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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · abordagem do feminino. ... policial professora gari motoboy ... (Oficina das idéias - Manual de Dinâmica) Material: Revistas velhas,

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

Formação continuada em Educação/2009

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

ROSA DE MORAIS SOARES

"IMAGENS E REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES:diferentes c ontextos"

PONTA GROSSA 2010

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

Formação continuada em

Educação/2009 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

ROSA DE MORAIS SOARES

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - 2009

Material Didático-Pedagógico elaborado para definir diretrizes de ação do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE Secretaria de Estado da Educação - Paraná.

Orientadora: Profª Dra Christiane Marques Szesz

PONTA GROSSA -------------------------------------------------------------------------------------------

“Imagens e representações das mulheres : diferentes contextos” [email protected]

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

SUMÁRIO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ..........................................................................4 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ..........................................................................4 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ..........................................................................4 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ..........................................................................4 APRESENTAÇÃO ..........................................APRESENTAÇÃO ..........................................APRESENTAÇÃO ..........................................APRESENTAÇÃO ............................................................................................6..................................................6..................................................6..................................................6 INTRODUÇÃO ..................................................................................................8INTRODUÇÃO ..................................................................................................8INTRODUÇÃO ..................................................................................................8INTRODUÇÃO ..................................................................................................8 ATIVIDADE INICIAL .........................................................................ATIVIDADE INICIAL .........................................................................ATIVIDADE INICIAL .........................................................................ATIVIDADE INICIAL .......................................................................................10..............10..............10..............10 AS REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES NA HISTÓRIA ..........................14AS REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES NA HISTÓRIA ..........................14AS REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES NA HISTÓRIA ..........................14AS REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES NA HISTÓRIA ..........................14 A MULHER NA ANTIGUIDADE ......................................................................17A MULHER NA ANTIGUIDADE ......................................................................17A MULHER NA ANTIGUIDADE ......................................................................17A MULHER NA ANTIGUIDADE ......................................................................17 AS MULHERES NA IDADE MÉDIA ........................................AS MULHERES NA IDADE MÉDIA ........................................AS MULHERES NA IDADE MÉDIA ........................................AS MULHERES NA IDADE MÉDIA ................................................................21........................21........................21........................21 UM OLHAR SOBRE A MULHER NO SÉCULO XIX........................................25UM OLHAR SOBRE A MULHER NO SÉCULO XIX........................................25UM OLHAR SOBRE A MULHER NO SÉCULO XIX........................................25UM OLHAR SOBRE A MULHER NO SÉCULO XIX........................................25 MULHER NEGRAMULHER NEGRAMULHER NEGRAMULHER NEGRA----PRESENÇA MARCANTE NA HISTÓRIA DO BRASIL ....32PRESENÇA MARCANTE NA HISTÓRIA DO BRASIL ....32PRESENÇA MARCANTE NA HISTÓRIA DO BRASIL ....32PRESENÇA MARCANTE NA HISTÓRIA DO BRASIL ....32 MULHER NEGRA E O MUNDO DO TRABALHO ..........................................40MULHER NEGRA E O MUNDO DO TRABALHO ..........................................40MULHER NEGRA E O MUNDO DO TRABALHO ..........................................40MULHER NEGRA E O MUNDO DO TRABALHO ..........................................40 COMUNCOMUNCOMUNCOMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBO .................................45 IDADES REMANESCENTES DE QUILOMBO .................................45 IDADES REMANESCENTES DE QUILOMBO .................................45 IDADES REMANESCENTES DE QUILOMBO .................................45 COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ ...........................................49COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ ...........................................49COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ ...........................................49COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ ...........................................49 COMUNIDADE SUTIL: uma história em construção ......................................53COMUNIDADE SUTIL: uma história em construção ......................................53COMUNIDADE SUTIL: uma história em construção ......................................53COMUNIDADE SUTIL: uma história em construção ......................................53 O COTIDIANO DAS MO COTIDIANO DAS MO COTIDIANO DAS MO COTIDIANO DAS MULHERES NO SUTIL .................................................59ULHERES NO SUTIL .................................................59ULHERES NO SUTIL .................................................59ULHERES NO SUTIL .................................................59 REFERÊNCIAS...............................................................................................63REFERÊNCIAS...............................................................................................63REFERÊNCIAS...............................................................................................63REFERÊNCIAS...............................................................................................63

4

Imagens e Representações das Mulheres: diferentes contextos

Autora: Rosa de Morais Soares Professora-Orientadora-IES-UEPG: Drª Cristiane Marques Szesz NRE: Ponta Grossa Município: Ponta Grossa Escola: Colégio Estadual Senador Correia – Ensino Fundamental Disciplina: História(x) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio( X ) EJA Conteúdo Estruturante: Relações culturais Conteúdo Básico: Cultura e Religiosidade

5

O desenvolvimento da temática em tela, “Mulheres”, constitui um desafio para

os educadores, tendo em vista a necessidade da inserção histórica e social

dos sujeitos que foram por muito tempo, excluídos historicamente.

Apesar do avanço da legislação com a Lei 10639/2003, que torna

obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e a

inclusão social do afro-descendente, percebe-se que há muito a avançar. Na

prática, constata-se que somente agora é que tal etnia é tratada com

destaque. Muito embora, a mídia coloque os atores com este perfil no papel

central e não como coadjuvante, as mulheres negras não conseguem ocupar

os seus espaços na sociedade.

Abordar a questão de gênero e raça, significa se propor a desenvolver a

cidadania partindo-se de valores como respeito e igualdade. Para tanto, faz-

se necessária a (des) construção de conceitos introjetados no inconsciente

coletivo como condição de superioridade de etnia.

Nesse sentido, a busca de novas representações sociais é o mote deste

trabalho, no qual vislumbramos desmistificar o mito da mulher quilombola, a

qual se vê como sujeito excluído histórica e socialmente.

Este Caderno Pedagógico será utilizado como recurso didático em uma

turma de EJA do Colégio Estadual Senador Correia, município de Ponta

Grossa, na implementação do projeto PDE. O Caderno Pedagógico, deste

modo, propõe reflexões sobre o Papel da Mulher na sociedade, em

diferenciados tempos históricos, dando destaque à mulher negra no contexto

quilombola da Comunidade Sutil.

6

O presente material didático destina-se ao registro de textos e atividades a

serem desenvolvidos na Proposta de Intervenção Pedagógica na Escola,

como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,

da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Em primeiro lugar é importante dizer o quanto é agradável dialogar com

os colegas professores tendo como base deste diálogo este material, na

esperança de que ele enriqueça, ainda mais, a prática pedagógica no

cotidiano escolar, no sentido de melhor dinamizá-lo

A escolha do tema de estudo sobre a história das mulheres, deve-se a

maneira como eu me posiciono frente a minha feminilidade. Considero que, a

partir do momento em que compreendo a minha ancestralidade, melhor

entendo o meu papel enquanto cidadã na sociedade em que vivo, pois

também sou sujeito da História no meu tempo e espaço.

A história das mulheres tem alcançado espaço em diversos segmentos

sociais e também nos estudos historiográficos contemporâneos. Muitos

autores e autoras têm pesquisado sobre a história das mulheres no Brasil,

obras como: "História das mulheres no Brasil de Mary Del Priore; Condição

feminina e formas de violência de Rachel Soihet e Os Excluídos da História

de Michelle Perrot são algumas que podem ser destacadas dentre muitas

outras.

Baseada em estudos recentes, minha intenção é resgatar o papel de uma

classe em conflito social; as mulheres quilombolas da Comunidade Sutil. E

para chegar até esse grupo, isolado historicamente, objetivo aqui perpassar a

trajetória histórica das mulheres em diferentes contextos, e ao longo da

história, retendo-me a alguns fragmentos para melhor entender a sua

construção. Isto justifica a necessidade de historicizar as diversas

representações que as mulheres tiveram ao longo do tempo.

Na formação das sociedades, o papel da mulher é tão significativo quanto o

do homem, revelando assim que ela faz parte da construção histórica, e deve

APRESENTAÇÃO

7

ser tratada de tal forma que o aluno, enquanto sujeito da aprendizagem,

possa compreender a identidade feminina e o seu papel de protagonista

social.

Porém, uma dificuldade se apresenta: nos livros didáticos de História não

existe um trabalho mais aprofundado sobre a imagem e representações das

mulheres na história.

Mediante isto, quando faço referência à mulher, o que considero importante

colocar é: situar quem é essa mulher, quais as imagens e representações

sociais são/foram construídas ao seu redor, em diferentes épocas e em que

condições sociais e culturais está inserida.

A partir disto, pretendo apresentar algumas possibilidades de estudo,

discussões e reflexão que abram novos caminhos interpretativos sobre o tema

trabalhado, e que este material constitua-se em um recurso para que

professores e alunos possam enriquecer suas reflexões na construção do

conhecimento no espaço escolar.

8

A história por muito tempo foi branca e masculina. Na historiografia, a

temática "Mulher" ficou na obscuridade por muito tempo, negando os papéis

desempenhados pelas mulheres na história. Segundo a historiadora Joana

Maria Pedro (1994, p. 35) "desde que a história existe como disciplina

científica, ou seja, desde o sec. XIX, o lugar das mulheres na história depende

das representações dos homens, os quais foram por muito tempo os únicos

historiadores ".

Ainda hoje, pode-se sentir os reflexos de uma sociedade patriarcal,

dominadora e preconceituosa, que nega os diversos papéis desempenhados

pela classe feminina.

Cada momento histórico corresponde a uma representação da Mulher.

A condição feminina é construída social e historicamente, determinada pela

cultura de seu tempo. Em outras palavras, paralelamente aos modelos

dominantes de cada época, sempre encontramos outros modelos identitários.

Assim, não devemos falar da história da mulher, mas da "história das

mulheres", pois sua trajetória é marcada por várias diferenças, como sua

condição social, raça, crenças possibilitando a compreensão da diversidade

de representações existentes nos diversos períodos históricos.

Por muito tempo, a Mulher, como objeto e sujeito na história, foi negada

no campo da pesquisa; somente na área de estudos da História Cultural é

que se teve a preocupação de historicizar diversos grupos sociais, antes

negados e inseridos no grupo dos excluídos como escravos, operários,

pessoas comuns e mulheres.

A historiografia manteve certa resistência ao tema e isto ocorreu porque a

História sempre esteve restrita ao estudo da vida pública, deixando a análise

da vida privada para outras áreas do conhecimento. A busca pelo espaço

público, por parte das mulheres, vem colocar em risco o domínio desses

INTRODUÇÃO

9

espaços de poder masculino, desequilibrando as ciências humanas do

passado.

Dentro da historiografia contemporânea, muitos estudiosos têm se

preocupado com a temática "Mulheres". Inicialmente, a história das mulheres

não encontrou espaço na historiografia da Escola de Annales de Febvre e

Bloch, por meio da revista Annales. Naquele contexto, a preocupação da

historiografia era combater a história essencialmente política e diplomática,

calcada exclusivamente nos acontecimentos e voltada para a história de reis,

presidentes e guerras Tratava-se, também, de caminhar em um sentido

multidisciplinar, nutrindo-se e nutrindo outras disciplinas como a antropologia,

a sociologia e a psicologia. Era o momento de questionar a supremacia da

história política e impulsionar a história social que iria determinar o avanço na

abordagem do feminino.

Atualmente, a historiografia tem dado uma atenção especial às mulheres,

porém, resta muito a fazer sobre a história da mulher, principalmente da

mulher negra, evidenciando a preocupação de recuperar toda a sua

historicidade e (re) significar seus papéis.

Este Caderno Pedagógico, é dividido em três momentos; no primeiro

momento, procurei tratar da história das mulheres em alguns contextos

históricos: A mulher no século XIX; a mulher negra na história do Brasil; as

mulheres escravas e as mulheres quilombolas. No segundo momento,

focalizo a questão da mulher negra na atualidade, das mulheres no mundo do

trabalho e proponho uma reflexão sobre o Dia Internacional da Mulher e, por

fim, o contexto quilombola e as mulheres negras da Comunidade Sutil.

10

Nossa atividade inicial partirá da aplicação de um

questionário para saber as idéias iniciais dos alunos com

relação aos papéis das mulheres construídos

historicamente.

Na seqüência, definiremos os conceitos a serem

abordados junto a turma de alunos da EJA como forma

de responder as dúvidas e questionamentos dos alunos.

Questionário para avaliar as idéias iniciais:

Parte I – Identificação Aluno(a):.......................................................................................................... Idade:.................................

Sexo:..................................

Parte II – Abordagem sobre o tema proposto

O que você pensa sobre a questão de discutir, na escola, o papel das mulheres na história? .............................................................................................................................

ATIVIDADE INICIAL

11

.............................................................................................................................

.............................................................................................................................

Seus familiares conversam com você sobre os papéis da mulher?

SIM

NÃO

Cite os principais papéis que você considera que devam ser desempenhados pelas mulheres na sociedade? ...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

O que você conhece sobre a mulher na antiguidade? ...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

...........................................................................................................................

que você pensa sobre a mulher na atualidade?

......................................................................

......................................................................

......................................................................

12

......................................................................

.....................................................................

Assinale abaixo os papéis que você acredita que devam ser exclusivamente das mulheres?

cozinhar

cuidar dos filhos

atuar na política

organização do lar

motorista de ônibus

policial

professora

gari

motoboy

presidente

A maioria dos jovens discutem sobre os papéis das mulheres com seus amigos?

SIM

NÃO

Você conhece alguma mulher quilombola? .......................................................

.......................................................

.......................................................

.......................................................

.......................................................

Você considera

importante a mulher quilombola

na região dos Campos Gerais?

POR QUÊ?

.......................................................

.......................................................

.......................................................

.......................................................

.......................................................

13

ATIVIDADE 1: Para que você possa se apropriar dos conceitos, busque no dicionário o conceito de: > Quilombola, > Representações, > Gênero > Mídias.

ATIVIDADE 2 : Use a sua criatividade e busque em diferentes mídias (revistas, jornais, sites, periódicos, músicas, imagens, filmes, livros didáticos), representações das mulheres na atualidade. Esta atividade poderá ser feita em equipe.

ATIVIDADE 3: (Oficina das idéias - Manual de Dinâmica)

Material: Revistas velhas, cola, tesoura, pincel atômico e papel bobina.

Objetivo: Discutir as relações de gênero

Desenvolvimento: Dividir o grupo em 2 ou 4, conforme o número de

participantes e pedir que um ou dois construa/m um painel

representando o mundo do homem, e o/s outro/s construa/m um painel

representando o mundo da mulher. Depois do tempo estipulado, os

grupos apresentam suas produções. O /a professor/a encaminha a

discussão para as diferenças biológicas, sociais e culturais e o

estabelecimento da hierarquia de gênero.

HORA DO DESAFIO!

14

A invisibilidade feminina na história não é caracterizada

pela inexistência de ações da mulher na formação das

sociedades em diferentes épocas. Esse silêncio se

deve ao fato de que a escrita da história foi sempre

uma atividade realizada pelo homem, como revela

Michelle Perrot, (1992) em seus escritos, "o ofício do

historiador é um ofício de homens que escrevem a

história no masculino. Os campos que abordam são os

da ação e do poder masculino (...)". As poucas

narrativas que encontramos do passado feminino não

revela o seu protagonismo, e sim apresenta a mulher

como uma figura submissa, inferior e referenciada

somente nos espaços privados.

Simone de Beauvoir em seu livro: "A mulher independente"

http://feminina12esa.blogs.sapo.pt/489.htm

AS REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES NA HISTÓRIA

15

aponta que "No momento em que as mulheres começam a tomar

parte na elaboração do mundo, esse é ainda um mundo que

pertence aos homens". O olhar masculino vê a mulher como o

Outro e não aceitar ser o outro é recusar a cumplicidade com o

homem que se coloca como uma casta superior oferecendo

grandes vantagens. (2008.p.32) Esses como se vêem detentores

das cadeiras do poder e se sentem no direito de ter certas

atitudes totalmente condenadas socialmente.

Vejamos o que nos apresenta os escritos milenares sobre a mulher em

tempos remotos:

Não se assuste! - e não pense que é notícia de violência contra a

mulher; a ilustração acima apresenta um documento que define

condutas femininas na França do século XIV.

Analisando esse tipo de escrito, no contexto atual, podemos

dizer que as conquistas das mulheres já foram muitas, mas, ainda

"Quando um hom em for repreendido em público por um a m ulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapée quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada de sua face. E é bem m erecido, por dirigir-se ao hom em com maldade de linguajar ousado."

Le Ménagier de Paris (Tratado de conduta m oral e costum es da França, século XIV)

16

hoje, encontramos situações que precisam ser mudadas.

O que se tem de fonte para identificar as representações das

mulheres na Antiguidade, como já foi citado, são as imagens que

os homens têm das mulheres dessa época. "Aristóteles já

afirmava que o corpo feminino era dotado de um cérebro menor,

com uma capacidade intelectual e racional menor que a do

homem."

Vejamos que representações nos trazem os escritos sobre as

mulheres em diferentes sociedades e tempos históricos.

OUTRAS FONTES:

O filme conta a história de Oribela, jovem portuguesa, órfã, trazida para o Brasil com a

finalidade de se casar com um dos primeiros colonizadores. Retrata como era a vida

familiar na sociedade dos engenhos de açúcar.

Livro: CHALITA, Gabriel. Mulheres que mudaram o mundo. 1ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional,2006

.

Filme: “DESMUNDO”

Direção: Alain Fresnot/Brasil/Portugal, 2003, 101min.

17

Mulheres egípcias

A mulher egípcia, das classes mais

abastadas e com instrução, usufruiu

talvez como nenhuma outra, de ampla

liberdade e direitos. Ocupando cargos

públicos, conduzindo negócios,

desenvolvendo a função de

sacerdotisa, podendo até mesmo

ocupar o trono do Faraó. Podemos

enumerar uma longa lista de egípcias

que foram mães, esposas e filhas de

reis, cuja influência na história daquele

povo foi extremamente benéfica. Além

de Hatshepsut, podemos citar a

Princesa Nofret; Nefertiti, esposa de

Akhenaton; Nefertari, esposa de

Ramsés II e Cleópatra, já no final das

A MULHER NA ANTIGUIDADE

http://coresematizes.files.w

ordpress.com/2010/03/m

ulheresnaantiguidhttp://w

ww.bicodocorvo.com

.br/cultura/historia/cleopatra

18

dinastias, foram destaques naquela

sociedade.

Embora detentoras de muitos direitos legais, esses não se estendiam a todas

as mulheres egípcias, já que, de certa forma, a igualdade entre

homem/mulher, tinha que encontrar um respaldo na riqueza e na base

familiar. No geral, as mulheres ocupavam uma posição de inferioridade em

relação aos homens ao longo de toda a história do Egito.

Mulheres Sumerianas:

Na Mesopotâmia, as mulheres sumerianas

alcançaram um nível próximo ao das egípcias

na sociedade, mas não se igualavam aos

homens. Tinham sobre os filhos os mesmos

direitos que o marido, e, na ausência deste,

administravam os bens comuns, e eram a

autoridade suprema do lar. Também tinham

liberdade para dirigir negócios,

independentemente do marido, possuíam

escravos e tinham direito de vida ou morte

sobre eles. Um dos sonhos das moças

sumerianas era tornar-se uma sacerdotisa no

templo dos deuses. No entanto, apesar de

todas as liberdades, as mulheres na Suméria

estavam sujeitas à autoridade do homem.

Eles podiam vendê-las ou negociá-las em certos casos, como um escravo

para pagar suas dívidas. A missão fundamental da mulher na sociedade

sumeriana era dar muitos filhos ao marido e ao Estado, senão ele poderia

se divorciar dela, sem dar qualquer outra razão.

Escultura de mulher sumeriana

http://cpantiguidade.wordpress.com

/tag/mesopotam

ia/

19

Mulheres Gregas:

Na Grécia, as mulheres foram

agrupadas em duas categorias:

escravas e livres. A escrava era um

objeto de prazer, serva submissa a

cargo de satisfazer os desejos do

homem e sempre dedicada ao trabalho

doméstico. A mulher livre chegou a

ocupar um lugar de respeito e a se

beneficiar de grande estima, mas

nunca igual aos homens. Entre os

espartanos, podemos encontrar o único

caso em que a mulher era quase igual

aos homens.

As mulheres espartanas eram

reverenciadas, principalmente como

mães, encarregadas de ensinar às

crianças o respeito às leis, a coragem e o

hábito de moderar os apetites sensuais,

os desejos, as paixões. Em Esparta, a

mulher tomou o seu lugar ao lado do

homem, não só na vida social, mas

também ocasionalmente na política, algo

que não aconteceu em Atenas.

Mesmo nos tempos de Péricles, um período de grande prosperidade

econômica e florescimento das artes, a mulher ateniense ocupou uma posição de

subordinação aos homens. Podia acompanhá-lo a espetáculos públicos, podia ter

negócios ou propriedades, mas devia sempre permanecer em silêncio em

reuniões públicas e manter o respeito pelo homem.

Estátua de mulher espartana

http://cafecomhistoria.zip.net/arch2009-04-01_2009-04-30.htm

l

www.brasilescola.com/historiag/atenas-esparta-as-mulheres.htm

20

Mulheres romanas

Nas sociedades romanas primitivas, voltadas ao cultivo da terra e às guerras, as

mulheres ocupavam um papel secundário e totalmente obscuro. A mulher era

sujeita à vontade do seu senhor: paciente, mãe trabalhadora e companheira do

homem nas tarefas diárias.

Todavia, na sociedade urbanizada e,

especialmente, durante os períodos que levaram

à formação do império, a mulher foi

gradativamente ampliando sua participação na

convivência social e política, chegando até

mesmo a compartilhar o trono dos Césares.

Sendo Roma a capital do mundo, a cujos pés

estavam povos e nações, a mulher romana

adquiriu privilégios até então desconhecidos. Ela

era respeitada por sua capacidade e não apenas

por sua beleza ou família. Administrava seus bens

e negócios, com grande habilidade e

independência total do homem, tinha servos e escravos, e participava de

banquetes e reuniões junto com seu marido. Agripina, mãe de Nero, casou-se

com seu tio, o Imperador Cláudio, depois de matar seu marido; sua influência

sobre o imperador era tão grande que o convenceu a deserdar seu próprio filho,

Britannicus, em favor de Nero. Sob o reinado deste, alcançou imenso poder, até

que Nero, temendo sua influência, ordenou seu assassinato. Em termos gerais, a

mulher romana era quase igual à egípcia, mas nunca alcançou plena igualdade

com os homens, salvo algumas exceções, e mesmo assim, somente através por

meio do casamento. http://coresematizes.wordpress.com/2010/03/08/- Acesso em: 23/06/10 MYRRHA, Vania, Arte e

História.

Dama Romana

http://6carteband2010e1.blogspot.com/2010/05/vestuario-e-adornos-

di

22h

l

21

A representação da mulher, no período medieval, foi construída pelos homens,

padres e moralistas que construíram uma imagem cristalizada da mulher.

Nessas representações tem-se a figura de Eva. A mulher personificada em Eva

é a tentadora, pecadora, a aliada do diabo, concentrando muitos dos vícios

como a sensualidade, a sexualidade, a luxúria, a gula. Por outro lado, usavam a

figura da Virgem Maria - a mulher que trouxe ao mundo a redenção do pecado -

o Salvador.

Na Idade Média, a igreja pregava uma ideologia repressora para justificar a

manutenção da submissão feminina. Submetida à autoridade do pai ou do

marido, a mulher tinha destino certo, o casamento e a maternidade ou deveria

optar pelo convento para ser esposa de Cristo. As mulheres pobres realizavam

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AS MULHERES NA IDADE MÉDIA

22

diversas tarefas, desempenhando funções, para além do espaço doméstico,

como artesãs, camponesas, e outras atividades desenvolvidas pelo sexo

masculino. Contudo, as representações relatadas pelo clero, nem sempre iam

além das imagens estereotipadas produzidas por eles, deixando de caracterizar

as relações sociais, distinguindo essas posições, tempo ou lugar,

caracterizando-se numa representação unívoca.

Esse tipo de relato historiográfico retrata:

“As mulheres em sua existência e pluralidade, tirando delas sua múltipla possibilidade de ação no social. Dentro dessa perspectiva desapareceram da história personagens como Hilda de Whitby, que no século VII fundou sete mosteiros e conventos, ou quem sabe a religiosa alemã Hroswitha de Gandersheim, autora de dezenas de peças de teatro. Em Bizâncio, numerosas eram as mulheres na universidade. Anna Comnena fundou em 1083 uma nova escola de medicina onde lecionou por vários anos. Eleonora da Aquitânia, enquanto rainha, desempenhou um importante papel político na Inglaterra e fundou instituições religiosas e educadoras. No mundo Islâmico, entre os séculos VIII e IX, as mulheres conheceram a glória: grandes religiosas, mulheres cultas, teólogas, poetisas, juristas, músicas ,mineiras, defensoras de castelos, pintoras, caçadoras e rainhas que governaram com sucesso. Sitt Al Mulk, irmã do califa do Egito, assumiu o poder com a morte do irmão em 1021 e o exerceu com muita competência e vigor,” (Andrée Michel, 1982).

Outro exemplo é o de que, na Idade

Média, muitas mulheres detinham o

saber popular feminino nos

procedimentos com as parturientes e de

cura das doenças. Essas mulheres

viajavam de uma aldeia a outra para dar

conforto às mulheres camponesas

pobres que não tinham como cuidar de

sua saúde. Essa prática passou a ser

reprimida pela Igreja e pela

medicina, pois, naquele contexto, passa a representar um perigo para o poder

médico masculino, uma vez que, com o passar do tempo, esses grupos de

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23

curadoras vão se fortalecendo, e

se organizam, formando confrarias

onde trocavam receitas e segredos

de cura do corpo e da alma. Com

isso, essas mulheres passaram a

ser perseguidas, instalando-se a

caça às bruxas quando muitas

foram queimadas nas fogueiras

como hereges.

As mulheres também se

manifestaram contra as condições

de trabalho, de dominação e

exclusão social em que viviam e a

luta pelo respeito e reconhecimento

de sua condição feminina.

O texto abaixo retrata o cotidiano das tecelãs de seda na Inglaterra no século

XII, ilustrando essas manifestações:

Sempre teceremos panos de seda, e nem por isso vestiremos melhor, seremos sempre pobres e nuas e teremos sempre fome e sede; nunca seremos capazes de ganhar tanto que possamos ter melhor comida. Sem mudanças teremos pão de manhã, pouco, à noite menos; pois da obra de nossas mãos nenhuma de nós terá para se manter, mais de quatro dinheiro de libra, e com isso não poderemos ter bastante carne e panos; pois quem ganha por semana vinte soldos não está livre de sofrer...e estamos em grande miséria. Mas, com os nossos salários, enriquece aquele para quem trabalhamos. Grande parte das noites ficamos acordadas, e todo dia, para isso ganhar. Ameaçam-nos de nos moer de pancada, os membros quando descansamos: e assim, não nos atrevemos a repousar.( LE GOFF, 1994, p.65)

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24

OUTRAS FONTES:

O filme se passa em Veneza- Itália, e conta a história de uma bela jovem da Idade Média

que se torna cortesã na sociedade da época, e é julgada pelo Tribunal da Inquisição, como

herege.

ATIVIDADE EM GRUPO: A Idade Média é um período da História muito criticado. Filmes, romances, peças teatrais costumam retratar esse período, principalmente as injustiças cometidas com as mulheres. a) Discuta com seus colegas e relate algum fato de que você tenha

conhecimento, ocorrido no período medieval.

b) Você concorda que a humanidade evoluiu? A partir do seu relato, pense nos

últimos acontecimentos trazidos pela mídia e responda: Em relação ao respeito,

à busca da igualdade, à opressão e à violência contra a mulher, a humanidade

realmente evoluiu? Justifique sua resposta.

c) Existe alguma semelhança entre as representações medievais e as dos dias

atuais? Como isto se apresenta quando se trata dos acontecimentos

relacionados à Mulher?

d) No texto ''Mulheres na Antiguidade'', qual é a característica, na relação

homem-mulher, que permanece presente em todas as sociedades?

Filme: “EM LUTA PELO AMOR”

Direção: Marshall Herskovitz,1998,EUA,Drama/Romance

HORA DO DESAFIO!

25

Amparadas pelos ideais das Revoluções do século XVIII, principalmente

da Revolução Francesa, que pregava a luta pela igualdade, as mulheres viram

a oportunidade de lutar pelos seus ideais, procurando se libertar do mundo

machista e opressor, no qual seus direitos não eram respeitados. Não só as

mulheres, como todo povo oprimido, vê nesses ideais a condição para um

a sociedade igualitária e mais humana.

Um dos objetivos

revolucionários era

defender a universalidade

e, dentro deste princípio,

não se poderia excluir a

presença das mulheres,

mas destacar as

experiências e

contribuições delas no

passado, pois, por muito

tempo, sofreram na pele

os preconceitos e

exclusão da história.

Na Revolução

Francesa (1789), as

mulheres entraram na luta

contra o poder

estabelecido das

monarquias e da situação

Precária, lutando por melhores condições de vida para suas famílias e para as

camadas mais pobres da sociedade francesa quando, nos palácios, reis e

rainhas viviam uma vida de luxo e opulência.

UM OLHAR SOBRE A MULHER NO

SÉCULO XIX

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mons.com

26

Grande parte da massa revolucionária era formada por mulheres que, com

muita garra e coragem, foram à frente da Revolução, participando das

discussões e passeatas com o objetivo de derrubar o poder vigente.

O Brasil também vai receber a influência desses ideais. O modelo de

conduta feminina ditado, até então, recebia a influência do conservadorismo e do

machismo, delimitando o espaço privado para a atuação da mulher, o lar com as

tarefas de administração, a educação dos filhos, os cuidados com as

necessidades do marido e outros afazeres que tivessem ligados ao espaço

privado do lar, cabiam exclusivamente à mulher.

Um bom exemplo de representação da mulher burguesa aparece na análise de

Maria Ângela:

A vida burguesa reorganiza as vivências domésticas. Um sólido ambiente familiar, lar acolhedor, filhos educados e a esposa dedicada ao marido e sua companheira na vida social são considerados um verdadeiro tesouro.(D'INCAO, Maria Ângela. p.225)

As idéias revolucionárias vieram destruir as fronteiras entre o público e o

privado, fazendo com que as mulheres fossem às ruas participar do espaço

público, antes ocupado somente pelos homens. Entretanto, o sexo masculino

preocupado com o poder que as mulheres começavam a ganhar; iniciaram

campanhas de retorno da mulher ao espaço privado. Cada vez mais é reforçada a

idéia de que ser mulher é ser quase, integralmente, mãe dedicada e atenciosa, um

ideal que só pode ser plenamente atingido dentro da esfera da família "burguesa

e higienizada".

A educação dos filhos não pode ser deixada para as amas negras, pois é

função da mulher supervisionar a primeira educação dos filhos. Todo sucesso da

família vai depender do olhar dessa mulher que fica responsável pelo status

familiar, importante para manter a imagem e prestígio social do homem.

Significavam um capital simbólico importante, embora a autoridade familiar se

mantivesse em mãos masculinas (do pai ou marido), às mulheres ficava a função

27 de cuidar dessa imagem do homem público, tão necessária para a manutenção do

referido status.

CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO:

Baseado em obra da escritora Edith

Wharton, nos mostra o cotidiano das

mulheres norte-americanas no século XIX.

Nele podemos ver que as mulheres

tinham que se preparar para um bom

casamento e para o exercício da

maternidade, como no caso de May

(Wynona Ryder). Por outro lado, mulheres

de comportamento considerado liberal,

como Madame Olenska (Michelle Pfeiffer)

eram desconsideradas socialmente.

Contextualizando a sociedade da época, vamos verificar que:

Durante o século XIX, a sociedade brasileira sofreu uma série de transformações: a consolidação do capitalismo; o incremento de uma vida urbana que oferecia novas alternativas de convivência social; a ascensão da burguesia e o surgimento de uma nova mentalidade - burguesa -reorganizadora das vivências familiares e domésticas, do tempo e das atividades femininas; e, por que não, a sensibilidade e a forma de pensar o amor. Presenciamos ainda nesse período o nascimento de uma nova mulher nas relações da chamada família burguesa pela valorização da intimidade e da maternidade. (D' INCAO apud DEL PRIORE, 2008, p. 223).

Filme: “A ÉPOCA DA INOCÊNCIA”

Diretor: Martin Scorsese, 1993, EUA, Drama

28

Como vimos até agora, a norma ditada dizia que a

mulher deveria ficar no resguardo do seu lar, mas

como fazer com a situação de miséria pela qual

passam, historicamente, as classes menos

favorecidas dentro do modelo capitalista? No

século XX, muitas das famílias tinham a mulher

como chefe e provedora do lar. Abandonadas

pelos maridos, trabalhavam arduamente para

manter sua família.

Contudo, estas mulheres, trabalhadoras pobres, eram normalmente discriminadas pela sociedade, que não aceitava a sua atuação nos espaços públicos, e como fazer quando:

O MODELO PROLETÁRIO

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29

“A mulher pobre-cercada por uma moralidade oficial completamente desligada de sua realidade, vivia entre a cruz e a espada. O salário minguado e regular de seu marido chegaria a suprir as necessidades domésticas só por um milagre . Mas a dona de casa que tentava escapar à miséria por seu próprio trabalho, arriscava a sofrer o pejo da "mulher pública" Em vez de ser admirada por ser "boa trabalhadora" , como o homem em situação parecida, a mulher com trabalho assalariado tinha de defender sua reputação contra a poluição moral, uma vez que o assédio sexual era lendário” (FONSECA,2008, p. 510

Muitas lutas foram travadas pelas mulheres desde

o período revolucionário até os dias atuais, mas

não deram conta da superação das diferenças

entre os sexos. A questão da submissão e

dependência de um casamento no modelo

burguês ainda se faz presente em nossa

sociedade, pois esse estereótipo continua sendo

reforçado por muitos veículos de comunicação de

massa e, em muitas vezes, pela própria

30

educação.

Ouve-se muito falar sobre a

"emancipação" da mulher,

que a mulher está cada vez

mais ocupando seu espaço

no mercado de trabalho, que

a estrutura da sociedade

pós-moderna se difere

bastante daquela do século

XIX - em que as mulheres

não trabalhavam e viviam apenas para cuidar do lar, dos filhos e do marido.

No entanto, precisamos saber que mulher do século XIX é essa, que não

saía de casa, senão acompanhada de um outro homem e que assumia

apenas o papel de rainha do lar.

Alguns estudos históricos, aqui na Bahia, mostram que no final do

século XIX e início do século XX, uma grande parcela da população

feminina trabalhava fora de casa, sendo sua maioria negras, mestiças e

brancas empobrecidas. Muitas delas eram viúvas e mães solteiras que

precisavam trabalhar para sobreviver. Ou seja, as "rainhas do lar" eram

apenas mulheres que não precisavam trabalhar para sobreviver, que

dependiam do marido e tinham boa condição financeira.

Tinha também os trabalhos de bordadeiras, chapeleiras, costureiras,

capelistas, floristas, modistas e rendeiras que eram produzidos em casa

MULHER E TRABALHO

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20rais

31

ou nas casas dos patrões e

vendidos para lojas e

armarinhos.

Esse artesanato doméstico

foi importante porque as

mulheres podiam, ao mesmo

tempo, trabalhar e cuidar da

família e do lar, ainda evitava

“sujar” a reputação, uma vez

que trabalhar fora de casa

era considerado indigno.

ATIVIDADE: 1 – Leia o texto “Mulher e Trabalho” e discuta com seu colega sobre asmudanças/permanências e as devidas diferenças/semelhanças, noatual cotidiano das mulheres, em relação ao texto. 2 – Leia o texto abaixo e ê sua opinião. Esse modelo burguês aindaencontra espaço nos dias atuais? Qual a realidade na sua família “A ausência de um homem na família, junto à mulher e aos filhos é muito"cobrado", nas famílias que são anteriores a década de 80, pois a partir dosanos 80 começou-se a criar uma nova mentalidade entre as mulheres, quedeixaram de ser mal vistas por não terem a presença masculina dentro decasa para dividir as tarefas e principalmente as contas”.

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HORA DO DESAFIO!

32

www.tvbrasil.org.br/consciencianegra/imagens/mulheres_negras_imperio.

Nossa história é branca e masculina. Por muito

tempo, nossa historiografia excluiu a figura da

mulher de suas páginas, permanecendo oculta a

sua face nos livros de história e a mulher branca

sofreu preconceito, o que dizer da mulher negra?

Sofrendo duplo preconceito, o de gênero por ser

mulher e o de racismo por ser negra. Não

valorizada em suas ações, permaneceu excluída

do contexto social, sendo negada em sua

negritude e desrespeitada em sua cultura.

Para elucidar o papel das mulheres negras na

história do Brasil, tem-se que situá-las

historicamente. Mas como penetrar no seu

passado, e tentar resgatar suas memórias, se não

eram consideradas significativas na construção da

história? - não porque seus feitos eram

inexistentes, mas porque nada foi registrado.

sendo este fato uma forma de negá-las no cenário

histórico.

O sistema escravista no Brasil foi marcado pela

violência e exploração contra os negros.

MULHER NEGRA – PRESENÇA MARCANTE NA

HISTÓRIA DO BRASIL

33

"Pela violência, o escravo se mantinha obediente, submisso e produtivo. O castigo foi, assim, ‘naturalizado’. O pouco de benevolência que havia, vinha de vozes que se levantavam por dentro da estrutura, buscando amenizar o castigo físico, mas sempre na perspectiva da legitimidade do castigo como parte inerente ao sistema escravista." (Caderno Temático: História e cultura afro-brasileira e africana. 2006. p.19).

Para negras e negros foi um período de castração

e opressão, pois foram arrancados de suas terras

e de suas famílias, deixando para trás toda sua

cultura e sua identidade que acabava sendo

silenciada nas senzalas das grandes fazendas.

Obrigados a negar sua religiosidade e costumes,

tendo que viver em seu cotidiano situações

totalmente desumanizantes.

http://conversademenina.w

ordpress.com/2009/07/05/brasil-

do-seculo-xvi-inspira-romance-vida-de-m

ulheres/

34

Toda essa opressão levou os escravos a se

rebelarem e lutarem pela sua liberdade,

transformada em fuga e resistência, dando origem

aos quilombos, que eram os espaços onde os

negros se refugiavam após as fugas.

COMO ERA A VIDA DAS MULHERES NOS QUILOMBOS

Os quilombos eram formados em regiões afastadas das unidades de produção e dos aparelhos militares escravistas. Caracterizavam-se pela dimensão pan-africanista de sua luta, implantando e expandindo os valores negro-africanos e se constituindo como referência da resistência contra o escravismo colonialista, dando, nas Américas, continuidade ao processo de guerra de libertação africana. No Brasil, por volta de 1600, começa a se constituir o reino negro doas Palmares, em Alagoas, que se tornaria, até 1695, no maior quilombo das Américas. Palmares chegou a se estender por 27 quilômetros e era formado por florestas tropicais, pelas quais passavam

http://blog.institutonacional.com.br/2008/11/18/sem

ana-da-consciencia-negra/

35

inúmeros rios. Algumas mulheres se destacaram na afirmação sócio-existencial negra que foram os quilombos. Uma delas foi AQUALTUNE, líder do Quilombo dos Palmares. Era princesa na África, filha do rei do Congo, vendida como escrava para o Brasil. Organizou sua fuga e de outros escravos para Palmares e, ao lado de Ganga Zumba, iniciou o processo de organização do Estado de Palmares. Chefiou uma das povoações que levava seu nome: Mocambo de Aqualtune Outro nome em destaque é o de TERESA DO QUARITERÊ. Teresa foi Rainha do Quilombo Quariterê durante duas décadas, no século XVIII. Teria nascido em Benguela, Angola, embora exista a possibilidade de ter nascido no Brasil. Ela liderou um grupo de negros e índios instalados próximos a Cuiabá, não muito longe da fronteira de Mato Grosso com a atual Bolívia. Impôs tal organização a Quariterê que o quilombo sobreviveu até 1770. Contava com um parlamento, um conselheiro da rainha e um sistema de defesa organizado com armas trocadas com brancos ou roubados nas vilas próximas. Teresa exercia grande controle e influência sobre o Quilombo, que contava com uma agricultura de algodão e alimentos muito desenvolvida. Possuía teares com os quais fabricavam tecidos que eram comercializados fora dos quilombos, bem como os alimentos excedentes. Quariterê se caracterizou pelo seu trabalho com a forja, pois transformavam em instrumentos de trabalhos os ferros utilizado s contra os negros. (THEODORO, Profª Helena

36

E A MULHER ESCRAVA Qual a diferença da mulher quilombola?

As mulheres escravas não tinham direito a uma existência própria, tendo sofrido os horrores da exploração de uma sociedade escravocrata e patriarcal. Segundo Giacomini (1988), a mulher escrava, além de estar inserida no trabalho produtivo, como o homem escravo, tinha a particularidade de possibilitar a reprodução biológica. O potencial produtivo, aliado ao potencial reprodutivo da escrava, não favoreciam o lucro esperado, ficando assim as mulheres à mercê das necessidades e solicitações de seus senhores, utilizada como objeto sexual e como ama-de-leite, sendo impedidas de exercer sua condição feminina de ser mãe e de ser mulher. O mito da mulher negra super sexuada, construído ao longo da história, tem suas bases calcadas na visão que se tinha da mulher escrava. Entretanto, tal visão foi concebida dentro de uma sociedade patriarcal na qual sempre se determinou o poder do homem sobre a mulher, independente desta ser escrava ou senhora. A sexualidade

http://blogdotidao.blogspot.com/2007_11_01_archive.htm

l

37

que os senhores podiam vivenciar com suas esposas era permeada de regras e valores relacionados aos preceitos religiosos e morais. A escrava negra não tinha família, nem cidadania, sendo obrigada a atender às fantasias sexuais do senhor e dos filhos do senhor. Esta relação escrava-objeto sexual representava, aos olhos da senhora, uma ameaça aos laços abençoados e sacramentos da família branca. Assim sendo, a relação entre elas era uma versão doméstica e feminina da com o feitor. (THEODORO, Profª Helena)

ATIVIDADE: 1- Os textos acima nos relatam como era o cotidiano das mulheres quilombolas e das escravas, mostrando-nos que a mulher negra nos quilombos era muito atuante e desempenhava suas funções com muita liderança. Identifique no texto, quais os motivos pelos quais a mulher escrava não tinha a mesma liderança. 2- Por que foi construído na mulher negra o mito de super sexuada? Esse mito existe até os dias de hoje? 3-No texto Mulher Negra - Presença na História do Brasil - por que a autora diz que nossa história é branca e masculina? E hoje você percebe quais mudanças podem ser perceptíveis em relação a situação da mulher negra ? 4-Analise o rap e retire a ideia principal. Quais as críticas do autor em relação ao lugar ocupado pela mulher negra na sociedade?

HORA DO DESAFIO!

38

.

Le,Ie,Ie, se liga no som, é a voz do rap no seu day, esse é o grupo

rapaziada, a noviça do Rappin' Hood,a todas as deusas do Ébano,deusas

da beleza,as nossas rainhas,essas são as nossas mulheres pretas. Essa

foi dedicada a todas as mulheres pretas especialmente a você princesa

(Negra preta mulher brasileira,preta...

)Ela é a princesa e eu o plebeu,

eu e ela,ela e eu. Ela é a princesa

e eu o plebeu, eu e ela, ela e eu.

Olho na capa da revista e ela não

esta lá,Sempre esta executiva

raramente é,papel principal de

novela,só se for em sonho,sempre

ficou jogada em segundo plano.

Sua pele escura, espelha a

consciência que a vida é dura

para a mulher negra, sociedade

machista, com país racista,ela

colhe as migalhas do sistema

pacifista, se mesmo assim deixa

fluir do seu perfume,a rosa

negra,deusa da beleza,mulher de verdade,exemplo de luta,com até mais

dignidade que a loura burra,do canto da cidade,de varias valetas,...dia

...Salve todas as mulheres negras...Oh meu Deus salve a mulher

negra...Negra preta mulher brasileira,preta...Não admite ser subjugada,

passada pra dia,triste vida da Dona Maria,acorda cedo já vai pra

batalha,lavar roupa pra madame, que lhe paga, com uma escala dos

TRIBUTO ÀS MULHERES PRETAS

http://rosaecarvao.blogspot.com/2009/11/dia-da-consciencia-negra.htm

l

39

tempos de cativeiro,reza pela família,lutar pelo sistema,discriminada é a

muito tempo,mantendo fé, mostra seu talento,mulheres pretas é pra vocês

canção,meu carinho minha trás...Negra preta mulher brasileira,preta...

Existe direitos iguais, certo mano? "Lavar roupa todo consideração mama

África é quem agradece a mãe que pede pelo fim, pelas preces, negra

mulher, jóia rara

(http://sandraferreiraufba.blogspot.com/2009/07/mulheres-negras-no-

seculo-xix.html)

PESQUISE: 1- Por que no dia 20 de novembro se comemora o Dia da Consciência Negra? 2- Você conhece, em sua cidade, alguma organização de mulheres negras que lutam pelos seus direitos? Relate as ações dessa organização?

OUTRAS FONTES:

Uma outra visão de escravidão no Brasil, num filme que mistura ficção e realidade

HORA DO DESAFIO!

Filme: “CHICA DA SILVA”

Direção: Carlos Diegues

Leia: • História das mulheres no Brasil — Mary del Priore, São Paulo, Contexto • A condição feminina no Rio de Janeiro —século XIX — Miriam Moreira Leite São Paulo Hucitec/ Edusp

40

Numa sociedade escravista, e sem a proteção do homem, pela

sua condição de escravo, a mulher negra teve que aprender,

desde muito cedo, a contar com suas próprias forças, dando-nos

exemplos de fibra e coragem.

Desde o Brasil Colônia, a mulher negra tem sido protagonista de

atividades desumanizantes. Ela foi tratada por escritores, poetas,

historiadores como a promíscua, exaltando sua sexualidade.

Essas são imagens fortemente exploradas nas representações

sociais desses sujeitos

históricos. Temos que

desmistificar essas

imagens representativas

e colocá-las como

sujeitos construtores de

uma sociedade que

venha respeitar a sua

individualidade e o seu

papel identificador de

uma cultura que

colaborou para a

formação do povo

brasileiro. Situá-las na

perspectiva anti-racista e

feminista para resgatar os

seus nomes, sobrenomes

e ações desenvolvidas por elas na sociedade até então,

A MULHER NEGRA E O MUNDO DO

TRABALHO

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41

ressignificando as suas experiências e lutas.

No passado, ao contrário da mulher branca, a mulher negra esteve

presente em todos os tipos de trabalho por que passaram os

períodos econômicos no Brasil, tais como: na mineração, na

agricultura, na manufatura, no comércio, e nas atividades

domésticas; ela foi, por muito tempo, a única trabalhadora. Isso

mostra a importância dessas mulheres na construção dessa

nação, desde o Brasil Colônia até os nossos dias.

“A mulher negra era...” ...aquela que cuidava e ainda cuida da casa e dos filhos de outras mulheres para que estas possam cumprir uma jornada de trabalho fora de suas casas. O relato de Dona Enestina Conceição, de 42 anos, traduz bem o sentimento de abdicar aos estudos para trabalhar e sustentar os filhos sem a figura paterna para dividir as responsabilidades: “... trabalho desde bem menina, minha mãe sempre trabalhou na casa de gente e agente nunca passou fome... eu sou a mais nova e minhas irmãs também trabalham em casa de família. Não tive tempo para estudar, tive dois filhos e nenhum homem para me ajudar a cuidar dos meninos, foram embora, caíram fora, (...) queria poder estudar e passar mais tempo com meus meninos em casa descansando, já sofri muito e sofro ainda, as pessoas falam né...! Lá vai a feia, pobre, burra, preta, sem estudo..." (http://sandraferreiraufba.blogspot.com/2009/07/mulheres-negras-no-seculo-xix.html Acesso em 18/03/10).

Apesar de ter passado séculos de história, a

situação da mulher negra no Brasil ainda sofre os

reflexos de sua condição de excluída pois se

analisarmos a sua presença no mundo do trabalho,

sentimos que o preconceito e a descriminação

ainda a acompanha, fazendo com que a mesma ao

disputar uma vaga no mercado de trabalho, fique

numa situação nitidamente desvantajosa,

aprofundando desigualdades. Pesquisas atuais

têm mostrado que a luta da mulher negra continua

42

em busca de dignidade social, melhores salários e

respeito por parte de toda sociedade.

Veja, abaixo, a reportagem que saiu no jornal O

Globo no Dia Internacional da Mulher no ano de

2010.

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

http://g1.globo.com

Cresce número de famílias chefiadas por mulheres no Brasil, aponta OIT (Organização Internacional do Trabalho) Considerando o trabalho doméstico, a mulher trabalha mais que o homem. Elas também sofrem mais com o desemprego do que os homens

“As mulheres representam quase metade dos trabalhadores do país, estão cada vez mais participativas no orçamento familiar - em 35% dos casos são as principais responsáveis -, mas ainda enfrentam muitas desigualdades no mercado de trabalho, apresentou estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)”.

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43

Ainda conforme os dados da organização, as mulheres no fim de 2008 representaram 43,7% das pessoas acima de 16 anos no mercado de trabalho. Ou seja, eram 42,5 milhões entre os 97 milhões de trabalhadores do país. Mesmo com a participação semelhante entre os trabalhadores, as informações da OIT mostram que elas sofrem muito mais com o desemprego do que os homens. A situação é ainda pior entre as mulheres negras. Entre as negras a taxa de desemprego atingiu 10,8% em 2008 e entre as mulheres brancas, 8,3%. A OIT apresenta ainda a informação de que 15,8% das mulheres ocupadas estão no trabalho doméstico, e a maioria, em relação precária de trabalho: somente 26,8% têm carteira assinada. Entre as mulheres negras, a situação também piora: 76% das que atuam no trabalho doméstico estavam na informalidade em 2008. "As mulheres – principalmente as mulheres negras – possuem rendimentos mais baixos que os dos homens e, ainda que em média tenham níveis de escolaridade mais elevados, seguem enfrentando o problema da segmentação ocupacional, que limita seu leque de possibilidades de emprego. As mulheres e os negros são mais presentes nas ocupações informais e precárias e as mulheres negras são a grande maioria no emprego doméstico, uma ocupação que possui importantes déficits no que se refere ao respeito aos direitos trabalhistas”, destaca a OIT em comunicado.

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44

ATIVIDADE : Após a leitura do texto, discuta com o seu colega de turma as questões abaixo: a) De acordo com o texto jornalístico: 08 De Março - Dia Internacional da Mulher, a situação da mulher negra, em relação a sua inserção no mundo do trabalho sempre foi muito difícil. Explique historicamente por quê. b) Após leitura, escreva um texto, enumerando os motivos pelos quais a mulher tem tanta dificuldade para ser tratada com igualdade na sociedade atual. c) Analise o texto abaixo e identifique a época e a quem o autor se refere? "É uma raça possante, e as mulheres em particular têm formas muito belas e um porte quase nobre. Sinto sempre um grande prazer em contemplá-las na rua ou no mercado, onde se vêem um grande número, pois as empregam mais como vendedoras de frutas e legumes que como criadas”. (palavras do naturalista suíço Luiz Agassiz) (http://sandraferreiraufba.blogspot.com/2009/07/mulheres-negras-no-seculo-xix.html pesquisado em 25/05/2010)

d) Pesquisa - faça um levantamento no seu local de trabalho e

verifique: 1 - Quantas pessoas trabalham no local? 2 - Quantos são do sexo masculino? 3 - Quantas são do sexo feminino? 4 - Quantas são do sexo feminino? E negras? e) A partir dos dados levantados, confeccionar um gráfico

demonstrativo da realidade.

HORA DO DESAFIO!

45

OUTRAS FONTES:

Direção: Lee Daniels

2009 - EUA -110 minutos-Drama

Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988,

em seu artigo 68 das Disposições Transitórias, o qual

prevê o reconhecimento da propriedade das terras às

comunidades remanescentes de quilombos, essas

comunidades são definidas como: “constituinte de uma

identidade étnica predominantemente negra, situadas em

território nos quais desenvolve atividades fundamentais à

reprodução física e cultural”.(BOTH/DEM/SEED-PR)

O termo quilombo não é único em seu significado, existe

em torno desta discussão muita polêmica e várias são as

interpretações entre os historiadores contemporâneos.

A expressão quilombo vem sendo usada desde o tempo

colonial, e suas definições e significados têm

acompanhado o desenrolar da história brasileira. Segundo

Ney Lopes “quilombo é um conceito próprio dos

africanos bantos que vem sendo modificado através dos

Filme: “PRECIOSA – UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA”

COMUNIDADES REMANESCENTES DE

QUILOMBOS

46

séculos” (...) Quer dizer acampamento guerreiro na

floresta, sendo entendido ainda em Angola como divisão

administrativa”( LOPES, SIQUEIRA E NASCIMENTO

1987, p 27 - 28)

A legislação do século XVIII - do Conselho Ultramarino

Português – 1740, definia quilombo como: “toda habitação

de negros fugitivos que passem de cinco, em parte

desprovida ainda que não tenham ranchos levantados nem

se achem pilões neles”.

Lopes, Siqueira e Nascimento (1987) destacam os dois

enfoques dados ao termo quilombo – a partir do ideário

liberal, baseados nos princípios de igualdade e liberdade

da

Revolução Francesa, romanticamente idealizado, e o

enfoque marxista – associado à luta armada, “ como

embriões revolucionários em busca de uma mudança

social” mas o que prevalece é o viés de resistência e fuga,

A partir da década de 70, a preocupação é com o enfoque

organizativo e político dos quilombos. Clóvis Moura ( 1981),

que usa o conceito de resistência ligado à organização

política, situa o quilombo como forma de organização que

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w.palm

ares.gov.br

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ares.gov.br

47

irá acontecer em diversos lugares onde ocorreu a

escravidão:“ Essas comunidades de ex- escravos

organizavam-se de diversas formas e tinham proporções e

duração muito diferentes”.

O autor ressalta a semelhança do período colonial com

o atual pelo fato de que todas as experiências conhecidas

denotam uma capacidade muito grande de organização

dos grupos.

VOCÊ SABIA? A expressão quilombo, deriva da palavra Kilombo da língua Mbundo do tronco linguístico Banto, com significado provável de sociedade com manifestação de jovens africanos guerreiros/as Mbundo, dos Imbangala.(SIQUEIRA) Também a etimologia da palavra deriva do Quimbundo (Kilombo) significando acampamento, arraial, povoação união e ainda exército, sendo seus moradores chamados de Quilombolas (LOPES. 2004).

As pesquisas mais recentes apontam novos conceitos

da origem de quilombos como: áreas de apossamento, ou

doadas, em retribuição aos serviços prestados, concessões

feitas pelo estado, doações de terras, por antigos

proprietários aos seus escravos, como é o caso da

Comunidade Sutil, que foram terras doadas em testamento

pela proprietária da Fazenda Santa Cruz às suas escravas,

localidade onde hoje reside o grupo de quilombolas do Sutil

como é conhecido na região. '“‘Quilombo é território, é fonte

de sobrevivência, é materialização da resistência, é

organização política, mas também é principalmente,

herança cultural e memória social”

(BOTH/DEM/SEED-PR. 2006).

Ao tratarmos da temática referente aos quilombolas, não

48

podemos desvinculá-la das discussões em torno do negro

e sua história no Brasil, e falar a respeito da situação do

negro fala-se da situação de opressão e resistência, da

segregação social configuradas nas práticas sociais

marcadas pelo imaginário social brasileiro, temática em

discussão entre os historiadores e meios de comunicação

social na atualidade.

ATIVIDADE EM GRUPOS: Pesquise, em livros ou na web, sobre o Quilombo dos Palmares. Na sequência, faça uma representação através de música, dramatização ou desenho. Para direcionar sua representação, utilize os questionamentos a seguir: * O que foi, quando ocorreu, onde, quantas e quais pessoas viveram lá, quem liderou , existiu alguma liderança feminina e como foi destruído?

CINEMA NA ESCOLA:

Direção: Cacá Diégues -1984- BRA -119 minutos-Ação

Em 1650, um grupo de escravos se rebela num engenho de Pernambuco e ruma ao

Quilombo de Palmares, onde uma nação de ex-escravos fugidos resiste ao cerco colonial.

Entre eles está Ganga -Zumba, príncipe africano e futuro líder de Palmares. Seu herdeiro e

afilhado Zumbi, contestará as idéias conciliatórias de Ganga-Zumba,enfrentando o maior

exército jamais visto na história colonial brasileira. Inspirado nos livros de "Ganga -

Zumba", de João Felício dos Santos, e "Palmares", de Décio de Freitas.

HORA DO DESAFIO!

Filme: “QUILOMBO”

49

O Quilombo é um espaço de preservação das

matrizes africanas, formadoras da identidade

nacional, espaço este desconhecido por grande parte

da população paranaense.

Esse conhecimento só encontrará visibilidade

neste século, quando no Estado do Paraná,

incentivado pelo Governo, o Grupo de Trabalho Clóvis

Moura, grupo que tem como objetivo subsidiar a

construção de um modelo de política pública para o

desenvolvimento sustentável para essas

comunidades, inicia uma pesquisa para identificá-las,

pois elas se encontram instaladas em diversas

regiões do estado como, por exemplo, na Região

COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ

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.geografia.pr.gov.br

50

Metropolitana de Curitiba, Ponta Grossa, Castro,

Jaguariaíva, Guarapuava e ao longo do Vale do

Ribeira. Mapa das comunidades Quilombolas do Paraná. Fonte:

Instituto de Terras Cartografia e Geociências – ITCG/PR – 2008:

Muitas dessas comunidades estão numa situação de

miséria e marginalização, instaladas em regiões de

mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

- do Estado, distantes das cidades e do olhar do poder

público, sem políticas que venham dar respostas às

suas necessidades, sendo esta uma realidade não só

no Paraná, mas em todos os Estados do país onde se

encontram comunidades quilombolas. Pelo

levantamento do Grupo Clóvis Moura, já foram

identificadas a existência de 90 comunidades no

Paraná e, destas, 36 já foram certificadas pela

Fundação Cultural Palmares1, como Comunidades de

1 Essa fundação tem como missão certificar a posse das terras e proteger as comunidades quilombolas, reforçando sua cidadania e identidade, procurando difundir as manifestações da cultura negra e favorecendo a inclusão desta população na sociedade brasileira.

51

Remanescentes de Quilombo. Esses remanescentes

de quilombo estão instalados ou assentados em um

pedaço de terra de onde retiram seu sustento e

vivenciam sua cultura. Essa vertente cultural é

retirada, através do conhecimento repassado pelos

mais idosos, "onde pode ser puxado o fio da memória

ancestral" (Paraná Negro. 2008. p.18). É a partir dela

que se faz a reconstrução da auto-estima. Quando se

pergunta: “quem sou eu? de onde eu vim?”, tendo o

conhecimento de seu legado cultural, esses

quilombolas têm mais condição de aceitar e valorizar

sua negritude.

Essa aceitação, por

parte dos negros, se

constitui numa negritude

silenciosa, pois ela foi

abafada pela negação

obrigatória de sua ancestralidade por parte dos

brancos. Quando se pergunta aos negros sobre o seu

passado, o que vem à mente são sempre cenas de

sofrimento, escravos acorrentados, açoitados,

desnudos em praças, sendo vendidos como

mercadorias, não encontrando, na memória social do

grupo, um referencial que lhe traga lembranças

felizes, que possa fazer com que tenha orgulho de

sua raça, realidade esta que foi repassada por uma

história européia.

Socialmente, esses grupos não encontram respaldo

quando são ridicularizados nos espaços onde se

inserem, quando ouvimos certas colocações

http://segredosafricanos.pbworks.com

/quilombos

52

preconceituosas e racistas, desrespeitando-os e não

valorizando sua cultura. “O racismo não é um

fenômeno passageiro ou aberrante da sociedade. Ele

tem uma lógica interna que o torna um fator

permanente que possui uma funcionalidade coerente,

se ele não fosse estruturalmente funcional e coerente,

há muito tempo teria sumido" (MOORE, 2009, p.8)

“O racismo...” ...não é um problema só do negro, mas de toda a sociedade, pois num estado onde 28% da população é constituída por negros, o Paraná, que sempre foi conhecido por ter uma população formada por um grande contingente populacional de origem européia, passa a ser identificado como o estado de maior população negra do sul do país.

Nosso estado precisa rever a sua história e tornar

transparente a inegável contribuição do negro na

economia paranaense, participando na construção da

riqueza deste estado e, além disso, deixar de negar a

esses sujeitos os seus direitos básicos como educação,

moradia e saúde.

Com o instrumento legal - a

Lei 10639/2003 - a luta

desse grupo de excluídos

passa a ganhar apoio, pois

torna

obrigatório o ensino da história desses povos, fato que

dará maior visibilidade a sua cultura, permitindo

diminuir a distância entre a conscientização e a ação. O

momento exige uma reflexão mais ampla, e a resposta

http://jornale.com.br/ruy/?s&

paged=293

53

está na perspectiva de defender toda espécie humana,

por meio da justiça social, do respeito às diferenças e

valorizando a pluralidade racial.

CURIOSIDADE:

De acordo com uma pesquisa que resultou no livro "Paraná Negro", lançado no ano (2008) pela Fundação da Universidade Federal do Paraná , quando ocorreu a emancipação política do Paraná, em 1853, 40% da população do Estado era composta por negros. Hoje, eles representam 24%, o que confere ao Paraná a maior população negra do Sul do país. Em Curitiba, segundo a pesquisa, estão 7% desta população.

cmibrasil - 01/10/2008 www.midiaindependente.org - Acesso em 13/04/10

COMUNIDADE SUTIL:

Uma história em construção

Em 1854, a herdeira da Fazenda Santa Cruz , Maria Clara do Nascimento, deixa em testamento, para as suas escravas Rosa , Fermina e sua filha Josepha, 6,5 mil hectares de terra, sob a condição de não venderem, nem alienarem, (Waldmann.1992)

http://ww

w.coloniasutil.xpg.com.br/

54

Comunidade Quilombola do Sutil * Você já ouviu falar dessa comunidade? * Sabe onde fica?

Quando se fala sobre a existência de

quilombolas nas proximidades da cidade de Ponta

Grossa, muitas pessoas ficam surpresas, pois

desconhecem essas terras remanescentes de

quilombos, que ficam localizadas no Distrito de

Guaragi, a 20 Km de Ponta Grossa, próximo ao

município de Palmeira.

Nos Campos Gerais, esse debate sobre as

terras de remanescentes de quilombo tem tido

visibilidade com o trabalho do Grupo Clóvis Moura,

que faz um levantamento sobre essas terras desde

o ano de 2005. No Paraná, são muitas as

comunidades remanescentes de quilombos e todas

reivindicam o direito à permanência e ao

reconhecimento legal da posse das terras

ocupadas e cultivadas para moradia e sustento,

bem como a luta pela preservação de sua cultura

mãe.

Segundo as pesquisas do GT Clóvis Moura,

existem, atualmente, no Paraná, 90 comunidades

"A face oculta de uma cidadania tardiamente

reconhecida torna-se visível, para compor o território paranaense".

GEDIEL, José Antônio Peres (2008)

55

quilombolas mapeadas e mais 36 comunidades

certificadas pela Fundação Cultural Palmares.

Dentre elas, na região dos Campos Gerais, fica a

Colônia Sutil, onde vivem 38 famílias, com mais ou

menos 120 habitantes, numa área de 23 hectares

de terra, que são divididos entre essas 38 famílias

que retiram seu sustento dessa terra.

Mas qual a origem dessas terras?

Segundo a historiadora ponta-grossense, Isolde

Maria Waldmann (1992), a Fazenda Santa Cruz

pertencia ao rico fazendeiro Manuel Gonçalves

Guimarães, um dos primeiros povoadores dos

Campos Gerais, pessoa de confiança da coroa

portuguesa, da qual recebeu várias sesmarias em

especial nas cidades de Ponta Grossa, Castro,

Carambeí e Curitiba. Com a finalidade de se

estabelecer na região, fundou entre Ponta Grossa e

Palmeira, a Fazenda Santa Cruz, com mais ou

menos 13 mil hectares de terras, espaço onde pode

Foto Arquivo Particular

56

se dedicar à criação de animais. Para tirar proveito

dessas terras, necessitava de mão de obra, fato que

o fez trazer uma grande quantidade de famílias

escravas para trabalhar na fazenda.

Em 1816, faleceu Manuel G. Guimarães, que

deixou em herança para seus filhos Joaquim

Gonçalves Guimarães e Maria Clara do Nascimento,

as terras da fazenda.

Antes de morrer, o herdeiro Joaquim G.

Guimarães deu liberdade a seus escravos, mediante

o compromisso deles de continuarem a servir à

família, até a libertação oficial dos escravos. Com

sua morte, deixou seus bens para sua irmã. Maria

Clara não muito tempo depois, faleceu, deixando, no

ano de 1854, em testamento, para suas escravas,

Rosa, Fermina e sua filha Josepha e seus

descendentes, uma parte das terras da Fazenda

Santa Cruz,as quais receberam o nome de Sutil.

http://ww

w.kidsyes.org/36289.ihtm

l

57

TESTAMENTO DE MARIA CLARA DO NASCIMENTO: "Declaro que possuo uma Fazenda na paragem

denominada Santa Cruz, Distrito da Freguesia de Palmeira, da qual disponho da maneira seguinte: As casas, trastes de serventia, benfeitorias existentes na mesma Fazenda, deixo metade à minha escrava Rosa, e a seus filhos, e a outra metade à minha escrava Fermina e a sua filha Josepha e na falta destes e suas mães, com a condicção de não venderem nem alienarem para deixarem a seus herdeiros. Deixo à minha escrava Fermina a quinta parte da metade dos Campos da Fazenda Santa Cruz, com a condicção de não poder vender em sua vida e deixar para seus herdeiros, e assim mais lhe deixo vinte vaccas mansas, vinte cinco éguas, um touro , quatro bestas mansas, seis cavallos mansos e um pasto..." (WALDMANN,1992. p.13)

Dos 6530 hectares de terra herdados pelas escravas, o Sutil conta hoje com 23 hectares de terra. "Nas mãos de quem estarão os tantos outros hectares? Como em várias regiões do Brasil onde existem remanescentes de quilombos, estes muitas vezes, perderam suas terras. Essa perda se deve a uma série de fatos, mas na sua maioria, ela está relacionada ao uso e posse da terra, à questão fundiária, um grande problema brasileiro. Os negros têm sua história marcada pela discriminação e violência, e eles foram e continuam sendo:

“... atingidos por todos os tipos de racismos, arbitrariedades e violência que a cor da pele anuncia – e denuncia –, os negros foram sistematicamente expulsos ou removidos dos lugares que escolheram para viver, mesmo quando a terra chegou a ser comprada ou foi herdada de antigos senhores através de testamento lavrado em cartório. Decorre daí que, para eles, o simples ato de apropriação do espaço para viver passou a significar um ato de luta, de guerra” (LEITE, 2000, p. 333).

Após realizadas as entrevistas com um grupo de

mulheres quilombolas da Comunidade Sutil,constatou-

se que nas falas das entrevistadas, pode-se sentir que

58

os moradores têm uma certa revolta em relação aos

seus antepassados, que não souberam preservar o

patrimônio recebido por herança, perdendo grande

parte das terras. Através de alguns fragmentos da

matéria "O quilombo que não era quilombo", escrita

num jornal da cidade de Ponta Grossa no ano de 2009,

pode-se constatar esta situação. Veja o que diz o

jornalista (Danilo Correia): "Os escravos que eram os donos efetivos da propriedade não tinham os documentos que garantiam a posse da terra e no curso da história sofreram por interferências no inventário, diminuindo a extensão do território que deveria ser ocupado pelos negros, além de constantemente sofrerem invasões de terra, tornando-se vítimas de crimes, inclusive desaparecimento de negros, seguido de morte”. (JORNAL O PORTAL.2009, p.24) “Como eram todos analfabetos, confiavam demais e aos poucos foram perdendo suas terras”. (JORNAL O PORTAL.2009, p.24)

“Os negros não sabiam negociar e não demorou muito tempo para que as pessoas aparecessem para tirar proveito desses ricos herdeiros, que nem sabiam do valor da propriedade que tinham em mãos”, conta Isolde. Como os descendentes viviam abaixo de ordens, logo depois da libertação os negros não sabiam o que fazer com suas terras, tornando comum a prática de doação e mesmo a permissão da entrada de novos moradores, que com o tempo cercaram “suas propriedades” e tomaram posse do espaço. (JORNAL O PORTAL. 2009 p.24)

http://ww

w.kidsyes.org/36289.ihtm

l

59

COMO AS MULHERES SE ORGANIZAM NA COMUNIDADE SUTIL?

Baseando-nos na arte afro-brasileira, podemos analisar as representações das mulheres nas sociedades africanas. Essas representações simbólicas podem trazer consigo elementos para compreendermos o espaço de poder da mulher nas sociedades africanas.

(MARÇAL, 2007. p.89)

Nos depoimentos das mulheres do Sutil,

observei que o conhecimento a respeito

da história da sua africanidade existe, e

pode-se dizer que ele é uma herança,

pois o protagonismo das mulheres nessa

comunidade é notável, haja vista que na

organização social existente na

comunidade, os principais cargos de

lideranças são ocupados por mulheres - elas são muito presentes e atuantes.

Segundo Marçal (2007. p. 88.): "As

linhagens de poder e responsabilidades, o

acesso a terra se dava por meio da

mulher nas sociedades africanas como

um todo".

O COTIDIANO DAS

MULHERES NO SUTIL

http://ww

w.dailyplastic.com/2008/08/o

usmane-sem

bs-la-noire-de/

60

Ao homem cabe as

obrigações do sustento da família,

mas muitas mulheres atuam no

espaço doméstico e também no

espaço fora do lar, pois

desenvolvem atividades como

diaristas nas casas dos imigrantes

russos, na lavoura, escolas e

outros espaços onde encontram

trabalho. Segundo elas, na

colônia não encontram trabalho

remunerado, tendo que sair para

ajudar nas despesas familiares:

(...) Na organização dor reinos fons e nagô - orubá, as mulheres desempenhavam um papel ativo, eram elas que administravam o palácio real, assumindo os pontos de comando mais importantes, além de fiscalizarem o funcionamento do Estado. (SILVEIRA, 2000, p.88)

Em relação à religiosidade

vivenciada no grupo, ela é muito

marcante, e como toda cultura afro-

brasileira, carregada de muito

misticismo. Como a cultura dos

brancos teve, e tem ainda muita

influência na cultura dos afro-

descendentes, vários são os credos

religiosos professados na

comunidade, tendo a predominância,

porém, a religião católica.

61

A organização religiosa quase

sempre é liderada por uma mulher

idosa, que se encarrega da

preservação dos ritos e símbolos

religiosos, herdados da cultura

africana, pois'' a religiosidade é um

legado feminino transmitido pelas

avós, apesar de não pertencerem

Institucionalmente à religião de transe, vivenciaram

proximidade com os espíritos, com divindades''. (MORGAN,

2002, p 160). Elas introjetam, com muita seriedade, o papel

de transmissoras preocupadas com a preservação dos

valores religiosos para seus familiares e comunidade, pois a

família é muito importante como agente de etnicidade,

principalmente aquela que possui a consciência do racismo.

Observei, no discurso das mulheres mais idosas, um reforço do

imaginário social, no qual as mulheres negras são vistas como

seres subalternos, com baixo potencial intelectual e com

potencial para exercer a função de trabalhadoras domésticas,

características que são rebatidas pelo grupo mais jovem da

comunidade, que consciente de sua capacidade, devido ao fato

de participarem de movimentos de conscientização, lutam pela

sua afirmação identitária e para que elas sejam valorizadas

socialmente.

Em suas falas, as mulheres mais

jovens denunciam situações de

preconceito e racismo por que

http://ww

w.ownskin.com

/home?u=SU

MIT63

62

passaram, tal como se constata no

depoimento de uma jovem quilombola da

comunidade:," o negro é sempre visto

como inferior , tudo de melhor é para as pessoas brancas"

Quando crianças nos espaços escolares - "está chegando o

ônibus dos negros" - "é coisa de preto mesmo":"Ah sua

negrinha!”e assim por diante. Na escola pública, o comportamento

racista é tratado como se nada fosse amparado no mito da

democracia racial, este tornando invisíveis, para os educadores,

os comportamentos preconceituosos, racistas, discriminatórios.

AMPLIANDO CONHECIMENTOS:

Nesses relatos, mulheres quilombolas de diversas regiões do Brasil nos contam um pouco como é a vida na sua comunidade. Relatam também como é ser mulher numa comunidade quilombola: como elas vivem no dia a dia; qual a sua participação nas lutas travadas pela comunidade; e como enfrentam a discriminação por raça e gênero.

(Obs. Os textos para análise se encontram no endereço eletrônico)

http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/mulheres/home_mulheres.html

63

O Brasil é imenso e as diferenças regionais são muitas. Você ficou sabendo, depois das leituras que, em diversas regiões brasileiras, existem várias Comunidades Quilombolas. Nesta atividade, você vai conhecer algumas comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil. Vamos analisar o perfil das mulheres quilombolas dessas regiões e dentro dessas comunidades. Após análise, discuta, em grupo, com seus colegas e formule um texto ( música, poesia, dramatização etc.) destacando:

a) semelhanças e diferenças existentes entre as mulheres dessas comunidades relacionando-as com as da Comunidade Sutil.

b) as características dessas mulheres que lhe chamaram atenção. Dentre essas características, na sua opinião, qual a mais marcante ?

c) a representação social da mulher quilombola no contexto nacional.

d) se há discriminação de raça e gênero e como as mulheres negras (quilombolas) a enfrentam?

Obs. Os textos para leitura se encontram no endereço eletrônico: http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/mulheres/home_mulheres.html

REFLETINDO SOBRE O TEXTO

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BEAUVOIR, Simone de. A Mulher Independente; tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: PocketOuro, 2008.p.32. BERNARDO, Terezinha. Negras, mulheres e mães: Lembranças de Olga de Alaketu. São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas. 2003.p.35. BOTH, Laura Jane R.J. O quilombo como patrimônio cultural: uma proposta educativa. In SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais. Curitiba. 2006.p.52-53. COSTA, Hilton; SILVA, Paulo Vinícius Batista da. (org.). Notas de História e Cultura Afro-Brasileira. Ponta Grossa, Editora UEPG /UFPR, 2007.p.88 – 89. CORREIA, Danilo. O quilombo que não era quilombo. O JORNAL, Ponta Grossa, p.24-25, 19 a 25 de julho 2009. D'INCAO, Maria Ângela. Mulher e família burguesa. In: DEL PRIORE, Mary (org.) BASSANEZI, Carla (coord.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.p.223-225 / 229 – 230. FONSECA, Cláudia. Ser mulher, mãe e pobre, In: DEL PRIORE, Mary (org.) BASSANEZI, Carla (coord.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.p. 510. HOLLEBEN, Índia Mara Apª Dalavia de Souza. Memória e história do movimento de mulheres no Paraná: um olhar sobre Medianeira. 2003,280p. Dissertação de Mestrado em História Social - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2003. GOMES JÚNIOR, J. SILVA, G. L. da; COSTA, P. A. B. (Org). Paraná Negro; fotografia e pesquisa histórica: Grupo de Trabalho Clóvis Moura. Curitiba: UFPR/PROEC, 2008.p.18. LEITE, Ilka Boaventura. Os Quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas. Etnográfica. Vol. IV (2): 2000. LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Lisboa:

REFERÊNCIAS

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http://sandraferreiraufba.blogspot.com/2009/07/mulheres-negras-no-seculo-xix.html.Acesso em:25/05/2010.

THEODORO, Helena. Mulher Negra Luta e Fé- século XVI a XIX - Disponível em: http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/mn_mn_t_histo01.htm#artigo .Acesso em:20/04/2010.

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http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/mulheres/home_mulheres.ht

ml. Acesso em: 14/07/2010

http://feminina12esa.blogs.sapo.pt/489.html. Acesso em:12/05/2010

MYRRHA, Vânia, Arte e História. Disponível: http://coresematizes.wordpress.com/2010/03/08/-Acesso em 23/06/10