CURSO DE FILOSOFIAfilosofianreloanda.pbworks.com/f/materialhumberto+Filosofia+1º... · curso de filosofia primeiro ano humberto zanardo petrelli mestre em filosofia pela universidade

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  • CURSO DE FILOSOFIA

    PRIMEIRO ANO

    HUMBERTO ZANARDO PETRELLI

    MESTRE EM FILOSOFIA PELA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    LIMEIRA SO PAULO

    2007

  • - PROGRAMA PARA O PRIMEIRO ANO - DOCENTE RESPONSVEL:

    Humberto Zanardo Petrelli Mestre em Filosofia pela Universidade de So Paulo. [email protected]

    TEMA/NOME DA DISCIPLINA:

    Milagre Grego? O desenvolvimento da razo (lgos) na Antigidade Clssica. OBJETIVOS:

    Estudar os principais pensadores chamados pr-socrticos (625-370 a.C.), a fim de estabelecer uma relao entre o desenvolvimento racional de cada um com o pensamento nascente da poca.

    Aproximar as teorias desenvolvidas por esses pensadores aos nossos dias para questionar a importncia desses pensamentos como um instrumento para desenvolvermos um mundo melhor e mais justo.

    Proporcionar fundamentos tericos relevantes para possibilitar a discusso de qualquer tema ligado Filosofia. Mesclar as teorias estudadas com livros didticos de Filosofia para o Ensino Mdio com o objetivo de estabelecer uma real

    aproximao do contedo pesquisado com questes relevantes de nossa poca, alm de buscar esclarecer qual a principal utilidade da Filosofia: um instrumento para calcularmos e pensarmos com mais rigor. JUSTIFICATIVA: Enquanto documento da Histria da Filosofia, os fragmentos dos pr-socrticos interessam a diversas disciplinas. Este estudo nos leva a questionar como esses seres humanos pensavam os temas essenciais s nossas vidas. CONTEDO E CRONOGRAMA: Curso de um (1) ano, dividido esquematicamente pelas seguintes aulas (1 aula = 45 ou 50 minutos):

    1. Apresentao do curso e o alfabeto grego; 2. Introduo temtica: o nascimento da filosofia; 3. Demcrito de Abdera; 4. Tcnicas de redao;

    5. Tales de Mileto; 6. Anaximandro de Mileto; 7. Anaxmenes de Mileto; 8. Pitgoras de Samos; 9. Xenfanes de Colofo; 10. Herclito de feso; 11. Parmnides de Elia; 12. Zeno de Elia; 13. Empdocles de Agrigento;

    14. Anaxgoras de Clazmenas; 15. Avaliao do curso e encerramento.

    METODOLOGIA DE ENSINO:

    - Aulas expositivas; - Seminrios; - Exerccios extra-sala.

    AVALIAO: - Verificao escrita; - Seminrios; - Trabalhos e participao em sala de aula.

    BIBLIOGRAFIA: PR-SOCRTICOS, Col. Os Pensadores, vol. 1, seleo de textos e superviso do prof. Dr. Jos Cavalcante de Souza, So Paulo,

    Abril Cultural, 1978. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

    CHAUI, M. Filosofia, Srie Novo Ensino Mdio, Volume nico, So Paulo, Editora tica, 2004. CHAUI, M. Introduo Histria da Filosofia dos pr-socrticos a Aristteles, Volume 1, So Paulo, Cia. das Letras, 2002. COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia: Histria e Grandes Temas, So Paulo, Ed. Saraiva, 7a tiragem, 2005. KIRK, G.S., RAVEN, J. E. & SCHOFIELD, M. Os filsofos pr-socrticos, Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1994.

  • NDICE AULA 1 .................................................................................................................................................................................................... ALFABETO GREGO AULA 2 ..................................................................................................................................... A CANA DOS OUTROS DE JOO CABRAL DE MELO NETO AULA 3 ..................................................................................................................................................................................... MITO E FILOSOFIA (PARTE I) AULA 4 ................................................................................................................................................................................... MITO E FILOSOFIA (PARTE II) AULA 5 ........................................................................................................................................................................... DEMCRITO DE ABDERA (PARTE I) AULA 6 ......................................................................................................................................................................... DEMCRITO DE ABDERA (PARTE II) AULA 7 .................................................................................................................... FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE I) AULA 8 ................................................................................................................... FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE II) AULA 9 .................................................................................................................. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE III) AULA 10 ................................................................................................................ FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE IV) AULA 11 ............................................................................................................................................................................................................... EXERCCIO AULA 12 .................................................................................................................................................................. TCNICAS DE CORREO DE REDAO AULA 13 ................................................................................................................. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE V) AULA 14 ................................................................................................................ FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE VI) AULA 15 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 16 ............................................................................................................... FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE VII) AULA 17 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 18 ............................................................................................................................................................................................ PARA QUE FILOSOFIA? AULA 19 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 20 ................................................................................................................................................................... TEORIA DO CONHECIMENTO (PARTE I) AULA 21 .................................................................................................................................................................. TEORIA DO CONHECIMENTO (PARTE II) AULA 22 ................................................................................................................................................................. TEORIA DO CONHECIMENTO (PARTE III) AULA 23 ................................................................................................................................................................. TEORIA DO CONHECIMENTO (PARTE IV) AULA 24 ......................................................................................................................................................................................................... INTIL? TIL? AULA 25 ......................................................................................................................................................................... ALEGORIA DA CAVERNA (PARTE I) AULA 26 ........................................................................................................................................................................ ALEGORIA DA CAVERNA (PARTE II) AULA 27 ...................................................................................................................................................................... ALEGORIA DA CAVERNA (PARTE III) AULA 28 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 29 ....................................................................................................................................................................................... A REFLEXO FILOSFICA AULA 30 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 31 ................................................................................................................................................................................... TALES DE MILETO (PARTE I) AULA 32 .................................................................................................................................................................................. TALES DE MILETO (PARTE II) AULA 33 ................................................................................................................................................................................ TALES DE MILETO (PARTE III) AULA 34 .....................................................................................................................................................................ANAXIMANDRO DE MILETO (PARTE I) AULA 35 ................................................................................................................................................................... ANAXIMANDRO DE MILETO (PARTE II) AULA 36 ........................................................................................................................................................................................ ANAXMENES DE MILETO AULA 37 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 38 ............................................................................................................................................................................................ JEAN DE LA FONTAINE AULA 39 ............................................................................................................................................................................ PITGORAS DE SAMOS (PARTE I) AULA 40 ........................................................................................................................................................................... PITGORAS DE SAMOS (PARTE II) AULA 41 .......................................................................................................................................................................... PITGORAS DE SAMOS (PARTE III) AULA 42 .......................................................................................................................................................................... PITGORAS DE SAMOS (PARTE IV) AULA 43 ........................................................................................................................................................................... PITGORAS DE SAMOS (PARTE V) AULA 44 ..................................................................................................................................................................................................... MEIO AMBIENTE AULA 45 ....................................................................................................................................................................... XENFANES DE COLOFON (PARTE I) AULA 46 ...................................................................................................................................................................... XENFANES DE COLOFON (PARTE II) AULA 47 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 48 ............................................................................................................................................................................. HERCLITO DE FESO (PARTE I) AULA 49 ............................................................................................................................................................................ HERCLITO DE FESO (PARTE II) AULA 50 ....................................................................................................................... FRAGMENTOS SELECIONADOS DE HERCLITO DE FESO (PARTE I) AULA 51 ...................................................................................................................... FRAGMENTOS SELECIONADOS DE HERCLITO DE FESO (PARTE II) AULA 52 .................................................................................................................... FRAGMENTOS SELECIONADOS DE HERCLITO DE FESO (PARTE III) AULA 53 .......................................................................................................................................................... FILOSOFIA: UM PENSAMENTO SISTEMTICO AULA 54 ............................................................................................................................................................................ PARMNIDES DE ELIA (PARTE I) AULA 55 .......................................................................................................................................................................... PARMNIDES DE ELIA (PARTE II) AULA 56 ......................................................................................................................................................................... PARMNIDES DE ELIA (PARTE III) AULA 57 ......................................................................................................................................................................... PARMNIDES DE ELIA (PARTE IV) AULA 58 .......................................................................................................................................................................... PARMNIDES DE ELIA (PARTE V) AULA 59 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 60 .............................................................................................................................. CONDIES HISTRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA AULA 61 ..................................................................................................................................................................................... ZENO DE ELIA (PARTE I) AULA 62 .................................................................................................................................................................................... ZENO DE ELIA (PARTE II) AULA 63 ................................................................................................................................................................................... ZENO DE ELIA (PARTE III) AULA 64 .................................................................................................................................................................................. ZENO DE ELIA (PARTE IV) AULA 65 ......................................................................................................................................................................... FRAGMENTOS DE ZENO DE ELIA AULA 66 ................................................................................................................................................................. EMPDOCLES DE AGRIGENTO (PARTE I) AULA 67 ................................................................................................................................................................ EMPDOCLES DE AGRIGENTO (PARTE II) AULA 68 ............................................................................................................................................................... EMPDOCLES DE AGRIGENTO (PARTE III) AULA 69 .............................................................................................................................................................. EMPDOCLES DE AGRIGENTO (PARTE IV) AULA 70 ............................................................................................................................................................ ANAXGORAS DE CLAZMENAS (PARTE I) AULA 71 ........................................................................................................................................................... ANAXGORAS DE CLAZMENAS (PARTE II) AULA 72 .......................................................................................................................................................... ANAXGORAS DE CLAZMENAS (PARTE III) AULA 73 ............................................................................................................................................................................................................. EXERCCIOS AULA 74 ............................................................................................................................................................................................ FRIEDRICH NIETZSCHE

  • CURSO DE FILOSOFIA

    PRIMEIRO ANO Primeiro Bimestre

    AULA 1. ALFABETO GREGO: alfa (a) beta (b) gama (g) delta (d) psilon (e) zeta/sdeta (z/sd) ta () theta (th) iota (i) kapa (k/c) lambda (l) mi (m)

    ni (n) csi/xi (cs/x) micron (o) pi (p) r (r) sigma (s) tau (t) upsilon/ypsilon (u/y) fi/phi (f/ph) khi (kh/ch) psi (ps) omega ()

    Transliterar do grego para o portugus: Aqhnaj :________________________________________________________________________ Kubernhthj :____________________________________________________________________ Poseidon (Deus do Mar) :__________________________________________________________ iloj :__________________________________________________________________________ anqrwpoj :______________________________________________________________________ qalatta :_______________________________________________________________________ melaina :_______________________________________________________________________ logoj :__________________________________________________________________________ oboj :__________________________________________________________________________ eudwj :________________________________________________________________________ Transliterar do portugus para o grego: Yppopotamos :____________________________________________________________________ dracma :_________________________________________________________________________ nomos :__________________________________________________________________________ acropolis :_______________________________________________________________________ telos :___________________________________________________________________________ patr :___________________________________________________________________________ basileus :________________________________________________________________________ Theous :_________________________________________________________________________

  • AULA 2.

    SERIAL*

    A Jos Lins do Rego**

    A CANA DOS OUTROS 1. Esse que andando planta os rebolos de cana nada do Semeador que se sonetizou. o seu menos um gesto de amor que de comrcio; e a cana, como a joga, no planta: joga fora. 2. Leva o eito o compasso, na limpa, contra o mato, bronco e alheadamente de quem faz e no entende. De quem no entendesse porque s mato este; porque limpar do mato, no, da cana, limp-lo. 3. Num cortador de cana o que se v a sanha de quem derruba um bosque: no o amor de quem colhe. Sanha fria, inimiga, feroz, de quem mutila, de quem sem mais cuidado abre trilha no mato. 4. A gente funerria que cuida da finada nem veste seus despojos: ata-a em feixes de ossos. E quando o enterro chega, coveiro sem maneiras tomba-a na tumba-moenda: tumba viva, que a prensa.***

    Em Serial (1962), Joo Cabral de Melo Neto (1920-1999) apresenta poemas de nfase social. O poeta perde a sua individualidade em funo da composio em srie. Fazer poema um ofcio, um trabalho potico de conteno, com o objetivo de ultrapassar o lirismo e a musicalidade.

    A coletnea est divida em dezesseis conjuntos ou sries, organizadas, por sua vez, em quadras.

    * A palavra sugere a idia de uma poesia

    dessacralizada, que nasce num universo de produo em srie, e sua escolha para o ttulo revela no autor a conscincia do espao sociolgico-cultural em que cria a obra: um espao onde j no cabe uma concepo da arte como atividade sagrada, onde no se enquadra mais a figura do criador envolto numa aura de magia (MARTA DE SENNA, Joo Cabral Tempo e Memria).

    ** A dedicatria ao romancista nordestino

    Jos Lins do Rego (1901-1957) aponta para uma parte dos temas desta coletnea, evocativos da situao social das plantaes de cana-de-acar.

    *** Nas quatro sries deste poema, o

    poeta registra a condio severina do trabalhador dos engenhos e usinas de acar.

    Rebolos: parte da cana-de-acar com dois

    ou mais gomos, usada no plantio. Sonetizar: composio potica de 14 versos,

    dispostos em 2 quartetos e 2 tercetos. Eito: seqncia ou srie de coisas que esto

    na mesma direo ou linha. Limpeza de uma plantao por turmas que usam enxadas.

    Sanha: ira, fria, dio, rancor. Despojos: o que caiu ou se arrancou, tendo

    servido de revestimento.

  • AULA 3. MITO E FILOSOFIA (PARTE I)

    A filosofia nasceu realizando uma transformao gradual sobre os antigos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?

    Mas, o que um mito? Um mito uma narrativa sobre a origem de

    alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da gua, dos ventos, do bem e do mal, da sade e da doena, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raas, das guerras, do poder, etc.).

    A palavra mito vem do grego mqoj, e deriva de dois verbos: do verbo mqew (contar, narrar, falar alguma coisa para os outros) e do verbo mqew (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; uma narrativa feita em pblico, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que est narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.

    Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra o mito sagrada porque vem de uma revelao divina. O mito , pois, incontestvel e inquestionvel.

    Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe?

    De trs principais maneiras: 1. Encontrando o pai e a me das coisas e dos

    seres, isto , tudo o que existe decorre de relaes sexuais entre foras divinas pessoais. Essas relaes geram os demais deuses: os tits (seres semi-humanos e semi-divinos), os heris (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades, como quente-frio, seco-mido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc..

    A narrao da origem , assim, uma genealogia, isto , narrativa da gerao dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que so seus pais ou antepassados.

    Tomemos um exemplo de narrativa mtica. Observando que as pessoas apaixonadas esto

    sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e tambm serem amadas, o mito narra a origem do amor, isto , o nascimento do deus Eros

    (que conhecemos mais com o nome de Cupido), exemplo extrado do Banquete 203a, de Plato:Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava tambm o filho de Prudncia, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pobreza, e ficou na porta. Ora, Recurso, embriagado com o nctar pois o vinho ainda no havia penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Pobreza ento, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu lado e pronto concebe o Amor. Eis por que ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalcio, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque tambm Afrodite bela. E por ser filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a condio em que ele ficou. Primeiramente ele sempre pobre, e longe est de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas duro, seco, descalo e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, s portas e nos caminhos, porque tem a natureza da me, sempre convivendo com a preciso. Segundo o pai, porm, ele insidioso com o que belo e bom, e corajoso, decidido e enrgico, caador terrvel, sempre a tecer maquinaes, vido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrvel mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graas natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como tambm est no meio da sabedoria e da ignorncia. Eis com efeito o que se d.

    2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliana entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre foras divinas ou uma aliana entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens.

    O poeta Homero, na Ilada, epopia que narra a guerra de Tria, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitria cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos lados ou os troianos ou os gregos vencer a batalha.

    A causa da guerra, alis, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o prncipe troiano Pris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu incio guerra entre os humanos.

  • AULA 4. MITO E FILOSOFIA (PARTE II)

    O mito, como estudado na aula anterior, narra a

    origem do mundo e de tudo que existe nele, e a terceira principal maneira de narrao mtica :

    3. Encontrando as recompensas ou os castigos que os deuses do a quem lhes obedece ou a quem lhes desobedece, respectivamente.

    Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, o fogo essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam a cozinhar os alimentos, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno quanto podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.

    Um tit, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os homens. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fgado) e os homens tambm. Qual foi o castigo dos homens?

    Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saram todas as desgraas, doenas, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males do mundo.

    Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianas e relaes sexuais entre foras sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo so genealogias, diz-se que so cosmogonias e theogonias.

    A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennw (engendrar, produzir, gerar, fazer nascer e crescer) e do substantivo gnoj (nascimento, gnese, descendncia, gnero, espcie). Gonia, portanto, quer dizer: gerao, nascimento a partir da concepo sexual e do parto. Cosmos, por sua vez, quer dizer mundo ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia a narrativa sobre o nascimento e a organizao do mundo, a partir de foras geradoras (pai e me) divinas.

    Theogonia uma palavra composta de gonia e qej, que, em grego, significa: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A theogonia , portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.

    A filosofia, ao nascer, uma cosmologia, uma explicao racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformaes e repeties das coisas; para isso, ela nasce de uma transformao gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a theogonia?

    Duas foram as respostas dadas pelos estudiosos.

    A primeira delas foi dada nos fins do sculo XIX e comeo do XX, quando reinava um grande otimismo

    sobre os poderes cientficos e capacidades tcnicas do homem. Dizia-se, ento, que a filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicao cientfica da realidade produzida pelo Ocidente.

    A segunda resposta foi dada a partir de meados do sculo XX, quando os estudos dos antroplogos e dos historiadores mostraram a importncia dos mitos na organizao social e cultural das sociedades e como os mitos esto profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do interior dos prprios mitos, como uma racionalizao deles.

    Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a filosofia, percebendo as contradies e limitaes dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas mticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicao inteiramente nova e diferente.

    Quais so as diferenas entre filosofia e mito? Podemos apontar trs como as mais importantes:

    1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longnquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A filosofia, ao contrrio, preocupa-se em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto , na totalidade do tempo), as coisas so como so.

    2. O mito narrava a origem atravs de genealogias e rivalidades ou alianas entre foras divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrrio, explica a produo natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais.

    O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a filosofia fala em cu, mar e terra. O mito narra a origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento desses seres por composio, combinao e separao dos quatro elementos mido, seco, quente e frio, ou gua, terra, fogo e ar.

    3. O mito no se importava com contradies, com o fabuloso e o incompreensvel, no s porque esses eram traos prprios da narrativa mtica, como tambm porque a confiana e a crena no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A filosofia, ao contrrio, no admite contradies, fabulao e coisas incompreensveis, mas exige que a explicao seja coerente, lgica e racional; alm disso, a autoridade da explicao no vem da pessoa do filsofo, mas da razo, que a mesma em todos os seres humanos.

  • AULA 5.

    DEMCRITO DE ABDERA (cerca de 460-370 a.C.)

    Demcrito nasceu em Abdera (colnia jnica da Trcia). Foi discpulo e sucessor de Leucipo na direo da Escola de Abdera. Do ponto de vista cronolgico, no poderamos colocar Leucipo e Demcrito juntos, pois o primeiro teria sua akm (ponto de maturao filosfica) por volta de 450 a.C. (conforme Apolodoro), enquanto que Demcrito nasceu em 460-459 a.C.. O primeiro era de Mileto, e suas preocupaes eram fundamentalmente cosmolgicas, enquanto o segundo, de Abdera, contemporneo e conterrneo do sofista Protgoras, teve preocupaes ticas e com a tcnica. O motivo pelo qual so colocados juntos a existncia de um nico corpus de doutrina reunido num conjunto de obras, conhecidas como da Escola de Abdera. Atribuem-se-lhe muitas viagens, numa das quais tambm chegou a Atenas. Mas mesmo assim, nesta cidade, sua filosofia foi ignorada por muito tempo.

    Demcrito deve ter sido um dos escritores mais fecundos da antigidade. Segundo Digenes Larcio, deixou umas noventa obras. Restam-nos fragmentos do Mikrs Diaksmos ou Pequeno Ordenamento, Da Forma, Do Entendimento e outras (de contedo terico), Do Bom nimo, Preceitos, etc. (de contedo moral). Pelas fontes, no podemos distinguir com suficiente segurana o que se deve a Demcrito e o que a Leucipo. John Burnet, historiador da filosofia ingls, acreditava que muitas das obras atribudas a Demcrito formavam como que o corpus da Escola. O Mgas Diaksmos ou Grande Ordenamento seria da autoria de Leucipo, de acordo com Teofrasto, enquanto as outras, dos discpulos da Escola.

    considerado o sistematizador da doutrina atomista. Para os atomistas, a natureza (sij) deveria ser idntica a si mesma, eterna e imutvel, e formada de unidades discretas. A natureza (sij) ou o ser, portanto, so os tomos, o no-cortvel, isto , os indivisveis. Os tomos, partculas invisveis e as menores possveis, so plenos, indivisveis, unos, contnuos, imutveis, eternos. H uma quantidade inumervel ou infinita de tomos ou unidades discretas. Entre um tomo e outro h o vazio ou o vcuo, que o no-ser como algo real, existente. Pela primeira vez foi admito o vcuo e afirmou-se que o espao real sem ser corporal. Os atomistas, portanto, acreditavam que a natureza (sij) eram os tomos e o vcuo. O pleno (o tomo) e o vazio so princpios constitutivos de todas as coisas, geradas pelo contato entre os tomos que se movem no vcuo, chocando-se, ricocheteando uns contra os outros, fazendo as coisas nascer, mudar e perecer. Esse movimento espontneo dos tomos inerente a eles (no preciso uma fora externa para mov-los, como o Amor e o dio, em Empdocles, ou o noj, em Anaxgoras) e racional e necessrio, no sendo contingente ou por acaso.

    A diferena entre os tomos no qualitativa, isto , no h tomos frios, quentes, midos, secos, luminosos, escuros, pesados, leves, mas puramente quantitativa, isto , os tomos se diferenciam por sua forma, grandeza, posio, direo e velocidade. Determinam o nascimento das coisas por agregao e a morte delas por desagregao; determinam a ordem do devir ou da mudana pela sua ordem, posio e velocidade. Todos os tomos so dotados de extenso ou grandeza e so todos iguais em substncia, de sorte que as diferenas entre as coisas devem ser explicadas apenas pela forma, arranjo e posio dos tomos. Mantendo a tradio mdica e empedocliana de que s o semelhante age sobre o semelhante e s o semelhante sofre a ao do semelhante, Demcrito afirmou que o contato entre os tomos para formar as coisas se deve ao fato de que so iguais ou semelhantes em sua substncia, pois, de outro modo, no poderiam entrar em contato e agir uns com os outros. Isso significa que a substncia de todas as coisas a mesma e por isso a diferena decorre apenas da forma (ou proporo), do arranjo (ou

    ordem) e da converso (ou posio) da mesma matria fundamental, como vemos com as letras quando A difere de N pela forma; AN e NA diferem pela ordem; e Z e N pela posio.

    Com os atomistas temos, alm de uma cosmologia, uma fsica. De fato, as cosmologias explicam a multiplicidade e variao qualitativa das coisas e da natureza afirmando que as coisas e a natureza so constitudas por qualidades. A diferena na qualidade (quente-frio, seco-mido, luminoso-opaco, duro-mole, denso-sutil, etc.) causa as diferentes coisas; a mudana na qualidade causa a variao e o devir. Ora, os atomistas eliminam as qualidades como originrias. Os tomos no so qualidades, so formas (figura, ordem, posio), so estruturas das coisas, cuja origem e mudana decorrem apenas dos movimentos dos tomos no vcuo.

    Qual seria a relao entre o pensamento, que conhece os tomos e o vcuo (invisveis, no percebidos por nossos sentidos), e a percepo ou sensao, que alcana as coisas por meio de suas qualidades? A fsica atomista responder a essa pergunta com uma teoria do conhecimento revolucionria, exposta por Demcrito.

    Aparentemente, Demcrito estaria apenas reafirmando aquilo que, desde Herclito e Parmnides, j estava decidido pelos filsofos pr-socrticos, isto , que no conhecemos a realidade ou a verdade por meio de nossos sentidos, pois estes nos do a aparncia das coisas e com elas apenas formamos opinies. Todavia, Demcrito foi muito alm de seus antecessores.

    Os fragmentos afirmam que as qualidades (quente-frio, doce-amargo, luminoso-escuro, cores, sabores, odores, texturas das coisas, etc.) so uma conveno entre os homens. Conveno (nmoj) aquilo que no por natureza (shi), mas por opinio e por acordo entre os homens. A percepo das qualidades das coisas subjetiva, isto , depende das disposies do corpo de cada um, varia com as variaes do corpo (para o doente, o doce pode tornar-se amargo, por exemplo), de tal modo que diferentes homens tero diferentes percepes das coisas, e um mesmo homem, dependendo das disposies de seu corpo, ter percepes diferentes de uma mesma coisa. Essas qualidades, os filsofos posteriores chamaro de qualidades sensveis, para marcar com essa expresso a idia de que no so qualidades das coisas, mas modos subjetivos ou humanos de perceber as coisas.

    Mas, por que percebemos cores, odores, sabores, formatos, texturas, tamanhos, aspereza, dureza, etc.? Qual a causa da percepo das qualidades? As diferenas nas formas dos tomos, que provocam o efeito perceptivo ou subjetivo de qualidades. Assim, o azedo decorre da forma angulosa de certos tomos; o doce, de tomos cujas formas so arredondadas e pequenas; o amargo, de tomos cujas formas so pequenas, lisas e redondas; e assim para cada qualidade. Dependendo da quantidade ou proporo maior de uma forma sobre as outras num composto, nosso corpo afetado por essa forma predominante e percebe, como qualidade, a sensao correspondente a essa forma. Como, porm, os corpos so compostos de tomos de vrias formas, nosso corpo pode confundi-las e, por isso, dependendo de nosso estado, podemos sentir amargo o que era doce, quente o que era frio, e assim por diante. As sensaes e os pensamentos dependem, portanto, objetivamente das formas dos tomos e subjetivamente das disposies de nosso corpo. apenas por conveno que os homens decidem o que uma qualidade ou outra, porque, por natureza, elas no existem. As qualidades percebidas so nomes que damos ao que percebemos indiretamente da realidade atmica. Damos o nome de azedo percepo de tomos angulosos; de doce, de tomos arredondados e pequenos, etc..

  • AULA 6. DEMCRITO DE ABDERA (PARTE II)

    Como se d a percepo e como ocorre o pensamento.

    Para os atomistas, todo conhecimento, seja ele sensvel ou intelectual, se d por contato. As coisas emitem imagens, pelculas ou membranas muito finas, que guardam o aspecto das coisas de onde vieram, atravessam o ar e se chocam com nosso corpo. Esse choque a causa da percepo. O pensamento, por sua vez, recebe por contato as imagens mais finas e sutis, produzidas dentro de ns pelas sensaes. Ou seja, o pensamento no recebe imagens externas vindas dos corpos, mas as imagens internas que a sensao ou percepo produziram no interior de nosso corpo. Essas imagens, que so menores, tm uma clareza e preciso maiores, convidam o pensamento e o orientam a pensar o que invisvel, isto , o pleno e o vazio, os tomos e suas formas, ordenaes e posies. Assim, do conhecimento obscuro que os sentidos nos oferecem, o pensamento retira o conhecimento genuno, mais fino e preciso.

    Porque tudo matria (tomos), porque a percepo contato material entre os corpos, porque a alma um tipo sutil de tomo e porque o pensamento o contato material com as imagens da percepo que permanecem guardadas em nosso corpo, os atomistas so considerados os primeiros filsofos materialistas. Essa designao, porm, incorreta e anacrnica por dois motivos: em primeiro lugar, porque, at Scrates e Plato, nenhum filsofo admitiu outra realidade seno a corprea (o lgoj de Herclito, o Ser de Parmnides, o Amor-dio de Empdocles, o noj de Anaxgoras so todos corpreos, ainda que sua corporeidade no seja igual dos corpos que percebemos pelos sentidos); em segundo lugar, porque os atomistas foram os primeiros filsofos a afirmar a existncia do vazio e, portanto, de uma realidade (o espao) no corporal ou imaterial.

    Em geral, quando se diz que so materialistas, o que se quer dizer que no invocam nenhuma fora externa aos tomos ( matria) para explicar a origem do movimento e do devir. Na verdade, a designao dos atomistas como materialistas tardia. Foi usada como uma crtica aos partidrios dos tomos por uma cultura que, pouco a pouco, dar maior peso, maior importncia e maior realidade ao espiritual, entendido como algo diferente e superior ao corporal. Essa , sem dvida, a razo pela qual Plato, contemporneo de Demcrito, no o

    menciona em nenhuma de suas obras, manifestando desprezo pelo materialismo dos pensadores de Abdera.

    Uma das contribuies mais duradouras do pensamento de Demcrito sua defesa e elogio das tcnicas ou artes. Numa sociedade escravista, como a grega, os trabalhos manuais eram deixados aos escravos ou aos artesos livres, considerados inferiores pelos aristocratas. At a consolidao da democracia, as artes ou tcnicas (tcnai) eram vistas com desprezo. Com a democracia, porm, outra viso das artes surge na plis, que passou a dividi-las em manuais (como a pintura, a escultura, a arquitetura, a medicina) e liberais (como a oratria, a poesia, a tragdia, etc.).

    Que fez Demcrito? Abandonando as explicaes mticas sobre a origem do homem e da sociedade, afirma que, no princpio, o mundo humano no tinha ordem nem lei. Como o mundo dos animais selvagens que vivem isolados nas florestas, o mundo humano era cheio de medo e de morte. Pouco a pouco, os homens perceberam a utilidade da vida em comum e da ajuda mtua. O medo os levou a compreender a utilidade da reunio para a defesa recproca. Tambm o medo os fez explicar a natureza como obra e interveno contnua dos deuses, isto , sentindo necessidade de explicar as causas das coisas, inventaram os deuses e a eles atriburam a origem das coisas e das tcnicas, doadas aos humanos.

    Todavia, no s a reunio e a religio que caracterizam a primeira ordenao do mundo humano. Existiu algo mais fundamental, que foi a condio para que os homens se reunissem e a religio aparecesse: a descoberta da linguagem. Linguagem e religio foram as primeiras invenes que propiciaram aos homens o sentimento da estabilidade, regularidade e repetio dos acontecimentos. Esse sentimento e a capacidade da linguagem de permitir a reteno de fatos na memria criaram a experincia, isto , a capacidade para intervir sobre os acontecimentos de modo regular, estvel e contnuo. Com a experincia, surgiram as tcnicas, e, com elas, a vida em sociedade foi finalmente organizada.

    Voz, mos e razo, respondendo s carncias e necessidades dos homens, permitiram a inveno das artes ou tcnicas. As tcnicas, portanto, so consideradas por Demcrito no um dom dos deuses aos homens, mas descobertas humanas. Os homens descobriram que no bastava rezar para conseguir frutos, mas era preciso lavrar a terra (descobriram a agricultura). Descobriram que no bastava rezar para conseguir abrigo, mas era preciso constru-lo (inventaram a arquitetura). Que no bastava rezar aos deuses para curar as doenas, mas era preciso conhecer suas causas e os modos de atuar sobre elas (criaram a medicina). Que no bastava ter filhos para assegurar a continuidade da vida, mas era preciso educ-los (inventaram a pedagogia). Que no bastava viverem reunidos para haver sociedade, mas era preciso leis e instituies (inventaram a poltica). Linguagem e tcnicas so, assim, responsveis pela vida humana dos humanos. Embora atribussem aos deuses suas prprias invenes e criaes, os humanos se fizeram humanos por si mesmos e graas a si mesmos.

    Foi proverbial na antiguidade o sorriso contnuo de Demcrito.

  • AULA 7. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE I): 2. gnetai d k to ronen tra tata bouleesqai kalj, lgein namarttwj ka prttein

    de.

    Tm origem no saber estas trs coisas: deliberar bem, falar sem erros e fazer o que preciso.

    D. d tumologn t nom [sc. Tritogneia] hsin, ti p tj ronsewj tra tata sumbanei t e logzesqai, t e lgein ka t prttein de.

    Demcrito, porm, ao dar a etimologia da palavra [Tritognia], diz que da sabedoria surgem estas trs coisas: o calcular bem, o falar bem e o fazer o que preciso.

    9. nmwi gr hsi gluk, [ka] nmwi pikrn, nmwi qermn, nmwi ucrn, nmwi croi, tei d

    toma ka kenn ... [136] mej d ti mn nti odn trekj sunemen, metappton d kat te smatoj diaqkhn ka tn peisintwn ka tn ntisthrizntwn.

    Por conveno, (Demcrito) diz, existe o doce e por conveno o amargo, por conveno o quente, por

    conveno o frio, por conveno a cor; na realidade, porm, tomos e vazio ... [136] Ns, porm, realmente nada de preciso apreendemos, mas em mudana, segundo a disposio do corpo e das coisas que nele penetram e chocam.

    11. gnmhj d do esn dai, mn gnhsh, d skoth ka skothj mn tde smpanta, ij,

    ko, dm, gesij, asij. d gnhsh, pokekrimnh d tathj. tan skoth mhkti dnhtai mte rn p latton mte koein mte dmsqai mte geesqai mte n ti asei asqnesqai, ll p leptteron .

    H duas formas de conhecimento, um genuno, outro obscuro. Ao conhecimento obscuro pertencem, no seu conjunto, vista, audio, olfato, paladar e tato. O conhecimento genuno, porm, est separado daquele. (...) Quando o obscuro no pode ver com maior mincia, nem ouvir, nem sentir cheiro e sabor, nem perceber pelo tato, mas preciso procurar mais finamente, ento apresenta-se o genuno, que possui um rgo de conhecimento mais fino. (...)

    31. atrik mn gr kat Dhmkriton smatoj nsouj ketai, soh d ucn paqn airetai.

    Segundo Demcrito, a medicina cura as doenas do corpo, a sabedoria livra a alma das paixes. 33. sij ka didac paraplsin sti. ka gr didac metarusmo tn nqrwpon,

    metarusmosa d usiopoie.

    A natureza e a instruo so algo semelhante, pois a instruo transforma o homem, mas, transformando-o, cria-lhe a natureza.

  • AULA 8. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE II): 35. gnwmwn meu tnde e tij paoi xn nwi, poll mn rxei prgmat ndrj gaqo

    xia, poll d lara oc rxei.

    Quem escutar de mim estas sentenas com inteligncia, realizar muitos atos dignos de um homem e no realizar muitos atos vis.

    37. t ucj gaq aremenoj t qeitera aretai d t skneoj t nqrwpia.

    Quem escolhe os bens da alma, escolhe os divinos; quem escolhe os do corpo, escolhe os humanos.

    39. gaqn enai cren mimesqai.

    preciso ou ser bom ou imitar quem o . 40. ote smasin ote crmasin edaimonosin nqrwpoi, ll rqosnhi ka

    polurosnhi. No pelo corpo, nem pela riqueza que os homens so felizes, mas pela retido e muita sabedoria.

    41. m di bon, ll di t don pcesqai marthmtwn.

    No por medo, mas por dever, evitai os erros.

    45. dikn to dikoumnou kakodaimonsteroj.

    Quem comete injustia mais infeliz que o que sofre injustia.

    50. crhmtwn pantelj sswn ok n pote eh dkaioj. Quem fosse totalmente submisso ao dinheiro jamais poderia ser justo. 51. scurteroj j peiq lgoj pollaci gnetai cruso.

    Para a persuaso a palavra freqentemente mais forte que o ouro. 52. tn omenon non cein nouqetwn mataiopone.

    Quem adverte aquele que pensa ser inteligente, trabalha em vo. 55. rga ka prxiaj retj, o lgouj, zhlon crein.

    Obras e aes de virtude, no palavras, preciso invejar.

  • AULA 9. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE III): 57. kthnwn mn egneia to skneoj esqneia, nqrpwn d to qeoj etroph.

    A boa natureza dos animais a fora do corpo; a dos homens, a excelncia do carter. 59. ote tcnh ote soh iktn, n m mqhi tij.

    Nem arte, nem sabedoria algo acessvel, se no h aprendizado. 66. probouleesqai kresson pr tn prxewn metanoen.

    Deliberar previamente antes de agir melhor que arrepender-se. 69. nqrpoij psi twtn gaqn ka lhqj d d llwi llo.

    Para todos, o belo e o verdadeiro so a mesma coisa, mas o agradvel diferente para cada um. 72. a per ti sodra rxeij tulosin ej tlla tn ucn.

    Desejar algo violentamente cega a alma para o restante. 78. crmata porzein mn ok creon, x dikhj d pntwn kkion.

    Conseguir bens no sem utilidade, mas, atravs da injustia, o pior de tudo. 79. calepn mimesqai mn toj kakoj, mhd qlein d toj gaqoj.

    triste imitar os maus e no querer imitar os bons. 80. ascrn t qnea polupragmononta gnoen t okia.

    vergonhoso ocupar-se muito das coisas alheias e ignorar as prprias. 81. t e mllein telaj poie tj prxiaj.

    O sempre adiar toma sem fim as aes. 82. kbdhloi ka gaqoanej o lgwi mn panta, rgwi d odn rdontej.

    Falsos e bons na aparncia os que de boca fazem tudo, mas nada na realidade. 84. wutn prton ascnesqai cren tn ascr rdonta.

    preciso que quem comete atos vergonhosos tenha em primeiro lugar vergonha de si mesmo.

  • AULA 10. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE IV): 91. m poptoj prj pantaj, ll elabj gnou ka salj.

    No sejas desconfiado com todos, mas cuidadoso e seguro. 92. critaj dcesqai cren proskopeumenon krssonaj atn moibj podonai.

    Deve-se receber favores com a inteno de corresponder com outros maiores. 94. mikra critej n kairi mgistai toj lambnousi.

    Pequenos favores prestados no momento oportuno so os maiores para quem os recebe. 96. caristikj oc blpwn prj tn moibn, ll e drn prohirhmnoj.

    Benfeitor no quem visa retribuio, mas quem optou pela boa ao. 97. pollo dokontej enai loi ok es, ka o dokontej esn.

    Muitos, embora paream bons amigos, no so e, embora no paream, so. 98. nj ilh xuneto krsswn xuntwn pntwn.

    A amizade de um s homem inteligente melhor que a de todos os tolos. 102. kaln n pant t son perbol d ka lleiij o moi dokei.

    Em tudo belo o equilbrio, mas no, parece-me, o excesso e a carncia. 106. n etuchi lon eren eporon, n d dustuchi pntwn portaton.

    Na fortuna, encontrar um amigo fcil, mas, no infortnio, a coisa mais difcil. 107a. xion nqrpouj ntaj p nqrpwn sumoraj m geln, ll loresqai.

    coisa digna, sendo homem, no rir dos infortnios dos homens, mas chor-los. 112. qeou no t e ti dialogzesqai kaln.

    prprio de inteligncia divina sempre discutir algo belo. 113. megla blptousi toj xuntouj o painontej.

    Causam grandes prejuzos os que louvam os tolos. 129. ren qea nontai.

    Com a mente pensam coisas divinas. 145. lgoj gr rgou ski.

    Pois a palavra sombra da ao.

  • NOME: ___________________________________________________________________ N: ______ SRIE: _______.

    DATA: _____/_____/_____.

    AULA 11.

    EXERCCIO:

    Desenvolva uma redao, utilizando no mnimo quinze (15) linhas, com o seguinte tema:

    Os limites de minha linguagem denotam os limites de meu mundo.

    Ludwig Wittgenstein, Tratactus Lgico-Philosophicus, 5.6.

    1.______________________________________________________________________________

    ________________________________________________________________________________

    ________________________________________________________________________________

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    5.______________________________________________________________________________

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    10._____________________________________________________________________________

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    15._____________________________________________________________________________

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    20._____________________________________________________________________________

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  • AULA 12.

    TCNICAS DE CORREO DE REDAO: PONTUAO

    I. CORRESPONDNCIA COM O TEMA PROPOSTO:

    1. No h nenhuma correspondncia entre o texto e o tema proposto. 0

    2. Abordagem superficial do tema. 0,5

    3. Abordagem adequada do tema, com desenvolvimento ingnuo. 1,0

    4. Abordagem adequada do tema, com bom desenvolvimento. 1,5

    5. Abordagem adequada do tema, com timo desenvolvimento e contribuio pessoal. 2,0

    II. CORRESPONDNCIA DO TEXTO COM A MODALIDADE REDACIONAL PEDIDA/ESCOLHIDA:

    1. No h nenhuma correspondncia entre o tipo de texto produzido e a modalidade redacional solicitada/pedida. 0

    2. Fuga parcial ao tipo de texto (alguns/graves problemas/mistura de modalidade textuais). 0,5

    3. Atende ao tipo de texto, porm sem explorao de seus recursos. 1,0

    4. Atende ao tipo de texto, com alguma explorao de seus recursos. 1,5

    5. Apresenta bom/timo aproveitamento de todos os recursos do tipo de texto. 2,0

    III. ADEQUAO COLETNEA:

    1. H desprezo total aos fragmentos de texto oferecidos. 0

    2. Utilizao dos fragmentos, porm com transcrio literal de trechos. 0,5

    3. Utilizao dos fragmentos, mas com abordagem simplria/de aspectos secundrios. 1,0

    4. Utilizao dos fragmentos, com correta interpretao dos dados neles apresentados. 1,5

    5. Utilizao dos fragmentos, com correta interpretao e aprofundamento da abordagem. 2,0

    IV. COERNCIA:

    1. Exposio totalmente desconexa de idias e argumentos. 0

    2. Exposio predominantemente desconexa de idias e argumentos. 0,5

    3. Pouca coerncia interna: 1,0

    A Trechos obscuros/idias contraditrias ou ambguas.

    B Quebra de relao entre idias.

    C Falhas de coeso.

    4. Texto coerente, porm sem sofisticao das relaes de sentido. 1,5

    5. Exposio coerente de idias e argumentos, com sofisticao das relaes de sentido (enfoque inovador). 2,0

    V. COESO:

    1. Muitos/Graves problemas de coeso, impedindo a fluncia da leitura. 0

    2. Muitas falhas de encadeamento (repetio excessiva de itens, frases incompletas ou emendas, falta de paralelismo). 0,5

    3. No h deficincias graves, entretanto mantm o uso das conjunes mais conhecidas e utiliza poucos recursos pronominais.

    Algum problema na estruturao frasal. 1,0

    4. Bom uso dos elementos coesivos e transies adequadas entre as idias. 1,5

    5. Boa transio entre os pargrafos e recursos que beneficiam o texto. 2,0

    VI. LINGUAGEM (DOMNIO DA LNGUA ESCRITA NA VARIEDADE PADRO):

    1. Insuficincia vocabular e graves inadequaes gramaticais. 0

    2. Variedade vocabular deficiente, interferncia de oralidade, inadequaes gramaticais. 0,5

    3. Variedade vocabular, entretanto h falha em propriedade vocabular e na adequao gramatical. 1,0

    4. Adequao gramatical e vocabular. 1,5

    5. Alm de adequao gramatical, h variedade e propriedade vocabular, com uso pessoal do lxico. 2,0

    A) Ortografia; B) Concordncia; C) Acentuao; D) Pontuao; E) Adequao Pronominal; F) Regncia; G) Adequao Verbal.

    TOTAL

    Obs.: ______

    1. O item III s ser avaliado se for obrigatria a utilizao de fragmentos;

    2. Pontuao zero em um dos primeiros itens implica em nota final zero.

  • AULA 13.

    FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE V): 154. gelooi d swj smn p ti manqnein t zia semnnontej, n D. poanei maqhtj n toj

    megstoij gegontaj mj rcnhj n antiki ka kestiki, celidnoj n okodomai, ka tn ligurn, kknou ka hdnoj, n idi kat mmhsin.

    Talvez sejamos ridculos quando nos vangloriamos de ensinar os animais. Deles, prova Demcrito, somos discpulos nas coisas mais importantes: da aranha no tecer e remendar, da andorinha no construir casas, das aves canoras, cisne e rouxinol no cantar, por meio da imitao.

    174. mn equmoj ej rga piermenoj dkaia ka nmima ka par ka nar carei te ka rrwtai ka

    nakhdj stin j d n ka dkhj logi ka t cr nta m rdhi, totwi pnta t toiata terpeh, tan teu namnhsqi, ka ddoike ka wutn kakzei.

    Quem de boa vontade se lana a obras justas e lcitas, dia e noite est alegre, seguro e despreocupado; mas, quem no faz conta da justia e no realiza o que preciso, entedia-se com coisas tais, quando se lembra de alguma delas, sente medo e atormenta-se a si mesmo.

    175. o d qeo tosi nqrpoisi didosi tgaq pnta ka plai ka nn. pln ksa kak ka blaber

    ka nwela, tde d o plai ote nn qeo nqrpoisi dwrontai, ll ato tosdesin mpelzousi di no tulthta ka gnwmosnhn.

    Os deuses do aos homens todos os bens, tanto antigamente quanto agora. Apenas as coisas quantas so ms, prejudiciais e inteis, os deuses no do aos homens nem antigamente, nem agora, mas so eles prprios que as procuram por cegueira da mente e insensatez.

    177. ote lgoj sqlj alhn prxin maurskei ote prxij gaq lgou blashmhi lumanetai.

    Um discurso nobre no encobre uma ao m, nem uma ao boa enxovalhada por uma calnia. 178. pntwn kkiston epeteh paidesai tn nethta ath gr stin tktei tj donj tataj, x n

    kakthj gnetai.

    O pior de todos os males a leviandade no educar a juventude, pois ela que gera aqueles prazeres de que nasce a perversidade.

    179. xwtikj m ponen padej nintej ote grmmat n mqoien ote mousikn ote gwnhn od per

    mlista tn retn suncei, t adesqai mla gr k totwn ile ggnesqai adj.

    Se as crianas tivessem liberdade de no trabalhar, nem as letras aprenderiam, nem a msica, nem as lutas, nem o sentimento de honra que a principal condio para a virtude, pois sobretudo desses estudos que costuma nascer o sentimento de honra.

    186. morosnh ilhn poie.

    Acordo no pensar engendra amizade. 187. nqrpoij rmdion ucj mllon smatoj lgon poiesqai ucj mn gr telethj skneoj

    mocqhrhn rqo, skneoj d scj neu logismo ucn odn ti menw tqhsin.

    Para os homens mais acertado dar valor alma que ao corpo, pois, se a perfeio da alma corrige a maldade do corpo, a fora do corpo, sem inteligncia, em nada faz melhor a alma.

  • AULA 14. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE VI): 189. riston nqrpwi tn bon digein j plesta equmhqnti ka lcista nihqnti. toto d n eh, e

    tij m p toj qnhtosi tj donj poioto.

    O melhor para o homem levar a vida com o mximo de nimo e o mnimo de desnimo. Isso aconteceria, se no se baseassem os prazeres nas coisas mortais.

    190. alwn rgwn ka toj lgouj paraithton.

    De obras vis deve-se afastar tambm as palavras. 194. a meglai treij p to qesqai t kal tn rgwn gnontai.

    Os grandes prazeres nascem do contemplar as belas obras. 195. edwla sqti ka ksmwi diaprepa prj qewrhn, ll kardhj kene.

    Imagens belas de se ver pelas vestes e adornos, mas vazias de corao. 200. nomonej biosin o terpmenoi bioti.

    Insensatos vivem sem tirar prazer da vida. 207. donn o psan, ll tn p ti kali aresqai cren.

    No todo prazer, mas o que est no belo preciso escolher. 211. swrosnh t terpn xei ka donn pimezona poie.

    O comedimento multiplica as alegrias e faz maior o prazer. 213. ndreh tj taj mikrj rdei.

    A coragem faz pequenos os golpes do destino. 214. ndreoj oc tn polemwn mnon, ll ka tn donn krsswn. nioi d polwn mn despzousi,

    gunaix d douleousin.

    Corajoso no apenas quem supera os inimigos, mas quem supera tambm os prazeres. Alguns so senhores nas cidades, mas so escravos de mulheres.

    223. n t sknoj crizei, psi prestin emarwj ter mcqou ka talaipwrhj ksa d mcqou ka

    talaipwrhj crizei ka bon lgnei, totwn ok meretai t sknoj, ll tj gnmhj kakoqigh.

    As coisas de que o corpo precisa esto disposio de todos facilmente, sem pena e sofrimento; tudo quanto precisa de pena e sofrimento e torna dolorosa a vida no o corpo que deseja, mas a m constituio do pensamento.

    225. lhqomuqein cren, o polulogein.

    preciso falar a verdade; no, falar muito.

  • NOME: ___________________________________________________________________ N: ______ SRIE: _______.

    DATA: _____/_____/_____.

    AULA 15.

    EXERCCIOS:

    1. Copie as letras maisculas e minsculas do alfabeto grego, em ordem. D o nome de cada uma das letras e indique qual a sua correspondente no nosso abecedrio.

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    2. O que o poema A cana dos outros de Joo Cabral de Melo Neto, da maneira como constri a

    linguagem, expressa por si mesmo? Pode-se notar alguma relao entre este poema e vida das pessoas em geral? Justifique sua resposta.

    ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • AULA 16. FRAGMENTOS SELECIONADOS DE DEMCRITO DE ABDERA (PARTE VII): 231. egnmwn m lupemenoj osin ok cei, ll carwn osin cei.

    Sensato quem no sofre pelo que no tem, mas se alegra pelo que tem. 241. pnoj sunecj larteroj auto sunhqehi gnetai.

    O trabalho continuado torna-se mais leve com o hbito. 242. plonej x sksioj gaqo gnontai p sioj.

    Mais numerosos so os que vm a ser bons pelo exerccio do que pela natureza. 244. alon, kn mnoj ij, mte lxhij mt rgshi mqe d pol mllon tn llwn seautn

    ascnesqai.

    Nada de vil, mesmo que estejas sozinho, fales ou faas. Aprende a respeitar mais a ti que aos outros. 247. ndr soi psa g bat ucj gr gaqj patrj xmpaj ksmoj.

    Para o homem sbio toda a terra acessvel, pois o mundo inteiro ptria da alma boa. 256. dkh mn stin rdein t cr nta, dikh d m rdein t cr nta, ll paratrpesqai.

    Justia fazer o que preciso; injustia, no fazer o que preciso, mas deix-lo de lado.

    267. sei t rcein okon ti krssoni.

    Por natureza o governar pertence ao mais forte. 272. j gambro mn pitucn eren un, d potucn plese ka qugatra.

    Quem teve sorte com o genro, encontrou um filho; quem no a teve, perdeu tambm uma filha. 284. n m polln piqumhij, t lga toi poll dxei smikr gr rexij penhn sosqena plotwi

    poiei.

    Se no cobiares muitas coisas, as poucas julgars muitas, pois o pequeno apetite faz a pobreza equivalente riqueza.

    291. penhn pieikwj rein swronontoj.

    Suportar com brandura a pobreza prprio do homem sensato. 295. grwn noj gneto, d noj dhlon e j graj xetai t tleion on gaqn to mllontoj

    ti ka dlou krsson.

    O velho foi jovem, mas, quanto ao jovem, incerto se ele chegar velhice. Portanto, o bem realizado vale mais que o que est ainda por vir e incerto.

  • NOME: ___________________________________________________________________ N: ______ SRIE: _______.

    DATA: _____/_____/_____.

    AULA 17.

    EXERCCIOS:

    1. Translitere as seguintes palavras do grego para o portugus:

    aporia :_________________________________________________________________________ gunh :__________________________________________________________________________ didaskaloj :____________________________________________________________________ dunamij :________________________________________________________________________ exainhj :_______________________________________________________________________ eurhka :________________________________________________________________________ kealh :________________________________________________________________________ megaj :__________________________________________________________________________ nouj :___________________________________________________________________________ praxij :_________________________________________________________________________ 2. Transliterar as seguintes palavras do portugus para o grego: politikos :________________________________________________________________________ sfrn :__________________________________________________________________________ Aplln :________________________________________________________________________ psych :_________________________________________________________________________ kalos :___________________________________________________________________________ xenos :__________________________________________________________________________ mythos :_________________________________________________________________________ nik :___________________________________________________________________________ 3. A partir dos fragmentos de Demcrito de Abdera vistos em aula, escolha e copie cinco (5)

    fragmentos e responda o por qu de sua escolha.

    ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • AULA 18. PARA QUE FILOSOFIA?

    Ora, muitos fazem esta pergunta: afinal, para que filosofia?

    uma pergunta interessante. No vemos nem ouvimos ningum perguntar, por exemplo, para que matemtica ou fsica, para que geografia ou geologia, para que histria ou sociologia, para que biologia ou psicologia, para que astronomia ou qumica, para que pintura, literatura, msica ou dana? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: para que filosofia?

    Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irnica, conhecida dos estudantes de filosofia: a filosofia uma cincia com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual. Ou seja, a filosofia no serve para nada. Por isso, costuma-se chamar de filsofo algum sempre distrado, com a cabea no mundo da Lua, pensando e dizendo coisas que ningum entende e que so perfeitamente inteis.

    Essa pergunta: para que filosofia?, tem a sua razo de ser.

    Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa s tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prtica, muito visvel e de utilidade imediata.

    Por isso, ningum pergunta para que as cincias, pois todo mundo imagina ver a utilidade das cincias nos produtos da tcnica, isto , na aplicao cientfica realidade.

    Todo mundo tambm imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte quanto porque nossa cultura v os artistas como gnios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade. Ningum, todavia, consegue ver para que serviria a filosofia, donde dizer-se: no serve para nada.

    Parece, porm, que o senso comum no percebe algo que os cientistas sabem muito bem. As cincias pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graas a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, atravs de instrumentos e objetos tcnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.

    Ora, todas essas pretenses das cincias pressupem que elas acreditam na existncia da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicao prtica de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeioados.

    Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relao entre teoria e prtica, correo e acmulo de saberes: tudo isso no cincia, so questes filosficas. O cientista parte delas como questes j respondidas, mas a filosofia que formula e busca respostas para elas.

    Assim, o trabalho das cincias pressupe, como condio, o trabalho da filosofia, mesmo que o cientista no seja filsofo. No entanto, como apenas os cientistas e filsofos sabem disso, o senso comum continua afirmando que a filosofia no serve para nada.

    Para dar alguma utilidade filosofia, muitos consideram que, de fato, a filosofia no serviria para nada se servir fosse entendido como a possibilidade de fazer usos tericos dos produtos filosficos ou dar-lhes utilidade econmica, obtendo lucros com eles; consideram tambm que a filosofia nada teria a ver com a cincia e a tcnica.

    Para quem pensa dessa forma, o principal para a filosofia no seriam os conhecimentos (que ficam por conta da cincia) nem as aplicaes de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral e tico. A filosofia seria a arte do bem-viver. Estudando as paixes e os vcios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razo para impor limites aos nossos desejos e paixes, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que o princpio do bem-viver.

    Essa definio da filosofia, porm, no nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou tica, ou uma arte do bem-viver, a filosofia continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraosas: o que o homem?; o que a vontade?; o que a paixo?; o que a razo?; o que o vcio?; o que a virtude?; o que a liberdade?; como nos tornamos livres, racionais e virtuosos?; por que a liberdade e a virtude so valores para os seres humanos?; o que um valor?; por que avaliamos os sentimentos e aes humanas?

    Assim, mesmo se dissssemos que o objeto da filosofia no o conhecimento da realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se dissssemos que o objeto da filosofia apenas a vida moral ou tica, ainda assim o estilo filosfico e a atitude filosfica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosficas o que, por que e como permanecem.

  • NOME: ___________________________________________________________________ N: ______ SRIE: _______.

    DATA: _____/_____/_____.

    AULA 19.

    EXERCCIOS: 1. O que o mito? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. Quem narra o mito? E por qu? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. Qual a diferena entre mito e filosofia? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. Tem sentido perguntar: para que filosofia? Por que a filosofia diferente dos outros tipos de

    conhecimento e de aes? Justifique sua resposta. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • CURSO DE FILOSOFIA

    PRIMEIRO ANO Segundo Bimestre

    AULA 20. TEORIA DO CONHECIMENTO (PARTE I)

    No livro VI da Repblica, Plato (427-347 a.C.) faz uma exposio de sua teoria do conhecimento, demonstrando a separao e diferena entre o sensvel e o inteligvel, cada qual com seus modos de conhecer hierarquicamente distribudos. Os modos ou graus de conhecimento agora vo sendo separados uns pelos outros, num caminho ascendente ou ascencional. Plato apresenta os modos ou graus de conhecimento distribudos em um diagrama dividido em duas partes desiguais, isto , uma delas maior do que a outra. A parte dita inferior chamada de o visvel (corresponde ao mundo sensvel) e menor do que a parte dita superior, chamada de invisvel (corresponde ao mundo inteligvel). A primeira parte o mundo fsico e tico percebido por intermdio da aparncia sensvel das coisas; a segunda parte o mundo das idias puras, apreendido exclusivamente pelo pensamento. Assim, a cada modo ou grau de conhecimento corresponder um tipo de objeto ou de coisa, de tal maneira que, em cada um deles, o filsofo nos mostra qual a ao cognitiva realizada pelo corpo e pela alma (ou s pela alma, nos modos ou graus superiores) e quais so os objetos correspondentes a cada uma dessas atividades cognitivas. O inteligvel tem uma extenso muito maior do que o sensvel, ou seja, a separao platnica das duas esferas de conhecimento e de realidade introduz uma diferena de extenso entre elas, o que pode ser visto se usarmos uma figura proposta por Plato e conhecida com o nome de smile/imagem da linha: A_________________G__________________________________B SENSVEL INTELIGVEL

    AB = TOTALIDADE DA REALIDADE AG = SENSVEL GB = INTELIGVEL

    Agora, devemos incluir uma diviso em cada um dos mundos,

    correspondente a diferentes modos de conhecimento de cada um deles: A_____D___________G__________E_______________________B IMAGEM OPINIO RACIOCNIO INTUIO INTELECTUAL

    Plato estabelece uma proporo entre esses quatro modos de conhecimento, segundo a extenso de cada um deles, ou seja, a extenso da imagem menor do que a da opinio, no mundo sensvel, de tal maneira que a imagem est para a opinio assim como o raciocnio est para a intuio intelectual:

    AD/DG = GE/EB

    Plato designa o conhecimento por imagens com o termo ekasa;

    e por opinio, pstij e dxa. Designa o conhecimento por raciocnios dedutivos ou demonstrativos, isto , o pensamento discursivo, com o termo dinoia; e a intuio intelectual, nhsij. Assim, AD a ekasa; DG a pstij/dxa; GE a dinoia; e EB a nhsij. O smile da linha tambm costuma ser representado por diagrama, no qual se v a distncia entre cada um dos modos de conhecimento e os objetos correspondentes a cada um deles, notando-se que a extenso do inteligvel maior do que a do sensvel e que a distncia entre a dxa e a dinoia maior do que entre a ekasa e a dxa e do que entre a dinoia e a nhsij. A distncia entre a dxa e a dinoia menor do que entre a dinoia e a nhsij porque o conhecimento por raciocnio ainda opera com dados provenientes da sensao e da opinio:

    nhsij; pistmh: intuio intelectual ou cincia intuitiva; edoj ou idia.

    dinoia: raciocnio ou pensamento discursivo; matemtica. pstij ou dxa: crena e opinio; coisas/objetos sensveis. ekasa: imagens das coisas sensveis, cpias.

    O PRIMEIRO GRAU o simulacro ou a simulao, a ekasa, palavra da mesma raiz de ekj (imagem, cone), indicando aquelas coisas que so apreendidas numa percepo de segunda mo, isto , so as cpias ou as imagens de uma coisa sensvel, como os reflexos no espelho ou na gua, as narrativas dos poetas, as pinturas, as esculturas e as imagens na memria. Esse primeiro nvel ou modo de conhecer costuma ser chamado pelos comentadores de imaginao, entendida como conhecimento por imagens, as quais so cpias da coisa sensvel. Assim, a poesia, a pintura, a escultura, a retrica pertencem a esse nvel mais baixo do conhecimento porque nos oferecem uma imagem da coisa sensvel e no a prpria percepo da coisa sensvel. A ekasa uma conjetura feita a partir dos reflexos e das cpias das coisas sensveis.

    ekasa: representao, imagem, conjetura, comparao. O verbo ekzw significa: representar, desenhar os traos, retratar, pintar a imagem, comparar uma coisa com outra semelhante, conjeturar sobre uma coisa a partir de outra. O verbo ekw significa: ser semelhante, assemelhar, parecer, ter o ar de. Da mesma raiz vem ekoj: cone, imagem (retrato, pintura, escultura), imagem refletida no espelho, simulacro, fantasma. Para Plato, as coisas sensveis so como o ekoj e por isso o grau mais baixo do conhecimento a ekasa. O SEGUNDO GRAU a pstij (crena) ou a dxa (opinio), isto , a confiana ou f que depositamos na sensao e na percepo ou a opinio que formamos a partir das sensaes e do que ouvimos dizer. um conhecimento necessrio para o uso da vida cotidiana, tendo por objeto as coisas naturais, os seres vivos, os artefatos, etc.. a opinio acreditada sem verificao; conhecimento que no foi demonstrado nem provado, mas passivamente aceito por ns pelo testemunho de nossos sentidos, por nossos hbitos e tambm pelos costumes nos quais fomos educados. uma crena que se conserva enquanto funcionar na prtica da vida cotidiana ou enquanto uma outra, mais forte, no a contradisser ou a puser em dvida. Varia de pessoa para pessoa, de sociedade para sociedade, de poca para poca. subjetiva tanto porque depende das condies de nosso corpo e de nossa alma durante as sensaes como tambm porque adquirida por costume ou por conveno, podendo mudar se mudarem os costumes e as convenes.

    pstij: f, confiana em algum, dar crdito, ter por verdadeiro em virtude da f, crena ou confiana; meio de inspirar confiana ou f.

    dxa: opinio, crena, reputao (isto , boa ou m opinio sobre algum), suposio, conjetura. Esta palavra possui dois sentidos diferentes por ser usada em dois contextos diferentes: o contexto poltico, no qual foi usada inicialmente, e o contexto filosfico, a partir de Parmnides e Plato. Deriva-se do verbo dokw, que significa: 1) tomar o partido que se julga mais adequado para uma situao; 2) conformar-se a uma norma estabelecida pelo grupo; 3) escolher, decidir, deliberar e julgar segundo os dados oferecidos pela situao e segundo a regra ou norma estabelecida pelo grupo. Era este o seu sentido na assemblia dos guerreiros que deu origem assemblia poltica, na democracia. Como a escolha e deciso se davam a partir do que era percebido, dito e convencionado pelo grupo, dxa ganha tambm o sentido de uma modalidade de conhecimento e, agora, articula-se ao verbo doxzw, que significa: ter uma opinio sobre algumas coisas, crer, conjeturar, supor, imaginar, adotar opinies comumente admitidas. neste segundo sentido que dxa pode ter o sentido pejorativo de conhecimento falso, preconceito, conjetura sem fundamento, sem conveno, arbitrria.

  • AULA 21. TEORIA DO CONHECIMENTO (PARTE II)

    O TERCEIRO GRAU a dinoia, palavra composta de di, diviso, separao, distino, e noa, vinda do verbo now, compreender pelo pensamento. o raciocnio, que separa e distingue argumentos ou razes para realizar deduo ou demonstrao; o raciocnio discursivo ou aquele que opera por etapas sucessivas de arranjo e disposio de argumentos para chegar a uma concluso justificada. A dinoia o conhecimento dos objetos matemticos (aritmtica, geometria, estereometria, msica ou harmonia, astronomia, tudo quanto se refere a estruturas proporcionais estveis e conhecidas pela razo). As matemticas surgem, assim, como um tipo de conhecimento que nos permite passar da aparncia das coisas (imagens e crena-opinio) a um primeiro contato da inteligncia com a essncia delas. Mas ainda no so o modo superior de conhecimento ou filosofia. Duas de suas caractersticas principais explicam por que no so elas o ponto mais alto do conhecimento. Em primeiro lugar, o matemtico precisa representar ou ilustrar sensivelmente seu objeto por meio de linhas, pontos, traos, superfcies, volumes e diagramas; embora seu objeto seja puramente ideal e no material, para compreend-lo o matemtico ainda precisa recorrer a representaes sensveis ou a imagens. Em segundo, cada ramo das matemticas comea pela admisso de princpios no questionados nem demonstrados, isto , axiomas, postulados e definies, cuja verdade assumida sem que sua causa seja conhecida. Os matemticos partem de certas afirmaes ou suposies que funcionam como princpios indemonstrveis de suas demonstraes (par, mpar, ngulo, ponto, linha, comprimento, largura, altura, volume, figura, o todo maior que as partes, a linha constituda por pontos, a reta a menor distncia entre dois pontos, o tringulo tem trs lados, no crculo as extremidades so eqidistantes do centro, etc.). Em outras palavras, a dinoia o pensamento que opera hipoteticamente, por raciocnios que concluem de modo correto e verdadeiro a partir de definies e de premissas no demonstradas, isto , de hipteses ( o conhecimento que, sculos mais tarde, ser denominado hipottico-dedutivo). No entanto, as matemticas tm lugar proeminente na teoria dos graus do conhecimento por vrias razes. Antes de mais nada, porque embora representem sensorialmente nmeros, figuras e operaes, os matemticos sabem que as imagens empregadas no so os prprios objetos matemticos conhecidos pelo pensamento distinguem, portanto, sensao e inteligncia. Alm disso, os objetos matemticos, ao contrrio das coisas sensveis e de seus simulacros, no esto submetidos ao fluxo do devir ou ao movimento, mas permanecem idnticos a si mesmos e no toleram a contradio as matemticas, portanto, ensinam a exigncia intelectual ou lgica da identidade, da no-contradio e da concordncia do pensamento consigo mesmo. Eis por que Plato as considera cincias despertadoras ou o passo decisivo para superar os graus inferiores do conhecimento e alcanar o grau mais alto.

    dinoia/dianhsij: raciocnio, pensamento que opera

    por inferncia ou por etapas at chegar concluso verdade