenças significativas (p>0.05) com o tipo de ambiente, para ambos os períodos; enquanto houve uma diferença significativa (p<0,05) no número de ataques entre as sementes solitárias e as demais densidades (Tabela 3). Discussão Os insetos, principalmente formigas, foram os animais que mais visitaram as sementes. Embora os demais grupos também tivessem sido observados manipulando e atacando as sementes, estes se apresentaram em número muito menor e por este motivo, foram excluídos das análises de dados. Também seria esperada a presença de pequenos mamíferos, pois estes mostram preferências por frutos e sementes com um alto valor energético (Janzen, 1970) como é o caso da semente de amendoim; porém nenhuma ocorrência foi observada neste estudo. Os ataques por formigas foram mais freqüentes durante a noite, tanto com relação ao número de sítios, como também ao número de sementes. Isto pode ser explicado pela diminuição da atividade da maioria das formigas durante o dia em

decorrência da elevação da temperatura. O efeito da temperatura, em áreas fechadas, é menos intenso nas primeiras horas do dia do que em áreas abertas, justificando a maior taxa de ataque nas sementes durante a noite na mata. Além disso, de acordo com Gross et al. (1991), espécies com dietas sobrepostas podem coexistir alterando o horário de forrageamento para diferentes períodos. Este trabalho pôde identificar tal padrão, uma vez que grande parte das morfoespécies de formigas ativas no período da noite, não foram encontradas no período do dia, e vice-versa. Embora este estudo tenha se restringido a um curto período de tempo e pudesse ser esperado que os ataques às sementes e sítios pudessem variar com número maior de observações, os estudos feitos por Sampaio (2002), abordando ataque às sementes em matas de galeria do Cerrado num período de cinco dias, mostraram que não houve diferenças significativas nos números de sementes predadas, por formigas, entre um dia e outro. Isso reforça que os resultados encontrados pelo presente trabalho foram representativos. Segundo Janzen (1970) a dispersão secundária feita por animais é dependente da densidade, ou seja, quanto maior o grupo de sementes, maior é a probalidade de predação, pois a possibilidade de que o grupo seja encontrado aumenta. Estas informações foram corroboradas, uma vez que as sementes isoladas foram menos encontradas, pois estas seriam menos atrativas à visualização e ao olfato do que os grupos com maior densidade de sementes. Referências Bibliográficas Gross, C.L; Whalen, M.A. & Andrew,

M.H. (1991). Seed selection and removal by ants in a tropical savanna woodland in Northern Australia. Journal of Tropical Ecology 7:99-112.

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Heithaus, E. R. (1981). Seed predation by rodents on three ant-dispersal plants. Ecology 62:136-145.

Sampaio, A.B. (2002). Efeito do habitat na predação de sementes em uma mata de galeria inundável no Distrito Federal. In: Resumos do Simpósio Ecologia e Diversidade do Cerrado: Perspectivas e desafios para o século XX, Brasília.

Janzen, D.H. (1970). Herbivores and the number of tree species in tropical forests. American Naturalist 104:501-528.

Tabela 1. Número de morfoespécies de formigas coletadas em diferentes períodos do dia em ambientes de mata e cerrado do PESCAN, durante o mês de Agosto de 2004.

Mata Cerrado noite 6 13 dia 4* 1 total 8 14

*Duas morfoespécies em comum entre os diferentes períodos. Tabela 2. Porcentagem de sementes atacadas em diferentes períodos do dia em ambientes de mata e cerrado do PESCAN, coletados em Agosto de 2004.

Mata Cerrado Noite 21,46% 16,58% Dia 6,34% 8,29%

Tabela 3. Porcentagem de sítios (n=10) atacados em ambientes de mata e cerrado do PESCAN, para diferentes densidades de sementes e período do dia, no mês Agosto de 2004.

Densidade Mata Cerrado de sementes 1 50% 60% Noite 10 90% 80% 30 90% 90% 1 10% 10% Dia 10 60% 50% 30 80% 70%

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Influência da largura de nicho na riqueza de espécies de uma comunidade arbórea numa área de cerrado sensu stricto no Parque Estadual Serra de

Caldas Novas (PESCAN)-GO

Fabíola Ferreira Oliveira; Kena Ferrari Moreira da Silva; Mariana Inés Saraceno; Sílvia Leitão Dutra

Orientação: Raimundo Paulo Barros Henriques

INTRODUÇÃO A diversidade de espécies em uma comunidade animal ou vegetal pode ser explicada de diferentes formas. Uma delas é a de que numa comunidade onde a quantidade de recursos não varia, a riqueza de espécies pode aumentar quando as espécies diminuem a largura de seu nicho. Diminuir a largura do nicho significa que a espécie se tornou mais especialista, ou seja, que a mesma utiliza recursos mais específicos, evitando uma sobreposição de nichos com outras espécies. As espécies com nichos mais largos tendem a ter uma distribuição mais ampla, se comparadas as mais especialistas e com uma largura de nicho menor (Ricklefs, 1979). O objetivo deste trabalho foi o de relacionar a riqueza de espécies arbóreas em uma área de cerrado com a largura do nicho das mesmas. Espera-se que quanto maior a riqueza de espécies, menor a largura do nicho. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado em Agosto de 2004, em uma área de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) – GO. A área amostrada apresentava um gradiente de umidade, profundidade do solo, disponibilidade de nutrientes e altitude. Ao longo deste gradiente, e distantes 50 m entre si, foram marcadas cinco parcelas de 2 m de largura e 50 m de comprimento. Cada uma delas foi dividida em dez subparcelas de 10 m2 (5x2 m). Em cada parcela foi feito um levantamento das freqüências de

espécies arbóreas com diâmetro do caule superior a 5 cm a 30 cm do solo. As espécies amostradas foram identificadas e posteriormente, foi determinada a riqueza e a largura do nicho das mesmas. A largura foi calculada através do índice de Levin’s, com o programa Ecological Methodology. Este índice representa a uniformidade da distribuição dos indivíduos, sendo um para espécies distribuídas uniformemente e zero para uma distribuição não uniforme. Nos casos em que a espécie foi amostrada uma única vez o valor do índice foi considerado igual a zero. Para o cálculo foi aplicado um fator de correção multiplicando todos os valores de freqüência por 10 devido ao baixo número de indivíduos presentes em cada parcela. Foi realizada uma correlação de Pearson entre a riqueza de espécies e a largura do nicho. RESULTADOS No presente trabalho foram amostradas um total de 55 espécies arbóreas. De todas as espécies, Qualea grandiflora apresentou a maior freqüência de indivíduos seguida por Kielmeyera coriacea e Miconia albicans que apresentaram 8 e 6 indivíduos, respectivamente. Além disso, as últimas dois espécies foram as que ocorreram em um maior número de parcelas (quatro) seguidas de outras sete espécies que ocorreram em 3 das 5 parcelas (Tabela 1). A largura média do nicho foi menor nas parcelas número um e cinco, que apresentaram o menor e maior numero de espécies respectivamente, quando comparadas às demais parcelas (Tabela 2). A correlação de Pearson entre a riqueza de

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espécies e a largura do nicho não foi significativa (p=0.1549; R2=0.54; r=0.737). DISCUSSÃO A hipótese inicial, de que o número de espécies aumentaria com a diminuição da largura do nicho, não foi corroborada. A região tropical apresenta um padrão onde há grande freqüência de poucas espécies e baixa freqüência de muitas espécies raras (Krebs, 1994), este padrão foi observado no presente trabalho em que grande parte das espécies apresentou apenas poucos indivíduos. Devido a isto, a amostragem não foi suficiente para o cálculo da largura de nicho neste estudo, e deve aumentar para que se possa incluir um maior número de indivíduos por espécie. Outra alternativa seria diminuir o diâmetro mínimo considerado para incluir os indivíduos menores. O gradiente de recursos do ambiente se refletiu em mudanças gradativas na

composição das espécies. Três categorias de ambientes podem ser determinadas: próximo à mata (Parcela 1); encosta (Parcelas 2, 3 e 4) e cerrado do topo (Parcela 5). A maior largura média de nicho observada nas parcelas intermediarias de encosta pode ser justificada pela capacidade destas espécies em utilizar os recursos das duas extremidades do gradiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ricklefs, R. E. 1979. Ecology. Chiron

Press, New York. Second Edition. 966p. Krebs, C.J. 1994. Ecology: The

experimental analysis of distribution and abundance. Harper Collins, New York. Fourth edition. 801p.

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Tabela 1- Freqüência por parcela e largura do nicho das espécies arbóreas amostradas no PESCAN no de 2004.

Freqüência de espécies por parcela Espécies 1 2 3 4 5

Total de indivíduos

Largura do nicho (Levin's)

Aegiphylla lhotzkiana 1 1 0 Alibertia edulis 1 1 0 Annona coriacea 1 1 0 Aspidosperma macrocarpa 1 1 1 3 1 Bowdichia virgilioides 1 1 1 3 1 Byrsonima coccolobifolia 2 1 1 4 0.833 Byrsonima crassa 2 1 3 0.8 Byrsonima verbascifolia 1 1 2 1 Cadiopetam calophyllum 1 1 0 Caryocar brasiliense 2 2 4 1 Casearia sylvestris 1 1 0 Connarus suberosus 1 1 0 Curatella americana 1 1 2 1 Davilla eliptica 1 1 0 Didymopanax vinosum 1 1 0 Dimorphandra mollis 1 3 1 5 0.636 Eremanthus glomerolatus 1 1 0 Erythroxyllum campestre 1 1 0 Erythroxyllum suberosum 2 1 3 0.8 Erythroxyllum tortuosum 1 2 3 0.8 Harpalice brasiliana 3 3 0 Hymenea stigonocarpa 3 1 4 0.6 Hyptidendron canum 1 1 0 Indeterminada 1 1 1 2 0.8 Indeterminada 2 1 1 0 Indeterminada 3 1 1 0 Indeterminada 4 1 1 1 3 1.00 Indeterminada 5 1 1 0 Indeterminada 6 1 1 0 Indeterminada 7 1 1 0 Indeterminada 8 1 1 0 Kielmeyera coriacea 1 2 3 2 8 0.85 Machaerium apacum 1 1 0.00 Miconia albicans 2 2 1 1 6 0.87 Miconia ferruginata 2 1 1 4 0.83 Myrcia rostrata 1 1 0.00 Myrcia variabilis 1 1 0 Ouratea hexasperma 1 1 0 Palicourea rigida 1 1 2 0.8 Piptocarpha rotundifolia 1 1 0 Pouteria ramiflora 3 3 0 Protium heptaphyllum 1 1 0 Pterodon pubescens 2 2 0 Qualea grandiflora 3 5 3 11 0.907 Qualea multiflora 2 2 0 Qualea parviflora 1 2 3 0.8 Rourea inducta 1 1 0 Salvertia convalariodora 1 1 0 Sclerolobium paniculatum 2 2 4 1

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Stryphnodendrom adstringens 1 1 0 Stryphnodendron poliphyllum 2 2 4 1 Styrax ferruginea 1 1 0 Vataireia sp. 1 1 0 Weilgeltia sp. 1 1 0 Xylopia aromatica 1 1 0

Tabela 2- Largura média do nicho e número de espécies, amostradas no PESCAN em agosto de 2004.

Parcelas 1 2 3 4 5 Largura média do Nicho

0.359

0.629

0.680

0.554

0.525

Total de espécies

10

19

19

17

22

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Atividade e composição de espécies de formigas (Formicidae) em um

cerrado sensu stricto : efeito do período do dia

Fabíola Ferreira Oliveira; Kena Ferrari da Silva; Mariana I. Saraceno; Sílvia Leitao Dutre,

Orientação: Dra. Ivone Rezende Diniz. Introdução Os macrodetritívoros são um componente essencial na ciclagem de nutrientes dos ecossistemas. A família Formicidae (Hymenoptera) é uma das mais importantes neste processo devido á sua abundância e riqueza nos diferentes ambientes (Borror, 1969). Dentro desta família, numerosas espécies ocorrem em forma exclusiva durante diferentes períodos do dia. A temperatura da superfície do solo foi apontada como um dos fatores principais que regulam a atividade de forrageadores (Hunt, 1974) sendo que diferenças nos horários preferidos de forrageamento possibilitam a coexistência das diferentes espécies de formigas (Moutinho, 1991). Uma técnica de amostragem que vem sendo freqüentemente utilizada para estimar a riqueza de formigas detritívoras de uma localidade é o registro das freqüências relativas das espécies atraídas por iscas (Benson & Brandão 1987; Silvestre, 1995 apud Brandão 2000). A mesma técnica vem sendo utilizada no estudo de parâmetros que afetam a estrutura das comunidades das formigas. Diferenças nos hábitos comportamentais das diferentes espécies frente às fontes alimentares, necessitam de uma rápida amostragem no campo para minimizar a ocorrência de interações entre formigas mais agressivas com as subordinadas, muitas vezes com a exclusão das últimas. Porém, Brandão (2000) verificou que se o número de amostras é suficientemente grande e se há aleatoriedade na distribuição das iscas, o efeito da dominância de uma espécie não influencia nos levantamentos.

A freqüência de registros é um indicador da probabilidade de encontrarmos uma colônia e independe da agressividade e densidade de forrageadores, mas da distribuição e freqüência relativa das espécies no habitat (Brandão, 2000). O objetivo de nosso trabalho foi verificar diferenças na atividade de forrageamento e a composição de espécies em dois períodos do dia: noturno e diurno em um cerrado sensu stricto no PESCAN. A hipótese do estudo é de que a noite a atividade das formigas, será maior do que durante o dia para evitar predação e condições climáticas desfavoráveis. Materias e Métodos O estudo foi desenvolvido em uma área de cerrado sensu stricto. do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), durante o dia 9 de agosto de 2004. O método de amostragem utilizado consistiu em 8 transectos de 40 m de comprimento espaçados 20 m. Esta distância e considerada a distancia media de forrageamento de formigas de cada ninho. Em cada transecto foram colocadas iscas no solo a cada 8 metros para cada período (n=48). As iscas foram elaboradas com sardinha homogeneizada com água e dispostas em pedaços de papel toalha dobrados. O tempo médio de exposição das iscas foi entre 40-60 minutos, sendo logo retiradas e colocadas em sacos plásticos para posterior triagem e observação do número de espécies de formigas. No laboratório foi colocado em cada saco plástico um pedaço de algodão com acetato de etila. A triagem consistiu em separar as formigas em espécies para comparar todas as amostras do dia e da noite. Os dados

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foram tabelados com todas as espécies e as suas freqüências determinadas para os dois períodos do experimento. Foi considerado como indicativo da atividade a presença da espécie de formiga em cada ponto. Como análise estatística utilizou-se o teste Qui-quadrado através do programa Bioestat 2.0. Além disso, calculou-se o coeficiente de similaridade de Sφrensen para verificar a similaridade da composição de espécies durante os dois períodos amostrados. Resultados Do total dos 95 pontos amostrados no trabalho foram encontradas um total de 27 espécies de formigas, pertencentes a quatro subfamílias (Tabela 1). Outras ordens presentes nas íscas e não consideradas no presente estudo foram: Hemiptera, Blattaria, Isoptera e Orthoptera. Houve maior atividade de formigas durante o período noturno, encontrando-se nove pontos sem presença de formigas durante o dia e um único ponto durante a noite (p<0.05). A riqueza das espécies coletadas foram semelhantes para ambos períodos do dia (Tabela 2), mas a composição das mesmas foi diferente observado pelo baixo coeficiente de similaridade de Sφrensen (0,312); sendo que somente cinco espécies ocorreram tanto no dia quanto na noite. No período diurno, três espécies pertencentes ao gênero Pheidole (Myrmicinae) foram as mais comuns, enquanto à noite as íscas tiveram a predominância de Camponotus rengeri (Formicinae). Esta última espécie teve uma atividade acima de 50% maior do que aquela mais observada no período diurno. Discussão A atividade das formigas foi significativamente maior durante a noite se comparada à atividade diurna, o que corrobora a hipótese inicial proposta. Porém, este resultado contradiz outros estudos como, por exemplo, o de Andersen (1986) e o de Hölldobler (1987), onde se

encontrou uma alta sobreposição dos períodos de atividade de formigas. No Cerrado, observou-se que a superposição da atividade das formigas durante ambos períodos aumentou durante a estação úmida (Helena C. Morais, comunicação pessoal). No entanto, nosso resultado pode estar influenciado não somente pela época do ano, mas também por características da espécie mais abundante durante a noite. Camponotus rengeri é uma espécie de grande tamanho e que apresenta uma ampla área de forrageamento e por isso, aumenta o número de pontos visitados em nosso estudo. Outros fatores que podem influenciar a presença de uma espécie de formiga na isca pode ser a distância da fonte ao ninho, o tamanho da colônia, a estratégia de forrageamento, o local, a época e período de atividade preferenciais e, principalmente, a atratividade do alimento. A riqueza foi semelhante em ambos períodos do dia, porém, a composição de espécies foi diferente. Isto pode refletir adaptações das espécies para evitar competição, predação ou condições ambientais desfavoráveis. Agradecimentos À Helena C. Morais pela identificação das espécies de formigas. Referências Bibliográficas Andersen, AN. 1986. Patterns of ant

communities organization in mesic southeastern Australia. Australian Journal of Ecology 3: 87-97.

Borror, D.J. & DeLong, D. M. (1969) Estudos dos insetos. Ed. Edgard Blüncher. 653p.

Brandão, C.R.; Silvestre, R. & Reis- Menezes, A. (2000). Influência das interações comportamentais entre espécies de formigas em levantamentos faunísticos em comunidades de cerrado. In: Martins, r. P., Lewinsohn, T. M. &

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Barbeitos, M. S. (eds). Ecologia e comportamento de insetos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. VIII. PPGE-UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. Pg. 371-404. (eds)., p. 593-594.

Hunt, J. H. 1974. Temporal activity patterns in two competing ant species (Hymenoptera: Formicidae). Psyche 8(2): 237-242.

Moutinho, P.R.S. (1991) A relação entre clima e a composicão e a diversidade de fauna locais de formigas do gênero de formigas Pheidole Westwood (Hymenoptera Formicidade) em áreas florestadas. Campinas, SP, UNICAMP. 97 p. Dissertação de Mestrado.

Hölldobler, B. 1987. Communication and competition in ant communities. In: S. Kawano, J.H, Connel & T. Hidaka (eds), Evolution and coadaption in biotic communities. Tokyo University Press, p. 95- 124.

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Tabela 1: Espécies de formigas encontradas e suas freqüências absolutas em cada ísca. Subfamílias Espécie Dia Noite Total de

pontos com formigas

Dolichoderinae Conomyrma sp.1 2 0 2 Formicinae Componotus rengeri 0 24 24 Componotus sp.1 2 0 2 Componotus sp.2 1 0 1 Componotus sp.3 1 0 1 Componotus sp.4 1 1 2 Componotus sp.5 4 0 4 Componotus sp.6 4 0 4 Componotus sp.7 2 0 2 Componotus sp.8 2 0 2 Componotus sp.9 1 0 1 Componotus sp.10 1 4 5 Componotus sp.11 0 6 6 Componotus sp.12 0 4 4 Componotus sp.13 0 1 1 Componotus sp.14 0 2 2 Componotus sp.15 0 1 1 Myrmicinae Pheidole sp.1 10 8 18 Pheidole sp.2 6 5 11 Pheidole sp.3 8 13 21 Pheidole sp.4 0 3 3 Pheidole sp.5 0 8 8 Ponerinae Ectatomma sp.1 5 0 5 Ectatomma sp.2 1 0 1 Ponerinae Odontomachus sp.1 1 0 1 Odontomachus sp.2 0 1 1 Ponerinae Pachycondyla sp.1 0 1 1 Tabela 2. Número de iscas total amostradas, número total de iscas não visitadas, número total de espécies de formigas e de espécies exclusivas de cada período do dia. Dia Noite Número de iscas 47 48 Número de iscas não visitados

9 1

Número de espécies 17 15 Número de espécies exclusivas

12 10

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Influência da cobertura arbórea na composição da biomassa do estrato

herbáceo em cerrado no PESCAN – GO

Fabíola Ferreira Oliveira, Kena Ferrari Moreira da Silva, Mariana Inês Saraceno, Maurício Bonesso Sampaio, Silvia Leitão Dutra

Orientado por: Jair Max Furtunato Maia

INTRODUÇÃO As variáveis fisico-químicas do solo são determinantes na distribuição de organismos e estes, por sua vez, podem modificar o microclima deste ambiente facilitando ou impedindo a permanência de outros indivíduos. A água, isolada ou em conjunto com a temperatura, é provavelmente o fator físico mais importante que afeta a ecologia dos organismos terrestres. Além disso, a umidade do ar é importante no controle da perda de água através da transpiração. Temperatura e umidade podem atuar em qualquer estágio do ciclo de vida e podem limitar a distribuição das espécies através dos efeitos nos seguintes fatores: sobrevivência, reprodução, desenvolvimento de organismos jovens e interações com outros organismos próximos ao limite de tolerância como competição (Krebs, 1994). Outro fator relevante para as plantas é a luz, pois é fundamental ao processo de fotossíntese. As plantas podem ser divididas em dois grupos: espécies tolerantes e não tolerantes ao sombreamento. As espécies tolerantes apresentam um conjunto de estratégias que podem variar com a idade da planta, microclima e área geográfica. Adaptações de um organismo a um determinado habitat podem dificultar o seu estabelecimento em outros habitats diferentes. Microclimas criados em ambientes aparentemente homogêneos revelam que a uma menor escala, exemplos como o sombreamento das árvores podem gerar diferenças na temperatura e umidade relativa do ar, o que pode afetar a composição de espécies que

conseguem se adaptar às novas condições ambientais. O estudo teve como objetivo avaliar o efeito da cobertura do estrato arbóreo na composição da biomassa em um cerrado. Para isso, foi testada a hipótese de que em áreas cobertas a umidade do ar e a biomassa do estrato herbáceo (não tolerante a sombra) seriam menores que em áreas sem cobertura arbórea. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado em agosto de 2004 em um cerrado sensu stricto no platô do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) – GO. Foram marcados seis transectos distantes 10 m com seis pontos em cada, espaçados 10 m (Figura 1). A umidade relativa do ar foi medida com um psicrômetro na altura do estrato herbáceo em todos os pontos dos transectos dois e cinco. A umidade foi estimada a partir da diferença de temperatura entre o bulbo seco e úmido (Brower et al., 1989). A cobertura arbórea foi estimada a uma altura de 1,3 m, com auxílio de um densiômetro esférico. O mesmo consiste em um espelho côncavo com um “grid” de quadrados marcados, que reflete a imagem do dossel. A partir do número de quadrados ocupados por folhas, se estimou a cobertura arbórea. Em cada ponto dos transectos de um a quatro foram repetidas as medições nos quatro pontos cardeais, obtendo-se uma média por ponto. A coleta de biomassa foi realizada próxima à intercessão entre os transectos de um a quatro com os pontos de dois a cinco. Para o cálculo de biomassa foi coletado todo o

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estrato herbáceo, dividido em capim (gramíneas vivas e secas) e outros componentes (folhas, ramos, flores, sementes e frutos), em uma área de 50x50 cm utilizando-se um quadrado de PVC. As amostras de cada ponto foram numeradas e levadas ao laboratório para triagem e pesagem da biomassa. Os componentes úmidos e secos foram unidos pois as amostras não puderam ser secas em estufa. Se isso não tivesse sido feito, poderia ter havido uma maior influência da biomassa viva do que a seca para o cálculo da biomassa média por ponto.

DISCUSSÃO A pequena variação nos valores de umidade relativa do ar entre pontos pode ter sido observada devido as medidas terem sido realizadas no início da manhã, minimizando o efeito da radiação solar, que pode aumentar a discrepância entre pontos. Por outro lado, a área tinha poucas árvores, permitindo que correntes de ar pudessem homogeneizar a umidade entre diferentes pontos. Observou-se neste trabalho que em pontos onde a cobertura arborea é menor, a biomasa de capim é maior, enquanto que a biomassa de outros componentes é menor. Isso pode ter ocorrido pois o estrato arbóreo compete por nutrientes e diminui a luminosidade, temperatura e umidade do estrato inferior, dificultando o estabelecimento dos indivíduos heliófilos nesse último. Outros processos de exclusão podem também ser importantes como a alelopatia, que impede o estabelecimento de plântulas de outras espécies pela liberação de substâncias químicas como fitormônios. A relação inversa entre a biomassa de capim e a dos demais componentes pode também ser explicada pela fenologia das espécies arbóreas. Em alguns pontos, as árvores podem ter perdido as folhas, já que as mesmas correspondem à 81% da biomassa total dos demais componentes refletindo uma cobertura arbórea menor.

RESULTADOS A umidade relativa do ar teve uma média de 52% , variando entre 44 e 58% para os pontos medidos (Figura 2). Mas as diferenças detectadas não foram suficientes para se encontrar uma relação com a composição da biomassa. A biomassa média de capim foi de 560,6 g/m2, com mínimo de 149,2 g/m2 e máximo de 920 g/m2 (Figura 3). Os demais componentes tiveram biomassa média de 187,3 g/m2

, sendo o mínimo de 3,6 g/m2 e o máximo de 880 g/m2 (Figura 4). A proporção de capim na biomassa foi maior que os demais componentes (Figura 6). A cobertura arbórea teve média de 1,34 e variou de 0 a 8,58% (Figura 5). No ponto (4; 4) houve elevada biomassa de capim (Figura 3) e baixa cobertura arbórea (Figura 5), a situação contrária ocorreu para o ponto (4; 5). De todos os pontos do transecto, dois tiveram alta biomassa de capim e baixa cobertura arbórea. Em geral, nas áreas de maior biomassa de capim, a biomassa de outros componentes foi menor, com exceção do ponto (2; 3).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brower, J. E., J. H. Zar & C. N. von Ende.

1990. Field and laboratory methods for general ecology. 3ª. ed. Wm. C. Brown Publishers. Dubuque.

Krebs,C.J.(1994).Ecology : The

Experimental Analysis of Distribution and Abundance. Fourth ed. Harper Collins, New York

.

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Figura 1 – Desenho esquemático da distribuição dos pontos em transectos marcados em um cerrado no PESCAN.

Figura 2 – Variação do teor de umidade (diâmetro dos círculos) entre pontos amostrados em um cerrado no PESCAN (média=52%; max.=58% e min.=44%).

Figura 3 – Variação da quantidade de biomassa (diâmetro dos círculos) de capim entre pontos amostrados em um cerrado no PESCAN (média=560,64g/m2; max.=920 g/m2 e min.=149,2 g/m2).

1 2 3 4 5 6 1

2

3

4

6

5

0

1

2

3

4

5

6

7

0 1 2 3 4 5 6 7

Transecto

Pont

os

01234567

0 1 2 3 4 5 6 7

Transectos

Pont

os

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01234567

0 1 2 3 4 5 6 7Transectos

Pont

os

Figura 4 – Variação da quantidade de biomassa (diâmetro dos círculos) de outros componentes entre pontos amostrados para um cerrado no PESCAN (média=187,3 g/m2; max.=880 g/m2 e min. =3,6 g/m2).

01234567

0 1 2 3 4 5 6 7

Transectos

Pont

os

Figura 5 – Variação da cobertura arbórea (diâmetro dos círculos) entre pontos amostrados em um cerrado no PESCAN (média=1,34%; max.=8,58% e min.=0%).

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0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Capim seco

Capim vivo

Folhas e ramos verdes

Folhas e ramos secos

OutrosC

ompo

nent

es d

a bi

omas

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Proporção

Figura 6 – Proporção dos componentes da biomassa para um cerrado no PESCAN.

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O número de nectários extraflorais em barbatimão é dependente da época

da produção da folha?

Fabíola Ferreira Oliveira, Kena Ferrari Moreira da Silva, Mariana Inês Saraceno, Maurício Bonesso Sampaio, Silvia Leitão Dutra

Orientados por: Helena C. Morais

INTRODUCÃO Os nectários extraflorais (NEFs) são glândulas produtoras de néctar nas quais a polinização não está envolvida. Estudos têm mostrado que a função ecológica dos NEFs é a atracão de predadores e parasitóides (formigas, vespas e microhimenópteros), que protegem as plantas contra os herbívoros) (Del Claro et al. 1996). No Cerrado, as formigas são os principais visitantes dos NEFs e 25% das espécies arbóreas deste bioma têm essas glândulas (Oliveira & Leitão-Filho, 1987). Provavelmente, a eficiência da defesa varia com a quantidade de néctar produzido pelos NEFs e pelo número dessas estruturas, que podem aumentar em resposta à herbivoria, sendo essa defesa do tipo induzida (Rogers et al., 2003). Algumas espécies podem ter um aumento do número de nectários em função da posição no ramo, aqueles da base têm menor quantidade de nectários que os do ápice, isso parece estar relacionado a um investimento diferencial da planta em defesa contra herbívoros (Paiva et al. 2001). Apesar disso, a variação do número de NEFs com a sazonalidade é pouco conhecido. O objetivo do presente trabalho foi testar se o número de NEFs em folhas de barbatimão (Stryphnodendron goyazense) é restringido pela estação seca no cerrado. Seria esperado que as folhas produzidas durante a estação seca tivessem um menor número de NEFs do que aquelas produzidas durante o período chuvoso. MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em agosto de 2004 em um cerrado sentido restrito, próximo à “Trilha do Paredão” no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – PESCAN. Foram coletadas folhas de quatro diferentes classes de idade: (1) Folhas jovens em expansão; (2) Jovens expandidas; (3) Maduras; (4) Senescentes. Todas as folhas de uma mesma classe foram coletadas em indivíduos diferentes. As folhas foram levadas ao laboratório, onde foi feita a contagem dos nectários na raque e no raquíolo para cada folha. Somente foram contadas as NEFs em quatro raquíolos por folha, sendo dois na porção central da folha em lados opostos, além de um no ápice e outro na base, também em lados opostos. Foi estimado o número de glândulas por centímetro linear de raque/raquíolo, através da medida da raque de três diferentes folhas e quatro raquíolos por folha. O número total de nectários das raques e dos raquíolos obtidos foram comparados, por análise de variância, entre as diferentes classes de idade. Foi utilizado um teste de comparação de médias para avaliar a diferenças do número de NEFs são entre dois grupos de classes de idade (folhas velhas e folhas novas). RESULTADOS O número de nectários extraflorais foi semelhante entre as quatro classes de idade considerando somente a raque ou raquíola (Figura 1). Sendo que, as raquíolas tiveram maior concentração de NEFs (0,29/cm) que a raque (0,10). O número médio de NEFs somando raque e raquíola (Figura 2), não diferiram significativamente

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entre as quatro classes de idade das folhas (Kruskal Wallis χ2=4,9; gl.=3; p=0,18). Foram reunidas as classes de folhas um e dois, e três e quatro, pois representaram respectivamente folhas jovens que foram produzidas recentemente, e folhas maduras da estação chuvosa do ano anterior. Além disso, as classes dois e três diferiram significativamente (t=-2,17; gl=56; p=0,03) (Figura 3). O número de NEFs entre folhas novas (classes 1 e 2) e folhas velhas (classes 3 e 4), diferiram significativamente (t=-2,16; gl=111; p=0,03). DISCUSSÃO A concentração de NEFs foi maior nas raquíolas. Este resultado pode ter ocorrido, pois as raquíolas estão mais próximas dos foliólulos, o que pode aumentar a defesa nestas áreas de alta susceptibilidade a herbívoros e de elevada importância para a manutenção da atividade fotossintética. A diferença encontrada no número médio de NEFs entre folhas jovens e velhas pode ser um efeito da sazonalidade de chuvas que ocorrem no cerrado. A estação seca pode limitar o número de NEFs bem como a quantidade de néctar produzido. Além disso, ocorre menor pressão de herbivoria nesta estação, o que se reflete em

nossos resultados por tratar-se de um tipo de defesa induzida. Desta forma, o período de produção de folhas em relação à sazonalidade deveria ser considerado como um fator importante na determinação do número de NEFs presentes nas plantas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Del Claro, K.; Berto, V.; Réu, W. 1996.

Effects of herbivore deterrence by ants on the fruit set of an extrafloral nectary plant, Qualea multiflora (Vochysiaceae). Journal of Tropical Ecology, 12:887-892.

Oliveira, P. S. & Leitão-Filho, H. F. 1987. Extrafloral nectaries: their taxonomic distribution and abundance wood flora of cerrado vegetation in Southeast Brazil. Biotropica, 19:140-148.

Paiva, E. A. S.; Machado, S. R. & Pinho, S. Z. 2003. Distribuição de nectários extra florais em folhas e ramos de Hymenaea stigonocarpa (Fabaceae Caesalpinioideae). Resumos do 54° Congresso Brasileiro de Botânica, PA.

Rogers, W.E., Siemann, E. & Lankan, R.A. 2003. Damage induced prodution of extra-floral nectaries in native and invasive seedlings of Chinese Tallow Tree (Sapium sebiferum). American Midland Naturalist, 149: 314-317.

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1

2

3

4

5

6

1 2 3 4

Classes de idade das folhas

Núm

ero

méd

io d

e N

EF Raque

Raquiola

Figura 1: Número médio (± erro padrão) de NEFs, presentes na raque e raquíola de folhas classificadas por idade de Stryphnodendron goyazense, em área de cerrado sentido restrito no PESCAN – GO. (1= folhas jovens em expansão, 2= folhas jovens já expandidas; 3= folhas maduras e 4= folhas senescentes).

6

7

8

9

1 2 3 4Classes de idade das folhas

Núm

ero

méd

io d

e NE

Fs

Figura 2: Número médio (± erro padrão) de NEFs presentes nas folhas classificadas por idade de S. goyazensis, em área de cerrado sentido restrito no PESCAN – GO (Kruskal-Wallis, χ2=4,9; gl=3; p=0,18).

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5

6

7

8

9

1 e 2 3 e 4

Classes de idade das folhas

Núm

ero

méd

io d

e N

EFs

Figura 3: Número médio de NEFs presentes nas folhas classificadas por idade de S. goyazensis, em área de cerrado sentido restrito no PESCAN – GO (t= -2,16; gl=111; p=0,03).

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Sementes abortadas e danificadas e sua posição no fruto de barbatimão (Stryphnodendron goyazensis, Leguminosae).

Benedito A. S. Pereira, Isabel C. S. Figueiredo, Mônica Aragona, Natália M. Tôrres e Sirlene

A. Felisberto

Orientadora: Helena C. Morais Introdução Mesmo quando a polinização é maximizada, muitas espécies vegetais produzem menos frutos do que flores. Isto também ocorre com os óvulos, que nem sempre se transformam todos em sementes (Fenner, 1985). Esta interrupção no desenvolvimento das sementes, ou aborto, parece ser um mecanismo que permite à planta parental regular o seu esforço reprodutivo de acordo com a disponibilidade de recursos (Fenner, 1985).

Possivelmente, existe alguma forma se seleção na determinação de quais óvulos serão abortados ou favorecidos. As primeiras flores a serem polinizadas têm maiores chances de formar frutos maduros. Uma vez que os óvulos estão fertilizados, este fruto provavelmente domina seus vizinhos ao atuar como um sumidouro de nutrientes. O aborto ainda pode ser usado pela planta parental para eliminar frutos defeituosos como aqueles que sofreram auto-fertilização, foram danificados por patógenos ou predadores (Fenner, 1985).

De acordo com estudos prévios, sabe-se que o aborto de sementes não se apresenta de maneira aleatória e que geralmente está associado à posição que as sementes estão ocupando dentro do fruto (Bawa & Webb, 1984; Rocha & Stephenson, 1991). Este padrão tem sido observado em numerosas espécies de leguminosas (Nakamura, 1989; Bawa & Buckley in Lee, 1988; Villalobos & Bianchi, 2000).

O gênero Stryphnodendron (Leguminosae, Caesalpinioideae) possui cerca de 16 espécies no Brasil, 11 das quais são citadas para o bioma Cerrado (Mendonça et al., 1998). O gênero está

representado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas por duas espécies: Stryphnodendron adstringens e Stryphnodendron goyazensis, que são conhecidas pelo nome popular de barbatimão.

S. goyazensis é uma árvore heliófila, pequena (com no máximo 5 m de altura e cerca de 15 cm de diâmetro próximo à base), que ocorre tanto no cerrado em latossolo quanto em solos litólicos do PESCAN, sendo abundante em quase todos os locais. As suas flores são alvas ou creme-amareladas, pequenas, perfumadas e ocorrem em inflorescências espiceformes, bem visíveis na copa. O seu fruto é uma vagem seca, indeiscente, curva ou alongada, negricente quando madura, com 5-10 cm de comprimento e 6-12 sementes de coloração marrom, com 0,5 x 1,0 cm (Barroso et al., 1999). A sua maturação ocorre entre agosto e setembro e a sua dispersão é barocórica.

Os objetivos deste trabalho foram a) verificar se há relação entre o aborto de sementes e a sua posição no fruto de S. goyazensis e b) verificar a existência de relação entre sementes danificadas e sua posição no fruto. As hipóteses testadas foram: H1: Não há diferença no número de sementes abortadas nas diferentes porções do fruto. H2: Não há diferença no número de sementes danificadas nas diferentes porções do fruto. Material e Métodos Este estudo foi realizado em uma área de cerrado sensu stricto que se situa ao longo da Trilha do Paredão, no Parque Estadual

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da Serra de Caldas Novas (PESCAN), onde o solo é classificado como latossolo vermelho-amarelo e o relevo é plano.

Os frutos coletados nas árvores e as vagens se encontravam em diferentes estágios de maturação. Em laboratório, apenas os frutos que não estavam danificados (faltando porções) foram abertos e tiveram as suas sementes contadas e separadas em três categorias. As sementes consideradas “viáveis” foram aquelas bem desenvolvidas e sem vestígio de predação. A categoria “abortada” incluiu as sementes que não se desenvolveram. As sementes “danificadas” foram aquelas predadas ou atacadas por patógenos. Além de anotar a categoria da semente, também foi anotada a sua posição na vagem. Para a divisão dos frutos nas porções basal, mediana e apical, o número de lóculos de cada vagem foi contado e este número foi dividido por três. Se o número de lóculos fosse múltiplo de três, cada parte do fruto teve o mesmo número de lóculos. Se o número de lóculos não fosse múltiplo de três, utilizou-se a seguinte divisão: quando apenas um lóculo foi contado, ele foi considerado como parte da porção mediana do fruto; quando dois lóculos foram contados, eles foram incluídos às partes basal e apical da vagens.

Para testar se o número de sementes abortadas se distribuía igualmente entre as diferentes porções do fruto, as categorias “danificada” e “viáveis” foram agrupadas e foi realizado um teste de Qui-quadrado (χ2). Este teste também foi utilizado para testar se o número de sementes danificadas se distribuía igualmente entre as três porções do fruto. Resultados Foi coletado um total de 139 frutos em 20 indivíduos de S. goyazensis medindo entre 2 e 4 metros de altura aproximadamente. O mínimo de frutos coletados por indivíduo foi quatro e o máximo foi dez. Os 139 frutos de barbatimão analisados apresentaram uma média de 9,39 lóculos (±2,93), variando de 1 a 15.

Dentre as sementes analisadas, 387 (28,9%) foram consideradas como abortadas, 422 (31,5%) danificadas, e 532 (39,5%) como sementes viáveis (Tabela I).

É significativamente maior a quantidade de sementes abortadas no ápice (χ2 = 53,754, p < 0,05). Não houve diferença significativa entre a predação e a porção do fruto ocupada (χ2 = 0,631, p > 0,05). Portanto, rejeita-se H1, ou seja existe diferença no número de sementes abortadas nas diferentes porções do fruto e aceita –se H2, não existe diferença no número de sementes danificadas nas diferentes porções do fruto. Discussão A maior a quantidade de sementes abortadas na porção do ápice de S. goyazensis, constatada neste trabalho, provavelmente pode estar relacionada a competição por recursos, considerando que o fluxo de condução dos vasos é unidirecional e com isso a porção basal estaria alocando maiores concentrações destes nutrientes. Além disso, outro fator importante que pode estar influenciando no aborto dessas sementes é qualidade do pólen que chega até esta porção do ápice. Este resultado corrobora estudos anteriores realizados com abortos de sementes em leguminosas (Villalobos & Bianchi, 2000).

A variação quanto as sementes danificadas de S. goyazensis em relação à porção do fruto pode estar relacionada à predação da semente por diversos tipos de organismos, desde larvas de lepidópteros de diferentes espécies a insetos sugadores. Referências Bibliográficas Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto,

A.L.; Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa: Editora UFV. 441p.

Bawa, K.S. & Webb, C.J. 1984. Flower, fruit and seed abortion in tropical forest trees: implications for the evolution of paternal and maternal reproductive patterns. Amer. J. Bot. 7: 736-751.

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Fenner, M. 1985. Seed ecology. London: Chapman and Hall. 151p.

Nakamura, R. 1989. Seed abortion and seed size variation within fruits of Phaseolus vulgaris: pollen donor and resource limitation effects. Amer. J. Bot. 75:1003-1010.

Lee, T.D. 1988. Patterns of fruit and seed production. In: J. Lovett Doust & L. Lovett Doust (eds.) Plant reproductive ecology: Patterns and strategies. Oxford University, Oxford.

Rocha, O. & Stephenson, A. G. 1991. Effects of nonrandom seed abortion on progeny performace in Phaseolus coccineus L. Evolution 45:1198-1208.

Mendonça, R.C.; Felfili, J.M., Walter, B.M.T.; Silva Júnior, M.C. da; Rezende, A.V.; Filgueiras, T.S.; Nogueira, P.E. 1998. Flora vascular do Cerrado. In: S.M. Sano, & , S.P. Almeida (eds.) Cerrado ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC. P. 289-552.

Villalobos, F. & Bianchi, G. 2000 Abortos de semillas de Enterolobium cyclocarpum (Mimosoideae): efecto de la posición relativa dentro do fruto. Revista de Biologia Tropical, 48(2-3): -?-.

Tabela I: Disposição nos frutos das sementes abortadas e não abortadas.

Base Meio Ápice Abortadas 87 (19,5%) 105 (23,2%) 195 (44%) Não abortadas 359 (80,5%) 347 (76,8) 248 (56%) Total 446 452 443

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Influência dos cupinzeiros de Cornitermes cumulans (Termitidae) na composição de espécies e biomassa da vegetação rasteira no Parque Estadual da

Serra de Caldas Novas-GO.

Benedito A. S. Pereira, Isabel C. S. Figueiredo, Mônica Aragona, Sirlene A. Felisberto

Orientador: Divino Brandão Introdução Os cupins são insetos sociais da ordem Isoptera com cerca de 3.000 espécies distribuídas principalmente pelas regiões tropicais e subtropicais (Brandão, com. pess.). Esses insetos são herbívoros, sendo que cada espécie se alimenta de um tipo de material de origem vegetal (Garnier-Sillam & Harry, 1995). Eles vivem em colônias (cupinzeiros ou termiteiros), construídas na superfície do terreno ou em árvores, utilizando solo, saliva e (ou) fezes.

Os cupins desempenham um importante papel nos ecossistemas, participando do processo de ciclagem de nutrientes e modificando as características físicas e químicas do solo (Constantino, 1999). Estudos feitos por Badawi et al. (1982) na Arábia Saudita, indicaram que o solo ao redor dos termiteiros mostram-se mais ricos em matéria orgânica e elementos minerais do que o solo situado mais distantes destes. Estudos realizados em florestas do Congo demonstraram que algumas espécies de cupins fazem uma escolha nutricional que resulta em uma alta taxa de matéria orgânica e de nutrientes das suas fezes e também nas paredes dos cupinzeiros (Garnier-Sillam & Harry, 1995). Apesar de terem sido realizados estudos sobre as modificações ocorridas no solo ao redor dos cupinzeiros, ainda são escassos os estudos que relacionam essas mudanças edáficas com a vegetação. Cornitermes cumulans é um cupim que constrói colônias sobre a superfície do solo e se alimenta basicamente de serapilheira (Brandão, com. pess.). Esse cupim é bastante freqüente no cerrado do topo do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), onde constróem montes de

formato piramidal e coloração semelhante a do solo.

Os estudos anteriores sobre cupins nesse Parque não enfocaram nenhum aspecto dessa espécie, e assim, o objetivo deste projeto foi investigar a influência dos cupinzeiros de C. cumulans na composição de espécies e biomassa da vegetação. Materiais e Métodos O estudo foi realizado em uma área de cerrado senso restrito (Ribeiro & Walter, 1998) do platô da Serra de Caldas Novas, no PESCAN. O relevo é plano e o solo do local é um latossolo vermelho-escuro (FEMAGO, s.d.). Os dados foram coletados da seguinte forma: Em parcelas circulares (em forma de “anel”) de 50 cm a partir da base de oito cupinzeiros; Em oito parcelas retangulares de área igual a das parcelas circulares distantes 5 m de qualquer cupinzeiro de C. cumulans.

Em cada uma dessas parcelas, todas as plantas (com exceção das gramíneas) com até 1.0m de altura foram identificadas, contadas e tiveram a sua parte aérea coletada. Esse material foi pesado com auxílio de balanças do tipo Pesola com capacidade para 100, 500 e 1000 g. A influência de C. cumulans avaliada pela composição de espécies e biomassa da vegetação foi verificada através da similaridade, pelo índice de Jaccard e Morisita-Horn, e a diversidade foi medida pelo índice de Simpson.

As espécies mais abundantes em ambas as áreas foram aquelas com mais de 5 indivíduos. Resultados

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O levantamento resultou no registro de um total de 66 espécies de plantas amostradas nas 16 parcelas, num montante de 199 indivíduos. Das 66 espécies, 41 (62,1%) ocorreram nas parcelas ao redor dos cupinzeiros e 43 nas parcelas distantes destes. Deste total, 23 espécies exclusivas as áreas dos cupinzeiros, 25 as outras áreas e 18 espécies (27,2%) espécies foram comuns às duas áreas (Tab. 1). Dos 199 indivíduos amostrados, 110 ocorreram ao redor dos cupinzeiros e 89 indivíduos nas parcelas distantes destes (Tab. 1).

A diferença entre as riquezas encontradas nas duas áreas não foi significativa (x2 = 0,048; p<0,05). Os índices de Jaccard e Morisita-Horn apontam para uma baixa similaridade entre as áreas amostradas (Cj = 0,27; CmH = 0,30). O índice de diversidade de Simpson foi de 11,42 ao redor dos cupinzeiros (D variou de 1 a 41) e de 16,07 nas áreas distantes (D variou de 1 a 43). Os valores de biomassa obtidos foram de 1667 g (208,4 ± 165,7) nas parcelas ao redor dos cupinzeiros e de 1288 (161 ± 204,3) nas outras parcelas.

As espécies mais abundantes na área amostrada foram, principalmente Alibertia elliptica, Andira humilis, Erythroxylum campestre e uma espécie não identificada (Tab. 1 e Fig. 1). As espécies mais abundantes comuns as duas áreas foram Dalechampia caperonioides e Erythroxylum campestre. Alibertia elliptica foi dominante na área dos cupinzeiros, enquanto Andira humilis na área distante dos cupinzeiros (Fig. 1).. Discussão A baixa similaridade e diversidade entre as parcelas ao redor e distantes dos cupinzeiros indica a presença de uma pressão de seleção de espécies vegetais. A maior biomassa observada nas parcelas ao redor do cupinzeiro pode ser

explicada em função, principalmente de um maior teor de matéria orgânica e elementos minerais no solo das áreas adjacentes. Essa maior biomassa sugere que os cupinzeiros funcionam como pequenas “ilhas de fertilidade” no cerrado. A abundância de Alibertia elliptica correspondeu a um agrupamento de indivíduos ao redor de um cupinzeiro, que provavelmente correspondeu a uma deposição de sementes pelo lobo guará no local, considerando que o local apresentava uma vegetação continua. A abundância de Andira humilis, pelo que tudo indica, está relacionada ao fato de se tratar de uma espécie que possui um sistema radicular difuso e superficial, que apresenta freqüentes brotações que parecem como se fossem indivíduos independentes. Agradecimentos Agradecemos ao Professor Divino Brandão pela condução e orientação na realização desse estudo. Referências Bibliográficas Badawi, A.; Faragalla, A. A. & Dabbour,

A. 1982. The Role of Termites in Changing Certain Chemical Characteristics of the Soil. Sociobiology, 7(1): 135-144.

Constantino, R. 1999. Chave ilustrada para identificação de cupins (Insecta: Isoptera) que ocorrem no Brasil. Papéis Avulsos de Zoologia, 40(25): 387-448.

Garnier-Sukkan, E. & Harry, M. 1995. Distribution of humic compounds in mounds of some soil-feeding termite species of tropical rainforests: its influence on soil structure stability. Ins. Soc. 42: 167-185.

Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. 1998. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: S. M. Sano & S.P. Almeida (eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina. EMBRAPA-CPAC, p. 89-166.

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0 5 10 15 20 25 30

Alibertia elliptica

Andira humilis

Cabralea canjerana

Croton goyazensis

Dalechampia caperonioides

Erythroxylum campestre

Hypenia sp

Ipomea martii

Myrcia sp4

Não identificada 1

Spiranthera odoratissima

Número de indivíduos

AC ADC

Figura 1. Número de indivíduos das espécies mais abundantes nas duas áreas amostradas, área ao redor do cupinzeiro (AC) e áreas distantes do cupinzeiro (ADC). Tabela 1 – Lista das espécies com o número de indivíduos registradas nos dois locais amostrados, área ao redor do cupinzeiro (AC) e áreas distantes do cupinzeiro (ADC).

Espécies AC ADC Acosmium dasycarpum 1 1 Alibertia elliptica 27 0 Allagoptera campestris 1 1 Andira humilis 7 18 Anemopaegma arvensis 2 1 Aspidosperma macrocarpon 0 1 Aspidosperma tomentosum 1 0 Banisteriopsis sp1 0 1 Banisteriopsis sp2 1 2 Bauhinia rufa 0 1 Borreria capitata 3 1 Borreria verticillata 0 3 Byrsonima basiloba 0 1 Byrsonima sp1 0 1 Cabralea canjerana 5 0 Caiaponia tayuya 0 1 Casearia sylvestris 1 0 Chamaecrista desvauxii 0 1 Cissampelos ovalifolia 1 0 Coccosypselum sp 1 0 Croton adenodontus 1 0 Croton goyazensis 0 5 Cuphea sp 2 2

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Dalbergia miscolobium 1 2 Dalechampia caperonioides 4 4 Erythroxylum campestre 7 5 Erythroxylum suberosum 2 0 Eugenia calycina 1 2 Hortia brasiliana 2 1 Hymatanthus obovatus 1 0 Hypenia sp 6 0 Ipomea martii 0 1 Lantana sp 0 1 Matayba guianensis 2 0 Myrcia rhodocephala 0 2 Myrcia sp1 0 1 Myrcia sp2 0 1 Myrcia sp3 0 2 Myrcia sp4 2 3 Não identificada 1 9 1 Não identificada 2 0 3 Não identificada 3 0 1 Não identificada 4 1 0 Não identificada 5 0 1 Não identificada 6 1 0 Não identificada 7 0 1 Não identificada 8 1 0 Oxalis sp 1 3 Palicourea coriacea 0 1 Palicourea rigida 0 1 Pavonia campestris 1 3 Peritassia campestris 1 2 Peschiera sp 0 1 Polygala sp 1 0 Protium ovatum 0 2 Pseudobrickelia brasiliensis 1 0 Psidium sp 1 0 Ruelia sp 1 0 Senna rugosa 1 0 Serjania erecta 1 0 Simaba ovalifolia 1 0 Solanum sp1 1 0 Solanum sp 2 1 0 Spiranthera odoratissima 4 1 Striphnodendrum poliphylum 0 1 Tabebuia ochracea 0 1 Total de indivíduos 110 89

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A variação de parâmetros físicos em diferentes habitats do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás

Benedito A. S. Pereira, Isabel C. S. Figueiredo, Mônica Aragona, Sirlene A. Felisberto

Orientador: Prof. Jair Maia

Introdução Os organismos vivem com restrições impostas pelo mundo físico. Se de um lado os organismos recebem “provisões” do mundo físico, eles também têm sua distribuição limitada pela sua tolerância a este (Ricklefs, 1979). Assim, o mundo físico e o mundo biológico são interdependentes.

A temperatura e a umidade são os dois principais fatores que limitam a distribuição dos seres vivos na Terra. O estresse térmico é um dos principais fatores críticos que influenciam a sobrevivência dos organismos, sendo intimamente relacionado com o estresse hídrico. A vegetação é o produto do clima da área. Sua distribuição é controlada pela temperatura e umidade, sendo a vegetação nativa um importante instrumento meteorológico para medir todos os elementos climáticos interligados (Krebs, 1994).

O estudo de habitats é um dos focos da Ecologia e as aplicações práticas desse tipo de estudo são muitas como, por exemplo, a compreensão de impactos ambientais, planejamento do uso da terra, manejo de espécies, entre outros, sendo importantes para o estudo de ecossistemas, assim como de comunidades (Brower et al., 1990).

A distribuição das espécies ao longo do gradiente de umidade pode coincidir com a distribuição de nutrientes ao longo de um gradiente de disponibilidade. Os nutrientes disponíveis no solo de muitos habitats podem variar amplamente na mesma proporção que as condições de umidade do solo, o que favorece as plantas bem como os demais organismos associados (Ricklefs, 1979).

Habitats distintos em um mesmo ecossistema possuem normalmente distintos

parâmetros do meio físico, tais como temperatura, umidade relativa do ar e radiação solar. As diferenças na umidade relativa do ar e temperatura entre esses habitats podem determinar o nível de conforto ou estresse dos organismos que os habitam. Portanto, o estudo dessas variações é importante para compreender como as alterações ambientais, naturais e antrópicas, atuam sobre os organismos.

O objetivo deste projeto foi avaliar a variação de três fatores físicos (radiação fotossinteticamente ativa, temperatura e umidade relativa do ar) em habitats com diferentes graus de antropização e cobertura vegetal. Materiais e Métodos Esse estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), no município de Caldas Novas, GO. Dentro do parque, quatro habitats diferentes foram escolhidos na proximidade da base de pesquisa: estacionamento, gramado, cerrado e mata. Cada um dos quatro habitats teve dois pontos de coleta, representando situações antagônicas dentro mesmo habitat, totalizando oito pontos amostrais. Habitat 1. Estacionamento Nesse local o solo é coberto por pavimento asfáltico e há algumas árvores de mogno (Swieteni macrophylla) plantadas de modo esparso no local. O ponto 1 se localizou ao lado de um barranco com cobertura vegetal de cerrado sentido restrito em regeneração. O ponto 2, distante cerca de 50 m do ponto 1, se localizou em um local mais aberto, longe de locais com vegetação. Habitat 2. Jardim gramado

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Os pontos 3 e 4 se localizaram em um jardim gramado (Paspanum notatum), perto do alojamento do parque. O ponto 3 se localizou em uma área de grama aberta, longe de árvores e arbustos. O ponto 4 se localizou a cerca de 30 m do ponto 3, em uma área com algumas árvores de porte médio como Trema micrantha e Pouteria torta. Habitat 3. Cerrado alterado Os pontos 5 e 6 se localizaram em uma área de cerrado sentido restrito adjacente a uma trilha. O ponto 5 se localizou a 8 m da trilha, onde estrato herbáceo era dominado por Brachiaria decumbens, com poucos arbustos e nenhuma árvore e o ponto 6 a cerca de 3 m, com árvores e arbustos. Habitat 4. Mata de galeria Os pontos 7 e 8 se localizaram em uma área de mata de galeria cortada por uma trilha (Trilha da Cascatinha). O ponto 7 se localizou em uma pequena clareira na mata, a cerca de 1,5 m da trilha. O ponto 8 se localizou em uma região de vegetação mais densa, ao lado de um pequeno córrego. Em cada um dos oito pontos foram feitas medidas de temperatura e umidade relativa do ar logo acima do estrato herbáceo e a cerca de 2 m do chão, temperatura do solo e radiação solar incidente e refletida. A umidade relativa do ar e as temperaturas acima do estrato herbáceo e a 2 m do chão foram medidas com auxílio de um psicrômetro Casella com 0,5o C de precisão. A temperatura do solo foi medida através de um termômetro digital. A radiação solar foi medida com o auxílio de um sensor quântico LiCor. Todas essas variáveis foram medidas a cada 3 horas, entre às 16 h do dia 09/08/04 e às 13 h do dia 10/08/04, fechando um ciclo de 24 horas. A radiação solar incidente e refletida foi medida apenas durante o período com luz, exceto no último horário.

As medidas de temperatura nas três alturas e as de umidade relativa do ar foram calculadas pela média dos dois pontos

amostrados em cada habitat para cada horário. Resultados Entre os quatro locais selecionados, o estacionamento e a mata foram os que apresentaram maiores amplitudes de variações quanto aos valores de temperatura e umidade (média), quando comparados com os habitats de gramado e cerrado. A maior temperatura foi registrada no solo do estacionamento (42,5 ºC) às 13 h e a menor às 04 h no solo gramado(12,9 ºC). A maior umidade relativa do ar foi registrada na mata (84%) às 04 h, medida próximo ao estrato herbáceo, e a menor (27%) foi registrada no estacionamento, às 16 h, também ao nível do solo.

O climatograma do estacionamento (Fig. 1a) mostra que as temperaturas logo acima do asfalto e a 2 m de altura comportaram-se de modo semelhante, assim como as duas medidas de umidade relativa. Somente a temperatura do solo apresentou variação a partir das 7 h da manhã. A radiação incidente foi maior neste habitat, principalmente no período da manhã (Fig. 2). A radiação refletida foi a maior registrada neste estudo em todos os horários em que foi medida (Tabela I, Fig. 2).

O climatograma do estacionamento apresenta um comportamento similar entre as três medidas de temperatura e entre as duas medidas de umidade relativa do ar (Fig. 1b). As variações pontuais (UR às 22 h e temperatura do solo às 13 h) são decorrentes das diferenças entre os dois pontos amostrados no gramado. A média da radiação incidente e refletida no gramado foi semelhante às observadas no cerrado pelo período da manhã, diferindo à tarde (Fig. 2).

O climatograma do cerrado mostra semelhança entre as médias das duas medidas de umidade relativa do ar bem como das médias das três medidas de temperatura (Fig. 3a). O mesmo padrão pode ser verificado no climatograma da mata (Fig. 3b). A radiação incidente e

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refletida no cerrado é bastante semelhante àquela observada no estacionamento, enquanto que ambas são muito baixas na mata a qualquer horário do dia (Tabela I, Fig. 2). Discussão Os climatogramas dos quatro habitats estudados mostram os pontos distintos de cruzamento entre as curvas de temperatura e umidade relativa. O ponto de cruzamento expressa o momento de conversão estresse/conforto térmico. Assim, o estacionamento apresentou a situação de maior estresse térmico e, consequentemente, hídrico. Isto é evidenciado pelo menor período de duração da relação menor temperatura/maior umidade, que foi de cerca de 10 horas, comparado com os outros três habitats, que tiveram pelo menos 14 horas de conforto termo-hídrico, sendo extremado na mata, onde as curvas praticamente não se cruzam. Isso significa que quando a situação climática está representada pela relação inversa, maior temperatura/menor umidade, existe, por parte das plantas, um maior esforço para manter ou perder menos água, que é pior no habitat estacionamento e praticamente não ocorre na mata.

A radiação solar incidente é a mesma para os quatro habitats estudados, mas a área onde essa radiação incide varia em cada habitat. Assim, no estacionamento e no gramado as superfícies de incidência são mais homogêneas, enquanto no cerrado existe maior rugosidade e na mata maior heterogeneidade. Assim, a quantidade de energia absorvida é diferente nos diversos habitats, bem como a velocidade com que a mesma é liberada para a atmosfera. No estacionamento o alto calor específico do asfalto absorve a radiação incidente sob a forma de calor, desde as primeiras horas da manhã, liberando-a também rapidamente no

fim do dia, gerando uma maior amplitude térmica diária e maior tempo de estresse. Na mata a situação se inverte com pouquíssima luz chegando ao seu interior, sendo menor ainda a quantidade de radiação refletida, mantendo mais baixa e constante as temperaturas nos três estratos mesurados, gerando menor estresse termo-hídrico. Quando comparado ao cerrado, a radiação refletida deste é menor que a do estacionamento devido à superfície de incidência do primeiro ser rugosa, absorvendo maior quantidade de radiação fotossinteticamente ativa.

A regulação da temperatura e o balanço hídrico estão amplamente interligados. Onde a água é escassa, os organismos apresentam uma ampla variedade de adaptações comportamentais, morfológicas e fisiológicas para poderem conservar mais água e usar eficientemente a dissipação de calor (Ricklefs, 1979). Isto, provavelmente explicaria a permanência das poucas plantas existentes no habitat estacionamento, uma vez que neste local esses vegetais estão rodeados quase totalmente por concreto e onde foi registrada a maior temperatura e a menor umidade relativa do ar. Agradecimentos Ao professor Jair Maia pela orientação e ensinamentos na condução deste trabalho. Referências Bibliográficas Brower, J.E.; Zar, J.H.; Von Ende, C.N.

1990. Field and laboratory methods for general ecology. Dubuque: W. C. Brown Publishers 237 p.

Krebs, C.J. 1994. Ecology. 4th. ed. New York: Harper Collins College Publishers. 801 p.

Ricklefs, R.E. 1979. Ecology. 2nd. ed. New York: Chiron Press. 966 p.

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Tabela I:

Radiação Incidente Estacionamento Gramado Cerrado Mata 16:00 543.0 209.0 507.4 7.0 19:00 0.0 0.0 0.0 0.0 22:00 0.0 0.0 0.0 0.0 01:00 0.0 0.0 0.0 0.0 04:00 0.0 0.0 0.0 0.0 07:00 477.7 106.1 135.1 7.5 10:00 1228.1 1162.5 1231.7 53.4 Radiação Refletida Estacionamento Gramado Cerrado Mata 16:00 43.5 15.7 37.7 0.0 19:00 0.0 0.0 0.0 0.0 22:00 0.0 0.0 0.0 0.0 01:00 0.0 0.0 0.0 0.0 04:00 0.0 0.0 0.0 0.0 07:00 9.9 12.4 18.2 0.0 10:00 94.1 91.1 68.8 16.6

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a)

0

5

10

15

20

25

30

35

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Figura 1. Climatogramas dos habitats, estacionamento (a) e gramado (b).

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Estacionamento Gramado Cerrado Mata

Figura 2. Radiação solar incidente (a) e refletida (b) nos quatro habitats amostrados.

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Figura 3. Climatogramas dos habitats, cerrado (a) e mata (b).

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Condutância estomática em plantas com diferentes síndromes fotossintéticas no PESCAN-GO.

Autores: Benedito A. S. Pereira, Isabel C. S. Figueiredo, Mônica Aragona, Natália Tôrres &

Sirlene A. Felisberto

Orientadora: Alessandra Kosovits Introdução Todas as plantas necessitam de água para sobreviver, e a economia deste elemento é fundamental para algumas espécies. Dentre os mecanismos para minimizar a perda de água, o controle do fechamento dos estômatos é uma das soluções mais utilizadas pelas plantas. Porém, apesar de permitir uma maior conservação de água, o fechamento estomático reduz a assimilação de dióxido de carbono (CO2), o que leva à diminuição na produtividade (Plaut apud Pimentel & Hérbert, 1999).

Os estômatos são estruturas que permitem às plantas transpirarem, processo fundamental para o controle da temperatura, e principalmente para a manutenção da pressão que permite o fluxo contínuo ascendente de água e nutrientes do solo para toda a planta. Enquanto o vapor d’água sai, o dióxido de carbono entra pelos estômatos, sendo este um elemento fundamental para a fotossíntese (Taiz & Zeiger, 1991).

A condutância estomática (gs) é uma medida da abertura estomática, da permissividade da passagem de água, sendo um dos elementos da capacidade fotossintética. Esta medida fornece uma idéia da adaptação da planta ao seu ambiente e de como ela reage ao estresse hídrico, por exemplo.

Medidas indiretas da verdadeira abertura total dos estômatos nas plantas podem ser feitas através de aparelhos denominados porômetros. O porômetro de difusão serve para comparar a difusão de uma superfície vegetal por onde ocorrem trocas de vapor de água com uma superfície de água livre com igual área e temperatura. Assim, o porômetro dá uma idéia da abertura dos estômatos em folhas

presumindo-se que as demais partes do tecido dermal estejam recobertas por uma cutícula praticamente impermeável (Bragg et al., 1991)

Existem três tipos de síndromes fotossintéticas, que estão intimamente relacionadas ao período do dia e à quantidade de abertura dos estômatos (Larcher, 2000). As plantas com síndrome fotossintética C3 apresentam grande abertura estomática durante o período de luz, com alta captação de CO2 e perda d’água, fechando-os apenas quando o déficit de água se pronuncia. As plantas denominadas C4 também abrem os estômatos durante o período de luz, mas esta é parcial, já que são mais eficientes na captação de CO2. As plantas CAM possuem outra estratégia fotossintética, abrindo os estômatos somente à noite para reduzir a perda d’água. Estas síndromes são adaptações das plantas às condições climáticas dos habitats nos quais evoluíram.

A condutância estomática é um dos principais parâmetros para calcular o seqüestro de carbono e para modelar a perda de água das comunidades vegetais, estudos de grande importância para compreensão das mudanças climáticas regionais e globais. Outra importância do estudo da condutância estomática é para a agricultura, pois o entendimento deste processo permite evitar a ocorrência de estresse hídrico em fases criticas de desenvolvimento das plantas, proporcionando maior produtividade (Pimental & Herbert, 1999). Este tipo de estudo também é útil para entender como os poluentes atmosféricos (ex: ozônio) penetram e agem nas plantas. Uma outra aplicação deste parâmetro está relacionada com as respostas das plantas frente às

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adversidades ambientais, e em ambientes competitivos, a capacidade de fixar CO2 parece determinar o sucesso das plantas. Os objetivos deste estudo foram responder às seguintes questões:

Será que os indivíduos com a síndrome fotossintética conhecida para seu ambiente natural (Curatella americana, Cecropia pachystachya, Brachiaria humidicola, Ananas ananassoides, Thunbergia grandiflora) apresentam as mesmas síndromes quando localizados em habitats diferentes? Qual a síndrome fotossintética de Clusia sp.? Será que uma espécie clímax, como Curatella americana, tem uma condutância estomática maior que uma espécie pioneira como Cecropia pachystachya ? Existe relação entre a condutância estomática e as medidas de temperatura da folha e radiação fotossinteticamente ativa? Material e Métodos Este estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), no jardim da sede do parque. Foram escolhidas seis espécies vegetais para o trabalho. Ananas ananassoides, (abacaxi-do-cerrado) é uma bromeliácea típica de matas de galeria, cerrado e cerradão (Mendonça et al., 1998), com síndrome fotossintética CAM. Brachiaria humidicola é uma gramínea invasora C4. Cecropia pachystachya (embaúba) é uma planta pioneira. Curatella americana (lixeira) é uma espécie clímax e Thunbergia grandiflora é uma espécie exótica, considerada como C3, assim como as duas espécies anteriores. Uma espécie de Clusia sem sua síndrome fotossintética conhecida foi incluída no estudo. Este gênero possui espécies com os três tipos de síndromes fotossintéticas, e espécies facultativas, ou seja, que possuem a habilidade de realizar mais de um tipo de fotossíntese.

Foram retiradas medidas de condutância estomática, temperatura da folha e radiação fotossinteticamente ativa (PAR) de três folhas posicionadas à luz, de

um indivíduo de cada uma das seis espécies descritas. Para realização destas medições utilizou-se um porômetro de difusão (AP4 Porometer, Delta-T Devices Ltd., Bragg et al., 1991) Resultados Das seis espécies analisadas, cinco já tinham síndrome fotossintética conhecida. Os resultados obtidos confirmam o comportamento esperado para as plantas C3, C4 e CAM. C. americana, Cecropia pachystachya e Thunbergia grandiflora apresentaram as maiores condutâncias estomáticas durante a manhã com redução em torno do meio dia (“depressão do meio-dia” (Franco & Lüttage, 2002)), exceto em Cecropia pachystachya, em que a depressão ocorreu em torno das 10h. Ananas ananassoides apresentou estômatos praticamente fechados durante a manhã, como esperado para uma espécie CAM e Brachiaria humidicola apresentou condutância estomática intermediária, correspondente ao tipo C4.

Comparativamente com as demais plantas analisadas, Clusia sp. comportou-se como uma planta com síndrome fotossintética do tipo CAM (Fig. 1). A comparação entre um espécie pioneira (Cecropia pachystachya) e uma espécie clímax (Curantella americana) mostrou que não há diferença entre a condutância estomática de ambas (Fig. 2).

A relação da condutância estomática com a PAR e a temperatura foliar foi analisada em termos de grupos funcionais, usando uma das espécies de cada grupo como representante (Fig. 3). A condutância estomática não variou com o aumento das duas variáveis para os grupos C4 e CAM. Enquanto a condutância das CAM manteve-se nula com o aumento da PAR e da temperatura foliar, a C4 manteve uma condutância intermediária em função do aumento das variáveis, porém constante. As plantas C3 apresentaram um aumento da condutância estomática com o aumento das duas variáveis nas primeiras horas observadas mas, quando a temperatura

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aumentou, ocorreu uma tendência ao fechamento dos estômatos, provavelmente para evitar a perda excessiva de água. Discussão Todas as espécies que tinham suas síndromes fotossintéticas conhecidas no seu ambiente natural se comportaram como esperado no jardim. Estes dados comprovam a idéia de que o controle do fechamento estomático, e consequentemente da condutância estomática e do tipo de fotossíntese, parece ser uma característica herdável (Pimentel & Hérbert, 1999), que não varia conforme as condições ambientais. Assim, plantas com diferentes síndromes fotossintéticas medidas em seus ambientes naturais, em especial os vegetais CAM que possuem características particulares quanto à capacidade de captar carbono, conseguiriam sobreviver num ambiente totalmente diverso de seu habitat? Será que com uma alteração global, onde inundações viessem a provocar sérias modificações, estas plantas apresentariam plasticidade para permanecerem? A resposta para essas questões provavelmente é não.

O comportamento fisiológico quanto à condutância estomática das espécies de Curatella americana e Cecropia pachystachya (C3) sugere que as plantas clímax não substituem as espécies pioneiras por apresentam maior capacidade de captar carbono, mas sim por outros motivos. Mesmo que C. pachystachya tenha o mesmo nível de condutância estomática (e consequentemente de captação de carbono) que C. americana, provavelmente ela será substituída por espécies clímax durante a sucessão. Quando o potencial hídrico no solo é baixo, como por exemplo em algumas áreas do cerrado durante a estação seca, o controle estomático depende mais da disponibilidade de água no solo do que da radiação luminosa e temperatura (Meinzer et al., 1999). Assim, as plantas tenderiam a abrir os estômatos nas primeiras horas da manhã, captando mais carbono e perdendo menos

água e fechando-os nos períodos de maior intensidade luminosa (maior temperatura e evapotranspiração), já que necessitam economizar a água. Isto explicaria as variações de condutância estomática das espécies C3 com a temperatura e a radiação fotossinteticamente ativa. Em função da plantas C4 terem os estômatos parcialmente abertos, elas oscilam menos com as variações de temperatura e luz. Para plantas CAM, que mantêm os estômatos fechados durante o dia, não houve resposta às variações da temperatura e a radiação. Agradecimentos Somos imensamente gratos à professora Alessandra Kosovits pela orientação e generosidade na transmissão de seu conhecimento. Referências Bibliográficas Bragg, T.; Webb, N.; Spencer, R.; Wood,

J.; Nicholl, C. & Potter, E. 1991. AP4 Porometer user manual- version 2. Delta-T Devices Ltda. Cambridge.

Franco, A.C. & Lüttage, U. 2002. Midday depression in savanna trees: cooordinated adjustmants in photochemical efficiency, photorespiration, Co2 assimilation and water use efficiency. Oecologia 131: 356- 365.

Pimentel, C. & Hérbert, G. 1999. Potencial fotossintético e condutância estomática em espécies de feijão caupi sob deficiência hídrica. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal. 11(1):7-11.

Taiz, L. & Zeiger, E. 1991. Plant physiology. Benjamin Cummings. Redwood city. 565p.

Meinzer, F.C. et al. 1999. Atmospheric and hydraulic limitations on transpiration in Brazilian cerrado woody species. Functional Ecology. 13 273-282.

Larcher, W. 2000. Ecofisiologia Vegetal. Ed. Rima. São Carlos. 531p.

Mendonça, R.C.; Felfili, J.M.; Walter, B.M.T.; Silva Júnio, M.C.; Rezende, AV.; Filgueiras, T.S. & Nogueira, P.E. 1998. Flora vascular do Cerrado. In:

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Sano, S.M. & Almeida, S.P. Cerrado ambiente e flora. Planaltina:

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Figura 1. Condutância estomática de seis espécies com diferentes síndromes fotossintéticas ao longo de uma manhã.

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C. americana C. pachystachya

Figura 2. Condutância estomática de uma espécie pioneira (C. pachystachya) e uma espécie clímax (C. americana) ao longo da manhã.

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Figura 3. Condutância estomática dos três grupos funcionais com relação à: a) radiação fotossinteticamente ativa e b) temperatura foliar. (Legenda: О – A. ananassoides; ▲ - B. humidicola; ◊ - C. americana).

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Estudo de uma população de Dimorphandra mollis e sua relação com a frutificação em dois ambientes distintos de cerrado no PESCAN/GO

Benedito A. S. Pereira, Isabel C. S. Figueiredo, Mônica Aragona, Sirlene A. Felisberto

Orientador: Marcelo X. Bizerril

Introdução Vários autores já demonstraram que as características do solo e do relevo têm grande influência na distribuição e desenvolvimento das espécies vegetais (Reatto et al., 1998).

A faveira-d´anta (Dimorphandra mollis Benth) é uma leguminosa arbórea amplamente dispersa no bioma Cerrado, onde ocorre em diversos tipos de solo e formas de relevo. Essa espécie produz frutos espessos, achatados, indeiscentes, duros, com 10-20 cm de comprimento e numerosas sementes (Ferri, 1969). Esses frutos são bastante apreciados pela anta (Tapirus terrestris) e também são alvo de extrativismo para fins medicinais, já que são ricos em rutina, um alcalóide utilizado pela indústria farmacêutica para a fabricação de cardiotônicos. Essa árvore tem o tronco revestido por casca cinza escura e esfoliante; copa densa, ramos com folhas bipínadas, folíolos ovalados ou oblongos com pêlos em ambas as faces (Ferri, 1969).

Essa leguminosa está presente no PESCAN, ocorrendo tanto nos cerrados rupestres situados na encosta da Serra de Caldas Novas, quanto nos cerrados sentido restrito situados no platô dessa serra. Assim, os objetivos desse trabalho foram: a) verificar se existe relação entre altura, área da copa e circunferência do tronco de D. mollis com a sua frutificação; b) verificar se existe relação entre os parâmetros dendrométricos de D. mollis e as áreas de estudo; e c) verificar se existe relação entre a frutificação de D. mollis e o tipo de solo e de relevo em que ela se encontra. Material e métodos Área de Estudo

O estudo foi realizado em duas comunidades de cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, sendo uma situada na encosta e a outra no platô da serra que leva esse nome.

A comunidade da encosta apresenta um cerrado rupestre (Ribeiro & Walter, 1998) com dominância de Sclerolobium paniculatum e Miconia ferruginata no estrato arbóreo. A declividade no local foi considerada acentuada e os solos constituídos por cambissolos intercalados por litossolos associados a metarenitos, quartzitos e metassiltitos (FEMAGO, s.d.).

A comunidade do platô, um cerrado sentido restrito (Ribeiro & Walter, 1998), apresentou Qualea multiflora, Salvertia convallariodora, Kielmeyera coriacea, Bowdichia virgilioides, Stryphnodendron adstringens e S. polyphyllum, como as espécies mais abundantes no estrato arbóreo. O relevo plano e o solo formado principalmente por latossolo vermelho-escuro (FEMAGO, s.d.). Procedimentos Metodológicos As amostragens foram realizadas ao longo da estrada que dá acesso ao interior do Parque, em faixas de 1900 m de comprimento por 10 m de largura de cada lado (total de 20 m) da estrada, totalizando uma área de 3,8 ha cada.

Nas duas parcelas todos os indivíduos de D. mollis com mais de 2 m de altura e 10 cm de circunferência a 30 cm acima do solo tiveram a sua altura, circunferência e área da copa medidos e os seus frutos contados e pesados. Análise de Dados Para medir a existência de relação entre a altura, área da copa e circunferência e a

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produção de frutos de D. mollis foi utilizado o teste de correlação de Spearman (BioEstat 2.0). Para analisar a existência de variação entre o número de indivíduos nas duas áreas foi utilizado o teste de Qui-quadrado (BioEstat 2.0). Para analisar a variação entre altura, circunferência a 30 cm do solo, área da copa e peso dos frutos entre indivíduos das duas áreas foi utilizado o teste t (BioEstat 2.0). Resultados Não foram encontradas correlações significativas entre o número de frutos e a altura dos indivíduos (Coef. rs = 0,2582; t = 0,96; p = 0,352), entre o número de frutos e a circunferência a 30 cm do solo (Coef. rs = 0,4574; t = 1,85; p = 0,08) e entre o número de frutos e a área da copa (Coef. rs = 0,3792; t = 1,48; p = 0,163).

Quanto as relações entre os parâmetros populacionais e dendrométricos e as áreas, o platô diferiu significativamente quanto ao número de indivíduos e altura quando comparado com a população presente na área da encosta. Características como a circunferência a 30 cm do solo e a área da copa não diferiram em relação ao ambiente (Tabela I). O peso médio dos frutos e a biomassa total também diferiram significativamente entre o platô e a encosta. Discussão As áreas de estudo (platô e encosta) parecem influenciar tanto os parâmetros dendrométricos dos indivíduos de D. mollis quanto a sua frutificação. Entretanto, a frutificação não está correlacionada com os parâmetros dendrométricos.

A baixa declividade associada a maior profundidade do solo (latossolo vermelho-escuro) encontradas no platô permitem que as raízes dos indivíduos sejam maiores e mais profundas retendo maior quantidade de nutrientes e água. Provavelmente, essas condições favoreceram a população de D. mollis dessa área, devido ao seu maior número de indivíduos, biomassa e peso de frutos.

Essas características não ocorrem na área de encosta, onde a alta declividade aliado a solos rasos (cambissolo e litossolo), muitas vezes com afloramentos rochosos, e com baixa capacidade de retenção de umidade desfavorece o crescimento e a reprodução.

A ausência de correlações entre altura, área da copa e circunferência do tronco de D. mollis e sua frutificação, pode ser explicada, em parte, pela diferença entre indivíduos da espécie, uma vez que foram verificados no campo, indivíduos frutificando de pequeno e grande porte, bem como indivíduos desses portes não frutificando. Oliveira (1988), mencionou uma existência marcante de sazonalidade quanto a produção de frutos em espécies do cerrado, sendo assincrônica dentro das populações ao longo dos anos. Portanto, a frutificação de D. mollis não dependeu da altura do indivíduo, da área da copa e circunferência do tronco, sendo mais influenciada pelas condições físicas e químicas do solo, assim como das características do relevo. Agradecimentos Agradecemos ao Professor Marcelo X. Bizerril pela condução e orientação na realização desse estudo. Referências Bibliográficas FEMAGO - Fundação Estadual de Meio

Ambiente. Parque Estadual de Caldas Novas. Goiânia: sd. 205p.

Ferri, M. G. 1969. Plantas do Brasil: espécies do Cerrado. São Paulo. Edgard Blücher: 239p.

Oliveira, P. E. 1998. Fenologia e biologia reprodutiva das espécies de cerrado. In: S. M. Sano & S.P. Almeida (eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina. EMBRAPA-CPAC, p. 169-192.

Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. 1998. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: S. M. Sano & S.P. Almeida (eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina. EMBRAPA-CPAC, p. 89-166.

Reatto, A.; Correia, J. R. & Spera, S. P. 1998. Solos do Bioma Cerrado: aspectos

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pedológicos. In: S. M. Sano & S.P. Almeida (eds.). Cerrado: ambiente e

flora. Planaltina. EMBRAPA-CPAC, p. 47- 86.

Tabela I – Resultados obtidos para os indivíduos de D. mollis para as áreas de platô e encosta no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Platô Encosta p Nº de indivíduos 26 10 p < 0,05 Nº de indivíduos frutificando 12 03 - Densidade (ind/ha) 6,84 2,63 Densidade de indivíduos frutificando 3,16 0,8 Altura média dos indivíduos (m) 4,0 ± 0,63 3,25 ±1,34 p = 0,0034 Circunferência a 30 cm do solo (cm) 35,7 ± 10,72 27,6 ± 11,1 n.s. Área média da copa (m2) 5,7 ± 5,34 3,28 ± 2,66 n.s. Nº médio de frutos/indivíduo 32,96 ± 63,88 5,60 ± 11,63 p = 0,003 Peso médio do fruto (g) 26,4 ± 8,59 21,65 ± 2,93 - Biomassa total na área 22.659,1 1.212,4 - Biomassa média/indivíduo 871,5 ± 1.688,9 121,2 ± 251,7 -

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Dieta do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no Parque Estadual de Caldas Novas – GO

Benedito A. S. Pereira, Isabel C. S. Figueiredo, Mônica Aragona, Sirlene A. Felisberto

Orientador: Jader S. Marinho-Filho

Introdução O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é um canídeo sul americano, cuja distribuição geográfica abrange Bolívia, Paraguai, nordeste da Argentina e Brasil (Juarez e Marinho-Filho, 2002). Neste país, esta espécie está amplamente distribuída pelo Brasil central, no bioma Cerrado, além de ocorrer nos Campos do Sul e nas porções mais secas do Pantanal.

São animais territorialistas com períodos de atividade noturno e crepuscular. Sua dieta vem sendo estudada em distintas regiões do país por diversos autores, que descrevem essa espécie como sendo um animal onívoro, de caráter generalista e oportunista (Carvalho, 1976; Dietz, 1984; Medel e Jaksic, 1988; Motta-Junior et al., 1996; Aragona e Setz, 2001). Frutos, insetos, répteis, aves e mamíferos compõem sua dieta e a diversidade destas categorias alimentares na dieta varia conforme a disponibilidade dos recursos, que são modulados pela sazonalidade e pelo ambiente.

A plasticidade do lobo-guará no uso dos recursos alimentares faz com que estudos pontuais sobre sua dieta sejam importantes para a compreensão da função trófica desta espécie em cada habitat, através dos diversos biomas ao longo de sua distribuição geográfica. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi estudar a dieta do lobo-guará no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Material e Métodos O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) localizado no município de Caldas Novas, Goiás. O parque possui área de 125 km2 e o ambiente predominante é o cerrado senso restrito.

A dieta de C. brachyurus foi determinada pela análise de fezes desses animais que foram coletadas entre os dias 03 e 08 de agosto. As fezes foram identificadas como sendo de C. brachyurus através de características como o tamanho, forma, odor, conteúdo e, eventualmente, pela presença de pegadas ao redor das mesmas. As fezes foram coletadas em estradas ou trilhas do PESCAN e foram acondicionadas em sacos de papel.

O tipo de triagem do material diferiu quanto ao estado das fezes. As que estavam secas foram triadas a seco com auxílio de luvas e pinça. As fezes frescas foram lavadas em água corrente com auxílio de peneira, bandeja e pinça para a eliminação da massa fecal muito processada. Em ambos os casos a triagem foi feita a olho nu e as partes duras e resistentes ao processo digestivo foram separadas nos seguintes conjuntos: penas, bico, pêlo, ossos, dentes, unhas, sementes, cascas, material vegetal, exoesqueleto e escamas.

O critério para determinar a presença de determinado item alimentar na amostra foi a presença de pelo menos uma parte dos diversos componentes que podem definir uma entidade biológica. Quando possível as entidades biológicas foram quantificadas e sua identificação objetivou alcançar o nível taxonômico mais específico. Em alguns casos a identificação e quantificação dos itens alimentares foi feita com auxílio de lupa binocular.

A análise dos dados agrupou os itens alimentares nas seguintes categorias: Solanum lycocarpum, Material Vegetal, Insetos, Répteis, Aves e Mamíferos. Foi analisada a porcentagem de ocorrência de cada item em função do número de amostras e a freqüência relativa de cada

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item em função do total de itens identificados em todas as amostras. Resultados Todas as fezes coletadas foram depositadas em locais expostos, elevados como sobre cupinzeiros e sauveiros, ou bem abertos como em trilhas e estradas.

Foram analisadas 15 amostras de fezes, nas quais 13 itens alimentares diferentes foram identificados, perfazendo um total de 61 ocorrências (Tabela I). O número médio de itens por amostra foi quatro, sendo que este variou de dois a oito itens. Somente uma das amostras (6,7%) continha apenas item de origem vegetal (lobeira), explicitando um dieta frugívora, enquanto as demais (93,3%) foram compostas por itens de origem vegetal e animal, explicitando uma dieta onívora.

Solanum lycocarpum e mamíferos ocorreram em maiores porcentagens, em 100% e 93,3% das amostras, respectivamente. Materiais vegetais ocorreram em 60% das amostras (Fig 1). Mamíferos apresentaram maior freqüência relativa (0,443), seguidos por S. lycocarpum (0,246) e material vegetal (0,148; Fig. 2). Dentre os mamíferos, a Ordem Rodentia foi a mais freqüente, representada por 14 indivíduos, da qual a Família Echimyidae se sobressaiu, com pelo menos seis indivíduos.

As categorias Insetos, Répteis e Aves ocorreram em baixas porcentagens de ocorrência e expressam uma freqüência relativa reduzida. Discussão A análise das 15 amostras de fezes de C. brachyurus confirmaram a dieta onívora de caráter generalista e oportunista.

A ausência de outros frutos além da lobeira (S. lycocarpum) e a baixíssima porcentagem de ocorrência de insetos nas amostras analisadas apontam para uma possível sazonalidade da dieta, concordando com Motta-Junior et al. (1996) que também estudaram a dieta desta espécie no cerrado sentido restrito. A

ausência ou baixa freqüência destes itens alimentares é compensada pelo consumo contínuo de frutos de lobeira e de mamíferos (principalmente roedores), que ocorreram em altíssimas porcentagens.

O método de análise dos resultados subestima a importância da lobeira (S. lycocarpum) na dieta do lobo-guará. Apesar deste fruto estar presente em todas as amostras analisadas, sua importância relativa é reduzida devido a equiparação deste fruto, que pesa cerca de 600 g, com itens de peso relativamente muito reduzidos, como por exemplo os insetos. Esta limitação do método pode ser contornada através da quantificação e análise da biomassa de cada item alimentar (Motta-Junior et al. 1996; Juarez e Marinho-Filho, 2002).

O local de deposição das fezes coletadas no PESCAN, expostos, elevados ou não, mas sempre em áreas abertas, corrobora o uso que esta espécie faz das fezes como elemento de comunicação social (Aragona e Setz, 2001). Dentre as fezes coletadas em um mesmo dia, duas delas estavam frescas, tendo sido produzidas na noite anterior a coleta. Essas amostras estavam distantes cerca de 8 km e provavelmente foram feitas por dois indivíduos. Agradecimentos Agradecemos ao Professor Jader S. Marinho-Filho pela orientação deste trabalho e pela preciosa ajuda na identificação dos itens alimentares. À Natália Mundin Torres pelas amostras de fezes que coletou ao longo dos dias, contribuindo assim para aumentar a nossa amostragem. À Silvia Leitão Dutra pelo empréstimo de materiais indispensáveis para a triagem das amostras.

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Referências Bibliográficas Juarez, K.M & Marinho-Filho, J.S.2002.Diet, habitat use and home ranges of stmpatric canids in central Brazil. Journal of Mammalogy. (no prelo).

Aragona, M. & Setz, E. Z. F. 2001. Diet of the Maned Wolf (Chrysocyon brachyurus, Illiger 1811) in wet and dry season at Ibitipoca State Park, Brazil. J. Zool. (Lond.) 254: 131-136. Mendel, R.G. & Jaksic, E.M. 1988.

Ecologia de los canídios sudamericanos: una revisíon. Revista Chilena de História Natural. 61: 67-69.

Carvalho, C. T. 1976. Aspectos faunísticos do cerrado – o lobo-guará (Mammalia, Canidae). Bol. Tec. Inst. Flor., São Paulo, Brasil 21:1-18. Motta-Junior, J.C.; Lombardini, S.A. &

Talamoni, J. A.1996. Diet of maned wolf Chrysocyon brachyurus, in central Brazil. Journal of Zoology (London). 240: 277- 284.

Dietz, J. M. 1984. Ecology and social organization of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus). Smithsonian Contributions to Zoology 391: 1-51.

Tabela I: Itens alimentares encontrados nas fezes de C. brachyurus no PESCAN.

Item Alimentar Partes identificadas Oc.1 Freq. Rel. Solanum lycocarpum (sub-total) Casca, polpa e sementes 15 0,246 Material Vegetal (sub-total) 9 0,148 Gramínea Semente 8 0,131 Palmae Folha 1 0,016 Material vegetal não identificado Folhas, pecíolos, cascas - - Insetos (sub-total) 2 0,032 Isoptera Cabeça 1 0,016 Orthoptera Cabeça, tarso 1 0,016 Répteis (sub-total) 3 0,049 Squamata Escamas 3 0,049 Aves (sub-total) 5 0,082 Psitaciforme Penas 1 0,016 Passeriforme Bico e penas 1 0,016 Não identificado Penas 3 0,049 Mamíferos (sub-total) 27 0,443 Didelphidae Pêlos e ossos 2 0,033 Dasypodidae (Euphractus sexcinctus) Placas ósseas 1 0,016 Carnivora Dente canino 1 0,016 Echimyidae Pêlos, dentes e ossos 6 0,098 Muridae Pêlos, dentes e ossos 2 0,033 Rodentia não identificado Pêlos, dentes e ossos 6 0,098 Não identificado Pêlos e ossos 9 0,148 Total 61 1,000

1 – Oc = número de ocorrências e Freq. Rel = freqüência relativa

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0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

S lyco Mveg Ins Rept Aves Mam

Categoria de Alimentos

% d

e O

corr

ênci

a

Figura 1: Porcentagem de ocorrência das categorias alimentares nas amostras de fezes de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no PESCAN/GO.

05

101520253035404550

S lyco Mveg Ins Rept Aves Mam

Categorias de Alimento

Freq

üênc

ia R

elat

iva

Figura 2: Freqüência relativa das categorias alimentares nas amostras de fezes de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no PESCAN/GO.

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Preferência de plantas hospedeiras pelo térmita Constrictotermes cyphergaster no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás

Ana Cláudia Delciellos, Maurício Bonesso Sampaio & Natália Mundim Tôrres

Orientador: Prof. Divino Brandão

INTRODUÇÃO Os cupins ou térmitas são insetos sociais da ordem Isoptera que podem utilizar uma variedade de recursos em sua alimentação e construção de ninhos, como galhos secos, cascas de árvores, folhas, raízes, sementes, terra e até madeira manufaturada. São importantes na ciclagem de nutrientes do solo e servem como indicadores da qualidade ambiental (Fontes, 1979). Os ninhos de cupins, ou cupinzeiros, podem ocorrer na superfície do solo (epígeos), em troncos e galhos de árvores (arbóreos), inteiramente subterrâneos (hipógios) ou serem constituídos por um conjunto de galerias escavadas na madeira. A espécie Constrictotermes cyphergaster constrói ninhos arbóreos no cerrado sentido restrito (Mathews, 1997; Constantino & Costa-Leonardo, 1997). Pertence à subfamília Nasutitermitinae e ocorre no cerrado do Brasil Central (Araújo, 1977), na Caatinga, no Paraguai e na Bolívia (Godinho et al., 1989). Muniz & Consolaro (2002) listaram as espécies arbóreas utilizadas com mais freqüência pelos cupins. Mas como não foi avaliada a freqüência destas espécies na comunidade, não foi possível a esses autores afirmar que C. cyphergaster tenha preferência por elas. O objetivo deste trabalho foi testar a preferência de Constrictotermes cyphergaster por determinadas espécies arbóreas hospedeiras no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido em uma área de cerrado sentido restrito no PESCAN. As árvores hospedeiras de 94 cupinzeiros foram identificadas com a ajuda de uma chave de identificação de espécies arbóreas

do Cerrado (Curso de Campo, 2004). As árvores amostradas tiveram suas circunferências à altura do cupinzeiro medidas e a textura da casca classificada em lisa, suberosa ou rugosa. Para estimar a freqüência relativa de espécies da comunidade arbórea foi utilizado o método de ponto-quadrante (Muller-Dombois & Elemberg, 1974), com 36 pontos distantes 10m entre si, distribuídos em 6 transectos de 50m cada. Dessa maneira foi amostrado um total de 144 indivíduos. A amplitude de circunferências das árvores em que ocorriam cupinzeiros foi utilizada como critério de inclusão de indivíduos arbóreos, considerando apenas aquelas de 23 a 96cm. Com base nas proporções com que as espécies hospedeiras ocorreram no levantamento florístico, foram calculadas as freqüências esperadas de árvores com cupinzeiros para cada uma dessas espécies. As freqüências observadas e esperadas foram comparadas pelo teste Qui-quadrado. RESULTADOS Os cupinzeiros ocorreram em 14 espécies arbóreas (Tabela 1), sendo Qualea grandiflora, Bowdichia virgiloides, Pouteria ramiflora, Tabebuia aurea e Vochysia rufa as espécies hospedeiras preferidas. Registrou-se 24 espécies na comunidade arbórea (Tabela 2), sendo Qualea grandiflora, Qualea parviflora, Ouratea hexasperma e Pouteria ramiflora as mais freqüentes. Dos indivíduos hospedeiros, 76% tinham casca com textura rugosa, 17% suberosa e 7% lisa. Os dados mostraram que existe preferência por algumas espécies hospedeiras pelo Constrictotermes cyphergaster para construção de seus cupinzeiros, já que a distribuição observada de cupinzeiros na

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comunidade arbórea diferiu significativamente da distribuição esperada (χ2 = 67,25; n = 14; p < 0,001). DISCUSSÃO Assim como nos estudos de Fontes (1980), Godinho et al. (1989) e Silva (2000), a espécie Qualea grandiflora foi a hospedeira preferida pelo térmita Constrictotermes cyphergaster, enquanto que no estudo de Muniz & Consolaro (2002) esta mesma espécie não esteve entre as quatro hospedeiras mais freqüentes. Entretanto, Bowdichia virgiloides foi a que teve maior ocorrência de cupinzeiros, concordando com o presente trabalho, em que ela apareceu em segundo lugar. Bowdichia virgiloides teve baixa freqüência na comunidade (Tabela 2), mas teve a segunda maior ocorrência de cupinzeiros. Um número maior de cupinzeiros ocorreu em Qualea grandiflora do que o esperado pela sua representatividade na comunidade. Por outro lado, Qualea parviflora foi pouco utilizada pelos termiteiros apesar de ser a segunda espécie mais freqüente na comunidade arbórea, o mesmo ocorreu para Ouratea hexasperma. Parece haver influência da textura da casca na fixação do termiteiro à árvore, sendo que a casca rugosa parece ser a mais favorável para a ocorrência de cupinzeiros. AGRADECIMENTOS À alquimista Dona Eunice e sua fiel companheira Joyce, que nos proporcionaram os momentos mais saborosos do Curso de Campo, inclusive durante a execução deste trabalho. Ao Alexandre pela ajuda no trabalho de campo e ao prof. Divino pela orientação e pelas corajosas investidas ao topo das árvores à procura do melhor ramo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Araújo, R. L. 1977. Catálogo dos Isoptera do Novo Mundo. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. 92p.

Constantino, R. & A. M. Costa-Leonardo. 1997. A new species of Constrictotermes from Central Brazil with notes on the mandibular glands of workers (Isoptera; Termitidae; Nasutitermitinae). Sociobiology, 30 (2): 213-223.

Curso de Campo em Ecologia (PESCAN). 2004. Chave de identificação das espécies arbóreas do Cerrado.

Fontes, L. R. 1979. Os cupins. Ciência e Cultura, 31 (9):986-992.

Fontes, E. G. 1980. Estudos ecológicos sobre o térmita arbóreo Constrictotermes cypergaster em áreas de cerrado. Dissertação de Mestrado. Brasília, UnB. 66p.

Godinho, A. L.; L. V. Lins; T. A. Gontijo & D. J. Domingos. 1989. Aspectos da ecologia de Constrictotermes cypergaster (Termitidae; Nasutitermitinae) em Cerrado, Sete Lagoas, MG. Revista Brasileira de Biologia, 49: 703-708.

Mathews, A. G. A. 1977. Studies on termites from the Mato Grosso State, Brazil. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. 267p.

Mueller-Dombois, D. & H. Ellemberg. 1974. Aims and methods of vegetation ecology, New York, John Willey & Sons, 547p.

Muniz, C. & H. Consolaro. 2002. Influência do porte arbóreo sobre o estabelecimento de cupinzeiros (Constrictotermes cyphergaster – Isoptera, Termitidae). UnB – Métodos de Campo em Ecologia. 112-116pp.

Silva, L. O. 2000. Relação de ninhos Constrictotermes cyphergaster (Termitidae; Nasutitermitinae) com espécies vegetais hospedeiras no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Dissertação de Mestrado. Goiânia, UFG. 47p.

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Tabela 1: Número observado e esperado de cupinzeiros por espécie arbórea no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.

Espécie Número observado Número esperado Qualea grandiflora 39 15,4 Bowdichia virgiloides 11 4,9 Pouteria ramiflora 7 11,3 Tabebuia áurea 7 6,5 Vochysia rufa 7 6,5 Qualea parviflora 6 13,0 Myrtaceae 4 6,5 Qualea multiflora 4 4,1 Aspidosperma tomentosum 3 2,4 Vatairea macrocarpa 2 0,0 Byrsonima verbascifolia 1 7,3 Caryocar brasiliense 1 2,4 Erythroxilum suberosum 1 1,6 Ouratea hexasperma 1 12,2

Tabela 2: Freqüência relativa de espécies da comunidade arbórea em uma área do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.

Espécie Freqüência (%) Qualea grandiflora 0,13 Qualea parviflora 0,11 Ouratea hexasperma 0,10 Pouteria ramiflora 0,10 Byrsonima verbascifolia 0,06 Kielmeyera coriacea 0,06 Myrtaceae 0,06 Tabebuia áurea 0,06 Vochysia rufa 0,06 Bowdichia virgiloides 0,04 Qualea multiflora 0,03 Stryphnodendrom adstringens 0,03 Roupala montana 0,03 Aspidosperma tomentosum 0,02 Caryocar brasiliense 0,02 Byrsonima cineria 0,01 Erythroxilum suberosum 0,01 Piptocarpha rortundifolia 0,01 Eremanthus glomerulatus 0,01 Hiptidendron cannum 0,01 Palicourea rigida 0,01 Salacia crassifolia 0,01 Sclerolobium paniculatum 0,01 Tabebuia ochracea 0,01

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Comparação de velocidade de vôo entre espécies de borboletas

aposemáticas e crípticas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás

Ana Cláudia Delciellos, Maurício Bonesso Sampaio & Natália Mundim Tôrres

Orientador: Prof. Carlos Eduardo Guimarães Pinheiro

INTRODUÇÃO A visibilidade do padrão de coloração de um organismo é influenciada não somente por propriedades inerentes do padrão, como cor predominante e brilho, mas também pela visão e táticas de caça do predador, comportamento da presa e pelos padrões de coloração do substrato (Endler, 1978). Espécies com coloração aposemática, como as do gênero Heliconius e várias espécies de borboletas da família Ithomiinae, exibem uma coloração muito vistosa (Brown, 1992). Essa coloração atrai a atenção do predador, sinalizando a sua impalatabilidade. O contrário é observado para as espécies com coloração críptica, que são palatáveis e tem estratégias de fuga rápida de predadores. O estudo teve como objetivo responder às seguintes perguntas: (1) Existe uma correlação entre velocidade de vôo e o tamanho da asa? (2) A velocidade de vôo varia entre espécies aposemáticas e crípticas? (3) Existe diferença na velocidade de vôo entre borboletas de diferentes sexos? (4) Em uma mesma espécie, o tamanho da asa dos indivíduos é correlacionado à velocidade de vôo? MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado próximo à área da Cascatinha no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Foram coletadas ativamente borboletas crípticas e aposemáticas com puçá, no período de 8 h e 30 min a 12 h e 30 min. A coleta foi realizada na área ao redor da cachoeira e em um “bolsão” próximo. As espécies foram identificadas, o sexo determinado e medido o comprimento da asa de cada indivíduo.

Para determinar a velocidade das borboletas foi definido um círculo de 3 m de raio no qual cada indivíduo foi solto no centro a 1,10 m de altura. O tempo de vôo decorrido até a transposição do limite foi medido com o auxílio de um cronômetro. A velocidade foi calculada dividindo-se o raio do círculo pelo tempo de vôo. Foi utilizado o teste-t para comparações de médias, sendo que a velocidade foi comparada entre sexos somente para as duas espécies que tiveram maior quantidade de indivíduos (Mechanitis polymnia e Dircena dero). A velocidade de vôo e o comprimento da asa foram relacionados pelo coeficiente de correlação de Pearson. Para M polymnia esta correlação foi testada individualmente para cada sexo. RESULTADOS Foram utilizadas nove espécies (Tabela 1) das quais cinco eram aposemáticas e quatro crípticas. Não foi encontrada correlação (r = 0,075; n = 9; p > 0,05; Figura 1) entre velocidade e tamanho da asa para estas nove espécies. Entretanto, as espécies aposemáticas (média = 1,0 ± 0,3) têm velocidade de vôo menor (t = -0,5; gl. = 7; p = 0,001) do que as crípticas (média = 2,5 ± 0,3). A velocidade de vôo não diferiu significativamente entre sexos para M. polymnia (t = 0,19; gl =21; p = 0,85) e D. dero (t =0,03; gl =8; p = 0,98). Tanto para machos (r = -0,28; n = 10; p = 0,43; Figura 2) quanto para fêmeas (r = 0,21; n = 13; p = 0,49; Figura 3) a velocidade de vôo não foi relacionada com o comprimento da asa. DISCUSSÃO

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Dentro do conjunto de espécies analisado a velocidade de vôo não teve correlação com o comprimento da asa das borboletas. Mas a segunda pergunta levantada foi respondida de acordo com o esperado, ou seja, as espécies aposemáticas tiveram menor velocidade de vôo do que as espécies crípticas. Isto pode ser explicado pelo fato de que as espécies aposemáticas são impalatáveis e por isto sua principal estratégia contra predadores é sinalizar esta característica através de sua coloração vistosa voando lentamente, como se estivessem educando o predador a não comê-las. No caso das espécies crípticas, por serem palatáveis, necessitam fugir rapidamente dos predadores. O fato das espécies M polymnia e D. dero não terem apresentado diferença significativa de velocidade média de vôo entre os sexos possivelmente está relacionado com o seu comportamento aposemático, que não varia entre os sexos. Já o comprimento da asa dos indivíduos não

foi correlacionado à velocidade de vôo, pois pode realmente não existir diferenças entre indivíduos ou a variável medida não é a melhor preditora da velocidade de vôo. Outras medidas como largura e comprimento do tórax e abdômen podem ser melhor correlacionadas, mas são de difícil medição em campo. AGRADECIMENTOS À alquimista Dona Eunice e sua fiel companheira Joyce, que nos proporcionaram os momentos mais saborosos do Curso de Campo, inclusive durante a execução deste trabalho. Ao Alexandre pela ajuda no trabalho de campo e ao prof. Carlos pela orientação e pelas investidas precisas durante as capturas das borboletas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brown, 1972 Endler 1978

Tabela 1: Velocidade de vôo e número de indivíduos analisados para cada espécie de borboleta utilizada. As espécies foram identificadas por subfamílias e tipo de coloração. (M=machos e F=fêmeas).

Subfamília Espécie Coloração n Velocidade (m/s) Ithomiinae Mechanitis polymnia Aposemática 23 1,1 (M) /1,1 (F) Ithomiinae Dircena dero Aposemática 10 1,5 (M) /1,5 (F) Ithomiinae Tithorea harmonia Aposemática 01 0,8 Ithomiinae Aeria olena Aposemática 01 0,9 Heliconiinae Heliconius erato Aposemática 02 0,7 Pieridae Anteos chlorinde Críptica 01 2,5 Nynphalinae Adelpha cytherea Críptica 03 2,2 Nynphalinae Callicore selima Críptica 01 2,0 Nynphalinae Callicore sorana Críptica 01 3,2

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0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0 10 20 30 40 50 6

Comprimento da asa (mm)

Velo

cida

de (m

/s)

0

Figura 1: Correlação entre o comprimento médio das asas e a velocidade de vôo para nove espécies de borboletas (r=0,075, p>0,05). Foram usados quadrados para representar as espécies aposemáticas e pontos para as crípticas.

Comprimento da asa (mm)

Vel

ocid

ade (

m/s

)

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

1,7

28 30 32 34 36 38 40 42

Figura 2: Correlação entre o comprimento da asa e a velocidade de vôo para os machos da espécie M. polymnia (r=-0,28; p=0,43).

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Comprimento da asa (mm)

Vel

ocid

ade (

m/s

)

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

31 33 35 37 39 41 43

Figura 3: Correlação entre o comprimento da asa e a velocidade de vôo para as fêmeas da espécie M. polymnia (r=0,21; p=0,49).

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Alocação de recursos para defesa de ninho em Constrictotermes

cyphergaster (Termitidae)

Ana Cláudia Delciellos, Maurício Bonesso Sampaio & Natália Mundim Tôrres

Orientadora: Ivone Diniz INTRODUÇÃO Os cupins ou térmitas são insetos eusociais da ordem Isoptera que podem utilizar uma variedade de recursos em sua alimentação e construção de ninhos, como galhos secos, cascas de árvores, folhas, raízes, sementes, terra e até madeira manufaturada. São importantes na ciclagem de nutrientes do solo e servem como indicadores da qualidade ambiental (Fontes, 1979). Os cupins se organizam em um sistema altamente desenvolvido de castas. Os reis e rainhas são reprodutores alados e a casta dos operários é composta por ninfas e adultos estéreis, ápteros e geralmente com mandíbulas pequenas. Fazem a maior parte do trabalho da colônia, forrageam, constroem e reparam os ninhos, túneis e galerias. Os soldados defendem a colônia e, dependendo do grupo considerado, podem ter mandíbulas ampliadas (defesa mecânica) ou então, um nasuto associado a uma glândula para a defesa química. Na espécie Constrictotermes cyphergaste, os soldados apresentam a cabeça prolongada anteriormente numa tromba fina através da qual uma secreção viscosa é espirrada contra o intruso, e os palpos são bem desenvolvidos, mas as mandíbulas são reduzidas (Borror & DeLong, 1969). Para as espécies cuja estratégia de defesa é a química, considera-se que a alocação de recursos possa estar mais direcionada para a produção de soldados em detrimento da reconstrução dos ninhos após danos (Negret & Howse, 1980). Quando o ninho desta espécie é danificado, os soldados saem rapidamente à superfície, realizando um patrulhamento em toda a extensão do cupinzeiro, e em seguida retornando ao interior para o recrutamento de operárias

que irão eventualmente recuperar a área injuriada. Os objetivos do presente estudo foram avaliar (1) se a alocação de recursos para defesa do ninho de Constrictotermes cyphergaster varia entre cupinzeiros previamente danificados e os não danificados e (2) se o tamanho e a altura do ninho em relação ao solo, e luz incidente no cupinzeiro influenciam na alocação destes recursos. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido em uma área de cerrado sentido restrito no PESCAN, onde através do método de varredura amostramos 36 cupinzeiros arborícolas da espécie Constrictotermes cyphergaster. Como sete desses estavam inativos, para as análises foram considerados 29 cupinzeiros. Para os últimos oito cupinzeiros foram feitas observações na parte sombreada e na com radiação solar direta. Foram feitas medidas da altura do ninho em relação ao solo, comprimento e largura do mesmo e presença ou ausência de radiação solar direta. Em cada um dos ninhos foi feito um dano de 2 x 2 cm na sua porção média e em seguida era contado o número de soldados que apareciam na superfície em intervalos de um minuto, até cinco minutos. Foi registrado o horário das observações em cada cupinzeiro, além da temperatura ambiente e a umidade do ar, que foram medidas a cada 30 minutos. Os dados foram separados em dois grandes grupos para análise: previamente danificados (n=17 ) e intactos (n=12).

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RESULTADOS O número médio de soldados alocados para a defesa em cupinzeiros previamente danificados foi 8±14,7 e para os intactos 8 ±10,6. A variação no número médio de soldados ativos até cinco minutos após a injúria não mostrou um padrão diferenciado entre cupinzeiros intactos (Figura 1) e os previamente danificados (Figura 2), mas podemos observar um erro padrão maior para estes últimos. Não houve diferença entre cupinzeiros já danificados e sem danos anteriores para as variáveis altura em relação ao solo (t = 0,79; g.l. = 25; p = 0,44), largura e comprimento do ninho (Tabela 1). O número médio de soldados defendendo o cupinzeiro após injúria ao longo do dia foi em geral maior para os ninhos em locais sombreados do que para aqueles expostos à radiação luminosa direta (Figura 3). Isto pode ser influenciado pela diminuição da umidade relativa do ar e aumento da temperatura ambiente durante o período de estudo, principalmente a partir de 11 h., quando se inicia o déficit hídrico (Figura 4). O número de soldados variou com o comprimento do ninho (Figura 5) e houve uma tendência maior de alocação de defesa nas áreas sombreadas do cupinzeiro do que naquelas com radiação direta (Figura 6). O número médio de soldados após dano em cupinzeiro sombreados e expostos à radiação direta simultaneamente foi de 4 ± 17,7 e 8 ± 10,7. DISCUSSÃO O fato do custo de produção de soldados na espécie C. cyphergaster ser alto devido à sua estratégia de defesa química pode provocar uma redução na alocação de recursos para a construção e recuperação dos ninhos (Negret & Howse, 1980). A alocação de recursos para defesa do cupinzeiro deveria ser maior para aqueles sem danos anteriores do que para os já danificados de acordo com o esperado. Foi observado o mesmo padrão na alocação de recursos para defesa entre ninhos

danificados e não danificados anteriormente. Entretanto, houve uma maior regularidade dessa resposta em ninhos intactos. Isto deve ter ocorrido porque alguns danos seriam de pouca influência na manutenção das condições ótimas de funcionamento do cupinzeiro, como temperatura adequada e defesa contra invasores, e assim, não haveria necessidade em serem recuperados, não alterando a resposta de defesa contra predadores. Embora a altura em relação ao solo não tenha mostrado diferença significativa entre cupinzeiros com e sem danos anteriores, existe uma tendência de que os ninhos mais altos apresentem menos danos, provavelmente devido à dificuldade do acesso de vertebrados que se alimentam de cupins. O número de soldados que defendem o ninho variou diretamente com o tamanho do cupinzeiro. Esta variação pode ter interferido na avaliação da influência dos outros fatores, sendo a responsável pelo alto erro padrão encontrado para o número médio de soldados em todas as análises. Isto poderia ser minimizado através da escolha de uma única classe de tamanho para as comparações entre o número médio de soldados e as demais variáveis, como influência de danos anteriores, presença ou ausência de radiação solar direta e altura em relação ao solo. Aparentemente a incidência de radiação direta nos cupinzeiros ou em porções deles interfere na atividade de defesa, sendo maior naqueles sombreados, principalmente nas horas do dia em que a temperatura é mais elevada e a umidade relativa do ar é menor. Isto ocorreu porque os cupins são insetos de corpo mole sensíveis às variações de temperatura e umidade. Sendo assim, fogem das condições adversas e utilizam as porções com temperaturas mais amenas do interior do ninho, que seriam aquelas mais próximas às áreas sombreadas. Pelo fato de ter mais cupins nestas áreas, elas acabam sendo mais bem protegidas. Inclusive, entre cupinzeiros completamente expostos à radiação solar e aqueles totalmente sombreados, a atividade de

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defesa é diferenciada. Naqueles completamente expostos, os soldados parecem ocupar as porções mais internas do cupinzeiro e diminuem a atividade de defesa na superfície, onde as condições são adversas, ao contrário daqueles totalmente sombreados, onde a resposta à danos é mais eficiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Borror, D. J. & D. M. DeLong. 1969.

Estudo dos Insetos. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Cunha, H. F., D. A. Costa, K. E. S. Filho, L. O. Silva & D. Brandão. 2003. Relationship between Constrictotermes cyphergaster and inquiline termites in the Cerrado (Isoptera: Termitidae). Sociobiology, 42 (3):761-770.

AGRADECIMENTOS À alquimista Dona Eunice e sua fiel companheira Joyce, que nos proporcionaram os momentos mais saborosos do Curso de Campo, inclusive durante a execução deste trabalho. Aos professores Ivone Diniz e Jair Maia, pela orientação e criatividade em campo.

Fontes, L. R. 1979. Os cupins. Ciência e Cultura, 31 (9):986-992.

Negret, H. R. C. & P. E. Howse. 1980. Chemical defense in termites – ecological aspects. In: Social insects in the tropics (P. Jaisson Ed.) Université Paris-Nord. Paris.

Tabela 1 – Variação da altura do cupinzeiro ao solo, largura e comprimento dos ninhos com e sem injúrias anteriores.

Sem danos (média±DP) Com danos (média±DP) Cupinzeiro-solo* 104±42 89±29 Largura 73±29 82±22 Comprimento 64±30 63±21

(*) Não houve diferença significativa na altura do ninho ao solo entre cupinzeiros com e sem danos anteriores (t = 0,79; g.l. = 25; p = 0,44).

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Tempo (min.)

Núm

ero

méd

io d

e so

ldad

os

-2

2

6

10

14

18

22

0 1 2 3 4 5

Figura 1 – Número médio de soldados por tempo (min.) após injúria para cupinzeiros sem danos anteriores (média ± um erro padrão).

Tempo (min.)

Núm

ero

méd

io d

e so

ldad

os

-2

2

6

10

14

18

22

0 1 2 3 4 5

Figura 2 – Número médio de soldados por tempo (min.) após injúria para cupinzeiros com danos anteriores (média ± um erro padrão).

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0

5

10

15

20

25

09:00 09:30 10:00 10:30 11:00 11:30 12:00 12:30

Tempo (h)

Núm

ero

méd

io d

e so

ldad

osSombreado

Radiação direta

Figura 3 – Número médio de soldados após injúria ao longo do dia para cupinzeiros na sombra e na luz.

20

22

24

26

28

30

09:00 09:30 10:00 10:30 11:00 11:30 12:00 12:30

Tempo (h)

Tem

pera

tura

(ºC

)

30

36

42

48

54

60

Um

idad

e do

ar (

%)

tempumid

Figura 4 – Temperatura (oC) umidade do ar (%) ao longo do dia.

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02

46

81012

1416

1820

30-50 50-70 70-90 90-110

Classes de comprimento do cupinzeiro

Núm

ero

méd

io d

e so

ldad

os

Figura 5 – Distribuição do número médio de soldados por classe de comprimento dos cupinzeiros.

Nível de radiação luminosa

Núm

ero

méd

io d

e so

ldad

os

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Sombreado Radiação direta

Figura 6 – Número médio de soldados após dano em cupinzeiro sombreados e expostos à radiação direta simultaneamente (média ± um erro padrão).

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Influência da taxa de predação e umidade relativa do ar no horário de

atividade de térmitas terrestres

Ana Cláudia Delciellos, Maurício Bonesso Sampaio & Natália Mundim Tôrres

Orientador: Prof. Raimundo Henriques INTRODUÇÃO Os cupins ou térmitas são insetos eusociais da ordem Isoptera que podem utilizar uma variedade de recursos em sua alimentação e construção de ninhos, como galhos secos, cascas de árvores, folhas, raízes, sementes, terra e até madeira manufaturada. São importantes na ciclagem de nutrientes do solo e servem como indicadores da qualidade ambiental (Fontes, 1979). Organizam-se em um sistema altamente desenvolvido de castas, onde os reis e rainhas são reprodutores alados. A casta dos operários é composta por ninfas e adultos estéreis, ápteros e geralmente com mandíbulas pequenas, que fazem a maior parte do trabalho da colônia, forrageiam e constroem os ninhos, túneis e galerias. Os soldados são adultos estéreis de cabeças e mandíbulas ampliadas, maiores que os operários e fazem a defesa da colônia (Borror & DeLong, 1969). Por terem corpo mole, os cupins são sensíveis às variações de umidade relativa do ar. Além disso, seu pico de atividade ao longo do dia pode ser influenciado pela atividade dos seus predadores, sendo que a atividade dos cupins geralmente é maior nas horas do dia em que a umidade relativa do ar é maior e a atividade dos predadores menor. O objetivo do estudo foi avaliar o efeito da taxa de predação em Cornitermes sp. e da umidade relativa do ar sobre o período de atividade destes cupins. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido em uma área de cerrado sentido restrito na Trilha do Paredão, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Foram feitos 11 pontos de amostragem ao longo de 70m na trilha. Em cada ponto, foi limpa uma pequena área

e colocada uma folha seca contendo cinco cupins vivos das castas de operários e soldados, colados pela porção dorsal do abdômen. A intervalos de três horas, das 21 h. às 12 h., os pontos eram visitados e após um período de aproximadamente 30 minutos o número de cupins que tinham sido predados (removidos ou mutilados) ou deixados intactos, era anotado. Após cada intervalo de três horas, os cupins foram repostos. Para observação dos períodos de atividade dos cupins foram marcados 13 cupinzeiros, e realizadas visitas a cada três horas das 18 h. às 12 h. Em cada visita, a atividade dos cupins foi detectada pela movimentação natural deles no exterior do cupinzeiro. A temperatura foi medida com um psicômetro, e o valor da umidade relativa foi obtido a partir da tabela de diferença de temperatura entre os bulbos seco e úmido (Brower et al., 1990). Foi ajustada uma curva polinomial à menor distância aos pontos da taxa de predação de cupins ao longo do período de estudo. RESULTADOS A taxa de predação de cupins diminuiu ao longo do tempo no período de 21 h às 12 h (Figura 1). Do total de cupins, 18% foram removidos, 0,9% decapitados, 0,6% mutilados e 80% permaneceram intactos após aproximadamente 30 minutos de exposição aos predadores, sendo que as formigas foram o principal predador observado. A umidade relativa aumentou durante os primeiros intervalos de tempo (21 h. a 6 h.) e sofreu um drástico decréscimo das 6 h. as 12 h. (Figura 2). Desde o primeiro período de observação (21 h.) os cupins já estavam ativos, mas o pico de atividade ocorreu das 21 h. às 3 h.

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A partir das 6h. da manhã os cupins não estavam mais ativos (Figura 3). DISCUSSÃO Como esperado, a umidade relativa do ar e a taxa de predação foram fatores que influenciaram fortemente na atividade dos cupins. Entretanto, o pico de atividade não ocorreu no período de maior umidade e menor taxa de predação, mas em um ponto intermediário da amplitude de variação da umidade relativa e da taxa de predação. Estes animais procuram ajustar seu período de maior atividade procurando o melhor compromisso entre estas duas variáveis, de forma a otimizar a relação custo-benefício entre fugir dos predadores e ter condições microclimáticas propícias para o forrageamento e outras atividades. A luminosidade é um outro importante fator, nas áreas sombreadas a atividade pode ser maior que nas áreas expostas à radiação direta (vide trabalho anterior do grupo orientado pela prof. Ivone Diniz). A variação sazonal climática pode intensificar a atividade dos cupins em épocas chuvosas. Além disso, a história filogenética, que

pode ser herança de um grupo ancestral que tinha um mesmo padrão de atividade pode influenciar os resultados aqui obtidos. AGRADECIMENTOS À alquimista Dona Eunice e sua fiel companheira Joyce, que nos proporcionaram os momentos mais saborosos do Curso de Campo, inclusive durante a execução deste trabalho. Ao professor Raimundo Henriques, pela orientação e por nos proporcionar um momento de liberação do nosso instinto de estripadores, e à nossa fiel mesa de trabalho noturno, o monitor Alexandre. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Borror, D. J. & D. M. DeLong. 1969.

Estudo dos Insetos. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Brower, J. E., J. H. Zar & C. N. von Ende. 1990. Field and laboratory methods for general ecology. 3ª. ed. Wm. C. Brown Publishers. Dubuque.

Fontes, L. R. 1979. Os cupins. Ciência e Cultura, 31 (9):986-992.

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R2 = 0,7372

0

1

2

3

4

5

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (h)

Taxa

de

pred

ação

18 21 24 03 06 09 12 15

Figura 1 – Taxa de predação de cupins ao longo de um período de tempo.

01020304050607080

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (h)

Um

idad

e re

lativ

a

18 21 24 6 9 12 153

Figura 2 – Umidade relativa ao longo de um período de tempo.

00,050,1

0,150,2

0,250,3

0,35

21 24 3 6 9 12Tempo (h)

Prop

orçã

o de

cup

ins

ativ

os

Figura 3 – Proporção de cupinzeiros ativos durante um período de tempo.

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LARVAS DE FORMIGA-LEÃO: O TEMPO DE REAÇÃO PARA A

CAPTURA DA PRESA SOFRE INFLUÊNCIA PELO SEU TAMANHO E PELAS CARACTERÍSTICAS DO FUNIL?

Ana Karina Salcedo Moreyra e Ísis Meri Medri

INTRODUÇÃO As formigas-leão pertencem à ordem Neuroptera e à família Myrmeleontidae. Os adultos deste grupo têm aspecto geral parecido com odonatas, com quatro asas longas e estreitas e de rica nervação, e apresentam abdômen longo e fino. Já as larvas vivem no solo, geralmente em locais secos e protegidos da chuva. Constroem um pequeno funil cônico na superfície da areia ou do solo fino e lá ficam à espera de formigas e outros insetos que aí caem, já que são predadoras. Estas larvas são providas de mandíbulas longas e falciformes para a captura de suas presas (Borror & DeLong, 1969). Os objetivos deste estudo foram 1) verificar se o tempo de reação para a captura da presa tem relação com o comprimento da larva de formiga-leão, e 2) testar se o diâmetro, a altura e o volume do funil tem relação com o comprimento da larva de formiga-leão. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no dia 07/08/2004, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN) – GO, na estrada do platô, no período das 08:00 as 12:30 h. Durante o experimento foram selecionados funis presentes no solo fino da beira da estrada, sendo que em na beirada de cada funil foi ofertado um cupim Cornitermes sp. da casta operária para a verificação do tempo de reação da formiga-leão para a captura da presa. Depois da predação os funis tiveram seu diâmetro e altura medidos com paquímetro, para a posterior estimativa de volume do funil, através da seguinte fórmula:

V = πr². h 2

onde: π = 3,14 r = raio do funil (diâmetro/2) h = altura do funil Após o evento de predação do cupim pela formiga-leão, foi feita a coleta desta larva com o auxílio de pá de jardinagem e peneira de malha fina. O comprimento da larva de formiga-leão e de suas mandíbulas foram medidos também com um paquímetro.

Em cada evento de oferta de cupim no funil da formiga-leão, foi esperado um intervalo máximo de 2 minutos para a reação da mesma, e caso esta reação não ocorresse neste período de tempo foi considerado que não houve predação. Entretanto, todas as medidas das características dos funis também foram feitas neste caso para a posterior relação destas com o comprimento da larva de formiga-leão.

Os dados registrados foram analisados através de correlação de Pearson. RESULTADOS Do total de 36 experimentos de oferta de cupim nos funis das larvas de formiga-leão, em 31 casos ocorreu o evento de predação do cupim ofertado. O tempo de reação para a predação variou de 1 a 41 segundos. As larvas de formiga-leão retiradas do solo apresentaram comportamento de imobilidade ao serem perturbadas no ato de coleta. O comprimento das larvas de formiga-leão variou de 0,7 a 1,4 cm, e todas apresentaram mandíbulas com comprimento de 3 mm.

Os funis analisados tiveram diâmetro entre 2,3 e 6,4 cm e altura de 1,2 a 2,6 cm, gerando uma variação de volume entre 2,7 e 36,9 cm³ (Tabela 1).

O valor da correlação de Pearson para o tempo de reação de predação do

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cupim pela larva de formiga-leão versus o comprimento da larva foi de 0,12 (P = 0,51; Figura 1).

A correlação de Pearson entre o diâmetro do funil versus o comprimento da larva de formiga-leão resultou em 0,50 (P = 0,001; Figura 2). A altura do funil versus o comprimento da larva de formiga-leão apresentou na correlação de Pearson o valor de 0,54 (P < 0,001; Figura 3). A correlação de Pearson entre o volume do funil versus o comprimento da larva de formiga-leão resultou em 0,48 (P < 0,01; Figura 4). DISCUSSÃO O tempo de reação da larva de formiga-leão para a predação do cupim ofertado pode ter variado devido a diferenças individuais, como o estado de saciedade prévia da larva de formiga-leão e sua velocidade de resposta ao estímulo da presa e também com o nível de estímulo que cada cupim executava no funil. A baixa correlação entre o tempo de reação da larva de formiga-leão à oferta de cupim em relação ao comprimento da larva possivelmente deve-se ao fato de que o principal fator atuante no sucesso de predação é o comprimento da mandíbula e não necessariamente o comprimento da larva, já que larvas de tamanhos variados apresentaram mandíbulas com o mesmo tamanho. As larvas de formiga-leão, mesmo as menores, já estão “equipadas” com

mandíbulas enormes em relação ao tamanho do corpo, sendo aparatos eficazes para a predação voraz destes organismos. O comportamento de imobilidade apresentado pelas larvas de formiga-leão ao serem perturbadas, no ato de sua coleta, reflete uma camuflagem ao meio, possivelmente para se esquivar do ataque de possíveis predadores. Os diâmetros dos funis encontrados no PESCAN – GO foram maiores do que os descritos na literatura, onde constam diâmetros de 2 a 5 cm (Borror & DeLong, 1969). As características do funil, diâmetro, altura e volume, tiveram correlação significativa com o comprimento da larva de formiga-leão. Portanto, pode-se inferir que nas larvas de formiga-leão o comprimento não influencia no tempo de reação para a predação, e que as características do funil explicam em parte este fator. AGRADECIMENTOS Aos Profs. Jader S. Marinho-Filho e Divino Brandão pelo auxílio na coleta de cupins. Ao Alexandre Avelino pelo auxílio na análise de dados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Borror, D. J. & DeLong, D. M. 1969.

Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blücher LTDA. São Paulo.

TABELA 1 – Comprimento da larva, tempo de predação e características do funil das larvas de formiga-leão amostradas no PESCAN – GO, no dia 07/08/2004. Parâmetros Registrados Menor Maior Comprimento da larva de formiga-leão (cm) 0,7 1,4 Tempo de reação para a predação do cupim ofertado (s) 1 41 Diâmetro do funil (cm) 2,3 6,4 Altura do funil (cm) 1,2 2,6 Volume do funil (cm³) 2,7 36,9

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R² = 0,01 P = 0,51 gl = 29 r = 0,12

Figura 1 – Tempo de reação de predação do cupim ofertado pela larva de formiga-leão versus comprimento da larva, no PESCAN – GO, 07/08/2004.

R² = 0,26 P = 0,0015 gl = 34 r = 0,50

Figura 2 – Diâmetro do funil versus o comprimento da larva de formiga-leão, PESCAN – GO, 07/08/2004.

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R² = 0,29 P = 0,0006 gl = 34 r = 0,54

Figura 3 – Altura do funil versus o comprimento da larva de formiga-leão, PESCAN – GO, 07/08/2004.

R² = 0,23 P = 0,0025 gl = 34 r = 0,48

Figura 4 – Volume do funil versus o comprimento da larva de formiga-leão, PESCAN – GO, 07/08/2004.

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Seleção de microhabitat por uma comunidade de peixes de um poço no

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO

Ana Cláudia Delciellos INTRODUÇÃO Dentro do seu habitat, as espécies selecionam pequenos locais com particularidades relacionadas a fatores abióticos e bióticos, que são chamados de microhabitats. Isso inclui fatores relacionados à estrutura do seu ambiente, como disponibilidade de abrigos e profundidade da água, e fatores bióticos como competição intraespecífica e escape de predadores. Os animais, particularmente, usam mecanismos comportamentais para escolher seus microhabitats, e os movimentos individuais são um componente essencial na seleção de habitat resultante (Krebs, 1994).

Os objetivos desse estudo foram (1) testar a metodologia de observação de varredura para uma comunidade de peixes de um poço, e (2) verificar se existe seleção de variáveis estruturais do ambiente diferenciada de acordo com o tamanho dos indivíduos da comunidade de peixes. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no poço em frente à lagoa da cascatinha, na trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Foi utilizado o método de observação de varredura pontual para uma comunidade de peixes do poço. Uma grade de 3 x 3 m dividida em 9 quadrados foi estabelecida com o auxílio de 10 estacas de alumínio e barbante. Dezesseis observações foram feitas, com dez minutos de intervalo, durante 2 a 5 minutos e no período da manhã. Durante os intervalos das observações, o observador não ficava observando os peixes para evitar o cansaço. Os indivíduos do poço foram divididos em classes de tamanho (pequeno, médio e grande) e sua localização e número foram anotados em um esquema da grade durante

as observações. As espécies constituintes dessa comunidade não foram identificadas, nem indivíduos foram coletados.

A incidência de luz solar foi descrita para cada quadrado em cada período de observação. A profundidade média de cada quadrado foi calculada a partir da medida da profundidade no centro do quadrado e nos seus quatros limites. O poço foi descrito em um esquema da grade, indicando as áreas de possíveis abrigos. Pão foi oferecido em diferentes tamanhos para a observação da reação dos indivíduos. RESULTADOS A utilização do método de observação de varredura apresentou alguns problemas, como dificuldade de visibilidade dos peixes e diferenças no observado de acordo com a posição (ângulo de visão) do observador. O número de observadores foi insuficiente, devido à grande mobilidade dos peixes.

O número médio de indivíduos na comunidade de peixes foi de 70,6 indivíduos, sendo constituída por 23% de indivíduos pequenos, 54,7% médios e 22% grandes. O número médio de indivíduos foi maior nos quadrados com maior profundidade (Tabela 1), à exceção do quadrado 6. Já o quadrado 4 apresentou a relação inversa, com grande número de indivíduos apesar da baixa profundidade.

A medida da incidência solar foi apenas qualitativa, e mostrou que o poço vai progressivamente recendo a incidência da luz solar com o avanço das horas do dia. Os peixes, independentemente do tamanho corporal, evitaram essas áreas onde a visibilidade na água é maior. Quando em um mesmo quadrado existiam áreas com Sol e com sombra, os indivíduos claramente se localizavam nas áreas sombreadas.

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A profundidade do poço foi muito variável (Tabela 1), com as áreas mais profundas se localizando no centro. A descrição do poço através de um desenho esquemático mostrou a existência de uma grande quantidade de abrigos constituídos por vãos entre rochas (Figura 1). Estes formavam caminhos que eram utilizados como passagem por cardumes formados principalmente por indivíduos médios e grandes, que se deslocavam rapidamente. Além disso, os indivíduos de maior tamanho corporal da comunidade foram observados parados no fundo e sempre próximos a abrigos, enquanto que os menores eram freqüentemente vistos no raso.

A oferta de alimento sempre resultou em disputa, independentemente do tamanho do pão. Quando o tamanho era pequeno, este normalmente era pego pelo indivíduo mais próximo. Quando o tamanho era grande, rapidamente atraia muitos indivíduos, e causava grande disputa e agitação, das quais os peixes pequenos aparentemente não participavam. DISCUSSÃO O método de observação de varredura se mostrou eficaz para a avaliação da distribuição espacial dos indivíduos no poço, e possibilitou a obtenção de dados pontuais de seleção de microhabitat de forma eficiente. Os problemas que ocorreram na utilização dessa metodologia podem ser explicados pela inexperiência do observador, bem como seu número insuficiente. Já a visibilidade dos peixes pelo observador aumentou de forma considerável com a incidência de luz solar no poço, mostrando que os períodos do dia em que essa metodologia é aplicada devem ser levados em consideração antes da ida ao campo, em casos especiais em que uma série temporal não será acompanhada. O maior número de indivíduos de todos os tamanhos nas partes mais profundas do poço, bem como o comportamento de evitar as áreas com maior luminosidade, podem refletir

estratégias de escape de predadores aéreos e de predadores da própria comunidade do poço, como no caso de competição intraespecífica. O fato do quadrado 6 não ter apresentado um grande número de indivíduos de acordo com o esperado pela sua grande profundidade, pode ser explicado por ser uma área do poço com muitos abrigos, que eram utilizados apenas como caminho de passagem rápida por indivíduos médios e grandes para outras áreas do poço. Além disso, o quadrado 6 foi o segundo a ser iluminado completamente pelo Sol, representando uma área de exposição à predadores. Já a relação inversa observada no quadrado 4, isto é, grande número de indivíduos apesar da baixa profundidade, pode ser explicada pelo fato de que apesar da baixa profundidade, a água era mais parada e este quadrado permaneceu muito mais tempo na sombra do que quadrados mais profundos como o 5, que apesar da alta profundidade teve um número não tão grande de indivíduos (Tabela 1). Além disso, esse quadrado apresentou um grande número de indivíduos pequenos, que se concentravam nas áreas rasas do poço. A descrição esquemática do poço foi essencial para a análise e entendimento dos dados. Apesar de pequeno, este parece ser um ambiente estruturalmente heterogêneo, sendo aparentemente rico em abrigos. O mesmo não pode ser dito acerca da disponibilidade de alimento, parecendo haver uma dependência de fontes externas ao poço, sendo este próprio muito oligotrófico.

Assim, foi observada a ocorrência de uma seleção de variáveis estruturais do ambiente diferenciada de acordo com o tamanho dos indivíduos da comunidade de peixes, em relação à profundidade da água, incidência de radiação direta e disponibilidade de abrigos. A metodologia se mostrou eficiente para estudar a distribuição espacial e o comportamento dos indivíduos dessa comunidade, em um poço que era pequeno e tinha limites evidentes. Entretanto, esse estudo pode ser

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expandido e complementado através de trabalhos de manipulação da intensidade de luz e oferta de alimentos no poço, e de uma associação com estudos da morfologia dos indivíduos dessa comunidade. AGRADECIMENTOS À professora Regina, pela sugestão do projeto e explicação do método. Ao

professor Jader, pela orientação e ao Alexandre, pela ajuda. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Krebs, C. J. 1994. Ecology: The

experimental analysis of distribution and abundance. Harper Collins College Publishers, New York.

Tabela 1: Número médio de indivíduos e profundidade media de cada quadrado.

QUADRADO NÚMERO MÉDIO DE INDIVÍDUOS

PROFUNDIDADE MÉDIA (cm)

1 7,6 26 2 31,9 42 3 1,4 30 4 16,8 28 5 9,7 41 6 3,9 38 7 0,2 14 8 0,2 24 9 0 22

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Figura 1: Desenho esquemático do poço (azul=caminhos de passagem e prováveis abrigos formados por vãos entre pedras; rosa=água; vermelho=cascalho das áreas menos profundas; verde=pedras).

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Ataque de insetos brocadores, uma possível causa de morte de indivíduos de

carvoeiro (Sclerolobium paniculatum Vogel, Leguminosae) no Cerrado?

Benedito Alísio da Silva Pereira, Maurício Bonesso Sampaio INTRODUÇÃO O carvoeiro (Sclerolobium paniculatum) é uma leguminosa arbórea amplamente distribuída que ocorre em várias fitofisionomias no bioma Cerrado e que freqüentemente aparece como espécie dominante, principalmente em áreas de solos litólicos.

Além da sua dominância nessas áreas, o carvoeiro tem chamado a atenção dos botânicos e ecólogos por ser uma espécie que geralmente apresenta grande número de indivíduos mortos nas suas áreas de ocorrência.

Observações de campo têm levado a constatação de que as árvores mortas dessa espécie normalmente apresentam-se atacadas por larvas de um inseto brocador que penetra no tronco e percorre a região entre a casca interna e o xilema, ao redor e ao longo do fuste, destruindo os tecidos do floema e do câmbio e deixando marcas em forma de galeria na face interna da casca e na superfície do lenho.

O carvoeiro é uma espécie abundante no cerrado rupreste do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), onde se observou que, como em outros lugares, apresenta elevado número de indivíduos mortos, em comparação com o de outras espécies.

O presente trabalho teve o objetivo de verificar a proporção de árvores de Sclerolobium paniculatum mortas que apresentam sinais de ataque de insetos brocadores e estimar as faixas de diâmetro dos indivíduos mortos que apresentavam esses sinais. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi feito no cerrado rupestre existente na margem direita da estrada que cruza a encosta da Serra de Caldas Novas

em direção ao interior do PESCAN. O solo no local é litólico e a altitude variava entre 890 e 920 m.

A amostragem foi realizada numa parcela de 50 x 100 metros, demarcada no sentido transversal ao declive da encosta. Nessa parcela, foram amostrados todos os indivíduos vivos e mortos que possuíam no mínimo 12 cm de circunferência a 30 cm da superfície do solo, os quais tiveram também as suas alturas estimadas. Os indivíduos mortos foram examinados para verificar se havia ou não sinais de ataque do inseto brocador. RESULTADOS Foram amostrados 56 indivíduos de Sclerolobium paniculatum na parcela de 0,5 hectare. Destes, 41 (73%) estavam vivos e 15 (27%) estvam mortos (Figura 1). Dos indivíduos mortos, 11 (73%) apresentavam sinais de ataque do inseto (Figura 2). Os indivíduos amostrados concentraram-se nas classes intermediárias de diâmetro (Figura 3) e de altura (Figura 4). Os indivíduos mortos em pé com sinais de ataque do inseto concentraram-se nas classes de 10 a 35 cm de diâmetro (Figura 5). DISCUSSÃO Os resultados obtidos mostraram que a maioria dos indivíduos mortos em pé teve sinais de insetos brocadores, principalmente nas classes intermediárias de diâmetro e altura. A taxa de 19% dos indivíduos mortos em pé com sinais de ataque de insetos brocadores é inferior ao valor encontrado (67%) por Hay & Barreto (1988) para Vochysia thyrsoidea em um cerrado perto de Brasília, após acompanharem durante 4 anos uma amostra de 486 indivíduos dessa espécie. Também também difere dos valores encontrados para

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outras espécies tropicais, bem como para algumas temperadas por Christensen (1977) e (Connel et al. 1984). Apesar disso, essa taxa não pode ser ignorada e é um indício de que o ataque de insetos brocadores pode ser um dos fatores que causam morte de indivíduos de carvoeiro no seu habitat natural. Outros fatores como ataque de patógenos, fogo, vento, geadas e raios como sugerem Hay & Barreto (1988) também podem estar envolvidos no processo que levam grande número de indivíduos de espécies arbóreas à morte.

Christensen, N. L. 1977. Changes in structure, pattern and diversy associated with climax forest maturation in Piedmont, North Carolina. Am. Midl. Nat., 97: 176-188.

Connell, J. H. et al. 1984. Compensatory recruitment, growth and mortality as factors maintaining rainforest tree diversidy. Ecol. Monogr., 54: 141-164.

Hay, J. D. & Barreto, E. J. M. 1988. Natural mortality of Vochysia thyrsoidea in na unbernt Cerrado ecossystem near Brasília. Biotropica, 20(4): 274-279, 1988.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

0

0,2

0,4

0,6

0,8

Vivos Mortos

Condição dos indivíduos

Freq

üênc

ia

Figura 1: Proporção de indivíduos vivos e mortos na população amostrada de carvoeiros.

00,10,20,30,40,50,60,70,8

Mortos c/sinal Mortos s/sinal

Freq

üênc

ia

Figura 2: Proporção dos indivíduos mortos que apresentaram ou não sinais de ataque de coleópteros.

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Diâmetro (cm) a 30cm do solo

Freq

üênc

ia o

bser

vada

0%

5%

10%

15%

20%

25%

<= 5 (5;10] (10;15] (15;20] (20;25] (25;30] (30;35] > 35

Figura 3: Distribuição de freqüência dos indivíduos em classes de diâmetro.

Classes de altura (m)

Freq

üênc

ia o

bser

vada

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

<= 3,333 (3,333;4,667] (4,667;6,] (6;7,333] (7,333;8,667] > 8,667

Figura 4: Distribuição de freqüência dos indivíduos em classes de altura.

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0

1

2

3

4

0-5 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 >35

Classes de diâmetro (cm) a 30cm do solo

Núm

ero

de á

rvor

es m

orta

s

Figura 5: Distribuição de freqüência dos indivíduos mortos com sinais de ataque de coleópteros em classes de diâmetro.

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Riqueza e diversidade de espécies arbóreas em um cerrado rupestre na

encosta no PESCAN.

Fabíola Ferreira Oliveira & Kena Ferrari Moreira da Silva Introdução O Cerrado é uma das formações vegetais mais ameaçadas atualmente pela ação antrópica. A falta de informações quanto a suas características fisiológicas, ecológicas, florísticas e fitossciológicas aliadas a pequena área teoricamente protegida em unidades de conservação legalizadas dão idéia dos riscos da perda de informação sobre a florística da região (Andrade et al., 2002).

O Cerrado é notável pela sua grande variação em sua fisionomia, apresentando formas florestais, savânicas e campestres (Ribeiro & Walter, 1998). Dentre estas formas fisionômicas, o cerrado rupestre ainda é pouco conhecido quanto as suas características fitossociológicas e florísticas, elevando a importância deste tipo fitofisionômico. O cerrado rupestre é um subtipo de vegetação arbóreo-arbustiva que ocorre em ambientes rupestres (Litólicos ou rochosos). Embora possua estrutura semelhante ao cerrado ralo, o cerrado rupestre comporta pouco solo entre os afloramentos de rocha. Possui cobertura arbórea variável de 5% a 20%, altura média de 2 a 4 metros e estrato arbustivo-herbáceo também destacado (Ribeiro & Walter, 1998). Tipicamente este tipo de cerrado apresenta solos rasos com afloramentos de rochas e geralmente apresenta outras espécies características, adaptadas a este ambiente. Os objetivos deste trabalho foi o de realizar um levantamento florístico das espécies arbóreas de um cerrado rupestre, e também o de determinar a riqueza e a diversidade para uma comunidade de cerrado rupestre. Materiais e Métodos

Os dados foram coletados no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado entre os municípios de Rio Quente e Caldas Novas, no Sudeste do estado de Goiás. O levantamento florístico foi realizado no período matutino do dia 7 de Agosto de 2004, durante as atividades do curso de campo da Universidade de Brasília- UnB.

Foi utilizado o método de parcelas, sendo que estas mediam com 20 metros de largura e comprimento de 64 metros, totalizando 1280 m2 por transecto e uma área total de 0,38 ha. Foram identificados aqueles indivíduos com diâmetro superior a 5 cm a 30 cm do solo, para assim incluirmos apenas espécies arbóreas. Foram amostradas três áreas numa encosta localizada antes do início de um platô com cerrado sensu stricto.

Foi determinada a diversidade da comunidade arbórea no campo rupestre através do índice de diversidade de Shannon- Whiener. Resultados Foram encontrados 275 indivíduos pertencentes a 41 espécies, distribuídas em 21 famílias. A família Leguminosae foi a que apresentou o maior número de indivíduos. Sendo que das famílias encontradas, 12 delas foram representadas apenas por uma espécie (Tabela 1).

As espécies mais abundantes foram Sclerolobium paniculatum, Wunderlichia crulsiana, Platymenia reticulata, Cereus sp, Hymenaea stigonocarpa, Psidium myrcinoides e Norantea adamantium. Destas, W. crulsiana, Cereus sp e N. adamantium ocorrem somente em cerrado rupestre e, Miconia albicans e Qualea parviflora são comuns neste ambiente.

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As espécies de cerrado rupestre tiveram uma sobreposição de 29,27% (n=12) com espécies de cerrado encontradas por Yamamoto et al. (2003) para um cerrado adjacente à área estudada.

O valor para o índice de Shannon encontrado para o cerrado rupestre na encosta foi de H’=1,39. Discussão O cerrado rupestre apresentou um índice de diversidade relativamente baixo para o cálculo do índice de Shannon, pois de acordo com Felfili & Rezende (2003) os valores de H’ para comunidades vegetais situam-se entre 1,3 e 3,5. Esta baixa diversidade está relacionada com a presença de grande quantidade de espécies de baixa freqüência que tendenciou o índice para um menor valor. Uma outra explicação para esta diversidade seria que as condições ambientais no cerrado rupestre (solo raso e afloramentos rochosos) desfavoreceriam o estabelecimento de outras espécies de cerrado que poderiam estar colonizando este ambiente. Os resultados obtidos pela comparação entre as espécies amostradas no cerrado rupestre com aquelas encontradas por Yamamoto et al. (2003) para uma área de cerrado sensu stricto adjacente à área

estudada, reforçaram a idéia de que as condições ambientais desfavoráveis no cerrado rupestre influenciariam a diversidade na área estudada. Agradecimentos À Benedito Alísio da Silva Pereira pelo auxílio na identificação das espécies. Referências Bibliográficas Andrade,L. A. Z.; Felfili, J. M.; Violatti, L.

(2002). Fitossociologia de uma área de cerrado denso na RECOR-IBGE, Brasília, Brasília-DF. Acta Botanica Brasilica 16 (2): 225-240.

Felfili, J.M. & Rezende, R.P. (2003). Técnicas florestais: conceitos e métodos em fitossociologia. Universidade de Brasília, Brasília. 68p.

Ribeiro, J.F. & Walter, B.M.T. (1998) Fitofisionomias do bioma cerrado. In: S. M. Sano & S. P. de Almeida (eds). Cerrado : Ambiente e Flora. Embrapa: Planaltina. 556p.

Yamamoto, M.; Renizbula, C.; Muniz, R.; Lopez, S. (2003) Levantamento fitossociológico em uma área de cerrado sensu stricto no Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, Goiás.. In: H. C. Morais & R. E. Oliveira (eds). Relatório final: Métodos de campo em Ecologia.

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Tabela 1- Lista de espécies arbóreas de um campo rupestre no PESCAN

Família Espécies N° de indivíduos Leguminosae Sclerolobium paniculatum 34 Asteraceaea Wunderlichia crulsiana 22 Leguminosae Plathymenia reticulata 21 Cactaceae Cereus sp. 19 Leguminosae Hymenaea stigonocarpa 19 Myrtaceae Psidium myrsinoides 15 Marcraviaceae Norantea adamantium 13 Leguminosae Pterodon pubescens 13 Myrtaceae Myrcia variabilis 13 Lythraceae Lafoensia pacari 10 Volchysiacae Qualea multiflora 9 Caryocaraceae Caryocar brasiliense 9 Hippocrateaceae Salacia crassiflora 8 Ochnaceae Ouratea hexasperma 7 Apocinaceae Aspidosperma

tomentosum 7

Leguminosae Dalbergia miscolobium 6 Velloziaceae Vellozia flavicans 6 Celastraceae Austroplenckia populnea 4 Annonaceae Annona crassiflora 3 Bignoniaceae Tabebuia ochracea 3 Apocynaceae Aspidosperma

macrocarpa 3

Leguminosae Acosmium dasycarpum 3 Clusiaceae Kielmeyera coriacea 3 Leguminosae Machaerium opacum 3 Arariaceae Didymopanax

macrocarpum 2

Arecaceae Syagrus flexuosa 2 Melastomataceae Miconia albicans 2 Annonaceae Xylopia aromatica 2 Simaroubaceae Simarouba versicolor 2 Malastomataceae Miconia ferruginata 1 Leguminosae Andira sp. 1 Leguminosae Mimosa clausenii 1 Dilleniaceae Davilla eliptica 1 Nyctaginaceae Neea theifera 1 Leguminosae Vataria macrocarpa 1 Volchysiacae Qualea parviflora 1 Nyctaginaceae Guapira noxia 1 Dilleniaceae Curatella americana 1 Myrtaceae Myrcia sp. 1 Malpighiaceae Indeterminada 1 Malpighiaceae Banisteriopsis sp. 1

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Funcionalidade da Arquitetura da Teia e Comportamento da “aranha da

cerquinha” PESCAN-GO

Mariana Inés Saraceno- Silvia Leitão Dutra INTRODUÇÃO Os comportamentos de defesa predação e reprodução das aranhas (Artropoda Araneae) estão relacionados a estruturas e a arquitetura das teias as quais constróem. Alguns grupos de aranhas se diferenciam pela complexidade da arquitetura da sua teia e pela presença de ornamentações. Uma das estruturas das quais ainda não se conhece a função é o “estabilimento”. Estas estruturas são engrossamentos filamentosos descritos para vários gêneros como Philoponella e Uroborus. Existem três hipóteses para explicar a funcionalidade dos mesmos: i) atracão de presas pela sua propriedade de refletir (Paolini et al. 2002) luz ultra vermelha, ii) camuflagem para evitar ou distrair os predadores e iii) aviso as aves para evitar a ruptura da teia. (Baker, 1999; Rodas,1999 apud Ju-Lin et al. 2002)

O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o comportamento de uma espécie de aranha que habita na mata no PESCAN. As perguntas que tentamos responder foram: i) Há variação na atividade destas aranhas em diferentes períodos do dia? ii) Existe uma relação entre a morfologia da aranha com a estrutura da teia e o comportamento? iii) Qual é a função do “estabilimento”? MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado em uma área de mata na reserva estadual de Caldas Novas (PESCAN) durante os dias 6 e 7 de agosto do 2004. As teias são distribuídas ao longo de uma cerca de arame liso, no interior de uma mata de galeria e acompanha uma trilha que se dirige para a “cascatinha”. Foram realizados dois períodos de observação de comportamento, um noturno e outro diurno, em 16 teias de uma mesma espécie de aranha (não identificada). No

período noturno (22-24 h) registrou-se a ocorrência e o tipo de atividade das aranhas em forma qualitativa. As observações foram repetidas durante o dia seguinte das 7 as 12 h registrando-se também a localização e as características das teias como tamanho do “estabilimento”, tamanho do vão (centro), diâmetro vertical e horizontal da teia, orientação (vertical ou horizontal) do “estabilimento” e altura do chão. Foram coletados, com uma porção da teia, 10 indivíduos escolhidos aleatoriamente através de sorteio. Os indivíduos e os “estabilimentos”, foram observados com o uso de um estereomicroscópio PZO- Labimex. O comprimento e largura das aranhas foram medidos com auxilio de papel milimetrado.

Para observar os comportamentos de predação e defesa desta espécie de aranha foram realizados dois experimentos de manipulação com simulações. Para a simulação do comportamento de predação utilizaram-se partículas finas de solo que foram espalhadas manualmente sobre a teia. A simulação do comportamento de defesa foi realizada com o toque de um bastão fino diretamente na aranha. Em ambas simulações registraram-se todas as atividades da aranha e o tempo transcorrido fora do vão central com um período máximo de observação de 300 segundos.

A análise estatística realizou-se com o programa Bio-Estat 2.0 onde foram realizadas correlações de Pearson entre as variáveis morfológicas das aranhas e das teias. RESULTADOS Características das teias e do ambiente A presença das teias foi observada unicamente nas áreas mais fechadas da mata onde o dossel das árvores de um e de

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outro lado da trilha se tocavam. A disposição das teias em relação á altura evidencia um elevado porcentagem de ocorrência em alturas maiores aos 50 cm do solo (93.75%) embora as teias estivessem presentes em alturas entre 35 e 160 cm. 75% do total das teias amostradas, apresentou uma inclinação vertical do “estabilimento”. Características das aranhas e dos “estabilimentos” O estabilimento central é formado de duas porções, sendo que entre elas, no centro da teia, é encontrado um vão, o qual é preenchido pela própria aranha. Neste caso há uma impressão de que o estabilimento é continuo. A largura e a coloração do abdômen da aranha é semelhante ao “estabilimento” . Além disso as patas são rajadas e o abdômen cobre parte do cefalotórax, o que permite uma camuflagem perfeita.

Houve uma correlação altamente significativa tanto entre o comprimento da aranha com o comprimento do “estabilimento” (r =0.96; R 2= 0.92; p= 0.000) quanto entre o comprimento da aranha com o comprimento do vão central (r = 0.88; R 2= 0.77; p= 0.0008) (fig. 1 e 2). Os comprimentos máximo e mínimo das 10 aranhas observadas em microscópio foram 0.45 e 0.075 cm respectivamente enquanto o “estabilimento” apresentou um valor máximo de 9.15 cm e mínimo de 2.55 cm.

Dentro de três diferentes “estabilimentos” foram encontrados ovos, e numerosos jovens de diferente estado de desenvolvimento. Efeito do período do dia As aranhas mostraram atividade de predação e defesa em ambos períodos, enquanto a construção da teia observou-se em três, dos 16 indivíduos, somente durante o período noturno (Tabela 1). O comportamento de manipulação da presa foi diferente; durante a noite a presa foi imobilizada, enrolada com fios e teia e deixada no lugar de encontro na teia

enquanto durante o dia foi transportada imediatamente ao vão onde foi consumida (Tabela 1). Descrição do comportamento de predação simulada Quando os grãos de solo atingiam as teias o comportamento padrão observado foi um movimento inicial de alerta seguido de uma rápida inspeção da teia em procura da presa e um retorno ao vão central na mesma posição em que se encontrava originalmente. Outras características menos freqüentes foram: a retirada das partículas maiores fazendo uma limpeza na teia (uma observação), e a produção de uma vibração da teia. O tempo transcorrido fora do vão central devido a esta simulação variou entre mais de 300 segundos (12.5 % das aranhas totais) a, em média, 64.22 ± 61 segundos (56.26%) enquanto 31.25% das aranhas não respondeu ao estímulo. Descrição do comportamento de defesa ao ataque Três comportamentos observaram-se como resposta ao ataque simulado com toque direto. Os mesmos foram: i) correr sobre a teia ou sobre o estabilimento até um lugar afastado (na teia ou em fios principais) ii) pular do vão e ficar imóvel pendurada ao fio do abdômen (bungee-jumpy) e iii) pular do vão mas permanecer na teia. Neste comportamento 31.25% das aranhas permaneceram longe do vão por mais de 300 segundos, 18.75% dos indivíduos que ficaram no vão e 50% que permaneceram afastadas por em média 32 ± 29 segundos. DISCUSSÃO O período do dia aparentemente não modificou os comportamento de predação e defesa das aranhas, enquanto a construção das teias ocorreu unicamente no período noturno. Estas respostas nas atividades das aranhas são esperadas pois tanto a defesa contínua quanto a um maior aproveitamento das presas, aumentam o fitness da aranha. A construção da teia durante o período noturno poderia significar uma vantagem ao

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AGRADECIMENTOS diminuir as probabilidades de ataque dos potenciais predadores (menor visualização) visto que a aranha se encontra afastada da proteção do “estabilimento”.

Agradecemos á Professora Regina Macedo por estimular nosso interesse pela aranha da “cerquinha” !

Tanto a morfologia quanto o comportamento da aranha foram extremamente interligados com a estrutura da teia. A função do “estabilimento” como estrutura para a proteção da aranha mediante a camuflagem se evidencia com o elevado porcentagem de aranhas que retornam rapidamente ao vão depois de um deslocamento. A função de camuflagem do estabilimento também foi observada por Lomascolo et al. (apud Paolini et al. 2002) na espécie Uloborus sp. Alem disso, no presente estudo o “estabilimento” cumpre a função do saco ovígero assegurando uma maior proteção da progênie devido a sua camuflagem: muito próxima a um graveto pendurado na teia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ju-Lin, W.; Arendo, L.; Bonaccorso, E.;

Paolini O.; Villalobos, R. & Eberhard, W. 2002. Para qué sirven los estabilimentos en las telarañas de Gasterocantha cancriformis (ARANEIDAE)? In: Curso de Ecología tropical & conservación 2000-2. Universidad de Costa Rica y O.E.T. p.7 - 10.

Paolini, L.; Arnedo, L.; Guzman, P. 2002. Función de los estabilimentos centrales en las telas de Gasteracantha cancriformis y Uloborus sp. In: Curso de Ecología tropical & conservación 2000-2. Universidad de Costa Rica y O.E.T. p.23 - 25.

Tabela 1. Tipo de atividades observadas da aranha em ambos períodos.

Noite Dia Reação ao toque

80% 81.25%

Predação armazenamento consumo Construção de teia

presente ausente

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2

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0 0.2 0.4

comprimento da aranha (cm)

com

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do

esta

bilim

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(cm

)

0.6

Fig.1 Relação entre o comprimento da aranha e o comprimento do “estabilimento”. (r =0.96)

00.10.20.30.40.50.60.7

0 0.2 0.4 0.6

comprimento da aranha (cm)

com

prim

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do

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Fig.2 Relação entre o comprimento da aranha e o comprimento do vão (r = 0.88).

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Arquitetura de Teias de Aranha na Mata da Cascatinha no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas - GO

Mônica Aragona & Natália Mundim Tôrres Introdução O uso dos recursos alimentares por muitos animais, inclusive pelas aranhas, é uma relação entre a presa escolhida, o local onde ela se encontra e quantos indivíduos e/ou espécies utilizam este recurso (Ricklefs, 1980; Morse, 1984).

A heterogeneidade ambiental é um fator que tende a aumentar o número de nichos disponíveis, permitindo que mais espécies ocupem um mesmo ambiente através da utilização diferenciada de seus componentes (McNett e Rypstra, 2000).

Para aranhas construtoras de teias, a utilização diferenciada dos recursos pode ser expressa pelo comportamento de fixação das teias em função das características arquitetônicas do habitat ao redor, sendo estas consideradas mais importantes que as condições morfoclimáticas do local (Pires et al., 1999). Estas aranhas podem, ainda, prever o ambiente de captura pela detecção da presença de presas, ajustando o comportamento de construção da teia de acordo com a disponibilidade de alimento (Herbestein et al., 2000).

Os objetivos do presente trabalho foram responder às seguintes perguntas: Quais eram os tipos de arquitetura de teias de aranhas existentes numa área de mata do PESCAN? O número e tipo de teias da borda e interior da mata são diferentes? Em que altura as teias se encontravam no estrato arbóreo? Métodos O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), que possui uma área de 125 km2 e tem o cerrado senso restrito como ambiente predominante (FEMAGO, s.d.). Entremeado a esta

fitofisionomia, matas úmidas acompanham os cursos d’água. Neste tipo de mata, mais especificamente na Mata da Trilha da Cascatinha, foram feitos dois transectos, sendo um em ambiente de mata fechada e outro em mata semi-aberta, seguindo uma das trilhas utilizadas por visitantes. Estes transectos tinham 30 m de comprimento, por 1 m de largura e 3 m de altura, onde todas as teias de aranha foram amostradas e registradas por classes de altura: de 0 a 50, 51 a 100, 101 a 150, 151 a 200, 201 a 250 e 251 a 300 cm.

Para cada teia foi identificado o tipo de arquitetura, sua altura em relação ao solo e o ambiente em que foi encontrada, se borda ou interior da mata.

Foi utilizado o Índice de Diversidade de Shannon-Wiener para comparação dos tipos de arquitetura de cada ambiente e posteriormente o teste ‘t’ para verificar se a diferença entre ambientes é significativa (Magurran, 1991). Resultados Foram determinados cinco tipos de arquitetura de teias: plana; esférica (esf), formada por um globo bem definido; funil, em formato afunilado; irregular esparsa (ir esp), formada por poucos fios distantes uns dos outros; irregular nucleada (ir nucl), sem formato definido, mas com adensamento de fios diferenciado em determinado local da teia.

Um total de 10 teias de aranhas foram amostradas no transecto da borda da mata e 16 no interior da mata, sendo que em ambos os cinco tipos de arquitetura foram registrados (Fig. 1).

O índice de Shannon-Wiener calculado para a diversidade de tipos de arquitetura de teias para os dois ambientes resultou em H`borda = 1,23 e H`interior = 1,49,

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não sendo significativa a diferença (t = 0,73; g.l. = 17; p > 0,05).

O número de registros de teias por classes de altura em relação ao solo apresentou uma tendência de concentração nas classes de altura mais baixas, tendo sido registradas 46,1% das teias na classe de 0 a 50 cm, 19,2 % nas classes 51 a 100 e 101 a 150, 11,5% na classe 151 a 200 e apenas 4 % na classe 201 a 250. Nenhuma teia foi registrada entre 251 e 300 cm do solo (Fig. 2).

Quanto ao tipo de arquitetura em relação à classe de altura, o tipo funil só ocorreu na classe mais baixa e o tipo esférica ocorreu nesta e na classe imediatamente superior. Os tipos irregulares, esparsa e nucleada, ocorreram até 2 metros de altura, sendo que as esparsas não ocorreram entre 51 e 100 cm, enquanto que as nucleadas ocorreram em todas as classes. Discussão A diversidade de tipos de arquitetura de teias não diferiu com relação à borda e interior da mata, contrariando as expectativas, uma vez que o interior da mata apresenta uma vegetação mais fechada, sendo mais heterogêneo e podendo propiciar maior diferenciação de nichos, o que permitiria maior diversidade. Apesar deste resultado, existe uma clara dominância do tipo irregular nucleada na borda, enquanto esta dominância não é verificada no interior da mata. Neste local, os tipos mais freqüentes são funil, plana e irregular nucleada, sendo a freqüência dos dois primeiros tipos maiores, quando comparadas entre ambientes.

Além disso, das cinco categorias de tipos de arquitetura de teias, quatro delas (esférica, plana e irregulares esparsa e nucleada) englobam, cada uma, ampla variedade de tamanhos e formas, podendo cada uma dessas variedades pertencer a uma espécie diferente. Já as teias do tipo funil, aparentemente, pertencem a uma mesma espécie. Assim, a borda da mata poderia apresentar um número máximo de

espécies igual a 10 enquanto que o interior desta poderia chegar até 12, apresentando então uma riqueza maior.

A relação entre o tipo de arquitetura de teia e altura desta ao solo mostrou que existe uma tendência às teias do tipo funil ocorrerem próximas ao solo. Isto está diretamente relacionado com o comportamento desta espécie, que usa cavidades do solo como abrigo, de onde parte o gargalo de sua teia.

A porcentagem de registros de teias foi diminuindo à medida que a classe de altura aumentou, podendo refletir uma preferência pelo estrato inferior em função dos tipos de presas capturadas, mas pode ser apenas uma deficiência do método, uma vez que além da quarta classe de altura (a partir de 201 cm) a dificuldade de observação aumentava. Agradecimentos Aos professores Regina Macedo e Jader Marinho-Filho pela concepção deste projeto e à professora Helena Castanheira pelas boas idéias no tratamento dos dados. Referências Bibliográficas FEMAGO - Fundação Estadual de Meio

Ambiente. Parque Estadual de Caldas Novas. Goiânia: sd. 205p.

Herberstein, M. E., A. C. Gaskett, D. Glencross, S. Hart, S. Jaensch & M. A. Elgar. 2000. Does the preference of potential prey affect web design in Argiope keyserligi (Araneae; Araneidae)? J. Arachnol. 28:346-350.

Magurran, A. E. 1991. Ecological diversity and its measurement. Chapman and Hall, Nova York, 179p.

McNett B. J. & A. L. Rypstra. 2000. Habitat selection in a large orb-weaving spider: vegetational complexity determines site selection and distribution. Ecological Entomology. 25:423-432.

Morse, D. H. 1984. How crab spiders (Araneae; Thomisidae) hunt at flowers. J. Arachnol. 12:307-316.

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Ricklefs, R. E. 1980. Ecology. 2nd Ed. Chiron Press, New York, 966p.

Pires, A. S.; J. Perez; D. Vidalenc; M. G. Soares & L. N. Naka. 1999. Padrão de riqueza de espécies de aranhas na várzea da Ilha da Marchantaria. Ecologia da Floresta Amazônica – Várzea.

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ir nucl funil plana ir esp esf

Tipo de arquitetura

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Borda Interior

Figura 1. Tipos de arquitetura de teias registradas no interior e na borda da Mata da Cascatinha.

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Classes de altura (cm)

Núm

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ir nucl esf ir esp plana funil

Figura 2. Tipos de arquiteturas de teias registradas em cada classe de altura.

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A influência do fogo na população de Constrictotermes cyphergaster no

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas-Go.

Rodrigo Stolze Pacheco e Isabel Campos Salles Figueiredo. Introdução Os cupins ou térmitas pertencem a ordem Isoptera, a qual tem cerca de 3000 espécies. Estes organismos são insetos sociais que alocam uma variedade de recursos na sua alimentação e construção de ninhos (Divino Brandão, comunicação pessoal). Sua importância está relacionada a ciclagem de nutrientes do solo (Borror e DeLong, 1969) e servem como indicadores da qualidade ambiental, tendo em vista o seu rápido tempo de resposta à perturbação antrópica (Muniz e Consolaro, 2002).

Os ninhos de cupins podem se estabelecer na superfície do solo, sob o solo, em galerias no tronco de árvores e sob os troncos e galhos das árvores. Constrictotermes cyphergaster é a única espécie de hábito arborícola presente no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (Divino Brandão, com. pess.).

O fogo é um fenômeno comum no cerrado, fazendo parte da ecologia desse ecossistema. De um modo geral, os ninhos de cupins apresentam uma estrutura resistente ao fogo, e por isso podem suportar esse tipo de evento.

O objetivo deste estudo foi verificar a influência do fogo no tamanho, na localização e mortalidade dos cupinzeiros de C. cyphergaster, comparando ninhos localizados em uma área queimada e uma área não queimada. Para alcançar o objetivo proposto, foram testadas as seguintes hipóteses: H1. Não há diferença entre o número de cupinzeiros mortos e vivos nas áreas queimada e não queimada; H2. Não há diferença entre o tamanho dos cupinzeiros em ambas as áreas; H3. Não há diferença na localização dos cupinzeiros vivos em ambas as áreas.

Materiais e Métodos O trabalho foi realizado em duas áreas de cerrado senso restrito (Ribeiro & Walter, 1998), uma queimada há três anos atrás e a outra não queimada, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Em cada área foram amostrados 30 ninhos, nos quais foram realizadas medidas do comprimento do maior eixo (tamanho do ninho) e da altura da base do cupinzeiro até o solo (localização do ninho). As medidas de tamanho de cada ninho, obtidas em ambas as áreas, foram agrupadas em seis classes de tamanho. Essas classes foram determinadas entre o menor e o maior tamanho encontrados. Também foi anotado se o ninho estava vivo ou morto, observando a resposta de defesa dos cupins à uma injúria no cupinzeiro.

Para verificar se a mortalidade dos ninhos diferiu significativamente entre a área queimada e não queimada foi utilizado o teste do Qui-quadrado. Para verificar se o tamanho e a localização dos cupinzeiros diferiu significativamente conforme a área, foi utilizado o teste t. Resultados O número de ninhos mortos e vivos em ambas as áreas não foi significativamente diferente (χ2 = 0,417; p = 0,7469) e, portanto, H1 foi aceita (Tabela 1).

A diferença entre o tamanho dos ninhos entre as áreas queimada ( x = 37,57 cm; dp = 12,46) e não queimada ( x = 40,33 cm; dp = 12,85) também não foi significativa (t = - 0,99 com p = 0,32) e, desse modo, H2 foi aceita. No entanto, em cada uma das áreas, o tamanho dos cupinzeiros diferiu entre as classes determinadas. Foram encontrados ninhos pequenos (até 20 cm) somente na área queimada (Figura 1), enquanto que na área

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não queimada dominou a presença de cupinzeiros de tamanho intermediário a grande (Figura 2).

A localização dos ninhos vivos sobre o tronco das árvores foi diferente entre as áreas queimada e não queimada (t = 2,253; p = 0,023) (Tabela 2). Sendo assim, H3 foi rejeitada. Discussão A inexistência de uma diferença significativa entre o número de ninhos mortos e vivos em ambas as áreas pode estar relacionada a recuperação da população na área queimada, ou seja, a população de cupins conseguiu reconstruir seus ninhos ao longo destes três anos após a última queimada, ou então o fogo não foi a causa da mortalidade dos ninhos. Também não houve diferença significativa entre o tamanho dos ninhos de C. cyphergaster nas duas áreas. Porém a presença exclusiva de cupinzeiros nas classes de tamanho pequeno (0 a 10 e 11 a 20cm) nas áreas queimadas pode estar relacionada com o fato de que o fogo que ocorreu a três anos afetou os ninhos pequenos, que podem estar se estabelecer somente agora. Por outro lado, na área não queimada, a população apresenta uma estabilidade quanto ao tamanho, sendo a maioria de seus ninhos intermediários e médios, já que o fogo não atuou naquela população. Uma possível explicação para o

fato das classes de tamanho pequeno não estarem presentes na amostra da área não queimada é a de que a dispersão de cupins estaria “colonizando” ambientes próximos com um menor número de cupinzeiros pequenos, como a área queimada. O fato da diferença entre as localizações dos ninhos em ambas as áreas ser diferente pode estar relacionada com a atuação do fogo. Com a sua passagem, ele pode ter eliminado os ninhos localizados próximos ao solo. Sendo assim, somente os ninhos mais altos puderam permanecer vivos na população da área queimada, o que explicaria a maior altura destes em relação à área não queimada. Agradecimentos Agradecemos ao Professor Divino Brandão (Universidade Federal de Goiás - UFG) pelo empenho na ajuda com a estruturação do projeto. Referências Bibliográficas Borror, D. J. e DeLong, D. M. 1969.

Introdução ao estudo dos insetos. Ed. Edgard Blücher, São Paulo.

Muniz, C. e Consolaro, H. 2002. Influência do porte arbóreo sobre o estabelecimento de cupinzeiros (Constrictotermes cyphergaster – Isoptera, Termitidae). In: Relatório final do curso de campo em ecologia 2002 p.112-116. PPG – Ecologia, UnB, Brasília.

Tabela 1. Número de ninhos de cupinzeiros mortos e vivos amostrados nas área queimada e não queimada.

Mortos Vivos Queimada 07 23 Não queimada 05 25

Tabela 2. Média e desvio padrão da localização (em cm) dos ninhos de cupinzeiros vivos sobre o tronco das árvores nas áreas queimada e não queimada.

Queimada Não queimada Média 101,13 79,40 Desvio Padrão 35,45 31,03

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0 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60

classes de tamanho (cm)

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s

Figura 1. Número de cupinzeiros distribuídos em classes de tamanho na área queimada.

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classes de tamanho (cm)

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s

Figura 2. Número de cupinzeiros distribuídos em classes de tamanho na área não queimada.

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Riqueza e diversidade de formigas em cerrado sentido restrito e mata ciliar do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

Ana Cláudia Delciellos

INTRODUÇÃO A heterogeneidade de habitat, estrutura da vegetação, condições físicas e produtividade primária são alguns dos fatores determinantes da biodiversidade (Ricklefs, 1996). Segundo Odum (1995), quanto maior a complexidade do ambiente, menor a dominância e maior a diversidade de espécies.

Vários autores têm demonstrado a existência de uma correlação significativa entre características estruturais dos habitats e padrões estruturais das comunidades de formigas (Santana-Reis & Santos, 2001). Por esses motivos, em vários estudos as formigas são descritas como bio-indicadoras (Oliver & Beattie, 1993; Araújo & Mountinho, 1992 apud Santana-Reis & Santos, 2001; Silvestre).

O sucesso ecológico das formigas é atribuído ao modo de vida social, abundância local e diversidade de adaptações (Wilson, 1971). Formigas e cupins constituem a maior parte da biomassa animal nos ecossistemas (REF 1; REF 2; Wilson, 1971; Pivello). Além disso, seu papel no funcionamento dos ecossistemas é extremamente importante, uma vez que as formigas são predadoras intensas, generalistas, consomem néctar e outros exudatos vegetais, degradam matéria orgânica, participam da ciclagem de nutrientes (Levey & Byrne, 1993; REF 2), removem e dispersam sementes (Moutinho, 1998 em Santos), e são consideradas os principais herbívoros do Cerrado, juntamente com os cupins (Pivello). Esse estudo teve como objetivo comparar a riqueza e a diversidade de espécies de formigas em diferentes estratos (solo e vegetação), em dois ambientes de Cerrado: mata ciliar e cerrado sentido restrito. O esperado era que o ambiente mais heterogêneo estruturalmente, no caso,

a mata ciliar, apresentasse uma maior riqueza e diversidade de espécies. MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo está localizada no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO. A área de mata ciliar estudada estava localizada da Trilha da Cascatinha. A mata ciliar consiste de uma vegetação florestal que acompanha rios de pequeno porte e córregos, formando corredores fechados (galerias) sobre o curso de água (Ribeiro & Walter, 2001). Já a área de cerrado sentido restrito estava localizada no platô do parque. Caracteriza-se por uma vegetação arbóreo-arbustiva com distribuição espalhada (Ribeiro et al., 1998), com cobertura de 21 a 50 % e altura média de 3 a 5 m (Ribeiro et al., 1983).

Foram amostradas oito árvores em cada habitat, independente da espécie. A amostragem em cada árvore foi realizada em dois estratos distintos: solo e ramos mais baixos (à aproximadamente 1,60 m do solo). As coletas foram realizadas no período de 8:00 h a 11:30 h. As formigas eram capturadas utilizando-se uma isca feita de sardinha, amendoim e banana. Uma quantidade fixa de isca (1 colher) era colocada dentro de um saco plástico, que era então furado. A seguir, um saco era colocado na base da árvore e outro no seu ramo mais baixo. Após 50 minutos, os dois sacos eram recolhidos, e imediatamente colocados em álcool 70% e identificados. Em seguida, esse procedimento era repetido mais uma vez. Sessenta e quatro amostras foram levadas para o laboratório. As formigas foram retiradas da isca, e separadas em morfotipos com o auxílio de uma lupa. A seguir, os morfotipos foram identificados a nível de gênero pela professora Helena Morais. O número de indivíduos de cada

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gênero presente nas amostras foi determinado. Foi calculada a riqueza de espécies (S), o índice de diversidade de Shannon (H’), a equitabilidade (E), e os índices de similaridade de Jaccard e Sorensen (Magurran, 1988). Foi utilizado test t para comparação de índices de diversidade (Magurran, 1988). RESULTADOS

Das 64 iscas, 78,1 % tiveram sucesso de captura de formigas. Foram encontrados 16 gêneros de formigas (Figura 1), sendo Pheidole, Pachycondyla, Solenopsis e Camponotus os de maior ocorrência (Figura 1). Os gêneros Pheidole, Pachycondyla, Solenopsis e Camponotus foram comuns entre a mata ciliar e o cerrado sentido restrito (Tabela 1).

A maior riqueza (S= 13), diversidade (H’= 1,697) e equitabilidade (E= 0,662) foram encontradas no cerrado (Tabela 2). As diferenças de diversidade de espécies de formiga entre habitats, e entre a vegetação e o solo em um mesmo habitat foram significativas (Figura 2 e Tabela 3). A similaridade entre as comunidades de formiga do cerrado e da mata foi baixa (Tabela 4).

DISCUSSÃO

A grande variabilidade de habitats nos diversos tipos de Cerrado suporta uma enorme riqueza e diversidade de espécies de formigas. Ainda, segundo Begon et al. (1986), a correlação entre riqueza de espécies animais com a diversidade estrutural das plantas é muito mais forte do que a correlação com a diversidade de plantas. Assim, quanto maior a heterogeneidade estrutural do habitat ou das plantas, maior a riqueza e diversidade de espécies animais.

O cerrado sentido restrito, por ser um ambiente menos estável e heterogêneo estruturalmente do que a mata ciliar, deveria apresentar uma menor riqueza de espécies porque nele haveria um número menor de nichos possíveis de serem

realizados, resultando em altos níveis de dominância e na redução da diversidade de sítios de nidificação ou de itens alimentares para as formigas (Castro & Queiroz, 1987 apud Santana-Reis & Santos, 2001). Entretanto, o esperado de que o cerrado tivesse uma menor riqueza e diversidade de espécies, como obtido em estudos anteriores no PESCAN (Medeiros, 2003), não foi confirmado pelos dados obtidos nesse estudo.

Esse resultado pode ter sido influenciado pelo método de iscas, que estariam mascarando os dados de estruturas das comunidades de formigas, problema já evidenciado por Santana-Reis & Santos (2001). A seletividade da isca (Ribeiro, 1994 apud Santana-Reis & Santos, 2001) foi minimizada tentando atrair formigas com vários hábitos alimentares. Entretanto, a coleta foi realizada no período da seca, e as iscas poderiam estar representando fontes nutritivas de alimento em um período em que a oferta provavelmente é pequena e ainda mais escassa no cerrado sentido restrito do que na mata ciliar, tendo atraído um maior número de espécies de formigas na comunidade do cerrado.

Outra possível explicação para a menor riqueza e diversidade de espécies na mata ciliar é o fato de que ela é um habitat mais estável e portanto mais competitivo do que o cerrado sentido restrito. A maioria das espécies de formigas monitora constantemente seu habitat à procura de alimento, ocorrendo sobreposição das áreas de forrageamento das colônias próximas, resultando em comportamentos agressivos em interações interespecíficas nos levantamentos faunísticos que empregam iscas (Silvestre, 2002). Assim, as espécies de formigas com maior capacidade competitiva poderiam estar excluindo outras espécies da isca, através de mecanismos físico-químicos, impedindo que um maior número de espécies estivesse representado nas amostras. Entretanto, nesse estudo a diversidade de espécies encontrada para a mata ciliar foi maior do que a encontrada anteriormente para a

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mesma área no PESCAN (H’ = 0,72; Medeiros & Oliveira, 2003). Como o esperado, foram encontradas diferenças significativas de diversidade entre as comunidades de formiga da vegetação e do solo, nos dois habitats. Isso pode ser explicado pela heterogeneidade de oferta de recursos entre os estratos verticais dos habitats. Por exemplo, muitas árvores e arbustos do cerrado são ocos, representando grande oferta de locais para nidificação, e resultando em atividade intensa de patrulhamento nas folhas (Morais, 1980). O método de iscas foi eficiente para detectar as diferenças entre as comunidades de formigas do cerrado e da mata ciliar. O índice de similaridade de Sorensen foi baixo, inclusive mais baixo que o encontrado anteriormente entre os mesmos habitats (IS = 0,44; Knoechelmann, 2003). Apesar dos problemas apontados na utilização de iscas atrativas, esse método tem sido muito utilizado em estudos de comunidades de formigas (Oliveira & Della Lucia, 1992 e Naves, 1996 apud Santana-Reis & Santos, 2001; Silvestre; Silvestre, 2002). Inclusive, variações na sua constituição podem ser utilizadas em estudos sobre preferência alimentar, e sua facilidade de utilização para amostrar as comunidades do dossel representa um avanço para o aprimoramento do conhecimento sobre um ambiente de difícil acesso para o pesquisador e de grande diversidade animal ainda pouco estudado. AGRADECIMENTOS Ao professor Jader Marinho e à professora Helena Morais, pela oportunidade de participar do Curso de Campo da UnB e conhecer o maravilhoso bioma do Cerrado. À Helena Morais, pela identificação dos gêneros de formigas e pela orientação sobre a metodologia a ser utilizada nesse estudo. À todos os colegas do curso, pela ajuda, amizade e diversão, especialmente aos cupins Maurício e Natália, ao Alexandre, e à Ísis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Begon, M., Harper, J. & Townsend, C.

1986. Ecology: individuals, populations and communities.

Knoechelmann, C.M. 2003. Levantamento de fauna de formigas arborícolas em três diferentes fitofisionomias de cerrado no Parque Estadual de Caldas Novas, GO. Métodos de Campo em Ecologia.

Levey, J. & Byrne, M.M. 1993. Complex ant-plant interactions: Rain Forest ants as secondary disperses and pos-dispersal seed predators. Ecology 74: 1802-1812.

Magurran, A.E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Princeton University Press. Princeton, New Jersey.

Medeiros, M.A. 2003. Comparação entre a fauna de formigas do solo em campo rupestre, cerrado sensu stricto e mata de galeria no Parque Estadual Serra de Caldas Novas. Métodos de Campo em Ecologia, Projetos finais.

Medeiros, M.A. & Oliveira, P.A. 2003. Comparação entre a fauna de formigas arborícolas em campo sujo e mata da Serra de Caldas Novas. Métodos de Campo em Ecologia, Projeto de um dia.

Morais, H.C. 1980. Estrutura de uma comunidade de formigas arborícolas em vegetação de campo cerrado. Dissertação de Mestrado. UNICAMP, Campinas, SP.

Odum, E.P. 1985. Ecologia. Interamericana. São Paulo.

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Tabela 1 – Lista de espécies para o cerrado sentido restrito (Ce) e a mata ciliar (Ma). (Legenda: V = vegetação e S = solo)

ESPÉCIE HABITAT Azteca 1 Ma (S)Azteca 2 Ce (V)Camponotus 1 Ma (V, S)Camponotus 2 Ma (V, S), Ce (S)Camponotus 3 Ma (V, S), Ce (V)Crematogaster Ce (V, S)Pachycondyla 1 Ma (S), Ce (V, S)Pachycondyla 2 Ce (S) Pachycondyla 3 Ce (V, S)Pheidole 1 Ma (V, S), Ce (V, S)Pheidole 2 Ce (V, S)Pseudomyrmex 1 Ma (S)Pseudomyrmex 2 Ce (V)Pseudomyrmex 3 Ce (V)Solenopsis Ma (S), Ce (V, S)Zacryptocerus Ce (V, S)

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Tabela 2 – Riqueza de espécies, diversidade e equitabilidade para o cerrado sentido restrito e a mata ciliar.

HABITAT S H’ E Cerrado 13 1,697 0,662 Mata ciliar 8 1,342 0,645 test t (t= 3,573; df= 217,2; p < 0,05)

Tabela 3 – Diversidade e equitabilidade para a vegetação e o solo do cerrado sentido restrito e a mata ciliar.

HABITAT H’ E Cerrado: Vegetação 1,290 0,538 Solo 1,476 0,672 test t (t= 1,967; df= 178,83; p < 0,05) Mata ciliar: Vegetação 0,48 0,35 Solo 1,420 0,683 test t (t= 22,76; df= 129,75; p < 0,05)

Tabela 4 – Índices de similaridade para o cerrado sentido restrito e a mata ciliar.

Sorensen Jaccard Mata: vegetação x solo 0,5 0,67 Cerrado: vegetação x mata 0,538 0,7 Mata x cerrado 0,31 0,48

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0 3 6 9 12 15

Azteca 1

Azteca 2

Camponotus 1

Camponotus 2

Camponotus 3

Crematogaster

Pachycondyla 1

Pachycondyla 2

Pachycondyla 3

Pheidole 1

Pheido le 2

Pseudomyrmex 1

Pseudomyrmex 2

Pseudomyrmex 3

So lenopsis

ZacryptocerusEs

péci

es

Número de ocorrências

Figura 1 - Lista de espécies de formigas encontradas e seu número de ocorrências.

02468

1012

mata cerrado

Núm

ero

de e

spéc

ies

de

form

igas estrato superior

solo

Figura 2 – Riqueza de espécies de formigas na mata e no cerrado.

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Utilização de características da casca na identificação de espécies arbóreas de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás

Benedito Alísio da Silva Pereira

Introdução A identificação de espécies arbóreas nas formações vegetais tropicais apresenta uma série de dificuldades, como a elevada riqueza florística destas formações, o porte dos indivíduos e a ausência de material reprodutivo durante a execução dos trabalhos de campo (Torres et al., 1994). Em formações estacionais, como o Cerrado, muitas vezes faltam folhas para auxiliar na identificação das espécies.

A casca surge, deste modo, como uma fonte de informação que pode ajudar na superação dessas dificuldades, por estarem sempre presentes nos indivíduos amostrados, serem de fácil acesso ao pesquisador e apresentarem características que podem levar a uma identificação rápida das espécies. A identificação rápida de espécies arbóreas torna-se crucial em inventários de vegetação e numa série de outros tipos de estudos de campo (Knight, 1970; Marchiori, 1995).

A utilização de características da casca na identificação de espécies arbóreas data dos primórdios dos estudos das formações vegetais (Harlow et al., 1979). Torres et al. (1994) citam uma série de trabalhos feitos no Brasil e no exterior em que tais características foram utilizadas, isoladamente ou em conjunto com outras características vegetativas, para se chegar à identificação de árvores sem muito consumo de tempo.

O termo casca refere-se ao conjunto de tecidos que reveste o caule das plantas vasculares. No corte transversal do tronco de uma dicotiledônea lenhosa, pode-se reconhecer duas camadas principais de casca: a casca interna e a casca externa. A primeira é formada por células vivas derivadas do câmbio vascular, sendo também denominada casca viva. A outra é formada por células mortas derivadas do câmbio cortical ou felogênio e de partes

mortas da casca viva, sendo também chamada casca morta ou ritidoma. O felogênio, juntamente com os seus tecidos derivados, constitui a periderme (Morey, 1980; Roth, 1981). Diferenças na estrutura anatômica e na composição química, e fatores ambientais são responsáveis por grandes variações nas características gerais da casca das árvores (Roth, 1981).

Whitmore (1962a) assinalou que, nas regiões tropicais, a variação apresentada pela casca de espécies de um mesmo gênero é maior que a variação apresentada por espécies de famílias diferentes, em regiões temperadas. Saa (1967) acrescentou que as características da casca podem variar em função da idade da árvore, dificultando o desenvolvimento dos estudos e o estabelecimento de uma nomenclatura uniforme.

Apesar de tais problemas, o aspecto externo e interno da casca, combinado com outras características vegetativas, tem sido considerado de grande valia na identificação das árvores, pois pode ser observado em qualquer época do ano (Yunus et al., 1990; Torres et al., 1994).

Os levantamentos florísticos e fitossociológicos realizados no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas - PESCAN - até o ano de 2003 revelaram a ocorrência de cerca de 60 espécies arbóreas nos cerrados dessa unidade de conservação, número este que no corrente ano elevou-se para 76, em função de novas prospecções na área. Nessa ocasião, foi notada a necessidade de um trabalho com informações capazes de auxiliar na identificação dessas espécies, considerando que as chaves até agora elaboradas para a flórula lenhosa desse parque baseiam-se apenas em caracteres foliares e muitas espécies passam consideráveis períodos sem folhas na estação seca.

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O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma descrição das características da casca das espécies arbóreas até agora registradas nos cerrados do PESCAN, tendo em vista a possibilidade de sua utilização na identificação de tais espécies. Metodologia O trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, que fica localizado nos municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no Estado de Goiás, nas coordenadas aproximadas de 17o45’ S e 48o45’ WGr.

A altitude local varia entre cerca de 850 e 1040 metros e o clima regional é do tipo Aw da classificação de Köepen, com temperatura média anual ao redor de 22oC e precipitação média em torno de 1.500 mm anuais, distribuída entre os meses de outubro e abril.

O estudo levou em consideração as 76 espécies arbóreas até agora registradas nas formas de cerrado denominadas cerrado sensu stricto e cerrado rupestre (Ribeiro & Walter, 1998) do parque. Essas formas ocorrem, respectivamente, no platô e na encosta da Serra de Caldas Novas, onde os solos são, também respectivamente, dos tipos latossolo vermelho-escuro e litossolo (Femago, s.d.).

Para realizar a caracterização da casca foram escolhidos aleatoriamente cinco indivíduos de cada espécie, com no mínimo de 2,5 m de altura e sem sinais de fogo no tronco. As observações foram realizadas a uma distância de aproximadamente 1,0 metro do tronco, a 50 cm da superfície do solo nos indivíduos de tronco curto (menos de 2 m de comprimento) e a 1,0 m de altura nos indivíduos com tronco acima desse limite.

Os aspectos observados na casca externa foram presença de acúleos, espinhos e lenticelas; coloração da superfície e da parte interna; padrões de fendilhamento e desprendimento das camadas externas; e resistência a pressões. Na casca interna foram observadas as

colorações dos tecidos e a presença de exsudatos.

A documentação das características da casca das espécies consideradas foi feita mediante fotografias onde se procurou mostrar os aspectos principais das cascas externa e interna Resultados 1. Casca externa 1.1. Presença de acúleos, espinhos e lenticelas. Nenhuma espécie apresentou acúleos ou espinhos no tronco. Apenas duas espécies, Guapira graciliflora e Matayba guianensis, apresentaram lenticelas na casca, nas alturas definidas para exame dos troncos. 1.2. Coloração da superfície. As espécies apresentaram casca em tons de cinza, variando entre cinza claro, cinza amarronzado e cinza amarelado, podendo, no geral, serem consideradas possuidoras de casca clara. 1.3. Coloração da parte interna. Essa coloração mostrou-se muito diversificada, com a maioria das cascas apresentando tons de marrom e um número menor, mas significativo, apresentando tons de amarelo. Uma espécie, Vochysia elliptica, apresentou casca externa com duas camadas de coloração marrom (Figura 1). 1.4. Padrões de casca. Foram definidos seis padrões de casca, com base na textura e nas formas de fendilhamento e de desprendimento observadas na casca externa dos indivíduos examinados. 1.4.1. Padrão liso. Quando a casca não apresenta nenhuma forma de fendilhamento e nenhum desprendimento notável de tecido morto, podendo apresentar apenas lenticelas e pequenas nodosidades. Foi observado apenas em Guapira graciliflora (Figura 2), Cardiopetalum calophyllum, Tocoyena formosa e Matayba guianensis. 1.4.2. Padrão rugoso. Define-se pela presença de anéis transversais, deprimidos, semelhantes a rugas da testa de um ser humano. Pode apresentar desprendimento de leves camadas de periderme morta e só foi observado em Qualea multiflora (Figura

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3) e em individuos jovens de Dipteryx alata e Pterodon pubescens. 1.4.3. Padrão laminado. Caracteriza-se pela presença de camadas de periderme que se desprendem naturalmente sob a forma de lâminas ou placas, geralmente de tamanho grande e formato variado, para dar lugar a novas camadas. Foi observada em seis espécies, sendo que as cascas que melhor o representam são as de Curatella americana (Figura 4), Himatanthus obovatus e Dimorphandra mollis. 1.4.4. Padrão sulcado. Engloba as cascas que têm a superfície dominada por fendas longitudinais largas, geralmente em forma de “V”, aqui denominadas sulcos. Estes podem ser longos e quase contínuos, como em Palicourea rígida (Figura 5), Kielmeyera coriacea e Enterolobium gummiferum; ou curtos e interrompidos, como em Annona crassiflora (Figura 6), Eriotheca gracilipes e Plathymenia reticulata. As cascas desse padrão têm também fissuras transversais que seccionam as cristas dos sulcos. Tal padrão foi definido para 28 das 76 espécies estudadas. 1.4.5. Padrão reticulado. Compreende as cascas que têm a superfície dividida em retículos formados por fendas estreitas, aqui denominadas fissuras. Estas variam muito em profundidade e direção, e dão origem a retículos que podem ser bem definidos, como em Stryphnodendron cf. goyazensis (Figura 7), Sclerolobium paniculatum e Annona coriacea, ou bastante irregulares, como em Didymopanax macrocarpum (Figura 8), Stryphnodendron adstringens e Myrcia cf. variabilis. Apesar de ser determinado pelas fissuras, esse padrão inclui cascas que possuem também sulcos. Sua ocorrência foi observada em 32 espécies. 1.4.6. Padrão deprimido. Inclui as cascas que formam placas côncavas, geralmente de formato tendendo a circular, que ao se desprenderem deixam cicatrizes deprimidas, geralmente de coloração esbranquiçada, nas camadas novas de periderme. É observado com nitidez em Magonia pubescens e Psidium myrsinoides

(Figuras 9 e 10), mas está presente também em Astronium fraxinifolium e em exemplares adultos de Dipteryx alata e Pterodon pubescens. 1.5. Consistência. Quanto a esse aspecto, as cascas dividiram-se em rígidas, flexíveis, quebradiças e friáveis. As cascas rígidas foram mais freqüentes nas espécies com padrão de casca do tipo reticulado, como Sclerolobium paniculatum, Stryphnodendron cf. goyazensis e Hymenaea stigonocarpa. As flexíveis mostram-se mais comuns nas espécies de casca sulcada, como Kielmeyera coriacea e Enterolobium gummiferum, onde ocorre formação de cortiça por deposição de suberina nas camadas de periderme. As quebradiças ocorrem, principalmente, nas espécies de casca laminada, sendo as de Curratella americana e Himatanthus obovatus os exemplos mais típicos. As cascas friáveis foram mais notáveis em Dimorphandra mollis e em Lafoensia pacari. 2. Casca interna 2.1. Coloração. Observou-se grande variação na coloração da casca interna das espécies estudadas. A coloração variou do vermelho intenso, como em Stryphnodendron adstringens (Figura 11) ao amarelo claro, como em Annona coriacea (Figura 12) e ao negro, como em Wunderlichia mirabilis (Figura 13) e outros membros da família Asteraceae. Observou-se também grande variação entre a coloração da camada externa e da camada interna dessa casca. Na já mencionada Stryphnodendron adstringens, por exemplo, a camada externa é vermelha e a interna é amarelada. Em Byrsonima verbascifolia (Figura 14), Sclerolobium aureum (Figura 15) e algumas outras espécies a casca interna apresentou estrias longitudinais de coloração esbranquiçada. 2.2. Presença de exsudatos. O único exsudato observado na casca das espécies estudadas foi um látex leitoso. Este ocorreu em Hancornia speciosa (Figura 16), Himatanthus obovatus, Aspidosperma

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macrocarpum, A. tomentosum e Brosimum gaudichaudii. Discussão As espécies estudadas não apresentaram acúleos e nem espinhos no tronco. Apesar de não existirem levantamentos a respeito, sabe-se que no Cerrado essas estruturas são mais comuns em espécies de florestas, com destaque para florestas estacionais.

Lenticelas também são estruturas pouco citadas para troncos de espécies arbóreas de formações de cerrado. Nas duas espécies em que essas estruturas foram encontradas, a superfície da casca era lisa. Provavelmente, a sua ausência em cascas ásperas - predominantes em árvores dessas formações - está ligada ao seu desaparecimento na medida em que camadas de casca externa vão se tornando fragmentadas e senescentes. Torres et al. (1994) citam lenticelas para árvores da Floresta Atlântica, mas Lima (1982) não as cita para árvores da Caatinga. Deve-se mencionar que Matayba guianensis, uma das espécies que apresentaram lenticelas, é mais freqüente em florestas.

Praticamente todas as espécies estudadas apresentaram casca de superfície clara. Segundo Roth (1981) e Nicolai (1986), cascas de cores claras ajudam a refletir a luz solar e a evitar o aquecimento das estruturas internas, sendo, por esse motivo, comuns em formações tropicais abertas. Torres et al. (1994) e Ribeiro et al. (1999) encontraram grande diversidade de coloração de casca externa em espécies arbóreas na Floresta Atlântica e na Floresta Amazônica, respectivamente.

A coloração da parte interna da casca externa, ao contrário da coloração da superfície, mostrou-se muito diversificada. Mesmo entre espécies de uma mesma família (Leguminosae, por exemplo), a variação foi grande. Essa diversidade de coloração ocorre também em espécies da Caatinga (Lima, 1982)

Variação ainda maior foi observada na coloração da casca interna. As variações ocorreram tanto entre espécies quanto numa

mesma espécie, entre as camadas externas e internas da casca. A família que apresentou maior variação foi Leguminosae, com espécies apresentando casca interna variando entre tons de amarelo e vermelho, além de estrias longitudinais em algumas cascas vermelhas. Mesmo em famílias pequenas na área, como Bombacaceae, por exemplo, as espécies apresentaram variação quanto à coloração dessa casca. Nessa família, a casca interna foi amarelada em Eriotheca gracilipes e E. pubescens, e vermelha em Pseudobombax longiflorum. Uma família que não apresentou variação, mas que revelou um caráter singular foi Asteraceae, que só se mostrou representada por espécies com casca interna de coloração negra.

Apenas seis espécies de três famílias [Brosimum gaudichaudii (Moraceae), Pouteria ramiflora (Sapotaceae), e Hancornia speciosa, Himatanthus obovatus, Aspidosperma macrocarpum e A. tomentosum (Apocynaceae)] apresentaram exsudato no tronco. Este foi um látex branco copioso que jorra quando se corta a casca interna das árvores ou se destaca uma folha. Numa área menor, mas situada na Floresta Atlântica, Torres et al. (1994) encontraram número bem superior de espécies arbóreas com látex.

O número de padrões de casca definido para as espécies arbóreas dos cerrados do PESCAN foi igual ao que foi definido por Torres et al. (1994) para uma área da Floresta Atlântica, mas os padrões em si foram diferentes. Nessa área predominaram padrões em que o desprendimento das camadas senescentes de casca deixa à mostra uma camada nova de periderme que geralmente é lisa e muitas vezes é variegada. Nos cerrados do PESCAN predominam padrões de casca que se caracterizaram pela morte constante e fendilhamento das camadas de periderme que vão se formando, camadas estas que podem se desprender ou então manter-se aderidas ao tronco por longos períodos ou por toda a vida da planta.

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Roth (1981) sugere que flórulas que apresentam grande diversidade de padrões de casca são também flórulas que apresentam alta diversidade de estruturas anatômicas e padrões de divisão celular no câmbio cortical. Segundo essa autora, o caso do padrão deprimido, por exemplo, revela que o câmbio cortical tem tendência a ser côncavo e que em função disso as placas de desprendimento são também côncavas, deixando depressões como cicatrizes no tronco. Conclusões Boa parte das espécies arbóreas dos cerrados do PESCAN pode ser identificada através do exame das características da casca. As mais fáceis de identificar são aquelas que se enquadraram nos padrões denominados liso, rugoso, laminado e deprimido. Algumas das que se enquadraram nos padrões sulcado e reticulado também podem ser identificadas com facilidade, mas como existem casos de sobreposição de características entre esses dois tipos, em muitos casos haverá necessidade de se recorrer a outros meios para se realizar a identificação.

A família Asteraceae pode ser identificada pela coloração negra da sua casca interna, mas para identificar as suas espécies não haverá como prescindir de folhas e mesmo material reprodutivo. Dentro da família Vochysiaceae, o microfanerófito Vochysia elliptica pode ser identificado pelas duas camadas de coloração marrom da sua casca externa.

As plantas lastescentes podem ser identificadas pela combinação do exsudato com as características da casca externa e das folhas.

Para a maior parte dos elementos arbóreos da flórula do PESCAN, independentemente dos indicativos oferecidos pela casca, as características de outras estruturas precisam ser levadas em conta para se chegar à correta identificação das espécies. Referências bibliográficas

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Figura 1. Casca de Vochysia elliptica

Figura 2. Casca de Guapira graciliflora (padrão liso)

Figura 3. Casca de Qualea multiflora (padrão rugoso)

Figura 4. Casca de Curatella americana (padrão laminado)

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Figura 5. Casca de Palicourea rígida (padrão sulcado)

Figura 6. Casca de Annona crassiflora (padrão sulcado)

Figura 7. Casca de Stryphnodendron cf. goyazenxsis (padrão reticulado)

Figura 8. Casca de Didymopanax macrocarpum (padrão reticulado)

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Figura 9. Casca de Magonia pubescens (padrão deprimido)

Figura 10. Casca de Psidium myrsinoides (padrão deprimido)

Figura 11. Casca de Stryphnodendron adstringens

Figura 12. Casca de Annona coriacea

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Figura 13. Casca de Wunderlichia mirabilis

Figura 15. Casca de Sclerolobium aureum

Figura 16. Casca de Hancornia speciosa e o seu exsudato

Figura 14. Casca de Byrsonima verbascifolia

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Anexo 1

Lista das espécies arbóreas que tiveram as características da casca estudadas no Parque Estadual de Caldas Novas, com suas respectivas famílias e localidades de ocorrência ESPÉCIES FAMÍLIAS LOCALIDADES Acosmium dasycarpum Leguminosae Encosta e platô Aegiphila klotskyana Verbenaceae Encosta e platô Agonandra brasiliensis Opiliaceae Encosta e platô Andira cf. laurifolia Leguminosae Platô Annona coriacea Annonaceae Encosta e platô Annona crassiflora Annonaceae Encosta e platô Aspidosperma macrocarpon Apocynaceae Encosta e platô Aspidosperma tomentosum Apocynaceae Encosta e platô Astronium fraxinifolium Anacardiaceae Encosta e platô Austroplenckia populnea Celastraceae Encosta e platô Banisteriopsis cf. laevifolia Malpighiaceae Encosta e platô Bowdichia virgilioides Leguminosae Encosta e platô Brosimum gaudichaudii Moraceae Encosta e platô Byrsonima coccolobifolia Malpighiaceae Encosta e platô Byrsonima crassa Malpighiaceae Encosta e platô Byrsonima verbascifolia Malpighiaceae Encosta e platô Cardiopetalum calophyllum Annonaceae Encosta Caryocar brasiliensis Caryocaraceae Encosta e platô Casearia sylvestris Flacourtiaceae Encosta e platô Connarus suberosus Connaraceae Encosta e platô Curatella americana Dilleniaceae Encosta e platô Dalbergia miscolobium Leguminosae Encosta e platô Davilla elliptica Dillenaceae Encosta e platô Didymopanax macrocarpum Araliaceae Encosta e platô Dimorphandra mollis Leguminosae Encosta e platô Diospyros cf. burchellii Ebenaceae Encosta Dipteryx alata Leguminosae Encosta Emmotum nitens Icacinaceae Encosta Enterolobium gummiferum Leguminosae Platô Eremanthus glomerulatus Asteraceae Encosta e platô Eriotheca gracilipes Bombacaceae Encosta e platô Eriotheca pubescens Bombacaceae Encosta e platô Erythroxylum suberosum Erythroxylaceae Encosta e platô Guapira graciliflora Nyctaginaceae Encosta Guapira noxia Nyctaginaceae Encosta e platô Hancornia speciosa Apocynaceae Encosta e platô Himatanthus obovatus Apocynaceae Encosta e platô Hymenaea stigonocarpa Leguminosae Encosta e platô Kielmeyera coriacea Clusiaceae Encosta e platô Lafoensia pacari Lythraceae Encosta e platô Licania humilis Chrysobalanaceae Platô Machaerium opacum Leguminosae Encosta e platô

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Magonia pubescens Sapindaceae Encosta Matayba guianensis Sapindaceae Encosta Miconia albicans Melastomataceae Encosta e platô Miconia ferruginata Melastomataceae Encosta e platô Myrcia cf. variabilis Myrtaceae Encosta e platô Norantea adamantium Marcgraviaceae Encosta Ouratea hexasperma Ochnaceae Encosta e platô Palicourea rigida Rubiaceae Encosta e platô Peltogyne confertiflora Leguminosae Platô Piptocarpha rotundifolia Asteraceae Encosta e platô Plathymenia reticulata Leguminosae Encosta e platô Pouteria ramiflora Sapotaceae Encosta e platô Pseudobombax longiflorum Bombacaceae Encosta Psidium myrsinoides Myrtaceae Encosta e platô Psidium sp Myrtaceae Platô Pterodon pubescens Leguminosae Encosta Qualea grandiflora Vochysiaceae Encosta e platô Qualea multiflora Vochysiaceae Encosta e platô Qualea parviflora Vochysiaceae Encosta e platô Salvertia convallariodora Vochysiaceae Encosta e platô Sclerolobium aureum Leguminosae Encosta e platô Sclerolobium paniculatum Leguminosae Encosta e platô Simarouba versicolor Simaroubaceae Encosta e platô Strychnos pseudoquina Loganiaceae Encosta e platô Stryphnodendron adstringens Leguminosae Encosta e platô Stryphnodendron cf. goyazensis Leguminosae Encosta e platô Styrax ferrugineus Styracaceae Encosta e platô Tocoyena formosa Rubiaceae Encosta e platô Vatairea macrocarpa Leguminosae Encosta e platô Vochysia cinnamomea Vochysiaceae Encosta e platô Vochysia elliptica Vochysiaceae Encosta e platô Vochysia rufa Vochysiaceae Encosta e platô Wunderlichia mirabilis Asteraceae Encosta Xylopia aromatica Annonaceae Encosta

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RIQUEZA E DIVERSIDADE FLORÍSTICA DE UM CERRADO SENSU STRICTO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS,

GO

Dirce Cristiane Camilotti Introdução O cerrado sensu stricto ocupa 70% do Bioma Cerrado e caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas e tortuosas com ramificação irregular e retorcida e arbustos e subarbustos variando em cobertura de 10 a 60%. Vários fatores como condições edáficas, pH e saturação de alumínio, fertilidade, condições hídricas e profundidade do solo podem influenciar a densidade e composição florística da vegetação dessa fitofisionomia e estabelecer variações na comunidade vegetal em um mesmo local (Felfili & Felfili, 2001; Ribeiro et al., 1998).

A flora do cerrado é uma das mais ricas floras mundiais, sua listagem mais recente registra 6.429 espécies de plantas vasculares, das quais cerca de 2.500 ocorrem no cerrado stricto sensu (Mendonça, et al., 1998).

Estima-se uma perda de 50 a 60% da vegetação natural do bioma devido à intensa antropização atribuída principalmente à prática da pecuária e agricultura que levam a fragmentação de extensas áreas e conseqüentemente à perda da diversidade (Mittermeyer et al., 1999). Considerando que muitas espécies de plantas têm distribuição restrita a magnitude da devastação da flora do cerrado torna-se muito grande (Felfili & Felfili, 2001).

Estudos florísticos fornecem dados acerca da composição de espécies de um determinado local e oferecem informações importantes para a determinação de áreas prioritárias para a conservação (Weiser & Godoy, 2001). Entre os trabalhos de florística realizados no cerrado para o Centro-Oeste destacam-se Askew et al., (1970; 1971), Eiten, (1972), Ratter, (1987), Furley et al., (1988), Oliveira Filho &

Martins, (1986; 1991) e Felfili et al., (1993).

Dessa forma, o objetivo do estudo foi estimar a diversidade e riqueza de espécies de uma área de cerrado sensu stricto e calcular a similaridade da área estudada com outras áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). Material e métodos A área de estudo é um cerrado sensu stricto localizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) a aproximadamente 3 Km da sede ao longo da estrada que leva à casa do pesquisador. O PESCAN localiza-se no sudoeste do Estado de Goiás, entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente a 180 Km de Goiânia.

As coletas foram realizadas do dia 15 a 19 de agosto de 2004. Foram alocadas 8 parcelas de 25X25 m, totalizando 5000 m2 de área. Todos os indivíduos lenhosos com circunferência do tronco (CT) ≥ 5 cm a 30 cm do solo foram amostrados e identificados. A maioria das plantas foram identificadas in loco e as demais foram coletadas para identificação por meio de literatura especializada. Também foram amostrados os indivíduos mortos em pé.

Foram calculadas a riqueza de espécies, diversidade, eqüabilidade e similaridade com outras áreas de cerrado sensu stricto no PESCAN.

O cálculo da diversidade de espécies foi realizado utilizando-se o índice de diversidade de Shannon (H'). Para a comparação florística entre a área estudada e outras áreas de cerrado sensu stricto foram reunidos três trabalhos de florística e fitossociologia, incluindo-se este, realizados em quatro diferentes locais do parque (Figura 1). A partir da listagem florística

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destes trabalhos foi utilizado o Coeficiente de Similaridade de Sorensen para calcular a similaridade entre os locais. Resultados Foram amostrados 1053 indivíduos distribuídos em 29 famílias, 42 gêneros e 51 espécies (Tabela 1). Destas, dez espécies perfizeram 61,02% dos indivíduos amostrados. Os indivíduos mortos em pé representaram 3,6 % da amostra.

A família com maior número de espécie foi Leguminosae (09) seguida de Vochysiaceae (05), Malpighiaceae (04) e Apocynaceae e Sapotaceae (03) (Figura 2). As outras famílias estão representadas apenas por uma espécie.

Em relação às famílias com maior número de indivíduos, novamente as famílias Leguminosae, Vochysiaceae e Malpighiaceae destacam-se. Quanto às espécies, Qualea parviflora (173), Vochysia rufa (91), Ouratea hexasperma (72), Qualea grandiflora (63) e Tabebuia aurea (56) são as mais numerosas, perfazendo 43,20 % dos indivíduos amostrados (Figura 3). Dezoito espécies foram representadas por até três indivíduos, podendo ser consideradas espécies raras.

Das espécies encontrados, oito não haviam sido amostradas nos estudos anteriores realizados no PESCAN. São elas: Aegiphila klotzkiana, Butia leiospatha, Byrsonima crassa, Byrsonima sericea, Cabralea canjerana, Miconia albicans, Vochysia rufa e Xylopia aromatica. A diversidade de Shannon e a Eqüabilidade no presente estudo foi de 3,027 e 0,81 respectivamente. Nas outras áreas a diversidade variou de 3,364 a 3,536 e a Equabilidade de 0,83 a 0,87 (Tabela 2).

A similaridade entre as áreas de cerrado sensu stricto no PESCAN ficou entre 0,60 a 0,70 (Tabela 3).

As características vegetacionais, do solo e os métodos de amostragem dos trabalhos realizados nas diferentes áreas de cerrado sensu stricto no PESCAN estão representados na Tabela 4.

Discussão: O número de espécies encontradas está dentro da amplitude geralmente observada em levantamentos florísticos em áreas de cerrado, que varia de 50 a 80 espécies lenhosas. (Andrade et al., 2002)

As famílias Leguminosae e Vochysiaceae são bem representadas nos cerrados do Brasil Central, em diversos estudos estas famílias se destacam como as mais importantes tanto em número de espécies como em número de indivíduos (Felfili et al., 2002). Segundo Ratter et al. (1997) o predomínio de Vochysiaceae pode ser atribuído à vantagem adaptativa desta família, que por acumuladora de alumínio seria mais bem adaptada às condições edáficas do cerrado e pela abundância de três espécies de Qualea: Qualea grandiflora, Qualea multiflora e Qualea parviflora.

Martins (1993) afirma que a importância de Leguminosae não está apenas associada à sua alta freqüência nos cerrados, mas também a presença de nódulos radiculares que funcionam como um mecanismo de retenção e transferência de nutrientes (N) nos ecossistemas.

Qualea grandiflora e Qualea parviflora, que neste estudo se destacaram pelo alto número de indivíduos, são consideradas generalistas e as espécies mais importantes nos cerrados do Brasil Central, contribuindo com um grande percentual da biomassa arbórea (Felfili et al.,2002; Ribeiro et al., 1985).

De acordo com Araújo et al. (1997), Hancornia speciosa, Hymenaea stignocarpa, Strycnos pseudoquina e Tabebuia aurea são freqüentes em cerrados do município de Uberlândia. Estas espécies, com exceção de Tabebuia aurea, foram pouco freqüentes no cerrado sensu stricto do PESCAN.

A alta densidade de Vochysia rufa na área estudada, ao contrário das outras áreas de cerrado stricto sensu do PESCAN, pode ser atribuída ao fato da alocação das parcelas ter coincidido com um local de ocorrência de uma agregação desta espécie.

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O índice de diversidade de Shannon no cerrado analisado é semelhante ao observado em outras áreas do Centro-Oeste, onde a diversidade varia de 3,04 a 3,73 (Felfili, 2002). A Equabilidade entre 0,81 a 0,87 indica a alta diversidade de espécies para as áreas estudadas, com tendência de um grupo de espécies prevalecerem sobre as demais. A similaridade entre as áreas (0,60 a 0,70) demonstra que o cerrado analisado trata-se de uma área homogênea.

A alta diversidade nas áreas de cerrado sensu stricto no PESCAN indica que o local é um importante representante do Bioma Cerrado e reforça a importância do Parque Estadual para a conservação das espécies neste local. Agradecimentos: À professora Helena Morais e ao professor Raimundo pelas sugestões durante a execução do trabalho; ao monitor Alexandre Avelino e ao colega Maurício pela ajuda no trabalho de campo; ao Benedito (Benê) pela preciosa ajuda na identificação das plantas. Referências bibliográficas Andrade, L. A. Z.; Felfil, J. M. & Violatti,

L. 2002. Fitossociologia de uma área de cerrado denso na RECOR-IBGE, Brasília-DF. Acta Botanica Brasilica 16(2): 225-240.

Araújo, G. M.; Nunes, J. J.; Rosa, A. G. & Resende, E. J. 1997a. Estrutura comunitária de vinte áreas de cerrados residuais no município de Uberlândia, MG. Daphne 7: 7-14.

Askew, G.P.; Moffatti, D.J.; Montgomery, R.F.; Searl, P.L. 1970. Soil landscapes in north eastern Mato Grosso. Geographical Journal 136: 211-227.

Askew, G.P.; Moffatti, D.J.; Montgomery, R.F.; Searl, P.L. 1971.Soil and soil moisture as factors influencingthe distributions of the vegetations of the Serra do Roncador. In: Ferri, M.G., coord. II Simpósio sobre o cerrado. São Paulo, EDUSP e Edgar Blucher. P 150-160.

Eiten, G. 1972. The cerrado vegetation of Brazil. Bot. Ver. (Lancaster) 38: 201-341.

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Felfili, J.M. 2002. Padrões de diversidade do cerrado do Centro-Oeste brasileiro. In: Araújo, E. L.; Moura, A. N.; Sampaio, E. S. B.; Gestinari, L. M. S.; Carneiro, J. M. T. 2002 a. Biodiversidade, Conservação e Uso Sustentável da Flora do Brasil. Recife: UFRPE. Imprensa Universitária. 58-61.

Felfili, J.M.; Silva Jr., M.C.; Rezende, A.V.; Machado, B.W.T.; Silva, P.E.N. & Hay, J.D. 1993. Análise comparativa da florística e fitossociologia da vegetação arbórea do cerrado sensu stricto na Chapada Pratinha, Brasil. Acta Botanica Brasilica 6(2): 27-46.

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Furley, P.A.; Ratter, J.A.; Gifford,D.R. 1988. Observations on the vegetation of eastern Mato Grosso, Brazil III.The woody vegetation and soils of the Morro de Fumaça, Torixoreu. Proc. R. Soc. Lond. B 235: 259-280.

Martins, F. R. 1993. Estrutura de uma floresta mesófila. 2a Edição. Editorada Unicamp, Campinas.

Mendonça, R. C.; Felfili, J. M.; Silva Jr., M. C.; Rezende, A. V.; Nogueira, P. E.; Walter, B. M. T.; Filgueiras, T. S. 1998. Flora vascular do cerrado. Pp. 289-359. In: S. M. Sano, S. P. Almeida (eds.). Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa – CPAC, Planaltina.

Mittermeyer, R. A.; Myers, N. & Mittermeyer, C. G. 1999. Hotspots. Heart’s biologically richest and most endangered terrestrial ecoregigions. New York: CEMEX, Conservation International. 430p.

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Moreno, M. I.C. 2003. Levantamento fitossociológico em gradiente topográfico no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. In: Métodos de campo em ecologia. Brasília – DF, p. 205-214.

Ratter, J.A. 1987. Notes on the vegetation of the Parque Nacional do Araguaia (Brazil). EDINB. 44 (2): 311-342.

Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. 1998. Fitofisionomia do Bioma Cerrado. Pp. 89-152. In: S. M. Sano, S. P. Almeida (eds.). Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa – CPAC, Planaltina.

Oliveira Filho, A.T. & Martins F.R. 1991. A comparative study of five cerrado areas in southern Mato Grosso, Brazil. EDINB. J. BOT. 48(3): 307-332. Silva, L. O.; Costa, D.A.; Espírito Santo

Filho, K. do; Ferreira, H. D. & Brandão, D. 2002. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu strico no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. Acta Botanica Brasilica 16(1): 43-53.

Oliveira Filho, A.T. & Martins,F.R. 1986. Distribuição, caracterização e composição florística das formações vegetais da região da Salgadeira, na Chapada dos Guimarães (MT). Rev. Bras. Bot. 9: 207-223.

Ratter, J. A.; Ribeiro, J. F. & Bridgewater, S. 1997. The Brazilian cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany 80 (3): 223 – 230.

Weiser, V.L. & Godoy, S. A.P.2001. Florística de um hectare de cerrado stricto sensu na ARIE - Cerrado Pé-de Gigante, Santa Rita do Passa Quatro, SP. Acta Botanica Brasilica 15 (2): 201-212.

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Figura 1. Localização aproximada das áreas de cerrado sensu stricto analisadas no PESCAN. 1: área do estudo atual a 3 Km da sede; 2: área a 5 Km da sede (Silva tel al. 2002); 3: área a 10 Km da sede (Silva tel al. 2002) e 3: área próxima ao Mirante da Pousada (Moreno et al. 2003).

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Tabela 1. Famílias e espécies botânicas amostradas em uma área de cerrado sensu stricto no PESCAN. Família Espécie Nº Ind. Annonaceae Annona crassiflora Mart. 16 Xylopia aromatica (Lam.) Mart. 1 Apocynaceae Aspidosperma macrocarpan A DC. 3 Aspidosperma tomentosum Mart. 43 Hancornia speciosa Gomez 6 Araliaceae Didymopanax macrocarpum (Seem.) D.C. Frodin 11 Arecaceae Butia leiospatha Mart. 7 Eremanthus glomerulatus Less. 33 Asteraceae Piptocarpha rotundifolia (less.) Baker 19 Bignoniaceae Tabebuia aurea (Manso) Benth. & Hook.f. ex S. Moore 56 Bombacaceae Eriotheca pubescens (Mart. & Zucc.) Schott. & Endl. 8 Burseraceae Protium ovatum Engl. 2 Caryocaraceae Caryocar brasiliense Camb. 10 Chrysobalanaceae Licania humilis Cham & Schleet. 36 Connaraceae Connarus suberosus Planch. 11 Rourea induta Planch. 6 Dilleniaceae Davilla elliptica St. Hil. 4 Erythroxylaceae Erythroxylum suberosus St. Hil. 10 Flacourtiaceae Casearia sylvestris Sw. 6 Guttiferae (Clusiacea) Kielmeyera coriacea Mart. 8 Leguminosae Acosmium dasycarpum (Bog.) Yakovl 1 Bowdichia virgilioides H B & K. 24 Hymenaea stigonocarpa Mat. Ex. Hayne 3 Leguminosae sp. 1 1 Machaerium opacum Vog. 1 Psidium sp. 2 Stryphnodendron adstringens (mart.) Coville 30 Stryphnodendron goyazensis Taub. 12 Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke 1 Loganiaceae Strychnos pseudoquina St. Hil. 3 Lythraceae Lafoensia pacari St. Hil. 1 Malpighiaceae Byrsonima coccolobifolia H B & K. 20 Byrsonima crassa Nied. 13 Byrsonima sericea DC. 1 Byrsonima verbascifolia Rich. ex. Juss. 9 Melastomataceae Miconia albicans (Sw.) Triana 6 Meliaceae Cabralea canjerana (Vell.) Mart. ssp. polytricha (Adr.

Juss.) Pennington 1

Moraceae Brosimum gaudichaudii Tréc. 46 Ochnaceae Ouratea hexasperma (St. Hil.) Benth. 72 Proteaceae Roupala montana Aubl. 33 Rubiaceae Palicourea coriacea (Cham.) K. Schum. 33 Rubiaceae Tocoyena formosa (C & S.) Schum 4 Sapotaceae Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk 38 Pouteria torta (Mart.) Radlk 2

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Styraceae Styrax ferrugineus Ness & Mart. 10 Verbenaceae Aegiphila klotzkiana Cham. 2 Vochysiaceae Qualea grandiflora Mart. 63 Qualea multiflora Mart. 20 Qualea parviflora Mart. 173 Vochysia cinnamomea Pohl. 3 Vochysia rufa Mart. 91 Morta Morta 38 TOTAL 1053 Tabela 2. Índice de Diversidade de Shannon, Equabilidade e riqueza de espécies em diferentes áreas de cerrado stricto sensu no PESCAN. Diversidade de

Shannon Equabilidade Riqueza de

espécies Área estuda 3,027 0,81 51 Silva et al. (2002) – área 1 3,393 0,84 56 Silva et al. (2002) – área 2 3,536 0,87 59 Moreno (2003) 3,364 0,83 57 Tabela 3. Similaridade florística (Coeficiente de Sorensen) entre quatro áreas de cerrado sensu stricto no PESCAN. (1) (2) (3) (4) Área estuda (1) - 0,65 0,62 0,64 Silva et al. (2002) – área 1 (2) - 0,70 0,62 Silva et al. (2002) – área 2 (3) - 0,60 Moreno (2003) (4) -

Leguminosae

Vochysiaceae

Malpighiaceae

outras

Figura 2. Famílias com maior número de espécies amostradas em uma área de cerrado sensu stricto a 3 Km da sede do PESCAN

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1 7 3

9 1

7 2

6 3

5 6

4 6

4 3

3 8

3 8

3 6

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0

Q u a l e a p a r v i f l o r a

V o c h ys i a r u fa

O u r a te a h e x a s p e r m a

Q u a l e a g r a n d i f l o r a

T a b e b u i a a u r e a

B r o s i m u m g a u d i c h a u d i i

A s p i d o s p e r m a to m e n to s u m

M o r ta

P o u te r i a r a m i f l o r a

L i c a n i a h u m i l i s

N ú m e ro d e in d iv íd u o s

Figura 3. Espécies com maior número de indivíduos amostradas em uma área de cerrado sensu stricto a 3 Km da sede do PESCAN. Tabela 4. Características vegetacionais, do solo e métodos de amostragem das 4 áreas de cerrado sensu stricto no PESCAN utilizadas para a determinação da similaridade florística: número de famílias encontradas (Fam.); número de espécies encontradas (spp); número de espécies raras (sppR); método utilizado e esforço amostral (MET); critério de inclusão (CRIT); tipo de solo (TS). Área estudada

N. Ind. Fam. sppR %spp MET CRIT TS Fonte

3 Km da sede

1053 29 51 16 Parcela, 0,5 ha

CT ≥ 5 cm

Latossolo vermelho-escuro

estudo atual

5 Km da sede - área 1

600 29 56 26 Quadrante,

150 pontos

CT ≥13 cm

Latossolo vermelho-escuro

Silva et al., 2002

10 Km da sede - área 2

600

29 59 22 Quadrante, 150 pontos

CT ≥ 13 cm

Latossolo vermelho-escuro; Latossolo vermelho-amarelo

Silva et al., 2002

Próximo ao Mirante da Pousada

1100

30 58 15 Quadrante, 275 pontos

CT ≥10 cm

Latossolo vermelho-escuro; Latossolo amarelo, raso com presença de cascalhos

Moreno, 2003

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Efeito da presença de formigas na composição de insetos em inflorescências de Curatella americana L.

Fabíola Ferreira Oliveira

Introdução As formigas são animais abundantes, com ampla diversidade taxonômica e sua dominância ecológica pode ser igualada tanto a sua extraordinária distribuição geográfica, como a suas diferentes adaptações e funções no ecossistema (Beattie & Hugues, 2002). O sucesso ecológico das formigas pode resultar em uma variedade de habitats para alimentação e de estratégias alimentares, que incluem o uso de folhas como substrato de forrageamento e as interações mutualísticas com as plantas (Carroll & Janzen, 1973).

A atividade freqüente de forrageamento das formigas na superfície das folhas de uma determinada planta pode afetar a composição de herbívoros e de outros grupos de animais associados a esse vegetal (Bronstein, 1994). Um exemplo disso seria as formigas que afetaram positivamente a sobrevivência e a fecundidade de Guayaquila xiphas (Homoptera), uma vez que a sua presença reduziu a abundância dos inimigos desse homóptero (Del-Claro & Oliveira, 1999).

Em contrapartida, segundo Freitas & Oliveira (1996), a biologia e o comportamento da borboleta Eunica bechina estão relacionados negativamente com a atividade das formigas na planta hospedeira. Esse estudo evidenciou que fêmeas adultas evitaram realizar a oviposição em plantas altamente visitadas por formigas e que nesses mesmos vegetais, a taxa de mortalidade de larvas foi maior; sugerindo assim, que a presença de formigas implica um decréscimo do contato entre as mesmas e as borboletas.

Outros grupos de animais como Araneae, Blattodea e Coleoptera, que são associados a uma espécie de arbórea de savana, a Pseudocedrela kotschyi (Meliaceae), tiveram suas abundâncias reduzidas quando em presença de formigas.

Enquanto os Heteroptera aparentemente não foram afetados (Mody & Lisenmair, 2004).

A maioria dos estudos realizados a respeito das interações formiga-planta enfocou o papel das formigas em evitar a herbivoria por insetos e as conseqüências dessa atividade para as plantas hospedeiras (Bronstein, 1998). No entanto, raramente essas conseqüências foram estudadas sob o ponto de vista dos herbívoros e de outros visitantes das plantas (Heads & Lawton, 1985). Além disso, a herbivoria comumente foi analisada em folhas, embora ocorra em quaisquer partes de uma planta (Crawley, 1983).

Curatella americana L. (Dilleniaceae), popularmente conhecida como lixeira, é uma espécie arbustivo-arbórea encontrada em formações savânicas de diversas localidades do Brasil Central. Esta espécie é caracterizada pelas muitas inflorescências que apresenta quando em época de floração (Lorenzi, 2000), as quais poderiam representar um bom atrativo a polinizadores, herbívoros e a predadores de outros insetos. Além disso, não somente nestas inflorescências, como também por toda a planta, é possível observar a presença de formigas (F.F. Oliveira, observação pessoal).

Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi verificar se a presença de formigas tem efeito na riqueza e na diversidade dos demais grupos de insetos que visitavam as inflorescências de C. americana. A hipótese testada foi a de que a riqueza e a diversidade dos “visitantes” – polinizadores, herbívoros ou predadores de outros insetos – seriam maiores em galhos isolados de formigas do que em galhos com formigas. Materiais e Métodos O estudo foi conduzido entre os dias 16 e 18 de agosto de 2004, em uma área de

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cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), o qual está localizado próximo aos municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no Sudeste de Goiás.

No primeiro dia, foram selecionados dez indivíduos de C. americana para constituírem cinco pares de plantas. Os pares foram determinados pela semelhança das inflorescências quanto ao tamanho e altura em relação à planta, e ainda, pela proximidade das árvores. Essa proximidade foi aqui estipulada como sendo uma distância entre 5 e 10 m, a qual seria suficiente para garantir que não decorresse muito tempo entre a amostragem dos indivíduos de cada par experimental. Os indivíduos de cada par foram sorteados entre as categorias: controle e tratamento; e tiveram dois de seus galhos selecionados, sendo um para cada dia de amostragem.

Nas árvores-controle, os ramos apenas foram marcados com fita para identificação, pois as formigas poderiam ter livre acesso aos mesmos. Já no tratamento, foi aplicada uma fina camada da resina adesiva Tanglefoot® (Tanglefoot Co., Grand Rapids, MI, USA) circundando o galho, a qual promoveu a exclusão das formigas das inflorescências. Ainda, foram removidas todas as partes de plantas vizinhas que pudessem servir como “pontes” para as formigas alcançarem os ramos-tratamento.

As observações de campo somente se iniciaram no segundo dia, pois era necessário um tempo para que a ausência de formigas pudesse provocar um efeito na fauna de “visitantes”. Assim, foram realizados dois dias de observações, sendo estas focais, de 15 minutos para cada indivíduo de C. americana, nos períodos da manhã (8h30min às 11h) e tarde (15h às 17h30min).

Como “visitante”, considerou-se todo aquele indivíduo que não fosse formiga e que estivesse nas inflorescências manipulando-as ou demonstrando alimentar-se das mesmas. Anteriormente à captura desses “visitantes”, foram

registrados o número de espécies visualmente distintas e seus respectivos números de indivíduos. A captura foi feita com o auxílio de puçá e sugador, e os animais coletados foram armazenados em vidros que continham algodão com acetato de etila em seu interior. Posteriormente, foram realizadas a triagem e a identificação do material, sendo a última até o nível de morfoespécie.

Os dados coletados para o controle durante os dois dias de observação foram agrupados, e o mesmo foi feito para os do tratamento. Foram determinados os valores de riqueza dos “visitantes” e calculados os índices de diversidade de Shannon-Wiener (Magurran, 1988) para controle e tratamento. A comparação dos índices encontrados foi realizada aplicando-se o teste t proposto por Hutcheson (1970). Ainda, determinou-se o índice de similaridade de Sφrensen (Magurran, 1988) entre controle e tratamento. Resultados Foi amostrado um total de 32 morfoespécies de insetos “visitantes” de inflorescências de C. americana. Nos ramos-controle foram registradas 20 morfoespécies de insetos e nos ramos-tratamento, 21; sendo nove destas comuns a ambos (Tabela 1). Assim, as morfoespécies exclusivas do controle totalizaram 11, enquanto as do tratamento, 12.

As morfoespécies amostradas pertenciam a sete ordens da classe Insecta: Diptera, Hemiptera, Homoptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Thysanoptera e Orthoptera (encontrada apenas no controle). As ordens Diptera, Hemiptera, Hymenoptera e Lepidoptera tiveram um número de morfoespécies maior no tratamento, enquanto Homoptera e Orthoptera uma maior riqueza no controle. Já Thysanoptera, incluiu apenas uma única morfoespécie, a qual é comum ao controle e ao tratamento (Tabela 1).

A ordem que apresentou o maior número de espécies foi Hymenoptera, tanto para tratamento como para controle; sendo

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a mesma composta por morfoespécies pertencentes às famílias Meliponinae, Apoidae e Vespidae. Essa ordem também apresentou cinco das nove morfoespécies comuns ao controle e ao tratamento.

Quanto ao número de indivíduos amostrados, este foi de 231 no controle e 179 no tratamento. Para o controle, a ordem com o maior número de indivíduos foi Homoptera (144), representando 62,34 % do total amostrado. Essa ordem concentrou 51 % do total dos “visitantes” amostrados (118 indivíduos) em apenas uma de suas cinco morfoespécies. Contudo, nos ramos-tratamento os Homoptera estiveram pouco presentes (5,59% do total de “visitantes”) (Figura 1).

Para o tratamento, a ordem Hymenoptera apresentou-se mais abundante quanto ao número de indivíduos (74), concentrando 41,34% do total (Figura 1). As famílias Meliponinae, Apoidade e Vespidae representaram cerca de 20,11%, 11,17% e 10,06% do total de “visitantes”, respectivamente. Em contrapartida, no controle, os himenópteros da família Meliponinae representaram apenas 5,19% do total, os da Apoidae cerca de 6,93% e os da Vespidae, 1,29%.

A ordem Diptera foi a segunda mais abundante em indivíduos (Figura 1). Uma única morfoespécie foi registrada para o controle e esta concentrou 16,45% (38 indivíduos) do total de “visitantes”. Essa mesma morfoespécie foi registrada no tratamento compreendendo 26,26% dos indivíduos amostrados e no total, os Diptera representaram 30,73% (55 indivíduos) do tratamento.

Os lepidópteros além de uma baixa riqueza, não foram representados por muitos indivíduos (0,5% no controle e 1,67% no tratamento) (Figura 1). No controle, foram amostradas apenas larvas da uma única morfoespécie; enquanto no tratamento somente adultos de 3 morfoespécies de “visitantes”.

O valor do índice de diversidade de Shannon-Wiener encontrado para o controle foi de 1,85 e para o tratamento, de 2,44; os

quais foram significativamente diferentes (t = 4,88; gl = 409; p>0,05). Com isso, rejeitou-se a hipótese nula de que não haveria diferenças entre os índices. E o valor do índice de similaridade de Sφrensen para a comparação entre o controle e o tratamento, foi de 0,44. Discussão A riqueza de insetos “visitantes” de inflorescências de C. americana não diferiu entre os ramos-controle e os ramos-tratamento, indicando que a presença de formigas não teve efeito sobre o número total de morfoespécies que realizavam a visitação.

Ao contrário da riqueza, o número de indivíduos amostrados para o controle foi diferente daquele registrado para o tratamento, sendo maior no controle. Embora o tratamento possua um menor número de indivíduos, o mesmo apresentou um maior índice de diversidade. Isso é devido ao cálculo de tal índice considerar a proporção de cada espécie para o total de indivíduos, de maneira que quanto mais homogênea for essa proporção, maior será a diversidade. Como no controle, somente uma morfoespécie de Homoptera contribuiu com praticamente metade do total de indivíduos, a proporção das morfoespécies foi menos homogênea que no tratamento, justificando a sua menor diversidade.

O resultado da comparação dos índices de Shannon sugere que a presença de formigas exerce efeito na diversidade da comunidade de insetos “visitantes” de inflorescências de C. americana; diferentemente do que foi encontrado para o total de morfoespécies amostradas.

No caso de insetos herbívoros como os Diptera, Hemiptera, Hymenoptera e as larvas de Lepidoptera, os quais apresentaram maiores números de indivíduos no tratamento, o efeito da presença de formigas poderia ser devido ao mesmo fator verificado nos estudos de Barton (1986), Bentley (1977), Del-Claro et al. (1996) e la Fuente & Marquis (1999) – que ao invés de inflorescências, utilizaram

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os nectários extraflorais como fonte de recurso atrativo – que é a existência de uma interação entre formigas e planta anti-herbivoria. Essa interação é mutualística e se baseia no princípio de que a planta oferece algum atrativo alimentar às formigas, e esses animais, para defenderem a sua fonte de recursos, se comportam como guardiões das plantas em relação aos herbívoros (Janzen, 1967).

As larvas de lepidópteros geralmente são consideradas sensíveis a predação de formigas. No entanto, no presente estudo as larvas apresentaram-se somente no local com formigas, sugerindo que as mesmas possam ser adaptadas a viver junto às formigas (Mody & Lisenmair, 2004). A sua ausência nos ramos-tratamento pode ser devido à camada de resina adesiva aplicada, que impossibilitou que as larvas se aproximassem das inflorescências e fossem amostradas.

Tanto os himenópteros pertencentes às famílias Apoidae e Meliponinae, quanto os lepidópteros adultos – ambos grupos considerados herbívoros e polinizadores – apresentaram uma maior riqueza e número de indivíduos no tratamento, indicando que a presença de formigas resulta em um decréscimo no número de polinizadores, o qual pode refletir na reprodução de C. americana.

A elevada concentração de morfoespécies da família Vespidae – predadores de herbívoros – no tratamento, pode estar relacionada ao aumento do número de herbívoros que passaram a visitar as inflorescências em função da exclusão de formigas; ou seja, os vespídeos podem ter aumentado conforme a oferta de recursos se tornou maior.

Em outras ordens como Thysanoptera e Orthoptera, também herbívoros, não foram observados efeitos das formigas (mesmo Orthoptera estando presente apenas no controle); pelo contrário, as últimas quando em presença de “trips” ou de gafanhotos, continuavam a realizar suas atividades normalmente (F.F.

Oliveira, observação pessoal). É possível que também existam adaptações para a convivência de ambos os grupos com as formigas.

A maior representatividade dos Homoptera no controle pode estar associada à interferência positiva das formigas, visto que todas as morfoespécies amostradas de homópteros apresentavam interações com as formigas (F.F. Oliveira, observação pessoal). Embora os homópteros sejam herbívoros, as formigas permitem que estes animais forrageiem as plantas hospedeiras, pois os mesmos lhe conferem benefícios alimentares (Buckley, 1987; Del-Claro & Oliveira, 1993). Nesse tipo de interação, a proteção contra predadores que formigas oferecem aos homópteros parece ser vital à sobrevivência dos últimos (Way, 1963), e isso poderia justificar a diminuição no número de homópteros no tratamento.

Quanto à similaridade, o valor intermediário encontrado para o índice de Sφrensen poderia ser justificado pela sobreposição de praticamente metade das morfoespécies amostradas. Agradecimentos Agradeço à professora Helena Castanheira de Morais pelo auxílio na identificação dos materiais e pelas discussões iniciais sobre o projeto. Referências Bibliográficas Barton, A.M. (1986) Spacial variation in

the effect of ants on an extrafloral nectary plant. Ecology, 67, 495-504.

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Tabela 1 – Número total de espécies de “visitantes” de inflorescências de C. americana, no tratamento e controle, em cada ordem de insetos amostrada nos dias 17 e 18 de agosto de 2004.

Ordens de Insetos Número de Morfoespécies Controle Tratamento Comuns Total Hymenoptera 6 8 5 14 Homoptera 5 2 1 7 Orthoptera 5 0 0 5 Hemiptera 1 4 1 5 Diptera 1 3 1 4 Lepidoptera 1 3 0 4 Thysanoptera 1 1 1 2 Total 20 21 9

0

10

20

30

40

50

60

70

Homop

tera

Diptera

Hymen

opter

a

Thysa

nopte

ra

Orthop

tera

Hemipt

era

Lepid

opter

a

Ordens de insetos

Porc

enta

gem

de

indi

vídu

os

ControleTratamento

Figura 1 – Porcentagem de indivíduos “visitantes” das inflorescências de C. americana, para tratamento e controle, em cada uma das ordens de insetos amostradas nos dias 17 e 18 de agosto de 2004.

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Visita auto-guiada à Trilha da Cascatinha: uma nova proposta para interpretação ambiental no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas.

Isabel Campos Salles Figueiredo

Introdução A conservação de recursos naturais em todo mundo é parcialmente alcançada através da implantação de áreas protegidas como Unidades de Conservação (Indrusiak e Padua 1997). Esse tipo de áreas naturais têm como umas das suas principais preocupações a promoção de atividades educativas e de recreação, consideradas investimentos a longo prazo na conservação (Davenport et al., 2002).

Programas de Educação Ambiental (EA) em Unidades de Conservação (UCs) têm um papel fundamental na discussão da dimensão humana em ações conservacionistas, principalmente diante da crescente pressão humana sobre os ambientes naturais (Rocha, 1997). Esse tipo de programa freqüentemente faz uso de trilhas interpretativas (Tabanez, M. F. et al., 1997), já que esse tipo de atividade é muito plástica e permite um maior contato dos visitantes com a natureza (Andrade e Rocha, 1990).

As trilhas interpretativas podem ser definidas como um tipo de instrumento de interpretação ambiental que visa não somente a transmissão de informações, mas também a construção de conhecimentos complexos sobre o ambiente, principalmente através da experiência direta (Tilden, 1977). As trilhas interpretativas podem ser de dois tipos: monitoradas ou auto-guiadas.

As trilhas monitoradas contam com um monitor, guia ou condutor que faz o papel de intérprete durante a visita. Esse tipo de trilha elimina a necessidade de muita sinalização ao longo do percurso, já que o monitor guia o caminho e dá todas as explicações necessárias. As vantagens desse tipo de trilha são a redução com custos de manufatura e manutenção da sinalização ao longo da trilha e também a diminuição de gastos com o material educativo. Outra

vantagem é a possibilidade da mesma trilha poder ser utilizada de inúmeras maneiras para a interpretação, já que o monitor pode ser muito versátil e utilizar o mesmo percurso de modo diferenciado a cada visita. As trilhas monitoradas também podem ser mais longas que as trilhas auto-guiadas já que os visitantes tendem a se manter mais interessados e atentos durante a visita monitorada (Tabanez et al., 1997). Porém, esse tipo de trilha depende da presença do intérprete, o que limita o número de visitantes por visita e de visitas realizadas.

A trilha auto-guiada é muito utilizada em locais onde a visitação é intensa, mas não há recursos humanos ou financeiros para a existência de guias ou monitores para acompanhar todas as visitas. As suas vantagens em relação à trilha monitorada são a redução com os custos de manutenção da trilha e a possibilidade de receber um maior número de visitantes. Esse tipo de trilha pode ser mais econômica, porém necessita de um planejamento e de uma preparação de material educativo. Os pontos interpretativos, nesse caso, podem estar marcados ao longo do percurso, e é necessária a elaboração de placas contendo informações, curiosidades e mapas ao longo da trilha. A interpretação nessas trilhas também pode se dar através da utilização de folhetos impressos que trazem informações e dicas para os visitantes, e que podem conter explicações detalhadas de cada ponto interpretativo sinalizado no caminho. Esse último tipo de trilha é bastante utilizado em unidades de conservação americanas (Tilden, 1977; Berkmüller, 1981; Dawson, 1992). No Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), existem duas trilhas interpretativas abertas aos visitantes que normalmente são guiadas por

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condutores formados por cursos de capacitação oferecidos pela Agência Goiana de Meio Ambiente, em parceria com o PESCAN e outras instituições. Porém, principalmente nas épocas de visitação mais intensas como o mês de julho, nem todas as visitas podem ser monitoradas devido ao número insuficiente de condutores e dessa forma, muitas visitantes acabam visitando as trilhas do Parque sozinhos.

Como não há disponível um material educativo que auxilie a interpretação ambiental durante as visitas auto-guiadas, o potencial educativo desses passeios é diminuído. Assim, o objetivo desse trabalho foi elaborar um folheto interpretativo da Trilha da Cascatinha para complementar o programa de educação ambiental já existente no PESCAN. Material e Métodos Área de estudo Esse estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no estado de Goiás. O Parque foi criado em 1970 com o objetivo de proteger a Serra de Caldas devido à sua grande relevância ecológica, beleza cênica e importância na recarga de aqüíferos termais muito explorados pelo turismo na região.

Há muitas trilhas no PESCAN, mas apenas duas são abertas a visitas de turistas, e dentre essas está a trilha estudada nesse trabalho. A Trilha da Cascatinha possui cerca de 980m de extensão (ida e volta) que podem ser percorridos em aproximadamente em uma hora, com a realização de paradas. Essa trilha, apesar de curta, mostra como o Cerrado é rico em fisionomias e diferentes tipos de vegetação. O percurso passa por uma mata de galeria e por um campo cerrado (ou cerrado ralo), além de incluir a Cascatinha e sua piscina natural de água fria. Também podem ser visitados o Mirante da Cascatinha, a Estação do Barú, a Sala de aula e a Trilha da Diversiflora quando se caminha por essa trilha.

Elaboração do folheto interpretativo Para que o folheto interpretativo fosse elaborado foram necessárias algumas reuniões com os funcionários do PESCAN (administrativos e responsáveis pela condução dos visitantes) para que a proposta de trabalho fosse apresentada e modificada de acordo com as necessidades locais.

Depois dessa fase, o percurso da trilha da Cascatinha foi analisado. Para isso, foram realizadas oito visitas à trilha, sendo três dessas monitoradas por condutores do Parque durante visitas pré-agendadas. Durante essas visitas foi realizado um levantamento de todas as placas presentes no percurso, todos os pontos de parada utilizados pelos condutores e outros pontos com potencial para interpretação ambiental. Também foi feito um croqui da trilha, e uma pequena revisão sobre os temas mais abordados durante as visitas. Depois disso foi elaborado o roteiro para a visita auto-guiada, localizando os doze pontos interpretativos escolhidos no croqui. Para a escolha dos pontos foi levado em consideração a facilidade de sua visualização pelos visitantes (todos os pontos estão localizados em locais que já possuem placas) e a sua importância na caracterização dos ambientes. O folheto interpretativo foi feito complementado com informações retiradas de livros e publicações científicas (Tabela 1), além de informações contidas no Plano de Manejo e na apostila do curso de capacitação de condutores do PESCAN (Agência Goiana de Meio Ambiente, 2004). Resultados O resultado desse trabalho é o folheto para interpretação auto-guiada da Trilha da Cascatinha (Anexo 1). Discussão Considerando-se essenciais a educação e a participação pública para tornar efetiva a conservação ambiental, programas de EA vem ganhando cada vez mais destaque nas

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UCs . Além da definição do público-alvo, a definição das atividades a serem desenvolvidas é um importante componente de programas de EA. Em termos de ações desenvolvidas em áreas de conservação, a visitação é umas das opções de atividades mais utilizadas atualmente no Brasil (Rocha, L. M., 1997). Visitas à trilhas interpretativas são apenas umas das opções para o PESCAN. Essas visitas já vêm sendo realizadas por condutores treinados, a realização de visitas auto-guiadas acompanhadas de um folheto interpretativo complementam o programa, conferindo um pouco mais de flexibilidade para ele.

Mas é importante ressaltar que existe a necessidade de avaliar a eficácia do folheto interpretativo e fazer as modificações necessárias no seu conteúdo e formato. Essa avaliação pode ser facilmente realizada através da aplicação de questionários estruturados (Viertler, R. B., 2002) aos visitantes que utilizaram o material educativo durante a sua visita auto-guiada. Também é necessária a confecção de novos folhetos, bem como de outros materiais educativos específicos para o PESCAN. A Trilha do Paredão também poderia ser incluída nos materiais interpretativos pois ela também recebe visitantes desacompanhados de condutores. O ideal seria se o próprio Parque desenvolvesse seu material educativo e fizesse as modificações necessárias, levando em conta, inclusive, as restrições orçamentárias, público-alvo e resultados almejados para as atividades de EA. Agradecimentos Agradeço à Walquíria Cabral, supervisora do PESCAN, pelo apoio ao trabalho. Á Rita de Cássia Rodrigues pela troca de informações, dados e idéias fundamentais para a realização desse estudo. Aos condutores Joyce de Souza Gomides, Mara Régia Mendes Ferreira, Dalmi Pires de Almeida e Renato Deodato Silva Santos

pelas valiosas informações cedidas durante as visitas. Referências Bibliográficas Agência Goiana de Meio Ambiente. 2004.

V Curso de Capacitação de condutores de trilhas interpretativas do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Caldas Novas.

Andrade, W. J. e Rocha, L. M. 1990. Planejamento, Implantação e Manutenção em Trilhas. Anais Congresso Florestal Brasileiro:786- 793.

Berkmüller, K. 1981. Guidelines and Techniques for Environmental Interpretation. Van Tienhoven Foundation.

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Tabela 1: Relação das publicações, seus autores e os temas pesquisados durante a elaboração do folheto interpretativo. Publicação Autor Temas pesquisados Plantas do Cerrado utilizadas pelas comunidades do Grande Serão Veredas

(Silva, S. R., 1998) Espécies vegetais

Caminhando pelo cerrado: plantas herbáceo arbustivas- caracteres vegetativos e organolépticos.

(Farias, R. et al., 2002) Espécies vegetais

Cerrado: ambiente e flora (Sano, S. M. e Almeida, S. P. d., 1998)

Espécies vegetais, cerrado, mata de galeria.

Árvores brasileiras- Vol. 1 e 2 (Lorenzi, H., 1998;2002) Espécies vegetais Cerrado: Matas de galeria (Ribeiro, J. F., 1998) Mata de galeria, cerrado. A Economia da Natureza (Ricklefs, R., 2003) Conceitos ecológicos Relatório final do curso de campo em ecologia 2002 e 2003

Interações inseto-planta, características de espécies vegetais do cerrado e mata, predação de frutos, cupins e outros insetos.

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Seja bem-vindo ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). O PESCAN foi criado em 1970 para proteger as áreas de abastecimento das águas termais muito explorados pelo turismo dessa região. O parque também é essencial para a preservação do Cerrado e de todos os seres vivos que o habitam. Com a ajuda desse folheto interpretativo você vai conhecer a Trilha da Cascatinha. Essa trilha de baixo impacto possui cerca de 950m de extensão e passa por áreas de mata e de cerrado. Além de conhecer a Cascatinha, uma pequena queda d’água que forma uma piscina natural de água fria, você também visitará o Mirante da Cascatinha e a Trilha da Diversiflora. Depois de percorrer a Trilha da Cascatinha, você conhecerá um pouco mais sobre o Cerrado. O Cerrado possui muitos tipos de vegetação diferentes, incluindo florestas, savanas e campos. Todos esses ambientes ocorrem no mesmo tipo de clima e estão sujeitos a períodos bem definidos de seca (inverno) e de chuva (verão). Ao longo dessa visita, você visitará uma mata de galeria (floresta que acompanha pequenos rios e córregos) e um cerrado (quase um campo). Os pontos de parada indicados nesse folheto estão distribuídos ao longo da trilha e estão marcados com números em placas de metal verdes. Essas placas contêm o nome popular e o científico (em latim) de algumas plantas. Sempre procure por essas placas ao longo do caminho e fique atento à bifurcações. Na última página do folheto há um mapa da trilha para ajudar você a se orientar. Durante todo o passeio lembre-se que hoje você é o visitante nesse ambiente, apesar de fazer parte da natureza como todos os outros seres vivos. Respeite sempre os outros visitantes, as plantas e animais que por ventura encontrar. Aproveite a visita e lembre-se do lema do excursionista: Não tire nada além de fotos. Não leve nada além de memórias. Não deixe nada além de pegadas. Ande alguns metros na trilha e observe uma placa de metal verde, à sua esquerda. Aí se encontra o Carvoeiro, o seu primeiro ponto de parada. Ponto 01: Carvoeiro (Sclerolobium paniculatum). Essa árvore é comum no cerrado e também na mata de galeria, onde você está agora. Atualmente é muito utilizada para fazer carvão, mas há alguns anos se fabricava pólvora com a sua madeira. Ponto 02: Aroeira (Myracrodruon urundeiuva). Essa árvore tem madeira muito resistente e por isso é muito usada na fabricação de cercas e na construção civil. A casca dessa planta tem diferentes utilidades medicinais, mas suas folhas podem provocar reações alérgicas em pessoas sensíveis. Tome a bifurcação à direita, na direção à Estação do Baru, e depois entre na Trilha da Diversiflora, à sua direita. Ponto 03: Trilha da Diversiflora. Nesse ambiente, algumas espécies de árvores que ocorrem no Cerrado estão plaqueadas. O Cerrado é um ambiente muito rico, ou seja, há muitos tipos diferentes de seres vivos nele. Hoje são conhecidas cerca de 6.000 espécies de plantas que ocorrem nesse ambiente, e ainda há muito para se conhecer. Você já conhecia algumas dessas plantas? E sabia de todos os seus usos? Saia da Trilha da Diversiflora e ande em direção ao Mirante da Cascatinha.

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Ponto 04: Sala de Aula. Nesse ponto de parada tão agradável, debaixo do Vermelhão (Hirtella glandulosa), árvore que produz frutos muito apreciados pelas aves, você irá conhecer um pouco mais sobre o Cerrado. O Cerrado apresenta diferentes tipos de vegetação, e um desses tipos é a mata de galeria em que você andou no início da trilha e que vai retornar mais tarde. As próximas paradas se localizam no cerrado. Como você descobrirá ao longo dessa visita, esses dois tipos de vegetação são muito diferentes em algumas características. Ponto 05: Pau Santo (Kielmeyera speciosa). Essa planta típica do cerrado tem diversos usos medicinais (dor de dente, por exemplo) e da sua casca se produzem rolhas de cortiça. Durante a estação seca, o pau-santo pode perder todas as suas folhas, que irão rebrotar quando a época de chuvas começar. Esse ambiente que você está observando agora é bastante diferente daquele em que a visita começou. Você sentiu a diferença na temperatura e na luz? Preste atenção na vegetação ao seu redor. Aqui você vê uma quantidade maior de capins e arbustos e menos árvores. Na mata a situação é a inversa. Existem mais árvores que estão muito próximas uma das outras e quase não existem plantas rasteiras. Ponto 06: Mirante da Cascatinha. Aqui você pode observar a cidade de Caldas Novas e a Serra de Caldas, atrás de você. Uma unidade de conservação, como o PESCAN, é um refúgio para a vida silvestre e para as plantas que ficam protegidas aqui dentro. Mas parques como esse também são importantes para o lazer, turismo e educação dos seus visitantes. Observe a paisagem, respire fundo e relaxe... Você está em um lugar privilegiado, aproveite! Retorne pela mesma trilha em que veio. Ponto 07: Jatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa). Essa árvore produz uma grande quantidade de frutos que alimentam animais como roedores. Muitas vezes existe uma relação de “ajuda mútua” entre o jatobá e esses animais. Ao mesmo tempo que o fruto serve de alimento para os animais, estes levam as suas sementes para longe da árvore-mãe, o que acaba espalhando novos pés de jatobá pelo cerrado, garantindo assim a existência dessa espécie. Ponto 08: Pau doce (Vochysia rufa). O pau-doce é outra árvore típica do cerrado que possui usos medicinais. Essa planta possui algumas características comuns às árvores do cerrado. As árvores desse ambiente normalmente são baixas, tortuosas e com galhos irregulares e retorcidos. Os troncos possuem cascas grossas e rachadas, muitas vezes feitas de cortiça. Essas características são adaptações das plantas ao ambiente em que vivem. De volta à bifurcação, pegue a direita em direção à Cascatinha. Ponto 09: Estação do Descanso. Nesse ponto você pode observar outras plantas típicas da região. Observe a lixinha (Davilla elliptica) e a lixeira (Curatella americana). Essas duas espécies possuem folhas grossas e ásperas, típicas do cerrado. Toque nas folhas com cuidado, sem arrancar ou danificar as folhas, e sinta a sua textura. Observe também o chá-de-frade (Casearia sylvestris), que também é conhecido como erva-de-lagarto pois algumas pessoas acreditam que quando um lagarto é picado por uma cobra, ele come as raízes dessa planta, que funcionariam como um “soro anti-ofídico”. Ponto 10: Pau terra da folha larga (Qualea grandiflora) e Pequi (Caryocar brasiliense). Aqui você pode observar duas árvores muito comuns. O pequi é muito utilizado na culinária e na fabricação de óleos e sabão. O pau-terra é conhecido por ter no seu interior cupinzeiros. Se você observar de perto a casca dessa árvore vai reparar que elas estão pretas, chamuscadas pelo fogo. O fogo é um evento natural do Cerrado, e as suas plantas estão adaptadas a ele. As cascas grossas protegem a parte interna das plantas das altas temperaturas, e as plantas que queimam por inteiro

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possuem a capacidade de rebrotar facilmente. Mas o fogo no Cerrado nem sempre é natural. Muitas vezes os incêndios são provocados por imprudência das pessoas ao jogar cigarros acesos na vegetação ou queimar pastagens, por exemplo. Fique atento e tome cuidado com as suas ações: você também é responsável pelo meio ambiente! Observe a Cascatinha por cima e depois desça as escadas com cuidado até a piscina natural. Ponto 11: Cascatinha e piscina natural. A mata de galeria em que você estava caminhando só existe por causa desse córrego que forma a cachoeira e a piscina natural. Esse tipo de mata é fundamental para a que a vida nos córregos continue existindo, e para a proteção da qualidade da água e do solo. Observe os peixes se alimentando, a grande quantidade de insetos como borboletas e as aves cantando. Tome um delicioso banho e se prepare para a última parada da trilha. Siga a cerca da divisa do PESCAN e vire à esquerda, seguindo a indicação Sede. Passe por uma pequena ponte sobre o Córrego da Cascatinha e ande 10 passos até um pequeno alargamento na Trilha. Ponto 12: Ponte. Nesse ponto você poderá observar atentamente as características da mata de galeria, e pode compara-las com as do cerrado. Repare nas folhas que cobrem o solo e observe os animais que moram ali. Esses seres são muito importantes pois ajudam a decompor todo esse material que cai das árvores, o transformando em adubo para as plantas. Observe o tipo da vegetação, a temperatura e luminosidade e os sons da mata. Quais são as diferenças em relação ao cerrado? Esse é o último ponto da Trilha da Cascatinha. Daqui em diante você não encontrará mais placas com o nome das plantas e outras informações, e você terá que interpretar o ambiente e fazer suas próprias observações. Há muito que aprender com a natureza, sempre. Nós temos que aprender que também fazemos parte dela e que precisamos tratá-la com todo o respeito que ela merece. Só assim vamos poder continuar a usufruir das suas belezas e das suas “invenções” maravilhosas. Volte sempre!

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PREDAÇÃO DE NINHOS ARTIFICIAIS EM CERRADO E MATA DO PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS, PESCAN – GO

Ísis Meri Medri

INTRODUÇÃO A predação de ninhos é uma das principais causas de mortalidade em diversas espécies de aves (Angelstam, 1986). Diversos fatores influenciam na taxa de predação de ninhos das aves, tais como a densidade de ninhos, a estrutura da vegetação que circunda o ninho e a fase do ciclo da ninhada (Zimmerman, 1984). A pressão de predação também pode ser influenciada pela acessibilidade ao ninho, fragmentação de ambientes e pela comunidade de predadores.

Experimentos utilizando ninhos artificiais servem como ferramenta para investigar taxas de predação em diferentes ambientes. Geralmente, os experimentos que estimam taxas de predação em ninhos artificiais utilizam ovos de codornas. Este procedimento foi criticado por Roper (1992), que alertou para a possibilidade de uma subestimativa do nível de predação dos ninhos artificiais em relação aos naturais. A utilização de ovos de codornas tem sido viável em experimentos de campo por serem de fácil aquisição em grande quantidade e em boas condições, e dos disponíveis, são os que mais se aproximam ao tamanho de ovos de aves pequenas e médias (Marini, 1994).

O objetivo deste trabalho foi comparar a taxa de predação de ninhos artificiais no cerrado e na mata do Parque Estadual Serra de Caldas Novas - GO. A predição é que na área de mata a predação será maior do que no cerrado devido a possível maior densidade de predadores deste local. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi realizado no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN) – GO, no período de 15 a 19 de agosto de 2004. Foram selecionadas para o estudo duas áreas sendo uma de cerrado na Trilha

do Paredão e uma de mata na Trilha da Cascatinha. Nestas áreas, as trilhas foram percorridas e a cada intervalo de 20 m foi montado um ninho artificial, ao nível do solo e sempre do lado esquerdo da trilha. Para a confecção dos ninhos foi utilizado a serrapilheira ou capim do substrato local, totalizando 20 ninhos para cada ambiente. Em cada ninho foi depositado um ovo de codorna (Coturnix coturnix). Os locais dos ninhos artificiais foram marcados com fita colorida identificadora para facilitar a localização dos mesmos durante a triagem para a verificação de predação. A triagem foi feita a cada 24 h, e a cada vistoria os ovos predados foram repostos e os vestígios de predação foram registrados. RESULTADOS Durante todo o experimento houve apenas um evento de predação, e no cerrado. Não havia nenhum resquício de casca do ovo no local, sendo que este desapareceu completamente. DISCUSSÃO A baixa predação nos ninhos artificiais encontrada para ambos os ambientes estudados pode ser explicada pelas seguintes hipóteses e/ou associação destas: 1) possível baixa abundância de predadores em geral com porte adequado para a predação de ovos de codornas, pois para estes ovos ocorre subestimação da predação por pequenos mamíferos que têm aberturas bucais pequenas e não são capazes de quebrar a casca desses ovos; 2) provavelmente devido à falta de imagem de busca dos predadores para ovos de codornas, já que estes animais não ocorrem naturalmente no ambiente estudado e 3) aparentemente devido ao baixo número de ovos colocados nos ambientes de estudo e ao pouco tempo de amostragem do mesmo.

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A metodologia utilizada neste experimento foi baseada no experimento de Ordoñez (2002) que, num curso de campo realizado no Pantanal, colocou 40 ninhos artificiais com ovos de codornas, ao nível do solo e a intervalos de 20 metros um do outro, sendo que 20 ninhos foram colocados no interior da mata e 20 na borda da mata. Como resultado, nos 5 dias de experimento, tiveram 11 predações no interior da mata e 12 na borda da mata. A grande diferença no nível de predação dos ninhos artificiais entre o Pantanal e o Parque Estadual Serra de Caldas Novas pode ser atribuída à grande abundância e diversidade de animais que o Pantanal apresenta, e por isso esta discrepância tão grande nos resultados que praticamente fizeram uso da mesma metodologia para a execução do experimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Angelstam, P. 1986. Predation on ground-

nesting bird’s nests in relation to

predator densities and habitat edge. Oikos 47(3):365-373.

Marini, M. A. 1994. An experimental analysis of nest predation in eastern deciduous forest. PhDthesis, University of Illinois at Urbana Champaign, Urbana, Illinois, USA.

Ordoñez, A. B. 2002. Predación de nidos artificiales de aves en un bosque de mata ciliar en Pantanal – Brasil. In: Paiva, L. V., Amaral, P. P., Santos, M. C., Santos, C. C., Bueno, P. A. A., Araujo, A. C., Souza, F. L. & Fischer, E. (orgs.). Ecologia do Pantanal: Curso de Campo. UFMS, Editora Oeste, Campo Grande – MS.

Roper, J. J. 1992. Nest predation experiments with quail eggs: too much to swallow? Oikos 65(3):528-530.

Zimmerman, J. L. 1984. Nest predation and relationship to habitat nest density in Dickcissels. Condor 86:68-72.

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Comunidade de macroinvertebrados bentônicos em diferentes substratos durante o período de seca no córrego Cascatinha (PESCAN-GO).

Ana Karina Salcedo Moreyra

Introdução O conjunto de organismos chamados “macroinvertebrados bentônicos” (benthos, do grego, fundo) vive no fundo de corpos d’água continentais (rios e lagos). Dentre eles predominam as larvas de insetos aquáticos, minhocas d’água, caramujos, vermes e crustáceos, com tamanhos de corpo maiores que 0,2-0,5 mm. São relativamente sésseis e muitos organismos bentônicos alimentam-se de matéria orgânica produzida na coluna d’água ou daquela proveniente da vegetação marginal que cai no leito dos rios (Esteves, 1988). Os macroinvertebrados bentônicos participam de uma série de processos ecológicos e têm importante função na estruturação e funcionamento dos ecossistemas aquáticos. Participam da ciclagem de nutrientes reduzindo o tamanho das partículas de matéria orgânica (Callisto et al. 2001), auxiliando no processo de decomposição (Esteves,1998) e facilitando o transporte desta matéria orgânica (dissolvida, ou parcialmente decomposta) rio abaixo (Whilees & Wallace, 1997). São também muito importantes no fluxo de energia, pois servem de fonte alimentar para outros organismos aquáticos como alguns peixes e pássaros insetívoros (Callisto et al., 2002). Como indicadores de qualidade de água têm cada vez mais aceitação entre os ecólogos e constituem uma das variáveis mais utilizadas na avaliação de impactos ambientais (Pérez, 1988; Rosenberg & Resh, 1993).

O período da seca sobre os ecossistemas de rios ocasiona efeitos diretos e indiretos. Os impactos diretos são os causados pela perda de água e diminuição do fluxo e a redução de hábitats. Os impactos indiretos são aqueles associados com mudanças tais como interações interespecíficas e a natureza da

fonte alimentar. Sejam os impactos diretos ou indiretos, podem reduzir grandemente as densidades das populações de macroinvertebrados, a riqueza de espécies, alterar os ciclos da historia de vida dos organismos, a composição de espécies, os esquemas de abundância, os tipos e intensidade das interações bióticas, a estrutura trófica e os processos do ecossistema (Lake, 2003). O objetivo do presente estudo foi comparar as densidade e composição taxonômica de macroinvertebrados bentônicos em trechos do córrego Cascatinha PESCAN durante o período da seca, quando o volume de água e a vazão destes ambientes são extremamente reduzidos. Materiais e Métodos O presente trabalho foi realizado no córrego Cascatinha localizada no PESCAN-GO, durante o período da seca nos dias 14 e 15 de agosto de 2004. É um córrego perene, mas no período da seca o fluxo de água diminui consideravelmente, podendo chegar a formar pequenas poças separadas por áreas de leito seco. Foram amostrados 6 sitios de coleta:

P1 a P4 : localizados a montante da queda de água, no trecho compreendido entre a junção do ultimo afluente do córrego e o início da queda de água. Neste trecho o acesso ao córrego é difícil devido á presença de mata de galeria que também contribui à diminuição da entrada de luz ao leito do córrego.

P5 e P6: localizados no córrego a jusante da queda da água no trecho compreendido após da queda dá água e a cerca que limita a área do PESCAN . Este trecho se localiza próximo a uma trilha muito usada pelos visitantes do parque e,

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portanto sujeitos a maior influência antrópica. Os sítios de coleta estavam eqüidistantes entre si em aproximadamente 60 m (Figura 1). Foi realizada uma coleta dos macroinvertebrados bentônicos por sítio usando o amostrador Surber ( 30 x 30 cm, 250 μm de malha) que delimita uma área de 0,90 m² de local amostrado com um esforço amostral de aproximadamente 3 minutos para cada sítio de coleta.

As amostras foram lavadas em peneiras de 1mm e 0,5 mm de malha e em seguida triadas a olho nu e com auxílio de microscópio estereoscópico. Quando possível, os organismos bentônicos foram identificados até nível de família com auxílio de literatura especializada. As variáveis abióticas avaliadas e os métodos de coleta utilizados foram: 1) largura do córrego no sítio de coleta, 2) velocidade da água medida com o auxílio de uma folha solta na água, 3) temperatura da água, 4) profundidade da água, 5) tipo de substrato. O tipo de substrato foi dividido em categorias: areia, cascalho, rocha e folhiço. A dominância de cada categoria foi determinada por classes de 1 a 3, onde: classe 1 equivale a raro, classe 2 comum e classe 3 dominante. Resultados A temperatura da água variou entre 17 e 18 °C ao longo do córrego. A velocidade da água foi muito pequena em torno de 5,9 cm/s ou inexistente. A largura do córrego variou entre 1,40 m no ponto 3 e 4,20 m no ponto 5; a profundidade variou entre 0,11 m e 0,78 m nos pontos 6 e 1 respectivamente (Figura 2 e 3). A maioria dos sítios de coleta apresentaram no substrato dominância de folhiço e também cascalho (Figura 4).

Foram identificados 832 indivíduos distribuídos entre as Ordens: Coleoptera, Diptera, Ephemeroptera, Odonata, Plecoptera, Oligochaeta e Trichoptera, sendo os mais freqüentes Diptera, Ephemeroptera e Odonata, aparecendo,

respectivamente, em 76,2%, 8,65% e 7,57% dos sítios amostrados. Nos grupos foram encontrados um total de 15 taxa (Figura 5).

A família Chironomidae apresentou maior número de indivíduos com 216,67 ind/m² no ponto 4. A ordem Ephemeroptera foi a segunda mais abundante com 36,67 ind/m² no ponto 1 distribuídas em duas famílias, seguida da Ordem Odonata com 31,11 ind/m² no ponto 4 distribuídas em 2 famílias (Tabela 1).

Ao longo do córrego, a densidade média de organismos encontrados e especificamente a densidade média de larvas da família Chironomidae (ind./m²) foi maior onde o folhiço foi o substrato dominante (Figura 6). Discussão Durante o período da seca o leito estreito do córrego, a profundidade e o fluxo diminuiram favorecendo o acúmulo de folhas provenientes da mata de galeria e também de cascalho, criando assim diferentes microhábitats. A maior densidade da família Chironomidae nos sítios de coleta pode ser explicada pela maior dominância de folhiço que foi encontrada na maioria dos pontos, o que proporciona um substrato e fonte alimentar através do acúmulo de nutrientes proveniente da decomposição foliar durante o período da seca. Em sistemas com diferentes graus de trofia, certas espécies de Chironomidae apresentam adaptações ecológicas a extremas condições ambientais relacionadas à alta temperatura, pH, conteúdo de matéria orgânica no sedimento, e baixa concentração de oxigênio na interface-sedimento-água. (Cranston, 1995).

A composição e a distribuição espaço-temporal dos organismos aquáticos alteram-se pela ação dos distúrbios. O período seco exerce sua influência sobre as comunidades de macroinvertebrados de diferentes ambientes aquáticos através de alterações hidrológicas cujo efeito depende do contexto espacial e temporal. A diminuição do fluxo de água altera a composição de vegetação aquática, altera a

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formas do canal e afeta a química da água criando novas condições ambientais para os macroinvertebrados aquáticos (Boulton, 2003). Assim, quanto mais intensos forem, mais pronunciadas serão as respostas ecológicas dos organismos aquáticos podendo haver inclusive a exclusão de organismos sensíveis à mudanças (como as formas imaturas de muitas espécies de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera). No entanto, no sítio P3 e P1 além da dominância de folhiço, a presença comum dos outros tipos de substrato poderia explicar a maior densidade encontrada de Trichoptera (sítio P3) e de Ephemeroptera (Sito P1), pois que proporciona uma riqueza de microhábitats e estabilidade do substrato. Referências bibliográficas Boulton, A. J. 2003. Parallels and contrast

in the effects of drought on stream macroinvertebrate assemblages. Freshwater Biology, 48, 1173–1185.

Callisto, M.; Moretti, M.; Goulart, M. 2001. Macroinvertebrados Bentônicos para Avaliar a Saúde de Riachos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. V 6. p. 71- 82

Callisto, M.; Vono, V.; Barbosa, F. A. R. & Santeiro, S. M. 2002. Chinomidae as a food resource for Leporinus amblyrhinchus (Teleostei: Caraciformes)

and Pimelodus maculatus (Teleostei: Siluriformes) in a Brasilian reservoir. Lundiana. 3 (1): 67 – 73.

Cranston, P. S. 1995. Introduction to the Chironomidae. In: Armitage, P.; Cranston, P. S. & Pinder, C. V. (eds). The Chironomidae: the biology and ecology of non-biting midges. Chapman & Hall, New York, pp. 1-7.

Esteves, F., A. 1988. Fundamentos de Limnologia. Ed. Interciência. 2da. Ed. Rio de Janeiro.

Lake, P. S. 2003. Ecological effects of perturbation by drought in flowing waters. Freshwater Biology, 48, 1161–1172

Perez,G.R. 1988. Guia para el estudio de los macroinvertebrados acuáticos del Departamento de Antioquia. Fondo Fen. Colombia/Colciencias, Universidade de Antioquia. 132p.

Rosenberg, D.M. & Resh, V.H. (eds.) 1993. Freshwater biomonitoring and benthic macroinvertebrate. Chapmam & Hall, New York. 488 p.

Whiles, M. R. & Wallace, J. B.1997. Leaf litter decomposition and macroinvertebrate communities in headwater streams draining pine and hardwood catchaments. Hidrobiologia, 353, 107-119

P2•

P5• P6•

P1• P3• P4•

60 m. Cachoeira

Cerca limite do parque

Figura -1: Desenho esquemático da localização dos sítios de coleta amostrados no Córrego Cascatinha-PESCAN- GO nos dias 14 e 15 de agosto de 2004

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0

1

2

3

4

5

P1 P2 P3 P4 P5 P6Sítios de coleta

Larg

ura

do c

órre

go (m

)

Figura 2 – Largura do córrego (m) nos sítios de coleta ao longo do Córrego Cascatinha (PESCAN-GO) nos dias 14 e 15 de agosto de 2004.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

P1 P2 P3 P4 P5 P6Sítios de coleta

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 3 – Profundidade do córrego (m) nos sítios de coletas ao longo do Córrego Cascatinha (PESCAN-GO) nos dias 14 e 15 de agosto de 2004.

P3P1 P2AreiaCascalhoRochaFolhiço

Figura 4 – Dominância dos tipos de substrato por sítio de coleta ao longo do Córrego da Cascatinha (PESCAN-GO) nos dias 14 e 15 de agosto de 2004.

P4 P5 P6

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0102030405060708090

Coleop

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Diptera

Ephem

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ra

Odona

ta

Tricho

ptera

Outros

Taxa

Freq

uênc

ia (%

)

Figura 5 - Freqüência dos taxa encontrados nos 6 sítios amostrados no Córrego Cascatinha (PESCAN, GO) nos dias 14 e 15 de agosto de 2004.

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3

Dominância de folhiço (classes)

Den

sida

de (i

nd./m

²)

TodosLarvas de Chironomidae

Figura 6 - Densidade média de organismos encontrados e de larvas da família Chironomidae (ind./m²) segundo a dominância do folhiço no Córrego Cascatinha (PESCAN, GO) nos dias 14 e 15 de agosto de 2004. (Classe 1: raro; Classe 2: comum; Classe 3: dominante).

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Tabela 1- Abundância (ind/m²) de macroinvertebrados bentônicos encontrados no Córrego Cascatinha (PESACAN-GO) no período da seca, 14 e 15 de agosto de 2004. TAXA P1 P2 P3 P4 P5 P6 COLEOPTERA Elmidae 3,33 1,111 1,11 8,89 3,33 Psephenidae 2,22 4,44 4,44 2,22 DIPTERA Ceratopogonidae 12,22 1,11 21,11 3,33 6,67 Chironomidae 105,56 24,44 161,11 216,67 116,67 24,44 Sp 1 1,11 1,11 3,33 1,11 2,22 Sp 2 1,11 Sp 3 1,11 EPHEMEROPTERA Baetidae 3,33 4,44 5,56 4,44 5,56 Leptophlebiidae 33,33 6,67 10,00 5,56 1,11 ODONATA Calopterygidae 2,22 7,78 5,56 Coenagrionidae 6,67 1,11 24,44 Libellulidae 12,22 6,67 3,33 OLIGOCHAETA 2,22 1,11 PLECOPTERA 1,11 4,44 TRICHOPTERA 3,33 4,44 15,56 3,33 2,22 Helicopsychidae 1,11 Densidade total 176,67 56,67 196,67 303,33 148,89 42,22 Riqueza de taxa 9 10 9 10 10 8

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Altura de ninhos arbóreos de Constrictotermes cyphergaster (Isoptera) como estratégia de defesa a ataque por vertebrados em uma área de cerrado

sensu stricto no PESCAN- GO.

Kena Ferrari Moreira da Silva Introdução Os cupins (Isoptera) são insetos sociais Os cupins (Isoptera) são insetos sociais com vários tipos morfológicos, ou castas, que exibem divisão de trabalho, desenvolvendo funções biológicas distintas (Borror et al, 1989; Krishna, 1969). Nem todas as famílias possuem soldados (Apicotermitidae), mas em sua maioria esta casta está presente e possui geralmente mandíbulas e outras modificações estruturais que podem lançar externamente substâncias químicas usadas para a defesa do ninho (Nasutitermes, Constrictotermes, Coptotermes) (Stuart, 1969).

A sociabilidade de cupins promove a concentração do recurso alimentar para vários grupos animais, mas também desenvolve formas de defesa cooperativas para dificultar o ataque do predador (Redford & Dorea, 1984). As colônias são também um recurso alimentar seguro pois não diminuem sua abundância em períodos de estiagem (seca), sendo portanto freqüentes durante o ano inteiro. Os alados (reprodutivos), responsáveis pela formação de novas colônias, ainda são uma fonte alimentar adicional e abundante na época de revoadas (Nutting, 1969).

As sociedades ou colônias de cupins podem construir diferentes tipos de ninhos. Alguns grupos têm seus ninhos confinados a um pedaço de madeira, construindo galerias na sua parte interna ou que se comunicam com o solo. Os ninhos hipógeos ou subterrâneos são feitos no subsolo, podendo formar câmaras internas. Os ninhos epígeos possuem uma porção subterrânea e outra aérea conspícua construída com uma mistura de fezes e terra denominada de cupinzeiro. Alguns constroem ninhos semelhantes ao epígeos mas que não possuem a parte subterrânea. Estes ninhos são construídos em troncos de

árvores (arbóreos), possuindo sempre galerias ligadas ao tronco da árvore que fazem a comunicação com o solo (Noirot, 1969).

Existem no Brasil cerca de 300 espécies descritas de cupins (Constantino, R. com.pess.) e para a região do Cerrado estima-se que existam 34.320 colônias/km2

(Raw, 1996). No Brasil Central existe a predominância da subfamília Nasutitermitinae (Mill, 1983).

Constrictotermes cyphergaster; Silvestri (Isoptera, Termitidae, Nasutitermitinae) é uma das espécies mais freqüentes no Cerrado brasileiro e que constrói ninhos arbóreos (Mathews, 1977). Os ninhos desta espécie freqüentemente contém espécies de cupins inquilinas como Inquilinitermes fur e I. microcerus (Araujo, 1969; Cunha et al, 2003). Esta espécie possui soldados com defesa química que protegem a colônia quando o cupinzeiro é danificado por algum predador. Segundo Araujo (1969), C. cyphergaster constrói seus ninhos a 10-25 cm de altura do solo, raramente passando de 1 m de altura. O ninho construído de fezes e detritos possui em seu interior células ou câmaras irregulares conectadas por aberturas circulares de diferentes calibres. Tatus (Xenarthra, Dasypodidae) e tamanduás (Xenarthra, Myrmecophagidae) são os principais predadores de ninhos de cupins (Redford, 1984). Em análises fecais, C. cyphergaster pode fazer parte de até 20% da dieta de cupins do tatu-canastra (Priodontes maximus) (Anacleto, 1997).

C. cyphergaster é uma espécie com ninhos extremamente frágeis, assim um ataque destes predadores pode chegar a comprometer uma colônia inteira, sendo uma das causas de mortalidade entre estes cupinzeiros. C. cyphergaster mesmo tendo soldados que possuem defesa química, pode

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estar adotando outras estratégias complementares para a defesa do ninho. As colônias de C. cyphergaster iniciam a construção do ninho nas partes mais baixas e a medida que a colônia se desenvolve, o ninho vai se reconstruindo e se posicionando, nos limites disponíveis, em alturas mais altas na árvore Uma possível estratégia para evitar a ação destes predadores pode estar relacionada ao estabelecimento do ninho em uma determinada altura do solo, o que estaria diminuindo o alcance destes animais (Rébula e Angeluci, 2002).

O objetivo deste trabalho foi observar se existe alguma diferença significativa na predação de ninhos que se encontram em porções mais baixas da árvore com relação a ninhos em regiões mais altas. A hipótese é a de que ninhos nas porções mais inferiores das árvores estariam mais sujeitos a predação do que ninhos nas porções mais altas das árvores. Outra hipótese é a de que há diferença significativa na proporção da área danificada dependendo da altura em que se encontra o ninho. A maioria dos predadores estaria alcançando somente ninhos mais baixos (mamíferos). Ninhos mais altos estariam com uma área danificada menor pois não são do alcance da maioria dos predadores, exceto Tamandua tetradactyla (tamanduá-mirim) de hábito escansorial e aves para nidificação (Redford, 1984). Resultados Foram encontrados um total de 165 ninhos de C. ciphergaster na área de cerrado ss. Deste total de ninhos 65,4 % (n=108) continham algum sinal de predação (arranhões rasos e profundos, marcas superficiais) ou perfurações para nidificação por aves.

A média de altura em relação ao solo dos ninhos foi de 88 cm (SD=± 41.5 cm). Houve uma diferença significativa (χ2 = 9.834; gl: 2; p<0.01) na freqüência de ninhos danificados nas três classes de altura (Figura 1). Para a classe 1 (5 a 67 cm) a quantidade de ninhos danificados (N=47)

foi maior do que o esperado (N=38.6), enquanto que para a classe 3 (113 a 186 cm) a quantidade de ninhos danificados (N=24) foi menor do que o esperado (N=30.8).

O teste ANOVA mostrou que existe diferença significativa (p=0.00001; F=16.6649) entre a três classes de altura quanto à proporção da área danificada dos cupinzeiros. O teste de Newman- Keuls mostrou que houve diferenças significativas entre a classe 1 e as classes 2 e 3 (p<0.01), mas que não houve entre as classes 2 e 3. A classe 1 foi a que obteve a maior média da proporção da área danificada (arcsen=0.3688) e a classe 3 a menor (arcsen=0.0968) (Figura 2). Discussão e Conclusão Quando comparamos a proporção da área danificada entre as classes de altura, a classe 1 foi a que possuía uma maior área danificada. Este fato se explica pela maior quantidade de predadores que podem alcançar os ninhos em alturas mais baixas. São registradas para o PESCAN cinco espécies de tatus e duas de tamanduás. Quatro espécies de tatus, pelo pequeno porte estariam somente alcançando os ninhos da primeira classe de altura. Dentro dos tatus, somente o tatu –canastra (P. maximus) (comprimento cabeça-corpo: 75 cm a 1,0 m (Emmons, 1990) estaria alcançando os ninhos da segunda classe. O tatu –canastra, para alcançar os ninhos arbóreo de C. cyphergaster, pode se manter ereto apoiado no tripé formado pelos seus membros posteriores e a cauda, uma das características dos Xenarthra (Wetzel, 1982). O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga trydactyla) (comprimento cabeça-corpo:1m a 1,90 m) (Emmons, 1990) estaria alcançando os ninhos da classe 2 e os ninhos mais baixos da classe 3, devido às mesmas características comportamentais observadas para o tatu-canastra. Mesmo com estas características destas espécies, somente o tamanduá-mirim e aves alcançariam todas as classes de altura. Assim, o fato de não haver

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diferenças significativas entre as classes 2 e 3 de altura pode ser explicado por não haver diferenças na quantidade e tipos de predadores que possam alcançar os ninhos mais altos.

A altura do ninho é uma estratégia importante para evitar a predação dos cupinzeiros desta espécie, pois ninhos mais baixos (até 67 cm) estão sendo mais predados do que ninhos mais altos.

O fato dos ninhos de C. cyphergaster serem arbóreos no entanto não pode ser explicado simplesmente para evitar predação, pois este hábito não evitou a predação em 65,4% dos ninhos. Outros motivos não investigados pelo estudo podem ter influenciado também esta espécie em construir seus ninhos nas árvores. Uma delas é relacionada ao recurso alimentar que esta espécie utiliza. C. ciphergaster pode estar construindo seus ninhos escolhendo uma planta hospedeira específica para assim facilitar a proximidade com a fonte alimentar, diminuindo o gasto energético para a obtenção de recursos. Esta espécie foi observada se alimentando de líquens que nascem na casca de árvores (Constantino, R., com. pess.).

No entanto, foi possível observar que na área estudada de Cerrado, este comportamento confere uma maior proteção contra predadores. O hábito arborícola é uma estratégia de defesa que pode ser extremamente importante para as colônias de C. cyphergaster, pois seus ninhos são relativamente visíveis aos predadores, se comparados com os tipos subterrâneos, podendo ainda servir como um complemento de outras defesas como a química. Bibliografia Anacleto, T. C. 1997. Dieta e utilização de

habitat do tatu-canastra (Priodontes maximus Kerr, 1792) numa área de cerrado do Brasil Central. Tese de Mestrado. Departamento de Ecologia. Universidade de Brasília, UnB. Brasília, DF.

Araujo, A L (1969). Termites of Neotropical Region. In: Krisnhna, K. & Weesner, F. M.. Biology of termites. 2nd

edition. Academic Press, New York. p. 527-571.

Borror, D. J.; Triplehorn, C. A ; Johnson, N. F. (1989). A introduction to the study of insects. 6 nd edition. Saunders College Publishing, Florida. 875p.

Cunha, H. F; Costa, D. A.; Filho, K. E. S; Silva, L. O & Brandão, D.(2003) Relationship between Constrictotermes cyphergaster and Inquiline termites in the Cerrado (Isoptera: Termitidae). Sociobiology Vol. 42, No. 3: 761-770.

Emmons, L. H. 1990. Neotropical rainforest mammals: A field guide. Chicago: Univ. Chicago Press, 281 p.

Krishna, K. 1969. Introduction. In: Krisnhna, K. & Weesner, F. M. Biology of termites. 1nd edition. Academic Press, New York. p. 1-17.

Mathews, A. G. A. 1977. Studies on termites form the Mato Grosso State, Brasil. In: Academia Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro. 280 pp.

Mill, A. E. 1983. Generic keys to the soldier caste of new world termitidae (Isoptera: Insecta). Systematic Entomology, 8: 179-190.

Nutting, W. L. 1969. Flight and Colony Foundation. In: Krisnhna, K. & Weesner, F. M.. Biology of Termites. 1nd

edition. Academic Press, New York. 645p.

Noirot, C. H. 1969. The nest of termites. In: Krisnhna, K. & Weesner, F. M. Biology of termites. 1nd edition. Academic Press, New York. p. 71-91.

Raw, A. 1996. Estimativas preliminares dos números de térmitas nos cerrados. Anais do VIII Simpósio sobre o Cerrado, Brasília. DF.

Rébula, C. A & Angeluci, C., H. G. 2002. Mortalidade de ninhos de Constrictotermes cyphegaster relacionada a distância do solo e circunferência em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO). In:

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Relatório final: Métodos de campo em Ecologia. Universidade de Brasília, UnB; Brasília, Brasil. p. 87-89.

Stuart. A. M.1969. Social behavior and communication . In: Krisnhna, K. & Weesner, F. M. Biology of termites. 1nd

edition. Academic Press, New York. p. 192-229.

Redford, K. H. & Dorea, J. G. 1984. The nutritional value of invertebrates with emphasis on ants and termites as food for mammals. The Journal of Zoology (London), 203: 385-395.

Wetzel, R M. 1982. Sistematics, distribution, ecology and conservation of South América edentates. In: M. A. Mares & H. Genoways (eds.). Mammalian biology in South America. University of Pittsburg, Pennsylvania. p. 22-43

Redford, K. H. 1984. The termitaria of Cornitermes cumulans (Isoptera, Termitidae) and their role in determining a potential keystone species. Biotropica 16(2): 112-119.

0

10

20

30

40

50

Classe 1 (5 a 67) Classe 2 (68 a 112) Classe 3 (113 a 186)

altura (cm)

núm

ero

de n

inho

ninhos danificados ninho intactos

Figura 1: Número de ninhos intactos e danificados para as três classes de altura (χ2 =9.834, gl.=2, p<0.001).

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00.05

0.10.15

0.20.25

0.30.35

0.40.45

Classe 1 Classe 2 Classe 3Altura (cm)

méd

ia d

a ár

ea d

anifi

cada

Figura 2: Médias da proporção das áreas danificadas Dos ninhos e C. cyphergaster em relação às classes de altura

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Pilosidade e dureza foliar: são defesas contra herbivoria?

Mariana Inés Saraceno Introdução A herbivoria é um tipo de interação inseto-planta que resulta em uma perda parcial da biomassa vegetal pelos herbívoros. Dependente do tecido consumido (folhas, raízes, flores,sementes..) os herbívoros podem ter diferentes impactos na sobrevivência, crescimento e/o fecundidade das plantas (Ricklefs, 1996). Como conseqüência da forte pressão seletiva, muitas das plantas que coevolucionarom com os herbívoros, são capazes de tolerar o dano compensando a perda da biomassa vegetal, ou podem apresentar diferentes mecanismos de defesa para prevenir o minimizar o ataque.

Dependendo do tipo de ambiente, diferentes modelos predizem qual estratégia de defesa é a mais conveniente em términos de custo – beneficio (Ribeiro & Fernandes 2000). Ambientes pobres em nutrientes deveriam apresentar mais defesas do tipo físico que ambientes mais eutróficos (devido ao elevado custo de produzir defesas químicas) alem de um maior investimento em defesa devido a um aumento da importância relativa do tecido produzido (Coley et al., 1985).

No cerrado, o baixo conteúdo de nutrientes do solo é refletido na fisononomia das plantas, sendo que em geral as folhas apresentam altos teores de fibra, são lignificadas, cerosas e pubescentes (Ferri, 1979) . Neste ambiente, o acúmulo de fibras e de compostos químicos em tricomas parecem ter funções adaptativas desde a proteção contra dissecação, radiação UV, até proteção contra herbivoria (Woodman & Fernandes, 1991; Turner, 1994; apud Ribeiro & Fernandes, 2000).

Portanto, em ambientes pobres em nutrientes onde a taxa C/N é elevada, a dureza e a pilosidade são características estruturais que podem estar cumprindo uma

função de proteção à herbivoria mesmo que não tenham evoluído como formas de defesa (Medina et al., 1990).

Uma família altamente representada na flora brasileira e particularmente no Cerrado, é a família Melastomataceae, com cerca de 4000 espécies distribuídas nas regiões tropicais de todo o mundo. Esta família de porte arbustivo-arbóreo apresenta numerosas espécies com tricomas sobre a superfície foliar. A herbivoria em folhas novas que são geralmente produzidas durante os últimos meses da estação seca representaria um dano importante para o crescimento e desenvolvimento destas plantas.

O objetivo deste estudo, foi verificar se a dureza e a densidade de tricomas estariam cumprindo uma função de defesa contra herbivoria em espécies da família Melastomataceae. Espera-se que as espécies com uma maior densidade de tricomas e dureza foliar apresentem uma menor porcentagem de área foliar atacada. Materiais e Métodos O estudo foi realizado durante os dias 17 a 20 de agosto de 2004 no Parque Estadual de Serra de Caldas Novas (PESCAN)-GO. Foram selecionadas sete espécies pertencentes à família Melastomataceae altamente representadas na área de estudo, sendo quatro com ocorrência no cerrado senso stricto e três na mata (Tabela 1). Para cada uma das 7 espécies foram utilizados 8 indivíduos, sendo coletados para cada um deles três ramos em forma aleatória e de cada ramo analisadas as 3 folhas mais apicais (novas).

Em cada folha foram efetuadas medições de dureza, densidade de tricomas, área foliar total e área foliar danificada por herbívoros. Para evitar que as folhas coletadas alterem a dureza real devido à dessecação, as folhas foram transportadas e

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mantidas em sacos plásticos fechados para minimizar a transpiração, sendo logo medida a dureza no laboratório.

Para o cálculo de dureza de cada folha foi utilizado um penetrômetro que mede a resistência à perfuração da folha. Foi utilizada como medida individual a media de três medições consecutivas efetuadas em diferentes porções da folha, com a precaução de evitar as nervuras que aumentariam a dureza real do limbo.

A densidade de tricomas foi medida em todas as folhas na superfície adaxial contando o número de tricomas presentes em um quadrado de 0.25 cm2 com auxílio de uma lupa. Em dois das sete espécies não foi possível realizar esta medição.

A área foliar total e área foliar danificada por herbívoros foram estimadas com o uso de plasticos transparentes que apresentavam pontos distanciados 1 cm (para area foliar total) e 0.5 cm (para área foliar danificada).

A percentagem de área foliar danificada por espécie foi calculada usando a media das áreas foliares totais e danificadas dos 8 indivíduos sendo que o valor do indivíduo corresponde a media das percentagens das três folhas. O mesmo procedimento foi efetuado para o cálculo dos valores de densidade de tricomas e dureza foliar por espécie.

Para analisar a relação existente entre a porcentagem de área foliar danificada com as características de dureza e pilosidade das folhas entre as espécies foi utilizada a correlação de Pearson (Biostat v. 2.0). Resultados A dureza foliar variou entre as espécies, com o valor máximo para M.ferruginata (266±46.55 GTM) e o mínimo para Clidemia hirta (4.3±2.14 GTM) sendo que as três espécies de mata são as que apresentam a menor dureza foliar (Tabela 1).

Houve uma correlação significativa (r=0.96, p=0.000546, n=7) entre a dureza media das folhas e a porcentagem media de

área foliar danificada, sendo que as espécies que apresentaram maior dureza foram as mais atacadas (Fig.2). Porém, o desvio padrão obtido (tabela 1) evidencia uma marcada diferença na pilosidade e dureza foliar entre os indivíduos de uma mesma espécie.

No entanto, a percentagem de área foliar danificada não foi correlacionada significativamente com a densidade de tricomas no limbo da folha (r=0.82, p=0.085, n=5) (Fig.3) observando-se também neste caso uma grande variação na pilosidade das folhas dos indivíduos dentro de uma mesma espécie (Tabela 1). Conclusões Os resultados indicam que a dureza e a pilosidade nas folhas jovens destas espécies, não estariam relacionadas a mecanismos de defesa para herbivoria. A maior dureza e pilosidade das folhas observada nas espécies de cerrado em relação às espécies de mata poderiam ser explicadas pelas diferenças no tipo de ambiente em que ocorrem. No cerrado, folhas mais duras, ou seja mais escleromórficas, e com maior densidade de tricomas podem ser conseqüência direta do menor conteúdo de nutrientes do solo e da maior exposição dos indivíduos à dessecação. Este resultado concorda com outros estudos para o cerrado onde diferenças interespecíficas na dureza e pilosidade das folhas não foram relacionadas à quantidade de dano pelos insetos (Marquis et al., ?) Uma correlação positiva entre a pilosidade das folhas e percentagem de área foliar danificada já foi observada em outras espécies da família melastomataceae (Arnedo & Bonaccorso, ;Oliviera et al., 2001).Explicações tomam em conta as diferenças nos tipos de tricoma entre espécies, um possível aumento da palatabilidade, e uma função dos pelos como proteção física dos insetos.

Outras possíveis explicações deste padrão deveriam contemplar a distribuição espacial das espécies (M. ferruginata

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COLEY, P.D., Bryant, P. & Chapin, F.S. 1985. Resource availability and plant antiherbivore defense. Science 230:895-899.

presente em alta densidade e, portanto mais evidente e mais predada), presença de outro mecanismo de defesa (química), e a relação custo - beneficio do tipo de defesa em relação ao ambiente. As espécies de mata por crescerem em um ambiente com maior disponibilidade de nutrientes no solo deveriam possuir mais defesas químicas que físicas e porem seriam as menos predadas como foi observado neste trabalho.

FERRI, M.G. 1979. Uma década (1968-1977) de trabalho no cerrado. In: Goodland, R.& Ferri, M.G. (eds). Ecologia do cerrado. EDUSP. São Paulo.

MARQUIS, R.J., Morais H.C., Diniz I.R.( ) Interactions Among Cerrado Plants and their Herbivores: Unique or Typical? In: Cerrado. cap.16: 306-327 Neste estudo devido ao único objetivo de

relacionar dureza e pilosidade com o ataque pelos herbívoros dentro de uma família, não foi tido em conta o lugar de ocorrência das espécies. Porém devido à importância do tipo de ambiente em todas as interações bióticas e abióticas, em estudos futuros deveria-se analisar em forma separada.

MEDINA, E., Garcia V. &Cuevas, E. 1990. Sclerophylly and oligotrophic environments: relationships between leaf structure, mineral nutrient contenent, and drought resistance in tropical rain forest of the upper rio Negro region. Biotropica 22: 51-64

OLIVIERA B.A, Kebula C.A, Leitão L.O, Sousa L.G. Trajano M. 2001. Densidade de pêlos como estratégia de defesa de Melastomataceae contra herbivoria de insetos. Curso de Campo (2001) Ilha Grande, Rio de Janeiro, Brasil.27-28pp

Agradecimentos A meus companheros e amigos do curso de PESCAN, a Bené pela identifica÷ão das espécies, a Mauricio por achar a Miconia fallax, a Mónica pela companhia na “noite do penetrômetro”. A Helena C. Morais pela orienta÷ão e achuda, aos professores pela aprendizagem recibida. A dona Eulice pelas recompensas na hora da comida!

RIBEIRO, S.P. & Fernanades, G. W. 2000. Interações entre insetos e plantas no cerrado: teoria e hipóteses de trabalho. Ecologia e comportamento de insetos. Serie Oecologia Brasiliensis, Vol III PPGE-UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil:229-320pp

Bibliografia ARNEDO, L. F. & Bonaccorso E. 2000.

Mejor peludita: la importancia de los tricomas en las melastomataceas. Curso de campo- Costa Rica (OTS).2000.

RICKLEFS, R.E., 1996. A economia da natureza. 3a ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 470pp.

Tabela 1.Valores medios ± desvio padrão (n=8) de percentagem de área foliar danificada por herbivoros, dureza das folhas e densidade de tricomas de 7 espécies de Melastomataceae no PESCAN-GO. Espécie % herbivoria Dureza (GMT) Pilosidade (cm2) Miconia ferruginata 4.71 ± 3.85 266.94 ± 46.55 81.88±37.78 Macairea macedoi 3.03 ± 4.14 153.89 ± 34.83 54.86±2.34 Miconia fallax 1.09 ± 1.16 97.85 ± 28.87 0.00±0.00 Miconia albicans 0.41 ± 0.58 74.10 ± 22.5 Ossaea warmingiana* 0.13 ± 0.19 28.82 ± 18.46 Miconia chartacea* 0.00 ± 0.00 8.33 ± 6.24 35.63±41.95 Clidemia hirta* 0.54 ± 0.49 4.31 ± 2.14 15.38±2.84 *espécies de mata

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Dureza media das folhas(GMT)

0 50 100 150 200 250 300

% á

rea

folia

r dan

ifica

da

0

1

2

3

4

5cerradomata

Figura 1. Relaςão entre dureza da folha e % de área foliar danificada para 7 espécies de Melastomataceae no PESCAN-GO (valores medios e desvio padrão).

Densidade de tricomas (cm2)

0 20 40 60 80 100

% á

rea

folia

r dan

ifica

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0

1

2

3

4

5

cerradomata

Figura 2. Relaςão entre densidade de tricomas e % de área foliar removida para 5 espécies de Melastomataceae no PESCAN-GO. (valores médios e desvío padrão).

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Estrutura populacional e distribuição espacial de Qualea grandiflora e Qualea parviflora em um cerrado sentido restrito no PESCAN

Maurício Bonesso Sampaio

Introdução A partir de estudos de estrutura de população podemos determinar a abundância de populações e a distribuição de freqüência dos indivíduos em classes, o que reflete a oportunidade de recrutamento para classes subseqüentes, além dos riscos de mortalidade aos quais o indivíduo foi exposto ao longo do seu desenvolvimento (Hutchings, 1997). Com base na distribuição de freqüência, podemos identificar possíveis “gargalos” na população, que indicam falhas durante o ciclo de vida, e inferir sobre a estabilidade das populações em longo prazo. Diversos fatores influenciam a estrutura das populações, como a distribuição espacial dos indivíduos, que é determinada por diferentes variáveis em cada fase do ciclo de vida da planta. Para sementes e plântulas a distribuição espacial é função da distribuição das plantas parentais e da chuva de sementes, além do comportamento dos predadores e da distribuição dos microhabitats propícios à germinação na área ocupada pela população. Já a distribuição espacial de plantas maturas, é influenciada por outros fatores como o padrão de recrutamento e a modificação deste padrão pela mortalidade, que difere em intensidade de lugar para lugar dependendo das características do microhabitat (Hutchings, 1997). Apesar da distribuição espacial variar em intensidade entre populações, a maior parte das espécies apresenta algum grau de agregação e padrões aleatórios e uniformes são incomuns (Silvertown, 1982). Estudos como este podem contribuir para gerar informações sobre as relações entre indivíduos de uma mesma espécie e entre indivíduos de diferentes espécies, bem como, para compreender as estratégias de regeneração adotadas, que podem ser utilizadas para subsidiar ações de

conservação. Este estudo teve como objetivo comparar a estrutura populacional e a distribuição espacial entre duas espécies congêneres e dominantes (Qualea grandiflora e Qualea parviflora) em um cerrado sentido restrito. Materiais e métodos O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. O Parque se localiza entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente a 180Km de Goiânia-GO. A área de estudo foi alocada no platô a 5Km da sede do Parque em um cerrado sentido restrito que foi submetido à queima (julho de 2002) dois anos antes deste estudo. As espécies arbóreas de maior índice de valor de importância são Kielmeyera coriacea, Qualea grandiflora, Caryocar brasiliense, Syagrus flexuosa, Ouratea hexasperma, Qualea multiflora e Qualea parviflora (Silva et al., 2002). Todos os indivíduos das espécies Q. grandiflora e Q. parviflora foram amostrados em 120 parcelas de 10x10m contíguas, distribuídas em um grid de 120x100m (1,2ha). Para cada indivíduo foi medida a circunferência à altura do solo (CAS) com uma fita métrica, estimada visualmente a altura total e medida as coordenadas X, Y em um plano cartesiano. Os indivíduos das duas espécies foram distribuídos em sete classes de 5cm de diâmetro à altura do solo (DAS). A freqüência dos indivíduos nas classes diamétricas foi comparada entre as duas populações por tabela de contingência (7x2) utilizando a distribuição de χ2 como estatística, para comparar as freqüências observadas e esperadas se as populações tivessem igual distribuição diamétrica (Zar, 1999). O tipo de distribuição espacial dos indivíduos de cada população foi

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inicialmente verificado graficamente através da localização de cada indivíduo no grid de 1,2 ha. Além disso, foi calculado a variância/média e o Índice de Morisita (Id) para três diferentes escalas espaciais (100m2, 400m2 e 800m2). Quando a razão entre a variância e a média é igual a um, a distribuição é aleatória, se a razão for maior que um, então a distribuição é agrupada. O Índice de Morisita pode variar de zero (distribuição espacial perfeitamente uniforme) até o valor correspondente ao número de parcelas (todos os indivíduos agrupados em uma única parcela), sendo que se Id=1, então a população tem distribuição espacial aleatória. Sendo assim, cada valor calculado da razão variância/média e do Id foi testado quanto a diferenças significativas em relação a um, utilizando a distribuição de χ2 como estatística (Brower et al., 1989). Para todos os testes foi utilizado o nível de significância de 5%. Resultados Foram amostrados 183 indivíduos, sendo 134 (1,12 ± 1,82 ind./parcela) de Q. grandiflora e 49 (0,41 ± 1,04 ind./parcela) de Q. parviflora. A distribuição de freqüência em classes de diâmetro diferiu significativamente entre as duas espécies (χ2=18,26; gl=6; p<0,01; Figura 1). Q. grandiflora teve distribuição em forma de "J invertido", enquanto que Q. parviflora teve menor freqüência de indivíduos na classe de 0 a 5 cm de diâmetro. A amplitude de variação do diâmetro e altura foi semelhante entre as duas espécies, para Q. grandiflora o DAS variou de 1 a 32 cm e a altura de 0,5 a 6,0 m, enquanto que em Q. parviflora o DAS variou de 2 a 38 cm e a altura 0,5 a 5,5 m. As duas espécies tiveram distribuição espacial agrupada e ocorreram sobrepostas na mesma área (Figura 2). Pode-se observar dois grupos distintos de indivíduos, um deles localizado no canto inferior direito e o outro no canto superior esquerdo do grid. Os dois índices calculados tiveram o

mesmo resultado (Tabela 1) e corroboraram o padrão visualizado na Figura 2. A distribuição espacial foi sempre agrupada para as duas espécies independente da escala amostral (Tabela 1, Figuras 2 a 4). Os indivíduos de menor diâmetro das duas espécies ocorreram agrupados próximo àqueles de maior diâmetro (Figura 5 e 6), com apenas algumas exceções. Discussão As diferenças encontradas na distribuição de freqüência dos indivíduos em classes diamétricas entre as duas espécies pode ter sido causada por diferentes estratégias de defesa contra os efeitos do fogo. A maior parte dos indivíduos regenerantes (0-5 cm de DAS) de Q. grandiflora foram provenientes da rebrota, provavelmente de indivíduos mortos pela queima. Enquanto que nenhum regenerante de Q. parviflora amostrado foi proveniente de rebrota, sendo provavelmente originados pela germinação de sementes (apesar de que nenhum indivíduo foi desenterrado para verificar o sistema radicular e não foi observada a presença de cotilédones). A maior resiliência de Q. grandiflora ao fogo em comparação com a Q. parviflora pode ter originado a diferença observada na freqüência de regenerantes.

O padrão de distribuição espacial foi consistente, mesmo com a variação na escala amostral. De acordo com o esperado, o Índice de Morisita foi menos influenciado pelo tamanho da parcela do que a razão variância/média (Brower et al., 1989). Os indivíduos podem ocorrer agrupados em função de variações das características do solo, que pode gerar manchas mais favoráveis que outras para o estabelecimento, apesar destas duas espécies serem generalistas quanto à fertilidade e acidez do solo (Haridasan, 1982). Alternativamente, pode ter ocorrido alguma deficiência na síndrome de dispersão anemocórica dos diásporos ou o baixo sucesso reprodutivo (Barbosa, 1983), que dificulta a colonização de novas áreas. A proximidade dos regenerantes aos

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Felfili, J. M., P. E. Nogueira, M. C. Silva Jr, B. S. Marimon e W. B. C. Delitti. Composição florística e fitossociologia do cerrado sentido restrito no município de água boa - MT. Acta Botanica Brasilica, v.16, n.1, p.103-112. 2002.

indivíduos de maior diâmetro pode corroborar essa última alternativa. No local de estudo as duas espécies coexistiram com um padrão de distribuição espacial agrupado. Mesmo com alto grau de parentesco e ambas sendo acumuladoras de alumínio (Haridasan, 1982), parece haver uma compartimentação dos nutrientes utilizados (Mendes, 1996). Desta forma, ainda que ocupem a mesma área, não deve haver intensa competição, o que pode ter permitido que essas espécies tenham coexistido ao longo do processo evolutivo. Isso pode explicar a co-ocorrência freqüente com alto índice de valor de importância em diversas áreas de cerrado sentido restrito (Felfili et al., 2002).

Haridasan, M. Aluminum accumulation by some cerrado native species of central Brazil. Plant and Soil, v.65, p.265-273. 1982.

Hutchings, M. J. The structure of plant populations. In: M. J. Crawley (Ed.). Plant ecology. Oxford: Blackwell Science, 1997. p.325-358

Mendes, J. A. Distribuição espacial, fenologia e compartimentação mineral de três espécies de Qualea (Vochysiaceae) na Reserva Biológica de Moji-Guaçu, SP. (Doutorado). Unesp Rio Claro, 1996. 201 p.

Mas para esclarecer os mecanismos que possibilitam a coexistência dessas duas espécies, são necessários estudos direcionados e em escala geográfica mais abrangente.

Silva, L. O., D. A. Costa, K. E. Santo Filho, H. D. Ferreira e D. Brandão. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta Botanica Brasilica, v.16, n.1, p.43-53. 2002.

Referências Bibliográficas

Barbosa, A. A. A. Aspectos da ecologia reprodutiva de três espécies de Qualea (Vochysiaceae) num cerrado de Brasília. (Mestrado em Ecologia). Universidade de Brasília, BSB, 1983. 104 p.

Silvertown, J. W. Introduction to plant population ecology. London: Longman Inc. 1982. 209 p.

Zar, J. H. Biostatistical Analysis. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, Inc. 1999 Brower, J. E., J. H. Zar e C. N. Von Ende.

Field and laboratory methods for general ecology: WCB Publishers. 1989. 237 p.

Tabela 1: Razão variância/média e Índice de Morisita para Qualea grandiflora (G) e Qualea parviflora (P) em três diferentes escalas espaciais, 100, 400 e 800m2. (*)=p<0,05. 100m2 400m2 800m2

G P G P G P Var/méd 2,97 2,65 7,48 5,38 14,53 10,47 Id 2,85 1,48 2,58 3,89 2,52 3,98 χ2 353,2 * 315,9 * 217,0 * 156,1 * 203,4 * 146,6 *

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Classes de diâmetro (cm)

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Figura 1: Distribuição de freqüência dos indivíduos em classes diamétricas.

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0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120Distância entre transectos (m)

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Qualea grandiflora Qualea parviflora

Figura 2: Distribuição espacial para as espécies Qualea grandiflora e Qualea parviflora em parcelas de 100m2.

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Qualea grandiflora Qualea parviflora

Figura 3: Distribuição espacial para as espécies Qualea grandiflora e Qualea parviflora em parcelas de 400m2.

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Qualea grandiflora Qualea parviflora

Figura 4: Distribuição espacial para as espécies Qualea grandiflora e Qualea parviflora em parcelas de 800m2.

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Figura 5: Distribuição espacial dos indivíduos de Qualea grandiflora considerando as variações diamétricas. O tamanho do círculo representa o diâmetro do indivíduo.

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Figura 6: Distribuição espacial dos indivíduos de Qualea parviflora considerando as variações diamétricas. O tamanho do círculo representa o diâmetro do indivíduo.

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Uso Diferenciado de Habitat pela Comunidade de Pequenos Mamíferos não Voadores na Trilha da Cascatinha, PESCAN/GO

Mônica Aragona

Introdução O bioma Cerrado possui uma área de cerca de dois milhões de km2 e é formado por um mosaico de fitofisionomias que abrangem um gradiente de formas estruturais: de campos, praticamente livres de plantas lenhosas, a formações florestadas, de dossel fechado, como o cerradão e as matas de galeria, passando por cerrados, de dossel aberto, com diferentes graus de adensamento de árvores e arbustos (Eiten, 1972).

Apesar das matas de galeria representarem apenas 5 % da área total do Cerrado (Marinho-Filho & Gastal, 2001), estas formações exercem importante papel para os mamíferos deste bioma, pois, além de possuírem uma fauna específica, oferecem alimento e água, em períodos secos, e abrigo para aquelas espécies que usam ambientes abertos (Marinho-Filho & Guimarães, 2001), contribuindo para a manutenção da alta diversidade biológica do bioma por funcionarem como corredores mésicos para uma fauna sem adaptações específicas aos ambientes xéricos adjacentes (Redford & Fonseca, 1986).

Cerca de 80 % das espécies de mamíferos do Cerrado estão associadas, em algum grau, às matas de galeria, que também abrigam 50 % dos endemismos (Marinho-Filho & Gastal, 2001). Este fato também está relacionado com a alta complexidade deste ambiente, que apresenta maior porte e muitos estratos verticais bem desenvolvidos e conectados por cipós e lianas, podendo abrigar maior diversidade de espécies por fornecer maior número de nichos potenciais, por unidade de espaço, distribuídos verticalmente (August, 1983). O uso de estratos diferentes, bem como a especificidade alimentar, horário de atividade e formas de forrageamento

distintos são estratégias usadas pelos animais para evitar a competição interespecífica (Begon et al., 1996).

O objetivo deste trabalho foi identificar a comunidade de pequenos mamíferos não voadores associada a dois estratos de uma mata de galeria. Material e Métodos O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado nos municípios de Caldas Novas e Rio Quente, GO. As coletas foram realizadas entre os dias 15 e 19 de agosto de 2004.

A Trilha da Cascatinha foi utilizada como transecto, na qual foram colocadas armadilhas do tipo Sherman, pequenas e grandes. No primeiro dia, 58 armadilhas foram instaladas, com o acréscimo de 34 armadilhas para os três dias subseqüentes. No último dia apenas 34 armadilhas foram utilizadas. Desta forma, tivemos o correspondente a quatro dias de coleta com 92 armadilhas cada.

Em intervalos de 10 m uma estação de captura foi montada na trilha seguindo o padrão: ponto 1 – 2 armadilhas pequenas (1 solo + 1 alto); ponto 2 – 1 armadilha pequena (solo); ponto 3 - 1 armadilha grande (solo); ponto 4 - 2 armadilhas pequenas (1 solo + 1 alto);..., ao longo dos 710 metros da trilha. As armadilhas foram montadas entre um e dez metros de distância da trilha e entre 1,5 e 2,5 m de altura do chão segundo a oferta de apoios e esconderijos (para evitar aguçar a curiosidade dos visitantes, uma vez que esta é uma trilha turística).

As armadilhas foram vistoriadas e re-iscadas pela manhã e permaneceram abertas durante todo o experimento. Os animais capturados foram manipulados no campo. Estes foram identificados em

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espécie ou morfoespécie, tiveram peso e dados biométricos tomados (comprimento do corpo (Cp), da cauda (Cd), da orelha (Or) e pata posterior (Pp) direitas), foram individualizados com marcas de violeta genciana 1 % e soltos.

Para a comparação da diversidade da comunidade encontrada nos dois estratos estudados foram calculados o Índice de Shannon-Wiener (H’ = - Σ pi lnpi), a Equabilidade (E = H’/ln S) e a Variância de H’ para cálculo de ‘t’ para testar diferença entre as amostras (Magurran, 1991). Resultados O transecto utilizado teve 62,0 % das armadilhas colocadas em vegetação de mata de galeria com dossel fechado (n = 57), 22,8 % em cerrado (n = 21) e 15,2 % em mata alterada com dossel aberto (n = 14). O esforço de captura foi de 368 armadilhas/noite, divididos em 276 no solo e 92 no alto. Foram realizadas 75 capturas, 61 no solo e 14 no alto, representando um sucesso de captura total de 20,4 %, com 22,1 % de sucesso no solo e 15,2 % no alto. Não houve diferença significativa de sucesso de captura entre os dois estratos (χ2 = 1,373; g. l. = 1; p > 0,05).

As 75 capturas correspondem a 44 indivíduos de sete espécies, sendo Gracilinanus agilis a espécie mais abundante em ambos os estratos. Além desta espécie, Rhipidomys sp. também utilizou os dois estratos, enquanto as demais espécies somente ocorreram no solo (Tabela I). Apenas para G. agilis é possível comparar o sucesso de captura entre os dois estratos, que foi de 14,5 % no solo e 14,1 % no alto, não sendo significativa esta diferença (χ2 = 0,006; g. l. = 1; p > 0,05). Os dados biométricos, peso e razão sexual de cada espécie capturada estão na Tabela II e o tipo de vegetação associada aos locais de captura de cada espécie na Tabela III.

O índice de diversidade calculado para a área foi H’total = 1,272 com E total = 0,65, enquanto que H’solo = 1,390 com E solo =0,71 e H’alto =0,377 com E alto = 0,54. A diferença entre a diversidade encontrada no

solo e no alto foi significativa (t = 3,3977; g. l. = 17; p < 0,01). Discussão Apesar do pequeno esforço amostral, o sucesso de captura obtido neste estudo foi alto comparado com outros trabalhos (Gastal, 1997; Talamoni, 1996 apud Gastal, 1997), indicando uma alta abundância desses animais na mata estudada, em especial G. agilis.

A riqueza de espécies deste estudo é menor que a obtida em outros (Alho et al., 1986; Mares & Ernest, 1995; Gastal 1997; Marinho-Filho & Guimarães, 2001), não necessariamente refletindo uma área empobrecida, podendo ser resultado de um esforço amostral menor, já que duas espécies novas foram registradas no último dia de coleta.

G. agilis foi a espécie mais abundante, tendo sido igualmente capturada no solo e no alto, confirmando o uso que esta espécie faz dos dois estratos (Gastal, 1997; Marinho-Filho & Gastal, 2001). A plasticidade desta espécie também está refletida no tipo de vegetação em que ocorre, não sendo dependente da mata de galeria e tolerando ambientes alterados (Redford & Fonseca, 1986; Bonvicino et al., 2002).

D albiventris pode ter sido subestimada nos dois estratos devido ao número reduzido de armadilhas grandes utilizadas e por todas elas terem sido instaladas no solo. Alho et al. (1986) e Marinho-Filho & Gastal (2001) descrevem esta espécie como abundante, utilizando ambos estratos e vários ambientes, não sendo dependente das matas de galeria (Redford & Fonseca, 1986).

B. lasiurus foi a segunda espécie mais abundante, ocorrendo somente no solo, como descrito por Marinho-Filho & Gastal (2001). Estes autores o descrevem como raro em mata de galeria, sendo mais abundante no cerrado (Alho et al., 1986), corroborando os dados aqui obtidos, uma vez que nenhuma captura desta espécie ocorreu na mata de galeria, mas em cerrado

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e em área alterada, confirmando também a tolerância desta espécie às alterações de habitat (Bonvicino et al., 2002).

Rhipidomys sp. foi capturada nos dois estratos, confirmando seu hábito escansorial (Alho et al., 1986; Mares & Ernest, 1995; Marinho-Filho & Gastal, 2001) e sua relativa dependência da mata de galeria (Redford & Fonseca, 1986), principalmente associada aos cursos d’água. As seis capturas desta espécie ocorreram nas armadilhas mais próximas ao curso d’água.

Os dois indivíduos de O. bicolor foram capturados no solo da mata de galeria, mas a espécie é descrita como arborícola por Mares & Ernest (1995) e Marinho-Filho & Gastal (2001) e como não dependente desta vegetação por Redford & Fonseca (1986, mas veja Alho et al., 1986).

O. megacephalus também só teve dois indivíduos capturados no solo e em mata de galeria, sendo a espécie descrita como terrestre (Mares & Ernest, 1995; Marinho-Filho & Gastal, 2001), mas não dependente de mata de galeria (Redford & Fonseca, 1986). O. nigripes teve apenas um indivíduo capturado no solo da mata de galeria, mas é descrita como escansorial (Fonseca et al., 1996; Marinho-Filho & Gastal, 2001) e não dependente de mata de galeria (Redford & Fonseca, 1986), sendo mais abundante no cerrado (Alho et al., 1986).

Apesar do índice de diversidade no solo ter sido maior e significativamente diferente ao do estrato superior, as espécies encontradas na mata de galeria da Trilha da Cascatinha mostram que existe um maior número de espécies que potencialmente usam o estrato superior e que, embora não tenham sido capturadas nos dois estratos, indica uma maior diversidade deste estrato do que a obtida por este estudo, implicando em uma menor sobreposição de nicho. Agradecimentos Aos professores Jader Marinho-Filho e Helena C. Moraes pela orientação deste trabalho e aos colegas Ana Cláudia

Delciello, Ísis M. Medri, Natália M. Tôrres e Pablo S. C. Amaral pela preciosa ajuda nos trabalhos de campo. Referências Bibliográficas Alho, C. J. R.; Pereira, L. A. & Paula, A. C.

1986. Patterns of habitat utilization by small mammal populations in cerrado biome of central Brazil. Mammalia, 50(4): 447-460.

August, P. V. 1983. The role of habitat complexity and heterogeneity in structuring tropical mammal communities. Ecology, 64(4): 1495-1507.

Begon, M.; Harper, J. L. & Townsend, C. R. 1996. Ecology: individuals, populations and communities. Blackwell Science, 1068p.

Bonvicino, C. R.; Lindbergh, S. M. & Maroja, L. S. 2002. Small non-flying mammals from conserved and altered areas of atlantic forest and cerrado: comments on their potential use for monitoring environment. Braz. J. Biol., 62(4B): 765-774.

Eiten, G. 1972. The cerrado vegetation of Brazil. Bot. Rev., 38(2): 201-341.

Fonseca, G. A. B.; Hermann, G.; Leite, Y. L. R.; Mittermeier, R. A.; Rylands, A. B. & Patton, J. L. 1996. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Occasional Papers Conservation Biology, 4:1-38.

Gastal, M. L. A. 1997. Ecologia de comunidades de pequenos mamíferos em matas de galeria de Brasília, DF. Tese de Doutorado, Brasília: UnB, 124p.

Magurran, A. E. 1991. Ecological diversity and its measurements. Chapman & Hall, 179p.

Mares, M. A. & Ernest, K. A. 1995. Population and community ecology of small mammals in a gallery forest of central Brazil. J. Mamm., 76(3): 750-768.

Marinho-Filho, J. & Gastal, M. L. 2001. Mamíferos das matas ciliares dos cerrados do Brasil central. In: Rodrigues, R. R. & Leitão Filho, H. F. (eds.). Matas

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Ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: Edusp: Fapesp, p. 209-221.

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Redford, K. H. & Fonseca, G. A. B. 1986. The role of gallery forests in the zoogeography of the cerrado’s non-volant mammalian fauna. Biotropica, 18(2): 126-135.

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Tabela I. Número de indivíduos e local da 1a captura das espécies registradas na Trilha da Cascatinha, PESCAN/GO.

1a captura Espécie Nº de

indivíduos Eventos de captura solo alto

Gracilinanus agilis 27 53 20 07 Didelphis albiventris* 01 01 01 0 Oecomys bicolor 02 02 02 0 Rhipidomys sp. 05 06 04 01 Oryzomys megacephalus 02 02 02 0 Bolomys lasiurus 06 10 06 0 Oligoryzomys nigripes 01 01 01 0 Total 44 75 36 08

• fêmea carregando 07 filhotes no marsúpio. Tabela II. Dados biométricos (mm), peso (g) e razão sexual de cada espécie capturada na Trilha da Cascatinha, PESCAN/GO. (Média ± desvio padrão apresentados para aquelas espécies com n > 3; espécies com n = 2, os dois valores são dados; espécies com n = 1, apenas este valor é dado.) Espécie Nº ♂/& Peso Cp Cd Or Pp

♂ 26,7 ± 4,7 93,3 ± 14,6 129,2 ± 6,3 18,4 ± 2,8 14,5 ± 1,8 & 18,7 ± 3,7 79,7 ± 11,3 118,5 ± 8,8 16,6 ± 2,6 14,4 ± 2,7

G. agilis 13/14

sp. 23,2 ± 5,6 87,0 ± 14,9 124,4 ± 9,2 17,5 ± 2,9 14,2 ± 2,0 ♂ 35,7 ± 5,9 90,9 ± 7,7 67,6 ± 5,1 14,5 ± 1,1 22,7 ± 0,5 B. lasiurus 5/1 sp. 35,8 ± 5,3 92,9 ± 8,4 69,7 ± 6,7 14,9 ± 1,3 22,7 ± 0,5

Rhipidomys sp. 2/3 sp. 60,4 ± 7,6 114,4 ± 8,7 114,0 ± 24,0 18,4 ± 0,9 24,3 ± 2,6 Peso Cp Cd Or Pp O. bicolor 1/1 30,5 – 32,0 88,8 –95,0 103,0 – 110,0 13,0 – 16,0 19,0 – 22,4 O. megacephalus 0/2 51,0 –53,5 112,0 –115,8 115,0 – 134,5 17,6 – 20,0 19,6 – 29,0 O. nigripes 0/1 19,5 81,6 101,9 13,3 20,4 D. albiventris 0/1 430,0 277,5 273,4 49,0 41,0

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Tabela III. Capturas de cada espécie associadas ao tipo de vegetação na Trilha da Cascatinha, PESCAN/GO. Espécie Mata de Galeria Cerrado Mata Alterada G. agilis 34 (64,2 %) 06 (11,3 %) 13 (24,5 %) D. albiventris 01 0 0 O. bicolor 02 0 0 Rhipidomys sp. 04 0 02 O. megacephalus 02 0 0 B. lasiurus 0 04 06 O. nigripes 01 0 0 Total 44 (58,6 %) 10 (13,3 %) 21 (28,0 %)

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Levantamento de Mamíferos do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO através de Armadilhas Fotográficas

Natália Mundim Tôrres

INTRODUÇÃO O Cerrado, segundo maior bioma sul-americano, abrange cerca de 2 milhões de km e possui uma rica fauna de mamíferos composta por 190 espécies (Marinho-Filho et al., 1998). Ao longo dos últimos 50 anos o Cerrado vem sendo gradativamente substituído por áreas de pastagem e lavoura (Nepstad et al., 1997) e hoje mais de 35% da área total do Bioma já está ocupado por atividades agrícolas (Macedo, 1995). Atualmente, pouco mais de 1% do Cerrado está preservado em unidades de conservação federais de uso indireto (Pádua, 1996; WWF, 1999) e muitas destas áreas não estão suficientemente estruturadas para garantir a integridade do ecossistema local (WWF, 1999).

2

O conhecimento sobre a distribuição da fauna em uma determinada área é fundamental para se conduzir um programa de preservação de espécies ou de conservação da natureza (Alho, 1994), e estudos abordando a distribuição geográfica de mamíferos no Cerrado são fragmentários e pouco conclusivos pelas dificuldades de levantamentos faunísticos bem conduzidos. Neste sentido, a utilização de metodologias eficientes e confiáveis de rápida avaliação da riqueza e abundância de espécies são cruciais para determinar prioridades de conservação (Silveira et al., 2003).

A utilização de armadilhas fotográficas é uma ferramenta relativamente nova no estudo da vida selvagem, tendo sido recentemente bem explorada em levantamentos de campo e estudos com grandes felinos e outros animais (Karanth & Nichols, 1998; Trolle, 2003). É uma metodologia não invasiva (pouco impactante), eficiente em quase todas as condições de campo, sendo que dentre suas vantagens está a determinação acurada da presença de espécies (inclusive as crípticas, de difícil visualização), assim como a

possibilidade de avaliação de idade, sexo, estrutura populacional, abundância relativa e absoluta, em termos de tamanho da população ou densidade (Karanth & Nichols, 1998; Silveira et al., 2003).

Em decorrência da deficiência de levantamentos acurados dos mamíferos existentes no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), o presente trabalho teve como objetivo realizar uma avaliação rápida da mastofauna terrestre de médio e grande porte desta unidade de conservação utilizando armadilhas fotográficas. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi desenvolvido no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, que ocupa uma área total de 12.315 ha, localizado nos municípios de Caldas Novas e Rio Quente, Sudeste do Estado de Goiás (FEMAGO).

Foram instaladas 15 armadilhas fotográficas pelo PESCAN, em árvores próximas a trilhas e estradas em que a presença dos animais foi detectada através de rastros e fezes. Os locais em que as armadilhas foram instaladas compreenderam diferentes tipos de habitat, situados entre si a distâncias que variaram de 436 m (armadilhas em ambientes próximos, mas muito distintos) a 7,8 km (média de 4,08 km) (Figura 1, Tabela 1).

Cada armadilha é equipada com uma câmera fotográfica e um sensor infravermelho passivo, 4 baterias tipo “C” alcalinas e um filme de 36 poses ASA 100, dispostos em uma caixa acrílica impermeável com espumas para acomodação do material. O sensor é conectado ao disparador da câmera através de um cabo. A câmera é provida de “flash” embutido e há um “timer” com diferentes opções para programação do intervalo entre um disparo e outro, sendo que neste estudo

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as armadilhas foram programadas para acionar a máquina fotográfica em intervalos de no mínimo 5 minutos, 24 horas por dia.

Quando o feixe de ondas emitido pelo sensor infravermelho é interrompido por um animal que passa na frente da armadilha, ocorre o disparo da máquina fotográfica e o registro daquele. O datador foi programado para registrar o dia e a hora de cada fotografia. RESULTADOS As armadilhas efuncionaram 24 horas por dia durante toda a amostragem, em um total de 3096 armadilhas fotográficas-hora, sendo que o total de dias de exposição de cada câmera variou de 4 a 16 dias (Tabela 1). Apesar desta variação do esforço amostral em cada ponto, a quantidade de horas em que cada armadilha fotográfica funcionou não foi correlacionada com a quantidade de fotos obtidas (r = -0,229; gl. = 13; p = 0,411).

Foram obtidos 29 registros fotográficos da classe Mammalia (35,4% de um total de 82 registros) durante o período de amostragem, compreendido entre 03 e 19 de agosto de 2004 (Tabela 2). Estes mamíferos pertencem a 7 famílias: Canidae, Felidae, Myrmecophagidae, Cervidae, Dasypodidae, Mustelidae e Procyonidae, totalizando 10 espécies de médio e grande porte, além de um roedor (Tabela 3). Além destas, foram registradas algumas espécies de aves (6 fotografias, 7,3% do total), como a seriema (Cariama cristata) e o mutum (Crax fasciolata). Foram registrados ainda o cão doméstico (Canis familiaris) e o gato doméstico (Felis catus) (7 fotografias, 8,5% do total). DISCUSSÃO Mesmo sendo curto o período de amostragem, o estudo foi eficiente na detecção das espécies de mamíferos de médio e grande porte do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, registrando inclusive algumas espécies não citadas em seu Plano de Manejo (FEMAGO).

A quantidade de registros fotográficos obtida é independente do esforço amostral, ou seja, mesmo armadilhas fotográficas que estiveram funcionando por pouco tempo registraram um número maior de espécies do que aquelas que funcionaram por um período maior. Isto mostra que dentro do Parque existem pontos de maior abundância de mamíferos, que podem estar relacionados com locais menos utilizados por turistas e pelos estudantes que estavam constantemente transitando por determinadas áreas.

Apesar da pressão antrópica já ter simplificado bastante a fauna local, a ocorrência de quatro espécies ameaçadas de extinção (tatu-canastra, veado-campeiro, onça-parda e lobo-guará) evidencia a importância do PESCAN para a sua conservação.

A prática de investigação com o uso de armadilhas fotográficas tem se mostrado uma ferramenta importante e vantajosa para pesquisas com fauna, particularmente de mamíferos. Apesar deste método ter um alto custo inicial, Wemmer et al. (1996) relatam que as armadilhas fotográficas têm muitas vantagens sobre outras metodologias de pesquisa com vida silvestre. As câmeras são realmente pouco impactantes: uma área pode ser monitorada com um distúrbio humano mínimo e os animais não precisam ser capturados. Grandes áreas podem ser examinadas com poucas pessoas, independentemente das condições locais do ambiente, de assistência contínua ou mesmo de uma equipe de campo experiente para manusear as câmeras (Wemmer et al., 1996; Rappole et al., 1985). O uso de armadilhas fotográficas em pesquisas com animais silvestres vem aumentando e suas diferentes técnicas de aplicação nestes estudos precisam ser mais bem esclarecidas (Koerth & Kroll, 2000).

Entretanto, o emprego desta metodologia apresenta algumas desvantagens, como: risco do equipamento ser roubado; registro parcial dos animais; difícil reparo do material no campo; impossibilidade de coleta de dados

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biométricos. O fato de uma das armadilhas fotográficas ter sido danificada por humanos durante este trabalho demonstra que a segurança e fiscalização no interior do parque se fazem necessárias e podem ser melhoradas. AGRADECIMENTOS Ao Fundo para a Conservação da Onça Pintada, pelas armadilhas fotográficas. À alquimista Dona Eunice e sua fiel companheira Joyce, que nos proporcionaram os momentos mais saborosos do Curso de Campo, inclusive durante a execução deste trabalho. À Joyce e ao Mardônio pelo auxílio no campo. Aos professores Jader Marinho Filho e Helena C. Morais pela organização do curso. Aos colegas, pela atenção às localizações das câmeras e convivência durante o curso. Ao Luiz Ricardo pela ajuda na confecção do mapa e escaneamento das fotos e ao Prof. José Alexandre Felizola Diniz Filho pela revisão do relatório. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alho, C. J. R. 1994. The commercial

consumptive use of wild species: implications for biodiversity conservation. World Wide Fund for Nature, Gland (Switzerland).

FEMAGO – Fundação Estadual do Meio Ambiente. Parque Estadual da Serra de Caldas Novas: Plano de Manejo. CTE – Centro Tecnológico de Engenharia Ltda. Goiânia - GO

Karanth, K. U. & J. D. Nichols. 1998. Estimation of tiger densities in India using protographic captures and recaptures. Ecology. 79: 2852-2862.

Koerth, B. H. & J. C. Kroll. 2000. Bait type and timining for deer counts using cameras triggered by infrared monitors. Wildlife Society Bulletin. 28 (3): 630-635.

Macedo, J. 1995. Prospectives for the rational use of the Brazilian Cerrados for food production. Planaltina, DF: EMBRAPA-CPAC.

Marinho-Filho, J. S., F. H. G. Rodrigues, M. M. Guimarães & M. L. Reis. 1998. Os mamíferos da Estação Ecológica de Águas Emendadas, Planaltina, DF. 34-63. In: Marinho-Filho, J. S., F. H. G. Rodrigues & M. M. Guimarães (eds.) Vertebrados da Estação Ecológica de Águas Emendadas - História Natural e Ecologia em um fragmento de cerrado do Brasil Central. SEMATEC/IEMA, Brasília, DF.

Nepstad, D. C., C. A. Klink, C. Uhl, I. C. Vieira, P. Lefebvre, M. Pedlowski, E. Matricardi, G. Negreiros, I. F. Brown, E. Amaral, A. Homma & R. Walker. 1997. Land-use in Amazonia and the Cerrado of Brazil. Ciência e Cultura. 49(1/2): 73-86.

Pádua, M. T. J. 1996. Conservação in situ: unidades de conservação. 68-73. In: Dias, B.F.S. (coord.), Alternativas de desenvolvimento dos cerrados: manejo e conservação dos recursos naturais renováveis. Brasília, Fundação Pró-Natureza.

Rappole, J. H., D. N. Lopez, M. Tewes & D. Everett. 1985. Remote trip cameras as a means for surveying for nocturnal felids. 45-49. In: Brooks, R. P. (ed.) Nocturnal mammals techniques for study. College of Agriculture Research Paper 48. Pennsylvania State University, University Park, Pennsylvania, USA.

Silveira L., A. T. A. Jácomo & J. A. F. Diniz-filho. 2003. Camera trap, line transect census and track surveys: a comparative evaluation. Biological Conservation. 114(3): 351-355

Trolle, M. 2003. Mammal survey in the southeastern Pantanal, Brazil. Biodiversity and Conservation. 12:823-836.

Wemmer, C., M. Erixonstanford & A. L. Gardner. 1996. Natural history museums and cyberspace museum international. 48 (2): 35-39.

WWF. 1999. Áreas protegidas ou espaços ameaçados? Série Técnica I, Brasília, DF, WWF-Brasil.

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Tabela 1 – Armadilhas fotográficas utilizadas no PESCAN em agosto de 2004. Tipo de habitat em que foram instaladas, início e fim da amostragem, total de dias e horas de esforço e total de fotos.

Câmera Habitat Início Fim Dias Horas Fotos Dom. Aves Mam. CAM 1 Cerrado senso restrito3-ago 19-ago 16 384 8 3 0 0 CAM 2 Cerrado senso restrito5-ago 19-ago 14 336 7 0 1 2 CAM 3 Cerrado senso restrito9-ago 19-ago 10 240 5 0 0 3 CAM 4 Campo 9-ago 19-ago 10 240 0 0 0 0 CAM 5 Mata 10-ago 19-ago 9 216 4 0 0 3 CAM 6 Vereda 11-ago 19-ago 8 192 0 0 0 0 CAM 7 Cerrado rupestre 12-ago 19-ago 8 192 8 3 0 0 CAM 8 Cerrado senso restrito13-ago 19-ago 8 192 15 0 1 1 CAM 9 Cerrado senso restrito14-ago 19-ago 8 192 5 0 1 4 CAM 10 Cerrado senso restrito15-ago 19-ago 8 192 7 0 0 2 CAM 11 Cerrado senso restrito12-ago 19-ago 7 168 4 0 0 3 CAM 12 Cerrado rupestre 12-ago 19-ago 7 168 1 0 0 1 CAM 13 Cerrado senso restrito12-ago 19-ago 7 168 9 0 0 6 CAM 14 Mata 14-ago 19-ago 5 120 9 1 3 4 CAM 15 Campo 15-ago 19-ago 4 96 0 0 0 0 3096 82 7 6 29

Dom. = Animais domésticos; Mam. = Mamíferos silvestres

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Tabela 2 – Registros de mamíferos do PESCAN através de armadilhas fotográficas (foram excluídos os registros em sequência) em agosto de 2004.

Espécie Data Hora Local Observação Cachorro-do-mato 5-ago 20:52 Cam 2 2 indivíduos 15-ago 09:25 Cam 3 16-ago 05:12 Cam 3 18-ago 00:20 Cam 14 19-ago 00:00 Cam 2 19-ago 00:48 Cam 9 Tatu-canastra 17-ago 21:35 Cam 3 Tatu-peba 18-ago 17:10 Cam 11 Irara 10-ago 12:59 Cam 5 12-ago 09:34 Cam 5 16-ago 09:02 Cam 5 2 indivíduos Veado-campeiro 12-ago 14:18 Cam 8 Jaratataca 14-ago 23:45 Cam 9 16-ago 02:57 Cam 9 16-ago 20:28 Cam 10 Onça-parda 15-ago 22:56 Cam 10 Tamanduá-mirim 15-ago 22:24 Cam 11 16-ago 23:04 Cam 11 Lobo-guará 12-ago 18:04 Cam 13 13-ago 18:56 Cam 12 13-ago 23:08 Cam 13 15-ago 22:30 Cam 13 Quati 16-ago 08:36 Cam 14 Rato 14-ago 06:17 Cam 9

Tabela 3 – Lista de espécies registradas no PESCAN através de armadilhas fotográficas em agosto de 2004.

Família Nome científico Nome popular Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim Dasypodidae Priodontes maximus Tatu-canastra Euphractus sexcinctus Tatu-peba Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato Chrysocyon brachyurus Lobo-guará Procyonidae Nasua nasua Quati Mustelidae Conepatus semistriatus Jaratataca Eira barbara Irara Felidae Puma concolor Onça-parda Cervidae Ozotoceros bezoarticus Veado-campeiro

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Figura 1 – Mapa do Parque Estadual da Serra de Caldas, com as localizações das armadilhas fotográficas utilizadas neste trabalho. O tamanho da sinalização de cada ponto indica a quantidade de registros fotográficos obtida em cada local.

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Cachorros do mato (Cerdocyon thous) registrados pela câmera 2

Irara (Eira barbara) registrada pela câmera 5

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Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) registrado pela câmera 8

Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) registrado pela câmera 13

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Jaratataca (Conepatus semistriatus) registrada pela câmera 9

Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) registrado pela câmera 11

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Onça-parda (Puma concolor) registrada pela câmera 10

Quati (Nasua nasua) registrado pela câmera 14

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Tatu-canastra (Priodontes maximus) registrado pela câmera 3

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Síndromes de dispersão de diásporos em espécies arbóreas no Cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO

Rodrigo Stolze Pacheco

INTRODUÇÃO Em princípio, o sucesso de uma planta depende do fato de suas sementes serem dispersas para poder germinar e estabelecer plântulas (Fenner, 1985). Ainda segundo esse autor, o transporte de sementes maduras freqüentemente envolve um agente externo que pode ser o vento, a água ou animais. As espécies que dependem desses agentes são chamadas de anemocóricas, hidrocóricas e zoocóricas, respectivamente. Há uma tendência para que nos primeiros estágios da sucessão as espécies sejam dispersas pelo vento. Com o desenvolvimento da vegetação e o aumento dos atrativos, flores e frutos, por exemplo, os animais passam a ter uma importância fundamental na dispersão. Por concentrarem uma gama de nutrientes como carboidratos, proteínas, lipídeos e minerais, os frutos e as sementes são procurados por diversos animais (Lacerda et al., 2000). No Bioma Cerrado, as síndromes de dispersão das plantas lenhosas variam distintamente conforme o período do ano, se seco ou chuvoso. O objetivo do presente estudo foi caracterizar as síndromes de dispersão de diásporos das espécies arbóreas dos cerrados do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) e relacioná-las ao período de frutificação dessas espécies. MATERIAL E MÉTODOS Uma lista de espécies arbóreas foi elaborada a partir de levantamentos florísticos e fitossociológicos realizados nos Cursos de Campo dos anos de 2002 e 2003. Essa lista foi recentemente complementada com dados florísticos e ecológicos gentilmente cedidos pelo aluno Benedito A. da S. Pereira (com. pess.). Todas as espécies arbóreas listadas foram classificadas de acordo com sua síndrome e, a partir do resultado, foi

estimada a porcentagem de espécies anemocóricas e zoocóricas nos cerrados do Parque. A caracterização das unidades de dispersão foi feita através de coletas, observações de campo e literatura disponível (Barroso et al., 1999). As unidades de dispersão com síndrome anemocóricas foram classificadas, quanto a forma, segundo os critérios usados por Augspurger (1986) para espécies arbóreas. Quanto à fenologia de frutificação, as espécies foram classificadas em dois grupos: espécies com frutificação no período seco e espécies com frutificação no período chuvoso. As informações a respeito do período de frutificação das espécies listadas foram adquiridas através da literatura científica (Salomão et al., 2003). RESULTADOS Foram identificadas 77 espécies de porte arbóreo nos cerrados do PESCAN, representando 36 famílias de angiospermas. Essas espécies foram rearranjadas em ordem alfabética de famílias a qual pertencem (Tabela 1). Dentre as espécies identificadas, pôde-se verificar uma equivalência entre o número de espécies caracterizadas pelas síndromes de zoocoria (57%) e anemocoria (43%), portanto, com uma predominância de espécies zoocóricas (Figura 1). Entre as espécies classificadas como anemocóricas, foi observado uma predominância de propágulos do tipo autogiro sendo representada exclusivamente por espécies da Família Vochysiaceae (Tabela 1).

Em relação ao período de frutificação, das 33 espécies que foram classificadas como tendo síndrome do tipo anemocórica, 30 frutificam no período seco e apenas três no período chuvoso (Figura 2). Já para as espécies que foram classificadas como tendo suas diásporas

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dispersas por animais (n=44), 34 frutificam no período chuvoso, sete no período seco e três espécies não tiveram seu período de frutificação determinado (Figura 3). Ainda para as espécies zoocóricas, provavelmente, têm-se as aves e pequenos mamíferos que habitam o Parque como sendo os animais responsáveis pela dispersão de suas diásporas. DISCUSSÃO A dispersão de propágulos pelo vento, anemocoria, compreende adaptações morfológicas específicas. Na vegetação tropical, a dispersão pelo vento está geralmente associada aos ambientes mais secos e/ou sazonais (Frankie et al., 1974 apud Oliveira & Moreira, 1992). Os dados existentes sobre a ocorrência de espécies anemocóricas nos cerrados do Parque, 43% das espécies arbóreas, reforçam a idéia de que a anemocoria seria muito mais importante em fisionomias mais abertas do que em formações florestais. Este resultado é semelhante ao encontrado por Oliveira & Moreira (1992) em áreas de cerrado no Distrito Federal.

Dentre as 57% das espécies de porte arbóreo do PESCAN que têm seus diásporos sendo dispersos por algum agente biológico (zoocoria), algumas apresentam características nos frutos ou sementes que as tornam mais atrativas para os animais. Frutos dispersos por mamíferos, por exemplo, geralmente apresentam cores marrom, verde, branco, laranja ou amarelo. Já os frutos dispersos pelas aves podem apresentar, além das cores mencionadas anteriormente, o preto, o azul, o vermelho e o roxo (Howe & Westley, 1986). Além de cores, os frutos podem apresentar tecidos suculentos que atraem os animais (e. g. Erythroxylum suberosum A. St.-Hil.). Os dados que apresentam o período de frutificação das espécies arbóreas do PESCAN mostram padrões diferentes para espécies disseminadas pelo vento e para aquelas dispersas por animais. A dispersão pelo vento (anemocoria) geralmente coincide com o período final da seca. As

espécies que apresentam esta síndrome apostam que seus diásporos conseguirão chegar a distâncias bem afastadas da planta mãe, graças a ocorrência de áreas mais abertas que o Cerrado proporciona durante sua fase seca. A maioria das espécies com diásporos dispersos por animais (zoocoria) apresentam frutificação durante o período chuvoso. Esta estratégia deve-se ao fato de que é durante esse período que os animais parecem estar mais ativos, facilitando portanto a dispersão (Oliveira, 1998). AGRADECIMENTOS Especiais ao colega e amigo Bené por compartilhar o seu vasto conhecimento botânico para que o trabalho pudesse ser realizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Augspurger, C. K. 1986. Morphology and

dispersal potencial of Wind-dispersed diaspores of Neotropical trees. American Journal of Botanic 73 (3): 353-363.

Barroso, G. M.; Morim, M. P.; Peixoto, A. L. & Ichaso, C. L. F. 1999. Frutos e sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa: UFV. 443p.

Fenner, M. 1985. Seed ecology. Chapman and Hall, London.

Salomão, A. N; Souza-Silva, J. C.; Davide, A. C.; Gonzáles, S.; Torres, R. A. A.; Wetzel, M. M. V. S.; Firetti, F. e Caldas, L. S. (orgs.). 2003. Germinação de sementes e produção de mudas de plantas do Cerrado. Brasilia: Rede de Sementes do Cerrado. 96p.

Howe, H. F. & Westley, L. C. 1986. Ecology of pollination and seed dispersal. In: M. J. Crawley (ed.). Plant ecology. Blackwell Scientific Publications, Victoria. Pg. 185 – 216.

Lacerda, A. C. R.; Silveira, A. B.; Ilha, I. M. N. & Netto, R. R. 2000. Predação de sementes de Attalea phalerata (Palmae) em cordilheiras no Pantanal da Nhecolândia. Ecologia do Pantanal – Curso de Campo. Pg. 93-95.

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Oliveira, P. E. 1998. Fenologia e biologia reprodutiva das espécies de Cerrado. In: S. M. Sano & S. P. de Almeida. Cerrado: ambiente e flora. Embrapa – CPAC. Cap. IV. Pg. 169 – 192.

Oliveira, P. E. A. M. de & Moreira, A. G. 1992. Anemocoria em espécies de cerrado e mata de galeria de Brasília, DF. Revista Brasileira de Botânica 15 (2): 163-174.

Tabela 1. Espécies arbóreas de Cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (n=77). São fornecidas informações sobre as síndromes de dispersão: anemocóricas (A) e zoocóricas (Z); tipos de propágulos, no caso das espécies anemocóricas: flutuantes (F), planadoras (P), autogiro (Au), autogiro rotativa (Ar), helicóptero (H) e não classificada (N); e períodos de frutificação: seco (S), chuvoso (Ch) ou indeterminado (In). FAMÍLIA Espécie

Síndromes de dispersão

Tipos de propágulos

Período de frutificação

ANACARDIACEAE Astronium fraxinifolium Schott.

A

H

S

ANNONACEAE Annona coriacea Mart.

Z

Ch

Annona crassiflora Mart. Z Ch Xylopia aromática (Lam.) Mart. Z Ch APOCYNACEAE Aspidosperma macrocarpon Mart.

A

P

S

Aspidosperma tomentosum Mart. A P S Hancornia speciosa Gomez var. Z In Himatanthus obovatus (M. Arg.) R. E. Woodson A Ar S ARALIACEAE Didymopanax macrocarpum (C & S) Seem.

Z

Ch

ASTERACEAE (COMPOSITAE) Eremanthus glomerulatus Less. A H S Piptocarpha rotundifolia (Less.) Barker A H S Wunderlichia mirabilis Riedel & Baker A H S BOMBACACEAE Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns

A

F

S

Eriotheca pubescens (Mart. & Zucc.) Schott. & Endl. A F S Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A. Robyns A F S CARYOCARACEAE Caryocar brasiliense Camb.

Z

Ch

CELASTRACEAE Austroplenckia populnea (Reiss.) Lund

A

Ar

S

CHRYSOBALANACEAE Licania humilis Cham. ex Schlecht.

Z

Ch

CLUSIACEAE Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart.

A

Ar

S

CONNARACEAE Connarus suberosus Planch.

Z

Ch

DILLENIACEAE Curatella americana L.

Z

Ch

Davilla elliptica St. Hil. Z S EBENACEAE Diospyros burchellii DC. Z Ch ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum suberosum St. Hil.

Z

Ch

FLACOURTIACEAE Casearia sylvestris Sw.

Z

Ch

ICACINACEAE

196

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Emmotum nitens (Benth.) Miers. Z Ch LAMIACEAE (LABIATAE) Hyptidendrum canum

A

N

Ch

LEGUMINOSAE Acosmium dasycarpum (Vog.) Yakovl.

A

Ar

S

Andira cf. laurifólia Benth. Z Ch Bowdichia virgilioides H. B. & K. A Ar Ch Dalbergia miscolobium Benth. A Ar S Dimorphandra mollis Benth. Z S Dipteryx alata Vog. Z S Enterolobium gummiferum (Mart.) Macb. Z S Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne Z S Machaerium opacum Vog. A Au S Peltogyne confertiflora (Hayne) Benth. A N Ch Plathymenia reticulata Benth. A Ar S Pterodon pubescens (Benth.) Benth. A Ar S Sclerolobium aureum (Tul.) Benth. A Ar S Sclerolobium paniculatum Vog. A Ar S Stryphnodendron adstringens (Mart.) Cov. Z S Stryphnodendron polyphyllum Mart. Z S Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke A Au S LOGANIACEAE Strychnos pseudoquina St. Hil.

Z

Ch

LYTHRACEAE Lafoensia pacari St. Hil.

A

Ar

S

MALPIGHIACEAE Banisteriopsis cf. laevifolia (A. Juss.) B. Gates

A

Au

S

Byrsonima coccolobifolia H. B. & K. Z Ch Byrsonima crassa Nied. Z Ch Byrsonima verbascifolia (L.) Rich. ex A. L. Juss. Z Ch MELASTOMATACEAE Miconia albicans (Sw.) Triana

Z

Ch

Miconia ferruginata DC. Z In MORACEAE Brosimum gaudichaudii Tréc.

Z

Ch

MYRTACEAE Myrcia cf. variabilis Mart. ex DC.

Z

Ch

Psidium mirsinoides Berg. Z Ch Psidium sp. Z Ch MARCGRAVIACEAE Norantea adamantium Camb.

Z

Ch

NYCTAGINACEAE Guapira cf. graciliflora (Mart. ex Schmidt.) Lund

Z

Ch

Guapira noxia (Netto) Lund Z Ch OCHNACEAE Ouratea hexasperma (St. Hil.) Baill.

Z

Ch

OPILIACEAE Agonandra brasiliensis Benth. & Hook. f.

Z

Ch

PALMAE Syagrus flexuosa L. f.

Z

In

RUBIACEAE Palicourea rígida H. B. & K. Tocoyena formosa (Cham. & Schlecht.) K. Shum

Z Z

Ch Ch

SAPINDACEAE Magonia pubescens St. Hil.

A

N

S

Matayba guianensis Aubl. Z Ch SAPOTACEAE Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk.

Z

Ch

SIMAROUBACEAE Simarouba versicolor St. Hil.

Z

Ch

197

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UnB – Métodos de Campo em Ecologia – 2004 Projetos individuais

STYRACACEAE Styrax ferrugineus Nees & Mart.

Z

Ch

VERBENACEAE Aegiphila klotzkiana Cham.

Z

Ch

VOCHYSIACEAE Qualea grandiflora Mart.

A

Au

S

Qualea multiflora Mart. A Au S Qualea parviflora Mart. A Au S Salvertia convallariaeodora St. Hil. A Au S Vochysia cinnamomea Pohl A Au S Vochysia elliptica Mart. A Au S Vochysia rufa Mart. A Au S

Anemocoria43%

Zoocoria57%

Figura 1. Porcentagens de espécies arbóreas (n=77) distribuídas pelas síndromes de dispersão.

3

30

05

101520253035

Chuvoso Seco

Período de frutificação

Núm

ero

de e

spéc

ies

Figura 2. Distribuição do número de espécies anemocóricas (n=33) por períodos de frutificação.

198

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34

73

05

101520253035

Chuvoso Seco Indeterminado

Período de frutificação

Núm

ero

de e

spéc

ies

Figura 3. Distribuição do número de espécies zoocóricas (n=44) por períodos de frutificação.

199

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A diversidade da comunidade bentônica responde á variação do tamanho de poças?

Aluna: Silvia Leitão Dutra

Introdução Uma analogia do modelo de equilíbrio de Biogeografia de Ilhas proposto por MacArthur & Wilson (1963, 1967) com lagos foi feita por Magnuson (1976), para quem lagos apresentam inúmeras semelhanças com ilhas e a manifestação das variáveis distância e área exercem praticamente o mesmo papel sobre as taxas de imigração e extinção de espécies. Apesar da ausência de experimentos nestes ambientes com o objetivo de testar tal hipótese, o autor salienta que quanto menor, mais isolado e com maior uniformidade de habitats, menor deverá ser o número de espécies em relação àqueles lagos maiores, mais complexos e mais próximos das fontes de novas espécies. A idéia de um ecossistema aquático (lago, rio e poça) como uma “ilha” cercada por terra é bastante razoável e aparentemente, os efeitos de imigração e extinção bem como tamanho e distância poderiam se manifestar.

Durante a seca no Cerrado vários riachos são reduzidos à poças d’água praticamente isoladas umas das outras devido à diminuição drástica no volume de água. Diversos grupos de organismos bentônicos se desenvolvem nestes ambientes, especialmente larvas aquáticas de insetos. As ordens que possuem maior distribuição geográfica são: Trichoptera, Plecoptera, Ephemeroptera, Odonata, Megaloptera, e alguns grupos de Díptera e Coleóptera. Estas larvas têm pouca mobilidade, portanto, sua dispersão ocorre por deriva à jusante (carregados pela correnteza) ou na fase adulta, alada, quando se dispersam para outros riachos e à montante.

A diversidade e distribuição dos grupos de macroinvertebrados são diretamente influenciadas por vários fatores como: tipo de substrato, morfologia do

ecossistema, quantidade e tipo de detritos orgânicos, presença e extensão de mata ciliar (WARD et al. 1995) e presença de predadores como os peixes (MARQUES et al. 1999; STEWART et al. 2000). A vegetação ripária é um fator importante relacionado com a alimentação dos insetos aquáticos (CUMMINS et al. 1984). Objetivo O trabalho tem como objetivo principal estudar a diversidade de macroinvertebrados bentônicos em poças de diferentes tamanhos. Hipótese A comunidade macroinvertebrados bentônicos é influenciada pelo tamanho das poças, sendo que, poças maiores têm maior diversidade. Descrição da área O trabalho foi executado no período de 15 a 19 de agosto do ano de 2004 no Parque Estadual Serra de Caldas – PESCAN - Caldas Novas, GO. A região possui uma divisão clara entre a estação chuvosa (dezembro a abril) e o período de seca (abril a novembro). O Parque é localizado a 5 Km da cidade de Caldas Novas, com área aproximada de 125 km². A Serra de Caldas é uma chapada com 1.043 m de altitude máxima, cujas coordenadas geográficas são: 17o30’ e 18o00’S e 48o 30’e 49o00’W. A região é caracterizada como de clima tropical quente e semi-úmido, com estação chuvosa no verão (dezembro-fevereiro) e estação seca no inverno (maio-setembro). A temperatura média do mês mais quente é de aproximadamente 24o C e do mês mais frio de 18o C. (Silva, 2002)

As coletas foram realizadas no Córrego do Paredão próximo á sede do Parque. O córrego de primeira ordem (nascente) apresenta mata ciliar com dossel

200

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Materiais e métodos As medidas de largura, comprimento e distância entre cada poça foram tomadas com o auxílio de uma trena, e a profundidade média com um bastão graduado. A temperatura da água foi tomada com termômetro de mercúrio. A velocidade média da água foi registrada pelo método do flutuador (Slobodchikioff & Parrott, 1977), como flutuador foram utilizada folhas secas. Foram medidos dez vezes, com auxilio de cronômetro, os valores de tempo gasto para uma folha percorrer um trajeto de um metro. Os tipos de substratos foram classificados em todas as poças como: rochoso, cascalho e folhiço, estes foram quantificados visualmente (porcentagem). As amostras foram coletadas com uso de amostrador tipo surber (com área de 30cm2), em cada poça foi realizada uma coleta em cada tipo de substrato. A triagem e identificação, ao nível de ordem e família, conforme Merritt & Cummins (1996), foram feitas em campo a olho nu com utilização de pinças, peneiras e bandeja plástica branca. O material coletado foi fixado em álcool 70%. Resultados Foram analisadas seis poças do Córrego do Paredão (Figura-1) com área de espelho d’água variando entre 67,23m2 e 2,6 m2; numa distância de aproximadamente 100m. A velocidade média da água foi de 0.08 m/s com temperatura de 17o C.

A poça (A) a qual apresentou maior espelho d’água e maior profundidade (Figura -2) foi a única com presença de peixes (família Characidae). Esta apresentou uma predominância de substrato tipo cascalho (Figura -3), enquanto que as outras poças apresentaram uma predominância de substrato tipo rocha. A

poça E apresentou maior equilíbrio entre os tipos de substratos presentes.

Foram identificados 13 taxa (Tabela -1), sendo que a poça E apresentou maior riqueza (12 taxa) e as poças A e B apresentaram a menor riqueza (5 taxa). O Índice de diversidade de Shannon (H’) apresentou maior valor na poça E (H’=0.82) e menor valor na poça A (H’=0.49).

A correlação de Pearson feita entre a riqueza, diversidade (H’) e as características das poças não apresentaram valores expressivos com exceção de diversidade versus área da poça (Tabela- 2). Porém este resultado poderia estar sendo fortemente afetado pela presença de uma poça muito diferente das outras: a poça A. Posteriormente foi feita uma outra correlação excluindo esta poça. Os resultados apresentam uma forte correlação negativa entre rocha e riqueza (-0,83) e diversidade (-0,72). As correlações entre riqueza e diversidade com área e profundidade não foram expressivas. Discussão As poças apresentaram características razoavelmente semelhantes como cobertura de dossel e tipos de substratos que não variaram com o tamanho das poças amostradas.

A maior poça (A) apresentou a menor riqueza e menor diversidade enquanto a menor poça (E) apresentou a maior riqueza e a segunda maior diversidade. Este fato pode ser explicado devido à presença, na poça A, de peixes da família Characidae que são predadores dos macroinvertebrados bentônicos. A poça E apesar de ser a menor apresentou grande quantidade de matéria orgânica e um maior equilíbrio nas proporções de tipos de substratos disponíveis favorecendo o estabelecimento de macroinvertebrados neste ambiente.

A correlação de Pearson entre diversidade e riqueza de taxa com as características das poças demonstra que a comunidade de macroinvertebrados bentônicos é mais influenciada pelos tipos

201

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de substrato presentes e menos pelo tamanho da poça, desta maneira rejeitamos a hipótese inicial de que poças maiores possuem maior diversidade.

MACARTHUR, R. H. & WILSON, E. O. 1967. The theory of island biogeography. Princeton University Press, Princeton, 224 pp.

MAGNUSON, J. J. 1976. Managing with exotics: a game of chance. Trans. Am. Fish. Soc.,

Agradecimentos Agradeço... 105(1): 1-9. aos coordenadores do curso, monitor Alêssandro e professores participantes pela rica oportunidade de aprendizado.

MARQUES, M. G.J S.M.; FERREIRA, R. L.; BARBOSA, F. A. R. 1999. Acomunidade de macroinvertebrados aquáticos e características limnológicas das lagoas Carioca e da Barra, Parque Estadual do Rio Doce, MG. Rev. Brasil. Biol. 59(2):203-210.

á todos os colegas de campo, de bosó e das inúmeras noites mal dormidas. ao colega Benê, que ganhou com grande mérito o troféu “Espécie Chave”, pela imprescindível ajuda em campo.

MERRITT, R.W. & CUMMINS, K.W. 1996. Na Introduction to Aquatic Insects of North America. Kendall/Hunt Publishing Company. Dubuque. 862pp.

aos colegas Maurício e Fabióla pela ajuda em campo e por terem permitido que eu pudesse mostrar o “Encantado mini-mundo aquático”.

SILVA, L. C. F., SILVEIRA, F. L.de S.; PIVA, C. B.; SILVAIRA, A. V. T.; OLIVEIRA, L. G. 2002. Caracterização Físico-Química de Córregos de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas Novas/GO. Goiânia-GO. Estudos Vida e Saúde. 29:101 – 114.

ao colega Kena por ter caçado tatus de maneira incansável, inspirando grande parte das estórias em quadrinhos e, principalmente, por ter tomado um bom banho no último dia de curso.

SLOBODCHIKIOFF, C.N & PARROTT, J.E. 1977. Seasonal diversity in aquatic insect communities in an all-year setram. Hydrobiologia 52(2-3): 143-151.

á Dona Eunice por ter mãos de fada na cozinha e impedir que houvesse um motim por parte dos alunos de pós-graduação.

STEWART, P. M.; BUTCHER, J. T.; SWINFORD, T.O. 2000. Land use, habitat, and quality effects on macroinvertebrate communities in three watersheds of a Lake Michigan associated marsh system. Aquatic Ecosystem Helth and Manegement 3:179-18.

Bibliografia LUDWIG, J.A. & REYNOLDS, J.F. 1988.

Statistical Ecology. A primer on methods and computing. John Wiley & Sons, New York. XVIII + 337pp. WARD D., HOLMES N. & JOSÉ P., 1995.

The new Rivers & Wildlife Handbook. RSPP, NRA e The Wilslife Trusts, Bedfordshire. 426pp.

MACARTHUR, R. H. & WILSON, E. O. 1963. An equilibrium theory of insular zoogeography. Evolution 17: 373-387.

202

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Tabela 1 - Taxa coletados, riquezas e abundância em poças do PESCAN, amostradas em agosto de 2004.

Número de indivíduos Taxa a b c d e f Coleóptera 2 2 10 5 19 1 Elmidae 0 0 1 0 1 0 Díptera 0 0 0 2 2 4 Chironomidae 1 0 1 6 7 9 Culicidae 0 0 0 0 1 0 Ephemeroptera 1 16 14 5 32 30 Leptophiidae 0 2 0 0 2 0 Hemíptera 0 0 0 0 1 3 Hydracarina 9 0 0 10 0 0 Odonata A 1 5 0 0 3 0 Odonata B 0 0 2 2 18 19 Tricoptera 0 5 4 12 14 38 Helicopsychidae 0 0 1 4 1 1 Riqueza 4 5 7 8 12 8

Tabela 2 – Correlação de Pearson entre riqueza e diversidade (Índice de Shannon) e características das poças, amostradas em agosto de 2004.

Poças de A até F Poças de B até FH' x Folhiço 0,12 0,26H' x Cascalho -0,32 0,77H' x Rocha 0,27 -0,72H' xProfundidade -0,31 -0,31H' x Área -0,70 -0,49

Riqueza x Folhiço 0,57 0,71Riqueza x Cascalho -0,16 0,65Riqueza x Rocha 0,02 -0,83Riqueza xProfundidade -0,51 -0,51Riqueza x Área -0,51 -0,30

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67,23 m2

Área (m 2) D istância (m )

11 m2,6 m 2

11 m

7 m

12,32 m 2

3,575 m 2

14,8 m

12,32 m 2

8,71 m 2

56 m

Figura 1- Área e distância das poças amostradas em agosto de 2004.

204

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Tamanho das Poças

0

50

100

150

a b c d e f

Poçasárea (m2) Prof. máx. (cm)

Figura 2- Área e profundidade das poças

Tipos de Substratos

020406080

100

a b c d e f

Poças

Porc

enta

gem

de

cobe

rtur

a do

fund

o

%Rocha % Cascalho % Folhiço

Figura 3- Tipos de substratos nas poças.

Diversidade H'

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

A B C D E F

Poças

Figura 4 -Diversidade (H’) nas poças

Riqueza

02468

101214

a b c d e f

Poças

Núm

ero

de ta

xa

pres

ente

s

Figura 5 – Riqueza nas poças

205

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Algas perifíticas e planctônicas de ambientes aquáticos com diferentes

graus de temperatura da região de Caldas Novas, Goiás, Brasil

Sirlene Aparecida Felisberto INTRODUÇÃO As algas podem ocorrer em todos os ambientes: rios, represas, lagos, lagoas, empoçados, pântanos, bem como em troncos de árvores, paredes, rochas ou solos umedecidos. A presença de diferentes grupos de algas em determinado ecossistema é função, principalmente, das características predominantes do meio, sendo usualmente representadas por diatomáceas (Bacillariophyceae), algas verdes (de um modo geral) e algas verde-azuladas (Cyanophyceae), ocorrendo ocasionalmente outros grupos. Os ambientes aquáticos termais apresentam características químicas peculiares, nos quais a acidez permite concentrações de determinados metais em valores superiores ao demais ambientes não termais e assim proporcionar uma diversidade de espécies muito diferenciada dos demais tipos de ambientes aquáticos. Segundo Margalef (1983), os mananciais termais também podem conter uma rica flora algal, principalmente cianofíceas e diatomáceas.

O "Parque Estadual Serra de Caldas Novas" (PESCAN), criado em 1970, com uma área de 123 km2, está localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste goiano. Na região de Caldas Novas existem ambientes aquáticos com altas temperaturas da água (35 a 49 °C) como por exemplo a Lagoa Quente, situada às margens do rio Pirapitinga e ambientes com baixas temperaturas (18 a 20 °C), como por exemplo os dois pequenos cursos de água, situados na serra, sendo que um abastece a cachoeira do Paredão e o outro a cachoeira da Cascatinha (Plano de Manejo, 2002).

Considerando que o Parque tem por objetivos preservar a fauna e flora típicas do cerrado, desenvolver trabalhos de Educação Ambiental e de se tornar um

centro nacional de divulgação e de pesquisa da sua extraordinária riqueza e diversidade, este projeto propõe ampliar e divulgar a flora algal do parque através de coletas e análise taxonômica das algas que compõem a comunidade planctônica e perifítica. Entende-se por perifíton uma complexa comunidade de microorganismos composta por algas, bactérias, fungos, protozoários e animais, os quais podem estar aderidos firmemente ou frouxamente a um substrato natural ou artificial, vivo ou morto (Wetzel, 1983) e por fitoplâncton algas que se desenvolvem na coluna da água ou zona pelágica. HIPÓTESE H0: Não existe diferença quanto a composição de espécies de ambientes aquáticos termais e não termais. H1: Existe grande diferença quanto a composição de espécies de ambientes aquáticos termais e não termais. MATERIAIS E MÉTODOS Área de estudo - O trabalho foi realizado em três tipos de ambientes aquáticos. Dois córregos de águas naturais (trilha da Cascatinha e do Paredão) localizados no Parque Estadual Serra de Caldas. O outro foi um ambiente de águas termais, a lagoa quente, localizada no Clube Lagoa Quente Pirapitinga. As coletas no Parque Estadual da Serra de Caldas foram realizadas em 14 de agosto de 2004. Em ambos os córregos a amostragem foi efetuada em três estações de coleta: ponto 1, 2 e 3 do Paredão (P 1, P 2 e P 3), assim como no córrego da Cascatinha (C 1, C 2 e C 3). A coleta na Lagoa Quente foi realizada em apenas dois pontos (LQ 1 e LQ 2), em 17 de agosto de 2004. Metodologia – A coleta de plâncton foi realizada com uma rede de plâncton de 20

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μm, sendo feito arrastos horizontais, ou seja, na direção do fundo-superfície. O material coletado foi fixado com formol 4 %. O substrato coletado para amostragem do material perifítico foi seixos - epilíton. O perifíton removido do substrato com escova e jatos d’água destilada foi transferido para frascos e fixado com formol 4 %. A análise qualitativa das algas foi realizada através da montagem de lâminas semipermanentes, com auxílio de microscópio óptico. A identificação dos táxons foi baseada na bibliografia clássica disponível e chaves de identificação. Para alguns táxons providenciou ilustrações, as quais foram realizadas utilizando microscópio binocular marca Nikon do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (Nupélia), da Universidade Estadual de Maringá. Análise dos dados – Devido a maior quantidade de locais amostrados para a comunidade perifítica, a similaridade das algas perifíticas entre os pontos de coleta amostrados, entre os diferentes ambientes foi medida pela análise de agrupamento (UPGMA). Nessa análise foi utilizado o critério de presença e ausência de acordo com o programa NTSYS versão 1.5 (Rohlf, 1989), com identificação da distância pelo índice de Jaccard. RESULTADOS Temperatura - No córrego do Paredão foi observado a temperatura da água mais baixa, enquanto na Lagoa Quente a temperatura foi mais alta (Fig. 1). Comunidade fitoplanctônica - Com o levantamento taxonômico da comunidade planctônica, foram registradas 53 espécies algais, distribuídas em 8 classes (Tab. 1). No córrego da Cascatinha foi analisado maior número de espécies (28), enquanto no córrego do Paredão, foi o menor (12). Já na Lagoa Quente 21 espécies foram encontradas. Nos dois primeiros locais estudados a classe Zygnemaphyceae destacou e na Lagoa Quente foi Cyanophyceae. A menor diversidade de

classes algais ocorreu no Paredão, seguida dos ambientes Cascatinha e Lagoa Quente (Fig. 2). Comunidade de algas perifitica - Através da análise taxonômica registrou-se um total de 146 espécies, distribuídas em 9 classes. Deste total, 46 espécies foram registradas para a Lagoa Quente, 55 para o Paredão e 92 para a Cascatinha. As classes com maior número de táxons foram Cyanophyceae para Lagoa Quente, Zygnemaphyceae e Bacillariophyceae para o córrego Cascatinha e Paredão (Fig. 3, Tab. 2). Índice de similaridade e análise de agrupamento de espécies perifíticas - Inicialmente, três grandes grupos foram formados, discriminando o conjunto de algas perifíticas dos ambientes estudados. Para a lagoa quente, a formação de grupo se deu em função da composição de espécies de Cyanophyceae. Para a Cascatinha observou-se que os pontos amostrados caracterizaram principalmente a maior quantidade de espécies de Zygnemaphyceae (desmídias), enquanto para o Paredão, foram espécies da classe Bacillariophyceae e Cyanophyceae (Figs. 3 e 4). DISCUSSÃO A presença de espécies de Cyanophyceae em maior quantidade na Lagoa Quente, tanto da comunidade planctônica quanto perifítica, pode estar relacionado com a grande capacidade que os indivíduos desse grupo tem em permanecer e resistir as condições mais altas de temperatura, assim como altas concentrações de sulfatos e cálcio. Os ambientes aquáticos de água doce com diversos estados tróficos são hábitats propícios para o desenvolvimento das cianofíceas, pois elas possuem uma capacidade impressionante para colonizar substratos estéreis, além de apresentarem notável capacidade para sobreviver a temperaturas extremamente altas e baixas. Outra vantagem das cianofíceas é a fixação de nitrogênio, fornecendo a elas um requerimento nutricional simples, mesmo

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em condições predominantemente limitadas por nitrogênio. E ainda, para otimizar sua posição e assim encontrar um nicho favorável para sobrevivência e crescimento, as cianofíceas usam diferentes estímulos ambientais (ex. luz, gravidade, químico, térmico) (Chorus & Barthram, 1996).

A maior predominância de desmídias analisadas, principalmente no córrego da Cascatinha, pode estar relacionado com a concentração de íons bicarbonato e CO2 livre. Segundo Moss (1973) e Huszar (1994), o sucesso das desmídias se deve em parte, a habilidade em utilizarem CO2 livre como fonte de carbono inorgânico para a realização da fotossíntese. Dentre alguns dos fatores que favorecem o desenvolvimento das diatomáceas, segundo Reynolds (1984), é a instabilidade da coluna da água, a elevada transparência e baixas temperaturas da água, características essas registradas nas águas dos córregos da Cascatinha e Paredão. Além do menor requerimento de luz, as diatomáceas possuem, em comparação aos demais grupos de algas, menor suprimento de fósforo, sendo, portanto excelentes competidoras (Vercellino, 2001). Segundo Van Dam et al. (2002) outra estratégia para garantir ótimas condições de nutrientes e luz mostrado pelas diatomáceas penadas e células de cianofíceas são os movimentos que estas realizam ao redor do substrato, deslizando através de excreção de mucilagem polissacarídica, que se prende ao substrato (diatomáceas), ou usando fibrilas contráteis da parede celular delas (cianofíceas). Desta forma, elas podem mover-se para fora de áreas onde a luz ou nutrientes tornam-se limitantes.

Os resultados desse trabalho demonstraram que o agrupamento das espécies de algas perifíticas foi realizado de acordo com as diferentes características abióticas presentes em cada ambiente analisado, rejeitando assim a hipótese nula, ou seja existe diferença quanto a composição de espécies de ambientes aquáticos termais e não termais.

Agradecimentos A autora agradece a coordenação do Curso de Campo da Universidade de Brasília por providenciarem meios e condições necessárias para a realização deste projeto, aos colegas de campo pela convivência agradável e entusiasmo, a Ana Cláudia pelo auxílio nas coletas, a Universidade Estadual de Maringá pelo apoio no fornecimento de material necessário a identificação e desenho das algas e professora Liliana Rodrigues pelas sugestões e revisão deste relatório. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHORUS, I.; BARTRAM, J. 1999. Toxic

Cyanobacteria in Water: a guide to their public health consequences, monitoring and management, Cap. 1-2.

ROHLF, F. J. 1989. NTSYS-PC. Numerical taxonomy and multivariate analysis system, version 1,50. Exeter Publ. Ltda.

HUSZAR, V. L. M. 1994. Fitoplâncton de um lago amazônico impactado por rejeito de bauxita (lago Batata, Pará, Brasil): estrutura da comunidade, flutuações espaciais e temporais. 219f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Federal de São Carlos, SP.

MARGALEF, R. 1983. Limnologia. Omega, Barcelona, 1010p.

MOSS, B. 1973. The influence of environmental factors on the distribution of freshwater algae: an experimental study. II. The role of pH and the carbon dioxide-bicarbonate system. J. Ecol. 61, 157-177.

PLANO DE MANEJO, 2002. REYNOLDS, C. S. 1984. The Ecology of

Freshwater Phytoplankton. Cambridge: University Press, 384 p.

VAN DAM, A. A.; BEVERIDGE, M. C. M.; AZIM, M. E.; VERDEGEM, M. C. J. 2002. The potential of fish production based on periphyton. Reviews in Fish Biology and Fisheries, v. 12, n. 1 p. 1-31.

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VERCELLINO, I. S. 2001. Sucessão da comunidade de algas perifíticas em dois reservatórios do Parque Estadual das Fontes do Ipirangá, São Paulo; Influência do Estado Trófico e período climatológico. 176f. Tese (Mestrado em Conservação e Manejo de Recursos) – Universidade Estadual de São Paulo, Rio Claro, SP.

WETZEL, R. G. 1983. Recommendations for future research on periphyton. In: WETZEL, R. G. (Ed.). Periphyton of freshwater ecosystems. The Hague, Dr. W. Junk, p. 339-346. (Developments in Hidrobiology, 17).

Tem

pera

tura

da

água

C)

14

18

22

26

30

34

38

P 1 P 2 P 3 C 1 C 2 C 3 L Q 1 L Q 2

Paredão Cascatinha Lagoa Quente

Figura 1. Temperatura da água nos diferentes ambientes estudados, em agosto de 2004.

Riq

ueza

de

espé

cies

0

6

12

18

24

30

Paredão Cascatinha Lagoa Quente

DinophyceaeBacillariophyceaeChrysophyceaeEuglenophyceaeZygnemaphyceaeOedogoniophyceaeChlorophyceaeCyanophyceae

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Figura 2. Riqueza de espécies de algas fitoplanctônicas amostradas nos diferentes ambientes estudados, em agosto de 2004.

Dinophyceae

Bacillariophyceae

Xanthophyceae

Euglenophyceae

Zygnemaphyceae

Oedogoniophyceae

Chlorophyceae

Rhodophyceae

Cyanophyceae

Riq

ueza

de

espé

cies

0

10

20

30

40

50

60

70

P 1 P 2 P 3 C 1 C 2 C 3 LQ 1LQ 2

ParedãoCascatinha Lagoa Quente

Figura 3. Riqueza de espécies de algas perifíticas amostradas nos diferentes ambientes estudados, em agosto de 2004.

Figura 4. Dendrograma obtido por UPGMA, resultante da análise de agrupamento baseado no índice de similaridade de Jaccard, entre as espécies de algas perifíticas. Teste de Mantel com r = 0,91. Estações de coleta: 1, 2 e 3.

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Tabela 1. Lista de espécies de algas da comunidade planctônica registradas nos locais estudados, paredão (P), cascatinha (C) e lagoa quente (LQ). * = táxons ilustrados. Espécies/ Locais P C L Q Zygnemaphyceae P C L Q Cyanophyceae Gonatozygon monotaenium x Anabaena sp 1 x *Hyalotheca dissiliens x x Chroococcus sp x Mougeotia sp 1 x x Chroococcus cf. turgidus x x *Mougeotia sp 2 x x *Chamaesiphon incrustans x x Mougeotia sp 3 x x Cilyndrospermum sp x x Pleurotaenium minitum x Cilyndrospermum sp 1 x Spirogyra sp x *Geitlerinema splendidum x *Spirogyra sp 1 x Gloeocapsa sp x *Spondylosium cf. moniliforme x x Lyngbya sp 1 x x Staurastrum cf. cyclacanthum x Oscillatoria limosa x x *Staurastrum sp x Oscillatoria quadripunctata x Euglenophyceae Oscillatoria sp x *Trachelomonas sp x Pseudoscytonema sp x Chrysophyceae *Scytonema sp 1 x Synura sp x Chlorophyceae Mallomonas sp x Golenkinia radiata x Bacillariophyceae Scenedesmus bijugus x Achnanthes minutissima x *Tetraedron minimum x Eunotia camelus x Oedogoniophyceae *Eunotia serra x Oedogonium sp 1 x Eunotia sp x Zygnemaphyceae Gomphonema augur x *Actinotaenium globosum x Nitzschia sp 1 x Closterium toxon x Rophalodia sp x *Closterium tumidum x Sellaphora pupulla x *Cosmarium cf. contractum x *Stenopterobia curva x *Cosmarium pseudoconnatum x Surirella sp x *Cosmarium regnellii x Penales não identificada x *Cosmarium reniforme x Dinophyceae Euastrum monocylium x Peridinium sp x Gonatozygon brebissonii x

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Tabela 2. Lista de espécies de algas da comunidade perifítica registradas nos locais estudados, paredão (P), cascatinha (C) e lagoa quente (L Q). * = táxons ilustrados. Locais Paredão Cascatinha L Quente Espécies P 1 P 2 P 3 C 1 C 2 C 3 L Q 1 L Q 2Cyanophyceae Anabaena sp x Anabaena sp 1 x Aulosira sp x Chroococcus cf. minor x Chroococcus cf. turgidus x Chroococcus sp x x x x x x *Chamaesiphon incrustans x x x Cilyndrospermum sp x x Cilyndrospermum sp 1 x x *Geitlerinema splendidum x x x x x Gloeocapsa sp x Gloeothece sp x Gomphosphaeria sp x Leptolyngbya limnetica x Lyngbya sp x x Lyngbya sp 1 x Lyngbya sp 2 x x x Lyngbya sp 3 x Oscillatoria limosa x Oscillatoria quadripunctata x x x x Oscillatoria sp x x Oscillatoria sp 1 x *Oscillatoria sp 2 x Oscillatoria sp 3 x Oscillatoria sp 4 x x Planktothrix sp x Pseudanabaena sp x x x x x Pseudanabaena sp 1 x x x x x Pseudoscytonema sp 1 x *Raphidiopsis sp x Scytonema sp x x *Scytonema sp 1 x x Stigonema cf. congestum x Stigonema cf. elegans x Stigonema sp x “Continuação” Xenococcus sp x

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Cyanophyceae 1 x Cyanophyceae 2 x Rhodophyceae Compsopogon sp x Chlorophyceae Ankistrodesmus sp x Characium cf. ambiguum x *Characium ensiforme x Characium sp x Chlamydomonas sp x x x x x Golenkinia radiata x Monoraphidium sp x Scenedesmus cf. acutus x Scenedesmus bijugus x Tetraedron cf. caudatum x x *Tetraedron minimum x x Oedogoniophyceae *Bulbochaete sp x *Oedogonium sp x x x x x *Oedogonium sp 1 x x x x x x *Oedogonium sp 2 x Oedogonium sp 3 x x x Oedogonium sp 4 x x x Zygemaphyceae *Actinotaenium globosum x x x x *Actinotaenium diplosporum x Actinotaenium cf. palangula x *Closterium closterioides var. intermedium x x x Closterium dianae x *Closterium navicula x x x x Closterium cf. setaceum x Closterium toxon x *Closterium tumidum x Closterium sp x *Cosmarium abbreviatum x *Cosmarium bayleyi x *Cosmarium cf. contractum x x Cosmarium cf. protractrum x Cosmarium laeve x x x Cosmarium minimum x Cosmarium naegelianum x *Cosmarium pseudoconnatum x x “Continuação” *Cosmarium cf. punctulatum x x

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*Cosmarium regnellii x x *Cosmarium reniforme x x x Cosmarium cf. retusum x x Cosmarium subtumidum x x Cosmarium trilobulatum x x *Cosmarium sp x x Cosmarium sp 1 x Spondylosium pulchellum x Cylindrocystis brebisonnii x x Gonatozygon brebissonii x x *Gonatozygon kinahanii x x x Gonatozygon monotaenium x *Hyalotheca dissiliens x x *Micrasterias radiosa x Mougeotia sp 1 x x x x x x *Mougeotia sp 2 x x x x Mougeotia sp 3 x x x *Netrium digitus var. lamellosum x *Netrium oblongum x Penium exiguum x x Pleurotaenium minitum x x *Spirogyra sp 1 x x *Spondylosium cf. moniliforme x x Staurastrum alternans x Staurastrum dilatatum x x *Staurastrum sp x x Staurastrum sp 1 x Staurodesmus cf. patens x Zygnemaphyceae x Euglenophyceae Phacus sp x Strombomonas sp x *Trachelomonas sp x x Trachelomonas sp 1 x Trachelomonas sp 2 x Xanthophyceae Stipitococcus sp x Bacillariophyceae Achnanthes minutissima x x x x x Cymbella cf. affinis x x x Cymbella cf. mesiana x x x Cymbella minuta x x x “Continuação” Cymbella cf. naviculiformes x

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Cymbella cf. neogracillis x Cymbella cf. perpusilla x x Cymbella sp x x Cymbella sp 1 x x *Eunotia bilunaris x x x x x Eunotia camelus x Eunotia cf. indica x x *Eunotia serra x x x x x Eunotia cf. sudetica x Eunotia cf. tenella x x *Eunotia zygodon x x Eunotia sp 1 x x Eunotia sp 2 x *Frustulia rhomboides x Gomphonema augur x x Gomphonema cf. gracile x x Gomphonema parvulum x x x x Navicula sp x x Navicula sp 1 x Nitzschia cf. palea x x x x x x Nitzschia sp x x x x x x Nitzschia sp 1 x Pinnularia gibba x x Sellaphora pupulla x x *Stenopterobia curva x x Surirella bisseriata var. constricta x Surirella sp x x x Penales 1 x Penales 2 x Penales 3 x x Dinophyceae Peridinium sp x x x

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Prancha 1

Figs. 1-7: 1. Chamaesiphon incrustans, 2. Geitlerinema splendidum, 3. Oscillatoria sp.2, 4. Raphidiopsis sp., 5. Scytonema sp.1, 6. Characium ensiforme, 7. Tetraedron minimum. Prancha 2

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Figs. 8-22: 8. Bulbochaete sp., 9. Oedogonium sp., 10. Oedogonium sp.1, 11. Oedogonium sp.2, 12. Actinotaenium globosum, 13. A. diplosporum, 14. Closterium navicula, 15. C. closterioides var. intermedium, 16. C. tumidum, 17. Cosmarium abreviatum, 18. C. bayleyi, 19. C. cf. contratum, 20. C. cf. punctulatum, 21. C. regnellii, 22. C. pseudoconnatum. Prancha 3

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Figs. 23-32: 23. Cosmarium reniforme, 24. Cosmarium sp., 25. Micrasterias radiosa, 26. Gonatozygon kinahanii, 27. Hyalotheca dissiliens, 28. Mougeotia sp.2, 29. Netrium digitus var. lamellosum, 30. N. oblongum, 31. Spondylosium cf. moniliforme, 32. Staurastrum sp. Prancha 4

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Figs. 33-39: 33. Spirogyra sp.1, 34. Stenopterobia curva, 35. Eunotia bilunaris, 36. E. serra, 37. E. zygodon, 38. Frustulia rhomboides, 39. Trachelomonas sp.

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