Da Classe Do Lula à Classe Do Lulismo

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    Da classe do Lula classe do lulismo:emergncias, conexes e os transbordamentos dopetismo

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    Somos parte uma tradio dos oprimidos, dos subalternos, das classes trabalhadoras. Somos uma

    esquerda que se reivindica socialista e democrtica. Somos parte do petismo, a mais forte e bela

    experincia de auto-organizao em massa dos trabalhadores brasileiros, uma cultura poltica de

    direitos e liberdades que transborda as estruturas partidrias e que segue viva e potente mesmo com

    todos os descaminhos que marcam o !".

    #ueremos defender aqui o $petismo% enquanto cultura poltica, organizadora de uma rede de

    associa&es, coletivos, ativistas, expresso, agir coletivo. 'ultura poltica que produz e ( produzida

    pelos valores, corpos, dese)os das classes subalternas brasileiras, instrumento da proliferao de

    lugares de resistncia. *sso ( o petismo. #ue segue firme, vivo, transborda as institui&es

    partidrias. #ue no tem dono, no pertence + ningu(m. #ue ( feito no dia a dia, no cotidiano do

    fazer da vida, nos valores de solidariedade, )ustia, auto-organizao, combate +s opress&es. petismo vive e ( o grande produtor de encontros dos oprimidos e suas resistncias na histria da

    poltica brasileira das fbricas + universidade, das lutas no campo ao direito + cidade, das

    liberdades da organizao sindical +s liberdades do corpo e da sexualidade. petismo ( o mais

    potente conector poltico das classes subalternas brasileiras at( ho)e.

    / ( inegvel, por parte de qualquer petista, que existe um desencontro, um descompasso, entre essa

    energia que o petismo produz e as institui&es e estruturas que gerem e representam o petismo.

    0ireo partidria, governos, parlamentares, estruturas sindicais, em suma, todas esses importantes

    espaos organizativos parecem no se alimentar mais do petismo, aparentam no conseguir mais

    extrair foras dessa energia que o nosso maior organismo coletivo. /sto ocos.

    1presentamos esse texto e nossas propostas ao 2 'ongresso do !" a partir de um desabafo, um

    sentimento no aguentamos mais. lhamos para o partido e o que vemos so algumas das piores

    prticas do poder entre ns. $3so e abusos do dinheiro mas disputas internas% nas palavras do

    companheiro !atrus 1nanias. 1lianas com os piores setores da poltica em diversas cidades e

    estados, com participao em governos $aliados% cu)a prtica ( exatamente igual a dos tucanos que

    combatemos. /m outubro de 4567 o governador 'abral 8ilho, no 9io de :aneiro, fez com os

    professores em greve a mesma violncia que o ;eto 9icha protagonizou no !aran. / o !" estadual

    seguiu no governo. / pasmem, a aliana com o !*, di demais no petismo saber que o !" contribuiu

    para a produo dos piores indicadores sociais desse pas, que o !" participou - contra a vontade do

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    petismo - de um governo que produziu mis(ria e sofrimento ao nosso povo. So dois estados

    smbolos da trag(dia partidria, ponto maximo de afastamento entre !" e petismo, por(m tais

    situa&es se repetem em outras cidades e experincais de governo em maior ou menor grau.

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    uma esquerda que se apega ao aparato estatal, que apenas administra o capitalismo, que ( capturada

    pelo modo de $governar os pobres% e no pelo ob)etivo de acabar definitivamente com as

    desigualdades.

    C graas a essa concepo de democracia que fazemos um balano positivo do !" enquanto criaocoletiva das classes trabalhadoras brasileiras. 8omos capazes de fazer avanar a democracia no

    ;rasil nos dois fundamentos que importam. 1s contradi&es e impasses no apagam essa vitria.

    *sso tamb(m no anula que nesse 67F ano de governo petista a democracia brasileira este)a

    ameaada como no ocorria desde os anos 6GG5. 'ongresso mais conservador desde 6GHI avana

    na aprovao da terceirizao que destri os direitos trabalhistas, avana na reduo da maioridade

    penal, institucionalizando a violncia como poltica p@blica para a )uventude brasileira,

    aprofundando os mecanismos estatais e sociais que promovem o genocdio da )uventude negra.

    0iante desse ataque, as esquerdas e a cidadania ativa brasileira apresentam uma valorosa

    resistncia, recompondo seus laos, produzindo frentes de luta, etc. 'ontudo, entendemos que h

    nesse movimento um limite do nosso prprio campo. 8azemos as resistncias ho)e da mesma forma

    que fizemos nos anos 6GG5, na luta contra o neoliberalismo, como se o ;rasil e o mundo em nada

    tivessem mudado. !or(m, mudaram. capitalismo enquanto sistema mundo adquiriu e aprofundou

    novas dinDmicas scio-polticas. 1 sociedade brasileira se transformou como parte desse processo.

    C fundamental que reconheamos isso, ( urgente uma atualizao das concep&es e prticas do

    socialismo democrtico. petismo precisa ser definitivamente afetado por :unho.

    1s esquerdas e a cidadania brasileira esto, portanto, diante de um desafio poltico estrat(gico

    decisivo e especfico do nosso tempo e espao. "rata-se de reconhecer que temos ho)e duas

    experincias de luta e produo poltica desde as classes trabalhadoras que se desenvolvem em

    paralelo na nossa sociedade. 0e um lado, as classes trabalhadoras que se constituram no final da

    0itadura

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    reconhecimento dessa dinDmica diferenciada de experincias de luta e de formas de sociabilidade

    ( crucial para evitar que a distino se cristalize em uma ciso. 1o contrrio, defendemos que (

    possvel produzir encontros, articula&es, frentes entre essas duas fra&es das classes trabalhadoras,

    produzindo um novo bloco histrico cu)a tarefa ser impulsionar a democracia brasileira a novospatamares, com mais liberdades e mais direitos, menos mercado e menos violncia.

    *dentificamos, portanto, uma crise nas esquerdas brasileiras, inserida em contextos mais amplos e

    gerais. ?o contexto sul-americano, na medida em que processos anlogos tamb(m afloram em

    outros pases da regio aps o sucesso inicial das experincias progressistas. ?o contexto mundial

    de crise e defensiva da esquerda aps a falncia e conseqLente esfacelamento do bloco de pases

    socialistas, capitaneado pela 39SS, e conseqLente instituio da hegemonia neoliberal atrav(s deum capitalismo globalizado.

    s impasses e dilemas que vivemos e que se apresentaram na apertada vitria eleitoral em 456I e

    na crise poltica que atingiu o governo e o !" nesse inicio de 456M tem profunda relao com essa

    dificuldade de reconhecer e legitimar essas novas experincias de classe que no se inserem

    imediatamente no campo $petista%, como ficou posto na reao das esquerdas do nosso campo +

    irrupo de )unho de 4567. fato ( que a formao do novo bloco histrico no ocorrer somente

    reafirmando o que ) foi conquistado. C preciso organizar o novo para for)ar e consolidar essa

    aliana. Sem um novo programa, uma nova narrativa e novas prticas ( impensvel supor que as

    novas redes, articula&es, formas de fazer poltica, que as novas classes trabalhadoras e a )uventude

    iro eternamente aderir ao !" apenas porque o neoliberalismo tucano ( pior. C preciso mais,

    podemos mais.

    1 - Crise das esquerdas sul-americanas

    C importante reconhecer essa dimenso de crise na medida em que 1rgentina, ;rasil e 2enezuela

    vivem impasses decisivos em suas experincias progressistas. *sso no ( algo menor uma vez que

    estamos falando das trs principais economias da regio e que formaram o eixo central do processo

    de integrao regional nesse s(culo >>*.

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    e as organiza&es que os trabalhadores construram com suas lutas, tal como ocorreu no ps-6GHI.

    ?osso arcabouo constitucional permanece de p(, slido, e o mesmo vale para nossa estrutura

    econEmica - no vivemos nada que se assemelhe a uma crise econEmica que desorganiza o tecido

    social Adesabastecimento, falncias e desemprego em massa, etcB.

    /m outras palavras, com exceo da improvvel hiptese $impeachment% Aque se configuraria em

    um golpe institucional cu)as consequncias seriam imprevisveisB, em qualquer quadro futuro

    teremos um partido com fora eleitoral significativa Ao !"B e uma central sindical slida Aa '3"B

    mesmo que venham a ser instrumentos em crise. *sso sem falar na permanncia em atividade de

    movimentos sociais tais como a 3?/, o

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    sobre nossos dilemas, desafios, potencialidades, caminhos. >, e que envolve, necessariamente, uma

    exigncia de renovao dos olhares, categorias, posicionamento, composio, etc.

    1 narrativa que impulsionou a maioria da esquerda brasileira desde pelo menos os anos 6GJ5 no

    faz mais sentido do ponto de vista estrat(gico. /la est em crise diante de um capitalismo que segue

    hegemEnico, est em crise na medida em que sua id(ia-fora desenvolvimentista na economia

    enfrenta dificuldade estruturais decisivas, e est em crise ainda porque novssimos atores entram emcena a partir das mudanas na estrutura de classes que os governos petistas produziram, e o fazem

    sem se referenciar a priori nessa narrativa e e no con)unto dos seus pressupostos.

    2 A nova estrutura de classes brasileira

    ?o debate sobre a emergncia de uma nova classe trabalhadora brasileira ( preciso derrotar duas

    vis&es. !or um lado, o empreendimento das foras do mercado em favor da narrativa da $nova

    classe m(dia%. ?esse caso, a ascenso social seria fruto do m(rito individual somado ao dinamismo

    mercantil que garante oportunidades para todos crescerem, embora nem todos aproveitem.

    consumo aqui ( o paradigma de ascenso social.

    0o outro lado, as diversas resistncias da esquerda em admitir que existe uma nova classe

    trabalhadora na sociedade brasileira, fundamentalmente porque isso implica em assumir que as

    institui&es que a classe trabalhadora dos anos 6GR5 e 6GJ5 produziu no processo de

    redemocratizao esto no mnimo desatualizadas, devendo ento passar por mudanas que mexem

    com os interesses das burocracias consolidadas nos @ltimos 75 anos.

    /sse segundo combate deve ser travado por dentro do nosso campo. ?a verdade, os elementos que

    sustentam nossa afirmao sobre a existncia de uma nova classe trabalhadora ) esto

    consolidados. ponto ( enfrentar a postura conservadora que existe em parte do !", parte da '3",

    e provavelmente se repete, em maior ou menor grau, nas demais organiza&es da esquerda A!' do

    ;, !SK, 'onsulta, etcB e que consiste em negar valor +s formas de fazer poltica que surgem desde

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    as experincias de vida dessa nova classe, formas essas que esto ainda em elaborao e por isso

    mesmo tm dinDmicas diferenciadas, ac@mulos e temporalidades prprias e que so mais difceis de

    serem enquadradas e normatizadas.

    'omo se caracteriza essa nova classe trabalhadoraN "rata-se de uma imensa parcela detrabalhadores cu)o contato com o mercado de trabalho era sempre precrio e formal, resultando em

    uma precria Amuitas vezes inexistenteB dinDmica de direitos. Se estamos falando de )ovens, esses

    novos trabalhadores e trabalhadoras so os primeiros de suas famlias a conseguir um emprego

    formal com carteira assinada ou a ter xito em montar um pequeno negcio prprio formalizado, a

    acessar o ensino superior, a via)ar de avio, comprar carro novo, e at( mesmo ter casa prpria

    legalizada. #uando no so )ovens, so trabalhadores que na maior parte da vida viveram na

    precaridade laboral e de renda, muito deles na pobreza extrema, e que finalmente conquistaram adignidade da carteira assinada.

    C muito importante demarcar a diversidade social dessa nova classe trabalhadora. 1s formas de

    ascenso em uma sociedade dinDmica como ( o ;rasil do s(culo >>* so muitas. 1cesso a carteira

    assinada em trabalhos de baixa remunerao e alta rotatividade Agarons, porteiros, balconistas,

    empresas de limpeza, telemarQetingB montagem de pequenos negcios familiares Acabelereiros,

    lanchonetes, etcB ingresso no funcionalismo p@blico via a multiplicao de vagas de ensino

    fundamental e m(dio Abancos p@blicos, empresas p@blicas, universidades, polcia, funcionrios da

    )ustiaB acesso ao diploma universitrios em algumas carreiras massivas Aadvogados,

    administradores, licenciatura em geralB com remunerao e estabilidade m(dia ou mesmo em

    carreiras tais como medicina, engenharia, com remunerao e estabilidade mais alta.

    utra caracterstica decisiva ( que essa nova classe trabalhadora for)a suas concep&es de vida e seu

    modo de compreender o mundo em uma temporalidade ps-fordista. 1 velocidade ( acelerada vis a

    vis as dinDmicas de sociabilidade do s(culo >>. O tamb(m uma nova noo de espao. 0istDncias

    so mais facilmente percorridas, ainda que de modo virtual. 1lis, nessa nova sub)etividade a

    prpria noo de virtual e concreto se altera. s )ovens possuem domnio de novas tecnologias que

    no param de se desenvolver, e que fazem parte do processo de produo de novas sub)etividades.

    3m elemento fundamental e que a esquerda no tem tido coragem de enfrentar ( o fato de que essa

    nova classe trabalhadora no encontra no trabalho, na maior parte das vezes, sua maior fonte de

    produo de identidade e identificao. /ssas novas identidades polticas e coletivas vem sendo

    elaboradas muito mais a partir da relao com a cidade.

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    marcas territoriais da desigualdade que segregam e tornam a vida muito mais difcil violncia

    policial cotidiana, dificuldade de ter acesso +s creches, hospitais e etc.

    1s experincias que marcam a conscincia de classe dessa nova classe trabalhadora tamb(m so

    m@ltiplas.

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    sua relao ambgua com o /stado e com o mercado, fruto das suas experincias de vida imersas na

    tensa teia de processos de regulao estatal e de afirmao mercadolgica.

    /stado ( visto como o responsvel pelos servios ruins , o que revela tamb(m que existe uma

    conscincia mais ou menos consolidada sobre a necessidade do p@blico regular o privado, o que nospermite abrir um debate sobre os limites ao lucro. O ainda uma re)eio generalizada das grandes

    empresas, conforme indicam todas as pesquisas de $defesa do consumidor%, o que tamb(m indica

    um saber sobre o papel do privado e do lucro desmedido nos problemas cotidianos. O, por fim, um

    consenso consolidado sobre serem a sa@de e educao direitos fundamentais pelos quais vale a pena

    lutar, e uma dinDmica nova, incipiente, de organizao dos problemas da cidade Atransporte,

    moradia, lazerB a partir do conceito de direito + cidade.

    !ara finalizar, sobretudo para a )uventude, h todo um novo entendimento cognitivo sobre o mundo.

    ?ovas fomas de associao. rganizao em rede, horizontalidade. ?ovas temporalidades, novas

    velocidades. ?ovas formas de fazer cultura. 9e)eio da escola e demais organiza&es tradicionais.

    *nteratividade como elemento decisivo das formas de agir. *r e vir de informa&es, produo

    descentralizada de saberes, valores. 3ma nova concepo de representao poltica que exige um

    maior peso para o momento da $auto-representao% e um menor para o momento da delegao de

    poderes.

    1qui a re)eio + poltica possui uma dimenso distinta, qual se)a, so amplas parcelas de )ovens

    que no viveram diretamente a estrutura de classes anterior, que no experimentaram o

    autoritarismo, a redemocratizao e possuem vaga lembrana do neoliberalismo. !or isso,

    encontramos em menor grau o medo de retorno aquela condio de pobreza e precariedade. 1

    narrativa da polarizao com o neoliberalismo faz menos sentido imediato para essa )uventude,

    embora no se possa concluir que ela ( menos resistente +s posi&es neoliberais.

    1 Tclasse do KulaT. !or classe trabalhadora tradicional entendemos o bloco histrico que

    protagonizou a redemocratizao nos anos 6GJ5 e que impulsionou a crescente mobilizao e

    polarizao social dos anos 6GM5 e 6GH5.

    /sse bloco histrico tem dois eixos fundamentais. operariado fabril em geral, e a classe m(dia

    urbana progressista Ao funcionalismo p@blico clssico, os profissionais liberais que sempre

    existiram na sociedade brasileira -)ornalistas, m(dicos, professores, advogadosB. 1 esses dois eixos

    se somavam, com diferentes graus de enga)amento e organizao, os camponeses organizados e os

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    trabalhadores servios que surgiram com a urbanizao brasileira desde os anos 6GM5.

    1 $classe do Kula% tamb(m era diversa na sua composio, como podemos ver na multiplicidade

    que compEs o !". 8ora a classe m(dia progressista que tem na famlia um caminho pavimentado

    para as profiss&es liberais e para o /stado, a maioria do trabalhadores dessa classe trabalhadoratradicional era composta de migrantes - sobretudo dos estados do ?ordeste, sendo os primeiros de

    suas famlias a acessar o mercado de trabalho. 1 maioria estava su)eita a baixa renda e baixa

    estabilidade nos servios, enquanto uma parcela $privilegiada% se tornou operariado fabril. 3m

    menor n@mero conseguiu romper as barreiras simblicas e culturais, ingressando no funcionalismo

    p@blico e nas profiss&es liberais.

    "alvez o que no exista para as classes trabalhadoras tradicionais em comparao com as novasclasses trabalhadoras se)a a dinDmica dos pequenos negcios familiares formalizados. "amb(m

    podemos intuir que o medo de ser pobre era muito maior, pois a presena da mis(ria extrema era

    mais evidente, cotidiana, era mais vivida. / embora a necessidade de diferenciao das classes

    m(dias e trabalhadoras com relao aos pobres fossem igualmente forte, isso no se configurava em

    identidades do tipo $novo rico%. C provvel que essa categoria tenha surgido nos anos 6GG5, no

    primeiro surto de crescimento econEmico do plano real.

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    /m geral no h nessa classe trabalhadora tradicional ambiguidade vis a vis o /stado. Seu

    comportamento poltico era marcado pela negao explicita das institui&es da ditadura, mas que

    no se convertia em negao da necessidade de constituir uma nova institucionalidade. s

    sindicatos possuem peso decisivo nisso. 1pesar da represso, ao longo do regime militar foram

    mantidos na sua essncia, graas + estrutura sindical. fato dos militares terem nomeadointerventores s reforou uma relao de negaoPreconquista que depois seria reproduzida diante o

    /stado. s sindicatos pertencem aos trabalhadores, ( preciso tirar os pelegos de l e fazer com que

    eles retornem aos trabalhadores. mesmo se deu com o /stado. "odo o poder emana do povo. C

    preciso tirar os usurpadores de l. C preciso tamb(m construir mecanismos que impeam novas

    usurpa&es. s temas da participao e controle cidado - que se tornarem estrategicamente centrais

    para o programa petista - respondem fundamentalmente a essa problemtica.

    Suas formas de organizao se remetem a esse ambiente poltico. 1 relao entre horizontalidade e

    direo parece relativamente bem desenvolvida momento sntese, vertical, dirigente, ( necessrio,

    mas deve se submeter a soberania do todo, do coletivo. partido, as elei&es, o voto so

    instrumentos valorizados. /xemplo anterior ao !" 2itrias eleitorais do

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    deixara de ser um corpo monoltico, incorporando demandas e sub)etividades tpicas da esquerda.

    /sses elementos repercutem fortemente nas formas de organizao da classe trabalhadora. 3m bom

    exemplo a multiplicao de revistas e )ornais da imprensa alternativa nos anos 6GR5, todos eles

    organizados por um ou mais grupos polticos Aa maioria compostos por )ovensB, a maioria

    reivindicando uma identidade de classe trabalhadora, valorizando o operariado fabril, o pro)etosocialista, etc.

    !or fim, essas classes trabalhadoras tradicionais esto vivenciando o crescimento catico e brutal

    das cidades por(m sem comparao com o quadro urbano existente ho)e. 1s formas de

    sociabilidade comunitria Acu)a forma mais dinDmica pode ser encontrada na sociabilidade rural que

    marca a maioria dos migrantesB seguem fortes nas cidades dos anos 6GM5 at( 6GJ5, sendo quebradas

    pelo neoliberalismo e o imp(rio dos valores individuais. !ara ilustra esse modo de vida comunitriotemos os mutir&es para construir casas prprias. mesmo vale para a violncia. /la existia, por(m

    era incipiente. / muitas vezes identificada com o /stado Agrupos de extermnio, 9"1B, o que

    reforava a negao das institui&es existentes e a necessidade de se construir novas institui&es.

    3 - A conjuntura atual diante do Junho Disruptivo

    1firmamos que as esquerdas vivem ho)e uma dinDmica de m@ltiplas crises. 0isperso e isolamento

    na maior parte do mundo, ausncia de um pro)eto alternativo que faa frente ao capitalismo

    con)untural e regional, com algumas das experincias progressistas da 1m(rica do Sul passando por

    impasses e limites importantes e enfim, crise brasileira, diante das novas dinDmicas de classe que a

    prpria esquerda brasileira produziu ao conquistar o governo federal, reativar a economia e

    organizarPampliar direitos. /ssas m@ltiplas crises a)udam a entender a atual con)untura poltica

    polarizada, com exacerbao dos conflitos sociais brasileiros.

    0o ponto de vista da economia essa crise se manifesta enquanto xito e crise do

    desenvolvimentismo. : vencemos o debate relativo ao $carter neoliberal% ou $social-liberal% da

    poltica econEmica do governo Kula. 0esde 455M Aqueda do !alocciB, momento da primeira virada

    desenvolvimentista e depois de 455J Aenfrentamento da crise internacionalB tais interpreta&es

    resultaram em isolamento e gueto e no do conta de explicar as dinDmicas de mobilidade e

    ascenso social produzidas na @ltima d(cada.

    O, por(m, uma dimenso nova, qual se)a, os impasses decorrentes da paralisia desse processo de

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    mobilidade. 'onsumo e renda das famlias apresentam queda pela primeira vez em dez anos. 1

    poltica econEmica do governo 0ilma foi virtuosa em resistir aos efeitos da crise econEmica

    internacional evitando o aumento do desemprego no ;rasil. 'ontudo, o dramtico retorno do l(xico

    do $a)uste fiscal% estabelecem os limites atuais da imaginao desenvolvimentista. 1 ofensiva

    contra os )uros e os bancos foi derrotada. s vultuosos estmulos que o /stado direcionou ao setorprivado no resultaram no esperado investimento por parte de empresrios.

    /m suma, a clssica estrat(gia desenvolvimentista dos anos 6GH5, embora atualizada, teria

    fracassado pelo mesmo motivo no s(culo >>* e no s(culo >> a burguesia industrial, fusionada

    com o setor financeiro e completamente imersa na dinDmica capitalista transnacional, no cumpre

    $sua funo histrica%, se)a porque no tem interesse no desenvolvimento nacional, se)a porque a

    continuidade da crise econEmica internacional no permitiu.

    /sse fracasso exige uma nova poltica econEmicaN u trata-se apenas de $segurar a onda% por um

    dois anos via a)uste fiscal para depois soltar novamente a economia via consumo de modo a garantir

    um novo ciclo eleitoralN 'omo, nesse processo, minimizar os custos das classes trabalhadoras,

    cobrando dos mais ricos sua contribuio no a)usteN "axao das grandes fortunas, das heranas,

    dos bens de consumo de luxo Abarcos, iates, )ets sQis, lanchas, helicpterosBN Sonegao como

    crime hediondoN

    fato ( que essas respostas precisam ser produzidas em um processo novssimo de polarizao da

    poltica brasileira. "al diviso em dois campos polticos claramente definidos no ocorria desde os

    anos 6GH5. 1 ditadura militar acabou com a polarizao naquele momento exterminando Apoltica e

    literalmenteB um dos lados. : o ocaso da ditadura se fez em grande consenso. ?o havia quem

    defendesse a manuteno do regime militar nos anos 6GJ5. /ra s uma questo de como fazer a

    transio. 1 hegemonia neoliberal que se impEs + transio no anulou de todo as conquistas da

    constituio de 6GJJ, de onde o !" e o campo democrtico popular buscaram foras para resistir

    nos difceis anos 6GG5, quando tamb(m no houve polarizao. /, por fim, a primeira d(cada de !"

    na presidncia tamb(m foi dotada de forte legitimidade social. !or mais forte que tenha sido a

    oposio conservadora em nenhum momento ela foi capaz de polarizar a sociedade. resultado

    apertado da nossa quarta vitria eleitoral ( o melhor exemplo dessa polarizao.

    3ma situao poltica polarizada equivale a um quadro de conflitos poltico-sociais exacerbados.

    ?esse caso, alguns consensos e pactos democrticos perdem a validade, precisam ser refeitos em

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    novas bases. /xistem duas formas de superar a polarizao. 3ma ( a partir das prprias dinDmicas

    democrticas existentes. 1 outra ( interditando a um dos lados o Tfazer polticaT, que se materializa

    na hiptese do impeachment. 1s dinDmicas democrticas existentes podem produzir diversos

    resultados. 1 direita no aderiu ao golpismo como um todo. Se organiza em vrias frentes.

    retorno do a)uste neoliberal ( um deles. 1 desmoralizao da poltica tamb(m. 1 marcha doempresariado brasileiro, com apoio da maioria do congresso nacional, contra os direitos trabalhistas

    tamb(m ( parte dessa estrat(gia da direita para retomar a direo da sociedade brasileira pela via

    democrtica.

    0iante desse cenrio complexo as esquerdas, como ) falamos, vivem sua crise. 1 narrativa que

    organizou a interveno dos anos 6GG5 at( 4564 no faz mais sentido. :unho de 4567 atravessou

    essa construo produzindo algo novo, forando um trDnsito contnuo entre o mundo das esquerdastradicionais e o mundo das novas formas de fazer poltica.

    :unho disruptivo. :unho como batismo poltico das novas classes trabalhadoras. "odas as

    ambiguidades e novidades que ) identificamos ocuparam as ruas. 2alorizao dos direitos e

    negao da poltica lado a lado. 9econhecimento das conquistas sociais em paralelo ao orgulho

    individual do m(rito. ?ovas formas de associao em rede que no excluem a hegemonia da

    sociabilidade individualistaPegosta.

    C preciso afirmar que as )ornadas de )unho produziram um deslocamento positivo para a esquerda

    no que tange ao padro dos conflitos sociais brasileiros em trs dimens&es igualmente importantes.

    !rimeiro, seu valor em si, ao explicitar a existncia dos conflitos sociais e ao valorizar a capacidade

    de alterar o rumo da poltica pela mobilizao. ?em mesmo o fortalecimento da direita que parece

    enfim AreBdescobrir as ruas, como fizera nos anos 6GH5, anula essa primeira dimenso.

    Segundo, pelas conquistas ob)etivas que a esquerda conseguiu ps-)unho de 4567. programa

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    entender essa vitria como laboratrio do novo bloco histrico a ser construdo entre as classes

    trabalhadoras tradicionais e as novas classes trabalhadoras. ?isso reside a terceira dimenso, qual

    se)a, o reconhecimento de que o avano da hegemonia da esquerda passa necessariamente pela

    conexo das classes trabalhadoras tradicionais com as novas classes trabalhadoras em um bloco

    histrico de tipo novo.

    1s ruas produzem o encontro de vrias temporalidades. 1 temporalidade contemporDnea da

    velocidade, da virtualidade e da interatividade se depara com a temporalidade inercial das

    institui&es e da poltica. /stas esto em um estado de letargia que ($natural% em uma situao de

    polarizao, quando nenhuma fora social ( capaz de ser hegemEnica. Se relaciona tamb(m com a

    temporalidade das institui&es das classes trabalhadoras tradicionais, que querem vencer a in(rcia

    das institui&es com suas formula&es clssicas Ao que tamb(m ( $natural%B.

    1s esquerdas dese)am acelerar o tempo sem contudo alter-lo como dese)am e vivem as novas

    gera&es e parte das novas classes trabalhadoras.

    !or isso dizemos que, diante do impasse e polarizao, a esquerda tem se proposto apenas a

    organizar o seu campo, ou se)a, manter seus fundamentos e sua narrativa de p(, buscando adapt-la

    a nova con)untura de modo a conquistar os novos setores das classes trabalhadoras. 1 proposta

    ma)oritria no !" Ama)oritria no sentido de envolver a maioria das correntes, campos, teses,

    agrupamentosB ho)e ( de formao de um bloco histrico entre classes trabalhadoras tradicionais e

    novas classes trabalhadoras que se realize pela incorporao dessas @ltimas na narrativa e

    institui&es das primeiras, sem altera&es de fundo em suas formas de produo da poltica.

    / nossa constatao diante desse cenrio ( que as possibilidades de sucesso so limitadas. C pouco

    crvel imaginar que grande parte dessa )uventude v aderir ao mesmo programa poltico das classes

    trabalhadoras tradicionais Areformas agrrias, urbana, tributria, das comunica&es e polticaB e

    simplesmente aceitar compor um !" renovado, ou uma '3" revitalizada.

    4 Redes e ruas produzindo o novo bloco histrico

    1 impressionante energia social produzida no 4F turno das elei&es presidenciais foi outro, e at(

    aqui mais importante, laboratrio desse novo bloco histrico. 0iferente do processo do

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    das esquerdas no segundo turno foi $espontDnea%, diversificada, com vrios eixos temticos,

    protagonizada por diferentes setores sociais. 1o mesmo tempo foi nacional e descentralizada, foi

    programtica e colaborativa. 'onseguiu em muito superar o mero elemento reativo Ano ao 1(cioB

    para organizar uma narrativa positiva em torno do reconhecimento dos avanos desde 4557 e

    necessidade urgente de romper com os impasses para avanar mais.

    quadro inicial do governo )ogou contra essa energia. minist(rio foi simbolicamente negativo

    diante da presena de figuras tais como Utia 1breu e Vilberto Uassab. retorno maldito do

    discurso fiscalista parece repor a agenda neoliberal derrotada no ;rasil desde 455M.

    !or(m, o mais paradoxal ( que as inciativas mais inovadoras da esquerda, aquelas que se mostram

    mais capazes de se conectar com a diversidade das novas classes trabalhadoras, tm origem)ustamente nas experincias que essa esquerda produz desde a administrao federal. 1 presena do

    companheiro

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    pergunta.

    /ssa resposta surgir de um processo poltico de encontros e aberturas entre as diferentes dinDmicas

    das classes trabalhadoras. !odemos e devemos contribuir com isso a partir de propostas e caminhos

    que fortaleam os laos entre o $velho% e o $novo%, buscando fortalecer as solidariedades, asexperincias comuns. "rata-se de uma luta para que a atual ciso cognitiva e sub)etiva no se

    cristalize em diviso definitiva e ob)etiva. !recisamos combater tanto a burocratizao do velho

    impermevel +s novidades que surgem por fora das institui&es tradicionais quanto o fetiche do

    novo que ignora os valores das experincias pregressas da esquerda.

    'onectar essas duas experincias das classes trabalhadoras ( possvel porque ambas ) esto )untas

    vivendo o caos urbano brasileiro. $?ovas% e $velhas% classes trabalhadoras sofrem com osproblemas das nossas metrpoles e seu crescimento desordenado. Kongos deslocamentos entre o

    lugar de moradia e de trabalho. 1usncia de espaos de lazer. 2iolncia urbana. 'arestia dos modos

    de vida nas cidades. ?isso reside o conte@do que dar liga ao novo bloco histrico.

    C possvel tamb(m porque as duas experincias de classe esto imersas em uma mesma cultura de

    direitos sa@de, educao, comunicao, ir e vir, direitos reprodutivos, enfim, trata-se de um

    ac@mulo coletivo que abrange as diferentes fra&es de classe.

    1 cidade (, portanto, o territrio das experincias de classe, das lutas de resistncia, e dos processos

    de produo poltica tanto das novas classes quanto das classes trabalhadoras tradicionais. 0esse

    terreno pode emergir um programa poltico que unifica essas experincias de classe. "arifa zero que

    permite aos )ovens circular pela cidade. 'iclovias que se encontram com os corredores de Enibus

    para permitir acelerar os tempos da mobilidade urbana, devolvendo +s pessoas qualidade de vida e

    tempo livre. !raas e parques abertos para que possamos produzir novas formas de aproveitar esse

    tempo livre, produzir uma cultura viva de liberdades e dese)os.

    *sso contudo no ( suficiente para produzir uma aliana poltica de fundo. /stamos falando de

    dinDmicas de classe distintas tamb(m nas sub)etividades, nas temporalidades, nos modos de vida e

    de sociabilidade. ?esse sentido, a forma importa, a forma ( tamb(m conte@do. encontro entre

    essas experincias que se processa no territrio urbano precisa ser horizontal, participativo,

    dinDmico, ousado. !recisamos em um primeiro momento abrir mo das nossas formas tradicionais

    de reuni&es fechadas e ocupar as praas e demais espaos p@blicos. !roduzir no somente textos e

    18

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    plataformas mas tamb(m vdeos e campanhas. /stimular no apenas a formao poltica mas

    tamb(m a troca e o aprendizado diante das novas cria&es do s(culo >>*.

    !recisamos abrir mo tamb(m da defesa intransigente da Tdemocracia que conquistamosT. !ara

    essas novas classes no basta saber que poderia ser pior. !recisamos nos abrir em um movimentoautocrtico para entender em que medida os impasses democrticos que vivemos ho)e W

    simbolizados pelo poder de /duardo 'unha ou pela cnica captura que a direita fez do discurso da

    (tica W so resultados de processos que ns, petistas, fomos protagonistas, desde que ganhamos a

    presidncia.

    "rata-se de entender que a 'onstituio de 6GJJ possui um duplo valor histrico e praxiolgico nas

    lutas dos subalternos ho)e. !ara as classes trabalhadoras que lutaram pela redemocratizao, a'onstituio 'idad ( a sntese de um caminhar poltico que se iniciou nos anos 6GR5, na

    resistncia Aem alguns casos com a prpria vidaB contra os militares, no trabalho de formiguinha

    contra a ditadura que explode em mobiliza&es a partir de 6GRJ, sob a liderana de Kula. !or isso

    termos conquistado a presidncia em 4554 ( algo to significativo.

    : para as novas classes trabalhadoras a 'arta

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    entorno da 1ssembl(ia Kegislativa em R pontos, de modo a evitar que o governo conseguisse

    mobilizar a sua bancada para votar. !or fim, o papel da )uventude na mobilizao foi decisivo, com

    cerca de M mil novos professores concursados incorporados + mobilizao antes mesmo do primeiro

    contato com a escola, muitos deles com participao nas )ornadas de )unho.

    s exemplos positivos dos encontros entre as diferentes dinDmicas de classe esto ai para nos

    animar.

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    Assinam este texto inicialmente, os petistas:

    1lana