Upload
david-figueiredo
View
146
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Teoria CVR
O principal pilar de sustentao desta estrutura terica o nvel de actividade da
empresa expresso tanto em unidades monetrias quanto em unidades fsicas que
designaremos por volume.
Com efeito, poderemos imaginar que a empresa funciona consumindo recursos, isto ,
suportando custos, (C) e espera obter, com esses recursos, resultados (R) e, entretanto,
consegue isso laborando a um certo nvel dentro da capacidade de produo instalada,
volume (V). A figura seguinte representa este processo.
Esta teoria tem como objectivo explicar a evoluo da rentabilidade da empresa pelas
alteraes dos nveis de actividade. De acordo com a teoria e como veremos mais
adiante importa encontrar, para valer como uma referncia central, um nvel de
actividade ou volume de vendas para o qual a empresa no tem nem lucros nem
prejuzos.
nivel
actividade
CVR
Volume
2
Com efeito, como que tentar responder pergunta, Quanto preciso vender para
no ter prejuzo?
Para vender temos que produzir, pelo que, sempre que nos refiramos a vendas, estamos
tambm a referir produo e, concomitantemente, ao volume ou nvel de actividade,
porque um dos pressupostos da teoria que abordaremos mais abaixo, implica que a
produo seja igual s vendas.
Mas, se considerssemos a variabilidade das condies de funcionamento da empresa,
com contingncias internas e externas, com a variao frequente de preos de mercado
etc., claro que a teoria no poderia responder.
De facto a teoria exige condies restritivas para produzir informao til para a gesto
de uma empresa, o que s por si faz diminuir o interesse nessa informao. Isto , pode
ser interessante saber que a partir de um certo nvel de produo a empresa est em
condies de gerar lucros, porm no o far se no conseguir vender a sua produo.
Todavia, a teoria vlida e capaz de gerar informao necessria, tendo esta que ser lida
e interpretada como o resultado de um modelo sujeito a parmetros ou pressupostos.
Isto permite-nos ento afirmar, por exemplo, para responder pergunta feita, que a
partir de x de volume, nas condies fixadas, a empresa gera lucro.
Os pressupostos da teoria so:
1 Os custos devero ser classificados em fixos e variveis:
a) Os variveis dependem em proporo directa do nvel de actividade; b) Os fixos mantm-se para nveis de actividade entre zero e a instalada.
2 Os custos fixos mais os custos variveis representaro os custos totais da empresa
3 Estabilidade do preo de venda unitrio
4 Toda a produo vendida (no h formao de stocks)
3
Destes pressupostos decorrem j duas consequncias que estaro obviamente presentes
em todas as hipteses formuladas:
a) O custo fixo unitrio varivel e move-se no sentido inverso ao do volume de
produo, isto , na medida em que o volume aumenta aquele obviamente diminui.
b) O custo varivel unitariamente fixo.
Break even point
Esta expresso anglo-saxnica traduzida por ponto crtico das vendas. Na realidade,
esse o ponto onde os custos igualam os proveitos, por isso, o ponto de resultado
nulo. H igualdade entre a componente custos e a componente ganhos, even
point. Esse tambm o ponto onde se quebra a evoluo do prejuzo e se entra na zona
do lucro.
Propomos abordar progressivamente, em modo grfico, as variveis inerentes ao
modelo cada uma per se at montagem final e interpretao do grfico que
representa aquele ponto.
a) Custos fixos e custos variveis
Os custos fixos correspondem capacidade de produo instalada e por essa razo
no dependem dos nveis de utilizao da mesma. So custos que simplesmente
existem a partir do momento em que o projecto (empresa) concluiu as suas
instalaes. Podemos encontrar, nestes custos, componentes no fsicos, para tanto,
suponhamos que o processo de fabrico implicou a aquisio de propriedade
industrial.
Os custos variveis, que so unitariamente fixos, como j dissemos, dependem
directamente do volume.
Para que obtenhamos os custos totais basta que somemos os custos fixos aos custos
variveis
4
Representaremos, ento, os custos fixos totais (CF) por uma recta horizontal que
acompanha o volume de produo, mas no aumenta nem diminui e
representaremos os custos variveis totais (CV) por uma recta com alguma
inclinao positiva que enquanto acompanha a evoluo do volume vai aumentando.
A recta dos custos totais (K) tem origem no montante dos CF e ser, naturalmente,
paralela aos CV.
Obteremos o seguinte grfico:
b) Vendas
O preo de venda dever conter uma parcela que corresponda ao custo fixo unitrio,
uma outra que corresponda ao custo varivel unitrio (cv) e outra que corresponda
ao lucro pretendido. Se a parcela do lucro pretendido fosse igual a zero a curva (aqui
representada por uma recta) das vendas coincidiria com a curva dos custos totais se
porventura pudssemos definir preos de venda em funo do custo fixo unitrio.
Podemos tambm afirmar que se os custos fixos fossem nulos, a empresa obteria
lucros desde que o preo de venda fosse superior ao cv.
Custos
C u s t o s
Quantidades
K
CV
CF
5
Ento, para se alcanar um resultado positivo a partir de um dado nvel de produo
compreendido nos limites possveis {zero, capacidade mxima}, a curva das vendas
dever ter uma inclinao superior inclinao da curva dos CV.
c) Ponto Critico das Vendas (PC)
Traando agora, no grfico da figura x, a curva das vendas encontraremos
graficamente o ponto crtico das vendas pois este corresponde ao ponto de
interseco da curva das vendas com a curva dos custos totais. Este ponto separa a
zona de prejuzo da zona de lucros.
Qc corresponde quantidade de produo (volume) na qual a empresa no tem nem
lucros nem prejuzos e a partir da qual passar a ter lucros. Portanto esta a resposta
para a pergunta feita atrs, quanto preciso vender para no ter prejuzo
Frequentemente, confunde-se o PC com a teoria do CVR porque a obteno desta
resposta parece confundir-se com o objectivo da teoria, mas, na realidade, o break even
point um instrumento utilizado pela teoria e a principal utilidade da mesma comea a
partir deste ponto.
Break even point
C u s t o s
Quantidades
K
CV
CF
Vendas
Prejuzo
Lucro
Qc
6
Deduo analtica do (PC)
O resultado dado por vendas menos o custo total das mesmas R = V K (1)
Vendas so iguais s quantidades vezes preo de venda V = Q x Pv (2)
Os custos totais so iguais aos custos fixos totais mais os custos variveis totais
K = CF + CV (3)
O custo varivel total igual a quantidades vezes custo varivel unitrio
CV = Q x Cv (4)
No ponto crtico, o resultado zero R = 0 (5)
Ento; 0 = Qc x Pv - (CF + Qc x Cv) CF = Qc x Pv - Qc x Cv Qc = CF/(Pv-Cv) (6)
Deste modo deduzimos a frmula de clculo do PC em quantidades, o qual se obtm
dividindo-se os CF pela margem bruta unitria. Para se encontrar o PC em volume, isto
, referido a unidades monetrias (Vc) basta que se multiplique ambos os membros da
equao (6) pelo pv.
Como, por definio, a margem unitria de contribuio a diferena entre o preo de
venda e o custo varivel, podemos substituir a equao (7) por esta:
Vc = CF/MC% (8)
Clculo da margem de contribuio
Por unidade Total
valor % * valor % *
Vendas pv 1 V 1
(-) Custo Varivel cv cv/pv CV CV/V
(=) Margem de Contribuio mc mc/pv MC MC/V
* Como se compreende estas colunas apresentaro valores iguais
Vc = CF/(1-cv/pv) (7)
7
Margem de segurana (MS)
Esta margem exprime a distncia alcanada pelo nvel de actividade relativamente ao
ponto crtico e um indicar de risco, cuja interpretao ser: se baixa, a empresa situa-
se prxima da zona de prejuzos; se elevada, a empresa est distante daquela zona e
portanto corre menores riscos face a variaes tanto endgenas com exgenas, por
exemplo uma diminuio do preo de venda.
Este, como muitos outros indicadores se forem expressos em valores absolutos, podero
ter pouca utilidade por no conterem em si a dimenso da realidade a que se referem.
Portanto, em geral, tornam-se mais teis se estiverem expressos em percentagem. pois
desta maneira que se compreende este indicador. Segue-se a sua explicao, atravs de
uma abordagem grfica:
Quantidades
K
CF
Vendas
Qv Qc
Prejuzo
Lucro
Margem de segurana CV
V
Vc
Margem de Segurana
8
A margem de segurana tem a seguinte expresso analtica MS = (V - Vc) / V (9)
Ou MS = 1- Vc / V (10)
Se substituirmos Vc em (10) pelo segundo membro da equao (8) e se substituirmos MC% por MC/V, teremos:
MS = 1 CF/MC (11)
Observando a equao (9), percebemos que a base de referncia, isto , a grandeza com
a qual a margem absoluta (V - Vc) foi comparada corresponde s vendas de facto, mas
tambm se pode utilizar as vendas correspondentes ao ponto crtico, Vc. Assim, teramos:
MSc = (V - Vc) / Vc (12)
Utilizando as formulas (10) e (12), poderemos estabelecer as seguintes relaes:
V = (1 + MSc) x Vc (13)
Vc = V/(1 + MSc) (14)
V = Vc/(1 MS) (15)
Vc = (1-MS) x V (16)
Por outro lado, se atribuirmos 1 varivel V ou a Vc dependendo da base de comparao usada poderemos obter uma frmula de equivalncia das margens.
Procuramos agora uma frmula que d ao CVR uma dinmica e nos permita estimar resultados
operacionais (RO) a partir de diferentes volumes de vendas. Para tal, convm termos presente o
modelo de demonstrao de resultados operacionais que se apresenta a seguir:
MS = 1 1/(1+MSc)
(17) ou MS = MSc/(1+MSc)
e MSc = 1/(1-MS) - 1
(18) ou MSc = MS/(1-MS)
9
Vendas V
(-) Custo Varivel CV
(=) Margem MC
(-) Custos Fixos CF
(=) Resultados Operacionais RO
Como facilmente se depreende do quadro anterior RO = V CV - CF (19)
e como (V CV) = MC MC CF = RO (20)
e MC = V x MC/V V x MC/V CF = RO (21)
e MC/V = MC% V x MC% - CF = RO (22)
Se se dividir os membros desta equao por MC%, aps algumas manipulaes tem-se
(VCF/MC%) x MC%=RO (23)
com base na equao (8), obteremos (V Vc) x MC% = RO (24)
Anlise do Risco
O risco das empresas tem vrias causas e naturalmente que tem uma forte componente externa e
cada empresa luz desta teoria encerra um risco inerente sua estrutura de custos. Percebe-se
intuitivamente que uma empresa com maiores custos fixos do que outra s atinge o seu ponto de
equilbrio com um volume de vendas superior.
Suponhamos ento que duas empresas do mesmo ramo e a produzirem o mesmo produto e por
hiptese com idnticas condies quer de custos variveis quer de preos de venda e com
dimenses muito prximas, mas que por terem processos de fabrico ligeiramente diferentes tm
custos fixos diferentes. Calculemos, ento, o ponto crtico de cada uma delas
10
Para tanto, dispe-se da seguinte informao:
Empresa A Empresa B
Preo de venda 10 10
Custo varivel unitrio 6 6
Custos fixos 1 000 1 200
Percebemos que para se obter um resultado igual as empresas tm esforos de vendas diferentes,
isto , a empresa B tem que vender mais 500 unidades.
Entretanto uma outra questo se pode colocar o que aconteceria se ambas estivessem expostas
ao risco de quebra nas vendas de 10%.
Empresa A Empresa B
CF 1 000 1 200
MC% 40% 40%
Vc 2 500 3 000
Para um resultado igual de: 200 200
As vendas devero ser: 3 000 3 500
Empresa A Empresa B
Novo volume de vendas 2 700 3 150
Novo resultado 80 60
11
As variaes verificadas em cada empresa foram:
Empresa A Empresa B
Vendas 3 000 3 500
2 700 -10 % 3 150 -10 %
Resultados Operacionais 200 200
80 -60 % 60 -70 %
A empresa B com uma exposio ao risco idntica (diminuio de 10% na varivel vendas)
sofreu uma diminuio maior nos seus resultados do que a empresa A.
A incerteza relativamente ao resultado operacional (risco do negcio) tem vrias origens (j
dissemos atrs que o risco das empresas tem mltiplas causas) e verificamos que uma dessas
causas inerente sua prpria estrutura de custos. Vimos, a este propsito, como a variao na
procura se repercutiu nos resultados das empresas A e B. Note-se que a alterao de outras
variveis como o custo dos factores ou mesmo o preo de venda implicaria a definio de um
outro problema, devido alterao dos pressupostos referidos no quadro X.
O suporte bsico para a anlise do risco que aqui usmos e vamos continuar a usar a
demonstrao de resultados. Com base nela vamos quantificar a volatilidade dos resultados
operacionais introduzindo o conceito de grau de alavanca operacional (GAO) e utilizaremos e
mesma metodologia para medir o risco financeiro, atravs do grau de alavanca financeiro
(GAF).
GAO das empresas A e B:
Empresa A Empresa B
CF 3 000 3 500
MC% (40) 1 200 1 400
RO 200 200
GAO: 6 7
12
A sua frmula de clculo bastante simples (MC/RO), mas vamos explic-la:
O que realmente se pretende com este indicador saber o que vai acontecer ao RO se a procura
diminuir ou aumentar. Para tal, vamos tentar saber quanto uma variao percentual na primeira,
induz de variao percentual na segunda. Vamos, portanto, relacionar duas variaes,
comparando a variao induzida com a variao que a causou, %RO/%Q.
Pela definio (%RO/%Q), GAO GAO=(RO/RO)/( Q/Q) (25)
a variao de RO em funo das quantidades RO = Q(pv vc) (26)
substituindo em (25) RO (26), vem GAO=(Q(pv vc)/RO)/(Q/Q) (27)
simplificando (27), vem GAO=Q(pv vc)/RO (28)
Q vezes (pvvc), margem unitria a MC, ento, cpd GAO= MC/RO (29)
Relao entre GAO e MS
Observando-se a equao (11), verifica-se que o seu inverso igual ao GAO, tal como
demonstramos a seguir:
A equao (11) transforma-se em MS = (MC-CF)/MC (30)
MC-CF=RO, ento MS = RO/MC (31)
Assim, cpd 1/MS = GAO (32)
GAF das empresas A e B:
Retomamos a demonstrao de resultados das empresas A e B e acrescentamos duas
linhas para os encargos fixos de financiamento e para resultados correntes
13
Vendas V
(-) Custo Varivel CV
(=) Margem MC
(-) Custos Fixos CF
(=) Resultados Operacionais RO
(-) Encargos Fixos de Financiamento E
(=) Resultados Correntes RC
Da mesma forma que relacionmos MC com RO, relacionamos agora RO com RC e obteremos o GAF.
Ponto Critico Financeiro (PCF)
Por analogia com o conceito de ponto crtico das vendas (onde o resultado zero),
define-se o conceito de ponto crtico financeiro onde os meios financeiros libertos so
zero.
Empresa A Empresa B
CF 3 000 3 500
MC% (40) 1 200 1 400
RO 200 200
RC 125 200
GAO 6 7
GAF 1,6 1
GAC 9,6 7
14
Para tal, subtramos as amortizaes ao numerador da equao (8). Neste ponto, so
nulos os meios financeiros gerados e o prejuzo da empresa igual ao montante das
amortizaes.
PCF = (CF-Amortizaes)/MC% (33)
Grau de Alavanca Combinado (GAC) das empresas A e B
O GAC mede a sensibilidade dos resultados correntes variao da margem que por si
depende da variao de quantidade das vendas. No havendo resultados extraordinrios
e mantendo-se a taxa do imposto sobre os rendimentos, podemos dizer que este
indicador traduz a variao dos resultados lquidos relativamente variao percentual
das vendas (supondo que esta no resulta de uma variao de preo mas sim de
quantidade).
GACc = GAO x GAF (34)
Como GACc = MC/RO x RO/RC, vem GACc = MC/RC (35)
Para o nosso exemplo das empresa A e B se ocorrer uma variao nas vendas de + 5%,
o respectivo resultado lquido ser acrescido de 48% e de 35%, respectivamente.
[Domingos Custdio Cristvo]