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CURSO DE DIREITO
PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS POR DÍVIDA PARTICULAR DO SÓCIO DE SOCIEDADE LIMITADA
EDUARDO HENRIQUE MARTINS DE OLIVEIRA R.A: 483.261/2 TURMA: 3209C FONE: 5928-7120 E-MAIL: [email protected]
São Paulo
2008
CURSO DE DIREITO
PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS POR DÍVIDA PARTICULAR DO SÓCIO DE SOCIEDADE LIMITADA
EDUARDO HENRIQUE MARTINS DE OLIVEIRA R.A: 483.261/2 ORIENTADORA: MARIA CRISTINA ZUCCHI
Monografia apresentada a Banca
Examinadora do Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas, como
exigência parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito sob a orientação da
professora Maria Cristina Zucchi.
São Paulo
2008
BANCA EXAMINADORA:
1.Professor Orientador_________________________________________________
Dra. Maria Cristina Zucchi
Avaliação:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Nota: (_____)
___________________________________________________________________
2.Professor Argüidor___________________________________________________
Avaliação:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Nota: (_____)
3.Professor Argüidor___________________________________________________
Avaliação:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Nota: (_____)
Agradeço todos aqueles que contribuíram
para concretização deste Trabalho, em
especial a minha família e a Professora Maria
Cristina Zucchi.
RREESSUUMMOO
Pretende este estudo expor à problemática quanto à penhorabilidade de quotas
sociais por dívida particular de sócio de sociedade limitada. Para tanto, foram
estudas as principais correntes doutrinárias e entendimentos jurisprudenciais, bem
como o embasamento legal de cada uma delas. Foram abordadas as noções gerais
acerca da sociedade limitada, sua localização no cenário brasileiro, o sistema de
quotas, conceito de penhora e seus efeitos e, por fim, as correntes doutrinárias e
entendimento jurisprudencial acerca da penhorabilidade e impenhorabilidade de
quotas, penhora de fundos líquidos e penhora de quotas, desde que autorizada pelo
contrato social. E, enfim, foi exposta conclusão deste acadêmico, de acordo com o
estudado e fundamentado no presente trabalho.
Palavras-chave: Sociedade Limitada. Dívida pessoal do Sócio. Penhora de Quotas
Sociais. Direito Civil
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................5
INTRODUÇÃO ........................................................................................................8
1. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES BRASILEIRAS .................................9
2. SOCIEDADE LIMITADA...................................................................................12
2.1 Histórico........................................................................................................ 12
2.2 Conceito ....................................................................................................... 14
2.3 Características.............................................................................................. 15
2.4 Constituição .................................................................................................. 16
2.5 Pressupostos de Existência da Sociedade Limitada .................................... 17
2.6 Dissolução .................................................................................................... 18
3. HIPÓTESES DE RESPONSABILIZAÇÃO DE SÓCIOS...................................19
4. QUOTAS...........................................................................................................22
4.1 Definição....................................................................................................... 22
4.2 Quotas ordinárias e quotas preferenciais ..................................................... 23
4.3 Condomínio das quotas................................................................................ 24
4.4 Transmissão de quotas ................................................................................ 24
4.4.1 Inter Vivos ................................................................................................24
4.4.2 Causa Mortis ............................................................................................25
5. PENHORA ........................................................................................................27
5.1 Conceito ....................................................................................................... 27
5.2 Efeitos........................................................................................................... 28
5.3 Procedimento da penhora ............................................................................ 29
5.4 Alienação...................................................................................................... 30
6. PENHORA DE QUOTAS ..................................................................................31
6.1 Impenhorabilidade das quotas...................................................................... 31
6.1.1 Na Doutrina ..............................................................................................31
6.1.2 Na Jurisprudência ....................................................................................34
6.2 Penhorabilidade das quotas ......................................................................... 34
6.2.1 Na Doutrina ..............................................................................................34
6.2.2 Na Jurisprudência ....................................................................................37
6.3 Penhora dos fundos líquidos ........................................................................ 38
6.3.1 Na Doutrina ..............................................................................................38
6.3.2 Na Jurisprudência ....................................................................................40
6.4 Penhorabilidade dependente de cláusula no contrato social. ....................... 40
6.4.1 Na Doutrina ..............................................................................................40
6.4.2 Na Jurisprudência ....................................................................................42
7. CONCLUSÃO ...................................................................................................44
8. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................47
INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva o estudo da possibilidade de penhora de
quotas sociais de sócio de sociedade limitada, por dívida particular deste.
A dúvida se apresenta ante o caráter intuitu personae inerente a este tipo
de sociedade.
Para início deste trabalho necessário se faz o estudo da classificação das
sociedades no Brasil.
Adiante passaremos a análise, do ponto de vista histórico, da origem da
sociedade limitada na Europa e as circunstâncias que motivaram sua criação, bem
como a legislação a ela aplicável e seu surgimento no Brasil.
Serão abordadas, também, as principais características das sociedades
limitadas, como a simplicidade para a sua formação, a responsabilidade do sócio, a
contratualidade, entre outros.
Para uma melhor análise sobre o tema, será abordado no presente
trabalho, a responsabilidade dos sócios pela integralização do capital social, além de
uma análise sobre os casos em que não são observados os critérios de
responsabilidade limitada, respondendo o sócio com seu patrimônio pessoal por
dívida advinda da sociedade.
Adiante, passaremos à conceituação do que é capital social e quotas
sociais, verificando os tipos de quotas existentes na sociedade limitada.
Em seguida será explicitado o conceito de penhora e sua principal
finalidade.
Dessa forma, dar-se-á inicio à análise do objeto principal do presente
trabalho, qual seja, a possibilidade de penhora das quotas sociais por dívida pessoal
do sócio de sociedade limitada.
Para tanto será necessário pesquisa na doutrina e jurisprudência e,
assim, obter uma solução adequada para o assunto.
8
11.. CCLLAASSSSIIFFIICCAAÇÇÃÃOO DDAASS SSOOCCIIEEDDAADDEESS BBRRAASSIILLEEIIRRAASS
As sociedades podem ser classificadas de diversas formas e critérios, por
sua origem, existência jurídica, natureza jurídica, entre outras.
Para este estudo restringiremos a classificação em razão da existência
jurídica e natureza jurídica.
Em razão da existência jurídica, as sociedades são divididas em
sociedades personificadas e sociedades não personificadas.
As sociedades não personificadas são aquelas cujos atos constitutivos
não são arquivados em registro próprio, não são dotadas de personalidade jurídica.
São elas: sociedades em nome comum e as sociedades em conta de participação.
Nas sociedades em comum não há distinção para terceiros entre seus
sócios e a sociedade. Não há como definir qual o patrimônio da sociedade e o do
sócio.
No Código Civil de 1.916 esse tipo de sociedade era conhecida como
sociedade de fato, no Código Civil vigente, tais são regidas pelos artigos 986 ao 996.
Nas sociedades por conta de participação temos duas figuras, a do sócio
ostensivo e a do sócio oculto. O sócio ostensivo exerce efetivamente a atividade, em
contra-partida, o sócio oculto participa, tão somente, dos resultados obtidos.
Para Amador Paes de Almeida a sociedade em conta de participação não é pessoa jurídica, não possuindo, portanto, personalidade jurídica, tampouco firma ou denominação, já que toda a atividade é exercida pelo sócio ostensivo, em seu nome individual – art. 991 do Novo Código Civil.1
As sociedades personificadas são aquelas que possuem personalidade
jurídica adquirida pela inscrição de seus atos constitutivos, podendo ser
classificadas em sociedades empresárias e sociedades simples.
Sengundo Jorge Lobo, em razão da natureza jurídica, as sociedades se
classificam em socidade de pessoas, de capitais e mistas ou híbridas.
1 ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 109.
9
Sociedade de pessoas são aquelas constituídas, mediante contrato complexo, por duas ou mais pessoas, em geral com laços de parentesco ou de amizade, vinculadas por confiança recíproca, em que se prioriza, para constituição do objeto social, mais o talento e o esforço dos sócios, do que a contribuição de recursos econômicos e/ou financeiros para a formação do capital.
São de capitais as sociedades em que prevalece o aporte de recursos dos sócios para constituição do capital social e é livre a cessão e tranferência de ações.
São mistas ou híbridas as sociedades que reúnem elementos tanto da sociedade de pessoas, quanto da de capitais.2
De acordo com o artigo 982 do Código Civil, é empresária a sociedade
que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário. As demais são
sociedades simples: “Art.982 - Salvo as exceções expressas, considera-se
empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”.
O artigo 966 dispõe acerca do empresário “considera-se empresário
quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou
a circulação de bens ou de serviços”.
Jorge Lobo ensina: A distinção entre sociedade empresária e sociedade simples fundamenta-se no modo pelo qual a atividade econômica é exercida: se a sociedade se organiza profissionalmente como uma unidade econômica de produção ou circulação de bens ou de serviços, é empresária; se não, é sociedade simples.3
Assim, o que caracteriza ser sociedade simples ou empresária é o modo
pelo qual a atividade econômica é exercida.
Para Amador Paes de Almeida
A sociedade empresária, portanto, é aquela estruturada de forma empresarial, reunindo todos os elementos fundamentais da empresa, consubstanciados na atividade econômica organizada. Simples é a sociedade que não é estruturada de forma empresarial.4
As sociedades, de acordo com as responsabilidades dos sócios, podem
ser limitadas, ilimitadas ou mistas.
2 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.5/7. 3 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 20 4 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.39
10
Nas sociedades de responsabilidade ilimitada todos os sócios respondem
com seus bens particulares. “São de responsabilidade ilimitada a sociedade em
comum (CCivil, arts.986 e segs.), a sociedade simples (CCivil, arts.997 e segs.) e a
sociedade em nome coletivo (CCivil, arts.1.039 e segs.).5
Nas sociedades limitadas, em regra, os sócios não respondem com seus
bens particulares. Aqui temos as Sociedades Limitadas e as Sociedades Anônimas.
Nas sociedades mistas, temos dois tipos de sócios, aqueles que
respondem com seus bens particulares e os que não respondem. “São mistas ou
híbridas a sociedade em conta de participação (CCivil, arts. 991 e segs.), a
sociedade em comandita simples (CCivil, arts.1.045 e segs.) e a sociedade em
comandita por ações (CCivil, arts.1.090 a 1.092)”.6
5 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.08 6 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.08
11
22.. SSOOCCIIEEDDAADDEE LLIIMMIITTAADDAA
22..11 HHiissttóórriiccoo
O primeiro antecedente das Sociedades Limitadas surgiu no direito inglês
com as private companies, como forma de limitar a responsabilidade dos pequenos
e médios comerciantes. Eram sociedades autônomas simplificadas com
características próprias, com número mínimo e máximo de sócios, restrição ao
direito de alienação das ações.
Para Amador Paes de Almeida, as private companies eram somente um
tipo simplificado de sociedades anônimas, dotadas de características especiais,
sendo encontrado no direito alemão, em 20 de abril de 1892.
As Gesellschaft mit Beschränkter Haftung, como eram chamadas as
Sociedades por Quotas na Alemanha, foram criadas ante a necessidade de uma
sociedade que proporcionasse a limitação da responsabilidade de seus sócios sem
a complexiadade e a rigidez inerentes às sociedades anônimas.
Esse tipo de sociedade representou um enorme avanço no direito
comercial, juntando as praticidades das sociedades de pessoas com as vantagens
das sociedades de capital.
Portugal foi primeiro país europeu, depois da Alemanha, a legislar sobre
as sociedades limitadas. Assim como no Brasil recebeu o nome de “sociedade por
quotas de responsabilidade limitada”. A primeira lei sobre o tema foi promulgada em
11 de abril de 1901.
No Brasil a primeira lei que regulou a sociedade limitada surgiu com o
Decreto n° 3.708, de 10 de janeiro de 1919, com apenas dezoito artigos, no qual o
último estabelecia que no caso de omissões seria aplicada a lei das sociedades
anônimas.
12
Assim como em Portugal, foi criada no Brasil para atender as
necessidades do comércio, visando criar um “meio termo” entre a complexidade das
sociedades anônimas e a fragilidade das sociedades ilimitadas.7
Com efeito, o Decreto nº 3.708/19 dispôs sobre as sociedades limitadas,
sendo que para sua constituição seriam observadas as regras sobre as sociedades
de pessoas, bem como, subsidiariamente as regras das sociedades anônimas.
O Código Civil de 2002 passou a disciplinar, nos artigos 1.052 ao 1.087,
as sociedades limitadas.
Apesar de o novo diploma trazer várias evoluções no plano societário,
prevê no artigo 1053:
Art.1053 - A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples.
Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima.
Assim, aplica-se subsidiariamente às Sociedades Limitadas o regime da
sociedade simples, que está disposta nos artigo 997 e seguintes.
Entretanto, caso se entenda conveniente, poderá ser disposto no contrato
a aplicação subsidiaria das disposições das Sociedades Anônimas que por sua vez
são regidas pela Lei das Sociedades Anônimas.
Importante dizer que a sociedade limitada poderá ser empresária ou
simples, dependendo do modo que exercer sua atividade.
Preceitua o artigo 983 do Código Civil:
Art. 983-A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 e 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias – grifo nosso.
Fabio Ulhoa Coelho entende que o Código Civil de 2002 criou dois
subtipos de sociedade limitada:
O primeiro subtipo é o da sociedade limitada sujeita à regência supletiva das normas da sociedade simples. Trata-se das sociedades em que o contrato social não elege a LSA como norma de regência supletiva.8
7 Histórico tirado do livro: LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.47/50 8 COELHO, Fabio Ulhoa. A sociedade limitada no novo Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 23
13
O segundo subtipo de sociedades limitadas é o das sujeitas à regência supletiva da LSA. Para tanto, é necessário que contrato social contemple cláusula expressa mencionando a opção dos sócios por essa disciplina supletiva.9
A Lei das Sociedades Anônimas poderá ser aplicada também por
analogia. Caso haja lacuna no Código Civil de 2.002 no tocante as Sociedades
Limitadas e as Sociedades Simples, será aplicada a Lei de Sociedades Anônimas,
devido a sua abrangência e superioridade técnica.
2.2 Conceito
Para Modesto Carvalhosa a Sociedade Limitada é Aquela de cuja firma ou denominação consta a palavra “limitada” ou sua abreviatura, e na qual a responsabilidade dos sócios é limitada ao valor das quotas por ele subscritas no capital social, quando este estiver totalmente integralizado, sendo, porém, solidária e limitada ao valor total do capital social, quando esse capital não estiver totalmente integralizado.10
Rubens Requião diz “na sociedade limitada duas ou mais pessoas se
reúnem para a obtenção de lucro comum, limitando sua responsabilidade à soma do
capital social”.11
No entendimento de Jorge Lobo é a constituída por pessoas físicas e/ou jurídicas, com igualdade de direitos, sob uma firma social ou denominação, para o exercício de atividade econômica de produção ou circulação de bens ou de serviços, que tem o capital dividido em quotas, de igual ou diferentes espécies, de igual ou desigual valor nominal, obrigando-se os sócios pelo pagamento do valor das quotas subscritas ou adquiridas, todos respondendo solidariamente pela integralização do capital social.12
Para Amador Paes de Almeida é a sociedade “composta de sócios de
responsabilidade limitada ao valor das quotas subscritas, e solidários pela
integralização do capital social”.13
9 COELHO, Fabio Ulhoa. A sociedade limitada no novo Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 24 10 CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil, vol 13. 2ª.Edição, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 33. 11 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 21ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 263. 12 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, vol. 1, p. 56. 13 ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 157.
14
Assim, pode-se dizer que a sociedade limitada é o tipo de sociedade no
qual os sócios respondem limitadamente ao valor de suas quotas subscritas,
podendo responder também solidariamente pelo total do capital social perante
terceiros, caso este não estiver integralizado.
Poderá ela ser empresária ou simples, dependendo do exercício de sua
atividade.
2.3 Características
A Sociedade por quotas de responsabilidade limitada, que com o Novo
Código Civil passou a ser somente sociedade limitada, surgiu para atender as
necessidades econômicas do comerciante “médio”, aquele que não possui
elementos para constituir a Sociedade por Ações, mas com os benefícios da
mesma.
Na atualidade, por todas as suas vantagens, as sociedades limitadas
correspondem a mais de 90% das sociedades empresárias registradas nas Juntas
Comerciais.14
Encontramos na Sociedade Limitada, características comuns das
sociedades de pessoas e das sociedades de capital.
Elisabete Teixeira Vido dos Santos afirma que “a Sociedade Limitada não
é, em abstrato, nem de pessoas nem de capital. Será de uma ou de outra forma, de
com acordo com o previsto no contrato social”.15
As principais características da Sociedade Limitada são:
a) simplicidade para a sua formação: são constituídas por simples
contrato, de acordo com as normas aplicadas a Sociedade Simples (artigo 997 do
Código Civil), conforme já observado nos casos de omissão ou conforme pactuado
no contrato social;
14 Estatística retirada do livro: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 15ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 153. 15 SANTOS, Elisabete Teixeira Vido dos. Elementos do Direito Comercial,5ª. Edição. São Paulo: Premier Máxima, 2004, p.41
15
b) responsabilidade restrita ao total do capital social: apesar de ser uma
sociedade limitada e o sócio ser responsável, em tese, pelo valor de suas quotas,
perante a terceiros cada sócio é responsável solidariamente pelo total do capital
social;
c) Liberdade de opção entre uso da firma social ou denominação: a
empresa poderá adotar tanto o nome de seus sócios ou de um deles, ou de um
nome fantasia. Porém ambos os tipos deverão ser precedidos da palavra “Limitada”
ou “Ltda” cuja ausência poderá, entre outros fatores, acarretar a responsabilidade
ilimitada dos sócios administradores (artigo 1.158 do Código Civil);
d) Contratualidade: os sócios podem estipular livremente, de acordo com
suas vontades, isto é, sem os rigores estabelecidos pela Lei das Sociedades
Anônimas. Como exemplo, temos a opção de escolha do regime subsidiário
(sociedade simples ou sociedade anônima);
e) Intuitu personae: a sociedade é pautada pelo vínculo já existente entre
seus sócios, pauta-se, essencialmente, na qualidade pessoal dos sócios e não em
fatores econômicos e financeiros necessários à formação do capital;
f) Affectio societatis: é a pretensão dos sócios de se unirem, com
semelhantes interesses e que colaboram na consecução do objeto social; e
g) Capital fixo e determinado: O capital social da sociedade limitada é
formado por qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária e
execução. Esclareça-se que o parágrafo 2º. do artigo 1.055, proíbe que a
contribuição consista em prestação de serviços.
2.4 Constituição
Segundo Jorge Lobo
A sociedade limitada constitui-se mediante contrato escrito, público ou particular (CCivil, arts. 981, 997 e 1.054), assinado pelos sócios ou seus
16
procuradores com poderes especiais (CCivil, art. 998, parágrafo 1º.) e subscrito por, no mínimo, duas testemunhas (Dec. n. 1.800/96, art.34, I).16
Os requisitos para validade do contrato social são a capacidade do sócio,
objeto lícito e forma legal.
O nobre autor continua
A sociedade limitada deve ter por objeto (CCivil, arts. 1.054 c/c 997, II) atividade econômica (CCivil, arts.981 c/c983) lícita, possível e determinada e não contrária à moral, aos bons costumes ou a ordem pública, sob pena de nulidade insanável do contrato social e da sociedade, aplicando-se aos atos praticados durante sua irregular existência as normas pertinentes à sociedade em comum (CCivil, arts.986 a 990).17
Para ele a sociedade limitada deve, também
Ser constituída por escrito, mediante escritura pública ou instrumento particular, inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins,se sociedade empresária...e, se sociedade simples, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas...18
2.5 Pressupostos de Existência da Sociedade Limitada19
Os pressupostos de existência da Sociedade Limitada são:
a) Affectio societatis – Segundo Fabio Ulhoa “a affectio societatis é a
disposição dos sócios em formar e manter a sociedade uns com os
outros”.20
b) Pluralidade de sócios – a sociedade limitada deve ser constituída por
dois ou mais sócios, admitindo-se, temporariamente, apenas um.
c) Subscrição da totalidade das quotas – para constituir-se, é
indispensável que todos sócios subscrevam a totalidade das quotas,
em que se divide o capital social da sociedade limitada.
16 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.70 17 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.82 18 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.82 19 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.83/84 20 COELHO, Fabio Ulhoa apud LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 83.
17
d) Contribuição para formação do capital social – os sócios são obrigados
a contribuir para formação do capital social com bens, fungíveis e
infungíveis, corpóreos e incorpóreos, suscetíveis de avaliação
pecuniária e execução forçada, que se prestem a consecução do
objeto social, vedada a contribuição que consista em prestação de
serviços (artigos 997, III, c/c 1.055, parágrafos 1º. e 2º., do Código
Civil).
e) Participação nos lucros e nas perdas – os sócios participam, na
proporção de suas quotas, salvo disposição em contrário no contrato
social ou em acordo de sócios, dos lucros e das perdas da sociedade
(artigo 1.007), sendo nula a cláusula leonina e aquela que exclua
qualquer sócio de participar das perdas (artigo 1.008).
2.6 Dissolução
Em linhas gerais a dissolução da sociedade pode ser total ou parcial,
diante das hipóteses dos artigos 1.033, 1.034, 1.044 e 1.087. Ocorrerá a dissolução
por:
a) vontade dos sócios (art.1.033, inciso II e III);
b) decurso do prazo determinado (art.1.033, inciso I);
c) falência (art.1.044, segunda parte);
d) inexiquilibilidade do objeto social (art.1.034, inciso II);
e) anulada sua constituição (art. 1.034, inciso I)
f) unipessoalidade por mais de 180 dias (art.1.033, inciso IV);
g) morte dos sócios, no caso de sociedade de pessoas (art. 1.028);
h) causas determinadas pelo contrato (art.1.035); e
i) retirada dos sócios (art.1.085).
18
33.. HHIIPPÓÓTTEESSEESS DDEE RREESSPPOONNSSAABBIILLIIZZAAÇÇÃÃOO DDEE SSÓÓCCIIOOSS
O Código Civil de 2.002 estabelece que em regra o sócio responde pelo
total de suas quotas, mas no caso de o capital não estar integralizado, responderá
solidariamente pelo total do capital social.
Para evitar atos lesivos à sociedade, com os demais sócios ou perante
terceiros, a lei prevê situações em que os sócios responderão ilimitadamente pelas
obrigações. São elas:
A um, o artigo 1.010, § 3º do Código Civil prevê situações em que o sócio
que participar de deliberações em que tenha interesse conflitante ao da sociedade e
seja aprovada graças a seu voto, responderá ilimitadamente.
A dois, no caso de deliberações infringentes ao contrato social ou a lei, os
sócios que a aprovarem, serão responsabilizados ilimitadamente. Os demais sócios,
contrários a essa deliberação, terão que formalizar o seu dissentimento para não
serem responsabilizados posteriormente, conforme dispõe o artigo 1.080 do Código
Civil: “As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a
responsabilidade dos que expressamente as aprovaram”.
A três, a lei 8.620/93 em seu artigo 13 prevê a responsabilidade dos
sócios perante dívidas com a seguridade social: “O titular da firma individual e os
sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem
solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social”.
O Código Civil de 2.002 não alterou a regência da Lei 8.620/93. Assim, o
artigo supracitado afasta a regra geral da limitação de responsabilidade dos sócios
sobre as dívidas perante a seguridade social.
Desse modo, o sócio será ilimitadamente responsável, podendo seus
bens pessoais responderem sem a observância do disposto no artigo 1.052 do
Código Civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao
valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do
capital social”.
19
A quatro, nos casos de infrações contra a ordem econômica, de acordo
com a Lei nº 8.884/94, artigo 18:
Art. 18 - A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
A cinco, ocasionado atos lesivos aos consumidores e por qualquer razão
a sociedade não cumpri-la, nos termos do artigo 28, do Código de Defesa do
Consumidor:
Art. 28 - O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
Neste caso, mesmo o ato lesivo não sendo ocasionado diretamente pelos
seus sócios, estes responderão ilimitadamente, em razão de ser aplicado no Código
de Defesa do Consumidor a teoria da responsabilidade objetiva.
A seis, nos casos de acidente de trabalho, caso ocorra por culpa do sócio,
este responderá ilimitadamente.
Para a responsabilização é necessário que seja comprovada a culpa pelo
acidente, em processo de conhecimento no qual o sócio deverá ser parte para
apresentar sua defesa.
A sete, a justiça do Trabalho visa à proteção do trabalhador e considera o
salário como caráter alimentar e urgente.
Assim, o entendimento é de que o trabalhador não está sujeito aos riscos
pertinentes à atividade empresarial.
Diversos são os fundamentos que apontam para responsabilidade
subsidiária e ilimitada aos sócios perante a dívida trabalhista.
Todos esses fundamentos buscam, inexoravelmente, um pretexto para
desconsiderar a personalidade jurídica e penhorar os bens pessoais dos sócios,
ocorrendo, em determinados casos, absurdamente a penhora de bens do sócio
mesmo sem a verificação dos bens da empresa.
20
Na Consolidação das Leis Trabalhistas não há dispositivo expresso que
determine a responsabilidade ilimitada dos sócios por dividas trabalhistas,
entretanto, cada vez mais temos decisões em sentindo da responsabilidade
ilimitada, pesando o fato de o trabalhador ser considerado hipossuficiente na relação
de trabalho, não estando sujeito aos riscos da atividade empresarial.
A oito, os administradores da empresa responderão solidariamente e
ilimitadamente perante a sociedade e para com terceiros em caso de culpa no
desempenho de suas funções, conforme artigo 1.016 do Código Civil: “Os
administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros
prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções”.
21
44.. QQUUOOTTAASS
44..11 DDeeffiinniiççããoo
No entendimento de Amador Paes de Almeida capital social
é o fundo originário constituído para a base das operações, não se confundindo com o patrimônio da sociedade, que é a soma de bens, o acervo, que compreende inclusive o próprio capital social.21
Para Modesto Carvalhosa a doutrina atual aplica duas perspectivas para
a classificação da quota social, uma patrimonial e outra pessoal: “na primeira
perspectiva é entendida como crédito relativo à percepção de lucros da sociedade e
na eventual partilha da massa falida. Na segunda é entendida como uma série de
direitos inerentes à qualidade de sócio (status socci)”.22
O capital social poderá ser formado por qualquer espécie de bens
suscetíveis de avaliação pecuniária. Esses bens deverão ter relação com o objeto
social, não podendo contribuir, o sócio, em prestação de serviços.
Assim, os bens conferidos pelos sócios deverão ser suscetíveis de
execuções e penhoras, respondendo o sócio pela evicção.
Capital social não pode ser confundido com patrimônio social. “Este último
é o conjunto de bens e direitos de titularidade da sociedade (ou seja, tudo o que é de
sua propriedade).23
Para Amador Paes de Almeida quota significa parte ou porção fixa e determinada de alguma coisa. No âmbito da atividade econômica, representa a parcela de um sócio na sociedade de qual faz parte. É, portanto, o contingente com o qual o sócio contribui para a formação do capital social.24
Jorge Lobo define quota é uma fração numerica do capital social, através do qual se define: a) a participação de cada sócio no capital social; b) a obrigação individual e a
21 ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 128. 22 CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil, vol 13. 2ª.Edição, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 68. 23 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. vol. I. 9ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2005, p.65. 24 ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 128.
22
responsabilidade solidária dos sócios na formação e integralização do capital social; c) a distribuição dos lucros e perdas da sociedade entre sócios; d) os direitos, poderes, obrigações, deveres e responsabilidade dos sócios.25
Desta feita, pode-se dizer que a quota é uma parcela do capital social
integralizado, que permite a consecução do objeto social, gerando direitos e deveres
ao quotista.
Dessa forma, integralizadas, as quotas sociais correspondem ao capital
social da empresa, na forma prescrita no artigo 1.055 do Código Civil:
Art.1055 - O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.
§ 1o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.
44..22 QQuuoottaass oorrddiinnáárriiaass ee qquuoottaass pprreeffeerreenncciiaaiiss
O Código Civil de 2.002 não dispõe sobre o uso de cotas preferenciais na
Sociedade Limitada.
O Código Civil prevê a possibilidade de regência supletiva das normas
das sociedades anônimas na sociedade limitada. Desse modo, colocando a termo
no contrato social, poderá ser adotado o regime de quotas ordinárias e preferenciais.
Conforme o entendimento de Jorge Lobo quotas ordinárias ou comuns
“são aquelas que garantem a seu titular os direitos sociais, patrimoniais e
instrumentais próprios e inerentes à qualidade de sócio”.26
Já as quotas preferenciais “são aquelas que conferem a seu titular
privilégios ou prioridades, seja de caráter político, seja patrimonial, ou ambos, além
dos direitos essenciais ou intangíveis”27.
25 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.139 26 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 143. 27 LOBO, Jorge Joaquim. Sociedades Limitadas, vol. I. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 143
23
44..33 CCoonnddoommíínniioo ddaass qquuoottaass
Amador Paes de Almeida observa que condomínio “é a propriedade em
comum por duas ou mais pessoas simultaneamente. No âmbito do direito societário,
ocorre quando vários são titulares de uma mesma quota ou ação”.28
No condomínio da quota social, todos os condôminos são proprietários,
titulares da cota, contudo, somente o representante do condomínio ou inventariante
terá legitimidade para exercer os direitos inerentes à quota perante a sociedade,
conforme parágrafo primeiro do artigo 1.056 da Lei Material Civil:
Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no artigo seguinte.
§ 1o No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido.
Utilizando-se a mesma regra de que o sócio responde solidariamente, o
condômino é obrigado pela integralização da quota em comum e solidariamente
responsável pela totalidade do capital social.
44..44 TTrraannssmmiissssããoo ddee qquuoottaass
44..44..11 IInntteerr VViivvooss
Preceitua o artigo 1.057 do Código Civil : Art.1057 - Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de ¼ (um quarto) do capital social.
Verifica-se que legislação vigente permite, no ato da constituição da
sociedade, que seus sócios estabeleçam a proibição de cessão de quotas. Se nada
dispuser, a cessão será permitida desde que seja respeitado o direito de preferência
de cada sócio sobre as mesmas.
28 ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 133.
24
Mas para que essa cláusula contratual surta efeitos é necessário que o
contrato esteja registrado na Junta Comercial do Estado, caso não esteja, valerá a
regra contida no referido artigo.
Portanto, sendo omisso o contrato social ou não estando registrado na
Junta Comercial, o sócio que não tem mais vontade de participar da sociedade
poderá alienar suas cotas aos demais sócios, para terceiros (desde que seja aceito
pelos titulares de mais de três quartos do capital social) ou para a própria sociedade.
Importante dizer que existe a possibilidade de convenção em contrário, no
sentido de não ser exigida a anuência dos demais sócios quanto a alienação de
cotas.
Com a antiga lei das sociedades limitadas, Decreto n. 3.708/19, havia a
possibilidade de aquisição pela própria sociedade das quotas do sócio cedente, caso
houvesse reserva de capital.
O Código Civil vigente não regulou a matéria, assim, caso a sociedade
tenha reserva de capital, ela poderá comprar as quotas do sócio, sem a redução do
seu capital social.
O artigo 1.052 do Código Civil, para alguns doutrinadores, é de suma
importância para verificar a possibilidade de penhora sobre as quotas do sócio, por
dívida pessoal deste, conforme veremos mais adiante.
44..44..22 CCaauussaa MMoorrttiiss
Na mesma esteira da cessão inter vivos, a sucessão causa mortis
dependerá do disposto no contrato social para verificar a sua continuidade e o modo
que será realizada.
No caso de o contrato social for omisso, os herdeiros do de cujus terão
direito aos haveres, porém não farão parte da sociedade.
Porém, nada impede disposição em contrário no sentido de permitir a
entrada dos herdeiros, em caso de morte de um dos sócios.
25
Em caso de extinção da sociedade por morte de um dos sócios, seus
herdeiros não terão direito aos haveres, mas sim de participação da divisão do
patrimônio líquido da sociedade.
26
5. PENHORA
5.1 Conceito
Para Arnaldo Marmitt penhora é medida já executiva, correspondente a um ato preparatório da alienação. Consiste na apreensão de coisas móveis ou imóveis, corpóreas ou incorpóreas, do acervo patrimonial do executado, inclusive bens ou créditos futuros, para sua oportuna conversão em pecúnia e pagamento dos credores. Através da penhora são destacados bens bastantes do executado, para efetiva garantia da execução.29
Liebman define “a penhora é o ato pelo qual o órgão judiciário submete a
seu poder imediato determinados bens do executado, ficando sobre eles a
destinação de servirem à satisfação do direito do exequente. Tem, pois, natureza de
ato executório”.30
Vicente Greco Filho ensina “a penhora é ato de apreensão de bens com
finalidade executiva e que dá início ao conjunto de medidas tendentes à
expropriação de bens do devedor para pagamento do credor”.31
Fabio de Vasconcellos Menna afirma que “a penhora tem por finalidade a
individualização dos bens que serão objetos da penhora e a conservação desses
bens até que possam ser vendidos posteriormente”.32
Assim, pode-se concluir que a penhora é ato executório, precedente da
alienação.
A execução, segundo Vicente Greco Filho, é “o conjunto de atos
jurisdicionais materiais concretos de invasão do patrimônio do devedor para
satisfazer a obrigação consagrada num título”.33
29 MARMITT, Arnaldo. A penhora. 2ª. Edição, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p.7 30 LIEBMAN, Enrico Túlio apud MARMITT, Arnaldo. A penhora. 2ª. Edição, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 8 31 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 3º. Volume. 16ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2003, p.75 32 MENNA, Fabio de Vasconcellos. Elementos do Direito Processual Civil. 5ª. Edição, São Paulo: Premier Máxima, 2006, p.120. 33 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 3º. Volume. 16ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2003, p.8
27
Portanto, em última análise, a penhora objetiva tirar bens do devedor,
para posterior alienação, com a finalidade de satisfazer o crédito exequendo.
5.2 Efeitos
Para Vicente Greco Filho “o principal efeito da penhora é a vinculação
definitiva do bem à execução. A alienação eventual posterior é irrelevante para o
processo de execução, prosseguindo-se na expropriação do bem ainda que em
poder de terceiro”.34
A penhora confere ao credor o direito de preferência processual, que não
deve ser confudido com o privilégio civil do crédito. Tal preferência somente cessará
caso seja instaurado o concurso universal de bens e credores contra o devedor
comum, sendo-lhe decretada a insolvência.
No entendimento do mesmo autor, a penhora, também, tem como efeito a
apreensão física e de desapossamento do bem em face do devedor.
Outros doutrinadores dividem os efeitos da penhora no plano material e
no plano processual.
No plano material ocorrem três efeitos: ineficácia relativa aos atos de
disposição, reorganização da posse e perda do direito de fruição.
A penhora não faz com que o executado perca o domínio do bem e, as
vezes, não o faz perder a posse imediata do mesmo, entretanto, torna ineficaz
eventual disposição posterior.
A posse do devedor também sofre alterações, vez que, em regra, a
mesma ficará com o depositário. Ainda que o depositário seja o próprio devedor, o
exercício da posse estará limitado.
Em regra os frutos do bem penhorado também sofrerá os efeitos da
penhora, vez que o acessório segue o principal.
34 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 3º. Volume. 16ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2003, p.74
28
No plano processual a penhora traz os seguintes efeitos: individualização
de bens no patrimônio do executado, direito de preferência e expropriação.
Diante da penhora o bem fica vinculado à satisfação do crédito, ficando
preso ao processo de execução, eis o efeito da individualização de bens no
patrimônio do executado.
A penhora, também, confere ao credor o direito de preferência, em
relação as demais penhoras.
A lei dá ao credor o direito de tranformação do bem penhorado em
pecúnia, através dos meios de alienação, judicial ou particular.
5.3 Procedimento da penhora
A penhora pode ser realizada, em geral, por termo ou mandado.
A penhora por termo é utilizada quando da indicação de bens pelo
devedor. Ocorrida esta hipótese e aceita pelo credor, o escrivão lavra o respectivo
termo que deverá ser levada a registro, se for o caso de bem imóvel.
Temos, também, a penhora por oficial de justiça, esta utilizada quando o
credor não paga e não indica bens a penhora.
Para esta é necessária a expedição de mandado de penhora. O oficial de
posse desse mandado diligenciará ao local indicado pelo credor e penhorará
quantos bens bastarem para satisfação do crédito e, se possível, promoverá a
avaliação de tais bens.
Em caso de penhora de direito deve-se observar a seguinte
determinação:
Art. 673. Feita a penhora em direito e ação do devedor, e não tendo este oferecido embargos, ou sendo estes rejeitados, o credor fica sub-rogado nos direitos do devedor até a concorrência do seu crédito.
§ 1o O credor pode preferir, em vez da sub-rogação, a alienação judicial do direito penhorado, caso em que declarará a sua vontade no prazo de 10 (dez) dias contados da realização da penhora.
29
§ 2o A sub-rogação não impede ao sub-rogado, se não receber o crédito do devedor, de prosseguir na execução, nos mesmos autos, penhorando outros bens do devedor.
Assim, em caso de penhora de direito pode o credor sub-rogar-se nos
direitos do devedor até o recebimento do crédito, ou promover a alienação judicial.
5.4 Alienação
Efetuada a penhora e respectiva avaliação poderá o credor alienar o bem
penhorado, pela via judicial ou por iniciativa particular.
Em caso de alienação por iniciativa particular deverá o credor obsevar as
regras contidas no artigo 685-C do Código de Processo Civil.
Tal alienação poderá ser feita pelo próprio credor ou por meio de corretor,
conforme artigo 685-C, caput : “não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o
exeqüente poderá requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por
intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária”.
Para tanto o juiz fixará prazo, forma de publicidade, preço mínimo,
garantias e condições de pagamento, bem como, o valor do comissionamento da
corretagem, se for o caso (parágrafo 1º.).
Já alienação em hasta pública deverá observar as disposições dos artigos
686 e seguintes, do Código de Processo Civil.
Para tanto deverá ocorrer a publicação de editais informativos da hora e
data de realização das hastas. Tal publicação será dispensada caso o valor do bem
não exceda a sessenta salários mínimos, caso em que não será aceita arrematação
por valor inferior ao da avaliação (parágrafo 3º do artigo 686).
Na primeira hasta não será aceito lanço de valor inferior ao da avaliação.
Já na segunda poderá ser aceito lanço menor, entretanto, não será aceito lanço que
ofereça preço vil.
Considera-se preço vil o valor inferior a 60% da avaliação do bem.
30
6. PENHORA DE QUOTAS
A possibilidade de penhora de quotas sociais não é um tema recente, pois
o Código de Processo Civil de 1939, continha disposições no sentido de
penhorabilidade das quotas sociais.
No referido código, o legislador deixava a noção de não ser possível a
penhora das quotas pelo credor exeqüente.
O artigo 292 do Código Comercial estabelecia a necessidade de executar
os fundos líquidos que o devedor tiver na sociedade, na hipótese de não existirem
outros bens a serem penhorados ou se os mesmos fossem insuficientes.
Contudo, com o advento do Código de Processo Civil de 1973, a penhora
de quotas sociais ganhou uma importante relevância, tendo em vista que o referido
Código não abordou o tema. O artigo do antigo Código Comercial não foi
reproduzido, ocasionando dúvidas sobre a penhora de quotas.
Sobre o tema surgiram algumas correntes que tratam sobre esse assunto,
que serão devidamente abordadas.
Hoje a legislação processual, diante de inovações do procedimento
executivo, traz tal possibilidade. É o que reza o artigo 655, inciso VI:
Artigo 655 – A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
VI-ações e quotas de sociedades empresárias.
66..11 IImmppeennhhoorraabbiilliiddaaddee ddaass qquuoottaass
66..11..11 NNaa DDoouuttrriinnaa
A doutrina mais antiga baseava-se no artigo 20 do Código Civil de 1916,
que dispõe que as pessoas jurídicas têm existência distinta da de seus membros,
além de serem sociedades limitadas, que sendo penhoradas e vendidas as quotas
sociais, perde-se o caráter intuitu personae, que caracteriza a sociedade.
31
Rubens Requião ensina: Entre o sócio e a sociedade ergue-se a personalidade jurídica desta, com a sua consequente autonomia patrimonial. Por isso, pertecencendo o patrimônio à sociedade, não pode o credor particular do sócio penhorá-lo para garantia do seu crédito.
Admitindo-se, para argumentar, que o credor particular do sócio possa obter a penhora dos fundos sociais em processo de execução de dívida particular do sócio, como fundamento de que lhe pertencem, desconsiderando-se os problemas jurídicos já expostos anteriormente (n.226, supra), e ao mesmo tempo que o contrato vede a transferência dos mesmos a estranhos, em que situação ficaria o arrematante que os adquire? ... a doutrina que admite a penhora, pura e simples, de cotas do sócio, em execução por dívidas particulares, é, pois, retrógada, além de ilegal.35
Para ele as quotas integram o patrimônio da sociedade, que por sua vez
tem personalidade distinta de seus sócios e, portanto, impossível a penhora.
Na opnião de Carvalho de Mendonça: O patrimônio social constitui universalidade de direito, encabeçada na sociedade à qual pertence.
Do fato de a sociedade ter patrimônio autônomo, seguem-se os corolários seguintes, especialmente aplicáveis às sociedades em que há sócios de responsabilidade limitada:
1º) o patrimônio da sociedade serve de garantia exclusiva aos seus credores.
Os credores particulares dos sócios nenhum direito têm sobre esse patrimônio, ainda no caso de falência; não podem perturbar a marcha da sociedade.
Daí, ainda se deduz:
O credor do sócio não pode penhorar bens sociais por dívidas particulares de seu devedor.36
Seguindo a linha de que as quotas integram o patrimônio da sociedade
Carvalho de Mendonça entende que tal patrimônio só pode ser atingido por credores
da sociedade e não pelos credores particulares de seus sócios.
Para Fran Martins: igualmente não poderá a quota ser objeto de venda judicial, por depender a cessão da vontade do seu proprietário, que contratou com os demais. Nesse caso, poderá a quota ser anulada e, se os demais sócios quiserem, um outro poderá ser admitido no lugar do que foi excluído. Também não se justifica a venda judicial por não ser a quota título negociável, uma vez que dá responsabilidade subsidiária ao seu possuidor. Fazendo-se a venda judicial, qualquer pessoa poderia adquirir a quota; mas o estado de sócio de sociedade contratual não se adquire a não ser que todos os participantes do
35 REQUIÃO, Rubens apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.107 36 MENDONÇA, J. X. Carvalho de apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.107.
32
contrato dêem o seu consentimento, já que o contrato é um acordo de vontades que a lei não pode impor a ninguém.37
Waldemar Ferreira escreve: São as cotas, além de incaucionáveis, impenhoráveis...Desde que o sócio entra para a sociedade e seu capital, com o dinheiro, bens, ou direitos, com que se obrigará a integralizar nas cotas tomadas ou subscritas, a sua entrada se integra no patrimônio social. Deixa de pertencer-lhe. Desintegra-se do seu patrimônio individual, salvo se conferida a título de uso, e transfunde-se no da sociedade, como pessoa jurídica de direito privado, emergente do arquivamento de seu contrato na Junta Comercial ou no Departamento Nacional de Indústria e Comércio. Impossível, jurídica e economicamente, portanto, é a penhora da cota social, por dívida particular de sócio. Não tem ela existência autônoma. Não constitui coisa distinta do patrimônio social. Não se representa por nenhum título que, à semelhança da ação, possa ser objeto de penhora. Tem, por tudo isso, inteira cabida a regra, consignada no art. 292 do Código de Comércio, de o credor particular do sócio só poder executar os fundos líquidos que lhe possua na sociedade, não tendo os outros bens desembargados ou se, depois de executados, os que tenha se mostrem insuficientes para o pagamento.38
Em pensamento idêntico disserta Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto: Os bens pertencem à sociedade, considerada como pessoa jurídica e não a seus membros; e, desta maneira, garantem exclusivamente aos credores sociais. O credor pessoal dos sócios não pode concorrer com os credores sociais, em relação aos bens que não pertencem a seus credores. Há uma distinção perfeita entre o patrimônio da sociedade e o dos seus sócios.39
Márcia Cristina de Oliveira Ferreira Marinho disserta sobre a
impenhorabilidade da seguinte forma:
A primeira é no sentido da absoluta impossibilidade jurídica de se penhorar a quota social, simplesmente tendo em vista a separação patrimonial esculpida no artigo 20 do Código Civil, o qual dispõe que as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros.40
Para essa corrente as quotas sociais são impenhoráveis por conta do
intuitu personae e affectio societatis, elementos inerentes as Socidades Limitadas.
Além disso, afirmam que as quotas sociais são de patrimônio da
sociedade que possui personalidade jurídica própria, distinta da pessoa de seus
sócios.
Para eles a quota não é bem do devedor e sim da sociedade e,
consequentemente, só poderá ser atingida por credores da sociedade. 37 MARTINS, Fran Martins. Sociedade por quotas no direito estrangeiro e brasileiro, vol II. 1ª. Edição, Rio de Janeiro: Forense, 1960, p. 679. 38 FERREIRA, Waldemar apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.108 39 PEIXOTO, Carlos Fulgêncio da Cunha apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.108 40 MARINHO, Márcia Cristina de Oliveira Ferreira. Penhora de quotas na Sociedade por quotas de Responsabilidade Limitada. 2ª. Edição, Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 200, p.39.
33
Nessa sentido, não poderia o credor particular do sócio ter preferência em
relação aos credores da sociedade.
6.1.2 Na Jurisprudência
EMENTA - Sociedade por cotas de responsabilidade limitada – penhorabilidade das cotas do capital social. O artigo 591 do CPC, dispondo que o devedor responde, pelo cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens, ressalva as restrições estabelecidas em lei. Entre elas se compreende a resultante do disposto no artigo 64, I, do mesmo Código, que afirma impenhoráveis os bens inalienáveis. A proibição de alienar as cotas pode derivar do contrato, seja em virtude de proibição expressa, seja quando se possa concluir, de seu contexto, que a sociedade foi constituída “intuitu personae”. Hipótese em que o contrato veda a cessão a estranhos, salvo consentimento expresso de todos os demais sócios. Impenhorabilidade reconhecida” (R.Esp. nº 34.882-5-RS, j. 30.06.93 – RSTJ 50/376).
Este julgado ratifica a posição de inalienabilidade de quotas, em razâo do
intuitu pernsonae.
Observa que tal elemento deve estar no contrato social, seja por cláusula
expressa ou pela conclusão do contexto do contrato.
EMENTA: COMERCIAL.Sociedade de responsabilidade limitada. A quota social não pode ser penhorada por dívida do sócio. Na ausência de disposição específica no decreto 3.708, de 1919, aplicável às sociedades limitadas o artigo 292 do Código Comercial. (R. Extraordiário. n.95.381-7-PR, j.14.12.84, Segunda Turma, Min. Rel. Décio Miranda).
66..22 PPeennhhoorraabbiilliiddaaddee ddaass qquuoottaass
6.2.1 Na Doutrina
Uma parte dos doutrinadores defende a possibilidade da penhora,
apoiando-se no artigo 655, inciso VI, anteriormente prevista no inciso X, e no artigo
591, ambos do Código de Processo Civil. Estes entendem que a quota social é um
direito integrante do patrimônio do devedor, dessa forma suscetível de penhora.
Nesse entendimento Lucena ensina que
34
em compêndio, a nosso juízo a quota social sujeitar-se-á sempre à penhora, já que incluída, como direito de expressão econômica, no patrimônio do sócio devedor (Código de Processo Civil (arts. 649 e 650), seja por lei específica, mesmo porque a impenhorabilidade, como exceção ao princípio de que todo patrimônio do devedor responde por suas dívidas, há de ser expressa e de interpretação restrita.41
Diferentemente dos entendimentos anteriores, este entende que as
quotas são partes integrantes do patrimônio do sócio-devedor, e não da socidade,
sendo possível, portanto, a sua penhora.
Afirma não haver disposição expressa de lei que impessa a constrição.
Fabio Ulhoa compartilha do entendimento de que as quotas são
penhoráveis, entretanto, tenta resguardar o direito da sociedade de não admitir que
terceito integre-a, interferindo em suas decisões.
Para ele o credor do sócio deverá ser admitido na sociedade mas
excluído da administração :
A rigor, a solução mais adequada para a devida compatibilização entre os interesses do credor e dos sócios não devedores, quando recai a constrição judicial sobre quotas sociais, seria a de admitir o arrematante na sociedade, mas na condição de prestador de capital, excluído da administração da empresa. Entre outros termos, a lei deveria estabelecer que, uma vez alienada em juízo, a quota social assumiria a natureza preferencial, e o seu titular somente participaria da gestão da sociedade se esta não distribuísse lucros razoáveis por três anos consecutivos.42
Humberto Theodoro Jr. ensina: O Código anterior incluía entre os bens relativamente impenhoráveis os fundos líquidos do executado em sociedade comercial (art.943,II). O novo Estatuto aboliu a restrição, de modo que agora são livremente penhoráveis o saldo de lucros à disposição dos sócios e a parte ou cota que couber a cada sócio na liquidação da sociedade. A penhora dos fundos líquidos deve, segundo o melhor e mais moderno entendimento, abranger não só os créditos como sua própria cota social.43
Wilard de Castro Villar defende que “a cota é uma extensão do sócio na
sociedade, é o seu capital que ali se integra, podendo ser perfeitamente
penhorado”.44
Na opnião de Egberto Lacerda Teixeira: 41 LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade Limitada. 4ª. Edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 291/292. 42 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 2. 4ª.Edição, São Paulo: Saraiva, 2001, p. 372. 43 THEODORO JR, Humberto apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.109 44 VILLAR, Wilard de Castro apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.108
35
Parece-nos que a penhora das cotas, em face do nosso direito positivo, devia corresponder tanto quanto possível à penhora no rosto dos autos. Equivaleria a uma restrição à eventual disponibilidade, pelo devedor executado, de sua quota-parte bem como dos fundos ou lucros líquidos que lhe viessem a caber na divisão dos lucros de balanço ou na partilha final de liquidação.45
Carlos Henrique Abrão, com base no artigo 655 do Código de Processo
Civil, afirma:
se não existe uma disposição expressa que proíba a penhora, o mais correto parece se utilizar-se das regras gerais que regulam o instituto. Com efeito, o artigo 655 do Código de Processo Civil de 1973 estabelece uma ordem dispositiva concernente à gradução dos bens, sendo lógico moldar a figura dessa norma ao incisso X em que dispõe sobre a penhora de direitos e ações. A quota não deixa de representar um direito, um bem incorpóreo, dotado de conteúdo econômico, relativo à relação existente entre o sócio e a sociedade. Ela, por sua evidente natureza, representa os direitos do quotista sobre o patrimônio líquido da sociedade, isto é, sobre aquela diferença de cálculo existente entre o ativo e o passivo da empresa, incluindo-se o capital.46
Ao contrário da corrente a anterior, esta entende que as quotas sociais
integram o patrimônio de seus sócios e, portanto, são passíveis de penhora.
Levam em consideração a necessidade de satisfação dos interesses do
credor e apoiam-se nos artigos 655, inciso V, e 591 do Código de Processo Civil.
Some-se a isso a nova dinâmica do processo de execução que agora
pauta-se no interesse do credor, respondendo o devedor com todos os seus bens e
tendo poucos mecanismos de defesa.
Observa não haver disposição expressa de lei que proiba a penhora de
quotas.
Essa corrente vem se destacando, especialmente pelas inovações
ocorridas no processo de execução.
Como se verá a seguir, o entendimento pela penhorabilidade de quotas
sociais vem tomando conta na jurisprudência atual.
45 TEIXEIRA, Egberto Lacerda apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.109 46 ABRAHÃO, Carlos Henrique apud ALMEIDA, Amador Paes de, Execução de Bens dos Sócios, 8ª. Edição, São Paulo: Saraiva, 2007, p.109.
36
6.2.2 Na Jurisprudência
RECURSO ESPECIAL. Divergência. Precedente do STJ. Diário da Justiça. Site na internet. Indicado como paradigma acórdão do próprio STJ, com referência ao Diário da Justiça da União, órgão de publicação oficial, e com a reprodução do inteiro teor divulgado na página que o STJ mantém na Internet, tem-se por formalmente satisfeita a exigência de indicação da fonte do acórdão que serve para caracterizar o dissídio. EXECUÇÃO. Penhora. Quotas sociais. Sociedade de responsabilidade limitada. Execução contra sócio. É possível a penhora de quota social por dívida individual do sócio. A cláusula que garante a preferência aos outros sócios na alienação não impede a penhora. Recurso não conhecido. (Recurso Especial Nº 327.687 – SP (2001/0057873-6), Ministro Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, Superior Tribunal de Justiça).
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA. COTAS SOCIAIS. POSSIBILIDADE. Na esteira do entendimento desta Corte, inexiste vedação legal para que a penhora recaia sobre cotas de sociedade de responsabilidade limitada, por dívida particular do sócio. Sequer eventual restrição ao ingresso de terceiro ao quadro social tem o condão de obstaculizar a penhora, tendo em vista que a constrição judicial não outorgará, necessariamente, ao credor ou ao arrematante, a condição de sócio. Possibilidade, ademais, de a sociedade remir a execução, conferindo aos demais sócios o direito de preferência. AGRAVO DE INSTRUMENTO AO QUAL SE DÁ PROVIMENTO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70017243007, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 30/11/2006)
Este entedimento, apesar de admitir a penhora, destaca que tal constrição
não confere ao credor o estatus de sócio, podendo a sociedade remir a execução,
conferindo aos demais sócios o direito de preferência.
EMENTA: APELAÇÃO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENHORA DE COTAS SOCIAIS POR DÍVIDA PARTICULAR DO SÓCIO. POSSIBILIDADE. Cotas sociais que integram o patrimônio pessoal do sócio (avalista em outro negócio) e não da sociedade. Inexistência de lei que vede a constrição de cotas sociais, desimportando constar dos estatutos sociais a necessidade de autorização dos demais sócios para a alienação. Regra que vigora para a transferência voluntária. Precedentes jurisprudenciais. Apelo improvido. (Apelação Cível Nº 70014606826, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Orlando Heemann Júnior, Julgado em 22/06/2006)”
Esta jurisprudência afirma que pouco importa a forma de constituição da
sociedade, sendo a quota parte integrante de bens do devedor e,
consequentemente, sua penhora é possível diante de qualquer hipótese.
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA DE COTAS DE EMPRESA DE RESPONSABILIDADE LTDA. POSSIBILIDADE. Não tendo o devedor indicado bens satisfatórios e suficiente à penhora nada impede que esta
37
recaia sobre as cotas que o devedor possuir em sociedade de responsabilidade ltda. As quotas que compõem o capital da sociedade de responsabilidade limitada não vêm ressalvadas da expropriação judicial, quer em lei específica, quer no art. 649 do Código de Processo Civil. Assim sendo bem de valor econômico, individuado e transmissível, representando um direito do quotista frente à sociedade a quota se Inclui nos bens suscetíveis de penhora. RECURSO DESPROVIDO. (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2003.002.19179 MARCO AURELIO FROES - Julgamento: 06/04/2004 - OITAVA CAMARA CÍVEL/TJRJ).
Aqui observa-se o entendimento de que não há vedação em lei, o que
autoriza a constrição.
66..33 PPeennhhoorraa ddooss ffuunnddooss llííqquuiiddooss
6.3.1 Na Doutrina
Em atenção ao caráter intuitu personae e affectio societatis, alguns
doutrinadores formaram entendimento pela penhora de fundos líquidos.
Com este pensamento Modesto Carvalhosa ensina: As quotas sociais podem ser objeto de penhora, sendo que a execução alcança somente o direito patrimonial do sócio devedor, nunca seu direito pessoal (status socii). O credor, exeqüente da penhora, torna-se titular apenas do direito de crédito relativo aos lucros líquidos e aos haveres apurados com relação às quotas sob penhora. O credor não adquire, entretanto, o status de sócio. Esse status extingue-se com a execução da penhora (liquidação de quota) e não é transferido ao credor. Por meio desse mecanismo, protege-se, de um lado, o direito creditório do credor, e, de outro, a affectio societatis da limitada, cujas quotas se encontram sob penhora.47
Entende-se por fundos líquidos os resultados da sociedade, que podem
ser distribuídos aos sócios, como lucros, ou reinvestidos na sociedade, segundo o
que deliberar a maioria societária ao término do exercício social.
Aqui tenta-se conciliar os interesses da sociedade e do credor. De um
lado não permite que terceiro integre a sociedade, e de outro resguarda a satifação
do crédito exequendo.
47 CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil, vol 13. 2ª.Edição, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 90.
38
Para Amador Paes de Almeida “o credor particular de um sócio, na
insuficiência de outros bens deste, pode fazer recair a execução nos lucros que ao
devedor couber, ou na parte que lhe tocar em liquidação”.48
Assim, torna indispensável para a expropriação dos lucros não haverem
quaisquer outros bens do sócio-devedor suscetíveis de penhora.
No entendimento de Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto O capital que os quotistas entram para a formação da sociedade não tem, data vênia, individualidade própria, constitui patrimônio da sociedade, de modo que a penhora recairia sobre parte ideal do patrimônio da sociedade, o que seria injurídico, já que esta é terceira em relação ao sócio. Daí haver o Código Comercial, em seu art. 292, estipulado, expressamente, que ao credor só é permitido penhorar os fundos líquidos que o devedor possuir na sociedade.49
Hernani Estrella entende que teria que ser realizada a apuração de
haveres, como se o sócio estivesse se desligando da sociedade:
(...) apuração judicial de haveres é o procedimento tendente a revelar, num momento dado, a situação patrimonial do sócio, em face da sociedade a que pertença, por motivo de seu desligamento, ou pela ocorrência de fato que lhe afete os bens.50
Dessa forma, a penhora da quota seria somente um direito de crédito por
parte do credor, sendo somente possível receber da sociedade o que receberia o
sócio caso se desligue da sociedade naquele determinado momento.
Depois que apurado o crédito a ser recebido pelo credor do sócio, deverá
ser pago esse valor em dinheiro dentro do prazo de 90 (noventa) dias, salvo acordo
diverso realizado entre as partes.
Essa entende que o intuitu personae e o affectio societatis devem ser
preservados, mesmo diante de constrição sobre o patrimônio de seu sócio.
Afirma que as quotas sociais não podem ser objeto de penhora, mas tão
somente, os fundos líquidos que o sócio terá sobre a socidade.
48 ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 159. 49 PEIXOTO, Carlos Fulgêncio da Cunha apud ABRÃO, Carlos Henrique. Penhora de Cotas de Sociedade de Responsabilidade Limitada. 2a. Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 35 50 ESTRELLA, Hernani. Apuração de haveres do sócio. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense, 1992, p.272.
39
Para estes doutrinadores, a penhora de quotas promoveria o ingresso de
terceiro na sociedade, o que seria inadimissível, pois este terceiro jamais poderia
atingir o estatus de sócio da socidade.
6.3.2 Na Jurisprudência
EMENTA: SOCIEDADES LIMITADAS. PENHORA. A lei permite a penhora de fundos líquidos que possua o executado na sociedade. Não é possível confundir com tais fundos líquidos as próprias quotas sociais. Recurso extraordinário não conhecido.(RE 75680/GO-GOIÁS-RECURSO EXTRAORDINÁRIO - Relator(a): Min. LUIS GALLOTTI - Julgamento: 02/03/1973 - Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA).
EMENTA: EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUCAO CONTRA SOCIO QUOTISTA DE SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PENHORA SOBRE OS FUNDOS LIQUIDOS ATRIBUIDOS E DISTRIBUIDOS AO SOCIO DEVEDOR. São penhoraveis os fundos líquidos ou lucros atribuídos e distribuídos e periodicamente aos sócios quotista de sociedade comercial constituída por quotas de responsabilidade limitada. Fundos líquidos que não se confundem com as quotas sociais, esta sim impenhoráveis por dívidas pessoais dos sócios. Tendo a penhora, recaído sobre os fundos líquidos ou lucros atribuíveis aos sócio devedor, não tem legitimidade processual em empresa da qual faz parte o executado para propor ação de ação de embargos de terceiro objetivando impedir qua constrição judicial recaia sobre tais bens. Inicial dos embargos liminarmente indeferida. Sentença confirmada. Apelo improvido. (Apelação Cível Nº 187079694, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Osvaldo Stefanello, Julgado em 21/12/1987).
66..44 PPeennhhoorraabbiilliiddaaddee ddeeppeennddeennttee ddee ccllááuussuullaa nnoo ccoonnttrraattoo ssoocciiaall
6.4.1 Na Doutrina
Outros doutrinadores admitem a penhora de quotas sociais, desde que
esteja estipulado no contrato social a possibilidade de cessão de cotas por qualquer
sócios sem o consentimento dos demais. Para eles a possibilidade de alienação a
terceiros, sem necessidade de concordância dos demais sócios, legitima o credor-
exequente a vendê-las judicialmente.
Neste entedimento afirma Cunha Peixoto: A lei quer evitar que estranhos participem da sociedade, independente do consentimento dos demais sócios, podendo o estranho a vir ser um futuro elemento de discórdia, ou não trazer os mesmos elementos pessoais que
40
possuía o proprietário da cota a ser penhorada. Mas, se os próprios membros da sociedade abrem mão desta garantia, possibilitando a transferência da cota a estranhos, já não há razão jurídica ou moral para impedir a venda judicial por parte do sócio devedor.51
João Eunápio Borges entende que “entre nós, porém, se o contrato proibir
a cessão das quotas, segue-se que elas são inalienáveis, não podendo, pois ser
empenhadas nem penhoradas, a não ser com o consentimento dos sócios”.52
Para Rubens Requião A quota será penhorável se houver, no contrato social, a cláusula pela qual possa ela ser cessível a terceiro, sem a anuência dos demais companheiros. A sociedade demonstraria, com isso, sua completa despreocupação e alheamento em relação à pessoa dos sócios, dando-lhe um nítido sabor de sociedade de capital.53
Esta corrente busca preservar a sociedade constituída com intuitu
personae, porém, caso a própria sociedade não se constitua dessa forma, nada há
de se opor quanto a penhora de cotas, pois se tais podem ser cedidas, alienadas por
vontade do sócio-cotista, nada impede que o terceiro credor o faça utilizando-se dos
meios expropriatórios previstos na legislação processual.
Descaracterizada a sociedade de pessoas, por conta da possibilidade de
alienação de cotas sem anuência dos demais sócios, de rigor a possibilidade de
penhora sobre as mesmas diante de dívida particular de sócio.
Aqui tenta-se conciliar os interesses do credor e da sociedade. Diante da
observância do contrato social poderá se aferir quais os verdadeiros interesses que
motivaram a formação da sociedade.
Caso reste concluído que a figura pessoal do sócio pouco importa para
sociedade, sendo relevante somente o capital integralizado, poderá ser efetuada a
penhora. Entretanto, caso se conclua o contrário, onde os sócios formaram a
sociedade por conta das habilidades e características de cada sócios, ou seja,
sociedade contituída com intuitu personae e affectio societatis, prejudicada estará a
penhora das quotas, porém, nada impede que a penhora recaia sobre os lucros
futuros que este sócio terá com a sociedade.
51 PEIXOTO, Carlos Fulgêncio da Cunha apud ABRÃO, Carlos Henrique. Penhora de Cotas de Sociedade de Responsabilidade Limitada. 2a. Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 35 52 BORGES, João Eunápio apud ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Código Civil. 1ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2004, p.108 53 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 21ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 349.
41
Outro fator relevante, conforme já dito, é a verificação da posssibilidade
de alienação das quotas, sem anuência dos demais sócios. Caso exista essa
possibilidade, chegar-se-á a conclusão de que a socidade dá importancia ao capital
integralizado e não a pessoa de seus sócios e, assim, possível será penhora.
A verificação de cláusula de admissão dos herdeiros na sociedade, em
caso de morte do sócio é outro fator que pode contribuir para conclusão acerca da
possibilidade da penhora de quotas.
Caso se permita a entrada dos herdeiros, também permitido será a
penhora, pois a sociedade não vedaria o ingresso de terceiro.
Na hipótese de omissão do contrato acerca da alienação, da
impenhorabilidade de quotas ou de ingresso de herdeiros, deve-se aplicar o disposto
no artigo 1.057.
6.4.2 Na Jurisprudência
EMENTA: SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PENHORABILIDADE DAS COTAS DO CAPITAL SOCIAL. O artigo 591 do CPC, dispondo que o devedor responde, pelo cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens, ressalva as restrições estabelecidas em lei. Entre elas se compreende a resultante do disposto no artigo 64, I, do mesmo Código, que afirma impenhoráveis os bens inalienáveis. A proibição de alienar as cotas pode derivar do contrato, seja em virtude de proibição expressa, seja quando se possa concluir, de seu contexto, que a sociedade foi constituída intuitu personae. Hipótese em que o contrato veda a cessão a estranhos, salvo consentimento expresso de todos os demais sócios. Impenhorabilidade reconhecida.( RECURSO ESPECIAL 34.882-5 RS RELATOR MINISTRO EDUARDO RIBEIRO)
EMENTA: SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS POR DEBITO DO QUOTISTA PARA COM TERCEIROS. POSSIBILIDADE OU IMPOSSIBILIDADE, SEGUNDO A DOUTRINA E A JURISPRUDENCIA INDEXADAS A NATUREZA DA SOCIEDADE. Se sociedade de capital estabelecida a livre cessibilidade, cede a “affectio societatis” e cabe a penhora. Se a cessão das quotas supões a anuência dos demais sócios, a sociedade de pessoas e, em tese, a quota é impenhorável. Contudo, não é a sociedade a titular ou possuidora das quotas e por isso, não a atingindo a penhora diretamente, e no que vier a atingir poderá a conduzir a soluções diversas, não é ela a legitimada para a oposição de embargos de terceiro. Decisão mantida por fundamentos diversos.(Apelação Cível Nº 190013219, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Sérgio José Dulac Muller, Julgado em 29/03/1990).
42
EMENTA: Sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Penhora das cotas sociais. Precedentes da Corte.1. Diante da disposição contratual que exige o consenso dos sócios para a transferência ou alienação das cotas sociais, mas com a possibilidade de ingresso de terceiro, ainda que preservado o direito de preferência, torna-se desnecessário desafiar a divergência entre a tese da penhorabilidade irrestrita e a da penhorabilidade dependente do contrato social. De fato, admitindo o contrato social o ingresso de estranho não faz sentido negar-se a penhora das cotas sociais de determinado cotista para o cumprimento de obrigações, evitando-se privilégio ao devedor inadimplente. 2. Havendo precedente da Corte com o mesmo cenário, impõe-se rechaçar a cobertura da impenhorabilidade acolhida nas instâncias ordinárias. 3. Recurso especial conhecido e provido. (Resp. 87216 / MG; RECURSO ESPECIAL 1996/0007372-4, Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO; TERCEIRA TURMA; DJ 11.06.2001 p. 196).
EMENTA: PROCESSO CIVIL. DIREITO COMERCIAL. QUOTAS SOCIETÁRIAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PENHORABILIDADE. A penhorabilidade de quotas pertencentes à sócia de sociedade de responsabilidade limitada, por dívida particular não é vedada em lei, mas pode ser proibida por restrição contratual, porquanto dita sociedade tem natureza intuitu personae, ficando a cargo da Agravante a prova de que o contrato social não veda a penhorabilidade das suas quotas sociais. Não constando dos autos autorização expressa dos demais sócios sobre a penhora das quotas sociais da Sociedade, impõe-se a mantença do despacho do MM. Juiz monocrático que indeferiu a penhora das referidas quotas. (AGRAVO DE INSTRUMENTO 1867097 DF; 2ª Turma Cível; Relator: HERMENEGILDO GONÇALVES; Publicação no DJU: 03/12/1997 Pág. : 29.900).
43
77.. CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Com este estudo foi possível identificar as principais posições doutrinárias
sobre o tema, todas elas com seus fundamentos e justificações, entrentanto, não é
prudente adotar apenas um entendimento, objetivando a certeza nas conclusões.
Nos dias atuais, uma pequena parcela dos doutrinadores acredita ser
impenhorável a quota social. Estes afirmam que a principal motivo é o de a
sociedade limitada se pautar, essencialmente, na qualidade pessoal dos sócios e
não em fatores econômicos e financeiros necessários à formação do capital.
Outra parte, apoiando-se no artigo 655, inciso VI do Código de Processo
Civil, entende que a quota social é um direito e, dessa forma, suscetível de penhora,
tendo em vista o caráter capitalista da sociedade.
Adotar uma posição extrema não parece ser razoável. Entender pela
impenhorabilidade seria ignorar a intenção do legislador em criar mecanismos mais
efetivos de satisfação do credor, conforme mudanças recentes do Código de
Processo Civil. Em contrapartida, a penhorabilidade indiscriminada de quotas
também não deve ser adotada, pois desconsiderar-se-ia dois elementos essenciais
da Sociedade Limitada, quais sejam affectio societatis e intuitu personae.
Uma solução intermediária nos parece mais correto. Nesse sentido pode-
se entender pela penhorabilidade de fundos líquidos que pertencerem ao devedor e
que estiverem em posse da sociedade, caso este não tenha outros bens
penhoráveis.
Desse modo o credor terá satisfeito o seu direito de crédito e será
mantido o caráter intiutu presonae da sociedade.
A observância do contrato social também é um fator relevante que deve
ser levado em consideração diante da idéia de penhorabilidade das quotas sociais.
Nesse entendimento, não ocorrerá a penhora se o contrato social vetar a
cessão de quotas a terceiros sem o consentimento dos demais sócios. No caso de o
contrato social ser omisso ou permitir a cessão das quotas a terceiros é possível a
penhora das quotas.
44
Nessa toada o que importa é a valoração dada pelos seus sócios à
sociedade, observando-se o caráter da pessoalidade na sociedade.
Hoje, há um entendimento cada vez maior da possibilidade da penhora
das quotas por dívida pessoal do sócio. Embora a sociedade tenha o caráter intuitu
personae, sendo característica o caráter pessoal entre seus sócios, essa sociedade
foi criada também com características da sociedade anônima e, conforme vimos, a
lei das sociedades anônimas é aplicada, dependendo do caso, subsidiariamente em
caso de lacuna nos artigos reservados à sociedade limitada.
Sendo o contrato social omisso sobre a cessão de quotas será aplicada a
regra do artigo 1.057 do Código Civil, na qual terá que ser aprovada o ingresso de
terceiros por três quartos dos titulares do capital social.
Desse modo, no caso de penhora, o credor do sócio poderá ingressar na
sociedade de acordo com a vontade dos demais. Caso não seja aceito, deverá ser
realizada a apuração dos haveres, como se o sócio devedor estivesse deixando a
sociedade, devendo esta pagar o credor do sócio, em 90 dias.
No caso de o contrato social vetar a entrada de terceiros será seguido o
ensinamento de Modesto Carvalhosa
“O credor, exeqüente da penhora, torna-se titular apenas do direito de crédito relativo aos lucros líquidos e aos haveres apurados com relação às quotas sob penhora. O credor não adquire, entretanto, o status de sócio. Esse status extingue-se com a execução da penhora (liquidação de quota) e não é transferido ao credor. Por meio desse mecanismo, protege-se, de um lado, o direito do credor, e, de outro, a affectio societatis da limitada, cujas quotas se encontram sob penhora”.54
No último caso, sendo estipulado no contrato social que não será
necessário de nenhum modo, a aceitação dos demais sócios na cessão para com
terceiros, realizada a penhora, o credor poderá assumir a condição de sócio.
Deve-se lembrar que a admissibilidade de herdeiros à sociedade, em
caso de morte do sócio, é fator a ser considerado.
A partir do momento em que a sociedade não proibe a cessão das
quotas, seus sócios acabam desvinculando o caráter pessoal da sociedade sendo
54 CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil, vol 13. 2ª.Edição, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 90
45
observado, assim, principalmente, o caráter capitalista da sociedade limitada e,
portanto, a penhora se faz plenamente cabível.
Por fim, podemos observar que o contrato social pode interferir no modo
pelo qual será realizada a penhora, mas em nenhum momento impede que a
penhora seja realizada e, desta forma, resguarda-se so direitos do sócio, da
sociedade e do credor do sócio.
46
88.. BBIIBBLLIIOOGGRRAAFFIIAA
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COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade limitada no Novo Código Civil. 1ª Edição, São
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47
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48