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Da alegre infância os folguedos; Hoje não sei que segredos O coração me prediz. Enfadam-me as alegrias Desses tempos infantis. Às horas do fim do dia, Quando o Sol no mar declina E d'áurea luz ilumina Todo o horizonte ao redor, Porque me sinto enleada Num indizível langor? De manhã, quando nas selvas O dia desperta as aves, E mil aromas suaves Sobem dos campos ao céu, Porque sinto ante meus olhos Estender-se húmido véu? E esta imagem resplendente, Que sorrir-me em sonhos vejo, Ai, tão bela que desejo Sempre mais tempo sonhar! Quem é que em tão mago enleio Me faz, sem querer, sonhar? Este ansiar incessante, Esta esperança ainda tão 'vaga De gozos, que a mente alaga, Mal lhe sabendo o valor, Este ignoto sentimento... Deus do Céu, será o amor?

Da Alegre Infância Os Folguedos

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Page 1: Da Alegre Infância Os Folguedos

Da alegre infância os folguedos;

Hoje não sei que segredos

O coração me prediz.

Enfadam-me as alegrias

Desses tempos infantis.

Às horas do fim do dia,

Quando o Sol no mar declina

E d'áurea luz ilumina

Todo o horizonte ao redor,

Porque me sinto enleada

Num indizível langor?

De manhã, quando nas selvas

O dia desperta as aves,

E mil aromas suaves

Sobem dos campos ao céu,

Porque sinto ante meus olhos

Estender-se húmido véu?

E esta imagem resplendente,

Que sorrir-me em sonhos vejo,

Ai, tão bela que desejo

Sempre mais tempo sonhar!

Quem é que em tão mago enleio

Me faz, sem querer, sonhar?

Este ansiar incessante,

Esta esperança ainda tão 'vaga

De gozos, que a mente alaga,

Mal lhe sabendo o valor,

Este ignoto sentimento...

Deus do Céu, será o amor?

Amor! que palavra é esta,

Que ela só me sobressalta

Page 2: Da Alegre Infância Os Folguedos

E mil sensações exalta

Desconhecidas para mim...

Que poder mágico encerra

Para me agitar assim?

É o amor o sentimento

Que me faz arfar o seio?

Este gozo porque anseio

E a que aspira o coração?

É pois amor este fogo,

Esta vaga inquietação?