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neuza-teixeira
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poema
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Custou-me caro o desejo,
Que muito caro ela o
vendeu.
Pagar por tal preço um
beijo!
Assim não os quero eu.
Este mais do que o
primeiro,
Me deixou fraca
impressão;
Quis provar ainda um
terceiro,
Para não jurar em vão.
Mas não quis fruta
roubada,
Que mal com ela me dei;
Uma dama delicadaOfereceu-ma... eu aceitei.
Ai que boa fruta era!
Estava mesmo a cobiçar.
Passar a vida
quisera,
Tal fruta a saborear.
Mas no meio da colheita...
Da fruta o dono apareceu;
Zelosos olhos me deita:Se zelava o que era seu!
Vendo o caso mal
seguro
Eu logo ali lhe jurei
Restituir até com
juro
A fruta que lhe tirei.
E acaso não
discordasse,
Não me parecia malQue a ele os juros pagasse,
E à senhora... o capital,
Esta sensata
proposta
Em fúrias o
arrebatou,
E, por única
resposta,
Pra luta se
preparou...
Oiço ainda gabar os
beijos,
Dizer deles muito
bem,
Mas findaram-me os
desejos,
Já sei o sabor que
têm.
1859.
Nota do Autor. — Desde já afirmo que não fui eu o
protagonista da história.
Ainda não tive uma indigestão deste gênero de fruta, e nem
sei, para falar
francamente, se mesmo quando a tivesse, a ficaria
abominando para sempre.
O caso, enquanto a mim, não foi de natureza que
justificasse semelhante
aversão; mas enfim há suscetibilidades tais...
Não afirmamos, contudo, que a dieta tenha sido
escrupulosamente observada.
Nesta espécie de fruta, parece-me que, ao contrário do que
se diz para as
outras, é a qualidade e não a quantidade que faz o mal.
SEGUNDA PARTEA J. . .
Acredita que os anjos também sofrem
Nesta mansão de dores,
E não olhes o mundo lacrimosa,
Quando o vires despido de fulgores.
Mal sabe, a rosa, ao vicejar lasciva
Em plena Primavera,
Que é passageira a quadra; que após ela
Se despovoa o prado e a morte a espera.
O terreno que pisas nesta vida
Oculta um precipício
O caminho, onde ao fim vemos a glória,Quantas vezes termina no suplício!Eu já vi, sobre um túmulo isolado,
Um grupo de crianças
Dando as mãos, e travando em chão de morte,
Com risos infantis, alegres danças.
Vi-as também sorrindo descuidadas,
Se piedoso viandante
Parava pensativo e, murmurando,
Uma humilde oração, passava adiante.
Assim também sorris, se melancólico
Eu penso no futuro,
Quando uma sombra vem turbar-me a cara.
Com elas, ris do meu rosto escuro.
Mas olha, vais saber a história tristeDesses três inocentes,
Que sobre as cinzas frias de uma campa
Se entregavam a jogos complacentes.
À noite a mãe, beijando-os, estranhou-lhes
Das faces a brancura;
E um presságio sentiu; ao alvor do dia
Levava-os todos os três à sepultura.
É que os ares do túmulo dão morte
Em afago homicida;
Nesse ar infecto em que se extingue a chama,
Também arqueja e expira a luz da vida.
Teme pois também tu, cândida virgem,
O ar que aqui respiras;E não perguntes mais ao viandanteQue pensamentos de amargor lhe inspiras.
Nota do Autor. — Esta poesia foi enviada ao redator da Grinalda, João
Marques Nogueira Lima, assinada com o pseudónimo Júlio Dinis, em 9 de
Março de 1861 e publicada no 3.° número daquele jornal. No dia 18 de
Março, à noite, o Passos elogiou-a, sem saber quem ara o autor.
Mal as regiões do
oriente
A luz da manhã
tingia,
Já ao cristalino
espelho
A linda noiva
sorria,
E a alva flor da
laranjeira
Ao véu de neve
prendia.
A noite passara à
vela
E que noiva a
(NO ÁLBUM DA EXMA. SRA. D. ISABEL M. FIGUEIREDO DE CARVALHO)
dormiria?
E ao desmaiar das
estrelas,
Alvoroçada se
erguia.
E a alva flor da laranjeiraAo véu de neve prendia.