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7/24/2019 Curso Técnico em Instrumento Musical do IFPB: reflexões a partir do perfil socioeconômico discente http://slidepdf.com/reader/full/curso-tecnico-em-instrumento-musical-do-ifpb-reflexoes-a-partir-do-perfil 1/1 Curso Técnico em Instrumento Musical do IFPB: reflexões a partir do perfil socioeconômico discente Introdução  A modalidade técnica integrada ao Ensino Médio na área da Música configura-se como um desafio aos educadores musicais do Brasil pois, tradicionalmente, “o objetivo central da música na escola regular é distinto da formação técnica pretendida pelo conservatório [e pelas demais modalidades de escolas especializadas]”, de modo que, sem a pretensão de formar um músico-instrumentista, “na escola [regular] o ensino de música visa, prioritariamente, tornar o indivíduo capaz de apreender criticamente as várias manifestações musicais de seu universo cultural e ampliá- lo” (PENNA, 1995, p. 87). No entanto, o objetivo e os conteúdos do curso integrado ao Ensino Médio assemelham-se aos das escolas especializadas, voltando-se para a formação do instrumentista: o técnico em instrumento musical. Temos então uma espécie de modelo misto em que o ensino de conteúdos musicais, próprios da escola especializada, é realizado na escola regular de educação básica.  Assim, com vistas a compreender e refletir acerca das questões que se apresentam neste recente e peculiar modelo de ensino de música, a discussão que se delineia neste trabalho parte da seguinte inquietação: Qual o perfil do corpo discente do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Instrumento Musical do IFPB campus João Pessoa? Metodologia Com o objetivo de compreender o perfil dos estudantes que buscam a profissionalização na área da música através do curso técnico integrado do IFPB, foi realizado um survey do tipo censo, sendo este entendido como o estudo estatístico que resulta da observação de todos os indivíduos da população relativamente a diferentes atributos pré-definidos (CARVALHO, 2008, p. 5). Para tanto, elaborou-se um questionário composto de questões fechadas e abertas, estruturado em oito eixos temáticos (Influências musicais anteriores;  Apreciação musical; Atividades musicais anteriores ao ingresso no curso; Relação com o instrumento e teoria musical; Relação com o curso e a instituição; Perspectivas de futuro; Perfil socioeconômico; Sugestões discentes). Responderam ao questionário 107 estudantes, o que, no período da coleta de dados correspondeu à totalidade (100%) dos estudantes do curso. Destes, 7 participaram da realização da aplicação-piloto com a finalidade de promover ajustes no questionário e, pelo procedimento ter indicado a necessidade de alterações no instrumento, não tiveram seus questionários incluídos no levantamento final e na análise dos dados. Italan Carneiro ([email protected]) Resultados Neste momento, apresentaremos apenas os resultados referentes ao eixo que traçou o perfil socioeconômico dos estudantes. Composto por jovens e adolescentes cuja idade variava entre 13 e 20 anos, o corpo discente apresentou uma idade média de ingresso de 15,2 anos e uma idade média de saída de 18 anos. Em relação ao gênero, 49% dos estudantes eram homens e 51% mulheres. Sobre a origem escolar dos estudantes, apesar da proporção encontrada de 51% egressos de escolas particulares e 49% egressos de escolas públicas, detectou-se uma tendência de significativa de abandono dos estudantes egressos da rede pública, ao longo do curso. Ainda caracterizando a condição socioeconômica, o gráfico abaixo aponta a renda per capita do corpo discente: Conclusão  A faixa etária de ingresso no curso encontra-se em consonância com a idade estabelecida pelo MEC (BRASIL, 2009). Destaca-se o equilíbrio entre os estudantes advindos do sistema público e do sistema privado de ensino que pode ser atribuído à implantação do sistema de cotas, no entanto, apesar do satisfatório ingresso dos estudantes provenientes da rede pública, o mesmo não se pode afirmar quanto à sua permanência, visto que este percentual apresenta significativa tendência de queda nos últimos anos do curso (3º ano: 43,75%; 4º ano: 25%). Refletindo nesse sentido, Queiroga, desde o ano de 2006, alerta que “realizado um levantamento acerca da origem dos alunos do CEFET!PB, os dados apontam que, apesar de os cursos técnicos seqüenciais [atuais subsequentes] terem permitido o acesso de alunos provenientes de escolas públicas, aumentou o índice de evasão nestes cursos. Não se detectam quais os fatores responsáveis por essa evasão” (QUEIROGA, 2006, p. 50). Como fator que pode estar relacionado a esta questão, destaca-se a condição econômica, pois 75% do corpo discente possui renda  per capta abaixo da média municipal, apontada pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013) em R$ 964.82. Destaca-se ainda, a condição de 9% dos estudantes que encontram-se inseridos na categoria dos “vulneráveis à pobreza”, estipulada pelo Atlas em R$ 158.62 mensais.  Assim, apresenta-se como necessária a realização de novas pesquisas que, além de identificar as causas do alto índice de evasão dos egressos da rede pública de ensino, investiguem as reais condições econômicas desses alunos para possíveis articulações junto à Coordenação de Apoio ao Estudante (CAEST) do campus João Pessoa. Bibliografia  ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. 2013. Disponível em: <http://atlasbrasil.org.br/2013/consulta/>. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino fundamental de nove anos: passo a passo do processo de implantação. Brasília: MEC/SEB, 2009. CARVALHO, Sergio; CAMPOS, Weber. Estatística básica simplificada: teoria e mais de 200 questões comentadas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. PENNA, Maura. Ensino de música: para além das fronteiras do conservatório. In: PEREGRINO, Yara Rosas (coord.). Da camiseta ao museu: o ensino das artes na democratização da cultura. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 1995. QUEIROGA, Ana Lúcia Ferreira. A pedagogia das competências nos cursos técnicos do CEFETPB: limites e contradições. 2006. 128f. Dissertação (Mestrado em Educação), Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006. Gráfico 1 - Renda per capta média – valores em %

Curso Técnico em Instrumento Musical do IFPB: reflexões a partir do perfil socioeconômico discente

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7/24/2019 Curso Técnico em Instrumento Musical do IFPB: reflexões a partir do perfil socioeconômico discente

http://slidepdf.com/reader/full/curso-tecnico-em-instrumento-musical-do-ifpb-reflexoes-a-partir-do-perfil 1/1

Curso Técnico em Instrumento Musical do IFPB:reflexões a partir do perfil socioeconômico discente

Introdução

 A modalidade técnica integrada ao Ensino Médio naárea da Música configura-se como um desafio aoseducadores musicais do Brasil pois, tradicionalmente,“o objetivo central da música na escola regular édistinto da formação técnica pretendida peloconservatório [e pelas demais modalidades deescolas especializadas]”, de modo que, sem apretensão de formar um músico-instrumentista, “naescola [regular] o ensino de música visa,prioritariamente, tornar o indivíduo capaz deapreender criticamente as várias manifestaçõesmusicais de seu universo cultural e ampliá-

lo” (PENNA, 1995, p. 87). No entanto, o objetivo e osconteúdos do curso integrado ao Ensino Médioassemelham-se aos das escolas especializadas,voltando-se para a formação do instrumentista: otécnico em instrumento musical. Temos então umaespécie de modelo misto em que o ensino deconteúdos musica is , p rópr ios da esco laespecializada, é realizado na escola regular deeducação básica.

 Assim, com vistas a compreender e refletir acercadas questões que se apresentam neste recente epeculiar modelo de ensino de música, a discussãoque se delineia neste trabalho parte da seguinteinquietação: Qual o perfil do corpo discente doCurso Técnico Integrado ao Ensino Médio emInstrumento Musical do IFPB campus JoãoPessoa?

MetodologiaCom o objetivo de compreender o perfil dosestudantes que buscam a profissionalização na áreada música através do curso técnico integrado doIFPB, foi realizado um survey do tipo censo, sendoeste entendido como o estudo estatístico que resultada observação de todos os indivíduos da populaçãorelativamente a diferentes atributos pré-definidos(CARVALHO, 2008, p. 5).Para tanto, elaborou-se um questionário  compostode questões fechadas e abertas, estruturado em oitoeixos temáticos (Influências musicais anteriores;

 Apreciação musical; Atividades musicais anteriores

ao ingresso no curso; Relação com o instrumento eteoria musical; Relação com o curso e a instituição;Perspectivas de futuro; Perfil socioeconômico;Sugestões discentes). Responderam ao questionário107 estudantes, o que, no período da coleta dedados correspondeu à totalidade (100%) dosestudantes do curso. Destes, 7 participaram darealização da aplicação-piloto com a finalidade depromover ajustes no questionário e, peloprocedimento ter indicado a necessidade dealterações no instrumento, não tiveram seusquestionários incluídos no levantamento final e naanálise dos dados.

Italan Carneiro ([email protected])

ResultadosNeste momento, apresentaremos apenas osresultados referentes ao eixo que traçou o perfilsocioeconômico dos estudantes.Composto por jovens e adolescentes cuja idadevariava entre 13 e 20 anos, o corpo discenteapresentou uma idade média de ingresso de 15,2anos e uma idade média de saída de 18 anos. Emrelação ao gênero, 49% dos estudantes eramhomens e 51% mulheres. Sobre a origem escolar dosestudantes, apesar da proporção encontrada de 51%egressos de escolas particulares e 49% egressos deescolas públicas, detectou-se uma tendência designificativa de abandono dos estudantes egressosda rede pública, ao longo do curso. Ainda

caracterizando a condição socioeconômica, o gráficoabaixo aponta a renda per capita do corpo discente: 

Conclusão A faixa etária de ingresso no curso encontra-se emconsonância com a idade estabelecida pelo MEC(BRASIL, 2009). Destaca-se o equilíbrio entre osestudantes advindos do sistema público e do sistemaprivado de ensino que pode ser atribuído àimplantação do sistema de cotas, no entanto, apesar do satisfatório ingresso dos estudantes provenientesda rede pública, o mesmo não se pode afirmar quanto à sua permanência, visto que este percentualapresenta significativa tendência de queda nosúltimos anos do curso (3º ano: 43,75%; 4º ano: 25%).Refletindo nesse sentido, Queiroga, desde o ano de2006, alerta que “realizado um levantamento acercada origem dos alunos do CEFET!PB, os dadosapontam que, apesar de os cursos técnicosseqüenciais [atuais subsequentes] terem permitido o

acesso de alunos provenientes de escolas públicas,aumentou o índice de evasão nestes cursos. Não sedetectam quais os fatores responsáveis por essaevasão” (QUEIROGA, 2006, p. 50). Como fator quepode estar relacionado a esta questão, destaca-se acondição econômica, pois 75% do corpo discentepossui renda  per capta abaixo da média municipal,apontada pelo Atlas do Desenvolvimento Humano noBrasil (2013) em R$ 964.82. Destaca-se ainda, acondição de 9% dos estudantes que encontram-seinseridos na categoria dos “vulneráveis à pobreza”,estipulada pelo Atlas em R$ 158.62 mensais.

 Assim, apresenta-se como necessária a realizaçãode novas pesquisas que, além de identificar ascausas do alto índice de evasão dos egressos darede pública de ensino, investiguem as reaiscondições econômicas desses alunos para possíveis

articulações junto à Coordenação de Apoio aoEstudante (CAEST) do campus João Pessoa.Bibliografia

 ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. 2013. Disponível em: <http://atlasbrasil.org.br/2013/consulta/>.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino fundamental de nove anos: passo a passo do processo deimplantação. Brasília: MEC/SEB, 2009.

CARVALHO, Sergio; CAMPOS, Weber. Estatística básica simplificada: teoria e mais de 200 questões comentadas. Rio de Janeiro:Elsevier, 2008.

PENNA, Maura. Ensino de música: para além das fronteiras do conservatório. In: PEREGRINO, Yara Rosas (coord.). Da camiseta aomuseu: o ensino das artes na democratização da cultura. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 1995.

QUEIROGA, Ana Lúcia Ferreira. A pedagogia das competências nos cursos técnicos do CEFET!PB: limites e contradições. 2006. 128f.Dissertação (Mestrado em Educação), Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006.

Gráfico 1 - Renda per capta média – valores em %