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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - …...3 A geometria é um dos conteúdos mais interessantes da disciplina de Matemática, e também uma das maiores preocupações atuais dos educadores

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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USO DE MATERIAIS MANIPULÁVEIS NO ENSINO DE GEOMETRIA ESPACIAL: cálculo do volume de sólidos geométricos

Rosa Ângela Maria Niero Flores 1

Ednei Aparecido Santulo Junior2

RESUMO Este artigo relata as experiências e os resultados obtidos no ensino de geometria espacial no Ensino Médio, tendo como ferramenta facilitadora do processo de ensino e aprendizagem a utilização de materiais manipuláveis com uma turma de 3ª. série do Colégio Estadual de Iporã – EFMP. Tendo em vista as muitas dificuldades encontradas pelos alunos na aprendizagem de geometria espacial, principalmente a grande distância que há, para eles, entre o conteúdo ensinado em sala de aula e o cotidiano, buscou-se um aprendizado mais significativo com o auxílio de materiais manipuláveis no ensino de volumes de sólidos geométricos – prismas, pirâmides, cilindros, cones e esferas. O método empregado procurou fazer, primeiramente, uma abordagem qualitativa, a fim de desenvolver a intuição dos alunos e, posteriormente, uma abordagem quantitativa, a fim de que os alunos fossem capazes de verdadeiramente compreender as fórmulas de volume, em vez de simplesmente memorizá-las, visando a uma aprendizagem realmente significativa desses tópicos. Tal método pode ser facilmente adaptado para o ensino de volume de sólidos também na Educação Básica. Ao longo das aulas, verificou-se que os alunos conseguiram fazer uma conexão relevante entre a teoria ensinada e suas aplicações práticas diretas a objetos concretos de seu cotidiano e que o aprendizado de conceitos matemáticos através de exemplos concretos pode torná-lo mais prazeroso.

Palavras-chave: Geometria Espacial; Sólidos Geométricos; Volume.

ABSTRACT

This article reports the experience and the results obtained by teaching solid geometry in the secondary school, using, as main tool of the teaching-learning

1 Professora de Matemática da rede estadual de ensino. Integrante do Programa de

Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. [email protected]

2 Professor Orientador do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá

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process, manipulable material for 3rd. grade class of Colégio Estadual de Iporã – EFMP. Taking into account the various difficulties found by students in learning solid geometry, specially the great distance that exists, for them, between the content taught in the classroom and their everyday, one has sought a more significative learning with the aid of manipulable material on the teaching of volumes of geometric solids – prisms, pyramids, cylinders, cones and spheres. The employed method has used, firstly, a qualitative approach, aiming to develop the intuition of the students and, secondly, a quantitative approach, aiming that students could truly understand the volume formulae, instead simply memorizing them. Such a method may also be easily adapted to teach solids volume in Basic Education. During the classes, one has verified that the students actually made a relevant connection between the theory and its practical and direct applications to concrete objects of their everyday and that learning mathematical concepts through concrete examples can turn it more pleasurable. . Keywords: Space Geometry, Solid Geometry, Volume.

1 INTRODUÇÃO

A geometria é uma ferramenta usada para descrever e se relacionar com

o espaço no qual vivemos e possui diversas aplicações concretas no cotidiano,

tais como: medidas, comparações, áreas, volumes. Acreditamos ser

imprescindível refletir sobre práticas didáticas alternativas àquelas apresentadas

no ensino tradicional, no que se refere à primazia das fórmulas sobre as formas,

dando ênfase ao princípio de que fórmulas podem ser estabelecidas de maneira

prazerosa. Neste caso, com o uso de materiais manipuláveis, pois a manipulação

de objetos é uma etapa que antecede o pensamento abstrato, importante para o

desenvolvimento da percepção espacial.

Neste sentido é importante realizar experiências que contribuam para o

melhor aproveitamento dos conteúdos pelos alunos nas aulas de Matemática,

permitindo-lhes que desenvolvam o raciocínio lógico-matemático e elaborem

conceitos por meio do uso de materiais manipuláveis.

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A geometria é um dos conteúdos mais interessantes da disciplina de

Matemática, e também uma das maiores preocupações atuais dos educadores

dessa área. Embora ressaltada nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná

(DCEs) como sendo um conteúdo de vital importância, muitas vezes fica em

segundo plano, sendo tratada de maneira superficial e fragmentada, pois são

muitas as dificuldades encontradas por alunos e professores no processo ensino

aprendizagem desse conteúdo.

Se o ensino da geometria como um todo não é privilegiado em nossas

escolas, existem conteúdos geométricos que são ainda mais discriminados, em

função de sua aparente complexidade. É o caso da geometria espacial, pois é

mais comum o trabalho pedagógico com as figuras planas. Como citam as DCEs

(2008, p.56) “no Ensino Médio, deve-se garantir ao aluno o aprofundamento dos

conceitos da geometria plana e espacial em um nível de abstração mais

complexo.”

Com o objetivo de enfocar a Matemática dos livros didáticos com um olhar

diferenciado de modo que os educandos possam compreendê-la, apropriando-se

de seu significado, é que os materiais manipuláveis são utilizados, enquanto

mediadores do processo de ensino e de aprendizagem. Lorenzato (2009, p.22)

acredita que “para se chegar ao abstrato, é preciso partir do concreto.”

Logo há necessidade de se trabalhar com a geometria espacial, por meio

de atividades exploratórias e com utilização de materiais manipuláveis, com o

intuito de facilitar o processo ensino-aprendizagem.

Este artigo apresenta uma metodologia desenvolvida com o uso de

materiais manipuláveis no ensino de geometria espacial. Mais especificamente,

ao cálculo do volume de sólidos geométricos, com algumas atividades que podem

ser exploradas tanto em um Laboratório de Ensino de Matemática (LEM), como

na própria sala de aula.

2 DESENVOLVIMENTO

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2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ewbank (1977, apud LORENZATO, 2009, p.90), afirma que o livro

didático muitas vezes não nos ensina os conceitos matemáticos. Para o autor, os

conceitos matemáticos são aprendidos somente por meio da experiência

concreta: “o perfume de uma rosa ou a dissonância de sons não podem ser

aprendidos lendo descrições verbais sobre eles em um livro. Você tem que

experimentá-los. É o mesmo com ideias matemáticas.”

Os educadores matemáticos do início do século XX apontaram para a

necessidade de compreender como acontecia o ensino da Matemática, de forma

que se demarcasse, nos currículos escolares, a possibilidade dos estudantes

realizarem análises, discussões, conjecturas, apropriação de conceitos e

formulação de ideias. “Os conceitos evoluem com o processo de abstração; a

abstração ocorre pela separação mental das propriedades inerentes a objetos”

(DAVID, 1982, p.332, apud LORENZATO, 2009, p.22)

Com isso surgiram as ideias que vislumbravam um ensino da

Matemática baseado nas explorações indutivas e intuitivas (SCHUBRING, 2003).

A partir daí os professores encontraram fundamentação teórica e

metodológica para direcionar sua prática docente. Configurou-se, portanto, a

Educação Matemática como campo de estudo. De acordo com Fiorentini (2001),

no Brasil, os estudos na área de Educação Matemática “teve início a partir do

Movimento da Matemática Moderna, mais precisamente no final dos anos 70 e

durante a década de 1980.”

Na atualidade as DCEs assumem a Educação Matemática como campo

de estudos que possibilita ao professor balizar sua ação docente, fundamentado

numa ação crítica, que conceba a Matemática como atividade humana em

construção.

Cabe ao professor a sistematização dos conteúdos matemáticos que

emergem das aplicações, superando uma perspectiva utilitarista, sem perder o

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caráter científico da disciplina e de seu conteúdo. Ir além do senso comum

pressupõe conhecer a teoria científica, cujo papel é oferecer condições para

apropriação dos aspectos que vão além daqueles observados pela aparência da

realidade (RAMOS, 2004).

Nesta perspectiva, dentre os conteúdos da Matemática considerados

como essenciais para a formação do aluno está a geometria, rica em elementos

que favorecem a percepção espacial e a visualização.

A geometria surgiu há aproximadamente 4.000 anos no Egito e na

Babilônia, de uma maneira intuitiva, não sistemática, com uma série de regras

práticas sugeridas pela experiência, objetivando principalmente aplicações às

medições (GERÔNIMO, J.R. FRANCO, V.S. 2005, p.11).

Já na antiga Grécia, a geometria teve um caráter dedutivo, apoiado em

proposições gerais, baseados em Tales de Mileto e Pitágoras.

Mas foi Euclides, na sua famosa obra “Os Elementos”, em cerca de 300

a.C. o primeiro a apresentar um sistema axiomático para a geometria. Seus

registros formalizaram o conhecimento geométrico da época e deram

cientificidade à Matemática. Nessa obra, o conhecimento geométrico é

organizado com coesão lógica e concisão de forma, constituindo a Geometria

Euclidiana que engloba tanto a geometria plana quanto a espacial. A obra de

Euclides tem uma importância excepcional na história da Matemática e exerce

influência até os dias atuais, inclusive no âmbito escolar.

Conforme citado, as DCEs reconhecem a importância da Geometria no

Currículo do Ensino Médio, afirmando que:

É necessário conhecer as demonstrações das fórmulas, teoremas, conhecer e aplicar as regras e convenções Matemáticas, tanto no estudo da geometria de posição como no cálculo de área de figuras geométricas planas e espaciais e de volume de sólidos geométricos, em especial de prismas, pirâmides (tetraedro), cilindro, cone e esfera. (DCEs, 2008, p.56)

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Os conceitos destes conteúdos são fundamentais para que o aluno do

Ensino Médio amplie seu conhecimento e pensamento geométrico.

Na Educação Básica, a Educação Matemática valoriza os conhecimentos

geométricos, que não devem ser rigidamente separados da aritmética e da

álgebra. Interligam-se com a aritmética e com a álgebra “porque os objetos e

relações dela correspondem aos das outras; assim sendo, conceitos,

propriedades e questões aritméticas ou algébricas podem ser clarificados pela

geometria, que realiza a tradução para o aprendiz” (LORENZATO, 1995, p.07).

A geometria é considerada como uma ferramenta para descrever e

interagir com o espaço no qual vivemos, e pode ser vista como uma parte da

Matemática mais intuitiva, concreta e ligada à realidade. Autores organizados por

Fonseca (2001) destacam que a geometria é uma das raízes da Matemática

como campo científico e, ao mesmo tempo, um conhecimento básico do

patrimônio cultural de todos os grupos humanos.

Nesse sentido, o ensino de geometria deve se ater a questões que

expressem o pensamento geométrico, ou seja, o ensino precisa permitir ao

estudante que ele realize uma leitura que envolva a construção e apropriação de

conceitos abstratos e aqueles que se referem ao objeto geométrico em si.

Vários educadores famosos, por muito tempo, destacaram a importância

da visualização e manipulação de materiais como facilitador para a

aprendizagem. Comenius, por volta de 1.650 escreveu que o ensino deveria dar-

se do concreto para o abstrato, cem anos depois Rousseau recomendou a

experiência direta sobre os objetos, visando à aprendizagem. Por volta de 1.800,

Pestalozzi e Froebel, também constataram que o ensino deveria começar pelo

concreto e outros educadores como Dewwey, Poincaré, Montessori, Piaget,

Vygotsky, Bruner, Claparède (defensor da inclusão de brinquedos e jogos na

escola), os brasileiros Júlio César de Mello e Souza (Malba Tahan) e Manuel Jairo

Bezerra, e outros, também reconheceram, cada um a seu modo, que a ação do

indivíduo sobre o objeto é básica para a aprendizagem.

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Pois entende-se que a manipulação de objetos é uma etapa que

antecede o pensamento abstrato, importante para o desenvolvimento da

percepção espacial.

A seguir, descreveremos os processos utilizados para desenvolver as

atividades práticas usando como recurso didático os materiais manipuláveis.

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.

Inicialmente as atividades deveriam ser realizadas em um Laboratório de

Ensino de Matemática, mas como a escola não dispunha desse local, os alunos

desenvolveram as atividades em um Laboratório de Informática (PROINFO), por

ser um espaço que facilitava a integração dos alunos e a interação com os

materiais manipuláveis. Algumas atividades foram desenvolvidas na sala de aula.

A primeira proposta foi a atividade exploratória qualitativa de volumes em

recipientes de diversos formatos, sem graduação de volume. Os alunos trouxeram

os materiais para o desenvolvimento desta atividade, como previamente

solicitado. Para o desenvolvimento utilizaram-se recipientes de diferentes alturas

e larguras, os alunos mediam a altura da água em cada um dos recipientes e

assinalavam com o pincel.

Durante a atividade o professor levantou questões como: “Que relação

pode ser percebida entre a altura da água e as áreas das seções transversais dos

recipientes utilizados?” “Que altura vocês esperam que o líquido atinja ao se

acrescentar em cada recipiente o mesmo volume de água que ele já contém?” Os

alunos faziam uma marca no recipiente com o pincel, segundo a intuição do

grupo, repetiam a experiência acrescentando a mesma quantidade de água nos

recipientes e verificavam a diferença entre a altura prevista e a altura real do

líquido.

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O grupo 1 relatou: “Quando a seção transversal aumenta, a altura

diminui, e quando a seção transversal diminui, a altura aumenta.”

Grupo 2: “Quando a seção transversal é maior a altura é menor e quando

a seção transversal diminui a altura aumenta.”

Grupo 3: “Quando a seção transversal é menor a altura é maior e quando

a seção transversal é maior a altura é menor.”

A segunda atividade foi desenvolvida visando à comparação qualitativa de

volumes de sólidos de diferentes formatos por imersão em água. Utilizando-se

diversos sólidos (pedra, fruta, bola de gude etc.), trazidos pelos alunos, de modo

que, dentre alguns deles não fosse facilmente perceptível o de maior e o de

menor volume e recipientes com água, o professor pedia a cada grupo de alunos

que listassem os sólidos em ordem crescente de volume, segundo a intuição do

grupo.

O professor orientava para que mergulhasse cada um dos sólidos, um de

cada vez, no recipiente com volume de água suficiente para cobrir completamente

os sólidos a serem analisados, medisse a variação de altura que a imersão de

cada um causava no nível de água e descobrissem a ordem crescente de volume

dos sólidos. Solicitava aos alunos que verificassem se a ordem crescente dos

volumes dos sólidos encontrada após a imersão na água conferia com a ordem

crescente feita por intuição.

Figura 1: Comparação de volume entre a laranja e a pedra.

Fonte: Alunos do CEI.

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O grupo 1 relatou: “Tudo que a gente pensou, comprovou, pois o tamanho

da laranja já dizia que seria maior o aumento do nível da água em relação a

pedra. A água tinha 200 ml e com a imersão da pedra ficou em 250 ml, depois

colocamos a laranja e ficou em 400 ml.”

Aproveitando o resultado da atividade anterior e utilizando a balança de

dois pratos o professor propôs que fizessem comparações entre o volume e a

massa dos sólidos.

Grupo 2: “Nós achávamos que a pedra utilizada, sendo mais pesada, ia

dar mais volume que a laranja que sendo mais leve daria menos

volume,comprovamos que o volume da laranja foi maior e relação ao da pedra, só

que a massa da laranja foi menor em relação a pedra.”

Grupo 3: “ A bola de gude na água tem o volume maior que a esfera de

aço, e na balança de dois pratos ela têm a massa menor que a esfera de aço, a

esfera de aço é menor em tamanho e fez mais peso na balança.”

Figura 2: Comparações entre o volume e a massa dos sólidos.

Fonte: Alunos do CEI.

A terceira atividade teve como tema o Princípio de Arquimedes. Logo

após as experiências realizadas assistimos a um vídeo3 com a História de

Arquimedes “a coroa do rei”, e foi levantada a seguinte questão: “Sabendo que o

3 http://www.youtube.com/watch?v=X8c3AdgMi9w&NR=1

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ouro é mais denso que a prata e que Arquimedes descobriu que o volume da

coroa era maior do que realmente deveria ser. Isso pode ser justificado pela

substituição parcial do ouro fornecido, pela prata?”. Os alunos compreenderam o

que ficou conhecido como o Princípio de Arquimedes.

O grupo 1 relatou:”Apesar de ter o mesmo peso, a densidade da coroa

era menor, porque ele substituiu parte do ouro pela prata.”

Grupo 2: “Sim, houve a substituição, a coroa tem outro metal que é mais

leve e é por isso que o volume é maior.”

Grupo 3: “Sim ele substituiu o ouro pela prata, como a prata é mais leve

teve que por mais prata e assim ocupou mais volume.”

Nota-se que os alunos confundem os conceitos de massa e densidade

usando o adjetivo “mais leve”, “mais pesado” para significar “mais denso”, “menos

denso”. Tais confusões foram discutidas em sala.

Para a realização da quarta atividade os alunos trouxeram caixinhas

vazias de casa (creme dental, sabonete, cremes, gelatina etc.), nesta atividade os

alunos perceberam a necessidade de padronizar as unidades de medida. Para o

desenvolvimento os alunos selecionaram dentre os sólidos geométricos de

diversos formatos (prismas, cilindros, pirâmides, cones e esferas disponível na

escola) que estavam sobre a mesa, quais eles consideravam semelhantes ao que

eles trouxeram de casa e separaram dos demais.

Os alunos foram questionados sobre: “Como são conhecidas estas

figuras por eles?” “Que nomes costumam usar para esses objetos?” Para o

desenvolvimento usou-se o seguinte questionamento: “Qual a necessidade que

o ser humano sentiu para padronizar a unidade de volume?” Em seguida foi

distribuído o material dourado para as equipes a fim de que eles construíssem um

sólido semelhante às caixinhas que trouxeram.

O professor solicitou que desenhassem no caderno o que construíram e

anotassem quantos cubinhos foram necessários para formar o sólido.

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No grupo 1, a dupla 1 relatou: “42 cubinhos, caixinha do caldo de galinha,

contamos porque era pouquinho.” Dupla 2: “ 216 cubinhos, caixinha de gelatina,

multiplicamos.” Dupla 3: “240 cubinhos, caixinha de achocolatado, multiplicamos.”

No grupo 2, a dupla 1 relatou: “192 cubinhos, caixinha de achocolatado,

multiplicamos.” Dupla 2: “100 cubinhos, caixinha de creme de rosto, contamos.”

Dupla 3: “ 240 cubinhos, caixinha de sabonete, multiplicamos.”

No grupo 3, a dupla 1 relatou: “240 cubinhos,caixinha de leite

achocolatado,contamos.” Dupla 2: “240 cubinhos,substituímos os cubinhos pelas

barras com 10 unidades, caixinha de sabonete, contamos.” Dupla 3: “320

cubinhos, caixinha de creme hidratante, multiplicamos.”

Figura 3: Construindo com o material dourado.

Fonte: Alunos do CEI.

Na quinta atividade os alunos trouxeram de casa embalagens redondas

(latas de batatas fritas, de achocolatados em pó, de conservas, copos etc.), e

fizeram a comparação entre volumes - análise quantitativa. Era solicitado que

selecionassem dentre os sólidos geométricos de diversos formatos (prismas,

cilindros, pirâmides, cones e esferas disponível na escola) que estavam sobre a

mesa quais eles consideram semelhantes ao que eles trouxeram de casa e

separaram dos demais.

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Logo após foram distribuídos os cubinhos do material dourado para as

equipes preencherem os espaços internos dos objetos trazidos por eles, sem

deixar espaços vazios. Durante a atividade levantaram-se os seguintes

questionamentos: “O método de decomposição em cubinhos unitários funciona

com estes objetos de corpos redondos?” “ Poderíamos despejar a água que

comporta o cubo de 1 3cm no seu interior?” “ Como calcular a capacidade de um

objeto de corpo redondo como um cilindro, sem deixar espaços vazios?”

De posse de um cubo de vidro com dimensões internas de 1 dm, e uma

jarra graduada de 1 litro com água, o aluno despejava todo o conteúdo da jarra

no cubo com 1 dm de aresta, após a realização desta experiência os alunos

confirmaram que 1 dm3 equivale a um litro de água.

Aluno 1 relatou: “Eu não sabia muito sobre volume, não sabia a fórmula,

como calcular. Sabia apenas que o volume tinha a ver com líquidos. Descobri o

significado, as fórmulas, como calcular e descobri também que se pode descobrir

o volume pelo m3. Com as experiências aprendi que não precisa colocar litro por

litro para descobrir o volume, basta apenas medir, usar a fórmula e transformar

em litros.”

Aluno 2: “As aulas além de ser mais legais, tem ajudado a aprender mais.

Comparar medidas usando diferentes objetos. Que os objetos mesmo tendo

formas diferentes podem ter o mesmo volume. Que para calcular o volume é só

multiplicar comprimento, altura, largura, que 1 dm3 é igual a 1 litro. Coisas simples

mais muito importante para nós todos.”

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Figura 4: Comprovando que 1dm

3 equivale a 1 litro.

Fonte: Alunos do CEI.

O objetivo da sexta atividade foi ilustrar o Princípio de Cavalieri com uso

de materiais manipuláveis. Aos alunos era solicitado que dispusessem sobre a

carteira, uma pilha formada com as cartas dos jogos de baralho trazida por eles,

deixando a pilha reta. Após terem concluído, calcularam o volume do

paralelepípedo montado com as cartas de baralho, utilizando a régua para tirar as

medidas, e compararam o resultado entre os grupos.

Prosseguiram a atividade encostando uma régua nas faces laterais,

transformando o paralelepípedo retângulo em outro paralelepípedo, agora

oblíquo, novamente calcularam o volume do sólido e compararam com o

resultado do paralelepípedo reto. Continuando, usaram as mãos e moldaram um

sólido bem diferente, e novamente calcularam o volume, comparando os três

resultados encontrados. Confirmamos que desta forma podemos calcular o

volume de um paralelepípedo oblíquo, que não pode ser decomposto em

cubinhos unitários, ilustrando a ideia central de Cavalieri.

O grupo 1 relatou: “Não importa se o sólido é reto ou oblíquo, eles terão o

mesmo volume se tiverem a mesma altura e a área da seção onde ele foi cortado

for a mesma.”

Grupo 2: “Não importa se os sólidos são retos ou oblíquos, eles terão o

mesmo volume se tiverem a mesma altura e a área da base for a mesma.”

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Grupo 3: “Que não importa se o sólido é reto ou oblíquo, eles terão o

mesmo volume se eles tiverem a mesma altura e a área da seção onde ele for

cortado for a mesma.”

Figura 5: Paralelepípedo oblíquo – Princípio de Cavalieri

Fonte: Alunos do CEI

Na sétima atividade aplicamos o Princípio de Cavalieri no conceito do

volume de prismas e de cilindros. Os alunos desenharam e recortaram em

cartolina, 100 triângulos e 100 retângulos com a mesma área (triângulo com base

6 cm e altura 8 cm; retângulo de lados 4 cm e 6 cm). Desenharam e recortaram

também em cartolina, 100 retângulos e 100 círculos que tinham a mesma área

(retângulo de lados 10 cm e 5 cm; círculos de raio 4 cm e 3,14). Em seguida

calcularam a área do triângulo e do retângulo e compararam os resultados. Após

confirmarem que as áreas eram iguais, construíram duas pilhas de mesma altura

com os 100 triângulos e os 100 retângulos.

Foi solicitado que calculassem a área do retângulo e do círculo e

comparassem os resultados. Após confirmarem que as áreas eram iguais,

construíram duas pilhas de mesma altura com os 100 círculos e os 100

retângulos.

Aluno 3 relatou: “Antes dos experimentos realizados eu conhecia muito

pouco sobre volume, agora sei que se eu multiplicar a área da base pela altura

vou descobrir o volume de um prisma e se eu multiplicar as arestas de um cubo

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terei o seu volume. As vezes pensamos que isso não será útil em nossa vida, mas

depois desses experimentos realizados descobri que usamos estas medidas de

volume em nosso dia-a-dia.”

Na oitava atividade, os alunos manipularam materiais para fazer

comparação entre volumes de prismas e pirâmides de mesma base e mesma

altura e também fizeram a comparação entre volumes de cilindros e cones de

mesma base e mesma altura.

Aluno 4 relatou: “Antes tinha pouco conhecimento sobre volume, agora já

conheço bem mais e sei fazer os cálculos. Aprendi que, às vezes, os objetos têm

forma diferente, mas tem o mesmo volume. E que calculando a área da base

vezes a altura dá para saber o volume. Nós fizemos experiências que foi de bom

proveito e comprovamos algumas coisas que não acreditávamos que tinha o

mesmo volume.”

De posse de um prisma e uma pirâmide de mesma base e com a mesma

altura, os alunos foram solicitados a fazer comparações entre estes dois sólidos,

destacando a base e a altura. Cada grupo expressava segundo sua intuição

quantas vezes era necessário despejar o conteúdo da pirâmide no prisma até que

ele ficasse completamente cheio. O grupo 1e 2 relataram: “alguns alunos 2 vezes

e outros 3 vezes.” Grupo 3: “ ele cabe 3 vezes.” A pedido da professora dois

alunos voluntários demonstraram para a turma essa experiência.

Figura 6. Demonstração do volume da pirâmide por comparação.

Fonte: alunos do CEI.

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Foi solicitado aos alunos que verificassem se a quantidade prevista pela

intuição conferia com a demonstração feita pelos colegas. Então os grupos

relataram: grupo 1 e 2 “ confere com a intuição de alguns alunos e não confere

com outros alunos.” Grupo 3: “confere.”

Os alunos repetiram a experiência, agora com o cilindro e o cone de

mesma base e com a mesma altura, compararam os dois sólidos e a professora

destacou a base e a altura. Cada grupo expressou segundo sua intuição quantas

vezes era necessário despejar o conteúdo do cone no cilindro até que ele ficasse

completamente cheio. Os grupos 1, 2 e 3 relataram: “são necessários 3 vezes.”

Dois alunos voluntários realizaram a experiência com água. Foi solicitado

aos outros alunos para que verificassem se a quantidade prevista pela intuição

conferia com a demonstração feita pelos colegas.

Os grupos 1, 2 e 3 relataram: “foi comprovado que no cilindro cabe 3

vezes o volume do cone.” Após estes experimentos alguns alunos relataram:

aluno 5 : “Antes das nossas experiências, eu desconhecia o volume e suas

variações e formas de encontrá-lo. Mas depois de começar a trabalhar com o

volume, eu aprendi como ele é importante e presente em nossa vida e em nosso

cotidiano. Precisamos dele para encontrar o que comporta caixas d’ água,

tanques e etc., o que facilita muitas vezes o nosso trabalho.” Aluno 6 : “Antes eu

não sabia muita coisa sobre volume, e com os experimentos realizados ficou

muito mais fácil aprender a calcular, por exemplo, o volume de um prisma, cubo,

esfera, etc. Aprendi que um cone tem 1/3 do volume de um cilindro e a pirâmide

tem também 1/3 do volume do prisma. Aprendi a calcular o volume, por exemplo,

de uma piscina. Aprendi que um litro tem 1000 cm3 ou 1 dm3.” Aluno 7: “Bem, eu

sempre ouvi falar sobre cilindro, prisma, cubo, mas tudo ficou mais claro com as

explicações, os vídeos e quando montamos e pegamos as figuras as coisas ficam

muito mais claras.”

Na nona atividade os alunos foram solicitados a fazer o uso de materiais

manipuláveis para a estimativa do volume de uma esfera de raio conhecido pelo

raciocínio de Arquimedes. De posse da semiesfera oca e do cone (o raio da

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semiesfera deve ser igual ao raio da circunferência do cone e a altura do cone

deve ser igual ao raio da semiesfera), os alunos tentavam adivinhar quantas

vezes era necessário encher o cone e despejar na semiesfera para que ela

ficasse completamente cheia.

Os grupos relataram: grupo 1 “um aluno disse 1 vez e os demais

disseram 2 vezes.” Grupo 2 e 3: “ele cabe 2 vezes.” Um aluno voluntário encheu o

cone com o pó de serra e despejou na semiesfera para demonstrar à turma. Os

grupos 1, 2 e 3 concluíram: “o volume da esfera é igual a quatro vezes o volume

do cone.”

Figura 7. Demonstração do volume de uma esfera pelo raciocínio de Arquimedes.

Fonte: Alunos do CEI.

No desenvolvimento da última atividade ilustrou-se o Princípio de

Cavalieri aplicado a uma clepsidra. De posse do cilindro equilátero com os dois

cones (com o raio e a altura iguais ao raio do cilindro) em seu interior, os alunos

relataram o sólido que estavam visualizando: “são dois cones unidos pelo vértice.”

Foi debatida com eles a propriedade do cilindro equilátero e dos dois cones que

estão em seu interior. Retiramos os dois cones que estavam dentro do cilindro e

lançou-se o questionamento: “Como reconhecem este sólido?” Sabendo que o

cilindro é equilátero, ou seja, a altura é igual a 2R, foi proposto aos alunos calcular

o volume da esfera pelo princípio de Cavalieri, considerando uma esfera de raio

R. Dois alunos retiraram os cones do interior do cilindro, restando a anticlepsidra,

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(o sólido obtido pelo cilindro menos os dois cones) e os grupos concluíram:

“anticlepsidra é o lado de fora do cone dentro de um cilindro eqüilátero.”

Demonstraram que as secções da anticlepsidra e da esfera produzidas

por um plano paralelo às bases do cilindro possuíam a mesma área, após

efetuarem os cálculos utilizando a coroa e o círculo. Realizaram a experiência

com o material concreto construído para esta atividade: cilindro equilátero,

clepsidra e esfera (com raio igual ao raio do cilindro).

Figura 8. Confirmação do Princípio de Cavalieri aplicado a uma clepsidra.

Fonte: Alunos do CEI.

Alunos voluntários encheram o cilindro equilátero com o pó de serra

retiraram a quantidade dos dois cones a clepsidra e confirmaram por meio da

atividade que o que sobrou no cilindro a anticlepsidra é o volume da esfera. Os

grupos concluíram: “anticlepsidra é o que sobra da clepsidra e cabe na esfera,

corresponde ao mesmo volume da esfera.”

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Figura 9: Volume da esfera.

Fonte: Alunos do CEI.

Em todas as atividades os alunos foram solicitados a anotarem os

resultados de cada experiência e também relatar o que aprenderam.

3 ANÁLISE E RESULTADOS

Durante a realização da primeira atividade, analisamos a relação entre a

altura e a área da seção transversal, os alunos conseguiram chegar ao

entendimento de que para objetos de mesmo volume, quanto maior a área da

seção transversal, menor é a altura e quanto menor a área da seção transversal,

maior é a altura, compreendendo a relação entre a altura e a área da seção

transversal. Conforme confirma Lorenzato ”para que se dê uma significativa

aprendizagem, faz-se necessário que haja uma atividade mental, e não somente

a manipulativa” (LORENZATO, 2009, p.33).

Já durante a realização da segunda atividade, analisamos a variação de

altura de sólidos de diferentes formatos e ficou evidente a influência da imersão

que os objetos causam no nível da água, depende do volume de cada objeto, a

laranja aumentou mais o nível da água que a pedra, embora tenha sido

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comprovado utilizando a balança de dois pratos que a massa da pedra era maior

do que a da laranja. A bola de gude maior que a esfera de aço, pois o seu volume

aumentou mais o nível da água. Enquanto que o nível da água da esfera de aço

foi menor. Já na balança de dois pratos a esfera tem a massa maior que a bola de

gude.

Nesta situação verificou-se que o material manipulável foi um eficiente

recurso, propiciando o entendimento do real volume dos sólidos de diferentes

formatos utilizados. Segundo Ponte, Brocardo e Oliveira (2003), apud Lorenzato

2009, p.95, as tendências curriculares atuais convergem ao considerarem que a

geometria é fundamental para compreender o espaço em que nos movemos e

para perceber a matemática presente em um contexto.

Portanto, com as investigações realizadas pelos alunos, foi possível

vivenciar experiências de aprendizagem importantes para prosseguir as

explorações e o estudo de vários conceitos e relações geométricas.

Na terceira atividade, após assistirmos ao vídeo com a História de

Arquimedes, confirmaram-se as experiências realizadas de que: "Quando um

corpo é mergulhado na água ele perde, em peso, uma quantidade que

corresponde ao peso do volume de água que foi deslocado pela imersão do

corpo.” (matemático Arquimedes Séc. III a.C.), fazendo a relação interdisciplinar

com a Física.

O importante da quarta atividade foi observar como os alunos chegaram

ao resultado, alguns contaram os cubinhos, outros multiplicaram e perceberam a

necessidade de se padronizar as unidades de medidas. Conforme relato dos

alunos: Grupo 1: “Precisava identificar todos com uma só medida, e que a figura

se chamava paralelepípedo.” Grupo 2: “Surgiu a necessidade de a medida ser

igual em todos os lugares, e concluímos que a figura é um paralelepípedo,

formado por 6 lados retangulares e, às vezes, também quadrados.” Grupo 3:

”Porque se não padronizar não teria como vender, senão em cada lugar seria de

um jeito, haveria conflito,o nome da figura é paralelepípedo, é um sólido formado

por figuras planas .”

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Assim também afirma Lorenzato:

(...) o material concreto exerce um papel importante na aprendizagem. facilita a observação e a análise, desenvolve o raciocínio lógico, crítico e científico, é fundamental para o ensino experimental e é excelente para auxiliar o aluno na construção de seus conhecimentos (Lorenzato, 2009, p.61).

Aproveitamos as respostas e entendemos que o volume de um

paralelepípedo é o produto de suas dimensões: comprimento x largura x altura, ou

seja, área da base x altura.

O aluno 8 relatou: “O trabalho no começo eu achava que era muito difícil,

mas foi passando as aulas fui aprendendo cada vez mais e então fui gostando

mais da matéria, e conhecendo o que é volume e paralelepípedo, eu aprendi as

dimensões do paralelepípedo, a sua diagonal e as medidas do seu volume, que o

volume é o comprimento vezes a largura vezes a altura ou a área da base vezes

a altura.”

Diante das descobertas apresentadas pelos alunos, na quinta atividade

sentimos a necessidade de padronizar o cálculo do volume de corpos de diversos

formatos.

Comprovamos com a sexta atividade que o cálculo do volume do

paralelepípedo oblíquo ilustra a ideia central de Cavalieri. Essa ideia consiste em

imaginar um sólido decomposto em camadas muito finas, como as cartas de um

baralho ou uma resma de papel, os grupos 1, 2 e 3 afirmaram: “ que não importa

se o sólido é reto ou oblíquo, eles terão o mesmo volume se eles tiverem a

mesma altura e a área da seção onde ele foi cortado for a mesma da área da

base.” Axioma (Princípio de Cavalieri): “São dados dois sólidos e um plano. Se

todo plano paralelo ao plano dado secciona os dois sólidos segundo figuras de

mesma área, então esses sólidos têm o mesmo volume.” (matemático italiano

Cavalieri séc. XVII) (apud LIMA, E.L; CARVALHO, P.C.P.; WAGNER, E.;

MORGADO,A.C. A Matemática do Ensino Médio vol.2, p.256).

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Na realização da sétima atividade percebeu-se que os alunos

conseguiram visualizar que a primeira pilha de triângulos recortados em cartolina,

tem a forma de um prisma triangular, a segunda de retângulos também em

cartolina, tem a forma de um bloco retangular ou paralelepípedo que é também

um prisma de base retangular e que esses dois prismas têm a mesma altura e

suas bases, embora sejam diferentes, têm a mesma área. Portanto seus volumes

são iguais.

Por meio dessa atividade, aplicando o Princípio de Cavalieri no cálculo

do volume do prisma por comparação, com o volume do paralelepípedo conclui-

se que o volume do prisma é também o produto da área da sua base por sua

altura. Ao manipularem triângulos e retângulos de mesma área, os grupos

relataram: “A área do triângulo é igual à área do retângulo, tendo a área da base e

a altura iguais, não importa a forma, os volumes também serão iguais”. Sobre

esse assunto Gerônimo e Franco salientam, “O prisma é o primeiro poliedro em

que se consegue obter facilmente o seu volume utilizando o Princípio de

Cavalieri” (GERÔNIMO, J.R. FRANCO, V.S. 2005, p.285).

Na continuação da sétima atividade percebeu-se que os alunos

conseguiram visualizar que a primeira pilha de retângulos recortados em cartolina,

tem a forma de um bloco retangular ou paralelepípedo que é também um prisma

de base retangular, a segunda de círculos também em cartolina tem a forma de

um cilindro e que esses dois prismas têm a mesma altura e suas bases, embora

sejam diferentes, têm a mesma área.

Portanto seus volumes são iguais. Por meio dessa atividade, aplicando o

Princípio de Cavalieri no cálculo do volume do cilindro por comparação, com o

volume do prisma, os alunos compreenderam que o volume do cilindro é também

o produto da área da sua base por sua altura. Ao manipularem retângulos e

círculos de mesma área, os grupos relataram: “A área do retângulo é igual à área

do círculo, então, tendo a área da base e a altura iguais, não importa a forma, os

volumes também serão iguais, eles compartilham o mesmo volume.”

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Com a realização da oitava atividade foi possível perceber que a

utilização do material concreto possibilita uma melhor compreensão dos conceitos

explorados, como área da base, aresta da base, altura, aresta lateral, facilitando

assim a aprendizagem e reforçando os conceitos matemáticos. Os alunos

compreenderam o volume da pirâmide por meio dos experimentos e

demonstrações e os grupos concluíram que: “o volume de qualquer pirâmide é a

terça parte do volume do prisma que tem a mesma base e a mesma altura.”

“Quando prismas e pirâmides são apresentados ao aluno do segundo grau, a

motivação natural é o cálculo dos volumes” (LIMA, E.L; CARVALHO, P.C.P.;

WAGNER, E.; MORGADO,A.C. A Matemática do Ensino Médio vol.2, p.264).

Ainda na oitava atividade os alunos compreenderam o volume do cone

por meio dos experimentos e demonstrações e os grupos concluíram que: “o

volume de qualquer cone é a terça parte do volume do cilindro que tem a mesma

base e a mesma altura.” Os grupos relataram: ”Com a experiência, enchemos 3

cones de água e despejamos dentro do cilindro, mas houve uma dúvida, então

pegamos o cilindro cheio e derramamos no cone, enchendo exatamente 3 deles,

comprovamos que o volume do cone equivale a um terço do volume do cilindro.”

Neste contexto, Lima, Carvalho, Wagner e Morgado afirmam “O aluno do

segundo grau, no seu primeiro contato com a geometria espacial, se sente mais

seguro quando compreende bem resultados obtidos em situações particulares,

para depois estendê-los em casos mais gerais” (LIMA, E.L; CARVALHO, P.C.P.;

WAGNER, E.; MORGADO,A.C. A Matemática do Ensino Médio vol.2, p.265).

Assim também relatou Aluno 9 : “Antes de ter essas aulas e comprovar

com meus próprios olhos, eu não entendia nada sobre o assunto, aprendi até a

gostar da matéria, antes eu não sabia de figuras geométricas, agora eu tenho

uma boa noção de tudo. Enfim foi muito válido e muito bom para todos nós.”

Mediante a experiência realizada na nona atividade, confirmou-se o

raciocínio do matemático grego Arquimedes, demonstrado em seu livro “Sobre a

esfera e o cilindro” aplicado ao cálculo do volume de uma esfera, através de

dedução, o grande matemático grego demonstrou que o volume da esfera é

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quatro vezes o volume do cone que tem o raio da esfera e cuja altura é o raio da

esfera, “aprender a procurar, e mesmo a encontrar respostas, é mais importante

para a formação do indivíduo do que as respostas às indagações” (LORENZATO,

2009, p.08).

Aluno 10 relatou: ”Antes de realizar este trabalho, eu não sabia como

calculava o volume dos prismas, agora eu já sei muito sobre os sólidos

geométricos, como calcular o volume de pirâmide de diferentes bases, de esferas,

cones e tantos prismas.”

Com a realização da décima atividade foi possível perceber que a

utilização do material concreto possibilitou uma melhor compreensão dos

conceitos explorados, como diâmetro, raio, propriedade do cilindro equilátero,

propriedade dos cones que estão no interior do cilindro equilátero formando a

clepsidra, o sólido obtido pelo cilindro menos os dois cones formando a

anticlepsidra, coroa e circulo, facilitando a atividade mental por parte do aluno,

efetivando a aprendizagem e reforçando os conceitos matemáticos. Segundo

Lorenzato:

(...) convém termos sempre em mente que a realização em si de atividades manipulativas ou visuais não garante a aprendizagem. Para que esta efetivamente aconteça, faz-se necessária também a atividade mental, por parte do aluno. E o material didático pode ser um excelente catalisador para o aluno construir seu saber matemático. (Lorenzato, 2009, p.21)

Os alunos confirmaram o Princípio de Cavalieri aplicado a uma clepsidra.

Aplicando o Princípio de Cavalieri possibilitou a eles a compreensão de que o

volume da esfera é igual ao volume da anticlepsidra. Conforme Lorenzato:

(...) os alunos em sala de aula passam a observar registrar e documentar as atividades discutidas, relacionadas, e ideias importantes que surgem na investigação realizada, considerando as experiências, as conjecturas, os dados colhidos e aspectos relacionados à experimentação. E a

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geometria, nesse momento, é um campo fértil para um ensino baseado na exploração e investigação, contribuindo, assim, para uma compreensão de fatos e relações que vai muito além da simples memorização de fórmulas e técnicas de resolução de problemas. (Lorenzato, 2009, p.96).

Como já dito anteriormente, após a aplicação do material didático

utilizando atividades com o uso de materiais manipuláveis e pautados em autores

que relatam sobre a importância de se trabalhar com material concreto,

acreditamos que atingimos o objetivo proposto.

CONCLUSÃO

Por meio da elaboração e aplicação deste trabalho, teve-se a

oportunidade de construir e utilizar materiais manipuláveis. Neste sentido foi muito

gratificante realizar este trabalho com os alunos da 3ª série do ensino profissional-

Técnico em Administração - Integrado, pois aprendemos juntos um pouco sobre a

utilização de materiais manipuláveis no cálculo do volume de sólidos geométricos.

Durante as leituras e estudos, foi possível perceber certa surpresa dos

alunos ao saberem que vários educadores famosos, por muito tempo, destacaram

a importância da visualização e manipulação de materiais como facilitador para a

aprendizagem, mesmo quando ainda não eram utilizadas unidades de medidas.

No processo de construção de sólidos geométricos com materiais

manipuláveis, os alunos tiveram dificuldades nas primeiras atividades propostas,

“com referência à manipulação propriamente dita do material didático pelos

alunos, convém lembrar que, num primeiro momento, o material didático pode

gerar alguma estranheza ou dificuldade” (LORENZATO, 2009, p.25), porém no

decorrer delas, conseguiram construir e manusear os materiais e perceber como

conseguem construir conceitos a partir das experiências.

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Por meio do desenvolvimento das atividades em grupo e o uso de

materiais manipuláveis foi possível conseguir uma aprendizagem significativa

para o aluno, permitindo assim um melhor relacionamento entre professor e

aluno.

Com o desenvolvimento desse trabalho, principalmente através da sétima

atividade, foi possível concluir que o fato de os alunos terem construído alguns

dos materiais utilizados, além de simplesmente manipularem materiais prontos, foi

de grande contribuição para o processo de aprendizagem.

Trabalhar conteúdos relacionados com construção e manipulação de

materiais manipuláveis, especificamente o volume dos sólidos geométricos,

estimulou a criatividade, o raciocínio lógico, motivou e ajudou o aluno na

compreensão de conteúdos e conceitos matemáticos.

Deixar de usar apenas o quadro, giz e livro didático, e fazer uso de

materiais manipuláveis, faz com que o educando se concentre mais, visualize e

compreenda melhor as situações apresentadas, tornando o trabalho altamente

gratificante para o professor e a aprendizagem compreensiva e agradável para o

aluno.

As atividades realizadas em grupo promoveram a interação entre os

alunos e entre os grupos, favorecendo a construção do conhecimento.

Particularmente, a realização deste trabalho exigiu a criatividade, a busca por

conhecimentos, e ao mesmo tempo deu a certeza da importância de se trabalhar

com os alunos, conteúdos reais, de forma que os mesmos percebam a beleza e o

valor da matemática em situações do seu cotidiano e o mais importante foi o

aumento da autoconfiança ao realizar as atividades propostas, desmistificando a

ideia de que aprender geometria é muito difícil.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, P.C.P. Introdução à Geometria Espacial, Coleção do Professor de Matemática, 4 ed. Rio de Janeiro. SBM, 2005. GERÔNIMO, J. R.; FRANCO, V. S. Geometria plana e espacial: um estudo axiomático. 2. ed. Maringá: Eduem, 2010. GIOVANNI, J.R.; BONJORNO, J.R. Matemática Completa, 2ª. ed. renov. São Paulo: FTD, 2005. http://www.youtube.com/watch?v=X8c3AdgMi9w&NR=1 com acesso em 03 jul. 2010. LIMA, E. L.; CARVALHO, P. C. P.; WAGNER, E.; MORGADO, A. C. A Matemática do Ensino Médio Vol. 2, Coleção do Professor de Matemática, 5ª. ed. Rio de Janeiro. SBM, 2004. LORENZATO, Sergio (org). O Laboratório de Ensino de Matemática na Formação de Professores. 2ª. ed. Campinas, SP. Autores Associados, 2009. Coleção Formação de Professores. MATEMÁTICA 2º GRAU – o novo telecurso / FRM em convênio com a Fundação Bradesco. Rio de Janeiro, Editora Rio Gráfica, 1985. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes Curriculares da Rede Pública do Estado do Paraná – Matemática. Curitiba: SEED, 2009.