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Fonte: http://reciclavelxdescartavel.files.wordpress.com/2010/11/as-arvores-do-meu-caminho1.jpg Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio Rede São Paulo de Caminhos do Pensamento Geográfico d01

Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Nesse documento, define-se o objeto de estudo da Geografia como sendo o espaço geográ-fico, que é o conjunto indissociável

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Fonte httpreciclavelxdescartavelfileswordpresscom201011as-arvores-do-m

eu-caminho1jpg

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESPEnsino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Rede Satildeo Paulo de

Caminhos do Pensamento Geograacuteficod01

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

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TEMAS

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

Sumaacuterio1 O legado da Geografia 4

2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia 9

3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna 16

4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia 20

5 A institucionalizaccedilatildeo da 37

Referecircncias 48

Resumo 51

sumario

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1 O legado da Geografia

Introduccedilatildeo

Para comeccedilo de conversa precisamos deixar claro do que estamos falando O que eacute a Geo-grafia Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) ela foi por muito tempo conhecida por seu caraacuteter descritivo por causa de sua heranccedila de levantamento de dados e de se basear na observaccedilatildeo O horizonte geograacutefico ampliando-se com as grandes navegaccedilotildees foi responsaacutevel pela incorpo-raccedilatildeo de elementos importantes para a Geografia Desde as navegaccedilotildees dos gregos e romanos ainda confinados ao Mediterracircneo e algumas incursotildees por terra para a Aacutesia e o norte da Aacutefrica depois das investidas dos portugueses e espanhoacuteis para o Atlacircntico muitos geoacutegrafos como Alexandre von Humboldt puderam realizar viagens de observaccedilatildeo e registro de fatos descobrimentos e registros de espeacutecies para consolidar o conhecimento dos lugares Para Nel-son Werneck Sodreacute (1987) o inventaacuterio de fatos e informaccedilotildees satildeo importantes para a ciecircncia mas natildeo constituem a ciecircncia em si Assim depois de observar os ceacuteus na antiguidade e de catalogar espeacutecies botacircnicas olhando para o solo os geoacutegrafos arrolaram informaccedilotildees para

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consolidar o conhecimento geograacutefico Essas mateacuterias primas foram importantes para que os geoacutegrafos pudessem passar das descriccedilotildees para embasados no meacutetodo cientiacutefico sistemati-zar os conhecimentos definir seu campo de atuaccedilatildeo escolher suas teacutecnicas e formular suas metodologias

No entanto a Geografia natildeo conseguiu superar suas ambiguumlidades Ela eacute dividida em in-uacutemeras disciplinas que estatildeo agrupadas em duas grandes vertentes que se contradizem e se complementam a Geografia Fiacutesica que estaacute ligada agraves ciecircncias da natureza e a Geografia Hu-mana ligada agraves ciecircncias do homem No passado os conhecimentos da Geografia expandiram-se fortemente durante a expansatildeo colonialista e os da Geografia Humana expandiram-se com o imperialismo capitalista e sua consolidaccedilatildeo nos seacuteculos XIX e XX

A Geografia praticada nas escolas eacute resultado do acuacutemulo de conhecimentos Vocecirc pode analisar os principais conceitos da Geografia contemporacircnea ao consultar os Paracircmetros Cur-riculares do Ensino Meacutedio elaborados pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O PCNEM eacute um documento que conteacutem orientaccedilotildees curriculares para que profissionais ligados ao ensino da Geografia tenham condiccedilotildees de observar comparar e definir seus temas e estrateacutegias de ensino Nesse documento estaacute escrito que eacute ldquonecessaacuterio abandonar a visatildeo apoiada simples-mente na descriccedilatildeo e memorizaccedilatildeo da ldquoTerra e o Homemrdquo com informaccedilotildees sobrepostas do relevo clima populaccedilatildeo e agricultura por exemplo Por outro lado eacute preciso superar um modelo doutrinaacuterio de ldquodenuacutenciardquo na perspectiva de uma sociedade pronta em que todos os problemas jaacute estivessem resolvidosrdquo (BRASIL 1998 p 30)

Nesse documento define-se o objeto de estudo da Geografia como sendo o espaccedilo geograacute-fico que eacute

o conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos (redes teacutecnicas preacutedios ruas) e de

sistemas de accedilotildees (organizaccedilatildeo do trabalho produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo de mer-

cadorias relaccedilotildees familiares e cotidianas) que procura revelar as praacuteticas sociais

dos diferentes grupos que nele produzem lutam sonham vivem e fazem a vida

caminhar Nunca o espaccedilo do homem foi tatildeo importante para o desenvolvimento

da histoacuteria Por isso a Geografia eacute a ciecircncia do presente ou seja eacute inspirada na

realidade contemporacircnea O objetivo principal destes conhecimentos eacute contribuir

para o entendimento do mundo atual da apropriaccedilatildeo dos lugares realizada pelos

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homens pois eacute atraveacutes da organizaccedilatildeo do espaccedilo que eles datildeo sentido aos arranjos

econocircmicos e aos valores sociais e culturais construiacutedos historicamente (BRASIL

1998 p 30)

Continuando a olhar o mesmo documento vemos que ele conteacutem como sugestatildeo os prin-cipais conceitos chaves da Geografia Sem ordem hieraacuterquica enuncia-se como o primeiro dos conceitos

paisagem entendida como uma unidade visiacutevel do arranjo espacial que a nossa visatildeo

alcanccedila A paisagem tem um caraacuteter social pois ela eacute formada de movimentos im-

postos pelo homem atraveacutes do seu trabalho cultura emoccedilatildeo A paisagem eacute perce-

bida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal ou seja pelo senso

comum ou de modo seletivo e organizado Ela eacute produto da percepccedilatildeo e de um

processo seletivo de apreensatildeo mas necessita passar a conhecimento espacial orga-

nizado para se tornar verdadeiro dado geograacutefico A partir dela podemos perceber

a maior ou menor complexidade da vida social Quando a compreendemos desta

forma jaacute estamos trabalhando com a essecircncia do fenocircmeno geograacutefico (BRASIL

1998 p 32)

Seguindo na descriccedilatildeo dos conceitos importantes para a Geografia enuncia-se o de lugar

eacute a porccedilatildeo do espaccedilo apropriaacutevel para a vida que eacute vivido reconhecido e cria iden-

tidade Ele possui densidade teacutecnica comunicacional informacional e normativa

Guarda em si o movimento da vida enquanto dimensatildeo do tempo passado e pre-

sente Eacute nele que se daacute a cidadania o quadro das mediaccedilotildees se torna claro e a relaccedilatildeo

sujeito-objeto direta Eacute no lugar que ocorrem as relaccedilotildees de consenso e conflito

dominaccedilatildeo e resistecircncia Eacute a base da reproduccedilatildeo da vida da triacuteade cidadatildeo-iden-

tidade-lugar da reflexatildeo sobre o cotidiano onde o banal e o familiar revelam as

transformaccedilotildees do mundo e servem de referecircncia para identificaacute-las e explicaacute-las

(BRASIL 1998 p 33)

Por sua vez

os conceitos de territoacuterio e territorialidade enquanto espaccedilo definido e delimitado

por e a partir das relaccedilotildees de poder ou seja quem domina ou influencia e como

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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2011

TEMAS

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

Sumaacuterio1 O legado da Geografia 4

2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia 9

3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna 16

4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia 20

5 A institucionalizaccedilatildeo da 37

Referecircncias 48

Resumo 51

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TEMASU

nespRedefor bull M

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1 O legado da Geografia

Introduccedilatildeo

Para comeccedilo de conversa precisamos deixar claro do que estamos falando O que eacute a Geo-grafia Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) ela foi por muito tempo conhecida por seu caraacuteter descritivo por causa de sua heranccedila de levantamento de dados e de se basear na observaccedilatildeo O horizonte geograacutefico ampliando-se com as grandes navegaccedilotildees foi responsaacutevel pela incorpo-raccedilatildeo de elementos importantes para a Geografia Desde as navegaccedilotildees dos gregos e romanos ainda confinados ao Mediterracircneo e algumas incursotildees por terra para a Aacutesia e o norte da Aacutefrica depois das investidas dos portugueses e espanhoacuteis para o Atlacircntico muitos geoacutegrafos como Alexandre von Humboldt puderam realizar viagens de observaccedilatildeo e registro de fatos descobrimentos e registros de espeacutecies para consolidar o conhecimento dos lugares Para Nel-son Werneck Sodreacute (1987) o inventaacuterio de fatos e informaccedilotildees satildeo importantes para a ciecircncia mas natildeo constituem a ciecircncia em si Assim depois de observar os ceacuteus na antiguidade e de catalogar espeacutecies botacircnicas olhando para o solo os geoacutegrafos arrolaram informaccedilotildees para

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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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consolidar o conhecimento geograacutefico Essas mateacuterias primas foram importantes para que os geoacutegrafos pudessem passar das descriccedilotildees para embasados no meacutetodo cientiacutefico sistemati-zar os conhecimentos definir seu campo de atuaccedilatildeo escolher suas teacutecnicas e formular suas metodologias

No entanto a Geografia natildeo conseguiu superar suas ambiguumlidades Ela eacute dividida em in-uacutemeras disciplinas que estatildeo agrupadas em duas grandes vertentes que se contradizem e se complementam a Geografia Fiacutesica que estaacute ligada agraves ciecircncias da natureza e a Geografia Hu-mana ligada agraves ciecircncias do homem No passado os conhecimentos da Geografia expandiram-se fortemente durante a expansatildeo colonialista e os da Geografia Humana expandiram-se com o imperialismo capitalista e sua consolidaccedilatildeo nos seacuteculos XIX e XX

A Geografia praticada nas escolas eacute resultado do acuacutemulo de conhecimentos Vocecirc pode analisar os principais conceitos da Geografia contemporacircnea ao consultar os Paracircmetros Cur-riculares do Ensino Meacutedio elaborados pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O PCNEM eacute um documento que conteacutem orientaccedilotildees curriculares para que profissionais ligados ao ensino da Geografia tenham condiccedilotildees de observar comparar e definir seus temas e estrateacutegias de ensino Nesse documento estaacute escrito que eacute ldquonecessaacuterio abandonar a visatildeo apoiada simples-mente na descriccedilatildeo e memorizaccedilatildeo da ldquoTerra e o Homemrdquo com informaccedilotildees sobrepostas do relevo clima populaccedilatildeo e agricultura por exemplo Por outro lado eacute preciso superar um modelo doutrinaacuterio de ldquodenuacutenciardquo na perspectiva de uma sociedade pronta em que todos os problemas jaacute estivessem resolvidosrdquo (BRASIL 1998 p 30)

Nesse documento define-se o objeto de estudo da Geografia como sendo o espaccedilo geograacute-fico que eacute

o conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos (redes teacutecnicas preacutedios ruas) e de

sistemas de accedilotildees (organizaccedilatildeo do trabalho produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo de mer-

cadorias relaccedilotildees familiares e cotidianas) que procura revelar as praacuteticas sociais

dos diferentes grupos que nele produzem lutam sonham vivem e fazem a vida

caminhar Nunca o espaccedilo do homem foi tatildeo importante para o desenvolvimento

da histoacuteria Por isso a Geografia eacute a ciecircncia do presente ou seja eacute inspirada na

realidade contemporacircnea O objetivo principal destes conhecimentos eacute contribuir

para o entendimento do mundo atual da apropriaccedilatildeo dos lugares realizada pelos

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homens pois eacute atraveacutes da organizaccedilatildeo do espaccedilo que eles datildeo sentido aos arranjos

econocircmicos e aos valores sociais e culturais construiacutedos historicamente (BRASIL

1998 p 30)

Continuando a olhar o mesmo documento vemos que ele conteacutem como sugestatildeo os prin-cipais conceitos chaves da Geografia Sem ordem hieraacuterquica enuncia-se como o primeiro dos conceitos

paisagem entendida como uma unidade visiacutevel do arranjo espacial que a nossa visatildeo

alcanccedila A paisagem tem um caraacuteter social pois ela eacute formada de movimentos im-

postos pelo homem atraveacutes do seu trabalho cultura emoccedilatildeo A paisagem eacute perce-

bida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal ou seja pelo senso

comum ou de modo seletivo e organizado Ela eacute produto da percepccedilatildeo e de um

processo seletivo de apreensatildeo mas necessita passar a conhecimento espacial orga-

nizado para se tornar verdadeiro dado geograacutefico A partir dela podemos perceber

a maior ou menor complexidade da vida social Quando a compreendemos desta

forma jaacute estamos trabalhando com a essecircncia do fenocircmeno geograacutefico (BRASIL

1998 p 32)

Seguindo na descriccedilatildeo dos conceitos importantes para a Geografia enuncia-se o de lugar

eacute a porccedilatildeo do espaccedilo apropriaacutevel para a vida que eacute vivido reconhecido e cria iden-

tidade Ele possui densidade teacutecnica comunicacional informacional e normativa

Guarda em si o movimento da vida enquanto dimensatildeo do tempo passado e pre-

sente Eacute nele que se daacute a cidadania o quadro das mediaccedilotildees se torna claro e a relaccedilatildeo

sujeito-objeto direta Eacute no lugar que ocorrem as relaccedilotildees de consenso e conflito

dominaccedilatildeo e resistecircncia Eacute a base da reproduccedilatildeo da vida da triacuteade cidadatildeo-iden-

tidade-lugar da reflexatildeo sobre o cotidiano onde o banal e o familiar revelam as

transformaccedilotildees do mundo e servem de referecircncia para identificaacute-las e explicaacute-las

(BRASIL 1998 p 33)

Por sua vez

os conceitos de territoacuterio e territorialidade enquanto espaccedilo definido e delimitado

por e a partir das relaccedilotildees de poder ou seja quem domina ou influencia e como

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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 12
        1. Paacutegina 3 Off
          1. Botatildeo 13
            1. Paacutegina 3 Off
              1. Botatildeo 44
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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

Sumaacuterio1 O legado da Geografia 4

2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia 9

3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna 16

4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia 20

5 A institucionalizaccedilatildeo da 37

Referecircncias 48

Resumo 51

sumario

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1 O legado da Geografia

Introduccedilatildeo

Para comeccedilo de conversa precisamos deixar claro do que estamos falando O que eacute a Geo-grafia Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) ela foi por muito tempo conhecida por seu caraacuteter descritivo por causa de sua heranccedila de levantamento de dados e de se basear na observaccedilatildeo O horizonte geograacutefico ampliando-se com as grandes navegaccedilotildees foi responsaacutevel pela incorpo-raccedilatildeo de elementos importantes para a Geografia Desde as navegaccedilotildees dos gregos e romanos ainda confinados ao Mediterracircneo e algumas incursotildees por terra para a Aacutesia e o norte da Aacutefrica depois das investidas dos portugueses e espanhoacuteis para o Atlacircntico muitos geoacutegrafos como Alexandre von Humboldt puderam realizar viagens de observaccedilatildeo e registro de fatos descobrimentos e registros de espeacutecies para consolidar o conhecimento dos lugares Para Nel-son Werneck Sodreacute (1987) o inventaacuterio de fatos e informaccedilotildees satildeo importantes para a ciecircncia mas natildeo constituem a ciecircncia em si Assim depois de observar os ceacuteus na antiguidade e de catalogar espeacutecies botacircnicas olhando para o solo os geoacutegrafos arrolaram informaccedilotildees para

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consolidar o conhecimento geograacutefico Essas mateacuterias primas foram importantes para que os geoacutegrafos pudessem passar das descriccedilotildees para embasados no meacutetodo cientiacutefico sistemati-zar os conhecimentos definir seu campo de atuaccedilatildeo escolher suas teacutecnicas e formular suas metodologias

No entanto a Geografia natildeo conseguiu superar suas ambiguumlidades Ela eacute dividida em in-uacutemeras disciplinas que estatildeo agrupadas em duas grandes vertentes que se contradizem e se complementam a Geografia Fiacutesica que estaacute ligada agraves ciecircncias da natureza e a Geografia Hu-mana ligada agraves ciecircncias do homem No passado os conhecimentos da Geografia expandiram-se fortemente durante a expansatildeo colonialista e os da Geografia Humana expandiram-se com o imperialismo capitalista e sua consolidaccedilatildeo nos seacuteculos XIX e XX

A Geografia praticada nas escolas eacute resultado do acuacutemulo de conhecimentos Vocecirc pode analisar os principais conceitos da Geografia contemporacircnea ao consultar os Paracircmetros Cur-riculares do Ensino Meacutedio elaborados pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O PCNEM eacute um documento que conteacutem orientaccedilotildees curriculares para que profissionais ligados ao ensino da Geografia tenham condiccedilotildees de observar comparar e definir seus temas e estrateacutegias de ensino Nesse documento estaacute escrito que eacute ldquonecessaacuterio abandonar a visatildeo apoiada simples-mente na descriccedilatildeo e memorizaccedilatildeo da ldquoTerra e o Homemrdquo com informaccedilotildees sobrepostas do relevo clima populaccedilatildeo e agricultura por exemplo Por outro lado eacute preciso superar um modelo doutrinaacuterio de ldquodenuacutenciardquo na perspectiva de uma sociedade pronta em que todos os problemas jaacute estivessem resolvidosrdquo (BRASIL 1998 p 30)

Nesse documento define-se o objeto de estudo da Geografia como sendo o espaccedilo geograacute-fico que eacute

o conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos (redes teacutecnicas preacutedios ruas) e de

sistemas de accedilotildees (organizaccedilatildeo do trabalho produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo de mer-

cadorias relaccedilotildees familiares e cotidianas) que procura revelar as praacuteticas sociais

dos diferentes grupos que nele produzem lutam sonham vivem e fazem a vida

caminhar Nunca o espaccedilo do homem foi tatildeo importante para o desenvolvimento

da histoacuteria Por isso a Geografia eacute a ciecircncia do presente ou seja eacute inspirada na

realidade contemporacircnea O objetivo principal destes conhecimentos eacute contribuir

para o entendimento do mundo atual da apropriaccedilatildeo dos lugares realizada pelos

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homens pois eacute atraveacutes da organizaccedilatildeo do espaccedilo que eles datildeo sentido aos arranjos

econocircmicos e aos valores sociais e culturais construiacutedos historicamente (BRASIL

1998 p 30)

Continuando a olhar o mesmo documento vemos que ele conteacutem como sugestatildeo os prin-cipais conceitos chaves da Geografia Sem ordem hieraacuterquica enuncia-se como o primeiro dos conceitos

paisagem entendida como uma unidade visiacutevel do arranjo espacial que a nossa visatildeo

alcanccedila A paisagem tem um caraacuteter social pois ela eacute formada de movimentos im-

postos pelo homem atraveacutes do seu trabalho cultura emoccedilatildeo A paisagem eacute perce-

bida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal ou seja pelo senso

comum ou de modo seletivo e organizado Ela eacute produto da percepccedilatildeo e de um

processo seletivo de apreensatildeo mas necessita passar a conhecimento espacial orga-

nizado para se tornar verdadeiro dado geograacutefico A partir dela podemos perceber

a maior ou menor complexidade da vida social Quando a compreendemos desta

forma jaacute estamos trabalhando com a essecircncia do fenocircmeno geograacutefico (BRASIL

1998 p 32)

Seguindo na descriccedilatildeo dos conceitos importantes para a Geografia enuncia-se o de lugar

eacute a porccedilatildeo do espaccedilo apropriaacutevel para a vida que eacute vivido reconhecido e cria iden-

tidade Ele possui densidade teacutecnica comunicacional informacional e normativa

Guarda em si o movimento da vida enquanto dimensatildeo do tempo passado e pre-

sente Eacute nele que se daacute a cidadania o quadro das mediaccedilotildees se torna claro e a relaccedilatildeo

sujeito-objeto direta Eacute no lugar que ocorrem as relaccedilotildees de consenso e conflito

dominaccedilatildeo e resistecircncia Eacute a base da reproduccedilatildeo da vida da triacuteade cidadatildeo-iden-

tidade-lugar da reflexatildeo sobre o cotidiano onde o banal e o familiar revelam as

transformaccedilotildees do mundo e servem de referecircncia para identificaacute-las e explicaacute-las

(BRASIL 1998 p 33)

Por sua vez

os conceitos de territoacuterio e territorialidade enquanto espaccedilo definido e delimitado

por e a partir das relaccedilotildees de poder ou seja quem domina ou influencia e como

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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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1 O legado da Geografia

Introduccedilatildeo

Para comeccedilo de conversa precisamos deixar claro do que estamos falando O que eacute a Geo-grafia Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) ela foi por muito tempo conhecida por seu caraacuteter descritivo por causa de sua heranccedila de levantamento de dados e de se basear na observaccedilatildeo O horizonte geograacutefico ampliando-se com as grandes navegaccedilotildees foi responsaacutevel pela incorpo-raccedilatildeo de elementos importantes para a Geografia Desde as navegaccedilotildees dos gregos e romanos ainda confinados ao Mediterracircneo e algumas incursotildees por terra para a Aacutesia e o norte da Aacutefrica depois das investidas dos portugueses e espanhoacuteis para o Atlacircntico muitos geoacutegrafos como Alexandre von Humboldt puderam realizar viagens de observaccedilatildeo e registro de fatos descobrimentos e registros de espeacutecies para consolidar o conhecimento dos lugares Para Nel-son Werneck Sodreacute (1987) o inventaacuterio de fatos e informaccedilotildees satildeo importantes para a ciecircncia mas natildeo constituem a ciecircncia em si Assim depois de observar os ceacuteus na antiguidade e de catalogar espeacutecies botacircnicas olhando para o solo os geoacutegrafos arrolaram informaccedilotildees para

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consolidar o conhecimento geograacutefico Essas mateacuterias primas foram importantes para que os geoacutegrafos pudessem passar das descriccedilotildees para embasados no meacutetodo cientiacutefico sistemati-zar os conhecimentos definir seu campo de atuaccedilatildeo escolher suas teacutecnicas e formular suas metodologias

No entanto a Geografia natildeo conseguiu superar suas ambiguumlidades Ela eacute dividida em in-uacutemeras disciplinas que estatildeo agrupadas em duas grandes vertentes que se contradizem e se complementam a Geografia Fiacutesica que estaacute ligada agraves ciecircncias da natureza e a Geografia Hu-mana ligada agraves ciecircncias do homem No passado os conhecimentos da Geografia expandiram-se fortemente durante a expansatildeo colonialista e os da Geografia Humana expandiram-se com o imperialismo capitalista e sua consolidaccedilatildeo nos seacuteculos XIX e XX

A Geografia praticada nas escolas eacute resultado do acuacutemulo de conhecimentos Vocecirc pode analisar os principais conceitos da Geografia contemporacircnea ao consultar os Paracircmetros Cur-riculares do Ensino Meacutedio elaborados pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O PCNEM eacute um documento que conteacutem orientaccedilotildees curriculares para que profissionais ligados ao ensino da Geografia tenham condiccedilotildees de observar comparar e definir seus temas e estrateacutegias de ensino Nesse documento estaacute escrito que eacute ldquonecessaacuterio abandonar a visatildeo apoiada simples-mente na descriccedilatildeo e memorizaccedilatildeo da ldquoTerra e o Homemrdquo com informaccedilotildees sobrepostas do relevo clima populaccedilatildeo e agricultura por exemplo Por outro lado eacute preciso superar um modelo doutrinaacuterio de ldquodenuacutenciardquo na perspectiva de uma sociedade pronta em que todos os problemas jaacute estivessem resolvidosrdquo (BRASIL 1998 p 30)

Nesse documento define-se o objeto de estudo da Geografia como sendo o espaccedilo geograacute-fico que eacute

o conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos (redes teacutecnicas preacutedios ruas) e de

sistemas de accedilotildees (organizaccedilatildeo do trabalho produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo de mer-

cadorias relaccedilotildees familiares e cotidianas) que procura revelar as praacuteticas sociais

dos diferentes grupos que nele produzem lutam sonham vivem e fazem a vida

caminhar Nunca o espaccedilo do homem foi tatildeo importante para o desenvolvimento

da histoacuteria Por isso a Geografia eacute a ciecircncia do presente ou seja eacute inspirada na

realidade contemporacircnea O objetivo principal destes conhecimentos eacute contribuir

para o entendimento do mundo atual da apropriaccedilatildeo dos lugares realizada pelos

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homens pois eacute atraveacutes da organizaccedilatildeo do espaccedilo que eles datildeo sentido aos arranjos

econocircmicos e aos valores sociais e culturais construiacutedos historicamente (BRASIL

1998 p 30)

Continuando a olhar o mesmo documento vemos que ele conteacutem como sugestatildeo os prin-cipais conceitos chaves da Geografia Sem ordem hieraacuterquica enuncia-se como o primeiro dos conceitos

paisagem entendida como uma unidade visiacutevel do arranjo espacial que a nossa visatildeo

alcanccedila A paisagem tem um caraacuteter social pois ela eacute formada de movimentos im-

postos pelo homem atraveacutes do seu trabalho cultura emoccedilatildeo A paisagem eacute perce-

bida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal ou seja pelo senso

comum ou de modo seletivo e organizado Ela eacute produto da percepccedilatildeo e de um

processo seletivo de apreensatildeo mas necessita passar a conhecimento espacial orga-

nizado para se tornar verdadeiro dado geograacutefico A partir dela podemos perceber

a maior ou menor complexidade da vida social Quando a compreendemos desta

forma jaacute estamos trabalhando com a essecircncia do fenocircmeno geograacutefico (BRASIL

1998 p 32)

Seguindo na descriccedilatildeo dos conceitos importantes para a Geografia enuncia-se o de lugar

eacute a porccedilatildeo do espaccedilo apropriaacutevel para a vida que eacute vivido reconhecido e cria iden-

tidade Ele possui densidade teacutecnica comunicacional informacional e normativa

Guarda em si o movimento da vida enquanto dimensatildeo do tempo passado e pre-

sente Eacute nele que se daacute a cidadania o quadro das mediaccedilotildees se torna claro e a relaccedilatildeo

sujeito-objeto direta Eacute no lugar que ocorrem as relaccedilotildees de consenso e conflito

dominaccedilatildeo e resistecircncia Eacute a base da reproduccedilatildeo da vida da triacuteade cidadatildeo-iden-

tidade-lugar da reflexatildeo sobre o cotidiano onde o banal e o familiar revelam as

transformaccedilotildees do mundo e servem de referecircncia para identificaacute-las e explicaacute-las

(BRASIL 1998 p 33)

Por sua vez

os conceitos de territoacuterio e territorialidade enquanto espaccedilo definido e delimitado

por e a partir das relaccedilotildees de poder ou seja quem domina ou influencia e como

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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

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21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

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31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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consolidar o conhecimento geograacutefico Essas mateacuterias primas foram importantes para que os geoacutegrafos pudessem passar das descriccedilotildees para embasados no meacutetodo cientiacutefico sistemati-zar os conhecimentos definir seu campo de atuaccedilatildeo escolher suas teacutecnicas e formular suas metodologias

No entanto a Geografia natildeo conseguiu superar suas ambiguumlidades Ela eacute dividida em in-uacutemeras disciplinas que estatildeo agrupadas em duas grandes vertentes que se contradizem e se complementam a Geografia Fiacutesica que estaacute ligada agraves ciecircncias da natureza e a Geografia Hu-mana ligada agraves ciecircncias do homem No passado os conhecimentos da Geografia expandiram-se fortemente durante a expansatildeo colonialista e os da Geografia Humana expandiram-se com o imperialismo capitalista e sua consolidaccedilatildeo nos seacuteculos XIX e XX

A Geografia praticada nas escolas eacute resultado do acuacutemulo de conhecimentos Vocecirc pode analisar os principais conceitos da Geografia contemporacircnea ao consultar os Paracircmetros Cur-riculares do Ensino Meacutedio elaborados pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O PCNEM eacute um documento que conteacutem orientaccedilotildees curriculares para que profissionais ligados ao ensino da Geografia tenham condiccedilotildees de observar comparar e definir seus temas e estrateacutegias de ensino Nesse documento estaacute escrito que eacute ldquonecessaacuterio abandonar a visatildeo apoiada simples-mente na descriccedilatildeo e memorizaccedilatildeo da ldquoTerra e o Homemrdquo com informaccedilotildees sobrepostas do relevo clima populaccedilatildeo e agricultura por exemplo Por outro lado eacute preciso superar um modelo doutrinaacuterio de ldquodenuacutenciardquo na perspectiva de uma sociedade pronta em que todos os problemas jaacute estivessem resolvidosrdquo (BRASIL 1998 p 30)

Nesse documento define-se o objeto de estudo da Geografia como sendo o espaccedilo geograacute-fico que eacute

o conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos (redes teacutecnicas preacutedios ruas) e de

sistemas de accedilotildees (organizaccedilatildeo do trabalho produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo de mer-

cadorias relaccedilotildees familiares e cotidianas) que procura revelar as praacuteticas sociais

dos diferentes grupos que nele produzem lutam sonham vivem e fazem a vida

caminhar Nunca o espaccedilo do homem foi tatildeo importante para o desenvolvimento

da histoacuteria Por isso a Geografia eacute a ciecircncia do presente ou seja eacute inspirada na

realidade contemporacircnea O objetivo principal destes conhecimentos eacute contribuir

para o entendimento do mundo atual da apropriaccedilatildeo dos lugares realizada pelos

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homens pois eacute atraveacutes da organizaccedilatildeo do espaccedilo que eles datildeo sentido aos arranjos

econocircmicos e aos valores sociais e culturais construiacutedos historicamente (BRASIL

1998 p 30)

Continuando a olhar o mesmo documento vemos que ele conteacutem como sugestatildeo os prin-cipais conceitos chaves da Geografia Sem ordem hieraacuterquica enuncia-se como o primeiro dos conceitos

paisagem entendida como uma unidade visiacutevel do arranjo espacial que a nossa visatildeo

alcanccedila A paisagem tem um caraacuteter social pois ela eacute formada de movimentos im-

postos pelo homem atraveacutes do seu trabalho cultura emoccedilatildeo A paisagem eacute perce-

bida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal ou seja pelo senso

comum ou de modo seletivo e organizado Ela eacute produto da percepccedilatildeo e de um

processo seletivo de apreensatildeo mas necessita passar a conhecimento espacial orga-

nizado para se tornar verdadeiro dado geograacutefico A partir dela podemos perceber

a maior ou menor complexidade da vida social Quando a compreendemos desta

forma jaacute estamos trabalhando com a essecircncia do fenocircmeno geograacutefico (BRASIL

1998 p 32)

Seguindo na descriccedilatildeo dos conceitos importantes para a Geografia enuncia-se o de lugar

eacute a porccedilatildeo do espaccedilo apropriaacutevel para a vida que eacute vivido reconhecido e cria iden-

tidade Ele possui densidade teacutecnica comunicacional informacional e normativa

Guarda em si o movimento da vida enquanto dimensatildeo do tempo passado e pre-

sente Eacute nele que se daacute a cidadania o quadro das mediaccedilotildees se torna claro e a relaccedilatildeo

sujeito-objeto direta Eacute no lugar que ocorrem as relaccedilotildees de consenso e conflito

dominaccedilatildeo e resistecircncia Eacute a base da reproduccedilatildeo da vida da triacuteade cidadatildeo-iden-

tidade-lugar da reflexatildeo sobre o cotidiano onde o banal e o familiar revelam as

transformaccedilotildees do mundo e servem de referecircncia para identificaacute-las e explicaacute-las

(BRASIL 1998 p 33)

Por sua vez

os conceitos de territoacuterio e territorialidade enquanto espaccedilo definido e delimitado

por e a partir das relaccedilotildees de poder ou seja quem domina ou influencia e como

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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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                                                  1. Botatildeo 61
                                                    1. Paacutegina 48 Off
                                                    2. Paacutegina 49
                                                      1. Botatildeo 54
                                                        1. Paacutegina 50 Off
                                                        2. Paacutegina 51
                                                        3. Paacutegina 52
                                                          1. Botatildeo 55
                                                            1. Paacutegina 50 Off
                                                            2. Paacutegina 51
                                                            3. Paacutegina 52
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 4

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homens pois eacute atraveacutes da organizaccedilatildeo do espaccedilo que eles datildeo sentido aos arranjos

econocircmicos e aos valores sociais e culturais construiacutedos historicamente (BRASIL

1998 p 30)

Continuando a olhar o mesmo documento vemos que ele conteacutem como sugestatildeo os prin-cipais conceitos chaves da Geografia Sem ordem hieraacuterquica enuncia-se como o primeiro dos conceitos

paisagem entendida como uma unidade visiacutevel do arranjo espacial que a nossa visatildeo

alcanccedila A paisagem tem um caraacuteter social pois ela eacute formada de movimentos im-

postos pelo homem atraveacutes do seu trabalho cultura emoccedilatildeo A paisagem eacute perce-

bida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal ou seja pelo senso

comum ou de modo seletivo e organizado Ela eacute produto da percepccedilatildeo e de um

processo seletivo de apreensatildeo mas necessita passar a conhecimento espacial orga-

nizado para se tornar verdadeiro dado geograacutefico A partir dela podemos perceber

a maior ou menor complexidade da vida social Quando a compreendemos desta

forma jaacute estamos trabalhando com a essecircncia do fenocircmeno geograacutefico (BRASIL

1998 p 32)

Seguindo na descriccedilatildeo dos conceitos importantes para a Geografia enuncia-se o de lugar

eacute a porccedilatildeo do espaccedilo apropriaacutevel para a vida que eacute vivido reconhecido e cria iden-

tidade Ele possui densidade teacutecnica comunicacional informacional e normativa

Guarda em si o movimento da vida enquanto dimensatildeo do tempo passado e pre-

sente Eacute nele que se daacute a cidadania o quadro das mediaccedilotildees se torna claro e a relaccedilatildeo

sujeito-objeto direta Eacute no lugar que ocorrem as relaccedilotildees de consenso e conflito

dominaccedilatildeo e resistecircncia Eacute a base da reproduccedilatildeo da vida da triacuteade cidadatildeo-iden-

tidade-lugar da reflexatildeo sobre o cotidiano onde o banal e o familiar revelam as

transformaccedilotildees do mundo e servem de referecircncia para identificaacute-las e explicaacute-las

(BRASIL 1998 p 33)

Por sua vez

os conceitos de territoacuterio e territorialidade enquanto espaccedilo definido e delimitado

por e a partir das relaccedilotildees de poder ou seja quem domina ou influencia e como

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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

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bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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domina e influencia uma aacuterea Implica avanccedilar da noccedilatildeo simplista de caracterizaccedilatildeo

natural ou econocircmica por contiguumlidade para a noccedilatildeo de divisatildeo social Todo ter-

ritoacuterio seja ele um quarteiratildeo na cidade de Nova York seja uma aldeia indiacutegena na

Amazocircnia eacute definido e delimitado segundo as relaccedilotildees de poder domiacutenio e apro-

priaccedilatildeo que nele se instalam Desta maneira a territorialidade eacute a relaccedilatildeo entre os

agentes sociais poliacuteticos e econocircmicos interferindo na gestatildeo do espaccedilo geograacutefico

natildeo eacute apenas uma expressatildeo cartograacutefica Ela refere-se aos projetos e praacuteticas desses

agentes numa dimensatildeo concreta funcional simboacutelica afetiva e manifesta-se em

escala desde as mais simples agraves mais complexas (BRASIL 1998 p 33)

Os Paracircmetros Curriculares do Ensino Meacutedio trazem tambeacutem um conjunto de conceitos que se articula em diferentes escalas globalizaccedilatildeo teacutecnica e redes Nesse documento

a globalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno decorrente da implementaccedilatildeo de novas tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo isto eacute de novas redes teacutecnicas que permitem a cir-

culaccedilatildeo de ideacuteias mensagens pessoas e mercadorias num ritmo acelerado e que

acabaram por criar a interconexatildeo entre os lugares em tempo simultacircneo Neste

processo tiveram papel destacado a instalaccedilatildeo de redes teacutecnicas incluindo-se a in-

duacutestria cultural a accedilatildeo de empresas multinacionais e a circulaccedilatildeo do capital que in-

tensificaram as relaccedilotildees sociais em escala mundial interligando localidades distan-

tes de tal maneira que acontecimentos locais satildeo modelados por eventos ocorridos

a milhares de quilocircmetros de distacircncia No que se refere agrave teacutecnica devemos ressaltar

ainda a importacircncia da compreensatildeo do papel das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na esfera

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos engendrando novas formas de organizaccedilatildeo social no

trabalho e no consumo criando novos arranjos espaciais Outra face da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo as novas formas de apropriaccedilatildeo da natureza tais como as expressas

na biotecnologia em que a detenccedilatildeo do conhecimento e do domiacutenio teacutecnico satildeo

tambeacutem um instrumento de poder que afeta os grupos sociais e exige modificaccedilotildees

na organizaccedilatildeo espacial existente (BRASIL 1998 p 33-34)

Todos os conceitos apontados devem ser articulados segundo

diferentes tipos de escala uma escala cartograacutefica e a outra geograacutefica Na primeira

destaca-se o mapa como um dado instrumental de representaccedilatildeo do espaccedilo num

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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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recurso apoiado dominantemente na Matemaacutetica Na segunda a ecircnfase eacute dada ao

fenocircmeno espacial que se discute Esta eacute a escala de anaacutelise que enfrenta e procura

responder os problemas referentes agrave distribuiccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade

do fenocircmeno da cidadania por exemplo requer que se opere com diferentes escalas

articulando suas dimensotildees locais nacionais e globais Neste sentido a cidadania

natildeo deve ser entendida apenas sob o aspecto formal do viacutenculo a uma nacionali-

dade devendo apontar a dimensatildeo vivencial de seu exerciacutecio como um fenocircmeno do

lugar De forma inversa natildeo podemos compreender a poluiccedilatildeo atocircmica soacute no lugar

mas devemos trataacute-la enquanto fenocircmeno global Assim sendo a escala eacute uma estra-

teacutegia de apreensatildeo da realidade Portanto eacute importante compreendecirc-la natildeo apenas

como problema dimensional mas tambeacutem fenomenal na medida em que ela eacute um

instrumento conceitual prioritaacuterio para a compreensatildeo da articulaccedilatildeo dos fenocircme-

nos (BRASIL 1998 p 33)

Podemos considerar que os conceitos chaves citados satildeo atualmente os elementos que constituem a espinha dorsal dos conteuacutedos da Geografia

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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

tema 2

21 ndash Antiguidade e Idade Meacutedia

Dando continuidade agrave nossa disciplina vamos fazer uma volta ao passado para buscar na medida do possiacutevel informaccedilotildees fatos e conteuacutedos que possam contribuir para a compreensatildeo do conhecimento e do pensamento geograacutefico

Para Nelson Werneck Sodreacute (1987) talvez a Geografia seja a ciecircncia de histoacuteria mais longa entre todas que conhecemos Ela comeccedila com as descriccedilotildees nas comunidades de tradiccedilatildeo oral das migraccedilotildees e das diferenciaccedilotildees dos lugares Isso mostra que eacute importante que o conheci-mento seja registrado e transmitido Eacute na Greacutecia jaacute com o domiacutenio da escrita e em decorrecircncia de sua posiccedilatildeo geograacutefica no Mediterracircneo em relaccedilatildeo agraves outras partes do mundo conhecido que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geograacutefica Satildeo os

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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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navegadores militares e comerciantes de um lado e os matemaacuteticos historiadores e filoacutesofos de outro que ao longo do tempo foram acumulando informaccedilotildees e conhecimentos que se tornaram importantes fontes de estudos e anaacutelises da sociedade e da natureza interfaces im-portantes para a compreensatildeo do temaacuterio geograacutefico

1 Heroacutedoto geoacutegrafo e historiador

grego nasceu em 485 aC em Ha-

licarnasso (atualmente Bodrum na

Turquia) e faleceu possivelmen-

te na ilha de Samos em 420 aC

Ele viajou pelas ilhas do mar Egeu

esteve no sul da Itaacutelia na Mesopo-

tacircmia no Egito (onde subiu o Nilo

chegando ao Saara)

Saiba maisEacute importante distinguir duas palavras chaves referentes agrave ciecircncia Neste caso estamos falando da Geografia O conhecimento geograacutefico refere-se ao que foi produzido em termos de conceitos e teorias pelos geoacutegrafos ao longo do tempo Todo o conteuacutedo tem sua caracteriacutestica especiacutefica porque pode ser identificado por seus autores No entanto quando se trata do pensamento geograacutefico haacute uma componente importante a se considerar eacute uma leitura do conhecimento geograacutefico construiacuteda para aleacutem da disciplina com componentes da Filosofia do meacutetodo e da interdisciplinaridade principalmente no que concerne agrave contextualizaccedilatildeo do conteuacutedo enfocado

Para se ter uma leitura da Geografia na Antiguidade podemos selecionar trecircs pensa-dores que satildeo identificados com a Geografia e com a Histoacuteria lembrando que eles deixaram seus escritos contextualizados no mundo grego Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu

Heroacutedoto1 foi o primeiro a registrar na tradiccedilatildeo filosoacutefica grega o evento da invasatildeo persa na Greacutecia tendo como pressuposto que natildeo apenas o registro dos fatos mas que os acontecimentos poderiam tambeacutem servir para compreender o comportamento humano Ele sistematizou sua pesquisa e cunhou a palavra his-torie que em grego aproxima-se da palavra Histoacuteria como conhecemos atualmente Ao escrever sua histoacuteria ele sempre compunha a descriccedilatildeo dos fatos com os as-pectos geograacuteficos Segundo Nelson W Sodreacute (1976) ele pode ter sido o primeiro a expor as dependecircncias deterministas entre o meio e o homem forma de compreender a relaccedilatildeo sociedade-natureza antes mesmo do surgimento da Geogra-fia de caraacuteter cientiacutefico Os nove livros que compotildeem sua obra foi dividida em duas partes O sexto livro que termina a primeira parte encerra-se com com a derrota dos persas em 490 aC na descriccedilatildeo da batalha de Maratona Este eacute o fato marcante que mostra o iniacutecio do ret-

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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 12
        1. Paacutegina 3 Off
          1. Botatildeo 13
            1. Paacutegina 3 Off
              1. Botatildeo 44
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Estrabatildeo2 outro geoacutegrafo e explorador que pode contribuir nesta volta ao passado eacute classificado como geoacutegrafo historiador e filoacutesofo grego Eacute considerado um estoicista mas ao mesmo tempo um defensor do im-perialismo romano Escrita na era cristatilde sua Geogra-fia em 17 volumes eacute considerada uma obra que con-teacutem inuacutemeros erros de descriccedilatildeo principalmente sobre os Pirineus mas uma obra da Antiguidade que articula conhecimentos da Geografia por meio das descriccedilotildees dos lugares da histoacuteria da religiatildeo dos costumes locais e das instituiccedilotildees de diferentes povos Ele registra os con-hecimentos adquiridos pelos gregos e pelos romanos

O terceiro geoacutegrafo que apresentamos eacute Ptolomeu3 Cientista grego ele viveu em Alex-andria no Egito Sua obra mais conhecida eacute o Almagesto tratado que conteacutem o conhecimento astronocircmico desde os tempos babilocircnicos ateacute os tempos gregos na qual ele apresenta o esquema de um sistema cosmoloacutegico concecircntrico com a Terra no centro do universo tendo-se os outros corpos celestes descrevendo oacuterbita ao seu redor O Sol os planetas e as estrelas descreveriam epiciclos (ciacuterculos com centros em outros ciacuterculos) ao redor da Terra Essa teoria eacute conhecida comumente como Teoria do Geocentrismo Ele foi considerado o primeiro cientista a expor uma teoria universal do movimento dos astros mesmo que posteriormente duramente criti-

rocesso do impeacuterio persa liderado por Ciro Seu legado eacute importante para a Geografia porque se constitui metodologicamente em forma de narrativa contiacutenua resultado de pesquisa ndash pelo registro dos fatos ndash e de abordagem dos fatos como elementos que auxiliam na compreensatildeo do comportamento humano

Mapa-muacutendi de Ptolomeu

A obra de Ptolomeu foi preservada pelos aacuterabes e introduzida na Europa durante a Idade Meacutedia A ediccedilatildeo que se encontra na Biblioteca Nacional eacute de 1486

Localize no site Histoacuteria do mundo o mapa do Impeacuterio Romano para comparaacute-lo com os outros mapas indicados neste texto

2 Estrabatildeo nasceu da Amaseia

(atual proviacutencia da Amasya na

Turquia) entatildeo fazendo parte do

Impeacuterio Romano (63 ou 64 aC e

circa 24 dC) Originaacuterio de famiacutelia

rica pocircde prosseguir seus estudos

em Roma onde leu os filoacutesofos e

geoacutegrafos que o antecederam Fez

viagens ao Egito e agrave Etioacutepia Seu

nome eacute um termo utilizado pelos ro-

manos para designar aqueles que

tinham os olhos deformados ou por-

tadores de estrabismo

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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

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31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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cada e invalidada pelas observaccedilotildees astronocircmicas de outros cientistas Ele baseou sua obra em com-pilaccedilotildees anteriores e natildeo fez nenhuma observaccedilatildeo Por outro lado em sua obra Geographia haacute todo o conhecimento geograacutefico de gregos e romanos na qual se destaca o uso de coordenadas geograacuteficas de latitude e longitude mesmo que com deforma-ccedilotildees4 nas aacutereas exteriores ao Impeacuterio Romano

Podemos resumir baseados nesses trecircs geoacute-grafos ndash sem a pretensatildeo de fazer uma linha di-reta entre eles ndash que o conhecimento geograacutefico na Antiguidade (que limitamos do seacuteculo IV aC ao primeiro seacuteculo da era cristatilde) tem caracteriacutesticas que vatildeo ser importantes na constituiccedilatildeo do pensa-mento geograacutefico posterior Podemos lembrar que o conhecimento geograacutefico desse periacuteodo baseia-se em elaboraccedilatildeo teoacuterica (geocentrismo) na necessi-dade de observaccedilatildeo para consubstanciar a descriccedilatildeo dos lugares (aqui entendidos com seus costumes instituiccedilotildees e crenccedilas) resultados de narrativas e de pesquisas sistemaacuteticas para o registro dos fatos As palavras sublinhadas ainda hoje satildeo fundamentais para a elaboraccedilatildeo do conhecimento geograacutefico

Dando um passo gigantesco para a Geografia

dos aacuterabes tomemos como exemplo Ibn Khaldun5

4 Toda representaccedilatildeo da realidade transposta

para desenho num plano ou mapa teraacute algum

tipo de deformaccedilatildeo Para cada mapa haacute uma

distorccedilatildeo ou deformaccedilatildeo que eacute corrigida par-

cialmente por teacutecnicas cartograacuteficas segundo

a finalidade ou aacuterea que se deseja representar

no mapa Essas teacutecnicas foram sendo desen-

volvidas por matemaacuteticos astrocircnomos ge-

ocircmetras e geoacutegrafos ao longo da histoacuteria do

desenvolvimento da matemaacutetica e da geome-

triacorrigida parcialmente por teacutecnicas carto-

graacuteficas segundo a finalidade ou aacuterea que se

deseja representar no mapa Essas teacutecnicas

foram sendo desenvolvidas por matemaacuteticos

astrocircnomos geocircmetras e geoacutegrafos ao longo

da histoacuteria do desenvolvimento da matemaacutetica

e da geometria

3 Claacuteudio Ptolemeu viveu em Alexandria no

Egito de 90 a 168 dC Ele eacute conhecido por

suas obras na Geografia mas tambeacutem pelos

trabalhos em outras ciecircncias como matemaacute-

tica astronomia cartografia oacutetica e ateacute teoria

musical Aleacutem de Almagesto e Geographia

escreveu Tetrabiblos com o conhecimento de

astrologia dos babilocircnios gregos e egiacutepcios

Optica no qual mostra seus estudos sobrre re-

flexatildeo refraccedilatildeo cor e espelhos e Harmocircnica

um tratado sobre teoria matemaacutetica da muacutesica

Sua obra foi transmitida para os eruditos do Re-

nascimento pelos aacuterabes

5 Ibn Khaldun nasceu em Tunis (atual capital

da Tuniacutesia) em 1332

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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

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31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Imagem 3 Foto do autor do texto em frente do monumento a IBN KHALDUN em Tuacutenis Tuniacutesia Creacuteditos Eliseu S Sposito

Como todos os geoacutegrafos do mundo europeu ele foi um viajante que conheceu inuacutemeros e distantes lugares em sua eacutepoca Na Aacutefrica ele percorreu o Saara indo do Egito a Tombuctu na Aacutesia ele foi agrave China passando pela Iacutendia e a Palestina na Europa ele foi ateacute o sul da Ruacutessia

22 ndash As grandes navegaccedilotildees

As grandes navegaccedilotildees (ou os grandes descobrimentos) foram fundamentais para o alar-gamento do horizonte geograacutefico a partir da Europa Para superar as dificuldades na busca de novas terras os navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observaccedilatildeo da natureza Alguns instrumentos serviram portanto como potencializadores da capacidade de observaccedilatildeo e de registro do que os homens conseguiam ver e conhecer A combinaccedilatildeo dos usos de instrumentos resultado das invenccedilotildees do ser humano foi fundamental para que as navega-ccedilotildees ocorressem muito aleacutem das proximidades dos continentes Depois de ultrapassar o Cabo Bojador no Marrocos os portugueses foram aleacutem acompanhando a costa oeste da Aacutefrica ateacute chegarem ao Oceano Iacutendico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa Esperanccedila

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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

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31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Imagem 2 Cabo da Boa Esperanccedila Aacutefrica do SulFoto Eliseu S Sposito

Daiacute chegar agrave Iacutendia acertar o rumo para a Ameacuterica ir aleacutem do Estreito de Magalhatildees foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os navegadores portugueses depois os espan-hois desafiando as condiccedilotildees naturais e adversas de correntes mariacutetimas e de ventos puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles

Para que isso ocorresse no entanto foi necessaacuterio o desenvolvimento de outros conhe-cimentos A elaboraccedilatildeo de mapas com o domiacutenio da linguagem matemaacutetica e das projeccedilotildees cartograacuteficas foi necessaacuteria para que as rotas fossem ao longo do tempo definidas com mais precisatildeo

Um novo desafio se colocava a Terra de formato esfeacuterico precisava ser representada em um plano constituiacutedo pela folha que se colocava sobre a mesa dos cartoacutegrafos As medidas de latitude e longitude precisavam ser respeitadas e para isso a precisatildeo matemaacutetica se tornava cada vez mais necessaacuteria A linguagem da ciecircncia no Renascimento consolidava-se como sendo a matemaacutetica Por meio de pontos retas e acircngulos poder-se-ia localizar qualquer ponto pessoa lugar etc num sistema tridimensional de coordenadas Cabia com as mudanccedilas para-

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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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digmaacuteticas do Renascimento compreender como o mundo funcionava muito mais do que compreender por que ele foi criado O ser humano emerge como centro do universo e sua posiccedilatildeo nesse universo mesmo tendo como referecircncia a Terra era importante para se ampliar os horizontes da ciecircncia

Para que isso ocorresse os europeus foram responsaacuteveis pela conquista de novas terras associando-se ou dizimando outras populaccedilotildees que jaacute aiacute viviam Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns elementos a caravela mais leve e aacutegil e que podia ultrapassar por causa das suas velas cabos com ventos contraacuterios a poacutelvora elemento baacutesico para a demon-straccedilatildeo do poderio beacutelico que possibilitou o avanccedilo dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas e a buacutessola instrumento que permitiu a orientaccedilatildeo dia e noite nos deslocamentos pelos mares e pelas terras A esses elementos acrescenta-se a imprensa invenccedilatildeo que permitiu o registro dos conhecimentos e sua divulgaccedilatildeo em diferentes liacutenguas para todos aqueles que pudessem decifrar os coacutedigos das letras e siacutelabas e das representaccedilotildees cartograacuteficas

Atitudes como a observaccedilatildeo a anotaccedilatildeo o uso de instrumentos a descriccedilatildeo e a explica-ccedilatildeo foram incorporados pela Geografia e ainda hoje satildeo importantes para a abordagem do temaacuterio geograacutefico Para completar esse quadro eacute importante lembrar o papel do meacutetodo cientiacutefico que serviu para que os cientistas se orientassem registrassem e transformassem a observaccedilatildeo dos fatos em elementos cientiacuteficos O meacutetodo cientiacutefico como ele foi organizado no Renascimento continha alguns princiacutepios que quando seguidos davam o estatuto de ciecircn-cia ao que era enunciado Observar sempre experimentar utilizar a linguagem matemaacutetica decompor o fato estudado natildeo deixar de lado nenhum aspecto do fato para que ele tivesse todas as suas possibilidades esgotadas eram os princiacutepios que deviam ser seguidos por todos aqueles que tinham como objetivo fazer ciecircncia

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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

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31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

tema 3

31 ndash Ciecircncia e sociedade

Os seres humanos compreendem o mundo de acordo com sua formaccedilatildeo intelectual e sua capacidade de dominar o conhecimento Neste processo a histoacuteria humana desenvolveu dife-rentes tipos de conhecimento Satildeo eles senso comum religioso cientiacutefico e filosoacutefico

O senso comum eacute o niacutevel de conhecimento que pode ser elaborado ou incorporado por qualquer pessoa independentemente de sua condiccedilatildeo de letrado ou natildeo Ele eacute formado pelo domiacutenio de informaccedilotildees corriqueiras taacutecitas e que se desenvolvem de acordo com o niacutevel de desenvolvimento cognitivo da pessoa e fruto da relaccedilatildeo que estabelece com seu grupo social Assim andar de bicicleta nadar elaborar uma roupa praticar uma profissatildeo com a agilidade de manusear uma maacutequina etc satildeo formas de conhecimento que cada um pode dominar O senso comum tem iacutentima relaccedilatildeo com o sentido praacutetico da vida e resultado extraiacutedo do erro e acerto que eacute generalizado para a orientaccedilatildeo da relaccedilatildeo social e das pessoas com a natureza

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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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O conhecimento religioso por sua vez depende da feacute da pessoa e natildeo eacute desenvolvido por nenhuma habilidade especiacutefica Natildeo se exige competecircncia para atingir esse niacutevel de conheci-mento mas a crenccedila em algo abstrato subsumido na explicaccedilatildeo pelo outro que eacute muitas vezes situado fora da realidade objetiva O conhecimento religioso eacute habitado por entes e criaturas resultantes da capacidade de abstraccedilatildeo e de explicaccedilatildeo para fatos que dependem apenas da feacute e natildeo da experimentaccedilatildeo ou da normatizaccedilatildeo do conhecimento Eacute comum que o conhecimento religioso se aproprie do senso comum e dele crie condutas morais importantes para a civili-zaccedilatildeo em determinadas circunstacircncias da histoacuteria Em alguns casos eacute difiacutecil separar o senso comum do conhecimento religioso porque um se utiliza do outro diante dos impasses morais e de limitaccedilotildees teacutecnicas da sociedade

O conhecimento cientiacutefico eacute considerado aquele decorrente dos princiacutepios de organizaccedilatildeo registro repeticcedilatildeo e normatizaccedilatildeo da realidade cuja principal linguagem eacute a matemaacutetica Reneacute Descartes (1596-1650) por exemplo deduziu que o mundo resume-se a pontos retas e acircngu-los estabelecendo os criteacuterios para se localizar qualquer coisa no espaccedilo tridimensional que se orienta por trecircs ordenadas podendo ser figurado em distacircncia altura e profundidade

Assim o conhecimento cientiacutefico eacute necessariamente cumulativo organizado comparativo e possibilita a previsatildeo de situaccedilotildees futuras que natildeo seratildeo necessariamente demonstradas Podemos tomar como exemplo o fato de que a sucessatildeo de tempos em um periacuteodo deter-minado define o clima de um lugar ou aacuterea estudada o que permite a previsatildeo da tendecircncia em um tempo futuro do que pode ocorrer Natildeo se trata de adivinhaccedilatildeo mas de imaginar o que pode acontecer a partir de modelos e ritmos elaborados com referecircncia as mediccedilotildees comparaccedilotildees e anaacutelises sobre dados obtidos com o auxiacutelio de instrumentos que potencializam os sentidos humanos A repeticcedilatildeo de acontecimentos e de sucessatildeo de fatos permite verificar regularidades com resultado imutaacuteveis que inspiram leis sobre a mateacuteria Um conhecimento cientiacutefico se baseia no fato concreto naquilo que se apresenta do mesmo modo diante das mesmas causas e tempo de accedilatildeo

Finalmente o conhecimento filosoacutefico eacute racional e natildeo necessariamente demonstraacutevel ca-bendo agravequele que o domina avaliar os outros tipos de conhecimento Ele condensa a posiccedilatildeo do pensador que julga como e de que maneira a sociedade pensa e age

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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Esses tipos de conhecimento foram se diferenciando a partir do Renascimento periacuteodo da humanidade no qual se configurou a ciecircncia moderna A invenccedilatildeo da imprensa permitiu o registro do conhecimento e sua disseminaccedilatildeo em uma forma que se repete para todos que a ele tem acesso o que permitiu a elaboraccedilatildeo de diferentes interpretaccedilotildees para fatos e acontec-imentos comuns

32 ndash Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

Os marcos cientiacuteficos da Geografia podem ser identificados por meio das obras de alguns au-tores6 e pelo conjunto de acontecimentos que marcou a expansatildeo do horizonte geograacutefico prin-cipalmente as grandes navegaccedilotildees (que jaacute foram descritas no item anterior) o aprimoramento da Cartografia e as grandes invenccedilotildees

Assim a Geografia Moderna desenvolveu-se a partir da criacutetica dos conhecimentos do senso comum e do conhe-cimento religioso acerca do planeta Terra reunindo desde o Renascimento7 a descriccedilatildeo sistemaacutetica das caracteriacutesti-cas da superfiacutecie terrestre da observaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais e humanos nas diferentes regiotildees do globo Desta forma a Geografia surgiu da necessidade de explicar o que existe onde existe a forma que se apresenta e quanto ou dimensatildeo desse elemento ou objeto da natureza (planta rio solo etc) estabelecendo as leis gerais do Cosmo Assim como as demais ciecircncias renascen-tistas razatildeo de encontrar uma lei teve funccedilatildeo de auxiliar tecnicamente agrave sociedade na sua adaptaccedilatildeo e aproveitamento dos recursos da natureza vista como objeto de dominaccedilatildeo das sociedades modernas

Apesar deste desenvolvimento cientiacutefico isto natildeo quer dizer que as outras formas de con-hecimento tenham sido abandonadas Assim o senso comum incorporou o conhecimento geograacutefico mesclando-o com o conhecimento religioso e Da mesma forma o conhecimento religioso admite a importacircncia de conhecimento cientiacutefico da filosofia e apela ao senso co-mum Vejamos alguns exemplos

7 Renascimento periacuteodo que na his-

toacuteria europeacuteia transcorre aproximada-

mente do final do seacuteculo XIII a meados

do seacuteculo XVII Tem esse nome por cau-

sa da releitura que os europeus fizeram

dos principais filoacutesofos da antiguidade

claacutessica reinterpretando-os dentro de

ideais humanistas e naturalistas

6 Vaacuterios autores seratildeo apresentados

resumidamente no item IV

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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                                                  1. Botatildeo 61
                                                    1. Paacutegina 48 Off
                                                    2. Paacutegina 49
                                                      1. Botatildeo 54
                                                        1. Paacutegina 50 Off
                                                        2. Paacutegina 51
                                                        3. Paacutegina 52
                                                          1. Botatildeo 55
                                                            1. Paacutegina 50 Off
                                                            2. Paacutegina 51
                                                            3. Paacutegina 52
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 4

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O conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico busca na reflexatildeo e na experiecircncia sistematizada e revisitada inuacutemeras vezes para o aprofundamento de questotildees que natildeo satildeo objetivos do sentido praacutetico do senso comum e das exigecircncias da feacute Como exemplo mais atual tem se a possibi-lidade cientiacutefica de clonar o ser humano ainda que natildeo estejam dominados todos os conhe-cimentos sobre isso A teacutecnica natildeo eacute aceita pela Igreja para a reproduccedilatildeo humana mas natildeo eacute contestada para a reproduccedilatildeo animal Filosoficamente a mesma questatildeo eacute vista como uma possibilidade que natildeo traz o mesmo componente moral sobre a reproduccedilatildeo mas sobre qual finalidade isso tem para a existecircncia humana no futuro A ciecircncia natildeo se ausenta do debate mas precisa descobrir mais sobre essa possibilidade para cura de doenccedilas e para superaccedilatildeo dos limites da reproduccedilatildeo humana

O resultado atual desse problema estaacute sob um impasse se a pesquisa deve ou natildeo continuar nesse sentido e se estaacute sob controle seu avanccedilo ou natildeo Mesmo que a ciecircncia e a sociedade esta-beleccedilam e consigam impedir a clonagem humana por lei e por diversos bloqueios disponiacuteveis a Filosofia natildeo vai parar de refletir sobre o assunto A simples possibilidade de uma doenccedila destruir a fertilidade masculina em massa jaacute colocaria uma questatildeo para Igreja que obrigaria a alguma delas a mudar de posiccedilatildeo pois o que estaria em jogo eacute a existecircncia humana Algumas Igrejas natildeo iratildeo mudar de posiccedilatildeo mas a Ciecircncia iraacute lutar pela vida A Filosofia continuaraacute a provocar e se contradizer seja qual destino prevalecer Por sua vez a Filosofia avanccedilaraacute mais que a ciecircncia quando ela natildeo conseguir responder dando substacircncia para o conhecimento cientiacutefico encontrar novamente seu caminho

Foi preciso distinguir essas formas de conhecimento para que vocecirc possa se colocar perante o tema que estamos estudando neste momento o pensamento geograacutefico Para maior aprofun-damento desse assunto sugerimos a consulta da obra de Eliseu Saveacuterio Sposito (2004)

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

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41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

tema 4

41 Iniacutecio de conversa

Nosso convite aqui eacute para que vocecirc compreenda qual caminho a Geografia percorreu em seu desenvolvim-ento e como foi compreendida pela sociedade no pas-sado e no presente Como vimos na primeira parte da disciplina a Geografia natildeo surgiu como eacute conhecida hoje e os trabalhos de Heroacutedoto Estrabatildeo e Ptolomeu satildeo testemunhos deste acuacutemulo de conhecimentos Da mesma forma existiram expediccedilotildees militares desde o mundo antigo com intuito de conhecer territoacuterios e suas possibilidades e dificuldades de ocupaccedilatildeo Mas vejamos como na histoacuteria8 desta ciecircncia haacute um momento em que ela deixa de ser uma preocupaccedilatildeo de pessoas isoladas com suas curio-sidades sobre os fenocircmenos para que seja apropriadaspelas instituiccedilotildees governamentais e em-presas Vamos analisar a institucionalizaccedilatildeo da Geografia processo pelo qual as informaccedilotildees

8 Em estudos sobre a construccedilatildeo da geo-

grafia eacute comum ver a palavra evoluccedilatildeo do

pensamento geograacutefico Preferimos fala

de histoacuteria do pensamento geograacutefico que

natildeo cria confusatildeo e elabora a geografia

como um processo construtivo que tanto

assume teorias antigas em suas perspec-

tivas como trabalha com novas teorias A

ideia de evoluccedilatildeo sugere uma superaccedilatildeo

e desgaste de uma ideia que nem sempre

eacute o que ocorre

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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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meacutetodos e investimentos no conhecimento se tornam interesse do Estado governo empresas e associaccedilotildees com objetivos diversos Esses atores institucionalizam a Geografia quando criam grupos de pesquisa expediccedilotildees e comitivas para investigar os territoacuterios as colocircnias ou mesmo espionar outros paiacuteses

Assim uma empresa pode criar suas expediccedilotildees conflu-indo com interesses do Estado9 sendo muitas vezes difiacutecil de distinguir se buscam dominaccedilatildeo poliacutetica eou econocircmi-ca Por sua vez uma associaccedilatildeo de vaacuterios geoacutegrafos e espe-cialistas afins pode ser criada autonomamente por interess-es cientiacuteficos ou a serviccedilo de um Estado eou investidores de variados interesses Na medida em que as informaccedilotildees geograacuteficas deixam de ser uma junccedilatildeo de informaccedilotildees feitas por entusiastas para se tornar conhecimento estrateacutegico de Estados e empresas ela se institucionaliza dentro de um gabinete de governo em reuniotildees de sociedades de pesquisa nos debates em esferas intelec-tuais e na criaccedilatildeo de universidades Surgiratildeo desse complexo de interesses a realizaccedilatildeo de ex-pediccedilotildees cientiacuteficasmilitares patrocinadas por alguns dessas instituiccedilotildees

Foi da expansatildeo colonial dos reinos europeus que surgiram os primeiros relatos oficiais como aquele elaborado por Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal Posteriormente aos relatos escritos as principais viagens foram organizadas pelos chamados naturalistas homens que dominavam cartografia botacircnica e zoologia matemaacutetica e desenho entre tantas outras habi-lidades que os fizessem comunicar aos seus financiadores as descobertas de suas investigaccedilotildees Em outros casos as expediccedilotildees buscavam entender a extensatildeo de um continente ou de um rio e para isso navegar era a forma mais faacutecil para se atingir o objetivo pretendido Havia tambeacutem as expediccedilotildees que buscavam cidades ou lugares mitoloacutegicos com suas promessas de riqueza Em todos esses casos foram perdidas muitas vidas e pequenas fortunas dos financiadores

42 ndash Geografia escolar

A institucionalizaccedilatildeo da Geografia desenvolveu-se progressivamente mas tem seu marco de-finitivo ao longo do seacuteculo XIX acentuadamente na segunda metade e na virada para o seacuteculo

9 A palavra estado pode ser grafada

com letra minuacutescula quando se fala ge-

nericamente de estados da federaccedilatildeo

por exemplo estado do Mato Grosso

Quando se fala em Estado com letra

maiuacutescula eacute um nome proacuteprio que de-

signa a instituiccedilatildeo que abriga gover-

nos por exemplo Estado Nacional ou

o Estado eacute regido por leis A palavra

governo natildeo recebe letra maiuacutescula

Essa distinccedilatildeo eacute importante para que

se entenda os texto sobre o assunto

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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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XX O surgimento da Geografia escolar tambeacutem faz parte do processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica o que ocorre inicialmente nas naccedilotildees industrializadas ou ricas Posteriormente agrave inclusatildeo da Geografia nas cartilhas escolares foram criados cursos universitaacuterios para forma-ccedilatildeo de professores Isto ocorreu inicialmente na antiga Pruacutessia impeacuterio que se tornou pioneiro na institucionalizaccedilatildeo da Geografia escolar (CAPEL 1991) e que eacute o exemplo mais citado na literatura depois acompanhado pelos outros estados nacionais modernos

Natildeo se deve concluir por essas afirmaccedilotildees que a uacutenica funccedilatildeo da Geografia na escola foi de servir aos interesses expansionistas e colonialistas Entretanto a estreita relaccedilatildeo da Geografia escolar aos interesses do Estado Nacional foi fundamental para a delimitaccedilatildeo e desenvolvim-ento de algumas teorias e metodologias geograacuteficas

A geografia escolar na antiga Pruacutessia iniciou a construccedilatildeo de identidade de pertencimento territorial ligado agrave cultura de suas populaccedilotildees Antes disso era a Pruacutessia composta por duca-dos e pequenos territoacuterios autocircnomos que natildeo se constituiacuteam em uma forccedila organizada para defender um projeto nacional e consolidar uma induacutestria e um comeacutercio com menor barreira entre os pequenos territoacuterios Esse exemplo seraacute seguido mesmo por outros paiacuteses que se poderia considerar Estados Nacionais Modernos

Natildeo sendo suficiente apenas a educaccedilatildeo baacutesica para este fim se tornou imprescindiacutevel a construccedilatildeo de uma teoria nacionalista que fundasse seus pilares em um territoacuterio ou espaccedilo de identidades culturais e poliacuteticas Eacute neste contexto que eacute elaborada a Teoria do Determinismo Geograacutefico demonstrando o papel da natureza na formaccedilatildeo cultural de um povo Um conceito central desta teoria eacute o de ldquoespaccedilo vitalrdquo que significa dizer que uma naccedilatildeo necessita de uma quantidade de espaccedilo exploraacutevel correspondente ao seu contingente populacional

Na praacutetica o conceito de espaccedilo vital foi exacerbada para uma accedilatildeo poliacutetica territorial expan-sionista prussiana no caso da ocupaccedilatildeo da Alsaacutecia-Lorena em 1870 (MORAES 1996 p 64)

Haacute um pressuposto que procura explicar o papel dos professores de Geografia eles seriam os verdadeiros responsaacuteveis pela vitoacuteria na anexaccedilatildeo desse territoacuterio porque os soldados do exeacutercito prussiano haviam aprendido por meio do aprendizado de Geografia a interpretar mapas e estrateacutegias militares espaciais Essa teoria eacute apropriada pela elite da nascente naccedilatildeo alematilde e explica em parte seus intentos expansionistas que se estende no tempo (seacuteculo XX)

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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 12
        1. Paacutegina 3 Off
          1. Botatildeo 13
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com as incursotildees nos paiacuteses vizinhos durante as I e II Guerra Mundial A essa tendecircncia o historiador francecircs Lucien Febvre denominou determinismo

A importacircncia da escolarizaccedilatildeo nos feitos beacutelicos contra a Franccedila passou a ser considerada pelas naccedilotildees como fundamental para a expansatildeo alematilde por isso a Geografia comeccedilou a figu-rar nas escolas com propoacutesitos nacionalistas e natildeo apenas informativos Desde esse momento a educaccedilatildeo baacutesica passou a incluir com mais certeza a Geografia em suas cartilhas e planos de estudos identificados com a unidade de cada Estado-Nacional fazendo parte assim da construccedilatildeo ideoloacutegica de seus povos

No caso do Possibilismo (denominaccedilatildeo que se deu ao conhecimento geograacutefico produzido em territoacuterio francecircs ou por influecircncia de importantes autores franceses) o conceito de gecircnero de vida criado por La Blache opocircs-se ao conceito de espaccedilo vital por colocar que a cultura eacute que determina o uso do espaccedilo e sua adaptaccedilatildeo ao homem O territoacuterio para La Blache eacute repleto de possibilidades que as teacutecnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais e tornaacute-las favoraacuteveis agrave sociedade

43 ndash Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

Para Horacio Capel (1991) o modelo universitaacuterio da Alemanha eacute importante de ser anali-sado Em primeiro lugar pela liberdade de pensamento garantida ao corpo de teoacutericos o que permitiu um impulso na construccedilatildeo de massa criacutetica independente nos quadros universitaacuterios o que poder ser considerado inovador ataacute hoje Esta liberdade de pesquisa e de pensamento foram instrumentos muito bem utilizados pela elite poliacutetica desse novo estado naccedilatildeo na supe-raccedilatildeo do seu atraso em relaccedilatildeo aos outros paiacuteses industrializados Concomitantemente agrave Geo-grafia universitaacuteria alematilde surgiram as sociedades geograacuteficas para viabilizar o conhecimento espacial e territorial de diversos estados nacionais

As sociedades geograacuteficas foram na maioria dos ca-sos criadas no seacuteculo XIX a saber Franccedila (1821) Ale-manha (1828) Inglaterra (1830) Meacutexico (1833) EUA (1852) Portugal (1875) Espanha (1876) Canadaacute (1877) Brasil (1883)10 Satildeo conhecidas a investidas de outros paiacuteses em territoacuterios das Ameacutericas Oceania Africanos entre outros com

10 Confira o texto novos horizontes para o sa-

ber geograacutefico (CARDOSO 2005)

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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 01

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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                                                          1. Botatildeo 55
                                                            1. Paacutegina 50 Off
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intuitos comerciais e expansionistas colonialistas e neocolonialistas11 O papel dessas sociedades pode ser assim sistematizado investigar os territoacuterios que pertencem aos paiacuteses em que foram criadas fornecer a base de informaccedilotildees para os objetivos expansioni-stas nacionais criar explicaccedilotildees cientiacuteficas que sus-tentem o papel de dominaccedilatildeo das metroacutepoles sobre as colocircnias As sociedades tambeacutem satildeo identificadas por suas caracteriacutesticas estatuto ou organizaccedilatildeo in-terna proacuteprios que as diferenciam das outras adoccedilatildeo da linguagem cientiacutefica principalmente aquela base-ada nas comprovaccedilotildees dos feitos em debates puacutebli-cos utilizaccedilatildeo de instrumentos que potencializam a capacidade de observaccedilatildeo dos geoacutegrafos (buacutessola termocircmetro barocircmetro etc) e legitimam as infor-maccedilotildees obtidas em campo linguagem proacutepria na descriccedilatildeo dos fenocircmenos estudados inclusive com o recurso dos mapeamentos cada vez mais precisos com o passar dos anos Essas caracteriacutesticas satildeo im-portantes para se criar um ambiente de exposiccedilatildeo e debates sobre os conhecimentos de novas aacutereas Esse ambiente legitima as descobertas e daacute estatu-to cientiacutefico aos escritos dos geoacutegrafos Finalmente todo esse conjunto de aspectos positivos das asso-ciaccedilotildees datildeo-lhes importacircncia nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais fazendo com que os governos ou mesmo mecenas se mobilizem para financiar os projetos de viagens de reconhecimento dos novos continentes

A proacutepria soberania dos paiacuteses natildeo dependia mais apenas de uma ocupaccedilatildeo que se fizesse pela for-ccedila e pelas armas mas pelo domiacutenio de informaccedilotildees12

12 Saber eacute poder Essa frase banalizada pelo senso comum ainda conteacutem muito de verda-de para o bem e para o mal O domiacutenio de co-nhecimentos serve para controlar embora sirva tambeacutem para oprimir e destruir ideias pessoas e obras humanas Um dos papeis da educaccedilatildeo eacute criar uma condiccedilatildeo de que o cidadatildeo supere a desinformaccedilatildeo e os conhecimentos parciais ou superficiais para avanccedilar para uma criacutetica qua-lificada A escola natildeo ensina ao cidadatildeo a ser criacutetico ou revoltado com a injusticcedila pois esse processo tem uma relaccedilatildeo com o espiacuterito de uma eacutepoca No entanto a educaccedilatildeo tenta fazer na medida do possiacutevel uma qualificaccedilatildeo do discurso do cidadatildeo que serviraacute a ele nos embates A pre-ocupaccedilatildeo aqui contida eacute que o professor saiba de suas limitaccedilotildees e de suas potencialidades Sem esse entendimento o professor natildeo encontraraacute nenhum sentido nobre em seu trabalho

11 O filme O homem que subiu a colina e des-ceu a montanha retrata como o Reino Unido refazia suas mediccedilotildees no interior de seu reino atraveacutes de levantamentos topograacuteficos estabe-lecendo coacutedigos e medidas que se transformam em referecircncias para todas as outras medidas Neste caso os cartoacutegrafos do filme vatildeo medir a altitude do monte Ffynon Garw limite entre o Paiacutes de Gales e a Inglaterra considerando que uma montanha no reino soacute poderia assim ser considerada se tivesse no miacutenimo mil peacutes de altitude Outro filme que apresenta a mesma preocupaccedilatildeo pode ser o eacutepico Lawrence das Araacutebias que retrata a eacutepoca da independecircncia da Araacutebia Saudita em relaccedilatildeo ao Reino Unido e mais recentemente em O paciente inglecircs Final-mente o filme Montanhas da Lua conta a histoacuteria de dois geoacutegrafos exploradores que em meados do seacuteculo XIX tentam descobrir as nascentes do Rio Nilo No filme destacam-se as formas como as caravanas satildeo organizadas como os geoacutegra-fos utilizam instrumentos para potencializar sua capacidade de observaccedilatildeo como satildeo registra-dos os fatos observados e como o conhecimento eacute legitimado pela Sociedade Real Geograacutefica da Gratilde-Bretanha Toda essa filmografia relata par-cialmente o interesse em cartografar com maior precisatildeo o espaccedilo seja para instalar vias feacuterre-as seja para identificar riquezas e seus poten-cias de exploraccedilatildeo seja para fins de delimitaccedilatildeo de territoacuterios ou conhecer os terrenos para facili-tar deslocamentos de forccedilas militares

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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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de teacutecnicas e seu uso na ocupaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo dess-es territoacuterios Associado ao interesse de dominaccedilatildeo as sociedades geograacuteficas abrigaram personalidades com distintas formaccedilotildees para elaborar seus planos naciona-is de viaccedilatildeo mapeamento poliacutetico e topografia entre outras informaccedilotildees com base cientiacutefica para fortalecer a soberania desses paiacuteses e destes sobre as naccedilotildees que fossem incapazes de realizar os proacuteprios inventaacuterios ou explorar as suas riquezas As sociedades geograacutefi-cas tecircm como efeito a formaccedilatildeo de investigadores e apoio aos seus construtos metodoloacutegicos e de suas teorias e o engajamento delas aos interesses de seus patrocinadores13

Tanto a identidade nacional14 como a ocupa-ccedilatildeo por colonizaccedilatildeo ou expansatildeo dependem de in-formaccedilotildees consistentes sobre os territoacuterios e espaccedilos cobiccedilados As empresas tambeacutem dependem de infor-maccedilotildees precisas sobre a geografia desses territoacuterios para investir em estradas portos e outras estruturas de extraccedilatildeo de riquezas com menor investimento e maior velocidade de retorno O seacuteculo XIX eacute de-terminado pela mudanccedila das teacutecnicas para a ciecircncia sistematizada A primeira revoluccedilatildeo industrial ainda tem seus efeitos impressionantes e o trabalho assala-riado serve de base para o sistema capitalista ser preponderante O florescimento da ciecircncia tem um papel pragmaacutetico crescente e as universidades natildeo ocupavam funccedilatildeo tatildeo relevante quanto tinha as grandes expediccedilotildees patrocinadas pelas sociedades geograacuteficas A ciecircncia iraacute progredir entre um processo de avanccedilo capitalista em favor de suas necessidades e pelos desa-fios cientiacuteficos que satildeo impostos pelos avanccedilos resultantes desse processo

14 Identidade nacional se confunde com ufa-nismo ou um elogio exagerado preconceituo-so excludente acriacutetico e parcial de algumas pessoas que se dizem amar um paiacutes Eacute funda-mental que esses elogios sejam contidos pela realidade dos fatos e natildeo por uma imagem ideal de um paiacutes Os regimes ditatoriais co-locam frases do tipo ldquoAmem ou deixemrdquo Que resumem a ideia de que amar incondicional-mente um paiacutes justifica a injusticcedila perseguiccedilatildeo e assassinato de opositores agrave ordem vigente No entanto haacute que ter uma identidade cultural criacutetica que eacute a base do humanismo e respeito aos direitos universais

13 O filme Montanhas da Lua (1990) eacute um

registro artiacutestico que serve para ilustrar como

era o funcionamento de algumas dessas so-

ciedades cientiacuteficas ao adaptar fatos da histoacute-

ria real ocorrida em 1850 quando dois oficiais

britacircnicos Capitatildeo Richard Burton e Tenente

John Speke realizaram expediccedilotildees para des-

cobrir a nascente do Nilo em nome do Impeacuterio

Britacircnico da Rainha Victoacuteria A indicaccedilatildeo des-

te filme jaacute ocorreu no item anterior

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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

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bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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44 ndash Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX duas escolas de pensamento geograacutefico poderiam ser distintas por suas bases e propostas teoacutericas a escola alematilde e a francesa Elas satildeo responsaacuteveis pelos debates mais enriquecedores da Geografia Moderna Os principiais nomes da escola alematilde satildeo Alexander Von Humboldt Karl Ritter15 e Friederic Ratzel (1844-1904) Na escola francesa Eliseacutee Reclus e Vidal de La Blache tiveram grande influecircncia sendo este uacuteltimo o mais referenciado16 De maneira muito geral reputa-se agrave escola alematilde o que se chama determinismo geograacutefico e geografia geral e a escola francesa eacute citada como possibilista e com a abordagem da geografia regional

Como vimos anteriormente o determinismo geograacutefico eacute explicado como sendo base-ado na forccedila das caracteriacutesticas fiacutesicas para o comportamento formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e progresso de uma sociedade Por exemplo paiacuteses com litoral muito recortado favorecem as navegaccedilotildees como se pode dizer das costas dos paiacuteses banhados pelo mar Mediterracircneo O possibilismo por sua vez eacute a tendecircncia teoacuterica que defende que um povo dependendo do seu progresso teacutec-nico e cultural pode conduzir mudanccedilas e adaptar-se o meio geograacutefico de forma aproveitar dele e transformaacute-lo em seu favor Sem reduzir a importacircncia das condiccedilotildees fiacutesicas sobre a sociedade e sem exagerar na influecircncia do aporte cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo natural essas duas correntes fundam a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre sociedade e natureza que ainda eacute central na produccedilatildeo cientiacutefica da Geografia

Comum entre ambas foi a apropriaccedilatildeo poliacutetica das teorias para justificar o colonialismo seja na depreciaccedilatildeo de um povo e estaacutegio de desenvolvimento teacutecnico primaacuterio em relaccedilatildeo aos colonizadores que defendida pelo possibilismo seja para justificar a dominaccedilatildeo de um povo por estar fadado agraves limitaccedilotildees impostas pelo meio em que vivem No entanto se fizermos uma

15 Karl Ritter (1779-1859) Geoacutegrafo alematildeo que descobriu a existecircncia dos raios ultravioletas em 1801 e eacute considerado junto con Humboldt um dos principais fundadores da Geografia mo-derna

16 A influecircncia da obra de Reclus na Franccedila foi

enorme e suas obras tiveram alcance em escolas

do mundo todo Reclus natildeo teve um papel impor-

tante na geografia institucional por ser um anar-

quista e estar envolvido em questotildees contraacuterias

ao Estado La Blache teve um papel acadecircmico

e poliacutetico sem oposiccedilatildeo ao Estado e muito de sua

obra esteve a serviccedilo dele A revista Heacuterodote

publicou um nuacutemero especial de comemoraccedilatildeo

dos 100 anos da morte de Reclus (1905-2005)

contendo alguns textos em francecircs que descre-

vem o esforccedilo de La Blache em apagar as fortes

referencias reclusianas na geografia francesa

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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

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bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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leitura mais aprofundada dessas duas escolas e principalmente dos escritos dos teoacutericos cita-dos natildeo seraacute encontrada uma posiccedilatildeo tatildeo polarizada quanto se acredita porque foi a apropria-ccedilatildeo poliacutetica e as consequumlecircncias dessa apropriaccedilatildeo que deram ecircnfase superficial no pensamento desses pioneiros da Geografia moderna

A Geografia geral eacute uma proposta de abordagem que parte do princiacutepio que um fenocircmeno geograacutefico deve ser visto em escala mundial ou tomando-se como referecircncias as grandes su-perfiacutecies A compreensatildeo metodoloacutegica neste caso baseia-se em fazer um inventaacuterio de tudo que engloba grandes superfiacutecies e dados gerais que alimentem uma lei geral da natureza A coleta de informaccedilotildees sobre flora fauna distribuiccedilatildeo hiacutedrica tipo de relevo distribuiccedilatildeo popu-lacional entre outras informaccedilotildees gerais do meio fiacutesico sustentam apreciaccedilotildees dessas grandes superfiacutecies e de seus fenocircmenos A demanda cientiacutefica justificou expediccedilotildees investigativas por todo o mundo e tanto mais nos paiacuteses colonizados Conhecer a natureza e a sociedade desses paiacuteses e continentes era determinante para se construir uma Geografia geral e por meio dela compreender a complexidade do mundo natural O tipo de trabalho derivado desses inven-taacuterios era descritivo e sem ecircnfase na accedilatildeo humana como agente transformador Eacute importante ressaltar que embora procurassem paisagens e fenocircmenos que se repetissem para criar leis gerais natildeo possuiacuteam ainda o que hoje se chama visatildeo sistecircmica (interaccedilatildeo) ou a noccedilatildeo de natureza como fruto relacional de fenocircmenos que interagem e se retroalimentam

A criacutetica ao descritivismo deve ser amenizada se levarmos em conta que os meios teacutecnicos disponiacuteveis e a linguagem daquele periacuteodo natildeo desfrutavam dos mecanismos que possuiacutemos atualmente por isso retrataacute-los literariamente e detalhadamente era a forma adequada de tratar as informaccedilotildees coletadas O correto eacute dizer que apoacutes os progressos teoacutericos e tecnoloacutegi-cos a descriccedilatildeo detalhada pode ter sido uma heranccedila de formaccedilatildeo de alguns geoacutegrafos que perdura em algumas produccedilotildees cientiacuteficas

A geografia regional elaborada por Vidal de La Blache eacute considerada uma construccedilatildeo teoacuterica importante e responsaacutevel pela manutenccedilatildeo da importacircncia da geografia como ciecircncia Capel afirma que apoacutes a morte de Humboldt e Ritter ambos em 1959 a geografia tendeu ao esfacelamento em vaacuterias disciplinas e quase desapareceria se natildeo fosse a necessidade de criar uma geografia escolar Do ponto de vista teoacuterico a geografia geral dava respostas para fenocirc-menos amplos mas esse niacutevel de informaccedilatildeo natildeo produzia explicaccedilotildees das accedilotildees humanas em seu meio natural La Blache conseguiu delinear que o propoacutesito da geografia era identificar em

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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

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bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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fragmentos do espaccedilo uma regularidade de fenocircmenos naturais e sociais A geografia regional busca identidades em escalas meacutedias e pequenas A divisatildeo regional se faraacute por caracteriacutesticas naturais pela composiccedilatildeo teacutecnica de seus habitantes na relaccedilatildeo cultural e natural Em algumas abordagens eacute como se o geoacutegrafo tivesse que descobrir a regiatildeo por fenocircmenos especiacuteficos Se ouvirmos algueacutem falar que existe a regiatildeo Nordeste no Brasil isso quer dizer que ela eacute com-posta por um tipo de natureza dominante um histoacuteria poliacutetica e de desenvolvimento que a faz diferente da regiatildeo Sul ou Centro Oeste O trabalho regional poderaacute produzir subdivisotildees e de uma forma geral serve par ao planejamento territorial de uma regiatildeo ou delimitaccedilatildeo de uma regiatildeo administrativa de interesse maior do Estado La Blache salva a geografia do desa-parecimento e recoloca uma funccedilatildeo que a faz sobreviver ao desaparecimento As metodologias mudam ou mudam suas ecircnfases

A Geografia regional depende de uma descriccedilatildeo mas exige uma abordagem que crie a identidade regional A comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos eacute importante mas nas escalas regionais pode ser pouco expressiva para dar uma identidade natural particular Exemplo praacutetico disso eacute falar da regiatildeo Nordeste como tendo uma uacutenica identidade e comparaacute-la com a regiatildeo da Provenccedila na Franccedila que eacute menor (em superfiacutecie) que o estado de Sergipe A caracterizaccedilatildeo regional eacute relativa ao paiacutes e suas pesquisas para a gestatildeo poliacutetica administrativa e produtiva e natildeo pela dimensatildeo territorial

A Geografia geral como foi praticada haacute um seacuteculo entrou em decadecircncia por natildeo servir aos interesses do Estado-Nacional moderno e segundo vaacuterios autores a Geografia regional lablachiana recolocou em cena a importacircncia da Geografia e a impediu de sucumbir pela frag-mentaccedilatildeo em outras disciplinas como Geologia Climatologia Biologia entre outras

A discussatildeo entre Geografia nomoteacutetica ou geral (que busca leis gerais) e Geografia id-iograacutefica ou regional (que busca identidades particulares) estaraacute sempre ressaltada nos debates teoacutericos metodoloacutegicos e epistemoloacutegicos e tambeacutem poliacuteticos e ideoloacutegicos Eacute importante enfatizar a influecircncia poliacutetica e ideoloacutegica nesse debate porque a informaccedilatildeo cientiacutefica tem uma vertente pura e objetiva pela busca do conhecimento da realidade e uma objetiva e sub-jetiva associada aos interesses concretos dos governos empresas e pessoas que resultam em incompreensotildees e refutaccedilotildees por desconfianccedila dos interesses escondidos em alguns de trabal-hos cientiacuteficos

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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 12
        1. Paacutegina 3 Off
          1. Botatildeo 13
            1. Paacutegina 3 Off
              1. Botatildeo 44
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A divisatildeo entre Geografia fiacutesica e humana tambeacutem se faz importante entre essas correntes (alematilde e francesa) dando a entender que a Geografia alematilde seria determinista descritiva geral nomoteacutetica e fiacutesica e que a francesa seria possibilista sinteacutetica regional particular id-iograacutefica e humana Natildeo eacute tatildeo simples assim e uma compreensatildeo desse modo sobre o pensa-mento geograacutefico pode levar a entender que um trabalho em Geografia humana estaacute livre de descriccedilatildeo e das informaccedilotildees fiacutesicas Ou que um trabalho de Geografia fiacutesica pode eliminar a informaccedilatildeo dos grupos e aglomeraccedilotildees sociais e sobre sua influecircncia sobre a natureza No en-tanto esta natildeo eacute uma verdade absoluta nem definitiva Haacute diferentes possibilidades de se fazer trabalhos em qualquer uma das vertentes com qualidade e com abrangecircncia suficiente para se descrever e explicar os territoacuterios Haacute trabalhos em Geografia fiacutesica de alta qualidade que natildeo necessitam falar da sociedade e haacute trabalhos em Geografia humana de inestimaacutevel valor que natildeo necessitam fazer inferecircncia aos fenocircmenos fiacutesicos Na sequumlecircncia apresentamos um quadro que separa as relaccedilotildees entre as duas tendecircncias Esse quadro natildeo deve ser seguido agrave risca nos dias atuais jaacute que as tendecircncias metodoloacutegicas e teoacutericas se mesclam e oferecem elementos que explicam mais a realidade dos fenocircmenos do que na forma como estatildeo expostos

Caracteriacutesticas Geografia Alematilde Geografia Francesa

Teoria CentralEspaccedilo vital equiliacutebrio entre uma populaccedilatildeo e recursos

naturais disponiacuteveis

Gecircnero de vida a cultura de uma sociedade eacute capaz de adequar agraves limitaccedilotildees naturais e transformaacute-las em

vantagens

Objeto da geografia Leis gerais da natureza Identificar a relaccedilatildeo homem e natureza

Conceituaccedilatildeo Ciecircncia dos lugares natildeo dos homens Ciecircncia de siacutentese

Metodologia Descritivainventaacuteriocausasobservaccedilatildeo

Relacional imbricaccedilotildeesfinalidade natureza

Caraacuteter dos resultados cientiacuteficos

Determinista(homem produto do meio)

Possibilista(a cultura transforma o meio)

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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Apresentaccedilatildeo dos resultados Anaacutelise Siacutentese

Escalas de abordagem Geral Regional

Forma do construto cientiacutefico

NomoteacuteticaLeis gerais e normativas regularidades de fenocircmenos e

suas causas

IdiograacuteficaEncontrar uma identidade especiacutefica de uma parte do

espaccedilo

Primazia Fenocircmenos fiacutesicos Fenocircmenos sociaisnaturais

Propoacutesito poliacutetico Expansionista Colonialista

Quadro 1 Quadro siacutentese comparativo geral e parcial dos marcos das escolas de geografia Francesa e Alematilde

O quadro comparativo apresentado eacute simplificador e conteacutem uma distinccedilatildeo bastante super-ficial da sistematizaccedilatildeo da Geografia moderna Essa tendecircncia que separa uma da outra desa-parece em trabalhos elaborados no seacuteculo XX e haveraacute muita proximidade entre o construto teoacuterico dessas duas correntes que estatildeo apresentados com muita generalidade Nesse sentido o quadro deve ser considerado apenas como uma sistematizaccedilatildeo geral de caracteriacutesticas muito amplas e ele deve ser visto com cautela por ser seu objetivo mais pedagoacutegico do que fiel ao fato cientiacutefico que o inspirou

Nas distinccedilotildees entre geoacutegrafos que veremos a seguir seraacute possiacutevel notar que haacute pensam-entos de franceses que incorporam propostas de alematildees e vice-versa Tomar essa ideias de maneira simples pode levar ao estudo empobrecido de cada um desses pensadores e fazer cair em erros como os que reputam ao historiador Lucien Febvre que distinguiu a geografia em duas vertentes (determinista e possibilista) Em um estudo sobre a obra de Humboldt Ritter e Ratzel seraacute possiacutevel verificar que eles reconheciam o elemento cultural na transformaccedilatildeo do espaccedilo Do mesmo modo a escola francesa natildeo desconsiderava as influecircncias do meio fiacutesico no desenvolvimento das sociedades (Moraes 1989 1990)17

17 Este trabalho de Moraes ldquoA gecircnese da

geografia modernardquo que aprofunda o pensa-

mento de Humboldt e Ritter e a continuidade

desse trabalho em outro livro intitulado ldquoRat-

zelrdquo (1990) satildeo caminhos que fazem justiccedila

agrave amplitude do pensamento desses trecircs geoacute-

grafos superficialmente e injustamente cha-

mados de pais do determinismo geograacutefico

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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Mediante o que foi exposto anteriormente eacute importante entender que as definiccedilotildees de deter-minismo e possibilismo servem mais aos interesses ideoloacutegicos do Estado-Nacional moderno Isso distorceu os conhecimentos elaborados por esses geoacutegrafos em favor dos objetivos colonialistas e expansionistas dos Estados-Naccedilatildeo sem qualquer compromisso cientiacutefico com esses pensadores embora alguns deles estivessem identificados com os interesses poliacuteticos de seus paiacuteses

45 ndash O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Rit-ter Ratzel Hettner Richthoffen)

Alexandre von Humboldt (1769-1859) eacute considerado um geoacutegrafo ldquode campordquo18 cujo objetivo era encontrar leis gerais sobre os fenocircmenos naturais As regularidades dos fenocircmenos fiacutesicos forneceriam informaccedilotildees gerais sobre a dinacircmica fiacutesica global Sua obra Cosmos tem o papel de identificar leis gerais com forte relaccedilatildeo com a compreensatildeo platocircnica19 Desse modo era importante conhecer as causas dos fenocircmenos fiacutesicos A observaccedilatildeo e a descriccedilatildeo (textual inventaacuterios desenhos e cartograacutefica) satildeo as teacutecnicas de in-vestigaccedilatildeo que mais utilizou A proximidade entre o filoacute-sofo Kant e Humboldt natildeo foi confirmada pelos registros histoacutericos mas o trabalho realizado por Humboldt eacute pro-fundamente associaacutevel ao construto teoacuterico elaborado por Kant principalmente em sua obra A criacutetica da razatildeo pura Por isso o princiacutepio de causalidade (princiacutepio segundo o qual todos os fenocircmenos na superfiacute-cie da Terra tecircm uma explicaccedilatildeo causal e natildeo casual de sua existecircncia) eacute fortemente ligado ao pensamento humboldtiano

Karl Ritter (1779-1859) geoacutegrafo alematildeo tem em vaacuterios aspectos de seu pensamento aproximaccedilatildeo com o que produziu Humboldt Eacute possiacutevel simplificar afirmando que este uacuteltimo era um geoacutegrafo de campo e Ritter um elaborador ldquode gabi-neterdquo20 Ritter teve um papel preponderante na construccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores de geografia (Capel

18 Entre os geoacutegrafos eacute comum se

afirmar que um cientista eacute ldquode cam-

pordquo quando se dedica agrave busca de

dados primaacuterios em trabalhos direta-

mente voltados para atividades em-

piacutericas em viagens entrevistas ob-

servaccedilotildees anotaccedilotildees e descriccedilotildees

do que eacute observado

19 O cosmos platocircnico deve ser en-

tendido como totalidade da expres-

satildeo possiacutevel do ser ou seja expres-

satildeo do bem Platatildeo natildeo compreendia

o todo por seu caraacuteter corruptiacutevel ou

seja por empreender em seu meacutetodo

a concepccedilatildeo do sensiacutevel pelo sensiacute-

vel uma vez que segundo Platatildeo a

realidade fiacutesica nos engana

20 Entre os geoacutegrafos afirmar que

um geoacutegrafo eacute ldquode gabineterdquo eacute procu-

rar demonstrar que seu trabalho pri-

vilegia fontes escritas produzidas por

outros cientistas cabendo a si o papel

de ler interpretar e sistematizar os co-

nhecimentos produzidos por outrem

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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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1991) Foi professor de Eliseacutee Reclus e Karl Marx Esse fato daacute conta de como a profusatildeo da Geografia moderna influenciou o pensamento cientiacutefico da virada do seacuteculo XIX para o XX O princiacutepio de analogia sistematizado por Ritter segue a intenccedilatildeo de descobrir leis gerais da natureza Esse princiacutepio tem como base a comparaccedilatildeo entre os fenocircmenos para destacar suas particularidades destacando diferenccedilas e semelhanccedilas entre eles

Ferdinand von Richthofen (1883-1905) segue por uma perspectiva que se pode denominar de humboldtiana de totalidade (harmonia natural) Von Richthofen era empiacuterico-naturalista que se servia das observaccedilotildees de campo e das formas de relevo Esse tipo de trabalho reforccedila a geomorfologia no papel de descriccedilatildeo e compreensatildeo das paisagens e seus relevos Ele fez uma viagem agrave China que durou cinco anos de leste a oeste e de norte a sul colhendo informaccedilotildees e mapeamentos sobre a rota da seda Efetuou estudos geoloacutegicos e levantamentos topograacuteficos completados com informaccedilotildees econocircmicas e sociais Na Alemanha passou sete anos elabo-rando o grande mapa da China tarefa que o notabilizou como um dos grandes geoacutegrafos do mundo

Alfred Hettner (1859-1941) eacute considerado neokantiano Ele potildee a Geografia no plano de encontro do nomotetismo e do idiografismo centrando a referecircncia unitaacuteria no conceito de regiatildeo Para ele a regiatildeo eacute a categoria universal da Geografia o conceito portador da capaci-dade de oferecer uma visatildeo de unidade de espaccedilo que ele denomina coroloacutegica que seria con-figurada atraveacutes da pluralidade dos aspectos fiacutesicos e humanos Desse ponto o conceito auxilia a forjar a siacutentese do mundo que seria a identidade metodoloacutegica e cientiacutefica da Geografia Assim chega-se agrave siacutentese regional por intermeacutedio da interaccedilatildeo entre a Geografia sistemaacutetica parte da Geografia encarregada de realizar a anaacutelise dos fenocircmenos no seu plano toacutepico e a Geografia regional a verdadeira Geografia que se serve da primeira ao mesmo tempo em que lhe impotildee a necessaacuteria unidade sinteacutetica Embora criacutetico de Kant ao realizar o esforccedilo de unir a Geografia geral agrave regional sua anaacutelise e siacutentese parece buscar algo semelhante ao kantismo quando une empirismo (observaccedilatildeo) com racionalismo (razatildeo) na busca da diferenciaccedilatildeo das aacutereas ou entender o porquecirc delas se diferenciarem

Leo Waibel (1888-1951) Dois conceitos destacam-se na elaboraccedilatildeo teoacuterica do autor o de Wirtschaftsformation (Formaccedilatildeo Econocircmica) e o de Kulturlandschaft (Paisagem Cultural) Analogamente a uma formaccedilatildeo vegetal afirma Waibel uma paisagem econocircmica contiacutenua pode ser denominada de formaccedilatildeo econocircmica A agricultura emprega para essas unidades se-

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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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jam extensas ou reduzidas geralmente a denominaccedilatildeo de ldquozonasrdquo Ele fala assim de uma zona de cultura de hortaliccedilas uma zona triticultora uma zona de lacticiacutenios etc Jaacute a paisagem cul-tural dentro da Geografia agraacuteria eacute entendida como resultante do uso do solo ou seja do tipo de cultivos teacutecnicas utilizadas estradas e instalaccedilotildees determinado pela Formaccedilatildeo Econocircmica (ETGES 2000)

46 ndash O pensamento geograacutefico francecircs

Eliseacutee Reacuteclus (1830-1905) foi aluno de Karl Ritter e produziu uma Geografia com forte referecircncia em Humboldt e Ritter A obra de Reacuteclus teve impacto importante na educaccedilatildeo da Franccedila Espanha e outros paiacuteses da Europa De fato foi essa referecircncia que teve relevacircncia para os geoacutegrafos franceses que o sucederam embora haja registros de que La Blache combateu essa influecircncia na Franccedila Seus livros sua atividade poliacutetica como anarquista e sua dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo fez Reacuteclus ser popular e reconhecido Eacute possiacutevel afirmar que ele prenunciou as bases do geoambientalismo da sustentabilidade e de uma geopoliacutetica proacutexima da compreensatildeo con-temporacircnea Sua formaccedilatildeo pela escola alematilde natildeo o fez um determinista e sua posiccedilatildeo poliacutetica deixou mais claro que a accedilatildeo humana eacute responsaacutevel pela transformaccedilatildeo do espaccedilo reconhecen-do a capacidade de poluiccedilatildeo e necessidade de uso adequado da natureza A base metodoloacutegica que ele deixou para a Geografia impedia a separaccedilatildeo dos fotos humanos e dos fenocircmenos naturais trazendo conjuntamente a preocupaccedilatildeo com a liberdade das naccedilotildees e de seus povos

Vidal de La Blache (1845-1918) foi responsaacutevel pelo conceito de gecircnero de vida e criou as bases metodoloacutegicas da regionalizaccedilatildeo que recolocou a Geografia como disciplina importante entre as demais ciecircncias A proposta vidalina serviu ao planejamento estatal e permitiu o de-senvolvimento de monografias regionais que buscavam identidades espaciais ou idiograacuteficas para espaccedilos determinados por variaacuteveis comuns procurando superar as limitaccedilotildees que a Geo-grafia geral caracteriacutestica da escola alematilde tinha para a compreensatildeo da organizaccedilatildeo espacial

Jean Brunhes (1869-1930) preocupava-se com a poliacutetica e tinha posiccedilotildees consideradas catoacutelicas sociais Sua obra sobre os princiacutepios da Geografia colocava a existecircncia de vaacuterios niacuteveis de percepccedilatildeo dos fenocircmenos Primeiro estaria a Geografia das necessidades vitais (ex-ploraccedilatildeo da terra) depois a Geografia social e por fim a Geografia histoacuterica e poliacutetica O meacutetodo por ele proposto considerava os seguintes feitos essenciais a) a ocupaccedilatildeo improdutiva (casas e vias) b) a conquista vegetal e animal (cultura e pecuaacuteria) e c) a economia destrutiva

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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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(devastaccedilatildeo dos animais vegetais e exploraccedilatildeo mineral) Essa superfiacutecie seria encontrada a accedilatildeo da sociedade e acresceria o nome da Geografia Humana como referecircncia para escola francesa de geografia

Max Sorre (1880-1962) elaborou o conceito de habitat que se refere agrave porccedilatildeo do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza Eacute a humanizaccedilatildeo do meio que expressa muacuteltiplas relaccedilotildees entre o homem e ambiente que o envolve Aproxima-se do axioma vidalino de gecircnero de vida

Emmanuel de Martonne (1873-1955) eacute conhecido por desenvolver ao longo de sua vida um amplo trabalho docente de difusatildeo da Geografia como ciecircncia experimental Visitou duas vezes o Brasil (1933 e 1937) realizando levantamentos morfoloacutegicos e ministrou cursos na Universidade de Satildeo Paulo Seu estudo sobre problemas morfoloacutegicos do Brasil tropical-atlacircn-tico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climaacutetica no mundo Para ele tudo aquilo que existe na superfiacutecie terrestre e forma parte da paisagem pode ser considerado como um fato geograacutefico Um fato geograacutefico se caracteriza por ser um elemento tangiacutevel e eacute de certo modo permanente ou estaacutevel como as montanhas os rios as comunidades humanas um edifiacutecio uma aacutervore etc O fenocircmeno geograacutefico ocorre quando se pode observar uma mudanccedila mais ou menos imediata na superfiacutecie terrestre mostrando alteraccedilotildees no ambiente

Pierre Deffontaines (1894-1978) iniciou seu contato com o Brasil na deacutecada de 1930 e conjuntamente com Pierre Monbeig fundou a cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 Foi tambeacutem um dos principais responsaacuteveis pela criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geo-grafia Defontainnes foi fortemente influenciado por Jean Brunhes por sua vez disciacutepulo de Vidal de la Blache Eacute considerado introdutor da ldquoescola francesa de geografiardquo no Brasil e teve papel determinante na estrutura do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia Seus ar-tigos de cunho vidalino (ou lablacheano) descreviam a dimensatildeo continental do Brasil onde a natureza definia a organizaccedilatildeo das atividades humanas Como La Blache ofereceu ao Brasil uma matriz de pensamentos ao dispor do planejamento estatal e com os projetos nacionais brasileiros da era Vargas

Pierre Monbeig (1908-1987) tambeacutem influenciado pela geografia regional vidalina de-staca a importacircncia da cultura na transformaccedilatildeo do espaccedilo e se coloca em posiccedilatildeo oposta ao

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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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determinismo econocircmico (GAETA 2007) Dantas (2005 p 30) afirma que sua ideia de com-plexidade em geografia humana coloca a necessidade de ir aleacutem da descriccedilatildeo indo buscar as contingecircncias que cercam a relaccedilatildeo entre o homem e a natureza A Terra para Monbeig eacute um todo cujas partes se condicionam O homem seraacute o perturbador de um equiliacutebrio complexo e o geoacutegrafo deveraacute recolher como essas diversas influecircncias contribuem para a formaccedilatildeo es-pacial e adaptaccedilatildeo humana Como co-fundador da cadeira de Geografia na Universidade de Satildeo Paulo em 1935 iraacute influenciar a formaccedilatildeo de geoacutegrafos com forte cunho da Geografia regional francesa que daraacute agrave escola de Geografia brasileira sua ecircnfase na Geografia humana

47 ndash As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

Ellen Semple (1863-1932) tem proximidade com a obra de Ratzel (Antropogeografia) e inspirou a produccedilatildeo de vaacuterias obras e artigos caracterizados como sendo deterministas Em seu pensamento o meio fiacutesico tem papel mais preponderante do que a accedilatildeo humana e sua cultura na transformaccedilatildeo espacial Ou seja o meio determina o homem em palavras diretas O deter-minismo geograacutefico como se conhece hoje tem mais sua influecircncia do que reputam a Ratzel e iraacute dar um caraacuteter proacuteprio agrave Geografia anglo-saxocircnica com maior ecircnfase no empirismo e na descriccedilatildeo do meio fiacutesico Semple por exemplo recorre agrave Biacuteblia em alguns de seus escritos para definir a importacircncia da natureza sobre a sociedade A finalidade de seus trabalhos eacute entender as vantagens ambientais e suas influecircncias no desenvolvimento econocircmico

Ellsworth Huntington (1876-1947) concluiu que as populaccedilotildees de regiotildees frias tinham performance econocircmica superior agrave de paiacuteses tropicais fenocircmeno ao qual chamou de ldquoparadoxo tropicalrdquo De acordo com esse geoacutegrafo a influecircncia do clima na performance econocircmica tam-beacutem podia ser verificada nas estruturas poliacuteticas pois os Estados tropicais tendem a ter uma histoacuteria poliacutetica instaacutevel O determinismo climaacutetico que baseou a obra de Huntington passou a ser uma consideraccedilatildeo exarcebada para outros campos e utilizado como explicaccedilatildeo simploacuteria para explicar a pobreza e subdesenvolvimento

Richard Hartshorne (1899-1992) eacute conhecido por seu meacutetodo de regionalizaccedilatildeo que dife-rente do que propocircs La Blache seleciona elementos para se delimitar um espaccedilo e natildeo a totalidade de elementos que o compotildee A regiatildeo para Hartshorne deve ser compreendida conceitualmente quando eacute especializada por funccedilotildees correlatas Natildeo quer dizer que ele negue a regionalizaccedilatildeo tradicional mas aprofunda o pragmatismo da informaccedilatildeo geograacutefica que deve

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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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ter finalidade para o planejamento e desenvolvimento humano Seus trabalhos satildeo influencia-dos pelo kantismo e ele escreveu um texto importante sobre a relaccedilatildeo das obras de Kant e de Humboldt (HARTSHORNE 2006)

David Harvey (1935) tem sua formaccedilatildeo na Geografia quantitativa mas aos poucos foi se apropriando das bases epistemoloacutegicas marxistas Por essa mudanccedila de perspectiva ele eacute considerado um dos pilares da Geografia radical Os pressupostos de Harvey colocam a luta de classes no centro dos debates temaacuteticos da Geografia com uma qualidade que extrapola a ideologia que marca parte da corrente da Geografia criacutetica mundial Seus escritos sobre a accedilatildeo do capital na civilizaccedilatildeo servem de pilar para a construccedilatildeo de uma criacutetica agrave globalizaccedilatildeo e para a compreensatildeo da accedilatildeo das corporaccedilotildees na internacionalizaccedilatildeo do capital A sociedade estaacute no centro do debate geograacutefico e na esquerda poliacutetica arrefecida no final da deacutecada de 1990 mas com mais aprofundamento apoacutes a crise econocircmica de 2008 Sua obra A condiccedilatildeo poacutes-moderna eacute referecircncia no Brasil para se entender sua compreensatildeo teoacuterica da Geografia

Edward William Soja (1940) tem seus trabalhos voltados para o planejamento urbano Seus referenciais teoacutericos baseiam-se no materialismo histoacuterico e ele percorre um caminho mais ecleacutetico entre os geoacutegrafos radicais estadunidenses Sua obra Geografias poacutes-modernas eacute polecircmica e teve enorme repercussatildeo na deacutecada de 1990 Soja eacute considerado por alguns criacuteticos como um geoacutegrafo poacutes-moderno por sua aproximaccedilatildeo com a Geografia cultural

Doreen Barbara Massey (1944) eacute referenciada por produzir trabalhos influenciados pelo materialismo dialeacutetico e por isso eacute definida como geoacutegrafa marxista Um dos seus campos de estudo eacute a globalizaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com o desenvolvimento das cidades e a reconceitual-izaccedilatildeo do espaccedilo urbano e na divisatildeo espacial do trabalho Seu conceito de geometria do poder tem como aporte a compreensatildeo das profundas divisotildees entre ricos e pobres e as desigualdades provocadas pelo capitalismo Seus argumentos satildeo que o espaccedilo eacute composto por vaacuterias iden-tidades que natildeo estatildeo congeladas ou seja o espaccedilo eacute permeado por processos permanentes de muacuteltiplas identidades e natildeo eacute fechado mas consequecircncia de superposiccedilotildees de accedilotildees humanas dinacircmicas

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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 12
        1. Paacutegina 3 Off
          1. Botatildeo 13
            1. Paacutegina 3 Off
              1. Botatildeo 44
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51 ndash Introduccedilatildeo

No Brasil haacute marcos importantes sobre a institucionalizaccedilatildeo da Geografia como foram as fundaccedilotildees dos Institutos de Histoacuteria e Geografia Brasileiro no Rio de Janeiro em 1938 e os que surgiram em vaacuterios estados do paiacutes inicialmente ocupado por engenheiros militares cartoacutegrafos advogados e historiadores A criaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores de Geografia com a fundaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo eacute um marco importante para a for-maccedilatildeo de uma massa criacutetica com base na Geografia A criaccedilatildeo do Instituto de Brasileiros de Geografia IBGE viabiliza a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees estrateacutegicas para o Brasil

Nos uacuteltimos cinquumlenta anos o Brasil vivenciou a emergecircncia de trecircs tendecircncias importantes no pensamento geograacutefico Essas tendecircncias satildeo antagocircnicas quanto ao meacutetodo agraves temaacuteticas e agrave componente ideoloacutegica

5 A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

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bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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A new geography ou Nova Geografia decorre de uma ruptura metodoloacutegica ideoloacutegica e episte-moloacutegica no fazer cientiacutefico geograacutefico De forma geral essa referecircncia eacute feita por um lado adotando em bases matemaacuteticas e estatiacutesticas para abordar o fenocircmeno geograacutefico e por outro pela consideraccedilatildeo mais humanista centrado na percepccedilatildeo do indiviacuteduo sobre o proacuteprio espaccedilo Caberiam nessa Geografia novas outras forccedilas teoacutericas e correntes ideoloacutegicas poreacutem satildeo as tendecircncias citadas as que carregam essa denominaccedilatildeo Na perspectiva matemaacuteti-ca estatiacutestica quantitativa ou teoreacutetica (traduccedilatildeo equivocada do vocaacutebulo inglecircs theoretical que significa teoacuterica) o pressuposto central eacute considerado neopositivista21 por defender a ideia de que o fenocircmeno geograacutefico eacute um fato verdadeiro se houver regularidade forma especiacutefica e repodutibilidade Se o fato for propositivo para criar modelos teoacutericos matemaacuteticos por ser matematizaacutevel e mensuraacutevel pode se tornar a base para a elaboraccedilatildeo de uma informaccedilatildeo de um modelo e de uma teoria A busca por modelos permitiu um desenvolvimento impression-ante nessa tendecircncia acumulando a criacutetica de natildeo ser capaz de tratar de questotildees sociais com qualidade ou de propor a criar modelos infaliacuteveis sobre a realidade geograacutefica de um fenocircmeno ou de um paiacutes

No Brasil a Geografia quantitativa teve seu nuacutecleo gerador de trabalhos a UNESP de Rio Claro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro que ofereceram uma produccedilatildeo teoacuterica e cientiacutefica que deixou uma tradiccedilatildeo importante A geografia quantitativa enfraqueceu-se desde a deacutecada de 1990 com o desaparecimento dos teoacutericos que foram pilares da defesa dos fenocircmenos quantifica-dos e de modelos derivados O IBGE22 foi o berccedilo da Geografia quantitativa porque foi importante para esse oacutergatildeo governamental fortalecer essa forma de abordar os fenocircmenos Com o fim da ditadura militar que definiu o regime poliacutetico brasileiro (1964-1985) natildeo se pode dizer que a mesma carga ideoloacutegica per-maneceu como na deacutecada de 1970 e de outros periacuteo-dos histoacutericos O IBGE notabilizou-se tambeacutem por

22 O IBGE faz parte de uma histoacuteria nacio-

nal de 188 anos de busca do registro estatiacutes-

tico do Brasil que foi iniciada 1m 1822 A data

de fundaccedilatildeo do IBGE foi em 1936 e desde

entatildeo tem servido como base para o plane-

jamento poliacutetico administrativo e territorial

sendo o berccedilo da profissionalizaccedilatildeo institu-

cional da informaccedilatildeo geograacutefica baseada em

sensos de diversas naturezas Para obter

as informaccedilotildees oficiais da histoacuteria do IBGE

acessar o siacutetio httpwwwibgegovbr

21 Neopositivista pessoa ou tendecircncia que

se identifica com o neopositivismo doutrina

filosoacutefica que se desdobra a partir dos ensi-

namentos da Escola de Viena cujo objetivo

principal foi restabelecer a linguagem mate-

maacutetica como linguagem genuinamente cien-

tiacutefica e do princiacutepio da falseabilidade como

possibilidade de se provar se o conhecimen-

to eacute verdadeiro ou natildeo

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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

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bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

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bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

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Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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ser responsaacutevel por contribuiccedilotildees fundamentais para o planejamento das poliacuteticas puacuteblicas do paiacutes e de suas comparaccedilotildees em escala global aleacutem da realizaccedilatildeo dos recenseamentos gerais decenais que permitem inuacutemeros estudos sobre populaccedilatildeo e economia por meio de caacutelculos de inflaccedilatildeo e PIB por exemplo

A Geografia humanista ou da percepccedilatildeo considera a percepccedilatildeo que o indiviacuteduo elabora do espaccedilo e percorre o caminho das emoccedilotildees e representaccedilotildees subjetivas das populaccedilotildees Ela constitui uma tendecircncia tambeacutem conhecida como fenomenoloacutegica23 e por vezes Geografia cultural Essa tendecircncia recebe criacuteticas por tra-balhar com dados subjetivos por parte de alguns criacuteticos da Geografia quantitativa (positivista) e como despolitizada pela tendecircncia marxista

A Geografia humaniacutestica teve seu desenvolvimento no Brasil principalmente na deacutecada de 1990 quando geoacutegrafos insatisfeitos com a produccedilatildeo cientiacutefica quantitativa e marxista acusavam-nas de natildeo darem importacircncia agrave cultura e aos fenocircmenos da percepccedilatildeo do indiviacuteduo A polarizaccedilatildeo ideoloacutegica entre conservadores e revolucionaacuterios pode ser responsabilizada em parte por essa ausecircncia nos estudos geograacuteficos brasileiros mas natildeo deve ser excluiacutedo o fato de que a falta de um meacutetodo confiaacutevel e sistematizado pode ser importante para seu lento pro-gresso ateacute a deacutecada de 1990 Outra fragilidade dessa tendecircncia eacute o pouco domiacutenio do meacutetodo fenomenoloacutegico e da adoccedilatildeo de temas mais descritivos pautando-se pelos estudos de espaccedilos sagrados ou ritos religiosos com pouca interdisciplinaridade com a Antropologia

A Geografia radical (ou criacutetica ou marxista) considera a luta de classes e as teorias marxis-tas como centrais para se abordar um fenocircmeno geograacutefico A sociedade de classes eacute injusta e a desigualdade social responde por transformaccedilotildees espaciais que desfiguram as naccedilotildees e a paisagem natural em sentido da acumulaccedilatildeo de capital e poder Os espaccedilos urbano e rural satildeo pensados na perspectiva da expropriaccedilatildeo das riquezas (sociedade e natureza) ou virtu-alidades espaciais A insatisfaccedilatildeo com as explicaccedilotildees por meio de modelos (ou pela lingua-gem matemaacutetica) e a necessidade de se abordar temas tangentes agrave assunccedilatildeo das desigualdades

23 Fenomenologia eacute uma palavra que pode criar

muitas confusotildees em decorrecircncia de que tudo que

eacute passiacutevel de acontecer eacute um fenocircmeno Sendo

um fenocircmeno eacute algo observaacutevel e palpaacutevel A fe-

nomenologia como propoacutesito e meacutetodo trabalha

com fenocircmenos de origem subjetiva das pessoas

percepccedilotildees da mente sensaccedilotildees e compreensotildees

que tem origens no pensamento e que embora natildeo

sigam loacutegicas matemaacuteticas e a razatildeo ou pensa-

mento reflexivo tem o poder para delinear o com-

portamento e a accedilatildeo individual ou coletiva em sua

relaccedilatildeo com o espaccedilo e com a sociedade

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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 12
        1. Paacutegina 3 Off
          1. Botatildeo 13
            1. Paacutegina 3 Off
              1. Botatildeo 44
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sociais ldquodescobertasrdquo nos paiacuteses centrais quando ficou evidente a distacircncia entre as pessoas por meio da segregaccedilatildeo social (guetos negros nos Estados Unidos) e a forccedila geopoliacutetica das grandes naccedilotildees (guerras contra paiacuteses colonizados como o Vietnatilde) deram forccedila para que as teorias marxistas emergissem como fontes de explicaccedilatildeo do mundo capitalista Um dos principais marcos dessa tendecircncia foi a publicaccedilatildeo de um livro intitulado A Geografia ndash isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra de Yves Lacoste no final da deacutecada de 1970 na Franccedila Nesse livro o autor denuncia a existecircncia de diferentes ldquogeografiasrdquo que seriam obs-taacuteculo para a compreensatildeo da realidade A Geografia dos professores esbarraria no conceito de regiatildeo como obstaacuteculo para a explicaccedilatildeo da sociedade a Geografia dos Estados-Maiores seria responsaacutevel pela definiccedilatildeo da geopoliacutetica mundial expondo as disputas entre os paiacuteses no domiacutenio dos menos desenvolvidos e a Geografia do senso comum aquela incorporada por todos com grande carga ideoloacutegica legitimaria as duas anteriores Esse livro teve repercussotildees importantes no Brasil e foi motivo para mudanccedilas nos paracircmetros curriculares o que levou a mais um ldquocismardquo entre a Geografia fiacutesica e a Geografia humana porque se disseminou a ideia de que os aspectos fiacutesicos natildeo seriam mais importantes para essa ciecircncia

As resistecircncias contra a Geografia criacutetica satildeo fundadas na carga ideoloacutegica que ela carrega pela falta de um meacutetodo especiacutefico (um ldquomeacutetodo geograacuteficordquo) e porque natildeo se daacute ecircnfase aos fenocircmenos naturais em suas construccedilotildees aleacutem de se negligenciar as representaccedilotildees cartograacute-ficas como elemento importante na linguagem geograacutefica Mesmo assim essa tendecircncia natildeo pode ser considerada como um movimento uacutenico que reuniu geoacutegrafos que produziam as mesmas ideias Pelo contraacuterio os antagonismos entre os geoacutegrafos foi marca importante na tendecircncia

As trecircs vertentes conviveram desde o final da II Guerra Mundial com avanccedilos particulares e com criacuteticas cruzadas durante a Guerra Fria quando as disputas ideoloacutegicas entre o capital-ismo e o socialismo real foram marcas de uma eacutepoca conturbada e de polarizaccedilotildees

52 ndash As rupturas epistemoloacutegicas

As rupturas epistemoloacutegicas entre as geografias realizadas ateacute a deacutecada de 1990 satildeo basica-mente relativas ao objeto ao sujeito aos paradigmas24 e aos meacutetodos adotados para abordagem e compreensatildeo da realidade

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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Haacute autores como Milton Santos que jaacute defendiam na deacutecada de 1970 a ideia de que natildeo haacute um meacutetodo quantitativo para avaliar o fenocircmeno geograacutefico mas sim uma metodologia para construir uma descriccedilatildeo mais fiel dos fatos geograacuteficos A matemaacutetica e o mod-elo satildeo ferramentas e natildeo meacutetodos (SANTOS 1980) O meacutetodo eacute hipoteacutetico-dedutivo (sendo baacutesico para as correntes positivistas) quando trabalha com dados ob-jetivos e objetificantes da realidade (SPOSITO 1994) que podem ser medidos contados e consolidados com auxiacutelio de ferramentas e teacutecnicas estatiacutesticas produzi-das pela matemaacutetica O meacutetodo eacute identificado como positivista por seguir uma linha de raciociacutenio de que um conhecimento soacute eacute vaacutelido se tem um uso pragmaacutetico (MORAES 1995) Isso significa que eacute possiacutevel produzir conhecimento que tenha uso e utilidade para problemas reais e imediatos enfrentados pela sociedade Toda in-formaccedilatildeo geograacutefica deve ter uma base quantificaacutevel precisa e livre de informaccedilotildees dos juiacutezos de valores e crenccedilas Essa caracteriacutestica que nega o componente ideoloacutegico do conhecimento geograacutefico jaacute eacute em si uma postura ideoloacutegica

A fenomenologia trabalha com um meacutetodo subjetivo e o sujeito (ou grupo social) eacute o centro da apreciaccedilatildeo cientiacutefica Por apostar nesta subjetividade e na representaccedilatildeo social ou naquilo que as pessoas explicam perceber crer imaginar rememorar e usufruir de suas relaccedilotildees e inter-pretaccedilotildees espaciais natildeo eacute compatiacutevel com o positivismo que tem sua base material na realidade concreta e natildeo em crenccedilas e sensaccedilotildees humanas

Na geografia criacutetica a base concreta de aborda-gem eacute a desigualdade de acesso agrave transformaccedilatildeo espacial e a injusticcedila social gerada desse processo A histoacuteria25 auxilia para explicar como a sociedade de acumulaccedilatildeo de capital reproduz as condiccedilotildees de expropriaccedilatildeo das classes trabalhadoras e as desvantagens espaciais criada pela opressatildeo tec-nologia e informaccedilatildeo vinda das classes ricas

25 Materialismo histoacuterico eacute o conceito desenvolvi-

do por Karl Marx que tem como pressuposto que a

realidade eacute historicamente modificada e os proces-

sos que explicam a transformaccedilatildeo social podem

ser compreendidos de maneira mais satisfatoacuteria se

entendermos que a vida das classes trabalhado-

ras e sua condiccedilatildeo de opressatildeo e expropriaccedilatildeo da

forccedila de trabalho tem uma gecircnese ou histoacuteria que

deve ser rompida por processos revolucionaacuterios ou

neles inspirados para que favoreccedilam reapropria-

ccedilatildeo do fruto do trabalho e do espaccedilo produzido

pelas classes trabalhadoras

24 Paradigmas satildeo propostas leis axio-

mas assertivas que a ciecircncia se baseia para

desenvolver seus avanccedilos e descobertas

Um paradigma pode ter validade ou se man-

ter parcialmente no tempo Por exemplo a

mecacircnica newtoniana eacute um paradigma que

ainda serve com explicaccedilatildeo para algumas

leis da fiacutesica que natildeo desapareceu com a

teoria da relatividade e nem esta em decor-

recircncia da fiacutesica quacircntica Isso ocorre com to-

das as demais ciecircncias e em alguns casos a

mudanccedila de um postulado ou Ideia cientiacutefica

satildeo tatildeo severamente derrubados que esse

processo recebe o nome de Revoluccedilatildeo Pa-

radigmaacutetica

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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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As trecircs proposiccedilotildees brevemente descritas acima romperam com estudos generalistas e natildeo sistematizados embora alguma de suas teacutecnicas e metodologias estivesse presentes em trabal-hos anteriores agrave mudanccedila provoca pela New Geography (SANTOS 1980)

A new geography rompe definitivamente com a pura descriccedilatildeo de fenocircmenos ao mesmo tempo em que oferece fundamento para as ideologias existentes em seus campos e para um fazer cientiacutefico mais pautado na necessidade de planejamento e de organizaccedilatildeo social sem se propor no entanto a transformaccedilotildees das estruturas sociais

No campo teoacuterico as rupturas satildeo claras quanto ao meacutetodo e agrave base teoacuterica em que se as-sentam os frutos dos trabalhos produzidos e para natildeo se cair num relativismo de que todas satildeo importantes eacute preciso ter em mente que a questatildeo central eacute qual resposta cientiacutefica estaacute agrave altura de explicar a sociedade em todas as suas contradiccedilotildees

Hoje as criacuteticas que adeptos das trecircs tendecircncias fazem entre si persistem e formam tendecircn-cias e agrupamentos de geoacutegrafos persistindo com as polarizaccedilotildees e antagonismos conforma-dos e cristalizados desde a deacutecada de 1990 Mesmo assim haacute geoacutegrafos teoacutericos com trabalhos respeitaacuteveis por sua sistematizaccedilatildeo e compromisso social e teacutecnico ainda que seja comum en-contrar conservadores com tendecircncia positivista e revolucionaacuterios mais militantes que claros epistemologicamente O que se pode distinguir eacute a tecircnue linha que separa o fruto das pesquisas nos dias atuais para dar respostas aos fenocircmenos que natildeo foram obtidas ou plenamente alcan-ccediladas e por isso haacute convivecircncia nos mesmos corredores universitaacuterios congressos coletacircneas e livros mesmo que persista o antagonismo ideoloacutegico

Natildeo se pode ainda dizer que haacute uma criacutetica apenas surgida dentro da Geografia criacutetica ou radical Haacute criacuteticas de diversas bases em relaccedilatildeo aos modelos matemaacuteticos e a sua construccedilatildeo e do mesmo modo na Geografia da percepccedilatildeo e na Geografia criacutetica haacute permanente question-amento de suas insuficiecircncias e prevalecircncias Um afastamento para avaliar o que eacute de qualidade cientiacutefica inquestionaacutevel depende de uma formaccedilatildeo epistemoloacutegica que consiga analisar os trabalhos que realmente estatildeo comprometidos com a sociedade e com seu futuro no que tange agrave sua construccedilatildeo teoacuterica e agrave transformaccedilatildeo da sociedade

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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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53 ndash Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

O questionamento de perspectivas cientiacuteficas dentro da Geografia eacute correto necessaacuterio e natildeo elimina em nenhum caso o aporte ideoloacutegico dos criacuteticos nem dos criticados criando no ambiente cientiacutefico o que pode ser chamado de escola de Geografia brasileira que estaacute entre as mais fervorosas e profiacutecuas geografias trabalhadas no mundo

O Brasil tem por razotildees histoacutericas proacuteprias da dimensatildeo territorial e sua complexidade uma formaccedilatildeo geograacutefica distinta e que progressivamente tomou um rumo comprometido com o territoacuterio e suas relaccedilotildees especiacuteficas e relacionais com o espaccedilo mundial Isto quer dizer que haacute uma Geografia brasileira que assumiu sua proacutepria identidade desde o iniacutecio do seacuteculo XX com acentuaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas desse seacuteculo e no seacuteculo atual Na deacutecada de 1970 poreacutem as tensotildees poliacuteticas forccedilaram a produccedilatildeo de um olhar cientiacutefico para a realidade brasileira mais especiacutefico e isso se materializou na obra de Milton Santos que se tornou para-digmaacutetica e definitiva para se entender o pensamento geograacutefico brasileiro

O risco ateacute hoje assumido eacute que mesmo em trabalhos sem compromisso com o material-ismo histoacuterico eacute verificada uma influecircncia em relaccedilatildeo ao que foi construiacutedo com base marxista A Geografia brasileira vive em permanente alteridade entre o compromisso social e o compro-misso com os interesses corporativos de toda ordem

Eacute possiacutevel falar de uma Geografia brasileira porque a sua institucionalizaccedilatildeo passou tam-beacutem pela criaccedilatildeo de inuacutemeras universidades espalhadas pelo Brasil A maioria dos corpos docentes surgiu da Universidade de Satildeo Paulo e de laacute foi se disseminando por todo o paiacutes por meio da formaccedilatildeo de pessoas nos niacuteveis de mestrado e doutorado que de volta agraves suas uni-dades universitaacuterias foram produzindo modificando e disseminando conhecimentos que pas-saram a ter caracteriacutesticas proacuteprias Por isso criaram-se novos corpos criacuteticos no Sul Nordeste Sudeste e em outras partes do Brasil que elaboraram importantes estudos para a compreensatildeo das questotildees nacionais em todas as escalas

As demandas especiacuteficas e a natildeo adoccedilatildeo de apenas um meacutetodo cientiacutefico e um padratildeo metodoloacutegico permitiu delinear respostas para fenocircmenos repletos de variaacuteveis o que exigiu estudos com amplitude intuiccedilatildeo e esforccedilo cientiacutefico continuado na busca de respostas O fruto desses fatores eacute que serve de base para se dizer que haacute uma heterogecircnea geografia brasileira

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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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com potencial de dialogar com pesquisadores tanto de paiacuteses com grande tradiccedilatildeo cientiacutefica e considerados ricos como com paiacuteses que natildeo possuem a mesma histoacuteria e estrutura acadecircmi-co-cientiacutefica

No entanto natildeo haacute um consenso sobre o que eacute a Geografia brasileira hoje por sua abrangecircn-cia e amplitude A forte referecircncia em Milton Santos ainda persiste mas natildeo eacute possiacutevel dizer que toda a Geografia nacional seja sua herdeira Pode se afirmar com propriedade que ainda natildeo se formaram metodoacutelogos abrangentes como Santos cuja contribuiccedilatildeo estaacute cristalizada nos Paracircmetros Curriculares Nacionais mas natildeo se pode afirmar que isso natildeo ocorreraacute

A Geografia brasileira pode ser lida atualmente por diferentes prismas Ela possui traccedilos da escola francesa e suas diversas bases Em outro prisma eacute anglo-saxocircnica mas haacute tambeacutem influecircncias das escolas de Geografia alematilde e da italiana contemporacircnea Todo esse mosaico eacute fruto de um dos grandes planos mundiais de formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo para dentro e para fora do Brasil O nuacutemero de mestres doutores e poacutes-doutores aumentou nas deacutecadas de 1980 e 1990 e de modo impressionante s partir de 2000 o que eacute decorrente da inversatildeo de recursos puacuteblicos para a pesquisa para a formaccedilatildeo e criaccedilatildeo de cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

Embora na deacutecada de 1990 o corpo docente de universidades puacuteblicas tenha se reduzido em seu crescimento por outro lado aumentaram as universidades privadas superando as primeiras em nuacutemero e criando um mercado de trabalho para aposentados oriundos das universidades puacuteblicas e importantes para novos poacutes-graduados Tais processos alimentaram a induacutestria de literatura geograacutefica e de eventos acadecircmicos que levaram o discurso geograacutefico em primeira matildeo para lugares que antes natildeo o recebiam

Esse conjunto de ocorrecircncias na deacutecada de 2000 pode assim ser resumido aumento do poder aquisitivo de graduandos e poacutes-graduandos aumento da empregabilidade dos que se formaram nesses niacuteveis aumento de pesquisadores que entendem falam e produzem em mais de uma liacutengua abertura de novas universidades puacuteblicas ampliaccedilatildeo e renovaccedilatildeo do corpo do-cente de universidades jaacute estabelecidas Tudo isso criou uma dimensatildeo para geografia brasileira que ainda estaacute para ser estudada

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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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A apreciaccedilatildeo justa da Geografia brasileira eacute que ela estaacute situada entre as mais produtivas e variadas capaz de compreender o conhecimento geograacutefico produzido em outros lugares do mundo e confrontaacute-lo nos eventos cientiacuteficos nacionais e internacionais com inestimaacutevel proveito em todas as linhas de pesquisa A Geografia Urbana do Brasil por exemplo tem sido tatildeo copiada como reverenciada com seus temas que vatildeo das habitaccedilotildees precaacuterias aos grandes investimentos na reestruturaccedilatildeo das cidades O mesmo se pode dizer da Geografia Agraacuteria cujos temas satildeo contraditoacuterios indo dos movimentos sociais que disputam a terra quanto os investimentos capitalistas no campo E da geografia humana e fiacutesica que natildeo param de trazer novos arcabouccedilos para o Brasil e para o mundo e desse entender o que nos auxilia

A Geografia brasileira natildeo se fechou para o mundo e natildeo se permite aceitar anaacutelises exter-nas sem um grande embate no campo da pesquisa epistemoloacutegica e do pensamento geograacutefico nos foacuteruns nacionais que estatildeo se multiplicando e especializando

54 O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

A Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934 em Satildeo Paulo por quatro geoacutegrafos entre eles o brasileiro Caio Prado Junior e francecircs Pierre Deffontaines Seus objetivos iniciais eram a organizaccedilatildeo de debates quinzenais sobre temas atuais e a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo Nesses tempos a associaccedilatildeo tinha pouco diferenciamento das praacuteticas do IBGE No entanto depois de vaacuterias mudanccedilas estatutaacuterias que permitiram a adesatildeo cada vez maior de geoacutegrafos nas deacutecadas de 1969 1970 e principalmente 1980 a AGB passou a ter um novo papel de interferecircncia na Geografia brasileira que natildeo existia ateacute entatildeo

Em 1972 em decorrecircncia da revoluccedilatildeo interna por que passou a associaccedilatildeo abrindo-se para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direccedilatildeo da entidade tanto em niacutevel nacional quanto nos niacuteveis regionais ocorreu em Presidente Prudente o I Encontro Nacional de Geoacutegrafos com a participaccedilatildeo de aproxima-damente 600 pessoas Aiacute se inicia um percurso dos encontros que reuacutenem geoacutegrafos do Brasil e do exterior com a presenccedila maciccedila de estudantes chegando na atualidade a reunir mais de trecircs mil participantes Torna-se mais ampla a difusatildeo do pensamento geograacutefico de vaacuterias par-tes do mundo em confrontos teoacutericos e metodoloacutegicos poliacuteticos e ideoloacutegicos que retirou a

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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

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bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

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bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

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oacutedulo I bull Disciplina 01

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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edefor bull Moacutedulo I bull D

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Geografia de seu papel descritivo e colocou o trabalho geograacutefico numa frente comprometida com o povo brasileiro

As seccedilotildees locais da AGB se reproduziram sempre coladas ao corpo docente de alguma universidade Com a polecircmica entrada dos estudantes como soacutecios ao lado de geoacutegrafos pro-fissionais as questotildees de formaccedilatildeo dos graduandos recebeu uma tocircnica que natildeo era preocu-pante anteriormente O conservadorismo de alguns cursos de graduaccedilatildeo fruto correspondente de corpos docentes sem poacutes-graduaccedilatildeo sem pesquisa sem didaacuteticas definidas e muitas vezes associada a gestotildees de reitorias desqualificadas das universidades puacuteblicas e privadas fez dos encontros de geografia promovidos pela AGB como uma grande escola de formaccedilatildeo cientiacutefica pedagoacutegica e poliacutetica

Haacute geoacutegrafos que defendem e testemunham a AGB como a grande formadora de um pensamento independente e engajado na sociedade brasileira que natildeo era admitida anteri-ormente no niacutevel da graduaccedilatildeo Muitos dirigentes soacutecios e soacutecios estudantes optaram pelo caminho poliacutetico da AGB uma parte apenas para a oportunidade formativa profissional ali oferecida entretanto satildeo inuacutemeros os nomes de geoacutegrafos renomados que foram dirigentes da AGB e depois exerceram outras atividades na universidade como chefes de departamentos coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo e de vaacuterios niacuteveis de poacutes-graduaccedilatildeo

Guardadas algumas ressalvas a AGB eacute o acircmbito em que todo encaminhamento de for-maccedilatildeo cientiacutefica teve eco na poliacutetica nacional jaacute que os debates no niacutevel das coordenaccedilotildees de poacutes-graduaccedilatildeo soacute se fortaleceram da metade da deacutecada de 1990 e daiacute comeccedilaram a ser menos influenciadas pela discussatildeo interna da AGB Nesse momento histoacuterico surgiram outros cri-teacuterios de avaliaccedilatildeo que natildeo eram unacircnimes alguns contraacuterios aos propoacutesitos da AGB alguns por soacute apreciarem a produccedilatildeo cientiacutefica formal e numeacuterica De um modo geral natildeo se pode dizer hoje que AGB aponta caminhos para a produccedilatildeo cientiacutefica de geografia em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

O surgimento de um foacuterum constituiacutedo pela Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilotildees e Pes-quisa em Geografia (ANPEGE) passou a ser o ambiente que responde pelo que estaacute ocorrendo e propoacutesitos cobrados dos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Brasil Embora a AN-PEGE abrigue tambeacutem muitos isso natildeo permite dizer que a AGB tem hoje o mesmo papel

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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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55 Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXIEm pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico eacute sempre arriscado trabalhar com as previsotildees

dos avanccedilos Natildeo se pode falar do futuro sem se cair no mundo da imaginaccedilatildeo e da crenccedila As tendecircncias podem apenas abrir frestas em janelas mas natildeo mostrar tudo que se aproxima

Os fatos que natildeo escaparatildeo de nenhum pesquisador eacute o uso da tecnologia que avanccedila no campo do mapeamento geneacutetico e sua manipulaccedilatildeo da quiacutemica inteligente da nanotecno-logia das redes virtuais em todos os sentidos e dinacircmicas da computaccedilatildeo quacircntica e talvez a imbricaccedilatildeo de todos esses conjuntos de agrupados tecnoloacutegicos embutidos em artefatos produtos e ateacute novas formas de vida artificializada

A Geografia eacute uma ciecircncia do espaccedilo e toda essa dimensatildeo tecnoloacutegica que ora parece ameaccediladora ora libertadora seraacute a forccedila motriz da transformaccedilatildeo uso e abandono de espaccedilos de paiacuteses e de parcelas da sociedade Nisso nada haacute de diferente mas da mesma forma que se pode avaliar a transformaccedilatildeo do espaccedilo como uma fatalidade de expropriaccedilatildeo contiacutenua e acelerada do empobrecimento da maior parte da populaccedilatildeo mundial eacute impossiacutevel afirmar que a sociedade se manteraacute como espectadora de acontecimentos tatildeo radicais

Natildeo sabemos que desafios deveratildeo surgir mas a fome e alimentaccedilatildeo inadequada falta de acesso aos recursos naturais de qualidade desemprego estrutural e conjuntural perda de di-reitos e conquistas sociais conflitos eacutetnicos religiosos e destruiccedilatildeo por crises econocircmicas por exemplo estaratildeo em pauta em todas as frentes que a Geografia atuar nas proacuteximas deacutecadas Entretanto natildeo haacute qualquer certeza sobre o agravamento mudanccedila ou desaparecimento de problemas que hoje satildeo tatildeo vigorosos

A geopoliacutetica os modelos econocircmicos a evoluccedilatildeo dos eixos de mercado e poder estatildeo sendo transformados e paiacuteses liacutederes nos uacuteltimos trecircs seacuteculos estatildeo dividindo sua preponderacircncia de forma muito acelerada A matriz energeacutetica que sustentou o seacuteculo XX estaacute sendo question-ada substituiacuteda ou consorciada por outras matrizes Accedilotildees globais estatildeo sendo tomadas para conter processos de destruiccedilatildeo ambiental e seus impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia recursos hiacutedricos e dos bens comuns naturais

Delongar nas variaacuteveis natildeo iraacute servir a muita coisa O correto parece eacute assumir uma posiccedilatildeo responsaacutevel sobre a oacutebvia esgotabilidade da natureza e da sociedade diante da forccedila da vida humana e da natureza em moldes que natildeo comprometam os limites das virtualidades espaci-ais Habilitar a sociedade em bases poliacuteticas teacutecnicas cientiacuteficas e informacionais resguardada pelos valores democraacuteticos eacute o desafio central das vaacuterias ciecircncias e natildeo seraacute diferente para Geografia

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Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

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isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

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isciplina 01

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo I bull Disciplina 01

ficha sumaacuterio bibliografia

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5

Referecircncias

bull ALTHUSSER Louis Ideologia e aparelhos ideoloacutegicos de Estado notas para investiga-ccedilatildeo In ZIZEK Slavoj (Org) Um mapa da ideologia Rio de Janeiro Contra Ponto 1996

bull BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais geo-grafia Brasiacutelia MECSEF 1998 156 p Disponiacutevel em lthttp portal mec gov br sebarquivospdfgeografiapdfgt Acesso em 15 jun 2011

bull CAPEL Horaacutecio Filosofia y ciencia en la geografiacutea contemporaacutenea Barcelona Barcano-va 1991

bull CARDOSO Luciene P Carris Novos horizontes para o saber geograacutefico a sociedade de geografia do Rio de Janeiro (1883-1909) Revista da SBHC Rio de Janeiro v 3 n 1 p 80-96 janjun 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwsbhcorgbr pdfs revistas_anterio-res20051artigos_6pdfgt Acesso em 22 jun 2010

bull DANTAS Aldo Pierre Monbeig um marco da Geografia brasileira Porto Alegre Suli-na 2005

bull ETGES Virgiacutenia Elisabeta A paisagem agraacuteria na obra de Leo Waibel Geographia Rio de Janeiro v 2 n 4 p 27-47 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwuffbr geographiaojsin-dexphpgeographiaarticledownload4038gt Acesso em 25 jun 2010

bull GAETA Antonio Carlos A cidade europeacuteia na Satildeo Paulo de Pierre Monbeig Mor-pheus Revista Eletrocircnica em Ciecircncias Humanas [online] v 6 n 10 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwuniriobrmorpheusonlinenumero10-2007antoniogaeta htmgt Acesso em 30 jun 2010

bull HARTSHORNE Richard O conceito de geografia como ciecircncia do espaccedilo de Kant e Humlboldt para Hetnner Caderno Prudentino de Geografia Presidente Prudente n 28 2006

bull LACOSTE Yves Eacuteliseacutee Reclus une tregraves large conception de la geacuteographiciteacute et une bienveillante Heacuterodote revue geacuteopolitique geacuteographie et de geacuteopolitique Paris n 117 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwherodoteorgspipphparticle149gt Acesso em 22 jun

Referencias

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo I bull Disciplina 01

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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2010

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

2

4

3

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

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4

3

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo I bull Disciplina 01

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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4

3

5

2010

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Gecircnese da geografia moderna Satildeo Paulo Hucitec 1989

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Geografia pequena histoacuteria criacutetica Satildeo Paulo Huci-tec 1995 138p

bull MORAES Antocircnio Carlos Robert Ratzel Satildeo Paulo Aacutetica 1990

bull SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1996

bull SANTOS Milton Por uma geografia nova Satildeo Paulo Hucitec 1980

bull SCHEIBLING Jacques Qursquoest-ce que la Geacuteographie Paris Hachette 1994

bull SODREacute Nelson Werneck Introduccedilatildeo agrave geografia geografia e ideologia Petroacutepolis Vo-zes 1987

bull SPOSITO Eliseu Saveacuterio Geografia e filosofia contribuiccedilatildeo para o ensino do pensa-mento geograacutefico Satildeo Paulo EdUNESP 2004 218p

bull VLACH Vacircnia R F Ideologia do nacionalismo patrioacutetico In OLIVEIRA Ariovaldo U (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Contexto 1994

bull VLACH Vacircnia R F A propoacutesito do ensino de geografia em questatildeo o nacionalismo pa-trioacutetico Dissertaccedilatildeo (Mestrado)-Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

2

4

3

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

2

4

3

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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Autoria

Eliseu Saveacuterio Sposito

Antonio Elisio Garcia Sobreira

Ficha da Disciplina

Caminhos do Pensamento Geograacutefico

Ficha da disciplina

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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Resumo

A disciplina estaacute dividida em cinco itens Na introduccedilatildeo trabalha-se a histoacuteria da Geografia com a exposiccedilatildeo dos principais conceitos de seu conteuacutedo cientiacutefico No primeiro item haacute uma volta agrave Antiguidade e agrave Idade Meacutedia para se demonstrar como o conhecimento geograacutefico foi sendo produzido pelos gregos e pelos aacuterabes salientando-se o papel das grandes navegaccedilotildees e a expansatildeo do horizonte geograacutefico a partir da Europa A gecircnese da Geografia moderna eacute o tema do terceiro item por meio da relaccedilatildeo entre sociedade e ciecircncia Em seguida a institucio-nalizaccedilatildeo dessa ciecircncia eacute enfocada pela formaccedilatildeo dos Estados nacionais pelo surgimento das universidades e das sociedades reais de Geografia aleacutem do colonialismo europeu principal-mente nas Ameacutericas destacando-se as biografias de importantes geoacutegrafos Neste item haacute a confrontaccedilatildeo entre as principais caracteriacutesticas das escolas geograacuteficas alematilde francesa e anglo-saxocircnica O texto se encerra com a interpretaccedilatildeo da institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil destacando-se o papel das associaccedilotildees cientiacuteficas e dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo nos niacuteveis de mestrado e doutorado propondo uma reflexatildeo sobre o futuro dessa ciecircncia

Palavras chave

Pensamento geograacutefico histoacuteria da Geografia ciecircncia moderna geoacutegrafos Geografia no Brasil

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CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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TEMASficha sumaacuterio bibliografia

1

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3

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 01

5

CAMINHOS DO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

TEMAS Toacutepicos

TEMA 1 ndash O legado da Geografia Introduccedilatildeo

TEMA 2 ndash A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia

21 - Antiguidade e Idade Meacutedia

22 - As grandes navegaccedilotildees

TEMA 3 ndash A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

31 - Ciecircncia e sociedade

32 - Gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna

TEMA 4 ndash Institucionalizaccedilatildeo da Geografia

41 - Iniacutecio de conversa

42 - Geografia escolar

43 - Surgimento das universidades sociedades reais de Geografia e colonialismo

44 - Os referenciais das escolas claacutessicas do pensamento geograacutefico

45 - O pensamento geograacutefico alematildeo (Humboldt Ritter Ratzel Hettner Richthoffen)

46 - O pensamento geograacutefico francecircs

47 - As abordagens de inspiraccedilatildeo anglo-americanas

TEMA 5 ndash A institucionalizaccedilatildeo da Geografia no Brasil

51 - Introduccedilatildeo

52 - As rupturas epistemoloacutegicas

53 - Como estaacute a Geografia Brasileira hoje

54 - O papel da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo

55 - Perspectivas e desafios para o seacuteculo XXI

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
  • Referecircncias
  • Resumo
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UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 O legado da Geografia
  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
  • 3 A gecircnese da Geografia e da Ciecircncia Moderna
  • 4 Institucionalizaccedilatildeo da Geografia
  • 5 A institucionalizaccedilatildeo da
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Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

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  • 2 A formaccedilatildeo do conhecimento geograacutefico na Antiguidade e na Idade Meacutedia
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                                        7. Paacutegina 26
                                        8. Paacutegina 27
                                        9. Paacutegina 28
                                        10. Paacutegina 29
                                        11. Paacutegina 30
                                        12. Paacutegina 31
                                        13. Paacutegina 32
                                        14. Paacutegina 33
                                        15. Paacutegina 34
                                        16. Paacutegina 35
                                        17. Paacutegina 36
                                        18. Paacutegina 37
                                        19. Paacutegina 38
                                        20. Paacutegina 39
                                        21. Paacutegina 40
                                        22. Paacutegina 41
                                        23. Paacutegina 42
                                        24. Paacutegina 43
                                        25. Paacutegina 44
                                        26. Paacutegina 45
                                        27. Paacutegina 46
                                        28. Paacutegina 47
                                          1. Botatildeo 63
                                            1. Paacutegina 20 Off
                                            2. Paacutegina 21
                                            3. Paacutegina 22
                                            4. Paacutegina 23
                                            5. Paacutegina 24
                                            6. Paacutegina 25
                                            7. Paacutegina 26
                                            8. Paacutegina 27
                                            9. Paacutegina 28
                                            10. Paacutegina 29
                                            11. Paacutegina 30
                                            12. Paacutegina 31
                                            13. Paacutegina 32
                                            14. Paacutegina 33
                                            15. Paacutegina 34
                                            16. Paacutegina 35
                                            17. Paacutegina 36
                                            18. Paacutegina 37
                                            19. Paacutegina 38
                                            20. Paacutegina 39
                                            21. Paacutegina 40
                                            22. Paacutegina 41
                                            23. Paacutegina 42
                                            24. Paacutegina 43
                                            25. Paacutegina 44
                                            26. Paacutegina 45
                                            27. Paacutegina 46
                                            28. Paacutegina 47
                                              1. Botatildeo 60
                                                1. Paacutegina 48 Off
                                                2. Paacutegina 49
                                                  1. Botatildeo 61
                                                    1. Paacutegina 48 Off
                                                    2. Paacutegina 49
                                                      1. Botatildeo 54
                                                        1. Paacutegina 50 Off
                                                        2. Paacutegina 51
                                                        3. Paacutegina 52
                                                          1. Botatildeo 55
                                                            1. Paacutegina 50 Off
                                                            2. Paacutegina 51
                                                            3. Paacutegina 52
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 4