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Curso de processo penal eugenio pacelli - 2014

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  1. 1. Curso de Processo Penal
  2. 2. Eugnio Pacelli de Oliveira Mestre e doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Procurador Regional da Repblica no Distrito Federal e Relator-Geral da Comisso de Anteprojeto do Novo Cdigo de Processo Penal instituda pelo Senado da Repblica 1Curso de Processo Penal 18 Edio Revista e Ampliada. Atualizada de acordo com as Leis n"' 12.830, 12.850 e 12.878, todas de 2013 SO PAULO EDITORA ATLAS 5.A. - 2014
  3. 3. CI 2011 by EditoraAtlas S.A. As 1S primeiras edies so da Lumen Juris; 16. ed. 2012; 17. ed. 2013; 18. ed. 2014 Capa: Leonardo Hermano Projeto grfico e composio: Set-up TimeArtes Grficas Dados Internacionais de catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP. Brasil) Oliveira, Eugnio Pacelli de Curso de processo penal I Eugnio Pacelli de Oliveira. - 18. ed. rev. e ampl. atual. de acordo com as leis n"' 12.830, 12.850 e 12.878, todas de 2013. - So Paulo:Atlas, 2014. Bibliografia. ISSN 978-85-224-8631-1 ISSN 978-85-224-8632-8 (PDF) 1. Processo penal 2. Processo penal - Brasil 1. Ttulo. 11-12156 CDU-341.1 ndice para catlogo sistemtico: 1. Processo penal : Direito penal 343.1 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - proibida a reproduAo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos direitos de autor (lei n 9.610198) crime estabelecido pelo artigo 184 do Cdigo Penal. - ..1 EditoraAtlas S.A. Rua Conselheiro Nbias, 1384 Campos Elsios 01203 904 So Paulo SP 011 3357 9144 atlas. com.br
  4. 4. Agradecimentos especiais Anna e ao Renato, cuja dedicao na Procuradoria Regional daRepblica ocupa posio de destaque na viabilidade desta edio. A L6, Pedro Ivo, Isabela e Gabriel, por todas as razes.
  5. 5. 1 Sumrio Nota rno. edio, xvii Introduo, 1 O Processo Penal Brasileiro, 5 1.1 O Cdigo de Processo Penal, S 1.2 A Constituio da Repblica de 1988 e o Processo Constitucional, 8 1.3 O sistema acusatrio, 9 1.4 Sistemas processuais incidentes: o modelo brasileiro, 13 Leis e Processo Penal no Tempo e no Espao, 17 2.1 Tratados e convenes internacionais, 17 2.2 A jurisdio dos tribunais penais internacionais, 19 2.3 Leis processuais no espao e no tempo, 23 Sistema dos Direitos e Princpios Fundamentais, 31 3.1 Estado democrtico de direito e postulados de interpretao, 31 3.2 Garantismo e interveno penal, 33 3.3 A base ou estrutura principiolgica, 35 3.3.1 O justo processo: devido processo legal, 37 3.3.1.1 Juiz natural, 37 3.3.1.2 Direito ao silncio e no autoincriminao, 41 3.3.1.3 Contraditrio, 43 3.3.1.4 Ampla defesa, 44
  6. 6. viii Curso de processo penal Pacelli 3.3.l.5 Estado ou situaojurdica de inocncia, 48 3.3.1.6 Vedao de reviso pro societate, 49 3.3.1.7 Inadmissibilidade das provas obtidas ilicitamente, 52 4 A Fase Pr-Processual: a Investigao Criminal, 53 4.1 Inqurito policial, 56 4.1.1 Procedimento, 61 4.1.2 Poder de polcia e representao aojuiz: capacidade postulatria?, 66 4.1.3 Arquivamento, 67 4.1.3.1 Arquivamento indireto, 74 4.1.3.2 Conflito de atribuies no mbito do Ministrio Pblico, 75 4.1.4 Inqurito policial e extino da punibilidade, 78 4.2 Investigaes administrativas, 85 Da Ao Penal, 97 5.1 A estrutura dialtica do processo: potencializao da ampla defesa, 97 5.2 Ao e processo, 102 5.2.1 Pretenso e lide, 102 5.3 Condies da ao, 105 5.3.l Interesse de agir, 106 5.3.2 Legitimidade, 108 5.3.3 Possibilidadejurdica do pedido, 109 5.3.4 Condies de procedibilidade, 1 1 1 5.3.5 A justa causa, 116 5.4 Pressupostos processuais, 118 5.4.1 Pressuposto de existncia, 119 5.4.2 Requisitos de validade, 121 5.5 Ao penal pblica incondicionada, 123 5.5.1 Ao (penal) popular e crime de responsabilidade, 123 5.5.2 Ao penal pblica incondicionada: princpio fundamental: a obrigatoriedade, 126 5.5.3 Indisponibilidade e outras regras processuais, 128 5.5.4 Critrio de definio da legitimao ativa, 129 5.5.5 Discricionariedade regrada, 130 5.6 Ao penal pblica condicionada, 133 5.6.1 Prazo decadencial da representao, 136 5.6.2 Capacidade ou legitimao para representar, 137 5.6.3 Retratao, 138 5.6.4 Legitimao concorrente ou alternativa?, 140 5.7 Ao penal privada, 141
  7. 7. 5.7.l Legitimao ativa, 144 5.7.2 Disponibilidade, 147 5.7.2.1 Renncia, 147 5.7.2.2 Perempo e desistncia, 150 5.7.2.3 Perdo, 151 5.7.3 Indivisibilidade, 153 5.7.4 Decadncia, 157 5.7.5 Crimes contra a dignidadesexual, 159 5.8 Ao privada personalssima, 163 5.9 Ao privada subsidiria da pblica, 164 5.10 Denncia e queixa, 168 5.10.1 Crimes coletivos e individualizao da conduta, 168 5.10.2 Acusao genrica e acusao geral, 169 5.10.3 Aditamento, 171 5.10.4 Litisconsrcio, 173 5.10.5 Prazo, 174 5.10.6 Capitulao, 175 5.10.7 Rejeio, 176 5.10.8 Omisses, 178 5.11 Extino da punibilidade, 179 Ao Civil ExDelicto, 183 6.1 Generalidades, 183 6.2 Prejudicialidade, 185 6.3 Objeto, 187 6.4 Legitimao, 188 6.5 Subordinao temtica e eficcia preclusiva, 189 6.5.1 Nas decises condenatrias, 189 6.5.2 Nas decises absolutrias, 190 6.5.3 A negativa de autoria, 192 6.6 Responsabilidade civil de terceiros, 194 6.7 A legitimao do Ministrio Pblico, 197 7 Jurisdio e Competncia, 199 7.1 Jurisdio e repartio de competncia, 199 Sumrio ix 7.2 Juiz natural e competncia absoluta: competncia de jurisdio, 202 7.3 Prerrogativa de funo (ratione personae), 203 7.3.1 Crimes comuns e crimes de responsabilidade, 204 7.3.2 Critrio da simetria, 207 7.3.3 Critrio de regionalizao, 212 7.3.3.1 Deputados Estaduais e Prefeitos, 213 7.3.3.2 A extenso dos foros privativos nas Constituies Estaduais, 215
  8. 8. x Curso de processo penal Pacelli 7.3.4 Prerrogativa de funo e natureza do crime, 219 7.3.5 Processo e procedimentos, 221 7.3.5.l Competncia originria, 221 7.3.5.2 O exerccio efetivo do cargo, 223 7.3.5.3 Foro privativo e procedimento, 225 7.3.5.4 Prerrogativa de funo, concurso de agentes e concurso de crimes, 226 7.4 Imunidades materiais e imunidades formais ou processuais, 231 7.5 Competncia em razo da matria (ratione materiae), 234 7.5.l Competncia da Justia Federal, 235 7.5.1.1 A casustica constitucional, 245 7.6 Competncia da Justia Militar e da Justia Eleitoral, 258 7.7 A competncia territorial, 261 7.7.l Competncia relativa e competncia absoluta, 262 7.7.2 Critrios de determinao da competncia infraconstitucional, 264 7.7.2.1 O lugar, 264 7.7.2.2 A natureza da infrao, 267 7.7.2.3 O domiclio ou residncia do ru, 269 7.7.2.4 A preveno, 269 7.7.2.5 A disnibuio, 272 7.8 Modificao de competncia eperpetuatiojurisdictionis, 272 7.8.1 Desclassificao, 277 7.8.2 Conexo, 282 7.8.3 Continncia, 285 7.8.4 Unidade de processo e de julgamento, 285 7.8.5 Eleio do juzo prevalente, 287 7.8.6 Separao de processos conexos e/ou continentes, 290 7.8.7 Prorrogao de competncia, 291 Das Questes e Processos Incidentes, 293 8.1 Das questes prejudiciais, 293 8.2 Dos processos incidentes, 296 8.2.l Das excees, 296 8.2.1.l Exceo de suspeio, impedimento ou incompatibilidade, 298 8.2.1.2 Exceo de incompetncia, 301 8.2.1.3 Demais excees, 303 8.3 Do conflito de jurisdio, 305 8.4 Da restituio de coisas apreendidas, 312 8.5 Das medidas assecuratrias, 314 8.5.l Sequestro, 315 8.5.2 Especializao de hipoteca, 318
  9. 9. Sumrio xi 8.5.3 Arresto, 319 8.5.4 Medidas assecuratrias previstas na lavagem de dinheiro e ativos (Lei n 9.613/98, com redao dada pela Lei n 12.683/12), 320 8.5.5 Da alienao antecipada de bens arrestados, hipotecados ou objeto de sequestro - Lei n 12.694/12, 321 8.6 Do incidente de falsidade, 322 8.7 Da insanidade mental do acusado, 323 Da Prova, 327 9.1 Teoria da prova, 327 9.1.l O mito e o dogma da verdade real, 332 9.1.2 A distribuio do nus da prova e a iniciativa probatria do juiz, 334 9.1.3 O livre convencimento motivado e a ntima convico, 339 9.1.3.l A prova tarifada ou sistema das provas legais, 340 9.1.3.2 O livre convencimento motivado: persuaso racional, 340 9.1.3.3 Hierarquia e especificidade de provas, 341 9.1.4 Direito e restries prova, 344 9.1.4.1 A inadmissibilidade das provas ilcitas, 345 9.1.4.2 A teoria dos frutos da rvore envenenada, 363 9.1.4.3 A teoria do encontro forcuito de provas, 366 9.1.4.4 A prova ilegtima: a prova emprestada, 368 9.1.4.5 O aproveitamento da prova com excluso da ilicitude, 369 9.1.4.6 O aproveitamento da prova ilcita: proporcionalidade, proibio de excesso (vedao de proteo deficiente?), 373 9.2 Meios de prova, 379 9.2.1 Do interrogatrio, 379 9.2.1.1 Direito ao silncio e no autoincriminao, 383 9.2.1.2 Intervenes corporais, 389 9.2.1.3 Procedimento, 402 9.2.2 Da confisso, 411 9.2.3 Da prova testemunhal, 412 9.2.3.1 Capacidade para testemunhar, 413 9.2.3.2 O compromisso de dizer a verdade, 414 9.2.3.3 Dispensa do dever de depor, 414 9.2.3.4 Proibio do testemunho, 416 9.2.3.5 Testemunhas, declarantes, informantes e outros, 417 9.2.3.6 Regras procedimentais gerais, 419 9.2.3.7 Proteo testemunha: Lei n9.807/99, 424
  10. 10. xii Curso de processo penal Pacelli 9.2.4 Da prova pericial, 426 9.2.4.l O exame de corpo de delito, 429 9.2.4.2 Outras percias, 432 9.2.4.3 Prova pericial e contraditrio, 432 9.2.5 Das perguntas ao ofendido, 434 9.2.6 Do reconhecimento de pessoas e coisas, 435 9.2.7 Da acareao, 436 9.2.8 Dos documentos, 437 9.2.9 Dos indcios, 439 9.2.10 Da busca e apreenso, 440 10 Sujeitos do Processo, 443 10.1 Partes e relao processual, 443 10.1.l Parte (no sentido) formal e parte (no sentido) material, 447 10.2 Do juiz, 449 10.2.l Imparcialidade, 449 10.2.2 Poderes gerais e iniciativa probatria, 454 10.2.3 Juiz natural, 456 10.2.4 Princpio da identidade fsica do juiz, 457 10.3 Do Ministrio Pblico, 458 10.3.l A imparcialidade, 460 10.3.2 Suspeio, impedimento e incompatibilidade: consequncias, 461 10.3.3 O promotor natural, 464 10.3.4 Atividades investigatrias, 472 10.4 Do acusado, 472 10.5 Do Defensor, 475 10.6 Da assistncia, 481 10.6.l Legitimao, 482 10.6.2 O assistente como custos legis, 483 10.6.3 Faculdades processuais, 485 10.6.4 Recurso de sentena penal condenatria, 488 10.6.5 Procedimento, 489 10.7 Peritos, intrpretes e funcionrios da justia, 489 10.8 Ofendido?, 491 11 Da Priso, das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisria, 493 11.1 As regras das prises e da liberdade provisria: as medidas cautelares pessoais, 493 11.2 As determinaes constitucionais da no culpabilidade, 496 11.3 Princpio fundamental das medidas cautelares: o postulado da proporcionalidade, 501 11.4 As medidas cautelares, diversas das prises, 507
  11. 11. 11.4.l Regras gerais da aplicao, 519 11.4.1.1 Poder geral de cautela?, 522 11.4.1.2 A fiana e seu cabimento, 523 11.4.2 Procedimento das cautelares, 525 11.5 A priso em flagrante, 532 11.5.1 Consideraes gerais, 532 Sumrio xiii 11.5.2 Flagrante esperado e flagrante preparado (provocado), 534 11.5.3 Flagrante diferido (controlado), 540 11.5.4 Misses/funes da priso em flagrante, 540 11.5.5 Priso em flagrante e situaes especiais, 542 11.6 Priso temporria, 544 11.6.l Priso temporria e o art. 313, I, CPP, 548 11.7 Priso preventiva, 549 11.7.1 Requisitos fticos: situaes legais de risco persecuo penal, 552 11.7.2 Requisitos normativos: definio dos crimes passveis de decretao de priso preventiva, 560 1 1.7.2.l Excees ao teto do art. 313, I, CPP, 561 11.7.3 Prazo: a construo jurisprudencial, 564 1 1.7.4 Priso preventiva ex officio, 568 11.7.5 Vedao legal priso preventiva, 570 11.8 Priso domiciliar, 571 11.9 O ato prisional: generalidades, 573 11.10 Priso especial, 578 11.11 Priso para extradio e priso civil, 581 11.12 A liberdade provisria, com e sem fiana, 582 11.12.l Relaxamento da priso, 588 11.12.2 Liberdade provisria com fiana, 590 1 1.12.2.l Cautelares de ofcio e sistema acusatrio, 593 1 1.12.2.2 Procedimento da fiana, 595 11.12.3 A restituio da liberdade do art. 283, P, do CPP, 601 1 1.12.4 A inafianabilidade constitucional e a vedao ex lege liberdade, 602 11.12.5 Execuo provisria, 605 12 Das Citaes e Intimaes, 609 12.l Das citaes, 609 12.1.1 Espcies de citao, 610 12.1.2 Citao do ru preso, 618 12.1.3 Citao do incapaz, 619 12.1.4 Revelia e suspenso do processo e do prazo prescricional, 620 12.2 Das intimaes, 624
  12. 12. xiv Curso de processo penal Pacelli 13 Dos Atos Processuais e dos Atos Judiciais, 629 13.l Dos atos processuais, 629 13.1.1 Dos prazos processuais, 631 13.2 Dos atos judiciais, 636 13.2.1 Decises interlocutrias, 637 13.2.2 Decises com fora de definitivas, 642 13.2.3 Sentenas, 643 13.2.3.l A correlao entre sentena e pedido, 646 13.2.3.2 Emendar.ia libelli, 648 13.2.3.3 Mutatio libelli, 651 13.2.3.4 Motivao e dispositivo das sentenas, 660 13.2.3.5 Intimao da sentena, 667 13.2.4 Coisa julgada em matria penal, 668 14 Dos Procedimentos, 677 14.l Processo e procedimento, 677 14.2 Procedimento comum, 680 14.2.l Procedimento ordinrio, 682 14.2.2 Procedimento sumrio, 699 14.3 Da suspenso do processo, 701 14.3.l Suspenso do processo: direito ou discricionariedade?, 710 14.3.2 Revogao e cumprimento da suspenso, 712 14.3.3 Ao privada, 714 14.3.4 Cabimento: concurso de crimes, tentativa, causa de aumento e de diminuio, 716 14.4 Do procedimento do Tribunal do Jri, 717 14.4.l Anotaes introdutrias, 717 14.4.2 Da acusao e da instruo preliminar, 719 14.4.2.l Absolvio sumria, 723 14.4.2.2 Desclassificao, 726 14.4.2.3 Impronncia, 729 14.4.2.4 Pronncia, 731 14.4.3 Da fase dejulgamento, 735 14.4.3.l Da preparao do processo para julgamento em plenrio, 735 14.4.3.2 Do desaforamento, 737 14.4.3.3 Jurados: recusas, imparcialidade, 738 14.4.3.4 Da reunio e das sesses do Tribunal do Jri, 739 14.4.3.5 Da quesitao, 741 14.4.3.6 Da instruo em plenrio, 745 14.5 Dos juizados especiais criminais, 750 14.5.l Consideraes gerais, 750 14.5.2 Infraes de menor potencial ofensivo, 752
  13. 13. Sumrio xv 14.5.3 A transao penal: direito subjetivo ou discricionariedade?, 757 14.5.4 Competncia e atos processuais, 760 14.5.5 O rito nosjuizados criminais, 762 14.6 Juizados de violncia domstica e familiarcontra a mulher: Lei n11. 11.340/06, 775 14.6.l Consideraes gerais, 775 14.6.2 Competncia cvel e criminal: limitaes constitucionais, 778 14.6.3 Procedimentos e medidas cautelares, 780 14.6.4 Medidas protetivas de urgncia, 783 14.7 Processo e procedimentos especiais, 785 14.7.l Dos processos de competnciaoriginria, 785 14.7.2 Crimes contra a honra, 790 14.7.3 Crimes de responsabilidade de funcionrios pblicos, 791 14.7.4 Crimes de trfico de drogas, 795 14.7.5 Processo penal eleitoral, 820 14.7.6 Crimes falimentares, 825 14.7.7 Colegiados de primeiro grau e organizaes criminosas na Lei n 12.694/12, 829 14.7.8 A Lei de Organizaes Criminosas - Lei n 12.850/13, 835 14.7.9 Crimes de lavagem de dinheiro e ativos (Lei n11 9.613/98, com redao dada pela Lei n11 12.683/12), 886 14.8 Procedimentos e conexo e/ou continncia, 894 15 Das Nulidades, 897 15.l Atos inexistentes, 899 15.2 Nulidades e ilicitudes na investigao, 900 15.3 Nulidade absoluta e nulidade relativa, 905 15.4 Nulidades: efeito devolutivo dos recursos e vedao da reformatio in pejus, 908 15.5 A regra do interesse nas nulidades, 912 15.6 A instrumentalidade das fonnas, 913 15.7 Causalidade: derivao das nulidades, 915 15.7.l Nulidade e incompetncia absoluta, 919 15.8 Convalidao, 923 15.9 A casustica do Cdigo de Processo Penal, 925 16 Dos Recursos, 931 16.l Teoria dos recursos, 931 16.1.1 Princpios, 936 16.1.1.1 O duplo grau, 936 16.1.1.2 A voluntariedade dos recursos, 937 16.1.1.3 A unirrecorribilidade, 940
  14. 14. xvi Curso de processo penal Pacelli 16.1.1.4 A fungibilidade dos recursos, 941 16.1.1.5 A vedao da reformatio inpejus, 943 16.1.2 Regras: suplementaridade, complementaridade e outras, 944 16.1.3 Disponibilidade, 946 16.1.4 Efeitos dos recursos, 947 16.1.4.l Efeito suspensivo, 947 16.1.4.2 Efeito devolutivo, 948 16.1.4.3 Efeito extensivo e iterativo, 949 16.1.5 Classificaes dos recursos, 950 16.1.6 Juzo de admissibilidade dos recursos, 951 16.1.6.l Requisitos objetivos, 953 16.1.6.2 Requisitos subjetivos, 957 16.2 Da apelao, 962 16.2.l Cabimento, 963 16.2.2 Efeitos, 967 16.2.3 Procedimento, 970 16.3 Do recurso em sentido estrito, 976 16.3.l Cabimento, 978 16.3.2 Procedimento, 983 16.3.3 Efeitos, 984 16.4 Embargos infringentes ou de nulidade, 985 16.5 Embargos declaratrios, 988 16.6 Embargos de divergncia, 990 16.7 Carta testemunhvel, 991 16.8 Agravo de execuo, 991 16.9 Correio parcial, 993 16.lO Recurso ordinrio, extraordinrio e especial, 994 16.10.l Recurso ordinrio, 994 16.10.2 Recurso especial, 996 16.10.3 Recurso extraordinrio, 1004 16.11 Aes autnomas, 1009 16.11.1 Mandado de segurana, 1009 16.11.2 Ao de reviso criminal, 1012 16.11.3 Habeas corpus, 1020 17 Relaes Internacionais com Autoridade Estrangeira, 1043 17.1 Cartas rogatrias, 1045 17.2 Homologao das sentenas estrangeiras, 1047 Referncias, 1051 ndice remissivo, 1059
  15. 15. 1 Nota 18 edio Desnecessrio e cansativo repisar: o Brasil campeo mundial na pro duo legislativa. Ttulo que deveria nos envergonhar, pois demonstra a impossibilidade concreta de estabilizao da dogmtica jurdica, sempre s voltas com alteraes conceituais de relevo. Basta ver o caso da recente Lei n11 12.850/13, a cuidar das organizaes criminosas, instituindo, enfim, o res pectivo tipo penal, mas alterando tambm a definio da estrutura da or ganizao. Ou seja, alterao que h de ter reflexos tambm na igualmente recente Lei n2 12.694/12, que trata dos Colegiados de Primeiro Grau e que estabelecia um conceito um pouco distinto de organizao criminosa. Esta ltima definio durou apenas um ano! Fora isso, e da Lei n2 12.830/13, que regulamenta algumas poucas ques tes atinentes investigao criminal, na perspectiva da atuao do respon svel por sua conduo, as novidades ficaram no ano de 2012, no que toca matria legislativa. J em relao jurisprudncia, algumas questes polmicasforamenfren tadas na Suprema Corte, sobretudo no julgamento da AP n2 470, envolvendo elevado nmero de agentes polticos. A maioria delas j estava contemplada em nossas reflexes; outras seguem agora.
  16. 16. xviii Curso de processo penal Pacelli Reiteramos nossas escusas por eventuais erros e lapsos, convidando o leitor a consultar nosso site sobre erratas e atualizaes necessrias. Braslia, incio de outubro de 2013. OAutor
  17. 17. 1 I ntroduo Na virada da primeira dcada do sculo XXI, nossa legislao processual penal permanece atrelada codificao elaborada no longnquo ano de 1941, o nosso incansvel Cdigo de Processo Penal. Evidentemente, de l para c muito foi alterado. No fosse isso, e certa mente ainda estaramos nas trevas de uma cultura confessadamence autorit ria. Mas continuamos a aguardar uma reforma mais atualizada com os novos sopros da ps-modernidade. Nesse sentido, tramita no Congresso Nacional (Cmara dos Depurados) o PLS n" 156 (Projeto de Lei no Senado), renumerado para PL nt 8.045/10, cuidando da elaborao de um Novo Cdigo de Processo Penal, produzido a partir de anteprojeto gestado por uma Comisso de Juristas no ano de 2008, comisso essa a qual tivemos a honra de integrar: Nosso Cdigo de 1941, o que, por si s, j explica o elevado grau da superao de seu contedo originrio. A aludida legislao codificada refletia uma mentalidade tipicamente po licialesca, prpria da poca, em absoluto descompasso com a Constituio da Repblica, que j respirava ares de maior participao popular. Certamente por isso, a preocupao com a afirmao de direitos e garantias individuais mereceu captulo especfico na nova ordem constitucional.
  18. 18. 2 Curso de processo penal Pacelli Dentre as modificaeslegislativasmais importantes, cite-se a Lei no.11.689, de 10 de junho de 2008, modificando inteiramente o rito procedimental do jri; a Lei no. 11.690, da mesma data, alterando o tratamento das provas, incluindo novas disposies e esclarecendo algumas dvidas doutrinrias; a Lei no. 11.719, de 20 de junho, promovendo ampla modificao nos ritos e procedimentos, alm da Lei no. 11.900/09, a cuidar de diversas modalidades do interrogatrio. Aplausos, ainda, para as Leis n11:112.01s e 12.033, ambas de 2009, quepu blicizam (tomam pblica) a ao penal nos crimes contra a dignidade sexual e contra a honra (injria), quando consistente, no ltimo caso, na utilizao de preconceito de cor, raa, origem, etnia, idade ou deficincia da vtima. Nas duas hipteses, a ao penal passa a ser pblica, condicionada, porm, representao do ofendido, salvo quando a vtima for menor ou pessoa vulnervel (deficincia ou enfermidade), e, no caso de estupro, resultar le so corporal grave ou morte, caso em que a ao penal ser evidentemente pblica incondicionada (ver art. 101, CP). Vem a lume, ento, a Lei no. 12.403, de 5 de maio de 2011, a tratar e introduzir diversas medidas cautelares pessoais no Brasil, apresentando alter nativas efetivas e concretas s prises cautelares. Nesse ponto, h que se ter otimismo. Embora ainda se mantenham na citada lei alguns ranos da legislao anterior, parece-nos inegvel o avano na matria, a facultar ao juiz um rico elenco de cautelares pessoais que devem preferir custdia do investigado ou acusado, salvo quando indispensvel a medida, seja pelo descumprimento de alguma delas (art. 282, 4!:1, CPP), seja pela gravidade do crime (art. 313, 1, CPP). Este um trabalho essencialmente doutrinrio. Doutrinrio no sentido de propor um confronto entre as possveis leituras dos institutos e categorias do processo penal brasileiro, sem se limitar mera reproduo de posies j dominantes, algo que infelizmente anda bem ao gosto de parte de nossa produo literria. O espao para a reflexo crtica ser certamente uma de nossas preocupaes centrais. As inmeras referncias feitas jurisprudncia de nossos tribunais supe riores, sobretudo a do Supremo Tribunal Federal, tm tambm este propsito: permitir o exame quanto coerncia dos julgados e sobre as (s vezes, au sentes) respectivas fundamentaes. Nessa perspectiva, um dilogo perma nente entre as pretenses tericas e a aplicao prtica na jurisprudncia dos Tribunais enriquece sobremaneira o texto e a profundidade das reflexes, at
  19. 19. Introduo 3 porque o Direito no pode ser nem visto e nem tratado como prerrogativa das academias ou das instituies pblicas e privadas que a ele se dedicam. Acresase a isso nossa preocupao com uma inevitvel atualizao legisla tiva, que, no Brasil, infelizmente, apresentaalto nvel de produtividade, nem sempre como avano. Alis, procuraremos desenvolver as nossas abordagens sempre sob a pers pectiva dos mais recentes estudos acerca da interpretao constitucional, e, portanto, dos postulados inerentes ao nosso sistema dos direitos fundamen tais, bem como dos princpios fundamentais do processo e mais especifica mente do impacto que se deve esperar (ou mesmo imprimir) de sua aplicao no campo da dogmtica do processo penal. Nesse passo, assinalese a permanente necessidade de se procurar esta belecer critrios mais atuais para a aplicao de determinadas normas cons titucionais, na medida em que uma delas, posta em tenso com outra, estar reclamando um exame no mbito da sua adequabilidade para a soluo de casos concretos. Em matria penal e processual penal, no se pode perder de vista que o seu contedo envolve questes de alta relevncia, as quais nem sempre podem ser resolvidas sem que se considerem as particularidades de cada caso concreto. Acreditamos firmemente que somente a partir da estruturao principio lgica do processo poderemos, por exemplo, reconstruir a concepo de um modelo de processo com feies acusatrias, como entendemos ser possvel e indispensvel ao nosso ordenamento. Para ns, no mais admissvel compreender e muito menos seguir apli cando o processo penal sem a filtragem constitucional. Demonstrar essa realidade deve ser um compromisso de todo aquele que se dispe a escrever sobre o tema. Por isso mesmo, as nossas maiores preocupaes se dirigiro s questes de fundo, de contedo da relao ou das relaes jurdicas, ou ainda da si tuao jurdica que habita o processo penal. A ritualstica, isto , a maneira de desenvolvimento dos atos processuais no que se refere s diversas formas de procedimento, merecer, tal como ela mesma nos parece, um tratamento mais burocrtico, sem maiores incurses da reflexo. Por todo o exposto, possvel perceber que o texto que segue no pre tende uma abordagem completa dos diversos temas, em termos de extenso e profundidade. Essa seria uma tarefa mais adequada a um LTatado. O nosso
  20. 20. 4 Curso de processo penal Pacelli estudo pretende cumprir o papel e a funo de um manual, ou, conforme o nome indica, de um Curso de processo penal. No obstante, pensamos que as linhas bsicas do que entendemos necessrio compreenso dos diversos institutos da disciplina encontram-se suficientemente delimitadas. Assim, o leitor poder, querendo, empreender novas reflexes para o seu desenvolvimento. o que esperamos.
  21. 21. CAPTULO 1 O Processo Penal Brasileiro 1.1 O Cdigo de Processo Penal Aps a vigncia das Ordenaes do Reino de Portugal (do sculo XVI ao incio do sculo XIX), nossa primeiralegislaocodificadafoi o Cdigo de Pro cesso Criminal de Primeira Instncia, em 1832, merecendo registro tambm algumas disposies processuais previstas na Constituio imperial de 1824, que lhe ancecedeu. Atanto no retrocederemos, porm. A perspectiva histrica que mais nos inceressa, exatamente porque at hoje ainda nos alcana, sicua-se em meados do sculo XX, mais precisamente no ano de 1941, com a vigncia do nosso, ainda atual (quanto vigncia!), Cdigo de Processo Penal. Inspirado na legislao processual penal italiana produzida na dcada de 1930, em pleno regime fascista, o Cdigo de Processo Penal (CPP) brasileiro foi elaborado em bases notoriamente aucoricrias, por razes bvias e de ori gem. E nem poderia ser de oucro modo, a julgar pelo paradigma escolhido e justificado, por escrito e expressamente, pelo responsvel pelo anteprojeto de lei, Min. Francisco Campos, conforme se observa em suaExposio de Motivos. Na redao primitiva do Cdigo de ProcessoPenal, at mesmo a sentena absolutria no era suficiente para se restituir a liberdade do ru, depen dendo do grau de apenao da infrao penal (o antigo art. 596, CPP). Do
  22. 22. 6 Curso de processo penal Pacelli mesmo modo, dependendo da pena abstratamente cominada ao fato, uma vez recebida a denncia, era decretada, automtica e obrigatoriamente, a priso preventiva do acusado, como se realmente do culpado se tratasse (o antigo an. 312, CPP). Alis, oqueo legisladorainda persegue emalgumasleis-Lei n11 8.072/90, Crimes Hediondos; Lei n11 11.343/06, Trfico de Drogas; e Lei n2 10.826/03, do Estatuto do Desarmamento -, a pretender vedar ex lege, isto , por fora de mera abstrao legislativa, a restituio da liberdade quele aprisionado em flagrante. A Lei n11 12.683/2012 revogou idntica disposio legal que tambm vedava a restituio da liberdade nos crimes de lavagem de dinheiro, ento constante do art. 3P da Lei nP 9.613/98. No ponto, registre-se alterao promovida pela Lei n2 11.464, de maro de 2007, que, modificando o art. 2P, II, da Lei dos Crimes Hediondos - Lei n11 8.072/90 -, passou a vedar unicamente a liberdade provisria com fiana, permitindo a restituio da liberdade com a imposio de outras medidas cautelares diversas da fiana. Alis, o atual art. 323, CPP, reproduz a inafian abilidade constitucional de alguns delitos, como se fosse possvel vedar qual quer forma de restituio da liberdade aps a priso em flagrante. Logo veremos que o Supremo Tribunal Federal vem cuidando de limitar determinados excessos legislativos, reconhecendo, enfim, a impossibilidade de se permitir ao legislador, a priori, ou seja, sem o exame de cada caso con creto, a restituio liberdade daquele que foi preso em flagrante. Pensamos que, a partir da Lei n11 12.403, de 5 de maio de 2011, mais e melhor se esclarece a natureza acautelatria de toda restrio de direito no curso do processo penal, o que exigir, inexoravelmente, ordem escrita e fundamentada de autoridadejudiciria. As novas cautelares pessoais, que in cluem a priso preventiva, dependero de fundamentaojudicial, conforme se v do texto expresso do atual art. 283, caput, CPP. Voltando ao passado, o princpio fundamental que norteava o Cdigo de Processo Penal, ento, era o dapresuno de culpabilidade. Manzini, penalis ta italiano que ainda goza de grande prestgio entre ns, ria-se daqueles que pregavam a presuno de inocncia, apontando uma suposta inconsistncia lgica no raciocnio, pois, dizia ele, como justificar a existncia de uma ao penal contra quem seria presumivelmente inocente? Evidentemente, a aludida dvida somente pode ser explicada a partir de um pressuposto: o de que o fato da existncia de uma acusao implicava juzo de antecipao de culpa, presuno de culpa, portanto, j que ningum
  23. 23. O Processo Penal Brasileiro 7 acusa quem inocente! Vindo de uma cultura de poder fascista e autoritrio, como aquela do regime italiano da dcada de 1930, nada h a se estranhar. Mas a lamentar h muito. Sobretudo no Brasil, onde a onda policialesca do Cdigo de Processo Penal produziu uma gerao dejuristas e de aplicadores do Direito que, ainda hoje, mostram alguma dificuldade em se desvencilhar das antigas amarras. claro que - e sempre ser - muito difcil compatibilizar interesses to opostos como aqueles representados pela necessidade de aplicao da lei pe nal (enquanto ela existir) e o exerccio da liberdade individual. Ento, de modo mais explcito, apontam-se no originrio Cdigo de Pro cesso Penal as seguintes e mais relevantes caractersticas: a) o acusado tratadocomopotencial e virtual culpado, sobretudo quan do existir priso em flagrante, para a qual, antes da dcada de 1970, somente era cabvel liberdade provisria para crimes afianveis, ou quandopresentepresuno de inocncia, consubstanciada na possvel e antevista existncia de causas de justificao (estado de necessida de, legtima defesa etc.) na conduta do agente (antiga redao do art. 310, caput, CPP - atual pargrafo nico do mesmo dispositivo); b) em uma suposta balana entre a tutela da segurana pblica e a tute la da liberdade individual, prevalece a preocupao quase exclusiva com a primeira, com o estabelecimento de uma fase investigatria agressivamente inquisitorial, cujo resultado foi uma consequente exacerbao dos poderes dos agentes policiais; c) a busca da verdade, sinalizada como a da verdade real, legitimou diversas prticas autoritrias e abusivas por parte dos poderes pbli cos. A ampliao ilimitada da liberdade de iniciativa probatria do juiz, justificada como necessria e indispensvel busca da verdade real, descaracterizou o perfil acusatrio que se quis conferir ativi dade jurisdicional. Essa parece ser a razo pela qual Jacinto Nelson Miranda Coutinho, ilustre processualista, Professor Titular da Facul dade de Direito da Universidade do Paran, insistia em conceituar o nosso modelo processual como de natureza preferencialmente inqui sitorial (COUTINHO, 2001, p. 3-50); d) o interrogatrio do ru era realizado, efetivamente, em ritmo inqui sitivo, sem a interveno das partes, e exclusivamente como meio de prova, e no de defesa, estando o juiz autorizado a valorar, contra o acusado, o seu comportamento no aludido ato, seja em forma de
  24. 24. 8 Curso de processo penal Pacelli silncio (antiga redao do an. 186 e o ainda atual art. 198, j re vogado implicitamente), seja pelo no comparecimento em juzo. autorizada, ento, a sua conduo coercitiva (art. 260, CPP). Repita-se: estamos tratando da redao originria do Cdigo de Processo Penal. Na dcada de 1970, mais precisamente nos anos 1973 e 1977, houve gran des alteraes no aludido Cdigo, iniciadas, alis, com a Lei n 5.349/67, por meio das quais foram flexibilizadas inmeras regras restritivas do direito li berdade. J nesse sculo, ento, com as Leis ni:is 11.689, 11.690 e 11.719, todas dejunho de 2008, a legislao processual penal sofreu novos e grandes ajustes, cujas alteraes sero apreciadas a seu tempo e no espao temtico adequado. No bastasse, a Lei n 12.403/11 no deixa mais dvidas: nosso Cdigo de Processo Penalvai se alinhando s determinaes constitucionais, ao menos em temas essenciais: as prises provisrias devem ser sempre a exceo, devendo o magistrado preferir as medidas cautelares diversas daquelas (prises). 1.2 A Constituio da Repblica de 1988 e o Processo Constitucional Se a perspectiva terica do Cdigo de Processo Penal era nitidamente au toritria, prevalecendo sempre a preocupao com a segurana pblica, como se o Direito Penal constitusse verdadeira poltica pblica, a Constituio da Repblica de 1988 caminhou em direo diametralmente oposta. Enquanto a legislao codificada pautava-se pelo princpio da culpabilida de e da periculosidade do agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas garantias individuais, a comear pela afirmao da situaojurdi ca de quem ainda no tiverreconhecida a sua responsabilidade penal por sen tena condenatria passada emjulgado: "ningum ser considerado culpado at o trnsito emjulgado de sentena penal condenatria" (art. 5, LVII, CF). A mudana foi radical. A nova ordempassou a exigir que o processo no fosse mais conduzido, prioritariamente, como mero veculo de aplicao da lei penal, mas, alm e mais que isso, que se transformasse em um instrumento de garantia do indivduo em face do Estado. O devido processo penal constitucional busca, ento, realizar uma Jus tia Penal submetida exigncia de igualdade efetiva entre os litigantes. O
  25. 25. O Processo Penal Brasileiro 9 processo justo deve atentar, sempre, para a desigualdade material que nor malmente ocorre no curso de toda persecuo penal, em que o Estado ocu pa posio de proeminncia, respondendo pelas funes investigatrias e acusatrias, como regra, e pela atuao da jurisdio, sobre a qual exerce o monoplio. Processojusto a ser realizado sob instruo contraditria, perante o juiz natural da causa, e no qual seja exigida a participao efetiva da defesa tc nica, como nica forma de construo vlida do convencimento judicial. E o convencimento dever ser sempre motivado, como garantia do adequado exerccio da funo judicante e para que se possa impugn-lo com maior am plitude perante o rgo recursai. Mais que isso, ou junto a isso, deve ser um processo construdo sob os rigores da Lei e do Direito, cuja observncia imposta a todos os agentes do Poder Pblico, de maneira que a verdade ou verossimilhana (certeza, enfim!) judicial seja o resultado da atividade probatria licitamente desen volvida. Disso decorrer tambm a vedao das provas obtidas ilicitamente (art. 511, LVI, CF), no s como afirmao da necessidade de respeito s regras do Direito, mas como proteo aos direitos individuais, normalmente atingi dos quando da utilizao ilcita de diligncias e dos meios probatrios. Uma vez que ao Estado deve interessar, na mesma medida, tanto a absolvio do inocente quanto a condenao do culpado, o rgo estatal responsvel pela acusao, o Ministrio Pblico, passou a ser, com a Cons tituio de 1988, uma instituio independente, estruturado em carreira, com ingresso mediante concurso pblico, sendo-lhe incumbida a defesa da ordemjurdica, e no dos interesses exclusivos da funo acusatria. Nesse sentido, o Ministrio Pblico, e no s o Poder Judicirio, deve atuar com imparcialidade, reduzindo-se a sua caracterizao conceituai de parte ao campo especfico da tcnica processual. 1.3 O sistema acusatrio De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema processual inquisi trio do modelo acusatrio pela titularidade atribuda ao rgo da acusao: inquisitorial seria o sistema em que as funes de acusao e de julgamen to estariam reunidas em uma s pessoa (ou rgo), enquanto o acusatrio seria aquele em que tais papis estariam reservados a pessoas (ou rgos)
  26. 26. 10 Curso de processo penal Pacelli distintos. A par disso, outras caractersticas do modelo inquisitrio, diante de sua inteira superao no tempo, ao menos em nosso ordenamento, no ofere cem maior interesse, caso do processoverbal e em segredo, sem contraditrio e sem direito de defesa, no qual o acusado era tratado como objeto do processo. As principais caractersticas dos aludidos modelos processuais penais se riam as seguintes: a) no sistema acusatrio, alm de se atriburem a rgos diferentes as funes de acusao (e investigao) e de julgamento, o pro cesso, rigorosamente falando, somente teria incio com o ofereci mento da acusao; b) j no sistema inquisitrio, como ojuiz atua tambm na fase de inves tigao, o processo se iniciaria com a notitia criminis, seguindo-se a investigao, acusao e julgamento. No sculo XIX, e mais precisamente no ano de 1808, com o surgimento do famoso Code d'instruction criminelle francs, outro modelo processual com caractersticas bem definidas se apresentava prtica judiciria. Nesse sistema processual, a jurisdio tambm se iniciaria na fase de in vestigao, e sob a presidncia de um magistrado- os Juizados de Instruo-, tal como ocorre no sistema inquisitrio. No entanto, a acusao criminal fica va a cargo de outro rgo (o Ministrio Pblico) que no ojuiz, caracterstica j essencial do sistema acusatrio. Exatamente por isso, denominou-se referi do sistema de sistema misto, com traos essenciais dos modelos inquisitrios e acusatrios. Obra indispensvel sobre o tema, colhe-se em Mauro Fonseca Andrade (Sistemas processuais penais e seus princpios reitores. Curitiba: Juru, 2008) rica e exaustiva pesquisa histrica acerca dos sistemas processuais penais, cujo trabalho, de largos mritos, presta-se tambm a desfazer no poucos equvocos e confuses conceituais sobre a matria. Sob cais distines, o nosso processo mesmo acusatrio. Entretanto, a questo no to simples. H realmente algumas dificuldades na estruturao de um modelo efetivamente acusatrio, diante do carter evi dentemente inquisitivo do nosso Cdigo de Processo Penal e seu texto originrio. Nada obstante, pequenos, mas importantes, reparos foram feitos ao lon go desses anos, em relao construo de um modelo prioritariamente acusatrio de processo penal. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, e,
  27. 27. O Processo Penal Brasileiro 1 1 acertadamente, j teve oportunidade de decidir pela impossibilidade de ojuiz poder requisitar de oficio novas diligncias probatrias, quando o Ministrio Pblico se manifestar pelo arquivamento do inqurito. A violao ao sistema acusatrio, na hiptese, seria e era patente (STF- HC n 82.507/SE, Rel. Se plveda Pertence, l' Turma, DJ 19.12.2002, p. 92). No campo da distribuio dos nus da prova, a Lei nP 11.719/08 parece ter adotado uma linha visivelmente acusatria, ao eleger as partes como pro tagonistas na fase de inquirio de testemunhas, reservando-se ao magistrado a funo, supletiva, de esclarecimento dos depoimentos. No ponto, h certo descompasso com a regra geral do art. 156 do mesmo CPP, na qual se confere ampla liberdade de iniciativa probatria conferida ao juiz, frequentemente legitimada pelo decantado princpio da verdade real. Ora, alm do fato de no existir nenhuma verdade judicial que no seja uma verdade processual, tal princpio, na realidade, na extenso que se lhe d, pode ser- e muitas vezes foi e ainda - manipulado para justificar a subs tituio do Ministrio Pblico pelo juiz, no que se refere ao nus probatrio que se reserva quele. Nesse particular, pensamos que somente uma leitura constitucional do processo penal poder afastar ou diminuir tais inconvenientes, com a afir mao do princpio do juiz natural e de sua indispensvel imparcialidade. Com efeito, a igualdade das partes somente ser alcanada quando no se permitir mais ao juiz uma atuao substitutiva da funo ministerial, no s no que respeita ao oferecimento da acusao, mas tambm no que se refere ao nus processual de demonstrar a veracidade das imputaes feitas ao acu sado. A iniciativa probatria do juiz deve limitar-se, ento, ao esclarecimento de questes ou pontos duvidosos sobre o materialj trazido pelas partes, nos termos da nova redao do art. 156, II, do CPP. trazida pela Lei n2 11.690/08. No se quer nenhum juiz inerte, mas apenas o fim do juiz investigador e acu sador, de tempos, alis, j superados. Do mesmo modo, no se pode deixar de criticar e, mais que isso, de rejeitar validade regra trazida com a Lei n11: 11.690/08, que, alterando o disposto no mesmo art. 156 do CPP. permite ao juiz, de ofcio, ordenar, mesmo antes de iniciada a ao penal, a produo de provas consideradas urgentes e relevantes. No cabe ao juiz tutelar a qualidade da investigao, sobretudo porque so bre ela, ressalvadas determinadas provas urgentes, no se exercer jurisdio. O conhecimento judicial acerca do material probatrio deve ser reservado
  28. 28. 12 Curso de processo penal Pacelli fase de prolao da sentena, quando se estar no exerccio de funo tipica mente jurisdicional. Antes, a coleta de material probatrio, ou de convenci mento, deve interessar quele responsvel pelo ajuizamento ou no da ao penal, jamais quele que a julgar. Violao patente do sistema acusatrio. Isso no impedir, por certo- da no se aceitar tambm o aprisionamen to ou a limitao indevida da funo jurisdicional-, que o Juiz Criminal, na fase de processo ( claro!), e quando for necessrio e possvel, diligencie em direo, no s do esclarecimento de dvidas sobre as provas produzidas, mas tambm na busca de eventuais provas da inocncia do acusado. Diferen a de tratamento? Sem dvida, mas plenamentejustificada; no se pode, sob quaisquer fundamentos, vincular a deciso judicial qualidade da atuao das partes (acusao e defesa), particularmente quando se tratar - e quando puder ser antevista- a possibilidade de produo de prova em favor do ru, mesmo no requerida ou vislumbrada pelo defensor. O processo penal moderno j superou o modelo do duelo, disputa ou de luta, no qual, a partir de uma suposta e discutvel premissa da igualdade entre as partes, vence aquele que atua melhor e de maneira mais eficiente. Para ns, este um modelo medieval, tpico de ambientes que se utilizam da retrica da igualdade (que ali sempre formal) como reforo de legiti midade de um sistema que s aparentemente democrtico. Mais se dir sobre o tema no captulo atinente s provas. Nessa ordem de ideias, o interrogatrio do ru no poderia deixar de ser tambm redimensionado, como o foi, j a partir da Lei nQ 10.792/03, para se constituir, efetivamente, em exclusivo meio de defesa, e no de prova, reser vando-se ao acusado o juzo de convenincia e oportunidade quanto sua participao ou no no referido ato processual. De seu silncio e de seu no comparecimento no podero advir, obviamente, quaisquer prejuzos, exata mente por fora da norma constitucional (art. 5