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Jovi Barboza CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL Maringá - 2019

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CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL

Maringá - 2019

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Rua Silva Jardim, 386 – 2° andar – cj. 04 – Centro – Maringá - PR Fone: (044) 3226-5439 – Cel.: (44) 9-9117-6723

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CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL

Maringá – 2019

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CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL

Apostila destinada a Cursos de Graduação e Pós-Graduação, versando sobre os principais pontos da Disciplina Direito Empresarial, compreendendo a parte conceitual e alguns exercícios práticos, envolvendo a teoria dos contratos, especialmente os contratos de sociedades, atendendo às especificações do Código Civil, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e suas alterações.

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PROJUS - 2019 © 2019 by PROJUS Rua Silva Jardim, 386 – 2° andar 87013-010 – Maringá - PR Tel.: (0xx44) 3226-5439 4ª. ed. 2019

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio ou processo. A violação dos direitos de autor (Lei nº. 9.610/98) é crime previsto no art. 184, do Código Penal Brasileiro, combinado com as sanções civis dos art.s 101 a 110, da Lei nº. 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais

Capa: Jovi Barboza Contatos: www.editoraprojus.com.br [email protected]

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Direito Empresarial : Arbitragem : Sociedade empresariais

Barboza,Jovi

Direito Empresarial / Jovi Barboza -- Maringá, PR : Editora Projus, 2019.

Apostila. Bibliografia. 1. Direito 2. Direito de Empresa - Brasil 3.

Direito - Brasil 4. Sociedades Empresárias.

Editora Pro-jus Ltda. - Apostilas

- Livros Didáticos - Cursos de Extensão - Cursos Profissionais

- Treinamento - Consultoria

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CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL

RESUMO Apostila destinada a Cursos de Graduação e Pós-Graduação, versando sobre os principais pontos da Disciplina Direito Empresarial, compreendendo a parte conceitual dos principais institutos do Direito de Empresa, envolvendo a teoria dos contratos, especialmente os contratos de sociedades, atendendo às disposições do Código Civil, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e suas alterações, considerando os tipos de sociedade (empresárias e simples), assim como as principais nuances jurídicas que regem a formação, administração e dissolução da sociedade 3mpresarial. Além desses pontos, o trabalho aborda, também, algumas referências sobre os diversos títulos de crédito. Palavras-chave: DIREITO EMPRESARIAL. EMPRESÁRIO. SOCIEDADE EMPRESÁRIA.

Maringá, 2019

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Sumário

I – PRIMEIRA PARTE – DO DIREITO DE EMPRESA

1. - VISÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL....................................... 12 2. - TEORIA DA EMPRESA.............................................................................. 14

2.1. - Organização da Atividade de Empresário................................... 15 2.2. - Ética na Atividade Empresarial................................................... 16

3. - DAS FASES DA EMPRESA......................................................................... 17

3.1. - Na Antigüidade............................................................................ 17 3.2. - Da Atividade Econômica.............................................................. 18 3.3. - Do Comércio.................................................................................. 18 3.4. - O Comércio como Forma de Desenvolvimento Econômico......... 18 3.5. - Dos Serviços.................................................................................. 18 3.6. - Da Empresa.................................................................................. 19

4. - O DIREITO DE EMPRESA NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO....................... 19

4.1. - Direito de Empresa ou Direito Societário?.................................. 19 4.2. - Tríade da Empresarialidade ....................................................... 20 4.3. - Das Pessoas Jurídicas .................................................................. 20

4.3.1. - Pessoas Jurídicas de Direito Público................................ 20 4.3.2. - Pessoas Jurídicas de Direito Privado............................... 21

4.4. - Do Regime Jurídico das Pessoas Jurídicas.................................. 21 4.4.1. - Do Regime Jurídico de Constituição............................... 22

4.4.1.1. - Das Associações.................................................. 22 4.4.1.2. - Das Sociedades................................................... 22 4.4.1.3. - Das Fundações................................................... 23

4.4.2. - Do Regime Jurídico de Formação................................... 23 4.4.2.1. - Do Contrato Social............................................. 23 4.4.2.2. - Do Estatuto Social.............................................. 24

5. - DO DIREITO EMPRESARIAL..................................................................... 24

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5.1. Conceito........................................................................................... 24 5.2. Exceção............................................................................................ 25 5.3. Abrangência do Direito Empresarial.............................................. 25 5.4. Características do Direito Empresarial........................................... 25 5.5. Legislação Aplicável........................................................................ 26

6. - DAS FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL................................................ 27

6.1. - Conceito de Fonte do Direito........................................................ 27 6.2. - Classificação das Fontes do Direito.............................................. 27 6.3. - Dos Usos e Costumes..................................................................... 27 6.4. - Da Unificação do Direito Civil e Direito Comercial..................... 28

7. - DO EMPRESÁRIO..................................................................................... 28 7.1. - Da Distinção Entre Empresário e Sócio....................................... 29 7.2. - Do Exercício da Atividade Empresarial....................................... 30 7.3. - Da Capacidade do Empresário.................................................... 30 7.4. - Das Proibições............................................................................... 30

7.4.1. Impedidos de Exercer a Atividade Empresarial................ 30 7.4.2. Do Impedimento Superveniente......................................... 32

7.5. - Dos Atos Empresariais................................................................. 32 7.6. - Dos Prepostos da Empresa........................................................... 32

8. - DAS SOCIEDADES.................................................................................... 33

8.1. - Da Classificação Legal das Sociedades........................................ 33

8.1.1. - Das Sociedades Não Personificadas................................. 33 8.1.1.1. - Das Sociedades Em Comum............................... 33 8.1.1.2. - Das Sociedades em Conta de Participação........ 34

8.1.2. - Das Sociedades Personificadas......................................... 34 8.1.2.1. - Das Sociedades Simples...................................... 34 8.1.2.2. - Das Sociedades em Nome Coletivo.................... 35 8.1.2.3. - Das Sociedades em Comandita Simples............ 35 8.1.2.4. - Das Sociedades Limitadas.................................. 35

8.1.2.4.1. – Regência Supletiva pela Lei S/As.... 36 8.1.2.4.2. – Aumento e Redução do Capital...... 36 8.1.2.4.3. – Deliberação dos Sócios.................... 37 8.1.2.4.4. – Administradores............................... 37 8.1.2.4.5. – Termo de Posse................................ 37 8.1.2.4.6. – Averbação......................................... 37 8.1.2.4.7. – Conselho Fiscal................................ 38 8.1.2.4.8. – Resol. Soc. Relação a um Sócio....... 38

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8.1.2.4.9. – Reunião............................................ 38 8.1.2.4.10. – Assembléia..................................... 39 8.1.2.4.11. – Registro no Livro de Atas............. 39 8.1.2.4.12. – Formação da Sociedade................ 39 8.1.2.4.13. – Dissolução da Sociedade................ 40

8.1.2.5. - Das Sociedades Anônimas.................................. 41 8.1.2.5.1. - Da Formação da Sociedade............. 41 8.1.2.5.2. - Dos Órgãos de Administração........ 41 8.1.2.5.3. - Dos Acionistas Minoritários............ 41

8.1.2.6. - Das Sociedades em Comandita por Ações.......... 42 8.1.2.7. - Das Cooperativas................................................ 42

8.2. - Da Natureza Jurídica das Sociedades.......................................... 42 8.2.1. - Das Sociedades Simples.................................................... 43 8.2.2. - Das Sociedades Empresárias............................................ 43

9. - DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL.................................................. 44

9.1. - Alienação e Cessão do Estabelecimento....................................... 45 9.2. - Da Proteção do Ponto.................................................................. 46 9.3. - Do Shopping Center...................................................................... 46 9.4. - Do Nome Empresarial.................................................................. 47 9.5. - Da Proteção do Nome Empresarial............................................. 48

10. - DO REGISTRO PÚBLICO DAS EMPRESAS MERCANTIS.......................... 49

11. - DAS OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO..................................................... 50

11.1. - Da Contabilidade e Da Escrituração........................................ 50 11.2. - Do Balanço Geral....................................................................... 51 11.3. - Dos Livros Comerciais............................................................... 51 RESUMO............................................................................................... 52

II - SEGUNDA PARTE – DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

12. - TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.......................................... 64 13. - DO ENDOSSO......................................................................................... 65 14. - DO AVAL............................................................................................... 65 15. - DO CHEQUE.......................................................................................... 66 16. - DA LETRA DE CÂMBIO.......................................................................... 66

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17. - DA NOTA PROMISSÓRIA........................................................................ 67 18. - DA DUPLICATA MERCANTIL................................................................. 67 19. - DA FALÊNCIA E CONCORDATA............................................................... 68 20. - DO DIREITO BANCÁRIO......................................................................... 68 27. – BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 69

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CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL

PRIMEIRA PARTE:

DO DIREITO DE EMPRESA

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1. - VISÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

O Código Comercial, que teve a 2.ª parte revogada pelo Código Civil de 2002, vigorava desde os

tempos do Império,1 isto é, desde o século XIX. Com o advento do novo2 Código Civil, surge a necessidade de se repensar o “antigo” Direito Comercial.

Os comercialistas relutaram bastante em aceitar o Direito Comercial sendo inserido no bojo do Código Civil. Entretanto, tal unificação não significa a perda da especialidade da matéria, e sim, a necessidade de enxergarmos esse ramo do direito de forma revitalizada, rejuvenescida, pois, o mundo leigo já não entendia mais porque se estudar um Direito Comercial tão antigo.

A introdução do Direito de Empresa no Código Civil tem influência do Código Civil Italiano, com a colaboração da doutrina daquele país, que se apóia num conceito subjetivo moderno de direito comercial, pelo qual a figura do empresário substitui o antigo conceito de comerciante.

Apesar de por aqui não se respeitar, como se deveria, os conceitos traçados com muito custo no direito estrangeiro, o certo é que a teoria da empresa ganhou prestígio entre nós em relação a alguns institutos modernos do direito europeu.

No direito italiano, desde os primeiros anos do século XX, a empresa é discutida como experiência jurídica, ou seja, como um fenômeno além da sua realidade econômica, que é como ela pode ser vista, fato que no Brasil não se deturpou, embora adquirimos apego às ficções legislativas sem muito perquirir sobre o cabimento, oportunidade e validade do conceito sob análise.

O Código Civil italiano, de 1942, incorporou a teoria da empresa – mesmo sem deixar inteiramente satisfeitos os seus mais entusiastas estudiosos, como Carnelutti, Rocco e Vivante. Estes, prontamente se pronunciaram a respeito com reservas ou acentuadas críticas. No entanto, o sistema do Código italiano, ainda vigente, pressupôs-se a necessidade de uma figura que se aplicasse a todas as formas de atividades econômicas. A empresa foi, portanto, entendida nesse contexto, como sendo uma relação entre atividade econômica e organização. Sem se deter muito em conceitos e particularidades, o Código Civil italiano relegou à doutrina e à jurisprudência a tarefa de examinar e difundir os reflexos desses elementos no campo jurídico.

Alberto Asquini considerou as aplicações do conceito de empresa sob as diversas óticas possíveis e relevantes juridicamente. Concluiu que a empresa deveria ser conceituada não de modo direto ou linear, mas detida e pormenorizadamente. Nesse diapasão, sugeriu a empresa como fenômeno econômico poliédrico, que teria, no aspecto jurídico, não um, mas diversos perfis: o perfil subjetivo (a empresa como empresário); o perfil funcional (a empresa como atividade empresarial); o perfil objetivo (a empresa como estabelecimento); e o perfil corporativo (a empresa como instituição) .

Asquini, no texto publicado originariamente na Rivista del Diritto Commerciale, apontou na empresa a figura do empresário, denotando o uso da expressão como sinônimo de empresário, e, por outro lado, também a identificava pelo perfil funcional ou dinâmico. A empresa seria a própria atividade empresarial, ou seja, a força de movimento rotacional que implica na atividade empresarial dirigida para determinada finalidade produtiva. Quanto aos seus perfis patrimonial e objetivo, dizia estar revelado pelo estabelecimento ou azienda3 e pelo mesmo fenômeno econômico, mas projetado sobre o terreno patrimonial, dando lugar a patrimônio especial, distinto, pela sua finalidade, do resto do patrimônio do empresário. Por fim, afloraria, para o corajoso autor italiano, o perfil corporativo: a empresa como instituição, considerada uma organização de pessoas, formada pelo empresário e seus colaboradores (dirigentes, empregados, operários), todos movidos por interesses individuais, mas formando um núcleo social organizado em função do fim econômico comum, qual seja, a consecução do melhor resultado econômico na produção.4

1 Lei n.º 556, de 25.6.1850 – Código Comercial - TÍTULO I - Dos Comerciantes - Capítulo I - Das Qualidades Necessárias para ser Comerciante - Art. 1 - Podem comerciar no Brasil: 1 - Todas as pessoas que, na conformidade das leis deste Império, se acharem na livre administração de suas pessoas e bens, e não forem expressamente proibida neste Código. 2 Doravante, deixaremos de mencionar a palavra “novo”, para designar o Código Civil de 2002. Quando nos referirmos ao Código Civil anterior, mencionaremos “Código Civil de 1916” ou CC1916. 3 Azienda. [Do it. Azienda.] S. f. Econ. E Cont.Complexo de obrigações, bens materiais e direitos que o constituem um patrimônio, representados em valores ou que podem ser objeto de apreciação econômica, considerado juntamente com a pessoa natural ou jurídica que tem sobre ele poderes de administração e disponibilidade; fazenda. (Novo Dicionário Aurélio, Nova Fronteira, pág. 169.) 4 HENTZ, Luiz Antonio Soares. A teoria da empresa no novo Direito de Empresa. Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3085>. Acesso em: 30 ago. 2004.

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Assim, por força da Teoria da Empresa, já há muito difundida pela doutrina mais moderna, aos poucos, o Direito Comercial foi ganhando novos contornos, culminando com sua introdução no principal compêndio legislativo de Direito Privado, com a conseqüente unificação dos Direitos Civil e Comercial.5

Como conseqüência, temos o Código Civil definindo empresário como aquele que exerce atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços em caráter habitual e profissional. Com a evolução da sociedade empresarial no Brasil, tínhamos dois grandes grupos econômicos privados. De um lado estava a atividade comercial que foi por longo tempo o maior símbolo de desenvolvimento econômico nacional em razão da produção e circulação de riquezas, e, de outro lado, cujo ápice se inicia com os anos 80, a atividade de serviços que surgiu e se tornou a atividade econômica que mais cresceu no país nos últimos tempos e não encontrava amparo no Direito Comercial, passando, assim, a ser regulada pelo Direito Civil, em conseqüência de sua própria natureza.

Ocorre, porém, que apesar de tratarmos de duas atividades com elementos idênticos: o risco e o lucro, as condições oferecidas pelo legislador como regra de disciplina de suas atividades eram totalmente distintas. Enquanto o Direito Comercial disciplinava a atividade puramente mercantil, oferecendo benefícios aos comerciantes e estabelecendo obrigações, a atividade de serviços carecia de uma legislação específica que pudesse lhe outorgar um conjunto próprio de benefícios e obrigações, gerando para atividades com os mesmos elementos e fins, regramentos distintos (o Código Comercial, de um lado e o Código Civil de 1916, de outro).

Mas, essas diferenças foram sendo questionadas aos poucos no Poder Judiciário, pois, em tempos de crise econômica, tinham os comerciantes a possibilidade de fazer uso do benefício da concordata, no entanto, a atividade de serviços não podia se beneficiar deste dispositivo já que a regra era aplicável somente aos comerciantes.

E não era só isto. No tocante ao direito do uso da Ação Renovatória de Aluguel, inicialmente também só o comerciante podia se beneficiar deste dispositivo legal, porém, ao longo do tempo o Poder Judiciário foi sendo invocado e esse entendimento começou a ser ampliado, outorgando-se a atividade de serviço o direito de renovação locatícia.

O crescimento da área de prestação de serviços, com a introdução de grandes grupos corporativos de áreas econômicas como as telecomunicações, os transportes, os serviços de apoio ao comércio (auditoria, contabilidade, consultoria, etc), toda uma gama de atividades que produziam riqueza, foi influenciando a doutrina e a jurisprudência, de tal forma que o tão esperado Código Civil6 não poderia ter desfecho diferente, senão, além de unificar o direito das obrigações, introduzir o direito de empresa e revogar a primeira parte do Código Comercial.

A existência de algumas falhas no Código, entretanto, não foi motivo para que o mesmo tivesse ampliado o seu período de vacatio legis, o mesmo acabou entrando em vigor em 10 de janeiro de 2003, com a prorrogação por um ano do período de adaptação das pessoas jurídicas às suas normas.7

Porém, não resta dúvida que a doutrina entende pacificamente que em se tratando de atividades que propiciam o desenvolvimento econômico (comércio e serviços), nada mais coerente que o legislador encaminhe-se para eliminar as diferenças legislativas, de forma a evitar qualquer entrave que obstaculize esse desenvolvimento, o que justificou assim, a criação do Direito de Empresa inserido no bojo do Novo Código Civil.

5 “O Código Civil unificou – parcialmente – os direitos civil e comercial e acabou com a dicotomia entre ambos, com a revogação expressa da primeira parte do Código Comercial” (Mônica Gusmão, in Direito Empresarial, pág. 2). 6 O Código Civil tramitou no Congresso Nacional por cerca de 30 anos até sua aprovação. Este fato motiva muitas críticas, pois alguns de seus dispositivos já foram alterados e outros ainda estão por ser. O período de vacatio legis foi de intensa movimentação da doutrina no sentido de opinar a respeito de mudanças necessárias, buscando-se um verdadeiro mutirão legislativo para adequar tecnicamente algumas partes do Código, antes que ele entrasse em vigor, o que acabou não sendo possível, devido a outros problemas e interesses legislativos. 7 O Código Civil, Lei n.º 10.406, de 10/1/2002, vigente um ano depois de sua publicação, conforme disposto em seu artigo 2.044, já sofreu quatro modificações: o art. 374 foi revogado pela MP 75/02; o art. 377 foi revogado pela Lei n.º 10.677, de 22/5/2003; os arts. 44 e 2.031 foram alterados pela Lei n.º 10.825, de 22/12/2003; e a recentíssima Lei n.º 10.838/2004, alterou o artigo 2.031, caput, dilatando para dois anos o prazo para associações, sociedades e fundações se adaptarem à nova codificação.

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2. - TEORIA DA EMPRESA Pode-se dizer que a atividade dos empresários visa articular os fatores de produção, que no sistema

capitalista são quatro: capital, mão-de-obra, insumo e tecnologia. Os bens de produção são produzidos pelas organizações como resultado da ação dos empresários, ou seja, nascem do aporte de capital – que pode ser próprio ou alheio -, aquisição de insumos, contratação e utilização de mão-de-obra e o desenvolvimento ou aquisição de tecnologia que realizam.8

A legislação não define o que seja empresa.9 Isto já está sacramentado pela doutrina. Contudo, alguns elementos são procurados e pesquisados pelos doutrinadores na busca de uma definição10 do que seja empresa.11

É, pois, pacífico o entendimento doutrinário de que o conceito de empresa tem origem da visão italiana que modifica o Código Civil e o unifica com o Comercial, como direito obrigacional, deixando de existir a legislação comercial separada.12

Sabemos que o que impulsiona duas ou mais pessoas a se unirem e constituírem uma empresa é a conjugação de dois fatores: de um lado, a colaboração – haja vista que o poder de melhor desenvolver uma atividade empresarial está justamente na reunião de recursos, viabilizando o empreendimento com estrutura mais sólida e, portanto, menos suscetível ao fracasso; e de outro lado, o risco – pois, ainda que a estrutura seja mais sólida pela colaboração entre pessoas, o risco será sempre inerente ao negócio, e a união de várias pessoas à sua volta permite, em tese, a diluição do risco da atividade entre os participantes da mesma sociedade. Diz-se “em tese” porque muitas vezes são as divergências entre os sócios que fazem o risco do negócio aumentar, o que se constitui objeto de outro estudo.

A formação de uma empresa tem origem, normalmente, na constituição de sociedades. Porém, como já vimos antes, o modelo histórico de sociedades comerciais e sociedades civis já não combina mais com a evolução do nosso tempo, razão pela qual a análise agora passa a ser exclusivamente a de empresa.

É na Itália, em 1942, por ocasião da edição do Código Civil,13 que surge uma moderna maneira de se enxergar essa atividade empresarial, dando início à teoria da empresa.

É de se notar também, que o que importa, agora, não é a atividade exercida, mas, sim, a “organização” da atividade, razão que levou a criação dessa teoria da empresa cujo foco é exclusivamente econômico, já que a atividade do empresário para o mundo econômico é o único meio de produção e circulação de riquezas. Ora a globalização tem forte influência sobre essa realidade, pois se analisarmos as nações que aderiram ao mundo globalizado, estimulando a circulação de riquezas, comparadas às nações que possuem economia fechada, e, portanto, com circulação de riquezas em potencial bem inferior, as primeiras estão economicamente muito mais desenvolvidas que as segundas.14

8 Fábio Ulhôa Coelho, in Manual de Direito Comercial, pág. 3. 9 “A empresa, constituída com a forma de uma sociedade comercial, domina a cada dia a economia moderna, principalmente porque ela é responsável pela produção e comercialização em massa de diversos produtos e serviços consumidos em nosso país. O progresso tecnológico revolucionário que essas empresas utilizam mostra a dimensão extraordinária alcançada através dos tempos. Inseridas nesse contexto, de um lado, encontramos as chamadas macroempresas, que, dotadas de um poder econômico inimaginável, chegam ao ponto de ignorar as fronteiras dos países de origem, onde são constituídas, para expandir os seus negócios através do mundo como é o caso das empresas multinacionais” (Walter Brasil Mujalli, in Direito de Empresa, pág. 49). 10 “Empresa é a organização dos fatores de produção, isto é, natureza, capital e trabalho, no exercício da atividade econômica que promove a produção e a circulação de bens ou de serviços, com a finalidade lucrativa. Ela é marcada pela profissionalidade” (Miguel Reale, apud Mariano Pazzaglini Filho, in Direito de Empresa no Novo Código Civil, pág. 28). O próprio Mariano define, na mesma página, empresa como “a materialização administrativa, de forma organizada e profissional, da atividade empresarial”. 11 A “empresa”, do ponto de vista jurídico, não pode ser confundida com a própria sociedade – a relação entre os sócios –, nem com o prédio (o estabelecimento), nem com o seu estoque, etc. 12 “Deve-se entender não no sentido do desaparecimento de um corpo separado de leis (que somente teria uma importância meramente formal), mas no sentido da unificação do direito das obrigações. Não mais existem atos de comércio e, desta forma, não mais existe uma oposição entre ato civil e ato de comércio. Nas codificações anteriores determinados atos (por exemplo, a venda) eram submetidos a um regime especial quando pudessem ser qualificados como comerciais (e podemos recordar os diversos critérios históricos para esse fim: o subjetivo, baseado na pessoa – o comerciante – que realiza o ato; e o baseado nas características do ato: por exemplo, a aquisição com intenção de revender); na atual codificação desaparece essa disciplina. Os diversos atos são submetidos a uma disciplina constante” (Tullio Ascarelli, in Iniciación al Estúdio Del Derecho Mercantil, apud Ricargo Negrão, in Manual de Direito Comercial e de Empresa, pág. 39). 13 Código Civil Italiano. Art. 2.082. É empresário quem exercita profissionalmente uma atividade econômica organizada para o fim de produção ou troca de bens ou de serviços. 14 Vale observar que quando a União Soviética sofreu a ruptura, verificou-se que um atraso tecnológico muito grande era enfrentado por aquele país em razão de sua insistente economia fechada. À vista disto, a China, por exemplo, nem pensou duas vezes e já tratou logo de proporcionar a abertura de sua economia, o que a transforma num país de tecnologia de ponta.

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A questão pode ser colocada por dois prismas: para o mundo econômico o importante é a estimulação da circulação de riquezas; para o mundo jurídico o importante é a empresa. Por isso, é necessário que o ordenamento jurídico evolua no sentido de criar um modelo de empresa que permita o desenvolvimento econômico de forma ética e organizada.

Essa organização virá com a adoção de formas societárias que permitam ao empresário a facilitação do alcance de seus objetivos, e por parte do Estado com a adoção de mecanismos que permitam o total controle da atividade empresarial para intervenção no mercado, caso seja necessário.

Aliás, neste sentido, a Lei das Sociedades Anônimas,15 por imperativo legal, estende os efeitos mercantis às sociedades civis que adotam, na sua estrutura, o tipo de sociedade por ações. Observa-se, pois, que para esta Lei é indiferente se uma sociedade desenvolve "atos comerciais" ou "ato civis". Em sendo estruturada sob a forma de sociedade anônima, será sempre uma sociedade de cunho mercantil.

O novo Código Civil, neste diapasão, dá ao empresário e comerciante a mesma definição, a saber, empresário. Porém, ressalva que não se considera empresário quem exerce atividade intelectual, científica, literária ou artística. Destarte, agasalha a "Teoria da Empresa".

2.1. - Organização da Atividade de Empresário A grande questão que surge com o Código Civil é que o empresário é aquele que exerce

profissionalmente “atividade organizada” para produção e circulação de bens e de serviços.16 Passou a doutrina, portanto, a se preocupar com essa organização da atividade para definir a empresa. Assim, se verifica a posição dos doutrinadores quanto à organização da atividade de empresário, conforme segue:17

“Conceitua-se empresa como sendo atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens e serviços, gerados estes mediante a organização dos fatores de produção (força de trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia)” (Miguel Reale). “Como atividade econômica, profissional e organizada, a empresa tem estatuto jurídico próprio, que possibilita o seu tratamento com abstração até mesmo do empresário” (Fábio Ulhoa Coelho). “Empresa é a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. (...)” (Waldírio Bulgarelli). “Empresa é essa organização dos fatores de produção (...) pelo empresário” (Rubens Requião).

E arrematando a questão quanto à dificuldade de definição de empresa, façamos referência a Waldemar Ferreira,18 que se propôs ao desenvolvimento do conceito de empresa, a partir da apresentação de três círculos distintos, que representam a empresa, o empresário e o estabelecimento:

“Tem-se, partindo do centro para a periferia, o estabelecimento circunscrito pela empresa, e esta pela pessoa natural ou jurídica, mercê de cuja vontade aqueles se instituem e movimentam-se. São três movimentos e expressões do mesmo fenômeno comercial, econômico-social e jurídico. Ostentam-se, no centro, os bens, corpóreos e incorpóreos, que constituem o estabelecimento como universalidade de fato. A empresa superpõe-se-lhe

15 Lei das S/As. Lei n.º 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 2.º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 1.º Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e uso do comércio. 16 CC Art. 966. 17 Márcia Mallmann Lippert, in A Empresa no Código Civil, págs. 122 e 123. 18 Apu Walter Brasil Mujalli, in Direito de Empresa, pág. 50 e 52: “Atualmente é quase unânime a idéia de que a empresa constitui uma unidade organizada de produção e comercialização de bens e serviços destinados ao mercado, em que pese esse conceito não ter sido encarado de forma unânime pelos economistas deste a chamada Revolução Industrial.”

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como organização do trabalho e disciplina da atividade no objetivo de produzir riqueza, a fim de pô-la na circulação econômica. Tudo isso, porém, se subordina à vontade e às diretrizes traçadas pela pessoa natural ou jurídica que as haja organizado, sujeito ativo e passivo nas relações jurídicas tecidas pela empresa no funcionamento do estabelecimento de lucros pelo comerciante, como empresário, procurados e obtidos”.

Afora a questão conceitual, é importante reparar que existia no Brasil, na legislação anterior, um

modelo societário que oferecia ao empresário sete formas distintas para se organizar. Com o advento do Código Civil, o legislador manteve praticamente a mesma estrutura, mas não é esse o ponto de organização da atividade empresarial que necessitamos, pois o sistema ainda não protege nem o Estado (enquanto arrecadador) e nem a sociedade (enquanto consumidora dos bens e serviços).

Por um lado, a organização deve permitir mecanismos aos empresários para a facilitação e manutenção de sua atividade econômica organizada. Por outro deve permitir ao Estado total controle sobre essa atividade, já que ela interessa diretamente ao Estado e à sociedade.

O que se tem observado nos últimos anos é um modelo societário falido, pois se de um lado, em parte o Estado vem cumprindo seu papel através da adoção de mecanismos facilitadores da atividade econômica, não se pode dizer o mesmo sobre o controle sobre essa atividade. É grande o número de empresas que praticam golpes contra a sociedade brasileira, como foi o caso da Encol, da Fazenda Reunidas Boi Gordo, e outros. Além disso, inúmeras empresas fecham a porta do dia para a noite lesando a sociedade; ou empresas registradas nos órgãos estatais com endereços inexistentes; com sócios denominados laranjas. Essas circunstâncias dificultam e muito o desenvolvimento das empresas novas, pois levam muito tempo para adquirirem a confiança do consumidor. Contudo, após longos anos de atividade, essas mesmas empresas descobrem que o fator “tempo de existência” não garante a confiança e lealdade do cliente.

Talvez por tudo isso, o modelo atual mereça críticas e uma profunda reflexão. Porém é de importância reconhecer a dificuldade existente para o controle dessa atividade, que poderia envolver a fiscalização e a revisão de sistema de registro.

É obrigação do Estado, e, aliás, deveria ser essa a principal atividade do Poder Executivo, a instituição de mecanismos de fiscalização que pudessem permitir ao órgão estatal um controle permanente sobre o exercício da atividade empresarial.

Porém, nem sempre é possível garantir o funcionamento da empresa ad eternum. Isto é, por mais que se possa fiscalizar a constituição de uma empresa, no momento em que ela deixa de existir de forma fraudulenta, o sistema jurídico atual não permite que os infratores sejam punidos ou impedidos de praticar a fraude.

O sistema de registro ideal exige um modelo que pudesse checar cada uma das informações constantes do instrumento de registro exibido pelo empresário, principalmente no que tange às pessoas que compõem a sociedade e ao local aonde a empresa irá ou está estabelecida.

Poder-se-ia ir além, poder-se-ia sugerir inclusive, a exigência de outorga de garantias por parte de quem pretenda se estabelecer. No entanto, tal exigência poderá esbarrar no entrave econômico. A sociedade exige maior número de vagas para trabalho (emprego) e o aumento da burocracia agravaria a situação. Mas numa análise fria, a Encol era uma empresa economicamente sólida e que poderia, em um determinado momento, ter ofertado garantias para a manutenção de seu registro o que geraria minimização dos prejuízos que recentemente causou a sociedade. Portanto, a “caução” poderia ser exigida após um determinado tempo de existência da empresa. Ocorre que, quando a “patologia” existe, o remédio pode fortalecê-la. Qualquer sociedade mal intencionada fecharia as portas antes do vencimento do prazo para oferecimento da caução, ainda que limites fossem estabelecidos, que impedissem seus titulares de reabrirem com nova sociedade, ainda que de outro ramo e com outro nome, em outro Estado, etc.

De qualquer forma, é notório que, tanto o modelo anterior como o atual, apesar de coadunarem com a necessidade econômica do país, estão longe de permitir a almejada segurança jurídica pela qual clama a sociedade brasileira.

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2.2. - Ética na Atividade Empresarial É de se notar que o Novo Código Civil é muito mais do que um ordenamento jurídico. Ele é, em

realidade, uma proposta de mudança de comportamento da sociedade brasileira. O legislador criou dispositivos legais alicerçados no Princípio da Eticidade, exigindo da sociedade: eqüidade, boa-fé e principalmente justa causa nos comportamentos, o que vem sendo a tônica do sistema legislativo brasileiro, desde a Constituição de 1988, como a criação da possibilidade de se estabelecer taxa de juros reais de 12% ao ano19 e, também, com a possibilidade de criação do Estatuto da Cidade,20 que regulamenta os arts. 182 e 183 da Carta Magna,21 visando estabelecer políticas de respeito às funções sociais da propriedade.

Como tendência, pode-se constatar que o Código Civil contempla inclusive, o respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, com a proteção outorgada aos Direitos de Personalidade e não mais apenas com o seu reconhecimento como se verificava na Constituição Federal.22

A atividade empresarial é, pois, uma das células de nossa sociedade. Há de se exigir um comportamento ético dessa atividade, para proteção da própria sociedade. A bem da verdade tal comportamento já está sendo balizado principalmente por duas legislações: o Código de Defesa do Consumidor e a Lei de Defesa da Concorrência.

A ética23 por seu turno deve vir através de um modelo societário que exija do empresário um comportamento condizente com os princípios da livre concorrência e do respeito ao consumidor.

Caminhamos, assim para uma consciência no exercício da atividade econômica organizada, de modo que a atuação deva primar pelo respeito ao consumidor e pela livre concorrência, permitindo assim, um desenvolvimento econômico ético.

3. - DAS FASES DA EMPRESA

No estudo do Direito Empresarial, necessário se faz, ao menos de relance, fazer referência a algumas fases que marcaram o desenvolvimento da empresa até os dias de hoje. O Direito comercial surgiu por obra de seus próprios interessados, ou seja, foram os comerciantes que começaram a editar as normas reguladoras de sua atividade. Isto se explica pela gênese do comércio, desde as navegações históricas.

3.1. - Na Antigüidade: Na Idade Média, a profissão de “comerciante” surgiu com a intensificação das feiras nas cidades

medievais e, conseqüentemente, surgiu também a classe burguesa, em contraposição à classe feudal. O direito comum não regulamentava a atividade comercial, posto que a profissão de mercador era discriminada e considerada indigna pela Igreja.

A princípio, a atividade empresarial nasceu do escambo. As pessoas produziam para subsistência e o excedente virava mercadoria para troca por outros produtos que não se produzia, mas que eram também

19 CF. Art. 192. ... § 3.º As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar. 20 Estatuto da Cidade. Lei n.º 10.257, de 10.7.2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. 21 Os arts. 192 e 193 da Constituição Federal cuidam da Política Urbana, estabelecendo ao poder público municipal a competência de estabelecimento do “plano diretor” para cidades com mais de vinte mil habitantes. 22 CF. Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ... III – a dignidade da pessoa humana; ... 23 “De forma conceptual, a palavra ética, oriunda do grego etjike, que significa ciência da moral ou série de princípios morais pelos quais o indivíduo deve guiar sua conduta no ofício ou profissão que exerce. Então, se a ética tem como pressuposto estabelecer princípios de conduta positiva para que exista uma perfeita relação entre indivíduos, ou relação entre agentes de negócios, porque não aderir a padrões previamente determinados para diminuir, senão banir, comportamentos contrários a um desenvolvimento ou vitórias sadias?” (Angelly Colaço e Genival Ferreira, in Dez Lições para o Êxito de uma Empresa, pág. 17).

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necessários à subsistência. No entanto, como se tratava de pura troca de mercadoria por outra mercadoria, não recebeu do direito o tratamento adequado, por tratar-se de atividade não econômica.

3.2. - Da Atividade Econômica: Nem é preciso lembrar que o objeto de nosso estudo é jurídico e não econômico. Contudo, mister se faz

considerar que a atividade de troca praticada na antiguidade era sim verdadeira atividade empresarial, já que o indivíduo poderia escolher um determinado produto que melhor conhecesse para intensificar sua produção, visando justamente possibilitar a troca futura. Em um determinado momento, difícil de se precisar, as pessoas começaram a trocar sem levar em conta o necessário à sua subsistência, pensando em outras trocas futuras, o que se consubstanciava o desenvolvimento da atividade lucrativa e, com ela, o risco da perda da mercadoria adquirida, por obsolescência, desinteresse do mercado ou perecimento.

Os comerciantes então passaram a se organizar em corporações de mercadores cujas principais funções eram dirimir conflitos envolvendo os comerciantes que nelas estivessem matriculados. Para tanto, aplicavam as normas provindas dos costumes mercantis.24

Infere-se que os comerciantes faziam as leis que lhes seriam aplicadas pelos cônsules (também comerciantes), com função jurisdicional dentro da corporação de ofício.25

3.3. - Do Comércio: O comércio se faz presente em muitas disciplinas, que não a jurídica. A Geografia preocupa-se com as

regiões e as navegações motivadas pelo comércio. A História com as transformações sofridas pela humanidade com o mercantilismo, que pode-se dizer um antepassado da globalização atual. Enfim, superada essa fase inicial da troca que não teria sido reconhecida como atividade empresarial, portanto objeto da teoria subjetivista, o comércio entrou em sua fase objetivista adotando como instrumento de troca o metal (nascimento da moeda), que futuramente viria a ser convencionado como padrão monetário.

3.4. - O Comércio como Forma de Desenvolvimento Econômico: Sem sombra de dúvidas, a atividade comercial foi o principal elemento de desenvolvimento mundial, a

exemplo do atual fenômeno da globalização, que tem em seu grande núcleo as facilidades de produção e exportação de produtos. Ora os grandes descobrimentos se deram em razão exclusiva de busca de novos mercados comerciais, o que possibilitou o povoamento e conseqüentemente o desenvolvimento social globalizado, assim como, também, a difusão do Imperialismo, no início do século XX.

3.5. - Dos Serviços: A atividade comercial, entretanto, não se desenvolvia de per se, isto é, necessário se fez que outras

atividades surgissem em apoio à atividade de comércio, surgindo, assim, as atividades auxiliares do comércio. Como já esboçado anteriormente, a denominação comércio foi sendo ao longo do tempo superada por

uma necessidade mercadológica, é que o mercado passou a conviver com duas atividades distintas, de um lado a atividade comercial e de outro a atividade de serviços, como atividade auxiliar, o que encaminhou naturalmente

24 "É nessa fase histórica que começa a se cristalizar o direito comercial, deduzido das regras corporativas e, sobretudo, dos assentos jurisprudenciais das decisões dos cônsules, juízes designados pela corporação, para, em seu âmbito, dirimirem as disputas entre os comerciantes" (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. pags. 10 e 11). 25 "Tem-se aí a origem do Direito Comercial: um direito de cunho subjetivo (dos comerciantes) e de feição eminentemente classista, porque criado e aplicado pelos comerciantes para resolver suas relações de negócio" (GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Curitiba : Juruá, 2000. pag. 42).

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ao desenvolvimento da teoria da empresa, com o objetivo de unificar as duas atividades como questão conceitual, ou seja, visando a concepção da empresa como se encontra regulada atualmente no nosso direito.

3.6. - Da Empresa: Como dito, o legislador não cuidou de definir especificamente empresa. Mas, o seu conceito nasce do

esforço doutrinário de reunir os elementos da tríade da empresarialidade, que estudaremos mais à frente. Em desfecho deste capítulo podemos apresentar a seguinte definição: “empresa é o conjunto complexo de elementos abstratos e concretos, necessários à formação e ao desenvolvimento da atividade de empresário, economicamente organizada e implementada através de ações profissionais rotineiras e continuadas”.

4. - O DIREITO DE EMPRESA NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

O Direito Empresarial com as inovações trazidas pelo Código Civil e pela própria evolução da atividade empresarial ganha contornos muito mais abrangente e passa a ter características próprias. Mas, o Código Civil traz legislado, apenas, o Direito de Empresa.

4.1. - Direito de Empresa ou Direito Societário? O Código Civil denominou o Livro II, da Parte Especial, que se inicia com o art. 966, “Do Direito de

Empresa”. Contudo, a matéria que se segue regula a constituição e registro das sociedades. Paira, então, uma dúvida se o referido livro trata do Direito de Empresa ou do Direito Societário.

Nosso ordenamento é rico em subdividir os ramos do Direito Privado, pois sabemos que, antes do Código Civil de 2002, existiam apenas dois grandes ramos do Direito Privado: o ramo do Direito Comercial e o ramo do Direito Civil. É por isto que há a chamada “unificação” com a chegada do Código, pois, passamos a regular todas as atividades privadas da sociedade, sejam civis ou comerciais pelo Código Civil.

Contudo, não é bem assim que se procede. Devido à grande evolução da sociedade, alguns assuntos passam a ser tratados separadamente, fazendo com que surjam ramos do Direito Privado regulados pelas chamadas leis esparsas, como é o caso do Direito do Consumidor, do Direito Financeiro, do Direito dos Desportos e outros. Tal fenômeno envolve, também, o ramo do Direito Público, quando vemos nascer o Código das Águas, o Direito Ambiental e outros ramos que incorporam matérias de ordem pública, que vão além das já conhecidas áreas do Direito Tributário, do Direito do Trabalho, do Direito Penal e do Direito Administrativo, puramente áreas de Direito Público.

Com isto, há uma confusão doutrinária na concepção do título dado ao Livro II, da Parte Especial,26 do Código Civil, pois não se pode dizer que se trata exclusivamente de Direito Societário, pois neste se inclui todo o regramento das demais sociedades não contempladas pelo Código, como é o caso das Cooperativas,27 das Sociedades por Ações28 e das Sociedades de Advogados,29 por exemplo, que, agora, não mais constituem sociedades civis, mas, sociedades simples.

Do mesmo modo, também não é o caso de se dizer que a matéria é exclusiva do Direito de Empresa, pois assim como inclui-se no livro o Direito Societário, deixa-se de incluir outros importantes ramos que são

26 O Código Civil é dividido em duas partes a Parte Geral e a Parte Especial, sendo esta dividida em seis livros, a saber: Livro I – Do Direito das Obrigações; Livro II – Do Direito de Empresa; Livro III – Do Direito das Coisas; Livro IV – Do Direito de Família; Livro V – Do Direito das Sucessões; e o último denominado Livro Complementar. 27 Lei das Cooperativas. Lei n.º 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Art. 1° Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a atividade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas entre si, desde que reconhecido seu interesse público. 28 Lei das Sociedades Por Ações. Lei n.º 6.404/76. 29 Sociedade regulada pela Lei n.º 8.906, de 04 de julho de 1994. Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade civil de prestação de serviço de advocacia, na forma disciplinada nesta Lei e no Regulamento Geral.

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fundamentais na formação da empresa, como é o caso das marcas e patentes,30 dos títulos de crédito,31 da falência e concordata32 e outros aspectos jurídicos, que no global completam o Direito Empresarial.

Concluímos que este livro representa apenas parte do Direito Empresarial. 4.2. - Tríade da Empresarialidade O que restou comprovado é que a identificação da empresa é feita pela constatação de diversos

elementos que compõem a tríade da empresarialidade, ou sejam: o empresário, o estabelecimento e a atividade econômica organizada. Pois bem, o empresário é a pessoa que exerce profissionalmente a atividade de empresário (CC Art. 966) em nome próprio; o estabelecimento é formado pelo conjunto de elementos concretos e abstratos necessários para o exercício da atividade de empresário; e a atividade econômica organizada é qualquer atividade que vise a produção e ou circulação de bens ou serviços, com a finalidade de obtenção de lucros.

Assim, importante observar que a atividade econômica organizada, para fins de estabelecimento da empresarialidade, exige a conjugação de três fatores de suma importância, quais sejam: profissionalismo, que se caracteriza pelo exercício habitual da atividade empresarial na produção ou a circulação de bens ou de serviços; risco inerente à prática de atividade econômica; e lucro caracterizado pela finalidade e não necessariamente pelo resultado.

4.3. - Das Pessoas Jurídicas Antes de se falar em sociedades, é preciso fazer uma reflexão, ainda que em passent sobre o

regramento jurídico das pessoas jurídicas. As sociedades, como veremos são espécies do gênero pessoa jurídica, contemplado pelo Código Civil, em seus artigos 40 a 69. Podemos representar em um gráfico a classificação das pessoas jurídicas, a saber:

Externo Estados estrangeiros,

Organismos internacionais

DIREITO (ONU, FAO, OEA, Mercosul)

PÚBLICO

Interno União, Estados, DF, Municípios

Pessoas Autarquias normais e especiais Fundações públicas

Jurídicas DIREITO Associações O R G A N I Z A Ç Õ E S - ONGs

PRIVADO Fundações

Sociedades

E M P R E S A S

Entidades religiosas e sindicatos

Como vimos, há uma correta dicotomia que tradicionalmente classifica as pessoas jurídicas como

sendo de direito público e de direito privado. Vejamos cada uma delas:

30 Lei de Patentes. Lei n.º 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. 31 Cheque (Lei n.º 7.357/85), Letra de Câmbio (Decreto n.º 2.044/1908), Nota Promissória (Dec. 2.044/08), Duplicata Mercantil (Lei n.º 5.474/68) e Protesto Cambiário (Lei Uniforme de Genebra, Dec. 2.044/08 e outros). 32 Lei de Falências. Decreto n.º 7.661/1945.

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4.3.1. - Pessoas Jurídicas de Direito Público As pessoas jurídicas de direito público subdividem-se em “direito interno” e “direito externo”. Essas

qualificando como as entidades cujos ordenamentos jurídicos são conflitantes com o nosso, isto é, cada país tem sua legislação própria. Assim, se duas entidades entram em conflito (ou não), mas localizam-se em países diferentes, no nosso caso, fora do Brasil, trata-se de uma entidade de direito externo, assim entendidos os Estados estrangeiros (França, EUA, Inglaterra etc) e os organismos internacionais (OEA, Mercosul, OMC, ONU etc). No Código Civil, essas entidades estão contempladas no art. 42.33

As pessoas jurídicas de direito público interno, contempladas pelo Código Civil em seu art. 41,34 são as entidades em que se encontra presente a propriedade, o domínio, a administração ou a gestão pública, tais como as entidades da Federação, União, Estados, Municípios e Distrito Federal,35 as autarquias,36 autarquias de regime especial37 e as fundações públicas.38 Ressalte-se que há entidades de direito público que recebem caráter de direito privado, as quais são regidas pelo Código Civil.39

4.3.2. - Pessoas Jurídicas de Direito Privado As pessoas jurídicas de direito privado, regulamentadas pelo Código Civil, são regidas também pelas

leis específicas, como a cooperativa, a sociedade por ações etc. São elas: as associações, as sociedades e as fundações.40

Vejamos a seguir alguns pontos consideráveis a respeito dessas entidades. 4.4. - Do Regime Jurídico das Pessoas Jurídicas Veja-se que, no contexto geral, as pessoas jurídicas são reguladas pelo Título II, do Livro I, do Código

Civil,41 valendo, portanto, essas regras gerais para “todas” as pessoas jurídicas, inclusive as sociedades e, conseqüentemente a empresa.

O art. 4542 determina a legalidade da existência da pessoa jurídica, estabelecendo, inclusive as normais para registro no art. 46,43 enquanto que o art. 4744 traz a figura do ultra viris,45 que é muito importante do ponto

33 CC. Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. 34 CC. Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I – a União; II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III – os Municípios; IV – as autarquias; V – as demais entidades de caráter público criadas por lei. 35 Importante salientar que o Código fala em Territórios. Atualmente, todos os territórios federais integram a União (CF 78, § 2.º). Com a edição da CF/88, os territórios existentes foram transformados em Estados (Roraima e Amapá) ou reintegrados ao Estado de Origem (Fernando de Noronha). 36 Pessoas jurídicas de direito público, constituídas para prestação de serviços públicos, obras e outros serviços descentralizados. 37 Entidades parafiscais, como OAB, CRC etc., agências reguladoras (Aneel, ANA, ANP etc) e outras. 38 O regime jurídico de formação é o mesmo da instituição privada, contanto que o patrimônio transferido seja público, sendo necessário a lei para sua constituição. 39 CC. Art. 41. ... Parágrafo único. Salvo disposições em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. 40 CC. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I – as associações; II – as sociedades; III – as fundações. 41 Das Pessoas Jurídicas. 42 CC. Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. 43 CC. Art. 46. O registro declarará: I – a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver; II – o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; III – o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; IV – se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;V – se os membros respondem , ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; VI – as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. 44 CC. Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo. 45 A teoria ultra viris comporta o entendimento de que se os administradores agem dentro dos limites da lei ou dos atos constitutivos da pessoa jurídica, esta responde por esses atos; o contrário também é verdadeiro, ou seja, extrapolando os poderes que lhe são outorgados, os administradores respondem em ação de regresso, inclusive com a garantia seu patrimônio.

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de vista da responsabilidade dos administradores. E o art. 50,46 traz a inovação mais importante, retratando a doutrina da “desconsideração da personalidade jurídica” ou disregard doctrine ou disregard of legal entity.

Importante ainda observar que, no caso do estudo do Direito Empresarial, não podemos deixar de considerar o parágrafo único, do art. 44,47 que é determinante na questão do regime jurídico das sociedades.

4.4.1. - Do Regime Jurídico de Constituição As pessoas jurídicas de direito privado no Código Civil, diferentemente do que se verificava no

CC1916, somente se constituem pela natureza de associações, sociedades ou fundações. Não há mais aquela complicada classificação que havia antes.48

Portanto, o regime jurídico de constituição das pessoas jurídicas se divide em três categorias que açambarcam todas as pessoas jurídicas de direito privado. Vejamos a seguir.

4.4.1.1. - Das Associações As associações são regidas pelo Código Civil, a partir do art. 5349 até o 61. A doutrina, interpretando o

Código ipses literis, considera as associações uma união de pessoas e não um contrato, como é o caso das sociedades. Assim, entre os associados não há direitos e obrigações recíprocos.

Nesta categoria de pessoas jurídicas, agora, estão todas aquelas que não sejam sociedades, assim os sindicatos, os partidos políticos, as antigas sociedades civis sem fins lucrativos, as religiosas, morais, científicas, literárias, etc.

Nesta categoria, estão incluídas, também, as chamadas “OSCIPs”50 e as chamadas “ONGs”51 (“EISUPs”),52 ambas regulamentadas por leis específicas.

A principal característica que recebe da lei é que se presta a finalidades “não lucrativas”, portanto, não há o compromisso com o lucro, devendo ser constituída sob a forma estatutária como veremos mais à frente.

4.4.1.2. - Das Sociedades As sociedades são pessoas jurídicas com finalidade lucrativa, objeto principal do nosso estudo, o que

faremos especificamente no tópico 8, deste trabalho. É importante perceber que sociedade é um instituto jurídico, com sua natureza distinta de empresa, que

é o fenômeno que surge no mundo jurídico, a partir do Código Civil Italiano de 1942, com o nascimento da Teoria da Empresa.

46 CC. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 47 CC. Art. 44. ... Parágrafo único. As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. 48 CC1916. Art. 16. São pessoas jurídicas de direito privado: I – as sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, as associações de utilidade pública e as fundações; II – as sociedades mercantis; III – os partidos políticos. 49 CC. Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. 50 “OSCIPs” - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, instituídas pela Lei n.º 9.790, de 23-3-99, regulamentada pelo Decreto n.º 3.100, de 30-6-99. São uma modalidade de associação sem fim lucrativo que, mediante termo de parceria celebrado com o Poder Público, podem se utilizar de bens e recursos públicos para prestar serviços sociais não exclusivos do Estado, ou sejam assistência social, promoção gratuita da educação, saúde, segurança alimentar, nutricional, voluntariado, combate à pobreza e outros. Podem ser constituídas sob a categoria de “associações” ou de “fundações”. 51 ONGs – Organizações não governamentais – portanto de direito privado. 52 EISUPs – Ou, simplesmente, Organizações Sociais, como são chamadas, previstas na Lei n.º 9.637, de 15 de maio de 1998, são pessoas jurídicas de direito privado. Podem ser constituídas sob a categoria de “associações” ou de “fundações”.

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4.4.1.3. - Das Fundações As fundações são pessoas jurídicas de direito privado. Elas também não têm finalidade econômica e

estão regulamentadas pelo Código Civil, a partir do art. 6253 até o 69. A diferença estabelecida entre a fundação e a associação é que, nesta, como determina o Código, o

instituidor, ao criá-la, doa um universo de bens que seja suficiente para o seu funcionamento. E uma vez constituída, também sob a forma estatutária, ali estabelecida a forma de administração da mesma, o instituidor não poderá mais se arrepender e desfazer a fundação.54

Há uma limitação legal para constituição de fundação, quanto aos fins, como determina o parágrafo único do art. 62, do Código Civil.55

E uma observação importante é que a instituição de fundação com bens insuficientes para o seu funcionamento, quando o instituidor nada se pronunciar a respeito na escritura pública de constituição ou no testamento, os bens serão destinados a outra fundação que tenha sido instituída para o mesmo fim.56

4.4.2. - Do Regime Jurídico de Formação Como vimos, as pessoas jurídicas estão reguladas pelo Título II, do Livro I, do Código Civil e seu

regime jurídico de constituição pode ser de associações, sociedades e fundação, sendo que estas, por foca legal, pressupõe a existência de uma escritura pública ou de um testamento.

Para constituir a pessoa jurídica em uma das categorias acima referidas, necessário se faz a utilização de um instrumento, isto é, a elaboração de um documento que externe formatação da pessoa jurídica constituída sob uma das categorias mencionadas. Vejamos as duas formas de constituição da pessoa jurídica.

Importante verificar que a atualidade expõe um instituto jurídico a ser considerado na formação das pessoas jurídicas, inclusive no que tange às circunstâncias internas da sociedade. Trata-se do instituto da arbitragem, oriundo da Lei n.º 9.307/96, que praticamente institui a justiça privada.

Com a inclusão de cláusula compromissória no instrumento de formação da sociedade, a arbitragem pode agilizar a eventual solução de litígios havidos entre os sócios.

4.4.2.1. - Do Contrato Social Este documento, cuja forma é, obrigatoriamente a escrita,57 que pode ser instrumento público ou

particular, é aquele utilizado para se constituir sociedades. O próprio nome já determina a existência de sócios (contrato social). A boa técnica recomenda que o Contrato Social seja redigido com algumas divisões importantes, quais sejam o preâmbulo, as cláusulas e o desfecho.

O preâmbulo do Contrato Social traz a qualificação completa dos sócios e informa que os mesmos se reuniram em um determinado local, em uma determinada data, com a finalidade constituir uma sociedade, dando-lhe nome e estabelecendo que a mesma será regida pela Lei e pelas cláusulas58 do contrato.

Um contrato social bem elaborado traz algumas cláusulas importantes e essenciais, quais sejam, as que falem da denominação, da sede, do objeto, do prazo de duração, do tipo de sociedade, do capital social, forma de integralização e as quotas de cada sócio, da responsabilidade dos sócios, da administração da sociedade, exercício

53 CC Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. 54 “... Os bens devem estar livres e desembaraçados, uma vez que qualquer ônus sobre eles colocaria em risco a existência da entidade, frustrando seus objetivos.” (Silvio de Salvo Venosa, apud Mariano Pazziaglini Filho, in Direito de Empresa no Novo Código Civil, pág. 21). 55 CC. Art. 62. ... Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. (grifo nosso). 56 CC. Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante. 57 CC. Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo. ... Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, ... (grifo nosso). 58 Cláusulas são dispositivos (tópicos que representam as normas traçadas pelos sócios) que delineiam o acordo estabelecido entre os sócios. O conjunto de cláusulas é que compõe o contrato. Existem cláusulas essenciais, sem as quais o contrato não pode ser registrado, e cláusulas facultativas, consideradas particulares.

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social. Algumas outras cláusulas são importantes, dependendo do tipo de sociedade, como cessão de quotas, falecimento do sócio, resolução da sociedade, quorum de deliberações etc.

E além de todas essas cláusulas, pode, ainda, o contrato social prevê a possibilidade de solução de eventuais litígios através da arbitragem, instituto que vem ganhando expressão no meio jurídico e que, no dizer de Silva, depende ainda de uma transformação cultural.59

4.4.2.2. - Do Estatuto Social O Estatuto Social é o documento que rege as pessoas jurídicas em que não haja “contrato”. Nesse tipo

de sociedade, os componentes da pessoa jurídica não têm obrigações e direitos recíprocos, assumindo, apenas, responsabilidade de contribuição para formação do capital social ou do patrimônio.

A fundação é formada pelo instrumento do Estatuto Social, aprovado pelo órgão deliberativo (o instituidor e o membro do Ministério Público, quando for o caso). O patrimônio é constituído pela doação do instituidor, na forma da lei.

A associação é, também, regida pelo Estatuto Social. O caso deixa bem claro que os associados não assumem obrigações recíprocas, nem têm direito entre si. O patrimônio é formado pelas contribuições dos associados, denominando-se quotas.

A Sociedade Anônima é formada pelo Estatuto Social, aprovado em Assembléia Geral de acionistas, cuja contribuição para formação do capital social é denominada ação.

5. - DO DIREITO EMPRESARIAL

Muito se fala se o Direito Comercial deixou de existir, se passa a ter outro nome, o certo, porém, é que não importando a nomenclatura, se é correta ou não, o Direito Empresarial é mais abrangente do que o Direito Comercial, que envolvia, apenas, as relações de comércio.

Muito se falará em “atos empresariais” em substituição aos antigos “atos de comércio”. Mas, afora a impropriedade de açambarcamento do Direito Comercial pelo Direito Empresarial, o certo é que podemos dizer que este, a partir do Código Civil, engloba aquele.

Não é possível se falar em Direito Empresarial apenas para estudar a constituição e formação de sociedades. Pela sua própria natureza, que inclui o Direito de Empresa estampado no Código Civil, engloba fatores outros que vão além do Código Civil, como as marcas e patentes e os títulos de crédito, os contratos empresariais e outros assuntos jurídicos de importância.

5.1. - Conceito: Direito Empresarial é o conjunto de normas jurídicas que regulam as transações econômicas privadas,

que visem à produção e a circulação de bens e serviços através de atos exercidos profissional e habitualmente, com o objetivo de lucro.

O Direito Empresarial, portanto, vai além do Direito Comercial e do Direito de Empresa de que trata o Código Civil, pois aqui cuida-se de outros fatores importantes para a atividade do empresário, enquanto membro de uma sociedade, tais como os títulos de crédito e as situações de falência e concordata. É por isto que dizemos que o melhor seria tratar o Livro II, da Parte Especial, do Código Civil, como “Do Direito Societário”, ainda que algumas sociedades lá previstas sejam regidas por leis esparsas, como já dissemos.

59 “Sendo a cláusula compromissória suficiente para a instauração imediata da arbitragem, é necessário verificar como se dará a implementação de tal disposição nos contratos. A partir da verificação de que os contratos são capazes de promover a instauração de relacionamentos entre as empresas, a inserção da cláusula compromissória realiza uma função de preservação daqueles vínculos, na medida em que a arbitragem é um meio de resolução de controvérsias de menos litigiosidade em relação aos expedientes judiciais clássicos. A implementação da cláusula compromissória na prática contratual brasileira prende-se, contudo, a uma transformação cultural a que são chamados precipuamente os operadores jurídicos.” (SILVA, Eduardo Silva da, in Arbitragem e Direito da Empresa, RT, pág. 191.

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Tal é, por exemplo, o caso das sociedades simples, o tipo, não a natureza jurídica,60 prevista no Código Civil, regulada a partir do art. 997 até o 1.038, que não pode ser considerada “empresa”, do ponto de vista de que não se trata de sociedade “empresária”.

Poderíamos, assim, dividir o Direito Empresarial em: a) – Direito de Empresa (ou Societário) (Código Civil, Lei das S/A etc.); b) – Direito da Propriedade Industrial (Marcas e Patentes); c) – Títulos de Crédito (Leis esparsas); d) – Falências e Concordatas (Lei de Falências); e) – Direito Bancário (Lei n.º 4.595/64 e outras); f) – Comércio Exterior (Tratados Comerciais Internacionais, Incoterms, Siscomex etc.) Essa divisão substitui o antigo Direito Comercial, mas produz uma atualização por demais importante

no Direito, com a modernização trazida com a Teoria da Empresa. 5.2. - Exceção O Direito Civil, como já vimos, cuida das relações jurídicas havidas entre os particulares. Muitas são

as circunstâncias em que os particulares se relacionam com entes públicos. Às vezes, essas relações são puramente civis, mas, às vezes, teremos algumas relações entre empresários e entes públicos, que apesar da natureza meramente empresarial, estarão afetas ao regime de Direito Administrativo, isto porque este ramo de direito regula as atividades obrigacionais do Estado. Poderemos considerar, portanto, a exceção do Direito Empresaria, nas circunstâncias em que se faz presente na relação jurídica o Estado.

5. 3. - Abrangência do Direito Empresarial Pela análise feita inicialmente podemos concluir que o Direito Empresarial é muito mais complexo que

o antigo Direito Comercial, demandando estudo sobre a Teoria Geral do Direito de Empresa; Teoria Geral dos Títulos de Crédito; Teoria Geral dos Contratos; Direito Societário; da aplicação dos institutos da Falência e da Concordata; do Direito de Propriedade Industrial (Marcas e Patentes); do Direito Concorrencial; do Direito do Consumidor, entre outros.

5.4. - Características do Direito Empresarial Embora o Direito Empresarial, em termos legislativos, passe a ter seu principal regramento inserido no

bojo do Código Civil, continua a possuir características próprias como: simplicidade; cosmopolitismo, onerosidade e elasticidade.

a) Simplicidade: porque em suas relações habituais no mercado permitem o exercício da atividade econômica sem maiores formalidades, pois, se ao contrário fosse, o formalismo poderia obstar o desenvolvimento econômico. Mas, é preciso reconhecer que as regras passaram a endurecer no que tange à formalidade, pois as sociedades em comum expõem o patrimônio particular dos sócios. Isto se deve, em muito, ao tratamento que se iniciou com a Constituição Federal trazendo o princípio da função social da propriedade, que como corolário faz surgir a função social dos contratos.61

b) Cosmopolitismo: o Direito Empresarial vive de práticas idênticas ou semelhantes adotadas no mundo inteiro, principalmente com a globalização da economia, transcendendo as barreiras do direito pátrio, mas nem sempre exigindo legislação internacional. Aliás, mister se faz lembrar aqui en passent que as questões internacionais têm sido resolvidas pela arbitragem,62 com a utilização das regras internacionais do comércio.

c) Onerosidade: em se tratando de uma atividade econômica organizada, a onerosidade se apresenta embutida no elemento lucro que o empresário almeja. Promoções oferecem produtos abaixo do custo, o que não 60 Mais à frente, verificaremos que “sociedade simples” pode ser uma designação do tipo de sociedade e, também, da natureza jurídica da sociedade. 61 CC. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 62 Arbitragem. Instituto jurídico trazido pela Lei n.º 9.307, de 23 de setembro de 1996.

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retira o caráter de onerosidade, haja vista que normalmente são promoções com o objetivo de gerar sinergia nas vendas, isto é, o consumidor adquire o produto anunciado conjuntamente com outros produtos fora da promoção, com lucros compensadores para o comerciante. Em outras situações, o empresário busca minimizar determinado prejuízo com as promoções.63

d) Elasticidade: o Direito Empresarial, por transcender os limites do território nacional, precisa estar muito mais atento aos costumes do que aos ditames legais. Dessa forma, sempre que uma nova prática empresarial é adotada em larga escala internacionalmente, ela passa a ser adaptada, ainda que consuetudinariamente, ao Direito Empresarial, de forma a contemplar o dinamismo desse meio econômico.

5.5. - Legislação Aplicável

No tópico seguinte, veremos as fontes do Direito empresarial. Porém, faremos aqui uma relação das diversas áreas do direito, com a referência de algumas normas, sem a pretensão de esgotar o elenco, obviamente, pois as fontes de direito aplicáveis ao Direito Empresarial são inesgotáveis. Porém, no que concerne à fonte legal, especificamos aqui as principais leis atinentes a esse ramo do direito, a saber:

- Constituição Federal (a fonte primária de todo o ordenamento jurídico); - Código Civil (direito de empresa, direito das obrigações, direito dos contratos); - Código Comercial (parte não revogada, referente ao comércio marítimo);64 - Microempresas (Lei Complementar n.º 48/84; Lei n.º 9317/96; Lei n.º 9841/99; Decreto n.º

3474/00; Lei n.º 10.034/00; Lei n.º 10.194/01); - Cooperativas (Lei n.º 5764/71); - Sociedades por ações (Decreto n.º 177-A/1893; Decreto-Lei n.º 781/38; Decreto-Lei n.º 2627/40;

Decreto-Lei n.º 5956/43; Lei n.º 2300/54; Lei n.º 5589/70; Lei n.º 6404/76; Lei n.º 8021/90; Lei n.º 8200/91; Lei n.º 9457/97; Lei n.º 10.303, de 31/10/2001)

- Sociedades por quotas de responsabilidade limitada (- Decreto n.º 3708/19; Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil);

- Falências e concordata (Decreto-Lei n.º 7661/45; Decreto-Lei n.º 496/69; Decreto-Lei n.º 669/69; Decreto-Lei n.º 858/69);

- Liquidação de sociedades não sujeitas ao regime falimentar (Decreto-Lei n.º 73/66; Lei n.º 6024/74);

- Títulos de crédito (Decreto n.º 57595/66; Lei n.º 7357/85; Decreto n.º 1240/94; Decreto n.º 1102/1903; Decreto-Lei n.º 116/67; Lei n.º 5474/68; Decreto n.º 2044/1908; Decreto n.º 57663/66; Decreto-Lei n.º 167/67; Decreto-Lei n.º 413/69; Lei n.º 6690/79; Lei n.º 8929/94; Lei n.º 9492/97; MP n.º 2160-25/2001; MP n.º 2223/2001);

- Defesa do consumidor e da concorrência (Lei n.º 1521/51; Lei Delegada n.º 4/62; Lei n.º 8078/90; Lei n.º 8137/90; Lei n.º 8884/94; Lei n.º 9021/95; Decreto n.º 2181/97); - Arbitragem (Decreto n.º 1902/96; Lei n.º 9307/96); - Propriedade industrial (Lei n.º 9279/96); - Locações (Lei n.º 8245/91).

63 “Quando se constitui uma empresa, os sócios se reúnem e integralizam o Capital Social, isto é, aportam ao caixa da empresa o dinheiro que se comprometeram investir no momento da constituição da empresa ou os recursos aceitos como integralizadores do seu capital, tais como máquinas, veículos, terrenos, edificações etc. É com esse conjunto de recursos (dinheiro e outros) que a empresa vai movimenta os seus negócios. E tem gente que pensa em montar uma empresa, iniciar um negócio, sem capital, isto é, com capital de terceiros, começando assim, já devendo e onerando com juros a sua organização. Quando o capital é de terceiro, este não tem nenhum interesse direto no negócio senão na remuneração do seu capital (o empréstimo). Então, o que acontece? Se o negócio da empresa não for rentável para cobrir os juros do capital emprestado, e sobrar para o crescimento da empresa, dará prejuízo.” (Genival Ferreira e Jovi Barboza, in Como Formar o Preço de Venda, pág. 29). 64 C. Com. Lei n.º 556, de 25.6.1850. ... PARTE SEGUNDA - DO COMÉRCIO MARÍTIMO - TÍTULO I - DAS EMBARCAÇÕES - Art. 457 - Somente podem gozar das prerrogativas e favores concedidos a embarcações brasileiras, as que verdadeiramente pertencerem a súditos do Império, sem que algum estrangeiro nelas possua parte ou interesse. Provando-se que alguma embarcação, registrada debaixo do nome de brasileiro, pertence no todo ou em parte a estrangeiro, ou que este tem nela algum interesse, será apreendida como perdida; e metade do seu produto aplicado para o denunciante, havendo-o, e a outra metade a favor do cofre do Tribunal do Comércio respectivo. Os súditos brasileiros domiciliados em país estrangeiro não podem possuir embarcação brasileira; salvo se nela for comparte alguma casa comercial brasileira estabelecida no Império. (grifo nosso).

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6. - FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

Sendo o Direito Empresarial um ramo amplo do Direito, digamos, mais que o próprio Direito

Comercial, pois, agora, incorporando a Teoria da Empresa, nos arraigamos do antigo método de estudo das relações comerciais, incluindo-se nelas as relações entre os fornecedores e consumidores de serviços, da mesma forma que unificando o direito das obrigações e passando a tratá-los em um só diploma legal, mister se faz estudar um pouco as fontes do Direito Empresarial.

6.1. - Conceito de Fonte do Direito Primeiramente, registre-se que o grande doutrinador Washington de Barros Monteiro65 asseverou que

fontes do direito são “os meios pelos quais se formam ou pelos quais se estabelecem as normas jurídicas”. E o Mestre Miguel Reale66 nos brinda com o conceito de que fontes do direito são os “meios em virtude dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no contexto de uma estrutura normativa”. Para ele, “é necessário advertir que a antiga distinção entre fonte formal e fonte material do direito tem sido fonte de grandes equívocos nos domínios da Ciência Jurídica”.

6.2. - Classificação das Fontes do Direito De qualquer sorte, a doutrina insiste em classificar as fontes em classificações que são várias. No

entanto, apenas para elucidar o estudo do Direito Empresarial, vamos nos ater apenas às fontes formais e materiais; e às primárias e secundárias.

a) fontes formais: como o próprio nome já diz, são as fontes que dizem mais a respeito dos requisitos para aplicação do direito, do que para o reconhecimento do direito propriamente dito.

b) fontes materiais: são aquelas capazes de gerar um direito a alguém, são fontes jurígenas, ou sejam, que criam direitos e obrigações no mundo jurídico.

c) fontes primárias: ou principais, são as fontes próprias para gerar determinado tipo de direito, assim, o Código Civil é fonte primária de Direito Empresarial.

d) fontes secundárias: são aquelas auxiliares na aplicação de determinado direito, sendo utilizadas subsidiariamente ao direito em questão – jurisprudência, doutrina etc.

e) fontes de Direito Empresarial: inicialmente é de se asseverar que as fontes primárias de Direito Empresarial tanto podem ser consideradas como materiais ou formais, já que geram direitos e também disciplinam a sua aplicação.

- fontes primárias: no Direito Empresarial temos como fontes primárias a Constituição Federal, o Código Civil, o Código Comercial e a legislação extravagante empresarial. Os tratados comerciais internacionais também são fontes primárias de Direito Empresarial, até porque, são recepcionados em nosso ordenamento jurídico através de lei.

- fontes secundárias: aplicadas subsidiariamente, não se esgotam, podendo se considerar em qualquer ordenamento jurídico não empresarial, usos e costumes, analogias, jurisprudência e os princípios gerais de direito.

6.3. - Dos Usos e Costumes A natureza operacional do Direito Empresarial, com sua dinâmica, exige constante aplicação dos usos

e costumes como fonte de direito. O cheque “pré-datado” ou “pos-datado” é um exemplo clássico de aplicação dos usos e costume, a exemplo do contrato de factoring que embora ainda não tenha sido recepcionado pelo nosso

65 Apud Walter Brasil Mujalli, in Direito de Empresa, pág. 28. 66 In Lições Preliminares de Direito, 21ª ed. Saraiva, 1994, pág. 140.

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ordenamento jurídico, possui aceitação normal no nosso meio jurídico empresarial por força de uma pratica costumeira internacional. Não podemos esquecer que certos hábitos de contratação, como pregão de bolsa ou compra e venda de gado são exemplos clássicos de usos e costumes, considerados fontes do Direito Empresarial.

6.4. - Da Unificação do Direito Civil e Direito Comercial Muito se relutou durante o período de vacatio legis do Código Civil sobre se admitir a unificação do

Direito Privado. A principal questão que se levanta é a de que se há uma unificação do Direito Privado, por que o

Código estabeleceu a questão da capacidade das pessoas no Livro I67 e a capacidade do empresário no Livro II, da Parte Especial,68 ou seja, tem-se, assim, a impressão de que há dois regramentos.

Por isto, grande parte da doutrina tem reservado críticas para essa afirmação de que o Direito Privado foi unificado. Mas, o certo é que o foi, do ponto de vista que há somente um Código, o Civil, regendo as relações entre os particulares, sejam elas comerciais ou civis propriamente ditas.

Outra crítica que se faz é com relação à redação dada (ou mantida em parte) ao inciso V, do parágrafo único, do art. 5.º,69 com referência à cessação da incapacidade pelo estabelecimento civil ou comercial do incapaz. Ora, se para exercer a atividade empresarial é necessário ter capacidade civil plena, há um contra-senso que próprio exercício da atividade convalide uma incapacidade que antes era exigida para tal exercício.

Porém, de nossa parte, entendemos que houve, apenas, um complemento na Parte Especial, tendo em vista as características da capacitação para o exercício da atividade de empresário e, ainda mais, considerando-se a inovação trazida pela Teoria da Empresa.

A unificação do Direito das Obrigações é fato, ainda que as pessoas estejam distintas juridicamente em pessoas naturais e pessoas jurídicas.

7. - DO EMPRESÁRIO

O conceito de empresário encontra-se definitivamente estabelecido no Código Civil, em seu artigo 966: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços”. Mas, não basta a simples leitura do dispositivo do Código. É preciso considerar que alguns elementos caracterizam o empresário, a saber:

a) atividade regular: será considerado empresário quem exercer regularmente a profissão, ou seja, com a habitualidade necessária a caracterizá-lo como tal. A atividade não pode ser esporádica;

b) quem exerce atividade econômica organizada: atividade empresarial ou de prestação de serviços em que esteja presente a existência de estabelecimento, lucro e risco.

c) estimulador da circulação de bens ou de serviços: o conceito jurídico de atividade empresarial trouxe o principal elemento econômico que é a circulação de riquezas, mola mestra do desenvolvimento econômico, principalmente no mundo globalizado, de forma que essa circulação de riquezas compreende tanto o produto observado nas relações comerciais, quanto o serviço observado nas relações civis.

d) em nome próprio: caso a pessoa não exerça a atividade em nome próprio não será empresário, será mero colaborador ou empregado da empresa. Relativamente à forma que reveste o exercício da atividade empresarial, os empresários podem ser classificados em individuais e coletivos, sendo os primeiros os que exercem sua atividade debaixo de uma firma individual e os coletivos os que a praticam por meio de uma sociedade empresária.

e) abrangência: note-se que com isso, empresário será considerada a pessoa física ou jurídica que exerça a atividade.

67 CC. Parte Geral – Livro I – Das Pessoas – Título I – Das pessoas Naturais – Capítulo I – Da Personalidade e da Capacidade. Art. 1.º Toda pessoa e capaz de direitos e deveres na ordem civil. (destaque nosso). 68 CC. Livro II – Do Direito de Empresa - Título I – Do Empresário – Capítulo II – Da Capacidade – Art. 972. Podem exercer atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. (destaque nosso). 69 CC. Art. 5. ... Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: ... V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou ...

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- pessoa física: pessoa que exerce a atividade empresarial individualmente, sem constituir-se na forma societária;

- pessoa jurídica: constituída na forma societária, que exerça atividade econômica organizada para circulação de bens ou de serviços.

f) excluídos do conceito: pessoas que exerçam profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que utilize auxiliares ou colaboradores, exceto se estiverem presentes os elementos de empresa.70

7.1. - Da Distinção Entre Empresário e Sócio E importante também distinguir a figura do empresário da figura do sócio. Esta distinção não se

justifica do ponto de vista econômico, porém, do ponto de vista jurídico ganha contornos próprios. É meio complexa a circunstância jurídica em que a doutrina relaciona sócio-empresário, empresário-individual e sociedade empresária.

A doutrina em geral estabelece que o empresário é “o empresário individual” e a “sociedade empresária”, ou seja, de outra maneira chama de “empresário individual” aquele que exerce individualmente a atividade de empresário e “empresário-sociedade” a sociedade empresária, isto é a coletividade formada pelos sócios, denominada sociedade empresária. Assim, pode-se distinguir um do outro, da seguinte forma:

Empresário: representa em nome próprio o seu negócio profissional (é a sociedade – pessoa jurídica, sujeito de direitos - e não os sócios), estando sujeito ao registro perante o órgão de Registro Público de Empresas Mercantis. Ao assinarem o contrato social, os sócios “criam” o empresário: a sociedade empresária.

Sócio: integrante do quadro social de uma sociedade, in casu empresária, que representa esta entidade ficta nos negócios por ela praticados. O sócio só responde pessoalmente pelos atos praticados quando configurar situação de confusão patrimonial ou de desvio de finalidade.

Responsabilidade civil: o regime de responsabilização civil do direito brasileiro é patrimonial, ou seja, quando contraímos uma obrigação, é através da expropriação de nossos bens que os credores poderão satisfazer a obrigação resistida. A exceção a essa regra se dá apenas nos casos de inadimplemento de obrigação alimentícia ou de fiel depositário, cuja responsabilidade passa a ser pessoal podendo o alimentante, ou o depositário infiel, responder pessoalmente por essa obrigação com a decretação de sua prisão civil. Mas vejamos como se dá a responsabilidade civil no caso da atividade empresarial:

a) empresário: como o empresário (o individual ou a sociedade empresária) exerce a sua atividade em nome próprio, impossível é a distinção de seu patrimônio com o patrimônio próprio da atividade empresarial, razão pela qual ele (o empresário individual ou a sociedade empresária) responderá ilimitadamente pelas obrigações assumidas até o limite de seu patrimônio.

b) sócio: o sócio como já vimos anteriormente, em regra, não responde pessoalmente pelas obrigações da sociedade, recaindo essas obrigações sobre a própria sociedade, que responderá até o limite de seu patrimônio pelas obrigações contraídas. Excepcionalmente, poderão as obrigações da sociedade recair sobre a pessoa dos sócios, no entanto, tal transferência se dará apenas nos casos legalmente previstos.71

7.2. - Do Exercício da Atividade Empresarial: O empresário no exercício habitual da atividade empresarial poderá atuar na forma individual ou

societária, conforme verificaremos mais à frente. Aqui cabe uma colocação importante, pois o “empresário” é aquele que exerce a atividade empresarial, prevista no art. 966, do Código Civil. Portanto, pode ser empresário tanto a pessoa física, como a jurídica. Quando falamos de pessoa física, referimo-nos ao “empresário individual”. Em contra-ponto, poderíamos dizer do “empresário coletivo”, isto é, a sociedade. Esta assume personalidade jurídica e, assim, torna-se sujeito de direito, mas, juridicamente é a pessoa jurídica (sociedade) que é o “empresário” e não os sócios individualmente. 70 CC. Art. 966. ... Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 71 Recordando: disregard doctrine ou disregard of legal entity.

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7.3. - Da Capacidade do Empresário Ao se discutir ou estudar a capacidade do empresário, verifica-se mais um contra-senso da

interpretação doutrinária do Código ou da forma de legislar. Ora, se o art. 972 determina que “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”, tem-se por óbvio que a redação se refere à pessoa natural, cuja capacidade civil é estabelecida na parte geral do Código.

Portanto, se assim o é, o sócio da sociedade empresária passa por este crivo, isto é, para formar uma sociedade empresária, o sócio deverá gozar da capacidade civil plena. Ao assinar o contrato social da sociedade empresária, passa a ser “empresário” e nem por isto empresário individual. É uma questão de interpretação da lei.

Para completar, o artigo seguinte72 deixa claro quem é que pode ser legalmente impedido. Claro que a doutrina busca uma separação entre o “sócio” e o “empresário”, porque no momento em que a sociedade é constituída, passando a ser sujeito de direitos, óbvio que se separa da figura do sócio e passa a exercer a atividade em nome próprio, embora representada pelo sócio, por força do contrato social. Por isto, dizemos ser a matéria complexa. Vejamos a capacidade civil:

Capacidade civil: segundo o diploma civil, deverá a pessoa possuir plena capacidade civil, ou sejam, as pessoas descritas no artigo 5.º, do Código Civil:73

a) com 18 anos de idade: pessoas que já tenham completado a idade limite; b) menores com emancipação: com autorização dos pais mediante instrumento público ou por força

de decisão judicial, desde que possua pelo menos dezesseis anos de idade;74 c) casados: ainda que menores. O casamento lhes outorga a plena capacidade civil; d) emprego público: trata-se do atingimento da capacidade através de posse em cargo público por

menores de idade. e) estabelecimento com economia própria: no amplo entendimento doutrinário, havendo a

comprovada possibilidade do menor se estabelecer com economias próprias poderá exercer a atividade empresarial, basta para tanto a demonstração de depósito bancário em valor suficiente para o estabelecimento.

7.4. - Das Proibições Algumas pessoas estão proibidas de exercer a atividade de empresário, ou sejam, aquelas que não se

enquadram no requisito do art. 972, do Código Civil, como vimos anteriormente. Requisitos: vimos anteriormente que, para o exercício da atividade empresarial, é necessário que o

empresário ou o sócio de sociedade empresária possua capacidade civil, encontre-se na livre administração de seus bens, e que não seja impedido de exercer a atividade empresarial (artigo 972 do Código Civil). Além destes aspectos, há outros requisitos de impedimento. Ou sejam:

7.4.1. - Impedidos de Exercer a Atividade Empresarial O artigo 972 ao falar da capacidade para o exercício da atividade empresarial estabelece como

requisito negativo, a ausência de impedimento para o exercício da atividade. Vejamos: a) Impedidos ou proibidos: anteriormente, a doutrina cuidava de separar entre os proibidos (aqueles

que não podiam exercer a atividade) dos impedidos (aqueles que temporariamente não podiam exercer a 72 CC. Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contratadas. 73 CC. Art. 5.º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. 74 CC. Art. 5.º ... Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II – pelo casamento; III – pelo exercício de emprego público efetivo; IV – pela colação de grau em curso de ensino superior; V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

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atividade). No entanto, é de se verificar que o legislador retirou essa preocupação da doutrina, generalizando o impedimento ao exercício, de forma que quem não tem plena capacidade encontra-se impedido de exercer a atividade empresarial.

b) impedidos: descrevemos a seguir as pessoas que não podem, sob hipótese alguma, exercer a atividade empresarial:

- absolutamente incapaz: compreendem-se como absolutamente incapazes as pessoas descritas no artigo 3.º, do Código Civil,75 ou sejam, os menores de dezesseis anos, os que por enfermidade ou deficiência mental não puderem discernir sobre seus atos e os que não puderem exprimir sua vontade;

- relativamente incapaz: compreendem-se como relativamente incapazes as pessoas descritas nas condições previstas no artigo 4.º, do Código Civil,76 e que não se encontrem amparados pelo parágrafo único do artigo 5.º do mesmo diploma, ou seja: maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; os ébrios habituais; os viciados em tóxicos; os deficientes mentais com discernimento reduzido; os excepcionais sem desenvolvimento mental completo; e os pródigos.

- ocupantes de cargos públicos: os ocupantes de cargos públicos dependem de legislação específica para observar o devido impedimento. Cabe ao regime jurídico de cada esfera do funcionalismo público (Federal, Estadual ou Municipal) verificar o respectivo impedimento. No entanto, o que se tem observado na prática é que a vedação é para o exercício individual da atividade empresarial, ou de ocupação de cargo de gerência ou direção de sociedades empresariais. Quanto aos cargos de natureza política (Presidente, Governadores e Prefeitos), membros do Poder Judiciário, Promotores Públicos e Procuradores de Justiça, pela própria natureza já geram impedimento, embora a Constituição Federal garanta este direito aos membros do Poder Legislativo.

- falidos não reabilitados: as pessoas que já tenham exercido anteriormente a atividade empresarial e que tenham tido sua falência decretada, só poderão voltar ao exercício da atividade empresarial após a reabilitação no processo falimentar que se dá com o pagamento mínimo de 40% (quarenta por cento) das obrigações ou com a prescrição dessas obrigações.

- Leiloeiros: por serem considerados auxiliares do comércio e do próprio Poder Judiciário, quando participantes da liquidação de bens em litígio judicial, os leiloeiros por impedimento expresso previsto no Decreto n.º 21.981/32 não podem exercer atividade empresarial.

- Cônsules e Embaixadores: pelo mesmo motivo dos leiloeiros, os Cônsules e Embaixadores, que podem atuar como representantes estatais em tratados comerciais internacionais, não podem exercer atividade empresarial (Decreto n.º 4.868/1882).

- Médicos: os médicos, por força do Código de Ética profissional, não podem exercer atividade empresarial na área de comércio e fabricação de medicamentos e insumos relativos a sua especialidade profissional.

- Condenados criminalmente: alguns crimes praticados, que já tenham trânsito em julgado de sua decisão levam ao impedimento da atividade empresarial, antes de ocorrida a reabilitação criminal, são eles:

- crime falimentar: trata-se da apuração de crime dentro do processo falimentar em que se verifique a contribuição do falido para a ocorrência da insolvência pela pratica de determinados atos que a lei especifica;

- prevaricação: é o crime praticado pelo funcionário público que deixa de observar o estrito dever legal;

- concussão: é o crime praticado por funcionário público que exerça a sua função de maneira abusiva visando a obtenção de vantagens;

- peculato: é o crime em que funcionário público utiliza recursos públicos em proveito próprio; - suborno (corrupção ativa): é o crime que comete quem oferecer vantagem indevida a funcionário

público para que pratique ou deixe de praticar determinado ato de ofício; - crimes contra a economia popular: são os crimes cometidos contra consumidores e de concorrência

desleal. - crimes contra a fé-pública: são crimes ligados à emissão e falsificação de moeda, títulos de crédito,

títulos e papéis públicos; falsidade documental; falsidade ideológica e uso de documentos falso.

75 CC. Art. 3.º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; 76 CC. Art. 4.º. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

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- devedores do INSS: para o registro como empresário a pessoa terá que apresentar CND – Certidão Negativa de Débitos junto a Previdência Social, o que implicará em impedimento caso haja débito pendente por força da determinação expressa no artigo 95 da Lei nº 8.212/91;

- estrangeiros não residentes no país: para o registro necessário será a apresentação de comprovação de domicílio em território nacional.

c) Atividade Empresarial exercida por impedido: o exercício de atividade empresarial por pessoa enquadrada em pelo menos uma das hipóteses anteriormente mencionadas configura prática de contravenção penal, sujeitando o seu infrator às penas legalmente previstas.77

7.4.2. - Do Impedimento Superveniente Há casos em que a pessoa está impedida, mas não declara que o está. Assim, constitui a sociedade, dá

início às atividades e, posteriormente, pode-se vir à tona o impedimento. a) Conceito: impedimento superveniente é o impedimento que surge após o registro do indivíduo

como empresário na Junta Comercial. b) Alvará Judicial: para que o indivíduo continue a exercer a atividade empresarial após o

impedimento superveniente, necessária será a concessão de alvará judicial e mediante representação. c) Conveniência e Revogação: a concessão de alvará judicial será faculdade do juiz, após a análise da

conveniência em concedê-lo, mediante exame pericial e audiência de justificação, além do mais, tal ato pode ser revogado a qualquer tempo. A revogação não prejudicará interesse de terceiros.

d) Responsabilidade Civil: como o nosso regime é patrimonial, os bens que o impedido possuía e que não faziam parte do acervo de sua atividade empresarial, não poderão ser atingidos por eventual execução das obrigações, razão pela qual ao conceder o alvará o juiz fará a descrição minuciosa dos bens que compõe a atividade empresarial.

e) Nomeação de Gerente: caso o representante indicado não possua a qualidade de empresário, ou possua algum impedimento para o exercício, ou se assim entender o juiz, poderá ser nomeado um gerente para administração da atividade.

7.5. - Dos Atos Empresariais Assim como antes do Código Civil estudávamos os “atos de comércio”, no ordenamento atual

passamos a estudar os atos empresariais, que são os atos jurídicos que envolvem o empresário no mundo jurídico da prática da atividade empresarial.

a) Conceito: É todo o ato jurídico praticado habitualmente com o objetivo de lucro, para mediação, circulação e intermediação de bens e serviços.

b) espécies: didaticamente, devido à abrangência do Direito Empresarial, os atos empresariais são atos jurídicos que se subdividem em atos de comércio e atos civis empresariais. Embora a Teoria da Empresa não permita mais essa divisão, alguns diplomas legislativos, como a Lei de Falências ainda adotam essa divisão, especificando a figura do comerciante, pelo simples fato de que o ordenamento jurídico não se restringia apenas ao Código Comercial. No entanto, entendemos que qualquer legislação que se refira ao comerciante, por força do disposto no Novo Código Civil, agora deve ser interpretada irrestritamente a qualquer atividade empresarial. É o que veremos a seguir, ao tratar da questão do registro.

c) classificação: os atos empresariais classificam-se em objetivos e subjetivos. Os primeiros são aqueles praticados pelo próprio empresário; os segundos são aqueles que podem ser praticados por terceiros, embora a lei o defina.

77 Lei de Contravenções Penais. Quem exercer a profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o exercício - Pena: prisão de 15 dias a 3 meses.

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7.6. - Dos Prepostos da Empresa Constituída a sociedade, já vimos que os sócios são pessoas separadas do empresário, que é a própria

sociedade. Em alguns casos, são os próprios sócios que exercem as funções administrativas e que conduzem a empresa. Em outros, essas funções são delegadas a terceiros, os quais a legislação entendeu por bem denominar “prepostos”.

Conceito: pessoas que intervém na prática empresarial auxiliando direta ou indiretamente o empresário sem, contudo, exercer a atividade empresarial em nome próprio. Anteriormente, o Direito Comercial tratava tais pessoas como agentes auxiliares da empresa. São eles:

a) empregados: pessoas com vínculo de emprego, ligadas diretamente à atividade empresarial, porém, não obrigatórias, a sua existência depende exclusivamente da dimensão da atividade empresarial, porém, os atos por elas praticados, no exercício profissional, geram responsabilidade in eligendo ao empresário, ou seja, o empresário responderá por todos os atos praticados por seus funcionários. Os funcionários respondem diretamente ao empresário pelo excesso cometido no exercício da função, por ação de regresso.

b) gerentes: gerentes são pessoas nomeados pelo empresário para dirigir a atividade empresarial, cujo ato de nomeação deve ser arquivado no registro de empresas. Normalmente os gerentes agem através de instrumento de mandato que lhes é outorgado para o exercício da atividade. No entanto, responderão pessoalmente pelo excesso cometido neste exercício. Como são nomeados para cargo de direção, sua atuação se dá dentro e fora do estabelecimento, inclusive em juízo.

c) Contabilistas: uma vez que a escrituração de documentos contábeis é obrigatória aos exercentes de atividade empresarial, necessariamente todo empresário deverá ter como preposto um contabilista que não precisa necessariamente ser empregado da empresa, podendo ser prestador de serviços. No entanto, os atos por ele praticados obrigam o empresário, assim como, dão direito de regresso a este em caso de atos praticados indevidamente por aquele.

d) auxiliares independentes: também conhecidos como auxiliares indiretos, permitem a complementação da atividade empresarial dentro de determinada especialidade, são eles: os corretores; os leiloeiros; os despachantes aduaneiros; os transportadores; os representantes comerciais; os tradutores, etc.

8. - DAS SOCIEDADES

Como já anunciado anteriormente, nossa posição é a de que o Código Civil adotou terminologia

errônea para designar o Livro II, da parte Especial, pois o determinou “Do Direito de Empresa”, quando poderia ter denominado “Do Direito Societário”, ainda que coubesse acrescentar algumas observações quanto a determinadas sociedades especiais.

Veremos no bojo do estudo que a sociedade é a representação jurídica de um grupo de pessoas (no mínimo duas), pois, quando existir um empreendimento em que haja apenas uma pessoa, não estaremos vislumbrando uma sociedade. A sociedade pressupõe um grupo, ainda que o menor possível que é representado por duas unidades.

8.1. - Da Classificação Legal das Sociedades O Código Civil classificou as sociedades em duas grandes categorias: as não personificadas e as

personificadas. É uma forma encontrada para que a legislação contemple todas as sociedades possíveis de existir no ordenamento jurídico. A essa classificação, chamamos de classificação legal, pois determinada pela própria Lei.

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8.1.1. - Das Sociedades não Personificadas A sociedade não personificada é aquela constituída sem as formalidades legais (antiga “sociedade de

fato”), ou seja, aquela não submetida a registro no órgão competente, por estar desobrigada ou por restar ainda pendente a condição registral. O Código apresenta dois tipos:

8.1.1.1. - Das Sociedades em Comum Esta sociedade é aquela cujos atos constitutivos ainda não foram submetidos a registro. Enquanto

permanecer essa condição, essas sociedades serão regidas pelas normas da sociedade simples subsidiariamente naquilo que for compatível. No regime anterior se falava em “sociedade de fato”. A partir do CC2002 não existe mais a sociedade de fato, pois qualquer sociedade que não tenha sido formalizada, registrada, enfim, que exista “de fato”, mas não de direito, estará abrangida pela lei, pois será considerada “sociedade não personificada”, genericamente, e mais especificadamente “sociedade em comum”. 78

Aqui o patrimônio especial é composto pelos bens e pelas dívidas sociais, sendo titulares em comum os sócios.79

Os bens sociais respondem pelos atos de gestão de qualquer sócio.80 8.1.1.2. - Das Sociedades em Conta de Participação81 A sociedade em conta de participação, por si só e por sua natureza, dispensa registro de seus atos

constitutivos,82 pois sociedade não personificada, no dizer do Código Civil, sendo suas operações e atividades geridas unicamente pelo sócio ostensivo.

Dessa forma, obriga-se perante terceiros apenas e tão-somente o sócio ostensivo, desde que o sócio participante83 não tome parte nas deliberações sociais. Apesar disso, nada obsta a que o sócio participante fiscalize a gestão dos negócios sociais.

Mesmo que haja qualquer registro, perante qualquer órgão, ainda assim, por força do art. 993, a sociedade em conta de participação não terá personalidade jurídica.84

8.1.2. - Das Sociedades Personificadas Este gênero de sociedade, por sua própria natureza, exige que os atos constitutivos sejam submetidos a

registro perante os órgãos competentes. Dessa forma, as espécies de sociedades tratadas a seguir, necessariamente, deverão estar oficializadas mediante o competente registro (arts. 997 e seguintes), do contrário, havendo qualquer irregularidade de registro, será considerada “sociedade em comum”, portanto “não personificada” e com todas as conseqüências jurídicas atinentes.

78 CC. Art. 986. enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. 79 CC. Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum. 80 CC. Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. 81 CC. Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. 82 CC. Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independente de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito. 83 Antes da vigência do Código Civil, esta categoria de sócio era tida como sócio oculto. 84 CC. Art. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade.

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8.1.2.1. - Das Sociedades Simples Esta espécie de sociedade somente será constituída mediante contrato escrito, 85 particular ou público,

que deverá conter a qualificação completa dos sócios, denominação, o objeto, a sede e o prazo da sociedade, o capital da sociedade e demais exigências do art. 997, do Código Civil.

Além disso, a sociedade poderá prever outras cláusulas conforme a necessidade individual de cada uma, seja em relação à forma de administração ou previsões contratuais pertinentes.

A sociedade simples se classifica como sociedade pessoal, pois no que tange à rigidez imposta pela lei, com referência à modificação do contrato social, é exigida unanimidade dos sócios nas deliberações que alterem as cláusulas referentes a elementos essenciais do contrato.

Em relação às cooperativas, doravante elas poderão ser constituídas com o concurso de sócios em número mínimo necessário para compor a administração da sociedade, sem limite de número máximo, sendo variável seu capital ou até mesmo dispensado.

Apesar de ser considerada “sociedade simples” pelo Código Civil,86 a cooperativa é constituída na forma estatutária, pois não há direitos e obrigações recíprocas entre os sócios, e tem regência da lei n.º 5.764/71.87

8.1.2.2. - Das Sociedades em Nome Coletivo Nesta espécie de sociedade, apenas e tão-somente pessoas físicas poderão compor seu quadro

societário, além do que todos os sócios respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.88 Podem, ainda, os sócios dessa espécie de sociedade, no ato constitutivo ou em separado, limitar entre si

a responsabilidade de cada um. Este tipo de sociedade é regido por contrato e gira sob “firma” e não sob “denominação”. Naquilo em que for omisso o capítulo próprio do Código Civil, em relação a essas sociedades, serão

aplicadas as normas da sociedade simples. É praticamente inadmissível que o legislador tenha entendido ser necessário ainda figurar este tipo de

sociedade em nosso ordenamento, pois, na prática é impossível encontrá-la. 8.1.2.3. - Das Sociedades em Comandita Simples Constituem esta espécie de sociedade duas categorias de sócios: a) - comanditados: pessoas físicas responsáveis e solidárias pelas obrigações sociais de forma ilimitada; b) - comanditários: os que se obrigam somente pelo valor de suas quotas.89 As especificações tratadas nas letras "a" e "b" devem, obrigatoriamente, estar discriminadas no

contrato social. Embora não possam praticar qualquer ato de gestão, é facultado aos sócios comanditários participar

das deliberações da sociedade e fiscalizar suas operações. O que se verifica na prática é uma espécie de sociedade híbrida, isto é, uma mistura de sociedade limitada com sociedade em nome coletivo.

85 CC. Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV – a quota de cada sócio no capital socieal, e o modo de realiza-la; V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII – a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII – se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. 86 CC. Art. 982. ... Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações e, simples, a cooperativa. 87 Lei n.º 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. 88 CC. Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. 89 CC. Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples toma parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.

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8.1.2.4. - Das Sociedades Limitadas O sistema nacional de registro de empresas acusa que o maior número de sociedades constituídas no

país é do tipo limitada. Por isto mesmo, este tipo de sociedade recebe maior atenção da doutrina, equiparando-se, em estudo, ao que ocorre com as sociedades por ações, que pela sua importância, recebe uma boa atenção doutrinária. Na sociedade limitada, os sócios, pessoas físicas ou jurídicas, respondem pelo valor de suas quotas no capital social, porém todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.90

Assim como para as outras sociedades, as omissões dos capítulos específicos serão supridas pelas normas relativas às sociedades simples.91 Mas, o art. 1.053 é dicotômico, pois o parágrafo único possibilita, à escolha dos sócios, a regência supletiva pela Lei das Sociedades por Ações.92

O art. 1.059 do novo Código Civil determina que os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título,93 ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantias se distribuírem com prejuízo ao capital.94

8.1.2.4.1. – Regência supletiva pela Lei das S/A O parágrafo único do art. 1.053 do Código Civil faculta às sociedades limitadas optarem pela regência

supletiva de suas atividades através da Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76), como visto. Não exercendo essa opção no contrato social, o caput do art. 1.053 determina que a sociedade limitada

será regida pelas normas da sociedade simples na falta de normas a serem aplicadas. Dessa forma, o novo Código Civil não impõe indistintamente a obrigatoriedade de todas as empresas constituídas sob a forma societária de limitadas publicarem suas demonstrações financeiras. Essa obrigação poderá ser compulsória na hipótese de a sociedade limitada declarar que será regida supletivamente pelas normas da Lei das Sociedades Anônimas, em seus atos constitutivos ou no ato através do qual se adequará às novas normas administrativas, o que deveria ocorrer até 10 de janeiro de 2004.95

Ainda que opte pela regência supletiva da Lei das Sociedades Anônimas, a empresa poderá estar dispensada das publicações de suas demonstrações financeiras, pois que o art. 29496 desta mesma Lei dispensa desse encargo as companhias com menos de vinte acionistas, e com capital social cujo valor não ultrapasse a um milhão de reais.

8.1.2.4.2. – Aumento e redução de capital Depois de integralizado o capital, este poderá ser aumentado com a correspondente modificação do

contrato.97 Já a redução poderá operar-se mediante a correspondente modificação do contrato:98 a) depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis; b) se excessivo em relação ao objeto da sociedade.

90 CC. Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. 91 CC. Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples. 92 CC. Art. 1.053... Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima. 93 Esta expressão nos leva a crer que se trata inclusive do pró-labore ou outra rubrica qualquer, como empréstimos, adiantamentos etc. 94 O § 2º do art. 201 da Lei nº 6.404/76 determina que os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa-fé tenham recebido. Presume-se a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o levantamento do balanço ou em desacordo com os resultados deste. 95 CC. Lei n.º 10.838/2004. Dilata para dois anos o prazo para associações, sociedades e fundações se adaptarem à nova codificação. 96 CC. Art. 294. A companhia fechada que tiver menos de vinte acionistas, com patrimônio líquido inferior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), poderá: I - convocar assembléia-geral por anúncio entregue a todos os acionistas, contra-recibo, com a antecedência prevista no artigo 124; e II - deixar de publicar os documentos de que trata o artigo 133, desde que sejam, por cópias autenticadas, arquivados no registro de comércio juntamente com a ata da assembléia que sobre eles deliberar. § 1º A companhia deverá guardar os recibos de entrega dos anúncios de convocação e arquivar no registro de comércio, juntamente com a ata da assembléia, cópia autenticada dos mesmos. § 2º Nas companhias de que trata este artigo, o pagamento da participação dos administradores poderá ser feito sem observância do disposto no § 2º do artigo 152, desde que aprovada pela unanimidade dos acionistas. § 3º O disposto neste artigo não se aplica à companhia controladora de grupo de sociedade, ou a ela filiadas. 97 CC. Art. 1.081. Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o capital aumentado, com a correspondente modificação do contrato. § 1o Até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares. § 2o À cessão do direito de preferência, aplica-se o disposto no caput do art. 1.057. § 3o Decorrido o prazo da preferência, e assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião ou assembléia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato. 98 CC. Art. 1.082. Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato: I - depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis; II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade.

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No caso da letra "a", supra, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado.

No caso da letra "b", supra, a redução do capital será feita restituindo-se parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, em ambos os casos, do valor nominal das quotas.

O credor quirografário poderá opor-se à redução do capital, no prazo de noventa dias contado da data da publicação da ata da assembléia que aprovar a redução, por título líquido anterior a essa data, e, após isso, a ata passará a ser eficaz mediante averbação no Registro Público de Empresas Mercantis.

As sociedades que optarem pela regência supletiva da Lei n° 6.404/76 deverão observar o que dispõe o art. 173 e seguintes dessa norma.

8.1.2.4.3. – Deliberação dos sócios Dependem da deliberação dos sócios, para que produzam os efeitos correspondentes, as matérias

relativas a:99 a) aprovação das contas da administração; b) designação dos administradores, quando feita em ato separado; c) destituição dos administradores; d) remuneração do administrador quando não estabelecida no contrato; e) modificação do contrato social; f) incorporação, fusão e dissolução da sociedade, ou cessação do extrato de liquidação; g) nomeação e destituição dos liquidantes e julgamento de suas contas; h) pedido de concordata. Além dessas matérias, outras indicadas em lei ou no contrato social poderão compor o rol cuja

deliberação dependa dos sócios. 8.1.2.4.4. – Administradores O administrador da sociedade poderá ser nomeado no próprio ato constitutivo ou em ato separado. O administrador que for nomeado em ato separado, ou seja, nomeado à parte, fora do contrato social,

deverá assinar o termo de posse no prazo de trinta dias após sua designação. Esse termo, bem como sua designação, deverá constar no livro de atas da administração.100

No prazo de dez dias após a designação do administrador, este deverá requerer sua averbação no registro competente, mencionando seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, ato e data da nomeação e prazo de gestão, com exibição de documento de identidade.

O exercício dessa função implica que o administrador deverá ter o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.101

Na hipótese de o contrato permitir administradores não-sócios, a nomeação deles dependerá da unanimidade dos sócios, caso o capital não esteja integralizado. Quando o capital estiver integralizado, essa nomeação poderá ocorrer com a aprovação de no mínimo dois terços.

8.1.2.4.5. – Termo de posse O termo de posse é o ato através do qual o administrador é investido no cargo e deve constar no livro

de atas da administração.102

99 CC. Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato: I - a aprovação das contas da administração; II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado; III - a destituição dos administradores; IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato; V - a modificação do contrato social; VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação; VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas; VIII - o pedido de concordata. 100 CC. Art. 1.062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração. § 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito. § 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão. 101 CC. Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios. § 1o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. § 2o Aplicam-se à atividade dos administradores, no que couber, as disposições concernentes ao mandato. 102 Livro introduzido pelo novo Código Civil, art. 1.062: O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração.

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Esse termo deve ser assinado até 30 dias após a designação do administrador, sob pena de nulidade. Até dez dias após essa formalidade deverá ser requerida a averbação desse ato no registro competente.103

8.1.2.4.6. – Averbação Ato pelo qual se anota em assento ou em documento anterior, que altere, modifique ou amplie o

conteúdo do mesmo assento no registro público (CC Art. 10). 8.1.2.4.7. – Conselho Fiscal A nova Lei admite para as sociedades limitadas, facultativamente, a instituição do Conselho Fiscal.104 As atribuições desse órgão são: a) examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da

carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhe as informações solicitadas; b) lavrar no livro de atas e pareceres do Conselho Fiscal o resultado dos exames referidos no item

anterior; c) exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as

operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico;

d) denunciar erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; e) convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação

anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; f) praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere o art. 1.066, tendo em

vista as disposições especiais reguladoras da liquidação. Além dessas obrigações, outras poderão constar do contrato social, objetivando maior segurança

administrativa e financeira da sociedade. As empresas que optarem pela regência supletiva da Lei das Sociedades Anônimas deverão observar,

em relação ao conselho fiscal, o que dispõe o art. 163 desta Lei. Cabe ressaltar que esse órgão poderá contar com a assistência de contabilista legalmente habilitado

para auxiliá-lo no exame de livros, balanços e demais contas. Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis, os membros dos demais órgãos da

sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.

Os sócios minoritários que representarem pelo menos um quinto do capital social poderão eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e respectivo suplente.

8.1.2.4.8. – Resolução da sociedade em relação a um sócio A sociedade tem a faculdade de prever cláusulas e condições para exclusão de sócio por justa causa,

sendo esta identificada pela falta grave no cumprimento de suas obrigações ou por incapacidade superveniente, além das hipóteses previstas no Código Civil.105

Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade: a) se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de

sessenta dias; e b) se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa. Até trinta dias subseqüentes à notificação, os demais sócios deliberarão sobre o destino da sociedade. De pleno direito será excluído o sócio declarado falido.

103 CC. Art. 1.062. ... § 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão. 104 CC. Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078. § 1o Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis enumerados no § 1o do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. § 2o É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente. 105 CC. Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente. Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.

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A retirada, exclusão ou morte do sócio não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos depois de averbada a resolução da sociedade; no caso de retirada ou exclusão, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.

8.1.2.4.9. – Reunião As sociedades que forem compostas de até dez sócios deverão deliberar sobre as matérias referidas

anteriormente através de reuniões, que deverão ser convocadas pelos administradores nas hipóteses previstas no contrato social ou por exigência legal.106

Na hipótese de os administradores retardarem a convocação por mais de sessenta dias, observadas as exigências legais ou do contrato, os sócios poderão fazê-la. Poderão também convocar reuniões os titulares que representem mais de um quinto do capital quando não tiverem atendido seu pedido fundamentado, com indicação das matérias a serem objeto de deliberação, no prazo de oito dias.

8.1.2.4.10. – Assembléia Quando a sociedade for composta por mais de dez sócios, suas deliberações deverão ser tomadas por

assembléias, conforme nota do item anterior. As matérias que deverão ser objeto de deliberação são as mesmas que dependam de reuniões. 8.1.2.4.11. – Registros no livro de atas As atas das reuniões ou das assembléias deverão ser transcritas no livro de atas, o qual deverá ser

exibido quando circunstâncias o exigirem.107 O código que trouxe essa obrigação não define prazo para registro ou para escrituração desse livro,

porém, a rigor, a escrituração da ata deve ocorrer na data da sua realização. Para escrituração da ata, referido livro deverá estar revestido das formalidades legais, ou seja, devidamente registrado e assinado por responsáveis competentes.

O regramento das sociedades por ações, já desde o advento de seu diploma regulador, em dezembro de 1976, obriga a essas sociedades a registrarem seus atos societários em livros, chamados “livros societários”. Não se trata, pois, de uma inovação do Código Civil, mas, sim, de uma extensão às sociedades limitadas de algumas regras sociais já praticadas pelas sociedades por ações.

8.1.2.4.12. - Da Formação da Sociedade As empresas em geral deveriam se adaptar às regras trazidas pelo novo Código Civil até o dia 10 de

janeiro de 2004. Mas a Lei n.º 10.838/2004 alterou o artigo 2.031 do Código Civil, caput, dilatando para dois anos o prazo para associações, sociedades e fundações se adaptarem à nova codificação.108

Essas regras implicam adequação do contrato social às novas normas para as empresas já existentes ou elaboração do contrato social para aquelas a serem constituídas doravante.109

Destarte, tanto para estas como para aquelas, as previsões contratuais deverão contemplar alguns aspectos societários, cujo conteúdo, subjetivamente, dividimos em tópicos, obviamente a título de sugestão, ficando a redação de cada cláusula subordinada à necessidade de cada profissional, conforme as circunstâncias assim o exigirem.

I - Denominação, sede, foro, prazo de duração e objeto social

106 CC. Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião ou em assembléia, conforme previsto no contrato social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato. § 1o A deliberação em assembléia será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez. § 2o Dispensam-se as formalidades de convocação previstas no § 3o do art. 1.152, quando todos os sócios comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia. § 3o A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas. § 4o No caso do inciso VIII do artigo antecedente, os administradores, se houver urgência e com autorização de titulares de mais da metade do capital social, podem requerer concordata preventiva. § 5o As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes. § 6o Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o disposto na presente Seção sobre a assembléia. 107 CC. Art. 1.075. § 1o Dos trabalhos e deliberações será lavrada, no livro de atas da assembléia, ata assinada pelos membros da mesa e por sócios participantes da reunião, quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo dos que queiram assiná-la 108 Importante notar que o Código foi publicado em 11 de janeiro de 2002, teve um período de vacatio legis de 1 ano, portanto, entrando em vigor somente em 11 de janeiro de 2003 e, após entrar em vigor, concedeu o prazo de 1 ano para adaptação das pessoas jurídicas às suas regras. Mesmo assim, foi necessária uma dilatação do prazo por mais um ano, o que nos leva a janeiro de 2005. Os profissionais da área, certamente estarão enfrentando diversos problemas, correrias, dúvidas e outras questões no ocaso do ano presente, porque nossa cultura é essa mesmo de “deixar tudo para a última hora”. 109 Qualquer pessoa jurídica constituída após a vigência do Código, independentemente do prazo de adaptação, deve obedecer às novas normas.

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As cláusulas que compõem este capítulo, no mínimo cinco, são tradicionais, destinando-se a identificar e localizar a empresa, bem como informar seu prazo de duração e a atividade que pretende desenvolver.

II - Capital social e quotas Este capítulo também já é de domínio geral, cuja função é identificar os detentores do capital, bem

como a participação correspondente a cada sócio. O que mudou aqui foi o dispositivo legal que identifica a responsabilidade de cada sócio, que passou a

ser o art. 1.052 da Lei nº 10.406, de 10.01.2002 (Código Civil). III - Cessão de quotas e do direito de preferência Aqui deverão ser identificadas com precisão as formas e as condições que deverão ser observadas para

a cessão de quotas, bem como o direito de preferência e a forma de exercê-lo. São indispensáveis ainda o estabelecimento de prazos e as formas de comunicação e resposta de cada

ato. Neste capítulo deverão ser incluídas tantas cláusulas quantas se fizerem necessárias para atender à necessidade, à segurança e à amplitude contratual que a sociedade pretende.

IV – Administração Neste capítulo será nomeado o administrador, bem como lhe serão conferidos os poderes necessários à

sua administração, os quais deverão ser descritos com o máximo de precisão. Imaginamos como ideal, no mínimo, cláusulas que definam com precisão a nomeação, os poderes do

administrador, o prazo do mandato, impedimentos, a destituição por falta grave, além de outras exigidas pela particularidade de cada sociedade.

O administrador poderá ainda ser nomeado por ato apartado, mediante assinatura do termo de posse no prazo de trinta dias, sob pena de se tornar sem efeito. Ato contínuo, no prazo de dez dias, deverá requerer a averbação de sua nomeação no registro competente.

V - Reunião ou assembléia de quotistas e deliberações sociais Dedica-se a concentrar as normas que regerão as deliberações sociais, para sociedades em geral, tais

como: forma de convocação, prazo, local, data e hora, bem como as matérias a serem deliberadas. VI - Retirada, exclusão de sócio e resolução das quotas de um sócio em relação à sociedade As cláusulas componentes deste capítulo devem dedicar-se a esclarecer as normas e condições pelas

quais o sócio será excluído da sociedade, bem como a destinação das quotas que lhe competir. Caso a sociedade pretenda inserir no rol de faltas graves outras além das mencionadas pelo código,

aqui é o lugar apropriado. É de ser observado que este capítulo tem relação com o Capítulo IV e com ele recomenda-se que esteja

alinhado. VII - Pagamento de haveres por resolução de quotas Observado o capítulo anterior, este é o espaço reservado para que sejam estabelecidas condições,

formas e prazos para pagamentos de sócio que se retira da sociedade. VIII - Demonstrações financeiras, contábeis e sociais, livros e destino do resultado Aqui as cláusulas serão destinadas a identificar, conforme a necessidade de cada sociedade, as

demonstrações financeiras, contábeis ou sociais a serem elaboradas, bem como os prazos e as finalidades de cada uma.

IX - Transformação, cisão, incorporação, fusão e reorganização societária Essa cláusula é reservada para que se possa contratar as normas que regerão os atos destinados a

processar a transformação, a cisão, a incorporação ou a reorganização societária, de forma que a empresa não fique amarrada em um eventual momento em que tal circunstância se lhe apresente.

Dentro dessas normas deverá ser previsto o quórum necessário para aprovação do ato a ser realizado. X - Dissolução da sociedade Destina-se a estabelecer as normas para o encerramento das atividades, tais como: divisão dos lucros

ou prejuízos, rateio dos ativos e passivos. XI – Desimpedimento Cláusula apropriada para que os administradores declarem que não estão impedidos, por qualquer

forma ou condição, de exercer a administração da sociedade. Importante frisar que essa é uma tendência da doutrina e dos operadores do direito, principalmente

aqueles que estão operacionalizando diuturnamente abertura e fechamento de sociedades. Porém, nossa opinião é a de que os sócios não estão obrigados a fazerem declarações no contrato social. Esta é uma declaração e não uma

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contratação (entre os sócios), portanto, pode ser suprida com uma declaração individual de cada um apresentada ao órgão de registro. O órgão, em tese, não pode exigir que haja a cláusula.110

8.1.2.4.13. - Da Dissolução da Sociedade A sociedade será dissolvida, por força de lei, quando ocorrer:111 a) o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a

sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; b) o consenso unânime dos sócios; c) a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; d) a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; e) a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. A sociedade empresária, além das hipóteses mencionadas, será dissolvida também pela declaração da

falência, o que não ocorre com as sociedades simples, que não estão sujeitas à falência. 8.1.2.5. - Das Sociedades Anônimas Nas Sociedades Anônimas o capital se divide em ações e são regidas por lei especial,112 ficando cada

acionista obrigado apenas em relação ao preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.113 Em relação à comandita por ações, somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e,

como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade. 8.1.2.5.1. - Da Formação da Sociedade A sociedade por ações, assim como a sociedade em comandita por ações, é regida pela Lei das

Sociedades Anônimas, ou Lei das S/As, como ficou amplamente conhecida, tem regime estatutário, isto é, a forma de constituição da sociedade exige a elaboração e aprovação de Estatutos Sociais,114 o que significa dizer que os acionistas (“sócios”)115 não têm, entre si, qualquer direito ou obrigação.

A sociedade anônima pode ser do tipo aberta ou fechada, significando que aquelas têm suas ações comercializadas em bolsa de valores116 e estas apenas no chamado mercado de balcão.117

8.1.2.5.2. - Dos Órgãos de Administração Os órgãos administrativos da sociedade anônima são: Conselho de Administração, Diretoria Executiva

e Conselho Fiscal. O Conselho de Administração é eleito pela Assembléia Geral dos acionistas. A Diretoria

110 Constituição Federal. Art. 5.º ... II – ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 111 CC. Art. 1.087. A sociedade dissolve-se, de pleno direito, por qualquer das causas previstas no art. 1.044. ... Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência. ... Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. 112 Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, alterada pelas Leis nºs 9.457/97 e 10.303/2001. 113 Lei n.º 6.404/76. Art. 1.º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. 114 LSA. Art. 2.º ... § 2º O estatuto social definirá o objeto de modo preciso e completo. (grifo nosso). 115 “Acionista é o sócio da sociedade anônima. O art. 1.º da atual lei refere-se aos “sócios ou acionistas”. É elementar que a designação de sócios se apresenta genérica e traduz a idéia da pessoa que se associa com outrem, juntando seus cabedais, para constituir a sociedade mercantil, ao passo que acionista se aplica especificamente ao membro da sociedade anônima ou companhia” (REQUIÃO, Rubens, Curso de Direito Comercial. Vol 2. 20ª ed. São Paulo : Saraiva, 1995, pág. 109). 116 A companhia que negocia títulos em bolsas de valores se submete aos dispositivos estabelecidos pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários. 117 LSA. Art. 4.º Para os efeitos desta lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação em bolsa ou mercado de balcão.

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Executiva é eleita pelo Conselho de Administração e, na falta deste, pela própria Assembléia. O Conselho Fiscal é eleito pela Assembléia Geral e a ela se subordina.

8.1.2.5.3. - Dos Acionistas Minoritários Nas grandes corporações, principalmente aquelas que atuam no mercado financeiro, como os Bancos,

as grandes Companhias de Seguro, as Financeiras etc., assim como outras de setores diversos da Economia Global, é comum a existência de acionistas detentores de pequena parcela do capital social. Esses são chamados “acionistas minoritários” porque individualmente não têm qualquer poder perante os órgãos deliberativos da sociedade (assembléias gerais ordinária e extraordinária).

Assim, por ter pequeno interesse na condução dos trabalhos da assembléia, o acionista minoritário costuma nem sequer tomar conhecimento da realização da mesma. E quando tem conhecimento, não se interesse ou não tem condições de comparecer, por residir em localidade diferente.

A solução, portanto, é se fazer representar. Até a Lei n.º 6.404/76, a procuração, isto é, o mandato representativo para do acionista ausente, somente poderia ser outorgada a outro acionista.

A Lei atual prevê dois tipos de representação:118 1 – Na companhia de capital fechado: acionista, administrador da companhia e advogado; e 2 – Na companhia de capital aberto: além desses, o procurador pode ser instituição financeira e

administrador de fundos de investimento, representando os quotistas.119 Quando residir no exterior, o representante deverá ter poderes para receber citações em seu nome.120

8.1.2.6. - Das Sociedades em Comandita por Ações Como dissemos anteriormente, a sociedade em comandita por ações se assemelha em formação à

sociedade por ações, com semelhança de constituição à sociedade em comandita simples. A diferença é que uma tem o capital dividido em “quotas” (as simples) e a outra em “ações” (comandita por ações).

É o mesmo de se dizer aqui. Trata-se de um tipo de sociedade em desuso, que a legislação insiste em manter regulada, tanto a Lei das S/As,121 quanto o Código Civil.122 Não Se pode atribuir caráter tradicional a essa manutenção legal, pois o Código Cvil deu sumiço à antiga sociedade de capital e indústria, a ela não mais fazendo qualquer referência.

8.1.2.7. - Das Cooperativas As sociedades cooperativas123 receberam tratamento especial pelo Código Civil, desde o art. 1.093 ao

1.096. Ao nosso ver, há uma grande impropriedade na designação de sócios para os componentes da cooperativa. Na verdade, o “sócio” da cooperativa tem natureza jurídica de “cooperado”, pois como há variabilidade ou dispensa do capital social (CC 1094, I), qualquer cooperado pode se retirar e se incluir na cooperativa a qualquer momento, desde que cumprindo o estabelecido nos Estatutos Sociais, sem prejudicar as operações. 118 “A legitimação da qualidade de acionista, pessoa ou representado formalmente, das pessoas presentes à assembléia geral, baseada nas provas de identidade exigidas pela lei, visa a autenticação da legitimidade dos participantes e a aferição da eventual presença de estranhos, ou não qualificados, à reunião. De outra parte, as provas exibidas asseguram aos acionistas seus titulares o exercício de direitos que lhes competem na matéria objeto de discussão e deliberação da assembléia.” (Américo O. Campiglia, in Comentários à Lei das Sociedades por Ações e Glossário das Sociedades Anônimas, pág. 137). 119 LSA. Art. 127 ... § 1º O acionista pode ser representado na assembléia-geral por procurador constituído há menos de 1 (um) ano, que seja acionista, administrador da companhia ou advogado; na companhia aberta, o procurador pode, ainda, ser instituição financeira, cabendo ao administrador de fundos de investimento representar os condôminos. 120 LSA. Art. 119. O acionista residente ou domiciliado no exterior deverá manter, no País, representante com poderes para receber citação em ações contra ele, propostas com fundamento nos preceitos desta Lei. 121 LSA. Art. 280. A sociedade em comandita por ações terá o capital dividido em ações e reger-se-á pelas normas relativas às companhias ou sociedades anônimas, sem prejuízo das modificações constantes deste capítulo. 122 CC. Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e opera sob firma ou denominação. 123 Não esquecer que este tipo de “sociedade” é regido pela Lei n.º 5.764/71.

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O tipo comporta algumas curiosidades que vale a pena observar: elas são constituídas sob forma de “sociedade” (CC 1.093), mas funcionam sob a forma de “cooperativas” (Lei n.º 5.764/71). A forma de constituição é a estatutária e a responsabilidade pode ser limitada ou ilimitada (CC 1.095).

8.2. - Da Natureza Jurídica das Sociedades A impressão que se tem é que a doutrina pós modernista da Teoria da Empresa esqueceu-se de uma

importante missão na orientação do entendimento das inovações trazidas pela vigência do Código Civil. À guisa de fundamentação de nossa afirmação, é importante verificar que no regramento anterior falava-se em natureza jurídica das sociedades como civis e mercantis. Essas sociedades passaram a ser da mesma natureza, quando encontrarmos o fator exploração do lucro nas sociedades “civis” antigas. Ou seja, hoje não se fala mais em “sociedade civil” (mesmo que sem fins lucrativos), pois elas não existem mais. Como vimos, as pessoas jurídicas de direito privado são três: associações, fundações e sociedades.

As associações e as fundações são pessoas jurídicas que não exploram atividade econômica, isto é, não se destinam à exploração do lucro.

As sociedades são pessoas jurídicas que exploram o lucro. E não há mais falar em sociedade “civil” ou “comercial”, pois todas são sociedades.

Entretanto, uma característica especial diversifica as sociedades. Algumas são sociedades empresárias e outras não.124

Assim, podemos pensar que, a exemplo do que ocorria anteriormente, se dividindo as sociedades de fins lucrativos em civis e comerciais, agora passamos a ter duas naturezas diferentes, mas com novas denominações: simples e empresária.

É importante observar, entretanto, que a simples aqui mencionada não é o tipo de sociedade, mas, sim, a natureza jurídica, isto é, a caracterização jurídica, que possibilita se identificar o ordenamento jurídico que rege as sociedades.

8.2.1. - Das Sociedades Simples A NATUREZA JURÍDICA é a determinação da essência ou da espécie de um instituto jurídico, de

forma que se conheça ou se estabeleça o ordenamento jurídico que o rege. Assim, no tocante às sociedades, o art. 982, do Código Civil é determinante em estabelecer que todas as sociedades que não são empresárias são simples, sem dizer, entretanto, o que são sociedades simples.

Esta é uma posição tomada pelo legislador que deixa à doutrina uma responsabilidade muito grande. A princípio, pode-se dizer que a definição é por exclusão, e o é. Porém, isto não é suficientemente correto, do ponto de vista hermenêutico ou epistemológico, pois, não basta, simplesmente, dizer que o que não é “empresária” é simples. Passa-se a ter uma definição muito singela e ingênua: “sociedade simples é aquela que não é empresária”.

Por isto, precisamos partir para uma análise mais abrangente, no tocante à natureza jurídica das sociedades. Devemos, sim considerar o parágrafo único, do art. 966,125 do Código Civil, para repararmos que se estabelece legalmente exceções de pessoas que exercem atividade lucrativa, mas que não são empresários.

Ora, vejamos. Se todo aquele que exerce profissionalmente atividade econômica “organizada” para a produção ou a circulação de bens ou de serviços é empresário. E se todo aquele que exerce profissão intelectual é exceção, então, a natureza jurídica da sociedade simples se traduz no contexto da sociedade formada por pessoas que exerçam atividade intelectual, seja de natureza científica, literária ou artística. Porém, devemos observar que não poderá tal sociedade apresentar “elemento de empresa”, pois isto se transformaria numa exceção da exceção, isto é, por exercer profissão intelectual, é exceção à regra do empresário (ainda que atividade lucrativa), porém,

124 CC. Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício da avitidade própria de emprsário sujeito a registro (art. 987); e, simples, as demais. 125 CC. Art. 966. ... Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

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se constituir elemento de empresa o exercício dessa profissão, então, temos nova exceção e volta-se a ser empresário.

Constata-se, pois, que, do ponto de vista da natureza jurídica, a sociedade simples, não é tão simples assim. Verificaremos em conjunto com as empresárias, a seguir:

8.2.2. - Das Sociedades Empresárias Já a sociedade empresária tem uma definição muita clara na legislação, o que facilita, em muito, o seu

entendimento. O art. 982, do Código Civil, estabelece que “salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967);126 e, simples as demais”.

Aqui está a grande razão porque insistimos tratar-se de “natureza jurídica” e não de tipos de sociedade (simples ou empresária). É que, na exegese do art. 982, todas as sociedades que exercem atividade de empresário (art. 966) são empresárias, salvo as exceções.

Mais uma vez, o legislador trabalha com as exceções. E que exceções são essas? Ora, o parágrafo único do art. 966 já traz um delas, que é o exercício de atividade intelectual, desde que não se constitua em “elemento de empresa” (mais uma exceção – só que inversa)

A conclusão que se chega, portanto, é que as sociedades empresárias são aquelas constituídas sob um dos tipos elencados pelo Código Civil, a partir do art. 1.039 até o art. 1.092, quais sejam, as sociedades em nome coletivo, as em comandita simples, as limitadas, as anônimas e as em comandita por ações, pois assim determina o art. 982, do Código.127

Ora, se a sociedade simples pode se constituir segundo um desses tipos, enquanto que a empresária deve fazê-lo, certo é que não é a escolha do tipo que caracteriza a natureza jurídica da sociedade, ou seja, é perfeitamente legal encontrarmos uma “sociedade simples ltda”. Mas, o certo é que, ainda que simples, se constituída segundo o tipo “sociedades por ações”, será, sempre, empresária.128 Portanto, aqui aparece uma condição pela qual o tipo é que determina a natureza jurídica da sociedade.

9. - DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

A nova Lei considera estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.129 Da exegese do art. 1.142, do Código Civil, compreende-se que a sociedade simples não tem “estabelecimento”, o que, em conseqüência, impõe que o estabelecimento é, sempre, empresarial.

Esses fatores são de extremíssima importância no momento em que uma ação renovatória se faz necessário, pois ao rigor da lei, a sociedade simples não tem esse direito.

Anteriormente à vigência da nova Lei, a doutrina tratava de estabelecimento comercial ou fundo de comércio, o que hoje define o art. 1.142 como estabelecimento.

a) conceito doutrinário: é o conjunto de meios necessários ao exercício da atividade empresarial, também conhecido como “fundo de negócio”, “fundo de comércio” ou “azienda”. Esta definição tem um conjunto de conceitos trazidos do regramento anterior, que deverão perder força dogmática a partir da vigência do Código Civil.

b) distinção de estabelecimento em relação ao empresário: empresário é a pessoa física ou jurídica que exerce a atividade empresarial através do estabelecimento, que reúne o conjunto de meios necessários para esse exercício profissional.

c) distinção de estabelecimento em relação à empresa: empresa é o objeto da atividade empresarial, é um ente ficto, enquanto o estabelecimento é o conjunto de meios facilitadores do exercício da empresa. 126 É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. 127 CC. Art. 983. A sociedade emprsária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um dessdes tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. 128 CC. Art. 982. ... Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. 129 CC. Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

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d) finalidade do estabelecimento: propiciar meios para a atividade empresarial e auxiliar na definição do valor econômico de uma empresa.

e) o estabelecimento em relação à Lei de Falências: o estabelecimento serve para definir a competência para o processamento do pedido de falência da empresa ou do empresário.

f) composição: o estabelecimento é composto de bens corpóreos e incorpóreos - corpóreos ou materiais: são os elementos físicos necessários à atividade empresarial: balcões;

vitrines; máquinas; equipamentos; móveis; instalações; veículos etc. - incorpóreos ou imateriais: são os elementos necessários à atividade empresarial, que nascem em

decorrência dela, e que não estão compreendidos entre os bens físicos (são direitos): Ponto comercial; Título do estabelecimento; Nome comercial; Marcas: LPI; Patente: LPI; Processos de fabricação; Clientela; Aviamento: capacidade lucrativa do estabelecimento comercial; contratos; créditos etc.

g) proteção do estabelecimento: - Direito Civil: proteção dos bens corpóreos e do nome empresarial; - Direito Penal: proteção dos bens corpóreos; - Direito de Propriedade Industrial: proteção das marcas e patentes e do nome empresarial; - Direito Autoral: proteção do processo de fabricação; - Lei de Locações: proteção do ponto comercial (ação renovatória). 9.1. - Alienação e Cessão do Estabelecimento O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde

que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

A alienação do estabelecimento empresarial está sujeita à observância de cautelas específicas, criadas para assegurar os interesses dos credores, haja vista que o estabelecimento compõe o patrimônio do empresário. Para tanto, a alienação do estabelecimento deve observar as seguintes regras:

- contrato escrito: a alienação do estabelecimento exige a forma escrita e para que seja oponível contra terceiros deve estar devidamente arquivado na Junta Comercial. Ainda assim, só será oponível contra terceiros após publicado no Diário Oficial;130

- notificação aos credores: para alienar o estabelecimento o empresário deverá notificar todos os credores para, no prazo de trinta dias, se manifestarem sobre a alienação;131 o empresário terá a anuência expressa dos credores, ou tácita, configurada depois de decorridos os trinta dias da notificação;

- dispensa da anuência: poderá o empresário deixar de observar a exigência da anuência dos credores, desde que em seu patrimônio restem bens suficientes para garantir o cumprimento de suas obrigações;

- inobservância: a inobservância das regras para alienação do estabelecimento sujeita o empresário à falência com fundamento no artigo 2º da Lei de Falências por presunção do estado falimentar, tornando nula alienação produzida.132

- concordata: a alienação do estabelecimento nos casos de empresário beneficiado pela concordata implica na necessidade de anuência expressa de todos os credores, não se admitindo a possibilidade de anuência tácita.

- solidariedade: ao alienar o estabelecimento, o adquirente por sucessão empresarial assumirá todos os passivos do alienante, porém, no período de um ano, o alienante será solidário ao adquirente perante os credores, de nada valendo eventual cláusula de responsabilidade exclusiva do adquirente.

- regresso: pode ser que no instrumento de alienação conste a responsabilidade do vendedor pelos débitos anteriores à venda do estabelecimento, porém, tal cláusula não será oponível contra terceiros, restando ao adquirente o direito de regresso contra o alienante. 130 CC. Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. 131 CC. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação. 132 Lei de Falências. Decreto-Lei n.º 7.661, de 21 de junho de 1945. Art. 2.º. Caracteriza-se, também, a falência, se o comerciante: V - transfere a terceiro o seu estabelecimento sem o consentimento de todos os credores, salvo se ficar com bens suficientes para solver o seu passivo;

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- credores trabalhistas: os empregados credores poderão demandar tanto em desfavor do alienante quanto do adquirente por força do disposto no artigo 448 da CLT;

- credor tributário: assim como os credores trabalhistas, os credores tributários também gozam de privilégio para executar a divida por força do disposto no artigo 133 do Código Tributário Nacional que gera responsabilidade subsidiária integral ao alienante.

i) Concorrência: de forma a não permitir a concorrência desleal entre alienante e adquirente, o legislador civil estabeleceu que durante um período de cinco anos o alienante não poderá estabelecer-se em ramo idêntico ao do adquirente, salvo autorização expressa em contrário.133

9.2. - Da Proteção do Ponto O ponto comercial, local onde o empresário exerce sua atividade, goza de proteção legal para que

possa ele investir na atividade com a tranqüilidade, visando retorno do desenvolvimento empresarial. Assim, a legislação de locação outorga a ele a garantia de ficar estabelecido no mesmo local fazendo uso de Ação Renovatória, desde que satisfeitos os seguintes requisitos:134

a) ser empresário regular: estar devidamente registrado na Junta Comercial como empresário individual ou sociedade empresária;

b) locação mínima de cinco anos: a relação locatícia precisa ser de no mínimo cinco anos, ainda que somados os períodos anteriores, inclusive contado o período do alienante ou do arrendador quando de transferência do estabelecimento;

c) exercício ininterrupto de no mínimo três anos: no mesmo ramo de atividade, pois caso ele mude de ramo durante esse período perderá direito à ação renovatória.

d) decadência: o direito de propor ação renovatória deve ser exercitado no máximo até seis meses antes de vencer o contrato de locação, sob pena de decair o direito.

e) exceções à concessão de renovatória: embora a lei outorgue proteção ao ponto comercial, essa proteção não pode se sobrepor ao direito de propriedade constitucionalmente garantido, permitindo a não concessão nas seguintes hipóteses: insuficiência financeira da proposta de renovação; proposta melhor de terceiro; reforma inadiável do prédio; uso próprio; para estabelecimento empresarial de cônjuge, ascendente ou descente estabelecidos há mais de um ano em outro local.

9.3. - Do Shopping Center Este tipo de estabelecimento encontra resistência na proteção do ponto comercial em razão de sua

natureza. Todos sabem que o shopping possui uma finalidade estabelecida pelo empreendedor e, portanto, para o lojista se beneficiar da proteção deve respeitar esta finalidade, caso contrário, não encontrará amparo legal.

a) proteção legal: o que assegura o direito de uso da ação renovatória é a lei de locações, porém, como os Shopping Centers estão organizados na forma de empreendimento, o não cumprimento da meta por um lojista implica em prejuízo a todos os demais em razão de provocar o distanciamento do consumidor. Logo, o direito de

133 CC. Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência. Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato. 134 Lei n.º 8.245/91. Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos. § 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação; no caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo sublocatário. § 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela sociedade. § 3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio sobrevivente fica sub - rogado no direito a renovação, desde que continue no mesmo ramo. § 4º O direito a renovação do contrato estende - se às locações celebradas por indústrias e sociedades civis com fim lucrativo, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos previstos neste artigo. § 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor.

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propriedade garantido pela Constituição Federal se sobrepõe ao interesse individual do lojista, afastando a possibilidade de renovação locatícia.135

b) remuneração: a remuneração pela locação é outro diferencial, haja vista que a locação de espaços em Shopping Centers implica no pagamento de uma parcela fixa previamente ajustada e no pagamento de uma parcela variável calculada com base no movimento financeiro do lojista denominada de res sperata. Ademais, no mês de dezembro o valor locatício normalmente é dobrado, em razão do movimento maior.

c) Associação de lojistas: além das despesas pagas diretamente ao empreendedor, o lojista ainda é obrigado a filiar-se a associação de lojistas daquele shopping, órgão responsável pela representação dos lojistas junto ao empreendedor, assim como pela manutenção de campanha permanente de publicidade.

9.4. - Do Nome Empresarial Nome empresarial é a firma ou a denominação adotada através da qual a sociedade empresária é

conhecida no meio em que atua.136 Firma, na técnica mercantil, entende-se o nome instituído por um comerciante ou por uma sociedade

comercial para sobre ela fazer girar todos os negócios. E nesse sentido, compreendendo tanto a firma individual quanto a firma coletiva, firma social ou razão social é tomada em acepção ampla, distinguindo-se da denominação. A denominação é o título ou o nome indicativo do estabelecimento, enquanto a firma é o nome da pessoa, física ou jurídica, sob cuja responsabilidade funcional o estabelecimento comercial ou industrial executa todos os negócios a eles inerentes.137

Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações.

Dessa forma, a denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios.

a) conceito: nome empresarial é o nome pelo qual se registra a empresa ou o empresário individual nos órgãos de registro de empresas, é o elemento de identificação da empresa.

b) abrangência: quando falamos de nome empresarial, a impressão que se têm é que tudo aquilo que possa identificar o nome do empresário perante o seu público alvo, ou seja, consumidor, tem a mesma natureza. Assim, temos neste conjunto: nome empresarial, título do estabelecimento, domínio na Internet e marca. No entanto, veremos que o direito possui tratamento específico para cada situação.

c) espécies: vamos tratar especificamente das espécies de nome empresarial sem nos atermos às identificações ligadas ao mesmo nome.

- Firma – é o nome empresarial representado pelo próprio nome civil do empresário, visto que firma significa assinatura, estando presa à própria pessoa civil do empresário, acrescendo-se ou não o ramo de atividade empresarial. Exemplo: José Silva Alimentos Ltda. A firma permite o uso do nome civil completo, abreviado ou parcial.

- Denominação – trata-se da utilização de elemento de fantasia na composição do nome empresarial, de forma que não é possível identificar a empresa pelo empresário. Exemplo: Bom Doce Comércio de Alimentos Ltda.

d) empresário individual – o empresário individual, pessoa inscrita no serviço de registro de empresas na forma individual, deverá necessariamente adotar a espécie firma para designação de seu nome empresarial.

e) sociedades empresárias: as sociedades possuem regras próprias para a escolha do nome, a saber:

135 Lei n.º 8.245/91. Art. 54. Nas relações entre lojistas e empreendedores de shopping center, prevalecerão as condições livremente pactuadas nos contratos de locação respectivos e as disposições procedimentais previstas nesta lei. § 1º O empreendedor não poderá cobrar do locatário em shopping center: a) as despesas referidas nas alíneas a , b e d do parágrafo único do art. 22; e b) as despesas com obras ou substituições de equipamentos, que impliquem modificar o projeto ou o memorial descritivo da data do habite - se e obras de paisagismo nas partes de uso comum. § 2º As despesas cobradas do locatário devem ser previstas em orçamento, salvo casos de urgência ou força maior, devidamente demonstradas, podendo o locatário, a cada sessenta dias, por si ou entidade de classe exigir a comprovação das mesmas. 136 CC. Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa. Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações. 137 Silva, De Plácido E. Vocabulário Jurídico. Forense, 10ª edição, pág. 301.

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- sociedade em conta de participação: como não possui personalidade jurídica, a atividade empresarial é toda desenvolvida em nome pessoal do sócio ostensivo;

- sociedade em nome coletivo: obrigatoriamente deverá adotar a espécie firma, podendo constar o nome de um só sócio, de alguns ou de todos eles;

- sociedade em comandita simples: obrigatoriamente utilizar a espécie firma, no entanto, só poderá compor o nome da sociedade o nome dos sócios comanditados;

- sociedade limitada: poderá utilizar firma ou denominação; - sociedade anônima: deverá utilizar denominação; - sociedade em comandita por ações: poderá utilizar firma ou denominação. - microempresário: deve acrescer ao nome a sigla ME; - pequeno empresário: deve acrescer ao nome a sigla EPP. f) alteração do nome empresarial: nosso direito contempla duas possibilidades de alteração do nome

empresarial, as facultativas e as compulsórias. - alteração facultativa – é aquela que está a cargo do empresário, quando for do seu interesse alterar

seu nome empresarial, poderá fazê-lo mediante alteração de registro na Junta Comercial, devendo para tanto, respeitar as formas de criação do nome empresarial.

- alteração de sócios – em se tratando de sociedade empresarial, saindo o sócio, cujo nome integre a firma, seja por venda, cessão, falecimento ou doação das quotas sociais, deverá ser alterado o nome empresarial sob pena do sócio ou de seu espólio continuar respondendo pelas obrigações societárias.

- alteração compulsória – é de caráter obrigatório e deverá ser procedida sempre quando o nome empresarial estiver realizado na espécie de firma e esta sofra alteração por conta de um fator ligado à pessoa do empresário:

- alteração do patronímico – uma vez tendo o empresário que cedeu seu nome civil para composição do nome empresarial seu registro civil alterado, por força de Ação Judicial de Retificação de Assento, deverá necessariamente proceder à respectiva alteração do nome empresarial no registro de empresa;

- alteração do tipo social – havendo alteração do tipo social, deverá o nome empresarial respeitar as regras de formação do novo tipo social.

- por ato judicial – quando na proteção dos direitos de outro empresário o Poder Judiciário determinar a alteração do nome do empresário sucumbente.

9.5. - Da Proteção do Nome Empresarial

Como visto anteriormente, o nome empresarial possui regras próprias para sua definição, e a partir daí

o direito põe a salvo esse nome, observando as seguintes regras: a) registro estadual: o registro do nome empresarial é de âmbito estadual, de forma que a proteção do

nome empresarial só se dá no estado de registro ou nos demais em que possua filial devidamente registrada na respectiva junta.138

b) proteção do núcleo: o que o direito empresarial protege é apenas o núcleo do nome, ou seja, aquele elemento principal que compõe o nome empresarial, de forma que se temos uma empresa denominada “Ipiranga Comércio de Alimentos Ltda”, o núcleo é a palavra “Ipiranga” pois, as demais denominações, “Comércio de Alimentos Ltda” serão de uso comum a qualquer empresário que atue no mesmo ramo de atividade.

c) objetivo de proteção: preservação do crédito e da clientela - preservação do crédito: o uso do mesmo nome por duas pessoas, tendo uma delas o nome vinculado

a qualquer fato ilícito ou depreciativo, abalará o crédito da outra. Lembre-se do exemplo dos casos das empresas Shering do Brasil e Shering Plugt da Alemanha, cujo envolvimento da primeira na comercialização de pílulas de farinha gerou uma depreciação do nome da segunda que precisou apresentar informes publicitários explicando a desvinculação das duas empresas.

- preservação da clientela: dois nomes com núcleos idênticos podem levar o consumidor a adquirir produto de uma empresa imaginando que está adquirindo produto da outra.

138 Pode, porém, o nome ser protegido como “marca”, o que significa que a mesma deverá ser registrada perante o INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial, assim, a proteção será nacinal.

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d) efeitos da proteção: no resguardo dos direitos do empresário, o direito coloca mecanismos de ação a disposição para dar eficácia à proteção do nome empresarial, a saber:

- interdição da atividade: o uso indevido do nome empresarial pode levar a interdição da atividade empresarial do usurpador;

- apreensão de mercadorias: havendo a total identidade de atividades e de produtos, pode ser determinada à apreensão das mercadorias;

- perdas e danos: poderá ainda o lesado requerer perdas e danos que tenha sido causada pelo uso indevido do nome empresarial

e) Título do estabelecimento: o título do estabelecimento é a denominação que o empresário utiliza para ser identificado junto aos consumidores. Portanto, necessariamente não se confunde com o nome empresarial, desde que sejam diversos.

- Nomes idênticos: na hipótese de serem idênticos o título do estabelecimento e o nome empresarial, gozará o título da mesma proteção que o nome empresarial.

- Nomes diversos: sendo diversos os nomes, o título poderá gozar de proteção através da Lei de Propriedade Industrial ou da Lei de Defesa da Concorrência.

f) Domínio na Internet: o domínio é o nome pelo qual a empresa é identificada na rede mundial de computadores e atualmente o Poder Judiciário tem utilizado, analogicamente, a Lei de Propriedade Industrial e a Lei de Registro de Empresas para proteção do domínio.

g) Marca: a marca, representada por qualquer sinal distintivo gráfico, tem sua proteção através da Lei de Propriedade Industrial.139

h) Núcleo Empresarial: o que o título do estabelecimento, o domínio e a marca normalmente têm em comum, e às vezes até o nome empresarial, é o chamado núcleo, ou seja, palavra principal de identificação da empresa, portanto, objeto de proteção jurídica.

10. - DO REGISTRO PÚBLICO DAS EMPRESAS MERCANTIS

O Registro Público de Empresas Mercantis está a cargo das juntas comerciais e nele serão inscritos, obrigatoriamente, o empresário e a sociedade empresária (art. 1.150).

Dessa forma, a inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha: a) o seu nome, a nacionalidade, o domicílio, o estado civil e, se casado, o regime de bens; b) a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; c) o capital; e d) o objeto e a sede da empresa. De posse do requerimento e dos dados exigidos, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do

Registro Público de Empresas Mercantis, que observará o número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos.

É de ressaltar que, ao pequeno empresário e ao empresário rural será dado tratamento diferenciado e simplificado quanto à inscrição140 e aos efeitos dela decorrentes.

a) Órgãos de registro: a estrutura de registro das empresas por parte do Poder Público se subdivide em dois órgãos distintos, um de âmbito federal e outro de âmbito estadual.

- DNRC - Departamento Nacional do Registro do Comércio: trata-se do órgão federal vinculado ao Ministério do Desenvolvimento que tem por finalidade controlar em âmbito nacional a atividade empresarial no Brasil, e entre suas atribuições se destacam:

- normatização de registros: estabelece normas e instruções para execução de registros empresariais pelas Juntas Comerciais estaduais;

- Fiscalização: fiscalizar a atuação das Juntas Comerciais em todo o país; - Correição: a pedido dos Governos Estaduais pode intervir nas Juntas Comerciais para atuação

correicional; 139 Lei n.º 9.279/96 140 CC. Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. Lei nº 9.841, de 05 de outubro de 1999.

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- Cadastro: implantação e manutenção do controle nacional de empresas, atividade esta atualmente somente supletiva, sem finalidade de controle.

- Juntas Comerciais: são órgãos ligados aos governos estaduais que atuam no controle das empresas instaladas nos limites de seu território geográfico, tendo como principais funções:

- registro de empresas: efetuar o registro de criação, modificação e extinção de empresas, bem como dos livros obrigatórios;

- tradutores juramentados: habilitar, fiscalizar e controlar a atividade profissional dos tradutores juramentados;

b) atos de registro da empresa: - abertura: trata-se do registro do ato constitutivo do empresário, seja ficha de inscrição individual,

contrato social ou estatuto, que se realiza mediante arquivamento. - alterações: toda alteração relativa à atividade empresarial, como mudança de objeto, forma social,

composição social, capital, etc, devem ser levadas à averbação junto ao registro do empresário. - autenticação e controle de livros: os livros do empresário para terem validade precisam ser

autenticados pela junta, bem como controlados para verificação de inatividade. - encerramento: para dar baixa na atividade empresarial e desonerar-se das obrigações deverá o

empresário arquivar na Junta Comercial o respectivo termo de baixa. O não registro do termo de encerramento da empresa, ainda que essa já não mais esteja em atividade faz com que as obrigações tributárias e administrativas continue sendo lançadas.

c) conseqüência da falta de registro: o empresário que exerce sua atividade sem registro será considerado irregular ou de fato, com as seguintes conseqüências: responsabilidade ilimitada perante credores; falta de legitimidade para poder pedir a falência de outro empresário; está sujeito a decretação de falência; se sujeita a condenação em crime falimentar; não pode se beneficiar de concordata; falta de legitimidade para pleitear ação renovatória de locação; não pode se habilitar em licitação; se sujeita a sanção de natureza fiscal.

11. - DAS OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO

a) Registro (artigo 967 do Código Civil): todo empresário está obrigado a registrar-se no Registro de Empresas mantido pela Junta Comercial antes de dar início à exploração de sua atividade;

b) Escrituração: manter a escrituração regular de seus documentos e livros c) Balanço: apresentação de balanço anual d) descumprimento das obrigações: não permite que o empresário se beneficie da concordata; não

pode participar de licitação pública; não poderá abrir ou tornar-se sócio de outra empresa, além de estar sujeito a sanções penais.

11.1. - Da Contabilidade e da Escrituração a) contabilidade: além da obrigatoriedade do registro, o empresário deve manter controle e registro de

sua administração econômica. b) escrituração: redução a escrito das operações mercantis em livros e formulários legalmente

previstos, seja pela União, Estado ou Município. - Forma: mecanizada, seja ela datilografada ou micrografada. - idioma e moeda: corrente, ou seja, em língua portuguesa e atualmente em real. - ordem: cronológica e crescente, - espaços: na escrituração dos livros e documentos não podem existir espaços (linhas) em branco; - rasuras: são proibidas, devendo se observar à forma de correção de erros para que não se presuma

fraude; - correção de erros: lançamento de estorno, trata-se de operação de lançamento posterior inversa do

ato anterior de forma a zerar contabilmente os atos do primeiro lançamento. c) conservar e guardar a escrituração

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- local: seguro, não precisa estar necessariamente no estabelecimento, sendo que quando de fiscalização é concedido prazo ao empresário para exibição da documentação.

- prazo de guarda: cinco anos dada à natureza fiscal dos documentos. Neste ponto, alguns doutrinadores sustentam a necessidade de guardar por tempo maior justamente pela natureza fiscal. Do ponto de vista prescricional do lançamento, cinco anos seriam suficientes para a guarda, no entanto, para fins de defesa judicial tributária pode existir a necessidade da manutenção dos documentos por tempo superior, tornando-se inclusive inviável dizer quanto tempo seria necessária essa guarda em razão da delonga no andamento das lides tributárias.

11.2. - Do Balanço Geral Formar anualmente balanço geral: toda empresa deve anualmente exibir balanço contábil, exceto

para as microempresas que apresentam apenas declaração anual de rendas. a) ativo e passivo: o balanço apresentado deve discriminar o ativo e passivo, demonstrando a situação

patrimonial da empresa. b) resultados: além da situação patrimonial o balanço deve demonstrar os lucros e perdas do exercício

contábil. c) conseqüências: além das sanções de natureza administrativa e fiscal, do ponto de vista empresarial

a ausência de balanço no prazo de 60 (sessenta) dias após requerida pelo juiz, permite a decretação de falência do empresário com a configuração da prática de crime falimentar, embora haja jurisprudência em contrário quanto à responsabilização criminal.

11.3. - Dos Livros Comerciais São os livros comerciais que descriminam as operações diretas e indiretas do empresário mercantil e

devem ser registrados na Junta Comercial, de forma a manter a sua validade e permitir o controle da atividade de cada empresário. Os livros comerciais não se confundem com os livros de natureza tributária exigidos por cada ente fiscal.

a) Obrigatórios: - diário (artigo 1180 do Código Civil): livro de registro do resultado diário da atividade financeira da

empresa, sendo o único livro obrigatório a todos os empresários. - Registro de duplicatas (Lei nº 5.474/68): para os empresários que emitem duplicatas é obrigatório o

registro de cada cártula emitida. - Entrada e saída de mercadorias: se assemelha ao registro de inventário, trata-se de livro

obrigatório somente para os empresários do ramo de armazéns gerais e para àqueles que trabalham com estoque de mercadoria;

- Registro de ações: quando a empresa tiver seu capital constituído na forma de ações deverá ser registrado, a emissão, transferência de ações, subscrição de capital, etc.

- Atas de assembléias gerais: para as sociedades estatutárias, será obrigatório redução a termo e registro das atas de assembléias, controle de presença de sócios, etc.

b) Facultativos: são livros que a lei não exige, mas que podem auxiliar o empresário da escrituração contábil, porém, se utilizados devem respeitar a forma legal de escrituração para que não faça prova contra o empresário: caixa; conta-corrente; livro de estoque; e contas a receber e a pagar.

c) Conseqüências da irregularidade dos livros empresariais: como tais livros possuem regras legais de escrituração, além da necessidade de autenticação pela Junta Comercial, a inobservância gera as seguintes conseqüências para a vida do empresário: não poderá requerer falência de outro empresário; não poderá utilizá-los como meio de prova judicial a seu favor; aplicação da pena de confissão em processos judiciais; não pode beneficiar-se da concordata; configuração de crime falimentar; não pode participar de licitação pública; sujeita a tipificação penal de crime contra a fé pública (falsificação de documentos).

d) Exibição judicial dos livros empresariais: em razão da natureza concorrencial da atividade empresarial, os livros do empresário constituem verdadeiras fontes que podem revelar a estratégia empresarial

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tão importante nos dias atuais para a atuação profissional. Dessa forma, o direito põe a salvo o sigilo do empresário, expressamente previsto no artigo 1190 do Código Civil, só se permitindo a exigibilidade dos livros nas hipóteses legalmente previstas.

- total – importa na retenção dos livros pelo órgão judicante a requerimento da parte interessada, e somente poderá ser exigida a exibição dos livros em ações que tratam de Direito Empresarial, Falimentar, Concorrencial, Fiscal ou Administrativo.

- parcial – importa na exibição dos livros com a sua devolução, e poderá ser feita de ofício pelo órgão judicante ou a requerimento de pessoa interessada, em qualquer litígio, desde que seja meio útil de prova. Normalmente a doutrina de direito material não se aprofunda nos aspectos processuais, e aqui, dessa forma cabe uma observação sobre a utilidade da prova, pois, havendo outro meio de prova, a exigibilidade do livro empresarial, ainda que parcialmente será afastada. Por outro lado, a exibição de ofício só tem ocorrido nos processos de natureza falimentar.

RESUMO141

Apresentação

As regras do novo Código Civil, comentadas de forma especial para os Contabilistas, estão nesta cartilha preparada com a qualidade técnica da IOB Thomson, em parceria com o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo. Em vigor desde o dia 11 de janeiro de 2003, a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, trouxe uma série de modificações, tanto para a sociedade civil, como para as empresas. Conhecer em profundidade todas as nuances da nova lei, é indispensável para o profissional que assessora as empresas nessa nova fase. Além de ter de se adaptar às novidades apresentadas pelo Novo Código Civil para as empresas, o Contabilista deve ficar atento e interpretar com clareza as novas responsabilidades técnicas para o profissional da Contabilidade impostas pelos Artigos 1.177 e 1.178. Assim que o Novo Código Civil foi promulgado, o CRC SP preocupou-se em divulgá-lo maciçamente. Colocamos no site do CRC SP um link especial com todas as abordagens publicadas sobre o assunto e organizamos vários seminários e palestras, na capital e no interior, não apenas para difundir, mas, também, para interpretar todas as minúcias da lei. O CRC SP iniciou, já em agosto de 2002, a série de eventos que debatem com os Contabilistas o Novo Código Civil. Desde então, tivemos cerca de 8 mil participações nos seminários e palestras e, devido ao enorme interesse despertado na classe dos Contabilistas, estamos sempre programando novas edições dos eventos. Esperamos que, com este excelente manual, o Novo Código Civil seja mais um instrumento para o Contabilista realizar com excelência seu trabalho, indispensável para o mundo dos negócios e a sociedade em geral.

Pedro Ernesto Fabri

Introdução As inovações trazidas pelo novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) certamente mobilizarão grande parte do tempo do contabilista. Tempo este a ser aplicado na orientação de seus clientes ou empregador. Dessa forma, não raras vezes o contabilista se defronta com obrigações a serem cumpridas em espaço de tempo que nem sempre lhe dá o conforto necessário, dadas as dificuldades de pesquisa que se fazem presentes para execução eficiente do trabalho e do compromisso que tem com seus contratantes.Com essa nova Lei, certamente o contabilista se verá às voltas com a necessidade de orientar seus contratantes sobre a melhor opção para adequação às normas trazidas, bem como na elaboração do contrato social para esse fim, embora, a rigor, esse trabalho seja mais jurídico do que contábil. Conscientes das dificuldades que serão encontradas por esses profissionais, elaboramos esta Cartilha, na qual inserimos informações úteis neste mister. Obviamente que, como se trata de uma Cartilha, seu conteúdo fica limitado a informações essenciais, onde, é claro, não há possibilidade de esgotarmos o assunto. Por outro lado, objetivamos com este trabalho fornecer, ainda que de forma sucinta, as informações imprescindíveis às adequações societárias que se aproximam. Destarte, se este trabalho não resolver os problemas dos contabilistas, em virtude da nova legislação, esperamos que pelo menos lhes forneça o rumo a seguir e que seja abrandado o cumprimento de mais essa tarefa.

141 Extraído do site Portal CRC-SP (www.crcsp.org.br).

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1. Despersonificação da pessoa jurídica O caput do art. 20 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, Código Civil anterior, determinava, textualmente, que "As pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros".Tendo existência distinta da dos seus membros, é forçoso concluir que distinta também eram suas obrigações, bem como seus direitos. Por outras palavras, sob a ótica desse dispositivo, as pessoas jurídicas estavam dotadas de direitos e obrigações independentemente dos direitos e obrigações dos seus sócios. De modo geral, a dívida é uma obrigação personalíssima, ou seja, não pode passar da pessoa do devedor. Dessa forma, as dívidas da pessoa jurídica não poderiam ser cobradas dos sócios, por estes terem existência distinta e capital próprio. O art. 50 do Código Civil atual passou a legislar sobre esse assunto de forma diferente, determinando que "em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica".Isso significa que, ocorrendo as hipóteses do art. 50, sobre a cobrança de dívida, por exemplo, doravante poderá ser afastada a figura da pessoa jurídica para fazer recair a cobrança na pessoa física, sócios ou administradores (disregard doctrine). Essa possibilidade já estava pacificada em nosso direito através de doutrinas e jurisprudências, agora materializada nesse dispositivo, o art. 50.Sob o ponto de vista contábil, em razão do art. 50 caracterizar o abuso da personalidade jurídica também pela confusão patrimonial, por extensão cremos nada impedir que cotejemos tal expressão dentro dos PCGAs (Princípios Contábeis Geralmente Aceitos), especificamente com o princípio da entidade. (grifamos)

2. Responsabilidade do contabilista A responsabilidade do contabilista foi severamente ampliada com a entrada em vigor do novo Código Civil, podendo ele responder pessoal e solidariamente perante a empresa (empregador, ou contratante no caso de escritórios de contabilidade) e terceiros, com patrimônio pessoal (arts. 1.177 e 1.178).Responderá pessoalmente quando agir com culpa e solidariamente quando agir com dolo.Assim como no direito penal, perante o novo código, age com culpa aquele que age com imprudência, imperícia ou negligência, sendo o resultado alheio à vontade do agente. Por outro lado, age com dolo aquele que conhece o resultado de sua ação e mesmo assim a pratica; portanto, o resultado é esperado.Conforme disposição do próprio código, contabilistas e outros auxiliares estão incluídos como prepostos, tratados no item 12, adiante.

3. Empresário A definição de empresário, antiga firma individual, está conceituada no art. 966 do novo diploma, que a fez da seguinte forma: "Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.". Por outro lado, determina que não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Desta forma, basta que se exerça profissionalmente atividade economicamente organizada _ com os equipamentos, ferramentas e tudo o mais que possa ser preciso para determinada atividade _ para se ter a caracterização de empresário. Por outro lado, o exercício de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística não caracteriza a qualidade de empresário. Assim, por exemplo, os médicos, os engenheiros, os dramaturgos, os cantores, os artistas e apresentadores de rádio e televisão não são necessariamente empresários, mesmo que, para o desempenho de suas atividades, necessitem de auxiliares ou colaboradores1. Ressalva se faz, na hipótese de o exercício dessas atividades constituírem elementos de empresa, ou seja, constituir ou compor o ramo de atividade constante do contrato social da empresa que pretenda explorar economicamente tais atividades. 1 Cozza, Mario. Novo código civil do direito de empresa. Porto Alegre, Síntese, 2002, pág. 18

3. Empresário A definição de empresário, antiga firma individual, está conceituada no art. 966 do novo diploma, que a fez da seguinte forma: "Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.". Por outro lado, determina que não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Desta forma, basta que se exerça profissionalmente atividade economicamente organizada _ com os equipamentos, ferramentas e tudo o mais que possa ser preciso para determinada atividade _ para se ter a caracterização de empresário. Por outro lado, o exercício de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística não caracteriza a qualidade de empresário. Assim, por exemplo, os médicos, os engenheiros, os dramaturgos,

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os cantores, os artistas e apresentadores de rádio e televisão não são necessariamente empresários, mesmo que, para o desempenho de suas atividades, necessitem de auxiliares ou colaboradores1. Ressalva se faz, na hipótese de o exercício dessas atividades constituírem elementos de empresa, ou seja, constituir ou compor o ramo de atividade constante do contrato social da empresa que pretenda explorar economicamente tais atividades. 1 Cozza, Mario. Novo código civil do direito de empresa. Porto Alegre, Síntese, 2002, pág. 18

4. Capacidade A menoridade foi reduzida em três anos. Dessa forma, a pessoa, ao completar dezoito anos de idade, torna-se apta à prática de todos os atos da vida civil (art. 5º). Além disso, cessa para os menores a incapacidade: a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; b) pelo casamento; c) pelo exercício de emprego público efetivo; d) pela colação de grau em curso de ensino superior; e) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

5. Da Sociedade Doravante, passaremos a conviver com as chamadas sociedades não personificadas e sociedades personificadas, ambas espécies do gênero sociedade empresária. (Subtítulo I, arts. 986 a 996, e Subtítulo II, arts. 997 a 1.141, do Título II). Haverá sociedade quando houver no mínimo duas ou mais pessoas, unidas por contrato, com o mesmo objetivo, para criarem uma sociedade empresária, para exploração de qualquer atividade com objetivo de lucro. É admitida existência de sociedade com apenas um sócio pelo prazo de seis meses (art. 1.033, IV). 5.1. Sociedade não personificada A sociedade não personificada é aquela constituída sem as formalidades legais, ou seja, aquela não submetida a registro no órgão competente, por estar desobrigada ou pendente dessa condição, como exemplo desse tipo de sociedade temos (arts. 986 e seguintes): 5.1.1. Sociedade em comum Esta sociedade é aquela cujos atos constitutivos ainda não foram submetidos a registro. Enquanto permanecer essa condição, essas sociedades serão regidas pelas normas da sociedade simples subsidiariamente naquilo que for compatível. Aqui o patrimônio especial é composto pelos bens e pelas dívidas sociais, sendo titulares em comum os sócios. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão de qualquer sócio. 5.1.2 Sociedade em conta de participação A sociedade em conta de participação, por si só e por sua natureza, dispensa registro de seus atos constitutivos, sendo suas operações e atividades geridas unicamente pelo sócio ostensivo.Dessa forma, obriga-se perante terceiros apenas e tão-somente o sócio ostensivo, desde que o sócio participante2 não tome parte nas deliberações sociais. Apesar disso, nada obsta a que o sócio participante fiscalize a gestão dos negócios sociais. 5.2. Sociedade personificada Este gênero de sociedade, por sua própria natureza, exige que seus atos constitutivos sejam submetidos a registro nos órgãos competentes. Dessa forma, as espécies de sociedades tratadas a seguir, necessariamente, deverão estar oficializadas mediante o competente registro (arts. 997 e seguintes).

5.2.1. Sociedade simples (inclusive cooperativas)

Esta espécie de sociedade somente será constituída mediante contrato _ a cooperativa, mediante estatutos3 escritos, particulares ou públicos _ que deverá conter: a) o nome, a nacionalidade, o estado civil, a profissão e a residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, a nacionalidade e a sede dos sócios, se jurídicas; b) a denominação, o objeto, a sede e o prazo da sociedade; c) o capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; d) a quota de cada sócio no capital social e o modo de realizá-la; e) as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; f) as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; g) a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

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h) se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. Além disso, a sociedade poderá prever outras cláusulas conforme a necessidade individual de cada uma, seja em relação à forma de administração ou previsões contratuais pertinentes. Em relação às cooperativas, doravante elas poderão ser constituídas com o concurso de sócios em número mínimo necessário para com por a administração da sociedade, sem limite de número máximo, sendo variável seu capital ou até mesmo dispensado. 5.2.2. Sociedade em nome coletivo Nesta espécie de sociedade, apenas e tão-somente pessoas físicas poderão compor seu quadro societário, além do que todos os sócios respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.Podem, ainda, os sócios dessa espécie de sociedade, no ato constitutivo ou em separado, limitar entre si a responsabilidade de cada um. Naquilo em que for omisso o capítulo próprio do Código Civil, em relação a essas sociedades, serão aplicadas as normas da sociedade simples. 5.2.3. Sociedade em comandita simples Constituem esta espécie de sociedade duas categorias de sócios: a)comanditados: pessoas físicas responsáveis e solidárias pelas obrigações sociais de forma ilimitada; b) comanditários: os que se obrigam somente pelo valor de suas quotas. As especificações tratadas nas letras "a" e "b" devem, obrigatoriamente, estar discriminadas no contrato social. Embora não possam praticar qualquer ato de gestão, é facultado aos sócios comanditários participar das deliberações da sociedade e fiscalizar suas operações. 5.2.4 Sociedade limitada Espécie de sociedade em que os sócios, pessoas físicas ou jurídicas, respondem por suas quotas, porém todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. Essa espécie de sociedade representa a grande maioria das sociedades empresárias no Brasil, o que nos leva a crer, por óbvio, que serão as que mais sentirão os efeitos decorrentes da despersonificação da pessoa jurídica, tratada no item 2. Apesar disso, as demais espécies de sociedades empresárias estão sujeitas aos mesmos efeitos. Assim como para as outras sociedades, as omissões dos capítulos específicos serão supridas pelas normas relativas às sociedades simples4. O art. 1.059 do novo Código Civil determina que os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título5, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantiasse distribuírem com prejuízo ao capital6. 5.2.4.1 Regência supletiva pela Lei das S/A O parágrafo único do art. 1.053 do Código Civil faculta às sociedades limitadas optarem pela regência supletiva de suas atividades através da Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76), nos seguintes termos: "o contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima". Não exercendo essa opção no contrato social, o caput do art. 1.053 determina que a sociedade limitadaserá regida pelas normas da sociedade simples na falta de normas a serem aplicadas.Dessa forma, o novo Código Civil não impõe indistintamente a obrigatoriedade de todas as empresas constituídas sob a forma societária de limitadas publicarem suas demonstrações financeiras.Essa obrigação poderá ser compulsória na hipótese de a sociedade limitada declarar que será regida supletivamente pelas normas da Lei das Sociedades Anônimas, em seus atos constitutivos ou no ato através do qual se adequará às novas normas administrativas, o que deverá ocorrer até 10 de janeiro de 2004, instituídas pela Lei já mencionada. Ainda que opte pela regência supletiva da Lei das Sociedades Anônimas, a empresa poderá estar dispensada das publicações de suas demonstrações financeiras, pois que o art. 294 desta mesma Lei dispensa as empresas com capital social cujo valor não ultrapasse a um milhão de reais desse encargo. 5.2.4.2 Aumento e redução de capital Depois de integralizado o capital, este poderá ser aumentado com a correspondente modificação do contrato (art. 1.081). Já a redução poderá operar-se mediante a correspondente modificação do contrato: a) depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis; b) se excessivo em relação ao objeto da sociedade. No caso da letra "a", supra, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado. No caso da letra "b", supra, a redução do capital será feita restituindo-se parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, em ambos os casos, do valor nominal das quotas. O credor quirografário poderá opor-se à redução do capital, no prazo de noventa dias contado da data da publicação da ata da assembléia que aprovar a redução, por título líquido anterior a essa data, e, após

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isso, a ata passará a ser eficaz mediante averbação no Registro Público de Empresas Mercantis.As sociedades que optarem pela regência supletiva da Lei n° 6.404/76 deverão observar o que dispõe o art. 173 e seguintes dessa norma. 5.2.4.3 Deliberação dos sócios Dependem da deliberação dos sócios, para que produzam os efeitos correspondentes, as matérias relativas a (art. 1.071): a) aprovação das contas da administração; b) designação dos administradores, quando feita em ato separado; c) destituição dos administradores; d) remuneração do administrador quando não estabelecida no contrato; e) modificação do contrato social; f) incorporação, fusão e dissolução da sociedade, ou cessação do extrato de liquidação; g) nomeação e destituição dos liquidantes e julgamento de suas contas; h) pedido de concordata. Além dessas matérias, outras indicadas em lei ou no contrato social poderão compor o rol cuja deliberação dependa dos sócios. 5.2.4.4 Administradores O administrador da sociedade poderá ser nomeado no próprio ato constitutivo ou em ato separado.O administrador que for nomeado em ato separado, ou seja, nomeado à parte, fora do contrato social, deverá assinar o termo de posse no prazo de trinta dias após sua designação. Esse termo, bem como sua designação, deverá constar no livro de atas da administração (art. 1.062).No prazo de dez dias após a designação do administrador, este deverá requerer sua averbação no registro competente, mencionando seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, ato e data da nomeação e prazo de gestão, com exibição de documento de identidade. O exercício dessa função implica que o administrador deverá ter o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (art. 1.011).Na hipótese de o contrato permitir administradores não-sócios, a nomeação deles dependerá da unanimidade dos sócios, caso o capital não esteja integralizado. Quando o capital estiver integralizado, essa nomeação poderá ocorrer com a aprovação de no mínimo dois terços. 5.2.4.5 Termo de posse O termo de posse é o ato através do qual o administrador é investido no cargo e deve constar no livro de atas da administração7. Esse termo deve ser assinado até 30 dias após a designação do administrador, sob pena de nulidade. Até dez dias após essa formalidade deverá ser requerida a averbação desse ato no registro competente (art. 1.062, § 2º). 5.2.4.6 Averbação Ato pelo qual se anota em assento ou em documento anterior, que altere, modifique ou amplie o conteúdo do mesmo assento no registro público (art. 10). 5.2.4.7 Conselho Fiscal A nova Lei admite para as sociedades limitadas, facultativamente, a instituição do Conselho Fiscal (art. 1.066). As atribuições desse órgão são: a) examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhe as informações solicitadas;b) lavrar no livro de atas e pareceres do Conselho Fiscal o resultado dos exames referidos na letra "a";c) exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; d) denunciar erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; e) convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; f) praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere o art. 1.066, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação. Além dessas obrigações, outras poderão constar do contrato social, objetivando maior segurança administrativa e financeira da sociedade. As empresas que optarem pela regência supletiva da Lei das Sociedades Anônimas deverão observar, em relação ao conselho fiscal, o que dispõe o art. 163 desta Lei. Cabe ressaltar que esse órgão poderá contar com a assistência de contabilista legalmente habilitado para auxiliá-lo no exame de livros, balanços e demais contas. Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. Os sócios minoritários que representarem pelo menos um quinto do capital social poderão eleger,

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separadamente, um dos membros do conselho fiscal e respectivo suplente. 5.2.4.8 Resolução da sociedade em relação a um sócio A sociedade tem a faculdade de prever cláusulas e condições para exclusão de sócio por justa causa, sendo esta identificada pela falta grave no cumprimento de suas obrigações ou por incapacidade superveniente, além das hipóteses previstas no Código Civil (art. 1.030). Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade:a) se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; e b) se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa. Até trinta dias subseqüentes à notificação, os demais sócios deliberarão sobre o destino da sociedade. De pleno direito será excluído o sócio declarado falido. A retirada, exclusão ou morte do sócio não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos depois de averbada a resolução da sociedade; no caso de retirada ou exclusão, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação. 5.2.4.9 Reunião As sociedades que forem compostas de até dez sócios deverão deliberar sobre as matérias referidas anteriormente através de reuniões, que deverão ser convocadas pelos administradores nas hipóteses previstas no contrato social ou por exigência legal (art. 1.072). Na hipótese de os administradores retardarem a convocação por mais de sessenta dias, observadas as exigências legais ou do contrato, os sócios poderão fazê-la. Poderão também convocar reuniões os titularesque representem mais de um quinto do capital quando não tiverem atendido seu pedido fundamentado, com indicação das matérias a serem objeto de deliberação, no prazo de oito dias. 5.2.4.10 Assembleia Quando a sociedade for composta de mais de dez sócios, suas deliberações deverão ser tomadas por assembléias (art. 1.072). As matérias que deverão ser objeto de deliberação são as mesmas que dependam de reuniões. 5.2.4.11. Registros no livro de atas As atas das reuniões ou das assembléias deverão ser transcritas no livro de atas, o qual deverá ser exibido quando circunstâncias o exigirem (art. 1.075, § 1º). O código que trouxe essa obrigação não define prazo para registro ou para escrituração desse livro, porém, a rigor, a escrituração da ata deve ocorrer na data da sua realização. Para escrituração da ata, referido livro deverá estar revestido das formalidades legais, ou seja, devidamente registrado e assinado por responsáveis competentes. 5.2.5 Sociedade anônima/comandita por ações Sociedades cujo capital se divide em ações e que são regidas por lei especial8, ficando cada sócio ou acionista obrigado apenas em relação ao preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.Em relação à comandita por ações, somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade. 5.3. Sociedade coligada Legalmente, são coligadas as sociedades quando uma participa, com 10% (dez por cento) ou mais, do capital da outra, sem controlá-la9. O novo Código Civil10, em seu art. 1.099, define sociedade coligada da seguinte forma: "Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital da outra, sem controlá-la". 5.4. Sociedade controlada Legalmente, considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores11.Já o novo Código Civil define tais sociedades nos seguintes termos: "É controlada: a) a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembléia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores; eb) a sociedade cujo controle, referido na letra `a', esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuídas por sociedades ou por esta já controladas". 5.5. Sociedade controladora Em decorrência das definições legais mencionadas, podemos considerar controladora a sociedade que, diretamente ou através de outras sociedades, é titular de direito de sócio que lhe assegure, de modo permanente, a preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores. 2 Antes da vigência do novo Código Civil, esta categoria de sócio era tida como sócio oculto.3 Lei orgânica ou regulamento de um Estado, de uma associação; constituição; regulamento (Prof. Francisco da Silveira Bueno _ Minidicionário da Língua Portuguesa, 6ª edição, Editora Lisa S/A).4 Lei nº 10.406/2002, art. 1.053, caput.

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5 Esta expressão nos leva a crer que se trata inclusive do pró-labore. 6 O § 2º do art. 201 da Lei nº 6.404/76 determina que os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa-fé tenham recebido. Presume-se a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o levantamento do balanço ou em desacordo com os resultados deste. 7 Livro introduzido pelo novo Código Civil, art. 1.062. 8 Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, alterada pelas Leis nºs 9.457/97 e 10.303/2001. 9 Lei nº 6.404/76, art. 243, § 1º. 10 Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 11 Lei nº 6.404/76, art. 243, § 2º.

6. Sociedade nacional Sociedade nacional é a que tem sua constituição levada a efeito de acordo com as leis brasileiras, e tem sua sede no País (art. 1.126). A mudança da nacionalidade de sociedade brasileira é condicionada ao consentimento unânime dos sócios ou acionistas.

8. Estabelecimento A nova Lei considera estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária (art. 1.142). Nesse caso, na hipótese de compra, o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento. (grifamos) Anteriormente à vigência da nova Lei, a doutrina tratava de estabelecimento comercial ou fundo de comércio, o que hoje define o art. 1.142 como estabelecimento.

9. Nome empresarial Nome empresarial é a firma ou a denominação adotada através da qual a sociedade empresária é conhecida no meio em que atua (art. 1.155). Firma, na técnica mercantil, entende-se o nome instituído por um comerciante ou por uma sociedade comercial para sobre ela fazer girar todos os negócios. E nesse sentido, compreendendo tanto a firma individual quanto a firma coletiva, firma social ou razão social é tomada em acepção ampla, distinguindo-se da denominação. A denominação é o título ou o nome indicativo do estabelecimento, enquanto a firma é o nome da pessoa, física ou jurídica, sob cuja responsabilidade funcional o estabelecimento comercial ou industrial executa todos os negócios a eles inerentes12.Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações. Dessa forma, a denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. 12 Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Forense, 10ª edição, pág. 301.

10. Direitos e obrigações dos sócios A responsabilidade dos sócios começa imediatamente com o contrato, conforme os termos utilizados pelo art. 1.001 do Código Civil em vigor desde 11 de janeiro de 2003, na hipótese de os atos constitutivos não

7. Sociedade estrangeira A sociedade estrangeira, para funcionar no Brasil, sendo irrelevante a atividade que pretenda explorar, sempre dependerá de autorização do Poder Executivo (art. 1.134). Sem essa autorização, referidas sociedades não poderão ser constituídas. Essa autorização será obtida mediante requerimento, ao qual deverão ser juntados: a) prova de se achar a sociedade constituída conforme a lei de seu país; b) inteiro teor do contrato ou do estatuto; c) relação dos membros de todos os órgãos da administração da sociedade, com nome, nacionalidade, profissão, domicílio e, salvo quanto a ações ao portador, o valor da participação de cada um no capital da sociedade; d) cópia do ato que autorizou o funcionamento no Brasil e fixou o capital destinado às operações no território nacional; e) prova de nomeação do representante no Brasil, com poderes expressos para aceitar as condições exigidas para a autorização; f) último balanço. Esses documentos, para produzir os efeitos necessários, serão autenticados, de conformidade com a lei nacional da sociedade requerente, legalizados no consulado brasileiro da respectiva sede e acompanhados de tradução em vernáculo.

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fixarem outra data para tal responsabilização. Pelo dispositivo mencionado, essa responsabilidade terminará somente quando forem extintas as responsabilidades sociais, o que, em outras palavras, nos leva a concluir que, enquanto não forem totalmente pagas todas as obrigações sociais, perdurarão as responsabilidades dos sócios.Nesse aspecto, a novidade fica por conta do fato de que o sócio retirante continua a responder pelas obrigações sociais durante dois anos após a averbação da sua saída e o sócio recém-admitido na sociedade responde por obrigações sociais até dois anos anteriores à sua admissão.

11. Prepostos/gerente O preposto não pode agir sem autorização escrita e, na hipótese de fazê-lo, responderá pelos atos do substituto e pelas obrigações por ele contraídas. Entre os prepostos, podemos citar o gerente ou o contador e seus auxiliares.Gerente é o preposto permanente no exercício da empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial ou agência. Já o contador responderá pelos assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, que produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele. Tratamos especificamente da responsabilidade do contabilista no item 3.

12. Relação com terceiros Na hipótese de os bens da sociedade não serem suficientes para cobrir as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária (art. 1.023). Dessa forma, os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais. Apesar disso, é de suma importância observar o que dispõe a parte relativa à despersonificação da pessoa jurídica13. 13 Lei n° 10.406/2002, art. 50.

13. Escrituração Quanto à escrituração em particular, o novo código não traz grandes novidades. Ele determina que o empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico (arts. 1.179 e seguintes). São dispensados dessas exigências o pequeno empresário e o empresário rural, aos quais são assegurados tratamentos diferenciados14 (art. 970). A escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade, e será efetuada em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. Dessa forma, o empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados. 14 Constituição Federal, art. 179.

14. Registro Público de Empresas Mercantis O Registro Público de Empresas Mercantis está a cargo das juntas comerciais e nele serão inscritos, obrigatoriamente, o empresário e a sociedade empresária (art. 1.150). Dessa forma, a inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha: a) o seu nome, a nacionalidade, o domicílio, o estado civil e, se casado, o regime de bens; b) a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; c) o capital; e d) o objeto e a sede da empresa. De posse do requerimento e dos dados exigidos, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, que observará o número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. É de ressaltar que ao pequeno empresário e ao empresário rural será dado tratamento diferenciado e simplificado quanto à inscrição15 e aos efeitos dela decorrentes. 15 Lei nº 9.841, de 05 de outubro de 1999.

15. Transformação, incorporação, fusão e cisão A transformação é a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para outro e obedece aos preceitos que regulam a constituição e o registro do tipo a ser adotado

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pela sociedade (arts. 1.113 e seguintes). Incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedade são absorvidas por outra, que lhe sucede em todos os direitos e obrigações. Fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhe sucederá em todos os direitos e obrigações. Cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão16.Essas operações dependem do consentimento de todos os sócios, se previsto no ato constitutivo. Nesse caso, o dissidente poderá retirar-se da sociedade. 16 Lei nº 6.404/76, arts. 220, 227 a 229.

16. Dissolução da sociedade limitada A sociedade será dissolvida, por força de lei, quando ocorrer (art. 1.087): a) o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;b) o consenso unânime dos sócios; c) a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; d) a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; e) a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. A sociedade empresária, além das hipóteses mencionadas, será dissolvida também pela declaração da falência. Há autores que entendem que as sociedades simples não estarão sujeitas à falência17. 17 Machado, Antonio Claudio da Costa. Código civil de 2002 comparado e anotado. 2ª edição, São Paulo, Editora Juarez de Oliveira, 2003, pág. 235.

17. Alguns aspectos do contrato social As empresas em geral deverão se adaptar às regras trazidas pelo novo Código Civil até o dia 10 de janeiro de 2004.As empresas em geral deverão se adaptar às regras trazidas pelo novo Código Civil até o dia 10 de janeiro de 2004. Essas regras implicam adequação do contrato social às novas normas para as empresas já existentes ou elaboração do contrato social para aquelas a serem constituídas doravante.Destarte, tanto para estas como para aquelas, as previsões contratuais deverão contemplar alguns aspectos societários, cujo conteúdo, subjetivamente, dividimos em capítulo, obviamente a título de sugestão, ficando a redação de cada cláusula subordinada à necessidade de cada profissional, conforme as circunstâncias assim o exigirem. I - Denominação, sede, foro, prazo de duração e objeto social As cláusulas que compõem este capítulo, no mínimo cinco, são tradicionais, destinando-se a identificar e localizar a empresa, bem como informar seu prazo de duração e a atividade que pretende desenvolver. II - Capital social e quotas Este capítulo também já é de domínio geral, cuja função é identificar os detentores do capital, bem como a participação correspondente a cada sócio. O que mudou aqui foi o dispositivo legal que identifica a responsabilidade de cada sócio, que passou a ser oart. 1.052 da Lei nº 10.406, de 10.01.2002. III - Cessão de quotas e do direito de preferência Aqui deverão ser identificadas com precisão as formas e as condições que deverão ser observadas para a cessão de quotas, bem como o direito de preferência e forma de exercê-lo.São indispensáveis ainda o estabelecimento de prazos e as formas de comunicação e resposta de cada ato.Neste capítulo deverão ser incluídas tantas cláusulas quantas se fizerem necessárias para atender à necessidade, à segurança e à amplitude contratual que a sociedade pretende. Imaginamos como ideal, no mínimo, cláusulas que definam com precisão a nomeação, os poderes do administrador, o prazo do mandato, impedimentos, a destituição por falta grave, além de outras exigidas pela particularidade de cada sociedade. IV – Administração Neste capítulo será nomeado o administrador, bem como lhe serão conferidos os poderes necessários à sua administração, os quais deverão ser descritos com o máximo de precisão. O administrador poderá ainda ser nomeado por ato apartado, mediante assinatura do termo de posse no prazo de trinta dias, sob pena de se tornar sem efeito. Ato contínuo, no prazo de dez dias, deverá requerer a averbação de sua nomeação no registro competente. V - Reunião ou assembléia de quotistas e deliberações sociais Dedica-se a concentrar as normas que regerão as deliberações sociais, para sociedades em geral (subitens 6.2.4.9 e 6.2.4.10), tais como: forma de convocação, prazo, local, data e hora, bem como as matérias a serem deliberadas.

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VI - Retirada, exclusão de sócio e resolução das quotas de um sócio em relação à sociedadeAs cláusulas componentes deste capítulo devem dedicar-se a esclarecer as normas e condições pelas quais o sócio será excluído da sociedade, bem como a destinação das quotas que lhe competir.Caso a sociedade pretenda inserir no rol de faltas graves outras além das mencionadas pelo código, aqui é o lugar apropriado. É de ser observado que este capítulo tem relação com o Capítulo IV e com ele recomenda-se que esteja alinhado. VII - Pagamento de haveres por resolução de quotas Observado o capítulo anterior, este é o espaço reservado para que sejam estabelecidos condições, formas e prazos para pagamentos de sócio que se retira da sociedade. VIII - Demonstrações financeiras, contábeis e sociais, livros e destino do resultado Aqui as cláusulas serão destinadas a identificar, conforme a necessidade de cada sociedade, as demonstrações financeiras, contábeis ou sociais a serem elaboradas, bem como os prazos e as finalidades de cada uma. IX - Transformação, cisão, incorporação, fusão e reorganização societária Capítulo reservado para que se possam contratar as normas que regerão os atos destinados a processar a transformação, a cisão, a incorporação ou a reorganização societária.Dentro dessas normas deverá ser previsto o quórum necessário para aprovação do ato a ser realizado. X - Dissolução da sociedade Destina-se a estabelecer as normas para o encerramento das atividades, tais como: divisão dos lucros ou prejuízos, rateio dos ativos e passivos. XI – Desimpedimento Capítulo apropriado para que os administradores declarem que não estão impedidos, por qualquer forma ou condição, de exercer a administração da sociedade. Como fonte subsidiária de consulta, reproduzimos a seguir a nova Lei, restringindo-nos apenas às partes que compõem este trabalho e com o qual têm relação.

17. Alguns aspectos do contrato social As empresas em geral deverão se adaptar às regras trazidas pelo novo Código Civil até o dia 10 de janeiro de 2004.As empresas em geral deverão se adaptar às regras trazidas pelo novo Código Civil até o dia 10 de janeiro de 2004. Essas regras implicam adequação do contrato social às novas normas para as empresas já existentes ou elaboração do contrato social para aquelas a serem constituídas doravante. Destarte, tanto para estas como para aquelas, as previsões contratuais deverão contemplar alguns aspectos societários, cujo conteúdo, subjetivamente, dividimos em capítulo, obviamente a título de sugestão, ficando a redação de cada cláusula subordinada à necessidade de cada profissional, conforme as circunstâncias assim o exigirem. I - Denominação, sede, foro, prazo de duração e objeto social As cláusulas que compõem este capítulo, no mínimo cinco, são tradicionais, destinando-se a identificar e localizar a empresa, bem como informar seu prazo de duração e a atividade que pretende desenvolver. II - Capital social e quotas Este capítulo também já é de domínio geral, cuja função é identificar os detentores do capital, bem como a participação correspondente a cada sócio. O que mudou aqui foi o dispositivo legal que identifica a responsabilidade de cada sócio, que passou a ser oart. 1.052 da Lei nº 10.406, de 10.01.2002. III - Cessão de quotas e do direito de preferência Aqui deverão ser identificadas com precisão as formas e as condições que deverão ser observadas para a cessão de quotas, bem como o direito de preferência e forma de exercê-lo. São indispensáveis ainda o estabelecimento de prazos e as formas de comunicação e resposta de cada ato.Neste capítulo deverão ser incluídas tantas cláusulas quantas se fizerem necessárias para atender à necessidade, à segurança e à amplitude contratual que a sociedade pretende. Imaginamos como ideal, no mínimo, cláusulas que definam com precisão a nomeação, os poderes do administrador, o prazo do mandato, impedimentos, a destituição por falta grave, além de outras exigidas pela particularidade de cada sociedade. IV – Administração Neste capítulo será nomeado o administrador, bem como lhe serão conferidos os poderes necessários à sua administração, os quais deverão ser descritos com o máximo de precisão. O administrador poderá ainda ser nomeado por ato apartado, mediante assinatura do termo de posse no prazo de trinta dias, sob pena de se tornar sem efeito. Ato contínuo, no prazo de dez dias, deverá requerer a averbação de sua nomeação no registro competente. V - Reunião ou assembléia de quotistas e deliberações sociais Dedica-se a concentrar as normas que regerão as deliberações sociais, para sociedades em geral (subitens 6.2.4.9 e 6.2.4.10), tais como: forma de convocação, prazo, local, data e hora, bem como as matérias a

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serem deliberadas. VI - Retirada, exclusão de sócio e resolução das quotas de um sócio em relação à sociedadeAs cláusulas componentes deste capítulo devem dedicar-se a esclarecer as normas e condições pelas quais o sócio será excluído da sociedade, bem como a destinação das quotas que lhe competir.Caso a sociedade pretenda inserir no rol de faltas graves outras além das mencionadas pelo código, aqui é o lugar apropriado. É de ser observado que este capítulo tem relação com o Capítulo IV e com ele recomenda-se que esteja alinhado. VII - Pagamento de haveres por resolução de quotas Observado o capítulo anterior, este é o espaço reservado para que sejam estabelecidos condições, formas e prazos para pagamentos de sócio que se retira da sociedade. VIII - Demonstrações financeiras, contábeis e sociais, livros e destino do resultado Aqui as cláusulas serão destinadas a identificar, conforme a necessidade de cada sociedade, as demonstrações financeiras, contábeis ou sociais a serem elaboradas, bem como os prazos e as finalidades de cada uma. IX - Transformação, cisão, incorporação, fusão e reorganização societária Capítulo reservado para que se possam contratar as normas que regerão os atos destinados a processar a transformação, a cisão, a incorporação ou a reorganização societária.Dentro dessas normas deverá ser previsto o quórum necessário para aprovação do ato a ser realizado. X - Dissolução da sociedade Destina-se a estabelecer as normas para o encerramento das atividades, tais como: divisão dos lucros ou prejuízos, rateio dos ativos e passivos. XI – Desimpedimento Capítulo apropriado para que os administradores declarem que não estão impedidos, por qualquer forma ou condição, de exercer a administração da sociedade. Como fonte subsidiária de consulta, reproduzimos a seguir a nova Lei, restringindo-nos apenas às partes que compõem este trabalho e com o qual tem relação.

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CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL

SEGUNDA PARTE:

DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

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12. - TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Uma das instituições mais importantes, tanto para o comercio nacional quanto para as negociações em

níveis internacional, é o crédito. As operações de compra e venda (de bens e de serviços) são realizadas em dois planos: no tempo e no espaço.

A operação se resume na troca de mercadoria ou serviços por dinheiro. Quando esta operação ocorre às duas mãos no mesmo momento, isto é, quando o vendedor entrega a mercadoria e já recebe o dinheiro, diz-se de uma operação no espaço. Quando o vendedor entrega o bem comercializado, mas não recebe o dinheiro no mesmo momento, postergando esse recebimento para um momento futuro, diz-se de uma operação no tempo.

A operação no tempo ocorre pela confiança depositada pelo vendedor no comprador e somente é possível nos dias de hoje, neste mundo tão globalizado, por causa dos títulos de crédito.

É que essa confiança dada ao comprador pelo vendedor, recebe em contrapartida uma promessa de pagamento pelo comprador. E essa promessa de pagamento não é simplesmente verbal, mas, sim, documentada e representada por uma cártula.142

Os títulos de crédito são largamente utilizados em outras operações, como os contratos de mútuo (empréstimos de dinheiro). Mesmo quando ainda não havia a moeda e a economia era sustentada pelo chamado “lastro” em ouro, o título de crédito já existia em sua forma mais rudimentar, que era o recibo de custódia do metal em espécie, emitido pela instituição que o recepcionava.

Como função principal, o título de crédito existe para mobilizar o crédito, fazer circular as riquezas com maior facilidade, dando ao seu portador posição de certeza e segurança que não conseguiria for a do Direito Cambiário. Assim, os títulos de crédito mobiliza as riquezas do mundo.

A Teoria Geral dos Títulos de Crédito tornou-se o conjunto de princípios que permitem a satisfação das exigências de certeza no direito e na segurança de sua execução. O conceito de título de crédito vem sendo desenvolvido pela doutrina geral e encontra origem em Vivante:143 “Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado.”

Quanto à natureza jurídica é de se dizer que foi se formando paulatinamente, pela opinião de diversos juristas. Assim, considerando sua natureza, isto é, a conseqüência advinda para o devedor, que não pode, no vencimento, exigir do beneficiário o cumprimento de obrigações bilaterais, isto é, o título tem autonomia total, valendo de per se, tem-se que sua natureza jurídica seja declaração unilateral de vontade.

O título de crédito, por ser um documento autônomo, independente de comprovação da contrapartida do negócio jurídico do qual advém, supostamente ocorrido em sua gênese, traz consigo as sete características de validade: literalidade, autonomia, cartularidade, formalismo, circulabilidade, abstração e incorporação.

Literalidade: prevalece o que está escrito no título; Autonomia: é uma declaração de vontade, irrevogável, emitido, vale de per s; Cartulairdade: é representado por uma cártula (pedaço de papel escrito e assinado); Formalismo: a forma do título é prescrita em lei (cheque, nota promissória etc); Circulabilidade: destina-se a circular de mão em mão (pode ser trocado por terceiros);144 Abstração: vale por si mesmo (de per se), não se vinculando a comprovação de fatos; Incorporação: fusão do direito com o documento. O direito esvai-se, esvaindo o título.

Cumpre informar que os títulos de crédito são regidos no Brasil por leis específicas (o cheque, a nota promissória, a letra de câmbio) e pela Lei Uniforme de Genebra, que vige no Brasil desde 1942.

Veremos à frente alguns títulos e características que os envolvem.

142 CC. Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. § 1o É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. § 2o Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. § 3o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo. 143 Cesare Vivante, apud Sebastião José Roque, in Títulos de Crédito, pág. 4. 144 Existe uma cláusula automática de endosse, que facilita a circulação do título de crédito. A doutrina contesta a cláusula “não à ordem”, que é aposta em muitos títulos, para, assim, evitar sua circulação.

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13. - DO ENDOSSO145 O endosso é a forma pela qual o beneficiário do crédito transfere a terceiros o direito de receber o

crédito do emitente. A grande maioria dos títulos tem a cláusula “à ordem”, ou seja, o credor tem o poder de transferir o direito de receber. Mas, existem ocasiões em que o emitente exige que o próprio credor compareça para receber o crédito, estabelecendo, portanto, a cláusula “não à ordem”.146

O endosso é feito, normalmente, no verso do título, com a aposição da frase: “pague-se a (alguém), ou à sua ordem”, seguida da data do endosso e da assinatura do endossante.

Desde a edição do Plano Collor,147 os títulos acima de determinado valor não podem mais se revestirem da cláusula “ao portador”.148 Assim, não há mais falar em endosso “em branco”,149 pelo qual, apenas a assinatura do endossante concedia “ao portador” o direito de cobrança do título. A partir de então, os endossos devem ser do tipo “em preto”, o que significa indicar o favorecido.

O endosso transforma o título em verdadeiro “papel moeda”, através da circulabilidade. Por isto, não pode ser feito em separado, devendo, sempre, ser aposto no verso do título, ainda que, não havendo mais espaço, seja necessária uma extensão do título para tal fim.

14. - DO AVAL Como vimos, o crédito é uma espécie de confiança depositada pelo credor no devedor. Porém, algumas

circunstâncias sugerem a necessidade de uma garantia de que o credor é merecedor dessa confiança. Essa garantia pode ser, como comumente acontece, o “aval”.150 Essa garantia é, na verdade, uma espécie de teste pelo qual passa o devedor, pois, ao ser-lhe solicitada uma garantia por aval, significa impor-lhe que uma outra pessoa, alheia ao negócio praticado pelas partes, demonstre que também tem nele uma confiança, pois ao conceder o aval, garante o pagamento, caso o devedor não cumpra o compromisso. Essa garantia significa que o avalista pagará a quantia expressa no título.

A doutrina francesa conceitua o aval como fiança, concebendo ao avalista um vínculo acessório. Assim, nula a obrigação principal, nula a garantia. Já na Itália, o aval e a fiança são considerados substrato comum à garantia de uma obrigação alheia.

As conseqüências do aval são: 1. – o avalista equipara-se ao avalizado na obrigação; 2. – o avalista é solidariamente responsável pela obrigação; 3. – não há óbice ao protesto direto, em caso de inadimplência; 4. – o avalista que quitar a cambial tem direito de regresso contra o avalizado;

145 CC. Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. § 1.o Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante. § 2.o A transferência por endosso completa-se com a tradição do título. § 3.o Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente. 146 “É legalmente permitida a emissão de um conhecimento dito não à ordem, o que implica na impossibilidade de ser endossado. A sua transferência dar-se-á então através de cessão de crédito. Em nossa opinião, inserida a cláusula não à ordem, fica descaracterizado o conhecimento de transporte como título cambiário, pois lhe retira uma característica importante: a circulabilidade. Serão então apenas um documento de legitimação.” (Sebastião José Roque, in Títulos de Crédito, pág. 80). 147 Lei n.º 8.021, de 12/4/1990. Art. 1.º A partir da vigência desta lei, fica vedado o pagamento ou resgate de qualquer título ou aplicação, bem como dos seus rendimentos ou ganhos, a beneficiário não identificado. Art. 2.º A partir da data da publicação desta Lei fica vedada: I – a emissão de quotas ao portador ou nominativos-endossáveis, pelos fundos em condomínio; II – a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-endossáveis.” 148 À época, ficou muito popular a frase “transferência de titularidade”, utilizada pela Ministra Zélia Cardoso. 149 Não quis assim entender o legislador de 2002, uma vez que o Código Civil traz cinco artigos versando sobre o título ao portador, ainda que se considere a exigência de lei especial para validade do título, a saber: Art. 904. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição. Art. 905. O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor. Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente. Art. 906. O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação. Art. 907. É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial. Art. 908. O possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas. Art. 909. O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. Parágrafo único. O pagamento, feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato. 150 CC. Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Parágrafo único. É vedado o aval parcial. Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título. § 1o Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista. § 2o Considera-se não escrito o aval cancelado.

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5. – o aval cancelado considera-se não escrito; e 6. – Falindo ou insolvente o avalista, o credor não pode exigir substituto.

15. - DO CHEQUE Sem dúvida, o título de crédito mais conhecido e utilizado no país é o cheque. O cheque tem natureza

jurídica de ordem de pagamento à vista.151 É um documento emitido contra um banco ou uma instituição financeira equiparada, sendo proibida a emissão de cheque contra outra instituição (Lei do Cheque, art. 3.º).152

A semelhança é muito grande com a Letra de Câmbio, com a diferença de que a LC normalmente é a prazo, enquanto que o cheque é a vista.

Há uma figura jurídica de grande relevância que é o “cheque pré-datado” ou “pós-datado”,153 que surgiu da prática (do costume), isto é, o cheque, que legalmente é uma “ordem de pagamento à vista”, passou, na prática, a ser expedido como uma “ordem de pagamento a prazo”, o que o assemelha por demais à Letra de Câmbio. A Lei do Cheque diz nada a respeito do “cheque pré-datado”. A doutrina em geral afirma que ele não existe, porém, com o advento do Código de Defesa do Consumidor, a emissão de um cheque, com a promessa de apresentação do mesmo em data futura, se aceita pelo Fornecedor, tem valor de contrato e deve ser respeitada pelo recebedor, sob pena de sofrer ações reparatórias de perdas e danos e até de danos morais, em casos de negativação indevida do nome do emitente nos órgãos de proteção ao crédito.

16. - DA LETRA DE CÂMBIO A doutrina nos ensina que a Letra de Câmbio “é uma ordem de pagamento, sacada por um credor

contra o seu devedor, em favor de alguém, que pode ser um terceiro ou o próprio sacador”154 É com base nesta definição que o cheque “pré-datado” se assemelha com a letra de câmbio, cujo regramento fica a cargo do Decreto 2.044, de 31 de dezembro de 1908.

A letra de câmbio, entretanto, é um título formal e deve trazer escrito a expressão “letra de câmbio”, inserido no texto e não apenas como título do documento (cabeçalho). Além disso, deve trazer a quantia a ser paga, expressa em moeda, deve trazer o nome de quem vai pagar, o nome de quem vai receber, a data e o lugar onde será paga a letra e a assinatura de quem emite a mesma. Sem qualquer desses requisitos, a letra não cumpre suas formalidades.

Como características principais comparativas do cheque com a letra de câmbio, podemos elencar: 1. – o cheque é uma ordem de pagamento só a vista, enquanto a letra de câmbio pode ser a prazo e à

vista; 2. – o sacado de um cheque só pode ser uma instituição financeira, geralmente um banco, mas o da

letra de câmbio pode ser pessoa de várias categorias; 3. – o sacador do cheque deverá ter dinheiro suficiente ao valor do cheque, depositado em poder do

sacado (fundos); 4. – o cheque não tem aceite; porém a letra de câmbio só se completa pelo aceite; 5. – cada título é regulamentado por legislação própria, inclusive por convenções internacionais

distintas; 6. – o cheque tem como pressuposto a existência de um contrato de depósito entre o sacador e o

sacado, o que não acontece com a letra de câmbio;

151 “O cheque é uma ordem de pagamento escrita, pela qual uma pessoa que tenha fundos disponíveis em conta-corrente bancária, dá ordem ao banco mantenedor dessa conta-corrente, para que faça o pagamento de determinada quantia em dinheiro, à vista, ao emitente da ordem ou a um terceiro.” (Sebastião José Roque, in Títulos de Crédito, pág. 40). 152 Lei n.º 7.357/85. Art . 3.º O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja equiparada, sob pena de não valer como cheque. 153 Muito se discute se a locução correta é “pré-datado” ou “pós-datado”. Porém, em nosso estudo, pouco ou nenhum resultado trará a solução dessa dúvida. Nossa opinião é pela primeira expressão, em primeiro lugar porque é a mais usual e em segundo lugar porque, realmente, se apõe a data no documento “antes” de a mesma acontecer, portanto “pré”. A expressão “pós” dá-nos uma impressão de algo que é feito “depois”, “a posteriori”, o que não é o caso do cheque “pré-datado”. 154 Luiz Braz Mazzafera, in Curso Básico de Direito Empresarial, pág. 187.

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7. – o valor do cheque só pode ser expresso em moeda nacional, mas a letra de câmbio pode ser emitida em moeda estrangeira, quando se referir a operação de comércio exterior.

17. - DA NOTA PROMISSÓRIA O art. 586, do Código de Processo Civil, determina que “a execução para cobrança de crédito fundar-

se-á sempre em título líquido, certo e exigível”. A idéia de que é preciso observar os requisitos essenciais de formação de cada título, a princípio parece

singela, mas torna-se das mais sérias quando enfrentando na realidade processual oposição com base na ausência desses requisitos em títulos de crédito, como é o caso da nota promissória.

Os requisitos do título de crédito do tipo nota promissória, notadamente aqueles que referem à sua essenciabilidade, é questão de relevante interesse, seja na esfera prática ou teórica, pois, segundo o Código de Processo Civil, "é nula a execução se o título executivo não for líquido, certo e exigível".155 Sendo a questão de importância, que pode resultar na própria extinção do processo executório, ante a eventual ineficácia dos títulos que não tragam os ditos requisitos essenciais, é evidente que deve ser considerada.

O tema tem levado inúmeros profissionais da advocacia a se depararem com uma situação inusitada e inesperada quando, ao proporem execuções deste tipo de título de crédito, são surpreendidos por uma sentença, geralmente em sede de embargos, dando a execução como nula e o exeqüente como carecedor da execução aforada, em face da ausência de requisitos essenciais ao título de crédito.

A questão torna-se crucial ao patrono da causa, pois terá que informar ao seu cliente que ele fora condenado ao pagamento, além das custas processuais, numa verba honorária de, no mínimo, 10% sobre o valor da execução, quando o que ele mais queria naquele momento era receber o seu crédito que julgava líquido, certo e exigível. Ademais, difícil explicar, a despeito da extinção da execução, que o cliente encontra-se impossibilitado de intentar nova ação para satisfação de seu crédito sem que antes comprove o pagamento ou depósito das custas e dos honorários advocatícios a que, certamente, fora condenado na execução extinta.

Diante disso, a divergência da essenciabilidade dos requisitos surge quando se analisa dois deles – a indicação da data e do lugar onde a nota promissória é emitida – que, à mingua de maiores luzes esclarecedoras, ora se mostram essenciais, ora se mostram secundários.

Consideremos, primeiramente que a nota promissória é uma promessa de pagamento e não uma ordem de pagamento, como é o caso da letra de câmbio e do cheque. Neste caso, o devedor é o próprio emitente, enquanto que naqueles o sacado passa a ser o devedor da “ordem” de pagamento. Por isto, importante verificar os requisitos essenciais da nota promissória, a saber:

denominação “nota promissória”, inserida no próprio texto; promessa de pagar quantia determinada; a data do pagamento; o lugar do pagamento; o nome da pessoa a quem se deve pagar, ou à sua ordem; data e local de emissão da nota promissória; assinatura do emitente.

18. - DA DUPLICATA MERCANTIL A duplicata mercantil é um título de crédito que tem origem nas transações comerciais. Com o advento do Direito Empresarial, ainda mais pelo vigor da Teoria da Empresa, a tendência é de

que esse título sofra algumas modificações importantes. Primeiramente, porque, antes do Código Civil, apenas a comercialização de produtos e mercadorias poderia originar a emissão da duplicata mercantil puramente definida na Lei de Duplicatas, que é de 1968, época em que ainda não existiam as facilidades eletrônicas de atualmente.

155 CPC. Art. 618. É nula a execução: I – se o título executivo não for líquido, certo e exigível (art. 586); II – se o devedor não for regularmente citado; III – se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o termo, nos casos do art. 572.

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Atualmente, as duplicatas já são escriturais e os livros de registros de duplicatas não mais utilizados. O Direito caminha a passos largos, na tentativa de alcançar a prática.

19. - DA FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS A Lei de Falências vigorante no país atualmente data de 1945,156 devendo ser substituída em breve por

uma legislação mais moderna, cuja denominação caminha para algo parecido com “programa de recuperação de empresas”.

Faremos, então, apenas alguns comentários sobre a legislação atual e apresentaremos o artigo que dispõe sobre os requisitos da sentença de falência.

A natureza jurídica da sentença falimentar é declaratória e constitutiva. Primeira porque reconhece a justeza do pedido quanto ao direito do credor; segunda porque constitui o novo estado para a pessoa jurídica.

Os requisitos substanciais da sentença de falência encontram-se no art. 14:

Art. 14. Praticadas as diligências ordenadas pela presente lei, o juiz, no prazo de vinte e quatro horas, proferirá a sentença, declarando ou não a falência. Parágrafo único. A sentença que declarar a falência: I - conterá o nome do devedor, o lugar do seu principal estabelecimento e o gênero de comércio; os nomes dos sócios solidários e os seus domicílios; os nomes dos que forem, a esse tempo, diretores, gerentes ou liquidantes das sociedades por ações ou por cotas de responsabilidade limitada; II - indicará a hora da declaração da falência, entendendo-se, em caso de omissão, que se deu ao meio dia; III - fixará, se possível, o termo legal da falência, designando a data em que se tenha caracterizado esse estado, sem poder retrotraí-lo por mais de sessenta dias, contados do primeiro protesto por falta de pagamento, ou do despacho ao requerimento inicial da falência (arts. 8° e 12), ou da distribuição do pedido de concordata preventiva; IV - nomeará o síndico, conforme o disposto no art. 60 e seus parágrafos; V - marcará o prazo (art. 80) para os credores apresentarem as declarações e documentos justificativos dos seus créditos; VI - providenciará as diligências convenientes ao interesse da massa, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou dos representantes da sociedade falida, quando requerida com fundamento em provas que demonstrem a prática de crime definido nesta lei.

20. - DO DIREITO BANCÁRIO Quem não recorda da polêmica advinda da emissão da Medida Provisória n.º 1.925, de 15/10/1999,

que trouxe à baixa a denominada Cédula de Crédito Bancário?157 Cumpre no presente estudo, trazer um pequeno comentário a respeito desse título de crédito que muito

abalou o meio jurídico quando da edição da referida Medida Provisória. O artigo 1º diz que a Cédula de Crédito Bancário "é título de crédito emitido por pessoa física ou

jurídica, em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada, representando promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade." Infere-se dessa definição dois aspectos práticos relevantes. O primeiro, refere-se aos termos "entidade a esta equiparada", que devido ao seu sentido aberto, pode trazer confusão quanto a pessoa beneficiada, pois não existe a preceituação legal dos critérios para a identificação de uma entidade equiparada a instituição financeira. Vale dizer que a MP deixa margem para que entidades legalmente não equiparadas a instituições financeiras, aproveitando-se da abertura da norma, possam se prestar como beneficiárias de uma Cédula de Crédito Bancário, em decorrência da natureza de seus serviços, como é o caso das administradoras de cartões de crédito e das empresas de factoring.

Por essas e outras constata-se que princípios e institutos já sacramentados em nosso ordenamento jurídico foram totalmente desprezados pela MP 1925/99. Qualquer transgressão de princípio caracteriza elemento pertubador da ordem institucional, desarticulando a harmonia do sistema normativo. De mais a mais, a MP foi adotada sem qualquer justificativa. O artigo 62, da Constituição Federal preceitua que as medidas provisórias somente poderão ser adotadas em caso de relevância e urgência. No entanto, pelo próprio teor da matéria, não se 156 Decreto-Lei n.º 7.661, de 21/6/1945. Denominado Lei de Falências 157 Publicada sem muito alarde, a Medida Provisória nº 1.925, de 15/10/99, reeditada em 11/11/99, dispõe sobre uma nova modalidade de título de crédito, a Cédula de Crédito Bancário, criada com o objetivo único de servir aos créditos das instituições financeiras. Devido à sua recente vigência, não há como se aferir sua aplicação prática. Porém, do texto da MP saltam alguns pontos que merecem ser observados.

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vislumbra no caso em tela a relevância e a urgência exigidas pela Carta Magna. A Cédula de Crédito Bancário não atende a outra relevância e urgência se não àquelas emanadas dos interesses do poderio econômico, que, no final das contas, parece que foi quem ditou ao Poder Executivo o texto da medida.

A MP 1925/99, além de caracterizar insurgência aos institutos e princípios do ordenamento jurídico vigente, parece-me totalmente inconstitucional, pois não atende aos requisitos constitucionais para sua adoção. Por isso, todo cuidado com a Cédula de Crédito Bancário ainda é pouco. Vale lembrar que prudência e canja de galinha, não fazem mal a ninguém.

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