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Curso/Disciplina: Direito Eleitoral
Aula: Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE
Professor: Bruno Gaspar
Monitora: Gabriela Paula
Aula 30
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL – AIJE
Ação eleitoral que tem por finalidade o combate a ilícitos eleitorais.
O art. 14, §9º, da CF/88 estabeleceu que a normalidade e a legitimidade do pleito são valores
elementares das votações,tendo por objetivo a preservação da manifestação popular, isto é, da vontade do
eleitor.
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
(...)
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os
prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a
moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e
a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico
ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta.
Justamente com o fito de combater todo e qualquer abuso de poder na esfera cível-eleitoral, o art.
22, da Lei Complementar 64/90, previu a AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL:
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público
Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou
Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir
abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder
econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de
comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o
seguinte rito:
(...)
Esta ação visa, portanto, combater ilícitos eleitorais, mais precisamente, qualquer espécie de
abuso, seja do poder econômico, seja do poder político. O abuso dos veículos de comunicação social
geralmente entra do abuso do poder econômico.
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O ABUSO DO PODER ECONOMICOcaracteriza-se pela transformação do voto em mercadoria, isto é,
instrumento de mercancia. Segundo as palavras do professor Edson de Rezende Castro, o abuso do poder
econômico “é a compra, direta ou indiretamente, da liberdade de escolha dos eleitores.” O eleitor deve ter a
liberdade de decidir em quem irá votar, independentemente do recebimento de uma contraprestação1.
O abuso do poder econômico é, portanto, a troca do direito do voto por “benefícios” em favor do
eleitor. Noutros termos, é a compra da liberdade de escolha dos eleitores, seja pelo oferecimento ou pela
doação de produtos/serviços a estes. Logo, sempre que houver a transformação do voto em instrumento de
mercancia, estaremos falando em abuso de poder econômico.
O ABUSO DE PODER POLÍTICO, por sua vez, configura-se pela utilização da máquina administrativa
com o objetivo de favorecer candidaturas no processo eleitoral. Vincula-se à prática de atos considerados
lícitos, mas que, devido à finalidade eleitoreira, consubstanciam um abuso de poder político.
Por exemplo, a cessão de um bem público para determinada ação governamental, se for com uma
finalidade eleitoreira, durante um período eleitoral, configura um abuso de poder político, até porque isso é
vedado.Uma parte da doutrina considera até mesmo que os plano real e cruzados foram exemplos de abuso
de poder político, porque foram concebidos em anos eleitorais. Segundo este entendimento, embora seja
plenamente lícita a elaboração de um plano econômico, em razão do momento político em que foram
concebidos, os mesmos puderam ser entendidos como abusos de poder político.
Ambos, o abuso de poder econômico e o abuso de poder político, são combatidos via Ação de
Investigação Judicial Eleitoral – AIJE. A jurisprudência majoritária atual entende que esta ação só pode ser
julgada procedente se houver prova da gravidade do abuso de poder, de forma a afetar a normalidade e a
legitimidade das eleições. Portanto, não é qualquer abuso de poder que vai acarretar a procedência desta
ação. É entendimento pacífico que deve ser um abuso capaz de afetar a normalidade e a legitimidade do
pleito eleitoral2.
1 Pode ser uma cesta básica, um auxílio combustível, um atendimento dentário, uma dentadura, medicamentos,
transporte em dia de eleição, “dinheiro vivo”, etc. 2RO 1365 PA. Julgamento em 10/9/2009. Relator Min. Min. Carlos Eduardo Caputo Bastos.
Principais formas de abuso:
ABUSO DO PODER POLÍTICO
ABUSO DO PODER ECONÔMICO
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COMPETÊNCIA
A competência para o julgamento da Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE é determinada
pelo art. 96 da Lei 9.504/97, que segue a REGRA DA CIRCUNSCRIÇÃO:
Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as reclamações
ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas por qualquer
partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se:
I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais;
II - aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e
distritais;
III - ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.
(...)
A REGRA DA CIRCUNSCRIÇÃOpode ser sintetizada da seguinte maneira:
Logo, teremos que:
• Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Eleições Presidenciais
• Tribunais Regionais Eleitorais (TRE's)
Eleições Federais e Estaduais
• Juízes Eleitorias
Eleições Municipais
TSE
Pesidente
vice-Presidente
TRE
Senador
Deputado Federal
Deputado Estadual
Governador
vice-Governador
Juiz Eleitoral
Prefeito
vice-Prefeito
Vereador
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Como visto no art. 22, da LC 64/90, a AIJE é ajuizada perante as Corregedorias, porque esse é órgão
responsável pela instrução desta ação. Então, no caso de eleições presidenciais, a AIJE será ajuizada perante
a Corregedoria do TSE, que fará a instrução da ação. No caso de eleições federais ou estaduais, a AIJE será
ajuizada perante a Corregedoria do TRE correspondente. O julgamento, todavia, é feito pelas cortes, tanto
no TSE quanto nos TRE’s. Nestas cortes, o corregedor faz a instrução e apresenta um relatório após seu
encerramento, e a partir daí, a corte realiza o julgamento.
Nas eleições municipais, a competência para instrução e julgamento da Ação de Investigação
Judicial Eleitoral – AIJE é dos juízes eleitorais. Neste caso, o juízes eleitorais atuam como uma espécie de
“juiz-corregedor”. Portanto, nas eleições municipais não há que se falar em corregedor.
PRAZO
O prazo da Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE é uma questão controvertida em relação
ao termo inicial. Vem prevalecendo o entendimento do professor José Jairo Gomes de que o termo inicial é a
partir das convenções partidárias. Segundo este entendimento, a AIJE pode ser ajuizada a partir das
convenções partidárias, isto é, da escolha dos candidatos.
Há alguns outros autores que defendem que o ajuizamento pode ocorrer a partir do registro, e há
quem defenda que pode se dar até mesmo antes do início do processo eleitoral, como Edson de Rezende
Castro e o professor Rodrigo Zilio.
Ainda que o se considere que o termo inicial para o ajuizamento da AIJE é a partir das convenções
partidárias, ela pode se referir a fatos ocorridos anteriormente à escolha dos candidatos. Em havendo o
abuso de poder no período pré-eleitoral, deve-se esperar a escolha do candidato em convenção para o
ajuizamento da AIJE.
Quanto ao termo final para o ajuizamento já não há controvérsia, é a diplomação dos eleitos.
LEGITIMADOS ATIVOS
Estão no própriocaput do art. 22 da LC 64/903:
3 Não há legitimidade ativa do cidadão para a propositura da AIJE.
Legitimados Ativos
Partido Político Coligação CandidatoMinistério
Público Eleitoral
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O partido coligado não possui legitimidade para propor isoladamente a AIJE. Se o partido está
coligado, o legitimado ativo é, no caso, a coligação.
LEGITIMADOS PASSIVOS
As sanções em caso de procedência da Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE são:
Inelegibilidade
Cassação do registro ou diploma
Em vista destas sanções, é inviável que coligação, partido político ou qualquer PJ de direito público
ou privado figurem no polo passivo de uma AIJE, já que não podem sofrer as sanções próprias da ação.
Tirando isso, qualquer candidato ou pessoa que tenha concorrido para a prática do abuso do
poder pode figurar o polo passivo da AIJE como réu.
Outro ponto importante com relação à legitimidade passiva é que, nas eleições majoritárias, é
obrigatório o litisconsórcio passivo entre titular e vice, e, nas eleições para o poder executivo, e entre
senador e suplente, integrantes da chapa. Isto porque o abuso de poder aproveita a todos os beneficiados.
Assim, é indispensável a citação do titular e do vice, bem como do senador e do suplente.
DUPLO SANCIONAMENTO
Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE pode ter um duplo sancionamento, a saber, a
inelegibilidade do candidato e a cassação do registro do diploma:
São duas sanções possíveis, mas não necessárias. Nem toda a procedência de uma AIJE leva a este
duplo sancionamento. Somente se cogita da sanção de inelegibilidade quando houver prova da
responsabilidade do sujeito passivo, isto é, quando houver prova de que o sujeito passivo concorreu para a
prática daquele abuso de poder político ou econômico. Ao contrário, para a aplicação da pena de cassação
do registro ou do diploma, basta a condição de beneficiário do abuso, sem necessidade de prova do
elemento subjetivo4.
4 Exemplo: se o suplente de um senador pratica um abuso de poder político em prol da candidatura, em caso de
procedência da AIJE, o titular da chapa, o senador, não poderá ser punido com a inelegibilidade. Todavia, poderá se
InelegibilidadeCassação do Registro ou
Diploma
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PROCEDIMENTO
Está todo disciplinado no art. 22 da LC 64/90:
Art. 22. (...), obedecido o seguinte rito:
I - o Corregedor, que terá as mesmas atribuições do Relator em processos
judiciais, ao despachar a inicial, adotará as seguintes providências:
a) ordenará que se notifique o representado do conteúdo da petição,
entregando-se-lhe a segunda via apresentada pelo representante com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de 5 (cinco) dias, ofereça ampla defesa, juntada
de documentos e rol de testemunhas, se cabível;
b) determinará que se suspenda o ato que deu motivo à representação,
quando for relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficiência
da medida, caso seja julgada procedente;
c) indeferirá desde logo a inicial, quando não for caso de representação ou lhe
faltar algum requisito desta lei complementar;
(...)
V - findo o prazo da notificação, com ou sem defesa, abrir-se-á prazo de 5
(cinco) dias para inquirição, em uma só assentada, de testemunhas arroladas pelo
representante e pelo representado, até o máximo de 6 (seis) para cada um, as quais
comparecerão independentemente de intimação;
VI - nos 3 (três) dias subseqüentes, o Corregedor procederá a todas as
diligências que determinar, exofficio ou a requerimento das partes;
(...)
X - encerrado o prazo da dilação probatória, as partes, inclusive o Ministério
Público, poderão apresentar alegações no prazo comum de 2 (dois) dias;
XI - terminado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao
Corregedor, no dia imediato, para apresentação de relatório conclusivo sobre o que
houver sido apurado;
O inciso I traz as providencias que o corregedor ou juiz eleitoral (caso se trate de eleições
municipais)poderá adotar ao proferir o despacho inicial na AIJE.
O inciso V fala do prazo para a resposta e do prazo de 5 (cinco) dias para a inquirição das
testemunhas.
O inciso VI traz o prazo de 3 (três) dias para a conclusão das demais diligencias.
O inciso X traz o prazo de 2 (dois) para a apresentação de alegações finais após o encerramento da
instrução processual.
Se o Ministério Público Eleitoral não for o autor da AIJE, ele necessariamente terá de se manifestar
como custos legis após as alegações finais das partes.
aplicar a sanção de cassação do registro da candidatura ou do diploma, a depender do momento do julgamento da
ação. Isto porque, no caso, o senador também terá se beneficiado do abuso, mesmo não concorrendo para a prática
que comprometeu a legitimidade do pleito eleitoral.
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Após a apresentação destas alegações finais, os autos vão conclusos ao corregedor para a
apresentação de relatório conclusivo. Se for o caso de eleições municipais, os autos vão direto ao juiz para
sentenciar, considerando que este também será o corregedor da ação.
Da decisão de mérito, nas eleições municipais, cabe recurso eleitoral, no prazo de 3 (três) dias,
endereçado ao juiz eleitoral. O recorrido também terá um prazo de 3 (três) dias para o oferecimento de suas
contrarrazões e após, os autos são remetidos ao tribunal para julgamento.
Art. 257, §2º do Código Eleitoral:
Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.
§ 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral
ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em cassação de registro, afastamento
do titular ou perda de mandato eletivo será recebido pelo Tribunal competente com
efeito suspensivo.
Com a mini reforma de 2015, que inseriu o §2º ao art. 257, o que era a regra, isto é, a ausência de
efeito suspensivo, se tornou exceção. A partir de então, praticamente todos os recursos eleitorais terão
efeito suspensivo, pelo menos os que se referem às principais ações eleitorais. Na hipótese, com estamos
falando de cassação de registro ou perda de mandato eletivo, o recurso terá efeito suspensivo, caso a AIJE
seja julgada procedente.
Art. 15 da LC 64/90:
Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão
colegiado que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou
cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.
Como dito, a AIJE tem como um de suas consequências a aplicação do disposto neste dispositivo.
Últimas observações:
Ainda que os réus representados na ação não tenham sido eleitos, a AIJE não perde o objeto, porque
existem duas sanções. Embora eles não tenham registro ou diploma para serem cassados, os réus
ainda podem ser declarados inelegíveis caso comprovado o elemento subjetivo. Assim, mesmo que
os candidatos não tenham sido eleitos, a AIJE deve prosseguir com vistas à aplicação da sanção de
inelegibilidade;
Art. 222 do Código Eleitoral:
Art. 222. É também anulável a votação, quando viciada de falsidade, fraude,
coação, uso de meios de que trata o Art. 237, ou emprego de processo de
propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei.
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Dispõe ser anulável a votação sempre que viciada por abuso de poder econômico ou político, que
são condutas que comprometem as votações, afetando a sua normalidade. Então, na AIJE, a
procedência do pedido e a consequente cassação do registro e do mandato implica na anulação dos
votos dados aos réus;
Art. 224, §3º do Código Eleitoral:
Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas
eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município
nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal
marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.
(...)
§ 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro,
a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito
majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições,
independentemente do número de votos anulados.
§ 4o A eleição a que se refere o § 3
o correrá a expensas da Justiça Eleitoral e
será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do
mandato
II - direta, nos demais casos.
Uma das implicações da procedência da AIJE em pleitos majoritários é, também, a anulação dos votos
dados ao candidatoe, por conseguinte, a realização de novas eleições.