38
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE BELAS ARTES CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL MANUELA BRITTO TABOADA CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA CONSTRUÇÃO DE MARCA SISTEMA DE IDENTIDADE CORPORATIVA SALVADOR 2004

CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE BELAS ARTES

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL

MANUELA BRITTO TABOADA

CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA CONSTRUÇÃO DE MARCA SISTEMA DE IDENTIDADE CORPORATIVA

SALVADOR 2004

Page 2: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

2

MANUELA BRITTO TABOADA

OCEANOGRAFIA UFBA:

CONSTRUÇÃO DE MARCA, IMAGEM E IDENTIDADE.

Projeto apresentado ao Curso de Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual, Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual. Área de concentração: Identidade Corporativa Orientador: Prof. Ricardo Guimarães Co-orientador: Prof. Dr. Guilherme Lessa

SALVADOR

2004

Page 3: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

3

Resumo

Uma marca bem elaborada contribui para a geração de uma identidade sólida e uma imagem

coerente com as reais motivações de uma instituição. As organizações educacionais possuem

características intrínsecas bastante diferenciadas dos outros tipos de organização, principalmente

no que diz respeito aos seus públicos internos e externos. Consequentemente devem lidar com a

questão do desenvolvimento de marcas de uma forma também diferenciada. Este trabalho

investiga a metodologia tradicional de criação, desenvolvimento e implantação de sistemas de

identidade visual e propõe algumas alterações nesta metodologia, permitindo aos públicos

relacionados à instituição, maior envolvimento no processo de criação e estabelecimento da sua

marca / identidade.

A implantação do novo curso de Oceanografia da UFBA oferece uma oportunidade de

investigação e experimentação destas novas estratégias. Além de investigar as questões teóricas,

este trabalho desenvolve, através de uma metodologia participativa, uma marca para o novo curso

de Oceanografia da UFBA, assim como delimita algumas estratégias visuais para o seu sistema de

identidade visual. Foram utilizadas enquêtes entre os diferentes públicos como método de

participação destes nas decisões relativas às soluções visuais obtidas. Dessa forma procurou-se

alinhar os princípios e filosofias do curso às variadas expectativas e modelos mentais dos três

públicos diretamente com ele envolvidos – o público discente (atual e potencial), docente e

empresarial.

A realização destas avaliações abertas se por um lado trouxeram problemas técnicos a serem

resolvidos pelo designer, por outro refletiram a preferência estética da maioria dos participantes e

celebraram o processo democrático em uma atividade tipicamente tão centralizadora.

Page 4: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

4

Abstract

A well-developed brand helps to establish a solid identity and creates support to an image that is

coherent to the actual motivations in an institution. Educational institutions have inherent

characteristics that are diverse from the other sort of institutions, mainly when the focus is set on

its internal and external publics. Consequently, these institutions should deal with the

development of their brand and identity system also in a different approach. This research aims

to investigate the traditional methodology for brand and identity systems development and

proposes some modifications in order to allow a broader inclusion of the stakeholders in the

process.

The implementation of the new Oceanography Course in the Federal University of Bahia

(UFBA) offered a unique opportunity to investigate and test these new strategies. In order to

investigate and relate the image, identity, interaction and experience concepts through a

participative methodology, this research project applies the new suggested strategies in the

development of a brand and an identity system for the Oceanography Course in UFBA.

Open surveys have been carried out between the alumni, lecturers and coordination body, in

order to discover and establish a symbol for the course. The statistic analysis of the surveys’

results showed clear aesthetic preferences to some icons and colours to represent the course. The

participative methodology celebrated, in this project, a democratization of the generally expert-

centred brand development process.

Page 5: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

5

Agradecimentos

A meus pais e Leo, por terem sempre sido ecológicos em todos os sentidos, inclusive respeitando

a minha natureza, minhas escolhas e me ajudando no aprendizado de sempre.

A Leo Dutra por possibilitar encontros muitos importantes: com a biologia, com o mar de uma

forma profunda, com o amor, com novos e velhos amigos e com a Oceanografia da UFBA.

A Guilherme Lessa e Ricardo Guimarães, meus dois orientadores, sempre presentes, pacientes

bem humorados, mantendo os faróis acesos e o barco no rumo certo!

A Geraldo, professor de sociologia, por me fazer perceber a ecologia de forma filosófica e a

perceber que alguém já tinha pensado meus pensamentos.

À minha amiga e professora Adriana Valadares, por me fazer entender o design e estar sempre

pronta para dar o estímulo necessário para começar.

Page 6: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

6

“Faça tudo, busque o impossível,

mas, meu amigo,

respeite o mar.

O sábio marinheiro sabe que

ele jamais venceu uma tormenta,

apenas e tão somente apenas,

foi o mar que deixou

ele passar.”

De Hélio do Vagabundo para Amyr Klynk do Paratii in: “Paratii: entre dois pólos”, Amyr Klink, 1998

Page 7: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

7

Sumário

INTRODUÇÃO................................................................................................................... 9

PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................10

1. MARCAS, IMAGEM E IDENTIDADE. ..........................................................................................................10 1.1 Signos, símbolos e marcas.................................................................................................. 10

1.2 Imagem X Identidade ......................................................................................................... 12

1.3 Experiência, Interação e Integração ................................................................................. 13 2. VANTAGENS DE UMA IDENTIDADE BEM ELABORADA.........................................................................15

PARTE II – O CURSO DE OCEANOGRAFIA................................................................17

3. O QUE É A OCEANOGRAFIA? ....................................................................................................................17 3.1 O curso ................................................................................................................................. 17

3.2 A profissão ........................................................................................................................... 18

3.3 Pesquisa................................................................................................................................. 19 4. AMBIENTE EXTERNO..................................................................................................................................19 5. PÚBLICOS .......................................................................................................................................................21

5.1 O Público Docente ............................................................................................................. 21

5.2 O Público Discente............................................................................................................. 21

5.3 O Público Corporativo....................................................................................................... 21 6. O PRODUTO:.................................................................................................................................................23 7. QUE IMAGEM SE DESEJA CONSTRUIR? .....................................................................................................23

PARTE III – METODOLOGIA.........................................................................................24

8. METODOLOGIA APLICADA NESTE PROJETO ..........................................................................................24 8.1 A abordagem participativa ................................................................................................. 24

PARTE IV – RESULTADOS .............................................................................................27

9. PROBLEMATIZAÇÃO ....................................................................................................................................27 9.1 Conceituação........................................................................................................................ 27

9.2 Análise de similares ............................................................................................................. 28 10. CONCEPÇÃO.............................................................................................................................................29

Page 8: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

8

10.1 Pesquisa gráfica.................................................................................................................... 29

10.2 Primeiras Alternativas......................................................................................................... 29

10.3 Enquête geral ....................................................................................................................... 32

10.4 Soluções preliminares ......................................................................................................... 33

10.5 Enquête restrita.................................................................................................................... 34

10.6 Equalização .......................................................................................................................... 36

CONCLUSÃO.....................................................................................................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................38

Page 9: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

9

Introdução

A Comunicação é essencial ao homem e inerente à sua existência. Desde o seu início primitivo

até os tempos de hoje, quando atinge o centro dos interesses humanos, a base da comunicação e

o seu motivador são um só: a necessidade. É ela o gatilho do desenvolvimento dos sistemas

escritos, da criação de símbolos abstratos, marcas comerciais e de toda a sociedade “marcada” na

qual vivemos hoje.

A implantação do novo curso de Oceanografia da UFBA oferece uma oportunidade de

investigação e experimentação de estratégias de desenvolvimento e gerenciamento de imagem

baseado nos três principais públicos que interagem com o curso em questão: o público discente

(atual e potencial), o público docente e o público empresarial para o qual o curso - e suas

unidades de pesquisa - prestam serviços de pesquisa e consultoria.

Pretende-se então, com este trabalho, propor uma marca para o novo curso de Oceanografia da

UFBA, que integre os três públicos diretamente com ela envolvidos, à sua filosofia e identidade,

assim como o estabelecer um sistema de comunicação visual que permita a construção de uma

imagem consistente.

Tomando-se como foco principal a percepção dos públicos diretamente a ele ligados através de

uma abordagem participativa, este trabalho visa, especificamente, investigar as questões

relacionadas à marca, imagem, identidade, interação e experiência e através dessa investigação,

definir um conceito visual do curso de oceanografia desenvolvendo um símbolo gráfico para o

curso e o seu sistema de identidade corporativa.

A atividade da Oceanografia, devido à sua essencial ligação com o mar causa, por si só, certo

fascínio e admiração. Jovens sonham em se tornar oceanógrafos e explorar os mistérios dos

mares. Por que não aproveitar e traduzir esse fascínio em forma gráfica, ampliando o seu alcance?

Entre todas as vantagens que uma instituição pode adquirir através de um bom gerenciamento de

identidade, uma marca bem elaborada para o novo curso de Oceanografia da UFBA contribuirá

para gerar maior envolvimento dos participantes, desejo de fazer parte da comunidade de

pesquisadores, orgulho por pertencer a esse grupo, além de permitir uma demonstração mais

clara de seriedade e organização através de uma identidade unificada e coerente.

Page 10: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

10

Parte I – Fundamentação Teórica

1. MARCAS, IMAGEM E IDENTIDADE.

1.1 Signos, símbolos e marcas

No início da sua vida em sociedade o homem encontrou maneiras de associar certos sons, gestos

e formas com determinados objetos ou ações, criando assim os primeiros SIGNOS. De acordo

com Leeds-Hurwitz (1993), um signo é toda coisa (objeto, desenho, som...) que, baseada em

convenções sociais previamente estabelecidas, pode ser tomada como representando alguma

outra coisa.

Todo signo tem uma tradução – em português, significado – que é considerada como o uso social

do signo. Este significado pode variar com o tempo e de cultura para cultura. As diferentes

formas que um mesmo signo pode ser interpretado mostra claramente o quanto arbitrária é esta

tradução.

Os significados dos signos não se encontram neles próprios, ou nos objetos que eles

representam, mas no interpretador – os conceitos são criados na mente das pessoas. O

entendimento desta idéia é crucial para a compreensão dos signos mais complexos – como as

marcas – assim como para a força do seus significados e valores associados.

O termo “signo”, no entanto, não deve ser confundido, nem tido como sinônimo do termo

“símbolo”. O signo pode ter vários níveis de relação figurativa entre o significador (o próprio

signo) e o significante (aquilo que o signo representa). O símbolo é aquele que possui a relação

mais tênue entre estes dois elementos do signo, sendo totalmente arbitrário ao representar um

objeto, conceito ou idéia (Figura 1).

Segundo Leeds-Hurwitz (1993), um símbolo estabelece uma conexão arbitrária com os

componentes presentes e os ausentes, a autora cita como exemplo o vestido branco de noiva,

que, tradicionalmente, simboliza a virgindade e a pureza, representando algo que nem se parece

(ícones) nem foi tirado (índice) do significante.

Page 11: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

11

Figura 1: Estrutura e classificação dos signos: símbolos, ícones e índices e seus níveis de abstração.

Símbolos são a base da criação de marcas, e o componente crítico na habilidade de se construir

uma imagem que reflita a realidade. Símbolos são elementos da comunicação humana que

representam o conhecimento cultural real, sendo a chave através da qual tradições, valores e

culturas inteiras são transmitidas do passado para o presente.

Hoje, na sociedade em que vivemos – forjada sobre as bases do capitalismo e da necessidade de

diferenciação – as marcas são os símbolos que melhor representam, comunicam e provavelmente

deixarão na história da humanidade os traços do que é o mundo de hoje.

A Landor Associates, conhecida pela criação e gerenciamento de grandes marcas mundiais,

desenvolveu, em 1995 um dicionário específico onde o termo brand – marca, em inglês – é

definido como: “the sum of all the characteristics, tangible and intangible, that make the offer unique” - a

soma de todas as características, tangíveis e intangíveis, que tornam a oferta única. Este conceito

ressalta a amplitude com que o termo pode ser usado, tornando óbvio que o símbolo ou logotipo

– a visão do design - são apenas a porta de entrada para os conceitos e modelos mentais de

imagem e identidade estabelecidos por uma marca.

O termo qualidade, por sua vez, pode ser traduzido como sendo a “soma de características que

tornam um produto único”. Torna-se óbvia a proximidade dos dois conceitos, e, portanto,

podemos afirmar que a palavra “marca” está estritamente ligada à idéia de qualidade de um

produto (tangível ou intangível - mercadoria ou serviço) oferecido por uma organização.

signos

índices

ícones

símbolos

significado significante

Menor semelhança com o significante

Maior abstração

Page 12: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

12

A marca de uma organização não comunica apenas ao público consumidor, mas ela também se

relaciona com o público interno ajudando a forjar a imagem desta organização junto a todos os

que possuem algum contato com ela.

Marcas socializam as organizações. Para o público a marca é a própria organização. Todo a

estrutura envolvida por trás dela é praticamente invisível ao consumidor. A marca de uma

empresa ou produto toma então para si o importante papel de intermediadora – meio através do

qual a comunicação da identidade é feita com os clientes. Uma mediadora entre os valores da

organização e os valores do consumidor. Quanto mais compatíveis forem eles, maior

identificação haverá entre os dois lados.

Uma marca é, portanto, um símbolo extenso para representar valores complexos. O processo de

desenvolvimento e implantação de uma marca é chamado branding – até o momento não há

palavra em português brasileiro que traduza a expressão. Uma marca não é apenas o logo ou a

tipografia usada. Segundo Milton Glaser, “o logo é o ponto de entrada para a marca” (PAVITT,

2000). O conceito de branding envolve cada aspecto da interação entre a identidade da empresa e

os seus consumidores: o logo, o nome – aspectos primários nesta relação – embalagens,

mostruários, displays, uniformes, interiores, musica, cheiro, comportamento dos funcionários,

voz da secretária eletrônica, reação da organização perante o ambiente em torno dela, entre

tantos outros.

1.2 Imagem X Identidade

Esse conceito ampliado de marca envolve, portanto, todos os possíveis contatos “tangíveis ou

intangíveis” que a idéia de um produto possa ter com o seu público. A marca representa, perante

seus públicos – interno e externo – a identidade de uma organização, seus valores, filosofias e

princípios.

A imagem de uma organização, no entanto, possui uma conotação um pouco diferente. A

imagem é o modelo mental que o público tem relativo a uma determinada organização ou

produto.

A identidade é esculpida pela empresa de dentro para fora, a imagem é criada pelas pessoas, é o

reflexo, o resultado de todas as atitudes organizacionais e dos pontos de interação entre público e

organização.

Page 13: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

13

A marca, como signo, representa a identidade de uma organização ou produto. A imagem, o

significado, é o resultado – positivo ou não – obtido com essa comunicação. Como qualquer

significado ele não está no significante, mas no interpretador. A imagem da marca está na mente

dos seus públicos.

A importância de ter consciência deste processo de estabelecimento de um modelo mental

relativo à marca reside no fato de que apenas conhecendo muito bem os nossos públicos –

interno e externo – e tendo uma noção clara na identidade da organização, seus valores e

posicionamento, e na imagem que esta pretende criar na mente dos seus consumidores, é possível

se desenvolver marcas – signos – que cumpram seu papel de representação com sucesso e ainda

possam extrapolar o significado e invadir o campo emocional, criando um relacionamento de

empatia com as pessoas e atingindo o máximo que uma organização possa desejar: estar não

apenas na mente, mas no coração de seus consumidores e colaboradores.

Figura 2: Imagem e Identidade: o símbolo da instituição percebido e interpretado na mente das pessoas.

1.3 Experiência, Interação e Integração

Uma marca bem elaborada - que alinha suas características estruturais às referencias geradas pelos

seus símbolos - possui características estéticas que enfatizam a experiência sensorial do público

que atinge.

marca símbolo

significado significante

imagem

identidade

organização público

Page 14: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

14

As experiências emocionais afetam diretamente a percepção e a mente das pessoas, sem

necessariamente haver uma operação consciente por parte delas sendo, portanto, verda-

deiramente fixadas e dificilmente esquecidas, tornando-se conseqüentemente, um importante

ponto de comunicação como usuário.

As marcas possuem, naturalmente, esse caráter emocional na relação com seus públicos.

Segundo Schmitt & Simonson, a estética sacia as necessidades sensoriais dos consumidores

diferenciando produtos e serviços em aspectos intangíveis. Aspectos esses que vão além da

combinação: nome, símbolo gráfico e tipografia.

Esta relação emocional do público com os elementos sensoriais que compõem o sistema de

identidade institucional pode gerar, perante os consumidores, um maior grau de envolvimento e

fidelização à marca - através da identificação pessoal com elementos da imagem corporativa (mais

amplos do que signos puramente visuais).

Nos relacionamos com uma determinada marca da mesma forma que com pessoas que

conhecemos. Quando temos um amigo, somos fiéis a ele, buscamos estar próximos, defendemos

suas idéias... Quando nos apaixonamos, esquecemos todo o resto, mesmo que aquilo seja

passageiro. Por outro lado, se não gostamos de uma determinada pessoa, a ignoramos ou

fazemos questão de não enxergar suas qualidades. Uma relação bastante semelhante pode ser

percebida entre as pessoas e as marcas que amam e defendem, independente de qualquer coisa,

ou as que detestam.

Esses elementos sensoriais, no entanto, devem estar bem harmonizados e alinhados ao perfil do

público que se deseja atingir, e, principalmente, à filosofia da instituição.

Deve-se estabelecer, portanto, não apenas um conjunto de símbolos a serem usados, mas um

sistema completo de identidade que defina estrategicamente esses elementos – e as relações entre

eles, que enfatize os pontos de interação com o usuário e que mantenha a consistência da

experiência de marca desejada pela instituição, representando suas estratégias estéticas da maneira

mais fidedigna possível.

Mas, que nos faz escolher algumas marcas, em detrimento de outras, para se tornarem parte do

nosso mundo e da nossa personalidade?

Page 15: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

15

A resposta é: conexão. Escolhemos marcas que se encaixam nas nossas preferências, no gosto.

Decidimos pelos valores que combinam com a nossa imagem e identidade pessoal. Mais uma vez

quem manda é a comunicação: cada um precisa de uma identidade para si mesmo e de comunicar

essa identidade aos outros.

Escolhemos marcas por que elas se encaixam nos nossos valores e colaboram com a identidade

que queremos comunicar e a imagem que desejamos que seja estabelecida, sobre nós, na mente

das pessoas com as quais nos relacionamos.

Vivendo numa sociedade de consumo, num “material world’, as coisas que possuímos têm um

importante papel na construção da nossa imagem. Deixamos que marcas – e os valores por elas

representados – falem por elas sobre nós, completando um ciclo comunicativo inconsciente entre

as pessoas, tendo as marcas como interface.

2. VANTAGENS DE UMA IDENTIDADE BEM ELABORADA

A diferenciação através da marca pode ser um fator chave do sucesso em uma instituição, prin-

cipalmente no que diz respeito a organizações prestadoras de serviços. Este é exatamente o caso

do Curso de Oceanografia da UFBA – prestadora de serviços educacionais e de pesquisa. No

caso da Oceanografia, a competência dos profissionais será reforçada pelo forte apelo de uma

marca bem desenvolvida e posicionada.

Por outro lado, "se os elementos corporativos ou de marca proporcionam ou não benefício

estético irá depender, em grande parte, de um gerenciamento adequado" (SCHMITT &

SIMONSON, 2000). Deve haver, portanto, um claro entendimento sobre os elementos dessa

estratégia estética e de como eles criam impressões no consumidor. Além disso, o gerenciamento

de um sistema de identidade institucional deve ser algo dinâmico e adaptável às mudanças do

mercado e da organização.

O desenvolvimento e gerenciamento de marcas devem adaptar-se ao modelo organizacional ao

qual se referem. As organizações educacionais possuem características intrínsecas bastante

diferenciadas dos outros tipos de organização principalmente no que diz respeito aos seus

públicos internos e externos.

Page 16: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

16

O design gráfico possui, portanto um importante papel quando volta-se os olhos para o processo

emocional envolvido na escolha de um produto. É o design que vai definir como a organização é

(literalmente) vista, e percebida pelos seus públicos.

As formas, imagens, tipografia, linguagem e cores usadas na identidade corporativa falam alto aos

consumidores, seja através de uma campanha publicitária ou na prateleira de um supermercado

no momento da aquisição – o momento onde o produto está lado a lado com seus concorrentes

e encara de frente o consumidor. É nesse minuto quando a decisão é tomada que todo o sistema

de identidade e os esforços de marketing e design são postos à prova. Se ele funciona, sucesso –

produto no carrinho.

Compreendendo o conceito de marca como um conceito amplo que envolve cada aspecto da

interação do produto com seus consumidores, é importante lembrar que “produto”, “prateleira”

e “aquisição” podem também ter significados ampliados quando falamos sobre serviços

prestados por um banco ou organização educacional. O sucesso da última pode estar refletido na

boa penetração no mercado, dos profissionais por ela formados – e conseqüente renome para a

instituição, trazendo para si mais alunos e construindo um ciclo virtuoso em direção a uma

imagem cada vez mais sólida e positiva.

Sendo o design gráfico, portanto, tão conectado com os aspectos emocionais do processo de

formação da imagem de uma organização ou produto, ele pode e deve ser considerado como

uma das mais importantes ferramentas para se atingir o público desejado no momento e humor

exatos.

A emoção, no entanto é tão subjetiva quanto as interpretações de símbolos. A primeira tem uma

influência sobre a segunda e vice-versa, apesar da interpretação simbólica ser também fortemente

determinada por aspectos culturais, regionais e históricos.

Page 17: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

17

Parte II – O Curso de Oceanografia

3. O QUE É A OCEANOGRAFIA?

A definição da Ciência Oceanográfica encontrada no website do próprio curso de Oceanografia da

UFBA nos dá uma clara idéia do objeto de estudo em questão e das questões com ele envolvidas:

“A oceanografia é a ciência que tem como alvo investigar e analisar os mais diversos

fenômenos relacionados aos mares, oceanos e zonas costeiras, abrangendo os aspectos

biológicos, físicos, químicos e geológicos destes ambientes. Tem também como finalidade o

estudo dos impactos antrópicos no ambiente marinho, colaborando para um aproveitamento

criterioso dos recursos existentes”.

A costa da Bahia é a mais extensa do Brasil, e apresenta uma grande variedade de ecossistemas e

ambientes de sedimentação incluindo formações de recifes de coral, consideradas as mais

importantes do Atlântico Sul, além da Baía de Todos os Santos, a maior baía doBrasil.

Estes fatos sempre atiçaram a curiosidade de navegadores, historiadores, e pesquisadores de todas

as áreas, em todos os tempos.

3.1 O curso

“Frente a tamanha diversidade de ambientes marinhos e oportunidade de pesquisa, vários

grupos de pesquisadores lotados nos Intitutos de Química, Geologia, Biologia e Física,

iniciaram atividades de pesquisa relacionadas à oceanografia. Desta forma, até o momento

existiram diversos grupos dedicados à pesquisa no ambiente marinho trabalhando de forma

independente ou com pouca interação”.

Esta comunidade acadêmica mobilizou-se com o objetivo de estruturar um curso de graduação

em oceanografia buscando melhor aproveitar a estrutura da universidade e oferecer novas

perspectivas de formação profissional para a população não apenas do Estado, mas de toda a

região nordeste, onde não existem cursos de graduação em oceanografia.

Os estudantes interessados na ciência oceanográfica encontravam-se, também isolados em vários

institutos onde a oceanografia era tratada de forma parcial, apenas associada aos universos

biológico, geológico ou químico, gerando uma compreensão limitada do meio marinho. Hoje, o

Page 18: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

18

novo curso de oceanografia da UFBA, visa unir estes interesses na formação de um profissional

completo, com ampla compreensão dos processos e particularidades do ambiente marinho.

“O curso de oceanografia é estruturado em 3 etapas distintas: (i) Formação Básica, (ii)

Formação Geral e (iii) Formação Profissionalizante. A Formação Básica inclui os dois

primeiros semestres do curso e representa 25% da carga horária total. Ela envolve

componentes curriculares relacionados às áreas de matemática, física, química, biologia e

geologia.

A Formação Geral engloba componentes curriculares voltados para as quatro áreas da

oceanografia, sendo elas: oceanografia física, oceanografia química, oceanografia biológica

e oceanografia geológica. Esta fase do curso inclui aproximadamente 3 semestres (do

terceiro ao sexto semestre) e representa 37% da carga horária total do curso.

Dentre as componentes curriculares obrigatórios, o curso prevê um total de 50% da carga

horária em aulas práticas (o MEC recomenda um mínimo de 40%). O embarque

supervisionado constará de 120 h de atividades de embarque (o MEC recomenda um

mínimo de 100 h), que serão coordenadas e supervisionadas de forma a familiarizar o

aluno com a rotina a bordo de uma embarcação. Tais tarefas incluem, por exemplo, a

aquisição de dados oceanográficos, a analise e processamento de amostras, serviços

hidrográficos”.

3.2 A profissão

O mercado de trabalho no campo da oceanografia vem crescendo no Brasil nos últimos anos de

acordo com o aumento de demanda e investimentos em pesquisa e consultoria no setor. Segundo

informações recolhidas na própria escola, este impulso foi causado por uma série de fatores

como:

a. o aumento das atividades extrativistas no ambiente marinho,

b. a necessidade de um melhor conhecimento e caracterização da Zona Econômica

Exclusiva (ZEE),

c. a urbanização acelerada do litoral, a procura de novos recursos naturais e

d. o incremento das preocupações ambientais.

Page 19: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

19

Como conseqüência direta desse aumento de demanda por profissionais qualificados nas áreas da

oceanografia, o curso da UFBA vem suprir a necessidade de formação educacional de alta

qualidade, especialmente no Nordeste.

Dentre as instituições ou empresas contratantes responsáveis pela absorção do oceanógrafo

incluem-se:

a) empresas ou centros de pesquisa que atuam na preservação de espécies em extinção e de

ecossistemas agredidos pela ação do homem

b) empresas de consultoria técnica e ambiental

c) empresas do setor pesqueiro, seja na prospecção, produção ou beneficiamento de

pescado

d) empresas de aqüicultura e maricultura

e) empresas de saneamento e abastecimento de água, exploração e desenvolvimento

turístico, planejamento territorial e de exploração de petróleo e gás natural.

3.3 Pesquisa

“O dinamismo da pesquisa oceanográfica na UFBA pode ser medido pela participação de

docentes em programas governamentais de âmbito nacional voltados à oceanografia. Como

exemplo, cita-se o programa REVIZEE, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente

(MME) e Secretaria Interministerial de Recursos do Mar (CIRM), que conta com a

participação de vários pesquisadores da UFBA, detendo inclusive coordenação regional. A

penetração de pesquisadores da UFBA no cenário oceanográfico do país pode ainda ser

observada na sua participação ativa no Comitê Assessor de Oceanografia do CNPq e em

programas internacionais de oceanografia.” (OCEANOGRAFIA-UFBA, 2004)

4. AMBIENTE EXTERNO

No Brasil, apesar da crescente demanda por profissionais da oceanografia, e das formações

litorâneas expressivas existentes nas regiões norte e nordeste, a concentração dos cursos de

graduação e pós graduação em oceanografia concentram-se nas regiões sul e sudeste, conforme o

mapa a seguir.

Page 20: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

20

FIGURA 3 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS CURSOS DE OCEANOGRAFIA NO

BRASIL

“A existência de cursos de graduação em oceanografia quase que exclusivamente nas

regiões sul e sudeste permite apenas aos residentes da região nordeste com maior poder

aquisitivo a possibilidade de formação nesta área. Aos demais interessados resta a matricula

nos cursos regulares de Biologia, Geologia, Química, Física ou Geografia, onde existe certa

interação com a oceanografia”. (OCEANOGRAFIA-UFBA, 2004)

Dessa forma, a graduação em Oceanografia na UFBA, oferece a oportunidade de formação

oceanográfica a um número maior de candidatos da região, ajudando ainda a quebrar um outro

ciclo que decorre da escassez de profissionais qualificados na região – sem gente preparada, a

grande maioria dos projetos oceanográficos na região é entregue a firmas e universidades do sul e

sudeste, gerando uma “diminuição do potencial de recursos financeiros a serem aplicados na

infra-estrutura laboratorial da UFBA, a evasão de dados primários junto à compreensão dos

fenômenos locais e a [conseqüente] diminuição das oportunidades de formação e treinamento de

pessoal local”. (OCEANOGRAFIA-UFBA, 2004)

FURG1971

UERJ-1974 USP-2002

UNIMONTE –

1998

UNIVALE-1992

UFES-2000

UFPA-2000

UFBA 2004 1ª TURMA

Page 21: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

21

5. PÚBLICOS

Não foi possível, neste trabalho, devido às limitações de tempo e recursos, se desenvolver uma

pesquisa formal para delineamento preciso dos perfis de publico alvo do curso de oceanografia,

como seria desejável. No entanto, a partir de entrevistas com o público docente e discente, de

pesquisas em centros de informação e da observação das escolhas perceptivas das opções de

marca disponibilizadas na enquête, tornou-se possível determinar de forma aproximada o um

perfil desses públicos, através do uso de padrões comparativos de preferências e

comportamentos (estilo de vida).

5.1 O Público Docente

O curso de oceanografia conta com um corpo docente composto por sete professores na área da

Geologia, dois na área de Biologia, um em Física e um em Química, todos doutores ou mestres.

De faixa etária acima dos 30 anos, os professores do curso de Oceanografia têm um perfil sério

de pesquisa e investigação científica, combinado com a informalidade característica das pessoas

que trabalham ao ar livre.

5.2 O Público Discente

Os alunos da primeira turma do curso de oceanografia encontram-se em faixa etária entre 18 a 30

anos. Como todo aluno que acaba de entrar na universidade, têm a empolgação do início e

algumas ilusões relativas ao curso.

Se diferenciam dos alunos dos outros cursos, no entanto, por saberem que querem estudar

oceanografia, alguns vindos de outros estados do nordeste, outros tendo esperado bastante

tempo para ter a possibilidade de iniciar seus estudos nesta área.

Possuem um perfil aventureiro – e alguns se enganam por achar que isso será suficiente para

levar o curso em frente – têm uma forte ligação com a natureza e com o mar, precisam de

curiosidade científica e gosto pela matemática. Muita matemática.

5.3 O Público Corporativo

Ernesto Giglio (GIGLIO, 2002) define quatro tipologias empresariais para definir o perfil de

empresas como consumidores. Entre eles estão: o consumidor coorporativo industrial,

constituído de empresas que compram bens e matérias-primas para processamento e produção

Page 22: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

22

de outros bens; o consumidor coorporativo revendedor, aquele que compra um determinado

bem para revendê-lo ao mercado; o mercado de serviços, que consomem e compram em dois

níveis: o primário, que estrutura seu funcionamento e o secundário, relativo a serviços

terceirizados que possam vir a contratar.

A quarta e última tipologia que Giglio (GIGLIO, 2002) acrescenta ao seu modelo é o consumidor

coorporativo governamental.

O curso de Oceanografia se encaixa no mercado corporativo como prestador de serviços

terceirizados. Serviços de consultoria e pesquisa relacionados ao ambiente marinho e aos

impactos que este pode sofrer.

O ponto de partida do processo de consumo empresarial vem do conjunto de regras que

permeiam o funcionamento da organização. Essas regras são determinadas pelo ciclo de vida da

empresa (sua história, ciclos de crescimento, declínio, etc), pelas relações interpessoais e

especialmente pelas características do negócio em que a empresa atua.

Segundo Ernesto Giglio (GIGLIO, 2002), “conhecendo as regras da empresa, bem como suas

fontes de influências, temos condições de montar a teoria do comportamento de compra e

consumo desta empresa”, segundo o autor, são quatro os níveis de variáveis que podem

influenciar as regras empresariais de compra e consumo: variáveis do nível organizacional, do

nível do ambiente, do nível interpessoal e do nível individual conforme a tabela seguinte.

Consumo + Compra

Nível da Organização Nível do Ambiente Nível Interpessoal Nível Individual

regras

história

ciclos

objetivos

procedimentos

estrutura

demanda

conjuntura econômica

mudança tecnológica

nível competitivo

legislação e política

autoridade

status

empatia

persuasão

Idade

renda

educação

posição do cargo

personalidade

atitude diante de risco

Figura 2: Conjunto das variáveis que influenciam a formação das regras de uma empresa, incluindo o consumo e a compra.

Page 23: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

23

O consumidor corporativo do serviço oferecido pelo curso de Oceanografia tem suas decisões de

compra baseadas principalmente nos níveis de ambiente e organização. A contratação de uma

consultoria oceanográfica parte, na maior parte das vezes de uma demanda política por um

parecer ambiental, ou a nível competitivo de prospecção e estabelecimento de novos

procedimentos.

6. O PRODUTO:

Esta abordagem de marketing, no entanto, não prevê algumas particularidades identificadas no

processo de “compra” relacionado às instituições educacionais.

Inicialmente o termo “compra” não parece se aplicar bem ao negócio, principalmente

considerando a instituição Federal e sem fins lucrativos. Além disso, a questão ética muitas vezes

é comprometida quando no caso (bastante corriqueiro hoje em dia) de instituições particulares de

ensino superior passam a tratar seus alunos apenas e da mesma forma que clientes comuns.

O produto oferecido por uma instituição de ensino, tanto para os alunos como para o

consumidor das suas pesquisas é o conhecimento. No caso do corpo discente, o conhecimento

em termos da formação do profissional, considerando-se todas as nuances e sutilezas deste

processo. No caso do público corporativo, o conhecimento aplicado a situações reais em busca

de respostas e soluções práticas.

7. QUE IMAGEM SE DESEJA CONSTRUIR?

A Oceanografia caracteriza-se por ser uma profissão ao mesmo tempo séria e divertida, sendo

necessário, então, traduzir isto em sinais gráficos que agradem tanto ao público estudantil quanto

aos professores do curso e às instituições que contratam seus serviços de pesquisa.

O desafio passa a ser então encontrar um meio termo, uma representação gráfica que seja ao

mesmo tempo lúdica e séria, inteligente e divertida.

Page 24: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

24

Parte III – Metodologia

8. METODOLOGIA APLICADA NESTE PROJETO

Maria Luísa Peón (2002) define uma metodologia bastante clara e didática para o

desenvolvimento de sistemas de identidade visual. Ela divide o processo em três etapas

principais: a problematização – onde a situação é diagnosticada e são determinados os

objetivos, requisitos e referências principais do projeto; a concepção – onde são criadas e

avaliadas alternativas para solucionar o problema e a especificação – onde são definidos todos

os detalhes técnicos para que o sistema possa ser implantado.

Como o foco principal deste trabalho reside na interação com o público-alvo diretamente

relacionado à marca, optou-se por desenvolver este projeto baseado na metodologia proposta por

Péon, mas tendo por filosofia uma abordagem participativa, inserindo algumas modificações nas

etapas que constituem a fase de concepção da identidade visual.

8.1 A abordagem participativa

As marcas já possuem um caráter intrínseco de comunicação e interação emocional com as

pessoas. Quanto mais próxima da realidade do seu público, maior a identificação, interação e

maior a possibilidade de se atingir emocionalmente o “consumidor”.

Além disso, as marcas devem também estar muito bem sintonizadas com os valores e filosofias

institucionais para que seja mínimo o intervalo entre a identidade que se comunica e a imagem

que se obtém. As organizações e as pessoas, no entanto, vivem em constante mudança. Nada é

estático, e, para que uma marca acompanhe estas mudanças e mantenha o seu lugar na mente e

coração dos seus públicos, é preciso que o sistema de identidade visual seja cuidadosamente

implantado e possua uma abordagem sustentável – um plano de re-avaliações e constante

evolução.

Ao contrário do que normalmente se imagina, o centro de todo esse processo, no entanto, não

deve, necessária e exclusivamente, ser a instituição, mas sim, as pessoas envolvidas no processo

de construção da sua imagem. Clientes internos e externos - os usuários da marca - são quem

deve definir o valor e propriedade da identidade em questão. Apesar de todo o esforço por parte

Page 25: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

25

da instituição em estabelecer uma identidade, a sua imagem é forjada na mente do seu público e

propagada através dele.

Sicco van Gelder, fundador da Brand Meta, empresa holandesa especializada em Estratégia de

Marcas, afirma que instituições que implementam políticas de gerenciamento de identidade

visando melhorar as experiências dos consumidores possuem marcas de maior valor perante esse

público, e conseqüentemente, perante seus concorrentes.

O verdadeiro valor da marca, segundo van Gelder, é proporcional ao nível de conhecimento que

se tem sobre as necessidades dos clientes, seu comportamento, sua maneira de pensar, de

perceber valor e de racionalizar esses aspectos.

Percebendo essa necessidade não só de conhecimento, mas cada vez mais, da busca de interação

com o cliente, procuramos experimentar, com este trabalho, uma abordagem participativa para o

desenvolvimento da marca do curso de Oceanografia da UFBA, mesmo que, inicialmente, esta se

dê de forma bastante simplificada e paralela ao processo tradicional de criação.

Essa ligação direta com os públicos-alvo do curso em questão – docente, discente e corporativo –

traz para a marca um envolvimento e uma carga de identidade mais personalizada e democrática.

O processo deixa de ser exclusivo e centralizado no designer, e passa a ser compartilhado com

aqueles que usarão a marca.

Neste projeto, foram inseridos dois momentos de ampla participação dos públicos docentes e

discentes na fase de concepção da marca.

O esquema a seguir (figura 4) ilustra a metodologia proposta por Peón (2002) e destaca as duas

enquetes que foram disponibilizadas ao público geral, alunos e professores do curso de

oceanografia da UFBA.

Page 26: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

26

Figura 4: metodologia de desenvolvimento de identidade visual. Destaque para itens de adaptação: enquêtes públicas e avaliações de resultados.

As enquêtes, assim como seus resultados, foram feitos e publicados por meio eletrônico. Na

primeira delas foram apresentadas 16 alternativas de marcas, das quais foram escolhidas as duas

mais votadas. A partir destas duas marcas foram feitas melhorias e ajustes e apresentadas outras

quatro opções para uma segunda votação.

Este segundo momento, no entanto, foi restrito aos docentes e discentes com exceção de pessoas

participantes na elaboração do projeto da marca. A opção mais votada nesta fase é a marca

escolhida para representar o curso de oceanografia da UFBA.

Não foi feita, no entanto, nenhuma preparação ou reunião com os discentes e os docentes no

intuito de prepará-los para avaliar alguns detalhes técnicos relativos à qualidade da marca. Os

resultados das enquêtes devem, portanto ser tomados como uma avaliação do perfil perceptivo

do público participante. A maior parte das pessoas pode ter votado, simplesmente, nas soluções

que mais as agradaram em termos estéticos.

Entrevista Briefing Perfil dos públicos Contextualização

Primeiras alternativas Enquete publico geral

Soluções premilimares

Enquete restrita

Resultados Resultados

Solução final Equalização

Detlhamento técnico Aplicações Implantação

Problematização

Concepção

Especificação

Manual de identidade visual

Page 27: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

27

Parte IV – Resultados

9. PROBLEMATIZAÇÃO

9.1 Conceituação

Como já foi explicitado anteriormente, o processo de criação da marca do curso de Oceanografia

da UFBA foi - propositalmente - desenvolvido da forma mais próxima possível com o seu corpo

docente e discente. Chegou-se ao conceito gráfico em conjunto com o representante do curso.

A Oceanografia caracteriza-se por ser uma profissão ao mesmo tempo séria e divertida, sendo

necessário, traduzir-se isto em sinais gráficos que agradem tanto ao público estudantil quanto aos

professores do curso e às intituições que contratam seus serviços de pesquisa.

O desafio estava na busca do meio termo, uma representação gráfica que fosse ao mesmo tempo

lúdica e séria, inteligente e divertida.

Decidiu-se então, seguir o caminho de “brincar” com os símbolos e a forma, mas manter a

seriedade dos traços e cores, utilizando uma tipografia com linhas mais simples e modernas que

refletissem a novidade e juventude do curso.

Ao mesmo tempo optou-se pelas formas abstratas, que sugerissem, ao invés de impor,

significados. Algo que pudesse tomar um significado próprio e individual, de acordo com as

referências culturais do espectador da marca. Cada um a compreende de acordo com o seu

universo cultural.

Foram trabalhados então os seguintes conceitos:

- diversão e seriedade bem combinadas,

- abstração e ludicidade das formas,

- uso de formas orgânicas, retiradas da natureza,

- limpeza e simplicidade no traço,

- seriedade na escolha das cores,

- tipos (letras) modernas e simples.

Page 28: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

28

9.2 Análise de similares

Antes de iniciar a fase de pesquisa por referências gráficas, foi feita uma busca das marcas já

existentes na área da oceanografia e afins.

Foram encontrados, na sua maioria, símbolos na forma circular, remetendo ao conceito do globo

terrestre de forma bastante icônica. A cor azul é constante e a maior parte das representações

pode ser considerada pouco abstrata.

A figura a seguir (Figura 5) exibe alguns dos exemplares encontrados:

Figura 5: marcas relacionadas à oceanografia no Brasil e no mundo.

Page 29: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

29

10. CONCEPÇÃO

Após a fase de problematização onde foi feito o “reconhecimento da situação de projeto e seu

equacionamento” (PEÓN, 2002), iniciamos a fase de concepção, onde foi delineada a identidade

visual. Nesta fase foram desenvolvidas alternativas que foram apresentadas em forma de enquêtes

ao público geral (participantes ou não do curso de oceanografia da UFBA).

A partir destes resultados, as duas mais votadas foram re-trabalhadas e re-apresentadas,

novamente em forma de enquête, mas desta vez restrita ao público docente e discente do curso

em questão. Desta ultima fase escolheu-se uma marca que foi testada e aplicada para posterior

especificação técnica e implantação.

10.1 Pesquisa gráfica

Antes, porém de iniciar propriamente a produção das imagens gráficas foi feita uma pesquisa em

busca de referências formais relativas aos conceitos definidos na fase anterior.

Durante esta pesquisa buscou-se identificar as formar orgânicas, que mesmo sendo abstratas,

pudessem refletir a idéia da fluidez da água e de seus organismos.

Algumas destas imagens encontram-se no Anexo 1.

10.2 Primeiras Alternativas

A partir das formas e traços pesquisados foram desenvolvidas as primeiras alternativas

apresentadas a seguir.

Figura 6: representação de formas fluidas das massas de água, originou o primeiro partido de alternativas.

Page 30: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

30

Figura 7: marcas do primeiro partido de alternativas.

Figura 8: representação de formas organicas, originou o segundo partido de alternativas.

Page 31: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

31

Figura 9: marcas do segundo partido de alternativas.

Figura 10: marcas do terceiro partido de alternativas, obtidas a partir da vetorização de imagens fotográficas de organismos aquáticos.

Page 32: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

32

10.3 Enquête geral

As dezesseis marcas apresentadas acima foram disponibilzadas na Internet, para uma enquête

aberta ao público geral.

A planilha de resultados e as análises da distribuição dos votos encontram-se no Anexo 2. A

distribuição dos votos foi analisada de acordo com a ligação ou não à área da oceanografia. A

partir daí identificados alunos, professores, pesquisadores, instituições e faixa etária. Dos

participantes externos, foram identificados os que pertenciam às áreas de design e/ou marketing

– por acreditar-se que estas pessoas possuem uma percepção diferenciada dos elementos gráficos

formais.

Nesta fase fez-se necessário tomar uma decisão. Houve empate técnico entre as marcas no

resultado geral. No entanto, quando se analisou os resultados da votação dos participantes do

curso de oceanografia a preferência por uma das marcas se tornava bastante clara. Assim sendo,

decidiu-se por priorizar as preferências dos alunos, potenciais alunos, professores e pesquisadores

ligados ao curso em questão. As duas marcas mais votadas são apresentadas nas Figuras 11 e 12.

Figura 11: primeira colocada na enquête geral. 12% do total dos votos (7 votos), 4 votos de participantes do curso de oceanografia, 3 votos de pessoas ligadas às áreas de design/marketing. Votos distrubuidos entre todas as faixas etárias

Figura 12: segunda colocada na enquête geral. 9% do total dos votos (5 votos), sendo 4 votos de pertencentes à área de oceanografia – 4 alunos do curso da UFBA – e 1 voto pertencente a profissionais / estudantes das áreas de design/marketing. Votos concentrados em participantes com idades entre 15 e 25 anos.

Page 33: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

33

10.4 Soluções preliminares

Após avaliação técnica e redesenho das duas marcas mais votadas na etapa anterior, foram

desenvolvidas quatro soluções preliminares, apresentadas a seguir.

Figura 13: Primeira versão da primeira colocada. Reorganização dos elementos, utilização de tipografia diferenciada, mais clássica e sutilmente alterada de forma a apresentar uma idéia de fluidez.

Figura 14: Segunda versão da primeira colocada. Reorganização dos elementos mantendo a mesma família tipográfica da marca vencedora.

Page 34: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

34

Figura 15: Primeira versão para a segunda colocada. Reorganização dos elementos, inserção de descrição da atividade, desconstrução tipográfica formando as letras dando um sentido de balanço e reflexo – característico dos meios aquáticos.

Figura 16: Segunda versão para a segunda colocada. Reorganização e retirada de alguns elementos trazendo mais “limpeza” aos traços. Inclusão de um contorno dando idéia de geração, germinação de vida e fortalecendo a fluidez.

10.5 Enquête restrita

Com as soluções preliminares foi feita uma enquête restrita ao público interno do curso de

oceanografia – alunos e professores, com eventual participação de eleitores externos. Dos 16

participantes, 14 pertencem ao curso.

Os resultados desta segunda fase encontram-se na tabela a seguir (Tabela 2) e surpreendem pela

escolha da alternativa que menos se parece – em conceito e em forma – com a primeira colocada

na etapa anterior (Figura 17).

Page 35: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

35

Tabela 2: resultados da segunda enquête sobre a marca do curso de oceanografia.

A

B Figura 17: Comparação da primeira colocada na etapa 1 (A) e a marca vencedora de etapa 2 (B)

Page 36: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

36

10.6 Equalização

Após a escolha da marca vencedora, foram feitos testes de redução e contraste de cores onde a

marca apresentou certas dificuldades técnicas de aplicação.

Com um comprimento menor do que 9cm não há mais legibilidade da legenda e a visualização do

logotipo fica prejudicada.

As cores devem ser da mesma família porém contrastantes, caso contrário a sensação de reflexo

não é obtida (no caso de matizes diferentes) ou perde-se completamente a noção de

profundidade e legibilidade (no caso de cores pouco contrastantes).

Além disso, quando combinada com outros elementos nas peças onde foi aplicada, a marca

apresentou ainda uma certa dificuldade de harmonização e equilíbrio, dificultando a elaboraç!ao

das peças e uma maior variação de grafismos.

Estas dificuldades, levaram ao questionamento da utilização ou não desta marca pelo Curso de

Oceanografia da UFBA. Optou-se, no entanto por manter a escolha do público em respeito à sua

participação e preferência estética.

Para isso procurou-se contornar estas dificuldades com recursos gráficos como a limitação de

redução da marca com assinatura e com a criação de um padrão alternativo de distribuição que

permite maior legibilidade para casos especiais de aplicação.

Todas as especificações e detalhamento técnico da marca desenvolvida encontram-se no Anexo 3 deste trabalho.

Page 37: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

37

Conclusão

“Tudo é uma questão de aprendizado”. Esta foi a frase que ouvi do diretor de criação no

escritório da Futurebrand em Londres – uma das maiores empresas de criação e gerenciamento

de marcas do mundo. Aprender e observar.

Esta é a idéia por trás deste projeto. Re-aprender a desenvolver uma marca. Observar os públicos

e seus gostos. Guiá-los através da descoberta da sua própria identidade. Para que eles escolham a

sua marca, o símbolo que vai lhes identificar, comunicar ao mundo o seu mundo.

Infelizmente a abordagem participativa não pôde ser aplicada neste trabalho de forma exaustiva e

completa como deveria – através de oficinas de identidade, construindo a marca em conjunto

com o público cliente.

Mas foi possível, sim a realização de avaliações abertas que, se por um lado trouxeram problemas

técnicos a serem resolvidos pelo designer, por outro refletiram a preferência estética da maioria

dos eleitores e celebraram o processo democrático em uma atividade tipicamente tão

centralizadora.

A abordagem participativa foi experimentada neste trabalho com sucesso já que as falhas

identificadas no resultado refletem as etapas que foram subtraídas do processo.

Propõe-se a continuidade do estudo de uma metodologia participativa mais intensa, visando a

construção conjunta de marcas. Criando um processo ecológico de criação que respeite a

natureza dos seus públicos e a sua identidade. Conseguindo-se desta forma se abrir as portas para

a sustentabilidade da identificação das instituições no mundo atual cheio de constantes mudanças.

Page 38: CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA

38

Referências Bibliográficas

AAKER, David A. Marcas: brand equity gerenciando o valor da marca.Trad. André Andrade. São Paulo:

Negócio Editora, 1998.

FLETCHER, Alan. The art of looking sideways. London: Phaidon, 2001.

FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos: desenho projeto e significado. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

GIGLIO, Ernesto M. O comportamento do consumidor. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

KOTLER, Philip. Administração de marketing. 10ª Edição.Trad. Bazán Tecnologia e Lingüística. São

Paulo: Prentice Hall, 2000.

LEEDS-HURWITZ, Wendy, Semiotics and communication: signs codes, cultures, Hillsdale, N.J.,

Erlbaum, 1993.

OCEANOGRAFIA – UFBA. http://www.oceanografia.ufba.br/

PAVIT, Jane, Brand.new, London, V&A, 2000.

PÉON, Maria Luisa. Sistemas de identidade visual: um guia sucinto para pesquisar, criar, avaliar e especificar

identidades visuais. Rio de Janeiro: 2AB Editora, 2002.

SENGE, Peter. The fifith discipline: fieldbook. New York: Dubleday, 1994

SCHIMTT, Bernd, SIMONSON, Alex. A estética do marketing: como criar e administrar sua marca,

imagem e identidade. Trad. Lúcia Simonini. São Paulo: Nobel, 2000.

STRUNK, Gilberto. Como criar identidades visuais ara marcas de sucesso. Rio de Janeiro: Rio Books,

2003.