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DIREITO CIVIL Prof. Cristiano de Souza 1 CURSO DE DIREITO CIVIL PARTE GERAL PESSOAS NATURAIS 1. Das Pessoas Naturais 1.1. Da Personalidade da Pessoa Natural Toda pessoa é capaz de direitos (+) e deveres (-) na ordem civil”. Assim, são considerados sujeitos de direitos as pessoas físicas (naturais) e pessoas jurídicas (morais), desde que detentoras de personalidade civil. No entanto, é preciso distinguir a personalidade civil da personalidade jurídica para melhor entender todo o sistema do Código Civil Brasileiro. Nesse sentido, conceituamos: a) Personalidade Civil da Pessoa Natural: começa com o nascimento com vida. Considera-se o início da personalidade pela respiração, pouco importando a ruptura do cordão umbilical, conhecido pela Docimasia Hidrostática de Galeno. Nesse sentido está disciplinado no art. 53, §2º da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). Art. 53. No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter morrido na ocasião do parto, será, não obstante, feito o assento com os elementos que couberem e com remissão ao do óbito. § 2º No caso de a criança morrer na ocasião do parto, tendo, entretanto, respirado, serão feitos os dois assentos, o de nascimento e o de óbito, com os elementos cabíveis e com remissões recíprocas. b) Personalidade Jurídica da Pessoa Natural: é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica. OBS: Existem entes que não possuem personalidade, chamados “entes despersonalizados”. Ex: massa falida, espólio, sociedade de fato, condomínio. Assim, esses entes despersonificados não possuem personalidade jurídica, pois não tem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Mas, é admitido que exerçam alguns direitos e sejam cobrados por deveres de algumas obrigações. OBS: Considera-se o inicio da personalidade jurídica desde a concepção, assim o nascituro já tem personalidade jurídica podendo ser titular de direitos e contrair obrigações. Sendo assim, o CC/02 adotou a Teoria Concepcionista. 1.2. Da Capacidade da Pessoa Natural 1.2.1. Capacidade de Direito = de Gozo = Jurídica

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DIREITO CIVIL Prof. Cristiano de Souza

1

CURSO DE DIREITO CIVIL

PARTE GERAL

PESSOAS NATURAIS

1. Das Pessoas Naturais

1.1. Da Personalidade da Pessoa Natural

“Toda pessoa é capaz de direitos (+) e deveres (-) na ordem civil”. Assim, são considerados sujeitos de direitos as pessoas físicas (naturais) e pessoas jurídicas (morais), desde que detentoras de personalidade civil. No entanto, é preciso distinguir a personalidade civil da personalidade jurídica para melhor entender todo o sistema do Código Civil Brasileiro. Nesse sentido, conceituamos:

a) Personalidade Civil da Pessoa Natural: começa com o nascimento com vida. Considera-se o início da personalidade pela respiração, pouco importando a ruptura do cordão umbilical, conhecido pela Docimasia Hidrostática

de Galeno. Nesse sentido está disciplinado no art. 53, §2º da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos).

Art. 53. No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter

morrido na ocasião do parto, será, não obstante, feito o assento com os

elementos que couberem e com remissão ao do óbito.

§ 2º No caso de a criança morrer na ocasião do parto,

tendo, entretanto, respirado, serão feitos os dois assentos, o de

nascimento e o de óbito, com os elementos cabíveis e com remissões

recíprocas.

b) Personalidade Jurídica da Pessoa Natural: é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica.

OBS: Existem entes que não possuem personalidade, chamados “entes

despersonalizados”. Ex: massa falida, espólio, sociedade de fato, condomínio.

Assim, esses entes despersonificados não possuem personalidade jurídica, pois não tem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Mas, é admitido que exerçam alguns direitos e sejam cobrados por deveres de algumas obrigações.

OBS: Considera-se o inicio da personalidade jurídica desde a concepção, assim o nascituro já tem personalidade jurídica podendo ser titular de direitos e contrair obrigações. Sendo assim, o CC/02 adotou a Teoria Concepcionista.

1.2. Da Capacidade da Pessoa Natural

1.2.1. Capacidade de Direito = de Gozo = Jurídica

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2 É própria de cada ser humano desde o momento que começa a respirar

e só perde quando morre.

1.2.2. Capacidade de Fato = de Exercício = de Ação.

Somente se adquire essa capacidade com a plenitude da consciência e da vontade. Assim, nem todas as pessoas que possuem capacidade de direito tem capacidade de fato. Ainda, poderá ocorrer a maioridade civil da pessoa e, mesmo assim, não ter adquirido a capacidade de fato.

OBS: a Capacidade Plena da pessoa humana somente ocorre quando implementado as duas espécies de capacidade. (de direito + de fato).

1.3. Da Incapacidade da Pessoa Natural

O instituto da incapacidade existe para proteger as pessoas que estão legalmente restritas a determinadas práticas na vida civil. Nesse sentido o CC/02 separa a incapacidade por graus:

1.3.1. Dos Absolutamente Incapazes

As questões mais cobradas em provas são quanto a nulidade dos negócios jurídicos realizados pelos incapazes. Nesse sentido, o inc. I do art. 166 c/c inc. I do art. 104, ambos do CC/02, versam quanto aos atos praticados pelos absolutamente incapazes. Caso o incapaz não esteja representado, o negócio jurídico será nulo, podendo os membros do MP ou qualquer interessado arguir a nulidade.

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

Ainda, tratando-se de matéria de ordem pública, o juiz deve declarar de oficio a nulidade, não se convalidando mesmo que requerido pelas partes.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser

alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando

lhe couber intervir.

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3 Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo

juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as

encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a

requerimento das partes.

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de

confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.

Mas, nem todo o negócio jurídico realizado pelo absolutamente incapaz que não está representado será nulo. Nesse caso, aplicamos a teoria do ato-fato quando o menor realiza as coisas simples do dia a dia, tais como comprar um lanche, pegar um ônibus, ir ao cinema etc..., diante desse fato concreto o En. nº 138 da III Jornada de Direito Civil.

138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na

hipótese do inc. I do art. 3o, é juridicamente relevante na concretização

de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem

discernimento bastante para tanto.

Outra situação importante é quanto à responsabilidade civil dos incapazes, sendo que o art. 928 do CC/02 preconiza a responsabilidade subsidiaria do incapaz.

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se

as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não

dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que

deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz

ou as pessoas que dele dependem.

No mesmo sentido, mencionamos os Enunciados nº 39 e 40 da I Jornada de Direito Civil:

39 – Art. 928: a impossibilidade de privação do necessário à

pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização eqüitativa,

informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da

pessoa humana. Como conseqüência, também os pais, tutores e

curadores serão beneficiados pelo limite humanitário do dever de

indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará

não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se

reduzidos estes ao montante necessário à manutenção de sua

dignidade.

40 – Art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que causar

de maneira subsidiária ou excepcionalmente como devedor principal, na

hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem

atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do

Adolescente, no âmbito das medidas sócio-educativas ali previstas.

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4 Ainda, tratando-se de incapaz, necessário lembrar outros institutos

protetivos previstos no CC/02, tais como:

a) Prescrição: Não corre prescrição contra o absolutamente incapaz. “Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art.

3º;”

b) Contrato de Mútuo: “Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem

prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do

mutuário, nem de seus fiadores.”

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:

I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário

para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente;

II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu

obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais;

III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas,

em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças;

IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;

V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

c) Invalidade dos Negócios Jurídicos: “Art. 181. Ninguém pode

reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que

reverteu em proveito dele a importância paga.”

d) Partilha Judicial: “Art. 2.016. Será sempre judicial a partilha, se os

herdeiros divergirem, assim como se algum deles for incapaz.”

1.3.2. Dos Relativamente Incapazes

Nos atos da vida civil, os relativamente incapazes são assistidos, diferentemente dos absolutamente incapazes que são representados. Assim, os atos praticados por aquele são anuláveis, conforme inc. I do art. 171 do CC/02.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é

anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

Sendo anulável o negócio jurídico realizado pelos relativamente incapazes, poderá ser passível de confirmação pelas partes, desde que preservem direitos de terceiros.

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas

partes, salvo direito de terceiro.

No que tange a responsabilidade civil do incapaz, a regra é a que está contida no art. 928 do CC/02, ou seja, responsabilidade subsidiária. Porém,

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5 chamamos a atenção dos nossos alunos para um caso especial previsto no Enunciado nº 41 da I Jornada de Direito Civil, na qual estabelece responsabilidade solidária do menor de 18 anos juntamente com seus pais, quando tiver sido emancipado por deliberação de seus genitores.

41 – Art. 928: a única hipótese em que poderá haver

responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido

emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo

Código Civil.

1.4. Da Emancipação

A emancipação é o meio pelo qual se antecipa a capacidade de exercício de direitos (+) do menor. Por questões didáticas dividiremos emancipação em três espécies:

1.5. Da Extinção da Pessoa Natural

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6 A morte é o fato que determina o fim da pessoa natural, sendo

verificada pelo diagnóstico da morte encefálica conforme o art. 3º da Lei nº 9.434/97.

Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes

do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser

precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada

por dois médicos não participantes das equipes de remoção e

transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos

definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.

No entanto, a doutrina classifica o evento morte em real ou presumida. No primeiro caso, é constatada pela declaração de óbito com a análise do corpo sem vida. No segundo caso, morte presumida, o CC/02 admite duas hipóteses:

a) morte presumida com declaração de ausência: nesse caso existe o procedimento de transmissão de bens de alguém que desapareceu após um lapso de tempo conforme Art. 37 do CC/02 “Dez anos depois de passada em julgado a

sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados

requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas”.

b) morte presumida sem decretação de ausência: é feito em procedimento de justificação da morte e declarado pelo juiz.

OBS: em ambos os casos o registro será realizado no livro de óbitos equiparando-se a morte real, pois essas pessoas não são ausentes.

1.5.1. Da Morte Simultânea ou Comoriência

Ocorre comoriência quando dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não podendo se verificar quem morreu primeiro, assim presumir-se-ão simultaneamente mortos. Nesse sentido, preconiza o art. 8º do CC/02.

Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma

ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu

aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Neste caso, não haverá transmissão de direitos hereditários entre os comorientes, ou seja, um não transmite para o outro. Portanto, cada um dos comorientes transmitirão os direitos hereditários para os seus herdeiros.

PESSOAS JURÍDICAS

2. Das Pessoas Jurídicas

2.1. Da Personalidade das Pessoas Jurídicas

Pessoas Jurídicas são entes morais criados pelo ser humano, assim a declaração de vontade das pessoas naturais dá forma ao Ato Constitutivo como instrumento de manifestação do ato volitivo manifestado. Nesse sentido o art. 45 do CC/02.

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7 Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de

direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo

registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do

Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que

passar o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a

constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato

respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

Tal Ato Constitutivo quando levado ao Registro Público competente, fixa o momento da existência da pessoa jurídica. Portanto, fica clara a diferença entre o registro da pessoa natural, que possui natureza declaratória, e o registro da pessoa jurídica que possui natureza constitutiva.

Conclui-se, então, existindo o Ato Constitutivo e apenas não havendo o registro, não há ainda pessoa jurídica, sendo esses entes, não personificados, chamados de sociedades irregulares. Por outro lado, caso sequer houver Ato constitutivo manifestando a vontade das pessoas naturais, então essas sociedades serão chamadas de sociedades de fato.

Importante salientar que a regularização posterior da sociedade não gera efeitos retroativos ou pretéritos, consoante art. 986 do CC/02, tendo como principal consequência a responsabilidade ilimitada e solidária pelas obrigações sociais1.

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos,

reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto

neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem

compatíveis, as normas da sociedade simples.

2.2. Da Natureza das Pessoas Jurídicas

O CC/02 adotou a Teoria Afirmativista quanto a natureza jurídica das pessoas morais, pois afirma que a pessoa jurídica possui existência, sendo portadora de interesses próprios manifestados pela técnica da representação.

Nesse sentido, grande parte da doutrina sustenta que foi adotado a Teoria da Realidade Técnica, devido à vontade do legislador em tutelar direitos da personalidade ao ente moral, amparado no art. 52 do CC/02. Assim, a pessoa jurídica tem personalidade independente da dos sócios e possui patrimônio separado.

1 Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a

existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em

comum.

Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo

pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou

deva conhecer.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do

benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

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8 Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a

proteção dos direitos da personalidade.

2.3. Da Desconsideração da Personalidade das Pessoas Jurídicas

Havendo personalidade própria e patrimônio próprio, a pessoa jurídica deverá atender os fins sociais a qual a lei exige, pois caso contrário, haverá deturpação do direito conferido pelo legislador aos entes morais, surgindo, então, a possibilidade do juiz desconsiderar a personalidade jurídica da pessoa jurídica (disregard doctrine) para coibir os abusos ou condenar a fraude através do seu uso. Havendo a desconsideração da pessoa jurídica, naturalmente, afasta-se o principio da separação patrimonial através de uma técnica de suspensão da eficácia do ato constitutivo, de modo a buscar no patrimônio dos sócios o valor devido pela pessoa jurídica, com força no art. 50 do CC/02.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,

caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,

pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público

quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e

determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens

particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

No mesmo sentido o Enunciado nº 7 da I Jornada de Direito Civil:

Art. 50: só se aplica a desconsideração da personalidade

jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos

administradores ou sócios que nela hajam incorrido.

Da leitura do art. 50 do CC/02 extraímos as hipóteses que geram a desconsideração:

a) Desvio de finalidade: nesse caso o objeto social da pessoa jurídica é uma fachada para exploração de atividade diversa. (Teoria Maior Subjetiva)

b) Confusão Patrimonial: ocorre quando os bens pessoais dos sócios e os bens sociais da pessoa jurídica se misturam. (Teoria Maior Objetiva). Contudo, a jurisprudência subdividiu a Teoria da Desconsideração da Pessoa Jurídica em duas categorias, quanto aos pressupostos de incidência, quais sejam:

Teoria Maior: não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar à pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se, além da insolvência, a demonstração de desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Nesse sentido o Enunciado nº 281 da IV Jornada de Direito Civil:

281 – Art. 50. A aplicação da teoria da desconsideração,

descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da demonstração de

insolvência da pessoa jurídica.

Teoria Menor: para a incidência da desconsideração da personalidade jurídica com base na teoria menor, basta a prova da insolvência para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.

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9 OBS: No ordenamento jurídico brasileiro a Teoria Maior foi

consagrada pelo art. 50 do CC/02 e pelo art. 18 da Lei 8.884/94 - CADE. Por outro lado, a Teoria Menor foi consagrada pelo §5º do art. 28 do CDC e pelo art. 4º da Lei 9.605/98 – Direito Ambiental. Embora não previsto expressamente na legislação, a doutrina e a jurisprudência sustentam a chamada Teoria da Desconsideração Inversa, que ocorre com a quebra da autonomia patrimonial a fim de executar bens da sociedade por dívidas pessoais dos sócios.

Tal entendimento está contido no Enunciado nº 283 da IV Jornada de Direito Civil:

283 – Art. 50. É cabível a desconsideração da personalidade

jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu

da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a

terceiros.

Ainda, é possível ser invocada pela própria pessoa jurídica, em seu favor, a desconsideração da personalidade jurídica. Nesse sentido o Enunciado nº 285 da IV Jornada de Direito Civil:

285 – Art. 50. A teoria da desconsideração, prevista no art.

50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor.

Por fim, cabe salientar que a Teoria Ultra Vires Societatis refere-se às operações estranhas ao objeto social. Nesse caso, apenas os sócios da empresa ou o seu administrador que praticaram o ato é que serão responsabilizados, tornando, em regra, nulo os atos por eles praticados. Nesse sentido, o inc. III, parágrafo único do art. 1.015 do CC/02.

Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores

podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não

constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis

depende do que a maioria dos sócios decidir.

Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores

somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das

seguintes hipóteses:

III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos

negócios da sociedade.

No entanto, embora prevista Teoria Ultra Vires Societatis no CC/02, o Enunciado 219 da III Jornada de Direito Civil criou algumas ressalvas quanto a aplicação desta Teoria:

219 – Art. 1.015: Está positivada a teoria ultra vires no

Direito brasileiro, com as seguintes ressalvas: (a) o ato ultra vires não

produz efeito apenas em relação à sociedade; (b) sem embargo, a

sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; (c) o

Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes

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10 implícitos dos administradores para realizar negócios acessórios ou

conexos ao objeto social, os quais não constituem operações

evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se aplica o

art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra

especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n.

6.404/76).

2.4. Das Espécies de Pessoas Jurídicas

As pessoas jurídicas são classificadas quanto a função em pessoas de direito público ou de direito privado. No entanto, ainda admitem subclassificações, vejamos:

a) P.J. de Direito Público Interno: “Art. 41. I - a União;II - os Estados, o

Distrito Federal e os Territórios;III - os Municípios;IV - as autarquias, inclusive as

associações públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.”

b) P.J. de Direito Público Externo: são originariamente representados pelos Estados e pelas Organizações Intergovernamentais.

c) P.J. de Direito Privado: “Art. 44. I - as associações;II - as

sociedades;III – as fundações.IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos.”

OBS: Sobre esse ponto, salientamos três Enunciados do Conselho da Justiça Federal:

142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as

associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes

o Código Civil.

143 – Art. 44: A liberdade de funcionamento das

organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e

legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de

reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com

seus estatutos.

144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de Direito

Privado, constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil, não é

exaustiva.

2.5. Da Extinção das Pessoas Jurídicas

A extinção da pessoa jurídica ocorre nas seguintes modalidades2:

2 Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:I - o vencimento do prazo de duração, salvo se,

vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;II - o consenso unânime dos sócios;III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira no Registro Público de Empresas Mercantis a transformação do registro da

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11 a) Convencional: por deliberação e vontade dos sócios;

b) Legal: quando não preenchidos os requisitos exigidos em lei.

c) Administrativa: quando houver revogação da autorização para o seu funcionamento3;

d) Natural: quando o ato constitutivo prevê expressamente a dissolução em caso de falecimento de seus membros, não podendo os herdeiros prosseguirem na atividade da sociedade;

e) Judicial: quando determinada por sentença.

Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a

requerimento de qualquer dos sócios, quando:

I - anulada a sua constituição;

II - exaurido o fim social, ou verificada a sua

inexeqüibilidade.

Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de

dissolução, a serem verificadas judicialmente quando contestadas.

DOMICÍLIO

3. Domicilio

Para definir o domicílio civil é preciso saber de qual pessoa estamos tratando. Assim, iremos estudar, primeiramente o domicilio da pessoa natural para, posteriormente, estudar o domicilio da pessoa jurídica.

Domicilio da Pessoa Natural: o conceito legal de domicílio está atrelado ao critério “residência”.

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela

estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

No entanto, a pessoa natural poderá ter diversas residências, nesse caso, cada residência será considerada como domicílio, também conhecido como domicilio plúrimo.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas

residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu

qualquer delas.

Contudo, a pessoa natural poderá ter domicilio profissional, quanto as relações concernentes a própria profissão. Da mesma forma que o domicilio civil,

sociedade para empresário individual, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

3 Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu

funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.

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12 será possível haver domicilio plúrimo profissional, quando a pessoa exercitar sua profissão em diversas localidades.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às

relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares

diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe

corresponderem.

Por outro lado, o CC/02 admite o domicilio ocasional, quando a pessoa não possui residência, sendo considerado seu domicilio o lugar onde se encontrar.

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não

tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.

Por fim, terão domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.

É possível, ainda, existir domicílio contratual ou de eleição, quando estabelecido contratualmente pelas partes, especificando o lugar onde se cumprirão os direitos e deveres deles resultantes. Porém, a estipulação contratual pelas partes é relativas, vez que comporta analise frente ao princípio da boa fé objetiva.

Domicilio da Pessoa Jurídica: o domicilio da pessoa jurídica está previsto no art. 75 do CC/02:

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III - do Município, o lugar onde funcione a administração

municipal;

IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem

as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio

especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em

lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os

atos nele praticados.

Algumas considerações especiais quanto a pessoa jurídica com estabelecimento em diversos lugares, sendo considerados domicilio o local onde tenha sido praticado o ato, salvo nos caso de má fé.

BENS

4. Bens

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13 Juridicamente, bens são objetos de uma relação jurídica com valores

materiais ou imateriais.

4.1. Classificação dos Bens

4.2. Bens Considerados em si mesmos

a) Dos bens imóveis

Os bens imóveis estão relacionados ao solo e tudo aquilo que pode lhe ser incorporado. Podendo ser classificados em imóveis por natureza, por acessão física artificial e por acessão intelectual. Importante lembrar que não existe mais a acessão intelectual consoante Enunciado nº 11 do Conselho da Justiça Federal:

11– Art. 79: não persiste no novo sistema legislativo a

categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a

expressão “tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”,

constante da parte final do art. 79 do CC.

Para efeitos legais consideram-se imóveis os direitos reais4 sobre imóveis e as ações que os asseguram, assim como a sucessão aberta.

Não perdem a qualidade de imóveis as edificações separadas do solo quando removidas para outro local, desde que conservem sua unidade. Ainda, os materiais provisoriamente separados de um prédio também conservam a qualidade de imóveis, desde que sejam reempregados na mesma obra. Caso contrário, se forem objetos de demolição serão considerados bens móveis.

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe

incorporar natural ou artificialmente.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

4 Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V

- o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X – a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso.

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14 I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os

asseguram;

II - o direito à sucessão aberta.

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a

sua unidade, forem removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prédio,

para nele se reempregarem.

b) Dos bens móveis

Os bens móveis são aqueles que se movem no espaço, por força alheia ou por força natural, pressupondo que sejam separados do solo. No entanto, é possível admitir bens moveis por antecipação, pois ainda estão incorporados no solo, mas que se destinam a serem separados e convertidos em móveis a exemplo dos frutos pendentes.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

I - as energias que tenham valor econômico;

II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações

correspondentes;

III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas

ações.

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção,

enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis;

readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum

prédio.

c) Dos bens fungíveis e consumíveis

São considerados bens fungíveis os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. No entanto, quando não houver a possibilidade de substituição serão considerados bens infungíveis.

Essa definição é muito importante, pois o empréstimo de bens fungíveis chama-se mútuo e o empréstimo de bens infungíveis chama-se comodato. Porém é possível fazer comodato de bem fungível desde que convencionado pelas partes, ou seja, trata-se de empréstimo apenas para ostentar, exibir o bem. Tal espécie de comodato de bem fungível é conhecido como comodato ad pompam vel

ostentationem.

Por outro lado, são considerados bens consumíveis os moveis que admitem destruição imediata logo após a alienação. Já os inconsumíveis são os moveis que se destinam para uso continuo.

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15 d) Dos bens divisíveis e indivisíveis

A divisibilidade do bem está ligada a mantença da sua substancia. Assim, são bens divisíveis os que podem ser fracionados sem a alteração na substancia. Mas, quando o fracionamento causar perda da natureza ou perda de valor econômico, serão considerados, consequentemente, como bens indivisíveis.

A indivisibilidade pode ser: Convencional; Jurídica; Por natureza.

Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem

alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou

prejuízo do uso a que se destinam.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se

indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes.

f) Dos bens singulares e coletivos

Os bens singulares são componentes de um todo que poderão estar reunidos em virtude da natureza ou pela vontade do homem, assim são considerados de per si, independentes dos demais, podendo haver bens singulares materiais ou imateriais.

Portanto, a pluralidade de bens singulares reunidos ao patrimônio de um própria pessoa formam uma universalidade de fato, pois cada bem pode ser objeto de relação jurídica autônoma a exemplo do estabelecimento empresarial5.

Já os bens coletivos são coisas compostas formadas por partes heterogêneas ligadas por engenho humano e que depois de unidas, perdem a sua individualidade a exemplo dos bens ligados à edificação de um apartamento.

4.3. Bens Reciprocamente Considerados

a) Bens Principais: são os bens que não dependem de qualquer outro, ou seja, não seguem a sorte de outros. Sendo assim, o solo (bem imóvel) sempre será principal e tudo o mais que está preso nele é acessório.

b) Bens Acessórios: os acessórios estão vinculados a tudo o que acontece com o principal, portanto, tudo o que acontece no principal acontece no acessório. Os bens acessórios podem ser divididos em:

b.1) Pertenças

b.2) Acessões

b.3) Frutos naturais, industriais e civis

b.4) Produtos

b.5) Rendimentos

b.6) Benfeitorias

4.4. Bens Públicos

5 Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da

empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

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16 Os bens públicos são os bens de domínio nacional pertencente às

pessoas jurídicas de direito interno e podem ser classificados em:

a) Bens de uso comum do povo: “Art. 99. São bens públicos: I - os de

uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;”

b) Bens de uso especial: “Art. 99. São bens públicos: II - os de uso

especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da

administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas

autarquias;”

c) Bens dominicais: “Art. 99. São bens públicos: III - os dominicais, que

constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de

direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.”

FATOS JURÍDICOS

5. Fatos Jurídicos

Apenas importa ao direito o “fato” que tenha repercussão jurídica. Assim, fato jurídico é qualquer tipo de acontecimento capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir a relação jurídica.

Por questões didáticas, visando uma compreensão do todo, iremos apresentar a estrutura do fato jurídico em organograma e, depois, detalhar cada parte componente e suas características.

5.1. Classificação dos Fatos Jurídicos:

a) Involuntários ou Naturais: ocorrem independentes da vontade do ser humano a exemplo do nascimento e morte. São conhecidos como fatos em

sentido estrito.

b) Voluntários ou Humanos: derivam da vontade direta do ser humano, conhecidos como atos jurídicos em sentido amplos. Tais atos podem ser lícitos ou ilícitos. Porém, os atos jurídicos lícitos subdividem-se em:

b.1) atos jurídicos lícitos stricto sensu: pois seus efeitos derivam da próprias lei, ou seja ex lege, a exemplos dos efeitos do domicilio;

b.2) Negocio Jurídico: pois os efeitos emanam da manifestação de vontade das partes, ou seja ex voluntate, a exemplo do casamento.

5.2.Elementos dos Negócios Jurídicos

5.2.1. Elementos Essenciais

a) Agente Capaz: a regra é que a pessoa realize o ato sozinho, quando possuidor da capacidade civil plena. Já nos casos dos incapazes, poderão ser parte no negocio jurídico, desde que representados ou assistidos, conforme o grau da incapacidade.

b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: é importante que o objeto possa ser permitido pelo direito e, ainda, possível de ser efetivado no mundo concreto.

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17 c) Forma prescrita ou não proibida em lei: havendo expressa

previsão legal, a forma deverá ser a prescrita, sob pena de nulidades. Contudo, não havendo previsão legal o ato ser livre, desde que atente aos princípios da boa fé e dos bons costumes.

5.2.2. Elementos Acidentais

a) Condição: “Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando

exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a

evento futuro e incerto.” São licitas todas as condições não contrárias a lei, a ordem publica ou aos bons costumes. Por outro lado, são proibidas as condições que privem de todo efeito o negocio jurídico ou que ficarem sujeitos ao puro arbítrio de uma das partes. Assim, é preciso a aceitação voluntária das partes declarativa de aceitação da condição. O vício, no elemento acidental condição, geram a invalidade dos negócios jurídicos ou serem consideras condições inexistentes.

Condição Invalidante de todo o Negócio Jurídico = Condições Subordinativas:

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são

subordinados:

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando

suspensivas;

II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.

Condição Inexistente, mas válido o Negócio Jurídico:

Art. 124. Tem-se por inexistentes as condições impossíveis,

quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.

OBS: quando existir condição impossível suspensiva dos efeitos do negócio jurídico,será declarado inválido todo o negócio jurídico.

No entanto, quando válida, as condições podem ser classificadas em:

a.1) Condição Suspensiva: é a condição que impede a fruição dos efeitos do negócio jurídico. O negócio jurídico existe, mas apenas não gerou todos os seus efeitos.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à

condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá

adquirido o direito, a que ele visa.

a.2) Condição Resolutivas: é a condição que extingue todos os efeitos do negócio jurídico com efeitos, de regra, retroativos (ex tunc), assim, enquanto a condição resolutiva não se realizar, vigorará o negocio jurídico.

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18 Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não

realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a

conclusão deste o direito por ele estabelecido.

Contudo, é possível que os efeitos das condições resolutivas gerem efeitos somente pro futuro (ex tunc) nos casos dos negócios de execução continuada ou periódica.

Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se,

para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um

negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo

disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados,

desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e

conforme aos ditames de boa-fé.

Valido lembrar, as disposições do Código de Processo Civil sobre condição:

Art. 572. Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou termo, o credor não poderá executar a sentença sem provar que se realizou a condição ou que ocorreu o termo.

Art. 614. Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição inicial:

[...]

III - com a prova de que se verificou a condição, ou ocorreu o termo (art. 572).

Art. 618. É nula a execução:

[...]

III - se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o termo, nos

casos do art. 572.

Art. 743. Há excesso de execução:

[...]

V - se o credor não provar que a condição se realizou.

b) Termo: é a cláusula que subordina os efeitos do negócio jurídico a um acontecimento Certo e Futuro. Pode originar da vontade das partes ou da lei.

Importante lembrar, que o termo inicial não impede a aquisição do direito, pois surge imediatamente com a celebração do negocio jurídico, assim, o termo inicial não suspende aquisição de direitos, apenas o exercício desse direito fica suspenso até a implementação do evento certo e futuro.

Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a

aquisição do direito.

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19 O termo inicial é conhecido como dies a quo, e o termo final, como dies

ad quem. Quando ainda não ultrapassado o termo final não há que se falar em inadimplemento do devedor e, portanto, não é exigível a obrigação pelo credor.

Por esse motivo, o legislador estipulou consequências aos credores que cobrarem divida antecipadamente no art. 939 do CC/02.

Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de

vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado

a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros

correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.

c) Encargo ou Modo: é uma cláusula acessória oriunda de ato de liberalidade de uma das partes. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, mas quando o encargo for impossível ou ilícito serão considerados não escritos e, portanto, não invalidam o negócio jurídico como um todo. Contudo, se for uma liberalidade da parte determinante ao negocio jurídico, este será inválido como um todo, pois não é permitido condicionar um negócio jurídico a realização de obrigação ilícita.

Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou

impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade,

caso em que se invalida o negócio jurídico.

5.3. Vícios dos Negócios Jurídicos

Para estudarmos os vícios do negócio jurídico será preciso entender quando eles acontecem para definirmos os tipos de nulidades. Nesse sentido, o CC/02 disciplina os vícios em sócias ou de consentimentos, com origens e momentos distintos, senão vejamos:

Vícios de Consentimentos Vícios Sociais

Há divergência na vontade manifestada e a real intenção de quem a exteriorizou. A vontade nasce pura e lícita, mas é deturpada quando exteriorizada. Não há divergência na origem da vontade, pois existe a intenção de prejudicar terceiros desde o início do ato.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é Art. 167. É nulo o negócio jurídico

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20 anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;

III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

5.3.1. Vícios de Consentimentos

a) Erro: é a típica falta de concordância entre a vontade real e a vontade declarada. O agente não conhecimento real da circunstancia, pois e a conhecesse não realizaria o negocio jurídico. Para anular o negocio jurídico o erro deve ser substancial, escusável e real. Mas, quando o erro for acidental ou secundário e, também, o erro de cálculo não invalida todo o negócio jurídico. Ainda, há possibilidade de conservação do negócio quando a real intenção das partes é alcançada no momento da execução.

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as

declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser

percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias

do negócio.

b) Dolo: é o vício empregado pelo agente para enganar outra pessoa, não há discordância entre as vontades. Na verdade, alguém usando de dolo tenta se beneficiar sobre outra pessoa sem que a mesma perceba, também conhecido como Dolo Principal ou Direto.

Assim, existe um ato de indução, uma provocação intencional. No entanto, o Dolo Acidental, sendo aquele não prejudica todo o negocio jurídico tendo em vista que poderá ser realizado por outro modo alcançando seu objetivo fim, não invalida o negocio jurídico, importando apenas a satisfação em perdas e danos.

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

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21 Cabe lembrar que o Dolo por Omissão é representado pelo silencio

intencional que fere a boa fé objetiva configurando uma violação positiva do negócio jurídico, sendo desnecessária a comprovação de culpa para a sua caracterização. Nesse sentido, os Enunciados do Conselho da Justiça Federal:

37 – Art. 187: a responsabilidade civil decorrente do abuso

do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério

objetivo-finalístico.

24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado

no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui

espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.

c) Coação: é o vicio representado pela pressão psicológica ou ameaça sobre uma pessoa para obrigá-la a praticar determinado ato. A coação precisa atingir a vontade nuclear do negócio jurídico impedindo que a vítima manifeste sua real intenção, por isso, será levado em conta as características da vítima como sexo, idade, saúde, e outras circunstancias que possam influir na gravidade da coação.

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

d) Estado de Perigo: é preciso no estado de perigo estar presente o dolo de aproveitamento representado pelo conhecimento da outra parte de que a pessoa está necessitada de salvar a si própria ou a seu familiar, aproveitando-se da situação para compelir a pessoa assumir obrigação demasiadamente onerosa.

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém,

premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de

grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação

excessivamente onerosa.

e) Lesão: é o vicio decorrente de ato abusivo praticado em situação de desigualdade de um dos contratantes, desde que esteja em situação de necessidade ou por inexperiência.

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente

necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação

manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

Ao final do contrato, verifica-se a desproporção entre as prestações de cada parte, sendo dispensada a verificação de dolo ou ma fé da parte que se aproveitou. Contudo, o marco definidor da desproporção é a data de celebração

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22 do negócio jurídico. Portanto, a desproporção superveniente é juridicamente irrelevante para o CC/02.

150 – Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código

Civil não exige dolo de aproveitamento.

5.3.2. Vícios Sociais

a) Fraude contra Credores: “Art. Art. 158. Os negócios de transmissão

gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por

eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos

credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.”

Sendo assim, a fraude contra credores caracteriza-se quando o devedor aliena ou onera os seus bens, sem ainda existir ação de cobrança pelos credores, ou seja, o devedor ainda não foi cobrado judicialmente e o crédito ainda não está vencido. Nesse caso, o instituto cabível será a ação pauliana ou revocatória, de natureza pessoal, movida pelos credores quirografários ao tempo da pratica da fraude, pois seus creditos estão sem garantia real como o penhor, hipoteca ou anticrese.

b) Simulação: consiste na declaração enganosa de vontade das partes (conluio) com a intenção de enganar uma terceira pessoa. Assim, existe um negocio simulado antes para iludir terceiros ou burlar a lei. Assim, por questões de ordem publica, de interesse social, o negocio jurídico será nulo, devendo essa nulidade ser declarada de ofício pelo juiz.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

5.4. Invalidade dos Negócios Jurídicos

Nulidade Absoluta Nulidade Relativa

Atinge interesse público Atinge interesse público

Opera-se de pleno direito Não opera de pleno direito

Legitimados: qualquer interessado, MP (art. 82, CPC)

Legitimados: somente os interessados (lesados)

Não admite cofirmação pelas partes, nem pode ser sanada pelo juiz.

Admite confirmação expressa ou tácita pelas partes.

Deve ser pronunciada de oficio pelo juiz.

Só pode ser arguida pelas partes interessadas

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23 A sentença que declara a nulidade

gera efeitos ex nunc. (Declaratória)

A sentença é descontitutiva do negócio jurídico e gera efeitos para frente, ou

seja, ex nunc.

Não se sujeita aos prazos prescricionais e Regra: decadenciais, pois a

nulidade absoluta é imprescritível.

Prazo decadencial de 2 anos nos casos do art. 179 do CC,026.

Prazo decadencial de 4 anos nos casos do art. 178 do CC/027.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

6. Prescrição

Somente quando violado um direito é que nasce para o seu titular a pretensão subjetiva de exigir de outrem alguma prestação positiva ou negativa. Sendo que a inércia pelo titular do direito violado provoca a perda do direito material, convertendo-se a obrigação em natural não podendo mais ser compelido pela interferência do Estado, mas pode ser cumprida de forma espontânea.

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão,

a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205

e 206.

Quando surge o direito nem sempre surge o prazo da prescrição, a exemplo dos negócios a termo (certo e futuro), pois do termo (dies a quo) que não houve o pagamento é que ocorre a lesão ao direito subjetivo, começando, somente agora, o prazo prescricional.

Assim, nos casos de condição suspensiva, só haverá a pretensão após o implemento da condição.

Os prazos da prescrição não podem ser alterados pelas partes, pois se trata de matéria de ordem púbica. Contudo, depois de consumada a prescrição poderão as partes renuncia-la de maneira tácita ou expressa, desde que não prejudiquem terceiros.

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados

por acordo das partes.

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou

tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a

6 Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

7 Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

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24 prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos

do interessado, incompatíveis com a prescrição.

7 Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:I -no caso de coação, do dia em que ela cessar;II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

7. Decadência

Seu início se dá com o surgimento do Direito e, não com a sua violação. Assim, a decadência é causa de extinção do direito potestativo, prejudicando todas as ações constitutivas.

Os prazos decadenciais não suspendem, não interrompem e correm contra todos, salvo os absolutamente incapazes.

Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e

198, inciso I.

Espécies de decadência:

a) Decadência Legal: quando pré-determinada em lei. Deve ser reconhecida de ofício pelo juiz.

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em

que se realizou o negócio jurídico;

III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

b) Decadência Convencional: quando convencionada pelas partes.

A decadência legal não pode ser renunciada em qualquer hipótese, já a decadência convencional somente pode ser renunciada após a sua consumação.

Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

Bons Estudos.

Prof. Cristiano de Souza.