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2 PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO José Aristides da Silva Gamito CURSO DE TEOLOGIA POPULAR: Uma proposta de teologia para todos Conceição de Ipanema 2009

Curso de Teologia - José Aristides

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GAMITO, José Aristides da Silva. Curso de Teologia Popular: Uma proposta de teologia para todos. Conceição de Ipanema, 2011.

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PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

José Aristides da Silva Gamito

CURSO DE TEOLOGIA POPULAR:

Uma proposta de teologia para todos

Conceição de Ipanema 2009

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INTRODUÇÃO À TEOLOGIA

1. Conceito de teologia A palavra teologia1 significa “estudo sobre Deus”. Atualmente, é entendida como a reflexão sistemática dos fundamentos da revelação. Portanto, o seu objeto de estudo não é Deus em si, mas o que o homem entende sobre Deus. A disciplina estuda a realidade sobre Deus e sua relação com o homem. A Revelação é o ponto de partida e de delimitação da reflexão teológica. A fonte primeira é a Bíblia, a qual contém uma visão revelada de Deus, de homem e de mundo. 2. Objetivo O objetivo principal da teologia é compreender os conteúdos da fé cristã. Para saber justificar aquilo que crê (1 Pd 3, 15), esclarecer pontos de doutrina, saber conviver com outras igrejas e visões de mundo, crescer humanamente na vida e amadurecer pessoalmente na fé. Segundo a teologia antiga, é preciso “crer para compreender” e “compreender para crer”. 3. Divisões e subdivisões A teologia se divide em dois ramos: Teórico e prático. O grupo teórico está subdividido em: Teologia bíblica; Teologia dogmática e Teologia moral. O conjunto prático se subdivide em: Teologia espiritual, Liturgia, Teologia pastoral e Direito pastoral. Veja abaixo: ANTROPOLOGIA: Tratado sobre a condição do homem a partir de Cristo. ASCÉTICA: É o exercício de fé para o crescimento da vida espiritual. APOLOGÉTICA: É a defesa sistematizada da fé cristã. CATEQUÉTICA: É o ramo da teologia que estuda a definição, objetivos e conteúdo da catequese. COSMOLOGIA: Tratado sobre a relação de Deus com o mundo. CRISTOLOGIA: Tratado sobre a pessoa de Deus Filho, Cristo. DOGMÁTICA: É a parte que sistematiza e estuda as doutrinas principais do cristianismo. ECLESIOLOGIA: Tratado que estuda a definição, estrutura e doutrina sobre a Igreja. ESCATOLOGIA: Tratado sobre os últimos acontecimentos na condição humana a partir da fé; estudo sobre o destino do homem. ÉTICA: É conjunto de costumes e valores de uma sociedade. Chama-se também moral. EXEGESE: É a interpretação técnica de um texto bíblico; a explicação de seu sentido. HERMENÊUTICA: É a técnica que estabelece os métodos de interpretação e compreensão dos textos bíblicos.

1 Em grego, theós quer dizer “Deus”, logía “discurso, estudo”. Os tratados quase todos têm nomes vindos do grego.

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PATROLOGIA: É o estudo da literatura cristã antiga como referência do pensamento e prática original da Igreja. Chama-se patrística a doutrina desenvolvida por esses escritores. MARIOLOGIA: Tratado da doutrina sobre Maria, seu lugar na Igreja. MÍSTICA: É a busca da experiência e da relação com Deus. PNEUMATOLOGIA: Tratado sobre a pessoa do Espírito Santo. PROTOLOGIA: Tratado sobre a criação; as origens segundo a fé. Insere-se na cosmologia. SACRAMENTOLOGIA: Tratado sobre a história e significado dos sacramentos. SOTERIOLOGIA: Tratado sobre o processo e as condições da salvação. TEODICEIA: Tratado sobre a coexistência de um Deus bom com o mal e o sofrimento. TEONTOLOGIA: Tratado sobre a pessoa de Deus pai.

INTRODUÇÃO À TEOLOGIA Curso de Teologia Popular – Conceição de Ipanema, 2009

Conceito de teologia A palavra teologia2 vem da língua grega e significa “estudo sobre Deus”. O termo foi criado pelo filósofo Platão (428-347 antes da Era comum). Agostinho (354-430 da Era comum) deu-lhe um sentido cristão. Atualmente, é entendida como a reflexão sistemática dos fundamentos da revelação. Portanto, o seu objeto de estudo não é Deus em si. Porque se considerarmos a infinitude divina tal tarefa é impossibilitada pela finitude da inteligência humana (HARBIN, 2001). Karl Barth afirma que só é possível falar de Deus de forma comparativa, a partir da experiência do homem. Às vezes, a teologia é chamada de ciência. Esta classificação só pode ser feita considerando-a apenas como uma forma de investigação racional da fé. A sua matéria de estudo não é empírica. A disciplina estuda a realidade sobre Deus e sua relação com o homem. A revelação é o ponto de partida e de delimitação da reflexão teológica. A revelação possui seu lado divino porque é Deus quem se revela, e um lado humano, pois é o homem que acolhe a verdade revelada. E na história, os homens da cada época refletem sobre o sentido do que foi revelado limitado pela sua compreensão. Portanto, existe uma só revelação, mas existem muitas teologias, pois os homens são diversos e diversas são as culturas. Objetivo O objetivo principal do estudo da teologia é o amadurecimento da fé, e consequentemente, o crescimento espiritual daquele que crê. No mundo contemporâneo recheado de avanços de toda natureza é necessário que as pessoas tenham consciência das suas escolhas, dentre elas está a religião. Esta deve ser a primeira a ser bem fundamentada e esclarecida. O apóstolo Pedro admoesta dizendo que é preciso que o cristão esteja pronto “a dar as razões da sua esperança a todo aquele que a pedir” (1Pd 3,15). O cristianismo se encontra dividido hoje por herança de uma época deficiente de conhecimento bíblico e de esclarecimento do que significava essa religião. 2 Na língua grega, theós “Deus”, logos “discurso, razão, palavra”.

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Tipos A teologia baseia sua reflexão na liberdade de pensamento e na experiência de cada lugar e cada época. Devido a essa flexibilidade existem vários tipos de teologia, às vezes, chamados de escolas. Dois modos de se fazer teologia são destacados: a teologia clássica – que se restringe a assuntos estritamente religiosos e confessionais; e a teologia dinâmica – que se abre à reflexão sobre diversos aspectos da religião, de modo crítico e ecumênico. No Brasil, destacam-se a teologia pentecostal que se prende ao modelo clássico e a teologia da libertação que une de modo crítico fé e vida, cujo principal teólogo3 é Leonardo Boff. Método Quando se fala de método, estamos dizendo da técnica ou do modo de estudar teologia para que haja garantia de uma reflexão de qualidade que seja classificada como teológica. A teologia é uma disciplina baseada no raciocínio, análise e discussão a partir dos problemas da fé, tendo como base o texto bíblico4 e a tradição eclesial5. Há a liberdade para se refletir sobre todo assunto, mas o princípio delimitador é a revelação. A verdade em teologia é o que é consoante ou harmônico com a revelação. Divisões A teologia possui muitos séculos de história, e como resultado do esforço dos teólogos de organizar todo o conhecimento sobre a doutrina cristã chegou a até nós um esquema de divisões da teologia por áreas. Cada área estuda um aspecto da revelação. A teologia se divide em dois ramos: especulativo e prático. O grupo especulativo está subdividido em: Teologia bíblica; Teologia dogmática e Teologia moral. A teologia bíblica inclui a história, a técnica e a interpretação da Bíblia. A dogmática sistematiza e explica as principais doutrinas cristãs. A moral estuda os valores e o comportamento cristão tanto pessoal quanto coletivo. O conjunto prático se subdivide em: Teologia espiritual, Liturgia, Teologia pastoral e Direito pastoral. A teologia espiritual estuda o processo de santidade do ser humano, a sua vida religiosa. A Liturgia estuda os ritos e seus significados. A teologia pastoral estuda a ação evangelizadora. O Direito pastoral estuda o regimento e as normas da Igreja enquanto instituição. Subdivisões De modo harmônico e organizado, cada divisão da teologia possui outros ramos internos chamados de tratados. Dentro da área especulativa, temos: A teologia bíblica é composta de hermenêutica, exegese e teologia. A sistemática possui antropologia,

3 Dá-se o nome de teólogo ao profissional que se dedica ao estudo dessa ciência. 4 O material recomendado para essa primeira fonte é uma boa tradução da Bíblica auxiliada por bons comentários bíblicos. 5 A tradição eclesial é conjunto de tudo aquilo que a Igreja ensinou e viveu desde a antiguidade. Para se conhecer a tradição é bom ter em mãos: Catecismo da Igreja Católica e Compêndio do Vaticano II.

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teontologia, cristologia, pneumatologia, mariologia, cosmologia, protologia, soteriologia, eclesiologia, sacramentologia, escatologia, patrologia e história da Igreja. E dentro do âmbito prático, temos: A liturgia se divide em fundamental e histórica. A pastoral se constitui de teorias e técnicas da evangelização. A espiritual procura compreender o caminho da santidade (mística) e a prática para crescer nele (ascética). O Direito pastoral é estudo das normas que organizam a Igreja, contidas no Direito canônico. As origens da teologia As origens da teologia estão na necessidade que os cristãos tinham de defender a fé diante da sociedade do Império Romano durante o período das perseguições (de 64 a 313 da Era comum). Quando as gerações foram se passando e o Evangelho corria o risco de ser mal interpretado, alguns apóstolos escreveram os livros do Novo Testamento para registrar a memória de Jesus. A partir do ano 95, surgiram os primeiros escritos que interpretavam pontos desses escritos ou da fé cristã. Mas somente a partir de 150, aparecem os chamados apologistas6. Estes eram filósofos e estudiosos que se convertiam ao cristianismo e não se contentavam com as explicações do senso comum. Eles começaram uma literatura de defesa do cristianismo. O mais antigo que se conhece é Quadrato (HERRERA, pp.4-5). Depois da liberdade aos cristãos concedida pelo imperador Constantino, a Igreja começou a sistematizar a sua doutrina através dos concílios, e mais escritores foram debatendo esses temas. Então, no século VIII, João Damasceno escreveu a obra “Exposição da Fé ortodoxa”, iniciando-se a reflexão teológica. Assim, fez Pedro Lombardo no século XII, escrevendo “Sentenças”. Mas quem lançou o primeiro texto organizado foi Tomás de Aquino, com a Suma Teológica. No século XIX, a teologia, através dos estudiosos alemães adotou o método científico, tornando-se crítica. Depois do Concílio Vaticano II, o esclarecimento da fé passou a ser interesse de todos, não somente de padres e pastores. Hoje muitos leigos são teólogos. Problemas teológicos Sempre quando resolvemos estudar um assunto, estamos em busca de algumas respostas. A teologia possui suas principais perguntas nas quais se inserem os ramos da teologia. Temos as perguntas: Quem somos? De onde viemos? Qual o sentido da vida? Para onde vamos? No caso da teologia, essas respostas são iluminadas pela fé. Esses são os problemas primários. Os secundários provêm da investigação sobre a segurança que o cristianismo nos dá ao responder essas questões. QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES TEOLÓGICAS 01 Quem somos? Somos filhos de Deus em Cristo 02 De onde viemos? Deus é o princípio de tudo 03 Qual o sentido da vida? A vida sincera no Espírito 04 Para onde vamos? Esperamos pela comunhão eterna com Deus

6 Apologista ou apologeta significa “defensor”, nesse caso, defensor da fé cristã.

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A proposta cristã é umas das respostas em meio a tantas outras. É preciso conhecê-la para poder dialogar sabiamente com as outras. QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES CIENTÍFICAS Quem somos? Organismo complexo, racional, homo sapiens De onde viemos? Dos elementos da natureza/Big Bang Qual o sentido da vida? O sentido é construído individual/coletivamente Para onde vamos? Retorno indistinto à natureza

MÓDULO 01: TEOLOGIA FUNDAMENTAL

A nossa primeira incursão no terreno da teologia é analisar os fundamentos desse conhecimento. A fonte do conhecimento teológico é a experiência da fé. Então, primeiramente, é necessário compreender a virtude da fé e a natureza do conhecimento do mundo a partir daquele que crê. Uma atitude crítica em relação ao tema evita que caiamos no fideísmo: uma crença ingênua em tudo que as pessoas nos dizem. Agostinho de Hipona (354-430) dizia “crê, para que entendas”. Anselmo de Cantuária (1033-1109) completou “crê, para que entendas” e “Entende, para que creias”. É necessário partir da fé para compreender seus mistérios, mas compreendendo-os, enriquece-se a fé, por conseqüência.

Teologia no mundo contemporâneo Na era contemporânea, a partir dos avanços dos conhecimentos do homem a verdade passou a ser histórica e situacional, portanto, relativa. Não existe verdade, existem discursos com sentido. O homem possui questões básicas de sua existência e para cada época e lugar há diferentes respostas. Para a origem da vida: na Antigüidade, a religião deu uma resposta baseada na experiência da época e do lugar. Por exemplo, a Bíblia diz Elohim criou o céu e a terra e organizou tudo. Os filósofos defenderam a geração espontânea. A ciência a liga a determinadas reações químicas ocorridas na matéria. São todas respostas do mesmo homem para seu antigo problema da sede do saber. São todas respostas válidas em suas épocas e situações, uma não pode se impor à outra. A reposta do Gênesis não é científica, é poética. A resposta da ciência não é poética e nem mítica, é experimental. Atualmente há três tendências de relação com a religião: A fé, o fundamentalismo e a indiferença. Por causa dos erros das pessoas de fé muitos se distanciaram da religião. Pois a religião foi perdendo a sua função de promotora humana para se tornar manipuladora ideológica e econômica. Muitos crentes usam a violência física e psicológica em nome de Deus para nivelar as pessoas e fazer aceitar a todo custo que seu ponto de vista é a verdade. O teólogo Leonardo Boff perguntou ao Dalai Lama7 qual era a melhor religião, esperando ouvir que era o budismo. O sábio respondeu: “a melhor religião é aquela que te faz melhor”. A religião violenta é anti-humana. O papel dos crentes é refletir sobre os verdadeiros valores de sua fé. Tudo aquilo que desvia do verdadeiro motivo do Evangelho é anticristão e antirreligioso. A religião é para promover a vida: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A teologia hoje deve ser bem crítica, lúcida e atenta ao

7 Dalai Lama é título do líder do budismo tibetano, cujo nome é Tenzin Gyatso.

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progresso da humanidade e deve apontar para uma religião simples, prática e humana. Por isso, é necessário pensar a fé para que não cometamos os mesmos erros do passado. A fé e as formas de conhecimento Relações entre ciência e fé Quando se discute a relação entre ciência e religião, a saída mais sensata é a definição de papéis. No século XVI, Galileu Galilei (1564-1642) já chamava a atenção para esta diferença: “à ciência cabe dizer como vai o céu, e à religião como se vai ao céu”. A dificuldade de se separar a função da ciência e da função da religião foi a causa de muitas polêmicas no início da era moderna, quando a ciência começou a se definir como a entendemos hoje. Galileu foi pressionado a se retratar diante do tribunal da Inquisição, dizendo que era falsa a idéia de que a Terra girava em torno do seu eixo e em torno do sol. Com a modernidade, a ciência desenvolveu métodos próprios de investigação e se tornou laica, isto é, independente da religião. Mas este processo foi lento e até hoje muitas pessoas ainda têm dificuldade em conciliar ciência e fé. Augusto Comte (1798-1856) defendia que o conhecimento humano passa por três estágios: o religioso, o filosófico e o científico. Na época religiosa, o homem explica os fenômenos recorrendo a causas sobrenaturais; na época filosófica, explica recorrendo a princípios racionais; na época científica, explica por meio das leis naturais, as quais explicam por si só os fenômenos. Porém, na prática as pessoas continuam vivendo esses estágios de maneira desigual. As três grandes religiões do planeta, judaísmo, cristianismo e islamismo, passaram por resistência à ciência, mas seus segmentos mais esclarecidos atualmente aceitam as explicações da ciência e separam textos sagrados e teorias científicas. Os mulçumanos tiveram bons matemáticos e filósofos como Avicena e Averróis; os judeus nos deram nada menos que Albert Einstein, os cristãos nos deram Mendel, Hegel etc. Muitos homens de fé estudaram ciência sem criar conflitos. No século XIX, até a Bíblia passou a ser lida cientificamente. Os pastores alemães Karl Bath, Paul Tilich e Rudolf Bultmann desenvolveram métodos para uma leitura crítica da Bíblia. A partir deste período os teólogos passaram a seguir semelhante visão. No século XX, a relação melhorou ainda, o arqueólogo jesuíta Teilhard de Chardin conciliou cristianismo e teoria da evolução. Na década de 90, muitos cientistas cristãos defendem a teoria do Design Inteligente. Definição de Papéis O ser humano é dado a exageros. Na Idade Média, a fé era considerada superior à razão (a verdade estava com a religião), na Idade Moderna, a ciência passou a ser considerada superior à religião, muitos cientistas se tornaram ateus (a verdade estava com a ciência), atualmente, é mais aceito que fé e religião são conhecimentos complementares do mundo (a verdade está com as duas). Antes de qualquer debate que compare religião e ciência, é sensato observar. A ciência e a religião são duas formas de o homem se relacionar com o mundo. São duas maneiras de responder às suas indagações internas. Elas são complementares e não opostas. Seus papéis não podem ser tomados um pelo outro devido a diferença da natureza do conhecimento que há entre as duas. A religião é um conhecimento simbólico-místico, explica o mundo através de causas sobrenaturais. A ciência é um conhecimento racional-empírico, explica o mundo através das leis da natureza e da experiência. São duas respostas válidas. A religião deve se ocupar de questões relativas à fé ( “como se vai ao céu”) e a ciência da explicação da natureza e de seus fenômenos (“como vai o céu”).

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As ciências auxiliares da teologia A teologia não se faz somente pelo conhecimento advindo da fé, ela tem as conquistas das ciências humanas e naturais como pontos de apoio. São essas contribuições que mantém a religião atualizada e condizente com o mundo moderno. As principais ciências são: a filosofia, a psicologia, a história, a biologia, a sociologia e a parapsicologia. Elas ajudam a compreender fenômenos que somente pela fé não se obtém respostas satisfatórias. Neste sentido, afirmava o cientista Albert Einstein “a ciência sem a religião é manca; religião sem ciência é cega”. Epistemologia da fé O ser humano realiza sua faculdade de conhecer por diversos modos. Houve períodos na história que se priorizou ora um, ora outro. O homem é conhecido como um ser racional desde antiguidade. Hoje, porém, sabemos que a definição de homem é complexa: ele pensa e sente. Existe uma dimensão lógica, formal e real e existe outra sensível, simbólica e transcendental. A nossa mente conhece de forma conjunta usando sentimentos e pensamentos. Os dois modos de conhecer que procedem da complexidade humana são a razão e a sensibilidade. A razão procura entender o mundo através da lógica e da ciência. A sensibilidade usa a intuição, os sentimentos, portanto, a fé. Mas conhecimento lúcido exige a participação das duas faculdades. A fé genuína tem de ser razoável, assim como a razão prudente tem de ser intuitiva. Conceito de fé Em hebreus 11, 1, lemos que “a fé é a substância das coisas que se esperam e o argumento das coisas que não se veem”. Tomás de Aquino8 considerava essa afirmação como a mais completa definição bíblica da fé. É a vivência antecipada do que se espera, é a convicção sobre o invisível. Segundo Libânio (2000, p.213), o ato de crer é graça de Deus, liberdade humana e tem uma racionalidade profunda. Aqueles que creem sem esforço da razão caem no fideísmo. Aqueles que procuram a razão em tudo caem no racionalismo. Outros transformam a questão em mera vontade, é o voluntarismo. Além disso, a fé tem uma base pessoal, mas também a influência da cultura, do espaço e da época. A fé se relaciona com as duas outras virtudes: a esperança e o amor. Muitos procuram na fé uma certeza que passa por cima dos fatos. As características da fé são justamente uma experiência humana que mescla certeza e dúvida. A fé e a esperança andam juntas, quando se diz ter fé, quer dizer que se tem uma esperança dada por Cristo que ultrapassa todo desânimo e falta de sentido do mundo. Quando Pedro fala das razões da esperança, isso alcança também as razões da fé (BENTO XVI, Spe Salvi9, 2). O conteúdo da fé Em que cremos? O conteúdo da fé é a revelação. (LAMBIASI, 1997). Segundo o Evangelho, crer em Jesus significa aceitar a pessoa e não meramente os seus ensinamentos.

8 Tomás de Aquino (1225 – 1274) foi o maior teólogo da Idade Média. 9 Spe salvi é latim e significa “Salvos pela esperança”.

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Portanto, a fé é em alguém e não em algo. A salvação provém da fé, ou seja, da aceitação dessa pessoa como um todo. A salvação é sempre salvação de algum perigo, nesse caso, é a preservação da grande esperança de que a vida possui um sentido pleno. A fé tem forma bíblica na expressão “Jesus é o Senhor”(Fl 2, 9-11). A Igreja tomando essa revelação sintetizou todo o mistério de Cristo nas profissões de fé. A mais conhecida delas é o Credo apostólico recitado atualmente nas missas. A fé é pessoal, mas ao mesmo tempo eclesial. Ninguém crer sozinho (LIBÂNIO,2000). Inicialmente, os cristãos viveram e celebraram aquilo que acreditavam. Somente no século II, houve a necessidade de escrever uma fórmula que contivesse os princípios da fé. O texto mais antigo que se conhece é a Carta aos Apóstolos, entre 160 a 170 da Era comum, que possui artigos professando a fé na Trindade, na Igreja e no perdão dos pecados. Em 32510, aparece uma versão definida em concílio, e depois completada em 381:

Creio11 em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as

coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho

Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz

da luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, da mesma

substância do Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E, por nós, homens, e

para a nossa salvação, desceu dos céus: Se encarnou pelo Espírito Santo, no seio

da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio

Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia,

conforme as Escrituras; E subiu aos céus, onde está assentado à direita de Deus

Pai. Donde há de vir, em glória, para julgar os vivos e os mortos; e o Seu reino

não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai

(e do Filho); e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos

profetas. Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Confesso um só

batismo para remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos; E a vida

do mundo vindouro. Amém (DENZINGER, 1948).

Portanto, esta é a forma eclesial da fé, é uma resposta à pergunta “o que é o

cristianismo?” “Em que creem os cristãos?”. A profissão é divida em partes: 1) fé na

natureza e missão de Deus uno e trino; 2) fé na Igreja e em seus ensinamentos ; 3) fé na

condição humana. Consequências da fé A fé deve ser vivencial. Sem a prática ela perde o sentido de ser e se torna teoria sobre Deus, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 14-17). Mas antes de tudo é necessário ter uma clareza sobre que tipo de fé é sustentada. Ela deve ser bíblica e eclesial. Não ter medo de ser humana e se defrontar com a dúvida e o sofrimento. Por fim. Ela deve apontar para a

10 Nessa data aconteceu o Concílio de Niceia, o primeiro envolve toda a Igreja. 11 Crer em grego se diz pistéuo e o sentido é “acreditar, confiar, ser convencido”.

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vida e a felicidade e nunca justificar estruturas violentas. Porque as virtudes andam sempre juntas: “a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor” (1 Cor 13, 13). Revelação: fonte da teologia e conteúdo da fé Dissemos que a fonte da teologia é a revelação. Portanto, a segurança do conteúdo da fé cristã é a Palavra, entendida como comunicação e evento. A Bíblia é o testemunho escrito desta revelação. “Este plano de revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na história da salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras” (DEI VERBUM, 2). Em síntese, a revelação é a comunicação de Deus e de sua vontade de salvar a todos e fazê-los participar da plenitude da vida (Id., 6). E a completude e a concretude desta revelação é uma pessoa, Cristo (Id., 4). A teologia clássica entende o processo nas seguintes etapas: Deus se revelou (revelação), inspirou o homem a captar esta verdade e transmiti-la por escrito (inspiração) e finalmente, iluminados, compreendiam o que foi revelado (iluminação). À Igreja coube preservar e transmitir o conteúdo e a interpretação do que foi revelado (FERREIRA, 2005, pp.40-41). A inspiração divina A autoridade dos textos bíblicos reside na ideia de que eles foram inspirados pelo Espírito Santo. Portanto, neles contém a Palavra de Deus. O evento da inspiração já foi entendido de diversos modos: Teorias da intuição, da iluminação, do ditado e teoria dinâmica. A inspiração é a profunda comunicação entre Deus e o homem, que faz segundo perceber a presença e o apelo de Deus. Acima de tudo, é um acontecimento humano, pois o autor sagrado usa a sua inteligência, sua reflexão para transmitir a experiência de Deus. Não se pode entender a questão como ditado de direto de Deus ou uma “possessão” do Espírito Santo. A transmissão e a interpretação A transmissão foi através da sucessão apostólica. Ou seja, uma cadeia de pessoas que copiaram, conservaram e interpretaram os textos bíblicos ao longo da história. A Igreja possui quase dois mil anos de ação. A interpretação é feita primeiramente pelo Magistério, depois pela teologia. O magistério é a faculdade que os bispos reunidos e em consenso tem de interpretar a fé cristã. A assistência do Espírito Santo é compreendida no sentido de comunhão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENTO XVI. Carta encíclica Spe salvi. Roma: Vaticano, 2007. DEI VERBUM, Constituição Dogmática. Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos e declarações. Petrópolis: Vozes, 2000. DENZIGER, Heinrich. Enchiridion symbolorum et definitionum. Barcelona: Herder editorial, 1948. FERREIRA, Júlio Andrade. Antologia teológica. São Paulo: Fonte editorial, 2005. HARBIN, Christopher Byron. Introdução à teologia sistemática. Porto Alegre: 2007.

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HERRERA, Jaime Morales. Patristica: los padres apostólicos y los apologistas. S.l: s.e, 2009. LAMBIASI, F. La estructura teológico-fundamental de la fe. Roma: Pontificia Universidad Gregoriana, 2007. LIBÂNIO, João Batista. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000.

VOCABULÁRIO TEOLÓGICO ANTROPOLOGIA: Tratado sobre a condição do homem a partir de Cristo. ASCÉTICA: É o exercício de fé para o crescimento da vida espiritual. APOLOGÉTICA: É a defesa sistematizada da fé cristã. CATEQUÉTICA: É o ramo da teologia que estuda a definição, objetivos e conteúdo da catequese. COSMOLOGIA: Tratado sobre a relação de Deus com o mundo. CRISTOLOGIA: Tratado sobre a pessoa de Deus Filho, Cristo. DOGMÁTICA: É a parte que sistematiza e estuda as doutrinas principais do cristianismo. DOGMA: Princípio de fé adotado pela tradição da igreja, de modo geral, quer dizer crença. ECLESIOLOGIA: Tratado que estuda a definição, estrutura e doutrina sobre a Igreja. ESCATOLOGIA: Tratado sobre os últimos acontecimentos na condição humana a partir da fé; estudo sobre o destino do homem. ÉTICA: É conjunto de costumes e valores de uma sociedade. Chama-se também moral. EXEGESE: É a interpretação técnica de um texto bíblico; a explicação de seu sentido. HERMENÊUTICA: É a técnica que estabelece os métodos de interpretação e compreensão dos textos bíblicos. PATROLOGIA: É o estudo da literatura cristã antiga como referência do pensamento e prática original da Igreja. Chama-se patrística a doutrina desenvolvida por esses escritores. MARIOLOGIA: Tratado da doutrina sobre Maria, seu lugar na Igreja. MÍSTICA: É a busca da experiência e da relação com Deus. ORTODOXIA: Doutrina verdadeira, oficial, em relação a uma interpretação paralela. PNEUMATOLOGIA: Tratado sobre a pessoa do Espírito Santo. PROTOLOGIA: Tratado sobre a criação; as origens segundo a fé. Insere-se na cosmologia. SACRAMENTOLOGIA: Tratado sobre a história e significado dos sacramentos. SOTERIOLOGIA: Tratado sobre o processo e as condições da salvação. TEODICEIA: Tratado sobre a coexistência de um Deus bom com o mal e o sofrimento. TEONTOLOGIA: Tratado sobre a pessoa de Deus pai.

SUGESTÃO DE PESQUISA MÓDULO 01

COLETIVO

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Problemas da fé: Eu creio? Em que creio? Qual a garantia do que eu creio? O que a minha fé muda em minha vida? Problemas do conhecimento: A origem do mundo: criacionismo x Big bang A origem da vida: criacionismo x evolução A existência de Deus: crença, ateísmo e agnosticismo A identidade do homem: criatura, animal O sentido da vida: vida espiritual, felicidade O destino do ser humano: eternidade, natureza Resposta pessoal... Resposta cristã

QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES TEOLÓGICAS Quem somos? Somos filhos de Deus em Cristo

De onde viemos? Deus é o princípio de tudo

Qual o sentido da vida? A vida sincera no Espírito

Para onde vamos? Esperamos pela comunhão eterna com Deus

Resposta científica

QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES CIENTÍFICAS Quem somos? Organismo complexo, racional, homo sapiens

De onde viemos? Dos elementos da natureza/Big Bang

Qual o sentido da vida? O sentido é construído individual/coletivamente

Para onde vamos? Retorno indistinto à natureza

Diálogo entre as repostas...

PLANO MENSAL DE ESTUDOS GRUPO DE TRABALHO

Questão Referência A razão da esperança do cristão 1 Pd 3, 15

A finalidade da religião Jo 10, 10

O que é a fé Hb 11, 1

A forma bíblica da fé Fl 2, 9-11

As conseqüências da fé Tg 2, 14-17

A relação entre as virtudes cristãs Cor 13, 13

Leituras e anotações:

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a) Hebreus 10, 19-39;11-12, 1-4. Refletir sobre o significado da fé e seu alcance, a sua presença na história da salvação. b) Tiago 1, 16-26; 2. Refletir sobre a responsabilidade de quem tem fé e a relação entre fé e obras. c) Credo Apostólico. Ler e refletir sobre cada artigo de fé contido na profissão. d) As virtudes teologais. Refletir sobre elas a partir de 1 Cor 13.

MÓDULO 02 – INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

1. Definição O Cristianismo (do grego Christós "Ungido") é uma religião monoteísta12 centrada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo Testamento. A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor e se dá pela adesão pessoal a Jesus. Na Igreja primitiva, era chamado simplesmente de “O Caminho”. Entende-se como cristianismo um movimento muito maior do que igrejas, é uma cultura e um modo de vida.

2. Palestina: berço da nova religião 2.1. Situação histórica O cristianismo é uma religião que surgiu no século I depois de Cristo. O seu berço é a Palestina, na época uma província do Império Romano desde o ano 63 antes de Cristo. Os romanos dominaram a região que a transformaram numa “colônia” romana. Os judeus tinham de pagar impostos ao Império. A situação se estendeu até o século VII, quando veio a dominação árabe. Os judeus possuíam uma cultura patriarcal, ou seja, o pai/homem era o centro da família. Eles estimavam muito a religião, por isso religião/política se equivaliam. A sociedade estava divida em grupos: Fariseus, saduceus, zelotas e essênios. O cristianismo primitivo foi considerado mais uma seita. 64 a. C. – Os romanos tomam a Palestina. 6 d. C. – Nasceu Yeshua, filho de Yosef e Myriam. 27- Yeshua inicia a sua pregação e forma discípulos. 29 – Yeshua é morto, ressuscita e é reconhecido como o Messias. 30 – Inicia-se a Igreja de Jerusalém. 44- Paulo se torna um grande divulgador do cristianismo. 70 – Jerusalém é destruída, o cristianismo se separa do judaísmo.

12 Monoteísmo é uma religião que admite um Deus só. O politeísmo admite a existência de vários.

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112 – Início das perseguições aos cristãos. 325 – Niceia define a doutrina cristã. 313 – O imperador Constantino dá liberdade aos cristãos. 2.2. Situação geográfica A Palestina antiga se situava onde hoje é o Oriente Médio. O território abrigava em torno de 3 milhões de habitantes. A língua falada era o aramaico. Havia duas estações: um verão seco e castigante e um inverno com chuvas ou neve por tempo prolongado. A região possui desertos e vales férteis ao longo do rio Jordão. Havia o Lago de Genesaré e o Mar Morto. Nas margens do Jordão formavam-se muitas áreas férteis, banhadas pelas cascatas e riachos que desciam dos morros, alimentando o Rio Jordão e irrigando as planícies cobertas de trigo, cevada e milho. O território entre o Rio Jordão e o Mediterrâneo, chamava-se Cisjordânia e continha as províncias importantes da Galiléia ao norte, da Samaria ao centro e da Judéia ao sul. O território do outro lado do Rio Jordão, chamava-se Transjordânia, e continha várias províncias, entre as quais Peréia e Decápolis. 3. Origem e formação do cristianismo

3.1. A gênese da Igreja A palavra igreja vem da língua grega ekklesía e significa “assembleia”. O sentido que se dava à palavra antes de ser adotada pelos cristãos era o de “reunião de pessoas convocadas”. Assim a igreja surge como uma assembleia chamada por Deus através de Jesus Cristo para formar uma comunidade, cuja marca é amor fraterno. Esta é chamada no Novo Testamento de Corpo de Cristo. A origem da Igreja foi assim: depois da morte de Jesus no ano 29 da era comum, os apóstolos ficaram inquietos com o fato de terem sido testemunhas da pregação e da vida de seu mestre. Então, começaram a organizar comunidades para preservarem a memória de Jesus e conquistar novos discípulos. A Igreja teve seu início em Jerusalém, na primeira metade do século 1º da era comum. A Igreja primitiva se reunia nas casas. Aos domingos, havia a leitura dos textos bíblicos, comentário por parte de um apóstolo, e a segunda parte era um jantar em memória de Cristo que mais tarde passou a ser chamada de Eucaristia. Os cristãos não se distinguiam da maioria de seu tempo, apenas no testemunho de fé. Os Atos dos Apóstolos nos mostram uma comunidade unida, fraterna, onde tudo era posto em comum. Os cristãos continuavam a freqüentar o templo e eram perseverantes na fé. O cristianismo inicial era considerado uma seita do judaísmo: Pois Jesus foi um rabino, era judeu praticante e nunca foi “cristão”. Por isso a Igreja é chamada de Católica e Apostólica. Primeiramente, é católica porque se diferia do judaísmo e de outras religiões da antiguidade que eram nacionais, a igreja nasce aberta a todos (católico significa “universal”). Segundo, ela é apostólica porque foi fundada sob o testemunho dos apóstolos. A Igreja parte de Jerusalém e começa a evangelizar os povos vizinhos até chegar a Roma, o centro do maior império da época. Paulo se destaca como um dos grandes difusores do cristianismo.

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3.2. A difusão do cristianismo no Império Romano

A Igreja Católica tal como a conhecemos agora é fruto de quase dois mil anos de desenvolvimento, muitos costumes e formas de organização foram sendo agregados à fé recebida dos apóstolos. A razão é que a Igreja foi se espalha por todos os povos da antiguidade e recebeu diferentes formas de estruturação de acordo com os costumes locais. Com o passar dos anos, a geração dos apóstolos foi envelhecendo, os cristãos foram se distanciando da época de Jesus. Houve necessidade de escrever os acontecimentos sobre a vida e pregação de Jesus e dos apóstolos. Décadas mais tarde surgiram os evangelhos, e ao longo de meio século foram sendo escrito os livros do Novo Testamento. No ano 70, Jerusalém foi destruída e os cristãos se dispersaram e o ponto de referência para as comunidades cristãs passou para várias cidades como Antioquia, Corinto, Alexandria e mais tarde Roma. É a partir do século 2º, depois da morte dos últimos apóstolos é que a Igreja foi ganhando contornos e decidindo a sua doutrina. As tradições passaram a ser escritas e normas começaram a ser estabelecidas. Foram precisos mais de dois séculos para que o processo se completasse. A Igreja espalhou por muitas regiões distantes e surgiram modos diferentes de viver e interpretar a fé. Aqueles que sucederam os apóstolos instituíram “diretores”, os bispos para administrarem as igrejas e asseguram a transmissão fiel dos ensinamentos de Cristo. A Igreja cresceu em meio à dor, dois problemas foram graves: as heresias e as perseguições romanas. Houve muitos líderes de comunidades cristãs que pregaram doutrinas diferentes, as chamadas heresias. Foram necessárias discussões e reuniões para solucionar os conflitos. Assim surgiram os concílios, o primeiro foi realizado em 325 em Niceia. Nesta reunião se decidiram e puseram por escrito a síntese da fé transmitida pelos apóstolos, o texto do Creio, que é recitado nas missas. Os cristãos tinham de se defender das seitas que iam surgindo. Cada uma enxergava Cristo de um modo diferente: umas o consideravam só Deus, outros só homem. Os livros do Novo Testamento também foram escritos todos separados e cada Igreja reconhecia como inspirada uma lista diferente. Assim foi necessário montar uma lista (cânon), decidindo para o uso de todos, quais livros fariam parte do Novo Testamento. Foram escritos dezenas de livros, apenas 27 foram escolhidos. Depois de trezentos anos, a Igreja já havia organizado sua Bíblia e suas doutrinas.

3.3. Época das perseguições

A Igreja teve de se formar em meio a muitas perseguições. A fidelidade aos ensinamentos de Jesus causou muitos conflitos com outras religiões da época. A Igreja sobreviveu e se fortaleceu às custas de muito sangue. Primeiramente, os apóstolos foram perseguidos pelas lideranças judaicas por afirmarem que Jesus era o Messias. Depois que a Igreja se espalhou dentro do Império Romano, vieram outros conflitos. No período de 64 a 313 houve perseguições violentas por parte dos romanos.

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As razões da rejeição pública foram algumas particularidades da fé cristã: O imperador era adorado, toleravam-se todas as religiões, mas todos deveriam prestar culto ao imperador. Os cristãos se negavam a isso, e discriminavam todo tipo de idolatria. Os cidadãos romanos passaram a considerar a postura dos cristãos como um ato de infidelidade ao imperador, de oposição política. Então, os imperadores e a opinião pública passaram a hostilizar as comunidades cristãs. O cristianismo transformou-se em uma religião clandestina. Os cristãos se reuniam às escondidas, tinham senhas. E quando alguém era descoberto, era julgado e condenado à morte. Os condenados eram queimados, crucificados ou jogados nas arenas para serem destroçados por feras para o divertimento do público. Neste período surgiram dois tipos de liderança muito importante para que a Igreja se reconciliasse com o império: os apologetas e os mártires. O cristianismo era composto inicialmente por pessoas simples e analfabetas. Com o seu exemplo, muitos filósofos e intelectuais se converteram e começaram a escrever defendendo os cristãos. Esses tentaram convencer população e imperador de que os cristãos não eram perversos. Eles foram chamados de apologetas, isto é, “defensores”. Juntamente com eles, outros assumiam a fé publicamente diante dos tribunais e eram mortos. Seus exemplos de fortaleza animavam os outros cristãos. Eles foram chamados de mártires, isto é,“testemunhas”. Os apologetas, os mártires e outros guardiães da fé são chamados de pais da Igreja. Porque no período de infância, perseguição e formação da Igreja, eles lutaram e defenderam a fé da Igreja. A palavra e o testemunho deles geraram a Igreja. Por isso, surgiu o costume de chamar as lideranças religiosas de pai (presente hoje nas versões “padre”, “abade” e “papa”). No século IV, o imperador Constantino se converteu ao cristianismo. No ano 313, baixou um decreto tirando o cristianismo da ilegalidade. Esse foi o fim das perseguições. A partir dessa época, o império passou a patrocinar a Igreja. Roma se tornou uma Igreja muito importante, sede do império. Lá também morreram Pedro e Paulo. Então, a Igreja ganhou o adjetivo “romana”. Formando-se a denominação Igreja Católica Apostólica Romana. Na antiguidade, as igrejas eram reconhecidas pelo nome do lugar, por exemplo: igreja de Antioquia, igreja de Corinto. E cada comunidade era chamada de igreja, quando se falava católica, então, se referia à comunhão de todas elas.

3.4. A doutrina cristã: O Credo de Nicéia O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela Igreja Católica mais tarde. As crenças principais declaradas no Credo de Nicéia são: A crença na Trindade; Jesus é simultaneamente divino e humano; A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;

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Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra; A remissão dos pecados é possível através do batismo Os mortos ressuscitarão. Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como oarianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo. A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Nicéia. 4. A doutrina cristã O cristianismo foi inicialmente só praticado. Os escritos começaram a aparecer em torno do ano 50 depois de Cristo. O Novo Testamento corresponde a um esforço de pôr a memória de Jesus e dos apóstolos por escrito. Essa etapa de redação termina pelo ano 100. Em 135, encerra a geração apostólica. Os escritos passam a ser no sentido de defesa do cristianismo frente ao Império. Os apologetas e os pais da Igreja deixaram escrita a doutrina e os costumes dos cristãos. Somente em 325, é que a Igreja define oficialmente a sua doutrina. Em síntese, o cristianismo crê em um Deus único e manifesto em três pessoas. Acredita que a vida, morte e ressurreição de Jesus trouxa a reconciliação entre homens e Deus. Pelo batismo se é redimido dos pecados e pela fé obtém-se a salvação. O homem a partir de Cristo é adotado como filho de Deus, imortal e chamado à comunhão eterna. Portanto, o cristianismo responde quem é Deus e qual a condição do homem dentro do mistério da salvação. Isso distingue o cristianismo das demais religiões.

4.1.Considerações finais A Igreja chegou até o século 21 através de uma longa de história de acertos e erros. Ela foi se constituindo aos poucos e com a ajuda de muita gente. E muitos deles cometeram erros que prejudicaram a trajetória da Igreja. Então, hoje quando queremos examinar a Igreja na sua forma apostólica, devemos conhecer as origens e principalmente o ensinamento dos pais da Igreja. A Igreja sempre foi constituída de igrejas. Mas depois de a Igreja ter se consolidado, em 1054, houve uma divisão entre Igreja do Oriente e Igreja do Ocidente. O fato é que muitos não conseguiram levar adiante a parceria entre Igreja e Estado sem se corromper. Depois em 1517, houve uma segunda divisão com Martinho Lutero. As divisões foram motivadas pelo desejo de uma Igreja pura, sem desvios da doutrina dos apóstolos. Nos séculos seguintes, surgiu uma multidão de igrejas antagônicas. Ao examinarmos a vida dos primeiros cristãos, observamos que havia muitas diferenças entre as comunidades, mas não havia uma guerra de igrejas. Além disso, o exemplo comum vem dos apóstolos. Se lermos sem preconceitos os escritos antigos, entendemos que podemos conviver pacificamente porque a fé cristã é simples: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. O princípio do mandamento é amar a todos, e o

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exemplo é o amor sem distinção que Jesus viveu. Um dia Leonardo Boff perguntou a Dalai Lama qual era a melhor religião, e ele disse “é aquela que te faz melhor”. Ou seja quem amar mais, estará se aproximando de Cristo com mais originalidade e propriedade. A vida dos primeiros cristãos era marcada pelo amor fraterno, pelo desapego às riquezas, pela hospitalidade. Acima de tudo, por uma comunhão cuja cabeça ou ponto de unidade é Cristo. Se alguém consegue se aproximar desse clima de amor universal, escolhe a melhor parte. Os cristãos não tinham uma vida extraordinária, cheia de dízimos, milagres e orações fantasiosas. Pelo contrário, uma vida de desafios, perseguições e ao mesmo tempo de uma fidelidade, de um amor radical, de um comprometimento.

MÓDULO 04 – INTRODUÇÃO À BÍBLIA

1. Bíblia Bíblia é um livro que deve ser estudado como as demais literaturas antigas. Seu conteúdo é a Revelação divina, mas a forma literária é humana, produto histórico. Não devemos revesti-la de magia e de esoterismos. Seu estudo depende de uma fé madura. 2. Formação O nome bíblia vem da língua grega biblía, plural de biblíon “livrinho”. Os judeus a denominavam de “Os livros sagrados”, na história coexistiram diversos nomes. No século V, a partir de João Crisóstomo, a expressão Tá Biblia começa a ser título. Os termos “antigo testamento” e “novo testamento” assinalam as duas seções da Bíblia. O primeiro é escritura exclusivamente judaica. Já o segundo é judaico e cristão. Testamento reproduz o hebraico berît “aliança”. Paulo é o primeiro a usar esses nomes, sendo depois adotados pelos escritores cristãos do século III. A Bíblia é uma coleção de livros. Escritos em épocas, lugares e por pessoas diferentes. O AT13 foi escrito de 1300 a. C. até 50 a. C. O NT foi elaborado dos meados do século I (51 d. C.) ao início do século II (100 d. C.). Os títulos dos livros são tardios e alusivos ao conteúdo. Os judeus nomeavam os livros com as primeiras palavras do texto: Bereshît (“no princípio”) = Gênesis. A divisão em capítulos data somente do século XIII, feita pelo cardeal Estêvão Langton e a subdivisão em versículos de 1551, por Robert Estienne. As divergências na organização dos livros da Bíblia decorrem da diferença entre a Bíblia Hebraica (Palestina) e Bíblia Grega (Alexandria): Os salmos são numerados de forma diferente, na Bíblia grega os salmos 9 e 113 são divididos em dois. Os manuscritos eram feitos em pergaminhos (até o século II d. C.), que se desgastavam rápido, chegaram a nós, cópias de cópias.

3. Divisão

13 Usaremos as abreviaturas AT para Antigo Testamento e NT para Novo Testamento.

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A tradição cristã ratificada no Concílio de Trento (1545-1563) reconhece 46 livros do AT. São divididos em: Históricos (21), didáticos (7), proféticos (18). Os cinco primeiros livros formam o Pentateuco. O NT é composto por 27 livros, sendo: Históricos (5), didáticos (21), profético (1). A Bíblia Hebraica é dividida em: Torah (Pentateuco), Nebiim (profetas), Ketubim (os escritos), ao todo 39 livros.

4. As línguas O hebraico, o grego e o aramaico. Em hebraico foi escrito todo o AT, com exceção dos livros chamados deuterocanônicos, e de alguns capítulos do livro de Daniel, que foram redigidos em aramaico. Em grego comum, além dos já referidos livros deuterocanônicos do AT, foram escritos praticamente todos os livros do NT. Segundo a tradição cristã, o Evangelho de Mateus teria sido primeiramente escrito em hebraico.

5. Traduções e versões A dispersão do povo judaico exigiu uma tradução dos livros para o grego. Esta foi concluída no ano 100 a. C. Chamada de versão dos Setenta, posteriormente adotada pelos cristãos. No século II a. C., houve muitas versões, havia divergências quanto à aceitação por serem imperfeitas. No século V, Jerônimo realiza uma tradução ótima para o latim, conhecida como Vulgata. Recomendada pelo Concílio de Trento. Para o português, a mais antiga e completa foi a tradução de João Ferreira de Almeida (1628-1691) publicada em 1753. É importante observar que atualmente não possuímos o texto original. Há apenas fragmentos de cópias antigas. As traduções não são exatas. Mesmo diante dessas limitações históricas a fé cristã professa que a Bíblia é inspirada14 (2Tm 3, 16-17), fielmente transmitida e preservada de erros em questões de fé e moral. A esta preservação de erros em questões fundamentais dá-se o nome de inerrância15.

6. Canonicidade

Havia diversos escritos religiosos judaicos. Foi feita uma distinção e seleção dos livros inspirados. A Bíblia Grega do século I adotou livros não-contidos na hebraica. A questão só foi resolvida no século II. O primeiro cânon oficial do NT surge no Sínodo de Hipona, em 393. Lutero retomou o debate e a tradição protestante preferiu o cânon judaico. O Concílio de Trento reconheceu oficialmente o cânon alexandrino. Quando se fala em cânon, estamos dizendo da lista de livros aceitos como inspirados por Deus. Portanto, existem dois cânones: Hebraico e alexandrino. O cânon

14 No texto grego aparece a palavra theopneustos para dizer inspirado. O sentido é “soprado por Deus”. 15 Inerrância diz-se do fato de não conter erros.

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hebraico contém 39 livros no AT. E o cânon alexandrino possui 46. Os livros que foram acrescentados são chamados de deuterocanônicos16. Esses livros são Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e trechos de Ester (10, 4 a 16, 24) e Daniel (3, 24-90, e capítulos 13 e 14). A tradição católica acolheu o cânon alexandrino e a protestante, o hebraico.

7. A Bíblia como literatura

A Bíblia é a literatura antiga dos judeus e dos cristãos. Ou seja, é um conjunto de escritos de vários gêneros e estilos. Cada modo de escrever exige também um modo próprio de interpretar. Tradicionalmente, distinguem-se dois sentidos: O sentido expresso pela palavra (sentido literal) e o sentido espiritual transmitido pelo texto (sentido pleno). Existem dois estudos próprios da interpretação da Bíblia que são a exegese e a hermenêutica. Através desses estudos estabelecem-se critérios para entender um texto. É preciso considerar os seguintes aspectos: Condicionamentos de tempo - Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos conhecer a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi escrito cada um desses livros. Condicionamentos de espaço - Uns nasceram na Arábia e outros na Palestina; uns no mundo helênico e outros no Império Romano; cada qual com o ambiente próprio, e o livro é filho também do ambiente que o viu nascer. Condicionamentos de raça - Os livros da Bíblia procedem quase todos da raça semita e mais concretamente do Povo Judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferentes do nosso, que é preciso conhecer para entender a Palavra de Deus. Condicionamentos de cultura - Além da cultura, também da mentalidade e da ciência dos autores que trabalharam na composição dos livros sagrados. Alguns livros levaram séculos a formar-se e são obra de muitos autores com mentalidades e cultura diferentes, e embora fossem inspirados, não foram privados da sua personalidade. 8. Gêneros e figuras de linguagem Em se tratando dos gêneros, temos: Poesia e prosa. Do gênero poético, temos na Bíblia: canção (canções de guerra, de culto e canções profanas), poesia sapiencial (poemas didáticos, coleções de sentenças), sentenças e máximas e literatura profética (repreensões, ameaças, consolações, confissões e oráculos). Quanto à prosa: leis, documentos (contratos, decretos e genealogias17), preces, apocalipses (descrições do juízo final em forma de visões), narrativas edificantes (novela histórica), narrativas biográficas dos profetas, história da salvação, profecias e cartas. O texto bíblico possui várias formas de expressão. Às formas indiretas e figuradas de se expressar damos o nome de figuras de linguagem. É importante conhecer as mais

16 Deuterocanônico significa “da segunda lista” e protocanônico “da primeira lista”. 17 Genealogia é uma lista de parentesco.

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usadas: Comparação, metáfora, parábola, alegoria, fábula, símbolo, sinédoque, metonímia, antonomásia e hipérbole. Explicação das figuras. Metáfora: É uma comparação abreviada. Metonímia: Troca de nomes relacionados entre si. Parábola: Uma narrativa que faz uma comparação imaginária. Alegoria: Uma metáfora, com sentido transferido, por semelhança. Fábula: Narrativa de cunho moral, na qual seres inanimados ou animais se comportam como o ser humano. Sinédoque: Designação do todo pela parte. Antonomásia: Substitui o nome por um qualificativo. Hipérbole: É um exagero de linguagem. 9. Geografia O ambiente onde foi escrita a Bíblia envolve as regiões da Palestina, as comunidades gregas e Alexandria. Os livros protocanônicos nasceram na Palestina. Os deuterocanônicos surgiram no ambiente grego de Alexandria. O NT foi escritos em diversos lugares, desde a Palestina até as comunidades gregas. Portanto, duas culturas influenciaram a mentalidade presente nos textos: Cultura semítica e cultura helênica. 10. História Para que se compreender os escritos bíblicos é necessário ter uma noção da história de Israel e do Império Romano. Em síntese, esta é a linha de tempo da Bíblia:

Antes de Cristo (AT) 1926: Abraão migra para Arã. 1800-1200: Tradição oral. 1200: Período tribal – o povo se instala em Canaã. Primeiros fragmentos escritos (Código da Aliança) 1150-1050: tempo dos juízes. 1000: Primeiros escritos. 1040-922: Fase de ouro – os reis Saul, Davi e Salomão. 922-605: Reino de Judá – sul. 922-720: Reino de Israel – norte. 597-538: Exílio na Babilônia.

515: Reconstrução do templo. 333-135: Dominações dos selêucidas e lágidas. 167: Revolta dos Macabeus. 64: Os romanos dominam a Palestina. Depois de Cristo (NT)

6-29: Vida e ministério de Jesus. 30: Primeiras comunidades. 70: Destruição de Jerusalém e diáspora. 90: Expansão do cristianismo. 135: Destruição de Jerusalém e diáspora final.

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11. Cultura As duas culturas que influenciam a redação dos livros bíblicos são bem diferentes. Os gregos são dados ao comércio, à educação, pensam o mundo racionalmente. Esses acreditam em vários deuses, seu sistema político é a democracia, vê o homem constituído de corpo e alma, existem o mundo material e o mundo espiritual, imortalidade da alma, céu e inferno. A expressão máxima dessa cultura é a filosofia. Sua língua foi o grego. Os homens mais importantes Homero, Sócrates, Platão, Aristóteles e Alexandre Magno. Os judeus acreditavam em um só Deus, davam mais importância à religião, o sistema político é a teocracia, o homem é corpo, existe apenas o mundo material, não se pronunciam sobre imortalidade, acreditam apenas na morada dos mortos. A expressão máxima dessa cultura é o monoteísmo. Suas línguas foram o hebraico e o aramaico. Os homens mais importantes Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Jesus e Paulo. 12. Judaísmo O antigo testamento pertence ao judaísmo assim como o novo surge num cenário também judaico. Por isso, vamos entender um pouco sobre judaísmo. Esta religião surgiu da tradição de Moisés, crê em um só deus chamado YHWH, possui um pacto com essa divindade, crê que a Torá foi dada por ele. Os judeus guardam o sábado, não possuem sacerdotes atualmente, os rabinos são os dirigentes do culto, a sinagoga é o seu templo. O Antigo Testamento é a sua bíblia, chamada de Tanakh. Mas contém os protocanônicos. O pacto divino foi estabelecido com Abraão. Os fundamentos da fé estão na lei dada por Moisés. O judaísmo surgiu somente a partir do exílio. Além da Tanakh, os judeus possuem comentários bíblicos com o Talmud e a Mishná. O corpo doutrinário do judaísmo não possui as noções de céu, inferno, corpo, alma e nem vida após a morte. Os adeptos esperam um messias e um mundo futuro de paz que acontecerá neste mundo mesmo.

13. Estrutura da literatura bíblica Para efeito de estudo, o AT é subdividido em: Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), História deuteronomista (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), Obra do cronista (Crônicas, Esdras e Neemias), Literatura profética (Isaías, Jeremias, Ezequiel etc), Literatura sapiencial (Jó, Provérbios), Poéticos (Salmos). No NT, temos: Sinóticos, Mateus, Marcos, Literatura Lucana (Lucas e Atos), Literatura Paulina (cartas de Paulo), Cartas católicas (Tiago, Pedro, Judas), Literatura Apocalíptica (Apocalipse de João) e Literatura Joanina (Evangelho de João, cartas de João).

VOCABULÁRIO TEOLÓGICO II

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CÂNON: Lista de livros considerados inspirados por Deus. CRONISTA: Quem escrever crônicas ou histórias. DIDÁTICO: Próprio para ensinar, instruir. GÊNERO: Tipo ou modo de um texto, considerando seu propósito. LITERATURA: Conjunto de livros produzidos por uma sociedade; arte de escrever. NARRATIVA: O ato de contar um fato por escrito. PENTATEUCO: Os cinco primeiros livros do AT. SAPIENCIAL: Que contém reflexões de sabedoria.

PLANO DE ESTUDO MENSAL

1. O que se entende por revelação, inspiração e inerrância? 2. Por qual motivo os livros deuterocanônicos foram rejeitados? 3. Compare uma Bíblia católica com uma Bíblia evangélica. 4. Ler os seguintes textos bíblicos:

a) Gênesis 1-2: A origem da humanidade. b) Gênesis 12, 1-9: A vocação de Abraão. c) Êxodo 3, 1-12: A vocação de Moisés. d) Êxodo 3, 13-15: A revelação do nome de Deus.

MÓDULO 05 – ANTIGO TESTAMENTO

1. Introdução O Antigo Testamento ou o Primeiro Testamento é uma coleção de textos sagrados importantes para três religiões: Judaísmo, cristianismo e islamismo. Muitas passagens do Alcorão foram inspiradas no testamento judaico. Já os judeus consideram este testamento como único livro sagrado chamado de Tanakh. Ao estudar esses livros, precisamos ter em mente uma chave de leitura correta. O AT é uma literatura judaica situada na antiguidade, com mentalidades e noções próprias. Não poder ser considerado um bloco igual. Os textos representam várias tradições, às vezes, separadas por séculos. Além disso, a língua original foi o hebraico. Essa língua possui formas de expressões muito peculiares. Essas ressalvas ajudam ao iniciante no estudo do AT a tomar cuidar para não aplicar categorias modernas a tradições antigas. 2. Visão de Deus A visão de Deus apresentada no AT difere do NT. Percebe-se ao longo dos séculos uma evolução pouco linear da imagem de Deus. Há textos de um Deus compassivo, de um Deus vingativo e até mesmo com ausência de Deus. No Pentateuco, há uma revelação do nome de Deus, Yahweh (Ex 3, 13-15). Seu nome significa apenas aquele que é, o existente. Essa divindade não pode ser vista por homens, nem seu nome pronunciado, deve-se chamá-la de Senhor (Adonai). Outro nome para Deus é Elohim. O

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curioso é que este último significa “deuses”. Deus fez uma aliança com o povo de Israel e revelou os mandamentos. 3. Visão de homem Os antigos judeus entendiam que o homem é uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 27). Seu ser é composto de dois elementos basar (carne, corpo) e néfesh (alma, vida). O sangue que sustentava e mantinha a vida. Após a morte, os falecidos iriam para o Sheol, a mansão dos mortos. Esta condição do morto é vista como esquecimento (Sl 88, 12-13) (COELHO FILHO, 2008). Enquanto vive, o dever do homem é observar a Toráh para ter na vida presente bênção e longevidade18.O coração (lebab) que era o centro dos pensamentos e da razão. Os rins (helayot) representavam a sede das emoções. 4. Visão de mundo Os hebreus entendiam que a Terra era circular com uma superfície plana e circundada por mares. Na parte superior, havia ar e águas. Na inferior, era um grande abismo. Debaixo do solo, situava-se o Sheol. A Terra era imóvel. A Palestina era o centro do mundo e se conhecia somente as regiões ao redor. 5. O tempo O calendário judaico era baseado no ciclo da lua e tinha doze meses. A cada dois anos havia um décimo terceiro mês. A contagem dos anos fazia-se com referência á criação ou ao tempo de vida de alguma pessoa importante ou evento marcante. Em 2009, para os judeus é o ano 5769 desde a criação do mundo. O início do ano se dava na primavera. 6. Método de Estudo Bíblico

Existem alguns passos a serem observados para uma boa interpretação: a)

Identificação do gênero, estilo e a finalidade do texto. b) Obter informações sobre o

autor e seu contexto: Quem escreveu? Quando e onde foi escrito? Qual o tema ou a

razão principal do escritor? A quem se dirigiu o escritor? c) Leitura total e identificação

da ideia principal, a afirmação do autor, através da contagem das palavras mais

repetidas. d) Ler cuidadosamente o texto. Ter atenção com as vírgulas, pontos finais e

parágrafos, pontos de exclamação e interrogação, dois pontos e ponto e vírgula. e) Ter

atenção com o sentido das palavras essenciais para a compreensão do texto. Identificar

como o autor desdobra a sua ideia principal, comprovando-a ou a rejeitando. f) Elaborar

um mapa conceitual ou esquema para visualizar a ideia principal e como ela se conecta

18 Longevidade quer dizer “vida longa”. Para os antigos era sinal de bênção.

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às suas ideias afluentes. g) Confrontar, associar os dados da leitura atual ao acervo

mental adquirido em leituras anteriores. h) Aplicar o texto à finalidade para qual você

leu e interpretou a obra sem forjar o autor apenas dialogar com ele.

Para isso é bom ter um caderno de anotações. Escolher um texto completo, sem

cortes, e anotar cada versículo e as ideias contidas nele. Deve-se ler sobre o mesmo

assunto noutros lugares para comparar. No final, é possível ter uma ideia clara do texto

bíblico. Não se conclui nada a partir de um só versículo.

7. Pentateuco

Na antiguidade, o texto era conservado em cinco rolos de tamanho quase igual. O

Pentateuco é composto pelo Gênesis (origem, começo), Êxodo (saída), Levítico (lei dos

sacerdotes da tribo de Levi), Números (recenseamentos), Deuteronômio (segunda lei).

Os judeus usavam as primeiras palavras de cada livro para nomeá-los.

Não existe um único autor para esses livros. Atualmente, se considera um conjunto

de autores que podem ser reunidos em 4 grupos: Javista, Eloísta, Sacerdotal e

Deuteronomista. Pelo modo de escrever, deduzem-se essas tradições. Sua redação final

se deu depois do Exílio, em 400 a. C. Mas o começo deve ter sido na época de Salomão.

7.1.Gênesis

O Gênesis é o livro das origens. O seu propósito é responder àquelas perguntas fundamentais como: De onde viemos? Qual origem do sofrimento? Como começou a história da fé? Por isso, o livro pode ser dividido em duas partes: 1 – Narrativas das origens; 2 – História dos patriarcas. Os 11 primeiros capítulos fazem uma catequese sobre as origens através de histórias. A composição do Gênesis teve muita influência dos povos vizinhos de Israel. Existem vários gêneros como mitos, lendas, genealogias e sagas. Essas tradições foram sendo transmitidas oralmente desde o século XIII até século V antes de Cristo. Após o exílio, os sacerdotes puseram as tradições por escrito. E tenta refletir justamente sobre a angústia e a falta de esperança provocadas pelo cativeiro. As memórias registradas no Pentateuco envolvem um período a partir de 3.000 a. C. até sua redação final. Por volta de 1770 os patriarcas estavam no Egito.

I. História das Origens (1,1-11,32)

1,1-2,4a: Criação do universo e dos seus habitantes (segundo a tradição Sacerdotal: P).

2,4b-3, 24: Formação do homem e da mulher. Origem do pecado (tradição Javista: J).

4,1-24: “História de dois irmãos”, Caim e Abel. Descendência do primeiro.

4,25-5,32: Set e a sua descendência.

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6,1-9,17: Corrupção da humanidade e Dilúvio (anti-Criação).

9,18-10,32: Re-criação, a partir de Noé, o homem novo. Lista de povos.

11,1-9: Torre de Babel: a humanidade constrói uma sociedade sem Deus.

11,10-32: Descendência de Sem até Abraão, promessa de um povo novo.

II. História dos Patriarcas (12,1-50,26)

Ciclo de Abraão (12,1-23,20): vocação, emigração para Canaã e Egito. Nascimento de

Isaac e Ismael. Morte de Abraão.

Ciclo de Isaac (24,1-27,46).

Ciclo de Jacó (28,1-36,43): já a partir de 25,19, Jacob começa a tornar-se a personagem

principal, tanto em relação ao pai (Isaac), como em relação a seu irmão Esaú.

Ciclo de José (37,1-50,26): o penúltimo dos filhos de Jacó, vendido como escravo para

o Egito, faz a ligação histórica e teológica com o livro seguinte, o Êxodo. É um ciclo

muito especial, também chamado História de José.19

7.2. Êxodo O tema principal deste livro é a libertação do povo da escravidão no Egito. A personagem central é Moisés. Essa história se completa com a Aliança do Sinai, um ponto importante para entender o começo da religião judaica de forma organizada. A partir da conquista da Terra prometida os hebreus começam a formar uma nação. O êxodo é um acontecimento fixado pela história por volta de 1250.

I. “Opressão” e “Libertação” dos filhos de Israel no Egito. Este é o tema fundamental

de 1,1-15,21. Nesta secção merecem especial relevo as peripécias no Egito (1,1-7,8),

como um povo que nasce no sofrimento. Seguem-se as pragas (7,8-12,32), como meio

violento de libertação.

II. Caminhada pelo deserto (15,22-18,27) do povo, agora livre do Egito.

III. Aliança do Sinai (19,1-24,18). Esta aliança é o encontro criacional ou fundacional

de Javé com os “israelitas”, em que o Senhor se dá a si mesmo ao homem e restitui cada

homem a si mesmo, e em que o homem aceita a dádiva pessoal de Deus e se aceita a si

mesmo como dom de Deus com tudo o mais que lhe é dado: a natureza, a razão, a Lei, a

História, o mundo. Por sua vez, a dádiva e a sua aceitação também reclamam dádiva

mútua e, portanto, responsabilidade. O pecado surge como possibilidade da liberdade

humana; mas Deus pode sempre recomeçar tudo de novo.

IV. Código sacerdotal, com especial relevo para a construção do santuário (25,1-

31,18). A execução do mesmo vai ser revelada em 35,1-40,33, com a correspondente

organização do culto. Esta narrativa está encerrada numa inclusão significativa: 40,34-

38 descreve a descida do Senhor sobre o santuário com as mesmas características

19 Cf. http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=Génesis

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(nuvem, glória, fogo) com que 24,12-15a descreveu a descida do Senhor sobre o Sinai,

mostrando, assim, que o santuário assumiu o papel do Sinai como lugar da manifestação

de Deus. É a presença da ideologia sacerdotal (conhecida por fonte P), que projeta

retrospectivamente no Sinai a imagem do segundo templo, do seu sacerdócio e do seu

culto – em suma, o ideal da comunidade judaica pós-exílica.

V. Renovação da Aliança do Sinai, relatada em 32,1-34,35.

VI. Código sacerdotal (35,1-40,38): execução das obras relativas ao santuário.

7.3. Levítico

A partir da famosa versão grega dos Setenta, este livro recebeu o nome Levítico

por causa da importância dos sacerdotes da tribo de Levi. O texto tem um forte acento

litúrgico e de lei. Essas informações foram recolhidas no século VI pelos sacerdotes em

Jerusalém.

I. Código Sacerdotal (1,1-16,34): inclui as seguintes secções:

1. Ritual dos Sacrifícios (1,1-7,38): holocausto (1), oblações (2), sacrifício de

comunhão (3), sacrifício de expiação (4,1-5,13), sacrifício de reparação (5,14-26),

deveres e direitos dos sacerdotes (6-7).

2. Consagração dos sacerdotes e inauguração do culto (8,1-10,20): Ritual da

consagração de Aarão e seus filhos (8), primeiros sacrifícios dos novos sacerdotes (9),

irregularidades e normas sobre os sacerdotes (10).

3. Código da pureza ritual (11,1-15,33): animais puros e impuros (11), purificação da

mulher que dá à luz (12), purificação da lepra (13-14), impureza sexual (15).

4. Dia da grande expiação (16,1-34).

II. Código de Santidade (17,1-26,46): é um conjunto de leis introduzidas pela fórmula

“Sede santos porque Eu sou santo”, que inclui leis sobre a imolação de animais e leis do

sangue (17), leis em matéria sexual (18), deveres para com o próximo (19), penas pelos

pecados sexuais (20), santidade dos sacerdotes (21-22), calendário das festas (23), luzes

do santuário e pães da oferenda ou da proposição (24,1-9), Ano Sabático e Jubileu (25),

bênçãos e maldições (26). Como se torna evidente, neste grande conjunto de leis

cultuais, quase metade do livro é constituída pelo “Código de Santidade” (17-26).

III. Apêndice (27,1-34): os votos.

7.4.Números Este livro é narrativo com alguns trechos de leis. Seu conteúdo se liga ao Êxodo. Pois retoma o tema da marcha no deserto desde o Sinai até as margens do Jordão.

I. No deserto do Sinai (1,1-10,10). Referem-se as ordens de Deus para a caminhada

através do deserto com a disposição do acampamento das tribos, os deveres dos levitas e

outras leis de carácter ritual.

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II. Do Sinai a Moab (10,11-21,35). Os acontecimentos mais importantes desta segunda

parte estão marcados por etapas geográficas, algumas das quais são difíceis de

identificar. Descreve-se a caminhada direta para Cadés-Barnea, mesmo na fronteira sul

de Canaã e, depois, a inflexão para oriente e a errância penosa durante quarenta anos

através do deserto até à chegada a Moab, já na fronteira da Terra Prometida.

III. Na região de Moab (22,1-36,13). Começando com a bênção de Balaão, as

narrativas desta terceira parte apresentam um novo recenseamento dos israelitas,

descrevem a nomeação de Josué para substituir Moisés, contêm algumas prescrições de

caráter cultual, narram a luta contra os madianitas e a partilha de Canaã com a

instalação das tribos de Rúben, Gad e parte de Manassés em Guilead, na Transjordânia,

e a recapitulação das etapas do Êxodo.

7.5. Deuteronômio A tradição deste livro difere-se do resto do Pentateuco. A fonte usada pelos escritores é perceptível até o 2º Livro dos Reis. Por isso, esse conjunto de livros é chamado de História Deuteronomista. No Deuteronômio começa uma nova maneira de contar a história do povo de Israel. Sua redação final deve ter acontecido pelos séculos VI e V. O texto trata dos discursos de Moisés e seus últimos dias.

I. Primeiro Discurso (1,6-4,43): de forma historicizante, recapitula o passado, desde a

planície desértica da Arabá até à entrada na Terra Prometida de Canaã.

II. Segundo Discurso (4,44-28,68): Moisés apresenta os fundamentos da Aliança e as

determinações da Lei.

Código Deuteronômico: 11,29-26,15.

III. Terceiro Discurso (28,69-30,20): últimas instruções de Moisés.

IV. Apêndice (31,1-34,12): narra os últimos dias de Moisés, com cânticos e bênçãos,

bem como a sua morte.

8. Temas da Teologia do Pentateuco

O Pentateuco contém os fundamentos da primeira aliança. Pois conta como esta

se deu, como se organizou o culto, construiu o santuário e instituiu os sacerdotes. A

base da fé israelita aparece no decálogo. Esse conjunto de escritos nos dá uma revelação

de Deus e da religião antiga dos judeus.

a) Criação do céu e da terra: Gn 1,1ss. b) Criação do homem: Gn 1, 27. c) A origem do pecado: Gn 3, 1-24. d) A origem da violência: Gn 4, 1-16. e) A renovação do mundo: Gn 6, 5ss.

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f) O chamado de Abraão: Gn 12. g) O chamado de Moisés: Ex 3. h) A revelação do nome de Deus: Ex 3, 13-15. i) A libertação do Egito: Ex 13, 17ss. j) A origem da Aliança: Ex 19. k) A lei: Ex 20. l) A construção do santuário: Ex 35. m) O credo de Israel: Dt 6. n) A morte de Moisés: Dt 34.

A LEI DE MOISÉS: A MENSAGEM CENTRAL DA PRIMEIRA ALIANÇA 1. Introdução Os judeus chamam de Torá o conjunto de preceitos que acreditam que foram dados por Deus por meio de Moisés. Às vezes usamos a expressão lei de Moisés, mas o significado da palavra é “instrução, apontamento”. Esses apontamentos orientam sobre todos os aspectos da vida: A relação consigo, com os outros e com Deus; desde o nascimento até a morte. Em síntese, a Torá ensina o povo a bem viver. E seus preceitos não são todos de natureza religiosa, abrange também moral, costumes e medidas de saúde. O Primeiro Testamento é lido sob dois olhares culturais: Um cristão e outro judeu. É importante entendermos qual a relação existente entre a Torá e o Evangelho. A posição de Jesus em relação a esse assunto é expressa assim: “Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5, 17). Portanto, o Evangelho não é contraditório à Torá, ao contrário, é uma elevação do sentido da Torá. Só de modo menos legalista. O rabino Moisés Maimônides identificou 613 mandamentos na Torá. 2. Classificação dos Mandamentos 1. Saber que há um Deus. Ex 20, 2 2. Nem mesmo pensar que há outros deuses além Dele Ex 20, 2 3. Saber que Ele é um. Dt 6, 4 4. Amá-Lo Dt 6, 5 5. Temê-Lo. Dt 10, 20 6. Santificar o Seu Nome Lv 22, 32 8. Não profanar Seu nome Lv 22, 32 9. Não destruir objetos associados ao Seu Nome. Dt 12, 4 10. Ouvir o profeta que fala em Seu Nome Dt 18, 15 11. Não testar o profeta indevidamente. Dt 6, 16 13. Andar em Seus caminhos. Dt 28, 9 14. Unir-se àqueles que o conhecem. Dt 10, 20 15. Amar outros judeus. Lv 19, 18

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16. Amar os convertidos. Dt 10, 19 17. Não odiar companheiros judeus Lv 19, 17 18. Reprovar um pecador. Lv 19, 17 19. Não constranger os outros Lv 19, 17 20. Não oprimir os fracos Ex 22, 21 21. Não falar depreciativamente dos outros Lv 19, 16 22. Não vingar. Lv 19, 18 23. Não guardar rancor. Lv 19, 18 24. Aprender a Torá. Dt 6, 7 25. Homenagear aqueles que ensinam e conhecem a Torá. Lv 19, 32 26. Não se voltar para a idolatria. Lev 19, 4 27. Não seguir os caprichos do seu coração ou o que seus olhos veem. Lev 15, 39 28. Não blasfemar. Ex 22, 27 29. Não adorar ídolos da maneira que são cultuados Ex. 20, 5 30. Não adorar ídolos nas quatro maneiras de adorar a Deus Ex. 20, 5 31. Não fazer um ídolo para si mesmo Ex.20, 4 32. Não fazer um ídolo para os outros Lv 19, 4 33. Não fazer formas humanas, mesmo para fins decorativos Ex. 20, 20 34. Não seduzir uma cidade para a idolatria. Dt 13, 14 35. Incendiar uma cidade que se transformou em adoração de ídolos. Dt 13, 17 36. Não para reconstruí-la como uma cidade. Dt.13, 17 37. Não ficar com nenhum pertence dela. Dt 13, 18 38. Não persuadir um indivíduo a adorar ídolos. Dt 13, 12 39. Não amar o idólatra. Dt 13, 9 40. Não deixar de odiar o idólatra. Dt 13, 9 41. Não salvar o idólatra. Dt 13, 9 42. Não dizer nada em defesa do idólatra. Dt 13, 9 43. Não se abstenham de acusar o idólatra. Dt 13, 9 44. Não profetizar em nome de idolatria. Dt 13,14 45. Não ouvir um falso profeta. Dt. 13, 4 46. Não profetizar falsamente em nome de Deus. Dt 18, 20 47. Não ter medo de matar o falso profeta. Dt. 18, 22 48. Não jurar em nome de um ídolo. Ex 23, 13 49. Não consultar o necromante. Lv 19, 31 50. Não consultar o adivinho. Lev. 19, 31 51. Não entregar os filhos para consagrá-los a Moloque. Lv. 18, 21 52. Não para erigir um pilar em um lugar público de adoração. Dt. 16, 22 53. Não se curvar perante uma pedra trabalhada. Lv 26,1 54. Não plantar uma árvore no pátio do Templo Dt 16, 21 55. Destruir os ídolos e seus acessórios. Dt 12, 2 56. Não carregar ídolos e seus acessórios Deut. 7, 26 57. Não se beneficiar da ornamentação dos ídolos Deut. 7, 25 58. Não fazer uma aliança com os idólatras Deut. 7, 2

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59. Não se mostrar favorável a eles. Deut. 7, 2 60. Não deixar que eles habitem na terra de Israel. Ex. 23, 33 61. Não imitá-los nos costumes e vestuário. Lev. 20, 23 62. Não ser supersticioso. Lev. 19, 26 63. Não entrar em transe para prever eventos. Deut. 18, 10 64. Não se envolver com astrologia Lev. 19, 26 65. Não praticar encantamentos. Deut. 18, 11 66. Não tente entrar em contato com os mortos. Dt 18, 11 67. Não consultar os espíritos. Dt 18, 11 68. Não praticar adivinhação. Dt. 18, 11 69. Não realizar atos de magia Dt. 18,10 70. Os homens não devem contar as pontas do cabelo. Lev. 19, 27 71. Os homens não devem aparar a barba. Lev. 19, 27 72. Os homens não devem usar roupas de mulher. Dt. 22, 5 73. As mulheres não devem usar roupas masculinas. Dt. 22, 5 74. Não se deve tatuar a pele. Lv 19, 28 75. Não fazer incisão na pele por um morto. Dt. 14, 1 76. Não raspar a cabeça em sinal de luto Deut. 14, 1 77. Arrepender-se e confessar os pecados. Nm 5, 7 78. Dizer o Shemá duas vezes por dia. Dt 6, 7 79. Servir o Todo-Poderoso com a oração diária Ex. 23, 25 80. Os sacerdotes devem abençoar a nação judaica todo dia. Nm 6, 23 81. Usar filactérios na cabeça. Dt. 6:8 82. Colocar filactérios no braço Dt. 6:8 83. Colocar uma mezuzá em cada umbral da porta. Deut. 6:9 84. Cada homem deve escrever um Rolo da Torá. Deut. 31:19 85. O rei deve ter separado para si um Rolo da Torá. Deut. 17:18 86.Fazer borlas e costurar as franjas da roupa com linha violeta. Nm 15, 38 87. Bendizer o Todo-Poderoso após as refeições. Deut. 8:10 88. Circuncidar todos os machos no oitavo dia após seu nascimento Lev. 12:3 89. Descansar no sétimo dia Ex. 23:12 90. Não fazer o trabalho proibido no sétimo dia. Ex. 20:10 91. O tribunal não pode aplicar sanções no sábado Ex. 35:3 92. Não andar fora do limite da cidade no sábado Ex. 16:29 93. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 31) 94. Infligir a si mesmo (Lev. 16, 29) 95. Não comer ou beber (Lev. 23, 29) 96. Descansar no primeiro dia da Páscoa (Lev. 23, 7) 97. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 8) 98. Descansar no sétimo dia da Páscoa (Lev. 23, 8) 99. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 8) 100. Descansar no dia da Festa das Cabanas (Lev. 23, 21) 101. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 21)

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102. Descansar no Ano Novo (Lev. 23, 24) 103. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 25) 104. Descansar no primeiro dia de Sucot (Lev. 23, 35) 105. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 35) 106. Descansar na convocação do oitavo após a Festa das Cabanas (Lev. 23, 36) 107. Não fazer trabalho proibido (Lev. 23, 36) 108.Não comer pão fermentado no dia 14 de Nissan da sexta hora em diante (Deut. 16:3) 109.Destruir todo o pão fermentado no dia 14 de Nissan (Ex. 12:15) 110.Não comer pão fermentado todos os sete dias (Ex. 13:3) 111.Não comer misturas contendo pão fermentado todos os sete dias [da Páscoa] (Ex. 12:20) 112.Não ver pão fermentado [no seu domínio] todos os sete dias (Ex. 13:7) 113.Não encontrar pão fermentado [no seu domínio] todos os sete dias (Ex. 12:19) 114.Comer pão ázimo na primeira noite de Páscoa (Ex. 12:18) 115.Relatar o êxodo do Egito nessa noite (Ex. 13:18) 116. Escutar o shofar no primeiro dia de Tishrei [no Ano Novo] (Núm. 29:1) 117.Viver em uma cabana por sete dias do festival (Lev. 23:40) 118.Levar tâmara e cidra todos os sete dias no Templo (Lev. 23:40) 119.Cada homem deve dar meio siclo anualmente (Ex. 30:13) 120. As cortes devem calcular e determinar em qual dia cada novo mês se inicia (Ex. 12:2) 121. Afligir-se e gritar [tocar o shofar] perante o Todo-Poderoso em tempos de catástrofe (Núm. 10:9) 122. Adquirir uma esposa por meio de uma ketubá e kidushin (Deut. 22:13) 123.Não ter relações com mulheres não adquiridas destas maneiras (Deut. 23:18) 124.Não negar comida, roupa e relações com a sua esposa (Ex. 21:10) 125.Ter filhos dela (Gen. 1:28) 126. Emitir um divórcio por meio de um documento (Deut. 24:1) 127.Um homem não pode casar-se novamente com sua esposa após ela ter casado com outra pessoa (Deut. 24:4) 128. Fazer yibum [casar-se com viúva de um irmão sem filhos] (Deut. 25:5) 129. Fazer chalitzá [libertar a viúva sem filhos do yibum] (Deut. 25:9) 130.A viúva não deve casar-se novamente até que os laços com seu cunhado sejam removidos (Deut. 25:5) 131. A Corte deve multar aquele que seduz uma solteira (Ex. 22:15-16) 132.O estuprador deve casar-se com a solteira (Deut. 22:29) 133.Ele não deve divorciá-la (Deut. 22:29) 134.O difamador deve permanecer casado com sua esposa (22:19) 135.Ele não deve divorciá-la (Deut. 22:19) 136.Cumprir as leis da sotá (Num. 5:30) 137.Não colocar óleo na oferenda dela (Núm. 5:15) 138.Não colocar incenso na oferenda dela (Núm. 5:15)

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139.Não ter relações com a sua mãe (Lev. 18:7) 140.Não ter relações com a esposa do seu pai (Lev. 18:8) 141.Não ter relações com a sua irmã [de mesma mãe e/ou pai] (Lev. 18:9) 142.Não ter relações com a filha da esposa do seu pai [mesmo pai] (Lev. 18:11) 143.Não ter relações com a filha do seu filho (Lev. 18:10) 144.Não ter relações com a sua filha (Lev. 18:10) 145.Não ter relações com a filha da sua filha (Lev. 18:10) 146.Não casar com uma mulher e sua filha (Lev. 18:17) 147.Não casar com uma mulher e a filha de seu filho (Lev. 18:17) 148.Não casar com uma mulher e a filha de sua filha (Lev. 18:17) 149.Não ter relações com a irmã do seu pai [mesmo pai e/ou mãe] (Lev. 18:12) 150.Não ter relações com a irmã da sua mãe (Lev. 18:13) 151.Não ter relações com a esposa do irmão do seu pai [mesmo pai] (Lev. 18:14) 152.Não ter relações com a esposa do seu filho (Lev. 18:15) 153.Não ter relações com a esposa do seu irmão [mesmo pai e/ou mãe] (Lev. 18:16) 154.Não ter relações com a irmã da sua esposa (Lev. 18:18) 155.Um homem não pode ter relações com um animal (Lev. 18:23) 156.Uma mulher não pode ter relações com um animal (Lev. 18:23) 157.Não ter relações homossexuais (Lev. 18:22) 158.Não ter relações homossexuais com o seu pai (Lev. 18:7) 159.Não ter relações homossexuais com o irmão do seu pai (Lev. 18:14) 160.Não ter relações com uma mulher casada (Lev. 18:19) 161.Não ter relações com uma mulher impura por menstruação (Lev. 18:19) 162.Não casar-se com gentios (Deut. 7:3) 163.Não deixar que homens amonitas e moabitas casem-se com filhas do povo judeu (Deut. 23:4) 164.Não impedir que uma terceira geração de convertidos egípcios case-se com judeus (Deut. 23:8-9) 165.Não abster-se de casar com terceira geração de um convertido edomita (Deut. 23:8-9) 166.Não deixar um bastardo casar-se com judeus (Deut. 23:3) 167.Não deixar um eunuco casar-se com judeus (Deut. 23:2) 168.Não castrar ninguém do sexo masculino [incluindo animais] (Lev. 22:24) 169.O Sumo-Sacerdote não pode casar-se com uma viúva (Lev. 21:14) 170.O Sumo-Sacerdote não pode ter relações com uma viúva nem mesmo fora do casamento (Lev. 21:15) 171.O Sumo-Sacerdote deve casar-se com uma mulher virgem (Lev. 21:13) 172.Um sacerdote não pode casar-se com uma divorciada (Lev. 21:7) 173.Um sacerdote não pode casar-se com uma zoná [uma mulher que teve relações com alguém que é proibida de casar] (Lev. 21:7) 174.Um sacerdote não pode casar-se com uma prostituta ou desonrada. Lev. 21:7 175.Não ter contato físico prazeroso com qualquer mulher proibida (Lev. 18:6)

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176.Examinar os sinais de animais para distinguir entre o kasher (puro) e o não-kasher (Lev. 11:2) 177.Examinar os sinais de aves para distinguir entre o kasher e o não-kasher (Deut. 14:11) 178.Examinar os sinais do peixe para distinguir entre o kasher e o não-kasher (Lev. 11:9) 179.Examinar os sinais do gafanhoto para distinguir entre o kasher e o não-kasher (Lev. 11:21) 180.Não comer animais não-kasher (Lev. 11:4) 181.Não comer aves não-kasher (Lev. 11:13) 182.Não comer peixe não-kasher (Lev. 11:11) 183.Não comer insetos voadores não-kasher (Deut. 14:11) 184.Não comer criaturas não-kasher que rastejam na terra (Lev. 11:41) 185.Não comer larvas (Lev. 11:44) 186.Não comer vermes encontrados em frutas no chão [após deixarem a fruta] (Lev. 11:42) 187.Não comer criaturas que vivem na água [sem ser peixes] (Lev. 11:43) 188.Não comer a carne de um animal que morreu sem um abate ritualístico (Deut. 14:21) 189.Não se beneficiar de um touro condenado a ser apedrejado (Ex. 21:28) 190.Não comer a carne de um animal que foi mortalmente ferido (Ex. 22:30) 191.Não comer um membro arrancado de um animal vivo (Deut. 12:23) 192.Não comer sangue (Lev. 3:17) 193.Não comer certas gorduras de animais puros (Lev. 3:17) 194.Não comer o tendão da coxa (Gen. 32:33) 195.Não comer leite e carne cozinhados juntos (Ex. 23:19) 196.Não comer leite e carne juntos (Ex. 34:26) 197.Não comer pão da nova colheita de grãos [antes de 16 de Nissan] (Lev. 23:14) 198.Não comer grãos torrados da nova colheita de grãos [antes de 16 de Nissan] (Lev. 23:14) 199.Não comer grãos amadurecidos da nova colheita de grãos [antes de 16 de Nissan] (Lev. 23:14) 200.Não comer a fruta de uma árvore durante seus três primeiros anos (Lev. 19:23) 201.Não comer sementes diversas plantadas em um vinhedo (Deut. 22:9) 202.Não comer alimentos que não tiveram o dízimo retirado (Lev. 22:15) 203.Não beber vinho derramado em serviço a ídolos (Deut. 32:38) 204.Abater ritualmente um animal antes de comê-lo (Deut. 12:21) 205.Não abater um animal e sua cria no mesmo dia (Lev. 22:28) 206.Cobrir o sangue de um animal selvagem ou ave abatidos [com terra] (Deut. 17:13) 207.Não pegar o pássaro-mãe com os filhotes em um ninho (Deut. 22:6) 208.Libertar o pássaro-mãe se você o pegou (Deut. 22:7) 209.Não jurar em falso em nome de Deus (Lev. 19:12) 210.Não tomar o nome de Deus em vão (Ex. 20:7)

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211.Não negar quando algo de valor foi deixado em sua possessão (Lev. 19:11) 212.Não jurar em falso quando alguma coisa de valor foi deixado em sua possessão (Lev. 19:11) 213.Jurar em nome de Deus para confirmar a verdade (quando tido como necessário pela corte) (Deut. 10:20) 214.Cumprir que foi pronunciado e fazer o que foi jurado (Deut. 23:24) 215.Não quebrar juramentos ou promessas (Núm. 3:30) 216.Ter promessas e juramentos anulados [estas são as leis de anulação de promessas explícitas na Torá] (Núm. 3:30) 217.O nazir deve deixar seu cabelo crescer (Num. 6:5) 218.Ele não deve cortar seu cabelo enquanto for um nazir (Num. 6:5) 219.Ele não deve beber vinho, misturas de vinho ou mesmo vinagre de uva (Num. 6:3) 220.Ele não deve comer uvas frescas (Num. 6:3) 221.Ele não deve comer passas (Num. 6:3) 222.Ele não deve comer sementes de uva (Num. 6:4) 223.Ele não deve comer casca de uva (Num. 6:4) 224.Ele não deve estar sob o mesmo teto que um cadáver (Num. 6:6) 225.Ele não deve ter contato com mortos (Num. 6:7) 226.Ele deve raspar o cabelo depois de trazer sacrifícios como término de seu nazirato (Num. 6:18) 227.Estimar o valor de pessoas conforme determinado pela Torá (Lev. 27:2) 228.Estimar o valor de animais consagrados (Lev. 27:12-13) 229.Estimar o valor de casas consagradas (Lev. 27:14) 230.Estimar o valor de terras consagradas (Lev. 27:16) 231.Cumprir as leis de dedicação de possessões [ao santuário] (Lev. 27:28) 232.Não vender o que foi dedicado ao santuário (Lev. 27:28) 233.Não redimir o que foi dedicado ao santuário (Lev. 27:28) 234.Não plantar sementes distintas juntas (Lev. 19:19) 235.Não plantar grãos ou vegetais em um vinhedo (Deut. 22:9) 236.Não miscigenar animais de diferentes espécies (Lev. 19:19) 237.Não trabalhar com diferentes animais juntos (Deut. 22:10) 238.Não usar shatnez (um tecido feito de algodão e linho) (Deut. 22:11) 239. Não recolher as uvas que ficaram depois da colheita. Lv 19:10 240. Não colher até o limite extremo do campo. Lev. 19:9 241. Deixar o resto no campo. Lev. 19:9 242. Não recolher os restos. Lev. 19:9 243. Deixar os restos de uma vinha Lev. 19:10 244. Não recolher os restos de uma vinha Lev. 19:10 245. Deixar os cachos de uvas informes. Lev. 19:10 246. Não escolher os cachos de uvas informes Lev. 19:10 247. Deixar os feixes esquecidos no campo Dt. 24:19 248. Não recuperá-los Deut. 24:19

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249. Separar o dízimo o pobre. Dt 14:28 250. Praticar a caridade. Dt 15:8 251. Não negar a caridade aos pobres. Dt 15:7 252. Dar ao sacerdote as primícias da colheita. Deut. 18:4 253. Os levitam devem reservar um décimo de seu dízimo. Nm 18:26 254. Não retirar o dízimo do supérfluo, mas separá-los em sua ordem correta Ex.22:28 255. Os não-sacerdotes não devem comer temurá. Lev. 22:10 256. Um trabalhador contratado ou um escravo judeu de um sacerdote não deve comer temurá. Lev.22:10 257. Um incircunciso não deve comer temurá. Ex. 12:48 258. Um sacerdote impuro não deve comer temurá. Lev. 22:4 259. A filha do sacerdote que se casa com não-sacerdote não deve comer temurá. Lev. 22:12 260. Separar o dízimo para os levitas. Nm 18:24 261. Separa o dízimo das colheitas todos os anos. Deut. 14:22 262. Não gastar o dinheiro consagrado, nem comida, nem bebida. Dt 26:14 263. Não comer o alimento sagrado estando impuro. Dt 26:14 264. Um enlutado no primeiro dia após a morte não deve comer alimento sagrado. Deut. 26:14 265. Não comer grãos do dízimo fora de Jerusalém Deut. 12:17 266. Não tomar vinho do dízimo fora de Jerusalém Deut. 12:17 267. Não comer óleo do dízimo fora de Jerusalém Deut. 12:17 268. Um quarto das culturas do ano deve ser totalmente para fins de dízimo. Lev. 19:24 269. Ler a confissão de dízimos cada quarto e sétimo ano Dt. 26:13 270. Para anular os primeiros frutos e trazê-los para a Ex Templo. 23:19 271. Os sacerdotes não devem comer os primeiros frutos fora de Jerusalém Deut. 12:17 272. Para ler a porção da Torá pertencentes à sua apresentação Dt. 26:5 273. Para reservar uma porção da massa para um sacerdote. Nm 15:20 274. Para dar o antebraço, duas faces, e abomaso dos animais abatidos para um sacerdote. Dt 18:3 275. Para dar o primeiro corte de ovelhas para um sacerdote. Dt 18:4 276. Para resgatar os filhos primogênitos e dar o dinheiro para um sacerdote Nm18:15 277. Para resgatar o burro primogênito, dando um cordeiro de um sacerdote Ex13:13 278. Para quebrar o pescoço do burro, se o proprietário não tem intenção de resgatar Ex. 13:13 279. Para descansar a terra durante o sétimo ano por não fazer qualquer trabalho que aumenta o crescimento Ex. 34:21 280. Não trabalhar a terra durante o sétimo ano Lev. 25:4 281. Não trabalhar com as árvores para a produção de frutas durante o ano Lev. 25:4 282. Não colher plantas que crescem selvagens ano em que a normal forma Lev. 25:5 283. Não recolher as uvas que crescem selvagens que anos de uma forma normal Lev. 25:5 284. Para sair de produzir todos os outros que cresceram nesse ano Ex. 23:11

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285. Para liberar todos os empréstimos durante o sétimo ano Dt. 15:2 286. Não é à pressão ou pedido do mutuário Dt. 15:2 287. Não se abstenham de crédito imediatamente antes da liberação dos empréstimos, por medo de perda monetária Dt. 15:9 288. O Sinédrio deve contar sete grupos de sete anos Lev. 25:8 289. O Sinédrio deve santificar o quinquagésimo ano Lev. 25:10 290. Para tocar o shofar no décimo dia de Tishrei para libertar os escravos Lev. 25:9 291. Não é para trabalhar o solo durante o ano quinquagésimo (Jubileu) Lev. 25:11 292. Não é a colher de modo normal que cresce selvagem no quinquagésimo ano Lev. 25:11 293. Para não apanhar uvas selvagens que cresceram de forma normal no quinquagésimo ano Lev.25:11 294. Realizar as leis de propriedades vendidas família Lev. 25:24 295. Não vender a terra de Israel indefinidamente Lev. 25:23 296. Realizar as leis de casas em cidades muradas Lev. 25:29 297. A tribo de Levi não deve ser dada uma porção da terra de Israel, e não são dadas as cidades para habitar em Deut. 18:1 298. Os levitas não devem ter uma participação nos espólios de guerra Dt. 18:1 299. Para dar os levitas que habitam as cidades e seus arredores Num campos. 35:2 300. De não vender os campos mas continuam a ser os levitas 'antes e depois do ano do Jubileu Lev. 25:34 301. Para construir uma Ex Templo. 25:8 302. Não construir o altar com pedras talhadas pelo metal Ex. 20:23 303. Não subir degraus até o altar Ex. 20:26 304. Mostrar reverência ao Lev Templo. 19:30 305. Proteger a área do templo Num. 18:2 306. Não deixar o templo subterrâneo num. 18:5 307. Preparar a unção do óleo Ex. 30:31 308. Não reproduzir a unção do óleo Ex. 30:32 309. Não para ungir com o óleo da unção Ex. 30:32 310. Não reproduzir a fórmula do incenso Ex. 30:37 311. Para não queimar nada sobre o Altar de Ouro, além de incenso Ex. 30:9 312. Os levitas têm de transportar a arca sobre os ombros num. 7:9 313. Não remover as pautas do Ex arca. 25:15 314. Os levitas devem trabalhar no Num Templo. 18:23 315. Não levita, deve fazer um outro trabalho de qualquer um Cohen ou um Num levita. 18:3 316. Dedicar o sacerdote para o serviço. Lev. 21:8 317. O trabalho de turnos os sacerdotes deve ser igual durante as férias Deut. 18:6-8 318. Os sacerdotes devem usar as vestes sacerdotais Ex durante o serviço. 28:2 319. Para não rasgar as vestes sacerdotais Ex. 28:32 320. O peitoral do Sumo Sacerdote não deve ser forte a partir da Ex Efod. 28:28 321. Um sacerdote não pode entrar no Templo intoxicados. Lv10:9

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322. Um sacerdote não pode entrar no templo com a cabeça descoberta Lev. 10:6 323. Um sacerdote não pode entrar no Templo com roupas rasgadas Lev. 10:6 324. Um sacerdote não pode entrar no Templo indiscriminadamente Lev. 16:2 325. O sacerdote não deve deixar o templo durante o serviço Lev. 10:7 326. Para enviar o impuro do Num Templo. 5:2 327. Pessoas impuras não devem entrar no Num Templo. 5:3 328. Pessoas impuras não devem entrar na área do Monte do Templo Deut. 23:11 329. Sacerdotes impuros não devem fazer o serviço no templo Lev. 22:2 330. Um sacerdote impuro, após a imersão, deve esperar até depois do pôr do sol antes de retornar ao serviço Lev. 22:7 331. Um sacerdote deve lavar as mãos e os pés antes de serviço Ex. 30:19 332. Um sacerdote com um defeito físico, não deve entrar no santuário ou aproximar do altar Lv. 21:23 333. Um sacerdote com um defeito físico, não deve servir Lev. 21:17 334. Um sacerdote com um defeito temporário não deve servir Lev. 21:17 335. Aquele que não é um Cohen não deve servir num. 18:4 336. Para oferecer somente animais puros Lev. 22:21 337. Não dedicar um animal faminto para o altar Lv. 22:20 338. Não abatê-lo. Lev. 22:22 339. Não regar o seu sangue Lev. 22:24 340. Não queimar sua gordura. Lv 22:22 341. Não para oferecer um animal temporariamente com lesões. Dt 17:1 342. Não sacrificar animais deteriorados mesmo oferecido pelo não-judeus Lev. 22:25 343. Não causar ferimentos aos animais dedicados Lev. 22:21 344. Resgatar os animais que se tornaram dedicados desclassificados Deut. 12:15 345. Oferecer somente animais que são Lev pelo menos oito dias de idade. 22:27 346. Não para oferecer animais comprados com o salário de uma prostituta ou o animal trocado por um cão Dt. 23:19 347. Para não queimar o mel ou levedura no altar Lv. 2:11 348. Para todos os sacrifícios Lev sal. 2:13 349. Para não omitir o sal de sacrifícios Lev. 2:13 350. Realizar o procedimento do holocausto como prescrito no Levítico Torá. 1:3 351. Não comer sua carne Dt. 12:17 352. Realizar o procedimento da oferta pelo pecado Lev. 6:18 353. Não comer a carne da oferta pelo pecado interior Lev. 6:23 354. Não para decapitar uma galinha trouxe como oferta pelo pecado Lev. 5:8 355. Realizar o procedimento da oferta pela culpa Lev. 7:1 356. Os sacerdotes devem comer a carne do sacrifício no Templo Ex. 29:33 357. Os sacerdotes não devem comer a carne fora do pátio do Templo Deut. 12:17 358. O não-sacerdote não deve comer carne de sacrifício Ex. 29:33 359. Acompanhar o processo da oferta de paz Lev. 7:11 360. Não comer a carne dos sacrifícios menores antes de aspersão do sangue Dt. 12:17 361. Trazer ofertas de manjares como prescrito no Levítico Torá. 2:1

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362. Não colocar óleo sobre a oferta de refeição de malfeitores Lev. 5:11 363. Não colocar incenso na oferta de refeição de malfeitores Lev. 3:11 364. Não comer a oferta de cereais do Sumo Sacerdote Lev. 6:16 365. Não para cozer uma oferta de cereais como pão fermentado Lev. 6:10 366. Os sacerdotes devem comer os restos das oferendas refeição Lev. 6:9 367. Trazer todas as ofertas e confesso voluntárias para o templo no Dt primeiro festival subseqüente. 12:5-6 368. Não reter o pagamento efetuado por qualquer voto. Dt 23:22 369. Oferecer todos os sacrifícios no Templo Dt. 12:11 370. Para trazer todos os sacrifícios de Israel fora do Templo Dt. 12:26 371. Não sacrificar o abate fora do pátio Lev. 17:4 372. Não oferecer sacrifícios fora do pátio Dt. 12:13 373. Oferecer dois cordeiros Num cada dia. 28:3 374. Acender um fogo sobre o altar a cada dia Lev. 6:6 375. Não é para extinguir este fogo Lev. 6:6 376. Remover as cinzas do altar todos os dias Lev. 6:3 377. Queimar incenso todos os dias Ex. 30:7 378. Iluminar a Menorá cada dia Ex. 27:21 379. O Kohen Gadol (Sumo Sacerdote ") deve trazer uma refeição oferecendo cada dia Lev. 6:13 380. Trazer dois cordeiros como holocausto adicional no sábado. Num. 28:9 381. Para fazer o show pão Ex. 25:30 382. Trazer ofertas adicionais em Rosh Chodesh ( "O Ano Novo") Num. 28:11 383. Trazer ofertas adicionais sobre a Páscoa num. 28:19 384. Oferecer a oferta de movimento da farinha do trigo novo Lev. 23:10 385. Cada homem deve contar o Omer - sete semanas a partir do dia da oferta de trigo novo trazido Lev. 23:15 386. Trazer ofertas adicionais da Festa das Semanas. Num. 28:26 387. Trazer duas folhas para acompanhar o sacrifício Lev acima. 23:17 388. Trazer ofertas adicionais no Ano Novo. Num. 29:2 389. Trazer ofertas adicionais no Dia da Expiação. Num. 29:8 390. Trazer ofertas adicionais na Festa das Cabanas. Num. 29:13 391. Trazer ofertas adicionais sobre a convocação do oitavo dia. Num. 29:35 392. Não comer os sacrifícios que se tornaram impróprios ou deteriorados Deut. 14:3 393. Não comer sacrifícios oferecidos com intenções impróprias Lev. 7:18 394. Não deixar sacrifícios passarem do tempo permitido para comê-los Lev. 22:30 395. Não comer o que sobrou Lev. 19:8 396. Não comer de sacrifícios que se tornaram impuro Lv. 7:19 397. Uma pessoa impura não deve comer os sacrifícios Lev. 7:20 398. Queimar o restante dos sacrifícios Lev. 7:17 399. Queimar todos os sacrifícios impuros Lev. 7:19 400. Acompanhar o processo do Dia da Expiação. Lev. 16:3 402. Aquele que profanou imóvel deve pagar o que ele profanou, mais de um quinto e

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trazer um sacrifício Lev. 5:16 403. Não trabalhar com os animais consagrados Deut. 15:19 404. Não é tosquiar a lã dos animais consagrados Deut. 15:19 405. Abate do sacrifício pascal no tempo especificado Ex. 12:6 406. Não abater enquanto na posse de fermento Ex. 23:18 407. Não deixar a gordura durante a noite. Ex 23:18 408. Abater o Cordeiro Pascal corretamente. Nm 9:11 409. Comer o cordeiro pascal com pão ázimo e ervas amargas na noite do décimo quarto da Nissan Ex.12:8 410. Comer o segundo Cordeiro Pascal, na noite do dia 15 de Iyar Num. 9:11 411. Não comer carne crua ou cozida pascal Ex. 12:9 412. Não ter a carne pascal dos confins do grupo Ex. 12:46 413. Um apóstata não deve comer dela Ex. 12:43 414. Um trabalhador permanente ou contratados temporários não devem comê-la. Ex 12:45 415. Um homem não circuncidado não deve comer dela Ex. 12:48 416. Não quebrar todos os ossos da oferta pascal Ex. 12:46 417. Não quebrar todos os ossos da segunda oferta pascal num. 9:12 418. Não deixar a carne da oferta pascal mais até a manhã Ex. 12:10 419. Não deixar a carne mais segundo pascal até a manhã num. 9:12 420. Não deixar a carne da oferta pelo feriado do dia 14 até o Dt 16. 16:4 421. Ser visto no Templo na Páscoa, Festa das Semanas e das Cabanas. Deut. 16:16 422. Comemorar a estes três Festivais (trazer uma oferta de paz) ex. 23:14 423. Alegrar a estes três Festivais (trazer uma oferta de paz) Deut. 16:14 424. Não aparecer no templo sem ofertas Deut. 16:16 425. Não se abstenham de regozijo com, e para dar presentes, o Dt os levitas. 12:19 426. Reunir todas as pessoas na sequência do sétimo ano. Dt 31:12 427. Separar o primogênito dos animais. Ex 13:12 428. Os sacerdotes não devem comer animais primogênitos dedicados fora de Jerusalém Deut. 12:17 429. Não redimir o primogênito Num. 18:17 430. Separar o dízimo de animais Lev. 27:32 431. Não resgatar a dízimo. Lv 27:33 432. Cada pessoa deve trazer uma oferta pelo pecado (no Templo), por sua transgressão Lev. 4:27 433. Oferecer no templo um carneiro sem defeito para reparar culpa involuntária. Lv. 5:17-18 434. Oferecer um carneiro para expiação quando for verificada a culpa. Lev. 5:25 435. Oferecer no templo uma rês de gado miúdo (se a pessoa é rica, um animal, se pobre, um pássaro ou a oferta de refeições) Lev. 5:7-11 436. O Sinédrio deve trazer uma oferta (no Templo), quando as regras em erro Lev. 4:13 437. Uma mulher que teve uma corrimento vaginal deve trazer uma oferta (no Templo),

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depois ela vai para a entrada da Tenda da Reunião. Lv15:28-29 438. Uma mulher que deu à luz deve trazer uma oferta (no Templo), depois ela vai para a entrada da Tenda da Reunião. Lv 12:6 439. Um homem que teve uma corrida (não natural urinária questão) devem trazer uma oferta (no Templo), depois ele vai para a entrada da Tenda da Reunião. Lev 15:13-14 440. O leproso purificado deve trazer uma oferta (no Templo) após ir à entrada da Tenda da Reunião. Lev 14:10 441. Não substituir um outro animal para um separado para o sacrifício Lev. 27:10 442. O novo animal, além da substituição lado, mantém a consagração Lv. 27:10 443. Não mudar os animais consagrados a partir de um tipo de oferta para outro Lev. 27:26 444. Realizar as leis de impureza dos mortos. Num 19:14 445. Realizar o procedimento da Novilha Vermelha. Num. 19:2 446. Realizar as leis da água. Nm 19:21 447. Regra as leis da purificação humana, conforme prescrito na Torá. Lv 13:12 448. O leproso purificado não deve remover os seus sinais de Dt impureza. 24:8 449. O leproso purificado não deve raspar os sinais de impureza no seu cabelo Lev. 13:33 450. O leproso purificado deve divulgar a sua condição, rasgando as suas vestes, permitindo que seu cabelo crescer e cobrindo os lábios Lev. 13:45 451. Realizar as normas prescritas para purificar o leproso purificado Lev. 14:2 452. O leproso purificado deve raspar todo o cabelo antes de sua purificação Lev. 14:9 453. Realizar as leis da purificação de vestuário Lev. 13:47 454. Realizar as leis da purificação de casas Lev. 13:34 455. Respeitar as leis de impureza menstrual Levítico. 15:19 456. Observar as leis de impureza causada pelo parto Lev. 12:2 457. Observar as leis de impureza causada por uma mulher correndo questão Lev. 15:25 458. Observar as leis de impureza causada por problema em execução de um homem (ejaculação irregular de sêmen infetados) Lev. 15:3 459. Observar as leis de impureza causada por um animal morto Lev. 11:39 460. Observar as leis de impureza causada pelos animais da terra. Lev. 11:29 461. Observar as leis de impureza de uma emissão seminal (ejaculação regular, com sêmen normal) Lev. 15:16 462. Observar as leis de impureza relativa aos alimentos líquidos e sólidos, Lev. 11:34 463. Cada pessoa impura deve mergulhar na água para se tornar puro. Lv 15:16 464. O tribunal deve julgar os danos sofridos por um boi. Ex. 21:28 465. O tribunal deve julgar os danos sofridos por um animal comer Ex. 22:4 466. O tribunal deve julgar os danos sofridos por um pit Ex. 21:33 467. O tribunal deve julgar os danos causados pelo fogo Ex. 22:5 468. Não roubar dinheiro furtivamente Lev. 19:11 469. O tribunal deve aplicar medidas punitivas contra o ladrão Ex. 21:37 470. Cada indivíduo deve garantir que suas escalas e pesos são precisos. Lv 19:36

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471. Não cometer injustiça com escalas e pesos Lev. 19:35 472. Não possuir escalas imprecisas e pesos, mesmo que não sejam para uso. Dt. 25:13 473. Não mover um marcador de fronteira para roubar propriedade de alguém. Dt 19:14 474. Não seqüestrar ex. 20:13 475. Não roubar abertamente Lev. 19:13 476. Não reter os salários ou deixar de pagar uma dívida Lev. 19:13 477. Não cobiçar e adquirir um outro regime de posse. Ex. 20:14 478. Não desejar os bens do outro. Dt 5:18 479. Devolver o objeto roubado ou o seu valor Lev. 5:23 480.Não ignorar um objeto perdido. Dt 22:3 481. Devolver o objeto perdido. Dt 22:1 481. O tribunal deve aplicar as leis contra os assaltos ou danos a propriedade alheia Ex. 21:18 482. Não ao assassinato Ex. 20:12 483. Não aceitar a restituição monetária para expiar o assassino. Nm 35:31 484. O tribunal deve enviar o assassino acidental para uma cidade de refúgio. Nm 35:25 485. Não aceitar a restituição monetária ao invés de serem enviadas para uma cidade de refúgio num. Nm 35:32 486. Para não matar o assassino antes que ele aguarda julgamento. Nm 35:12 487. Salvar alguém sendo perseguido até tirar a vida do perseguidor. Dt 25:12 488. Não à pena do perseguidor. Nm 35:12 489. Não ficar de braços cruzados se a vida de alguém está em perigo Lev. 19:16 490. Designar cidades de refúgio e de preparar as vias de acesso Dt. 19:3 491. Quebrar o pescoço de um bezerro pelo vale do rio após uma assassinato não solucionado. Dt 21:4 492. Não trabalhar nem planta que vale do rio. Dt 21:4 493. Não permitir que as armadilhas e obstáculos permaneçam em sua propriedade Dt. 22:8 494. Faça um parapeito em torno de telhados planos Deut. 22:8 495. Não pôr um tropeço diante de um homem cego (nem dar conselhos prejudiciais) Lev. 19:14 496. Ajudar outro remover a carga de um animal que já não pode levá-lo Ex. 23:5 497. Ajudar os outros carregarem suas bestas. Dt 22:4 498. Não deixar os outros perturbados com suas cargas (mas querer ajudar a carregar ou descarregar) Deut. 22:4 499.Conduta de vendas de acordo com a Lei da Torá Lev. 25:14 500. Não prejudicar os outros no negócio. Lev. 25:14 501. Não insultar ou prejudicar ninguém com palavras Lev. 25:17 502. Não enganar um convertido monetariamente Ex. 22:20 503. Não insultar ou prejudicar um converso com palavras Ex. 22:20 504. CompraR um escravo hebreu em conformidade com as leis prescritas Ex. 21:2

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505. Não vendê-lo como um escravo é vendido Lev. 25:42 506. Não oprimi-lo com trabalho. Lev. 25:43 507. Não permitir que um não-judeu faça o mesmo. Lev. 25:53 508. Não tê-lo do trabalho servil Lev. 25:39 509. Dê-lhe presentes quando ele ficar livre. Lv 15:14 510. Para não mandá-lo embora de mãos vazias Deut. 15:13 511. Resgatar servas judias. Ex. 21:8 512. Desposar a escrava judia. Ex. 21:8 513. O comandante não deve vender a sua serva Ex. 21:8 514. Escravos cananeus devem trabalhar sempre a menos feridos em um de seus membros Lev.25:46 515. Não extraditar um escravo que fugiu de Israel Dt. 23:16 516. Não condenar um escravo que veio a Israel para refúgio. Dt 23:16 517. Os tribunais devem exercer o direito de um trabalhador contratado e contratou guarda Ex. 22:9 518. Pagar os salários no dia em que foram obtidos Deut. 24:15 519. Para não atrasar o pagamento dos salários após o prazo acordado Lev. 19:13 520. O trabalhador contratado pode comer onde trabalha Deut. 23:25 521. O trabalhador não deve comer enquanto contratado em tempo Dt. 23:26 522. O trabalhador não deve ter mais do que ele pode comer Deut. 23:25 523. Não amordaçar um boi enquanto arar. Deut. 25:4 524. Os tribunais devem exercer o direito de um mutuário Ex. 22:13 525. Os tribunais devem realizar as leis de um produto não guarda Ex. 22:6 526. Emprestar aos pobres e indigentes Ex. 22:24 527. Para não pressioná-los para o pagamento, se você sabe que eles não têm o Ex. 22:24 528. Pressionar o idólatra para pagamento. Dt 15:3 529. O credor não deve ter à força a garantia. Dt 24:10 530. Retornar a garantia ao devedor, quando necessário Deut. 24:13 531. Não atrasar o seu regresso, quando necessário Deut. 24:12 532. Não exigir a garantia de uma viúva Dt. 24:17 533. Não exigir como garantia utensílios necessários para preparar alimentos Dt. 24:6 534. Não emprestar com juros Lev. 25:37 535. Não emprestar com juros Dt. 23:20 536. Não dar intermediários em um empréstimo com juros, garantia, testemunha, ou escrever a nota promissória Ex. 22:24 537. Emprestar e pedir emprestado com os idólatras interesse. Dt 23:21 538. Os tribunais devem realizar as leis do autor. Ex. 22:8 539. Realizar as leis da ordem de herança num. 27:8 540. Nomear juízes Deut. 16:18 541. Não nomear juízes que não estão familiarizados com processo judicial. Dt 1:17 542. Decidir, por maioria, em caso de desacordo Ex. 23:2 543. O tribunal não deve executar através de uma maioria de um voto, pelo menos, uma

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maioria dos dois é necessária Ex. 23:2 545. Um juiz que apresentou um fundamento de absolvição, não devem apresentar um argumento para a condenação em casos de pena capital Deut. 23:2 546. Os tribunais devem executar a pena de morte de apedrejamento Deut. 22:24 547. Os tribunais devem executar a pena de morte da queima. Lev. 20:14 548. Os tribunais devem executar a pena de morte da espada Ex. 21:20 549. Os tribunais devem executar a pena de morte de estrangulamento Lev. 20:10 550. Os tribunais devem pendurar o apedrejado por blasfêmia ou idolatria. Dt 21:22 551. Enterrar o executado no dia eles são mortos Dt. 21:23 552. Não atrasar o enterro durante a noite. Dt 21:23 553. O tribunal não deve deixar o feiticeiro vivo. Ex 22:17 554. O tribunal deve dar chicotes aos malfeitor. Dt 25:2 555. O tribunal não deve exceder o número previsto de cílios Deut. 25:3 556. O tribunal não deve matar ninguém em evidências circunstanciais Ex. 23:7 557. O tribunal não deve punir alguém que foi forçado a fazer uma crime. Dt 22:26 558. Um juiz não deve lamentar o assassino no julgamento. Dt 19:13 559. Um juiz não deve ter piedade do pobre homem no julgamento Lev. 19:15 560. Um juiz não deve respeitar o grande homem no julgamento Lev. 19:15 561. Um juiz não deve decidir injustamente o caso do habitual transgressor Ex. 23:6 562. Um juiz não deve perverter a justiça Lev. 19:15 563. Um juiz não deve perverter um caso envolvendo um converter ou órfão. Dt 24:17 564. Julga retamente Lev. 19:15 565. O juiz não deve temer um homem violento em julgamento. Dt 1:17 566. Os juízes não devem aceitar subornos Ex. 23:8 567. Os juízes não devem aceitar testemunho Ex menos que ambas as partes estão presentes.23:1 568. Não aos juízes maldição Ex. 22:27 569. Não amaldiçoar o chefe de Estado ou líder do Sinédrio.Ex 22:27 570. Não amaldiçoar qualquer judeu. Lev. 19:14 571. Quem conhece prova deve testemunhar no tribunal Lev. 5:1 572. Cuidadosamente interrogar a testemunha Dt. 13:15 573. Uma testemunha não deve servir como um juiz em crimes capitais Deut. 19:17 574. Não aceitar o depoimento de uma testemunha Dt solitário. 19:15 575. Transgressores, não devem testemunhar Ex. 23:1 576. Parentes dos litigantes não devem testemunhar Deut. 24:16 577. Não testemunhar falsamente Ex. 20:13 578. Punir as falsas testemunhas que tentavam punir o réu Dt. 19:19 579. Agir de acordo com a decisão do Sinédrio Dt. 17:11 560. Não desviar-se da palavra do Sinédrio Dt. 17:11 561. Não é para adicionar aos mandamentos da Torá ou os seus esclarecimentos orais Deut. 13:1 562. Não diminuir a partir do Torá qualquer mandament, no todo ou em parte Dt. 13:1 563. Não amaldiçoar a seu pai e sua mãe Ex. 21:17

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564. Não atacar seu pai e sua mãe Ex. 21:15 565. Respeitar seu pai ou a mãe Ex. 20:12 566. O medo de seu pai ou mãe Lev. 19:3 567. Não ser um filho rebelde Dt. 21:18 568. Chorar pelos parentes Lev. 10:19 569. O Sumo Sacerdote não deve contaminar-se para qualquer relativa. Lv 21:11 570. O Sumo Sacerdote não deve entrar sob o mesmo teto como um cadáver Lev. 21:11 571. O Sacerdote não deve contaminar-se (indo a funerais ou cemitérios) para ninguém, exceto parentes Lev. 21:1 572. Nomear um rei de Israel Dt. 17:15 573. Não nomear um estrangeiro Dt. 17:15 574. O rei não deve ter muitas esposas Deut. 17:17 575. O rei não deve ter muitos cavalos Deut. 17:16 576. O rei não deve ter muita prata e ouro Dt. 17:17 577. Destruair as sete nações cananitas Deut. 20:17 578. Não deixar que nenhum deles permaneçam vivos. Dt 20:16 579. Purificar os descendentes de Amaleque Deut. 25:19 580. Lembrar-se que Amaleque fez com o povo judeu Deut. 25:17 581. Não esquecer as atrocidades de Amaleque e emboscada na jornada do Egito, no deserto Dt.25:19 582. Não morar permanentemente no Egito Deut. 17:16 583. Oferecer condições de paz para os habitantes de uma cidade, mantendo o cerco, e tratá-los de acordo com a Torá, se aceitar os termos Deut. 20:10 584. Não oferecer a paz a Amom e de Moabe, enquanto a assediá-las Deut. 23:7 585. Não destruir as árvores frutíferas, mesmo durante o cerco Dt. 20:19 586. Preparar latrinas fora dos campos Deut. 23:13 587. Preparar-se uma pá para cavar. Deut. 23:14 588. Nomear um sacerdote para falar com os soldados durante a guerra Dt. 20:2 589. 589. Aquele que tomou uma mulher, construiu uma casa nova, plantou uma vinha, ou é dado um ano para se alegrar com suas posses Deut. 24:5 590. Não exigir ao acima de qualquer participação, condomínio ou militar Deut. 24:5 591. Não entrar em pânico e retirada durante a batalha Dt. 20:3 592. Manter as leis do Deuteronômio com a mulher em cativeiro. 21:11 593. Não vendê-la em escravidão. Dt 21:14 594. Não manter a sua serva depois de ter relações sexuais com ela. Deut. 21:14 3. A Ética da Torá Os princípios da Torá direcionam a relação do homem consigo, com o outro, com a natureza e com Deus. A reverência à santidade de Deus, o respeito pela vida e a pureza integral da pessoa são preocupações centrais. A justiça com o pobre, o órfão e a viúva estão no coração dos mandamentos. É importante observar que muitos preceitos destoam bastante da cultura moderna.

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4. O diferencial do Evangelho Jesus não cria uma nova lei, apenas faz uma releitura radical da antiga lei. A sua atenção se volta para as questões promovam a vida e não dificultem o acesso dos menos favorecidos à felicidade. Fundamental em Jesus é a gratuidade. Na Torá, para cada preceitos há uma recompensa. No Evangelho, as atitudes têm um valor em si mesma. Isso alivia o peso da lei e aproxima as pessoas mais de Deus.

PROPOSTA DE ESTUDO 1. Ler em grupos Mateus 5 a 7. 2. Qual o sentido que Jesus dá à Lei? 3. Observando os mandamentos comentados por Jesus é possível afirmar que Jesus mantém a lei sem alterar? 4. O que significa o contraste: “Ouvistes que foi dito/Eu porém, vos, digo”. 5. Comentar o valor da regra de ouro de Mt 7, 12. 6. O que significa, afinal, ensinar com “autoridade”?

A EXISTÊNCIA DE DEUS E

O PROBLEMA DO MAL NA TRADIÇÃO BÍBLICA E CRISTÃ

1. Introdução à temática A relação entre a existência de um Deus bom e a presença do mal do mundo constitui um dos maiores problemas teológicos. Esta questão foi levantada pelo filósofo Epicuro (341-270 a. C.), há quase 2.400 anos. O famoso dilema de Epicuro nos coloca contra a parede: “Deus quer impedir o mal e não consegue? Então, ele é impotente. Ele é capaz, mas não quer? Então, ele é malévolo. Ele é capaz e quer? Donde, então, o mal?” (EHRMAN, 2008). Muitas vezes a causa do ateísmo no mundo contemporâneo se deve à dificuldade de lidar com esta situação. No Brasil, muitas denominações cristãs lidam de modo muito confuso com essa dupla “bondade de Deus” e “existência do mal”. As afirmações que refletem este dilema são ouvidas quase todos os dias. E muitas vezes, só há duas saídas: O Deus é culpado pelo mal ou ele não existe. Muitas explicações impensadas levam as pessoas a justificar a falta de justiça social. Agostinho (354-430 d. C.) foi o primeiro pensador cristão a responder a essa questão. Através de seu livro “O Livre-arbítrio”, ele defende que o mal é resultado da liberdade humana e não da vontade de Deus. O problema se tornou uma questão tão preocupante que o filósofo Leibniz separou uma parte da teologia só para discutir este assunto. A este estudo ele deu o nome de Teodiceia, que quer dizer “justificação de Deus”. Então, desenvolve uma longa discussão sobre o tema no seu livro “Ensaios sobre a Teodiceia”. Atualmente, existem diferentes posições sobre o problema: a) O teólogo Andrés Torres Queiruga pensa que Deus é perfeito e não quer o mal, mas o homem é imperfeito e erra; b) O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirma que não podemos insistir nesta

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discussão, precisamos é agir para que o mal seja amenizado; c) O teólogo estadunidense Bart Ehrman diz que o problema é importante, mas nós não temos respostas para ele.

Porém, antes de tratar da relação de Deus com a história, trataremos da identidade de Deus dentro da Bíblia e da tradição cristã. Primeiramente, é preciso saber em que Deus acreditam os cristãos para depois investigar qual é a consequente relação dele com o mundo. Partindo da identidade e qualidades de Deus, procuraremos as respostas que a Bíblia dá e as que tradição cristã criou ao longo do tempo.

2. A identidade e os atributos de Deus na tradição bíblica A tradição do Primeiro Testamento revela a identidade de Deus. Ele se apresenta como Yahweh, que quer dizer “Eu sou aquele que é”, o existente (Ex 3, 13). Deus é também criador (Gn 1,1) e legislador (Ex 20). Outros atributos de Deus são a glória, a santidade e a justiça (Lv 10, 3; Ex 22, 22). Porém, o que mais se destaca na sua relação com o povo de Israel são a bondade, a santidade e a justiça. A bondade é expressa em relação aos homens e às mulheres (Sl 145, 8-9). No Segundo Testamento, Deus é apresentado como o único plenamente bom (Mc 10, 18). Dentro da mentalidade de Jesus não há condições morais por parte do ser humano para que sua bondade se manifeste (Mt 5, 45). A expressão máxima dessa bondade é o amor. Tal afeição levou o ser humano à categoria de filho de Deus (1 Jo, 3, 1-2). A graça e a misericórdia completam a manifestação desse amor.

A santidade implica a distinção de Deus do ser humano (Os 11, 9). É a sua natureza de inacessível, absoluto. A justiça refere-se à atitude de Deus diante dos merecimentos do homem (Esd 9, 15). Segundo a tradição bíblica, a justiça de Deus tem um caráter distributivo: Recompensa os bons e pune os maus (Rm 2, 3). A relação entre esses três atributos é conflituosa no texto bíblico, alguns autores optam pela excelência da misericórdia e outros pela justiça.

Para os hebreus antigos, Yahweh tem aspecto humano. A essa visão de Deus, chamamos de antropomorfismo. Ele participa da história de Israel, liberta o povo da escravidão e estabelece uma aliança com os israelitas, em seguida, dá-lhes a Lei. O princípio dessa Lei é proteger os oprimidos, abençoar os justos e punir e amaldiçoar os pecadores. O grande desafio é que as leis divinas ordenam procedimentos considerados modernamente como antiéticos: O genocídio (Gn 19, 29), o infanticídio (Ex 11, 4), a intolerância religiosa e sexual (Ex 22, 17-18), e a pena de morte (Ex 21, 12). Esses procedimentos são provenientes da visão antropomórfica do divino dos autores.

No Segundo Testamento, superam-se muitos aspectos ambíguos da Lei. Porém, o julgamento final é expresso em forma de justiça distributiva (Mt 25, 31-46). As restrições da Lei são substituídas pela moral cristã que transparece nas cartas. No Primeiro Testamento a imagem que sobressai de Deus é Senhor (Adonai), e no Segundo Testamento, a imagem apresentada por Jesus é Pai (Abbá).

3. A identidade e existência de Deus na tradição cristã A partir da perspectiva bíblica, os teólogos desenvolveram dois caminhos para falar de Deus: A teologia afirmativa e a teologia negativa. A primeira procura descrever Deus, dando-lhe qualidades, afirmando o que ele é. Destaca-se o pensamento de Tomás de Aquino (1225-1274). A segunda, prefere dizer o que Deus não é, sem afirmar suas qualidades, alegando que o conhecimento humano é insuficiente para isso. Destaca-se Pseudo-Dionísio, o Areopagita (Séc. V).

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Dionísio apenas diz o que Deus não é. Mas Tomás de Aquino tentou usar a razão para demonstrar a existência e as qualidades de Deus. Ele formulou as famosas 5 vias para prová-la: 1ª Tudo que move é movido por outra coisa, mas aquilo que dá o ponto de partida a todos os motores é imóvel; 2ª Todo efeito depende de uma casa, a primeira delas não é causa por nenhuma outra; 3ª Todos os seres são passageiros, mas para que o mundo se sustente o primeiro deles é absoluto; 4ª Há graus de perfeição nos seres, mas há um contém todos os graus; 5ª O Universo é organizado, isso exige uma inteligência ordenadora. Durante a história da Igreja, muitas qualidades e descrições de Deus foram feitas. Porém, muitas dificultam e até ofuscam a identidade do divino. O cristianismo foi predominantemente marcado pela teologia afirmativa. Decorre daí a dificuldade dos cristãos de hoje relacionarem a existência de um Deus bom com a existência do mal.

4. O problema do mal na história Os filósofos Leibniz e Voltaire travam uma disputa indireta sobre o assunto. Leibniz é realista/otimista e Voltaire é realista/pessimista. Para Leibniz, Deus sendo perfeito escolheu o melhor modelo de mundo possível. Neste modelo, existe um grande número de variedade e a máxima ordem. A pergunta que se segue é que “Se este é o melhor dos mundos donde vem o mal?” O pensador explica os tipos diferentes de mal: a) O mal metafísico – que é culpa da imperfeição do ser humano; b) O mal moral – é causado pelo pecado; c) O mal físico – é causado pela natureza, como punição ou para mudar o curso dos acontecimentos. Deus não culpado pelo mal, se existe algum é culpado do homem ou é um meio drástico para atingir um bem maior ou um mal maior.

Voltaire critica o otimismo de Leibniz. Em seu livro “Cândido ou o otimismo”, ele apresenta a história de Cândido, uma pessoa boa, que sofre todas as desgraças possíveis, mas tenta acredita que mestre Pangloss está certo, pois ele ensinava que tudo concorre para o bem. A conclusão de Voltaire é que este não é o pior e nem o melhor mundo.

Agostinho de Hipona (354-430) procura resolver o problema do mal dizendo que o mal é uma “falta”, uma “ausência” do bem. Deus é completo, por isso Ele é o sumo bem. A origem do mal está no livre-arbítrio. O homem no uso de sua liberdade, dominado pela má vontade, pratica o mal. A liberdade, o conhecimento e a vontade são as faculdades humanas nas escolhas morais. Quando o homem deixa de escolher a vontade divina, escolhendo a sua, comete o mal. Deus é o autor da liberdade e não do mal, este é humano.

5. Considerações gerais sobre a problemática A identidade e os atributos de Deus nos textos bíblicos representam visões antropomórficas e culturais do divino. Portanto, existem várias posições, de várias épocas, lugares e autores. Se aquele que interpreta não souber ponderar tais textos entrará em conflito nas suas conclusões. A teologia negativa parece bastante prudente pelo fato de não fazer afirmações absolutizantes sobre Deus. Atualmente, muitos atributos divinos são extremamente carregados de ideologias negativas como “rei”, por exemplo. Para Andrés Torres Queiruga, o mal é inevitável para a condição limitada do ser humano. Mas Deus está no mundo na luta contra o mal juntos dos homens e mulheres. O problema deve refletido sem envolver a premissa Deus. Nesse sentido, Bart Ehrman confessa nossa incapacidade de resolver esse problema envolvendo os termos Deus e mal. A perspectiva de Leonardo Boff talvez seria a mais apropriada para realidade

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latino-americana, sabemos que Deus é bom, apesar de nossas tradições escritas serem diversificadas, então, cabe-nos resolver o problema do sofrimento do mundo, sem ficar transferindo nossa responsabilidade para Deus.

BIBLIOGRAFIA

AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. Tradução de Nair de Assis de Oliveira. São Paulo: Paulus, 1995.

EHRMAN, Bart. O problema com Deus. Tradução de Alexandre Martins. Rio de Janeiro: Agir, 2008. LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Os pensadores. Tradução de Marilena Chauí. São Paulo: Abril, 1974. REALE, Giovanni. História da filosofia. Vol. 1. VOLTAIRE, François Marie Arouet. Cândido ou o otimismo. Rio de Janeiro: 1994.

APOLOGÉTICA CATÓLICA

Introdução

Apologética é a defesa bem fundamentada dos princípios da fé cristã. Desde os

primeiros séculos do cristianismo, que as lideranças precisaram defender a fé e os

costumes cristãos diante da sociedade do Império Romano. Hoje, devido às diferenças

doutrinárias, cada Igreja tem sua apologética. Neste estudo, vamos tratar a respeito da

Apologética Católica. É importante informar que a apologética não é uma defesa

superficial, forçada e que deseja fazer valer uma doutrina a todo custo. A Bíblia é o

fundamento principal de defesa ou refutação de qualquer doutrina cristã.

Conteúdo

A Apologética é uma parte da teologia que cuida das doutrinas mais difíceis de

compreensão e defesa. Muitas delas não estão de modo explícito na Bíblia. Elas

encontram maior esclarecimento na Tradição. As principais doutrinas exclusivas da

Apologética Católica são: Doutrina do purgatório, a intercessão e a veneração dos

santos, o culto a Maria e os dogmas marianos, a transubstanciação e o sacrifício da

Missa, a confissão auricular e as indulgências, o cânon da Bíblia, o primado romano e a

infalibilidade papal, a Inquisição, celibato clerical, ecumenismo e a comunhão eclesial.

Fontes da fé católica

As divergências de doutrina entre católicos e evangélicos são provenientes dos

diferentes modelos de conceber a Igreja e a fonte da fé. A Igreja Católica tem como

fontes de doutrinas: A Bíblia, a Tradição Apostólica e o Magistério. Ela aceita as

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Escrituras e a Tradição como regras de fé. Os evangélicos aceitam somente a Bíblia,

além disso, eles seguem o cânon mais curto. Outro fato é: A interpretação bíblica na

tradição protestante é individual, no catolicismo esta interpretação é feita coletivamente,

pela Igreja. É humano e natural que haja divergências. Pontos de partida diferentes vão

levar a conclusões diferentes.

PARTE I – QUESTÕES FUNDAMENTAIS

1ª Questão: A intercessão e a veneração dos santos

Nos séculos VIII e IX, houve um forte movimento na Igreja chamado

Iconoclastia. No Império Bizantino, houve uma revolta contra o uso de imagens. Este

movimento levou muita gente à tortura e à morte. A causa é a dúvida de se venerar

imagens é idolatria ou não. Em muitas ocasiões, o zelo religioso causou muita confusão.

Durante a Reforma Protestante, o problema voltou à tona.

A veneração de imagens foi uma doutrina muito polêmica. O Concílio de Hieria

(754 d. C.) a proibiu. Depois o II Concílio de Niceia a aprovou (787 d. C.). Os

costumes relacionados ao culto aos santos introduzidos na Igreja foram: A veneração de

imagens e relíquias (século II), canonização, intercessão e festa dos fiéis defuntos.

Citações bíblicas: Ex 25, 18-20; Num 21, 8-9; Ex 20, 24.

2ª Questão: A doutrina do Purgatório

A doutrina do Purgatório surgiu de uma compreensão de que ninguém poderia

entrar no Céu sem estar totalmente puro de suas faltas. O Catecismo da Igreja

Católica mantém esta doutrina baseada na Tradição. Os teólogos protestantes

comentam que ela não possui referência bíblica pelo fato de Macabeus não ser aceito

pelo Cânon Hebraico. Existem muitas evidências de que os primeiros cristãos oravam

pelos mortos. Há muitas inscrições em catacumbas. A palavra Purgatório não se

encontra na Bíblia. As definições dogmáticas sobre a doutrina foram proclamadas

pelos Concílio de Lião II (1274), o Concílio de Florença (1438-1445), e o Concílio de

Trento (1545-63 ). Mas nem toda palavra usada pela Igreja se encontra na Bíblia, há

apenas os conceitos.

Citações bíblicas: Mac 12, 42-46; Mt 12,32; Mt 5,25-26; 1Cor 3,15.

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3ª Questão: O culto a Maria e os dogmas marianos

Desde o início da Igreja, Maria foi sempre teve um lugar de destaque na

memória dos cristãos. No Concílio de Éfeso (431), houve a declaração de que Maria é a

mãe de Deus. Os títulos de exaltação de Maria já aparecem nos textos bíblicos como

“cheia de graça”, “bem-aventurada”, “mãe do Senhor”. Diante de Maria deve se evitar

os dois desvios de doutrina: O minimalismo e o maximalismo. Não se pode elevá-la à

condição divina (maximalismo) e nem desprezá-la a ponto de esquecer que ela é mãe de

Jesus (minimalismo).

Os principais dogmas marianos são: (1) Virgindade perpétua, (2) maternidade

divina, (3) imaculada conceição e (4) assunção aos Céus. A seguir, comentários sobre

eles: O registro mais antigo sobre o dogma da virgindade perpétua foi defendido por

Ambrósio de Milão (391), baseado em Isaías 7, 14 (1). O Concílio de Éfeso (431)

declarou que Maria é mãe de Deus, se ela é verdadeiramente mãe de Jesus, que é Deus

Filho, logo se pode atribuir a ela a maternidade de Deus (2). O dogma da imaculada

concepção de Maria foi oficializado em 1854 pelo papa Pio IX. O sentido desse dogma

é que Maria foi concebida sem o pecado original por ser a futura mãe de Jesus (3).

Desde o século IV, circulava entre os cristãos a tradição de que Maria teria sido levada

ao Céu sem experimentar a morte. Seria um privilégio pelo fato de ela ser mãe do Filho

de Deus. Os textos que falam sobre esses detalhes da vida de Maria são Livro do

Repouso de Maria, Sobre a Morte da Santíssima Virgem e Sobre a Passagem da

Virgem. Foram escritos entre os séculos V e VI. A morte de Maria é chamada na

Liturgia de dormição. O dogma foi proclamado pelo papa Pio XII em 1950 (4).

Citações bíblicas: Lc 1, 28; Lc 1, 34; Lc 1, 42-45.

4ª Questão: A transubstanciação e o sacrifício da Missa

A Celebração Eucarística no domingo é um costume dos primórdios da Igreja

(At 20,7). O modo de celebrar a Eucaristia foi se modificando com o tempo.

Inicialmente era um jantar realizado nas casas, com leituras bíblicas, ação de

graças para cumprir o mandato de Jesus que dizia para realizá-lo em memória

dele. Mais tarde a Missa passou a ser considerada sacrifício, a hóstia passou a ser

adorada. Em cada época vai se estabelecendo uma compreensão. Os católicos

compreendem o pão e o vinho como verdadeiro corpo e sangue de Jesus, os

evangélicos acreditam que eles são apenas recordação, símbolo. E na comunhão,

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se recebe o pão e o vinho. Quando não se faz nas missas diárias é por razões

práticas. Não existe proibição disso.

Citações bíblicas: At 20,7.

5ª Questão: A confissão auricular e as indulgências

A confissão e a penitência estiveram sempre presentes na vida da Igreja. A

Bíblia fala a respeito da confissão dos pecados, porém foi a tradição que deu forma ao

sacramento da Penitência. Os primeiros séculos na Igreja a penitência era uma prática

muito presente. A confissão pública foi substituída aos poucos pela auricular. O

Concílio de Latrão IV tornou obrigatória essa prática (1215). A confissão, a penitência e

a absolvição têm raízes bíblicas e fizeram parte da Tradição dos Apóstolos. Porém,

houve um período da História da Igreja que essas práticas passaram a ser excessivas.

As indulgências tiveram seu início no século III. A indulgência é a

reparação dos danos causados pelo pecado já confessado. A partir do século VI a

reparação dos pecados passou a ser mais curta. O papa Bonifácio VIII (1300) decretou a

primeira indulgência obtida por meio de um jubileu. A partir do século XIII, começou o

abuso das indulgências vindo, posteriormente, a ser uma das causas da Reforma.

Citações bíblicas: Jo 20, 21-23; 1 Jo 1, 8-10; Mc 2, 7.

6ª Questão: A Tradição e o cânon da Bíblia

A formação do cânon demorou muitos anos. Alguns critérios foram observados

para se considerar um livro como inspirado: a) antiguidade, b) catolicidade, c)

apostolicidade e d) ortodoxia. A distinção entre as Bíblias Católica e Protestante se deve

à opção por cânones diferentes. Os católicos adotaram o cânon alexandrino (mais sete

livros) e os protestantes o cânon hebraico. Os protestantes aceitam a Bíblia como única

regra de fé. A Igreja Católica entende que a Bíblia é a tradição escrita, canonizada, mas

que muitos princípios da fé e dos costumes dependem da Tradição Apostólica. Ou seja,

daquilo que os apóstolos ensinaram e a realizaram e que não foi escrito. As Igrejas

evangélicas anularam a tradição da Igreja primitiva e só se ativeram à tradição bíblica.

Mas na prática suas Igrejas também têm suas tradições, ou seja, práticas não registradas

na Bíblia. O Decreto Gelasiano (século IV) optou pelo cânon alexandrino. O Concílio

de Cartago (415) também adota a mesma lista de livros.

Citações bíblicas: Tt 1,5; I Ts 2,13; II Ts 2, 15.

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7ª Questão: O primado romano e a infalibilidade papal

A função do papa em relação à Igreja em muito polêmica. Durante muitos

séculos a figura do papa foi confundida com uma autoridade política. Porém, o papa é

simplesmente um bispo. Ele é chamado de “primeiro entre os iguais”. Ele apenas

preside os outros bispos, é ponto de unidade. Os Evangelhos dão um destaque especial

para Pedro dentro do grupo dos apóstolos, como este foi bispo de Roma, esta capital que

era a cidade mais importante da época se tornou sede do bispo principal da Igreja.

Citações bíblicas: Mt 16, 18; Lc 22, 31-32; Jo 21, 15-17.

8ª Questão: Celibato clerical

O celibato dos ministros ordenados tem sua fundamentação em algumas

passagens bíblicas. Porém, na Igreja primitiva havia presbíteros casados e presbíteros

solteiros. Somente mais tarde que o costume se tornou geral. A documentação oficial

desse costume se deu em duas ocasiões, no Concílio de Elvira (300) e no Concílio de

Latrão I (1123). Os cânones 27 e 33 de Elvira proíbem o casamento aos clérigos. O

clérigo não pode ter consigo nenhuma outra mulher que não seja sua irmã ou filha.

Todos os clérigos não podem casar-se e nem ter filhos. O cânon (DENZINGER20, 304).

Citações bíblicas: Mt 19,12; 1Cor 7,7; 1Cor 7,32-34.

PARTE II – OUTRAS QUESTÕES

Os apologetas evangélicos consideram uma lista de doutrinas e costumes católicos que não têm fundamentação bíblica. São os seguintes:

1950 - Dogma da presença real e corporal de Maria no Céu (Ascensão); 1908 - Pio X anula qualquer matrimônio efetuado sem sacerdote romano; 1870 - Dogma da infalibilidade papal; 1864 - Condenação da separação da Igreja do Estado; 1854 - Dogma da imaculada concepção de Maria; 1600 - Invenção do Escapulário (bentinhos); 1546 - Introdução dos livros apócrifos; 1546 - Doutrina que equipara a tradição com a Bíblia; 1415 - Eliminação do vinho na comunidade; 1316 - Instituição da reza da "Ave Maria"; 1245 - Uso das campainhas nas missas; 1229 - Proibição da leitura da Bíblia; 1220 -

20 DENZINGER é o nome pelo qual é conhecimento o manual que contém todas as decisões dos concílios, decretos, orientações dos pais da Igreja e que reúne todos os documentos de doutrinas desde o século II.

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Adoração da hóstia; 1215 - Dogma da transubstanciação; 1215 - Criou-se a confissão auricular; 1200 - O pão da comunhão foi substituído pela hóstia; 1190 - Venda de "Indulgências"; 1184 - Instituição da "Santa Inquisição"; 1090 - Invenção do rosário; 1076 - Dogma da infalibilidade da Igreja; 1074 - Celibato sacerdotal; 1003 - Instituição da festa dos "fiéis defuntos"; 993 - Canonização dos santos; 890 - Culto a São José (Protodulia); 850 - Uso da água benta; 783 - Adoração das imagens e relíquias; 754 - Doutrina do poder temporal da Igreja; 709 - Obrigatoriedade de se beijar os pés do "Bispo Universal"; 606 - Bonifácio III se declara Bispo Universal, "Papa"; 528 - Extrema unção; 503 - Doutrina do Purgatório; 500 - Uso da roupa sacerdotal; 431 - Culto à virgem Maria; 394 - Instituição da missa; 375 - Culto dos santos e 320 - Uso das velas.21

2.1. Dogmas modernos

Nos tempos modernos, a Igreja definiu os seguintes dogmas: Maria foi

preservada do pecado original em sua concepção (Pio XI, 1854); o papa é infalível

quando define matéria de fé e moral juntamente com o magistério (Pio XI, 1870) e a

definição de que Maria foi assunta ao Céu (Pio XII, 1950). Durante o Concílio de

Trento alguns pontos de fé foram definidos o cânon bíblico, a equiparação entre

Escrituras e Tradição, os setes sacramentos, a missa, o celibato e o culto dos santos (Pio

IV, 1563). São reafirmações de princípios que já eram professados pela Tradição.

2.2. Igreja

Um dogma relacionado à Igreja é o de sua infalibilidade. Cabe a seu magistério

guardar a fé e ensinar em matéria de fé e de costumes sem erros. Sobre este poder da

Igreja, Cipriano de Cartago, do século III, chegou a firmar “fora da Igreja, não há

salvação”. Uma declaração muito arrojada. O Concílio de Latrão IV (1215) chegou a

usar essa expressão. Mas no século II, Justino havia ensinado que as sementes do Verbo

estão em todos os homens e podem levar-lhes a praticar o bem e dirigem-se à salvação

segundo seus méritos.

2.3. Os Sete Sacramentos

Os sete sacramentos foram instituídos pela Igreja em nome de Cristo. Todos

possuem referências bíblicas, mas nem todos os seus nomes não aparecem na Bíblia. A

21 Esta é uma lista comum dos motivos que os evangélicos apresentam para não serem católicos. Porém, as expressões e as datas não são todas fundamentadas. Texto disponível na internet.

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Unção dos Enfermos é recomendada em Tiago 5, 14-15. As questões divergentes em

torno do Batismo são a imersão e o batismo de criança. Os sete sacramentos não todos

admitidos pelas Igrejas da Reforma.

2.4. Objetos Sagrados

A Igreja incorporou em sua Liturgia inúmeros símbolos e objetos. Todos em eles

em si não têm poder, apenas indicam um sentido maior. A cruz, a água benta e o óleo

têm alusões bíblicas. O uso do incenso, de vestes sacerdotais e de velas também possui

referência no Antigo Testamento ou Primeiro Testamento.

Citações bíblicas: Ex 30, 25-28.30; At 19, 11-12.

2.5. A função do papa e o poder temporal

A função do papa durante a Idade Média foi confundida com um papel político.

O fato de a Igreja se sediar na capital do Império Romano aumentou muito o prestígio

do bispo de Roma. Na verdade, o papa é um bispo como os demais, tendo a função

especial de ser o primaz da Igreja. A tradição atribui a este a liderança pelo fato de tê-lo

como sucessor de Pedro, líder do grupo dos apóstolos. A sua função foi confundida com

um bispo universal, que dever ser reverenciado e infalível em qualquer questão. Ele

recebeu os títulos de sumo pontífice, vigário de Cristo, santo padre, papa, sucessor de

Pedro. A doutrina original sobre o papa é chamada primus inter pares. Ele é igual a

todos os bispos apenas é o represente, o elo da unidade entre eles.

Na Idade Média, o poder religioso e político se confundiam. No Brasil, esta

separação ocorreu oficialmente em 1889. Hoje algumas igrejas evangélicas querem

fazer o caminho de volta, ao formar bancadas de deputados evangélicos para defender

seus interesses, chegam até vislumbrar um presidente cristão.

2.6. A Inquisição

A Inquisição foi uma instituição fundada para combater as heresias. Em 1184,

foi criada a Inquisição para combater os cátaros, na França. As Inquisições mais

famosas estiveram sob o controle do Estado. A fase mais dura de condenação de

pessoas que sustentavam uma fé diferente da Igreja foram os séculos XII a XVIII. Em

1965, a Inquisição mudou seu nome para Congregação para a Doutrina da Fé. Na

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Alemanha e na Inglaterra, os protestantes também usaram a Inquisição para combater

quem professava outras formas de fé.

2.7. O Rosário, sacramentais e religiosidade popular

A recitação do Rosário surgiu como uma forma prática de oração e acessível a

todas as pessoas. No século IV, os padres do deserto já faziam um instrumento de nós

para contar as recitações do Pai nosso. No século VII, Elígio já associava uma Ave

Maria a cada salmo do saltério. A invenção do Rosário ficou com o nome de São

Domingos em 1214, mas a tradição se formou aos poucos. Existem muitas formas de

oração, depois do Concílio Vaticano II passou a aconselhar que ore segundo a tradição

dos primeiros séculos: Salmos e hinos cristológicos, conforme a Liturgia das Horas.

Não fazem parte da ortodoxia, orações que usem expressões e evocações contrárias à fé

cristã. Muitas orações são resultado de crenças advindas de outras religiões.

2.8. Diálogo sobre a comunhão

O grande desejo de Jesus que todos sejam um adverte a todos os cristãos para se

conservarem na unidade, sem condenações, sem presunções. Agostinho disse uma frase

que resume qual deve ser a nossa postura diante das disputas e diferenças religiosas:

“Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, a caridade”.

É preciso respeitar as diferenças e viver a unidade desejada por Cristo.