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ISBN9788547216313
Ramos,AndrdeCarvalhoCursodedireitoshumanos/AndrdeCarvalhoRamos.4.ed.SoPaulo:Saraiva,2017.1.Direitoshumanos2.Direitoshumanos-Brasil3.Direitoshumanos(Direitointernacional)I.Ttulo.16-1356CDU341:347.121.1
ndicesparacatlogosistemtico:
1.Direitointernacionaledireitoshumanos341:347.121.1
2.Direitoshumanosedireitointernacional341:347.121.1
PresidenteEduardoMufarej
Vice-presidenteClaudioLensing
DiretoraeditorialFlviaAlvesBravin
Conselhoeditorial
PresidenteCarlosRagazzo
GerentedeaquisioRobertaDensa
ConsultoracadmicoMuriloAngeli
GerentedeconcursosRobertoNavarro
GerenteeditorialThasdeCamargoRodrigues
EdioDanielPavaniNaveira
ProduoeditorialAnaCristinaGarcia(coord.)|LucianaCordeiroShirakawaClarissaBoraschiMaria(coord.)|KelliPriscilaPinto|MarliaCordeiro|MnicaLandi|TatianadosSantosRomo|
TiagoDelaRosa
Diagramao(LivroFsico)FabricandoIdeiasDesignGrfico
RevisoFabricandoIdeiasDesignGrfico
ComunicaoeMKTElaineCristinadaSilva
CapaAndreaVileladeAlmeida
Livrodigital(E-pub)
Produodoe-pubGuilhermeHenriqueMartinsSalvador
ServioseditoriaisSuraneVellenich
Datadefechamentodaedio:8-12-2016
Dvidas?
Acessewww.editorasaraiva.com.br/direito
NenhumapartedestapublicaopoderserreproduzidaporqualquermeioouformasemaprviaautorizaodaEditoraSaraiva.
AviolaodosdireitosautoraiscrimeestabelecidonaLein.9.610/98epunidopeloartigo184doCdigoPenal.
http://www.editorasaraiva.com.br/direitoRezeetrabalhe,fazendodecontaqueestavidaumdiadecapinacomsolquente,quesvezes
custamuitoapassar,massemprepassa.Evocaindapodetermuitopedaobomdealegria...Cada
umtemasuahoraeasuavez:vochdeterasua.
(JooGuimaresRosa,AhoraeavezdeAugustoMatraga,in:Sagarana,31.ed.RiodeJaneiro:
NovaFronteira,1984,p.356.)
AoVictor,DanieleDenise,comotudoquefaoecontinuareifazendo.
Boaleitura!
SUMRIOAPRESENTAODA4EDIO
PARTEI-ASPECTOSBSICOSDOSDIREITOSHUMANOS
I.Direitoshumanos:conceito,estruturaesociedadeinclusiva
1.Conceitoeestruturadosdireitoshumanos
2.Contedoecumprimentodosdireitoshumanos:rumoaumasociedadeinclusiva
II.Osdireitoshumanosnahistria
1.Direitoshumanos:fazsentidooestudodasfasesprecursoras?
2.Afasepr-EstadoConstitucional
2.1.AAntiguidadeOrientaleoesboodaconstruodedireitos
2.2.Avisogregaeademocraciaateniense
2.3.ARepblicaRomana
2.4.OAntigoeoNovoTestamentoeasinflunciasdocristianismoedaidademdia
2.5.ResumodaideiadosdireitoshumanosnaAntiguidade:aliberdadedosantigosealiberdadedosmodernos
3.AcrisedaIdadeMdia,inciodaIdadeModernaeosprimeirosdiplomasdedireitoshumanos
4.Odebatedasideias:Hobbes,Grcio,Locke,Rousseaueosiluministas
5.Afasedoconstitucionalismoliberaledasdeclaraesdedireitos
6.Afasedosocialismoedoconstitucionalismosocial
7.Ainternacionalizaodosdireitoshumanos
III.Terminologia,FundamentoeClassificao
1.Terminologia:osdireitoshumanoseosdireitosfundamentais
2.Classificaodosdireitoshumanos
2.1.Ateoriadostatusesuasrepercusses
2.2.Ateoriadasgeraesoudimenses:ainexauribilidadedosdireitoshumanos
2.3.Aclassificaopelasfunes
2.4.Aclassificaopelafinalidade:osdireitoseasgarantias
2.5.AclassificaoadotadanaConstituiode1988
2.5.1.Direitosindividuais
2.5.2.Direitossociais
2.5.3.Direitonacionalidade
2.5.4.Direitospolticoseospartidos
2.5.5.Direitoscoletivos,difusoseosdireitosindividuaisdeexpressocoletiva
2.5.6.Osdeveresindividuaisecoletivos
2.6.Aclassificaopelaformadereconhecimento
3.Dignidadehumana
3.1.Conceitodedignidadehumanaeseuselementos
3.2.Usospossveisdadignidadehumana
4.Osfundamentosdosdireitoshumanos
4.1.Ofundamentojusnaturalista
4.1.1.Ojusnaturalismodeorigemreligiosaeodeorigemracional
4.1.2.OjusnaturalismodedireitoshumanosnoDireitoInternacionalenoSTF
4.2.Opositivismonacionalista
4.3.Asteoriasutilitaristas,socialistasecomunistasdosculoXIXeacrticaaosdireitoshumanos
4.3.1.Outilitarismoclssico:BenthameStuartMill
4.3.2.Osocialismoeocomunismo
4.4.AreconstruodosdireitoshumanosnosculoXX:adignidadehumanaeaaberturaaosprincpiosjurdicos
5.Asespecificidadesdosdireitoshumanos
5.1.Acentralidadedosdireitoshumanos
5.2.Universalidade,inernciaetransnacionalidade
5.3.Indivisibilidade,interdependnciaeunidade
5.4.Aaberturadosdireitoshumanos,noexaustividadeefundamentalidade
5.5.Imprescritibilidade,inalienabilidade,indisponibilidade
5.6.Proibiodoretrocesso
6.Ainterpretao
6.1.Ainterpretaoconformeosdireitoshumanos
6.2.Ainterpretaodosdireitoshumanos:aspectosgerais
6.3.Amximaefetividade,ainterpretaoprohomineeoprincpiodaprimaziadanormamaisfavorvelaoindivduo
7.Aresoluodosconflitosentredireitoshumanos
7.1.Aspectosgerais:adelimitaodosdireitoshumanos
7.2.Teoriainterna
7.3.Teoriaexterna
7.4.Oprincpiodaproporcionalidade
7.4.1.Conceitoesituaestpicasdeinvocaonatemticadosdireitoshumanos
7.4.2.Fundamento
7.4.3.Elementosdaproporcionalidade
7.4.4.Aproibiodaproteoinsuficiente:osentidopositivodaproporcionalidade
7.4.5.AregradecolisopreviamentedispostanaConstituioeaponderaode2grau
7.4.6.Proporcionalidadeerazoabilidade
7.4.7.Inconstitucionalidadeeproporcionalidade
8.Aproteodocontedoessencialdosdireitoshumanoseagarantiadupla
9.Espciesderestriesdosdireitoshumanos
9.1.Asrestrieslegais:areservalegalsimpleseareservalegalqualificada
9.2.Osdireitossemreservaexpressa:areservalegalsubsidiriaeareservageraldeponderao
9.3.Aslimitaesdosdireitoshumanospelasrelaesespeciaisdesujeio
PARTEII-ASPECTOSPRINCIPAISDOSTRATADOSDEDIREITOSHUMANOS,DEDIREITOINTERNACIONALHUMANITRIOEDODIREITOINTERNACIONALDOSREFUGIADOS
IV.Ostrseixosdaproteointernacionaldedireitoshumanos
V.Osistemauniversal(ONU)
1.ACartaInternacionaldosDireitosHumanos
2.PactoInternacionaldosDireitosCivisePolticos
2.1.ProtocoloFacultativoaoPactoInternacionaldosDireitosCivisePolticos
2.2.SegundoProtocoloAdicionalaoPactoInternacionaldosDireitosCivisePolticos
3.PactoInternacionaldosDireitosEconmicos,SociaiseCulturais(PIDESC)
3.1.ProtocoloFacultativoaoPIDESC
4.ConvenoSuplementarsobreaAboliodaEscravatura,doTrficodeEscravosedasInstituiesePrticasAnlogasEscravatura
5.ConvenoparaaPrevenoeaRepressodoCrimedeGenocdio
6.ConvenorelativaaoEstatutodosRefugiadoseProtocolosobreoEstatutodosRefugiados
7.ConvenosobreaEliminaodeTodasasFormasdeDiscriminaoRacial
8.ConvenosobreaEliminaodeTodasasFormasdeDiscriminaocontraaMulher(CEDAW)erespectivoProtocoloFacultativo
9.ConvenocontraaTorturaeOutrosTratamentosouPenasCruis,DesumanosouDegradanteseProtocoloOpcional
10.ProtocolodeIstambul
11.ConvenosobreosDireitosdaCriana
11.1.OProtocoloFacultativoConvenosobreosDireitosdaCrianarelativoaoenvolvimentodecrianasemconflitosarmados
11.2.ProtocoloFacultativoConvenosobreosDireitosdaCrianareferentevendadecrianas,prostituioinfantilepornografiainfantil
12.DeclaraoeProgramadeAodeViena(1993)
13.RegrasMnimasdasNaesUnidasparaoTratamentodePresos(RegrasNelsonMandela)
14.RegrasdasNaesUnidasparaoTratamentodeMulheresPresaseMedidasnoPrivativasdeLiberdadeparaMulheresInfratoras(RegrasdeBangkok)
15.ProtocolodePreveno,SupressoePuniodoTrficodePessoas,especialmenteMulhereseCrianas,complementarConvenodasNaesUnidascontraoCrimeOrganizadoTransnacional
16.ConvenodaONUsobreosDireitosdasPessoascomDeficinciaeseuProtocoloFacultativo
17.ConvenoInternacionalparaaProteodeTodasasPessoascontraoDesaparecimentoForado
18.ConvenoInternacionalsobreaProteodosDireitosdeTodososTrabalhadoresMigrantesedosMembrosdassuasFamlias
19.PrincpiosdeYogyakartasobreorientaosexual
20.Convenon.169daOITsobrePovosIndgenaseTribais
21.DeclaraodaONUsobreosDireitosdosPovosIndgenas
22.ConvenosobreaProteoePromoodaDiversidadedasExpressesCulturais
23.PrincpiosOrientadoressobreEmpresaseDireitosHumanos
24.TratadodeMarraquechesobreacessofacilitadoaobraspublicadas
25.DeclaraodeNovaYorksobreRefugiadoseMigrantes
VI.Osistemaregionalamericano(OEA)
1.ACartadaOEAeaDeclaraoAmericanadosDireitoseDeveresdoHomem:aspectosgeraisdosistema
2.AtuaoespecficadaOrganizaodosEstadosAmericanos(OEA)
2.1.AOEAeavalorizaodaDefensoriaPblica
2.2.osrelatriosanuaiserelatoriaparaaliberdadedeexpresso
3.ConvenoAmericanadeDireitosHumanos(PactodeSanJosdaCostaRica)
4.ProtocoloadicionalConvenoAmericanasobreDireitosHumanos(ProtocolodeSanSalvador)
5.ProtocoloConvenoAmericanasobreDireitosHumanosReferenteAboliodaPenadeMorte
6.ConvenoInteramericanaparaPrevenirePuniraTortura
7.ConvenoInteramericanaparaPrevenir,PunireErradicaraViolnciaContraaMulher(ConvenodeBelmdoPar)
8.ConvenoInteramericanaparaaEliminaodeTodasasFormasdeDiscriminaocontraasPessoasPortadorasdeDeficincia
9.ConvenoInteramericanasobreoDesaparecimentoForado177
10.CartaDemocrticaInteramericana
11.CartaSocialdasAmricas
12.ConvenoInteramericanasobreaProteodosDireitosHumanosdasPessoasIdosas
13.ConvenoInteramericanacontraTodaFormadeDiscriminaoeIntolerncia
14.ConvenoInteramericanacontraoRacismo,DiscriminaoRacialeFormasConexasdeIntolerncia
15.ProtocolosdoMercosuldeDefesadaDemocraciaedosDireitosHumanos
15.1ProtocolosdeUshuaiaIeII
15.2ProtocolodeAssunosobreCompromissocomaPromooeProteodosDireitosHumanosdoMercosul
16.DeclaraoAmericanasobreosDireitosdosPovosIndgenas
VII.Mecanismosinternacionaisdeproteoemonitoramentodosdireitoshumanos:competncia,composioefuncionamento
1.Aspectosgeraisdosistemaglobal(ONU)
2.ConselhodeDireitosHumanos
2.1.Relatoresespeciais
2.2.RevisoPeridicaUniversal
3.ComitdeDireitosHumanos
4.ConselhoEconmicoeSocialeComitdeDireitosEconmicos,SociaiseCulturais
5.ComitparaaEliminaodaDiscriminaoRacial
6.ComitsobreaEliminaodaDiscriminaocontraaMulher
7.ComitcontraaTortura
8.ComitparaosDireitosdaCriana
9.ComitsobreosDireitosdasPessoascomDeficincia
10.ComitcontraDesaparecimentosForados
11.ResumodaatividadedemonitoramentointernacionalpelosComits(treatybodies)
12.AltoComissariadodasNaesUnidasparaDireitosHumanos
13.ComissoInteramericanadeDireitosHumanos(ComissoIDH)
13.1.Aspectosgerais
13.2.AComissoIDHeotrmitedaspetiesindividuais
13.2.1.Provocaoecondiesdeadmissibilidade
13.2.2.AconciliaoperanteaComisso
13.2.3.AsmedidascautelaresdaComisso
13.2.4.OPrimeiroInformeepossvelaoperanteaCorteIDH
13.2.5.OSegundoInforme
13.3.CorteInteramericanadeDireitosHumanos
13.3.1.Composioeojuizadhoc
13.3.2.Funcionamento
13.3.3.Legitimidadeativaepassivanosprocessoscontenciosos
13.3.4.Apetioinicialeodefensorpblicointeramericano
13.3.5.Contestao,exceespreliminareseprovas
13.3.6.Osamicicuriae
13.3.7.Asmedidasprovisrias
13.3.8.Desistncia,reconhecimentoesoluoamistosa
13.3.9.AsentenadaCorte:asobrigaesdedar,fazerenofazer
13.3.10.Orecursocabvel
13.3.11.JurisprudnciadaCorteInteramericanadeDireitosHumanos:casoscontenciosos
13.3.12.AjurisdioconsultivadaCorteIDH
14.EnteseprocedimentosdaproteodademocracianoMercosul
VIII.OTribunalPenalInternacionaleosdireitoshumanos
1.OsTribunaisprecursores:deNurembergaRuanda
2.OEstatutodeRoma
3.AfixaodajurisdiodoTPI
4.Oprincpiodacomplementaridadeeoregimejurdico:imprescritvelesemimunidades
5.Oscrimesdejuscogens
5.1.Genocdio
5.2.Crimescontraahumanidade
5.3.Crimesdeguerra
5.4.Crimedeagresso
6.Otrmite
7.Penaseordensdeprisoprocessual
8.OTPIeoBrasil
PARTEIII-OBRASILEOSDIREITOSHUMANOS
IX.
1.DaConstituiode1824aoCongressoNacionalConstituinte(1985-1987)
2.AConstituiode1988,fundamentos,objetivoseainternacionalizaodosdireitoshumanos
2.1.OsfundamentoseobjetivosdaRepblica
2.2.AexpansodosdireitoshumanosesuainternacionalizaonaConstituiode1988
2.3.AsupremaciadaConstituioeosdireitoshumanos
2.4.Clusulasptreas
3.Ostratadosdedireitoshumanos:formao,incorporaoehierarquianormativanoBrasil
3.1.Asnormasconstitucionaissobreaformaoeincorporaodetratados
3.1.1.Terminologiaeaprticaconstitucionalbrasileira
3.1.2.Ateoriadajunodevontades
3.1.3.Asquatrofases:daformaodavontadeincorporao
3.1.4.Ahierarquianormativaordinriaoucomumdostratados
3.2.Processolegislativo,aplicaoehierarquiadostratadosinternacionaisdedireitoshumanosemfacedoart.5,eseuspargrafos,daCF/88
3.2.1.Aspectosgerais
3.2.2.AsituaoantesdaEmendaConstitucionaln.45/2004:os1e2doart.5
3.3.AhierarquianormativadostratadosdedireitoshumanoseaEmendaConstitucionaln.45/2004
3.3.1.Aspectosgerais
3.3.2.Asdiferentesvisesdoutrinriassobreoimpactodoritoespecialdoart.5,3,nahierarquiadostratadosdedireitoshumanos
3.4.Ateoriadoduploestatutodostratadosdedireitoshumanos:naturezaconstitucional(osaprovadospeloritodoart.5,3)enaturezasupralegal(todososdemais)
3.5.Oimpactodoart.5,3,noprocessodeformaoeincorporaodostratadosdedireitoshumanos
3.5.1.Oritoespecialdoart.5,3,facultativo:ostratadosdedireitoshumanosaprovadospeloritocomumdepoisdaECn.45/2004
3.5.2.OritoespecialpodeserrequeridopeloPresidenteoupeloCongresso
3.5.3.Odecretodepromulgaocontinuaaserexigidonoritoespecial
4.Adennciadetratadointernacionaldedireitoshumanosemfacedodireitobrasileiro
5.AaplicabilidadeimediatadasnormascontidasemtratadosinternacionaisdedireitoshumanosratificadospeloBrasil
6.Oblocodeconstitucionalidade
6.1.Oblocodeconstitucionalidadeamplo
6.2.Oblocodeconstitucionalidaderestrito
7.Ocontroledeconvencionalidadeesuasespcies:ocontroledematrizinternacionaleocontroledematriznacional
8.ODilogodasCorteseseusparmetros
9.Acrisedostratadosinternacionaisnacionaiseasuperaodoconflitoentredecisessobredireitoshumanos:ateoriadoduplocontrole
10.AcompetnciadaJustiaFederalnashiptesesdegraveviolaodedireitoshumanos
10.1.OincidentededeslocamentodecompetNcia:origensetrmite
10.2.AmotivaoparaacriaodoIDCerequisitosparaseudeferimento
10.3.Aprticadodeslocamento
10.4.AscrticasaoIDC
11.AbuscadaimplementaodosdireitoshumanosnoBrasil
11.1.OIDHbrasileiroeacriaodeumapolticadedireitoshumanos
11.2.OsProgramasNacionaisdeDireitosHumanos1,2e3
11.3.ProgramasestaduaisdedireitosHumanos
12.AsprincipaisinstituiesdedefesaepromoodosdireitoshumanosnoPoderExecutivoFederal,apsoimpeachmentde2016
12.1.SecretariaESPECIALdeDireitosHumanos
12.2.OuvidoriaNacionaldosDireitosHumanos
12.3.SecretariaESPECIALdePolticasdePromoodaIgualdadeRacialeSecretariaESPECIALdePolticasparaasMulheres
12.4.ConselhoNACIONALdeDireitosHumanos
12.5.Dosdemaisrgoscolegiadosfederaisdedefesadedireitoshumanos
12.5.1.OConselhoNacionaldosDireitosdaCrianaedoAdolescentesCONANDA
12.5.2.OConselhoNacionaldosDireitosdaPessoaPortadoradeDeficinciaCONADE
12.5.3.OConselhoNacionaldosDireitosdoIdosoCNDI
12.5.4.OConselhoNacionaldeCombateDiscriminaoePromoodosDireitosdeLsbicas,Gays,Bissexuais,TravestiseTransexuaisCNCD-LGBT
12.5.5.ComissoEspecialsobreMortoseDesaparecidosPolticosCEMDP
12.5.6.AComissoNacionaldeErradicaodoTrabalhoEscravoCONATRAE
12.5.7.ComitNacionaldeEducaoemDireitosHumanosCNEDH
12.5.8.ConselhoNacionaldePromoodaIgualdadeRacialCNPIR
12.5.9.ConselhoNacionaldosDireitosdaMulherCNDM
13.NoPoderLegislativoFederal:aComissodeDireitosHumanoseMinoriasdaCmaradosDeputados(CDHM)
14.MinistrioPblicoFederaleProcuradoriaFederaldosDireitosdoCidado
15.ADefensoriaPblicadaUnioeadefesadosdireitoshumanos
16.Instituiesdedefesadedireitoshumanosnoplanoestadualemunicipal
16.1.OMinistrioPblicoestadual
16.2.ADefensoriaPblicadoEstadoeadefesadosdireitoshumanos
16.3.OsConselhosEstaduaisdeDireitosHumanos
17.AinstituionacionaldedireitoshumanoseosPrincpiosdeParis
17.1.Oconceitodeinstituionacionaldedireitoshumanos
17.2.OsPrincpiosdeParis
17.3.AinstituionacionaldedireitoshumanoseaONU
17.4.OBrasileainstituionacionaldedireitoshumanos
PARTEIV-OSDIREITOSEGARANTIASEMESPCIE
X.
1.Aspectosgerais
2.Destinatriosdaproteoesujeitospassivos
3.Direitovida
3.1.Aspectosgerais
3.2.Incio:aconcepo,oembrioinvitroeaproteododireitovida
3.3.Trminodavida:eutansia,ortotansia,diastansiaesuicdio
3.4.Penademorte
3.4.1.Asfasesrumoaobanimentodapenademorte
3.4.2.Otratamentodesumano:ocorredordamorte
4.Odireitoigualdade
4.1.Livreseiguais:aigualdadenaeradauniversalidadedosdireitoshumanos
4.2.Asdimensesdaigualdade
4.3.Asdiversascategoriaseclassificaesdoutrinrias
4.4.Odeverdeinclusoeadiscriminaodiretaeindireta
4.4.1.Paraobteraigualdade:asmedidasrepressivas,promocionaiseasaesafirmativas
4.4.2Discriminaoestruturalousistmicaeoracismoinstitucional
4.5.Aviolnciadegnero
4.5.1.AspectosgeraisdaLeiMariadaPenha
4.5.2.AspectospenaiseprocessuaispenaisdaLeiMariadaPenhaeaADI4.424
4.5.3.AigualdadematerialeaADC19
4.5.4.ALein.13.104/2015:ofeminicdio
4.6.DecisesdoSTFedostjsobreigualdade
5.Legalidade
5.1.Legalidadeereservadelei
5.2.Osdecretoseregulamentosautnomos(CF,art.84,IV)
5.3.ReservadeleieReservadeParlamento
5.4.Regimentodetribunaisereservadelei
5.5.ResoluesdoCNJedoCNMP
5.6.PrecedentesdiversosdoSTF
6.Direitointegridadefsicaepsquica
6.1.Direitointegridadefsicaemoral
6.2.Atortura(art.5,IIIeXLIII)eseutratamentoconstitucionaleinternacional
6.2.1.OcrimedetorturaprevistonaLein.9.455/97
6.2.2.Otratamentodesumanooudegradante
6.2.3.Torturaepenasoutratoscruis,desumanosoudegradantescomoconceitointegral.DiferenciaoentreoselementosdoconceitonajurisprudnciadaCorteEuropeiadeDireitosHumanos(casoirlands)eseusreflexosnoart.16daConvenodaONUcontraaTorturade1984
6.2.4.Experimentaohumanaeseuslimitesbioticos:casosdeconvergnciacomoconceitodetortura
6.3.PrecedentesdoSTFedoSTJ
7.Liberdadedepensamentoeexpressodaatividadeintelectual,artstica,cientficaedecomunicao
7.1.Conceito,alcanceeasespciesdecensura
7.2.Aproibiodoanonimato,direitoderespostaeindenizaopordanos
7.3.Aliberdadedeexpresso,odiscursodedio(hatespeech).ohumorEAOBRAOBSCENA
7.4.LeideImprensaeregulamentaodaliberdadedeexpresso
7.5.Liberdadedeexpressoemperodoeleitoral
7.6.OutroscasosdeliberdadedeexpressoesuasrestriesnoSTF
8.Liberdadedeconscinciaeliberdadereligiosa
8.1.Liberdadedeconscincia
8.2.Liberdadedecrenaoudereligio
8.3.Limitesliberdadedecrenaereligio
9.Direitointimidade,vidaprivada,honraeimagem
9.1.Conceito:diferenaentreprivacidade(ouvidaprivada)eintimidade
9.2.Direitohonraeimagem
9.3.Direitoprivacidadeesuasrestriespossveis
9.4.Direitoaoesquecimentoedireitoesperana:oconflitoentreaprivacidadeealiberdadedeinformao
9.5.Ordensjudiciaisrestringindoaliberdadedeinformaoemnomedodireitoprivacidade
9.6.Divulgaodeinformaodeinteressepblicoobtidailicitamente
9.7.Inviolabilidadedomiciliar
9.7.1.Conceitoeasexceesconstitucionais
9.7.2.Proibiodeingressonodomiclioeaatividadedasautoridadestributriasesanitrias
9.8.Advogado:inviolabilidadedoescritriodeadvocaciaepreservaodosigiloprofissional
9.9.Osigilodedadosemgeral
9.9.1.Sigilofiscal
9.9.2.Sigilobancrio
9.10.OCOAFeossigilosbancrioefiscal
9.11.OCNJeossigilosbancrioefiscal
9.12.Sigilodecorrespondnciaedecomunicaotelegrfica:possibilidadedeviolaoeausnciadereservadejurisdio
9.13.OsigilotelefnicoeinterceptaoprevistanaLein.9.296/96,inclusivedofluxodecomunicaesemsistemasdeinformticaetelemtica
9.14.Agravaorealizadaporumdosinterlocutoressemoconhecimentodooutro:provalcita,deacordocomoSTF(repercussogeral)
9.15.Ainterceptaoambiental
9.16.Casosexcepcionaisdeusodainterceptaotelefnica:oencontrofortuitodecrime,adescobertadenovosautoreseaprovaemprestada
9.17.Interceptaotelefnicaordenadaporjuzocvel
9.18.DecisesdoSTF
10.Liberdadedeinformaoesigilodefonte
10.1.JurisprudnciadoSTF
11.Liberdadedelocomoo
11.1.Conceitoerestriesliberdadedelocomoo
11.2.Hiptesesconstitucionalmentedefinidasparaprivaodeliberdade
11.3.Liberdadeprovisriacomousemfiana
11.4.Prisesnoscasosdetransgressesmilitaresoucrimespropriamentemilitares,definidosemleieasprisesnoestadodeemergncia
11.5.Enunciaodosdireitosdopreso
11.6.Direitoanocontribuirparasuaprpriaincriminao
11.7.Prisoextrapenal
11.8.Audinciadeapresentaooucustdia
11.9.Sistemaprisional,USODEALGEMASeoestadodascoisasinconstitucional
12.Liberdadedereunioemanifestaoempraapblica
13.Liberdadedeassociao
13.1.JurisprudnciadoSTF
14.Direitodepropriedade
14.1.Conceitoefunosocial
14.2.Asrestriesimpostasaodireitodepropriedade
14.3.Adesapropriao
14.4.Impenhorabilidade
14.5.Propriedadedeestrangeiros
15.Direitosautorais
15.1.Direitosautoraisedomniopblico
15.2.Aproteopropriedadeindustrial
16.DireitodeheranaeDireitoInternacionalPrivado
17.Defesadoconsumidor
18.DireitoinformaoeaLeideAcessoInformaoPblicade2011
19.Direitodepetio
20.Direitocertido
21.Direitodeacessojustia
21.1.Conceito
21.2.Atutelacoletivadedireitoseatuteladedireitoscoletivos
21.3.Ausnciadenecessidadedeprvioesgotamentodaviaadministrativaeafaltadeinteressedeagir
21.4.Arbitragemeacessojustia
22.Aseguranajurdicaeoprincpiodaconfiana:adefesadodireitoadquirido,atojurdicoperfeitoecoisajulgada
23.Juiznaturalepromotornatural
23.1.Conceito
23.2.AConstituioFederaleojuiznatural:oforoporprerrogativadefuno
23.3.Promotornatural
23.4.TribunaldoJri
24.DireitosHumanosnoDireitoPenaleProcessualPenal
24.1.Princpiosdareservalegaledaanterioridadeemmatriapenal
24.2.Osmandadosconstitucionaisdecriminalizaoeoprincpiodaproibiodeproteodeficiente
24.3.Racismo
24.3.1.Ocrimederacismoesuaabrangncia:oantissemitismoeoutrasprticasdiscriminatrias
24.3.2.OestatutoconstitucionalpunitivodoracismoeoposicionamentodoSTF:ocasodoantissemitismoeoutrasprticasdiscriminatrias
24.4.LeidosCrimesHediondos,liberdadeprovisriaeindulto
25.Oregramentoconstitucionaldaspenas
26.Extradioeosdireitoshumanos
26.1.Conceito
26.2.Juzodedelibaoeosrequisitosdaextradio
26.3.Trmitedaextradio
27.Devidoprocessolegal,contraditrioeampladefesa
27.1.Conceito
27.2.Odevidoprocessolegaleoduplograudejurisdio
28.Provasilcitas
28.1.Conceito
28.2.Aceitaodasprovasobtidaspormeiosilcitoseteoriadosfrutosdarvoreenvenenada
29.Apresunodeinocnciaesuasfacetas
29.1Aspectosgeraisdapresunodeinocncia
29.2Aexecuoprovisriaouimediatadapenacriminalapsojulgamentoproferidoemgraudeapelao
30.Identificaocriminal
31.Aopenalprivadasubsidiria
32.Publicidadedosatosprocessuais
33.Prisocivil
34.Assistnciajurdicaintegralegratuita
35.DefensoriaPblica
35.1.Conceito,inseroconstitucionalepoderes
35.2.FunesinstitucionaisdaDefensoriaPblica
36.Odireitoduraorazoveldoprocesso
37.Justiadetransio,direitoverdadeejustia
38.Garantiasfundamentais
38.1.Habeascorpus
38.2.Mandadodesegurana
38.3.Mandadodeseguranacoletivo
38.4.Mandadodeinjuno
38.5.Habeasdata
38.6.Aopopular
38.7.Direitodepetio
38.8.Aocivilpblica
39.SistemanicodeSade
39.1.JurisprudnciadoSTF
40.SistemanicodeAssistnciaSocial
41.Direitosdaspessoascomdeficinciaedaspessoascomtranstornosmentais
41.1.DireitosdaspessoascomdeficinciaEALEIN.13.146/15
41.2.Direitosdaspessoascomtranstornosmentais
41.3.Direitosdapessoacomtranstornodoespectroautista
42.Direitomobilidade
43.Direitosindgenas
43.1.Noesgerais:terminologia
43.2.TratamentonormativoataConstituiode1988
43.3.ndiosnaConstituio.Competncia.Ocupaotradicional.Aplicaodaleibrasileira
43.3.1.Aspectosgerais:osprincpioseosdispositivosconstitucionais
43.3.2.Asterrastradicionalmenteocupadaspelosndioseorenitenteesbulho.Omarcotemporaldaocupao
43.3.3.AjurisprudnciadaCorteIDHeamatriaindgena:oDilogodasCortes364
43.3.4.Odireitoconsultalivreeinformadadascomunidadesindgenaseorespeitostradies:opluralismojurdico
43.4.PovosindgenasecomunidadestradicionaisemfacedoDireitoInternacional
43.5.Autonomiaequestotutelar
43.6.Ademarcaocontnuaeassuascondicionantes:ocasoRaposaSerradoSol
43.6.1.Ademarcaodasterrasindgenas
43.6.2.OCasoRaposaSerradoSoleascondicionantes:onusargumentativo
43.7.DireitoPenaleospovosindgenas
43.8.Aspectosprocessuais
43.9.Questesespecficasdamatriaindgena
44.Direitonacionalidade
44.1.Nacionalidadenagramticadosdireitoshumanos
44.2.NacionalidadeoriginriaeaEmendaConstitucionaln.54/07
44.3.Nacionalidadederivadaousecundria(adquirida)
44.4.Quasenacionalidade
44.5.Diferenadetratamentoentrebrasileirosnatosenaturalizados
44.6.Perdaerennciaaodireitonacionalidade
45.DireitosPolticos
45.1.Conceito:odireitodemocracia
45.2.DemocraciaIndiretaouRepresentativa,DemocraciaDiretaeDemocraciaSemidiretaouParticipativa
45.3.Ademocraciapartidria:ospartidospolticos
45.4.OsprincipaisinstitutosdademocraciadiretautilizadosnoBrasil
45.5.Osdireitospolticosemespcie:odireitoaosufrgio
45.5.1.Noesgerais
45.5.2.Capacidadeeleitoralativa:aalistabilidade
45.5.3.Acapacidadeeleitoralpassiva:aelegibilidade
45.5.4.Acapacidadeeleitoralpassiva:asinelegibilidadesconstitucionaiseinfraconstitucionais
45.5.5.DireitoboagovernanaeocontroledeconvencionalidadedaLeidaFichaLimpa
45.6.PerdaeSuspensodosdireitospolticos
45.7.Aseguranadaurnaeletrnicaeodireitoaovotoseguro
46.Direitossexuaisereprodutivos
46.1Aproteointernacionaldosdireitossexuaisereprodutivos
46.2Direitolivreorientaosexualeidentidadedegnero
ANEXOESTGIODERATIFICAODOSTRATADOSONUSIANOS(atualizadoat15-10-2016)
REFERNCIAS
APRESENTAODA4EDIO
AelaboraodesteCursofrutodeumlentoamadurecimentodaminhaatuaoacadmicanarea
dosdireitoshumanos.Inicialmente,meusprojetosconcentraram-seemlivrosespecficoseartigos,alm
das aulas e orientaes diversas na Graduao e Ps-Graduao (Especializao, Mestrado e
Doutorado).
Aps mais de vinte anos de docncia universitria (em parte na Faculdade de Direito da
Universidade de So Paulo, onde atualmente leciono), busquei oferecer comunidade acadmica
brasileiraaessnciadeumCurso:umavisogeraldodocentesobreaprpriadisciplina,atualizadae
crtica,semseperdernasuperficialidadeenameracoleooureproduodaquiloqueosoutrosautores
jmencionaram.
EsteCurso de Direitos Humanos tem o propsito de expor, de modo adequado importncia e
complexidadedamatria,osprincipaisdelineamentosnormativoseprecedentesjudiciaisdadisciplina,
paraqueosleitorespossam,depois,aprofundaremumtemaespecfico.
Ametodologiaqueadotei voltadaparao aprendizadoe fixaodoconhecimentoacumuladopor
intermdiode:(i)exposiodotema,(ii)quadrosexplicativosaofinaldecadacaptulo.
O livro est dividido emquatro grandes partes: naprimeiraparte, trato dos aspectos gerais dos
direitos humanos, analisando o conceito, terminologia, fundamentos, desenvolvimento histrico,
classificaesefunes,bemcomoosdireitoshumanosnahistriaeaproteonacionaleinternacional;
nasegundaparte,abordocriticamenteosprincipais tratadosdedireitoshumanoseosmecanismosde
monitoramento;aterceiraparteanalisaotratamentodosdireitoshumanosdeacordocomoordenamento
jurdicobrasileiro, enfocando inclusive a atuaodos rgos doPoderExecutivo (desde aSecretaria
Especial de Direitos Humanos at os Conselhos, com anlise dosProgramas Nacionais de Direitos
Humanos), Poder Legislativo,Ministrio Pblico (daUnio e dos Estados) eDefensoria Pblica (da
UnioedosEstados);naquartaeltimaparte,soestudadososdireitosegarantiasemespcie,com
anlise minuciosa de mais de quarenta tpicos. No final, h um anexo, que contm o estgio das
ratificaesdostratadosonusianos.
Como as quatro partes e anexo comprovam, esteCurso completo e abarca a viso nacional e
internacional dos direitos humanos e seus rgos de proteo, bem como o estudo dos direitos em
espcie, cujo contedo e interpretao tmdesafiadoos estudantes.Almda teoria, aprtica no foi
esquecida:emtodososdireitosemespciemencionooscontornosdoscasosconcretosapreciadospelos
tribunaisdoPas.
MantendoapremissadeatualidadequeembasouaredaoinicialdesteCurso,esta4edioconta
com as ltimas novidades legislativas e jurisprudenciais nacionais (em especial do STF e do STJ) e
internacionais.
Entreosnovostemastratadosnesta4edio,ressaltoaintroduodenovostratadoseresolues,
comooTratadodeMarraquechesobreacessofacilitadoaobraspublicadas(aprovadodeacordocomo
rito especial do art. 5, 3, da CF/88, entrando em vigor em 30 de setembro de 2016); Princpios
orientadoresdaONUsobreEmpresaseDireitosHumanos;DeclaraodeNovaYorksobreMigrantese
Refugiados;RegrasMnimasdasNaesUnidasparaoTratamentodePresos(RegrasNelsonMandela);
RegrasdasNaesUnidasparaoTratamentodeMulheresPresaseMedidasnoPrivativasdeLiberdade
para Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok), Declarao Americana sobre os Direitos dos Povos
Indgenas, entre outros. Esses tratados e normas de soft law tm sido utilizados na jurisprudncia
brasileira e mesmo traduzidos pelo Conselho Nacional de Justia para servir de orientao aos
julgadoresnacionais(casosdasRegrasMandelaeRegrasdeBangkok).
Tambm inclui a anlise de novos diplomas nacionais como a EC n. 90/15, a Lei n. 13.104/15
(feminicdio),aLein.13.344/16(LeideTrficodePessoas),aLein.13.300/16(LeidoMandadode
Injuno),oDecreton.8.858/16(usodealgemas),entreoutros.
Quantoatemaseinovaesjurisprudenciais,analisei,nesta4edio,aexecuoprovisriadapena,
ainconvencionalidadedocrimededesacato,ainjriaracialcomoformaderacismo,aquebradosigilo
bancrio diretamente pela Receita Federal e a nova posio do STF, o uso do Miller-Test e a
obscenidadenajurisprudnciadoSTF,ocrimedepederastianoSTF,ainterrupodagravidezpelo
contgio do vrus Zika, o racismo institucional e a discriminao estrutural, direitos reprodutivos e
sexuais,entreoutrasquestesdedireitoshumanosquechamaramaatenodealunoseoperadoresdo
direitorecentemente.
Aatualidadedaparte jurisprudencial internacional tambmconstadaobra:entreoutrasnovidades,
foramcomentadosnovoscasos,medidasprovisriaseinclusiveopedidodeopinioconsultivasobreo
impeachmentbrasileirode2016naCorteInteramericanadeDireitosHumanos,cujajurisprudnciatem
sidoconstantementeinvocadanoBrasil(eexigidadosestudantes),comosevnocasodaLeidaAnistia
(condenao do Brasil Caso Gomes Lund, 2010), alm das medidas cautelares da Comisso
InteramericanaeosnovosjulgamentosdoTribunalPenalInternacional.
Aproveitei, para essa tarefa, tanto a minha experincia docente (mais de vinte anos no ensino
jurdico) quanto a minha experincia profissional na rea dos direitos humanos. Sou Procurador
RegionaldaRepblica,jtendosidoProcuradorRegionaldosDireitosdoCidadonoEstadodeSo
Paulo.Quis,assim,unirteoriaeprticanadefesadosdireitoshumanos.ExerciafunodeProcurador
Regional Eleitoral doEstado de SoPaulo (2012-2016), omaior colgio eleitoral do Pas e, nessa
atuao,luteipelarealizaodeumDireitoEleitoralinclusivo.
Leciono Direito Internacional Privado e Direitos Humanos na Graduao e na Ps-Graduao da
FaculdadedeDireitodaUniversidadedeSoPaulo,minhaalmamater (USPLargoSoFrancisco,
CAPES6)efuiaprovadonomeuConcursoPblicodeIngressoporunanimidade,comtodososvotos
doscincocomponentesdaBanca.
Registro, ainda, que parte importante da minha viso sobre o aprendizado do ensino jurdico foi
construda pela experincia pessoal: fui aprovado nos rduos concursos pblicos para os cargos de
ProcuradordaRepblica(1lugarnacionalemtodasasprovaspreambular,escritaeorale2lugar
nacionalapsocmputodosttulos),JuizFederalsubstituto(4Regio,1lugar)eaindaProcurador
doEstado(Paran,1lugar).
Para finalizar, agradeo aos que me incentivaram, ao longo dos anos, a continuar lecionando e
escrevendo: meus familiares, colegas do Ministrio Pblico Federal, Magistratura, Defensoria,
Advogadose,acimadetudo,aosmeusqueridosleitoresdetodooBrasil.
PARTEI
ASPECTOSBSICOSDOSDIREITOSHUMANOS
I.
Direitoshumanos:conceito,estruturaesociedadeinclusiva
1.Conceitoeestruturadosdireitoshumanos
Osdireitoshumanosconsistememumconjuntodedireitosconsideradoindispensvelparaumavida
humanapautadana liberdade, igualdadeedignidade.Osdireitoshumanos soosdireitosessenciaise
indispensveisvidadigna.
Nohum rolpredeterminadodesse conjuntomnimodedireitos essenciais aumavidadigna.As
necessidades humanas variam e, de acordo com o contexto histrico de uma poca, novas demandas
sociaissotraduzidasjuridicamenteeinseridasnalistadosdireitoshumanos.
Emgeral,tododireitoexprimeafaculdadedeexigirdeterceiro,quepodeseroEstadooumesmoum
particular, determinadaobrigao. Por isso, os direitos humanos tm estrutura variada, podendo ser:
direito-pretenso, direito-liberdade, direito-poder e, finalmente, direito-imunidade, que acarretam
obrigaes do Estado ou de particulares revestidas, respectivamente, na forma de: (i) dever, (ii)
ausnciadedireito,(iii)sujeioe(iv)incompetncia,comosegue.
Odireito-pretensoconsistenabuscadealgo,gerandoacontrapartidadeoutremdodeverdeprestar.
Nessesentido,determinadapessoatemdireitoaalgo,seoutrem(Estadooumesmooutroparticular)tem
odeverderealizarumacondutaquenovioleessedireito.Assim,nasceodireito-pretenso,como,
porexemplo,odireitoeducaofundamental,quegeraodeverdoEstadodeprest-lagratuitamente
(art.208,I,daCF/88).
Odireito-liberdade consistena faculdadedeagirquegeraaausnciadedireitodequalqueroutro
enteoupessoa.Assim,umapessoa tema liberdadedecredo (art.5,VI,daCF/88), nopossuindoo
Estado(outerceiros)nenhumdireito(ausnciadedireito)deexigirqueessapessoatenhadeterminada
religio.
Por sua vez, odireito-poder implica uma relao de poder de uma pessoa de exigir determinada
sujeio doEstado ou de outra pessoa.Assim, uma pessoa tem opoder de, ao ser presa, requerer a
assistnciadafamliaedeadvogado,oquesujeitaaautoridadepblicaaprovidenciartaiscontatos(art.
5,LXIII,daCF/88).
Finalmente, o direito-imunidade consiste na autorizao dada por uma norma a uma determinada
pessoa,impedindoqueoutrainterfiradequalquermodo.Assim,umapessoaimunepriso,anoser
emflagrantedelitoouporordemescritaefundamentadadeautoridadejudiciriacompetente,salvonos
casosdetransgressomilitaroucrimepropriamentemilitar(art.5,LVI,daCF/88),oqueimpedeque
outrosagentespblicos(como,porexemplo,agentespoliciais)possamalteraraposiodapessoaem
relaopriso.
2.Contedoecumprimentodosdireitoshumanos:rumoaumasociedadeinclusiva
Os direitos humanos representam valores essenciais, que so explicitamente ou implicitamente
retratadosnasConstituiesounos tratados internacionais.A fundamentalidade dos direitos humanos
podeserformal,pormeiodainscriodessesdireitosnoroldedireitosprotegidosnasConstituiese
tratados, oupode sermaterial, sendo consideradoparte integrante dosdireitos humanos aquele que
mesmonoexpressoindispensvelparaapromoodadignidadehumana.
Apesar das diferenas em relao ao contedo, os direitos humanos tm emcomumquatro ideias-
chaves ou marcas distintivas: universalidade, essencialidade, superioridade normativa
(preferenciabilidade)ereciprocidade.
A universalidade consiste no reconhecimento de que os direitos humanos so direitos de todos,
combatendo a viso estamental de privilgios de uma casta de seres superiores. Por sua vez, a
essencialidade implicaqueosdireitoshumanosapresentamvalores indispensveiseque todosdevem
proteg-los. Alm disso, os direitos humanos so superiores a demais normas, no se admitindo o
sacrifcio de um direito essencial para atender as razes de Estado; logo, os direitos humanos
representamprefernciaspreestabelecidasque,diantedeoutrasnormas,devemprevalecer.Finalmente,
areciprocidadefrutodateiadedireitosqueunetodaacomunidadehumana,tantonatitularidade(so
direitosde todos)quantonasujeiopassiva:nohsoestabelecimentodedeveresdeproteode
direitos ao Estado e seus agentes pblicos, mas tambm coletividade como um todo. Essas quatro
ideias tornamosdireitoshumanoscomovetoresdeumasociedadehumanapautadana igualdade e na
ponderaodosinteressesdetodos(enosomentedealguns).
Os direitos humanos tm distintas maneiras de implementao, do ponto de vista subjetivo e
objetivo.Dopontodevista subjetivo, a realizaodosdireitos humanospode ser da incumbncia do
Estadooudeumparticular(eficciahorizontaldosdireitoshumanos,comoveremos)oudeambos,como
ocorrecomodireitoaomeioambiente(art.225daCF/88,queprevqueaproteoambientalincumbe
ao Estado e coletividade). Do ponto de vista objetivo, a conduta exigida para o cumprimento dos
direitoshumanospodeserativa(comissiva,realizardeterminadaao)oupassiva(omissiva,abster-se
derealizar).Haindaacombinaodasduascondutas:odireitovidaacarretatantoacondutaomissiva
quantocomissivaporpartedosagentespblicos:deumlado,devemseabsterdematar(semjustacausa)
e,deoutro,temodeverdeproteo(deao)paraimpedirqueoutremvioleavida.
Uma sociedade pautada na defesa de direitos (sociedade inclusiva) tem vrias consequncias. A
primeira o reconhecimento de que o primeiro direito de todo indivduo o direito a ter direitos.
Arendte,noBrasil,Lafersustentamqueoprimeirodireitohumano,doqualderivamtodososdemais,o
direito a terdireitos*.1NoBrasil, oSTFadotou essa linha aodecidir que direito a ter direitos: uma
prerrogativabsica,quesequalificacomofatordeviabilizaodosdemaisdireitoseliberdades(ADI
2.903,Rel.Min.CelsodeMello,julgamentoem1-12-2005,Plenrio,DJEde19-9-2008).
Umasegundaconsequnciaoreconhecimentodequeosdireitosdeumindivduoconvivemcomos
direitosdeoutros.Oreconhecimentodeumrolamploeaberto(semprepossveladescobertadeum
novo direito humano) de direitos humanos exige ponderao e eventual sopesamento dos valores
envolvidos.Omundodosdireitoshumanosomundodosconflitosentredireitos,comestabelecimento
de limites, preferncias e prevalncias. Basta ameno a disputas envolvendo o direito vida e os
direitosreprodutivosdamulher(aborto),direitodepropriedadeedireitoaomeioambienteequilibrado,
liberdadedeinformaojornalsticaedireitovidaprivada,entreoutrasinmerascolisesdedireitos.
Porisso,nohautomatismonomundodasociedadededireitos.Nobastaanunciarumdireitopara
que o dever de proteo incidamecanicamente. Pelo contrrio, possvel o conflito e coliso entre
direitos,aexigirsopesamentoeprefernciaentreosvaloresenvolvidos.Porisso,nasceanecessidade
de compreendermos como feita a convivncia direitos humanos em uma sociedade de direitos, nos
quais os direitos de diferentes contedos interagem. Essa atividade de ponderao exercida
cotidianamentepelosrgosjudiciaisnacionaiseinternacionaisdedireitoshumanos.
QUADROSINTICO
Conceitoeonovodireitoaterdireitos
Conceitodedireitoshumanos
Conjuntodedireitosconsideradoindispensvelparaumavidahumanapautadanaliberdade,igualdadeedignidade.
Estruturadosdireitoshumanos
Direito-pretenso
direito-liberdade
direito-poder
direito-imunidade
Maneirasdecumprimentodosdireitoshumanos
Pontodevistasubjetivo:
incumbnciadoEstado
incumbnciadeparticular
incumbnciadeambos
Pontodevistaobjetivo:
condutaativa
condutapassiva
Contedodosdireitoshumanos
Representamvaloresessenciais,explcitaouimplicitamenteretratadosnasConstituiesoutratadosinternacionais.
FundamentalidadeFormal(inscriodosdireitosnasConstituiesoutratados)
Material(direitoconsideradoindispensvelparaapromoodadignidadehumana)
Marcasdistintivasdosdireitoshumanos
Universalidade(direitosdetodos);
Essencialidade(valoresindispensveisquedevemserprotegidosportodos);
Superioridade normativa ou preferenciabilidade (superioridade com relao s demaisnormas);
Reciprocidade(sodireitosdetodosenosujeitamapenasoEstadoeosagentespblicos,mastodaacoletividade).
Consequnciasdeumasociedadepautadanadefesadedireitos
Reconhecimentododireitoaterdireitos;
Reconhecimentodequeosdireitosdeumindivduoconvivemcomosdireitosdeoutrosoconflito e a coliso de direitos implicam a necessidade de estabelecimento de limites,prefernciaseprevalncias.
1LAFER,Celso.A reconstruo dos direitos humanos: um dilogo como pensamento deHannahArendt. So Paulo:Cia. dasLetras,1988.
II.
Osdireitoshumanosnahistria
1.Direitoshumanos:fazsentidooestudodasfasesprecursoras?
Nohumpontoexatoquedelimiteonascimentodeumadisciplinajurdica.Pelocontrrio,hum
processo que desemboca na consagrao de diplomas normativos, com princpios e regras que
dimensionam o novo ramo doDireito. No caso dos direitos humanos, o seu cerne a luta contra a
opressoebuscadobem-estardo indivduo;consequentemente,suasideias-ncorassoreferentes
justia, igualdadee liberdade,cujocontedoimpregnaavidasocialdesdeosurgimentodasprimeiras
comunidadeshumanas.Nessesentidoamplo,deimpregnaodevalores,podemosdizerqueaevoluo
histricadosdireitoshumanospassoupor fasesque, ao longodos sculos, auxiliarama sedimentar o
conceitoeoregimejurdicodessesdireitosessenciais.Acontardosprimeirosescritosdascomunidades
humanas ainda no sculo VIII a.C. at o sculo XX d.C., so mais de vinte e oito sculos rumo
afirmao universal dos direitos humanos, que tem como marco a Declarao Universal de Direitos
Humanosde1948.
Assim, paramelhor compreender a atualidade da era dos direitos, incursionamos pelo passado,
mostrandoacontribuiodasmaisdiversasculturasformaodoatualquadronormativoreferenteaos
direitoshumanos.
Porm,nosepodemedirpocasdistantesdahistriadahumanidadecomarguadopresente.Deve-
seevitaroanacronismo,peloqualsoutilizadosconceitosdeumapocaparaavaliaroujulgarfatosde
outra.Essasdiversasfasesconviveram,emsuapocarespectiva,cominstitutosouposicionamentosque
hojesorepudiados,comoaescravido,aperseguioreligiosa,aexclusodasminorias,asubmisso
damulher,adiscriminaocontraaspessoascomdeficinciasdetodosostipos,aautocraciaeoutras
formasdeorganizaodopoderedasociedadeofensivasaoentendimentoatualdaproteodedireitos
humanos.
Por isso, devemos ser cautelosos no estudo de cdigos ou diplomas normativos do incio da fase
escrita da humanidade, ou de consideraes de renomados filsofos da Antiguidade, bem como na
anlisedastradiesreligiosas,quefizeramremissoaopapeldoindivduonasociedade,mesmoque
partedadoutrinaseesforceemtentarconvencerqueaproteodedireitoshumanossempreexistiu.
Narealidade,auniversalizaodosdireitoshumanosumaobraaindainacabada,masquetemcomo
marcoaDeclaraoUniversaldosDireitosHumanosem1948,nofazendosentido transporparaeras
longnquasoentendimentoatualsobreosdireitoshumanoseseuregimejurdico.
Contudo,oestudodopassadomesmoasrazesmaislongnquasindispensvelparadetectaras
regras que j existiram em diversos sistemas jurdicos e que expressaram o respeito a valores
relacionadosconcepoatualdosdireitoshumanos.
Parasistematizaroestudodasfasesanterioresrumoconsagraodosdireitoshumanos,usamosa
prpria Declarao Universal de 1948, para estabelecer os seguintes parmetros de anlise das
contribuies do passado atual teoria geral dos direitos humanos: 1) o indicativo do respeito
dignidade humana e igualdade entre os seres humanos; 2) o reconhecimento de direitos fundado na
prpriaexistnciahumana;3)oreconhecimentodasuperioridadenormativamesmoemfacedoPoderdo
Estadoe,finalmente,4)oreconhecimentodedireitosvoltadosaomnimoexistencial.
2.Afasepr-EstadoConstitucional
2.1. A ANTIGUIDADE ORIENTAL E O ESBOO DA CONSTRUO DEDIREITOS
Oprimeiropasso rumoafirmaodosdireitoshumanos inicia-se jnaAntiguidade2, noperodo
compreendidoentreossculosVIIIeIIa.C.ParaComparato,vriosfilsofostrataramdedireitosdos
indivduos,influenciando-nosatosdiasdehoje:ZaratustranaPrsia,Budanandia,ConfcionaChina
eoDutero-Isaas em Israel.Opontoemcomumentreeles a adoodecdigosdecomportamento
baseadosnoamorerespeitoaooutro3.
Do ponto de vista normativo, h tenuamente o reconhecimento de direitos de indivduos na
codificao de Menes (3100-2850 a.C.), no Antigo Egito. Na Sumria antiga, o Rei Hammurabi da
BabilniaeditouoCdigodeHammurabi,queconsideradooprimeirocdigodenormasdecondutas,
preceituando esboos de direitos dos indivduos (1792-1750 a.C.), em especial o direito vida,
propriedade,honra,consolidandooscostumeseestendendoaleiatodosossditosdoImprio.Chamaa
ateno nesse Cdigo a Lei do Talio, que impunha a reciprocidade no trato de ofensas (o ofensor
deveria receber amesma ofensa proferida). Ainda na regio da Sumria e Prsia, Ciro II editou, no
sculoVI a.C., uma declarao de boa governana, hoje exibida noMuseuBritnico (o Cilindro de
Ciro),que seguiauma tradiomesopotmicadeautoelogiodosgovernantesao seumodode regera
vidasocial.NaChina,nossculosVIeVa.C.,Confciolanouasbasesparasuafilosofia,comnfase
nadefesadoamoraosindivduos.Jobudismo introduziuumcdigodecondutapeloqualsepregao
bemcomumeumasociedadepacfica,semprejuzoaqualquerserhumano4.
2.2.AVISOGREGAEADEMOCRACIAATENIENSE
A herana grega na consolidao dos direitos humanos expressiva. A comear pelos direitos
polticos,ademocraciaatenienseadotouaparticipaopolticadoscidados(comdiversasexcluses,
claro)queseria,aps,aprofundadapelaproteodedireitoshumanos.OchamadoSculodePricles
(sculoVa.C.)testouademocraciadiretaemAtenas,comaparticipaodoscidadoshomensdaplis
greganasprincipaisescolhasdacomunidade.Plato,emsuaobraARepblica (400a.C.),defendeua
igualdadeeanoodobemcomum.Aristteles,naticaaNicmaco5,salientouaimportnciadoagir
comjustia,paraobemdetodosdaplis,mesmoemfacedeleisinjustas6.
AAntiguidadegrega tambmestimuloua reflexosobreasuperioridadededeterminadasnormas,
mesmoemfacedavontadecontrriadopoder.Nessesentido,apeadeSfocles,Antgona (421a.C.,
partedachamadaTrilogiaTebana), retrataAntgona,aprotagonista,esua lutaparaenterrarseu irmo
Polinice,mesmocontraordemdotiranodacidade,Creonte,quehaviapromulgadoumaleiproibindoque
aquelesqueatentassemcontraaleidacidadefossementerrados.ParaAntgona,nosepodecumpriras
leishumanasquesechocaremcomasleisdivinas.OconfrontodevisesentreAntgonaeCreonteum
dospontosaltosdapea.Umadasideiascentraisdosdireitoshumanos,quejencontradanessaobra
de Sfocles, a superioridade de determinadas regras de conduta, em especial contra a tirania e
injustia.
EssaheranadosgregosfoilembradanovotodaMinistraCrmenLcia,naADPF187,julgada
em 15 de julho de 2011: A gora smbolo maior da democracia grega era a praa em que os
cidadosatenienses se reuniamparadeliberaremsobreosassuntosdaplis.A liberdadedos antigos,
para usar a conhecida expresso de Benjamin Constant, era justamente a liberdade de deliberar em
praapblicasobreosmaisdiversosassuntos:aguerraeapaz,ostratadoscomosestrangeiros,votar
as leis,pronunciarassentenas,examinarascontas,osatos,asgestesdosmagistradose tudoomais
queinteressavaaopovo.Ademocracianasceu,portanto,dentrodeumapraa(votodaMinistraCrmen
Lcia,ADPF187,Rel.Min.CelsodeMello,julgamentoem15-6-2011,Plenrio,Informativo631).
2.3.AREPBLICAROMANA
Umacontribuiododireitoromanoproteodedireitoshumanosfoiasedimentaodoprincpio
da legalidade.ALeidasDozeTbuas, aoestipular a lexscripta como regente das condutas, deu um
passonadireodavedaoaoarbtrio.Almdisso,odireitoromanoconsagrouvriosdireitos,comoo
dapropriedade,liberdade,personalidadejurdica,entreoutros.Umpassofoidadotambmnadireodo
reconhecimentodaigualdadepelaaceitaodojusgentium,odireitoaplicadoatodos,romanosouno.
Noplanodas ideias,MarcoTlioCcero retoma a defesa da razo reta (rectaratio), salientando, na
Repblica,queaverdadeiraleialeidarazo,inviolvelmesmoemfacedavontadedopoder.Noseu
De legibus (Sobre as leis, 52 a.C.), Ccero sustentou que, apesar das diferenas (raas, religies e
opinies),oshomenspodempermanecerunidoscasoadotemoviverreto,queevitariacausaromala
outros.
2.4. O ANTIGO E O NOVO TESTAMENTO E AS INFLUNCIAS DOCRISTIANISMOEDAIDADEMDIA
Entreoshebreus,oscinco livrosdeMoiss (Torah)apregoamsolidariedadeepreocupaocomo
bem-estar de todos (1800-1500 a.C.). NoAntigo Testamento, a passagem do xodo clara quanto
necessidade de respeito a todos, em especial aos vulnerveis: No afligirs o estrangeiro nem o
oprimirs, pois vsmesmos fostes estrangeiros no pas do Egito. No afligireis a nenhuma viva ou
rfo. Se o afligires e ele clamar amim escutarei o seu clamor; minha ira se ascender e vos farei
perecer pela espada: vossasmulheres ficarovivas e vossos filhos, rfos (xodo, 22: 20-26).No
LivrodosProvrbios(25:21-22)doAntigoTestamento,estdispostoqueSeteuinimigotemfome,d-
lhe de comer; se tem sede, d-lhe de beber: assim amontoas brasas sobre sua cabea, e Jav te
recompensar.
Ocristianismotambmcontribuiuparaadisciplina:hvriostrechosdaBblia(NovoTestamento)
que pregam a igualdade e solidariedade com o semelhante. A sempre citada passagem de Paulo, na
EpstolaaosGlatas,conclamaqueNohjudeunemgrego;nohescravonemlivre;nohhomem
nemmulher;porquetodosvssoisumemCristoJesus(III,28).Osfilsofoscatlicostambmmerecem
sercitados,emespecialSoTomsdeAquino,que,noseucaptulosobreoDireitonasuaobraSuma
Teolgica (1273),defendeua igualdadedossereshumanoseaplicaojustada lei.Paraaescolstica
aquiniana,aquiloquejusto(idquodjustumest)aquiloquecorrespondeacadaserhumanonaordem
social, oque reverberarno futuro, emespecialnabuscada justia social constantedosdiplomasde
direitoshumanos.
Aomesmotempoemquedefendeuaigualdadeespiritual,ocristianismoconviveu,nopassado,com
desigualdades jurdicas inconcebveis para a proteo de direitos humanos, como a escravido e a
servidodemilhes.Novamente,essaanlisehistrica limita-seaapontarvaloresque, tnuesemseu
tempo,contriburam,aolongodossculos,paraaafirmaohistricadosdireitoshumanos.
2.5. RESUMO DA IDEIA DOS DIREITOS HUMANOS NA ANTIGUIDADE: ALIBERDADEDOSANTIGOSEALIBERDADEDOSMODERNOS
A sntese mais conhecida da concepo da Antiguidade sobre o indivduo foi feita por Benjamin
Constant, no seu clssico artigo sobre a liberdade dos antigos e a liberdade dosmodernos. Para
Constant, os antigos viam a liberdade composta pela possibilidade de participar da vida social na
cidade;josmodernos(elesereferiaaosiluministasdosculoXVIIIepensadoresposterioresdosculo
XIX) entendiam a liberdade como sendo a possibilidade de atuar sem amarras na vida privada.Essa
viso de liberdade na Antiguidade resultou na ausncia de discusso sobre a limitao do poder do
Estado,umdospapistradicionaisdoregimejurdicodosdireitoshumanos.
As normas que organizam o Estado pr-constitucional no asseguravam ao indivduo direitos de
contenoaopoderestatal.Porisso,navisodepartedadoutrina,nohefetivamenteregrasdedireitos
humanosnapocapr-EstadoConstitucional.Porm,essaimportantecrticadoutrinriaquedeveser
realadanoeliminaavaliosainflunciadeculturasantigasnaafirmaodosdireitoshumanos.Como
jmencionadoacima,hcostumese instituiessociaisdas inmerascivilizaesdaAntiguidadeque
enfatizam o respeito a valores que esto contidos em normas de direitos humanos, como a justia e
igualdade.
QUADROSINTICO
Afasepr-EstadoConstitucional
AAntiguidadeOrientaleoesboodaconstruodedireitos
Antiguidade (no perodo compreendido entre os sculos VIII e II a.C.): primeiro passo rumo afirmaodosdireitoshumanos,comaemergnciadevriosfilsofosdeinflunciaatosdiasdehoje(Zaratustra,Buda,Confcio,Dutero-Isaas),cujopontoemcomumfoiaadoodecdigosdecomportamentobaseadosnoamorerespeitoaooutro.
AntigoEgito:reconhecimentodedireitosdeindivduosnacodificaodeMenes(3100-2850a.C.).
Sumriaantiga:ediodoCdigodeHammurabi,naBabilnia(1792-1750a.C.)primeirocdigode normas de condutas, preceituando esboos de direitos dos indivduos, consolidando oscostumeseestendendoaleiatodosossditosdoImprio.
SumriaePrsia:edio,porCiroII,nosculoVIa.C.,deumadeclaraodeboagovernana.
China:nossculosVIeVa.C.,Confciolanouasbasesparasuafilosofia,comnfasenadefesadoamoraosindivduos.
Budismo: introduziuumcdigodecondutapeloqualsepregaobemcomumeumasociedadepacfica,semprejuzoaqualquerserhumano.
Islamismo:prescriodafraternidadeesolidariedadeaosvulnerveis.
Heranagreganaconsolidaodosdireitoshumanos
Consolidao dos direitos polticos, com a participao poltica dos cidados (com diversasexcluses).
Plato,emsuaobraARepblica(400a.C.),defendeuaigualdadeeanoodobemcomum.
Aristteles,naticaaNicmaco,salientouaimportnciadoagircomjustia,paraobemdetodosdaplis,mesmoemfacedeleisinjustas.
Reflexosobreasuperioridadenormativadedeterminadasnormas,mesmoemfacedavontadedopoder.
ARepblicaRomana
Contribuionasedimentaodoprincpiodalegalidade.
Consagraodevriosdireitos,comopropriedade,liberdade,personalidadejurdica,entreoutros.
Reconhecimentodaigualdadeentretodosossereshumanos,emespecialpelaaceitaodojusgentium,odireitoaplicadoatodos,romanosouno.
MarcoTlioCceroretomaadefesadarazoreta(rectaratio),salientando,naRepblica,queaverdadeiraleialeidarazo,inviolvelmesmoemfacedavontadedopoder.
OAntigoeoNovoTestamentoeasinflunciasdocristianismoedaIdadeMdia
CincolivrosdeMoiss(Torah):apregoamsolidariedadeepreocupaocomobem-estardetodos(1800-1500a.C.).
AntigoTestamento:fazmenonecessidadederespeitoatodos,emespecialaosvulnerveis.
Cristianismo contribuiu para a disciplina: h vrios trechos da Bblia (Novo Testamento) quepregamaigualdadeesolidariedadecomosemelhante.
Filsofoscatlicostambmmerecemsercitados,emespecialSoTomsdeAquino.
3.AcrisedaIdadeMdia,inciodaIdadeModernaeosprimeirosdiplomasdedireitoshumanos
NaIdadeMdiaeuropeia,opoderdosgovernanteserailimitado,poiserafundadonavontadedivina.
Contudo, mesmo nessa poca de autocracia, surgem os primeiros movimentos de reivindicao de
liberdades a determinados estamentos, como aDeclarao dasCortes de Leo adotada na Pennsula
Ibrica em 1188 e ainda a Magna Carta inglesa de 1215. A Declarao de Leo consistiu em
manifestaoqueconsagroualutadossenhoresfeudaiscontraacentralizaoeonascimentofuturodo
EstadoNacional.Porsuavez,aMagnaCartaconsistiuemumdiplomaquecontinhaumingrediente
ainda faltante essencial ao futuro regime jurdico dos direitos humanos: o catlogo de direitos dos
indivduoscontra o Estado.Redigida em latim, em 1215 o que explicita o seu carter elitista , a
MagnaChartaLibertatumconsistiaemdisposiesdeproteoaoBaronatoingls,contraosabusosdo
monarcaJooSemTerra(JoodaInglaterra).DepoisdoreinadodeJooSemTerra,aCartaMagnafoi
confirmadavriasvezespelosmonarcasposteriores.Apesardeseufoconosdireitosdaelitefundiria
da Inglaterra, aMagnaCarta traz emseubojo a ideiadegoverno representativo e aindadireitosque,
sculosdepois,seriamuniversalizados,atingindotodososindivduos,entreelesodireitodeirevirem
situaodepaz,direitode ser julgadopelos seuspares (videParte IV, item23.4 sobreoTribunaldo
Jri),acessojustiaeproporcionalidadeentreocrimeeapena.
ComoRenascimentoeaReformaProtestante,acrisedaIdadeMdiadeulugaraosurgimentodos
Estados Nacionais absolutistas europeus. A sociedade estamental medieval foi substituda pela forte
centralizaodopoderna figurado rei.Paradoxalmente,comaerosoda importnciadosestamentos
(Igrejaesenhoresfeudais),surgeaigualdadedetodossubmetidosaopoderabsolutodorei.Squeessa
igualdadenoprotegeuossditosdaopressoeviolncia.Oexemplomaiordessapocadeviolnciae
desrespeitoaosdireitoshumanosfoioextermniodemilhesdeindgenasnasAmricas,apenasalgumas
dcadas aps a chegada deColombo na ilha de SoDomingo (1492).No que no houvesse reao
contrriaaomassacre.HouveclebrepolmicanametadedosculoXVI(1550-1551)naEspanha(ento
grandesenhoradosdomniosnoNovoMundo)entreoFreiBartolomeudeLasCasaseJuanGinsde
Seplveda,ento telogoe juristadoprprioreiespanhol.LasCasasmerecesercitadocomoumdos
notveisdefensoresdadignidadedetodosospovosindgenas,contrariandoaposiodeSeplveda,que
osviacomoinferioresedesprovidosdedireitos.Nasuarplicafinalnessedebatedoutrinriodapoca,
LasCasascondenouduramenteogenocdioindgenaafirmandoqueOsndiossonossosirmos,pelos
quaisCristodeusuavida.Porqueosperseguimossemque tenhammerecido talcoisa,comdesumana
crueldade?O passado, e o que deixou de ser feito, no tem remdio; seja atribudo nossa fraqueza
semprequeforfeitaarestituiodosbensimpiamentearrebatados7.Porsuavez,FranciscodeVitria,
umdosfundadoresdodireitointernacionalmoderno,reconheceuahumanidadedospovosautctonesdas
Amricas,bemcomosustentouaaplicao,emigualdade,dodireitointernacionalnassuarelaescom
osespanhis8.
No sculo XVII, o Estado Absolutista foi questionado, em especial na Inglaterra. A busca pela
limitaodopoder,jincipientenaMagnaCarta,consagradanaPetitionofRightde1628,pelaqual
novamenteobaronato ingls, representadopeloParlamento, estabeleceodever doRei deno cobrar
impostossemaautorizaodoParlamento(notaxationwithoutrepresentation),bemcomosereafirma
quenenhumhomem livrepodia serdetidooupresoouprivadodos seusbens, das suas liberdades e
franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado, a no ser por virtude de
sentena legal dos seus pares ou da lei do pas. Essa exigncia lei da terra consiste em parte
importantedodevidoprocessolegalaserimplementadoposteriormente.
Ainda no sculoXVII, h a edio doHabeasCorpus Act (1679), que formalizou omandado de
proteo judicial aos que haviam sido injustamente presos, existente at ento somente no direito
consuetudinrio ingls (common law). No seu texto, havia ainda a previso do dever de entrega do
mandado de captura ao preso ou seu representante, representando mais um passo para banir as
detenesarbitrrias(aindaumdosgrandesproblemasmundiaisdedireitoshumanosnosculoXXI).
Ainda na Inglaterra, em 1689, aps a chamada Revoluo Gloriosa, com a abdicao do Rei
autocrtico Jaime II ecomacoroaodoPrncipedeOrange,Guilherme III, editadaaDeclarao
InglesadeDireitos,aBillofRights(1689),pelaqualopoderautocrticodosreisinglesesreduzido
de forma definitiva. No uma declarao de direitos extensa, pois dela consta, basicamente, a
afirmaodavontadedaleisobreavontadeabsolutistadorei.Entreseuspontos,estabelece-seque
ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou a execuo de leis, pela autoridade real, sem o
consentimentodoParlamento;quedevemserlivresaseleiesdosmembrosdoParlamentoequea
liberdade de expresso, e debates ou procedimentos no Parlamento, no devem ser impedidos ou
questionadosporqualquertribunaloulocalforadoParlamento.
EmcontinuidadeaojdecididonaRevoluoGloriosa,foiaprovadoem1701oActofSettlement,
queserviutantoparafixardevezalinhadesucessodacoroainglesa(banindooscatlicosromanosda
linhadotronoeexigindodosreisbritnicosovnculocomaIgrejaAnglicana),quantoparareafirmaro
poderdoParlamentoeanecessidadedorespeitodavontadeda lei, resguardando-seosdireitosdos
sditoscontraavoltadatiraniadosmonarcas.
QUADROSINTICO
AcrisedaIdadeMdia,inciodaIdadeModernaeosprimeirosdiplomasdedireitoshumanos
IdadeMdia:poderdosgovernanteserailimitado,poiserafundadonavontadedivina.
Surgimentodosprimeirosmovimentosdereivindicaodeliberdadesadeterminadosestamentos,comoaDeclaraodasCortesdeLeoadotadanaPennsulaIbricaem1188eaMagnaCartainglesade1215.
RenascimentoeReformaProtestante:crisedaIdadeMdiadeulugaraosurgimentodosEstadosNacionaisabsolutistaseasociedadeestamentalmedievalfoisubstitudapelafortecentralizaodopodernafiguradorei.
Comaerosodaimportnciadosestamentos(Igrejaesenhoresfeudais),surgeaideiadeigualdadedetodossubmetidosaopoderabsolutodorei,oquenoexcluiuaopressoeaviolncia,comooextermnioperpetradocontraosindgenasnaAmrica.
SculoXVII:oEstadoAbsolutistafoiquestionado,emespecialnaInglaterra.AbuscapelalimitaodopoderconsagradanaPetitionofRightsde1628.AediodoHabeasCorpusAct(1679)for-
maliza o mandado de proteo judicial aos que haviam sido injustamente presos, existente to somente no direitoconsuetudinrioingls(commonlaw).
1689(apsaRevoluoGloriosa):ediodaDeclaraoInglesadeDireitos,aBillofRights (1689),pelaqualopoderautocrticodosreisinglesesreduzidodeformadefinitiva.
1701: aprovao do Act of Settlement, que enfim fixou a linha de sucesso da coroa inglesa, reafirmou o poder doParlamentoedavontadedalei,resguardando-seosdireitosdossditoscontraavoltadatiraniadosmonarcas.
4.Odebatedasideias:Hobbes,Grcio,Locke,Rousseaueosiluministas
Nocampodasideiaspolticas,ThomasHobbesdefendeu,emsuaobraLeviat(1651),emespecial
noCaptuloXIV,queoprimeirodireitodo serhumanoconsistianodireitodeusar seuprpriopoder
livremente,paraapreservaodesuaprprianatureza,ouseja,desuavida.umdosprimeirostextos
quetrataclaramentedodireitodoserhumano,plenosomentenoestadodanatureza.Nesseestado,o
homemlivredequaisquerrestriesenosesubmeteaqualquerpoder.Contudo,Hobbesconduzsua
anlise para a seguinte concluso: para sobreviver ao estado da natureza, no qual todos esto em
confronto(ohomemseriaolobodoprpriohomem),oserhumanoabdicadessaliberdadeinicialese
submeteaopoderdoEstado(oLeviat).ArazoparaaexistnciadoEstadoconsistenanecessidadede
se dar segurana ao indivduo, diante das ameaas de seus semelhantes. Com base nessa espcie de
contratoentreohomemeoEstado, justifica-seaanttesedosdireitoshumanos,queaexistncia do
Estado que tudo pode. Hobbes admite, ainda, que eventualmente o Soberano (identificado como o
Estado)podeoutorgarparcelasdeliberdadeaosindivduos,desdequequeira.Emsntese,osindivduos
nopossuiriamqualquerproteocontraopoderdoEstado.claroqueessavisodeHobbes,emque
peseaproclamaodeumdireitoplenonoestadodanatureza,odistanciadaproteoatualdedireitos
humanos.
NomesmosculoXVII,outrosautoresdefenderamaexistnciadedireitosparaalmdoestadoda
naturezadeHobbes.Emprimeiro lugar,HugoGrcio,consideradoumdospais fundadoresdoDireito
Internacional,fezinteressantedebatesobreodireitonaturaleosdireitosdetodosossereshumanos.No
seulivroOdireitodaguerraedapaz(1625),Grciodefendeuaexistnciadodireitonatural,decunho
racionalista mesmo semDeus, ousou dizer em pleno sculoXVII , reconhecendo, assim, que suas
normas decorrem de princpios inerentes ao ser humano. Assim, dada mais uma contribuio de
marcajusnaturalistaaoarcabouodosdireitoshumanos,emespecialnoquetangeaoreconhecimento
denormasinerentescondiohumana.
Porsuavez,acontribuiodeJohnLockeessencial,poisdefendeuodireitodosindivduosmesmo
contraoEstado,umdospilaresdocontemporneoregimedosdireitoshumanos.ParaLocke,emsuaobra
Segundo tratado sobre o governo civil (16899), o objetivo do governo em uma sociedade humana
salvaguardarosdireitosnaturaisdohomem,existentesdesdeoestadodanatureza.Oshomens,ento,
decidemlivrementedeixaroestadodanaturezajustamenteparaqueoEstadopreserveosseusdireitos
existentes.DiferentementedeHobbes,nonecessrioqueogovernosejaautocrtico.Pelocontrrio,
para Locke, o grande e principal objetivo das sociedades polticas sob a tutela de um determinado
governoapreservaodosdireitosvida,liberdadeepropriedade.Logo,ogovernonopodeser
arbitrrioeseupoderdeveserlimitadopelasupremaciadobempblico.Nessesentido,osgovernados
teriamodireitodeseinsurgircontraogovernantequedeixassedeprotegeressesdireitos.Almdisso,
LockefoiumdospioneirosnadefesadadivisodasfunesdoPoder,tendoescritoquecomopodeser
muito grandepara a fragilidade humana a tentaode ascender ao poder, no convmque asmesmas
pessoasquedetmopoderde legislar tenhamtambmemsuasmosopoderdeexecutaras leis,pois
elas poderiam se isentar da obedincia s leis que fizeram, e adequar a lei a sua vontade, tanto no
momentodefaz-laquantonoatodesuaexecuo,eelateriainteressesdistintosdaquelesdorestoda
comunidade,contrriosfinalidadedasociedadeedogoverno10.LockesustentouaexistnciadoPoder
Legislativo(nasuaviso,omaisimportante,porrepresentarasociedade),ExecutivoeFederativo,este
ltimo vinculado s atividades de guerra e paz (poltica externa). Quanto ao Judicirio, Locke
considerou-o parte do Poder Executivo, na sua funo de executar as leis. Em sntese, Locke um
expoente do liberalismo emergente, tendo suas ideias influenciado o movimento de implantao do
EstadoConstitucional(comseparaodasfunesdopoderedireitosdosindivduos)emvriospases.
As ideiasdeLockereverberaramespecialmentenosculoXVIII,comaconsolidaodaburguesia
emvriospaseseuropeus.OEstadoAbsolutista,quehaviacomandadoasgrandesnavegaeseoauge
do capitalismo comercial, era, naquele momento, um entrave para o desenvolvimento futuro do
capitalismo europeu, que ansiava por segurana jurdica e limites ao autocrtica (e com isso
imprevisvel)dopoder.
Na Frana, o reformista Abb Charles de Saint-Pierre defendeu, em seu livro Projeto de paz
perptua(1713),ofimdasguerraseuropeiaseoestabelecimentodemecanismospacficosparasuperar
ascontrovrsiasentreosEstadosemumaprecursoraideiadefederaomundial.
Surgiu, ento,oDocontrato social (1762) de Jean-JacquesRousseau, que defendeu uma vida em
sociedadebaseadaemumcontrato(opactosocial)entrehomenslivreseiguais,queestruturamoEstado
parazelarpelobem-estardamaioria.Aigualdadeealiberdadesoinerentesaossereshumanos,que,
com isso, so aptos a expressar sua vontade e exercer o poder. A pretensa renncia liberdade e
igualdadepeloshomensnosEstadosautocrticos(basedopensamentodeHobbes)inadmissvelpara
Rousseau,umavezquetalrennciaseriaincompatvelcomanaturezahumana.
ParaRousseau,portanto,umgovernoarbitrrioeliberticidanopoderiasequeralegarqueteriasido
aceitopelapopulao,poisa renncia liberdadeseriaomesmoque renunciarnaturezahumana.A
inalienabilidadedosdireitoshumanosencontrajecoemRousseau,que,consequentemente,combatea
escravido (aceita por Grcio e Locke, por exemplo). Quanto organizao do Estado, Rousseau
sustentou que os governos devem representar a vontade da maioria, respeitando ainda os valores da
vontade geral, contribuindo para a consolidao tanto da democracia representativa quanto da
possibilidadedesupremaciadavontadegeralemfacedeviolaesdedireitosoriundasdepaixesde
momento da maioria. As ideias de Rousseau esto inseridas no movimento denominado Iluminismo
(traduodapalavraalemAufklrung;osculoXVIIIseriaosculodasluzes),noqualautorescomo
Voltaire,DideroteDAlembert,entreoutros,defendiamousodarazoparadirigirasociedadeemtodos
osaspectos11,questionandooabsolutismoeovisreligiosodopoder(oreicomofilhodeDeus)tidos
comoirracionais.
Por sua vez, Cesare Beccaria defendeu ideias essenciais para os direitos humanos em uma rea
crtica:oDireitoPenal.EmsuaobraDosdelitosedaspenas(1766),Beccariasustentouaexistnciade
limitesparaaaodoEstadonarepressopenal,balizandoojuspuniendicominflunciaatosdiasde
hoje.
Kant,nofinaldosculoXVIII(178512),defendeuaexistnciadadignidade intrnsecaa todoser
racional,quenotempreoouequivalente.Justamenteemvirtudedessadignidade,nosepodetrataro
serhumanocomoummeio,massimcomoumfimemsimesmo.Esseconceitokantianodovalorsuperior
esemequivalentedadignidadehumanaser,depois,retomadonoregimejurdicodosdireitoshumanos
contemporneos, emespecial noque tange indisponibilidade e proibiode tratamentodohomem
comoobjeto.
QUADROSINTICO
Odebatedasideias:Hobbes,Grcio,Locke,Rousseaueosiluministas
ThomasHobbes(Leviat1651):umdosprimeirostextosqueversaclaramentesobreodireitodoserhumano,queainda tratadocomosendoplenonoestadodanatureza.MasHobbesconcluiqueoserhumanoabdicadesua liberdadeinicialesesubmeteaopoderdoEstado(oLeviat),cujaexistnciajustifica-sepelanecessidadedesedarseguranaaoindivduo,diantedasameaasdeseussemelhantes.Entretanto,os indivduosnopossuiriamqualquerproteocontraopoderdoEstado.
HugoGrcio(Daguerraedapaz1625):defendeuaexistnciadodireitonatural,decunhoracionalista,reconhecendo,assim,quesuasnormasdecorremdeprincpiosinerentesaoserhumano.
JohnLocke (Tratadosobreogovernocivil 1689): defendeuo direito dos indivduosmesmo contra oEstado, umdospilaresdocontemporneoregimedosdireitoshumanos.Ograndeeprincipalobjetivodassociedadespolticassobatuteladeumdeterminadogovernoapreservaodosdireitosvida,liberdadeepropriedade.Logo,ogovernonopodeserarbitrrioedeveseupoderserlimitadopelasupremaciadobempblico.
AbbCharlesdeSaint-Pierre(Projetodepazperptua1713):defendeuofimdasguerraseuropeiaseoestabelecimentodemecanismospacficosparasuperarascontrovrsiasentreosEstadosemumaprecursoraideiadefederaomundial.
Jean-JacquesRousseau(Docontratosocial1762):pregaqueavidaemsociedadebaseadaemumcontrato(opactosocial)entrehomens livrese iguais (qualidades inerentesaossereshumanos),queestruturamoEstadoparazelarpelobem-estardamaioria.Umgovernoarbitrrioeliberticidanopoderiasequeralegarqueteriasidoaceitopelapopulao,poisarenncialiberdadeseriaomesmoquerenunciarnaturezahumana,sendoinadmissvel.
CesareBeccaria(Dosdelitosedaspenas1766):sustentouaexistnciadelimitesparaaaodoEstadonarepressopenal,balizandooslimitesdojuspuniendiquereverberamathoje.
Kant (Fundamentao dametafsica dos costumes 1785): defendeu a existncia da dignidade intrnseca a todo serracional,quenotempreoouequivalente.Justamenteemvirtudedessadignidade,nosepodetrataroserhumanocomoummeio,massimcomoumfimemsimesmo.
5.Afasedoconstitucionalismoliberaledasdeclaraesdedireitos
As revolues liberais, inglesa, americana e francesa, e suas respectivasDeclaraes deDireitos
marcaramaprimeiraclaraafirmaohistricadosdireitoshumanos.
AchamadaRevoluoInglesafoiamaisprecoce(veracima),poistemcomomarcosaPetitionof
Right,de1628eoBillofRights,de1689,queconsagraramasupremaciadoParlamentoeoimprioda
lei.
Porsuavez,aRevoluoAmericanaretrataoprocessodeindependnciadascolniasbritnicas
naAmricadoNorte,culminadoem1776,eacriaodaprimeiraConstituiodomundo,aConstituio
norte-americana de 1787. Vrias causas concorreram para a independncia norte-americana, sendo a
defesadasliberdadespblicascontraoabsolutismodoreiumadasmaisimportantes,oquelegitimoua
emancipao.
Nessesentido,foieditadaaDeclaraodoBomPovodeVirgniaem12dejunhode1776(pouco
menosdeummsdadeclaraodeindependncia,em4dejulho):compostapor18artigos,quecontm
afirmaestpicasdapromoodedireitoshumanoscomvisjusnaturalista,como,porexemplo,todos
oshomensso,pornatureza,igualmentelivreseindependentes(artigoI)eaindatodopoderinerente
aopovoe,consequentemente,deleprocede;queosmagistradossoseusmandatrioseseusservidores
e, em qualquer momento, perante ele responsveis (artigo II). A Declarao de Independncia dos
EstadosUnidosde4dejulhode1776(escritaemgrandeparteporThomasJefferson)estipulou,jnoseu
incio,quetodososhomenssocriadosiguais,sendo-lhesconferidospeloseuCriadorcertosDireitos
inalienveis,entreosquais secontamaVida,aLiberdadeeabuscadaFelicidade.Queparagarantir
estes Direitos, so institudos Governos entre os Homens, derivando os seus justos poderes do
consentimento dos governados,marcando o direito poltico de autodeterminao dos seres humanos,
governadosapartirdesualivreescolha.
Curiosamente,aConstituionorte-americanade1787nopossuaumroldedireitos,umavezque
vriosrepresentantesnaConvenodeFiladlfia(queeditouaConstituio)temiamintroduzirdireitos
humanos em uma Constituio que organizaria a esfera federal, o que permitiria a consequente
federalizao de vrias facetas da vida social. Somente em 1791, esse receio foi afastado e foram
aprovadas10Emendasque,finalmente,introduziramumroldedireitosnaConstituionorte-americana.
JaRevoluoFrancesagerouummarcoparaaproteodedireitoshumanosnoplanonacional:a
Declarao Francesa dos Direitos do Homem e do Cidado, adotada pela Assembleia Nacional
Constituintefrancesaem27deagostode1789.ADeclaraoFrancesafrutodeumgirocopernicano
nasrelaessociaisnaFranae, logodepois,emvriospases.OEstadofrancspr-Revoluoera
ineficiente,caroeincapazdeorganizarminimamenteaeconomiademodoaatenderasnecessidadesde
uma populao cada vezmaior.As elites religiosas e da nobreza tambm semostraram insensveis a
qualqueralteraodostatusquocapitaneadapelamonarquia.Esseimpassepolticonacpuladirigente
associado crescente insatisfao popular foi o caldo de cultura para a ruptura, que se iniciou na
autoproclamaodeumaAssembleiaNacionalConstituinte, em junhode1789, pelos representantes
dos Estados Gerais (instituio representativa dos trs estamentos da Frana pr-revoluo: nobreza,
cleroeumterceiroestadoqueaglomeravaagrandeepequenaburguesia,bemcomoacamadaurbana
semposses).Em12dejulhode1789,iniciaram-seosmotinspopularesemParis(capitaldaFrana),que
culminaram,em14dejulhode1789,natomadadaBastilha(prisoquasedesativada),cujaqueda,at
hoje,osmbolomaiordaRevoluoFrancesa.
Em27deagostode1789,aAssembleiaNacionalConstituinteadotouaDeclaraoFrancesados
DireitosdoHomemedosPovos,queconsagrouaigualdadeeliberdadecomodireitosinatosatodosos
indivduos.Oimpactonapocafoiimenso:aboliram-seosprivilgios,direitosfeudaiseimunidadesde
vrias castas, emespecial da aristocracia de terras.O lemados agora revolucionrios era de clareza
evidente:liberdade,igualdadeefraternidade(libert,egalitetfraternit).
ADeclaraoFrancesadosDireitosdoHomemedoCidadoproclamouosdireitoshumanosapartir
de uma premissa que permear os diplomas futuros: todos os homens nascem livres e com direitos
iguais. H uma clara influncia jusnaturalista, pois, j no seu incio, a Declarao menciona os
direitosnaturais,inalienveisesagradosdohomem.Soapenasdezesseteartigos,queacabaramsendo
adotados como prembulo da Constituio francesa de 1791 e que condensam vrias ideias depois
esmiuadas pelas Constituies e tratados de direitos humanos posteriores, como, por exemplo:
soberania popular, sistema de governo representativo, igualdade de todos perante a lei, presuno de
inocncia,direitopropriedade,segurana,liberdadedeconscincia,deopinio,depensamento,bem
comoodeverdoEstadoConstitucionaldegarantirosdireitoshumanos.Essedeverdegarantia ficou
expressonosemprelembradoartigo16daDeclarao,quedispe:Todasociedadeondeagarantiados
direitosnoestassegurada,nemaseparaodospoderesdeterminada,notemConstituio.
Tambm importante marco para o desenvolvimento futuro dos direitos humanos o projeto de
Declarao dos Direitos da Mulher e da Cidad, de 1791, proposto por Olympe de Gouges, que
reivindicoua igualdadededireitosdegnero.Aindaem1791 foi editadaaprimeiraConstituioda
Franarevolucionria,queconsagrouaperdadosdireitosabsolutosdomonarcafrancs,implantando-se
umamonarquiaconstitucional,mas,aomesmotempo,reconheceuovotocensitrio.Em1791,oReiLus
XVI tentou fugir para reunir-se a monarquias absolutistas que j ensaiavam intervir no processo
revolucionrio francs. Aps a invaso da Frana e derrota dos exrcitos austro-prussianos, os
revolucionrios franceses decidem executar o Rei Lus XVI e sua mulher, a RainhaMaria Antonieta
(1793).
Esse contexto de constante luta dos revolucionrios com os exrcitos dasmonarquias absolutistas
europeias impulsionou aRevoluoFrancesa para almdas fronteiras daquele pas, uma vez que os
revolucionriostemiamqueasintervenesestrangeirasnocessariamataderrotadosdemaisEstados
autocrticos.Essedesejode espalhar os ideais revolucionriosdistinguiu aRevoluoFrancesa das
anteriores revolues liberais (inglesa e americana, mais interessadas na organizao da sociedade
local), o que consagrou aDeclarao Francesa dosDireitos doHomem e doCidado como sendo a
primeiracomvocaouniversal.
EsseuniversalismoserograndealicercedafuturaafirmaodosdireitoshumanosnosculoXX,
comaediodaDeclaraoUniversaldosDireitosHumanos.
QUADROSINTICO
Afasedoconstitucionalismoliberaledasdeclaraesdedireitos
Asrevolues liberais, inglesa,americanaefrancesa,esuasrespectivasDeclaraesdeDireitosmarcaramaprimeiraafirmaohistricadosdireitoshumanos.
Revoluo Inglesa: teve como marcos a Petition of Rights, de 1628, que buscou garantir determinadas liberdadesindividuais,eoBillofRights,de1689,queconsagrouasupremaciadoParlamentoeoimpriodalei.
RevoluoAmericana:retrataoprocessodeindependnciadascolniasbritnicasnaAmricadoNorte,culminadoem1776,eaindaacriaodaConstituionorte-americanade1787.Somenteem1791 foramaprovadas10Emendasque,finalmente,introduziramumroldedireitosnaConstituionorte-americana.
RevoluoFrancesa:adoodaDeclaraoFrancesadosDireitosdoHomemedoCidadopelaAssembleiaNacionalConstituintefrancesa,em27deagostode1789,queconsagraaigualdadeeliberdade,quelevouaboliodeprivilgios,direitosfeudaiseimunidadesdevriascastas,emespecialdaaristocraciadeterras.Lemadosrevolucionrios:liberdade,igualdadeefraternidade(libert,egalitetfraternit).
Projeto de Declarao dos Direitos da Mulher e da Cidad: de 1791, proposto por Olympe de Gouges, reivindicou a
igualdadededireitosdegnero.
1791:ediodaprimeiraConstituiodaFranarevolucionria,queconsagrouaperdadosdireitosabsolutosdomonarcafrancs,implantando-seumamonarquiaconstitucional,mas,aomesmotempo,reconheceuovotocensitrio.
DeclaraoFrancesadosDireitosdoHomemedoCidadoconsagradacomosendoaprimeiracomvocaouniversal.Esse universalismo ser o grande alicerce da futura afirmao dos direitos humanos no sculo XX, com a edio daDeclaraoUniversaldosDireitosHumanos.
6.Afasedosocialismoedoconstitucionalismosocial
No final do sculo XVIII, os jacobinos franceses defendiam a ampliao do rol de direitos da
DeclaraoFrancesaparaabarcartambmosdireitossociais,comoodireitoeducaoeassistncia
social.Em1793,osrevolucionriosfranceseseditaramumanovaDeclaraoFrancesadosDireitosdo
HomemedoCidado, redigidacomforteapelo igualdade,comreconhecimentodedireitos sociais
comoodireitoeducao.
Essapercepodanecessidadedecondiesmateriaismnimasdesobrevivnciafoiampliadapela
persistncia damisria,mesmo depois da implantao dos EstadosConstitucionais liberais, como na
InglaterraenaFranaps-revolucionria.Surgem,naEuropadosculoXIX,osmovimentossocialistas
queganhamapoiopopularnosseusataquesaomododeproduocapitalista.
Proudhon,socialistafrancs,fezapeloinflamadorejeiododireitodepropriedadeprivada,que
considerouumroubo,emseulivrode1840,Oqueapropriedade.KarlMarx,naobraAquesto
judaica(1843),questionouosfundamentosliberaisdaDeclaraoFrancesade1789,defendendoqueo
homemnoumserabstrato,isoladodasengrenagenssociais.ParaMarx,osdireitoshumanosatento
defendidos eram focados no indivduo voltado para si mesmo, para atender seu interesse particular
egostico dissociado da comunidade.Assim, no seria possvel defender direitos individuais em uma
realidadenaqualostrabalhadoresemespecialnaindstriaeuropeiaeramfortementeexplorados.Em
1848,MarxeEngelspublicamoManifestodoPartidoComunista,noqualsodefendidasnovasformas
deorganizaosocial,demodoaatingirocomunismo,formadeorganizaosocialnaqualseriadadoa
cada um segundo a sua necessidade e exigido de cada um segundo a sua possibilidade. As teses
socialistas atingiram tambm a igualdade de gnero: August Bebel defendeu, em 1883, que, na nova
sociedade socialista, amulher seria totalmente independente, tanto social quanto economicamente (A
mulhereosocialismo,188313).
So inmeras as influncias da ascenso das ideias socialistas no sculoXIX.No plano poltico,
houvevriasrevoluesmalsucedidas,atoxitodaRevoluoRussaem1917,que,peloseuimpacto
(foi realizadanomaiorpasdomundoem termosgeogrficos), estimulounovosavanosnadefesada
igualdadeejustiasocial.
Noplanodoconstitucionalismo,houveaintroduodoschamadosdireitossociaisquepretendiam
assegurarcondiesmateriaismnimasdeexistnciaemdiversasConstituies,tendosidopioneirasa
ConstituiodoMxico(1917),daRepblicadaAlemanha(tambmchamadadeRepblicadeWeimar,
1919)e,noBrasil,aConstituiode1934.
NoplanodoDireito Internacional, consagrou-se, pelaprimeiravez, umaorganizao internacional
voltadamelhoriadascondiesdostrabalhadores,quefoiaOrganizaoInternacionaldoTrabalho,
criadaem1919peloprprioTratadodeVersaillesquepsfimPrimeiraGuerraMundial.
QUADROSINTICO
Afasedoconstitucionalismosocial
Antecedentes:
FinaldosculoXVIII:prpriosjacobinosfrancesesdefendiamaampliaodoroldedireitosdaDeclaraoFrancesaparaabarcartambmosdireitossociais,comoodireitoeducaoeassistnciasocial.
1793:revolucionriosfranceseseditaramumanovaDeclaraoFrancesadosDireitosdoHomemedoCidado,redigidacomforteapeloigualdade,comreconhecimentodedireitossociaiscomoodireitoeducao.
EuropadosculoXIX:movimentossocialistasganhamapoiopopularnosseusataquesaomododeproduocapitalista.Expoentes:Proudhon,KarlMarx,Engels,AugustBebel.
RevoluoRussa(1917):estimulounovosavanosnadefesadaigualdadeejustiasocial.
IntroduodoschamadosdireitossociaisquepretendiamassegurarcondiesmateriaismnimasdeexistnciaemvriasConstituies,tendosidopioneirasaConstituiodoMxico(1917),daRepblicadaAlemanha(tambmchamadadeRepblicadeWeimar,1919)e,noBrasil,aConstituiode1934.
Plano do Direito Internacional: consagrou-se, pela primeira vez, uma organizao internacional voltada melhoria dascondiesdostrabalhadoresaOrganizaoInternacionaldoTrabalho,criadaem1919peloprprioTratadodeVersaillesquepsfimPrimeiraGuerraMundial.
7.Ainternacionalizaodosdireitoshumanos
Atmeados do sculoXX, oDireito Internacional possua apenas normas internacionais esparsas
referentesacertosdireitosessenciais,comosevnatemticadocombateescravidonosculoXIX,
ou ainda na criao da OIT (Organizao Internacional do Trabalho, 1919), que desempenha papel
importanteathojenaproteodedireitostrabalhistas.Contudo,acriaodoDireitoInternacionaldos
Direitos Humanos est relacionada nova organizao da sociedade internacional no ps-Segunda
GuerraMundial 14.ComomarcodessanovaetapadoDireitoInternacional,foicriada,naConfernciade
So Francisco em 1945, aOrganizao dasNaesUnidas (ONU).O tratado institutivo daONU foi
denominadoCartadeSoFrancisco.
AreaobarbrienazistagerouainserodatemticadedireitoshumanosnaCartadaONU,que
possuivriaspassagensqueusamexpressamenteotermodireitoshumanos,comdestaqueaoartigo
55, alneac, que determina que aOrganizao deve favorecer o respeito universal e efetivo dos
direitoshumanos edas liberdades fundamentaispara todos, semdistinode raa, sexo, lnguaou
religio.Joartigoseguinte,oartigo56,estabeleceocompromissodetodososEstados-membrosde
agiremcooperaocomaOrganizaoparaaconsecuodospropsitosenumeradosnoartigoanterior.
Porm,aCartadaONUnolistouoroldosdireitosqueseriamconsideradosessenciais.Porisso,foi
aprovada, soba formadeResoluodaAssembleiaGeraldaONU,em10dedezembrode1948, em
Paris,aDeclaraoUniversaldeDireitosHumanos(tambmchamadadeDeclaraodeParis),que
contm30artigoseexplicitaoroldedireitoshumanosaceitosinternacionalmente.EmboraaDeclarao
Universal dos Direitos Humanos tenha sido aprovada por 48 votos a favor e sem voto em sentido
contrrio, houve oito abstenes (Bielorssia, Checoslovquia, Polnia, Unio Sovitica, Ucrnia,
Iugoslvia,ArbiaSauditaefricadoSul).HonduraseImennoparticiparamdavotao.
Nosseustrintaartigos,soenumeradososchamadosdireitospolticoseliberdadescivis (artigosI
aoXXI),assimcomodireitoseconmicos,sociaiseculturais(artigosXXIIXXVII).Entreosdireitos
civis e polticos constam o direito vida e integridade fsica, o direito igualdade, o direito de
propriedade, o direito liberdade de pensamento, conscincia e religio, o direito liberdade de
opinioedeexpressoeliberdadedereunio.Entreosdireitossociaisemsentidoamploconstamo
direitoseguranasocial,aotrabalho,odireitolivreescolhadaprofissoeodireitoeducao,
bemcomoo direito aumpadrodevida capazde assegurar a si e a sua famlia sade ebem-estar,
inclusive alimentao, vesturio, habitao, cuidados mdicos e os servios sociais indispensveis
(direitoaomnimoexistencialartigoXXV).
Quantoponderaoeconflitodosdireitos,aDeclaraoUniversaldeDireitosHumanos(DUDH)
prev, em seu artigoXXIX, que toda pessoa temdeveres para com a comunidade e estar sujeita s
limitaes de direitos, para assegurar osdireitos dos outros e de satisfazer s justas exigncias da
moral,daordempblicaedobem-estardeumasociedadedemocrtica.OartigoXXXdeterminaque
nenhumadisposiodaDeclaraopode ser interpretada para justificar ato destinado destruiode
quaisquerdosdireitoseliberdadeslestabelecidos,oquedemonstraqueosdireitosnosoabsolutos.
EmvirtudedeseraDUDHumadeclaraoenoumtratado,hdiscussesnadoutrinaenaprtica
dos Estados sobre sua fora vinculante. Em resumo, podemos identificar trs vertentes possveis: (i)
aquelesqueconsideramqueaDUDHpossuiforavinculanteporseconstituireminterpretaoautntica
do termo direitos humanos, previsto na Carta das Naes Unidas (tratado, ou seja, tem fora
vinculante);(ii)haquelesquesustentamqueaDUDHpossuiforavinculanteporrepresentarocostume
internacional sobre amatria; (iii) h, finalmente, aqueles que defendem que aDUDH representa to
somenteasoftlawnamatria,queconsisteemumconjuntodenormasaindanovinculantes,masque
buscamorientaraaofuturadosEstadosparaque,ento,venhaaterforavinculante.
Do nosso ponto de vista, parte daDUDH entendida como espelho do costume internacional de
proteodedireitoshumanos,emespecialquantoaosdireitos integridadefsica, igualdadeedevido
processolegal 15.
QUADROSINTICO
Afasedainternacionalizaodosdireitoshumanos
CartadaOrganizaodasNaesUnidaseaDeclaraoUniversaldeDireitosHumanos
Nova organizao da sociedade internacional no ps-Segunda Guerra Mundial; fatosanteriores levaram ao reconhecimento da vinculao entre a defesa da democracia e dosdireitoshumanoscomosinteressesdosEstadosemmanterumrelacionamentopacficonacomunidadeinternacional.
ConfernciadeSoFrancisco(abrilajunhode1945):CartadeSoFrancisco.
Declarao Universal de Direitos Humanos (tambm chamada de Declarao de Paris),aprovadasoba formadeResoluodaAssembleiaGeraldaONU,em10dedezembrode1948emParis.
2Todosos textosaquimencionados,salvooutranotaderodapespecfica,constamdaBibliotecaVirtualdeDireitosHumanosdaUSP,nopreciosoacervodeDocumentosHistricos.Disponvelem:.
3COMPARATO,FbioKonder.Aafirmaohistricadosdireitoshumanos.7.ed.SoPaulo:Saraiva,2010.
4GORCZEVSKI,Clvis.DireitoshumanosdosprimrdiosdahumanidadeaoBrasildehoje.PortoAlegre:ImprensaLivre,2005,p.32.
5ARISTTELES.ticaaNicmaco.Introduo,traduoenotasdeAntniodeCastroCaeiro.SoPaulo:Atlas,2009.
6VILLEY,Michel.Direitoeosdireitoshumanos.SoPaulo:MartinsFontes,2007.
7SUESS,Paulo(Org.).AconquistaespiritualdaAmricaespanhola.Petrpolis:Vozes,1992,p.543.
8ConformeensinaPauloBorbaCasellaemsuaindispensvelobrasobreaevoluohistricadoDireitoInternacional,DireitointernacionalnotempomedievalemodernoatVitria.SoPaulo:Atlas,2012,emespecialp.608e619.
9LOCKE,John.Segundotratadosobreogovernocivil: ensaio sobreaorigem,os limiteseos finsverdadeirosdogovernocivil (1689).Trad.MagdaLopeseMarisaLobodaCosta.Petrpolis,RJ:Vozes,1994.
10Pargrafo143.LOCKE,John.Segundotratadosobreogovernocivil:ensaiosobreaorigem,oslimiteseosfinsverdadeirosdogovernocivil(1689).Trad.MagdaLopeseMarisaLobodaCosta.Petrpolis,RJ:Vozes,1994.
11BINETTI,SaffoTestoni. Iluminismo. In:BOBBIO,Norberto;MATEUCCI,Nicola:PASQUINO,Gianfranco (Coords.).Dicionrio depoltica.Trad.JooFerreira.4.ed.Braslia:UnB,1992,v.1,p.605-611.
12KANT,Immanuel.Fundamentaodametafsicadoscostumes(1795).Trad.AntnioPintodeCarvalho.SoPaulo:CompanhiaEditoraNacional,1964.
13ConferiremISHAY,Micheline.Direitoshumanos:umaantologia.Principaisescritospolticos,ensaios,discursosedocumentosdesdeaBbliaatopresente.Trad.FbioJoly.SoPaulo:EDUSP,2006,emespecialp.386.