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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
UNIDADE DIDÁTICA
ESCOLA; Colégio Estadual Rio Branco NÚCLEO; Curitiba NOME DO PROFESSOR PDE; Mara Sandra Lourenço E-MAIL: [email protected] ORIENTADOR; Flávio Marinho NÍVEL DE ENSINO; Ensino Médio TÍTULO; Arte e interatividade; Além do sentido da visão DISCIPLINA; Arte CONTEÙDOS ESTRUTURANTES; Composição/ Movimentos e períodos CONTEÚDO BÁSICO; Arte Contemporânea CONTEÚDO ESPECÍFICO; Neoconcretismo
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ARTE E INTERATIVIDADE:
ALÉM DO SENTIDO DA VISÃO
Tema de estudo: O uso de múltiplos sentidos na fruição de obras de arte contemporânea
Mara Sandra Lourenço
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Você já ouviu estas expressões?
“Veja com os olhos e não com as mãos”.
“Seus olhos estão nas
mãos?”
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Quantas vezes temos vontade de tocar as obras de arte para
sentir sua textura, perceber melhor seus detalhes e somos obrigados a
nos reprimir, pois as obras quase sempre são intocáveis.
Existe uma distância imensa que separa a obra do público.
Esta distância física cria uma barreira entre a arte e o público em
geral.
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/lo000001.jpg
Acessado em: 28/07/2010
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Considerando que a arte desenvolve a sensibilidade e as
sensações do indivíduo podemos perguntar se será possível explorar
os cinco sentidos através das obras de arte?
Você já ouviu falar em obras de arte nas quais podemos entrar,
mexer e até permanecer algum tempo dentro dela? Pois elas existem!
E o seu objetivo é fazer com que o público se aproxime da obra de arte
e participe dela, explorando outros sentidos além da visão.
A Arte Contemporânea
Para compreendermos a arte contemporânea é necessário
destacar que este período compreende as obras realizadas a partir da
segunda metade do séc XX até a atualidade. Os objetos artísticos são
frutos de um processo de constante transformação e avaliação, pois
refletem as profundas transformações sociais e a rápida troca de
informações, as quais colocam rapidamente os artistas em contato
com a produção global.
A complexidade do mundo contemporâneo refletido na arte faz
com que os artistas procurem refletir sobre as questões sociais e por
vezes ele se afasta das questões da contemplação, buscando uma
interação mais efetiva com o observador.
Características da Arte Contemporânea:
• Requer uma nova atitude do sujeito diante da imagem, entre elas
uma maior interatividade, que é uma diferente possibilidade em
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relação aos períodos anteriores, onde exigia do espectador à
mera contemplação.
• A Arte contemporânea abre um leque de possibilidades para o
uso de suportes e materiais variados, exigindo do ser humano a
capacidade de ver, perceber, modificar e refletir.
• A Arte contemporânea propõe a participação, convocando todo o
corpo para a uma experiência sensorial e sensível. O espectador
passa de mero receptor a interventor.
• A obra passa a existir com a interação do espectador.
• A escultura também sofreu mudanças ao longo do tempo,
chegando hoje a modalidades como as instalações, podendo
inclusive ser confundida com o próprio espaço da exposição.
• Através dos artistas modernos, podemos perceber essa
mudança, onde a escultura deixa de ser um monumento imóvel,
fixo em um pedestal passando aos poucos a relacionar-se com o
espaço circundante.
Fonte: Núcleo NC1, 1960. ( Direitos autorais cedido pela Instituição Hélio Oiticica).
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ATIVIDADES
Acesse o site http/www.itaucultural.org.br, clique em enciclopédia, depois do lado direito clicar em percursos educativos. Faça duas experiências: 1°- Clique em “Isto é Arte?”. brinque a vontade. As obras aparecem na medida em que você clica na pergunta. 2°- Após Percursos Educativos clicar em ARTES Visuais, em seguida Arte Efêmera, escolher Hélio Oiticica. È uma atividade divertida. Você vai gostar! Explore todas as possibilidades. Bom Trabalho.
Pensando em escultura:
As obras de arte atuais deixam os museus e ocupam espaços
alternativos o que nos faz pensar a questão da tridimensionalidade.
Para entender as obras atuais se faz necessário pensar a
questão do espaço e tempo e, também na relação que a obra
estabelece com este conjunto.
A escultura, normalmente deixada em segundo plano em
nossas salas de aula irá nos ajudar a trabalhar e compreender essa
questão da modernidade.
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A interatividade que a arte atual propõe está bastante ligada à
tridimensionalidade, ou seja, através da manipulação de diferentes
materiais e recursos dessa linguagem podemos proporcionar ao aluno
possibilidades infinitas na construção do seu trabalho e nas relações
com o espaço onde ele será inserido.
A peça escultórica exige a movimentação e o deslocamento
do corpo para a apreensão espacial da obra que está no espaço. O
espectador é convidado a ver espacialmente, circulando ao redor da
obra escultórica. O olho transita na escultura passando de um volume a
outro, obrigando o espectador a mover-se.
Na tela o artista aprisiona a visão nos limites da moldura da tela.
Na apreciação escultórica a peça permanece fixa, e é todo o corpo que
vai atrás dos olhos.
A arte contemporânea nos evoca a uma coreografia circundante
a um deslocamento envolvente em relação à obra participando dela,
entrando nela e se contagiando com a apreensão espacial das formas.
Pautando-se no período moderno fazendo um histórico dos
artistas e de suas obras essas mudanças ficam bem marcantes e nos
fornecem embasamento teórico para penetrar no universo da arte
contemporânea, vamos analisar as obras de alguns artistas:
1- Auguste Rodin (1840 – 1917)
2- Vladimir Tatlin (1885 – 1953)
3- Alexandre Calder (1898 – 1976)
4- Marcel Duchamp (1887 – 1968)
5- Max Bill (1980 – 1994)
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1- Auguste Rodin
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AUGUST_RODIN_O_beijo. Acessado em 01/08/2010
O Escultor Francês Auguste Rodin (1840 – 1917) nasceu na
França, foi um artista que influenciou toda a noção da escultura
moderna. É considerado um artista de transição conseguindo
provocar o interesse e a contestação, submete-nos a uma nova
concepção de escultura, ao mesmo tempo em que é criticado pelo uso
de materiais tradicionais. Sua obra mostra a contradição entre o
clássico e o moderno, pois usa ao mesmo tempo valores tradicionais
e inovadores, ou seja, oscila de uma concepção historicista e
monumental da escultura ao uso de formas tencionadas,
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fragmentadas e não acabadas. Ele é considerado o ápice e ao mesmo
tempo, o início do declínio da visão da escultura como monumento.
2- Vladimir Tatlin
Outro artista importante para a nossa reflexão é o Russo
Vladimir Tatlin (1885 – 1953). Mostra em suas obras uma
reorganização do espaço visto que na representação tradicional o
volume e a massa aparecem associados a um mesmo espaço.
Para FABRIS, (1997), “ Os métodos de construção da forma no
espaço real possibilitará pela 1° vez na história da escultura, a
separação consciente entre volume e massa”.
Segundo READ, (2003), Tatlin produziu um novo tipo de
escultura onde usava materiais diversos e até objetos prontos
combinando-os no espaço real sem intenção de criar uma
representação. A combinação desses materiais com suas qualidades
plásticas próprias foram os elementos plásticos usados pelo artista.
Ele também utilizou como plano de fundo o espaço expositivo como
um canto da sala, a obra ficava amarrado em arames entre as paredes
formando planos variados constituindo a construção espacial.
Com Tatlin a escultura não se localiza mais no centro do
espaço. Ela é projetada para a parede. O material fala de si, não fala
de nada externo a ele.
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Fonte:http://blog.captaconsult.com.br/2009/04/10. Acessado em 04/06/2010
3- Alexander Calder
Outro destaque interessante é o Americano Alexander Calder
(1898 – 1976). O artista explora o movimento na escultura, suas obras
possuem um equilíbrio delicado movimentado pelo vento que circula
no ambiente onde estão suspensos ou pelo toque de algum
observador, provocando o sentido de volume virtual.
Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Calder. Acessado em 29/07/2010
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FONTE:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alexander_Calder_-_La_Ciuda
4- Marcel Duchamp
Não podemos ignorar a contribuição de Marcel Duchamp (1887
– 1968), Francês, com a introdução dos Ready-made como objeto de
arte. O artista usava elementos da vida cotidiana, objetos corriqueiros
não reconhecidos como artístico, em suas esculturas, considerando-os
prontos, transferindo-os para os museus e resignificando-o como
objeto de arte. Duchamp pode ser considerado como um provocador e
também como um pensador. Com o seu gesto irreverente, determinou
o destino das artes plásticas até hoje.
No contexto da arte moderna, a invenção do ready-made foi um
dos acontecimentos mais significativos, mostrando uma ruptura com a
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tradição que reconhecia na técnica e na habilidade do artista a
condição de ser considerada uma obra de arte.
O artista passa a escolher e decidir o que é arte deixando de
ser o sujeito que faz a obra no ready-made o artista escolhe o objeto
produzido industrialmente e o propõe como objeto de arte, o artista
não constrói o objeto, escolhe-o e assina. Dessa maneira a arte
passou a ser uma forma de reflexão sobre a condição da arte na
sociedade, e também um questionamento sobre o funcionamento da
instituição arte, possibilitando um ponto de vista crítico frente à arte e
suas instituições.
Com Duchamp nasce a idéia de que uma obra só está completa
quando a ela se soma a interpretação do outro, ou seja, o espectador.
Estimulava em suas obras uma troca intelectual com o admirador de
suas peças, não se contentando em usar apenas a visão.
Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marcel_Duchamp.jpg. Acessado em
01/05/2010
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5- Max Bill
Max Bill, suíço (1980 – 1994) Foi uma figura de grande
importância para a arte no Brasil. O prêmio da Bienal de São Paulo de
1951 concedidas à peça de Bill Unidade Tripartida assinalava a
primeira vitória internacional da arte concreta chamando a atenção
para artista, cuja obra e idéias irão influir profundamente no curso da
arte Brasileira.
Max Bill - "Unidade Tripartida" - 1948/49 Aço inoxidável
Para Max Bill a arte abstrata se diferencia da Concreta na
medida em que o artista abstrai as formas da natureza não
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conseguindo romper com este processo abstratizante iniciado no
cubismo.
“Mas para bem se compreender a arte concreta, na basta falar de sua linguagem formulada, pois essa formulação se funda numa espécie de métodos, em que parece residir a característica fundamental dessa arte. Já o próprio Bill definiria a arte concreta como” a concreção de uma idéia. “Resta saber como se dá essa concreção e em que consiste essa idéia. Voltemos a Maldonado:” O processo criador da arte concreta inicia-se na imagem idéia e culmina na imagem objeto “. ( GULLAR, 1985 p. 214)”.
Teoricamente, não existia diferença entre arte abstrata e
concreta até 1936, quando Max Bill emprega a expressão arte
concreta em um de seus trabalhos, para indicar uma arte construída
objetivamente, e em estreita ligação com os novos problemas
matemáticos. Porém, só em 1951, com a criação de Escola Superior
da Forma, em Ulm, é que a nova denominação ganha força.
Com este fato a expressão concreta passou a designar um
movimento, uma tendência definida no campo das artes. Segundo
Tomás Maldonado, citado por GULLAR essa diferença entre a arte
abstrata e arte concreta, que no começo era apenas nominalista,
tende hoje a assumir outro significado. Cada dia – acreditamos –
tornar-se mais evidente que a arte abstrata difere da arte concreta,
que as duas expressões designam fatos artísticos essencialmente
diversos. Esse aspecto vai ser defendido por Gullar.
“Essa transformação, sem nenhuma dúvida, deve-se, sobretudo à contribuição criadora do qualificado grupo de artistas concretos suíços, Max Bill, Verena Loennsburger, que abriram novas perspectivas a uma definição da arte concreta sobre novas Bases”. (GULLAR, 1999 p. 213)
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ARTE CONCRETA E NEOCONCRETA
Com a I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo que
foi inaugurada em outubro de 1951 possibilitando aos artistas e
críticos brasileiros o conhecimento de obras abstratas ou concretas de
vários artistas que integram a representação da Suíça.
O grande prêmio de escultura do certame, concedido pelo Júri Internacional à “Unidade Tripartida de Bill”, assinalava a primeira grande vitória internacional da arte concreta numa exposição dessa natureza e chamava a atenção para este artista, cuja obra e cujas idéias iriam, a partir de então, influir profundamente no curso da arte brasileira. Por outro lado, este mesmo júri que premiou Bill concedeu o prêmio destinado à jovem pintura nacional ao pintor Ivan Serpa. (GULLAR, 1999, p. 232)
Podemos considerar a produção visual do concretismo brasileiro;
até certo ponto, pobre e pouco informativo devido ao dogmatismo e a
falta de lirismo e o apelo ao racionalismo tornam o trabalho concreto
pouco significativo.
O concretismo pretendia se infiltrar no centro da produção
industrial, e assim como os suíços desejavam remodelar o ambiente
social contemporâneo, lutavam a favor da superação do
subdesenvolvimento e atacavam o modelo tradicional de arte brasileiro.
Tratava-se de tornar a arte um fator objetivo socialmente, como algo
que pudesse modificar o ambiente em que se manifestava, através da
metafísica das cores e formas puras.
A arte concreta encontrou, no campo da escultura, ou da construção no espaço real, terreno mais propício para seu desenvolvimento o que na pintura, espaço bidimensional, onde se limitou, na maioria dos casos, à ilustração de problemas perceptivos. (GULLAR, 1999, p. 263).
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No movimento concretista brasileiro vários artistas agrupam-se
formando dois grupos: o grupo Frente, do Rio de Janeiro, e o Grupo
Ruptura, de São Paulo.
Waldemar Cordeiro lidera o grupo Ruptura, surgido por volta de
1951, reunindo artistas de São Paulo integrado pelo desenhista Lothar
Charoux, Geraldo de Barros, os pintores Luiz Sacilotto, Hermelindo
Fiaminghi, Mauricio Nogueira Lima e Judith Lauand, o escultor
Casemiro Frejer. Este grupo mantinha o dogmatismo do Concretismo
desenvolvido por Max Bill e pela escola de Ulm.
O grupo Frente do Rio de Janeiro forma-se em torno de Ivan
Serpa, unindo-se a ele, Aluísio Carvão, Carlos Val, Décio Vieira, João
José da Silva Costa, Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Hélio
Oiticica e Ferreira Gullar. Os cariocas eram livres de regras, tinham
grande autonomia em relação aos princípios da Arte concreta.
Em dezembro de 1956 e fevereiro de 1957,
respectivamente no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Ministério de Educação e Cultura, no Rio, realizou-se a I Exposição de Arte Concreta reunindo os concretos do Rio e de São Paulo. Essa exposição – que punha pela primeira vez em confronto duas tendências do concretismo brasileiro teve ampla repercussão e marcou o início de uma etapa nova das experiências concretas, obrigando os artistas cariocas a tomar uma posição mais definida em face das idéias veiculadas pelo grupo paulista. (GULLAR, 1999 p.234)
De acordo com Gullar esse confronto entre a duas tendências
do concretismo brasileiro, teve ampla repercussão e marcou o início
de uma nova etapa, obrigando os artistas cariocas a tomar uma
posição mais definida em face das idéias veiculadas pelo grupo
paulista. Essa etapa é marcada com a posição do Grupo Frente que,
em 1959, assina o Manifesto Neoconcreto.
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Escrito por Ferreira Gullar e apoiado por Mário Pedrosa, o novo
manifesto se impõe como discussão em torno do concretismo,
revendo as posições teóricas adotadas e a maneira mecanicista e
positivista de se tratar à arte, repondo o problema da expressão e do
subjetivismo deixando fluir a espontaneidade e a percepção do
mundo. Trata-se de uma ruptura no interior da abstração geométrica; o
abando da radicalidade das formas geométricas puras para abrir ao
público a possibilidade de vivenciar o ato de contemplação.
A arte concreta, para se livrar da espontaneidade natural que nega o homem, extirpou das formas a casca alusiva que as tornava fáceis de aprender. Criou dificuldades à percepção, como toda arte o faz. Mas, desligando as formas da simbólica geral do corpo, chegou a um extremo em que o homem é negado também. A arte neoconcreta reconhece a necessidade de uma reintegração dessas formas num contexto de significações. A arte neoconcreta rompe com a visão especializada, estanque, devolvendo às formas a sua multivocidade perceptiva.( GULLAR, 1999, p. 248)
A arte neoconcreta retoma a questão da forma significativa,
rompendo com o conceito tradicional de quadro e escultura propondo
uma linguagem não-figurativa, cuja expressão dispensa um espaço
metafórico para realização, realiza-se diretamente no espaço, sem
apoio convencional da moldura (para quadro) e da base (para a
escultura).
O Neoconcretismo foi considerado o vértice e a ruptura dos
movimentos de tendência construtiva no Brasil, não sendo uma
continuação do concretismo, e sim uma tomada de posição frente ao
que eles achavam ser a destruição de todas as especificidades da
obra de arte. O artista para eles não era uma máquina, mas sim o
criador e elemento vital para a realização da obra.
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A percepção da obra de arte não é apenas percepção racional
da forma, mas é também relação emotiva. Deixando de lado o rigor
formal em prol de uma arte orientada pela relação entre público e
obra, a teoria do não-objeto de Ferreira Gullar, a arte cinética de
Abraham Palatinik, a série tátil “os bichos” de Lígia Clark e de
“penetráveis” de Hélio Oiticica dão origem ao que será classificado,
pela crítica, como arte brasileira contemporânea.
O neoconcretismo, movimento cultural do fim da década de 60,
marca o início dessa revolução, no Brasil, com efetiva participação do
artista plástico Hélio Oiticica. O artista propôs o “Parangolé” para
superar a estrutura do “quadro” como suporte expressivo. O Parangolé
propõe uma nova reestruturação da visão espacial da obra de arte.
Hélio Oiticica insere um novo paradigma na história da arte no Brasil,
criando obras sensoriais e interativas, necessitando, portanto, que o
público se vista com elas, toque-as e sinta-as para que elas de fato
existam.
A artista plástica Lygia Clark também contribui com esta nova
visão da arte ao propor obras que interagem com o espaço, e de uma
pintura que resulta na construção de um novo suporte para o objeto.
Suas obras exigem que o espectador contribua com a sua construção,
pois ao manuseá-las, pode descobrir inúmeras formas que a obra
oferece. Lygia Clark, com a série “Bichos, torna-se uma das pioneiras
na arte participativa mundial, as figuras se projetam para além dos
limites do suporte, ampliando a extensão de suas áreas.
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ATIVIDADE
1 -Você conheceu o grupo frente e o grupo ruptura. Elabore uma pesquisa identificando suas principais diferenças, relatando-as em forma de texto. Discuta com seus colegas. 2- Pesquise na Internet as obras dos artistas participantes destes grupos. Escolha um artista, no qual você deverá imprimir uma de suas obras e fazer a sua analise. Esta atividade poderá ser realizada em grupo.
HÉLIO OITICICA
Nasceu em 1939 na cidade do Rio de Janeiro. Iniciou sua
formação artística com Ivan Serpa. Foi integrante do grupo Frente e
também participou da Exposição Nacional de Arte Concreta em 1956 e
1957 e da Konkrete Kunst em 1960. Assinou o Manifesto Neoconcreto
e participou também da segunda exposição neoconcreta no MAM-SP.
Desenvolveu estudos com elementos diversos como os Parangolés,
em 1964, um programa de arte ambiental na qual as capas são
entendidas como extensão do homem (o corpo se ambienta ao vestir à
capa). Partiu para Nova Yorque em 1970, voltando o Brasil em
1978, vindo a falecer em 1980.
Hélio Oiticica buscava uma nova fundação objetiva da arte quando
propôs o Parangolé, uma nova reestruturação da visão espacial da
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obra de arte, superando a questão do quadro como suporte e também
a contradição entre a pintura e a escultura.
Pintura Grupo Frente, 1955. Guache sobe cartão. (Direitos Autorais cedidos pela
Associação Hélio Oiticica).
Pretendia mudar a condição estrutural do objeto saindo do quadro
para a escultura propondo assim a arte ambiental, nome que ele
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mesmo atribuiu. Questionava a função do objeto na obra, assim o
objeto que não existia passava a existir.
Tal concepção de objeto radicaliza a dissolução estrutural e propõe outras ordens estruturais, de criação e de recepção; implica a relação objeto-comportamento, resignifica o ato artístico e a experiência estética. O objeto, diz Oiticica, é um sinal que aponta para uma ação no ambiente ou situação. (FAVARETTO, 1997, p 112)
Tropicália, Penetráveis, 1967. (Direitos Autorais cedidos pala Associação Hélio
Oiticica).
Com sua originalidade e ousadia, Hélio criou obras sensoriais e
interativas, em que é necessário o público vestir-se com elas, tocá-las
e senti-las para que elas existam.
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Bólides, capas, parangolés, estandartes, tendas e penetráveis,
e suas manifestações ambientais, Grande Núcleo, Tropicália, Éden,
Sala de Sinuca, Cara de Cavalo, Ninhos e Cosmococas são os
elementos marcantes de obras de Hélio Oiticica.
Caetano Veloso com o Parangolé .Capa 1, 1964. (Direitos Autorais cedidos pela
Associação Hélio Oiticica).
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Surgem os Bilaterais e os Relevos espaciais que, como crítica aos suportes tradicionais, realizam finalmente a cor no espaço real. Esses objetos, que constituem uma verdadeira “arquitetura da cor”, rompem com a relação contemplação do espectador, iniciando seu processo de envolvimento sensorial, o que seria ainda maior nos labirintos de cor, que Oiticica chamaria Penetráveis(...) produção das “vivências”, isto é, das experiências onde a construção já estaria subordinada aquela fruição sensorial dos materiais e a uma busca de máxima aproximação entre obra e espectador. (ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA, 1987, p.68)
Respeitava a liberdade estendendo ao espectador essa
possibilidade, de interação, busca e escolha diante das obras.
Hélio foi tratado durante anos como artista marginal no Brasil,
fez essa revelação em suas cartas para Lygia Clark com quem se
correspondia.
Nildo da Mangueira com Parangolé Capa II, 1967 – “Incorporo a revolta”
Foto Cláudio Oiticica. (Direitos Autorais cedido pela Associação Hélio Oiticica).
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ATIVIDADE
.
Após estudar os Parangolés de Hélio Oiticica e o seu uso, sugerir aos alunos a criação e a confecção de um Parangolé. Esta atividade deve ser realizada em grupo. Ofertar materiais variados e em quantidade para que os grupos possam escolher o que usar. No término seria interessante um desfile pela escola com a troca das indumentárias criadas. Um experimenta a criação do outro e assim percebe que a obra só existe se alguém usá-la.
LYGIA CLARK
Nasceu em 1924 na cidade de Belo Horizonte e faleceu em
1988. Começou a pintar em 1947, estudou com o paisagista Roberto
Burle Marx no Rio de Janeiro e também com Fernand Léger em Paris
de 1950 a 1952. Realizou sua primeira exposição individual em 1952
no Intitut Endoplastique em Paris. Retorna ao Brasil em 1954 e passa
a integrar o grupo Frente tornando-se mais uma participante do
Movimento Neoconcreto. Participou das exposições do grupo de 1959
a 1961 e também da Bienal de Veneza nos anos de 1960 e 1962.
Lygia Clark em suas obras rompe a barreira da moldura,
abrindo o espaço, onde ele se mistura com a própria obra, penetrando
no espaço pictórico, mudando a idéia tradicional de relação espaço e
tempo.
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Suas obras são abertas para o espaço, penetrando neles,
transformando-os em objetos vivos, que se transformam com o
movimento no espaço, refazendo-se e incorporando-se a superfície.
O desdobramento de sua obra, sempre neste sentido de buscar o espaço real e também a participação do espectador, acabaria por lançá-la na escultura e em seus famosos Bichos, assim denominados por fazerem da obra um organismo vivo. Assim como rompera com a moldura, na escultura, ela rompe com a base, justamente por remeter ao mesmo problema da representação e contemplação. Através dos Bichos, Lygia Clark sai efetivamente da superfície para o espaço, o que já esboçara nas suas superfícies moduladas, transportando os planos da pintura para a escultura. Articulações manipuláveis de planos, os Bichos convocam o gesto ativo do espectador, em processo contínuo de recriação da obra. (ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA, 1987, p. 66)
Abandona a pintura se dedicando as experiências
tridimensionais passando para o estudo envolvendo a participação, a
materialização da obra e mais tarde à arte sensorial e pesquisa do
corpo.
A artista buscava em suas obras a participação imediata do
espectador, jogando-o dentro da obra levando-o a uma experiência
sensorial. Dessa forma ela já pensava no problema da escultura, onde
o conceito de espaço, como o da realidade alteram-se mudando a
visão do espaço contemplativo para um espaço circundante.
No período e 1960 a 1964 explorou esculturas articuladas para
serem manipuladas pelo público. Buscava a participação do
espectador por meio de vários objetos sensoriais, como sacos
plásticos, conchas, luvas, pedras, etc. Pretendia, através desses
elementos, despertar no espectador sensações e fantasias. Explora na
obra A Casa é o Corpo: Labirinto (1968) experimentações de
sensações táteis ao passar por compartimentos. Desenvolveu também
experiências terapêuticas com seus objetos sensoriais.
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ATIVIDADE
Criação plástica, em grupo, de uma instalação interativa a ser montada em algum espaço da escola, utilizando materiais alternativos diversos, partindo da observação dos artistas estudados. Lembrá-los de explorar vários sentidos além da visão.
Para visualizar as obras de Lygia Clark, acesse o site http://www.lygiaclark.org.br/defaultpt.asp - clicando em Biografia você terá acesso as obras.
REFERÊNCIAS
ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA 1. Concretismo e Neoconcretismo. Rio de Janeiro: Funarte, 1987.
ARGAN G.C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo Vértice e Ruptura do Projeto Construtivo Brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1999. FERRAZ M.H.C.T., FUSARI M.F.R. Metodologia do Ensino de Arte. Editora Cortez: S. Paulo, 1993.
FIDELIS G. Da escultura à instalação. Histórias da Arte e do Espaço. Porto alegre, Fundação Bienal Mercosul, 2005. GRAÇA PROENÇA M. G.V. História da Arte. Editora Ática, 2008.
GULLAR, Ferreira. Etapas da Arte Contemporânea. Do Cubismo à Arte Neoconcreta. 3ª edição, Rio de Janeiro: Revan, 1999.
28
ITAÚ, Instituto Cultural. Tridimensionalidade. São Paulo: Instituto Cultural Itaú,
1997
KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da Escultura Moderna. 2ª edição, São Paulo: Martins Fontes, 2007. PARANÁ, Diretrizes curriculares para o ensino da Arte, 2006.
READ, Herbert Edward. Escultura Moderna uma História Concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. TEIXEIRA COELHO NETO, José. Moderno e Pós Moderno. Modos e Versões. Editora Iluminuras, S.Paulo, 2001.
ZANINI, Walter. Tendências da Escultura Moderna. São Paulo: Cultrix, Museu de Arte Contemporânea da USP, 1971. INSTITUTO ITÁU CULTURAL. ENCICLOPÉDIA: PERCURSOS EDUCATIVOS. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br ASSOCIAÇÃO LYGIA CLARK; http://www.lygiaclark.org.br/defaultpt.asp