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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · c) Fotografia como linguagem, a crítica de arte e o papel das instituições culturais. d) Produção fotográfica brasileira em fotojornalismo

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

A FOTOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO: a construção do olhar no dia a dia do ambiente escolar

Autora: Cassilda Sandri Espada1 Orientadora: Luli Hata2

Resumo

O presente artigo resulta da implementação, no ensino médio, do projeto

desenvolvido como requisito para a conclusão do PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional/Secretaria de Estado da Educação/PR),

apresentando o uso da fotografia na disciplina de arte com o objetivo de favorecer o

despertar para as diversas maneiras de olhar o mundo, especialmente o outro e seu

ambiente, e extrapolar o exercício mecânico de disparar flashes. Conhecendo a

técnica fotográfica, pesquisando fotógrafos brasileiros e identificando suas

características pessoais relacionadas à poética, interesse e linha de pesquisa e,

principalmente, seu posicionamento no mundo, a linguagem fotográfica leva o aluno

a compreendê-la como uma arma, não mais a do caçador de imagens, mas a de

ferramenta de conscientização para a cidadania.

Palavras-chave: Educação do olhar; Fotografia; Poética Pessoal; Luz.

Abstract

The present paper results of a implementation, at school, of the project developed as

requisite for conclusion of PDE (Program of Educational Development/State

Secretary of Education/PR), presenting the use of the photograph in art discipline to

high school students, aiming the target of their awakening to diverse ways to look at

the world, especially the another one and the environment, and to surpass the

mechanical exercise to go off flashes. Knowing the technique photographic,

searching Brazilian photographers and identifying its related personal characteristics,

1 Professora da rede pública de ensino, no Paraná. 2 Mestre em Teoria Literária (IEL-UNICAMP), graduada em Educação Artística (IA/UNICAMP), docente da Universidade Estadual de Londrina para as disciplinas de Mídias Tecnológicas – Hipermídia (nível graduação, Depto. de Arte Visual), Fotografia Digital (nível graduação, Depto. de Design) e Stop Motion – Direção de Fotografia (nível especialização, Depto. de Design).

interest and line of research and, mainly, its positioning in the world the poetical one,

the photographic language takes the pupil to understand it as a weapon, not more of

the hunter of images, but of tool of awareness for the citizenship.

1. Introdução

As novas gerações de alunos estão cada vez mais dependentes e

familiarizados com as mais recentes tecnologias de comunicação. A despeito disso,

a fotografia, a TV e o cinema são responsáveis por boa parte da cultura que nossos

alunos trazem para a sala de aula. Isso se explica pela expressão tão propalada nos

últimos tempos: a convergência das mídias na era digital. Ou seja, veículos de

comunicação já estabelecidos como a TV, o rádio e o telefone estão abandonando a

transmissão analógica, passando para a digital. A fotografia e o cinema já são

produzidos através do sistema digital. Isso permite que os aparelhos sejam

desenvolvidos com a capacidade de receber os diversos meios de comunicação,

como se verifica atualmente com o computador: nele podemos assistir à televisão de

transmissão digital com apenas uma antena que se conecta à entrada USB; ou

ainda temos acesso à transmissão analógica com outra antena, receptora de sinal

digital e analógico, com a mesma conexão USB; a teleconferência em tempo real é

uma ferramenta de uso cotidiano, seja no trabalho, seja na vida social; o computador

permite a interação entre várias pessoas que se encontram em locais diferentes

através de jogos; podemos assistir ao filme em DVD, podemos ouvir estações de

rádio em tempo real e estabelecer comunicação de diversas maneiras. Outro

aparelho que já está no mercado como elemento de convergência de mídias é o

telefone: além da comunicação por voz, acessa-se a internet, ouve-se rádio e

assiste-se televisão.

A tecnologia e a mídia presentes no cotidiano possibilitam que se repense as

metodologias de ensino tradicionais, abrindo caminhos para uma nova forma de

trabalhar em sala de aula. Embora um mundo rico em informações tenha se aberto,

a maioria de nossos jovens estudantes está alheia ao que acontece à sua volta,

sendo premente o resgate de valores para que os alunos não ajam “passando as

vistas” sobre o outro e o mundo, mas que vejam efetivamente, de modo a perceber o

contexto sócio-cultural onde se inserem.

O fato de se viver numa civilização imersa em uma experiência cultural

saturada de objetos, imagens e valores, acarreta em uma dispersão que gera um

senso de desinteresse, especialmente entre os mais jovens. Favaretto (2007) aponta

o ensino da arte como um importante aliado na geração de sentidos capazes de

despertar novamente o interesse da juventude.

Diante de um mundo mágico da imagem técnica3, desenvolver nos alunos

uma postura mais interpretativa e consistente, mais crítica e segura em relação ao

seu papel na sociedade torna-se um desafio. O olhar já vem carregado de

referências pessoais e culturais, sendo necessário instigar o aprendiz para um olhar

cada vez mais curioso e sensível às sutilezas. Nutrir esteticamente o olhar é

alimentá-lo com muitas e diferentes imagens, provocando uma percepção mais

ampla da linguagem visual.

O uso da fotografia em sala de aula é uma estratégia que possibilita aguçar

o olhar do aluno. Através dela, o aluno pode ser sensibilizado para construir um

olhar reflexivo, primeiramente sobre o ambiente escolar, tornando-se capaz de

perceber as pessoas e tudo que o cerca, valorizando as relações interpessoais e

sua relação com o meio. O exercício de fotografar ensina a contemplar as coisas do

mundo, a natureza e o contexto social. Ensina a observar as pequenas coisas dentro

de um universo, os detalhes dentro da globalidade. As imagens fotográficas, através

do estímulo do olhar, contribuem com a percepção e o conhecimento do outro em

propostas contextualizadas. Com o propósito de perceber o outro, as relações

interpessoais e sua relação com o meio no ambiente escolar, o projeto desenvolvido

com duas turmas do terceiro ano do ensino médio no IEEL (Instituto de Educação

Estadual de Londrina), estabeleceu uma relação dialógica entre professor, aluno e

ambiente escolar. Uma introdução à técnica e o estudo a respeito da obra de alguns

nomes importantes dentro da história da fotografia favoreceram a transformação

desse sentido da visão.

A metodologia aplicada teve as seguintes etapas: discussão sobre cultura

visual; pesquisa dos alunos sobre a história da linguagem fotográfica, especialmente

dentro do surrealismo e da fotografia moderna no Brasil; história da técnica;

3 Conforme Flusser (1985), “imagem produzida por aparelho”, ou seja, aquela gerada por um aparato técnico ou tecnológico, como a fotografia, o cinema, o vídeo, a impressão, o computador, etc.

pesquisa sobre o trabalho de Cartier Bresson, Sebastião Salgado e Juarez Silva;

aula prática sobre a técnica fotográfica; seminários e apresentações a partir das

pesquisas e, por fim, produção fotográfica dos alunos, articulando a teoria com a

prática. . A avaliação diagnóstica e processual na implementação do projeto se deu

levando em consideração a capacidade individual, o desempenho do aluno e sua

participação nas atividades realizadas, e as propostas foram socializadas em sala.

2. A escola e o aluno

O IEEL está situado na região central de Londrina, com mais de 50 anos de

atividade e, aproximadamente, 2500 alunos, 127 professores e 57 funcionários. As

salas são bastante heterogêneas, os alunos são oriundos de diversas camadas

sócio-econômicas, o que resulta no encontro de formações culturais bastante

diversificadas, mas que sempre enriquecem e desafiam o trabalho do professor. É

consenso a consideração como uma boa escola, no que se refere ao processo

educativo, e sua localização, tradição e história atribuem um status diferenciado,

especialmente em relação a algumas escolas da periferia. Entretanto, a infra-

estrutura apresenta problemas e é comum ouvir reclamações sobre as dificuldades

de investimento quando comparam com outras escolas da rede pública.

3. Implementação do projeto

Na apresentação do projeto, foi feita uma explanação sobre a história da

fotografia, o uso das imagens fotográficas (principalmente na internet) e sobre

direitos autorais. Nesse primeiro momento, foi possível perceber o interesse dos

alunos pelo projeto, com a surpresa, por parte de alguns, sobre a gravidade de se

utilizar uma imagem fotográfica que não seja de sua autoria. Assistiram ao vídeo

Fotografia: o exercício do olhar que é dividido em quatro blocos:

a) História da fotografia brasileira, as técnicas e suportes utilizados desde o seu

surgimento.

b) Técnicas de conservação e restauração com comentários de críticos de

arte/fotografia.

c) Fotografia como linguagem, a crítica de arte e o papel das instituições

culturais.

d) Produção fotográfica brasileira em fotojornalismo e publicidade, fotografia de

casamentos, de esportes, mostrando sua inserção no nosso cotidiano.

As fotografias usadas nas matérias jornalísticas têm um teor informativo,

mas não são meras captações da realidade. São recortes do real, ou fragmentos

que dependem do ponto de vista do repórter fotográfico. Além disso, passam por um

processo de seleção e edição relacionado ao texto da matéria e, finalmente, com as

legendas, um sentido é atribuído. Com o embasamento no teor do vídeo acima

citado, discutiu-se, em sala de aula, a dualidade realidade e construção na

fotografia.

O fotógrafo Cartier Bresson foi considerado o pai do fotojornalismo,

utilizando exclusivamente filmes branco e preto. Uma das características da obra

fotográfica de Cartier Bresson é a extrema variedade de locais e situações que ele

registrou, inclusive cenas do cotidiano, que é objeto de estudo do projeto. O seu

trabalho mantém uma unidade básica, em que o rigor da composição e a emoção

estão presentes em cada imagem captada. Na exposição do trabalho do fotógrafo

em sala de aula, foi analisada, primordialmente, a composição fotográfica

Outro fotógrafo estudado e também um dos mais respeitados foto jornalistas

da atualidade, nascido em Minas Gerais, foi o fotógrafo Sebastião Salgado, que se

dedicou a fazer crônicas sobre a vida das pessoas excluídas. É também fotógrafo do

preto e branco, com muitas imagens explorando a contraluz. Visitando mais de 40

países e registrando o processo de reorganização populacional pelo que passa

grande parte da humanidade, retratou o ser humano com respeito e dignidade.

Sebastião Salgado diz:

Espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair. (...) Acredito que uma pessoa comum pode ajudar muito, não apenas doando bens materiais, mas participando, sendo parte das trocas de idéias, estando realmente preocupada sobre o que está acontecendo no mundo (SALGADO, apud WIKIPÉDIA, s.d.).

Os alunos assistiram ao vídeo Sebastião Salgado: cidadão do mundo (2006)

e, em seguida, responderam a duas questões relacionadas ao documentário:

O que o documentário provoca em você?

Quais os aspectos do trabalho de Sebastião Salgado que mais

chamam sua atenção?

Entre as respostas, uma aluna revelou e constatou:

Desperta o desejo de conhecer mais e melhor as pessoas de todo o mundo. Conhecer a si mesmo e as dificuldades do mundo. Dá vontade de trabalhar fotografia, registrar os momentos importantes da minha vida e da vida dos outros.

Que o trabalho dele é voltado para as dificuldades da população mais pobre

No depoimento acima, constata-se que Salgado provocou no aluno

justamente o que pretendia: transformar a consciência social. Daí a necessidade de

“conhecer mais e melhor as pessoas do mundo”. Como se não bastasse, e o que

seria de se esperar de um indivíduo amadurecido, o desejo de conhecer-se a si

mesmo para compreender o mundo. Outro aluno diz:

Provoca uma sensação de pena do que as pessoas sofrem em seu dia-a-dia. Mas também causa um grande orgulho de nosso país, por ter um fotógrafo no nível mundial, igual a Sebastião Salgado.

O aspecto que me chama mais atenção são as fotos que são em preto e branco, me dá uma sensação de que a verdade da foto fica cada vez mais real. Por serem fotos instantâneas que mostrava as pessoas em algum momento repentino de seu dia

A empatia por Sebastião Salgado foi geral. Os alunos entenderam a

proposta do fotógrafo e a importância do seu trabalho para a humanidade. Ficaram

encantados com o vídeo, foram sensibilizados e admiraram as fotos em preto e

branco. Curiosamente, na colocação da aluna, a fotografia em preto e branco causa

a sensação de que “a verdade fica cada vez mais real”. Analisando friamente, chega

a ser um contrassenso, pois “não pode haver, no mundo lá fora, cenas em preto e

branco” (FLUSSER, 1985, p. 44). Segundo Flusser, a fotografia em preto e branco,

além de ser resultado de um dado momento da pesquisa ótica e química, cujos

avanços levaram à fotografia colorida, a preferência por ela reside no “verdadeiro

significado dos símbolos fotográficos: o universo dos conceitos”, transformados em

cenas:

[As fotografias em preto e branco] transcodificam determinadas teorias (em primeiro lugar, teorias da ótica) em imagem. Ao fazê-lo, magicizam tais teorias. Transformam seus conceitos em cenas. As fotografias em preto e branco são a magia do pensamento teórico, conceitual, e é precisamente nisto que reside o seu fascínio. Revelam a beleza do pensamento conceitual abstrato. Muitos fotógrafos preferem fotografar em preto e branco porque tais fotografias mostram o verdadeiro significado dos símbolos fotográficos: o universo dos conceitos (FLUSSER, 1985, p. 45, grifo do autor).

Flusser afirma que as imagens, inicialmente, tinham a característica mágica

de traduzir “eventos em situações, processos em cenas” (Ibidem, p. 14), criando

uma relação entre os diferentes elementos da imagem, no tempo próprio

determinado pelo olhar sobre a imagem. Era a mediação entre o homem e o mundo.

O autor defende que a conceituação é fruto da capacidade de explicação do mundo

através de textos, desenvolvida a partir da constatação de uma cegueira causada

pela idolatria. Porém, o próprio texto e a conseqüente necessidade de compreensão

linear criaram outro bloqueio, por ele denominado “textolatria”. A fotografia é a

resposta encontrada para essa situação, uma imagem que parece explicar o texto.

Para o autor, a fotografia é derivada de um aparelho em que se concentram

conceitos de determinadas teorias, principalmente da ótica. Assim, a imagem

fotográfica seria aquela com a função de restaurar a magia, contudo, em novo

contexto: a do pensamento teórico, conceitual.

O preto e o banco não existem no mundo, o que é grande pena. Caso existissem, se o mundo lá fora pudesse ser captado em preto e branco, tudo passaria a ser logicamente explicável. Tudo no mundo seria então ou preto ou branco, ou o intermediário entre os dois extremos. O desagradável é que tal intermediário não seria em cores, mas cinzento... (FLUSSER, 1985, p. 44).

Essa passagem explica o que Flusser afirma como a “beleza do pensamento

conceitual abstrato”. A produção de uma fotografia preta e branca envolve etapas

além do momento da captação. A escolha do aparato técnico e da sensibilidade do

filme antes da captação e, no laboratório, a sensibilidade do papel e suas

características químico-físicas, bem como tempo de exposição de determinadas

áreas influenciam no resultado da imagem. É muito comum a preocupação com o

contraste – ou seja, a relação entre os extremos: preto e branco, escuridão e luz ou

maniqueísmo fotográfico, conceituação de valores opostos que, em suma é

abstração.

O autor explica que mesmo as fotografias coloridas são abstrações, pois

elas precisam ser reconstituídas, o que é possível graças à teoria química. E, quanto

mais fiéis se tornarem, mais “mentirosas” se tornam. Em função disso, as imagens

em preto e branco se tornam mais “verdadeiras”

Contrapondo às imagens de Bresson e Salgado, foi apresentada a

macrofotografia, através do trabalho de Juarez Silva (2006). O olhar do fotógrafo

revela a beleza escondida em pequenos seres ou as pequeníssimas coisas que se

movem ao nosso redor. Depois de assistir ao vídeo, conversamos sobre o seu

trabalho e, em seguida, todos seguiram para o pátio da escola, para fotografar as

coisas pequenas e interessantes que encontraram.

Embora a macrofotografia seja realizada com equipamento específico4, os

alunos utilizaram suas câmeras compactas para tentar obter o resultado de uma

fotografia macro, acionando o recurso que esse tipo de equipamento oferece.

Em grupos os alunos fizeram pesquisas, seminários e apresentações Sobre:

a) História da linguagem fotográfica dentro do Surrealismo.

b) História da Fotografia Moderna no Brasil.

c) História da Técnica.

d) O trabalho de Cartier Bresson.

e) O fotógrafo Sebastião Salgado.

f) O fotógrafo Juarez Silva

As apresentações foram feitas com bastante interesse e envolvimento, e

outros vídeos relacionados à pesquisa foram trazidos pelos alunos, enriquecendo

4 Macrofotografia: Fotografia produzida com equipamento apropriado - lentes macro, foles ou tubos de extensão - de modo a captar detalhes muito pequenos do tema escolhido, registrando-os no filme numa escala igual ou superior à real. Esta técnica, muito empregada na fotografia de natureza - mormente de insetos e outras pequenas criaturas, bem como de espécimens vegetais - teve no fotógrafo alemão, radicado no Brasil, Claus Meyer (1944-1996), um de seus mais destacados praticantes, tendo indiscutivelmente no cientista sueco Lennart Nilson (1922), seu mais importante adepto. Valendo citar ainda o importante precedente de utilização da macrofotografia com finalidades estéticas do fotoclubista carioca José Oiticica Filho (1906-1964) (ITAÚ CULTURAL, s.d.).

muito as exposições. Nesse momento os grupos foram avaliados pela apresentação

da pesquisa.

Em outro momento, foi programada uma palestra com a professora

orientadora do projeto, Luli Hata, que falou sobre os aspectos técnicos envolvendo a

câmera fotográfica, mostrando as diferentes objetivas e propiciando a experiência de

ver através delas, de modo que os alunos percebessem as diferenças.

Complementou com as possibilidades de uso da câmera digital compacta,

explicando as inúmeras funções, possibilidades e limitações. Logo depois, o

laboratório foi apresentado pelo técnico responsável, José Neto, que mostrou as

etapas de revelação do filme e ampliação da imagem em cópia. Os alunos ficaram

encantados, pois nem imaginavam como era um laboratório; fotografaram bastante e

manifestaram interesse em montar um laboratório na escola.

Ao final do projeto, os alunos realizaram suas produções fotográficas,

percorrendo por toda escola, tendo em mente a temática proposta: o dia a dia no

ambiente escolar. Um dado que constata a boa repercussão da atividade foi o

envolvimento de toda escola: alunos, equipe pedagógica, professores e direção.

A proposta inicial do projeto culminaria com uma exposição fotográfica, mas

ela se mostrou inviável por uma questão financeira dos alunos. Desse modo,

pensou-se na produção de um blog, que acabou encontrando percalços em função

das atividades extracurriculares dos alunos, justamente nas datas da disciplina de

artes. De toda forma, os resultados foram compartilhados em sala de aula.

4. Resultados obtidos

Fotografia da natureza

Figura 1

Figura 2

As imagens captadas foram fortemente influenciadas por Juarez Silva.

Mesmo em um ambiente arquitetônico que é o da escola, muitas com pouco espaço

para um jardim e plantas, os alunos foram capazes de destacar elementos da

natureza. Até mesmo situações de contraluz, vistas em imagens de Sebastião

Salgado, foram exploradas (Figura 1). A maioria das câmeras digitais compactas têm

uma função macro, cuja captação se dá pela aproximação da câmera com a lente

em “wide” (grande angular). Em outras, simplesmente fixa-se o zoom no limite

máximo e seleciona-se o modo macro no menu de modos de cena. Estas, porém,

representam recursos que não correspondem, efetivamente, às características

técnicas da macrofotografia ou apresentam limitações. Entretanto, podem ser muito

úteis em algumas situações.

Figura 4

Figura 3

Figura 5

Na Figura 3, é possível perceber a limitação da câmera, que não conseguiu

focar o primeiro plano. Na Figura 4, a câmera realizou uma imagem à maneira de

macro, ao manter nítido o primeiro plano e desfocar os demais. Esse resultado é

obtido em objetivas macro, tubos ou foles de extensão – o primeiro plano é focado e

perde-se profundidade de campo, com igual perda na perspectiva, que podemos

notar na imagem citada, embora desfocada.

O olhar fotográfico não apenas influenciou a captação de imagens, mas

permitiu outras conexões. A aluna comenta que devemos ser fortes e resistir a tudo,

afirmando que a flor mostra a persistência para atingir nossos objetivos,

independente das contrariedades que encontramos pelo caminho. A fotografia revela

outro dado: a aluna já tinha uma sensibilidade cujo registro era necessário e, até

então, era a escrita o seu recurso. A técnica ampliou a possibilidade de registro de

sua sensibilidade: a fotografia, assim, alimenta e é alimentada pelos textos e pelo

seu posicionamento no mundo.

Figura 6

Figura 7

Figura 8

Figura 9 As Figura 5, Figura 6 e Figura 7, possivelmente, retratam aquela flor solitária

registrada pela aluna Elouise. Nestas imagens, porém, houve uma preocupação com

a composição e exploração de diferentes tomadas, especialmente inclinando a

câmera, assim como se vê nas Figura 8 e Figura 9.

Escola

As Figura 10 e Figura 11 retratam dois momentos: a saída para a execução da

proposta e o intervalo. Na Figura 11, embora, tenham realizado fotografia

convencional, é possível observar como foi explorado o ângulo e a luz em diagonal

na composição fotográfica.

Figura 10

Figura 11

A foto ao lado é a

captação de um instante, uma

conversa entre amigas no pátio

da escola e esse momento foi

congelado em um ângulo

diferenciado, testando as

questões relativas ao

enquadramento.

Figura 13

Figura 14

Na Figura 14, as alunas fizeram uma fotomontagem, a partir de um dos

fotógrafos estudados, Man Ray.

Figura 12

Figura 15

A aluna aproveita as grades de

um portão (notavelmente aberto) para

dramatizar um sentimento que pode

acometer até mesmo os educadores, em

função do tempo e, principalmente, das

normas. Mais do que revolta, a imagem

retrata alguém com suas possibilidades

tolhidas.

Galgar degraus é uma expressão

comum, associada à possibilidade de

ascensão sócio-econômica ou evolução

espiritual. Na legenda, a aluna aponta para

determinadas dificuldades, superáveis, pois se

tratam de “tropeços”. Possivelmente, trata-se

de uma reflexão sobre o que passaram na

escola em relação à aprendizagem, os

relacionamentos com os alunos e com os

professores, as afinidades com os colegas e

por tudo que passou em sua vida escolar

Figura 16

Figura 17

Na imagem da escada a aluna vai escrevendo em cada degrau uma etapa

da vida escolar desde a pré-escola até PHD, conforme nós construímos o nosso

conhecimento. Muitos alunos ingressaram na escola desde a pré-escola.

Figura 18

O aluno fotografou a rampa como

elemento arquitetônico e demonstrou os

seus sentimentos em relação a este lugar,

que em certos momentos serviu de refúgio.

Figura 21

Figura 19

Figura 20

Neste ensaio fotográfico

o aluno explorou a composição,

usando os próprios materiais

escolares. O fotógrafo Juarez

Silva, ao realizar seu registro

fotográfico da flora e fauna,

também trabalha com a

composição, tanto na natureza

quanto no seu ateliê.

Figura 23

Ao lado, o mesmo aluno

encontrou a composição nas

vassouras deixadas de maneira

aleatória.

Figura 22

Figura 24

Embora a frase afirme que não

é preciso chegar perto, nota-se que o

aluno abaixou-se para realizar a

tomada, ou seja, aproximou-se de onde

se depositava o lixo. Mas afirma ao

espectador que ele não precisa fazer o

mesmo – bastaria olhar para baixo para

perceber a sujeira.

Do ponto de vista da tomada,

ele destaca a sujeira e, por causa da

perspectiva e da canaleta de

escoamento de água, o sentido que

passa é a da possibilidade de sermos

atropelados por ela, de sermos

engolidos pela própria sujeira que

produzimos.

Figura 25

Figura 26

As pombas fotografadas pelos alunos fazem parte do dia a dia da nossa

escola, elas estão sempre no pátio, como também na sala de aula.

Figura 27

Figura 28

Estas últimas imagens remetem à fotografia moderna no Brasil. Durante a

implementação do projeto, os alunos pesquisaram e apresentaram seminário sobre

fotografia moderna no Brasil, onde conheceram o trabalho dos fotógrafos German Lorca,

Geraldo de Barros, José Oiticica Filho e Thomas Farkas.

5. Considerações finais

A participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)

propiciou oportunidade única para a realização de pesquisa sobre a fotografia como

estratégia de ensino, com a temática “a construção do olhar no dia a dia do

ambiente escolar”. Os resultados obtidos com a implementação da produção

didático-pedagógico foram muito gratificantes, pois foi plenamente possível aplicar

as atividades propostas e os alunos demonstraram entusiasmo e interesse na

construção do conhecimento. O projeto veio ao encontro com a realidade escolar,

em que parte das informações com as quais os alunos constroem seu conhecimento

baseia-se na mídia. Além disso, os alunos estão cada vez mais familiarizados e

dependentes das novas tecnologias de comunicação. Diante da cultura

contemporânea, devemos nos posicionar de forma investigativa e crítica. Em todas

as etapas foi perceptível o envolvimento dos alunos; as apresentações de DVDs o

interesse foi grande, assim como nos seminários e, principalmente na aula prática

que foi a visita ao laboratório. Para os alunos o projeto representou uma fonte de

conhecimento fascinante, favorecendo o seu posicionamento no mundo. Na etapa

final da produção fotográfica dos alunos, a escola estava toda envolvida e os

resultados foram compartilhados em sala.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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