13
Custou-me caro o desejo, Que muito caro ela o vendeu. Pagar por tal preço um beijo! Assim não os quero eu. Este mais do que o primeiro, Me deixou fraca impressão; Quis provar ainda um terceiro, Para não jurar em vão.

Custou

Embed Size (px)

DESCRIPTION

poema

Citation preview

Page 1: Custou

Custou-me caro o desejo,

Que muito caro ela o

vendeu.

Pagar por tal preço um

beijo!

Assim não os quero eu.

Este mais do que o

primeiro,

Me deixou fraca

impressão;

Quis provar ainda um

terceiro,

Para não jurar em vão.

Mas não quis fruta

Page 2: Custou

roubada,

Que mal com ela me dei;

Uma dama delicadaOfereceu-ma... eu aceitei.

Ai que boa fruta era!

Page 3: Custou

Estava mesmo a cobiçar.

Passar a vida

quisera,

Tal fruta a saborear.

Mas no meio da colheita...

Da fruta o dono apareceu;

Zelosos olhos me deita:Se zelava o que era seu!

Vendo o caso mal

seguro

Eu logo ali lhe jurei

Restituir até com

juro

A fruta que lhe tirei.

E acaso não

Page 4: Custou

discordasse,

Não me parecia malQue a ele os juros pagasse,

Page 5: Custou

E à senhora... o capital,

Esta sensata

proposta

Em fúrias o

arrebatou,

E, por única

resposta,

Pra luta se

preparou...

Oiço ainda gabar os

beijos,

Dizer deles muito

bem,

Mas findaram-me os

Page 6: Custou

desejos,

Já sei o sabor que

têm.

1859.

Nota do Autor. — Desde já afirmo que não fui eu o

protagonista da história.

Ainda não tive uma indigestão deste gênero de fruta, e nem

sei, para falar

francamente, se mesmo quando a tivesse, a ficaria

abominando para sempre.

O caso, enquanto a mim, não foi de natureza que

justificasse semelhante

aversão; mas enfim há suscetibilidades tais...

Não afirmamos, contudo, que a dieta tenha sido

escrupulosamente observada.

Nesta espécie de fruta, parece-me que, ao contrário do que

Page 7: Custou

se diz para as

outras, é a qualidade e não a quantidade que faz o mal.

Page 8: Custou

SEGUNDA PARTEA J. . .

Acredita que os anjos também sofrem

Nesta mansão de dores,

E não olhes o mundo lacrimosa,

Quando o vires despido de fulgores.

Mal sabe, a rosa, ao vicejar lasciva

Em plena Primavera,

Page 9: Custou

Que é passageira a quadra; que após ela

Se despovoa o prado e a morte a espera.

O terreno que pisas nesta vida

Oculta um precipício

O caminho, onde ao fim vemos a glória,Quantas vezes termina no suplício!Eu já vi, sobre um túmulo isolado,

Um grupo de crianças

Dando as mãos, e travando em chão de morte,

Com risos infantis, alegres danças.

Vi-as também sorrindo descuidadas,

Se piedoso viandante

Parava pensativo e, murmurando,

Uma humilde oração, passava adiante.

Page 10: Custou

Assim também sorris, se melancólico

Eu penso no futuro,

Quando uma sombra vem turbar-me a cara.

Com elas, ris do meu rosto escuro.

Mas olha, vais saber a história tristeDesses três inocentes,

Que sobre as cinzas frias de uma campa

Se entregavam a jogos complacentes.

À noite a mãe, beijando-os, estranhou-lhes

Das faces a brancura;

E um presságio sentiu; ao alvor do dia

Levava-os todos os três à sepultura.

É que os ares do túmulo dão morte

Em afago homicida;

Page 11: Custou

Nesse ar infecto em que se extingue a chama,

Também arqueja e expira a luz da vida.

Teme pois também tu, cândida virgem,

O ar que aqui respiras;E não perguntes mais ao viandanteQue pensamentos de amargor lhe inspiras.

Nota do Autor. — Esta poesia foi enviada ao redator da Grinalda, João

Marques Nogueira Lima, assinada com o pseudónimo Júlio Dinis, em 9 de

Março de 1861 e publicada no 3.° número daquele jornal. No dia 18 de

Março, à noite, o Passos elogiou-a, sem saber quem ara o autor.

Page 12: Custou

Mal as regiões do

oriente

A luz da manhã

tingia,

Já ao cristalino

espelho

A linda noiva

sorria,

E a alva flor da

laranjeira

Ao véu de neve

prendia.

A noite passara à

vela

E que noiva a

(NO ÁLBUM DA EXMA. SRA. D. ISABEL M. FIGUEIREDO DE CARVALHO)

Page 13: Custou

dormiria?

E ao desmaiar das

estrelas,

Alvoroçada se

erguia.

E a alva flor da laranjeiraAo véu de neve prendia.