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1 RODRIGO KLEINÜBING PERITO CRIMINALÍSTICO ENGENHEIRO DO RS DIAGNOSE DE INCÊNDIOS E EXPLOSÕES EM VEÍCULOS Curso de Perícia Criminal em Locais de Incêndio Joinville/SC (2010)

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RODRIGO KLEINÜBING

PERITO CRIMINALÍSTICO ENGENHEIRO DO RS

DIAGNOSE DE INCÊNDIOS E

EXPLOSÕES EM VEÍCULOS

Curso de Perícia Criminal

em Locais de Incêndio

Joinville/SC (2010)

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Lei Federal nº 5.194 de 24/12/1966

"Regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro

Agrônomo, e dá outras providências"

Artigo 7 - especifica as atividades e atribuições.

Item C: estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e

divulgação técnica

Resolução nº 218 de 29/06/1973

Artigo 1o: Para efeito de fiscalização do exercício profissional correspondente às

diferentes modalidades de Engenharia, Arquitetura e Agronomia em nível superior e

em nível médio, ficam designadas as seguintes atividades:

Atividade 06 - Vistoria, perícia, aval., arbitramento, laudo e parecer técnico

Artigo 12 - Compete ao ENG. MEC., ou ao ENG. MEC. E DE AUT. ou ao ENG.

MEC. E DE ARMAM., ou ao ENG. DE AUT. ou ao ENG. INDUST. MOD. MEC.:

I - o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1o desta Resol., referentes a

processos mecânicos, máquinas em geral; instalações industriais e mecânicas;

equipamentos mecânicos e eletro-mecânicos; veículos automotores; sistemas de

produção de transm. e de utilização do calor; sistemas de refrig. e de ar

condicionado; seus serviços afins e correlatos.

Da habilitação para realização da perícia de

incêndio em veículos

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1. Introdução aos incêndios e explosões em veículos

2. Mitos dos incêndios e explosões em veículos

3. Estudo de causas não intencionais em veículos incendiados

3.1 Fenômenos elétricos do tipo sobrecarga e/ou curto-circuito

3.2 Vazamento de combustível

3.2.1 Vazamento de combustível líquido

3.2.2 Vazamento de gás natural veicular

3.2.2.1 Casuística de incêndios e explosões de

veículos adaptados para GNV

3.3 Vazamento de outros fluídos

3.4 Atrito entre componentes veiculares

3.5 Acidentes de trânsito

3.6 Outras situações de risco de incêndios e explosões em veículos

4. Exame pericial em veículos incendiados

5. Casuística de incêndios intencionais

6. Prevenção de Risco de Incêndios e Explosões em Veículos

7. Bibliografia

DIAGNOSE DE INCÊNDIOS E EXPLOSÕES EM VEÍCULOS

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A diagnose de incêndio e explosões em veículos constitui-se em

uma modalidade particular do campo da engenharia forense relativo à

perícia de incêndios, dadas as peculiaridades inerentes aos veículos

automotores, as quais demandam um know-how diferenciado quanto aos

princípios de funcionamento dos diversos sistemas veiculares com

potencial para a deflagração de um incêndio, e o respectivo diagnóstico de

falhas, além da considerável gama de incêndios intencionais, visando,

inclusive a fraude contra companhias seguradoras.

Com relação aos incêndios intencionais, freqüentemente se

comete o equívoco de se referir aos mesmos como incêndios criminosos,

como se apenas o incêndio intencional fosse criminoso, quando na

verdade os incêndios decorrentes de negligência, imprudência e imperícia,

modalidades de culpa strictu senso, constituem-se também em incêndios

criminosos (crime culposo).

Quando da análise de um veículo incendiado, deve-se avaliar a

sua susceptibilidade à deflagração de incêndios, a partir do tipo de

veículo, da sua utilização, do seu tempo de uso, do seu estado de

conservação, e ainda, dos materiais de construção do veículo e daqueles

transportados pelo mesmo.

1. Introdução aos incêndios e explosões em veículos

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Inicialmente, deve-se procurar determinar se o incêndio fora

deflagrado a partir do veículo, em seu interior ou exterior, ou se o veículo

fora atingido por incêndio deflagrado próximo ao mesmo.

Analogamente, exibimos a seguir um compressor industrial

incendiado que exibia vestígios característicos de fenômeno de ordem

elétrica, inclusive com desarme do sistema de proteção elétrica, mas que

a partir da montagem dos painéis externos nos permitiu localizar o foco

primário do incêndio, situado externamente, junto ao painel lateral

esquerdo inferior.

Incêndio em um compressor industrial

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2. Mitos dos incêndios e explosões em veículos

A constatação de elevada Intensidade de queima e de alta

velocidade de propagação por si só não significam que o incêndio fora

intencional, devido ao tipo e à quantidade de materiais combustíveis

existentes atualmente nos veículos automotores.

A existência de componentes metálicos fundidos, apesar de

serem indicativos de alta temperatura, não é garantia da utilização de

líquidos inflamáveis como acelerantes da combustão em veículos. Deve

se considerar que a temperatura de fusão de ligas metálicas é

relativamente menor do que a temperatura de fusão do metal puro.

Metais que compõem os veículos como alumínio, magnésio e

suas ligas são de características combustíveis, assim como muitos

componentes plásticos que frente a uma fonte de ignição possuem

comportamento similar a hidrocarbonetos líquidos, contribuindo para a

propagação do incêndio e a magnitude dos danos por incêndio.

Substância inflamável x substância combustível: Entra em combustão na

temperatura ambiente x entra em combustão acima da temperatura ambiente

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A carroçaria de um veículo apresenta, em sua construção,

materiais combustíveis constituídos de painéis em plástico, polímeros e

fibra de vidro, com o painel corta-fogo possibilitando a passagem do

incêndio do compartimento do motor para o compartimento de

passageiros. Assentos e revestimentos internos são confeccionados em

materiais constituídos de fibras têxteis, de características incombustíveis

(antichama). A tabela a seguir apresenta algumas propriedades dos

combustíveis sólidos presentes nos incêndios em veículos.

Propriedades dos combustíveis sólidos presentes nos incêndios

em veículos

NFPA 921 - GUIDE FOR FIRE AND EXPLOSION INVESTIGATIONS - Capítulo

15, Quadro 15-2.3

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Também, quando do incêndio em um veículo, é improvável

que ocorra a explosão do tanque de combustível, apesar do mesmo

conter vapores potencialmente explosivos. No interior do tanque a

mistura entre combustível e ar atmosférico se encontra acima do limite

superior de inflamabilidade. Os vapores de gasolina, com peso

específico maior do que o ar atmosférico, preenchem o tanque até o

seu topo.

Os tanques são providos de dispositivo de alívio de pressão, o

que permite a fuga de combustível e o conseqüente efeito lança-

chamas, sendo improvável que o fogo penetre para o interior do tanque

de combustível e ocasione uma combustão súbita da massa de

combustível.

Atualmente, utilizam-se materiais construtivos de baixo ponto

de fusão, como o alumínio e matérias plásticos, os quais sofrem

derretimento quando submetidos a ação do calor.

Por certo, a explosão de veículos incendiados encontra-se

impregnada no imaginário das pessoas, incentivado pela indústria

cinematográfica.

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Além do incêndio intencional, deflagrado mediante intervenção

humana, constituem-se nas principais causas dos incêndios em veículos,

os fenômenos elétrico do tipo sobrecarga e/ou curto-circuito, os

vazamentos de combustível e de outros fluídos, o atritamento entre

componentes veiculares e os acidentes de trânsito, além daqueles

deflagrados por outras fontes de ignição.

No caso de incêndios deflagrados não intencionalmente,

importante se faz procurar saber se o sinistro possui algum histórico, o qual

pode ser obtido por depoimento dos ocupantes sobre falhas quando em

funcionamento, pela documentação de procedimentos de manutenção,

pela susceptibilidade a incêndios do modelo do veículo e por recalls

promovidos pelo fabricante.

3. Estudo de causas em veículos incendiados

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O fenômeno elétrico do tipo sobrecarga, seguido ou não de curto-

circuito, está geralmente associado a condutores elétricos

sobrecarregados por instalação de equipamentos adicionais acessórios

não originais, como por exemplo, faróis halógenos, buzinas,

desembaçadores, equipamentos de som, etc., com ausência, não

atuação, inoperância ou inadequado dimensionamento dos mecanismos

de proteção do circuito elétrico (fusíveis e disjuntores), os quais podem

ainda ser manipulados ou ponteados em reparações e instalações por

mão de obra não especializada (technews74 02:00 - 03:42).

A elevação da temperatura do condutor elétrico, por efeito Joule,

até a temperatura de ignição do revestimento, resulta na deflagração de

incêndio, podendo ocorrer ainda um curto-circuito pelo contato direto do

condutor energizado com outro condutor ou com derivação à massa. O

chassi e a carroçaria constituem-se nas massas do circuito elétrico em um

veículo.

3.1 Fenômenos elétricos do tipo sobrecarga

e/ou curto-circuito

Temperatura de ignição: auto-inflamação sem a presença de fonte de ignição.

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As elevadas correntes presentes em um curto-circuito,

associadas à ausência de dispositivos de proteção, são visíveis em

componentes do sistema elétrico, notadamente a bateria de

acumuladores, o cabo positivo e o motor de arranque. Nestes casos

ocorre um aquecimento uniforme dos condutores sobrecarregados em

toda sua extensão (entre os pontos de conexão ou entre o curto-circuito

e a fonte de energia), com a ausência de deposição do revestimento

isolante em todo seu comprimento. A bateria apresenta-se fundida por

ação de calor interno, com deterioração uniforme e de dentro para fora,

atingindo o borne correspondente ao cabo positivo.

A formação de pérolas ou traços de fusão denunciam o

fenômeno elétrico de curto-circuito, podendo constituir-se em causa

(perolamento primário) ou ser produzido em conseqüência de um

incêndio em veículo (perolamento secundário), este último ilustrado a

seguir. Para a diferenciação do tipo de perolamento pode-se recorrer a

um exame metalográfico micrográfico.

Perolamentos (ou traços de fusão): Fenômeno da fusão do condutor de corrente

elétrica, gerada por sobrecarga ou curto-circuito, estes, gerados por elevação de

temperatura devida a grande densidade de corrente elétrica e conseqüente

dissipação térmica por unidade de volume, dando origem a uma superfície

polida em forma de gota, aproximadamente esférica.

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Já no caso de condutores atingidos por chama externa, é visível

a deposição do seu material de revestimento, devido ao derretimento não

uniforme, conforme reproduzido a seguir.

Condutores elétricos com perolamentos secundários e condutores

elétricos atingidos por fogo externo

Perolamentos secundários: Quando é formado durante a ocorrência de

chamas, constituindo-se de uma pérola de fusão vazada, como uma bolha, e

apresentando outros materiais que não apenas o metal condutor, tendo a sua

produção conseqüência e não causa do incêndio.

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O fenômeno elétrico de curto-circuito pode estar associado,

ainda, à falência do revestimento do condutor elétrico por ruptura

mecânica devido a atritamentos e esforços cortantes de flexão ou de

cisalhamento, o que geralmente está associado a uma inadequada fixação

do chicote elétrico e de outros condutores, e, ainda, à manipulação de

condutores em instalação ou reparo por mão-de-obra não especializada.

Um histórico de disparo automático de algum sistema elétrico do

veículo, sem intervenção humana, constitui-se em um indicativo de

fenômeno de curto-circuito anterior à deflagração de um incêndio em

veículo. Adversas condições de exposição ambiental, divergentes

daquelas para o qual foram projetados, podem produzir a degradação do

revestimento de condutores elétricos, conforme exibido a seguir.

Degradação por variação de temperatura do revestimento de condutores

elétricos pertencentes ao chicote de um automóvel MERCEDES BENZ E 420

(Porto Alegre/RS)

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Uma elevada extensão do cabo positivo, como no caso da

bateria de acumuladores localizada no compartimento oposto ao do motor,

constitui-se em um risco maior de curto-circuito.

Fontes de ignição decorrentes de fenômeno elétrico com arcos

elétricos podem estar associadas, ainda, a maus contatos em condutores

elétricos por diminuição da resistência e conseqüente elevação da

intensidade da corrente elétrica, resultando em aumento da temperatura e

fugas de corrente (fagulhas), as quais são produzidas em componentes do

sistema de ignição, como cabos de vela avariados ou muito próximos de

partes metálicas do motor ou da carroçaria, tampa do distribuidor

avariada, velas gastas com mau contato nos eletrodos e com conexões

frouxas, e cabos com resistência anormal à corrente de alta tensão,

resultando na produção de fagulhas, mesmo que em bom estado. Esta

situação é agravada quando estas fontes de ignição se localizam

próximas a componentes contaminados por combustível vazado.

Os incêndios em veículos decorrentes de fenômeno elétrico

tendem a ocorrer com o veículo em repouso, lembrando que nesta

situação o sistema elétrico encontra-se energizado, visto que em

movimento as falhas elétricas são geralmente perceptíveis, o que permite

a intervenção do condutor e de terceiros antes que o incêndio seja

deflagrado.

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A deflagração de incêndios a partir da bateria de acumuladores

pode ocorrer por vazamento de hidrogênio, gás altamente explosivo, como

conseqüência de algum fenômeno elétrico de sobrecarga ou curto-circuito

a partir do sistema elétrico, como, por exemplo, o motor de arranque, e

ainda por impacto ou por recarga, na presença de alguma fonte de ignição.

Importante ressaltar a baixa energia mínima de ignição do hidrogênio na

pressão atmosférica, de aproximadamente 0,019 mJ em relação ao ar

atmosférico e de aproximadamente 0,07 mJ em relação ao oxigênio.

A sobrecarga por falha no dispositivo de corte da carga de bateria

de acumuladores é de baixa probabilidade. A bateria de acumuladores e o

alternador são fontes elétricas em veículos automotores.

As figuras exibidas a seguir ilustram um incêndio em veículo

ocorrido por sobrecarga do sistema elétrico, deflagrado a partir do interior

do compartimento do motor, devido a uma inadequada instalação de

equipamento de som de elevada potência, sem o redimensionamento do

sistema elétrico, e, inclusive, sem a inclusão de qualquer sistema de

proteção.

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Note-se o derretimento da bateria de acumuladores e do borne

positivo, a deterioração uniforme do revestimento do chicote elétrico em

toda a sua extensão, a oxidação da chapa metálica, em torno do orifício

de passagem do chicote elétrico e o seccionamento do chicote elétrico

com a formação de pérolas de fusão secundárias nas extremidades

seccionadas.

Detalhe da bateria de acumuladores, do chicote elétrico e da chapa metálica

no interior do compartimento do motor de um veículo incendiado por

sobrecarga do sistema elétrico

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Devem-se examinar com atenção os fusíveis protetores dos

diferentes sistemas elétricos do veículo, verificando se estão ou não

rompidos por sobrecarga e se os mesmos são de capacidade adequada,

bem como se foram manipulados ou ponteados em reparações e

instalações.

Para o estudo do vazamento de combustível como causa dos

incêndios veiculares, deve-se considerar, primeiramente, o tipo de

combustível de alimentação do motor, podendo constituir-se em

combustíveis líquidos (gasolina, álcool e óleo diesel) e no gás natural

veicular, visto que a utilização de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo)

como combustível veicular, com exceção das empilhadeiras, é vedada

em nosso país.

3.2 Vazamento de combustível

Substância volátil: Quando à temperatura ambiente (CNTP) desprende vapores

capazes de se inflamar.

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Os combustíveis líquidos utilizados na alimentação de motores de

combustão interna de ciclo Otto possuem baixa temperatura de ignição, em

torno de 200 ºC para o álcool e de 300 ºC para a gasolina, sendo

altamente voláteis. No caso de motores de ciclo diesel, a temperatura de

ignição do óleo diesel encontra-se em torno dos 450 ºC.

Sendo assim, o vazamento de combustível líquido, em contato

com superfícies aquecidas do veículo, pode deflagrar um incêndio. Apesar

de menos volátil que a gasolina, o óleo diesel, em contato com uma

superfície quente, pulverizado ou não, pode deflagrar um incêndio.

Com relação ao sistema de escapamento, constituído pelo coletor

de descarga, pelo catalizador, pelo silenciador e pelo tubo de escape, a

temperatura dos gases queimados que saem da câmara de combustão de

um motor atingem uma temperatura entre 700 a 800 ºC. A temperatura do

coletor de descarga e dos demais componentes, por sua vez, pode atingir

até 500 ºC, com temperatura de superfície exterior maior do que 300 ºC,

podendo ser ainda maior no caso de conter resíduos de combustível não

queimado devido a funcionamento inadequado do sistema de alimentação.

3.2.1 Vazamento de combustível líquido

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Uma combustão defeituosa pode promover o acúmulo de restos

de combustível vaporizado a altas temperaturas no escape e no

catalisador, resultando em um incêndio, inclusive deflagrado a partir do

interior do habitáculo, possibilidade esta amenizada pela existência de um

dispositivo de proteção contra o calor (heat shield).

A temperatura externa do catalisador é estimada em até 315 ºC,

podendo ser ainda maior quando em situações de ventilação inadequada.

Daí a importância deste componente isolante situado externamente ao

veículo, entre o assoalho e o sistema de escapamento.

A alta volatilidade de combustíveis líquidos como a gasolina pode

gerar uma nuvem de vapor que em concentração ideal com o ar

atmosférico, na presença de qualquer corpo ígneo, como por exemplo, um

faiscamento no interior do compartimento do motor, pode deflagrar um

incêndio. Nestes casos, a região de deflagração do incêndio pode estar

distanciada do ponto de vazamento de combustível, podendo ocorrer,

ainda, uma maior intensidade de queima em regiões providas de

componentes com maior combustibilidade, dificultando a determinação do

foco e conseqüentemente da causa do incêndio.

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A respeito dos pontos de vazamento, o mesmo tende a se situar

nas conexões existentes ao longo do circuito de combustível,

principalmente as de ligação entre as tubulações (condutos rígidos) e as

mangueiras (condutos flexíveis), devido à má fixação dos condutos, ao

acabamento das braçadeiras por pequena largura e pela existência de

cantos vivos, à vibração a que estão constantemente submetidos e a um

inadequado encaixe após procedimento de manutenção que exija a

desconexão destes componentes.

O vazamento de combustível pode ocorrer, ainda, devido à

degradação dos condutos, por oxidação da tubulação ou por

ressecamento das mangueiras, os quais são submetidos a meios

agressivos por alta temperatura, alta pressão, umidade e ataque por

produtos químicos. As mangueiras, mais suscetíveis à deterioração pela

diminuição das propriedades mecânicas da borracha, podem apresentar

fissuras e rachaduras, principalmente nas suas extremidades,

endurecimento e mudança de cor do seu revestimento, quando não

substituídas em tempo hábil.

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Detalhe da junção entre o duto metálico proveniente do motor e a mangueira de

alimentação do motor e do deslocamento da braçadeira anterior ao incêndio

As figuras exibidas a seguir, ilustram um incêndio ocorrido por

vazamento de combustível, devido à inadequada fixação da junção entre

o duto metálico proveniente do motor e a mangueira de alimentação do

motor. Note-se o deslocamento da braçadeira anterior ao incêndio.

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O vazamento de combustível pode ocorrer também nos

componentes de alimentação do motor. O carburador, dispositivo já em

desuso, por inundação da cuba, o que se dá por rompimento ou desgaste

da válvula de agulha, por perfuração da bóia, por inadequado nível da

cuba e por alta pressão da bomba de gasolina.

No fenômeno conhecido como contra-tiro do carburador, a

chama proveniente do motor ao atingir o combustível do carburador

ocasiona o incêndio. Contendo um depósito de gasolina de

aproximadamente 150 ml, o carburador ao ser avariado por uma colisão

pode deflagrar um incêndio. Deve-se verificar a existência de danos no

carburador, a presença e a posição do filtro de ar e, ainda, a existência de

vestígios constituídos de marcas de queimadura e de esfumaçamento em

seu interior, indicativos da origem do incêndio.

A injeção eletrônica, apesar de mais moderna, segura e

econômica, trabalha a uma pressão bem maior, passando de 0,5 bar em

média na carburação para aproximadamente 1 a 3 bar (podendo ser

superior a 4 bar), o que pode ser um fator determinante para a

deflagração de um incêndio por vazamento de combustível líquido. A

tubulação de retorno conduz a sobra de combustível líquido e de vapores.

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O vazamento de combustível ocorrido a partir de dutos de

alimentação de maior pressão e, conseqüentemente, com maior

probabilidade de ser vaporizado, aumenta o risco de incêndio. Os dutos

de retorno de combustível operam a baixas pressões. Os dutos de

combustível se mantém sob pressão quando o motor não está em

funcionamento.

A localização de tubulações, mangueiras e de conexões sobre

partes quentes do veículo constituem-se, atualmente, em um erro de

projeto no que diz respeito à segurança veicular.

Quanto aos aspectos construtivos, tanques de combustível

construídos em chapas de aço quando submetidos a ação do calor,

produzem o aquecimento dos gases no seu interior, resultando em maior

volume e maior pressão interna, podendo ocorrer o escape dos gases

quentes por sobrepressão e a sua posterior inflamação. O vazamento de

combustível líquido se dá por rompimento do tanque.

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Tanques de combustível de construção em alumínio, plástico e

fibra, materiais com menor ponto de fusão, e de larga utilização

atualmente, apesar de serem mais moldáveis ao projeto do veículo,

possuem a desvantagem de se fundirem sob ação do fogo,

retroalimentando um incêndio. Materiais poliméricos, apesar da boa

resistência à compressão (punção), não apresentam boas características

de resistência à fratura (choque). Quando envolvidos pelas chamas

podem rachar liberando seu conteúdo de forma rápida, podendo

reproduzir as características de um incêndio alimentado por agentes

acelerantes.

O vazamento de combustível pode ocorrer, ainda, por

rompimento do tanque de combustível em conseqüência de um acidente

de trânsito. Com relação ao óleo diesel, o risco de incêndio causado pelo

seu vazamento é menor, mas não desprezível.

Os tanques de combustível, por apresentarem conexões de

borracha, podem permitir vazamentos para os compartimentos de carga e

de passageiros. O superenchimento do tanque pode produzir vazamentos

sob e dentro do veículo.

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No exame pericial do tanque de combustível de um veículo

incendiado, deve-se verificar a existência de avarias de impacto e

corrosão. A existência de linha de demarcação indica o nível de

enchimento anterior ao incêndio. Deve-se verificar a localização da

tubulação metálica e flexível, principalmente sobre superfícies aquecidas,

como o coletor de escape e o catalizador, procurando por avarias de

impacto, de atritamentos, de cisalhamento e de corrosão.

As bombas de combustível dos veículos modernos, ao contrário

dos modelos mais antigos, funcionam quando a chave de contato está

ligada, independente do funcionamento do motor. Como estas são

montadas próximas, ou mesmo no bloco do tanque, vazamentos

geralmente provocam incêndios nas regiões onde o fluido se precipita e

são originados por desgaste de conexões e de linhas de transmissão por

corrosão, envelhecimento, vibração ou danos mecânicos em função de

colisões ou contato entre partes móveis. Filtros de combustível na linha de

transmissão podem sofrer fraturas e gerar vazamentos.

26

Portanto, a bomba elétrica de combustível, de funcionamento

controlado, independe do motor em marcha. A existência de interruptor

inercial, dispositivo de segurança que desativa a bomba, interrompe a

alimentação de combustível em caso de colisão ou de parada repentina.

Sensores ou comutadores de pressão do óleo desativam a bomba

quando o motor não está em funcionamento. É passível de falha em caso

de acidente. A desativação da bomba e diminuição da pressão do circuito

não impede o vazamento.

A bomba mecânica de combustível só é ativada com o motor em

marcha, podendo apresentar danos internos, como no diafragma, por

acidente, manipulação e ação do calor.

Incêndios concentrados na parte superior do bloco do motor

normalmente são relacionados a vazamento de combustível. O

combustível do veículo atua, ainda, como material inflamável secundário

que afeta a velocidade de propagação e a magnitude do incêndio em

veículo.

27

Apesar de possuir uma maior temperatura de ignição em relação

aos combustíveis líquidos, em torno de 620 a 650 oC, o vazamento de gás

natural veicular, por se tratar de um gás combustível, em concentração

ideal com o ar atmosférico e na presença de uma fonte de ignição, irá

desencadear um incêndio.

Daí a importância quanto à vedação dos componentes da

instalação, tendo em vista a elevadíssima pressão de enchimento do

reservatório, a qual se encontra na faixa de 200 a 220 bar.

De estado gasoso à pressão atmosférica e à temperatura

ambiente, o gás natural veicular é inodor, incolor, inflamável e asfixiante. A

sua odorização ocorre pela adição de composto a base de enxofre,

visando sua detecção por olfato a 0,5% de concentração com relação ao

ar atmosférico.

3.2.2 Vazamento de gás natural veicular

28

Constituído basicamente de metano, o mais simples e estável

dos hidrocarbonetos, possui baixa densidade relativa em relação ao ar

(0,62), boa difusividade e faixa de inflamabilidade situada entre 5 e 14%

(menor em relação aos combustíveis líquidos). Sua composição comercial

é constituída de aproximadamente 93% de Metano (CH4) e

aproximadamente 7% de Etano (C2H6) entre outros hidrocarbonetos.

De fácil adaptação para veículos alimentados por gasolina ou

álcool - ciclo Otto (ignição por faísca), diferentemente de veículos

alimentados por óleo diesel - ciclo Diesel (ignição por compressão), o seu

abastecimento se dá de maneira rápida e sem contato com o ar. A

adaptação do veículo é feita por oficina credenciada pelo INMETRO,

sendo ainda emitido CSV por organismo de inspeção credenciado pelo

INMETRO.

No interior do compartimento do motor, onde estão presentes

diversas fontes de ignição, pode ocorrer vazamento de GNV por falha de

funcionamento da válvula solenóide da válvula redutora, além de

vazamento na válvula redutora por falhas na sua vedação, tendo em vista

a vibração a que é submetida, acentuada por fixação inadequada, por

tempo de uso, pela utilização de componentes inadequados e por excesso

de pressão.

29

O vazamento de GNV pode resultar em retrocesso de chama -

backfire, no coletor de admissão a partir do sistema de ignição e da

presença de pontos quentes.

Em uma instalação de GNV com problemas de vazamento no

interior do compartimento do motor, quanto maior o comprimento da

mangueira de baixa pressão, maior o volume de GNV na linha de baixa

pressão e conseqüente maior a quantidade de GNV que pode ser vazado.

São vestígios de vazamento de GNV, a ruptura da tampa do filtro

de ar, indicativo de contra-explosões anteriores à deflagração do incêndio,

bem como o consumo total do filtro de ar, indicativo de acúmulo de GNV. A

expansão da válvula reguladora de pressão caracteriza também o

vazamento de GNV anterior ao incêndio, não sendo possível, no entanto, a

deflagração inicial do incêndio no interior deste componente.

30

Num veículo adaptado para GNV, pode ocorrer ainda o

vazamento do combustível líquido original pelo ressecamento das

respectivas mangueiras devido a sua não utilização por tempo demasiado.

Esta possibilidade é maior no caso de alimentação por carburação que

apesar da menor pressão do combustível (em média 0,5 bar), quando o

motor do veículo é colocado em funcionamento, a alimentação por GNV

não passa por combustível líquido original. No caso de alimentação por

injeção eletrônica, apesar da maior pressão de operação (1 a 3 bar,

podendo ser superior a 4,3 bar), a alimentação passa por combustível

líquido, podendo, no entanto, ser configurada diferentemente.

Detalhes de tampa do filtro de ar rompida, de consumo total do filtro de ar e

de válvula reguladora de pressão expandida

31

O vazamento de combustível líquido original em um veículo

adaptado para GNV pode estar associado, ainda, a problemas com o

eletro-válvula.

A tabela exibida a seguir descreve importantes propriedades dos

combustíveis gasosos presentes no incêndio de um veículo automotor.

Propriedades dos combustíveis gasosos presentes nos incêndios em

veículos

NFPA 921 - GUIDE FOR FIRE AND EXPLOSION INVESTIGATIONS - Capítulo 15,

Quadro 15-2.2.

32

Neste primeiro caso, o rompimento da tubulação de alta pressão,

de inadequado material construtivo (cobre) e localização (em contato com

o encosto do banco traseiro), bem como a ausência de dispositivo de

excesso de fluxo na válvula do cilindro, deram causa ao incêndio.

3.2.2.1 Casuística de incêndios e explosões de

veículos adaptados para GNV

Veículo incendiado por vazamento de GNV na tubulação de

alta pressão

33

No segundo caso, apesar da instalação de GNV ter sido feita por

empresa credenciada pelo INMETRO, com emissão de CSV, foi

adicionado, de forma deliberada, um recipiente de gás freon com 2 mm

de espessura de parede, projetado para uma pressão de trabalho de 6

bar, quando um cilindro de GNV é construído com 8 a 12 mm de

espessura de parede e com uma pressão de trabalho de 200 bar. Durante

o abastecimento o recipiente se rompeu, resultando em uma vítima fatal.

Explosão de um cilindro de gás freon em uma instalação de

GNV durante o abastecimento

34

Já no terceiro caso, a utilização de uma válvula de cilindro não

certificada, de construção inadequada, com anel o-ring de vedação

desprovido de apoio e submetido a avarias de contato (além dos já

elevados diferenciais de pressão), e de baixa qualidade de acabamento,

com a existência de cantos vivos nos filetes da rosca interna e no suporte

estático de vedação do eixo, produziram avarias no o-ring, resultando no

vazamento de GNV e em explosão no interior do habitáculo.

Detalhes de tampa do filtro de ar rompida, de consumo

35

Além dos combustíveis líquidos, o vazamento de outros fluídos

líquidos inflamáveis, em contato com partes quentes do veículo, como o

motor e o coletor de escapamento, pode deflagrar um incêndio, como, por

exemplo, o óleo da caixa de câmbio, principalmente quando pré-aquecido

por sobrecarga da transmissão ou com deficiência de ventilação.

As figuras exibidas a seguir ilustram um incêndio em veículo

provocado por vazamento do óleo da caixa de câmbio, pré-aquecido por

sobrecarga do sistema de transmissão e com rompimento da carcaça.

Incêndio em veículo devido a sobrecarga da transmissão

3.3 Vazamento de outros fluídos

36

Também, o óleo da direção hidráulica, principalmente quando

submetido a elevadas pressões quando do esterçamento do volante de

direção, com vazamento a partir da válvula de segurança e das

mangueiras do sistema hidráulico de direção. E, ainda, o óleo do motor e

o líquido de freio (DOT 3 e DOT 4), este último por fuga nas tubulações e

respectivas juntas, tendo a sua pressão elevada quando do acionamento

do pedal de freio de serviço. A tabela exibida a seguir descreve

importantes propriedades dos líquidos inflamáveis presentes no incêndio

de um veículo automotor.

NFPA 921 - GUIDE FOR FIRE AND EXPLOSION INVESTIGATIONS - Capítulo 15, Quadro 15-2.3.

Propriedades dos líquidos inflamáveis presentes nos incêndios em veículos

37

O vazamento dos gases devido a avarias no escapamento,

como a queima das juntas ou a ruptura do coletor de descarga, podem

deflagar um incêndio. A falta de faiscamento num dos cilindros do motor,

por defeito na vela ou por desligamento do respectivo cabo, faz com que

os gases que ficam no tubo de escape sejam depois inflamados pelos

gases queimados que saem dos outros cilindros.

O inadequado procedimento de trafegar em trechos em declive

com a ignição desligada, pode levar os gases a se acumularem no

silencioso e na tubulação de escape, podendo depois serem inflamados

quando se liga a ignição novamente.

Em veículos mais antigos, com alimentação por carburação, era

freqüente a deflagração de incêndio por pré-combustão, contra-explosão,

espirro do carburador ou back-fire, a qual se dava por admissão de

mistura de carburação pobre e conseqüente atraso da inflamação. Uma

mistura pobre arde lentamente e quando a válvula de admissão se abre

para deixar entrar nova mistura no cilindro, os gases que estão na

câmara de compressão ainda ardem e a chama propaga-se até a câmara

de combustão, explodindo a mistura aí formada.

38

O atritamento entre superfícies em contato produz calor que

deve ser dissipado para evitar aumento exagerado de temperatura.

Correias, polias e rolamentos, quando superaquecidos, detém potencial

para dar início a um incêndio. No entanto, é no sistema de freio que está

o maior risco, devido à possibilidade de contato constante entre partes

metálicas e a conseqüente deflagração de um incêndio, o que pode

ocorrer por excessivo ajuste dos seus componentes, uso abusivo do freio

de serviço por parte do condutor, e excessivo desgaste das lonas de um

dispositivo de frenagem a tambor de um veículo pesado e a conseqüente

verticalização do came S. A movimentação do veículo com o sistema de

freio de estacionamento acionado corresponde também a uma situação

em que pode ocorrer o superaquecimento do dispositivo de freio

indevidamente.

3.4 Atrito entre componentes veiculares

Pode ocorrer, ainda, por motor desregulado (ignição

adiantada), com explosões prematuras nos cilindros antes do

fechamento completo da válvula de admissão e lançamento de onda

explosiva em direção ao coletor de admissão e ao carburador. A

presença da carcaça do carburador e do elemento filtrante, ao invés de

admissão direta, praticamente elimina a probabilidade de incêndio.

39

Propagação de um incêndio a partir do dispositivo de frenagem

traseiro esquerdo de um ônibus

A partir do exame pericial do veículo, nos foi possível

identificar a formação de trincas na superfície interna do tambor de

freio, a qual se encontrava com coloração azulada, indicativos de

intensa ação do calor, corroborados pelo excessivo desgaste das

lonas de freio, as quais se encontravam vitrificadas e quebradiças.

As figuras a seguir ilustram a propagação de um incêndio

iniciado no dispositivo de frenagem traseiro esquerdo de um ônibus

por atritamento constante entre as lonas e o tambor de freio.

40

Detalhe do tambor e das lonas de freio do dispositivo de

frenagem traseiro esquerdo do ônibus

Dispositivos de frenagem por lona/tambor, por seu maior

enclausuramento e conseqüente menor ventilação, são mais suscetíveis à

deflagração de incêndios do que dispositivos de frenagem por disco/tambor,

tendo em vista as maiores temperaturas alcançadas.

No caso de veículos de grande porte, as altíssimas temperaturas

alcançadas pelos dispositivos de frenagem por lona/tambor, superiores a

300 ºC, além da deflagração de incêndios, podem resultar no fenômeno

conhecido por faiding, no qual ocorrem alterações nas características

mecânicas dos materiais, ocorrendo a perda momentânea do freio.

41

No caso exibido a seguir, o incêndio ocorrido a partir do sistema

de força de uma colheitadeira, teve como causa o atritamento constante

por travamento do rolamento de apoio do eixo principal e o respectivo

alojamento, devido ao desalinhamento do eixo principal da carcaça da

embreagem pneumática.

Vista Geral da colheitadeira incendiada em seu sistema de força

42

Região incendiada correspondente à localização do sistema de embreagem e

detalhe do rolamento de apoio do eixo principal e o respectivo alojamento

No que tange à deflagração de incêndios decorrentes de

acidentes de trânsito, a mesma tem como sua principal causa o

vazamento de combustível, comumente ocorrido a partir da ruptura

mecânica por cisalhamento ou flexão de dutos ou de mangueiras,

podendo ocorrer ainda por eventos de tombamentos e/ou

capotamentos, minimizados atualmente pela maior estanqueidade dos

veículos modernos.

3.5 Acidentes de trânsito

43

No caso de vazamentos por falência no circuito de combustível,

os mesmos se dão freqüentemente em interações entre veículos de

diferentes portes, como por exemplo caminhões x automóveis e ônibus x

automóveis, devido ao efeito de cunha produzido e as conseqüentes forças

verticais geradas.

Os embates de automóveis com estruturas estáticas de perfil

alongado, como no caso de postes e árvores, concentradores de

deformações da carroçaria do veículo, tendo como sede o setor lateral

direito médio e traseiro constituem-se em interações suscetíveis da

deflagração de incêndios dada a localização dos dutos de alimentação e

retorno de combustível, situados na região inferior lateral direita dos

veículos.

No caso exibido a seguir, o embate lateral direito de um

automóvel com um poste em madeira, seguido de intrusão na carroçaria,

resultou na falência do duto de combustível e no contato do combustível

com o componente aquecido do sistema de escapamento, constituindo-se

na causa do incêndio.

Efeito de cunha: fenômeno gerado a partir da aplicação de uma força de um corpo

de determinadas dimensões em relação a outro, resultando na produção de forças

normalmente perpendiculares à força aplicada.

44

Propagação de um incêndio a partir de um embate lateral direito com um

poste em madeira

Quanto à fonte de ignição, a mesma pode ser gerada por

fenômeno elétrico de curto-circuito, devido à ruptura do revestimento de

condutores elétricos energizados, a partir de um acidente de trânsito,

dando origem a um arco elétrico. As superfícies quentes dos veículos,

devido à baixa temperatura de ignição dos combustíveis automotivos,

constituem-se em uma importante fonte de ignição em acidentes de

trânsito.

45

A geração de faíscas mecânicas por atritamento de partes

metálicas do veículo com o pavimento, as quais atingem em torno de

800 ºC para faíscas amarelas (baixa velocidade) e em torno de 1.200 ºC

para faíscas brancas (alta velocidade), podem deflagrar o incêndio em

caso de acidentes de trânsito com vazamento de combustível.

Em colisões, o vazamento de hidrogênio associado a um curto-

circuito na bateria de acumuladores pode também dar origem a um

incêndio. Os filamentos de lâmpadas fraturadas, quando fraturados,

atingem temperaturas em torno de 1.400 ºC, podendo constituir-se em

fonte de ignição de um incêndio.

Nas colisões frontais entre automóveis e caminhões exibidas a

seguir, nota-se o efeito de cunha ocorrido e a conseqüente deflagração

de incêndio em ambos os casos.

Propagação de incêndio a partir da colisão entre veículos de portes diferentes

(automóveis x caminhões)

46

Os incêndios podem ter início, ainda, a partir de outros corpos

ígneos presentes nos veículos, como, por exemplo, o acendedor e a

própria brasa de cigarros. Além disso, devem-se considerar, ainda, os

casos em que a fonte de ignição é externa ao veículo.

Uma situação de elevado risco potencial da ocorrência de

explosões se dá quando do reparo por soldagem de tanques destinados

ao armazenamento de substâncias líquidas combustíveis e inflamáveis.

Neste caso, deve-se promover a prévia expulsão de qualquer resíduo do

interior do recipiente confinado, com a utilização de alguma substância

inerte.

A existência de resíduos da substância original volatizada

constitui-se em uma situação de alto risco de explosão, devido à

possibilidade da formação de uma atmosfera em concentração ideal com

o ar atmosférico, na presença de uma fonte de ignição, poder resultar em

uma explosão confinada. O procedimento de soldagem dá origem a um

arco elétrico de elevada voltagem com intensa geração de faíscas.

3.6 Outras situações de risco de incêndios e

explosões em veículos

47

No primeiro caso ilustrado a seguir, o reparo por solda de

travessas do chassi de um caminhão carregado com material combustível

(móveis em madeira), deflagrou um incêndio no interior do baú metálico.

No segundo caso, o reparo por solda de fissuras de um semi-

reboque do tipo tanque, destinado ao transporte de líquido inflamável,

deu origem a uma explosão confinada com elevados patamares de

pressão, resultando na morte violenta do soldador.

Deflagração de incêndio e de explosão confinada a partir de reparos

efetuados por soldagem

48

Encontrando-se em situação estática com o escapamento

aquecido, e estando o motor do veículo ligado ou não, pode ocorrer um

incêndio pelo contato com a vegetação seca, associado a pouca

ventilação pelo fato do veículo se encontrar parado.

Também o turbo compressor, de construção em alumínio na

admissão (zona fria) e em aço no escapamento (zona quente), com giro

da turbina de até 100.000 rpm, gera calor que pode deflagrar um

incêndio em contato com combustível.

Outra situação potencialmente perigosa é aquela em que a

concepção do veículo pelo fabricante, no caso de adaptação, por

exemplo, não prevê o risco de deflagração de incêndio. No caso exibido

a seguir, a utilização de uma retro escavadeira em horto florestal a partir

da simples adição de um cabeçote florestal, sem redimensionamento da

vedação da carroçaria do veículo, provocou o acúmulo de vegetação

constituída de gravetos, vagens e folhas de acácia, no interior do

compartimento do sistema hidráulico, submetida a constante

aquecimento e que na presença de óleo diesel, deu origem ao incêndio.

49

Retro escavadeira com cabeçote florestal sede de incêndio

50

Detalhe da cabine da retro escavadeira oxidada pelo fogo e do foco do incêndio

no interior do compartimento hidráulico

No que diz respeito ao procedimento pericial realizado em

veículos incendiados, o primeiro exame deve ocorrer, sempre que

possível, no local de origem do evento. Por ocasião deste primeiro

contato, importante se faz a confecção de um croqui, perpetuando a

posição original de imobilização do veículo, a qual é confirmada pela

existência de material comburido depositado sob o mesmo, além de

outros vestígios de interesse.

4. Exame pericial em veículos incendiados

51

Marcas de pegadas e marcas pneumáticas podem ser um

indicativo da presença de terceiros e de um outro veículo que tenha

rebocado o veículo incendiado ou conduzido terceiros. Deve-se procurar no

interior, junto ou próximo ao veículo, e, ainda, na região circundante, pela

existência de recipientes, especialmente aqueles contendo líquido

inflamável, além de componentes do veículo, entre outros objetos,

principalmente materiais combustíveis parcialmente comburidos, devendo-

se amarrar as suas posições de imobilização.

Por ocasião deste primeiro exame no local do evento, deve-se

procurar verificar a direção e intensidade de ação do evento, o qual terá

influência na propagação do incêndio. Locais ermos são freqüentemente

preferidos para a prática de incêndios intencionais.

O deslocamento do veículo a partir do local de origem do evento,

apesar de implicar na provável perda de vestígios supostamente existentes,

pode permitir um exame mais adequado, no caso em que o veículo seja

removido para um local com melhores condições para se proceder ao

exame, preferencialmente uma oficina mecânica. Nesta situação, deve-se

atentar para a produção de avarias devido a sua remoção.

52

O primeiro procedimento realizado com relação ao veículo é a sua

caracterização, a partir da sua marca, modelo, cor predominante e outras

características particulares, seguida da identificação do código

alfanumérico do chassi (VIN), o qual fornece informações significativas

como o fabricante, país de origem, tipo de carroçaria e de motor, ano de

fabricação e planta de montagem, além do número de série.

A existência de vestígios de adulteração por subtração da

codificação do chassi é um forte indicativo da intencionalidade de um

incêndio em veículo, conforme exibido a seguir.

Subtração do código alfanumérico de chassi em veículo

parcialmente incendiado

53

Importante se faz a constatação da posição original das portas e

tampas dos compartimentos do motor e de bagagem, bem como a

situação original de abertura ou de fechamento dos vidros das portas e

ventarolas, além da tampa do tanque de combustível.

Os padrões de queima das portas e das tampas dos

compartimentos do motor e de bagagem podem ser conclusivos quanto a

sua situação de abertas ou fechadas. Vidros fechados por ocasião da

propagação do incêndio tendem a exibir intenso esfumaçamento na sua

superfície interna. A concentração de vidro fundido no setor inferior

interno das portas significa que os vidros encontravam-se abertos por

ocasião do incêndio. A existência de vidros fraturados sem

esfumaçamento nas suas faces internas denuncia que a fratura ocorreu

antes do incêndio, indicativo de incêndio intencional. Vidros temperados

são mais resistentes ao calor do que os laminados.

A existência de um maior número de portas abertas do que o

número de supostos ocupantes do veículo pode significar a abertura

deliberada das portas para a entrada de ar visando alimentar o incêndio

com ar atmosférico (comburente) ou, ainda, para a retirada de objetos.

54

A presença da tampa posicionada no seu local de origem pode

estar a denunciar a pouca quantidade de combustível no tanque por

ocasião do incêndio ou a ativação do dispositivo de alívio de pressão, o

que pode ser confirmada pela existência de vestígios característicos de

efeito lança-chamas. A tampa pode se encontrar, ainda, avariada por

excesso de pressão interna.

A ausência da tampa pode se dar por lançamento devido à sobre

pressão interna, exibindo, nesta situação, marcas características

constituídas de avarias na rosca interna do bocal. Caso a tampa tenha

sido subtraída por ação humana deliberada para utilização do respectivo

combustível como acelerante da combustão ou apenas para facilitar a

propagação e magnitude do incêndio, o bocal irá se mostrar íntegro, sem

marcas e sem a impregnação de material adicional. No caso de ter sido

fundida por ação do incêndio, poderá exibir a deposição de restos de

material constituinte no bocal de enchimento, como no caso de construção

em liga de alumínio.

55

Em alguns casos de incêndios intencionais, a retirada da tampa

tem como objetivo a subtração de combustível do tanque por diferencial

de pressão (sucção e desnível) com a utilização de mangueira, visando a

sua utilização como acelerante de combustão. Pode ocorrer ainda o

preenchimento do respectivo bocal com material combustível, como uma

bucha de tecido que poderá se apresentar parcialmente comburida em

sua extremidade externa.

A retirada de combustível do interior do tanque de combustível

pode se dar também por perfuração do tanque ou retirada da tampa de

drenagem, o que pode ser constatado devido a sua ausência, por estar

frouxa e pela existência de marcas de ferramenta.

Deve-se atentar, ainda, para a existência de vestígios de

arrombamento no veículo, bem como a situação de interruptores e da

alavanca da caixa de câmbio quanto a sua posição, entre outros

comandos. A ausência de componentes e de acessórios do veículo como

bancos, rodados, auto-rádio e outros equipamentos, é indicativa de

incêndios intencionais.

56

Outro item importante diz respeito à suposta carga existente no

veículo, a qual deve compatibilizar com a carga de material comburido,

tendo em vista a possibilidade de subtração de carga com valor agregado,

principalmente em veículos de carga. Neste caso a nota fiscal constitui-se

em um importante indicativo.

Com relação aos pneumáticos, caso não tenham sido totalmente

consumidos pelo incêndio, deve-se verificar se os mesmos não exibem

desgaste excessivo nas bandas de rodagem, o que pode denunciar uma

possível substituição antes do incêndio. Ainda que tenham sido muito

atingidos pela ação do fogo, a região localizada entre o rodado e o solo

tende a ser preservada.

No exame da carroçaria, primeiramente procura-se localizar,

através de exame visual externo, as regiões de maior intensidade de ação

do calor na carroçaria, o que dá uma boa indicação do foco do incêndio,

inclusive quando localizado no interior dos compartimentos do motor, de

bagagem ou de passageiros (habitáculo).

57

Quanto à diferenciação de ação direta ou indireta de chama sobre

as chapas metálicas da carroçaria, uma ação direita resulta no consumo

total da película de tinta (nitrocelulósica), resultando em uma chapa viva

(espelho metálico), conforme reproduzido a seguir.

Chapas metálicas das portas submetidas a fogo externo

58

A ação indireta da chama é caracterizada pela existência de restos

de pintura, com formação de uma casca de fácil desprendimento, conforme

ilustrações a seguir, as quais exibem ação do fogo externo na tampa do

compartimento do motor.

Subtração da numeração identificadora de chassi em veículo

A exposição da chapa metálica à ação do fogo resulta ainda na

chamada “oxidação seca”, devido à liberação de oxigênio que ao reagir

com o metal dá origem a uma oxidação superficial, formada também

quando do contato da água proveniente do combate ao incêndio.

59

Importante se faz o exame da superfície inferior do teto com

relação à intensidade da queima, um bom indicativo da localização do

foco quando do incêndio deflagrado dentro do habitáculo, conforme

ilustrado a seguir.

Superfície inferior do teto com maior intensidade de queima no setor

anterior, indicativo da região do foco do incêndio

No caso exibido a seguir, as marcas estampadas na superfície

externa do teto evidenciaram a ocorrência do impacto de um objeto em

chamas, seguido do espargimento de líquido inflamável sobre o teto, no

sentido do pára-brisa, o que é corroborado pelo aspecto da queima na

sua superfície inferior.

60

Incêndio em veículo deflagrado a partir do lançamento de um objeto em chamas,

seguido do espargimento de líquido inflamável sobre o teto

Ainda sobre o teto, a sua deformação por ação do calor

constitui-se em um indicativo da região de maior calor no interior do

habitáculo, localizada abaixo da mesma. Entretanto, deve-se

considerar que a uma temperatura de aproximadamente 500 ºC a

resistência mecânica das chapas metálicas é reduzida em torno de

50%, deformando-se com maior facilidade.

61

No exame do compartimento do motor impregnado pela ação de

pó químico extintor, recomenda-se a lavagem do motor, o que facilita

sobremaneira a visualização de vestígios de interesse, conforme ilustrado

a seguir.

Compartimento do motor impregnado de pó químico extintor e lavado

Além da maior intensidade de ação do calor, deve-se

procurar identificar a existência de gradação de queima entre os

componentes afetados pelo incêndio e entre os respectivos

compartimentos dos veículos, com o objetivo de se chegar ao foco

do incêndio.

62

Quando da gradação de queima entre o compartimento do motor

e o habitáculo, o incêndio deflagrado no interior do habitáculo pouco afeta

o compartimento do motor, dada a sua estanqueidade e pouca areação.

Já no caso do incêndio deflagrado no interior do compartimento do motor,

o mesmo tende a propagar-se para o habitáculo, dada a passagem

facilitada pelo painel corta-fogo, o efeito forno e a presença de materiais

combustíveis.

O estabelecimento de mais de um foco primário irá comprovar a

intencionalidade de um incêndio. A utilização de líquido inflamável como

acelerante da combustão também é conclusiva quanto à intencionalidade

de um incêndio em veículo. Neste caso, além do exame visual, tendo em

vista o aspecto característico, importante se faz a adequada coleta de

material para posterior exame em laboratório especializado na detecção

de acelerantes de combustão.

A utilização de substâncias acelerantes é denunciada pelo

aspecto da queima por espargimento de líquido inflamável, resultando em

uma rápida e concentrada ação do fogo na película de tinta, produzindo

diversas colorações por ação nas diversas camadas de tintas, conforme

ilustrações a seguir.

63

Aspecto de queima característico da utilização de líquido acelerante da

combustão (setor anterior)

Aspecto de queima característico da utilização de líquido acelerante da

combustão (setor posterior)

64

Também a presença de material combustível parcialmente

comburido no interior do veículo constitui-se em uma importante

evidência da intencionalidade de um incêndio.

Outras constatações, como a de um significativo dano mecânico

em componentes internos ao motor, pode se constituir em uma boa

motivação para a deflagração de um incêndio intencional, visando

fraudar companhia seguradora.

No caso exibido a seguir, apesar do veículo ter sido reduzido a

sua estrutura metálica, implicando na destruição de vestígios

supostamente existentes e na conseqüente impossibilidade de

determinação da causa, nos foi possível constatar a existência de danos

significativos no interior do motor, constituídos de obstrução na

canalização de lubrificação no colo do eixo de manivelas (virabrequim)

junto ao primeiro mancal, oposto ao disco do volante, resultando em

desgaste acentuado do meio-casquilho da respectiva biela, sendo o

veículo segurado.

65

Veículo incendiado com avarias no motor

Orifícios por disparo de arma de fogo, como os produzidos na

tampa do compartimento de bagagem e respectiva tampa interna de

divisão com o compartimento de passageiros e avarias produzidas por

ação humana intencional, como o corte da mangueira entre a bomba e o

filtro de combustível, denunciam também a prática de incêndio

intencional. A deflagração de Incêndios constitui-se em modus

operandis de furto e roubo de veículos.

66

Veículo incendiado com disparos de arma de fogo

Subtração da numeração identificadora de chassi em veículo

67

Por último, recomenda-se, sempre que possível o exame

comparativo de outro veículo semelhante e íntegro, com o objetivo de

compreender a configuração original do veículo incendiado.

Comparativo entre veículo incendiado e veículo

íntegro de semelhante construção

68

Neste primeiro caso de incêndio intencional (vídeo vts3) o

veículo teria incendiado após colidir com o poste, em local ermo e à noite.

Apesar da compatibilidade do referido embate, a baixa intensidade de

avarias da colisão frontal ocorrida, a inexistência de componentes do

sistema de alimentação de combustível na região sede das avarias, a

ativação do dispositivo de segurança de corte de combustível e de

corrente elétrica, a existência de fragmentos do pára-brisa depositados

sobre o painel de instrumentos e sobre os assentos dos bancos

desprovidos de esfumaçamento em suas faces internas, a alta

probabilidade da existência de pelo menos 2 (dois) focos primários de

incêndio e, principalmente, a propagação do incêndio para o interior do

habitáculo pelo vão do pára-brisa, ao invés do painel corta-fogo e do

sistema de ventilação forçada, caminho habitual da propagação de

incêndios provindos do interior do compartimento do motor, denunciam a

intencionalidade do incêndio ocorrido, visando fraudar companhia

seguradora.

5. Casuística de incêndios intencionais

69

Veículo incendiado supostamente por embate frontal em poste

Fragmentos de vidro pára-brisa sem esfumaçamento da face interna

70

Ausência de propagação do incêndio pelo painel corta-fogo deflagrado no

interior do compartimento do motor

No segundo caso de incêndio intencional, no qual o veículo fora

reduzido a sua estrutura metálica, constatamos a deposição de material

comburido sob o veiculo, indicativo de que o veículo fora incendiado no

local do evento (ermo). A posição da tampa do compartimento do motor,

associado à configuração de queima da sua superfície interna, calcinada

em seu setor inferior e intensamente esfumaçada em seu setor superior,

indicavam que por ocasião da deflagração do incêndio a referida tampa

encontrava-se aberta.

71

A carroçaria do veículo exibia diferentes profundidades de ação

do calor sobre as películas de tinta constituintes do processo de pintura,

resultando na diversidade de colorações, característico de rápida

combustão rápida, e espargimento de substância líquida, denotando a

utilização de acelerante da combustão. Constatamos, ainda, a ausência da

tampa do bocal do tanque de combustível e a presença de uma tira de

tecido parcialmente consumida pelo fogo e impregnada de sangue nas

proximidades do veículo.

Veículo submetido a incêndio intencional e detalhe da deposição de

material comburido

72

Veículo submetido a incêndio intencional e detalhe da ausência da tampa

do bocal do tanque de combustível

Detalhe da configuração da queima na superfície externa da carroçaria,

característico da utilização de líquido acelerante da combustão

73

Tira de tecido parcialmente consumida pelo fogo e impregnada de sangue

Já no terceiro e último caso de incêndio intencional, denota-se

a mesma configuração de ação do calor na carroçaria, característica da

utilização de líquido acelerante da combustão. A tampa externa do

tanque de combustível encontrava-se aberta, encontrando-se ausente a

respectiva tampa do bocal e achando-se presente no bocal de

enchimento uma bucha de tecido parcialmente comburida. Note-se,

ainda, a presença de material combustível constituído de folhas de

jornal parcialmente comburidas, depositadas no interior do

compartimento de bagagem.

74

Veículo submetido a incêndio intencional

Detalhe da presença de uma bucha de tecido parcialmente comburida no bocal

de enchimento do tanque de combustível e da configuração da queima na

superfície externa da carroçaria

75

Detalhe de material combustível parcialmente comburido no interior do

compartimento de bagagem

Constituem-se em elementos fundamentais e tendências na

segurança veicular passiva, a resistência da estrutura, a retenção dos

ocupantes, as superfícies interiores e vidros, as superfícies exteriores, a

prevenção de riscos de incêndios e a evacuação rápida de ocupantes

em acidentes.

6. Prevenção de Risco de Incêndios e Explosões em

Veículos

76

Com relação ao risco de incêndios em veículos, especificamente

sobre a estanqueidade dos veículos em caso de colisão, a resolução no

463/73 do CONTRAN, em seu item 4, baseada na regulamentação das

Nações Unidas ECE R12, prevê para um impacto frontal a 48 km/h com

barreira fixa e rígida, o controle da integridade do sistema de combustível,

por meio de limite da massa de combustível derramada em 28 g no instante

do impacto e de 28g/min após o impacto. Mais recentemente, a

regulamentação das nações unidas ECE R 94 limita o vazamento de

combustível a um máximo de 0,5 g/seg (30 g/min) após o impacto.

Historicamente, após a campanha sobre segurança veicular

desencadeada na década de 60 por Ralph Nader nos EUA, a partir da

publicação da obra Unsafe at Any Speed, a preocupação com o risco de

incêndios na segurança veicular teve seu marco em meados da década de

70, quando da ocorrência de incêndios em veículos do modelo Pinto,

resultando em dezenas de vítimas de lesões por queimaduras.

Concebido com o tanque de combustível entre o pára-choque

traseiro e o eixo traseiro, um grade equívoco de concepção do ponto de

vista da segurança veicular, o referido veículo apresentava susceptibilidade

de deflagração de incêndios a partir de colisões traseiras.

77

Durante a investigação do caso Richard Grimshaw, jovem que

sofreu queimaduras generalizadas a partir de uma colisão traseira,

ocorrido na Califórnia, veio a tona uma informação que mudaria o rumo do

processo judicial e da segurança veicular mundial. Um documento emitido

pelo fabricante continha uma estimativa de 180 vítimas fatais e de 180

vítimas de queimaduras graves, resultando em um prejuízo estimado em

50 milhões de dólares em indenizações. Em contrapartida, o fabricante

estimava em 11 dólares o custo de reparação de todos os veículos,

totalizando um montante de 137 milhões de dólares, optando por não

realizar o recall.

No entanto, a justiça norte-americana, ao tomar conhecimento

desta nefasta decisão, condenou a montadora a pagar indenizações num

total de 125 milhões de dólares, considerando a decisão da empresa “uma

desconsideração desumana pela segurança pública a fim de maximizar os

lucros da corporação”.

(vídeo Ford Pinto)

78

Atualmente, em nível mundial, a prevenção de riscos de

incêndio em veículos pode ser percebida a partir da implantação de

melhorias nos veículos, quais sejam:

Instalações elétricas com adequado dimensionamento dos condutores

e providas de sistemas de proteção por fusíveis e disjuntores;

Tubulações de combustível e suas fixações, evitando a passagem

sobre possíveis fontes de ignição (motor, escapamento, etc.);

Tanque de combustível isolado do habitáculo, com resistência a

determinada pressão hidráulica;

Materiais construtivos do habitáculo e do compartimento do motor com

baixa inflamabilidade e maior tempo de combustão (incombustíveis), não

havendo, no entanto, nenhuma exigência a respeito da toxidade dos

gases emitidos na combustão;

Instalação de dispositivo central de acionamento de emergência para

corte de alimentação de combustível na saída do tanque, desconexão

dos sistemas elétricos e parada do funcionamento do motor;

79

Izquierdo, F. A., et alii, LA SEGURIDAD DE LOS VEHÍCULOS

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NFPA 921, GUIDE FOR FIRE AND EXPLOSION INVESTIGATIONS,

1998 Edition;

Kleinübing, Rodrigo, DIAGNOSE DE INCÊNDIO E EXPLOSÕES EM

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THE SEARCH FOR THE SAFER CAR - CRASH SCIENSE - Discovery

Channel;

7. Bibliografia

Obrigatoriedade da utilização de extintores em veículos de grande

porte;

Realização de ensaios para a utilização de sistemas de extinção

automática.

80

Custódio, F. B., et alii, COLISÃO FRONTAL VEÍCULO CONTRA

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Caderno SOBRE RODAS, JORNAL ZERO HORA;

MECÂNICA DO AUTOMÓVEL, GRANDE ENCICLOPÉDIA PRÁTICA,

Editora SÉCULO FUTURO, 1988;

Pons i Grau, Vicent, DINÁMICA DEL FUEGO - Origen y causa de los

incendios, 2003;

Phillips, Calvin y MacFadden, INVESTIGACIÓN DEL ORIGEN Y

CAUSAS DE LOS INCENDIOS, Editorial MAPFRE, 1982;

MANUAL DE RECONSTRUCCIÓN DE ACCIDENTES DE TRÁFICO,

Editora CESVIMAP (2006).

81

Rodrigo Kleinübing

Perito Criminalístico Engenheiro (RS)

[email protected]

Fone 51 9952-1765

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