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CURSO DE DIREITO “A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA” GUSTAVO NAGALLI GUEDES DE CAMARGO RA: 4021947 TURMA: 3109 B FONE: (011) 9268-9173 EMAIL: [email protected] SÃO PAULO 2010

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  • CURSO DE DIREITO

    A EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA

    GUSTAVO NAGALLI GUEDES DE CAMARGO

    RA: 4021947 TURMA: 3109 B

    FONE: (011) 9268-9173 EMAIL: [email protected]

    SO PAULO

    2010

  • CURSO DE DIREITO

    A EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA

    GUSTAVO NAGALLI GUEDES DE CAMARGO RA: 4021947

    TURMA: 3109 B

    Professor Orientador: RODRIGO DA CUNHA LIMA FREIRE

    Monografia apresentada Banca

    Examinadora do Centro Universitrio

    das Faculdades Metropolitanas

    Unidas, como exigncia parcial para

    a obteno do ttulo de Bacharel em

    Direito sob a orientao do Prof. Ms.

    Rodrigo da Cunha Lima Freire.

    SO PAULO

    2010

  • Nota:...................(.......................................................)

    BANCA EXAMINADORA:

    ________________________________________________

    Professor Ms. Rodrigo da Cunha Lima Freire (Presidente)

    ________________________________________________

    Professor Argidor

    ________________________________________________

    Professor Argidor

  • Dedico o presente trabalho ao

    Professor Rodrigo da Cunha Lima

    Freire pelos brilhantes ensinamentos,

    aos meus familiares e especialmente

    minha noiva e futura esposa Adriana

    Cristina Mota, por todo amor, apoio e

    carinho.

    SINOPSE O presente trabalho tem a finalidade de demonstrar o procedimento de

    execuo por quantia certa em face da Fazenda Pblica, atravs de pesquisa

    doutrinria, legislativa e jurisprudencial. No primeiro captulo faz-se um

    panorama geral do procedimento executrio no direito processual brasileiro,

    abordando as diferentes espcies de execuo e demonstrando o objetivo

    principal da execuo por quantia certa, contra o particular. Logo aps, define-

    se o significado do termo "Fazenda Pblica" e explica-se o motivo do

    procedimento de execuo por quantia certa contra o Ente Pblico, se dar de

    maneira diferenciada. No segundo captulo so abordadas as prerrogativas

  • processuais do ente pblico e so demonstradas determinadas peculiaridades,

    que se observam quando a Fazenda Pblica se encontra no plo passivo da

    ao de conhecimento (que possibilita ao particular a obteno do ttulo

    executivo judicial, dando ensejo ao de execuo). No terceiro captulo

    analisa-se o procedimento de execuo por quantia certa contra a Fazenda

    Pblica, no deixando de estudar sua fase administrativa que se d desde a

    expedio do precatrio, at o respectivo recebimento do crdito pelo

    exeqente devido pela Fazenda Pblica. No quarto e ltimo captulo analisa-se

    as inovaes trazidas pela Emenda Constitucional 62/2009 e comenta-se sobre

    suas possveis violaes a determinados princpios constitucionais.

    Palavras-chave: Direito Processual Civil execuo por quantia certa Fazenda Pblica precatrio.

    ABSTRACT

    This work aims to demonstrate the procedure for execution for right amount

    against the Public Finance by doctrinal, legislative research and case law. The

    first chapter is an overview of the procedure enforceable in Brazilian procedural

    law, addressing the different species and demonstrating the main goal of

    execution for right amount against the particular. Soon after, defines the

    meaning of the term "Public Finance" and explain the reason why the procedure

    of execution for right amount against the state goes in a different way. In the

    second chapter, describes the procedural prerogatives of the Public Finance

  • and demonstrate certain peculiarities that observed when the Public Finance

    is the defendant in the knowledge action (that enables the particular obtaining

    the judicial executive title, giving opportunity to the execution action). In the third

    chapter discussed the procedure of the execution for right amount against the

    Public Finance, while studying its administrative phase that goes since the

    expedition of precatrio until the receipt of the claim, by claimer, due by the

    Public Finance. The fourth and final chapter analyzes innovation brought by

    the Constitutional Amendment 62/2009 and comments on your violations of

    certain constitutional principles.

    Keywords: Civil procedural law execution for right amount public finance

    precatrio.

    SUMRIO

    Introduo ............................................................................................................. .........8

    Captulo I Do Procedimento de Execuo no Direito Processual Civil Brasileiro........................................................................................................................10

    1.1 Das espcies de execuo e da execuo por quantia certa contra o

    devedor

    solvente..................................................................................................................

    .........10

    1.2. Da definio de Fazenda Pblica e da inalienabilidade dos bens pblicos .. .......12

  • Captulo II A Fazenda Pblica no Plo Passivo da Ao de Conhecimento ...................................................................................................... ......15 2.1 Das prerrogativas processuais da Fazenda

    Pblica.......................................... .......15

    2.1.1 Duplo grau de jurisdio obrigatrio

    ......................................................................16

    2.1.2 Prazos dilatados.................................................................................................... 16

    2.1.3 Expedio de

    precatrio.........................................................................................17

    2.1.4 Juzo

    privativo.........................................................................................................17

    2.1.5 Prazo prescricional.................................................................................................18

    2.1.6 Pagamentos de custas judiciais.............................................................................19

    2.2 Da citao e da

    contestao.....................................................................................20

    2.3 Do julgamento liminar de improcedncia do

    pedido..................................................21

    2.4 Da sentena de mrito contra a Fazenda Pblica e do reexame necessrio...........22

    Captulo III Da Execuo por Quantia Certa Contra a Fazenda Pblica ....... ......,26 3.1 Do ttulo

    executivo.....................................................................................................26

    3.2 Da liquidao de

    sentena........................................................................................30

    3.2.1 Liquidao por arbitramento...................................................................................32

    3.2.2 Liquidao por

    artigos............................................................................................33

    3.3 Do no cabimento do cumprimento de

    sentena......................................................33

    3.4 Dos embargos

    execuo........................................................................................34

    3.4.1 Da matria a ser abordada pelos embargos

    execuo.......................................40

  • 3.5 Do no cabimento de execuo provisria contra a Fazenda

    Pblica.....................41

    3.6 Do

    precatrio.............................................................................................................4

    5

    3.6.1 Distino entre os atos do juiz da execuo e do Presidente do Tribunal.............47

    3.6.2 Do crdito de natureza

    alimentcia.........................................................................48

    3.6.2.1 Do rol do pargrafo primeiro do artigo 100 da Constituio Federal e

    dos honorrios

    advocatcios...................................................................................................50

    3.6.3 Das requisies de pequeno

    valor.........................................................................53

    3.6.3.1 O ente pblico nos juizados especiais

    cveis......................................................57

    3.6.4 Dos juros e da correo

    monetria........................................................................59

    3.6.5 Do cabimento de

    seqestro....................................................................................62

    3.6.6 Da interveno federal e

    estadual..........................................................................67

    3.7 Da extino do processo

    executivo...........................................................................71

    Captulo IV Do Nono Artigo 100 da Constituio Federal e da Ao Direta de Inconstitucionalidade n. 4357.....................................................................................73 4.1 Da emenda constitucional n 62/2009 e do ajuizamento da ADI n

    4357.................73

    4.2 Da violao do pargrafo segundo do artigo 100 da CF ao princpio da

    igualdade e da dignidade da pessoa

    humana....................................................................................74

  • 4.3 Da violao do pargrafo nono do artigo 100 da CF ao princpio da livre

    disposio dos bens e da razovel durao do

    processo.................................................................75

    4.4 Da violao do pargrafo dcimo segundo do artigo 100 da CF ao princpio

    da separao de poderes, da moralidade e da coisa

    julgada..............................................77

    4.5 Do artigo 97 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias - ADCT..............78

    Concluso..............................................................................................................

    ..........83

    Bibliografia.............................................................................................................

    ..........86

    INTRODUO

    A Fazenda Pblica, em juzo, se submete a determinados princpios

    de direito pblico, como o caso do princpio da legalidade, da presuno de

    legitimidade dos atos administrativos e da supremacia do interesse pblico

    sobre o privado.

    Logo, deve-se adequar tais princpios relao processual que

    envolve o Ente Pblico, motivo pelo qual se explica o fato de a Fazenda

    Pblica possuir tratamento processual diferenciado, o qual contestado por

    inmeros doutrinadores.

    sabido que o presente trabalho surge numa poca em que, no

    obstante o questionamento acerca da efetividade da tutela jurisdicional no

    direito processual brasileiro, ainda se observa a demora do cumprimento dos

    precatrios originrios das condenaes impostas pelo judicirio, nas aes

    contra o Ente Pblico.

    Logo, em virtude do quadro supra descrito, ressalta-se de incio que

    a inteno deste estudo no a de propor solues ou fazer crticas acerca

  • dos procedimentos processuais j institudos pela lei uma vez que, em virtude

    do princpio da supremacia do interesse pblico sobre o interesse privado, no

    parece to simples maldizermos este sistema, alegando que o Ente Pblico

    estaria sendo privilegiado como parte do processo.

    Por este motivo, o presente trabalho aborda, em quase sua

    totalidade, os regramentos processuais que se observam quando a

    Administrao Pblica encontra-se no plo passivo da ao de execuo.

    Primeiro, analisa-se as peculiaridades que se observam quando o Ente Pblico

    se encontra no plo passivo da ao de conhecimento (que garante ao credor

    o ttulo executivo judicial que dar ensejo ao de execuo). Logo aps,

    trata-se do procedimento de execuo por quantia certa contra a Fazenda

    Pblica e, finalmente, da fase administrativa que regulamenta a expedio do

    precatrio e seu respectivo pagamento.

    Tal anlise feita por meio de leis, doutrina e interpretao

    jurisprudencial as quais, algumas vezes, so divergentes acerca de

    determinadas matrias, em virtude de se haver lacunas deixadas pela lei

    nestes casos, conforme ser demonstrado neste trabalho.

    O procedimento de execuo contra a Fazenda Pblica se d de

    maneira diferenciada, em virtude da impenhorabilidade dos bens pblicos, que

    impossibilita os atos expropriatrios em face do Ente Pblico, condicionando o

    pagamento ao credor expedio de ofcio requisitando a quitao.

    Tal procedimento vem disciplinado nos artigos 730 e 731 do Cdigo

    de Processo Civil os quais, conforme se demonstrar ao logo deste trabalho,

    devero ser interpretados em consonncia com o artigo 100 da Constituio

    Federal, que traz todos os regramentos concernentes expedio do

    precatrio.

    O artigo 100, por sua vez, foi recentemente alterado pela Emenda

    Constitucional 62/2009 publicada em 10 de dezembro de 2009 e trouxe

    alteraes significativas nos regramentos envolvendo os precatrios. Por este

    motivo o presente trabalho, embora de modo prematuro, no poderia deixar de

    levar em considerao seus novos institutos. Portanto, todos os dispositivos do

    artigo em comento descritos neste estudo, se encontram de acordo com a nova

    redao.

  • Ainda, realizou-se breve anlise de alguns institutos trazidos pela

    Emenda Constitucional 62/2009 que, em seu artigo primeiro, alterou o artigo

    100 da Carta Magna e, em seu artigo segundo, acrescentou o artigo 97 do Ato

    das Disposies Constitucionais Transitrias. Tambm foram traadas

    consideraes acerca de suas supostas violaes a alguns princpios

    constitucionais.

    Da o presente trabalho abordar estas novas alteraes sob o ponto

    de vista da Ao Direita de Inconstitucionalidade 4357 ajuizada, dentre outros,

    pelo Conselho Federal da OAB, ainda pendente de deciso, que atacou

    diversos dispositivos desta Emenda Constitucional e requereu, no obstante a

    declarao de inconstitucionalidade dos dispositivos impugnados, a concesso

    de medida cautelar para suspender a eficcia destes at o julgamento do

    mrito.

    I DO PROCEDIMENTO DE EXECUO 1.1 Das espcies de execuo e da execuo por quantia certa contra devedor solvente A vida em sociedade d ensejo ao surgimento de vnculos

    jurdicos diversos, que decorrem das relaes obrigacionais entre as pessoas.

    No campo das obrigaes existe um dever que ligar os sujeitos sendo que,

    incumbir ao credor exigir do devedor, o cumprimento de determinada

    prestao.

    Uma vez que o plo passivo da relao obrigacional no cumpriu o

    dever que lhe cabia, d-se ao credor a faculdade de pleitear o seu direito

    inadimplido por outrem em juzo sendo que, para que se possa dar ensejo ao

    procedimento de execuo, faz-se necessrio que sua pretenso venha

    consagrada previamente num ttulo executivo lquido, certo e exigvel, seja este

    judicial ou extrajudicial.

  • De acordo com o Cdigo de Processo Civil possvel classificar a

    execuo no direito processual brasileiro a partir de trs espcies: a execuo

    por quantia certa, a execuo para a entrega de coisa (certa ou incerta) e a

    execuo das obrigaes de fazer ou no fazer1.

    O mesmo Diploma, ainda em seu artigo 646 ao tratar da execuo

    por quantia certa, dispe sobre a principal caracterstica deste procedimento.

    Ora, sabe-se que o devedor pode no realizar, a prestao que lhe cabvel.

    Neste caso, restar ao credor buscar o auxlio do Poder Judicirio que, por sua

    vez, a partir do carter expropriatrio do processo de execuo por quantia

    certa, vai se valer de determinados procedimentos previstos em lei, com o

    escopo de garantir a satisfao do crdito decorrente de determinada relao

    entre credor e devedor2.

    Desta maneira, uma vez no satisfeita a dvida inscrita no ttulo

    executivo, o devedor inadimplente devidamente citado ter seus bens

    penhorados, quantos forem necessrios, para a satisfao do crdito em

    questo que se d, mediante a adjudicao do bem em favor do exeqente,

    por meio de alienao particular, atravs de alienao em hasta pblica ou do

    usufruto.

    Araken de Assis esclarece sobre o procedimento acima descrito,

    destacando seu carter diferenciado:

    Tem o ato executivo de peculiar, distinguindo-o, destarte,

    dos demais atos do processo e dos que do juiz se

    originam, a virtualidade de provocar alteraes no mundo

    natural. Objetiva a execuo, atravs de atos deste jaez,

    adequar o mundo fsico ao projeto sentencial,

    empregando a fora do Estado (art. 579 do CPC). Essas

    modificaes fticas requerem, por sua vez, a invaso da

    esfera jurdica do executado, e no s do seu crculo

    patrimonial, porque, no direito ptrio, os meios de coero

    1 BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Cdigo de Processo Civil. Braslia, DF: Congresso Nacional, 1973. Disponvel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 10/02/2010. 2 Art. 646 - A execuo por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591).

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm

  • se ostentam admissveis. A medida do ato executivo

    seu contedo coercitivo 3.

    Deve-se lembrar que, se o titular do direito possuir crdito

    representado em ttulo executivo extrajudicial, dever ajuizar ao autnoma

    de execuo dispensando, portanto, prvio procedimento cognitivo, o que no

    ocorrer com o credor desprovido do referido ttulo executivo. Neste caso,

    dever obter-se a sentena condenatria oriunda do processo de

    conhecimento.

    Aps seu trnsito em julgado, no entanto, decorrido o prazo legal

    para o adimplemento da obrigao, ser expedido o mandado de penhora e

    avaliao mediante simples requerimento da parte interessada, dispensando o

    procedimento autnomo da execuo, at ento exigido antes da lei 11.232 de

    22 de dezembro de 2005.

    Conclui-se ento que, no regramento processual civil brasileiro,

    restou excluda a necessidade de um processo autnomo de execuo

    fundada em ttulo judicial, cabendo ento distinguir trs principais modos

    possveis deste procedimento: o cumprimento forado das sentenas

    condenatrias e outras a que a lei vai atribuir igual fora (artigos 475-I e 475-

    N); o processo de execuo dos ttulos executivos extrajudiciais (artigos 621 a

    735) e a execuo coletiva ou concursal fundada em ttulo extrajudicial para os

    casos de insolvncia do devedor (artigos 748 a 782).

    1.2 Da definio de Fazenda Pblica e a inalienabilidade dos bens pblicos

    Pode se estabelecer, num primeiro momento, que a expresso

    Fazenda Pblica representa a atuao do Estado perante o rgo

    jurisdicional abrangendo, neste caso, as pessoas jurdicas de direito pblico

    litigando nas demandas judiciais. Contudo, encontra-se nos ensinamentos do

    mestre Hely Lopes Meirelles, a definio que parece ser a mais adequada em

    se tratando do presente trabalho:

    3 ASSIS, Araken de. Manual da Execuo. 12 ed. So Paulo: RT, 2009. p. 95.

  • A Administrao Pblica, quando ingressa em juzo por

    qualquer de suas entidades estatais, por suas autarquias,

    por suas fundaes pblicas ou por seus rgos que

    possuam capacidade processual, recebe a designao

    tradicional de Fazenda Pblica, por que seu errio que

    suportar os encargos patrimoniais da demanda 4.

    A definio do termo Errio empregado no conceito supra descrito

    traduz, de modo genrico, os recursos financeiros do Estado representados

    pelos bens e direitos de valor econmico, que integram o patrimnio do Ente

    Pblico. Ainda destaca-se que o Ilustre Doutrinador, na observao acima,

    excluiu as empresas pblicas e as sociedades de economia mista, visto que as

    mesmas no gozam das prerrogativas processuais concedidas Fazenda

    Publica, por se tratarem de pessoas jurdicas de Direito Privado.

    Portanto, a expresso Fazenda Pblica abranger tanto os rgos

    da Administrao Direta quais sejam a Unio, os Estados, o Distrito Federal e

    os Municpios, bem como os da Administrao Indireta como o caso das

    autarquias, das fundaes pblicas e das agncias reguladoras que possuem

    natureza jurdica de autarquias especiais.

    O procedimento executrio contra a Fazenda Pblica contm

    diversas peculiaridades, as quais sero demonstradas pelo presente trabalho,

    podendo este ser realizado seja o ttulo executivo que lhe deu ensejo, judicial

    ou extrajudicial. Observa-se que, nas execues contra a Administrao

    Pblica, ensejar-se- um procedimento especfico, em virtude da

    impenhorabilidade dos bens pblicos.

    Sabe-se que o artigo 100 do Cdigo Civil de 20025 dispe sobre a

    inalienabilidade dos bens pblicos. Portanto, da se conclui a partir do inciso

    um do artigo 649 do Cdigo de Processo Civil que, sendo estes bens

    inalienveis, no haver que se falar em penhora dos mesmos6.

    4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 25 ed. So Paulo: RT, 2000. p. 663. 5Art. 100 - Os bens pblicos de uso comum do povo e os de uso especial so inalienveis, enquanto conservarem a sua qualificao, na forma que a lei determinar.6 Art. 649 - So absolutamente impenhorveis: I - os bens inalienveis e os declarados, por ato voluntrio, no sujeitos execuo; (...)

  • Tal dispositivo impossibilita a Fazenda Pblica de ser executada

    pelo procedimento comum j abordado anteriormente. Assim, nas palavras de

    Humberto Theodoro Jnior:

    Os bens pblicos, isto , os bens pertencentes Unio,

    Estado e Municpio, so legalmente impenhorveis. Da a

    impossibilidade de execuo nos moldes comuns, ou

    seja, mediante penhora e expropriao 7.

    Nos casos de execuo por quantia certa contra o Ente Pblico, tal

    procedimento, que o objeto do presente trabalho, vem descrito no artigo 730

    do Cdigo de Processo Civil e estabelece que o autor da ao que verse sobre

    obrigao pecuniria contra a Fazenda Pblica, dever requerer a citao do

    Ente Pblico para a oposio de embargos.

    Se estes forem inexistentes ou julgados improcedentes, dever a

    Fazenda Pblica executada incluir em sua receita oramentria do ano

    seguinte, a verba necessria ao pagamento do dbito constante do precatrio

    requisitado pelo Presidente do Tribunal ao Ente Pblico competente, cujo

    procedimento de inscrio se inicia por meio de ofcio do prprio juiz da vara de

    origem8.

    7 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 44 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. Vol. 2. p. 371. 8Art. 730 - Na execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica, citar-se- a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta no os opuser, no prazo legal, observar-se-o as seguintes regras: I - o juiz requisitar o pagamento por intermdio do presidente do tribunal competente; II - far-se- o pagamento na ordem de apresentao do precatrio e conta do respectivo crdito.

  • II A FAZENDA PBLICA NO PLO PASSIVO DA AO DE CONHECIMENTO 2.1 Das prerrogativas processuais da fazenda pblica

    Uma vez em atuao, o Ente Pblico tem seus atos norteados pelo

    interesse pblico. Logo, estando em juzo, em razo da supremacia do

    interesse pblico sobre o interesse privado, dispe a Fazenda Pblica de

    determinadas prerrogativas dadas pela lei. Neste sentido, explica Leonardo

    Jos Carneiro da Cunha:

    Exatamente por atuar no processo em virtude da

    existncia de interesse pblico, consulta ao prprio

    interesse pblico viabilizar o exerccio desta sua atividade

    no processo da melhor e mais ampla maneira possvel,

    evitando-se condenaes injustificveis ou prejuzos

    incalculveis para o Errio e, de resto, para toda

    coletividade que seria beneficiada com servios

    custeados com tais recursos 9.

    9 CUNHA, Leonardo Jos Carneiro. A Fazenda Pblica em Juzo. 7 ed. So Paulo: Dialtica, 2009. p. 34. .

  • Parte da doutrina defende que tais prerrogativas decorrentes da j

    citada supremacia do interesse pblico sobre o interesse privado, acabam por

    violar o princpio da isonomia. O presente trabalho ousar discordar desta

    posio. Na verdade o princpio da isonomia, quando figurar o Ente Pblico no

    plo passivo, dever ser analisado tendo-se por base a j citada supremacia do

    interesse pblico sobre o interesse privado, ou seja, no se trata no caso em

    tela de privilgios, mas sim, de prerrogativas, j que ambos no se confundem.

    Neste sentido, ensina o Magistrado Mauro Spalding:

    Disso decorre que o denominado princpio da supremacia

    do interesse pblico sobre o privado nortear o intrprete

    na aplicao do princpio da isonomia nas relaes

    processuais ocupadas pelo Poder Pblico num dos plos.

    Em outras palavras, no h qualquer tenso ou conflito

    entre esses dois princpios constitucionais (o da isonomia

    e o da supremacia do interesse pblico sobre o privado)

    10.

    2.1.1 Duplo grau de jurisdio obrigatrio O Cdigo de Processo Civil dispe que a sentena de mrito

    proferida contra a Fazenda Pblica est sujeita ao duplo grau de jurisdio,

    onde a deciso proferida pelo Tribunal possuir o condo de ratificar a

    sentena de primeiro grau dando-lhe eficcia, bem como a que julgar

    procedentes os embargos execuo de dvida ativa do executado. Logo, esta

    sentena somente produzir efeitos aps essa confirmao.

    Trata-se, no caso em tela, do reexame necessrio o qual ser

    analisado com mais detalhes em tpico prprio.

    2.1.2 Prazos dilatados

    10 SPALDING, Mauro. Execuo Contra a Fazenda Pblica Federal. Curitiba: Juru, 2008. p. 84.

  • Dispe o artigo 18811 do Cdigo De Processo Civil que a Fazenda

    Pblica, bem como o Ministrio Pblico, possui prazo em qudruplo para

    contestar e em dobro para recorrer.

    Em se tratando das contra-razes a determinado recurso, o prazo

    ser simples. Tambm ser simples o prazo do artigo 526 do CPC, ou seja, de

    trs dias, quando a Administrao Pblica interpor agravo de instrumento,

    ainda que neste caso possua prazo em dobro.

    Ainda, a Lei 9.469 de 10 de julho de 1997, que regula os

    pagamentos devidos pela Fazenda Pblica decorridos de sentena judiciria,

    estendeu igual prazo s autarquias e fundaes pblicas em seu artigo 1012. A

    Medida Provisria 2.180-35, por sua vez, atravs do acrscimo do artigo 1 - B

    Lei 9.494 de 10 de setembro de 1997, acabou dilatando o prazo para

    apresentao de embargos execuo contra a Fazenda Pblica, passando a

    ser de 30 dias.

    2.1.3 Expedio de precatrio A execuo das decises judiciais contra a Fazenda Pblica

    processada por meio de expedio de precatrios, a serem pagos em ordem

    cronolgica, de acordo com a respectiva inscrio. Tal procedimento previsto

    no artigo 730 do Cdigo de Processo Civil e regulado pelo artigo 100 da Carta

    Magna, tendo este sido recentemente alterado pela Emenda Constitucional

    62/200913.

    Convm ressaltar que no se sujeitam ao sistema de precatrios os

    pagamentos de obrigaes definidas como de pequeno valor, conforme ser

    detalhadamente explanado pelo presente estudo, em momento posterior.

    De acordo com esse dispositivo estabelecido na nossa Lei Maior,

    haver o pedido de reserva oramentria pelo Presidente do Tribunal que

    proferiu a deciso exeqenda mediante a requisio de pagamento

    devidamente protocolada no rgo competente, cabendo entidade devedora

    11 Art. 188 - Computar-se- em qudruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pblica ou o Ministrio Pblico. 12 Art. 10 - Aplica-se s autarquias e fundaes pblicas o disposto nos arts. 188 e 475, caput, e no seu inciso II, do Cdigo de Processo Civil.13 Art. 100 - Os pagamentos devidos pelas Fazendas Pblicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentena judiciria, far-se-o exclusivamente na ordem cronolgica de apresentao dos precatrios e conta dos crditos respectivos, proibida a designao de casos ou de pessoas nas dotaes oramentrias e nos crditos adicionais abertos para este fim.

  • consignar a verba necessria ao pagamento dos dbitos apresentados at

    primeiro de julho, fazendo-se o pagamento at o final do exerccio seguinte.

    A violao do direito de preferncia dos credores autoriza a

    possibilidade de seqestro da quantia necessria satisfao do dbito, nos

    termos do artigo 731 do Cdigo de Processo Civil14.

    2.1.4 Juzo privativo Configura-se, quando se trata da Unio, suas autarquias e

    fundaes de direito pblico, atravs da Justia Federal, em duas instncias e,

    em se tratando dos Estados e dos Municpios, por meio das Varas da Fazenda

    Pblica, as quais dispem, nas respectivas Unidades Federativas, sobre suas

    leis de organizao judiciria15.

    Deste modo, vrias comarcas das Justias Estaduais so compostas

    por varas especializadas da Fazenda Pblica. Pode-se salientar que, quando

    se tratar da Unio, entidade autrquica federal ou suas fundaes federais de

    direito pblico, a esfera de competncia ser da Justia Federal.

    Deve-se esclarecer que nem sempre se observar a existncia de

    Juzo privativo. Portanto, o Ente Pblico poder integrar o plo passivo de

    determinada demanda seja na capital, no interior ou em qualquer Juzo,

    quando no houver a Vara privativa.

    2.1.5 Prazo prescricional Quaisquer dvidas dos entes pblicos, bem como o pleito de

    qualquer direito ou ao contra estes, prescrevero em cinco anos contados da

    data do ato ou fato que derem ensejo aos mesmos. Portanto, uma vez surgida

    determinada pretenso contra a Fazenda, estar esta sujeita ao prazo

    14 Art. 731 - Se o credor for preterido no seu direito de preferncia, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poder, depois de ouvido o chefe do Ministrio Pblico, ordenar o seqestro da quantia necessria para satisfazer o dbito. 15 PROCESSUAL CIVIL. COMPETENCIA. AO CONTRA ESTADO-MEMBRO. VARA DA FAZENDA PUBLICA. 1. O estado membro no tem foro privilegiado, mas juzo privativo (vara especializada) nas causas em que devam correr na Comarca da Capital, quando a Fazenda for Autora, R, ou Interveniente. Precedentes. (...) (AgRg no Ag 92717/PR, Rel. MIN. ANTONIO DE PADUA RIBEIRO, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/12/1996, DJ 03/02/1997 p. 696).

  • prescricional de cinco anos, ressaltando-se que tambm se aplica esta regra s

    autarquias e fundaes pblicas16.

    A prescrio qinqenal no se aplica s empresas pblicas e

    sociedades de economia mista, sendo tais prazos regulados, no caso em tela,

    pelo Cdigo Civil de 2002.

    Observa-se que o prazo prescricional contra a Fazenda poder ser

    suspenso ou interrompido.

    Ser suspenso em caso de demora da apurao de determinadas

    dvidas da Administrao Pblica feita pelas reparties e ou funcionrios

    encarregados, sendo que esta suspenso configurar-se- a partir do devido

    ingresso com designao do dia, ms e ano pelo interessado, na respectiva

    repartio pblica competente17.

    Ser interrompido a partir do despacho do juiz que determinar a

    citao, sendo que a interrupo do prazo prescricional s ocorre uma vez.

    Cabe ressaltar que a referida interrupo retroage data da propositura da

    ao. De acordo com a regra esculpida na Smula 383 do STF deve-se deduzir

    que, configurada a interrupo na primeira metade, computar-se- o tempo

    restante de modo que se completem os cinco anos. Contudo, uma vez ocorrida

    a interrupo na segunda metade, supondo-se aos quatro anos, dever voltar a

    16 ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. TERMO INICIAL DA PRESCRIO DA PRETENSO EXECUTRIA. FUNDAMENTO DO ACRDO RECORRIDO NO INFIRMADO NAS RAZES DO APELO NOBRE. INCIDNCIA DA SMULA N. 283 DO PRETRIO EXCELSO. (...) 2. O prazo prescricional para a propositura da ao executiva contra a Fazenda Pblica de cinco anos, contados a partir do trnsito em julgado da sentena condenatria. Incidncia da Smula n. 150 do Supremo Tribunal Federal. 3. A prescrio somente poder ser interrompida uma nica vez, sendo certo que o prazo recomear a correr pela metade, resguardado o prazo mnimo de cinco anos, conforme o disposto na Smula n. 383 do Pretrio Excelso. (...) (AgRg no REsp 1145323/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe 01/02/2010). 17ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO ESTADUAL. PENSO. PRESCRIO. REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. SUSPENSO. PREQUESTIONAMENTO. (...) 2. Esta Corte firmou compreenso de que ocorre a suspenso do prazo prescricional durante o lapso temporal que, no estudo da dvida, tenha a autoridade competente levado para decidir o requerimento feito na esfera administrativa. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1125321/SE, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 23/11/2009).

  • correr o prazo prescricional a partir da interrupo por mais dois anos e meio

    totalizando-se, neste caso, seis anos e meio do referido prazo18.

    Conclui-se que, em se tratando do prazo prescricional, no haver

    perodo inferior a cinco anos podendo haver, neste caso, intervalo de tempo

    superior, caso a prescrio seja interrompida aps os dois anos e meio do

    prazo prescricional.

    A prescrio poder ser conhecida de ofcio pelo juiz, ou alegada

    pelas partes, a qualquer tempo.

    2.1.6 Pagamentos das custas judiciais A Fazenda Pblica est dispensada do pagamento de custas e

    emolumentos, devendo-se salientar que a presente situao no se trata de

    iseno, mas apenas de dispensa de prvio preparo ou depsito de custas e

    emolumentos.

    O Ente Pblico, portanto, s ir pagar custas e emolumentos dos

    atos processuais que entender cabveis ao final do processo, desde que reste

    vencida na demanda, de acordo com o artigo 27 do Cdigo de Processo Civil19.

    Contudo, existem pessoas atuantes no processo que devero ser

    remuneradas pelos seus servios prestados. Nestes casos, o Ente Pblico

    litigante no estar desobrigado de arcar com determinadas despesas, como

    se observa no caso das diligncias do oficial de justia em algumas situaes,

    dos honorrios dos peritos20 e das postagens de comunicaes processuais21.

    2.2 Da citao e da contestao Nas demandas contra os entes pblicos, a citao dos mesmos

    dever ser feita por oficial de justia, na pessoa do representante legal destes.

    Quando aquele que recebeu a citao no possui a condio de representante

    18Smula 383 STF - A prescrio em favor da Fazenda Pblica recomea a correr por dois anos e meio a partir do ato interruptivo, mas no fica reduzida aqum de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo. 19 Art. 27 - As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do Ministrio Pblico ou da Fazenda Pblica, sero pagas a final pelo vencido.20 PROCESSO CIVIL. HONORRIOS DO PERITO. ANTECIPAO PELA FAZENDA. OBRIGATORIEDADE. As despesas dos atos processuais devem ser antecipadas, inclusive pela Fazenda Pblica e suas autarquias, no estando o perito obrigado a custear as despesas para realizar o trabalho. (REsp 182.201/SC, Rel. Ministro HLIO MOSIMANN, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/03/1999, DJ 29/03/1999 p. 154). 21 Art. 33 - Cada parte pagar a remunerao do assistente tcnico que houver indicado; a do perito ser paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofcio pelo juiz.

  • legal da Fazenda Pblica, a citao ser nula, exceto nos casos de delegao

    da competncia do representante legal, desde que amparada por norma

    expressa.

    Em sua contestao, nos termos do artigo 302 do Cdigo de

    Processo Civil, recai sobre o ru a incumbncia de concentrar toda a matria a

    ser alegada em sua defesa, sobre pena de precluso, alm dos fatos no

    impugnados serem considerados verdadeiros por presuno, exceto nas

    situaes previstas nos incisos do referido dispositivo22.

    Ora, no se admite a confisso por parte do Ente Pblico em razo

    da indisponibilidade do seu direito e, no obstante, existe a presuno de

    legitimidade dos atos administrativos, cabendo ao autor da demanda, o nus

    de provar em contrrio. Logo, no se configura a presuno de veracidade dos

    fatos alegados pelo autor, esculpida no caput do artigo 302, em se tratando das

    demandas contra os rgos da Administrao Pblica.

    Do mesmo modo, se o Ente Pblico for revel, no haver a

    presuno de veracidade dos fatos alegados pelo autor de acordo com o que

    estabelece o artigo 319 da Lei Adjetiva em questo23, em virtude da

    indisponibilidade do direito da Fazenda Pblica24 e do princpio da supremacia

    do interesse pblico sobre o privado. Neste caso, dever o magistrado

    determinar a instruo para que o autor exera a sua incumbncia de provar a

    autenticidade dos fatos.

    2.3 Do julgamento liminar de improcedncia do pedido De acordo com o artigo 285-A do Cdigo de Processo Civil, h a

    previso de julgamento anterior prpria citao pelo juiz, quando se tratar de

    matria unicamente de direito, ou seja, quando se dispensar prova tcnica,

    22 Art. 302 - Cabe tambm ao ru manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petio inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos no impugnados, salvo: I - se no for admissvel, a seu respeito, a confisso; II - se a petio inicial no estiver acompanhada do instrumento pblico que a lei considerar da substncia do ato; III - se estiverem em contradio com a defesa, considerada em seu conjunto. (...). 23Art. 319 - Se o ru no contestar a ao, reputar-se-o verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. 24 Art. 320 - A revelia no induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: (...) II - se o litgio versar sobre direitos indisponveis; (...)

  • pericial ou testemunhal e j houver sentenas em casos idnticos de total

    improcedncia, naquele juzo25.

    Pode-se entender por casos idnticos, aqueles de iguais

    fundamentaes jurdicas. Neste sentido, tem-se por base o posicionamento de

    Fernando da Fonseca Gajardoni:

    "A expresso casos idnticos deve ser interpretada, por

    isso, como sendo casos semelhantes, isto , que tenham

    os mesmos fundamentos de fato e de direito (causa de

    pedir), ainda que o pedido seja diverso. Por exemplo,

    nada impede a aplicao do dispositivo para julgar

    improcedente de plano a pretenso que veicule tese

    sobre a inconstitucionalidade de determinado tributo ou

    contribuio (causa de pedir) para fins de repetio de

    indbito (pedido da nova ao), quando idntica tese

    jurdica, com a invocao dos mesmos fundamentos, haja

    sido rejeitada em ao com pedido de compensao

    (pedido primitivo) 26.

    Portanto, tal dispositivo previne o acmulo de demandas cujo

    entendimento o mesmo o que se verifica, com certa freqncia, nos litgios

    envolvendo a Fazenda Pblica uma vez que, no obstante o fato de muitas

    aes ajuizadas contra o Ente Pblico versarem sobre o mesmo assunto, ainda

    se observa que parcela considervel destas versa apenas sobre matria de

    direito dispensando, deste modo, a dilao probatria.

    No caso em tela, poder o juiz indeferir a petio inicial por meio de

    sentena, desta cabendo apelao, podendo haver retratao do juzo a quo,

    nos termos do artigo 296 do Diploma Adjetivo Civil27.

    25Art. 285-A- Quando a matria controvertida for unicamente de direito e no juzo j houver sido proferida sentena de total improcedncia em outros casos idnticos, poder ser dispensada a citao e proferida sentena reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. 26 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. O princpio Constitucional da Tutela Jurisdicional sem Dilaes Indevidas e o Julgamento Antecipadssimo da Lide. So Paulo: RT, n. 141, nov. 2006, p. 10. 27 Art. 296 - Indeferida a petio inicial, o autor poder apelar, facultado ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua deciso. (Alterado pela L-008.952-1994).

  • Em no se havendo o juzo de retratao, dever o ru ser citado

    para que possa se defender em segunda instncia, que ser competente para

    apreciar o mrito. Todavia, se a citao do ru no ocorreu e o Tribunal decidiu

    pela manuteno da sentena proferida em primeiro grau, a sua falta no ser

    revestida de nulidade ou prejuzo.

    2.4 Da sentena de mrito contra a Fazenda Pblica e do reexame necessrio

    Quando o credor no dispe de ttulo executivo extrajudicial para

    que se possa dar ensejo ao procedimento de execuo, dever ajuizar prvia

    ao de conhecimento para que se possa obter o ttulo executivo judicial.

    Deve-se ressaltar que a sentena de conhecimento proferida contra a

    Administrao Pblica, possui natureza condenatria podendo ser lquida ou

    ilquida.

    Como j abordado resumidamente em tpico anterior, dispem os

    incisos primeiro e segundo do artigo 475 do Cdigo de Processo Civil, dos

    casos em que estar sujeita ao reexame necessrio com algumas restries, a

    sentena de mrito contra a Fazenda Pblica28.

    cedio que tal determinao abrange apenas as sentenas de

    mrito contrrias ao Ente Pblico, havendo o entendimento majoritrio de que

    no se aplica tal regramento s decises interlocutrias, tampouco s decises

    concessivas de tutela antecipada, proferidas contra a Fazenda Pblica em

    juzo29.

    28Art. 475 - Est sujeita ao duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito seno depois de confirmada pelo tribunal, a sentena: I - proferida contra a Unio, o Estado, o Distrito Federal, o Municpio, e as respectivas autarquias e fundaes de direito pblico; II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos execuo de dvida ativa da Fazenda Pblica. 29RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. ANTECIPAO DOS EFEITOS DA TUTELA. REQUISITOS AUTORIZADORES. SMULA N. 7/STJ. REEXAME NECESSRIO. ART. 475 DO CPC. INAPLICABILIDADE.VERBA DE CARTER ALIMENTAR. EXCEO AO ART. 2-B DA LEI N. 9.494/97. (...) 2. A deciso que antecipa os efeitos da tutela proferida no curso do processo tem natureza de interlocutria, no lhe cabendo aplicar o art. 475 do CPC, o qual se dirige a dar condio de eficcia s sentenas proferidas contra a Fazenda Pblica, quando terminativas com apreciao do mrito (art. 269 do CPC). (...) (REsp 659200/DF, Rel. Ministro HLIO QUAGLIA BARBOSA, SEXTA TURMA, julgado em 21/09/2004, DJ 11/10/2004 p. 384).

  • Tambm no h que se falar em reexame necessrio das sentenas

    que extinguem o processo sem julgamento de mrito uma vez que, em se

    tratando do presente trabalho, a Fazenda Pblica se encontra no plo passivo

    da ao.

    Neste diapaso, a smula 325 do STJ ainda impe que todas as

    condenaes proferidas por sentena contra o Ente Pblico devem se sujeitar

    ao reexame necessrio, ainda que versem apenas sobre os honorrios de

    sucumbncia, desde que superior ao limite de sessenta salrios mnimos,

    conforme ser explanado no final deste tpico30.

    O inciso dois do artigo 475, que estabelece a sujeio ao reexame

    necessrio de sentena que julgar procedente os embargos execuo de

    dvida ativa, gerou controvrsia acerca de sua aplicabilidade em se tratando

    dos embargos execuo, julgados improcedentes quando a Fazenda Pblica

    fosse r.

    Houve corrente que defendeu a possibilidade da extenso deste

    dispositivo para atingir tambm, os casos de improcedncia dos embargos

    opostos pelo Ente Pblico.

    Contudo, de acordo com o posicionamento consolidado pelo STJ,

    entende-se no estar sujeita ao reexame necessrio, a sentena que julgar

    improcedentes os embargos execuo opostos pela Fazenda Pblica31.

    Em se tratando de procedimento, de acordo com os regramentos

    estabelecidos pelo pargrafo primeiro do artigo 475 do Cdigo de Processo

    Civil, obrigatrio ao juiz realizar a determinao da remessa dos autos para

    posterior reapreciao do Tribunal. Caso no o faa, poder determin-la a

    qualquer tempo, pois neste caso, no h que se falar em precluso e, no

    30Smula 325 STJ - A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenao suportadas pela Fazenda Pblica, inclusive os honorrios de advogado. 31PROCESSUAL CIVIL. EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA. EMBARGOS DA EXECUTADA. SENTENA QUE OS REJEITA. REMESSA EX OFFICIO. DESCABIMENTO. ALCANCE DOS ARTS. 475, II E 520, V, DO CPC. I - A sentena que rejeita ou julga improcedentes os embargos execuo opostos pela Fazenda Pblica no est sujeita ao reexame necessrio (art. 475, II, do CPC). (...) (AgRg no REsp 1079310/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2008, DJe 17/11/2008).

  • obstante, cabvel ao prprio Presidente do Tribunal avocar os autos,

    mediante provocao ou mesmo de ofcio32.

    Esto dispensados do reexame necessrio, de acordo com o

    pargrafo segundo do artigo 475, a condenao ou o direito controvertido que

    no excedam 60 (sessenta) salrios mnimos. Logo, no se admitir esta regra

    quando no se conhecer de antemo, o contedo econmico envolvido na

    demanda33.

    Do mesmo modo, no esto sujeitos ao duplo grau de jurisdio

    obrigatrio, as sentenas de mrito fundadas em jurisprudncia do plenrio do

    Supremo Tribunal Federal, bem como aquelas fundadas em smula deste

    mesmo Tribunal ou do Tribunal Superior competente, nos termos do pargrafo

    terceiro do artigo em questo34.

    Portanto, pode-se considerar que as sentenas de mrito ilquidas

    proferidas contra a Fazenda Pblica, as sentenas no enquadradas nas

    situaes do pargrafo supra e as que condenaram o Ente Pblico ao

    pagamento de valores superiores a 60 (sessenta) salrios mnimos, jamais

    transitam em julgado ainda que no haja recurso das partes, visto que haver

    como condio de eficcia da sentena, a reapreciao da matria pelo

    tribunal, atravs do reexame necessrio.

    32 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenar a remessa dos autos ao tribunal, haja ou no apelao; no o fazendo, dever o presidente do tribunal avoc-los.33 2 No se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenao, ou o direito controvertido, for de valor certo no excedente a 60 (sessenta) salrios mnimos, bem como no caso de procedncia dos embargos do devedor na execuo de dvida ativa do mesmo valor.34 3 Tambm no se aplica o disposto neste artigo quando a sentena estiver fundada em jurisprudncia do plenrio do Supremo Tribunal Federal ou em smula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

    o

  • III DA EXECUO POR QUANTIA CERTA EM FACE DA FAZENDA PBLICA 3.1 Do ttulo executivo

    Conforme j descrito anteriormente, o rito coercitivo em questo

    dever ser fundamentado pelo ttulo executivo, sendo que este dever

    preencher tanto seus pressupostos extrnsecos (requisitos formais), como os

    seus pressupostos intrnsecos (contedo).

    Sob o aspecto da forma, o ttulo executivo dever, dentre outras

    caractersticas formais peculiares a cada espcie, apresentar a forma escrita

    de modo que, se torne hbil a instruir o pedido inicial ou mesmo o requerimento

    de execuo.

    Com relao ao seu contedo, pacfico o entendimento de que os

    ttulos devero preencher os requisitos da certeza ( o atestado de constituio

    da obrigao podendo advir de um ttulo de crdito, da confisso do devedor ou

    mesmo de sentena judicial ou arbitral), da exigibilidade (possibilita o credor a

    exigir o cumprimento da obrigao lquida e certa, se caracterizando pelo

    interesse de agir) e da liquidez (se caracteriza pela individualizao do objeto

  • ou na determinao do montante devido, sendo que um ttulo ilquido para que

    se torne executivo, dever ser objeto de prvia liquidao)35.

    Ainda, podem ser os ttulos executivos, judiciais ou extrajudiciais.

    Em se tratando do presente trabalho, a redao dada pelo pargrafo

    primeiro do artigo 100 da Constituio Federal limita os ttulos com eficcia

    executiva contra a Fazenda Pblica, s sentenas judiciais transitadas em

    julgado, possibilitando o entendimento de que a execuo por quantia certa

    contra o Ente Pblico no seria possvel, em se tratando dos ttulos

    extrajudiciais 36.

    A smula 279 do STJ dirimiu qualquer dvida acerca do dispositivo

    estabelecido na Lei Maior, ao determinar o cabimento da execuo por ttulo

    executivo extrajudicial, em face da Fazenda Pblica37.

    No obstante, podem ser encontrados tanto na doutrina, quanto na

    jurisprudncia, vrios posicionamentos com o escopo de esclarecer o motivo

    de no haver que se falar em conflito com o dispositivo da Carta Magna.

    O presente trabalho vai destacar dois destes uma vez que, embora

    ambos defendam a admissibilidade da execuo extrajudicial em face do Ente

    Pblico, divergem acerca do seu procedimento.

    O primeiro entendimento vem originariamente do STJ, afirmando

    que o dispositivo constitucional dever ser analisado de modo extensivo,

    simplesmente por no haver qualquer distino entre os ttulos judicial e

    extrajudicial, feita pelo artigo 730 do Cdigo de Processo Civil38.

    Ora, no que tange ao requisito para a expedio do precatrio

    disposto no artigo 100 da Constituio Federal, por se tratar de execuo

    contra o Ente Pblico, sabido que no a sentena de mrito que 35 Art. 586 - A execuo para cobrana de crdito fundar-se- sempre em ttulo de obrigao certa, lquida e exigvel. 36 1 Os dbitos de natureza alimentcia compreendem aqueles decorrentes de salrios, vencimentos, proventos, penses e suas complementaes, benefcios previdencirios e indenizaes por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentena judicial transitada em julgado, e sero pagos com preferncia sobre todos os demais dbitos, exceto sobre aqueles referidos no 2 deste artigo.37 Smula 279 STJ cabvel execuo por ttulo extrajudicial contra a Fazenda Pblica. 38 PROCESSO CIVIL - EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA - TTULO EXTRAJUDICIAL. 1. admissvel, a execuo contra a Fazenda, seja o ttulo judicial ou extrajudicial, em interpretao extensiva do art. 730 do CPC. (...) (REsp 289421/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/03/2002, DJ 08/04/2002 p. 177).

  • necessariamente transitaria em julgado, mas sim, o acrdo em virtude do

    reexame necessrio.

    Portanto, seguindo este raciocnio, a expresso sentena judicial

    contida no dispositivo em anlise, no deve ser interpretada do modo restritivo,

    uma vez que a Carta Magna se refere a esta de modo amplo instituindo que,

    para que seja expedido, depende o precatrio de um ttulo executivo. De

    acordo com tal entendimento, ensina Leonardo Carneiro da Cunha:

    Ao se referir a sentena judiciria, a norma constitucional

    est, em verdade, estabelecendo que a expedio do

    precatrio depende de um ttulo executivo, ou seja, de

    qualquer ttulo executivo, judicial ou extrajudicial, no

    sendo possvel, bem por isso, expedir-se precatrio em

    razo de um ato administrativo ou de determinao do

    Poder Legislativo; sua expedio depende, sempre, de

    determinao judicial 39.

    Contudo deve-se salientar que, de acordo com esta corrente, por se

    tratar de execuo de ttulo extrajudicial, entende-se que ainda que no haja

    embargos por parte da Administrao Pblica, no se dever deixar de proferir

    sentena, uma vez que os embargos neste caso tero mais propriamente

    natureza de contestao.

    Neste sentido, ressalta Humberto Theodoro Jnior ao citar o Ministro Jos

    Augusto Delgado40:

    Como destaca o Ministro Jos Augusto Delgado,

    continua consolidada na jurisprudncia, embora no

    39 CUNHA, 2009, p. 329, op. cit. 40 Comearemos com a controvrsia que, penso, j est consolidada na jurisprudncia, embora no esteja na doutrina, de que o precatrio deve ser emitido tanto com base em ttulo judicial como em extrajudicial. Pelo menos a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia (STJ) est consolidada em que o precatrio convive com as execues judicial e extrajudicial. O nico cuidado que se precisa ter na execuo extrajudicial e se seguir todo o formalismo, sem se esquecer da aplicao do artigo 730 do Cdigo de Processo Civil. (DELGADO, Jos Augusto. Precatrio Judicial e Evoluo Histrica Advocacia Administrativa na Execuo Contra a Fazenda Pblica. Impenhorabilidade dos Bens Pblicos. Continuidade do Servio Pblico. In Srie Cadernos do CEJ; v. 23, p. 133. Disponvel em < http://www.cjf.jus.br/Publicacoes/Publicacoes.asp>. Acesso em 12/12/2009).

    http://www.cjf.jus.br/Publicacoes/Publicacoes.asp

  • esteja na doutrina, a inteligncia de que o precatrio deve

    ser emitido tanto com base em ttulo judicial como

    extrajudicial. O que adverte o ilustre Ministro - se deve

    ter o cuidado de, na execuo do ttulo extrajudicial,

    seguir todo o formalismo legal, sem se esquecer da

    aplicao do art. 730 do Cdigo de Processo Civil. Em

    outras palavras, no se pode deixar de proferir sentena,

    quer ocorra ou no a oposio de embargos, os quais, no

    rito especial do art. 730 citado tem mais a natureza de

    contestao do que a de embargos propriamente ditos 41.

    O segundo entendimento vem do STF afirmando que, nestes casos,

    o artigo 730 do CPC dever ser interpretado em consonncia com o pargrafo

    1 do artigo 100 da Carta Magna e, considerando ainda a sentena proferida

    nos embargos execuo de ttulo executivo extrajudicial em face da

    Administrao Pblica, como sentena condenatria sujeita ao reexame

    necessrio.

    Deste modo, o posicionamento no pacificado por esta Corte

    Suprema aduz que, de acordo com procedimento deduzido a partir da

    interpretao do artigo 730 do CPC, determina-se que os embargos cabveis

    contra o despacho que determina o pagamento ou o cumprimento da obrigao

    contida no ttulo extrajudicial, sero anlogos contestao e, neste caso,

    ainda que no sejam os mesmos opostos, dever se proferir uma sentena

    sujeita ao duplo grau de jurisdio42.

    41 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execuo Contra a Fazenda Pblica e os Crnicos Problemas do Precatrio. In: VAZ, Orlando (Organizador). Precatrios: Problemas e Solues. Belo Horizonte: Del Rey; Centro Jurdico Brasileiro, 2005. p. 48. 42EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA: TTULO EXTRAJUDICIAL. CF, art. 100, 1. CPC, art. 730. I. - O art. 730, CPC, dever ser interpretado em harmonia com o art. 100, 1, da Constituio Federal (EC 30/2000), que estabelece que a execuo contra a Fazenda Pblica, mediante precatrio, pressupe, sempre, sentena condenatria passada em julgado. Dessa forma, o art. 730, CPC, h de ser interpretado assim: a) os embargos, ali mencionados, devem ser tidos como contestao, com incidncia da regra do art. 188, CPC; b) se tais embargos no forem opostos, dever o juiz proferir sentena, que estar sujeita ao duplo grau de jurisdio (CPC, art. 475, I); c) com o trnsito em julgado da sentena condenatria, o juiz requisitar o pagamento, por intermdio do Presidente do Tribunal, que providenciar o precatrio. (...) (RE 421233 AgR, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 15/06/2004, DJ 06-06-2004 PP-00056 EMENT VOL-02158-10 PP-01899).

  • Observa-se que os posicionamentos demonstrados defenderam

    procedimentos distintos contra o Ente Pblico. Contudo, ambos os

    entendimentos convergem no ponto de que uma sentena dever ser proferida,

    ainda que a Fazenda no embargue tal execuo.

    O presente trabalho ousar se posicionar em contrrio a segunda

    corrente demonstrada, oriunda de deciso da Corte Suprema, se baseando nos

    ensinamentos de Humberto Theodoro Junior:

    Judicial ou extrajudicial, o ttulo pouco importa, j que o

    procedimento legal um s. A soluo correta sem

    dvida a do STJ, que, alis, tem a ltima palavra na

    interpretao da lei federal ordinria: o prazo do art. 730

    no se amplia a benefcio da Fazenda executada pela

    bvia razo de que foi estabelecido pela lei exclusiva e

    especificamente para a prpria Fazenda Pblica 43.

    Desta maneira, no haver que se falar na aplicao do artigo 188

    do CPC aos embargos44, tampouco no reexame necessrio da sentena dos

    mesmos uma vez que, como j supra mencionado, o reexame necessrio do

    inciso II do artigo 475 s se verifica nos casos de embargos julgados

    procedentes, em se tratando de execuo de dvida ativa45. Apenas dever se

    observar que, de acordo com o procedimento defendido por esta corrente, h

    43 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execuo Contra a Fazenda Pblica e os Crnicos Problemas do Precatrio. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 49. op. cit. 44PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS EXECUO OPOSTOS PELA FAZENDA PBLICA. PRAZO. ART. 730 DO CPC. INAPLICABILIDADE DO ART. 188 DO CPC. DISSDIO PRETORIANO. SMULA N. 83/STJ. PRECEDENTES. 1. O STJ firmou o entendimento de que de dez dias, nos termos da legislao processual ento vigente (art. 730 do CPC), o prazo de que dispe a Fazenda pblica para opor embargos execuo. Inaplicabilidade do art. 188 do CPC. (...) (REsp 248.717/PB, Rel. Ministro OO OTVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/10/2005, DJ 13/03/2006 p. 233). 45PROCESSUAL CIVIL. FAZENDA PBLICA ESTADUAL. EMBARGOS EXECUO REJEITADOS. REEXAME NECESSRIO. INAPLICABILIDADE. 1. O CPC, art. 475, ao tratar do reexame obrigatrio em favor da Fazenda Pblica, includas as Autarquias e Fundaes Pblicas, no tocante ao processo de execuo, limitou o seu cabimento apenas hiptese de procedncia dos embargos opostos em execuo de dvida ativa (inciso II). No h, pois, que estend-lo aos demais casos. (...) (EREsp 251841/SP, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL, CORTE ESPECIAL, julgado em 25/03/2004, DJ 03/05/2004 p. 85).

  • de ser prolatada uma sentena, ainda que no ocorra a oposio de embargos

    por parte da Administrao Pblica.

    3.2 Da liquidao de sentena Uma vez transitada em julgado, a sentena proferida contra a

    Fazenda Pblica pode ser ilquida, excetuada a regra prevista no pargrafo

    terceiro do artigo 475-A, que obsta a sentena ilquida nas hipteses

    reservadas pelo Cdigo de Processo Civil ao procedimento sumrio46.

    Logo, em se tratando do ttulo executivo judicial que no fixou o valor

    da condenao, para que se possa dar ensejo execuo deste, dever-se-

    realizar, neste caso, prvio procedimento de liquidao. No caso em tela, deve

    se seguir o sistema estabelecido a partir artigo 475-A at o artigo 475-H do

    Cdigo de Processo Civil.

    Este se inicia a partir do requerimento da parte interessada devendo

    ento ser a Fazenda intimada na pessoa do seu procurador para resposta,

    ressaltando-se que o procedimento de liquidao limitado pela deciso

    proferida que transitou em julgado ou que esteja pendente de recurso, devendo

    seu objeto ser restrito ao quantum debeatur. Logo, no h que se falar em

    rediscusso da lide neste caso, tampouco em modificao da deciso ilquida

    proferida, que deu ensejo a este procedimento.

    Pode-se dizer que existem duas modalidades de liquidao, quais

    sejam, a por arbitramento e a por artigos.

    De acordo com o artigo 475-B, no caso de operao aritmtica para

    se determinar a quantia devida, dever o prprio credor, quando do

    requerimento da execuo, apresentar a memria discriminada de clculo

    devidamente atualizada47, dispositivo que, como se v, contribui sobremaneira

    para a celeridade e economia processual. Neste sentido, explica o Magistrado

    Mauro Spalding:

    Se naquelas situaes (cumprimento de sentena pelo

    devedor privado) a prpria Lei continuou permitindo a 46 3o Nos processos sob procedimento comum sumrio, referidos no art. 275, inciso II, alneas d e e desta Lei, defesa a sentena ilquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudente critrio, o valor devido. 47 Art. 475-B - Quando a determinao do valor da condenao depender apenas de clculo aritmtico, o credor requerer o cumprimento da sentena, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memria discriminada e atualizada do clculo.

  • liquidao mediante clculos aritmticos, com muito mais

    razo nas execues contra a Fazenda Pblica que, a

    exigir processo autnomo de execuo, impe uma maior

    celeridade nas situaes em que se est a exigir a

    apurao do quantum debeatur 48.

    Uma vez necessrio para que se viabilize a elaborao da memria

    de clculo, poder a parte interessada requerer ao juiz que determine a entrega

    de dados, que estejam em poder da parte contrria ou de terceiros, no prazo

    de trinta dias sob pena de os clculos apresentados pelo credor serem

    reputados corretos, nos termos do pargrafo primeiro do artigo 475-B do

    Cdigo de Processo Civil49.

    Ainda, poder o juiz se valer do contador judicial nas hipteses

    ilustradas no pargrafo terceiro do artigo 475-B da Lei Adjetiva Civil, ou seja,

    quando se tratar dos casos em que o credor beneficirio de assistncia

    judiciria ou quando a memria de clculo apresentada por este aparentar

    exceder os limites da deciso exeqenda50.

    3.2.1 Liquidao por arbitramento Dar-se- a liquidao por arbitramento quando a sentena assim o

    determinar, as partes transigirem ou a natureza do objeto da liquidao exigir

    tal procedimento. Esse modo de liquidao ser realizado quando a

    determinao da quantia devida depender de apurao prvia de um perito51.

    Neste caso, uma vez requerido pela parte, o juiz nomear o perito

    fixando prazo para que este entregue seu laudo. O devedor intimado na 48 SPALDING. 2008. p. 84. op. cit. 49 1o Quando a elaborao da memria do clculo depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poder requisit-los, fixando prazo de at trinta dias para o cumprimento da diligncia. 50 3o Poder o juiz valer-se do contador do juzo, quando a memria apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da deciso exeqenda e, ainda, nos casos de assistncia judiciria.51 PROCESSUAL CIVIL EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA ILIQUIDEZ DO TTULO JUDICIAL VIOLAO DO ART. 535 DO CPC INEXISTNCIA COISA JULGADA LIQUIDAO POR ARBITRAMENTO E NO POR ARTIGOS EXPURGOS INFLACIONRIOS INCLUSO NA CONTA DE LIQUIDAO POSSIBILIDADE. (...) 4. Hiptese dos autos que, pela natureza do objeto a ser liquidado, demanda a realizao de percia para apurao do quantum debeatur, o que atrai a incidncia do inc. II do art. 475-C do CPC, que dispe sobre a liquidao por arbitramento. (...) (REsp 1026109/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/09/2008, DJe 14/10/2008).

  • pessoa do seu advogado para que acompanhe o procedimento liquidatrio,

    podendo indicar assistente tcnico, bem como apresentar quesitos. Uma vez

    apresentado o laudo, as partes podero se manifestar no prazo de dez dias. O

    juiz ento ir proferir a deciso tornando lquida a condenao sendo que,

    contra tal deciso, caber agravo de instrumento.

    3.2.2 Liquidao por artigos Haver a necessidade de se empregar esta modalidade de

    liquidao quando, para que seja vivel a determinao do valor da

    condenao, surgir a necessidade de alegao e prova de fato novo, no

    necessariamente superveniente a sentena, mas sim aquele fato que ir

    repercutir no valor da condenao, que deixou de ser considerado na deciso

    proferida. Este fato novo dever estar diretamente relacionado com a

    determinao da quantia devida.

    Na liquidao por artigos o procedimento ser o comum, podendo o

    rito ser ordinrio ou sumrio, dependendo do valor da obrigao. O devedor

    ser intimado na pessoa do seu advogado a impugnar os fatos novos, sendo

    admitida a dilao probatria e percia, se necessrio for. O juiz ento ir

    proferir deciso tornando lquida a obrigao desta, cabendo agravo de

    instrumento.

    3.3 Do no cabimento do cumprimento de sentena Conforme demonstrado anteriormente, percebe-se que as novas

    regras da liquidao de sentena podem se aplicar Fazenda Pblica.

    Todavia, o mesmo no ocorre com o cumprimento de sentena, quando o Ente

    Pblico estiver no plo passivo da ao.

    Atualmente, a ao de execuo de sentena condenatria a

    prestao de quantia certa deu lugar ao cumprimento de sentena,

    estabelecido pela lei 11.232 de 22 de dezembro de 2005, que se caracteriza

    por um procedimento incidental que acontece nos prprios autos em que se

    proferiu a condenao, sem a necessidade de instaurao de um processo

    autnomo, tampouco de nova citao do devedor sendo agora este, intimado

    na pessoa de seu advogado. Em outras palavras, no mais se encontram

    separados o procedimento cognitivo e o procedimento executivo.

  • Contudo, afirma-se que o sistema dualstico foi mantido para as

    demandas que visam o adimplemento das obrigaes pelo Poder Pblico.

    Humberto Theodoro Jnior bem explica o caso em tela:

    Quer isto dizer que, em tais aes, a sentena de mrito

    continua sendo o ato pelo qual o rgo judicial cumpre e

    acaba o ofcio jurisdicional, no processo de

    conhecimento, tal como dispunha o art. 463 em sua

    redao anterior Lei n 11.232/2005 52.

    Assim, uma vez publicada a deciso contrria ao Ente Pblico,

    necessrio ser que o credor proponha uma nova demanda por meio de

    petio inicial, requerendo a citao da Fazenda Pblica para a oposio de

    embargos execuo, nos termos do artigo 730 do Cdigo de Processo Civil53.

    Compete salientar que, nos termos do inciso dois do artigo 575 do

    CPC, a ao de execuo fundada em ttulo judicial contra a Fazenda Pblica

    ser processada pelo mesmo juzo que julgou a ao de conhecimento e deu

    ensejo ao surgimento do ttulo executivo54.

    3.4 Dos embargos execuo Os embargos execuo constituem um meio de defesa do

    executado em verdadeira ao incidental ao processo de execuo, os quais

    podem versar sobre condies da ao, sobre o mrito ou sobre matria

    processual.

    52 JUNIOR, 2009, p. 374, op. cit. 53PROCESSUAL CIVIL. EXECUO DE TTULO JUDICIAL CONTRA A FAZENDA PBLICA. EMBARGOS. EXCESSO DE EXECUO. NECESSIDADE DE INDICAO DO VALOR CORRETO. MEMRIA DE CLCULOS. 1. No incidem as disposies concernentes ao "cumprimento de sentena" nas execues por quantia certa contra a Fazenda Pblica, dada a existncia de rito prprio (art. 730 do CPC). (...) (REsp 1099897/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 20/04/2009). 54 Art. 575 - A execuo, fundada em ttulo judicial, processar-se- perante: (...) II - o juzo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdio; (...).

  • O prazo para o Ente Pblico opor os embargos execuo de 30

    (trinta) dias, de acordo com o artigo 1 - B da Lei 9.494 de 10 de setembro de

    97, com redao da Medida Provisria 2.180-35/200155.

    Tal prazo contado a partir da data da juntada do mandado de

    citao, uma vez que o Ente Pblico citado para opor tais embargos e no

    para o pagamento, em virtude da impenhorabilidade dos bens pblicos sendo

    bvio que, no caso em tela, no se aplicar multa de 10% (dez por cento)

    prevista no artigo 475-J da Lei Adjetiva56.

    Mencionamos novamente que no se aplica o cumprimento de

    sentena contra a Administrao Pblica, j que a execuo por quantia certa

    em face desta, se d atravs de procedimento autnomo ensejando citao,

    bem como a oposio de embargos.

    Nota-se que parte considervel da doutrina e da jurisprudncia

    defende o no cabimento do efeito suspensivo dos embargos opostos pela

    Fazenda Pblica, excetuada a previso do pargrafo primeiro do artigo 739-A,

    alegando que os regramentos do procedimento de execuo em face do Ente

    Pblico nada dispem a respeito, valendo para esta situao, as normas

    gerais57.

    Contudo este trabalho pede vnia para discordar do

    posicionamento acima. que no se aplica ao procedimento de execuo por

    quantia certa contra a Fazenda Pblica, o dispositivo do pargrafo primeiro do

    artigo 739-A do Cdigo de Processo Civil58.

    Ora, sabido que no procedimento executrio contra a

    Administrao Pblica no h a sujeio do Ente Pblico penhora, a cauo

    e tampouco ao depsito, conforme dispe o pargrafo supracitado. No

    obstante, a expedio do precatrio ou requisio de pequeno valor, depende 55Art. 1 -B - o O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Cdigo de Processo Civil, e 884 da Consolidao das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1o o de maio de 1943, passa a ser de trinta dias56475-J - Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou j fixada em liquidao, no o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenao ser acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se- mandado de penhora e avaliao.57 NEGRO, Theotonio; GOUVEA, Jos Roberto Ferreira. Cdigo de Processo Civil e Legislao Processual em Vigor. 41. ed. So Paulo: Saraiva, 2009. p. 949. 581 O juiz poder, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execuo manifestamente possa causar ao executado grave dano de difcil ou incerta reparao, e desde que a execuo j esteja garantida por penhora, depsito ou cauo suficientes.

    http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/L5869.htm#art730

  • de prvio trnsito em julgado de modo que, s poder se determinar o

    pagamento, quando nada mais houver a ser apurado com relao ao valor

    executado, uma vez que j se encontra resolvido o processo de conhecimento

    e o procedimento de liquidao (se houver).

    Logo, foroso admitir que, em se havendo a oposio dos

    embargos execuo, o trnsito em julgado a que se refere o pargrafo

    primeiro do artigo 100 o da sentena que julgar os embargos execuo ou,

    mais precisamente, do acrdo que julgar a respectiva apelao, caso haja.

    Neste sentido, colhe-se explanao oportuna de Leonardo Carneiro da Cunha:

    Em outras palavras, o precatrio ou a requisio de

    pequeno valor somente se expede depois de no mais

    haver qualquer discusso quanto ao valor executado,

    valendo dizer que tal expedio depende do trnsito em

    julgado da sentena que julgar os embargos 59.

    Portanto, os embargos execuo contra o Ente Pblico devem ser

    recebidos no efeito suspensivo, pois somente estando dirimida a controvrsia

    que ser expedido o precatrio ou a requisio de pequeno valor, mediante a

    apresentao da certido de trnsito em julgado da sentena que julgar os

    embargos execuo.

    No mesmo sentido, o Magistrado Mauro Spalding afirma que

    recebidos os embargos do devedor, o processo de execuo dever ser

    suspenso, sendo este o principal efeito de sua oposio 60.

    Ainda, cabvel a aplicao do pargrafo terceiro do artigo 739-A do

    CPC61, sendo que deste modo, prosseguir a execuo com relao parte

    que no foi embargada, ou seja, dever ser expedido o precatrio com relao

    ao valor incontroverso62.

    59 CUNHA, 2009. p. 272. op. cit. 60 SPALDING. 2008. p. 84. op. cit. 61 3 Quando o efeito suspensivo atribudo aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da execuo, essa prosseguir quanto parte restante.62EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINRIO. EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA. PRECATRIO. PARTE INCONTROVERSA DOS VALORES DEVIDOS. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. A jurisprudncia deste Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que, na execuo contra a Fazenda Pblica, a expedio de precatrio referente parte incontroversa dos valores devidos no afronta a Constituio da

  • Deve-se esclarecer que tal situao no se confunde com o

    fracionamento do valor devido para que se viabilize seu recebimento pelo

    exeqente parte por precatrio e parte por requisio de pequeno valor,

    procedimento que, por sua vez, expressamente vedado pelo pargrafo oitavo

    do artigo 100 da Carta Magna63.

    A petio inicial dos embargos execuo, sendo que estes so

    distribudos por dependncia e autuados em apenso junto ao processo

    principal, dever atender aos dispositivos dos artigos 282 e 283 do CPC, alm

    de conter o valor da causa. Este, por sua vez, dever ser mensurado a partir do

    proveito econmico, de acordo com o que for impugnado pelo embargante64.

    Se os embargos se voltam contra a totalidade do valor executado, o

    valor da causa dever se equivaler ao valor da execuo j que, neste caso, o

    proveito econmico significa deixar de adimplir o valor cobrado pelo

    exeqente65.

    Por outro lado, se a alegao em matria de defesa versar sobre o

    excesso de execuo, o valor da causa dever corresponder diferena entre

    o que se exige o exeqente e o que foi reconhecido pelo executado, em sede

    de embargos66.

    Repblica. (RE 504128 AgR, Relator(a): Min. CRMEN LCIA, Primeira Turma, julgado em 23/10/2007, DJe-157 DIVULG 06-12-2007 PUBLIC 07-12-2007 DJ 07-12-2007 PP-00055 EMENT VOL-02302-04 PP-00829).63 8 vedada a expedio de precatrios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartio ou quebra do valor da execuo para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispe o 3 deste artigo.64 PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS EXECUO - FUNDAMENTADO EM EXCESSO DE EXECUO - IMPUGNAO AO VALOR DA CAUSA - VALOR CORRESPONDENTE AO PROVEITO ECONMICO. 1. Nos embargos execuo fundamentados em excesso do montante requerido, o valor da causa deve ser fixado com base no proveito econmico visado pelo embargado, correspondendo diferena entre o valor da execuo e o valor entendido como devido pelo embargante. (...) (AG 2004.01.00.016460-0/DF, Primeira Turma, Rel. Des. Federal Jos Amilcar Machado, DJ 16/08/2004, p.35). 65 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS EXECUO. VALOR DA CAUSA. ART. 259, CPC. IMPUGNAO TOTAL. VALOR DA DVIDA EXEQENDA. RECURSO DESACOLHIDO. - O valor da causa nos embargos execuo deve ser o valor da dvida exeqenda se o embargante ataca a execuo pela integralidade dos valores cobrados. (REsp 119.815/RS, Rel. Ministro SLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 24/06/1998, DJ 21/09/1998 p. 173). 66RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIOLAO DO ARTIGO 535 DO CPC. INOCORRNCIA. QUESTO APRECIADA. VALOR DA CAUSA. ALTERAO EX OFFICIO. EMBARGOS EXECUO. (...)

  • Uma vez recebidos os embargos, o magistrado determina a

    intimao do exeqente para se manifestar no prazo de quinze dias.

    Estes so julgados por sentena. A sentena que julga procedente

    os embargos ter natureza constitutiva negativa (desconstitui o ttulo

    executivo)67. A sentena que julga improcedente os embargos meramente

    declaratria j que, no caso em tela, prosseguir-se- com a execuo.

    O artigo 739 do CPC dispe sobre os casos de rejeio liminar dos

    embargos, que vo se configurar quando estes forem intempestivos, quando a

    petio inicial for inepta ou quando os embargos forem manifestamente

    protelatrios68.

    Contudo, deve se observar o dispositivo do pargrafo quinto deste

    artigo que tambm inclui na hiptese de rejeio liminar dos embargos, em se

    tratando de excesso de execuo, o no apontamento dos valores que o

    embargado entende ser correto, mediante apresentao de memria de

    clculo69.

    Uma vez proposta execuo contra a Fazenda Pblica fundada em

    ttulo judicial, tambm poder se falar em rejeio liminar dos embargos,

    quando versarem sobre situaes no previstas no artigo 741 do CPC.

    Conforme j anteriormente frisado, a sentena que julgar os embargos no

    estar sujeita ao reexame necessrio.

    Sejam os embargos julgados improcedentes ou rejeitados

    liminarmente, o recurso cabvel ser o de apelao devendo-se lembrar que,

    4. A jurisprudncia desta Corte firme na compreenso de que, em sendo os embargos do devedor parciais, o valor da causa deve corresponder diferena entre o total executado e o reconhecido como devido. 5. Recurso provido. (Acrdo unnime da 6 Turma do STJ, REsp 753147, rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 03/10/2006, DJ de 05/02/2007, p. 412). 67 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS EXECUO. HONORRIOS ADVOCATCIOS. CPC, ART. 20, 4.. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. NO OCORRNCIA. I - Os embargos execuo, julgados procedentes, tm natureza constitutiva, e no condenatria (...) (REsp 330295/CE, Rel. Ministro ANTNIO DE PDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2004, DJ 22/11/2004 p. 330). 68 Art. 739 - O juiz rejeitar liminarmente os embargos: I - quando intempestivos; II - quando inepta a petio (art. 295); III - quando manifestamente protelatrios. 69 5o Quando o excesso de execuo for fundamento dos embargos, o embargante dever declarar na petio inicial o valor que entende correto, apresentando memria do clculo, sob pena de rejeio liminar dos embargos ou de no conhecimento desse fundamento.

  • de acordo com a letra da lei do inciso cinco do artigo 520 do CPC, sendo estes

    julgados improcedentes ou em caso de rejeio liminar, a apelao ter efeito

    apenas devolutivo70.

    Este dispositivo atualmente cabvel apenas no caso de embargos

    execuo fundada em ttulo extrajudicial entre particulares, no sendo mais

    admissvel em caso de ttulo judicial, pois neste caso, dentro do cumprimento

    de sentena, no h embargos, mas sim impugnao, cujo recurso oportuno

    em caso de rejeio o agravo.

    Do mesmo modo, defende-se a no aplicabilidade deste dispositivo

    s execues por quantia certa em face da Fazenda Pblica seja o ttulo

    judicial ou extrajudicial.

    E o motivo, como j explanado anteriormente, a necessidade

    prevista em lei de se determinar o pagamento apenas quando no mais houver

    controvrsia acerca do valor executado. De acordo com Leonardo Carneiro da

    Cunha, o entendimento no outro:

    O recebimento da apelao apenas no efeito devolutivo,

    no caso de execuo contra a fazenda pblica,

    totalmente inoperante e ineficaz, visto que, enquanto no

    confirmados ou estabelecidos, definitivamente, os valores

    a serem inscritos em precatrios ou requisitados por RPV,

    no se pode prosseguir na execuo 71.

    Conforme visto, a norma constitucional apresenta um impedimento

    ao curso da execuo enquanto houver controvrsia pendente acerca do valor

    devido pelo Ente Pblico, sendo necessrio ento que a apelao seja

    recebida necessariamente no duplo efeito.

    3.4.1 Da matria a ser abordada pelos embargos execuo 70Art. 520 - A apelao ser recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Ser, no entanto, recebida s no efeito devolutivo, quando interposta de sentena que: (...) V - rejeitar liminarmente embargos execuo ou julg-los improcedentes; (...). 71 CUNHA, 2009. p. 276. op. cit.

  • O contedo dos embargos opostos pelo Ente Pblico receber

    tratamento diverso previsto pelo Diploma Adjetivo ptrio, uma vez sejam estes

    incidentes execuo fundada em ttulo judicial ou execuo fundada em

    ttulo extrajudicial.

    Quando opostos contra demanda fundada em ttulo judicial, devero

    os embargos dispor somente sobre a matria prevista no rol taxativo do artigo

    741 do Cdigo de Processo Civil, que assim estabelece72:

    falta ou nulidade de citao se o processo correu

    revelia; inexigibilidade do ttulo; ilegitimidade das partes;

    cumulao indevida de execues; excesso de execuo;

    qualquer causa modificativa, impeditiva ou extintiva da

    obrigao, desde que superveniente sentena;

    incompetncia do juzo da execuo, bem como

    suspeio ou impedimento do juiz; sentena fundada em

    lei ou ato normativo reputado inconstitucional pelo

    Supremo Tribunal Federal

    Neste caso, a Fazenda Pblica poder tratar apenas de matria

    superveniente formao do ttulo executivo, uma vez que as questes

    anteriores se tornam imutveis pela coisa julgada material. Esta regra no se

    aplica, contudo, ao caso de falta ou nulidade de citao se o processo correu

    revelia, bem como em se tratando de sentena fundada em lei ou ato normativo

    inconstitucional, conforme institudo no pargrafo nico do artigo 741 do CPC.

    Quando opostos em face de demanda fundada em ttulo

    extrajudicial, o mesmo no ocorre com a matria a ser alegada em sede de

    embargos. Esta no deve ser restrita apenas ao rol taxativo do artigo 741 do

    CPC, sendo admissvel que tambm possa o Ente Pblico abordar as

    situaes previstas no artigo 745 do CPC uma vez que no h que se falar

    neste caso, de precluso, tampouco sobre trnsito em julgado no que tange ao

    72 BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Cdigo de Processo Civil. Braslia, DF: Congresso Nacional, 1973. Disponvel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 10/02/2010.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm

  • ttulo executivo sendo cabvel, portanto, que se abordem questes acerca da

    relao jurdica que deu origem ao dbito, quais sejam73:

    nulidade da execuo, por no ser executivo o ttulo

    apresentado; penhora incorreta ou avaliao

    errnea; excesso de execuo ou cumulao indevida de

    execues; reteno por benfeitorias necessrias ou

    teis, nos casos de ttulo para entrega de coisa certa (art.

    621); qualquer matria que lhe seria lcito deduzir como

    defesa em processo de conhecimento.

    Conclui-se que, quando a execuo contra o Ente Pblico se fundar

    em ttulo extrajudicial, poder o executado em sede de embargos valer-se de

    qualquer matria alegvel em contestao de um procedimento cognitivo, nos

    termos do inciso V do artigo 745, no devendo haver limitao ou restrio.

    No que tange aos honorrios advocatcios, entende-se que sero

    indevidos naquelas execues em que a Fazenda Pblica no embargou,

    ressalva feita s obrigaes de pequeno valor, de acordo com posicionamento

    consolidado pelo STF74.

    3.5 Do no cabimento de execuo provisria contra a fazenda pblica inegvel que, resta autorizada pela Lei Adjetiva do nosso pas a

    execuo provisria tanto quando fundada em ttulo judicial como quando

    fundada em ttulo extrajudicial.

    Sobre a primeira hiptese, dispe o pargrafo primeiro do artigo 475

    I do Cdigo de Processo Civil, admitindo tal possibilidade quando houver

    recurso pendente ao qual no foi atribudo efeito suspensivo75.

    73 BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Cdigo de Processo Civil. Braslia, DF: Congresso Nacional, 1973. Disponvel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 10/02/2010. 74 EMENTA: EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA. SENTENA ORIUNDA DE AO COLETIVA. HONORRIOS ADVOCATCIOS. So indevidos honorrios advocatcios quando a execuo no tiver sido embargada. Exceo quanto s obrigaes de pequeno valor. (...) (RE 435757 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 04/12/2009, DJe-022 DIVULG 04-02-2010 PUBLIC 05-02-2010 EMENT VOL-02388-03 PP-00504).75 1o definitiva a execuo da sentena transitada em julgado e provisria quando se tratar de sentena impugnada mediante recurso ao qual no foi atribudo efeito suspensivo.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm

  • Sobre a segunda hiptese, reza o artigo 587 do CPC que poder ser

    aplicado o procedimento da execuo provisria no caso de recurso de

    apelao pendente em face da sentena que julgou improcedente os

    embargos, uma vez tendo sido estes recebidos no efeito suspensivo76.

    Antes da Emenda Constitucional 30/2000, conforme entendimento

    do prprio STF, no havia que se falar em no cabimento de execuo

    provisria contra a Administrao Pblica. Isto porque, foi esta Emenda que

    passou a condicionar a expedio do precatrio, ao trnsito em julgado da

    sentena judiciria. Em outras palavras, at ento, a expedio do precatrio

    no se condicionava coisa julgada77.

    Acompanhava este entendimento o Superior Tribunal de Justia,

    simplesmente por no haver dispositivo legal que se impedisse a execuo

    provisria em face do Ente Pblico78.

    Em contrapartida, aps o advento da Emenda 30/2000 e, em se

    analisando o pargrafo primeiro do artigo 100 da Constituio Federal, com a

    nova redao dada pela Emenda 62/2009, observa-se a exigncia, como

    condio para a expedio do precatrio, do prvio trnsito em julgado da

    sentena.

    Este dispositivo impossibilita, de acordo com o STJ, a execuo

    provisria em face do Ente Pblico uma vez que, estando o precatrio inscrito,

    passa ento a integrar o respectivo oramento no devendo ter outra

    destinao que no seja o pagamento ao credor79.

    76 Art. 587 - definitiva a execuo fundada em ttulo extrajudicial; provisria enquanto pendente apelao da sentena de improcedncia dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).77 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINRIO. EXECUO PROVISRIA CONTRA A FAZENDA PBLICA. PERODO ANTERIOR EMENDA CONSTITUCIONAL N. 30/2000. AFRONTA AO ART. 100 DA CONSTITUIO DA REPBLICA. INOCORRNCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (RE 480242 AgR, Relator(a): Min. CRMEN LCIA, Primeira Turma, julgado em 31/05/2007, DJe-072 DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007 PP-00081 EMENT VOL-02283-06 PP-01257).78PROCESSUAL - EXECUO CONTRA A FAZENDA PUBLICA - EXECUO PROVISORIA - POSSIBILIDADE - O ART. 730 DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL NO IMPEDE A EXECUO PROVISORIA DE SENTENA CONTRA A FAZENDA PUBLICA. (REsp 56239/PR, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEI